HAPPY HOUR: ESTREIA NESTA EDIÇÃO COLUNA DE RONALDO MORADO SOBRE CERVEJA
Ano XIV • nº 245 Novembro de 2015
R$ 5,90
BrasĂlia | 5 a 22 de novembro
facebook.com/abraseldf @abraseldf
Petiscos a R$30 nos melhores bares da Cidade facebook.com/abraseldf
Ancho Bistrô de Fogo
Armazém do Ferreira
Beirute
Bier Haus
Café Savana
Cru Balcão Criativo
Delfinna
Empório Santo Antônio
Oliver
Patrocínio regional:
Parrilla 413
Parrilla Madrid
Apoio:
Bar Brahma
Cantina da Massa
Feitiço Mineiro
Primeiro Cozinha de Bar
@abraseldf
Bar Brasília
Bar do Ferreira
Bar do Mercado
Carpe Diem 104 Sul
Carpe Diem La Cuccina
Cervejaria Godofredo
Loca Como Tu Madre
Nosso Mar
Ticiana Werner Vila Esperança Restaurante e Empório Polpeteria e Bar
Realização:
Patrocínio nacional:
O Bistrô Escondido
Zero61 Restaurant & Lounge
Rodrigo Ribeiro
EMPOUCASPALAVRAS Se um entrevistador de algum instituto de pesquisa da vida lhe perguntasse, assim de supetão, de qual das sete artes você gosta mais, o que responderia: música, dança, pintura, escultura, teatro, literatura ou cinema? Difícil de responder, não? Cada uma delas tem seu encanto, seu momento, cada uma delas mexe com seu coração de uma maneira diferente. Mas eu arriscaria dizer, sem nenhuma base científica, bem entendido, que a mais popular de todas elas é a música, com seus infinitos ritmos, com suas infinitas maneiras de mexer com a emoção nos momentos bons e nos nem tanto. Sorte nossa que Brasília, nesta época do ano, está muito bem servida em matéria de música. E não só de rock, como sugere a inspirada capa de André Sartorelli. Além dos elevados decibéis de palcos que recebem Pearl Jam, Morrissey e mais de 20 de embalos do Porão do Rock, vêm aí shows memoráveis de nossa MPB: Bethânia, Gal Costa, Zélia Duncan, João Bosco, Lenine, Arlindo Cruz e muitos outros (a partir da página 27). Considero injusto, contudo, que a gastronomia não esteja entre as artes principais catalogadas pelo italiano Ricciotto Canudo no Manifesto das Sete Artes, em 1912, nem nas inúmeras classificações que surgiram nos últimos tempos, acrescentando a fotografia, os quadrinhos, os videogames e a arte digital, entre outras formas de expressão. Da maneira como vem sendo praticada ultimamente, a gastronomia é, sim, uma arte que tem merecido de nossa revista um tratamento à altura, como se arte fosse. Ou não é arte resgatar um tubérculo parente do nhame e da taioba e utilizá-lo na alta gastronomia, como tem sido tendência entre chefs estrelados? Estamos falando do mangarito, alimento pra lá de nutritivo que era consumido por aqui antes da chegada dos colonizadores portugueses e por pouco escapou da extinção. A repórter-chef Lucia Leão encantou-se com o ingrediente e deu asas à imaginação, criando uma saborosa receita (página 6). Ainda na “oitava” arte, o leitor poderá conhecer as ousadas alquimias praticadas no Fusion, restaurante que confirma a tendência de unir ingredientes regionais à gastronomia tradicional. Cozinha onde se misturam, com harmonia, tartare de filé mignon e queijo brie arrematado com o néctar das jabuticabas (página 10). Folheando as páginas desta edição, o leitor terá ainda um cardápio de bons programas para fazer, desfrutando de todas as artes. O difícil será escolher. Boa leitura e até dezembro. Maria Teresa Fernandes Editora
34 brasiliensedecoração A travessia da jornalista Conceição Freitas da redação de jornal para uma banca de revistas na 308 Sul.
6 16 18 19 20 21 22 26 27 36 38 41
águanaboca picadinho garfadas&goles pão&vinho doisespressoseaconta happyhour dia&noite queespetáculo graves&agudos galeriadearte verso&prosa luzcâmeraação
ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14 – Conjunto 2 – Casa 7 – Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes | Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa André Sartorelli | Colaboradores Adriana Nasser, Alessandra Braz, Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, Ana Vilela, Beth Almeida, Cláudio Ferreira, Eduardo Oliveira, Elaina Daher, Heitor Menezes, Júlia Viegas, Luana Brasil, Lúcia Leão, Luís Turiba, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Melissa Luz, Pedro Brandt, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle | Fotografia Fabrízio Morelo, Gadelha Neto, Rodrigo Ribeiro, Sérgio Amaral, Zé Nobre | Para anunciar 9988.5360 Impressão Editora Gráfica Ipiranga | Tiragem: 20.000 exemplares.
issuu.com/revistaroteirobrasilia
facebook.com/roteirobrasilia
@roteirobrasilia
5
Divulgação
ÁGUANABOCA
O novo xodó dos chefs “E
6
ntão não era sonho! Ele existe mesmo”. A surpresa de Erô Dy La Fuente diante da modesta fatia da batatinha amarela, cozida em água e sal, oferecida para degustação junto com a pergunta “você conhece?” traduziu, na essência, o que dizem chefs de cozinha, estudiosos, produtores e amantes dos sabores brasileiros sobre a mais nova e incensada redescoberta entre os frutos da nossa terra. Primeiro com o sabor, depois com a sonoridade, a mato-grossense, professora aposentada, foi longe, em tempo e espaço: para o quintal da casa da avó Emília, em Barra do Garça, na década de 1940. “Mangarito, mangarito. A gente adorava falar essa palavra. Era como um sinônimo de férias na casa da avó, de brincadeira. Era o café da manhã, o lanche da tarde. Outro dia me lembrei disso, desse sabor e desse
nome, e não sabia direito se era um sonho ou uma lembrança de verdade”. Consumido por essas plagas desde antes da chegada dos colonizadores – José de Anchieta já o citava entre os alimentos indígenas em escritos datados de 1544 – o mangarito escapou por pouco da extinção por desuso a partir dos meados do século passado. Planta de quintal, tradicionalmente produzida para consumo familiar, figurava na enorme lista de alimentos subjugados pela batata inglesa e outras poucas variedades de raízes e tubérculos de maior produtividade em escala, e esteve sumido por décadas. Até que – é razoável supor, por tudo que se ouve e se lê sobre ele – foi salvo pela memória emocional que seu sabor único, inconfundível e inesquecível deixou, como em Erô, nas gerações que o consumiram. E que hoje surpreende o paladar dos privilegiados que têm a oportunidade de prová-lo, entre eles alguns chefs
estrelados, como o paulistano Alex Atala, do premiado restaurante D.O.M., e os “brasilienses” Rosario Tessier, Sebastian Parasole, Francisco Ansiliero, Simon Lau e Mara Alcamim. Lúcia Leão
POR LÚCIA LEÃO
Erô Dy La Fuente: lembranças da década de 1940.
Mara Alcamim, do Universal, e Simon Lau, do Aquavit, criam receitas especiais para seus clientes com o mangarito.
destacando a forma irregular. “Para as pessoas perceberem que estão comendo uma coisa especial, diferente de tudo, e não uma batatinha qualquer”. Mas, como Simon, Mara tem dificuldades de conseguir o tubérculo. Embora a produção esteja sendo lentamente retomada desde o final da década de 1990 em São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina – primeiro com iniciativas quixotescas e mais recentemente com suporte da Embrapa e da rede Emater – só este ano ela ganhou fôlego aqui pelo Planalto Central. E pelas mãos – literalmente, ora vejam! – não de um agricultor tradicional, mas de um economista, Antônio Barroso.
Aconteceu assim: aposentado da lida diária com números, gráficos e tabelas, Antônio, funcionário público aposentado, também foi atingido, há dez anos, pela saudade gostosa da infância, quando se deparou com mangaritos durante um passeio em Pirenópolis. Levou um tanto das batatinhas para casa e presenteou a mãe, dona Petrina. Ela retribuiu com uma grande surpresa: tirou os olhinhos dos tubérculos e preparou 30 mudas. Desde então, ele se dedica a multiplicá- las. Colocou os pés e as mãos na terra, estudou, pesquisou, experimentou. Fez e desfez parcerias e relações, mudou áreas de plantio, investiu muito Fotos: Divulgação
Se você ainda não pertence a esse grupo, uma pequena iniciação: o nome científico é Xanthosoma. É da mesma família da taioba e do inhame e, quando in natura, tem uma aparência muito assemelhada às raras e valiosas trufas europeias. A casca é grossa e rústica, mas solta-se facilmente com a pressão dos dedos após cerca de 40 minutos de cozimento. E então desvenda-se o fruto de massa amarela e homogênea, aroma suave de coisa do mato e um sabor... “Pode-se comparar vagamente à castanha portuguesa, mas a nobreza do mangarito é que o sabor dele é dele, de muita personalidade e força”, define o chef Francisco Ansiliero, único restaurateur de Brasília que mantém, atualmente, um prato com mangaritos em seu cardápio regular (na forma de musseline, para acompanhar coxa de frango caipira). Mas não o único que já experimentou e se curva às qualidades da iguaria. “É um alimento magnífico”, classifica o chef dinamarquês Simon Lau, que já compôs vários dos seus menus no Aquavit simplesmente com fatias de mangarito amanteigado. E gosta de usar assim, porque foi dessa forma que conheceu a “batatinha” na casa da amiga Neusa Paiva, na cidade de Goiás. “Ele tem um sabor magnífico, uma textura suave. Presta-se a tudo, a purês, salteados, nhoque... mas sozinho já é um manjar!”. Outra que já testou, aprovou e apregoa as qualidades do mangarito é Mara Alckmin. Em seus pratos, servidos eventualmente em menus especiais do Universal Dinner, eles comparecem por inteiro, salteados ou curtidos em vinagrete,
7
Divulgação
tempo e dinheiro ao longo de uma década. Hoje, tem vários hectares plantados e produzindo mangaritos nas proximidades de Pirenópolis e na região da Serra da Mesa (quantos e onde, exatamente, não revela) e fala com o orgulho de quem acredita que chegou perto da perfeição: “Eu consegui uma produção em escala de tubérculos selecionados, de tamanho graúdo e uniforme. Só quem conhece sabe o quanto é difícil, principalmente porque o mangarito não responde a nenhum tipo de adubação ou implemento químico, mas só ao manejo adequado, ao solo, ao sol, à água”. Assim, Simon Lau e Mara Alcamin, que já há algum tempo são abastecidos pelas plantações de Antônio Barroso, poderão em breve contar com um fornecimento regular da preciosa iguaria felizmente salva da extinção. E quem mais se interessar e puder pagar (custa R$ 50 o quilo) pode encomendar o produto ao próprio Antônio pelo telefone 9969.6562 ou e-mail ac.barroso@yahoo.com.br.
O produtor Antônio Barroso com o chef Alex Atala, do restaurante D.O.M., outro apreciador do mangarito.
Porque Deus é brasileiro INGREDIENTES • 200g de mangaritos • 200g de pirarucu seco • 50g de castanha do Brasil
8
• 30g de rapadura • 50g de farinha de copioba • 100ml de azeite de babaçu
MODO DE PREPARO Do purê Cozinhe os mangaritos com casca até ficarem bem macios (cerca de 40 minutos). Descasque com os dedos e amasse bem com o garfo, ainda quentes, até atingirem uma textura bem lisa e homogênea. Adicione de duas a três colheres de sopa de azeite de babaçu e sal a gosto, misture tudo muito bem e forre com o purê o fundo de uma travessa pequena. Reserve. Do pirarucu Dessalgue o peixe por pelo menos 24h, trocando a água. Afervente e desfie. Numa frigideira aqueça o restante do
Fotos: Lúcia Leão
Pirarucu salteado em azeite de babaçu, em berço de purê de mangaritos, polvilhado com farofa de castanhas do Brasil e rapadura. A ideia desta receita foi compor exclusivamente sabores brasileiros, todos bem marcantes. O uso do azeite de babaçu foi sugestão do chef Francisco Ansiliero. Preparada pela autora desta reportagem, a receita foi degustada no Espaço Cultural Leão da Serra, no Taquari.
azeite de babaçu e salteie o peixe desfiado até ficar bem cozido e começar a dourar. Retire o peixe da frigideira e deite na travessa sobre o purê de mangaritos. Da farofa Use a mesma frigideira em que fritou o peixe. Raspe o resíduo que ficou no fundo e acrescente a ele o restante do azeite, as castanhas e a rapadura socadas em pilão e a farinha e frite por um ou dois minutos. Cuidado para não derreter a rapadura. Finalize o prato polvilhando o peixe com a farofa.
Ministério da Cultura apresenta Banco do Brasil apresenta e patrocina
DEITEI PARA REPOUSAR E ELE MEXEU COMIGO Pinturas de FÁBIO BAROLI
Realização
Até 21 de dezembro, no Centro Cultural Banco do Brasil – Brasília Central de Atendimento BB 4004 0001 ou 0800 729 0001
SAC 0800 729 0722
Deficiente Auditivo ou de Fala 0800 729 0088
Ouvidoria 0800 7295678
ou acesse bb.com.br
@ccbb_df /ccbb.brasilia
Nos termos da Portaria 3.083, de 25.09.2013, do Ministério da Justiça, informamos que a Licença de Funcionamento deste CCBB tem número 00340/2011, com prazo de validade indeterminado.
