Philos PORTUGUÊS CATALÀ ESPAÑOL FRANÇAIS ITALIANO ROMÂNĂ REVISTA DE LITERATURA DA UNIÃO LATINA 2 março 2016 · REVISTA DE LITERATURA DE LA UNIÓN LATINA 2 marzo 2016
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Philos PORTUGUÊS CATALÀ ESPAÑOL FRANÇAIS ITALIANO ROMÂNĂ REVISTA DE LITERATURA DA UNIÃO LATINA 2 março 2016 · REVISTA DE LITERATURA DE LA UNIÓN LATINA 2 marzo 2016
PAULO EMÍLIO AZEVÊDO SEBASTIÃO RIBEIRO SAMMIS REACHERS ANTÔNIO FERNANDES KISSÁ LARISSA VAHIA BHARROS DE OLIVEIRA ROGÉRIO PEREIRA ADRIANA CALABRÓ
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PORTUGUÊS CATALÀ ESPAÑOL FRANÇAIS ITALIANO ROMÂNĂ REVISTA DE LITERATURA DA UNIÃO LATINA 2 março 2016 · REVISTA DE LITERATURA DE LA UNIÓN LATINA 2 marzo 2016
EXPEDIENTE
REVISTA DE LITERATURA DA UNIÃO LATINA REVISTA DE LITERATURA DE LA UNIÓN LATINA
Souza Pereira
EDITOR CHEFE | EDITOR EN JEFE
Sylvia de Montarroyos
COMITÊ EDITORIAL | COMITÉ EDITORIAL
Lucrecia Welter
REVISÃO DE TEXTOS | SUPERVISIÓN DE TEXTOS
Maus Hábitos
DESENHO E DIAGRAMAÇÃO | DISEGÑO Y DIAGRAMACIÓN
Anna Luiza Magalhães ILUSTRADOR | DIBUJANTE
SOBRE A OBRA DESTA EDIÇÃO | SOBRE LA OBRA DE ESTA EDICIÓN
Publicado originalmente em março de 2016 com o título Philos, Revista de literatura da União latina. Os textos desta edição são copyright © de seus respectivos autores. As opiniões expressas e o conteúdo dos textos são de exclusiva responsabilidade de seus autores. Todos os esforços foram realizados para a obtenção das autorizações dos autores das citações ou fotografias reproduzidas nesta revista. Entretanto, não foi possível obter informações que levassem a encontrar alguns titulares. Mas os direitos lhes foram reservados. Philos, Revista de Literatura da União Latina é registrada sob o número SNIIC AG-20883 no Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais com Certificado de Reserva outorgado pelo Instituto Nacional de Direitos do Autor sob o registro: 10-2015-032213473700-121. ISSN em trâmite. Revista Philos © 2017 Todos os direitos reservados. | Publicado originalmente en marzo de 2016 con el título Philos, Revista de literatura de la Unión latina. Los textos de esta edición son copyright © de sus respectivos autores. Todos los esfuerzos fueron hechos para la obtención de las autorizaciones de los autores de las citaciones o fotografías reproducidas en esta revista. Sin embargo, no fue posible obtener informaciones que llevaran a encontrar algunos titulares. Pero los derechos les fueron reservados. Philos, Revista de Literatura de la Unión Latina es registrada bajo el número SNIIC AG-20883 en el Sistema Nacional de Informaciones e Indicadores Culturales con Certificado de Reserva otorgado por el Instituto Nacional de Derechos del Autor bajo el registro: 10-2015-032213473700-121. ISSN en trámite. Revista Philos © 2017 Todos los derechos reservados.
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Philos, Revista Philos Revista de de Literatura Literatura da da União União Latina Latina || Revista Revista de de Literatura Literatura de de la la Unión Unión Latina. Latina.
