RESTAURANTES PREPARAM MENUS ESPECIAIS PARA AS CEIAS DE NATAL E RÉVEILLON
Ano XIV • nº 246 Dezembro de 2015
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EMPOUCASPALAVRAS
Essa boa onda de volta às origens gastronômicas invade não só a gastronomia italiana como também a de outros países, como acontece no Empório Árabe, da chef Lídia Nasser, que acaba de inaugurar sua segunda casa, agora na 215 Sul. Em jantar oferecido à imprensa, ela caprichou nos pratos árabes típicos que encantaram os comensais (página 12). Já que o assunto é comida, não poderíamos deixar de listar algumas sugestões de restaurantes que estão criando menus especiais de Natal e Réveillon. Está certo que este ano não foi lá muito bom por aqui, mas mesmo assim essas datas sempre são propícias para reunirmos família e amigos e brindarmos para atrair bons fluidos para o ano que vem vindo (página 6). No mais, é se preparar para o período de férias, que, para alguns, significa viagem para destinos turísticos em reais, já que em dólar e euros... bem, vocês já sabem. Nas nossas páginas há algumas possibilidades de viagem aqui mesmo no país. Uma delas é descobrir Alter do Chão, um verdadeiro paraíso no Parán (página 34). Outra é visitar, em Congonhas do Campo, a 800km de Brasília, o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos e suas célebres obras de Aleijadinho. Agora, o turista tem à sua disposição um novo museu que vai permitir uma melhor compreensão da riqueza artística e religiosa daquele patrimônio cultural da humanidade (página 24). Em caso de dinheiro curto, que impossibilite as viagens neste momento, a Roteiro sugere bons programas culturais aqui na nossa Brasília, entre eles O cinema total de David Lean, uma retrospectiva de clássicos imperdíveis como A filha de Ryan, Lawrence da Arábia e Doutor Jivago (página 40). Boas festas e até janeiro! Maria Teresa Fernandes Editora
Ana Vilela
Recentemente, um leitor atento desta Roteiro, Reynaldo Domingos Ferreira, nos procurou para fazer uma pergunta um tanto quanto intrigante: “Por que não consigo comer um bom macarrão alho e óleo nos restaurantes de Brasília?” Imediatamente resolvemos responder à sua indagação ouvindo alguns chefs da cidade que têm em seus cardápios ampla variedade de massas, mas, curiosamente, neles não incluem a prato preferido do leitor. Felizmente, a resposta que damos a ele é carregada de boas novidades. Como há um movimento de volta às origens, de valorização das receitas das “mammas”, o prato preferido de Reynaldo já pode ser saboreado, sim, em bons restaurantes da cidade, mesmo que não esteja nos cardápios (página 10).
40 diáriodeviagem A areia muito branca, o azul-esverdeado do Rio Tapajós e o deslumbrante pôr do sol são os encantos de Alter do Chão.
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ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14 – Conjunto 2 – Casa 7 – Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes | Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa Carlos Roberto Ferreira | Colaboradores Alessandra Braz, Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, Ana Vilela, Beth Almeida, Cláudio Ferreira, Eduardo Oliveira, Elaina Daher, Heitor Menezes, Júlia Viegas, Luana Brasil, Lúcia Leão, Luís Turiba, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle | Fotografia Fabrízio Morelo, Gadelha Neto, Rodrigo Ribeiro, Sérgio Amaral, Zé Nobre | Para anunciar 9988.5360 | Impressão Editora Gráfica Ipiranga | Tiragem: 20.000 exemplares.
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ÁGUANABOCA
Tempo de
celebrar
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Trio Gastronomia – 213 Sul, Bloco A (3346.2845)
No restaurante do chef dinamarquês Simon Lau as celebrações do Natal já começaram e vão até o dia 19, período em que será servido o tradicional menu-degustação em cinco etapas, que mescla pratos nórdicos com ingredientes locais como cagaita, cajuzinho do mato, baunilha do Cerrado e mel de jataí. O menu começa com salada de vieiras grelhadas com sorbet de cagaita, feijão verde e toucinho defumado, e segue com esse camarão ao mel de jataí com maionese negra de inhame e croutons de coral, sopa de sabugo de milho e moelas na lata com foie gras grelhado e cebola caramelizada e bistec passion com redução de costela de boi, cenoura glaceada, espinafre e farofa de Goiás Velho. O menu custa R$ 250 ou R$ 395 (se harmonizado com vinhos).
No restaurante do chef Emerson Mantovani o investimento será mais modesto: a partir de R$ 67 por pessoa, para o cardápio com duas entradas, dois pratos principais, duas guarnições e uma sobremesa: salada de couscous marroquino com frango defumado, rosbife com manteiga cítrica, pernil desossado ao molho de mel e limão siciliano, medalhões de filé a Francesco Paolo (molho de berinjela e crisps de presunto parma), arroz com lentilhas e farofa de milho e leite de coco e cheescake com calda de blueberry. Na opção mais completa, com três entradas, três pratos principais, três guarnições e duas sobremesas, o preço sobe para R$ 122. O restaurante também aceita encomendas, mas somente até o dia 19.
Rafael Lobo Zoltar Design
Aquavit – Jardim Botânico, SMDB (3366.4686)
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ão dá pra negar que nunca, na história deste país, vivemos tempos tão bicudos. Recessão, inflação, desemprego, denúncias de corrupção contra altos próceres da República, zica vírus, microcefalia, processo de impeachment da presidente Dilma, desastre ambiental de dimensões sem precedentes – eis o triste cenário em que vivemos hoje, sem exagero. É chegada a hora, então, de recorrer a algum antídoto, de fazer uma pausa no baixo astral e mergulhar no clima normalmente festivo desta época do ano. De nos entregar às melhores garfadas e goles, de confraternizar com amigos e familiares, de desejar que 2016 venha melhorzinho do que este ano que vai findando. A carência de felicidade é tamanha que a maioria dos bons restaurantes da cidade não quis nem esperar pelas noites de Natal e Réveillon para fazer pequenos agrados a sua clientela, como o amigo leitor poderá constatar nesta e nas próximas páginas da Roteiro.
Até o final do mês o fondue chinoise, prato de Natal tipicamente suíço, será oferecido com 20% de desconto (de R$ 127 por R$ 101,60, para duas pessoas). Nessa versão de fondue, os acompanhamentos são aquecidos em um consommé de legumes, acrescido de cogumelos paris ao vinho branco. A carne não é cortada em cubos, mas em finas fatias. Além da carne, o chinoise oferece filé de frango, lombo, camarão e peixe com molhos teriyaki, três mostardas, limão e tomate picante.
Rafael Lobo Zoltar Design
Felipe Menezes
La Bonne Fondue SCES, Trecho 2 (3223.0005)
Ancho Bistrô de Fogo 306 Sul, Bloco C (3244.7125) R$ 41,90 por pessoa – excluídas bebidas e taxa de serviços – é o preço do pacote criado pela chef Renata Carvalho para grupos de pelo menos dez pessoas, de terça a sexta-feira, no almoço ou no jantar. O menu inclui entrada, prato principal, sobremesa e bebidas não alcoólicas. Ao fazer a reserva, com pelo menos dois dias de antecedência, o cliente pode consultar os pratos disponíveis e montar seu cardápio.
Da Noi – Hotel Goldel Tulip Brasília Alvorada (3429.8100) Um bufê composto por pratos frios e quentes, sobremesas e bebidas não alcoólicas será servido pelo chef Dudu Camargo, devidamente caracterizado de Papai Noel, nas noites de Natal (R$ 180) e Réveillon (R$ 240). Crianças até nove anos não pagam.
Fogo de Chão – SHS, Quadra 5, Bloco E (3322.4666) Nada menos de 19 cortes de carnes serão servidos nas noites de 24 e 31 de dezembro. Algumas delas: shoulder steak, picanha, fraldinha, filé mignon, miolo de alcatra, cupim, bife ancho, frango desossado, coração de frango, costelas bovina e suína, paleta e costeleta de cordeiro, chester (apenas no Natal) e leitão à pururuca (apenas no Réveillon). Preços: no Natal, R$ 148; no Réveillon, R$ 168 (bebidas e sobremesas à parte).
Aqui, são três pacotes para grupos de, no mínimo, 20 pessoas, de segunda a quarta-feira, no jantar. Os clientes podem escolher entre 40 variedades de entradas, pratos principais e sobremesas de autoria do chef André Carvalho. O menu mais barato custa R$ 95 por pessoa + 10% de taxa de serviço, dando direito a quatro entradas, três escondidinhos salgados (prato principal) e dois doces (sobremesa). Todos os pacotes incluem água, refrigerante, suco de fruta e cerveja. A reserva deve ser feita com sete dias de antecedência.
Raquel Aviani
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O Bistrô Escondido – 213 Norte, Bloco B (3546.7460)
Um dos atrativos do Rubaiyat é, sem dúvida, essa vista privilegiada para o Lago Paranoá. Adultos pagarão R$ 295 e crianças R$ 147 pela ceia de Natal, cujo menu terá seis pratos e bufê de sobremesas, além de bebidas – água, suco, refrigerante e uma garrafa de vinho para cada duas pessoas. Entre os pratos, clássicos natalinos como o peito de peru recheado e assado ao forno, o baby pork da Fazenda Rubaiyat, confitado e desossado com tatin de maçã, e o rosbife de novilha Brangus com quinoto de queijo de cabra e polenta. Na noite do Réveillon será servido outro menu especial, com carpaccio de figos, lagosta, maionese de caviar e rúcula, robalo com creme de amêndoas, aspargos e lâminas de trufas negras e carré de cordeiro com pistaches, pimentões piquillo, canelone de berinjela, queijo de cabra e batatas confitadas, entre outros pratos. Preços: R$ 420 (adultos) e R$ 210 (crianças).
Felipe Menezes
Rubaiyat – SCES, Trecho 1 (3443.500)
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Até 30 de dezembro, grupos de pelo menos dez pessoas poderão reservar mesas para rodízios de terça a sexta-feira, também no jantar, pelo valor convencional de R$ 46,90 por pessoa. O serviço dá direito aos 38 sabores do cardápio. As pizzas sem lactose ou sem glúten somente são oferecidas para pedidos à la carte. Reservas com um dia de antecedência.
Loca Como Tu Madre – 306 Sul, Bloco C (3244.5828)
Bruno Oliveira
No gastropub da chef Renata Carvalho os pacotes de confraternização valem para o almoço, de segunda a sexta-feira, de grupos com no mínimo dez pessoas. Pelo menu composto de entrada, prato principal, sobremesa e bebidas não alcoólicas, que eles próprios escolherão, os clientes pagarão a partir de R$ 37,90. Reserva com dois dias de antecedência.