ÁGUANABOCA
Bacalhau a la caponata
Ossobuco rosso
Ousadas alquimias POR VICTOR CRUZEIRO FOTOS RODRIGO RIBEIRO
A
cozinha existe nos ingredientes. Boas pitadas de açafrão e de coentro em uma massa fresca, sob o molho certo, são fatores decisivos para um prato. No ofício de cozinhar, talvez a mais delicada das escolhas seja a dos ingredientes. Nem tanto de suas quantidades, pois os gostos podem ser equilibrados, mas
10
Confit de canard ao tucupi
os sabores não. Ou seja, doce e salgado se equilibram com um pouco disso e daquilo – mas, ah, como é árduo escolher isso e aquilo... Dobra-se a dificuldade quando a proposta é unir ingredientes que nunca andam juntos. Elementos de culturas diferentes, por exemplo. Castanhas-do-pará e filé mignon. Escalope suíno e caipirinha. Brotos de feijão e jabuticaba... O Fusion, do Setor Sudoeste, é um dos restaurantes pioneiros na proposta audaciosa de incluir ingredientes nossos em receitas canônicas da alta gastronomia. Não é o primeiro a fazê-lo, com certeza (lembrai que um dos preceitos da culinária – assim como de qualquer ciência e qualquer arte – é buscar derrubar seus próprios paradigmas quando se atinge um ponto de estagnação). No entanto, poucas casas levaram tão ao pé da letra – colocando até no nome – a ideia de criar algo novo, a partir da fusão dos nossos tesouros com as preciosidades de lá. Desde a entrada encontramos iguarias únicas, como o tartare de filé mignon e queijo brie arrematado com a cor e o néctar das jabuticabas (R$ 32). Um dos carros-chefes da casa, o tartare vem acom-
panhado de brotos de feijão. E seu sucesso não apenas justifica a aventura gastronômica do Fusion como abre caminho para outras – por exemplo, o uso das mesmas jabuticabas nos medalhões de filé (R$ 65) e do molho de caipirinha no escalope suíno (R$ 48), que suaviza, adocica e marca o prato. Há também o ravioli paraense, massa deliciosamente fresca recheada com polpa de filé mignon, castanhas-do-pará e catupiry, acompanhada de um molho rôti com parmesão (R$ 46,90 no menu executivo servido no almoço). A presença da castanha no recheio é sutil, mas deixa-se perceber não apenas na carne, como também no balanço com o molho e, principalmente, com o parmesão. Indo além das massas italianas, o Fusion se aventura na cozinha caribenha, reescrevendo uma conhecida receita portoriquenha à nossa moda. O Arroz Boricua – uma receita de arroz, feijões, legumes e ervas – é uma das provas da reinvenção incessante da culinária. Com o arroz trazido da Europa – introduzido pelos árabes – e o feijão típico das Américas criou-se um prato singular, que ho-
Rodrigo Ribeiro
je é a base da alimentação de quase todo o continente. No Fusion, o Arroz Boricua (R$ 46,90) é unido a um ragu de pato, acompanhado de delicadas raspas de laranja, que coroam o sabor forte do pato com uma pitada doce. Em suma, o cardápio do Fusion é do tipo que deixaria Oswald de Andrade orgulhoso. Seu empenho em absorver o que vem de fora e dar-lhe um toque único, típico, é digno de um manifesto antropofágico – ou, no caso, gastropofágico. Mas as façanhas do cardápio vanguardista não param por aí, e continuam até mesmo nas sobremesas, das quais um quindim de açaí com calda de caramelo de guaraná, acompanhado de sorvete de tapioca (R$ 18), mostra a versão fusiontupiniquim do famoso petit-gâteau. Portanto, não vá ao Fusion esperando menos do que requinte. Mas não um requinte baseado em exuberância, muitas vezes de modelo estrangeiro. É fato que o Fusion tem, sim, um ambiente requintado, sobriamente decorado com cores amenas equilibradas com os alegres quadros com citações dos Beatles e Fleetwood Mac. Mas, acima de tudo, o Fusion é distinto em sua essência, em cada prato servido, em cada garfada dada, em
cada ingrediente escolhido. O novo empreendimento de Rodrigo Garrido e Cristian Oliveira – este último sócio também do Liv Lounge e do Victrola – não desampara o cliente em nenhum aspecto, desde o excelente atendimento à carta de cervejas especiais e vinhos bastante completa. Ir ao Fusion é abraçar uma proposta nova que não há de decepcionar
ninguém que acredite no poder criativo de uma boa combinação de ingredientes. É não ter nenhuma fórmula para a contemporânea expressão da gastronomia. É desfrutar com olhos (e paladar) livres. Fusion
CLSW 300 – Bloco 1 (3554-4148) Domingo e 2ª feira, das 12 às 16h; 3ª a 5ª, das 12 às 23h45; 6ª e sábado, das 12 à 0h30.
11
ÁGUANABOCA
Acima, espaguete ao alho e óleo; abaixo, o polpetone dos pescadores; ao lado, o dos portugueses.
No reino do polpetone Q
12
ue tal começar a matéria com uma pegadinha gastronômica? Em qual vila de Brasília se come o melhor polpetone? Se pensou Vila Planalto, errou. Se falou Vila Dimas, não acertou. Mas se acha que é na Vila Telebrasília, também não é. É no Vila Esperança, restaurante recém-inaugurado na 104 Norte. Nos últimos cinco anos, somente os frequentadores da Quituart, do Lago Norte, haviam tido o prazer de conhecer, no pequeno quiosque de Augusto Pinto, a sua polpeteria. Quem por lá passou e provou não esquece os polpetones clássicos e as inúmeras releituras, feitas por Augusto, desse tradicional e familiar prato italiano. Os primeiros registros do polpetone na literatura datam do Século XV. O prato parece ter surgido para aproveitar as sobras de carne de vitelo, boi ou porco que, acrescidas de ervas, especiarias e pão amanhecido, animavam os suculentos e conversados almoços das vilas italianas. Com o tempo, e de acordo com cada região da Itália, o polpetone foi ganhando variedades e recheios diversos. Derivou-se dele também a polpeta, uma bola de carne menor e, na maioria dos lugares, cozida no molho.
Mas como é que uma italianíssima polpeteria foi nascer no meio do cerrado, com nome de bairro paulista e tocada por um goiano? A pergunta é complicada, mas a resposta simples: “Porque eu sempre fui apaixonado por polpetone e queria fazer um empreendimento diferenciado; daí, busquei o nome numa música do Adoniram Barbosa e não no bairro paulistano, desenvolvi alguns pratos especialmente para a casa e comecei o negócio”, responde Augusto. Para você ter uma ideia da qualidade dessas criações, saiba que o polpetone tra-
dicional, aquele de carne de porco ou de boi, servido ao sugo, divide a preferência da clientela – e às vezes é até superado – pelo polpetone de tilápia, só encontrado no Vila Esperança. É quase uma máxima italiana que “para uma boa refeição a dois basta um polpetone e uma massa”, ou, no caso do Vila Esperança, uma massa ou o arroz crocante passado na manteiga com gueroba e baru, que, sem as bebidas, sai em média por R$ 80. Por isso, e também por conta da criatividade do Augusto, os polpetones do Vila Esperança não coLúcia Leão
POR VICENTE SÁ
Luciana e Augusto em momento de confraternização com os clientes.
Fotos: Divulgação
Um toque peruano no Inácia nhecem limites ou fronteiras e vão do tradicional de carne aos mais variados, como o dos portugueses, feito de bacalhau com recheio de tomate seco, azeitonas pretas e molho de pimentão colorido, alho e tomate, puxado no azeite extra virgem. E se você acha que ele pulou fora da receita precisa ver outro polpetone muito pedido na casa: o dos mineiros, feito de carne de porco com recheio de linguiça e geleia de jabuticaba. Um prato bem pouco tradicional, mas que já conquistou fãs e sai por R$ 35. No novo Vila Esperança, na 104 Norte, Augusto e a mulher, Luciana, podem oferecer a seus clientes muito mais espaço e conforto. São 60 lugares em uma loja de esquina, bem ventilada e com vista para a parte residencial da quadra, ou seja, no sossego pra você curtir uma boa comida com um bom vinho ou uma cerveja bem gelada de marca. Abre todos os dias da semana para almoço e jantar. Pra quem quer apenas curtir a happy hour com uma cervejinha, recomenda-se o Trio Ternura, porção de 12 polpetas de três tipos diferentes (R$ 29). Outra polpeta inusitada, mas de boa receptividade por parte do brasiliense, é a de pequi, uma homenagem de Augusto Pinto à sua terrinha. Vila Esperança
104 Norte – Bloco B (3034.75990 Diariamente, das 12 às 24h.
A
cozinha do Inácia Poulet Rôti, que já era excelente, ficou melhor ainda. Vários pratos agora têm um toque da culinária peruana, hoje uma das mais apreciadas do mundo. O novo chef, Jhon Ccolque, peruano de Cusco, incluiu novos pratos, renovou clássicos do bistrô e recentemente conquistou para o Inácia o título de melhor ceviche de Brasília. A harmonia de sabores entre o peixe branco, o camarão e o polvo, temperados com leche de tigre e aji roxo, encantou os jurados do concurso promovido pela Embaixada do Peru. Entre as novidades do Inácia, com a assinatura do novo chef, estão as bruschettas recheadas com tomate cereja e queijo Brie (R$ 27 a porção), a sobrecoxa desossada com três queijos, alho, legumes grelhados e purê de batata inglesa (R$ 78) e o filé mignon ao molho de vinho e risoto e creme com limão siciliano (R$ 75). A ideia não é transformar o Inácia em um restaurante peruano, mas trabalhar com o que há de mais especial na culinária mundial. “Utilizo a culinária do meu país, do Brasil, do Oriente Médio e da Europa”, explica o chef. Nos clássicos do Inácia, ele mexeu na apresentação dos pratos e em alguns ingredientes. Ccolque, de apenas 24 anos, é formado pela Universidade de Ambrosia, escola de alta cozinha em Cusco. Na cidade inca, trabalhou nos restaurantes Dom Antônio, Cicciolina e Chicha, este do renomado chef Gastón Acurio. Em 2012, mudou-se
para Lima e trabalhou em bistrôs e restaurantes renomados. Veio para o Brasil no ano passado, passando por São Paulo e Salvador. Aqui, trabalhou no Taypá, com o chef Marco Espinoza, e em julho deste ano assumiu a cozinha do Inácia. Com três ambientes – dois internos e uma varanda sob a sombra de uma velha mangueira – o Inácia tem capacidade para até 80 pessoas. O proprietário, o advogado Luís Carlos Alcoforado, cuja avó chamava-se Inácia e foi famosa boleira, disse que trabalha com requinte e simplicidade. “O Inácia é provinciano e internacional. Não queremos ver apenas o cliente comer e pagar, mas fazer tudo funcionar com a alma e o coração”. O restaurante oferece também menus executivos a R$ 50, com salada, prato principal e sobremesa. Fotos: Rafael Lobo Zoltar Design
POR SÚSAN FARIA
Inácia Poulet Rôti
103 Sul – Bloco B (3225.4006). De 2ª a sábado, das 12 às 23h; domingo, das 12 às 16h.
13
ÁGUANABOCA
Um festival de petiscos criativos N
Carpe Diem Nosso Mar
Primeiro Cozinha de Bar
Beirute
Fotos: Rafael Lobo - Zolta
r Design
Cru Balcão Criativo
ão só de espetinhos, croquetes e linguiças vivem as cozinhas de bar. Também é possível degustar gastronomias criativas e surpreendentes nas mesas de boteco. Até o dia 22, a nona edição do Festival Bar em Bar oferece em Brasília saborosos petiscos por apenas R$ 30, sendo que R$ 1 desse valor será revertido para a instituição Filhos do Brasil. Das 28 casas participantes, separamos seis que prepararam para o festival comidinhas diferenciadas que fogem do “lugar comum”. Famoso por sua gastronomia praiana, o restaurante Nosso Mar, da 115 Norte, está oferecendo nada menos do que seu carrochefe. Batizado de “O Cerrado no Nosso Mar”, o petisco é um mix de casquinhas de caranguejo, camarões fritos e batatas à vinagrete. Além disso, vem acompanhado de uma deliciosa farofa com castanha de baru e serve duas pessoas. Outro petisco que vale a pena experimentar é o do Carpe Diem da 104 Sul: moela ao poivre vert com aroela. Elaborado com moela cozida ao molho madeira e pimenta verde, o prato é acompanhado por rodelas de baguete. Serve também duas pessoas. Um dos bares mais tradicionais de Brasília, o Beirute, está servindo nas unidades da Asa Sul e da Asa Norte os disquinhos de kafta à parmegiana, cobertos com queijo mussarela e molho rústico de tomate. Já no Primeiro Cozinha de Bar, tanto no Sudoeste quanto em Águas Claras, o petisco do festival atende pelo bem-humorado nome de “De bacon a vida”. É feito com pão-de-ló e bastante mussarela e embrulhado com fatias de bacon. Serve três pessoas. No Oliver, no Clube de Golfe, os clientes podem provar outro petisco diferenciado, feito com ingredientes selecionados. O charuto de carpaccio trufado serve duas pessoas e é preparado com carpaccio de carne enrolado em folhas de mostarda, coberto com queijo parmesão e azeite trufado. Anexo ao Oliver, o Cru Balcão Criativo participa do Bar em Bar com a casquinha de linguiça – seis casquinhas recheadas com linguiça e ovo de codorna pochê. Festival Bar em Bar 2015
14
Oliver
Até 22/11 em 28 bares e restaurantes da cidade. Relação dos participantes, descrição e fotos dos petiscos em www.barembar.com.br.
Promoção Comprou-Ganhou não sujeita a autorização. Participação válida até as 20 horas do dia 27/12/15 ou em data anterior caso se esgote cada um dos estoques, observada ainda a condição de pagamento e o limite por CPF. *Limite de 2 por CPF. Estoque de 500 brindes. ** Limite de 2 por CPF. Estoque de 1mil brindes especiais.
***Automóveis na versão 1SD. Promoção Comprou-Concorreu válida até as 20 horas do dia 27/12/15. Cores e datas dos sorteios no Regulamento. Certificado de Autorização SEAE/MF nº 06/0468/2015.
Consulte os regulamentos, a premiação e as lojas participantes em www.parkshopping.com.br. Imagens e cores ilustrativas.
Divulgação
PICADINHO Roda de Boteco Pra quem gosta de um bom petisco e de uma cervejinha estupidamente gelada, a sexta edição do Roda de Boteco, que rola até 5 de dezembro em 30 bares e restaurantes do DF, é um prato cheio. Criados especialmente para o festival, os petiscos têm preço único de R$ 29,90, e a primeira cerveja é grátis. Uma novidade importante: “Antes, os participantes eram apenas do Plano Piloto. Este ano, dois terços são de outras cidades do DF. Queremos que todos participem”, diz Jael Antônio da Silva, presidente do Sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes do DF (Sindhobar). Ao longo do festival, o público vai eleger, pelo voto direto, o melhor bar, o melhor boteco e o melhor atendimento. Os vencedores serão conhecidos dia 12 de dezembro, durante a Festa do Bote- cão, no Aloha Day Club, ao lado da Concha Acústica, com muita música, petiscos e cer veja. Em www.rodadeboteco.com.br o leitor encontrará a relação dos participantes, descrição e fotos dos petiscos em O Armazém do Ferreira (202 Norte, Bloco A, tel. 3327.0167) participa com esse “entocadinho de camarão”.
Degustar pratos de culinárias brasileiras e estrangeiras, fazer piquenique na grama, absorver ensinamentos de renomados chefs, comprar produtos orgânicos – é bastante vasto o cardápio do Mercado Mundi, um encontro gastronômico dedicado a apresentar os diferentes sabores do mundo e refletir sobre o futuro da alimentação. Promovido pelo IESB no campus Edson Machado (613/614 Sul), de 4 a 6 de dezembro, sempre das 12 às 24 horas, o encontro terá a participação de restaurantes, adegas, produtores, importadores, embaixadas, sommeliers, bodequeiros e cozinheiros como Rosario Tessier, da Trattoria da Rosario (foto), escalado para uma das aulas-show. Outra atração será a Mostra Brasília do Slow Filme Festival, em que serão exibidos filmes inéditos sobre temas ligados à sustentabilidade, às tradições alimentares e às raízes culturais. No Mercadinho, as crianças terão atividades educativas, noções de cozinha e degustações. Mais informações: www.mercadomundi.com.
Preços convidativos 1 Comer bem, com preços especiais, em um lugar de vista exuberante, parece um sonho, mas pode ser realidade. No DaOrla Show Bar e Restaurante (SCES, Trecho 2, tel. 3226.0026) pode-se apreciar a bela paisagem do Lago Paranoá, saborear boas comidinhas e sair sem a impressão de que foi assaltado. Senão vejamos: no menu econômico, disponível também no delivery, meias porções de filé de frango grelhado, estrogonofe de frango, picadinho, isca de peixe e feijoada (esta apenas às sextas e sábados) custam entre R$ 13 e R$ 16. Todos os pratos têm o acompanhamento de arroz, feijão e salada. Mas gostoso mesmo é sentar à mesa do DaOrla e pedir uma panelinha de arroz, feijão, carnes, ovo e farofinha (R$ 27) ou um bife de alcatra, arroz, feijão, batata frita e salada (R$ 18,90), ambos em porções generosas. O camarão no coco custa R$ 32 e o escondidinho de bacalhau R$ 40 (serve duas pessoas). A proprietária, Rayane Guimarães, explica: “Diminuímos a margem de lucro e mantivemos o sabor e a qualidade, em pratos bem servidos”.