EDITORIAL
REVISTA DE LITERATURA DA UNIÃO LATINA REVISTA DE LITERATURA DE LA UNIÓN LATINA «Prosseguimos. Reinauguramos. Abrimos olhos gulosos a um sol diferente que nos acorda para os descobrimentos.» Assim como Drummond, exprimimos os nossos sonhos nesta segunda edição da Philos. Nossos autores alvoroçam as brisas da mente e desdobram os pensamentos em palavras, e sem pretensão, caminhando na ponta dos pés, chegam a estas páginas editoriais para mostrar, um a um, o significado das palavras em suas vidas. Eles falam de amor, de felicidade, de medo e de morte, das forças do acaso e da sorte, em letras que não causam dor, mas mostram as suas cores nas notas riscadas além dos discursos. Não há uma canção primeira, uma poesia mais impactante, um ensaio mais bem costurado ou um único conto primordial. São memórias esparsas aqui e acolá, que nos trazem luz, viram orações e revelam suas verdades. Nesta edição contemplamos a obra de uma das artistas visuais mais impactantes da atualidade: Anna Luiza Magalhães, design de moda e artista visual, fundadora do Estúdio Biscoito Maria, que nos cedeu uma entrevista exclusiva sobre o seu pensar artístico e sua relação com a literatura. Soma-se ao nosso editorial a sua vasta obra que não somente ilustra, mas conversa, discute, se dispõe e mesmo discorda – por que fala por si mesma – dos textos desse editorial. Desejamos uma ótima leitura, Souza Pereira
EDITOR CHEFE | EDITOR EN JEFE
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Philos Revista de Literatura da União Latina | Revista de Literatura de la Unión Latina.
EDITORIAL
REVISTA DE LITERATURA DA UNIÃO LATINA REVISTA DE LITERATURA DE LA UNIÓN LATINA «Proseguimos. Reinauguramos. Abrimos ojos golosos a un sol diferente que nos despierta para los descobrimentos.» Así como Drummond, expresamos nuestros sueños en esta segunda edición de la Philos. Nuestros autores menean las brisas de la mente y desplegan los pensamientos en palabras, y sin pretensión, caminando en la punta de los pies, llegan a estas páginas editoriales para mostrar, uno a uno, el significado de las palabras en sus vidas. Ellos hablan de amor, de felicidad, de miedo y de muerte, de las fuerzas del acaso y de la suerte, en letras que no causan dolor, pero muestran sus colores en las notas riscadas además de los discursos. No hay una canción primera, una poesía más impactante, un ensayo más bien cosido o un único cuento primordial. Son memorias esparsas aquí y allí, que nos traen luz, vuelcan oraciones y revelan sus verdades. En esta edición contemplamos la obra de una de las artistas visuales más impactantes de la actualidad: Anna Luiza Magalhães, design de moda y artista visual, fundadora del Estudio Biscoito Maria, que nos cedió una entrevista exclusiva sobre el suyo pensamiento artístico y su relación con la literatura. Se suma a nuestro editorial su vasta obra que no solamente ilustra, pero hace una conversación, discute, se dispone y aún discuerda - por qué habla por sí misma - de los textos de ese editorial. Deseamos una óptima lectura, Souza Pereira
EDITOR CHEFE | EDITOR EN JEFE
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SUMÁRIO | SUMARIO CONTOS | COLUNAS | ARTIGOS CUENTOS | COLUMNAS | ARTÍCULOS
8 Ode ao autor,
14 Deitados,
por
ANTÔNIO FERNANDES
por PAULO EMÍLIO
AZEVÊDO
Return,
10 Saturn
16 Douglas
Dário,
por KISSÁ
12 A segunda
vida de Grego Sansa, por SAMMIS REACHERS
19 Ausência,
por
LARISSA VAHIA
21 Fora engolida, por BHARROS DE OLIVEIRA
6
por
ROGÉRIO PEREIRA
por SEBASTIÃO
RIBEIRO
23 Memórias,
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25 Por que
Frida?,
por ADRIANA CALABRÓ
Anna Luiza MagalhĂŁes Obra: Ode ao autor
LITERATURA BRASILEIRA
EXPERIM.