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Empório Árabe – Avenida das Castanheiras, 1060, Ed. Vila Mall, Águas Claras (3436.0063), e 215 Sul, Bloco A (3363.3101) Nas duas unidades do Empório Árabe, em Águas Claras e na 215 Sul, de segunda a sexta-feira, o rodízio de comidas típicas – mini esfirra, mini quibe, pastas frias, quibe cru, tabule, arroz com lentilhas, carneiro marroquino, kafta, charuto de uva, charuto de repolho e abobrinha recheada – custa R$ 99 por pessoa (mais taxa de serviço), com direito também a água, refrigerante, sucos de uva com rosas, abacaxi com hortelã, laranja e cerveja. Reservas com, no mínimo, um dia de antecedência.
Leandro Matos
Dolce Far Niente – Avenida das Castanheiras, 1060, Ed. Vila Mall, Águas Claras (3254.2263)
Belini Pães & Gastronomia – 113 Sul, Bloco D (3345.0777) Como sempre, a Belini oferece duas opções de ceias. A tradicional é composta de arroz com amêndoas, chester, peru e pernil com osso à Califórnia, bacalhoada, salpicão de frango natalino e rabanadas. A gourmet oferece lombo folhado em crosta de damasco e nozes, salmão norueguês, porcheta alla Romana, paleta de cordeiro temperada ao molho de alho alecrim e vinho branco e, de sobremesa, manjar de coco queimado e couli de damasco, terrine trufada de chocolate e cocada de nozes. As encomendas serão aceitas somente até o dia 22 e entregues no dia 24.
Universal Diner – 210 Sul, Bloco C (3443.2089) Dois dias de antecedência é o que pede também o Universal Diner, da chef Mara Alcamim, para quem quiser fazer reservas para confraternizações de segunda a sexta-feira, no almoço ou no jantar. No almoço, o preço é R$ 95; no jantar, R$ 170 (bebidas e taxa de serviço excluídas).
Madero Steak House - Pátio Brasil Shopping (3041.7005) A filial do badalado restaurante curitibano preparou-se para qualquer tipo de comemoração: confraternizações de empresas, amigo secreto, jantar em família, happy hour com os amigos. Há pelo menos dois bons atrativos: a casa não cobra taxa de rolha de quem quiser levar seu vinho de casa e oferece vale-presente para quem quiser surpreender o amigo secreto. Outra boa novidade é o cardápio FIT, com dez receitas saudáveis, entre elas esse cheeseburger preparado com pão integral, creme de palmito no lugar da maionese, queijo cheddar light, menos gordura e menos calorias. Outras opções são o cheeseburger com redução de 50% do sal, feito com pão integral crocante, creme de palmito, hambúrguer artesanal e fatias de queijo cheddar com níveis de sódio reduzidos em até 80%, e o vegetariano, preparado com quinoa, aveia, cenoura e temperos.
Nilo Biazzetto
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Cadê o alho e óleo? TEXTO E FOTOS LÚCIA LEÃO
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movimento vem do berço – ou da “bota” – e alia duas frentes que, no frigir dos ovos, são os alicerces da boa gastronomia: cultura e saúde. Em nome delas, os amantes da boa massa – sejam os que apenas tomam seu lugar à mesa ou os que detêm o comando das panelas e fogão – engrossam cada vez mais o coro: queremos o macarrão como antigamente! A preocupação com o resgate de sabores tradicionais, que estavam se perdendo em malabarismos modistas, mistura de ingredientes exóticos e efeitos plásticos especiais, deflagrou entre gourmets e importantes chefs da Itália, país que dita as tendências para o consumo de massas em todo o mundo, um movimento de volta às origens, de valorização das receitas das “mammas”, daqueles poucos e seculares
molhos desenvolvidos nas cozinhas familiares que arrebataram paladares e garantiram a primazia da culinária italiana em todo o mundo. Por outro lado, no quesito saúde, a cada vez maior preocupação com hábitos saudáveis e da consciência do poder dos alimentos, para o bem e para o mal, içou as massas simples e tradicionais ao pódio na preferência não só mais de chefs e consumidores, mas dos médicos e nutricionistas, adeptos da culinária mediterrânea e de seus benefícios. “Todos os movimentos, as fases de um determinado tipo de criação, acontecem e depois voltam como “neo”, que é a repetição, algum tempo depois, com um algo a mais, alguma coisa diferente. Na gastronomia italiana estamos vivendo uma fase “neoclássica”, de volta ao tradicional, “às origens, com o algo a mais que é a preocupação com a saúde”, constata o chef Rosario
Tessier, que comanda uma das mais tradicionais cozinhas italianas de Brasília na Trattoria da Rosario. Como todo movimento, o neoclassicismo da culinária italiana vai acontecendo aos poucos, tomando naturalmente as cozinhas que, a pedido dos clientes, já estão produzindo muito mais o pommodoro em suas variações tradicionais – com ervas e frutos do mar – ou o clássico bolognesi do que as mirabolantes misturas de muitos ingredientes e bases de cremes e manteigas. É o que afirma o chef Ronny Peterson, responsável pela cozinha do badalado Gero, no Iguatemi Shopping. “Este ano, especialmente, sentimos que cresceu muito a procura pelos molhos mais leves, à base de tomate, e até do alho e óleo, especialmente como guarnição para carnes e peixes grelhados”. Ah, o “alho e óleo”! Poucos pratos podem representar tão bem quanto ele o
Rosario Tessier, da Trattoria da Rosario, e Ana Toscano, do Villa Borghese, não têm o alho e óleo no cardápio, mas fazem questão de preparar para o cliente que pedir.
neoclassicismo italiano na cozinha! Principalmente o que Rosário Tessier classifica como o “neo” do movimento atual: o ingrediente “saúde”. Um parêntese para a observação de um leitor, o jornalista, advogado e dramaturgo Reynaldo Domingos Ferreira, amante e grande conhecedor das tradicionais massas italianas. Atualmente, deve submeter-se a uma dieta para controle de peso e outros cuidados com o coração. Seu prato de resistência, recomendado pelo nutricionista? Macarrão ao alho e óleo! “Ele é considerado um dos pratos mais saudáveis do mundo. Combina à perfeição o que chamamos de ‘alimentos funcionais’. O alho é anti-oxidante, rico em vitaminas e minerais, combate o colesterol e previne o câncer; o azeite de oliva – o oglio para os italianos
– também é rico em vitamina K e outros nutrientes que protegem o coração e ajudam a regenerar a pele. E o macarrão, já se sabe, nutre, não engorda. É o prato de resistência da dieta mediterrânea, que deve abrir todas as refeições”, proclama Ferreira, com a autoridade de quem, em causa própria, se debruçou muito sobre o assunto. Mas aí vem o motivo da queixa do leitor: ele diz que não consegue comer uma boa massa ao alho e óleo nos restaurantes italianos de Brasília. “Acho um absurdo!”, indigna-se. Como estamos aqui para ajudar, lhe dizemos: consegue sim. Basta pedir. Se poucos restaurantes mantêm a opção no cardápio – e quando têm é como guarnição, como a Cantina da Massa e o Vila Esperança – nenhum chef se recusa a prepará-la a pedido do cliente. Como Ana Toscano, uma fã assumida do alho e óleo, que aponta razões muito pragmáticas para deixá-lo fora do cardápio do Vila Borghese. “Não é um prato que minha clientela peça. Primeiro, por conta do alho, que compromete o hálito, principalmente para quem sai do restaurante para uma reunião ou um encontro de negócios. Quando é um casal, normalmente quando um quer comer um prato carregado no alho o outro pede também. Mesmo com a melhor higienização bucal, o cheirinho de alho é indefensável. Depois, porque a maioRonnny Peterson, do Gero: procura por molhos mais leves. ria das pessoas não quer sair de ca-
sa e ir a um restaurante do nosso padrão para comer uma coisa simples. Só as pessoas realmente sofisticadas gostam das coisas simples”, diverte-se Ana. Se Reynaldo ou qualquer outro quiser, ela mesmo vai para a cozinha e rapidamente prepara um alho e óleo com seu toque pessoal. Vai usar linguine (massa fina e chata, considerada a mais apropriada para esse tipo de molho), fritar levemente lascas finas de alho (sem o olho) em azeite extra-virgem e “passar a massa”, que deve estar recém-cozida. Um raminho de alecrim para finalizar aromatiza e enfeita o prato. Rosario Tessier também não recusa pedidos de alho e óleo na sua tratoria. E ele é ainda mais tradicionalista do que Ana Torcano: usa o alho macerado passado rapidamente no azeite aquecido (não deve chegar a dourar, tanto para preservar o sabor quanto para não saturar o azeite) em frigideira. Em seguida, joga na mistura refogada a massa (ele também recomenda o linguine) retirada, al dente, diretamente da panela de cozimento e trazendo um pouco de sua água. Ainda na frigideira, salpica a salsinha. No prato, queijo ralado. Então, “mangia che ti fà bene’. Trattoria da Rosario
QI 17 – Bloco H – Lago Sul (3248.1672)
Gero
Iguatemi Shopping – Lago Norte (3577.5520
Cantina da Massa
302 Sul – Bloco A (3226.8374)
Vila Esperança
104 Norte – Bloco B (3034.7599)
Villa Borghese
201 Sul – Bloco A (3226.5650)
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Memorável noite árabe E
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m tempos de dureza e intolerância, principalmente quanto a outras culturas, poucas coisas são tão confortantes quanto um momento de desfrute com a menor e mais grandiosa das manifestações culturais: a comida. Não são as roupas, nem os poemas, nem a arquitetura, que nos aproximam de uma cultura. Tampouco é visitar um país novo – todos sabemos que há tantos turistas quanto intolerantes. Mas é uma mesa farta de história e sabores que nos traz para dentro de um povo, e nos colocam à frente de um novo mundo. Essa foi a grata experiência que tive a oportunidade de desfrutar no novo Empório Árabe, na Asa Sul. Um jantar repleto de sabores, texturas e o conceito fundamental de hospitalidade e generosidade. Um menu preparado com a dedicação de um apaixonado e a propriedade de um conhecedor mostra a que veio essa nova unidade do restaurante. Um conjunto de duas entradas iniciou a noite – surkada (uma mistura de queijo chancliche, tomate e temperos), quibe cru e pão sírio, acompanhado do indispensável
homus (pasta de grão de bico), seguida de bolinhos de cordeiro guarnecidos com uma surpreendente geleia de hortelã artesanal. Os pratos principais foram igualmente marcantes. Duas carnes diferentes se justapuseram em combinações distintas. Primeiro, filé de pescada amarela com homus acompanhado de arroz de amêndoas. Em seguida, uma picanha confitada servida sobre uma cama de coalhada e hortelã, acompanhada de sêmola. Dois conjuntos tão bem pensados que sua sequência traz belíssimas reflexões sobre paladares. A suavidade da carne branca versus a maciez marcante da carne vermelha. A força do grão de bico versus a doce volatilidade da coalhada com hortelã. O sabor fino das amêndoas versus a aspereza da sêmola. Todos esses sabores e texturas se devem à grande habilidade da chef Lídia Nasser em combinar sua herança libanesa com o que lhe oferece o paladar brasileiro. Indiscutivelmente inigualável. Ela conta que seu referencial libanês vem não só pela herança direta de família – de Akkar, no norte do país – mas pelo “tempero mais suave, não tão pesado,
sem muita fritura”. De fato, grande parte das carnes são assadas ou cozidas, o que realça ainda mais o sabor de tudo o mais que a mestria da chef nos proporciona. Essa mestria será posta à prova, dado que o Empório da 215 Sul terá um diferencial em relação ao primeiro, de Águas Claras. Lídia apresentará ingredientes e sabores típicos de suas raízes libanesas em composições novas, inspiradas na alta gastronomia internacional. O milenar vai se unir ao novo, graças à inspiração e entusiasmo de alguém que Thiago Bueno
POR VICTOR CRUZEIRO
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Delícias artesanais POR SÚSAN FARIA
“A
Confira, a seguir, alguns preços de pratos e petiscos do Empório Árabe Surkada Homus Tahine Quibe cru (300 g) Bolinhos de cordeiro (seis unidades) Filé de pescada amarela Pirâmide de massa folhada Carneiro marroquino (duas pessoas) Esfiha aberta (carne, frango ou ricota) Quibe frito recheado com carne Quibe frito recheado com queijo Esfiha de banana com canela