Divulgação
Divulgação
Mercado Mundi
Preços convidativos 2
Conquista feminina Tatiana Spogis, uma brasileira de 37 anos, acaba de conquistar um título inédito: o terceiro lugar no Campeonato Mundial de Sommeliers de Cerveja, realizado na Alemanha. Ela é, desde 2002, diretora de marketing da Bier & Wein, primeira e maior importadora de cervejas especiais do Brasil, responsável pela vinda da famosa Erdinger, e professora do curso de sommeliers de cerveja Doemens, na Academia Barbante. Rafael Lobo-Zoltar Design
Renasce o Aquavit Após um curto período de aquecimento, em que apresentou a seus clientes o smørrebrød, um sanduíche típico dinamarquês, o chef Simon Lau finalmente reabriu o Aquavit, cuja trajetória fora interrompida, pouco mais de dois anos atrás, por restrições impostas pela lei de zoneamento urbano. O local não poderia ser mais apropriado: a antiga Casa de Chá do Jardim Botânico, onde Simon voltou a praticar uma culinária que valoriza ingredientes locais, como a baunilha do cerrado, o cajuzinho do mato e a guariroba, em receitas que mesclam técnica e criatividade. Tudo como antes no quartel de Abrantes: a cada mês continuará sendo renovado o menu-degustação de cinco etapas, pelo qual os comensais podem pagar R$ 250 ou R$ 395 (se optar pela harmonização dos pratos com vinhos).
Em tempo de vacas magras, é preciso ser criativo. No Ancho Bistrô de Fogo (306 Sul, Bloco C, tel. 3244.7125) a novidade é uma parrilla móvel da qual saem, de terça a quintafeira, a partir das 18 horas, espetinhos de carne de sol (R$ 9), de batata baby e presunto de Parma, de frango, de kafta bovina recheada com mussarela de búfala (todos a R$ 12), de fraldinha (R$ 15) e de kobe beef (R$ 25). Para completar a festa da happy hour: das 18 às 20 horas, nesses dias da semana, o chope está com preço promocional de R$ 5,99.
Pizza D’Lurdes Sucesso no Guará II, a Goianinha é uma das 40 pizzas que figuram no cardápio da filial do restaurante D’Lurdes em Águas Claras (Edifício Beverly Hills Plaza, Avenida das Castanheiras, tel. 3204.3283), inaugada há pouco mis de dois meses. Das 40, seis são receitas novas, entre elas as de mortadela defumada, cachorro-quente e rabada.
Cardápio trimestral
Cardápio semestral No Taypá (QI 17, Fashion Park, Lago Sul, tel. 3248.0403) a renovação do cardápio acontece de seis em seis meses. A última trouxe nada menos do que 23 novidades, entre entradas, pratos principais e sobremesas. Vamos a algumas delas: de entrada, hambúrguer de camarão com maionese, ketchup de pimentão e chips de batata baroa (R$ 46,80), ribs com molho agridoce, brulée de alho e tempura de espinafre (R$ 62,90) e ceviche de salmão fresco, pimentão, azeitonas, alcachofra em leite de tigre com manjericão (R$ 52,30);
entre os principais, esse cordeiro em crosta de quinoa (R$ 87,60), o capeleti de camarão com molho de cogumelos e pimenta amarela (R$ 61,80) e o ojo de bife grelhado, ao molho de rocoto, servido com couve e batata (R$ 64,80); e, de sobremesa, mousse de lúcuma com suspiros e sorvete de chocolate ao pisco (R$ 27,80), crepe de milho roxo com calda de manga e maracujá e sorvete de arroz com leite (R$ 27,80), canudo de caju com espuma de abacate e infusão de leite e lima (R$ 25,80) e petit gâteau de amendoim com doce de leite, molho inglês de caramelo e sorvete de coco (R$ 27,80).
e uma sobremesa preparados com ingredientes típicos da primavera. Um deles é esse refrescante salmão marinado com salada cítrica (R$ 35). Os outros são o robalo com risoto de manjericão e alcachofras (R$ 89), o filé mignon com purê de batata doce e cuscuz de brócolis (R$ 85) e o creme de laranja com salada de frutas vermelhas (R$ 27). “Esta é uma boa época para beterraba, alcachofras e ingredientes cítricos”, explica o espanhol Carlos Valenti, chef executivo do grupo Rubaiyat.
Divulgação
Feijoada light
Pratos primaveris O cardápio do Rubaiyat (SCES, Trecho 1, tel. 3443.5000) ganhou o reforço de três pratos
Fábio Setti
Rener Oliveira
Fabricio Rodrigues
Como faz a cada três meses, a chef Renata Carvalho, do Loca Como Tu Madre (306 Sul, Bloco C, tel. 3244.5828) lançou no final de outuboro um novo cardápio para o jantar. Uma das novidades é o Chop Suey Primavera (legumes à julienne, tiras de frango e molho oriental, a R$ 36), disponível também em versão vegana, com cogumelos em vez de frango. Entre as novas saladas destaca-se essa Burrata Mediterrânea, com crocante de Parma, baby rúcula e azeite de manjericão, a R$ 51).
Mais leve, com menos sal e menos gordura, mas nem por isso menos temperada, é a feijoada que acaba de reforçar o cardápio do almoço das quartas-feiras e sábados na choperia Pinguim (Espaço Gourmet do ParkShopping, tel. 3042.1070). Custa R$ 48 e é servida numa cumbuca com feijão preto, carne seca, linguiça calabresa, paio, costelinha suína, rabo, orelha de porco e os acompanhamentos tradicionais – arroz branco, torresmo, linguiça, couve e laranja.
No canto esquerdo, Rodrigo Almeida, do Pinella; no canto direito, André Correia, personal chef. Dia e hora: 23/11, às 18h30. Local: restaurante Jambu, na Vila Planalto (tel. 3081.0900). Este será um dos nove combates programados pelo projeto Duelo dos Cozinheiros. No dia 23, o desafio de cada um será preparar 42 porções de um prato criado com algum tipo de proteína e ingredientes revelados apenas na hora. E tudo isso em apenas 60 minutos. Cada minuto de atraso custará ao competidor um ponto a menos. Os duelos estão sendo travados semanalmente, sempre em um campo – ou melhor, um restaurante – neutro (o nono e último será no dia 19 de dezembro). Quem quiser presenciar os embates pagará R$ 100 e terá direito aos dois pratos mais um drinque, uma entrada ou uma sobremesa do cardápio do restaurante que sediar o duelo, onde poderão ser comprados os ingressos com antecedência de dois dias.
Divulgação
Divulgação
Duelo de cozinheiros
GARFADAS&GOLES
Vovô viu ovo de novo
LUIZ RECENA
lrecena@hotmail.com
Colunista não tem geração. Insiste e se apresenta como pertencente a algum lapso temporal. A década xis. Melhor seria era, quando nada pela presunção da permanência eterna. Eras e décadas marcadas pela referência de alguém famoso. Grandes comunistas, maravilhosos escritores, inspirados compositores, poetas tísicos, bailarinas carregadas por estudantes para quebrar pernas, diretores de cinema bebedores de uísque falsificado. Foi nesse quadro que vovô viu novo ovo. Chamou Ivo, que via uvas, e foram ler o mais recente relatório da Organização Mundial da Saúde: está tudo condenado! Toda comida dá câncer. Vovô e Ivo pertencem à Era de Groucho Marx, Saci Pererê e Mikhail Bulgakov. Do terceiro receberam russas informações de que hordas de salames e outros embutidos internacionalistas destruiriam estômagos e corações da humanidade. Do segundo, um cachimbo com cannabis foi sinal único de resistência. Do primeiro, um cheque em dólares com o recado: “Hollywood comprou argumento, série de humor garantida. Saudações. PS: estou na segunda dose de uísque falso, com Orson e Hemingway. Vinícius atrasado, de carona com Caimmy”... Convenhamos: se não fossem tão caros, os burocratas internacionais seriam quase indispensáveis. E o que fariam sem eles os cronistas, esses ingratos... Sorte que os veganistas que manipularam o relatório disseram “ôps, foi engano!” Poderemos continuar comendo nossos bacons, salames e picanhas gordas ancentrais e futuristas.
Peru na mão amiga
Inácia tem um peruano ótimo./O Peru tem o melhor ceviche do mundo./O peruano de Inácia sabe tudo de ceviche./ Logo, Inácia tem o melhor ceviche de Brasília. Jhon Ccolque não tem nada a ver com os cartesianos e Inácia é nome de restaurante. Nossa história existe porque o andino é o novo chef da casa da 103 Sul. A apresentação, um arraso. Abertura com o ceviche premiado, seguido de divino peixe cearense de nome Sirigado, que ofuscou o bom marreco final.
Moda e vida
A cozinha peruana está na moda. É bola da vez no mundo. Com cultura própria sólida, os peruanos respondem e dão conta do recado. Concessões fazem parte do jogo da vida. Conheci o ceviche clássico em Lima. Bar modesto, crescido no
18
rastro da boa comida e da preferência de cronistas, poetas e pensadores. Amantes da cerveja gelada, do pisco e de um ceviche monumental, na fartura e nos detalhes. O anfitrião não cansou de citar filósofo do século passado, dom SalváChavón de Carrazco y Herencia: “El ceviche h(f)arto es la gloria de la pátria”. Biógrafo escreveu que descendentes dele operam no marketing internacional da comida peruana. Com ideia nova: se fartura diminuiu, qualidade não caiu.
Amigos, sempre eles
As boas lembranças de repente se materializaram na mesa da Grande Dama. Liana Sabo recuperou Walter Gomes, titular de um time de meus maiores a quem sempre devotei apreço e respeito. Correspondido com carinho ao jovem confrade que vinha do sul. É o pai do anfitrião,
Luiz Carlos Alcoforado. Tudo em casa.
Manjares moscovitas
No fim da União Soviética tudo (ou quase) era possível. Um dia o colunista obteve três unidades de filhotes de esturjão. Contatos em código levaram a muamba às mãos do craque cozinheiro Nando Delamare. Demais apetrechos produzidos e os peixinhos chegaram à mesa com espesso molho de caviar preto. Intimado de última hora, o anfitrião, em doce constrangimento, ofertou goles de pura vodka e uma borbulhante Cristal. Nando visitava a irmã Tite, esposa de Rego Barros, o Bambino, embaixador em Moscou, onde estávamos todos na hora da festa. Bambino outro dia criou asas, voou. Longe de nós, mais perto das nossas lembranças queridas. Há notas difíceis, duras de escrever. É esta. Vá em paz, amigo.
PÃO&VINHO
Montes de vinhos Mais uma vez como repórter de campo, redijo esta coluna diretamente de Santiago do Chile. Uma semana para descansar e para onde vou? Para terras vínicas, claro. O Chile é, sem dúvida, o país que produz a melhor qualidade de vinhos na América Latina e, portanto, o melhor destino para quem tem pouco tempo e o desejo de viajar para encontrar bons vinhos. Além disso, apesar de existirem exemplares já bastante caros, creio que é a procedência que oferece a melhor relação custo x benefício para nós brasileiros, ao menos na média geral. Viagem tranquila pela LAN e já tive de cara a oportunidade de beber um excelente Cabernet Sauvignon: o Casa Real 2010, vinho top da Santa Rita, servido na classe executiva. Um Maipo de alta estirpe, com aromas a frutas negras, especialmente ameixa, e toque de menta. Boca elegante, com boa estrutura e concentração . A estada com sol, apesar de acompanhada, em uma das noites, por um terremoto de intensidade 6.8, suficiente para nos acordar, pelos tremores da cama e paredes, nos foi bastante agradável, especialmente na visita à Viña Montes. Embora já tenha vindo duas vezes ao Chile, não estive em muitas vinícolas, mas tenho certeza de que a Montes é uma das melhores para ser visitada. Uma bodega espetacular, moderna e toda construída sob a orientação do Feng Shui, sobre belíssimos vinhedos em Colchagua, mais precisamente em Apalta, onde produzem as uvas para seus vinhos premiuns e ícones. Pelas vinhas, apenas de tintas, desfilam fantásticos cachos de Syrah, Malbec, Petit Verdot, Carbernet Franc Carignan, Carménère, a grande Cabernet Sauvignon e a inesperada Cisault. A maior parte delas direcionada à produção dos ícones Montes M, Montes Folly e Purple
ALEXANDRE FRANCO pao&vinho@agenciaalo.com.br
Angel. O primeiro, um corte clássico bordalês; o segundo, um Syrah espetacular; e o terceiro, um Carménère único. Para estes, as uvas são colhidas manualmente, em produção extremamente reduzida, de um único cacho por vinha. Após a visita, é claro, uma degustação dos ícones na belíssima adega, onde descansam, sob o efeito de cantos gregorianos, cerca de duas centenas de barricas bordalesas com os melhores caldos. O Montes M, um clássico vinho de corte bordalês, muito sóbrio e ainda muito jovem, precisará de mais uns cinco anos, pelo menos, para mostrar seu melhor, mas já se prova de altíssima qualidade. O Montes Folly é um Syrah selvagem, de ótimos e típicos aromas com algo de pimenta e outras especiarias, terra, húmus e frutas vermelhas em compota, fundo de boca doce. O Purple Angel, creio que o melhor Carménère do Chile, portanto provavelmente do mundo, traz uma cor intensa, púrpura como o nome sugere, aromas de frutas negras em compota, toque de tabaco e nuance de grafite. Boca intensa, ainda um pouco alcoólica, mas muito saborosa. A grande novidade da vinícola é o Taita, um vinho nascido em 2007, a única safra já à venda por não menos, aliás, de 400 dólares a garrafa. Segundo Emanuel, nosso simpático guia, o vinho mais caro do Chile, que pretende valer seu preço. Este, infelizmente, não pudemos provar, nem tampouco tive coragem de comprar. Parece-me caro demais para um chileno. Na bagagem, montes de vinhos: Montes M, Purple Angel, Montes Folly, Alma Viva, Caballo Loco, Don Melchor, Clos Apalta, Franc (uma novidade que dizem ser o Cheval Blanc das Américas) e duas garrafas daquele que creio seja o melhor Cabernet do Chile, o Domus Aurea. Quer mais?