Rotas da lusofonia
ODE AO AUTOR por
Paulo Emílio Azevêdo1
O texto se abre antes da cortina. O ator gagueja dentro de si, mas bravio em excelência toma a punho o gesto do não dito, do não representável. O ator não vacila. A luz aquece a pele que sua frio – o tremor não é medo, é gozo para além da carne. O porão de cada um parece querer revelar-se diante do abismo da lágrima contida. Já o sótão espera sua cena como uma criança espera o abraço dos seus amores. Olhares namoram entre si e lançam ao outro o desafio de projetar-se. Com fagulhas entre duas espadas o saber ignora o proscênio e avança no ponto cego do breu. Nada dorme nesse palco. Agulhados pela sensação do hoje eternum não pretendem acordar diante da plateia. Chega a hora apenas de tornar público o último suspiro antes da realidade voltar a ditar regras torpes sem jogo. O absoluto se veste de cor, forma, palavra e corpo. Não há mais como voltar para casa sem as palmas que teimam em gritar nos ouvidos em nostalgia do presente. Projetos sociais disseram por aí que era para fazer arte para melhorar; efeito colateral: deu tudo errado; ficaram todos “piores” e, ora desejam mudar o mundo através de uma desobediência criativa. Pobres são os atores condenados a viver o relativo de um espelho que refrata a enfermidade a lhes silenciar. Mas, o teto sempre desaba anunciando um novo tempo. Agora é a vez desse sótão brilhar; o céu é o verso do infinito em cada um de vós.
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Paulo Emílio Azevêdo (Rio de Janeiro, 1975). Professor, Doutor pela PUC-Rio em Ciências Sociais, escritor, poeta e coreógrafo. Recebeu diversos prêmios, entre eles “Rumos Educação, Cultura e Arte” (2008/10) pelo Instituto Itaú Cultural e “Nada sobre nós sem nós” (201112) no âmbito da Escola Brasil/Ministéri o da Cultura para publicação do livro Notas sobre outros corpos possíveis (2014). Seu mais recente livro, O amor não nasce em muros (2016), tem prefácio assinado pelo editor chefe da Philos. 1
Anna Luiza MagalhĂŁes Obra: Saturn return
LITERATURA BRASILEIRA
EXPERIM.
Rotas da lusofonia
SATURN RETURN por
Sebastião Ribeiro1
face nunca transmuta ao espelho entendo agora a lonjura eu deveria ser um cavalo tantos coices que desfiro possível mudez de um perfume só achado na montanha facas bem postas próximas aos pulsos mas inacessíveis tanta história me estufa e paralisa medo de esquecer números do endereço no beijo dado sou Philippe Petit mas sem perícia meus amores têm gosto de cocaína duplo twist carpado em slow-mo toda manhã meu filho me corta os tendões mereço todos os livros que li pela metade
Sebastião Ribeiro (Maranhão, 1988). Escritor e poeta, integrante de Acorde (Scortecci, 2011) e autor de & (Scortecci, 2015) e Glitch (Scortecci, 2017). 1
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Anna Luiza MagalhĂŁes Obra: A segunda vida de Gregor Sansa
LITERATURA BRASILEIRA
EXPERIM.
