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Perfil regional
O Café Sombreado é daqui, eu sou daqui - “E tu? Ex daonde?”
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Quem é a Gisselle?
Manezinha da ilha, como gosta de ser chamada, esse termo é típico daqueles que são descendentes dos portugueses das Ilhas dos Açores e ela descende, também, de família de alemães, principalmente daqueles vindos da cultura pesqueira e da extinta caça às baleias; remete às rendeiras, lavadeiras, benzedeiras, bruxas e todos os outros mistérios guardados na Ilha da Magia! Neta do agricultor, pescador e barbeiro Eupídio Ferreira e de Oscar Schmidt, desenhista do Deter, carnavalesco da extinta Sociedade Carnavalesca Tenente do Diabo – “é uma sociedade tradicional carnavalesca da cidade, fundada no dia 5 de março de 1905. Já foi mais de 50 vezes campeã do concurso de sociedades, obtendo a sequência de 9 campeonatos, entre 1970 e 1978 – por suas mãos e eu estava lá”.
“Era ele quem desenhava todos os carros de carnavais e grande parte das estradas de Santa Catarina”, e “toda verba arrecadada era destinada ao primeiro hospital de Florianópolis/SC - Hospital Imperial de Caridade, onde ele fazia parte da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos”, diz ela com todo orgulho.
Onde e como surgiu a paixão pelo café?
O café sempre esteve presente na minha vida. Numa chácara no alto do Bairro da Trindade com uma casinha discreta, minha avó, “Dina F. Rodrigues Hoffmann”, rendeira de mão cheia, costumava nos esperar para o café da tarde.
Enquanto a família não se reunia por completo, ela colocava os grãos de café em um pilão de madeira e moía artesanalmente o café cultivado e colhido por ela. Colocava a chaleira no fogo, o pó do café no coador de pano e esperava pacientemente pela fervura da água. Ao mesmo tempo, em seu fogão a lenha, colocava banana com casca sobre a chapa quente e a farinha, o açúcar mascavo e a canela em um tacho de ferro, o aroma era mágico.
Os familiares, porém, chegavam aos poucos e se “juntavam” na cozinha, a vó assava pão, fritava linguiça, ovos e o café enchia a casa de aromas. Aromas de uma casa alegre enfeitiçada com abraços de café. O aroma penetrante que vinha da cozinha denunciava o tempo. Três horas em ponto e minha memória olfativa bate o ponteiro do apetite até os dias de hoje.
A história dos grãos especiais na Ilha da Magia.
A cafeicultura já foi uma atividade de expressão econômica em séculos passados em nossa Ilha.
O cultivo do café foi introduzido na antiga Desterro no final do século XVIII. Na época, firmou-se então como a cultura agrícola que alcançava os melhores resultados aos agricultores, sendo essencial na principal atividade cultural da região.
Essas preciosidades de sementes foram trazidas da África pelos primeiros navegadores portugueses e espanhóis, as plantas apresentavam resistência frente a esse manejo, com nível alto de adaptação e a produção de excelente qualidade. Em pouco tempo, garantia a preferência no mercado interno e europeu. O Café Sombreado figurava tão importante para Santa Catarina que trazemos em nossa bandeira a imagem do ramo de café com nossas verdadeiras pérolas – A Fruta do Café! Existe simbologia maior que essa? Café é um alimento, café sempre foi o nosso alimento e iniciou com os especiais.
Na década de 60, com a criação do Instituto Brasileiro do Café - IBC, a produção dos pequenos produtores perdeu importância em nossa ilha, bem como em nosso país, e em Florianópolis restaram poucos pés cafeeiros para consumo, ficaram alguns domésticos. “Meu avô relatava que, na época, as pessoas eram fomentadas pelo próprio governo (e eram pagas para isso) a derrubar os pés de café que haviam plantado. Erradicando, assim, os Cafés Sombreados de Florianópolis, de Santa Catarina e do Brasil”.
Meu pai trabalhava no Jornal local “O Estado” e tem bem vivo em sua memória que as notícias da época eram em relação ao contrabando e fraudes sobre nossos cafés. Como não detínhamos um selo oficial que respaldasse o nosso produto no mercado externo, nossos grãos eram desviados para exportação e vendidos na Europa com selo de qualidade como café originário da Costa Rica, de Porto Rico, Martinica e Java.
Nas décadas seguintes, o processo de urbanização crescente nos anos 70/80 se apresentava e as plantações eram dizimadas na área central e no entorno, restando alguns sítios ou chácaras na Ilha e, assim, os cafés especiais foram erradicados.
O surgimento de um legado de amor.
Em 1995, Gisselle teve a experiência de montar com sócios uma cozinha especializada no Apart Hotel Rio Branco em Florianópolis, teve a ideia de trabalhar com bebidas à base de café e sentiu a necessidade de fazer alguns resgates, mas estava longe de ter o entendimento de que cafés especiais eram, são, e sempre serão uma ciência muito complexa. “Ele estava sempre em minha memória,
mas era inimaginável que seria meu propósito de vida”. “Com ele, uni todas as minhas paixões: psicologia, fotografia e gastronomia”.
