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Dilemas da baixa estatura
O crescimento dos filhos é uma preocupação frequente nos consultórios de endocrinologia pediátrica, gerando muita dúvida e angústia nas famílias. Quem nunca se perguntou se seu filho está crescendo bem? Quem nunca comparou a estatura do seu filho com os colegas da escola? A comparação infelizmente é inevitável e os pais têm medo que a criança possa sofrer bullying ou que seu futuro profissional possa ser abalado pela baixa estatura. Por isso vamos debater aqui as perguntas mais frequentes que vivenciamos na nossa prática da Endocrinologia Pediátrica.
Qual a melhor maneira de verificar o crescimento do meu filho?
O acompanhamento rotineiro com o pediatra da criança é fundamental, tantos nos primeiros meses de vida, como durante toda a infância e adolescência. É nas consultas de rotina que a criança será avaliada quanto ao seu peso e estatura. Os dados são anotados em gráficos de crescimento, sendo possível observar desvios anormais.
Como saber se meu filho está crescendo bem?
A melhor maneira de saber se a criança está crescendo é avaliar a quantidade de centímetros que essa criança está ganhando por ano, chamada de velocidade de crescimento, que varia conforme a idade da criança e o seu estadio puberal.
Até que idade a criança cresce?
Não existe uma resposta correta, pois não há uma idade comum para o término do crescimento. Cada pessoa irá crescer enquanto seus ossos tiverem cartilagens de crescimento não calcificadas independentemente da idade cronológica que ela apresente. Lembrando que as meninas param de crescer mais cedo que os meninos. Por isso o exame mais solicitado pelos endocrinologistas pediátricos é o RX de mãos e punhos para idade óssea, através dele sabemos o quanto de espaço a criança tem ainda para crescer, porém é muito importante uma análise evolutiva deste exame na puberdade para avaliar padrões de crescimento muito acelerados neste período, que podem levar a um fechamento precoce da cartilagem de crescimento e prejudicar a estatura final.
A altura dos pais tem relação com a altura final da criança?
Sim, a altura dos pais biológicos influencia na estatura final da criança, sendo o principal fator para determinar a altura de um adulto. Porém a genética está longe de ser o único fator, existem inúmeros outros fatores determinantes para o crescimento, entre eles: alimentação saudável, atividade física, hábitos de sono e doenças associadas.
É verdade que dormir cedo faz a criança crescer mais?
Dormir cedo e dormir bem auxiliam no crescimento, é durante o período noturno que o hormônio de crescimento tem sua produção aumentada e também é no sono profundo (REM) que sua ação é mais eficiente. Quanto menor a criança, mais tempo de sono ela necessita, mas em geral a orientação é que a criança vá dormir às 21 horas, ou que no máximo até as 22 horas esteja dormindo.
Como saber se meu filho precisa usar hormônio de crescimento?
A deficiência de hormônio de crescimento (GH – Growth Hormone) é uma das causas de baixa estatura. Pode ser de caráter familiar e algumas vezes acompanhada de deficiência de outros hormônios. A falta de hormônio de crescimento deve ser investigada pelo endocrinologista pediátrico no caso de crianças com baixa estatura e queda na velocidade de crescimento.
Como funciona o tratamento com hormônio de crescimento?
Apenas uma parte das crianças com baixa estatura necessita e tem indicação do tratamento com hormônio de crescimento. É um tratamento que deve ser discutido individualmente caso a caso. O endocrinologista pediátrico, após rigorosa avaliação, indicará o tratamento para casos específi cos. Costuma ser um tratamento de longo prazo, utilizado até o fi nal do crescimento, sendo realizado através de aplicações subcutâneas (injetáveis) diárias, à noite antes de dormir.
Existem outras maneiras de estimular o crescimento do meu filho?
Uma alimentação saudável e equilibrada, assim como a atividade física e o sono adequado auxiliam no crescimento da criança e na saúde de uma forma geral.
A que é mais importante estar atento?
O mais importante é sempre estar atento ao crescimento das crianças e adolescentes e não deixar de fazer o acompanhamento de saúde de rotina com o pediatra de sua confiança.