Rotas da lusofonia
A SEGUNDA VIDA DE GREGOR SANSA por
Sammis Reachers1
Não posso ver: tudo é sensação, para além ou de antes do visual, transcendência táctil: energias? Não me lembro completamente quem sou. Lembro trechos. Pedaços de rostos, cadeias de palavras que já não entendo e são música boa ou ruim. Estou nalguns braços. Alguém me move. Energias fluem, posso senti-las quase como odores. Atravessamos linhas de campos magnéticos. É magnífica este novo sentido, este meu único multisentido, seu caudal de silenciosa epifania. Lembro-me de destruir o jardim. Apanhei o taco e destruí as roseiras de alguém que não me lembro, alguém muito importante, alguém que importava. Destruí todas aquelas plantas de nomes débeis e frescos que não sei, aqueles nomes inúteis que sempre mantive aquém de mim. Espalhei as terras, derribei as pequenas contenções, como meios-fios, que delimitavam aquele inferninho verde. Estranho como disso me lembro bem. Cada movimento acertado. Parei de ser movimentado: sinto o vento, quentura. Ela é como uma canção. Suas ondas borrifam o que quer que sejam meus receptores, me deitam num torpor adocicado. Sou feliz. A pulsação que me movimentou aproxima-se, sinto seu avanço pelas linhas do campo magnético, ela deita água em meus pés. Não posso movê-los, nem tento: não anseio o movimento, anseio os movimentos que me vêm: flutuações do campo, comunicações que ainda não decodifico – mas o farei – a viscosidade do calor solar que me banha, e este furor, esta fome consumindo meus pés: este fausto manjar de águas. Água. Água. Como nunca percebi? Como ela pode ser tão doce, e ter me passado incógnita, obscurecida? Para cada nova sensação faltam-me as palavras, conceitos de perfeito encaixe, mas tal abismo se avoluma ao toque da água. Fruição, tepidez… uma quase promiscuidade, coquetel de psicotrópicos conflitando e equalizando-se, a um só tempo, em meu corpo possuído. Agora percebo que o céu é feito de água, e para ela e para a luz é o meu desejo. Os campos magnéticos ondulam. O sol cintila. Meus pés alimentam-me. Dormi furioso ontem, não falei com Maria (agora me aflora tal nome), mal lavei as mãos sujas de terra, rolei como um diabo antes de conciliar o sono. Acordei dentro da paz. Sou planta.
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Sammis Reachers (Niterói, 1978). Poeta, escritor, antologista e editor. Autor de cinco livros de poesia e um de contos. 1
Anna Luiza MagalhĂŁes Obra: Deitados
LITERATURA BRASILEIRA
EXPERIM.
Rotas da lusofonia
DEITADOS por
Antônio Fernandes1
Não tenho vontade de viver. Pelo menos essa vida. Eu sei e você sabe que estamos deitados com o cobertor da angustia e com a cabeça encostada no travesseiro da agonia. E você do meu lado não me ajuda. Afundamos juntos na imensidão do colchão coberto com um lençol de devaneios e colocado na cama do cinismo. E por mais que eu tente levantar você não deixa. E vice-versa. A minha alma foi trocada pela sua naquele dia em que nos torturamos diante do espelho. Eu não me vi, você não se viu. O nosso reflexo estava imerso em nosso oposto. E nessa loucura toda não nos desgarramos. Ficamos, então, afogados nos nossos próprios erros e achamos melhor permanecemos deitados. Simplesmente deitados. Deitados na inércia que é esta vida.
1Antônio
Fernandes (Taguatinga, 1997). Mora em Recife e é estudante de Ciência Política na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
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Anna Luiza Magalhรฃes Obra: Douglas Dรกrio
LITERATURA BRASILEIRA Rotas da lusofonia
DOUGLAS DÁRIO por
Kissá1