Empório Árabe Asa Sul
215 Sul – Bloco A (3363.3101) Diariamente das 11h30 às 24h.
R$ 19,00 R$ 18,90 R$ 28,90 R$ 29,90 R$ 49,80 R$ 18,90 R$ 79,90 R$ 3,95 R$ 4,95 R$ 5,80 R$ 7,90
Fotos: Photo&Food by Lanna
sabe que cozinhar é, antes de mais nada, compreender – um sabor, uma cultura, um momento. A noite encerrou-se com uma pirâmide de mil folhas, recheada de frutas secas e regada com calda de laranjeira, acompanhada por um delicioso sorvete de pistache. Sem dúvida, um encerramento doce para uma noite memorável. Saí de lá mais repleto e ansioso, muito ansioso, para voltar ao agradável e belo ambiente do Empório, esperando as próximas surpresas que esse novo recanto de descobertas irá me proporcionar.
vida é curta, comece pela sobremesa”. “Um café e um amor, uma sobremesa, por favor!”. “Quem resiste a um delicioso croissant, recheado, quentinho...”. As frases estão no mural do Braunys Café e Lavínia Outlet, novo espaço gastronômico e comercial da Asa Norte. Difícil, mesmo, resistir às deliciosas tentações da casa, como as empadinhas, os croissants e os brownies que fizeram e fazem sucesso, primeiro entre os amigos, depois nas encomendas para festas e agora para quem quiser fazer um lanche rápido. São dois comércios no mesmo espaço, para facilitar a vida de quem procura vestuário moderno, de boa qualidade e preço acessível e não quer perder tempo. A clientela feminina, depois de ver, experimentar e comprar blusas, saias, vestidos ou conjuntos esportivos com designs exclusivos no Lavínia Outlet, não precisa se deslocar para fazer um lanche, pois no Braunys, instalado no térreo e na área externa, encontra salgadinhos, doces, cafés e chocolates. O ambiente é bem clean, decorado por Cris Karessawe e Leandro Pimentel. A história por detrás desse novo comércio começou há mais de 20 anos, quando Lavínia Leal Coelho, maranhense, 53 anos, mãe de Gustavo e Frederico, vendia roupas em casa, no Lago Norte. Com pouco comércio na região, Lavínia montou sua loja feminina de multimarcas no CA-5. Os filhos cresceram, formaramse em Direito, mas preferiram abrir uma segunda loja de roupas femininas, ao lado da primeira, há cerca de dois anos. Uma terceira loja foi aberta em Gua-
jará Mirim, na fronteira do Brasil com a Bolívia, cidade natal do pai de Gustavo e Frederico. Os dois jovens são amigos de infância de outros dois irmãos, Rodrigo e Luiza Galvão dos Santos, formados em Comunicação Social. Juntaram-se e fundaram o Braunys e Lavínia Outlet, ou seja, uma quarta empresa com o nome da mãe junto a outra marca também de sucesso, do ramo de alimentos, cuja fábrica fica no Grande Colorado. São histórias de obstinação, dedicação e sucesso que se fundem, agora nas mãos de quatro jovens. “Estamos expandindo a fábrica, que já administramos há dois anos. Agora, as pessoas podem pegar suas encomendas de doces e salgados aqui na Asa Norte, sem a necessidade de pagar frete”, explica Luiza Galvão. As encomendas podem ser personalizadas para casamentos, aniversários, encontros. A produção é artesanal, sem conservantes. São várias opções de brownies – carro-chefe da casa – com preços entre R$ 4,50 a 14,80 a unidade, os mais caros com calda, sorvete e recheios. A casa serve ainda café espresso, carioca, avelã e brasileiro, cappuccino, chocolate quente e mocha (cobertura de chocolate e leite vaporizado espresso), a preços entre R$ 4,20 a R$ 9,90, além de sucos e bebidas sem álcool. Braunys Café e Lavínia Outlet 308 Norte – Bloco D (3485.0835) De 2ª a sábado, das 9 às 19h.
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PICADINHO Executivo a semana inteira
Claras. Este último manteve em funcionamento apenas o serviço de delivery, mais rentável do que o restaurante. O Babel, da 215 Sul, foi rebatizado pelo chef e proprietário Diego Koppe. Agora é Occitano.
Quem também resolveu não assistir passivamente à crise foi o chef Dudu Camargo. Sua atitude mais recente foi estender pelo fim de semana o menu executivo servido nos almoços do Dudu Bar e Restaurante (303 Sul, Bloco A, tel. 3323.8082, e QI 11, Bloco I, Lago Sul, tel. 3248.0184). São 12 pratos com preços entre R$ 25,90 e R$ 44,70. O preço mais alto é o do risoto de camarão com redução de laranja, shoyo e legumes; o mais baixo, o do penne à bolonhesa acompanhado de ovo caipira.
Baco no Gambero Rosso Apesar desse cenário preocupante, o chef Gil Guimarães anda rindo à toa: o guia gastronômico Gambero Rosso, um dos mais conceituados da Itália, elegeu em sua última edição as melhores pizzarias do mundo, e entre elas figura a Baco (408 Sul, Bloco C, tel. 3244.2292, e 309 Norte, Bloco A, tel. 3274.8600), na companhia de apenas mais uma pizzaria brasileira – a Grazie Napoli, de Santo André. “Foi uma bela surpresa e uma grande satisfação ver a Baco entre as melhores pizzarias do mundo”, comemora Gil. Para o resultado, certamente contribuiu o ingresso da Baco, algum tempo atrás, na Associazione Verace Pizza Napoletana. Mas o ambiente da pizzaria brasiliense, inspirado em bares e restaurantes italianos do início do Século XX, também mereceu elogios do Gambero Rosso.
Visitar Capri, Positano, Ravello, Amalfi e outras pérolas da Costa Amalfitana é uma experiência pra nunca mais esquecer. Melhor ainda se você trouxer de lá boas ideias para colocar em prática aqui, como fizeram Fabiany Damasceno e Eduardo Macêdo, do Limoncello Ristorante (402 Sul, Bloco A, tel. 3226.3208). Inspirados nos cheiros e sabores daquele pedacinho da Itália, o casal de empresários instigou o chef Victor André a desenvolver um menu de seis etapas, composto de pratos leves como esse camarão grelhado na espuma de coco e gelatina de aperol. Esse menu de verão será servido até março, somente no jantar, ao preço de R$ 150 (ou R$ 270, se harmonizado com vinhos).
Mais que pizzas Rayan Ribeiro
Menu amalfitano
Boa lembrança
Vacas magras
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Recentes e lamentáveis baixas no mercado gastronômico brasiliense: Les Maries, da 204 Norte, Panelinha Brasileira, da 316 Norte, Grande Muralha, da 108 Norte, Empório Sanfelice, da 412 Norte, Yujin, da 408 Sul, Legrat, da 108 Sul, e Gordeixos, de Águas
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Cardápio revigorado
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Beer pub A crise passa longe também do Empório Soares & Souza, que acaba de inaugurar sua terceira unidade, no Lago Sul. Não se trata apenas de mais uma loja, como as da Asa Norte e Asa Sul, mas de um beer pub, um lugar para degustação de cervejas especiais em ambiente leve e descontraído. Localizado no Deck Brasil (QI 11, Bloco 2, tel. 3532.6702), o pub oferece cerca de 200 rótulos de cervejas e três torneiras de chope. No cardápio de petiscos, mini salsichas e empanadas argentinas.
Rayan Ribeiro
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Demorou um pouco, mas valeu a pena esperar: o chef Alexandre Faeirstein, do Kojima (406 Sul, Bloco C, tel. 3443.0118), finalmente apresentou a versão 2015 do seu “prato da boa lembrança”, um haddock gratinado acompanhado de espaguete de palmito pupunha em molho branco com parmesão também gratinado (R$ 130). Os outros restaurantes brasilienses integrantes da Associação da Boa Lembrança – Oliver, Dom Francisco e Villa Tevere – já estão servindo seus pratos desde março.
As pizzas gourmet são a especialidade do recém-inaugurado Piazza 8 (Setor de Indústrias Gráficas, Quadra 8, tel. 3326.1726), mas desde o início do mês o cardápio do restaurante oferece também pratos à la carte, servidos apenas nos jantares de segunda a sexta-feira e nos almoços dos sábados, domingos e feriados. Uma das estrelas do novo cardápio é esse cartoccio com fetuccine e frutos do mar, envolto em massa branca levada ao forno (R$ 83). Nos dias úteis, no horário do almoço, o restaurante serve um bufê de saladas, peixes, carnes, frangos e sobremesas, por R$ 49,90 o quilo.
Batizado de Nina, esse carpaccio de rosbife com molho da casa, rúcula, parmesão e alcaparras, acompanhado de pão italiano (R$ 27), é uma das 12 novidades comemorativas do quarto aniversário do Pinella (408 Norte, Bloco B, tel. 3347.8334). Para os vegetarianos, uma opção é o Tereza, sanduíche caprese com mussarela, tomate e manjericão no pão sírio (R$ 23). Para finalizar, a Bárbara, torta de quatro chocolates (R$ 14 o pedaço). Foram feitas também releituras de pratos antigos, com a consultoria do chef Rodrigo Almeida. O picadinho, por exemplo, agora é servido ao molho de cerveja (R$ 28).