19
DOIS ESPRESSOS E A CONTA
Eu sou um ogro Não se assuste com o título, é só uma constatação. E vale só para a área gastronômica, bem entendido! Nos outros setores, sou até bem educado. Mesmo depois de décadas frequentando restaurantes, lendo cardápios, estando atento às novidades que saem na imprensa, acho que sei cada vez menos sobre o mundo da mesa. E já arrumei alguns culpados! O primeiro deles é a gourmetização. O fenômeno atinge diretamente a descrição dos pratos. Para quem mal sabe fritar um ovo sem que a casca caia na frigideira, parece sempre muito complicado. “Corte de filé em cama de batata baroa escoltado por aspargos frescos com redução de vinho tinto”. Nem sei se esses ingredientes fazem sentido juntos, mas é esse o tipo de linguagem que o cliente encontra nos cardápios hoje em dia. Bonita, bem escrita, mas enigmática. O segundo culpado é a variedade. Cada vez mais temos opções para escolher dentro dos universos gastronômicos. As saladas, por exemplo, chegam com folhas desconhecidas e frutas exóticas. Mesmo nos self-services mais simples é preciso exercitar a toda hora o poder de escolha. Confesso que às vezes dá preguiça, tenho saudades quando as alternativas eram apenas a carne principal (boi/peixe/frango) e alguns acompanhamentos, sempre os tradicionais. Cada pizzaria tem, hoje em dia, pelo menos 50 opções de pizzas, entre salgadas e doces. Lembram-se do tempo da mussarela/presunto/calabresa/portuguesa? Pode esquecer. Qualquer creperia também tem dezenas de opções, com ou sem sorvete, e em tamanhos diferentes. Até os doces tradicionais, como o petit-gâteau, já têm suas variações. E os sorvetes? É preciso sempre pedir
20
CLÁUDIO FERREIRA claudioferreira_64@hotmail.com
informações aos atendentes para traduzir nomes enigmáticos e saber sobre frutas desconhecidas. Ainda estou no terreno da comida. Quando penso nos vinhos e no seu universo cheio de nuances, desanimo. Tudo bem que o álcool não faz parte da minha vida, salvo raríssimas exceções. Admiro, no entanto, quem sente cheiro de flores, madeiras e frutas a partir de um cálice de vinho. Os puristas devem estar me achando realmente um irmão gêmeo do Fred Flintstone. Juro que quero fazer um curso, prestar bastante atenção e entender pelo menos o básico sobre o mundo das uvas. Parece que até o mundo da cachaça agora é um labirinto. Não basta apenas chegar ao balcão e pedir uma “caninha”. Há marcas refinadas, cidades que são referência em boa produção da aguardente. E especialistas que poderiam discorrer horas sobre o assunto. Mais um tema para me aprofundar... Agora vem a onda dos programas de televisão. Todo mundo do mundo todo é bom cozinheiro, tem um talento desconhecido para o forno e o fogão que será revelado em rede nacional ou internacional. Da comida saudável da Bela Gil aos cupcakes “engordativos” dos norte-americanos, o cardápio televisivo é variado. Nos reality-shows gastronômicos é aquela cachorrada, com direito a chefs performáticos e muitas lágrimas. Naqueles que humilham as pessoas acima do peso, a fartura é mostrada como doença. Nos programas de curiosidades, já vi sorvete de bacon e insetos vivos no espetinho. Homens e mulheres cozinham sempre com sofisticação, ninguém se corta, ninguém deixa cair nada no chão. E meu prato preferido é carne moída. Pobre ogro!
HAPPY HOUR
Cerveja especial ? Cerveja é a prova de que Deus nos ama e nos quer felizes. Benjamin Franklin, um dos pais da independência dos EUA Inicio hoje minha participação nesta revista para falar do melhor dos assuntos: cerveja, essa bebida milenar essencialmente ligada à confraternização, celebração e alegria. Nós, brasileiros que tanto nos orgulhamos de sermos um país tropical, não sabemos que, apesar de grandes fabricantes e consumidores (3º no mundo), somos bebedores modestos de cerveja (27º no mundo). Venezuelanos bebem mais cerveja per capita do que brasileiros. Essa situação é consequência do pouco conhecimento que temos sobre essa maravilhosa bebida. Por exemplo: Poucos sabem que existem mais de 80 estilos de cerveja, dos quais a maioria é milenar. Exemplifico: Bock, Pale Ale, Stout, Porter etc. Desde os primórdios da história da bebida no Brasil – Século XIX – vivemos uma verdadeira ditadura de um único estilo de cerveja: a Pilsen. Muito embora seja, hoje em dia, o estilo mais popular no mundo, é muito jovem, pois surgiu apenas em 1842, numa pequena cidade da atual República Checa. Essa ditadura centenária da Pilsen no Brasil provocou sequelas. O desconhecimento do brasileiro é tal que passou a classificar de “cerveja especial” todas aquelas cujo estilo não seja Pilsen. Para complicar ainda mais a cabeça das vítimas dessa ditadura, surgiram alguns conceitos que mais confundem do que ajudam: algumas cervejas são ditas “artesanais”, outras chamadas de “gourmet” e algumas até são classificadas de “premium”. Estimuladas por essa oportunidade de diferenciação, muitas cervejarias utilizam essas palavras principalmente como estratégia de marketing, numa tentativa de se destacar no mar da mesmice no qual o mercado brasileiro se transformou. Esclarecendo: Artesanal – palavra aplicada à cervejaria e menos à cerveja,
RONALDO MORADO www.ronaldomorado.com.br ronaldomorado.blogspot.com.br @ronaldomorado
indicando que ela se orienta pelos conceitos americanos de “Craft Brewery”, ou seja, não pertence a um grande grupo econômico; Gourmet – indica que aquela cerveja foi elaborada com intenções de harmonizações culinárias, própria para degustação, com qualidades sensoriais específicas; Premium – qualificação dada pela própria cervejaria a um ou mais de seus produtos para diferenciá-los por melhor qualidade de ingredientes ou embalagem. Nomenclaturas, classificações e glamourizações à parte, muito dessa “onda” é mérito do movimento das microcervejarias que está apresentando a cultura cervejeira ao brasileiro. Às vezes referido como “revolução cervejeira”, esse movimento tem muito de inovação e bastante de guerrilha. Daí concluímos que o senso comum identificou que as chamadas “cervejas especiais” são, em geral, todas aquelas cervejas que não pertencem ao estilo Pilsen brasileiro (loira comum) e preferencialmente não sejam produzidas por uma grande cervejaria. Mas ainda restam algumas questões. Essas cervejas “diferentes” são fortes ? Nem sempre. Entre as nomeadas “especiais” são ofertadas variações em sabor, aroma e teor alcoólico para todos os gostos. Afinal, quase uma centena de estilos, associados à enorme variedade de receitas, tornam infinitas as possibilidades. Essas cervejas são caras? Nem sempre. Mas há de se ter em conta que a referência de preço não pode ser a cerveja popular produzida em alta escala e vendida no atacado. Há importantes considerações de custo de produção e de qualidade a serem feitas. É preciso ponderar essa questão baseado em uma situação similar como a da escolha entre um vinho de garrafão popular versus um Cabernet Sauvignon de média qualidade. É nesse cenário que a análise comparativa deve ser feita. Mas a conclusão é individual.
21
Divulgação
DIA&NOITE
melanina
gafieira “Samba é vida”, diz o sambista Marco Chelles (foto), escalado para comandar o projeto Samba de Gafieira no Santa Fé Bar, de Águas Claras. Todas as quartas-feiras a casa se transforma numa gafieira movida a repertório de clássicos de Martinho da Vila, Alcione, Jorge Aragão, Leci Brandão e Zeca Pagodinho. De acordo com o proprietário do Santa Fé, Eder Nogueira, o objetivo é fazer com que as pessoas voltem a dançar e a valorizar nossa cultura. “Nosso bar foi inspirado nos botequins paulistas dos anos 60, temos tudo a ver com samba e queremos homenagear os sambistas da época”, explica Cheles. E acrescenta: “A gafieira tem um estilo meio malandro. E tem esse nome porque era onde as classes mais humildes faziam os bailes para dançar. É uma música histórica e muito nossa”. O bar fica na Avenida Araucárias, lote 1.325 (Edifício Real Quality). Homens pagam R$ 20 e mulheres R$ 10. Mais informações: 3382.1719.
O Studio de Dança Capricho Espanhol apresenta o espetáculo Las Cuatro Estaciones, dias 10 e 11 de dezembro, às 20h30, no Teatro da Escola Parque (307/308 Sul). Cada estação do ano será exibida com coreografias e “palos” (ritmos) apropriados, começando pelo verão, com danças mais descontraídas; passando pelo outono, com baile denso como a “soleá”; inverno, representado por roupas de tons contidos e bailes como a “siguiriyas”; e, por fim, a primavera, alegre como as “sevillanas”. Direção da coreógrafa Patrícia Weingrill. Ingressos a R$ 40 e R$ 20, à venda no Capricho Espanhol (Setor de Clubes Sul, Trecho 2). Mais informações: 3244.6648.
desvelo
Divulgação
22
flamenco
Seus arranjos são elaborados de forma ousada e pouco explorada no universo da canção. Com novas harmonias e contrapontos melódicos, eles buscam destacar a sutileza, a expressividade e a melancolia, ao revisitar grandes composições da música popular brasileira juntamente com a intensa busca pela utilização da voz como instrumento por meio de vocalizações sem palavras. Estamos falando de Andrea dos Guimarães, cantora, compositora, arranjadora e pianista que se apresenta dia 27, às 20h, no CTJ Hall (706/906 Sul). No show Desvelo, piano e voz, a cantora revela seus pensamentos, suas influências musicais e referências estéticas vindas da MPB, da música erudita e do jazz. Andrea integra o grupo Conversa Ribeira, com dois CDs lançados. Já dividiu o palco com Mônica Salmaso, Guinga e outros. Entrada franca.
Omar Paix
Debora Amorim
Black music em suas mais variadas – e dançantes – vertentes é o carro-chefe da festa Melanina. A última edição de 2015 será realizada em 28 de novembro na Ascade (SCES, Trecho 2) e contará com os DJs Chokolaty, Tamy Reis (RJ), DJ A, Chicco Aquino, LM, Hugo Drop, Marginal Men (RJ/SP), Neguim Beats (GYN), Coletivo Perde a Linha, além de show do grupo paraibano Dois Africanos (world hip hop), finalistas do programa SuperStar, da Rede Globo. Ingressos: R$ 50 (primeiro lote). Informações: www.festamelanina.com.
Sarah Brow
freddiemercuryargentino Eles estiveram aqui em 2012 e agora voltam no dia 26 para novo show-tributo ao cantor inglês vocalista da banda Queen, morto há 24 anos. A banda God Save The Queen – ou Dios Salve a la Reina, no idioma de seus integrantes argentinos – se apresenta no NET Live Brasília a partir das 21h30. Do visual à performance, o quarteto procura imitar nos mínimos detalhes as coreografias do consagrado grupo britânico. No repertório, os sucessos Love of my life, We are the champions, Another one bites the dust e I want to break free. Um dos momentos mais emocionantes é quando a banda cover toca Bohemian rhapsody, reconstituindo ao vivo a performance operística feita pelo Queen em estúdio. Ingressos a partir de R$ 80. Mais informações: 3306.2030.
homenagem
playquinzenal Tradicional balada brasiliense, realizada desde 2009, a festa Play! passou por uma reformulação. Antes semanal, agora a festa é quinzenal. A nova fase estreou em 13 de novembro. Na ocasião, a principal atração foi o DJ Paul Thomson, baterista da banda escocesa Franz Ferdinand. A próxima edição da Play! será em 27 de novembro e contará com show do trio paulistano O Terno. A festa é realizada sempre às sextas-feiras, no Club 904 (904 Sul). Mais informações: www.facebook.com/playbrasilia.
Divulgação
eunãosoucachorronão... Vem aí a primeira edição da Festa Brega do DaOrla, marcada para o dia 20, às 22h, no restaurante localizado no Setor de Clubes Esportivos Sul, em frente à Ponte JK. Grandes sucessos dos anos 60 e 70, marcados pelos ídolos bregas Waldick Soriano, Falcão, Reginaldo Rossi, Gretchen, Luiz Caldas e muitos outros vão dar o tom da festa no sistema open bar e open food. Os participantes que melhor se caracterizarem de cantor brega e fizerem a melhor performance vão ganhar prêmios. De acordo com a proprietária do Daorla, Rayane Guimarães, o cardápio inclui um rodízio dos petiscos mais pedidos da casa, como a bolinha de queijo feita sem massa, com uma mistura de queijos minas, parmesão e mussarela, e a tirinha de frango picante com molho blue cheese. Ingressos à venda no DaOrla e por meio do sistema delivery, a R$ 80 (primeiro lote), R$ 90 (segundo) e R$ 100 (terceiro). Mais informações: 3226.0026.
Divulgação
Músicos amigos, alunos e admiradores do pianista Ney Salgado (1935-2015) se reúnem para um tributo ao músico paulista que viveu em Brasília muitos anos e se destacou por suas interpretações da música francesa impressionista e brasileira contemporânea. O recital será dia 18, às 20h, no CTJ Hall, com entrada franca. Amigo do maestro Cláudio Santoro (1919-1989) e do também pianista e compositor Almeida Prado (1943-2010), deles recebeu dedicatórias de várias obras. Chefe do Departamento de Música e professor da UnB, Ney Salgado era um disciplinado e apaixonado pela música. Começou seus estudos na infância e aos seis anos de idade já se apresentava como solista. Realizou estudos, apresentou-se solo, em conjuntos de câmara e frente a importantes orquestras na Europa. Nos EUA, lecionou na Catholic University, em Washington D.C., e desenvolveu extensa atividade como pianista.
23
DIA&NOITE cinemaetranscendência
“Penso, logo existo”. A frase do francês René Descartes (1596-1650) entrou aqui só para lembrarmos que na terceira quinta-feira de novembro comemora-se o Dia Mundial da Filosofia. Instituído pela Unesco em 2002, neste ano a data terá como tema “Ética: a arte de viver». Nada mais oportuno em tempos de carência extrema de ética. Entre as 14 e as 21h do dia 21 de novembro, o CCBB será palco de uma jornada filosófica, com a proposta de proporcionar uma compreensão mais profunda da ética como fator de realização e de aperfeiçoamento da convivência. Da programação constam palestras, peça de teatro, música e contação de histórias para crianças. Na Galeria IV, no Pavilhão de Vidro e nos jardins do CCBB, com entrada franca mediante retirada de senha na bilheteria uma hora antes de cada sessão.
pipocandopoesia
alfinetegaleria Divulgação
“Toda vez que estou no parque e você passa /no seu compasso de garça todo parque se disfarça /em farta passarela tudo pira tudo paira à tua espera /do pedalar da sandália ao coração da donzela /sopra o verde sopra o parque /sopra o tempo só pra ela toda vez que você parque /Já era...” Garota do Parque, a poesia que virou música de Renato Matos, é de autoria de Luís Turiba, um dos convidados do projeto Pipocando poesia. Ele se apresenta no dia 22, às 16h30, no sarau em que poetas-pipoqueiros interagem com o público trocando poesias por pipocas. Além das apresentações, no dia 20 será oferecida uma oficina gratuita com o objetivo de apresentar uma nova maneira de declamar poesia, que proporciona a aproximação entre poesia, plateia e declamante. Nos jardins do CCBB, com entrada franca. 24
Divulgação
jornadafilosófica
Divulgação
Divulgação
De 20 a 29 de novembro, Brasília acolhe o Festival Internacional Cinema e Transcendência, que faz sua terceira edição na cidade. É o único com esse perfil no Brasil e tem a proposta de exibir filmes – documentários e ficções – que tratam de experiências de autotransformação, de desenvolvimento espiritual e – por que não? – de prazer artístico. O festival tem sido espaço para a estreia no Brasil de produções como os mais recentes filmes do chileno Alejandro Jodorowsky, o “psicomago”, como gosta de se definir – o cineasta e poeta é tema do filme Duna de Jodorowsky, de Frank Pavich (foto). Nesta edição do festival serão exibidos 14 longas e três curtas, em sua maioria inéditos no país, como Morrendo de curiosidade, de Gay Dillingham, que mostra a vida de dois ícones do psicodelismo, o guru do LSD Timothy Leary e seu amigo Richard Alpert, mais conhecido como Ram Dass, líder espiritual de toda uma geração. O festival cresceu muito desde o ano passado e contará com várias atividades paralelas, como palestras (de "astros" como a Monja Coen), aulões de yoga e tai chi, meditações, festas e muito mais. As exibições de segunda a quinta serão no auditório do Museu dos Correios (SCS). Nos finais de semana, projeções e demais atividades acontecerão em tenda montada na área externa do museu. A curadoria é do cineasta e músico André Luiz Oliveira e a direção geral da produtora e jornalista Carina Bini. Entrada franca.