Dói doutor! – diz Diego, doente, diante do dentista defeituoso. Doutor Douglas Dário dedicava-se danificando, decapitando, deformando dentes; detinha delírios diante de dolorosas danças de dor desses “detentos” (designação didática de Douglas Dário). Delicadeza? Delinquência Douglas Dário, dentista doido, demonstrava diariamente. Douglas Dário deliciava-se dilacerando dentes descuidadamente de desconhecidos, de dançarinos, daltônicos, desembargadores, de debilitados, de desiguais. Dificultava descrição dos diagnósticos desejando duvida deles; detentos desordenados desacertariam doutrina dentária dada. Desacertando, disporão de difícil digestão diária. Deselegante doutor desconfiava das diaristas, “despojariam domicilio” doutor doente dizia descontente. Demitia doces donzelas difamando-as desconsiderando direita decência, dizia desaforos diante delas. Demais dentistas descreviam Dário demonizando-o, duvidavam da decência dele descrevendo duras dissertações discrepantes diante dessa desonesta dignidade. Dário deleitava-se diante desses diálogos difamando demais diaristas. Doravante Douglas Dário deverá defender-se, difícil desafio defrontará. Depois de dois dias, decepcionado, Douglas Dário descabelava-se. Daniela; doce, dengosa dama, demonstrava-se diferente diante da dor, da dor Daniela debochava. – Dama defeituosa! Dela devo descobrir desespero, dela devo diminuir decência! – declarou Dário. Depois de doze dias Douglas Dário desacatava Daniela dirigindo-se deselegantemente, danificaria Daniela debochando da dicção dela. Decerto Dário decaía demais, difama-la desencadearia desespero? Descontraída, Daniela demonstrava divertir-se diante de duros discursos. Detento difícil de desagradar… Dário despiu-a declarando determinação diante de diagnostico dentário. Daniela, despudorada, demonstrou decoro despindo-se desavergonhada deixando Dário desiludido. Desesperado, Douglas Dário despediu-se dessa dama – Daniela… Deixá-la-ei diante desses degraus durante demora desprezível, digitarei diagnostico – disse Dário deixando dependência. Daniela descobriu-se diante de deriva dentre degraus do dentista. Depois, distante dali, Dário declara doentiamente – Dama demente. Demorarei Daniela, demorarei demasiadamente. Devo domina-la, Daniela dependerá desse doutor durante dezoito dias, derrotá-la-ei! Decidido, durante dezoito dias Douglas Dário deitou, descansou, domou dromedários, dirigiu, drogou-se, dançou, desenhou, demasiadamente demitiu deliciando-se da dor dos demitidos… Depois dessa demora. Daniela, danada, demonstrava-se deitada, dormindo diante desses dezoito dias. Domado de desespero Dário decorou Daniela diagnósticos diferentes, diagnosticavaa debilmente, duzentas doenças Daniela detinha Dário dizia. Doce desilusão… Duzentos diagnósticos destruídos. Doutorado Dário detêm, dentista Dário diagnóstica. Diferentíssima, Daniela demonstrou-se diva. Destemida dama decidiu doutorar-se, doutorando-se dentista duramente desencorajando Dário, de depressão diagnosticaram-no
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COLUNAS
depois. Dívidas Dário deteve desfazendo-se de dinheiro devido depressão. De desleal destino Douglas Dário, destemido demônio do desconforto duradouro, digladiou durante dias. Devagar, desistia. Depois desse documentário, defasado, desanimado, Douglas Dário desapareceu. Decerto, do dia D dele discutimos. Dó dele deveríamos demonstrar, doce dedicatória deveríamos desenvolver… Douglas Dário, descoberto defunto durante domingo de dezoito de dezembro. Decompondo dezesseis dias depois de Daniela derrota-lo.
1Kissá
(Aracaju, 1991). Atual graduando em Inglês pela Universidade Federal de Sergipe.
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Anna Luiza Magalhães Obra: Ausência
LITERATURA BRASILEIRA
EXPERIM.
Rotas da lusofonia
AUSÊNCIA por
Larissa Vahia1
Saudade é um choro hiperbólico que suplica permanência com um coração aquecido de lembranças inflamáveis, combustão de impetuosas angústias insistentes em coabitarem o corpo progressivamente em chamas 1Larissa
Vahia (Rio de Janeiro, 1996). Poetisa e estudante de medicina veterinária.
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Philos Revista de Literatura da União Latina | Revista de Literatura de la Unión Latina.
Anna Luiza MagalhĂŁes Obra: Fora engolida
LITERATURA BRASILEIRA
EXPERIM.
Rotas da lusofonia
FORA ENGOLIDA por
Bharros de Oliveira1
fora engolida a lentidão do beijo avesso para as palavras das margens fora engolida a retenção do olho aceso para as costas dos mares encobertos
Bharros de Oliveira (São Paulo, 1988). Poeta. 1
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Philos Revista de Literatura da União Latina | Revista de Literatura de la Unión Latina.
Anna Luiza Magalhรฃes Obra: Memรณrias
LITERATURA BRASILEIRA
EXPERIM.