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GARFADAS&GOLES
O ano novo
LUIZ RECENA
lrecena@hotmail.com
O grupo Milênio tem reunião mensal. O grupo era chamado “Centenário” em outras décadas e tinha reuniões todas as semanas. Quase sempre às sextas-feiras, com algumas delas entrando nos sábados. Eram os famosos “sábados adentro”. Até aí havia direito a “sursis”. Os casamentos eram mantidos. Domingo? Nem a igreja salvava. Afinal, o que dizer em casa depois de um “almocinho” desses? Nada! Coisas da mocidade... O nome vem da soma dos tempos de profissão de cada um dos integrantes. Todos são jornalistas ou muito ligados, íntimos, ao trabalho de imprensa. Procedência variada, variadíssima, a geografia brasileira contemplada em sua plenitude. Procedência toda ligada a um fio condutor único: o sonho de Dom Bosco e o delírio de JK, que juntos produziram uma entidade, Brasília, aquela que fez, com quimeras, trabalho e lágrimas, o amálgama de muitas vidas. Tangeu desejos. Multiplicou amores. Desfez projetos. Enterrou pessoas. Produziu filhotes e eles também se reproduzem. Vida que segue. Sempre. Os membros do Milênio vieram para Brasília nos primórdios. Alguns, pelo menos. Não eram jornalistas nessa época, claro. Eram crianças trazidas pelos pais. Cresceram aqui. Saíram e voltaram. Outros chegaram depois. Mas todos há muito, muito tempo. Então estamos ainda a navegar, pois isso é preciso. Em todas e por todas as águas, as águas da vida. Não associar de imediato às “eau de vie”. Dessas nos distanciamos com o passar do tempo. Não a ponto de deixar de sorvê-las. Só que, agora, com moderação. Imposta, autoritária, chantagista, mas obrigou o grupo a essa moderada conduta atual. Em nome de um novo milênio, talvez. Por mais um ano, com certeza. E assim passou nosso almoço de adeus a 2015, no Parilla Madrid. Agora moderados, moderadíssimos, o anoitecer nos encontrou em casa. Feliz Ano Novo! E que 2016 traga tempo melhor do que este que se vai.
Festa de Noel
Para festejos natalinos a Toca do Chopp promete como sempre grandes atrações. Das empadinhas com a receita de mamãe (massa biscuit, creme de queijo da Serra da Canastra e parmesão) à cachaça de rótulo próprio. Um luxo! E o velho e bem tirado, cremoso chope do Claude, que não é o mesmo do que o velho Claude atirado no creme... Brincadeiras fora, é um balcão de responsa. Coisas da Quituart, um solo a caminho da sagração, tantas as divinas comidinhas, os tragos no capricho, as personalidades marcantes a desfilar nas cozinhas e mesas. No Lago Norte, pista central.
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Bar e boteco
A chegada de dezembro encerrou duas grandes iniciativas: o Roda de Boteco e o Bar em Bar. Em tempos em que a autoridade, federal e local, desvia a atenção de suas obrigações maiores para legislar contra quem oferece alegria e bem-estar ao cidadão, iniciativas desse tipo serão sempre saudadas. Parabéns e voltem sempre com novidades. Governos não comem nem bebem. São entidades formadas por burocratas a quem o amor olvidou nos desvãos da vida. Os eleitos ainda se acham. Os sem votos têm raiva de quem ri. Juntos dedicam-se a saquear a alegria dos outros. No pasarán! Feliz Natal!
PÃO&VINHO
Jingle bubbles Mais um dezembro, mais um fim de ano. Hora de rever o que fizemos e planejar o que faremos no novo ano. O Brasil, convenhamos, não está de dar muito ânimo, mas seguimos em frente e, como preconizava Napoleão quanto ao champanhe: na vitória, a merecemos; na derrota, a necessitamos. Assim, para todos nós, tendo sido um ano melhor ou pior, demo-nos o direito de festejar o Natal e o Réveillon com muitas e boas bolhas. E, claro, começamos com os nossos, os espumantes brasileiros, certamente nosso orgulho vínico. Sempre tivemos espumantes no mínimo bons, alguns ótimos, mas só de uns anos para cá, felizmente, alguns observadores do óbvio vieram percebendo o quão propício nosso terroir é para as borbulhas, em especial no Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha. E de lá vêm aparecendo cada vez mais espumantes especiais, de qualidade realmente excepcional. Desta feita, me centrarei em dois que considero tão bons quanto os champanhes do dia a dia: o Adolfo Lona Orus Pas Dosé Rosé e o Máximo Boschi Brut Speciale. Não faz muito tempo, descobri os espumantes de Máximo Boschi, produtor do Vale dos Vinhedos que conseguiu produzir vinhos de altíssima qualidade. Seu top, esse Brut Speciale, é excelente. Nada menos que 36 meses de contato com as leveduras garantem uma complexidade e profundidade nos aromas e sabores raras de serem encontradas em produtos nacionais. De cor dourada com reflexos esverdeados, traz um perlage fino e persistente, como devem ser os melhores espumantes. Ao olfato, aromas de frutas maduras, especialmente abacaxi, vindos da Chardonnay. Em boca, confirma a fruta, mas bem acompanhada de um certo tostado, de alguma levedura de panificação. Longo e persistente, realmente acima da média. Por outro lado, Adolfo Lona já produz alguns dos melhores espumantes do Brasil há muito tempo, e é um
ALEXANDRE FRANCO pao&vinho@agenciaalo.com.br
especialista em seus “nature” ou “pas dosé”, ou seja, seus espumantes absolutamente secos (brut), sem qualquer adição de liquor de dosagem. Mas, de uns anos para cá, passou a produzir praticamente para consumo próprio (só vende para os clientes mais antigos e fiéis e para os amigos) umas poucas garrafas (cerca de 600 por safra) desse fantástico Orus Rosé. De um rosa alaranjado, é elaborado a partir de um corte de Chardonnay, Pinot Noir e Merlot, com maturação de 24 meses junto às leveduras. Muito complexo e elegante, de retrogosto longo, perlage fino e persistente, traz notas florais e um toque de maçã ao olfato, além da agradável panificação. Talvez o melhor espumante brasileiro já produzido. E não podia deixar de lhes trazer, por fim, o champanhe que descobri há pouco, de pequeno produtor e boa qualidade. Trata-se do Boizel. Sua versão mais básica, Brut Reserve, é boa, mas cresce muito sua presença na versão Brut Rosé e mais ainda na Brut Millésimé. A Brut Rosé é de uma linda cor salmão e apresenta ótima presença de perlage fino e persistente, com bom creme em boca e acidez gastronômica deliciosa, com aromas a frutas vermelhas e palato de boa estrutura (ainda ontem a utilizei para acompanhar uma feijoada e foi um sucesso). A Brut Milléssimé 2002 é “farinha de outro saco”. Seus oito anos de engarrafamento trazem a maturação necessária para florescerem a boa estrutura e textura desse ótimo vintage, realçando seu potencial aromático e palatal. Os aromas vão desde brioches e pêssegos até frutas secas natalinas e um toque de mel. O palato é fresco, com alguma mineralidade, e ao mesmo tempo morno, com bom mousse e final longo. Excelente. Feliz Natal e próspero Ano Novo, sempre com muitas borbulhas !
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DOIS ESPRESSOS E A CONTA
Os vilões da mesa A cada seis meses, jornais e/ou internet publicam uma pesquisa renovando o estoque de vilões da nossa mesa. Carne vermelha, ovo, café, chocolate – a lista dos itens malvistos na dieta diária só cresce. Seis meses depois, vem a revanche, com reportagens ou a descrição de experimentos científicos tentando provar exatamente o contrário: o vilão da temporada passada agora se traveste de herói. Neste período interminável de confraternizações no trabalho, na família e nas diversas turmas do nosso círculo social, os vilões chegam em bando. A mais inocente happy hour de fim de ano pode nos oferecer torresmo, salgadinhos fritos e mais álcool do que deveríamos ingerir em uma só noite. Mas será que esta é a época para ficar regulando comida e bebida? Será que estaremos vivos em dezembro de 2017 para continuar a maratona? Minha nutricionista provavelmente diria que o corpo não sabe se é dezembro ou abril. Minha professora de spinning argumentaria que o abdome cresce com comida e bebida em excesso – ou mal escolhidas – mesmo se eu pular Carnaval durante toda a noite da virada. Meu cardiologista sugeriria que eu procurasse manter as taxas em bons níveis para evitar problemas que podem durar todo o ano. Mas eles hão de convir que escapar dos vilões da mesa é muito mais fácil de janeiro a novembro. Durante a semana, grelhado + salada ou arroz integral/feijão/carne magra /salada sustentam o almoço. À noite, uma sopinha ou legumes cozidos no vapor vão bem. No fim de semana, vá lá, alguns pedaços de pizza ou um crepe de doce de leite, que ninguém é de ferro. Mas tudo com um olho no equilíbrio.
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CLÁUDIO FERREIRA claudioferreira_64@hotmail.com
Dezembro decididamente não combina com equilíbrio. Até quem não bebe frequentemente não escapa das “bicadinhas” no espumante ou naquele vinho especial que alguém quer que você prove. No ramo da comida, os amigos cozinheiros se esmeram em experimentar novas receitas e não é você que vai ser o estraga-prazeres do jantar em pequeno grupo. Sempre tem alguém para falar: “Ah, mas amanhã você corre no parque e perde tudo isso”. O problema é que nem sempre dá para correr no parque no dia seguinte, e o superávit adiposo só vai se acumulando. O mau exemplo vem de casa. As ceias das vésperas de Natal e Ano Novo – e os almoços dos dois dias seguintes, consequentemente – também entram na disputa das categorias “luxo” e “originalidade”, lembrando os antigos desfiles de fantasias de Carnaval. Você prova o que nunca comeu antes, acha que nunca mais vai comer aquilo e exagera. Se estiver viajando, então, as novidades gastronômicas aparecem como passes de mágica. E ninguém te apresenta uma nova forma de fazer abobrinha para comer no Reveillón – os concorrentes são quase sempre do reino animal. Para agradar a criançada, 90% das sobremesas têm chocolate. São receitas maravilhosas, com um aspecto visual surpreendente e um gosto igualmente exótico. E no dia seguinte, depois de horas na geladeira, estão ainda melhores. A solução? Influenciar a lista dos vilões da mesa. Depois das festas, mandar uma cartinha para o responsável – seja lá quem for – pedindo que, em seis meses, a carne de porco seja colocada num pedestal e os benefícios do espumante sejam louvados. Trato feito!