Terreno instável, de Cecília Bona, e Entre-Quadros, de João Angelini (foto), são as duas exposições de jovens artistas que apresentam seu trabalho até 19 de dezembro naquele espaço de arte contemporânea da 116 Norte. Cecília apresenta sua mais recente produção, realizada após uma residência artística na Islândia, onde ficou 20 dias numa propriedade rural gerida por artistas e criou uma série de projetos a partir da experiência radical da paisagem de lava vulcânica, pedras, gelo e quase nenhuma vida vegetal. João apresenta alguns resultados de uma série de pesquisas sobre a imagem em movimento, intitulada Experimentos em animação. Essa pesquisa, desenvolvida ao longo de dez anos, foi contemplada pela mais recente edição do programa Rumos, do Itaú Cultural. De quarta a sábado, das 15 às 19h30, com entrada franca.
Priscila Prade
questãodegênero A jovem polonesa Yentl ficou órfã de pai, o grande mestre que lhe ensinava estudos proibidos às mulheres do Século XIX. Decidida a desafiar o destino que a condenava a permanecer na ignorância de Deus, do mundo e de si própria, ela se traveste de homem e segue para Yeshiva, onde se apaixona por Avigdor, seu colega de estudos, e precisa descobrir até que ponto está disposta a abrir mão de sua identidade. A história de Isaac Bashevis Singer, imortalizada pela voz de Barbra Streisand no filme Yentl – The Yeshiva boy, é agora protagonizada pela atriz e cantora Alessandra Maestrini, no musical Yentl em concerto. Dia 18, às 21h, o espetáculo será encenado no Teatro dos Bancários (314/315 Sul), com as músicas do filme, vencedor do Oscar de melhor trilha sonora em 1984. Entre uma música e outra, Alessandra conta a história de Yentl e seus questionamentos quanto ao gênero, à sexualidade e aos limites impostos pela sociedade. É acompanhada pelo maestro e pianista João Carlos Coutinho, também diretor musical do espetáculo. Ingressos a R$ 80 e R$ 40. Bilheteria: 3262.9090.
gigantesdamontanha
consciêncianegra Guto Muniz
A proposta é derrubar a imposição da estética branca como ideal de beleza e propor um diálogo em prol da aceitação da diversidade, no qual o cabelo crespo, que ainda hoje é considerado “ruim, feio ou duro”, passe a ser um cabelo como outro qualquer: bonito, porque diferente e singular. É no espetáculo Pentes, com dramaturgia de Fabrícia Carvalho, que quatro atrizes negras – Fernanda Jacob, Tuanny Araújo, Ana Paulo Monteiro e Elisa Carneiro – se reúnem para discutir preconceito e autoconhecimento. Em comemoração ao mês da Consciência Negra, o grupo Embaraça, nascido na UnB, faz turnê em vários espaços da cidade, entre eles o IESB Oeste de Ceilândia (17 e 18 de novembro, às 19 e 11h, respectivamente), o Espaço Semente do Gama (20 e 21, às 20h), o Teatro da Praça de Taguatinga (23 e 24, às 20h) e o Espaço Cultural Pé Direito da Vila Telebrasília (28 e 29, às 20h). Com exceção das sessões em Ceilândia, que terão entrada franca, as demais têm ingressos a R$ 10 e R$ 5.
Uma companhia teatral decadente chega a uma vila mágica povoada por fantasmas e governada por um mago. Assim começa Os gigantes da montanha, clássico do dramaturgo italiano Luigi Pirandello (18671936), uma alegoria sobre o valor do teatro e sua capacidade de comunicação com o mundo moderno, cada vez mais prático e realista. A companhia mineira Galpão celebra o retorno da parceria com Gabriel Villela, que assina também a direção de espetáculos marcantes do grupo, como Romeu e Julieta (1992) e A rua da amargura (1994). Na Caixa Cultural, de 27 de novembro a 6 de dezembro; sextasfeiras e sábados, às 20h, e domingos, às 19h. Ingressos a R$ 20 e R$ 10, à venda a partir do dia 21. Bilheteria: 3206.6456.
Tatiana Reis
Divulgação
nataldabarbie As garotinhas fãs da boneca alta e magra que não sai da moda há algumas gerações vão embarcar na aventura da Barbie, em cartaz no Teatro do Brasília Shopping até 13 de dezembro. Ela tinha planos de ir para Nova York com suas irmãs Skipper, Stacie e Chelsea, com ótimas e fabulosas ideias para o Natal. Uma grande nevasca, entretanto, impede que as irmãs cheguem ao destino programado. Ao invés de lamentarem o contratempo, elas logo descobrem que o verdadeiro significado do Natal perfeito é passá-lo em família. Somente sábados e domingos, às 16h. Ingressos antecipados a R$ 50 e R$ 25, à venda de terça a sexta-feira, na 510 Sul, Bloco C, loja 22, das 9 às 18h. É lá a sede da Companhia Néia e Nando, responsável pela montagem do espetáculo. Nos dias de peça, os ingressos podem ser adquiridos no teatro da Escola Parque 308 Sul, a partir das 15h. Mais informações: 3242.5278.
25
Joao Caldas
QUEESPETÁCULO
Obra-prima de Gogol em cena POR JÚLIA VIEGAS
O
26
capote é uma das obras mais conhecidas do escritor russo Nikolai Gogol – em se tratando de Gogol, é difícil falar na mais genial, já que ele é autor também de outras obrasprimas como O inspetor geral, Taras Bulba, O diário de um louco, Almas mortas e o curiosíssimo O nariz. Dostoiévski chegou mesmo a afirmar que toda a literatura russa do Século XIX descendia de O capote e de sua ironia sarcástica. O protagonista do conto, Akaki Akakievitch, tornou-se até uma espécie de arquétipo do funcionário público russo (aquele que é infernizado até a loucura pelos superiores, oprimido pela rotina cinzenta e que se vinga dos infelizes que necessitam de seus serviços). O frágil Akaki era o personagem dos sonhos do ator Rodolfo Vaz, um dos fundadores do Grupo Galpão, de Belo Horizonte, e um dos intérpretes mais talentosos de sua geração. Pois Rodolfo está realizando seu desejo. Ele é o protagonista do espetáculo em cartaz no Teatro 1 do CCBB até 14 de dezembro. Enfrentar a interpretação de um personagem que já ganhou a pele de gran-
des atores brasileiros não foi um obstáculo para Rodolfo Vaz. Ele tem encarado outros anti-heróis famosos em sua trajetória. O ator – premiado com o Shell em 2007 pela interpretação de um travesti em Salmo 91, dirigido por Gabriel Villela, baseado no romance Estação Carandiru – é versátil e estabelece um diálogo direto com a plateia. Quem assistiu a suas performances como o pândego Argan, o mais famoso avarento da história do teatro, na encenação de Um Molière imaginário, e seu poético e engraçado Judas, de A rua da amargura, ambos do Grupo Galpão, sabe do que estamos falando. Agora, Rodolfo enfrenta os dissabores da vida do funcionário público que ousa ambicionar um casaco novo para enfrentar o rigoroso inverno russo e estabelecer uma relação de igualdade com seus colegas de repartição. Para reforçar a ideia de que Akaki age como uma marionete nas mãos do destino, a diretora Yara de Novaes inovou ao colocar outros dois atores em cena – o conto já foi diversas vezes adaptado como monólogo. Rodrigo Fregnan e Marcelo Villas Boas atuam como narradores e interpretam outros personagens que atravessam a história. Junto com eles está a musicista
Sarah Assis, também no palco e interferindo na narrativa. Na encenação atual, o texto de Gogol (1809-1852) recebeu adaptação do escritor e médico Drauzio Varella e do dramaturgo Cássio Pires. Todo o projeto começou há seis anos, quando Rodolfo Vaz “ganhou” de presente de Drauzio Varella uma adaptação de O capote. A partir daí, iniciou um profundo processo de estudo da obra, que contou com análises de filósofos, pesquisadores, professores e escritores, cada um enfatizando um aspecto da narrativa. “Essa fase do processo trouxe uma certeza: Akaki não é um sujeito que conta a própria história, os outros não permitem isso; a identidade do Akaki é dita por outros”, comenta a diretora Yara de Novaes. Rodolfo Vaz complementa: “Apesar de ter sido escrita em 1842, a desigualdade, a burocracia, a falta do sentimento de fraternidade permanecem. Akaki nos faz pensar em como tratamos nossos irmãos”. O capote
Até 14/12, às 20h, no Teatro 1 do CCBB (SCES, Trecho 2). Ingressos: R$ 10 e R$ 5. Classificação indicativa: 12 anos. Mais informações: 3108.7600
GRAVES&AGUDOS
Bravíssimo!
Site faz resgate histórico da produção brasileira para piano
Iano Andrade
POR PEDRO BRANDT
E
m suas pesquisas sobre grandes nomes do piano brasileiro, como Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Marcello Tupynambá, Henrique Alves de Mesquita, Zequinha de Abreu e Eduardo Souto, o pianista brasiliense Alexandre Dias, 31 anos, percebeu a existências de várias lacunas, que vão desde informações sobre a vida dos músicos até gravações perdidas. “Todos, com exceção de Nazareth, possuem obras desaparecidas”, afirma o pianista. A partir dessas constatações, ele decidiu criar uma maneira de centralizar e compartilhar conteúdos a respeito da produção brasileira criada para o instrumento, de maneira que os interessados possam não apenas consultá-los, mas também contribuir com novas informações. Nascia o Instituto Piano Brasileiro. No site é possível acessar biografias (de nomes consagrados ou obscuros), discografias, partituras e imagens (fotos, recortes de jornais e revistas), além de uma bibliografia selecionada sobre o tema. “Com isso, pretendemos consolidar e manter nossa memória pianística, oferecendo uma base de pesquisa robusta para músicos, pesquisadores e profissionais da mídia, além de funcionar como um estímulo para aqueles que ainda não tiveram contato com esse rico universo, e tenham curiosidade de conhecer mais a respeito”. Pianistas populares e eruditos terão espaço, especialmente os que utilizam o piano como instrumento solista. “Queremos contar a história de nossos intérpretes, suas ‘genealogias pianísticas’. Por exemplo, Nelson Freire foi aluno de Lúcia Branco, que foi aluna de Arthur de Greef, que foi aluno de Franz Liszt”, conta Alexandre.
Segundo o pesquisador, essa arqueologia ainda pode render muitas descobertas. Até as primeiras décadas do Século XX, todas as músicas eram publicadas em partituras para piano. Rio de Janeiro e São Paulo eram chamadas de «pianópolis». Além disso, o Brasil produziu incontáveis concertistas de projeção internacional, além de pianistas populares que deixaram um vasto legado. “Muitas gravações sumiram, principalmente as realizadas entre 1902 e 1964, na era dos discos de 78 RPMs. Recentemente, o colecionador Sandor Buys encontrou uma partitura de Chiquinha Gonzaga desaparecida há 120 anos”. Muitas informações só estão presentes nas memórias de quem conviveu com os mestres do passado, pois não foram registradas em depoimentos. Alexandre aponta algumas preciosidades perdidas de que se tem notícia, como as gravações que o pianista Henrique
Vogeler fez de músicas de Ernesto Nazareth na década de 1940, até hoje desaparecidas; as partituras do compositor Eduardo Dutra, aluno de Henrique Oswald, também desaparecidas; e gravações feitas por Camargo Guarnieri para seus 50 ponteios para a Rádio MEC na década de 1960, divulgadas apenas parcialmente. Para Alexandre, um sonho realizado seria ver gravada a obra completa de todos os grandes compositores brasileiros de piano. “No exterior, há muitos anos são gravadas, sistematicamente, as obras completas de Chopin, Beethoven, Bach e Poulenc. Precisamos fazer isto para VillaLobos, Camargo Guarnieri, Alexandre Levy, Tia Amélia, Lorenzo Fernandez, Chiquinha Gonzaga e Marcello Tupynambá, entre tantos outros”. Instituto Piano Brasileiro
www.institutopianobrasileiro.com.br
27
Divulgação
GRAVES&AGUDOS
Para ficar na história Conhecida por shows longos, apaixonados e repletos de hits, banda Pearl Jam toca pela primeira vez em Brasília.
POR PEDRO BRANDT
É
28
inevitável associar a banda americana Pearl Jam, que se apresenta pela primeira vez em Brasília neste 17 de novembro, ao rock dos anos 1990. Entretanto, ainda que o grupo tenha surgido e conquistado o mundo naquela época, sua trajetória o coloca em uma categoria acima de rótulos ou períodos: a dos clássicos. O quinteto formado na cidade de Seattle projetou sua carreira com base em uma discografia consistente, respeito aos fãs, shows arrebatadores e uma atitude distanciada da postura típica de rockstar – mais discreta e, até certo ponto, um tanto misteriosa, ainda que falando alto quando o assunto são questões políticas e sociais nas quais a banda se engaja. Esse pacote ajudou o Pearl Jam a envelhecer com dignidade, manter seu público antigo e atrair novos admiradores. O sucesso da banda foi meteórico, impulsionado sobremaneira pelo estouro do grunge, de conterrâneos como Alice in Chains, Soundgarden, Nirvana e Mudhoney. Lançado em 1991, Ten, o álbum de
estreia, apresentava uma banda de identidade formada, inconfundível desde a primeira ouvida. O som do grupo é uma releitura de hard rock que mantém a grandiosidade do estilo – consolidado na década de 1970 – mas evitando clichês e ranços, sempre em busca de originalidade. É possível perceber na sonoridade da banda o legado do Led Zeppelin, de Jimi Hendrix, do The Who e de Neil Young, mas, acima de tudo, o Pearl Jam soa como Pearl Jam. Além do talento da dupla de guitarristas Mike McCready e Stone Gossard, o trunfo da banda está em sua figura central, o vocalista e letrista Eddie Vedder. Nas letras, o frontman aborda de maneira sóbria e lírica tanto questões intimistas, explorando dúvidas e observações cotidianas, quanto coletivas, falando de liberdade, direitos e a convivência das pessoas em sociedade. Completam o time o baixista Jeff Ament, o baterista Matt Cameron e o tecladista Boom Gaspar. O Pearl Jam é conhecido por shows longos, que chegam a passar de três horas de duração. No repertório, além de com-
posições da banda, podem aparecer músicas de seus artistas favoritos, como Ramones, Beatles, Pink Floyd e Bob Dylan, entre outros. Aliás, um dos grandes sucessos do Pearl Jam é uma interpretação para Last kiss, hit de 1964 de J. Frank Wilson and the Cavaliers. O set-list da apresentação no Mané Garrincha provavelmente contará com músicas de Lightening bolt, décimo álbum de estúdio do Pearl Jam, lançado em 2013. Mas, como é de costume, a banda promoverá um passeio por toda sua carreira, com destaque para as canções dos discos mais populares – além de Ten, Vs. (1993), Vitalogy (1994), No code (1996) e Yeld (1998). Um prato cheio para fãs numa apresentação que tem tudo para ser histórica.
