Revista Quincas | Edição Florescer

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NOVEMBRO 2014_REVISTA COLABORATIVA QUINCAS_Edic達o 05_FLORESCER



FLORESCER Edição 05_ Revista Colaborativa

Direção de arte_NATALIA NUNES Edição_GIOVANA MORAES SUZIN Capa_MARCELLA TAMAYO

NOVEMBRO 2014


ilustração_MARIELLA TOSCANO

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AUTODETERMINAÇÃO editora_GIOVANA MORAES SUZIN

Não era nada. E por isso mesmo, poderia ser o infinito. Ali onde estava, havia conforto. O que haveria lá fora? Tinha medo: desde sua pequenez, nada de nada sabia. Apenas que queria ser livre. O que poderia limitar seus potenciais? Quais seriam suas fronteiras? Conseguiria fugir da autoridade imposta pelo sistema do qual fazia parte? Intoxicar-se-ia pelo agrotóxico dos preconceitos? Não sabia. Pois então começaria entendendo suas próprias demandas. Nós somos inevitavelmente responsáveis por nossos valores e nossas escolhas, pensou. Depois, iria cultivar relações baseadas em confiança. Tinha certeza de que não era um ser isolado; pelo contrário, era dependente de inúmeras simbioses. Queria fazer diferença no mundo. Mas podia? Rebelou-se. E brotou.

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CAROL VERGOTTI_(São Paulo SP, 1986)

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É fotógrafa e técnica de conservação de fotografia. Desde 2008 realiza pesquisa sobre processos fotográficos do século XIX como a Goma Bicromatada, Cianotipia e Fotogravura. Participou de projetos em arquivos particulares e públicos como o Arquivo Fotográfico de Lisboa e o Arquivo Wanda Svevo da Bienal de São Paulo. Trabalhou entre 2009 e 2012 no Atelier Estrela Brasil Oriente especializado em fotogravura, e entre 2011 e 2012 participou do Projeto Maré de Ernesto Bonato, em Campinas. Atualmente, faz parte, do Atelier Piratininga, onde pesquisa e dá aulas de processos fotográficos do século XIX. http://cargocollective.com/carolvergotti

MARCELLA TAMAYO (São Paulo SP, 1987)

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AARON KAWAI_ (São José dos Campos SP, 1985)

Garoto caipira que cresceu na roça, de onde trouxe sua intimidade com a natureza - já foi até mesmo chamado de gnomo da floresta. Mas é também da selva de pedra, nas ruas da cidade, que flui a inspiração das visões do mundo, da vivência e experimentação, do império das sensações. Sua paixão pela fotografia, elemento protagonista sem sua vida, exerce função elementar, como o ar que respira. Sempre traz consigo uma camerazinha analógica e o celular fotografante (do hobby ao profissional) para traduzir suas interpretações, confusões e alusões à magia da vida. Mas do que gosta mesmo é: dançar, sozinho ou bem juntinho. http://sekushy.com/

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Abandonou recentemente o conceito de passar roupa. Dedica as horas longe do ferro as suas coisas favoritas: ouvir histórias, a natureza, a ciência, cachorros, batata e a sensação de não entender. É formada em design gráfico, trabalha como ilustradora na maior parte do tempo e hoje estuda roteiro em uma escola de cinema. Escreve com a mesma vontade com que desenha – é o jeito que encontrou para investigar esse mistério que é a vida. E faz isso com a camiseta amassada. http://marcella-tamayo.com/

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LUÍSA COSTA _(SÃO LOURENÇO MG, 1989)

Jornalista belô-paulistana, bacharela pela ECA e graduanda em Letras na FFLCH, ainda não cansou de colher flor, amora e pitanga na cidade universitária. Acredita que as mensagens vêm das entrelinhas e que a vida é vivida nas horas vagas. Trabalha ininterruptamente como vitrine de suas filosofias de bar e, à parte de tudo que lhe falta, tem toda a prosa do mundo.