HAPPY HOUR
Cerveja cara
RONALDO MORADO www.ronaldomorado.com.br ronaldomorado.blogspot.com.br @ronaldomorado
Não deixem faltar cerveja boa e barata a meu povo e evitaremos revoluções. Rainha Vitória (Reino Unido, 1819-1901)
Ultimamente temos falado e ouvido falar do boom das cervejas especiais no Brasil, mas o assunto tem vindo acompanhado da questão preço. E muitas pessoas me questionam a esse respeito e me solicitam que aborde o tema. Em primeiro lugar, vamos analisar alguns fatores que influenciam o custo do produto. Das matérias primas envolvidas, apenas o lúpulo é importado. Mas o malte de cevada, mesmo o de produção nacional, acompanha a cotação internacional. Ou seja, a variação do câmbio afeta o custo direto da cerveja. Os outros custos industriais, assim como os custos indiretos, são rateados pelo volume total da cerveja produzida. Quer dizer, quanto maior o volume de produção, menor é o custo agregado a cada litro. Em outras palavras, se produzo pouco volume o custo que recai sobre cada litro é maior. Só essa questão (de custos) já explica porque uma cerveja produzida por pequena cervejaria é mais cara do que outra produzida por grande cervejaria. A segunda parte da explicação tem a ver com ingredientes. As receitas das chamadas cervejas “especiais” (em geral as que não são Pilsen) contêm outros ingredientes, além de malte e lúpulo, como temperos, frutas, chocolate etc, aumentando o custo unitário ainda mais. E, finalmente, temos a crueldade tributária brasileira.
Por um critério polêmico, a tributação sobre bebidas no Brasil parte do principio de que toda a cadeia produtiva, distributiva, comercializadora e consumidora de bebidas é sonegadora. Sendo assim, o fabricante deve recolher os impostos de toda essa complexa rede de empresas. Ou seja, os impostos pagos pela cervejaria são calculados sobre o valor de venda da bebida no último ponto da corrente: o consumidor. Desse raciocínio perverso resulta que cerca de 70% do preço de venda da cerveja na porta da fábrica são impostos, recolhidos na fonte. Dessa forma, a cerveja “especial”, que é o nicho de mercado dos pequenos fabricantes, chega ao consumidor com um valor três vezes maior do que poderia chegar. E aproveito para esclarecer: o parâmetro não é a qualidade, já que todos os fabricantes, pequenos ou grandes, cuidam da qualidade de seus produtos, indiscutivelmente. As diferenças são como presunto comum x Parma; uísque comum x uísque 12 anos; espumante comum x Veuve Clicquot etc. Como, em última instância, o que se apresenta ao consumidor é a experiência sensorial, ficam postas as questões fundamentais: o beneficio/custo compensa? O valor agregado em uma cerveja “especial” vale a pena o preço adicional? Estou disposto a pagá-lo? Espero ter ajudado na compreensão das diferenças “especiais”. Saúde.
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DIA&NOITE Mônica Lima
osguerreirosvêmaí Réplicas das armaduras do Rei Arthur e de Alexandre, o Grande, uma espada medieval do Século XIV, machados de ferro dos vikings, uma ponta de lança romana, armaduras dos samurais, uma réplica de um escudo persa e muito mais. Todo esse arsenal de mais de 150 peças poderá ser visto por quem for à mostra inédita Guerreiros – Os maiores da história, que estará em cartaz entre 10 de janeiro e 7 de fevereiro no ParkShopping. Será um mergulho ao tempo dos cavaleiros medievais, dos samurais e de grandes guerreiros de todos os tempos, com a exibição de originais e réplicas de espadas, armaduras, escudos, roupas, capacetes e peças arqueológicas. “Já é tradição trazermos grandes exposições nas férias de verão e esta, com certeza, irá encantar a família brasiliense”, destaca a gerente de marketing do ParkShopping, Natália Vaz. A mostra será diividida em áreas classificadas segundo antigas civilizações: gregos, medievais, persas, egípcios, romanos, samurais e vikings. Os objetos mais antigos são moedas romanas datadas dos anos 1600 a 1700 a.C, os machados vikings que datam de 800-1000 d.C. e as katanas (espadas típicas usadas pelos samurais) pertencentes ao período Edo (1600-1800).
Chapman Baehler
magic!
vocapeople
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Há muito, mas muito tempo atrás, surgia o Voca, um planeta habitado por alienígenas inteligentes e misteriosos. Eles cruzaram o universo numa nave e descobriram novos mundos e populações. Numa dessas jornadas, entretanto, precisaram fazer um pouso forçado num lugar nunca antes visto: o planeta Terra. A simpática trupe desses oito “alienígenas” estará aterrissando em Brasília no dia 17 de dezembro, às 21h, para espetáculo único no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Conhecidos por se comunicarem apenas com a voz, sem a ajuda de instrumentos, eles produzem todos os sons ao vivo. O show inclui 80 sucessos de todos os tempos, do clássico ao rock e hip hop. Além de musical, a performance é cômica e teatral, com interação com a plateia. Ingressos entre R$ 25 e R$ 80, à venda em www.vocapeoplebrasil.com.br e www.ingresso.com.
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João Paulo Rodrigues
A banda canadense estará em Brasília, no dia 26 de janeiro, para show no Net Live, a partir das 21h. Além da cidade, a turnê inclui sete shows no Brasil: em São Paulo, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife , Curitiba e Florianópolis. É a terceira vinda ao país do Magic!, que já tocou no Mix Festival em 2014, no Rock in Rio e em Porto Alegre, em setembro deste ano. A banda tem o reggae na raiz, mas adotou como estilo uma mistura dos ritmos caribenho e jamaicano. Formada em 2013, tem como integrantes o guitarrista e líder Nasri Atweh, os baixistas Mark Pellizzer e Ben Spivak e o baterista Alex Tanas. O quarteto gravou num estúdio em Los Angeles seu álbum de estreia, Don’t kill the magic, com a música Rude, no mesmo ano. Ingressos entre R$ 80 e R$ 500, já à venda na Central de Ingressos no Brasília Shopping. Mais informações: 3306.2030.
nataldançante Para quem quiser se jogar na pista de dança depois da ceia, uma boa pedida é a festa Especial de Natal, promovida pelas produtoras Makossa, Melanina e Criolina. O evento será realizado em 24 de dezembro, quinta-feira, a partir das 23h55, na Ascade (Setor de Clube Sul, Trecho 2). Na programação, black music em variadas vertentes (do hip hop ao trap). A Pista Makossa e Melanina vai reunir os DJs Chicco Aquino, A, Chokolaty, Janna e Hugo Drop. Os DJs Pezão, Ops, Nagô e Wash estão escalados para a Pista Criolina. A discotecagem na Pista Final Feliz, com indie rock e eletrônica, ficará por conta de Spot + Vitão, Coletivo Índios, Coletivo Perde a Linha e C4JU4N4. Mais informações em influenzaproducoes.com.br.
Vassiliev
medeiamoderna A atriz Dudu Bartholo é Bárbara, personagem central da história Raízes bárbaras, uma livre adaptação do clássico Medeia, do dramaturgo grego Eurípedes (480/406 a.C), em espetáculo que estará no teatro da Caixa Cultural entre 18 e 20 de dezembro. Após momentos de felicidade conjugal e familiar, a protagonista se vê devastada quando seu marido decide se casar com outra mulher. Com direção de Rosina Chaves, a montagem é dedicada às corajosas mulheres que se separaram de seus maridos na década de 1980, buscando suas identidades, à revelia dos costumes de época. O espetáculo põe foco na questão da violência de pais e mães contra as crianças, utilizando linguagem contemporânea, poucos objetos de cena e música forte dirigida pela cantora Wilzy Carioca. A iluminação de Moisez Vasconcellos e o coro formado por Hélio Miranda, Pedro Miranda, Tainá Baldez e Victor Abrão dão alma à produção dirigida por Gê Martú. Ingressos a R$ 20 e R$ 10. Mais informações: 3206.9448.
teatroderua Davi Mello
melhoresmomentos
Camelôs, benzedores, emboladores, rezadeiras e feirantes serviram de inspiração para o espetáculo Camelô: o encantador de ser gente, que estará em cartaz nos dias 19 e 20 de dezembro, às 9 e às 13h, nas feiras permanentes de Ceilândia e Samambaia. Contemplado com o Prêmio Funarte Artes na Rua 2014, o projeto nasceu como laboratório cênico a partir do trabalho de Thiago Francisco, do grupo Mamulengo Fuzuê, que teve como propósito criar um laboratório cênico. Ele se uniu ao bonequeiro Chico Simões (Mamulengo Presepada), ao mímico Abder Paz e ao palhaço e diretor teatral Zé Regino para criar espetáculos itinerantes, com elementos cênicos simples, diretamente ligados ao ambiente de feiras e praças. Entrada franca. Informações: 3352.5054.
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Será no dia 16 de dezembro, às 20h, o último Jogo de Cena de 2015. No palco da Caixa Cultural, os apresentadores Welder e Pipo pretendem celebrar o sucesso do projeto com os quadros que mais arrancaram risadas da plateia, assim como aqueles que a emocionaram em cada edição mensal. Entre as atrações programadas estão um show do músico e compositor Vavá Afiouni, outro dos Jetsambas, um trecho do musical Across the Universe, com direção de Élia Cavalcante, e um trecho do espetáculo de improviso E agora?, do mestre de cerimônia Edson Duavy. Na edição de dezembro também estarão a Trupe de Argonautas, com sua performance Paradoxo Zumbi, sob direção de Cyntia Carla Cunha, e o grupo Embaraça, que apresenta um trecho do espetáculo Pentes. A Tribo Cia. de Dança reapresenta a coreografia Move on, dirigida por Wesley Messias. O projeto Jogo de Cena, que completou 30 anos em 2015, tem direção de James Fensterseifer. Ingressos a R$ 20 e R$ 10. Bilheteria: 3206.6456.
Adla Marques
dança O Coletivo de Estudos em Dança, Educação Somática e Improvisação se apresenta dia 18 de dezembro, às 19h, no Teatro Brasil 21 com três novos espetáculos do grupo: Anatomia poética e Pequeno tratado de violências cotidianas, baseados na pesquisa do grupo, e Animater, uma montagem de repertório com foco em uma das obras do grupo Endança, que, de 1980 a 1996, viajou pelo mundo apresentando suas criações, resgatadas agora pelos dançarinos do coletivo sob direção de Diego Pizarro. O elenco é composto por Lisiane Queiroz, Rafael Alves, Thais Cordeiro e Victória Oliveira. Entrada franca. Mais informações: 8117.2358.
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DIA&NOITE revelandoavida
domus
menosdeumminuto
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A Legião da Boa Vontade está recebendo neste fim de ano doações para a Campanha de Natal Permanente da LBV — Jesus, o Pão Nosso de cada dia!, que pretende arrecadar mais de 900 toneladas de alimentos a 50 mil famílias atendidas pela instituição e por organizações parceiras em todo o Brasil. Cada cesta é composta de arroz, feijão, óleo, açúcar, leite em pó, macarrão, farinha de mandioca e de trigo, fubá, goiabada, gelatina, massa para bolo, extrato de tomate e sal. Dezenas de artistas estão apoiando a campanha, numa grande corrente, por meio do Desafio Solidário. As doações para a campanha podem ser feitas até 23 de dezembro em www.lbv.org/doe, pelo telefone 0800 055 50 99 ou em uma das unidades de atendimento da instituição no Brasil.