Pearl Jam
17/11, às 20h30, no Estádio Mané Garrincha. Ingressos: R$ 450 e R$ 225 (inferior); R$ 400 e R$ 200 (pista) e R$ 250 e R$ 125 (superior). Pontos de venda: até 16 de novembro na Central de Ingressos (Brasília Shopping) e na bilheteria do estádio no dia do show. Classificação indicativa: 14 anos (de 10 a 13, apenas na companhia dos responsáveis).
POR HEITOR MENEZES
O
estereótipo do macho curtidor de rock mudou definitivamente nos anos 1980, quando a banda britânica The Smiths surgiu no cenário. Foi quando os roqueiros cabeludos, musculosos e cheios de testosterona deram espaço para indivíduos de cabelos curtos, magros e cheios de testosterona, claro. A diferença é a sensibilidade, e graças a Stephen Patrick Morrissey, o afetado Morrissey, o rock recebeu um gênio, uma talentosa cabeça pensante capaz de verter poesia e boa música para legiões de admiradores. Sem Morrissey, haveria Renato Russo? Boa pergunta. Pois é este Morrissey, estrela de primeira grandeza da música internacional, que finalmente chega a Brasília, para apre-
sentação única, no domingo, 29 de novembro, no NET Live Brasília, cercanias da Vila Planalto. Finalmente porque ele deveria ter vindo no ano passado, mas uma ziquizira o derrubou e ele foi obrigado a cancelar as datas da turnê latino-americana, que só agora – Brasília incluída – consegue realizar. A oportunidade é única, ainda mais que estão falando que Morrissey deve dar um tempo com as turnês. Em entrevistas, ele afirma que os tempos mudaram, os esquemas mudaram, as gravadoras não estão interessadas, tudo é muito chato, tem doença no meio de tudo, então talvez seja melhor se dedicar a escrever do que perder tempo com o que já foi bacana um dia. Com o repertório dos Smiths e da carreira solo, Morrissey em Brasília se resume a uma palavra: imperdível.
Divulgação
Outro ícone do rock
Morrisey
29/11, às 21h, no Net Live Brasília (SHTN, Trecho 2). Ingressos (Lote 3, meia): pista, R$ 190; pista premium, R$ 290 (à venda em www.ticketsforfun.com.br, na bilheteria do NET Live e na Central de Ingressos do Brasília Shopping. Classificação indicativa: 16 anos.
Divulgação
Quatro gerações no Porão
POR PEDRO BRANDT
O
Porão do Rock chega à sua 18ª edição mais enxuto, com 20 bandas se apresentando num único dia, 5 de dezembro, em arena
montada no estacionamento do Estádio Mané Garrincha. Quatro décadas do rock de Brasília passarão pelo festival. Capital Inicial e Plebe Rude representarão os anos 1980, além dos Paralamas do Sucesso, trio “quase” brasiliense. Da década de 1990 foram convidados Raimundos, DFC e Alf (ex-Rumbora) – e também Autoramas, grupo carioca liderado pelo brasiliense Gabriel Thomaz, ex-Little Quail. Etno e Galinha Preta serão os representantes dos anos 2000 e bandas como Scalene e Dona Cislene – entre outras – darão voz à recente produção roqueira da cidade. O reativado quarteto Filhos de Menguele, com formação original, fará uma apresentação especial para comemorar seus 30 anos. A banda exerceu influência na cena punk/hardcore candanga da época. Digão, dos Raimundos, era o baterista do grupo, e assumirá as baquetas para o show. Quem também volta à ativa no festival é a banda Dark Avenger, cultuado nome do heavy metal brasiliense surgido
nos anos 1990. Quem curte som pesado e melódico também poderá conferir o show da banda paulistana Angra – que, detalhe, conta com um músico de Brasília na formação, o guitarrista Marcelo Barbosa. Tradicionalmente, o Porão organiza seletivas para escolher bandas novas para integrar a escalação do evento. Quem se deu bem nessas etapas e participará do festival em 2015 são os grupos Regicídio, Kankra, Dependência Pulmonar (todas de som pesado, do punk ao metal), Almirante Shiva (hard rock/psicodelia), Nenhuma Ilha e Alarmes (as duas de indie rock). Até o fechamento desta edição, o Porão negociava uma 21ª atração, que seria uma banda internacional. Festival Porão do Rock 2015
5/12, a partir das 17h, no estacionamento do Estádio Mané Garrincha. Ingressos: R$ 20 (pista) e R$ 50 (camarote). Classificação indicativa: 16 anos (menores de 16 somente acompanhados por pais ou responsáveis maiores de 18 anos). Mais informações: www.poraodorock.com.br.
29
Divulgação
Marcos Hermes
GRAVES&AGUDOS
Noites de
estrelas baianas
POR HEITOR MENEZES
S
30
empre que uma estrela de primeira grandeza como Maria Bethânia passa por Brasília, passa por aqui também uma forte luz de emoção, tipo um farol no meio da noite, orientando avisados, sedentos de música e poesia, de que são esses os astros que valem a pena seguir. Não é exagero falar assim, pois Maria Bethânia tem arte de sobra e nome de estrela no céu da música popular brasileira, que agora rende justas homenagens aos 50 anos de carreira da cantora, nascida em 18 de junho de 1946 na baiana Santo Amaro da Purificação. Prepare-se para cantar parabéns e fazer parte dessa comemoração. Em 26 de novembro, no Centro Internacional de Convenções do Brasil (Setor de Clubes Sul, perto da Ponte JK), Bethânia será homenageada com espetáculo repleto de convidados. O show é uma espécie de turnê do 26° Prêmio da Música Brasileira, que este ano prestou homenagem à cantora, uma das mais expressivas intérpretes da canção brasileira. Além de Bethânia, sobem ao palco Zélia Duncan, João Bosco, Lenine, a atriz Camila Pitanga e Arlindo Cruz. A
direção do show é de José Maurício Machline, o idealizador do Prêmio da Música Brasileira e grande incentivador do nosso melhor cancioneiro. Aliás, Maria Bethânia é a maior vitoriosa do Prêmio: foram 22 premiações de 1985 a 2014. Só para rememorar: em junho passado, em noite bastante concorrida, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Bethânia foi a homenageada especial, pelos 50 anos de carreira. Os aplausos foram tantos que agora “abraçar e agradecer” virou turnê, com apresentações também em Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife. Dizem que os convidados e o repertório escolhidos têm tudo a ver com a filha de Dona Canô e irmã de Caetano Veloso. Arlindo Cruz compôs um samba em sua homenagem. Bethânia já gravou Lenine, enquanto João Bosco promete versões vertidas para o seu canto e violão. Zélia Duncan e Camila Pitanga se encarregam de dramatizar textos e canções, a ponte entre música, poesia, literatura e teatro com que Bethânia sempre nos brindou com maestria, bom gosto e emoção. Fãs novos e antigos agradecem – afinal, cantora do porte de Bethânia ilumina os céus de nossas cidades e enche de dignidade a cultura brasileira.
Estratosférica Outra estrela que chega antes do fim do ano é Gal Costa, cantora sem a qual a Tropicália e a MPB muito teriam perdido em termos de ousadia, beleza e canto cristalino. Depois de um cancelamento de data, Gal confirma retorno a Brasília, no dia 11 de dezembro, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Desta vez, a tal chega pilotando Estratosférica, seu 36° disco de estúdio, de uma carreira solo que começou em 1969, com um histórico disco homônimo, aquele que tem Não identificado e Baby, de Caetano Veloso, além de Que pena (ela já não gosta mais de mim), de Jorge Ben. Em Estratosférica, Gal parece dar continuidade a Recanto (2011), o álbum que finalmente apresentou os anos 2000 à cantora, isto é, que a deixou em sintonia com o som contemporâneo. Em Recanto, o mano Caetano Veloso apareceu como o principal responsável pela retomada de Gal antenada com a modernidade. Todas as músicas desse disco foram escritas por ele. O som, uma mistura de rock e eletrônica, mais do que a MPB tradicional à qual Gal estava mais habituada. A zona de conforto volta a ser sacudida com este Estratosférica, produzido por Mo-
Maria Bethânia – Abraçar e agradecer 26/11, às 21h, no Centro Internacional de Convenções do Brasil (SCES, Trecho 2). Ingressos (meia): cadeira premium, R$ 125; cadeira 2, R$ 100; cadeira 3, R$ 75 (à venda na bilheteria do CICS). Classificação indicativa: 12 anos. Mais informações: 2196.9000.
Gal Costa – Estratosférica
11/12, às 21h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ingressos (meia): poltrona superior, R$ 50; poltrona especial, R$ 100 e vip lateral, R$ 100; poltrona vip, R$ 180 (à venda na Central de Ingressos do Brasília Shopping, Fnac do Parkshopping e www.ingressorapido.com.br. Classificação indicativa: 14anos. Mais informações: 8409.0198.
Tributo a Simonal
Leo Aversa
reno Veloso e Kassin, nomes certos da modernidade na nossa canção popular. Aqui, Gal canta Mallu Magalhães (Quando você olha pra ela), Marcelo Camelo (Espelho d’água) e Arnaldo Antunes & Marisa Monte (Amor, se acalme), entre canções de compositores conhecidos e outros que não são figurinhas tão fáceis assim. Se você for querendo ouvir Vapor barato, Balancê e outros quindins, saiba que essa mulher anda na estratosfera.
A ascensão e a queda de Wilson Simonal estão retratadas em S’imbora, o musical, espetáculo visto por mais de 70 mil pessoas, no Rio e em São Paulo, e que estará em Brasília nos dias 27 e 28 de novembro. Com texto de Nelson Motta e Patrícia Andrade, tem direção de Pedro Brício, que explica: “Fazemos um resgate do riquíssimo repertório dele, mostrando essa figura improvável, pobre, negro, que se tornou o maior astro popular do país, fazendo música de altíssima qualidade, um personagem único”. O ator Ícaro Silva, que já se destacou em Rock’n’Rio – O musical, personifica Simonal. O espetáculo não se furta a falar sobre a decadência do cantor e compositor, condenado a um “exílio” involuntário em meio a suspeitas de colaboracionismo com a ditadura militar, e toca nos temas polêmicos que cercaram sua carreira, sem tomar partido. “Ele é um mistério, não é um herói romântico, ao contrário. É uma figura contraditória, com múltiplas facetas, mas a peça não faz um julgamento. O espetáculo tem essa riqueza, essa multiplicidade: vai da ascensão absoluta do primeiro artista negro pop à sua total decadência”, define o diretor. No Centro de Convenções Ulysses Guimarães, com ingressos entre R$ 25 e R$ 140, à venda na Central de Ingressos do Brasília Shopping .
31
CMYK_AN_18,5x14cm_ROTEIRO_ MELIA_EVENTOS_CASAMENTO.pdf 1
10/29/15 2:31 PM
GRAVES&AGUDOS
Nasce um tenor
Jovem brasiliense se destaca no canto erudito e sonha com carreira internacional POR MARIA TERESA FERNANDES FOTOS RODRIGO RIBEIRO
E
32
ra um garoto brasiliense que, como tantos outros, gostava de cantar para os amigos canções de qualquer gênero musical popular: MPB, pop, rock, o que lhe pedissem. Para melhorar sua técnica vocal, entretanto, resolveu, com apenas 18 anos, estudar canto erudito na Escola de Música. No começo, por timidez, não frequentava muito as aulas do professor Francisco Frias, que certo dia avisou: “Se faltar a mais uma aula vai ser reprovado”. Foi a partir daí que Ian Spinetti, hoje com 20 anos, deu uma guinada em sua vida. E ela aconteceu como o nascer de um raio de sol, mais precisamente com a música que o mestre pediu que ele estudasse para evitar a reprovação: Comme um raggio di sol, do italiano Antonio Caldari (1670-1736). “O estudo dessa música me fez despertar para outras de canto lírico. Foi ela a porta de entrada para um novo horizonte, diferente de tudo que eu vinha fazendo até então”, explica o jovem, que se apresenta dia 20, às 20h, no CTJ
Hall, da Casa Thomas Jefferson (706 Sul). Essa paixão meteórica é confirmada por Francisco Frias, seu professor e também cantor erudito: “É assustadora a velocidade do aprendizado de Ian; em dois anos, ele está quase formado, o que indica uma vocação muito grande”. E acrescenta: “Mas vocação só não faz um cantor, pois é preciso ter muita dedicação e estudo também, coisas que ele tem de sobra”. Frias explica ainda que a voz do aluno vai mudar bastante, até os 25 ou 26 anos, mas isso não será problema para ele, um talento precoce. “Queria fazer canto popular, mas já na segunda semana de estudo comigo ele me surpreendeu, e até aos colegas, pelo talento para o canto clássico”, destaca. O pianista Dib Francis trabalhou com Ian na disciplina Prática de Repertório, na Escola de Música de Brasília, e também testemunhou seu despertar veloz para o canto clássico. “Com um timbre apaixonante, uma facilidade natural de aproximação com o público e um senso estético refinado, arrisco dizer que Ian está entre os mais promissores talentos brasileiros de sua geração. Venho acom-
panhando o jovem ao piano, e o que mais me entusiasma nele, além da belíssima voz e da expressividade, é sua invulgar capacidade de assimilar conceitos interpretativos avançados, normalmente percebidos apenas por cantores de um nível bem mais avançado”, afirma Dib. A pianista Elza Gushiken, que o acompanhará no recital da Thomas Jefferson, foi outra que se encantou com Ian. “Ele é um fenômeno. Muitos vão dizer que a voz dele é parecida com a de Andrea Bocelli, mas acho que é muito mais bonita do que a do tenor italiano. Claro que ele ainda precisa de alguns anos para amadurecer como cantor, mas é o timbre e a potência da voz dele que me agradam. Os agudos são macios, não gritados”, afirma. “Em alguns momentos”, conclui a pianista, “percebo que a voz do Ian tem a maciez da voz do tenor espanhol José Carreras e, em outros, a potência da de outro tenor espanhol, Plácido Domingo”. Essa paixão recente de Ian já deu frutos. Por indicação de Dib Francis e do maestro Alexandre Innecco, o tenor participou, no início deste ano, da primeira edição da Residência Internacional na
Casa de Ópera de Chicago, onde estudou sob orientação da professora Julia Faulkner e foi acompanhado ao piano pelo diretor musical Craig Terry. Na volta, gravou um vídeo que lhe abriu as portas para participar da 1ª Academia de Canto em Trancoso (BA), promovida pelo Mozarteum Brasileiro, um instituto que organiza espetáculos de música clássica e com trabalho social de acesso gratuito de jovens à cultura musical. Na temporada baiana pôde enriquecer sua experiência em coro, sob a regência do maestro Rolf Beck, e em canto lírico, com a professora Lucia Duchonova, ambos da Chorakademie Lübeck, da Alemanha. No final, foi escolhido, entre 60 participantes, para, junto com cinco cantores (quatro de São Paulo e um de Belo Horizonte), cursar bolsa de estudos em fevereiro de 2016 em Lübeck. Serão duas semanas de estudo intenso com os mesmos mestres que conheceu em Trancoso e uma semana de apresentações em turnê pelo país.