Sem pretensão, estudando psicologia, teve a oportunidade de passar uma temporada na Europa e lá entrar em contato novamente com os grãos conhecidos em sua infância. Retornando ao Brasil, já sabia o que tinha a fazer: estudar cafés especiais!
No Brasil, teve sua formação pelas mãos da Escola Kassai, Lucca Café do Paraná, Garam Um do Um Coffe e Léa Saldanha do Café do Mercado.
Formada pela SCA Escola Americana de Cafés Especiais (Specialty Coffee Association) e SCAE Escola Europeia de Cafés Especiais (The Speciality Coffee Association of Europe) - Credenciada pela BSCA (Brazil Specialty Coffee Association).
O projeto Psiquê.
Em Florianópolis, a barista comanda o Café Psiquê, no Complexo Médico Baía Sul Medical Center.
Tem como reputação corporativa no país: transparência e qualidade. Buscamos aprimoramento e excelência em todos os processos, desde os produtos, manuseios, atendimento e fortalecimento da equipe.
Acreditamos que nosso trabalho é fruto de muitas construções em conjunto e aperfeiçoamentos, sempre seguindo esta linha entre clareza no que somos e excelência no que servimos.
O projeto mais importante que nossa empresa realizou foi criar um novo conceito em servir café em hospital. Trabalhamos apenas com cafés especiais - grãos 100% arábica -, livres de defeitos, e que passam por processos de qualidade desde a fruta, o grão, a torra, até virar a bebida. Toda a sua produção engloba responsabilidade social e estimula práticas sustentáveis e mais responsáveis ecologicamente. Ao valorizar esse processo, disseminamos a cultura dos cafés especiais, valorizando sua cadeia produtiva - que se inicia com famílias de pequenos produtores e se encerra ao chegar até os profissionais responsáveis pelo preparo do café na xícara, nossas baristas. Assim, temos certeza de que estamos entregando aos nossos clientes uma bebida de altíssima qualidade que, além de proporcionar prazer ao ser consumida, por sua complexidade e singularidade sensorial também traz benefícios à saúde.
A gestão humana:
O valor gerado se reflete em benefícios de impactos muito positivos. Contribuímos de maneira promissora, respeitando, valorizando e disseminando a cultura dos cafés especiais, num compromisso com a ética e a transparência.
Quando incentivamos o consumo de cafés de qualidade, fomentamos a cafeicultura, estimulando práticas sustentáveis e apoiando remuneração justa à sua cadeia produtiva. E isso se reflete na cena econômica.
Ninguém faz nada sozinho. Para desenvolver algo grande, importante, que nos orgulhe, precisamos atuar em equipe. Alcançar o sucesso com o esforço coletivo é muito prazeroso. Aqui somos parte de um todo. Agimos em grupo com humildade, tolerância, inteligência emocional e companheirismo, o que gera motivação e comprometimento. A nossa maior satisfação gerada pela empresa em nossos clientes externos e internos: atendemos num complexo hospitalar, ambiente de estímulos estressores, físicos e emocionais.
Por isso, o Café Psiquê preza pela qualidade com acolhimento e doses de afeto. Seja com cafés especiais bem selecionados, refeições que abarcam todos os paladares ou com a atenção ao cliente. A hora do café deve nos remeter a momentos de aconchego, calma e trocas saudáveis, proporcionando sensação de bem-estar e transformando positivamente a realidade externa.
Foto: Jess Barros
Marketing e Responsabilidade
Criamos o projeto “A saga do café”, a partir de inquietações conjuntas de compreender como as pessoas se relacionam com essa bebida e qual sua representatividade. Ouvindo com empatia e acolhimento, pretendemos apresentar o universo dos cafés especiais, já que é um assunto que ainda foge da leitura e da maioria dos paladares brasileiros. Em pequenos passos, levamos conhecimento e disseminamos essa cultura, por acreditar que só através do conhecimento poderemos acessar e proporcionar o alcance mais consciente de consumo.
Esse projeto inicia-se no Estado de Santa Catarina e correrá mundo afora. Sua responsabilidade é social, com base em trocas e doses de informação, bons cafés e afeto.
Sabe de que forma essa implantação estratégica pode ajudar a tornar sólida nossa reputação corporativa?
Quanto mais as pessoas conhecerem este universo, mais consumidores conscientes teremos e, em contrapartida, isso atingirá positivamente o cenário envolvido.
Nossa empresa lida com questões de ética e responsabilidade social corporativa. No Café Psiquê, as responsabilidades sociais abrangem um todo. Trabalhamos com um “baú solidário” que conquistou a simpatia dos clientes para a nossa empresa, mas também propicia renda para os funcionários e prestadores de serviço do complexo.
Procuramos manter a reputação corporativa e manter uma conduta ética e responsável. O bom atendimento ainda é um desafio para a maioria das empresas brasileiras de qualquer segmento. Atender bem é proporcionar uma experiência positiva e um relacionamento durável entre o seu negócio e seu público. Partindo desse pressuposto, agimos sempre com transparência, cumprindo com nossas responsabilidades éticas e sociais, buscando sempre manter a qualidade em nossas relações e ofertar excelência em nossos produtos.