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desafiosolidário
A área externa do Museu da República recebe, até 11 de janeiro, a exposição Domus – moradas visuais, que tem como tema a defesa dos direitos humanos sob uma perspectiva poética. “A relevância do trabalho se deve ao envolvimento dos artistas com temas de forte dramaticidade humana que trazem para o âmbito poético uma espécie de redenção da dor, papel da arte”, explica um dos coordenadores do projeto, Daniel Mira. Trata-se da segunda criação do Projeto DPU Cultural, cujo desafio é transpor para a linguagem artística as realizações da Defensoria Pública da União nas áreas de migrações e refúgio, sistema prisional, catadores de lixo, comunidades indígenas e quilombolas. Os ensaios fotográficos foram desenvolvidos por estudantes dos cursos de fotografia, design e publicidade do IESB. A outra coordenadora, Bernadina Leal, reforça que não basta denunciar a violação de direitos. “É preciso transcender o fato com a sensibilidade e o vigor da arte para, assim, impulsionar a ação”.
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Imagens fotografadas por jovens soropositivos são tema da mostra que tem como bandeira a discriminação zero. O projeto Positivo na Lata promoveu oficinas de fotografia analógica por meio de latas de alumínio e as melhores fotos foram selecionadas para compor a mostra em cartaz no Museu da República até 31 de dezembro. Pesquisa realizada pelo Jovem de Expressão, programa social da Caixa Seguradora, revela que um em cada cinco jovens brasileiros de 18 a 29 anos acreditam que é possível contrair HIV/Aids se usar os mesmos talheres ou copos de outras pessoas. Dos entrevistados, 15% pensam que doenças como malária, dengue, hanseníase ou tuberculose são doenças sexualmente transmissíveis. “Os dados são alarmantes. Por isso, projetos como o Jovem de Expressão e o Positivo na Lata podem fazer a diferença na vida e na educação sexual dos jovens brasileiros“, afirma a coordenadora do projeto, Alice Scartezini. “Apoiamos, além da informação correta levada a esse público, a ideia de que não deve haver discriminação“. Mais informações: 3366.3522.
O 3º Festival Brasileiro de Nanometragem vai dar R$ 6.000,00 em prêmios para os autores dos melhores filmes de até 45 segundos. Idealizado pela Associação Incubadora de Artistas de forma independente, sem apoio ou recurso público, pretende incentivar a produção audiovisual de realizadores de todo o Brasil. Os filmes inscritos concorrem a prêmios em dinheiro que vão de R$ 500 a R$ 2.500. Todos os selecionados serão exibidos para um grande público no Centerplex da cidade de Atibaia, interior de São Paulo, no dia 30 de janeiro, e passam a fazer parte de um catálogo eletrônico. Alguns ainda serão projetados em mostras especiais dos festivais parceiros de Contis, na França, e Porto 7, em Portugal, para centenas de espectadores. Inscrições podem ser feitas gratuitamente em http://www.festivaldenanometragem.com.br/. Mais informações: (011) 2427.5345.
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pratadochoro Mais de 80 grupos de alunos e solistas formados pela Escola de Choro Raphael Rabello se apresentam no palco do Clube do Choro, entre 14 e 18 de dezembro, sempre a partir das 20h. No último dia será realizado o 1º Festival da Escola de Choro Raphael Rabello, que escolherá os grupos e instrumentistas de destaque com premiações que impulsionem não só seus estudos como também suas carreiras musicais.Com mais de mil músicos matriculados em seus cursos de bandolim, cavaquinho, pandeiro, violão de seis e sete cordas, flauta, saxofone, violino, percussão, gaita, acordeon, viola caipira e musicalização infantil, a escola, fundada em 1998, é a primeira do gênero no país. Ingressos a R$ 20 e R$ 10, ou dois quilos de alimentos não perecíveis. Durante as apresentações não haverá lugar marcado. Informações: 3224.0599.
O Fantástico Piano Gigante e o Jardim Sinfônico do Papai Noel são duas das atrações que a Caixa Cultural apresenta especialmente para as crianças brasilienses até 6 de janeiro. A aventura começa na Lagoa de Partituras, com as brincadeiras de arvorismo e piscina de bolinhas. Em seguida, as crianças passam pela Alameda dos Tambores, para se divertir nas camas elásticas, e seguem para o Bosque dos Gigantes Sopradores, com escorregadores. Os Duendes Músicos do Papai Noel irão guiar as crianças pelas atividades interativas e desbravar o cenário, composto por instrumentos musicais e plantas. Antes de chegar à sala para se encontrar com Papai Noel, os pequenos podem participar de uma orquestra de xilofones. A iluminação do edifício apresenta um balé de luzes acompanhado pela música composta pelo maestro Flávio Fonseca. Crianças e adultos poder tocar um piano gigante com os pés e simultaneamente, a cada nota, as cores mudarão. De segunda a sexta, das 16 às 22h; sábado e domingo, das 10 às 22h (com intervalo das 13 às 14h). Nos dias 24 e 31 o espaço funcionará das 10 às 18h.A fila será interrompida até uma hora antes para que seja possível a conclusão da visita até as 22h. Classificação indicativa: livre. Recomendado para crianças até 12 anos, acompanhadas dos pais ou responsáveis. Entrada franca.
O artista plástico Milton César Pontes realiza exposição dentro de um espaço nada habitual: o banheiro da cafeteria Los Baristas Casa de Cafés (404 Norte). Ele acredita que, ao fechar a porta desse lugar, as pessoas se livram, por alguns instantes, da “paranoia urbana, da loucura metropolitana, do trabalho, da vida em família e mesmo da própria solidão”. A mostra, que fica em cartaz até 29 de fevereiro, apresenta desenhos realizados também no espaço de um banheiro. “Ao retratar o corpo nu não busco uma forma de ampliar ou mesmo de mudar repertórios, e sim registrar o movimento, as formas e os sentimentos humanos”, explica o autor. Paulista de Apiaí, Milton se formou em Artes Cênicas pela Faculdade de Artes Dulcina de Moraes e estudou artes visuais com João Angeline, Eli Braga e Luciana Paiva. A mostra Olívia pode ser vista de segunda a sexta, das 12 às 21h, e sábado, das 10 às 18h. Informações: 3033.6183. Entrada franca.
amorcomodireito Até 18 de dezembro estão abertas as inscrições para autores de curtas-metragens de até 40 minutos para o festival de curtas-metragens com temática LGBT, BFI Flare. Promovido pelo British Council, organização internacional sem fins lucrativo do Reino Unido para relações culturais e oportunidades educacionais, o festival vai selecionar cinco produções para serem exibidas online e gratuitamente para todo o mundo, um convite à reflexão sobre o amor como um direito humano. Na edição de 2015, milhões de pessoas participaram da campanha nas redes sociais, usando a hashtag #fiveFilms4freedom. O roteirista e produtor brasileiro Pablo Brandão teve seu curta-metragem, Chance, exibido no fiveFilms4freedom no ano passado. Inscrições e regulamento em http://www.britishcouncil.org.br/
pipocandononatal Vem aí uma edição extra do sarau itinerante que ao longo do ano ocupou os jardins do CCBB com distribuição de pipocas em troca de versos. Dia 20 de dezembro, às 16h30, a idealizadora do projeto, Manuela Castelo Branco, comandará o sarau junto com sua trupe de artistas locais. Participam o diretor e ator Marcelo Nenevê, um dos primeiros pipoqueiros-poetas a participar do projeto, Maria Garcia, atriz e especialista em poesia infantil, e Laura Moreira, poeta e professora universitária conhecida por declamar poemas longos e elaborados. Realizado com sucesso desde 2008, o Pipocando poesia recebeu ao longo do ano poetas renomados como Fabrício Carpinejar, Vinicius Borba, Noélia Ribeiro e Luis Turiba. Entrada franca.
Thiago Sabino
artenobanheiro
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jardimsinfônico
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GALERIADEARTE
Um museu para Congonhas Patrimônio cultural da humanidade terá reforço importante na cidade mineira que abriga obras de Aleijadinho POR MARIA TERESA FERNANDES
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ma das queixas mais recorrentes de turistas que passam pela cidade mineira de Congonhas do Campo, onde se localizam o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos e suas célebres obras de Aleijadinho, refere-se à falta de informações sobre aquele riquíssimo conjunto arquitetônico e religioso a céu aberto. A partir do dia 15 de dezembro, essa queixa vai ficar no passado, com a inauguração do Museu de Congonhas, instalado em prédio de 3.452,30m² construído ao lado do santuário. Com projeto do arquiteto Gustavo Penna e resultado de esforço conjunto entre a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Prefeitura de Congonhas, o museu será entregue à população exatamente 30 anos depois de o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos ter recebido o título de Patrimônio Cultural Mundial. De acordo com Patrícia Reis, coordenadora de cultura da Unesco Brasil, a ideia da construção do museu surgiu justamente a partir da constatação de que o turista passa por Congonhas do Campo e mal consegue entender a riqueza de seu patrimônio cultural. “Agora, o museu vai oferecer toda estrutura de apoio turístico, mas, sobretudo, facilitará a compreensão daquele sítio cultural, qualificando a visita nos seus múltiplos aspectos: entendimento de tudo aquilo como obra de arte
e como um espaço de devoção permanente”, explica. “Quem se interessa por arte terá, com o museu, compreensão do fenômeno religioso. E quem chegou à cidade por motivo religioso vai poder perceber o patrimônio artístico”, acrescenta. A exposição permanente que inaugura o Museu de Congonhas tem curadoria dos museólogos Letícia Julião e Rene Lommez e projeto expográfico assinado pelo designer espanhol Luis Sardá. O acervo é composto por 342 peças de santos de casa com exemplares desde o início do Século XIX e ex-votos (peças feitas como pagamento de promessas). Essas últimas dialogam com a sala de milagres, parte integrante do santuário. Além do museu, o espaço abrigará biblioteca com acervo composto por livros
lismo. Foram realizados registros por dois métodos: digitalização em 3D dos 12 profetas e cópias físicas de dois profetas com moldes de silicone. Por ser esse último um processo lento e caro, o museu abrigará por enquanto réplicas em gesso de dois deles: Daniel e Joel. As demais – de Isaías, Jeremías, Baruc, Ezequiel, Oseias, Amós, Abdias, Habacuc, Jonas e Naum – serão produzidas futuramente. A presidente do Iphan, Jurema Machado, explica que por mais de uma década o governo fez investimentos contínuos que tiveram início com o Programa Monumenta, um trabalho que evoluiu até chegar aos moldes atuais do PAC Cidades Históricas e que proporciona ao país espaços culturais de qualidade. A ideia de melhorar os patrimônios culturais é reforçada por Patrícia Reis, que destaca o fato de o Brasil ser detentor de 19 patrimônios mundiais reconhecidos pela Unesco, sendo que 12 são culturais, sete naturais, além dos cinco bens imateriais da cultura brasileira.