MARIELLA TOSCANO (São Paulo SP, 1982)

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Ilustradora e arquiteta. Para ver mais: www.lella.me

NATHALIE LOURENÇO_(São Paulo SP, 1984)

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Única publicitária em uma família de médicos, escreve para viver, em todos os sentidos. É redatora na agência Garage e já teve textos publicados nas revistas Flaubert, VacaTussa, Parênteses e na coletânea Edifício Marques de Sade (ed. Valer). De vez em quando, atualiza o blog: www.sabedoriadeimproviso.wordpress.com

BRUNO DE SOUZA ZAMBELLI _(São Paulo SP, 1985)

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Não sabe quando começou a gostar de desenhar e de lá pra cá não parou mais. Filho de trilheiros, aprendeu cedo o valor da natureza e sua beleza. Desta união nasceu o DesenhOrganicO, um projeto de design em que a linha ganha vida ao percorrer dois pontos. Para ver mais: http://cargocollective.com/zamba

DIEGO MONGE_(São Paulo SP, 1987)

Designer, músico, ilustrador e pesquisador de música brasileira. Desde cedo interessado por arte, tanto na música como na ilustração. Nasceu na zona sul de São Paulo, o que trouxe uma forte influência do grafite em seu trabalho. Procura sempre mesclar diversas vertentes da arte no seu dia a dia. Trabalha atualmente na área da publicidade, se utilizando dessas influencias para obter uma maior riqueza de resultados em suas criações. http://cargocollective.com/diegomonge

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CELO SANTOS – SANTVS (São Paulo SP, 1986)

Com um mundo próprio e criativo, Santvs lida com temas espirituais e comportamentais: o funcionamento do universo, a expansão da consciência, planos sutis e ancestralidade. O artista visual que também é ilustrador alimenta desde a infância sua paixão por animação, street art, design oriental e viagens. Manipula sob seus pincéis formas figurativas, cores vivas, geometria e simbolismo em prol de investigações em torno de conhecimentos ancestrais e costumes tribais. http://jelys.prosite.com/

COLABORADORES


É PRIMAVERA prosa poética_LUISA COSTA (ou: queria te contar que é preciso calor pra florescer aqui na linha de baixo do Equador, que o melhor fondue é se derreter de amor e que todo inverno encontra seu fim quando) as flores abrem suas mil pernas, centopeias com suas seduções, pra virar manga seu cheiro, vira maracujá vira pera, uva, maçã-salada-mista e a primavera invade calendários como a promessa da mordida ou a flor só quer virar outra, semente só seu fruto não sacia mas farta no cheiro, na cor carnavaliza lança-perfumes, lírios dando uma colher de chá jasmins com seus aromas-convites d’além quarteirão anfitriões de sua festa open-bar pra beija-flor zunindo ou mosca sórdida pega aqui, pega lá, sabe de cor aberta pra virar fruto, pra virar outra, encher os olhos depois encher de beijos e quimeras, primaveras. * ela. arrasta-nos pela boca, pelo nariz puxa pela minha mão e pelos meus cabelos pela cintura, meu sexo, teu seio pra virar fruto, e sorvê-lo pra virar outro, e vivê-lo pra lembrar que o verão está logo ali onde dobra aquela esquina florida com tapete colorido a se desfazer e no vento, a polinizar suspiros: é primavera, te amo é primavera, me come.


ilustração_MARIELLA TOSCANO

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MIÚDAS conto_NATHALIE LOURENÇO ilustração_MARIELLA TOSCANO As árvores da Rua Javari sempre florescem juntas. Como se elas se comunicassem de forma secreta, de uma calçada a outra. Um complô de sussurros carregados pelo vento e bilhetinhos passados entre raízes sob o asfalto, até que, no dia combinado, a rua se enche de amarelo, no túnel alto dos galhos, no asfalto acarpetado pelas flores miúdas, um cascalho úmido e macio. Clara e Paloma voltavam juntas da escola. No finzinho da tarde, coberto de flores, o caminho de todos os dias parecia uma trilha para algum outro mundo. Tiraram as sandálias e entraram no túnel de árvores com os pés nus. Apesar de ser uma quinta-feira, era a primeira vez na semana que voltavam juntas. Andavam lado a lado, Paloma com a mochila pendurada em um ombro, rosto sardento acompanhando o chão. Clara apertava o fichário junto do peito. O vento soprava morno fazendo chover amarelo.