Rotas da lusofonia
MEMÓRIAS por
Rogério Pereira1
Para que a vida siga Guardo as dores e os sons No algodão que colhi lá atrás Para que a vida siga Cuido melhor das horas O relógio acorda Meus tormentos que começam agora Antes que as delícias Sofram todas as manhãs A vida segue e sigo Ao longo dos afãs amigos Os vinhos também são flores Rogério Pereira (São Paulo, 1984). Professor de arte, romancista e poeta, vencedor do Concurso Literário de Mogi das Cruzes de 2015. 1
Guardo no instante esquecido E não abro todas as janelas Algumas são esperas Para que as memórias Voem até o nunca mais.
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Anna Luiza MagalhĂŁes Obra: Por que Frida?
LITERATURA BRASILEIRA
ENSAIO
Rotas da lusofonia
POR QUE FRIDA? por
Adriana Calabró1
Não olhe agora, mas tem um punhado de rosas, um macaquinho e um útero cortado olhando para você. Não é uma exposição da Frida Kahlo, é a superfície de um espelho que foi colocado na sua frente e, que, neste exato momento, espera interação. Eu sei. É preciso falar de outras coisas também, de instintos, de ferocidade, de sobrevivência, de direitos, só não de bestialidade. Você já aguentou demais. Tem aguentado demais. Melhor falar de Frida. E das mulheres. E do momento em que estamos tão expostas que fomos expulsas do museu por atentado ao pudor. Agora somos uma exposição ao ar livre. E falar da Frida por quê? Porque ela virou cool? Porque seus lábios cerrados e olhos bem recobertos ilustram cadernos, agendas, mochilas? Porque virou ícone de manifestações feministas? Ou será porque ela é uma das maiores representantes da arte latino-americana? Tudo isso. Ou nada disso… talvez ela não aprovasse. Nós, as mulheres do pós-tudo, temos visto passar, vertiginosamente, os dois últimos dígitos do milênio. Ao mesmo tempo, queremos mostrar ao mundo nossos talentos (como Frida), queremos experimentar nossa sexualidade (como Frida), queremos amar e ser amadas (como Frida). Mas espera, queremos tais obviedades, mas não queremos sofrer como Frida, certo? Afinal uma lança perpassou seu sexo, um amor algoz lancetou seu coração, um corpo mutilado impediu alguns de seus mais fortes desejos. Não. Não precisamos mais da via sacra. Não queremos nenhum soldado romano nos oprimindo. Ela, nossa cordeiro de Deus (existe cordeiro no feminino?), já fez o caminho. Como um cristo de saias bordadas, mostrou as nossas chagas, o nosso corpo crucificado, ressuscitado pela arte. Agora ela olha para nós bem de frente dizendo: “eu, mulher, latino-americana, passei por dor, traição, sexismo, preconceito e ainda assim morri feroz, morri por vós. Eu as liberto. Eu vos dou a minha chama” Se falo de Frida é por isso, porque a vejo como símbolo. E como todo símbolo, dirige-se a todos e a cada um em particular. O que mais chama a atenção? O útero cortado? As rosas? Ou o olhar meio humano meio selvagem de um macaco? Em qualquer um emerge Frida, a força avassaladora que vai além do sofrimento, além da norma. Dizem que até no crematório ela fez a sua última instalação artística, com os cabelos em chamas como girassóis. Haja pulsação, haja presença. Olhando em um ponto, bem no meio de sobrancelhas grossas está o espelho. E dentro dele, o nosso reflexo, com buço, roupas típicas, feridas, desnudamentos, desdobramentos, rendas, chagas e flores. Uma mescla de abstrações e concretudes que pode explicar o desejo de Frida Kahlo de “nunca mais voltar”. Ou se preferirem, a vocação e o talento que a obrigaram a ficar para sempre.
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Adriana Calabró (São Paulo, 1968). Escritora, dramaturga, coach de escrita, premiada no Concurso João de Barro de literatura infanto-juvenil, finalista nos concursos Off Flip e Livre Opinião, ganhadora da Bolsa de Criação Literária o ProAc do Governo do Estado de São Paulo. 1
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