Fotos: ©UNESCO-Ana Lúcia Guimarães
doados por Fábio França sobre o barroco, a história de Aleijadinho e muitos outros temas relacionados. Há ainda um auditório de 110 lugares que vai sediar seminários sobre a conservação daquele sítio cultural e apresentações de músicos de Congonhas, cidade com tradição em corais barrocos e música sacra. O visitante que percorrer as alas do novo museu poderá conhecer a história da devoção naquela cidade e saber quem é o Bom Jesus de Matosinhos, herança religiosa que veio de Portugal, mais precisamente com o português Feliciano Mendes, que iniciou a construção do santuário em 1757, em agradecimento pela cura de uma doença grave. A visita ao museu vai permitir ao turista conhecer a história da conservação desse patrimônio formado pela Igreja do Bom Jesus, o adro com as estátuas dos 12 profetas de Aleijadinho confeccionadas em pedra sabão, os passos e capelas com suas sete estações e o conjunto de esculturas representando a Paixão de Cristo. Segundo Patrícia Reis, a Prefeitura de Congonhas, em parceria com a Unesco, fez uma experiência de ação preventiva contra o desgaste das estátuas de pedra sabão por fungos e bactérias e marcas de vanda-
Museu de Congonhas
Aberto ao público a partir de 4/1. Terças, das 9 às 17h; quartas, das 13h às 21h; de quinta a domingo, das 9 às 17h. Ingressos: R$ 10. Mais informações: (31) 3731.3056.
Réplica em gesso do profeta Joel, de Aleijadinho.
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GALERIADEARTE
Realismo fantástico POR ALESSANDRA BRAZ
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arte serve para nos impactar, nos fazer pensar e refletir sobre as coisas e sobre o mundo. No caso da artista plástica Patricia Piccinini, nascida em Serra Leoa, mas naturalizada australiana, serve também para nos fazer pensar no que estamos construindo para o futuro da humanidade. Em cartaz no CCBB de São Paulo até 4 de janeiro, a exposição ComCiência, que reúne 40 de suas mais intrigantes obras, já tem em seu nome a explicação. “Ao lidar com a ciência e a consciência, ela está nos mostrando como essas coisas podem ganhar forma. Como as coisas estão mudando. Estamos falando disso num momento em que, aqui no Brasil, vemos se multiplicar os casos de microcefalia. Ela teve a coragem de abordar esse assunto de uma forma popular e com muita qualidade artística”, explica o curador da mostra, Marcello Dantas. Patricia questiona em sua obra como a ciência pode mexer com nossas vidas. Ela traz à vida seres que não existem, mas
que representam muito bem essa busca da ciência por melhoramentos genéticos. Nós já convivemos com muitos desses produtos, que, de tão presentes em nosso cotidiano, muitas vezes passam despercebidos, como os alimentos transgênicos. Na busca pela perfeição, até onde a ciência pode ir? Daí nascem os seres fantásticos de Patricia. Os híbridos humanos com animais ou mesmo objetos. Numa das salas mais impactantes, a obra Flor bota (2015) retrata a transmutação de uma flor, que se funde a uma bota e se reproduz sozinha. Patrícia expõe ali a fragilidade da flor com a assertividade poderosa da bota no universo feminino. O estranhamento inicial vem do processo utilizado pela artista, que usa silicone, fibra de vidro e cabelo humano em grande parte de suas esculturas, o que nos aproxima e ao mesmo tempo nos repele dos seres criados por seu imaginário. Ela lança mão do hiper-
realismo, como o conterrâneo Ron Mueck, que provocou filas de até duas horas de espera quando expôs, em fevereiro deste ano, na Pinacoteca de São Paulo. No CCBB, a situação é diferente. Quem utiliza o sistema de agendamento pelo site Ingresso Rápido não demora nem dez minutos para entrar e poder visitar toda a exposição. Só enfrenta fila quem chega sem o ingresso, o que acontece com mais frequência nos fins de semana. No terceiro andar, o visitante tem acesso às obras mais simpáticas de Patricia. Estão lá os seres que se misturam
a ideia de inocular nas máquinas um sistema operacional que crie a possibilidade de uma motocicleta se apaixonar. Hoje em dia parece absurdo, mas quem sabe daqui a dez anos? Há dez anos, tudo o que a Patricia estava propondo hoje parecia impossível. Ela é uma pioneira”, diz Dantas, referindo-se à obra Os amantes (2011), em que duas motos estão enamoradas. De São Paulo a exposição virá para Brasília, onde, a partir de 14 de janeiro, poderão ser vistos também vídeos e instalações criados pela artista. Uma delas, a que mais está chamando a atenção dos visitantes, é O tão esperado (2008), em que um menino põe no colo uma criatura com traços idosos, numa mistura de sereia e humano. “Essa é a obra ícone da exposição. Aquele ser tem uma humanidade no rosto. Ele mostra um parentesco com o menino. O normal seria imaginar que o velho é o ancestral do novo, mas se não
Fotos: Divulgação
com animais e que são, em sua maioria, retratados ao lado de crianças. Aqui, uma questão nos é proposta: “Quando aprendemos a estranhar o diferente e rejeitar outros seres?” A figura da criança é importante para nos trazer esse olhar virginal. Na sala, a obra que sintetiza bem isso é O visitante bem-vindo (2011), em que uma menininha encontra-se com um ser híbrido de homem e animal e seus olhos refletem um enorme encantamento pela figura de olhar bondoso. No pé da cama, um pavão exibe toda sua beleza, num contraponto do que é o belo. No subsolo do espaço cultural estão obras que brincam com a possibilidade das máquinas apresentarem sentimentos humanos. “Se o DNA é um código e um software também, e se hoje temos essa ideia de que o fogão conversa com a geladeira, que conversa com a casa e temos tudo interligado, nós podemos brincar com
existe nenhum ser daquele jeito, podemos então ir além e imaginar que, na verdade, o menino é que é o ancestral da criatura. Porque, ao que eu saiba, sereias não existem! Ela brinca com a especulação do que pode vir no futuro”, finaliza Dantas. ComCiência
Até 4/1 no CCBB São Paulo (Rua Álvares Penteado, 112, Centro). De 4ª a 2ª feira, das 9 às 21h, com entrada franca. Informações: (11) 3113.3651 e ccbbsp@bb.com.br.
Marcadores de tempo Divulgação
POR LÚCIA LEÃO
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tempo passa... O comentário constatação é inevitável nesta época do ano. E já faz 30 anos que o Cometa Halley e toda a mítica que ele carrega em sua cauda brilhante visitaram pela última vez nosso sistema solar. O acontecimento, que fez todo mundo literalmente olhar para o céu naquele ano de 1986, foi tema do primeiro calendário lunar da artista plástica Mangala Bloch. Desde então, ela produz anualmente as peças que se tornaram como que uma marca da passagem do tempo, com arte, em Brasília. Difícil encontrar um brasiliense que ao longo dos últimos 30 anos não tenha ostentado na parede ou consultado pelo menos uma vez os “marcadores de tempo” de Mangala Bloch. Sempre com o mesmo padrão gráfico, depois do Halley eles já estamparam as estações do ano desse nosso Paralelo 15, os animais do horóscopo chinês e, desde 2006, animais do Cerrado, que compõem a coleção Brasilianas. Já contaram o nosso tempo o calango, o cágado, o tatu, o sapo, a coruja, o sagui, a capivara, a borboleta, o peixe, a saracura e a onça pintada. O ano de 2016 é do lobo guará. Mas, para além do design e dos belos desenhos
que ilustram as peças, a “estrela” dos calendários, segundo a artista, é um satélite: a lua. “Muitos povos e culturas usavam a lua como referência para a contagem do tempo, para estabelecer seus calendários. Um ano marca cada rotação da terra em torno do sol, cada lua dura aproximadamente um mês. Nos calendários que se baseavam nos ciclos lunares os anos tinham 13 luas” – assim a artista explica porque optou por valorizar tanto o satélite nos seus marcadores de tempo. Mangala acredita que, associando cada dia à fase da lua, a marcação do tempo ganha uma dimensão cósmica: “Na
relação humanidade/tempo, cada vez nos distanciamos mais dos ciclos naturais e cósmicos, deixando de perceber nossa própria natureza. A presença marcante das fases da lua nos calendários que produzo tem a ver com a necessidade dessa reconexão”. Os calendários estão à venda no Sebinho (406 Norte, telefone 3447.4444) e nas livrarias Cultura do CasaPark (3410.4033) e do Iguatemi (2109.2700), ao preço de R$ 14. Para quantidades maiores, inclusive personalizadas, os interessados podem entrar em contato com a artista pelo e-mail mangalabloch@gmail.com.
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GALERIADEARTE
De colecionador a galerista POR PEDRO BRANDT
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bras de Francisco Brennand, Burle Marx, Darel Valença, Hans Grudzinski, J. Borges, Lívio Abramo, Antônio Poteiro e Gilvan Samico, entre outros, estão expostas em um novo espaço para as artes em Brasília. Mas, a depender do dia da visita, o interessado corre o risco de não conseguir conferir essa ou aquela peça: alguém pode ter passado por lá antes e adquirido uma delas. Afinal, além de ser um local para apreciação e exposição, a Oto Reifschneider Galeria de Arte, como o nome sugere, é um local de venda de obras de artes. “A proposta da galeria é apresentar exposições temáticas e individuais, inéditas, ajudar na formação do olhar. Quero aliar meu interesse em pesquisa, meus estudos, e explorar temas que permitam pensar a arte”, explica o proprietário, o pesquisador e colecionador Oto Reifschneider, 36 anos. Localizada na 302 Norte, a galeria foi inaugurada em 26 de novembro com a exposição Religio. São esculturas, gravuras, desenhos e tapeçarias de cunho religioso – cristão, muçulmano, budista, afro – com releituras, críticas e devocionais. Somam-se às criações dos artistas brasileiros
trabalhos do sírio Zahed Taj-Eddin e do egípcio Mohamed Abou El-Naga. Oto é um entusiasta da arte produzida no Brasil ao longo do Século XX. “Se tiver que escolher apenas um artista, diria que meu favorito é Darel Valença Lins. Mas adoro Grassmann, Mavignier, Brennand, Piza e tantos outros”. Das novas gerações, ele destaca Luís Matuto na gravura e Alexandre Camanho na ilustração. Justamente por esse apreço pela arte brasileira, o galerista pretende promover nas exposições o resgate histórico de grandes artistas já esquecidos. Presentes em Religio, por exemplo, estão duas gravuras em metal de Carlos Oswald (1888-1971), pioneiro dessa técnica no país. Especialista em obras raras e colecionismo – tema de sua tese de doutorado em Ciência da Informação – Oto começou suas primeiras coleções ainda na infância. “Foram selos, moedas, livros e, finalmente, artes plásticas”, conta. Antes de abrir a galeria, ele realizou dois projetos relacionados à preservação e divulgação da produção artística no Distrito Federal, a exposição Milan Dusek: obra gravada, com gravuras do artista tcheco radicado em Brasília, e Index DF, catálogo digital (disponível na internet) que compi-
Fotos divulgação
Novo espaço para as artes plásticas em Brasília estreia com exposição de temática religiosa
Nem de longe santo, de Luis Matuto (xilogravura).
la profissionais envolvidos nas diversas áreas da produção de livros (do fabricante de papel ao restaurador), além de ter sido curador de exposições de gravura brasileira em Brasília (Museu Nacional da República) e em Doha, no Qatar. Sobre a temática das próximas exposições, Oto faz mistério. “Serão temas universais na arte, além de exposições individuais”, é tudo o que adianta. Galeria Oto Reifschneider
302 Norte – Bloco E – Loja 41 (8168.4293). De 2ª a 6ª feira, das 17 às 21h; sábado, das 14 às 20h. É possível agendar visitas por telefone.