É nas consultas de rotina que a saúde da criança é avaliada de forma global e será nesse momento que dúvidas serão sanadas, desvios da normalidade são notados e, se houver alguma alteração, o pediatra irá encaminhar a criança para um endocrinologista pediátrico para uma investigação detalhada e tratamento. O quanto antes a baixa estatura ou padrões anormais de crescimento forem detectados e tratados, melhor!
Dra. Thaïs Heim CRM/SC 17373 Pediatria RQE 11678 Endocrinologia Pediátrica RQE 13897
Meu filho está em puberdade, e agora?
A puberdade é um processo de transição entre a infância e a vida adulta. Não há idade defi nida para o seu início, pode começar aos 8 ou aos 13 anos, ou até mais tarde. Existe uma grande variação, entre cada criança, normalmente seguindo um padrão familiar, mas também infl uenciado por uma série de fatores, como psicológicos, genéticos, condições ambientais e nutricionais.
Esta fase é caracterizada por uma série de alterações que acontecem no corpo da criança, como: • Surgimento de pelos • Oleosidade da pele • Odor axilar • Acne • Surgimento das mamas em meninas • Aumento do testículo em meninos e desenvolvimento genital • Aceleração do crescimento (Estirão Puberal) • Modifi cação da distribuição da gordura corporal • Aumento da massa muscular • Alteração na voz nos meninos • Oscilação de humor e outros.
Nesse momento, observa-se um desenvolvimento físico, mas também mental e social. Os pais percebem as mudanças físicas gradualmente e estranham quando as crianças mudam o comportamento, passam a não cumprir os combinados como faziam antes, reclamam e brigam mais, querem mais privacidade e apresentam vários argumentos para tudo.
Estes são sinais de que o seu filho está na puberdade, deixando a infância para trás, para entrar na pré-adolescência e é este crescimento que leva à maturidade.
Deixar de ser criança, mas ainda não ser adolescente envolve muitos conflitos, físicos e emocionais. A intensidade e o tempo de duração deste período diferem de criança para criança, podendo ser encarado com mais ou menos tranquilidade. Quanto mais cedo este processo, menos preparada a criança pode estar. Para isso os pais precisam estar mais próximos, por mais que as crianças se fechem e se distanciem, é importante que os pais permaneçam próximos e procurem saber sobre seus sentimentos, angústias e preocupações. Precisamos de mais tempo com eles, pois é o convívio que traz uma interação de qualidade entre pais e filhos.
Converse com seu fi lho. Pergunte sobre o seu dia, seus planos e interesses, estreitando o vínculo entre vocês. Nessa fase tudo toma uma dimensão maior. Tudo é vivido intensamente, os hormônios estão nas alturas, à fl or da pele. Tente não minimizar os sentimentos do seu fi lho, mostre empatia. Mas explique que logo esse sentimento vai passar e ele vai ver que isso que aconteceu não é o fi m do mundo. As frustrações fazem parte da vida e são fundamentais para nosso amadurecimento. Não conseguiremos e não podemos controlar ou blindar suas vidas. Debatam sobre a importância de ter uma rotina, isso traz conforto e segurança para todos. Desenvolvam bons hábitos (leitura, alimentação, atividade física, sono...), isso é fundamental. Tentem se envolver mais com os interesses do seu fi lho.
Sentem juntos para defi nir as atividades, obrigações e horários dele. Isso fará com que ele se sinta incluído nas decisões de sua própria vida, estimulando a autonomia e a responsabilidade. Lembrando que as regras e os limites são fundamentais para mostrar até onde eles podem ir, ensinando-os a viver em família e em sociedade. Os pais precisam ser fi rmes, sem serem autoritários. O diálogo é a melhor maneira de garantir a segurança do seu fi lho e deixar um canal aberto para incentivar o contato com bons hábitos e com conteúdos de qualidade nessa fase.
Os momentos juntos são fundamentais nessa fase para fortalecer o vínculo e a relação de confiança entre vocês.
Dra. Gabriela Didoné Dantas CRM/SC 9524 Pediatria RQE 11221 Endocrinologia Pediátrica RQE 6431
Formação: Universidade Federal de Santa Catarina Hospital Infantil Joana de Gusmão Hospital das Clínicas de Curitiba / Universidade Federal do Paraná Especialização em Nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia- São Paulo