- Eca. E o aparelho? O Leo não usa aparelho? - Aham. Mas nem dá pra sentir. É de boa. - Ai, não sei se eu quero. Subiram para a calçada, para um carro passar. Os pneus abriram duas faixas de cinza no chão. - Não quer o quê? Beijar? - E se eu morder o menino sem querer? E se o aparelho enganchar? O riso veio solto, entreolhado. Tinham chegado na esquina com a rua de Clara: a menina calçou as sandálias e atravessou, acenando para a Paloma do outro lado. A casa de Paloma era mais adiante. Sentiu a umidade na sola dos pés e o cheiro de folha ao redor. As florezinhas se prendiam às ondas dos cabelos, às alças da mochila, às dobras da camiseta, enchiam os canteiros aos pés das árvores e as bocas de lobo. Parou uma esquina antes do portão da casa, escondida entre o muro recémpintado e o áspero de um tronco antigo. Botou o dedo indicador na boca, sentiu o deslizar sedoso da língua. Fechou os olhos e girou, girou, girou.

- Mas não é nojento? Outra língua na sua boca? – Paloma fez uma careta. - No começo é...um pouquinho. Às vezes é meio mole, às vezes é meio dura. Fica dando volta na boca. O coração acelera. Depois acostuma, daí fica bom.

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ORGÂNICO ilustrações_BRUNO ZAMBELLI

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VERDE HUMOR pinturas_SANTVS

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FLORESCÊNCIA ilustrações_DIEGO MONGE

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FLORESCER É FOGO ilustrações_MARCELLA TAMAYO

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absorvo

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FLOWERSHOT fotografias_AARONÂ KAWAI

natureza perfeita metade branca metade magenta em mĂŁos maternas celebra a beleza da vida

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amarelo com verde gira o sol pelo cerrado quente

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amarel達o zanz達o do zangado voador que atingia sutilezas das curvaturas da aceita巽達o do verde amour

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rosado alaranjado roxo e o amarelo da ponta do bico ao miolo acoplado

coração creme de companheiras que nascem e não se largam mais

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coração de planta bate forte o magenta pelinhos do ar junto ao verde brilhoso

maravilha murcho do branco arrojado a dança da conjuntura celebrada na sutileza do verde escuro


laranjudo vermelhusco se divide com o amareludo e verdusco que aguarda da danรงa da bela joaninha negra

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vermelhinhidĂŁo com verde mato de primavera azul anis de meu bem

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cabeça aveludada em creme subjetiva a mistura das pontudas da mistura do verde em manchas de amarelo

cor de creme murchada magenta miolo verde planta celebrando o banho intruso da manhĂŁ


lilás com listrado rosado molhado de orvalho às verdes patas de vaca levemente dançam com os broches que balançam

amarelíssima pendente do verde planta anseios de amores que vivem sempre no caminho do coração



rosa com branco, verde, sobre tons de azul cĂŠu estampado


MÁSCARA cianotipias_CAROL VERGOTTI

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edicão_GIOVANA MORAES SUZIN (Vacaria RS, 1987) É jornalista e historiadora e trabalha no Almanaque Abril, em São Paulo. É curiosa, insone, exagerada e coleciona pequenos prazeres - seus e alheios. Nascida gaúcha, tem o coração catarinense, mas seus pés são ciganos e não gostam de acomodação. Gosta de gente, de se perder em viagens e em sonoridades múltiplas. Escreve sobre música e outras pirações no blog http://pandorga.mus.br/

direção de arte_NATALIA NUNES (Macatuba SP, 1984) É designer de formação, e o que mais gosta de fazer é se envolver em propostas como a Quincas. Adora mesmo, pararia todo o resto do que está fazendo para se debruçar em projetos atraentes. Mantém alguns blogs de referências, os quais também acha atraentes, como o http://fuckmeproperly.tumblr.com/

ilustração_MARIELLA TOSCANO


Todos os direitos reservados aos autores

PUBLICAÇÃO INDEPENDENTE




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