Animadíssimo com a chance de seguir carreira internacional, Ian já pensa nos próximos passos depois da temporada alemã. Quer participar de dois concursos importantes de canto no segundo semestre de 2016: o Maria Callas, internacional, e o Carlos Gomes, nacional, ambos vitrines importantes para jovens que pretendem ingressar nessa difícil carreira de cantor erudito. No recital Pathos, que fará dia 20 no CTJ Hall, ele promete levar a plateia a uma viagem musical romântica e envolvente e pretende desmistificar a música erudita, provando que o gênero pode ser apreciado de maneira prazerosa por todos, inclusive por jovens normalmente ligados ao rock e outros ritmos mais populares. Vai cantar, na abertura, An die musik, de Schubert (1797-1828), seguida por Les berceaux, de Fauré (1845-1924). A obra do brasileiro Carlos Gomes (1836-1896) será lembrada com as músicas Bela ninfa de Minh’alma, Spirto gentil e Io ti vidi. Composições de Tosti, Franz
Lehár e Strauss também estarão no recital de Ian, que vai deixar para o final músicas do compositor inglês Quilter (18771953), uma homenagem especial ao idioma da anfitriã, a Casa Thomas Jefferson. PATHOS
Recital de Ian Spinett, acompanhado pela pianista Elza Gushiken. 20/11 às 20h30, no CTJHall (706 Sul), com entrada franca.
33
CMYK_AN_18,5x14cm_ROTEIRO_ MELIA_EVENTOS_BODAS.pdf 1
10/29/15 2:32 PM
BRASILIENSEDECORAÇÃO
O novo quintal da jornalista A travessia de Conceição Freitas, da redação do jornal à banca de revistas POR ALEXANDRE MARINO FOTO RODRIGO RIBEIRO
À
34
sombra de um flamboyant florido e ao som de bem-te-vis, a jornalista Conceição Freitas descobre Brasília mais uma vez. É ali, à entrada da Superquadra 308 Sul, que ela está construindo seu abrigo seguro, simbolizado pela banca de revistas que comprou logo depois de sair do Correio Braziliense, onde trabalhou por mais de 20 anos. Conceição quer fazer da banca uma referência para si própria e também para a cidade. Seria óbvio, mas impreciso, dizer que Conceição é uma jornalista que virou jornaleira. Ao longo de duas décadas, Brasília se espelhou nas suas reportagens e especialmente na coluna Crônica da cidade, em que defendeu, com unhas e dentes, o projeto da capital. E ela não vai parar de fazer isso. Continuará jornalista e a banca será mais que uma banca de revistas e jornais – será um centro de cultura, um ponto de encontro de turistas e brasilienses,
mais um laço que a une à cidade. Conceição está cheia de ideias e planos, que tenta ordenar. O primeiro passo é se reciclar. Ela reconhece que por muito tempo se fechou numa redoma, voltada para a coluna do jornal, para as pautas e até para as restrições tecnológicas que o Correio lhe permitia. Agora, convive com os moradores da quadra, com porteiros dos blocos, com entregadores de jornais, com amigos e desconhecidos que passam para conversar. “Eu vim para a rua”, sintetiza. “Foi uma estratégia de sobrevivência. Eu precisava virar rapidamente a página, não poderia ficar indefinidamente à espera de novo emprego. Precisava responder à altura, e a banca me deu a energia de que eu precisava.” Uma série de coincidências levou Conceição Freitas a se tornar proprietária da banca de revistas da 308 Sul. A primeira é que ela já havia sido proprietária de uma banca, ainda nos tempos de universidade. A segunda é que havia uma banca à venda quando foi demitida do Correio Braziliense, no final de setembro.
E a terceira é que essa banca se localiza numa quadra emblemática, com projeto paisagístico de Burle Marx, a única construída exatamente de acordo com o projeto urbanístico de Lucio Costa. “Turistas e arquitetos do mundo inteiro passam por aqui para conhecer a quadra. É impressionante”, diz Conceição. “A banca de revistas é um patrimônio público. Acho que Brasília ainda não tem noção do valor dessas bancas, que ficam na entrada das quadras e congregam a comunidade. Os jornaleiros ainda não entenderam isso. Numa cidade com poucos cruzamentos, as bancas podem reunir as pessoas”, observa Conceição, que passou pela banca por acaso e, durante a conversa, o antigo proprietário propôs o negócio. Ela tem a sensação de que alguma força superior a retirou da redação do jornal e a colocou diante da banca. Mas será que o objetivo do Correio Braziliense, ao dispensá-la, não seria o de romper com a cidade, expurgando de sua equipe a profissional que melhor a representa-
va? “Não há como saber isso, eles é que devem responder”, diz Conceição. “Mas uma coisa é certa: o Correio não vai tirar Brasília de mim.” Conexão epifânica Há 30 anos Conceição vive em Brasília. Nasceu em Manaus e passou a infância em Belém, onde vivia em bairro pobre, sem saneamento, com esgoto a céu aberto. Um dia, seu pai, Isaías, que vendia terras e viajava muito, lhe deu de presente um álbum de fotografias. “Era uma cidade bonita, com prédios organizados, ruas limpas. Eu folheava aquele álbum sem parar.” Adolescente, Conceição sobreviveu ao acidente que matou seu pai na BelémBrasília. Foi nessa época que ela se mudou para Goiânia, onde se formou em jornalismo e depois começou a trabalhar como repórter policial. Quando o repórter Mário Eugênio, do Correio Braziliense, foi assassinado, em 1984, ela veio para Brasília integrar a equipe do jornal. Pas-
sou alguns anos circulando de delegacia em delegacia atrás de notícias. Foi nessa época que teve o que chama de “conexão epifânica” com Brasília. “Comecei a observar a cidade, e me lembrei daquele álbum de fotografias da minha infância, e me toquei que a cidade que me encantava era Brasília. Lia muito sobre a história da cidade, que era muito maior em mim do que eu imaginava.” Conceição já criou um blog para escrever sobre a capital, uma forma de dar continuidade à coluna que conquistou os leitores do Correio, enriquecida agora pelas histórias que vai colhendo na 308 Sul. Também pretende reunir em livro uma seleção dos 20 anos de crônicas e reportagens sobre lugares, personagens e casos da cidade. O tempo é curto para tanta coisa. E ela ainda está tentando se atualizar com a tecnologia, porque, mais do que nunca, precisa dela. Enquanto isso, o Blog da Conceição pode ser visitado em https://bancadaconceicao.wordpress.com. “Ainda tenho resistência às redes so-
ciais. Uso para fins profissionais, mas tenho medo dessa carga de ódio, da exposição exacerbada e vazia”, analisa. Mas reconhece: hoje, o que não passa pelas redes não existe. Foi pelas redes sociais que ela sentiu que os leitores continuavam de seu lado quando o jornal a dispensou. Mais de mil curtidas numa postagem no Facebook lhe deram essa certeza e abriram o caminho. Apesar de tudo, Conceição acredita que as redes sociais salvaram Brasília de seus agressores. “Foi pelas redes que os defensores de Brasília ocuparam os vazios da cidade, superaram as dificuldades urbanas e se uniram”, diz ela. “As novas gerações se agregaram aos pioneiros. Mas a cidade está muito maltratada, só tem ‘gentinha’ fazendo política. Infelizmente, Brasília não é uma flor de estufa, estamos vinculados ao Brasil. Então, temos de cuidar de nosso quintal.” À sombra daquele flamboyant e ouvindo os bem-te-vis, Conceição Freitas cuida de seu quintal.
35
CMYK_AN_18,5x14cm_ROTEIRO_ MELIA_EVENTOS_HAPPY.pdf 1
10/29/15 2:31 PM
Fotos: Divulgação
GALERIADEARTE
Gravura de Marco Pitteri
Gravura de Giovanni Battista de’ Cavalieri
Diálogo entre realidade e ficção POR JOSÉ MAURÍCIO
E
36
stamos diante de um mistério que pode ganhar o mundo e tornar-se célebre, nos moldes de O código Da Vinci, do norte-americano Dan Brown. Durante 300 anos, artistas da relevância de Rembrandt (1606-1669) e Goya (1746-1828) fizeram parte de uma sociedade secreta que tinha como propósito executar gravuras de acordo com o simbolismo do gravador italiano Giovanni Battista de’ Cavalieri (1526-1597). Artista que não foi integrado aos nomes de destaque do Renascimento, Cavalieri possuía um estilo único, caracterizado pela presença de monstros imaginários e criaturas antropomórficas. E teria influenciado gerações e gerações de artistas europeus no que passou à história como sendo “A Sociedade Cavalieri”. Mas o que aconteceu para Cavalieri ser tão ignorado pela história oficial? Há muita polêmica em torno dessa interrogação. De certo, mesmo, apenas o fato de que o italiano tinha um estilo absurdamente diferente da arte que se produzia no período renascentista e não haveria como inclui-lo num arrazoado artístico
sobre os tempos que marcaram a transição do feudalismo para o capitalismo, até porque sua obra ainda fazia referência às criaturas míticas que habitavam o imaginário popular da idade das trevas. No entanto, ele não foi esquecido por seus colegas, que “antropofagicamente” se apropriaram de seus símbolos nos próprios trabalhos. Até 3 de janeiro, um pouco da produção desses ilustres gravadores, integrantes do misterioso grupo seleto, estarão ao alcance do espectador brasiliense na exposição A Sociedade Cavalieri, montada na Caixa Cultural, com curadoria do francês Pierre Menard. A exposição está dividida em duas partes: na primeira, o público poderá tomar contato com a obra do próprio Cavalieri, que foi contemporâneo de Michelangelo, Caravaggio e Raphael. Na segunda estão obras de outros 23 artistas, entre eles Goya, Rembrandt (para muitos o maior nome da arte holandesa), o pintor e gravador inglês Hogarth (16971764), Giovanni Battista Tiepolo (mestre da pintura italiana, 1696-1770), o pintor e ilustrador francês Honoré-Victorien Daumier (1808-1879) e o mestre do simbolismo francês Odilon Redon (1840-1916).
Mas e se tudo isso não passar da criação do espírito inventivo de um artista brasileiro que conheceu por acaso a obra de Cavalieri e decidiu “fazer justiça com as próprias mãos”? É justamente assim. Apesar de verdadeiros todos os personagens – em parte também a exposição – a tal misteriosa Sociedade Cavalieri nunca existiu, assim como é fictício o curador (Pierre Menard, na realidade, é personagem de um conto do argentino Jorge Luis Borges). A iniciativa partiu do jovem artista curitibano Pierre Lapalu, que se impressionou com a qualidade do trabalho de Cavalieri e resolveu resgatá-lo como objeto de pesquisa. Agora, o trabalho está sendo apresentado numa perspectiva da arte contemporânea. Lapalu se apropriou da obra dos grandes mestres e deu um toque de Cavalieri às gravuras. O resultado impressiona e encanta. Assim como toda a história que ele concebeu. Uma exposição que trata de realidade e ficção. E do diálogo entre as duas. A Sociedade Cavalieri
Até 3/1 na Galeria Vitrine da Caixa Cultural (SBS, Q. 4), de 3ª a domingo, das 9 às 21h, com entrada franca. Classificação: livre. Mais informações: 3206.9448 /3206.9449
Obra sombria e melancólica
Rômulo Fialdini
B
eleza e agonia. Esses são os principais elementos que preenchem as galerias do CCBB, mais precisamente a exposição Iberê Camargo: um trágico nos trópicos, em cartaz até 11 de janeiro. Sucesso absoluto de público em suas exibições anteriores, no Rio de Janeiro e em São Paulo, a exposição oferece ao público brasiliense uma oportunidade única de se aproximar desse que é considerado um dos maiores artistas brasileiros. Pintor, gravador, desenhista, escritor e professor, Iberê Camargo compôs uma extensa e densa obra com mais de 7.000 itens, entre desenhos, gravuras e pinturas. Na mostra do CCBB é possível conferir quase 150 dessas obras, com o bônus de acompanhar uma pequena retrospectiva do artista: as paisagens dos anos 40, as naturezas mortas dos 50; as fieiras e carretéis dos anos 60 e 70; as séries dos Ciclistas e das Idiotas, dos 80; e, finalmente, as monumentais e sombrias telas dos anos 90, suas derradeiras. O curador Luiz Camillo Osório, também curador do Museu de Arte Moderna do Rio e professor da PUC-RJ, diz que a principal decisão em torno da mostra foi a escolha do que privilegiar dentro de um acervo tão extenso. Entre suas peças favoritas estão as últimas telas figurativas e a série dos carretéis. Ainda que Iberê Camargo possa ser classificado como um expressionista – e sua última fase corrobora isso – acabou desenvolvendo um estilo próprio e singular. O caráter sombrio de sua obra deriva não apenas da sua inventividade e forte expressão pessoal, mas de um ethos de intensa perturbação que o acompanhou desde sempre. Paranóico, Iberê andava sempre armado com uma Magnum 357 e acabou por matar a tiros um desconhecido, em 5 de dezembro de 1980. Foi absolvido, mas expressou muito bem a angústia que o acompanharia dalí em diante: “Não sei o que vou fazer da vida”. Muito acertadamente, continuou a pintar, a melhor forma de se expressar que tinha. Após o desastre, surgem suas séries mais melancólicas. “É o apogeu do
trágico”, diz o curador, referindo-se às últimas séries do artista. Há, na exposição, um momento reservado especialmente para essas monumentais telas finais: As idiotas, No vento e na terra, Crepúsculo na Boca do Monte (todas de 1991) e Tudo te é falso e inútil (1992). As colossais pinturas – aqui, tanto no sentido do tamanho, de cerca de 2x2 metros, quanto no sentido de extraordinárias – são postas frente a frente, dando ao espectador a oportunidade de colocar-se em meio ao turbilhão trágico que tomou o artista na fase final de sua vida. Co-realizada com a Fundação Iberê
Fábio Del Re VivaFoto
Fábio Del Re VivaFoto
POR VICTOR CRUZEIRO
Camargo, sediada em Porto Alegre, a mostra já passou pelos CCBBs do Rio e de São Paulo, além do Museu de Arte Moderna do Rio, de onde partiu diretamente para Brasília. Finalizando as comemorações do centenário de nascimento do multifacetado artista gaúcho, nascido em 1914, a exposição é uma chance de conhecer mais sobre esse homem e sua obra, bem como sobre o poder de uma obra sobre o homem. Iberê Camargo: um trágico nos trópicos Até 11/1 nas galerias I e II do CCBB (SCES, Trecho 2), com entrada franca. Classificação indicativa: livre.
37
Lúcia Leão
VERSO&PROSA
O prazer
de ler e escrever POR VICENTE SÁ
S
38
eu Hermenegildo, funcionário da Receita Federal, tendo sido criado na roça, não pudera usufruir dos estudos e das letras que ele tanto respeitava. Por isso, reservava boa parte de seus rendimentos para a compra de livros que, certamente, ele acreditava, ajudariam na educação dos três filhos. Quando viu sua filha Lucília, aos dez anos, deixando de lado as revistas em quadrinhos e abraçando o romance Clarissa, de Érico Verissimo, veio-lhe a sensação de que não errara de caminho. Algum dos seus para as coisas dos livros ía dar. A miúda hoje assina seus livros como Lucília Garcez, e eles não são poucos, já ultrapassaram a marca dos 20, sem contar as reedições. Um deles, Explicando a arte, já vendeu mais de 100 mil exemplares e é praticamente leitura obrigatória para quem quer começar a entender a história das artes visuais. A maior parte de suas obras é voltada para o público infantil e infanto-juvenil. Esse olhar carinhoso, que permite moldar as palavras e adoçá-las para o gosto ainda não afinado dos jovens leitores, ela trouxe da infância vivida nos anos 50, com passeios e entretenimentos inimagináveis para os dias de hoje. “Meu pai costumava alugar nos feriados um pomar em Sabará para que nossa família passasse o dia. Alugávamos apenas o pomar. A família dona do sítio ficava na casa e nós no quintal. Lá passávamos o dia a brincar e comer todas as fru-
tas que pudéssemos. Eu adorava comer as jabuticabas tiradas do pé, eram mais saborosas”, lembra Lucília. A escritora cresceu assim, entre as aventuras mágicas com a família e a magia dos livros. Ao chegar aos 15 anos já havia lido toda a biblioteca que o pai comprara. Esse amor aos livros, somado ao fato de também ser boa aluna de português, acabou, quase que naturalmente, levando Lucília a cursar Letras ao se mudar para Brasília. Estudou na UnB, nos primeiros anos da ditadura, quando a política estudantil era forte. Conheceu Honestino Guimarães, mas não estava disposta, como ela mesma diz, “a seguir com ele até a morte”, uma das frases preferidas do líder estudantil desaparecido. Por isso, preferiu manter-se focada nos estudos. À época da invasão do campus da UNB pelo Exército, em 1968, viu de perto a movimentação das tropas e as prisões que muitos anos depois seriam mostradas no filme Barra 68 por Vladimir Carvalho, hoje seu marido. Em 1980, depois de escrever sua tese de mestrado, transformá-la em livro – A escrita e o outro – e publicar um segundo sobre técnica de redação, Lucília foi convidada pelo artista Jô Oliveira a escrever a biografia de Luiz Gonzaga para crianças. A experiência de trabalhar por encomenda deu certo. O livro, que teve ótima aceitação, foi adotado pelas escolas e até hoje vende bem na época das festas juninas. Outros três livros infantis vieram ainda em parceria com o ilustrador.
Daí em diante ela começou a receber encomendas diretamente das editoras, e passou a voar sozinha. Como escritora em um país de não leitores, Lucília prega que se melhore a educação no Brasil, pois só assim, garante, poderemos ter mais leitores do que escritores, ao contrário do que ocorre atualmente. “As pessoas não gostam de ler porque não sabem ler, têm dificuldade, gaguejam as palavras, chegam ao fim da frase sem lembrar o começo. Assim ninguém consegue ler ou gostar de ler. Não é prazeroso”, afirma. Como professora e palestrante, ela sempre defendeu a melhoria da educação como necessidade primeira para o país, sem a qual não conseguiremos despir a camisa de colonizados. Atualmente Lucília faz parte de um seleto grupo de escritores de Brasília que são atendidos pela Casa de Autores, uma empresa que trabalha como agente dos escribas nos contatos com as editoras de todo o país. É através da Casa de Autores que dois novos livros dela serão lançados no ano que vem. E como escrever e coçar é só começar, ela já está trabalhando em um novo projeto. Entre uma página e outra, relaxa vendo uma exposição no CCBB, um filme no Cine Brasília, ou passeando com os netos por esta Brasília que ela tanto ama. Os amigos mais chegados dizem que é desses passeios que saem as ideias para seus livros. Bom, se for assim, bons passeios, Dona Lucília, e que venham mais livros.
Voos diretos Brasília - Buenos Aires
3 voos diretos semanais para Aeroparque Jorge Newbery na cidade de Buenos Aires e conexões a 36 destinos na Argentina.
AEROLÍNEAS WEB aerolineas.com, nossa web onde você pode ver tudo o que está relacionado com a Companhia.
aerolineas.com / 0800 761 0254
Agências de Viagens
AEROLÍNEAS MÓVIL O aplicativo da Aerolíneas Argentinas para BlackBerry, IOS e Android.
AEROLÍNEAS PLUS Nosso programa de fidelidade lhe permite somar e trocar milhas em todas as companhias aéreas da SkyTeam.
VERSO&PROSA
Jornada pela escuridão TEXTO E FOTOS HEITOR MENEZES
M
onstros, seres fantásticos, fantasmas, histórias sobrenaturais, suspense de dar frio na espinha. É muito pouco provável que o amigo leitor não se interesse por alguma coisa do
40
gênero. Dez entre dez seres humanos sentem medo; afinal, esse sentimento é parte de nossa natureza animal e desde sempre parece estar presente em nossas vidas. Quando vivíamos nas cavernas, era o medo das forças da natureza (o trovão, o raio, os predadores). Com o tempo, com a força da cultura, adquirimos outros saberes e outros medos e até gostamos de sentir alguns deles. Estão aí a literatura e o cinema para confirmar a premissa. A coisa é até um pouco mais complexa. Os livros e os filmes nos fazem sentir medo, mas ao mesmo tempo nos convidam a enfrentar o mal, a sobrepujar o terror, invocando a natureza heróica que reside em cada um de nós. Obras de referência não faltam. No mundo anti-
go, sumérios, babilônios e persas tinham narrativas sobre seres fantásticos e demônios. A Bíblia está cheia de histórias e heróis incríveis. Em que pese bibliotecas e cinematecas carregadas dessas referências, com autores como os norte-americanos Edgar Allan Poe e Stephen King idolatrados, na literatura brasileira não é exatamente um gênero que se mostre fecundo. Cite, rápido, um autor nacional de terror. Assis Brasil? Não é só terror. Augusto dos Anjos? Hum, mais ou menos. Os versos “Meia-noite. / Ao meu quarto me recolho. / Meu Deus! E este morcego! / E, agora, vede: / Na bruta ardência orgânica da sede, / Morde-me a goela ígneo e escaldante molho” são um primor de arregalar os olhos, mas é pouco diante dos incontáveis clássicos lançados mundo afora. E olha que, no Brasil, o que não falta é história de terror. Então, bem-vindo, Marcelo Araújo, jornalista e escritor carioca, legítimo brasiliense que, mesmo não tendo a intenção, é raro autor com esse pé no fantástico, no extraordinário, no coração das trevas, como diria Joseph Conrad e sua personagem, o enlouquecido coronel Kurtz, ma-
LUZCÂMERAAÇÃO
Jauja, a terra
de ouro e mel
Um dos grandes filmes argentinos desta década, premiado em Cannes, estreia dia 19 no Cine Brasília. Divulgação
gistralmente interpretado por Marlon Brando, em Apocalypse now, de Francis Coppola: “O horror, o horror”. Marcelo Araújo é autor de seletas obras, como Não abra – Contos de terror” (Editora Thesaurus), lançado em 2009, com a ajuda do FAC – Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal. Esse contém onze contos terríveis e está em sua segunda edição. Pedaço malpassado (Thesaurus, 2011), tem mais sangue que o Hemocentro de Brasília. A maldição de Fio Vilela (Thesaurus, 2012) não tem uma gota, mas tem aquele suspense de arrepiar os pelos da nuca. O alívio veio nos dois últimos livros publicados: A testinha de Gabá (Thesaurus, 2014), literatura infantil que lida com o bullying, e o mais recente, Casa dos sons (Editora Nautilus, 2015), contos rápidos inspirados na música, sobretudo o blues e o rock. Neste último, aliás, o flerte com o sobrenatural é inevitável, vide o “encontro” do autor com o falecido bluesman Howlin’ Wolf. Mas, cruz-credo, de onde vem essa preferência pelo lúgubre, menino? “É um gênero de que eu gosto muito. Desde criança, antes mesmo de enveredar pela literatura de terror, ler os livros de terror, sempre tive um fascínio pelas histórias de fantasmas. Morei no Nordeste, em São Luís do Maranhão, quando criança, e sempre ouvia muitas histórias de assombração, de fantasmas. Na televisão, via programas que faziam a reconstituição dessas histórias. Depois vieram os filmes de terror e a literatura do gênero”, explica. A julgar pelas referências, estamos em boa companhia na jornada pela escuridão. Já no primeiro livro, Marcelo cita como inspiração os grandes do gênero, entre outros Ambrose Bierce, Algernon Blackwood, Sir Arthur Conan Doyle, H.P. Lovecraft e Edgar Allan Poe. “Poe é um mestre. Acho que qualquer pessoa que queira escrever sobre terror, que goste do gênero, precisa conhecer Edgar Allan Poe, pois é um mestre da narrativa. Ele é precursor não só do terror, mas da literatura policial. Os crimes da Rua Morgue, por exemplo, antecipa Sherlock Holmes”. E, se não bastasse, Marcelo Araújo ainda dedica os livros aos heróis da música: Sepultura, Nick Cave, Noriel Vilela, Lemmy Kilmister (Motörhead) e Black Sabbath, não exatamente o tipo de música Antena Um. Parafraseando seu primeiro livro, abra e sinta medo. Muito medo.
POR SÉRGIO MORICONI
O
enredo desse filme excepcional conta, mas nem tanto. No Século XIX, um capitão dinamarquês solicita um emprego de engenheiro ao exército argentino. O cenário é a Patagônia, numa circunstância em que as forças armadas estão em guerra contra os povos indígenas da região. Sua chegada não deixa os soldados indiferentes por uma razão muito simples: a esfuziante beleza de sua filha, uma loura de rosto delicado e angelical. Seduzida por um dos soldados, ela desaparece. Lisandro Alonso então mergulha no seu campo de predileção, a observação de um homem fragilizado num território que lhe é desconhecido. O cinema desse singular realizador argentino é lacônico, pouco se diz no filme, há poucos diálogos, mas as imagens são belíssimas e convidam o espectador a uma atitude contemplativa, onde o
significado das cenas fica tão aberto como a rarefeita paisagem da Patagônia. Jauja tem a aparência de um western (um western sui generis) raro, invulgar. A busca do pai pela filha dá ao filme ares de uma epopeia misteriosa e sobrenatural, o que o distinguiria, por exemplo (uma analogia fácil demais, diga-se de passagem), do clássico Rastros de ódio. No entanto, ao contrário de John Ford, o estilo de Alonso é zen, ascético, meditabundo, um pouco místico também. Apenas para esclarecimento, Jauja é um lugar ou situação imaginários onde reinam a prosperidade e a abundância. Uma espécie de “país de São Saruê”, para dar aqui uma referência próxima a nós, brasileiros. A escolha do título, portanto, tem a ver com a desterritorialização de Gunnar Dinesen, o personagem vivido pelo ator Viggo Mortensen. Obras anteriores de Lisandro Alonso (não obstante Jauja seja, sem dúvida, a melhor) já ti-
41
LUZCÂMERAAÇÃO nham essa mesma característica. Em La libertad, seu filme de estreia, um indivíduo vive na imensidão dos Pampas, sobrevivendo somente com o indispensável, quase sem contato com outras pessoas. Da mesma maneira, nos dois longas seguintes Alonso observa à distância criaturas deslocadas do mundo. No primeiro, Los muertos (2004), um homem de mais de 50 anos, recém-saído de uma prisão onde passou mais da metade de sua vida, quando retoma a liberdade tem como único desejo voltar para o lugar onde vive sua filha. Durante a perturbadora experiência no cárcere, havia sido obrigado a conviver com gente com a qual não tinha qualquer tipo de afinidade. Para chegar finalmente onde estão seus familiares, ele terá que percorrer um largo trajeto de barco. Durante a viagem, vai percebendo o que mudou e o que permaneceu igual ao período anterior ao seu encarceramento. No segundo longa, Fantasma (2006), Alonso nos faz ver um homem parado no hall central de um teatro esperando por alguém que o encontre e o faça ver um filme que protagonizou alguns anos antes. Um outro indivíduo também é convidado para o encontro, mas se perde no labirinto de espaços e salas da grande edificação. A “frieza” narrativa dos três primeiros longas-metragens de Lisandro Alon-
so fez muita gente indagar se o realizador poderia se enquadrar num tipo de cinema realista que surgiu na Argentina na virada do século. No livro Poéticas en el cine argentino (organizado por María Paulinelli), Cecilia Pernacetti sustenta que a saturação das imagens nos filmes de Alonso, com suas cenas longas em planos fixos, “volta a colocar sobre a mesa o debate sobre o cinema como instrumento de ‘desvelação’ do real, de ver – sentir – o que não se vê à primeira vista, sem qualquer estridência ou espetacularização daquilo que é visto”. O que Pernacetti quer dizer é que o que se deve ver é o que está além das imagens, provocando no espectador uma metafísica para além da realidade vista. Assim, a fotografia (e isso é ainda mais verdadeiro em Jauja) joga um papel fundamental no filmes do realizador. São pequenas particularidades das imagens (quase imóveis) e da ação dos personagens que nos fazem ver as cenas de forma similar à contemplação de uma fotografia. Lisandro Alonso prefere seguir as deambulações dos personagens, suas longuíssimas caminhadas, filmadas também longuissimamente, do que construir seu drama a partir de situações que revelariam um contexto central da história. Procedendo assim, Jauja apresenta um conflito multifacetado, fluido, gasoso e
aberto. Sentimos o cansaço do pai dinamarquês, partilhamos seus momentos de rudeza, mas intuímos que há algo mais importante por detrás disso tudo. Os planos amplos da paisagem nos permitem experimentar a perplexidade de Gunnar, enquanto os fixos, mais fechados, proporcionam o tipo de observação à qual Pernacetti se refere (“...o que se deve ver é o que está além das imagens...”): a percepção do cipoal emocional de Gunnar, sua dissociação com o espaço, sua inadequação cultural e territorial com a Patagônia, região que, no filme, cumpre um papel metafórico. Não é por acaso que ficamos sabendo o significado de “jauja” logo no início do filme. A ilusão da existência desses lugares imaginários teria incitado dezenas de expedições a se aventurarem em busca da fortuna e da felicidade. Mas quimeras são quimeras e servem apenas para sublimar as carências de nossos desarranjados espíritos. Jauja
Argentina/ Dinamarca/França/México/ EUA/ Alemanha/ Holanda/ Brasil, 2014, 109min. Direção: Lisandro Alonso. Roteiro: Lisandro Souto e Fabian Casas. Com Viggo Mortensen, Ghita Norby, Viilbjørk Malling Agger, Adrian Fondan. Vencedor do Prêmio FIPRESCI 2014, concedido pela Federação Internacional de Críticos de Cinema, em Cannes, para filmes de arte e para o encorajamento de novas propostas de cinema. Em cartaz a partir de 19/11 no Cine Brasília.
COMBOS PEIXE NA REDE
+
R$
+
UMA ENTRADA
UMA BEBIDA
- Mini Quibe* - Pastel de Tilápia * - Pastel de Bacalhau *
- Água - Refrigerante - Suco
29,90 a partir de
UM PRATO
18h00
- Filé de Tilápia ao molho de laranja e amê ndoas - Filé de Tilápia ao molho de limão - Filé de Tilápia Grelhado
42
ww w.peixena rede.com.br *Cada opção de entrada é composta por 5 unidades. Válido para todas as unidades, exceto Setor Bancário Sul, à partir das 18:00h.
UMA NOVA MANEIRA DE COMBATER A VIOLÊNCIA EM NOSSA CIDADE. Mais do que um programa inovador, “Viva Brasília, nosso Pacto Pela Vida” é um compromisso do Governo de Brasília com a segurança de toda a população. Agora, é justamente o cidadão brasiliense que aponta o que precisa ser feito pelo Governo para a melhoria de sua qualidade de vida. Outro diferencial é a atuação de todos os órgãos públicos, de maneira integrada, para resolver tais problemas evidenciados pelo povo. E os resultados já começaram a aparecer: o número de homicídios caiu em 15,9%, comparado ao mesmo período (janeiro a setembro) do ano passado. Uma redução expressiva, evidenciando que Governo e comunidade, juntos, caminham na direção certa, para que Brasília seja um lugar mais seguro de se viver. Saiba mais em www.vivabrasilia.ssp.df.gov.br.