Fotos: Divulgação
Lelo
Glênio Bianchetti
Lêda Watson
12 ateliês que formam uma cidade POR VICTOR CRUZEIRO
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nde está a história de uma cidade? Nos seus prédios, suas pessoas, seus jardins? Essa não é – definitivamente! – uma pergunta fácil de se responder e, quando se trata de uma cidade recente e moderna como Brasília, a dificuldade se acentua ainda mais. Numa cidade fundada num sonho, sustentada sob linhas leves no chão duro do Cerrado, onde está sua história? É possível que Lêda Watson e Newton Scheufler tenham chegado a uma boa resposta: na sua arte. A exposição Brasília – 12 ateliês, em cartaz na Caixa Cultural até 17 de janeiro, faz parte das comemorações dos 55 anos da capital federal e une 12 artistas que escolheram Brasília como seu ateliê: Betty Bettiol, Darlan Rosa, Glênio Bianchetti, Lêda Watson, Lelo, Luiz Costa, Marlene Godoy, Milan Dusek, Milton Ribeiro, Omar Franco, Ricardo Stumm e Toninho de Souza. É curioso notar que nenhum dos artistas é originário de Brasília, que apenas agora estabelece suas primeiras gerações de artistas da gema. A própria Lêda Wat-
son, curadora e expositora, é carioca, radicada em Brasília nos anos 70. Seu esforço na mostra é registrar os passos daqueles que fizeram e fazem parte da trilha artística da cidade. Brasília – 12 ateliês é uma revisitação desse caminho trilhado por artistas de várias técnicas, vindos de diversos lugares, e que ainda não acabou. São artistas que mantêm, além do fervor criativo, a porta aberta para as novas gerações. “Por mais de 30 anos tive a oportunidade de transmitir meus conhecimentos das técnicas de gravura em metal, que aprendi na França. Consegui, em todos esses anos, receber mais de 400 alunos em meu ateliê”, conta Lêda Watson. Essa transmissão ininterrupta serve não somente para a formação de artistas, mas para a consolidação de um meio de arte na cidade. A curadora lembra que o mercado de arte era incipiente no início. “Novas galerias e associações eram criadas, dando aos novos artistas a oportunidade de expor seus trabalhos. Além disso, muito contribuiu a seriedade e a dedicação de pessoas que dirigiam espaços excelentes de exposição”.
A mostra também presta homenagens a dois dos seus 12 artistas que já se foram. Milton Ribeiro, falecido em 2013, e Glênio Bianchetti, falecido em 2014, foram duas figuras eméritas para a arte brasiliense. Ribeiro fez parte do grupo de professores que lutou contra a militarização da UnB, nos anos 60, ao lado de Vladimir Carvalho e José Carlos Coutinho. Já Bianchetti foi um dos fundadores do Museu de Arte de Brasília e da própria Universidade de Brasília, juntamente com Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira. A mostra é, então, não somente um apanhado de 12 artistas diferentes que produziram em Brasília numa determinada época. Antes de tudo, é um mapa do território artístico – feito a várias mãos, com várias técnicas – na capital do país. “Não podemos esquecer que tudo que hoje se cria e se produz é resultado e consequência inequívoca do que já foi feito e vivenciado anteriormente”, lembra Lêda. “O passado constrói e possibilita ao presente dar continuidade a essas ações”. Brasília – 12 ateliês
Até 17/1 na Caixa Cultural (SBS, Quadra 4), com entrada franca.
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Fotos Nick El-Moor
GRAVES&AGUDOS
A trilha sonora do riso POR PEDRO BRANDT
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ensado como uma maneira de celebrar as duas décadas da Cia. de Comédia Os Melhores do Mundo, o CD As melhores bandas do mundo reúne artistas de Brasília (ou com integrantes ligados à cidade) de diversos gêneros musicais, interpretando 20 músicas compostas para os espetáculos do grupo, como os bem-sucedidos Sexo – a comédia, Dingou béus, Notícias populares, Hermanoteu na terra de Godah e Misticismo. A ideia partiu do diretor musical d’Os Melhores do Mundo, Marcello Linhos.
“Eu queria fazer alguma coisa diferente, que não tivesse a ver com teatro. E como sempre tivemos um link com música, surgiu esse projeto”, conta o músico, que escolheu os convidados de acordo com cada música. “A seleção é eclética, vai do canto coral ao heavy metal, o que é a cara de Brasília”, comenta. Além disso, tem choro, reggae, samba-enredo, música eletrônica, afrobeat, hardcore... No lançamento do disco, no O’Rilley Irish Pub, com a presença de vários dos músicos participantes do disco, além do elenco da trupe – Adriana Nunes, Adriano Siri, Jovane Nunes, Ricardo Pipo, Vic-
tor Leal e Welder Rodrigues –, Linhos contou entusiasmado como ele e Adriana, ainda adolescentes, pintavam camisetas da Plebe Rude (que gravou para o disco a música Joseph Climber, da trilha da peça Notícias populares) para ir aos shows do grupo. “Ali começou o meu rock de Brasília”, lembrou o produtor. Além de nomes consagrados, como Plebe, Raimundos e Zélia Duncan (acompanhada do bandolinista Hamilton de Holanda), o disco conta com bandas jovens que estão em ascensão, como Dona Cislene, e gente que sequer lançou disco, caso do Muntchako. A presença da esco-
la de samba Aruc e do grupo de percussão Patubatê adiciona ainda mais pluralidade ao projeto. No geral, o disco soa divertido como as trilhas sonoras lançadas em LP nos anos 1980 com músicas de especiais televisivos voltados para as crianças – os pequenos, grande chance, vão curtir o disco mais que os pais. Mas alguns convidados conseguiram levar as músicas para seu próprio universo e não seria estranho imaginá-las em seus próximos discos – caso, por exemplo, dos Autoramas, com Misticismo (que virou garage-surf-pop); do Sexy Fi, com GG love (transformada em um indie rock climático); do Móveis Coloniais de Acaju, com Notícias populares; do trio Muntchako, com a “suingante” Young O’Brian; de Zélia e Hamilton, no choro aboleirado Amor, amor, amor, e do grupo Madrigal de Brasília, numa comovente interpretação de Dingóus béus.
Ménage à trois
musical
TEXTO E FOTOS HEITOR MENEZES
As melhores bandas do mundo
Produzido por Marcello Linho e Alan Pinho. 20 faixas. Preço médio: R$ 25. Para comprar: www.osmelhoresdomundo.com.
Repertório Notícias populares – Móveis Coloniais de Acaju; New York sexy lady – Rafael Kury e Kiko Peres; Amor, amor, amor – Zélia Duncan e Hamilton de Holanda; Misticismo – Autoramas; Dingóus béus – Madrigal de Brasília; NBQAANJ – Maskavo; Hermanoteu na terra de Godah – Raimundos; GG love – Sexy Fi; Valdez – Rio Claro; Young O’Brian – Muntchako; Azedox – Adriah; Rumo ao Planeta Boing – Patubatê; O landau de Maurivan – Totem; Maria dance – Criolina; América – D.F.C.; À espera da morte – Alf; Joseph Climber – Plebe Rude; McCoy – Code name danger – Dark Avenger; Micalatéia – Dona Cislene; Inapaiê – Aruc
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anto e violão casam muito bem; no mundo, incluindo nosso país, vários monumentos de canções estão fincados no imaginário. Agora, quando o canto, o violão e o piano se juntam, com todo o respeito, é ménage à trois musical, no qual os executantes são uma só carne feliz e seja o que Deus quiser. Haveria um meio melhor de falar do brasiliense Cais Trio, formado pelo canto de Leonel Laterza, o violão de Paulo André Tavares e o piano de Daniel Baker, mas pode-se ficar sem culpa com o elogio ao prazer, pois é isso que evoca a música que esses três profissionais habilmente executam. Laterza, Tavares e Baker pode parecer nome de advogados associados, mas são músicos que têm história vitoriosa no meio musical brasiliense. Aliás, é por causa deles que o meio recebe constantes elogios. Leonel Laterza, mineiro de Uberaba, tem carreira como intérprete refinado da música popular brasileira. Seus discos
Esmeraldas (2006) e Guardados (2011) apontam os caminhos para os que esqueceram que o nosso cancioneiro não se esgotou na obra dos mestres que fizeram história na MPB. Paulo André “P.A.” Tavares, carioca, exímio violonista e guitarrista, é também arranjador, compositor e diretor musical. Estamos falando de um mestre em jazz performance (em guitarra), pelo Queens College (City University of New York), e bacharel em música (composição e regência) pela Universidade de Brasília, além de professor da Escola de Música de Brasília. No currículo, muitas gravações com os mais diversos artistas e um disco que é a cara da capital: Na estrada (2009), instrumental perfeito para ouvir andando pelas superquadras. Ainda que afeito e afeto às coisas do piano (um universo em particular), Daniel Baker é a conexão do grupo com as coisas mais modernas. Especializado em arte, música e novas tecnologias, Baker leciona Piano Popular e Tecnologia em Música na Escola de Música de Brasília; tem a expertise do estúdio, dos timbres
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GRAVES&AGUDOS muito bem captados, e, assim como os colegas, tem aquela paixão pelo brazilian sound, o brazilian jazz em particular. Laterza lembra que desde 2013 os três juntaram forças como Cais Trio, mas em verdade a história começa em 2003, quando o cantor precisou formar um grupo para cumprir agenda de shows. “Tocamos juntos desde aquela época e deu muito certo. Eles estão nos meus dois CDs. O Paulo André e o Daniel Baker fizeram o arranjo para Cruzada, de Tavinho Moura e Márcio Borges, no meu CD Esmeraldas. Não deixamos de trabalhar juntos. É um grupo, não dois músicos acompanhando um cantor”, avisa. Então, chegamos ao cais. O que os navegantes trouxeram na bagagem inclui peças autorais, exercício de estilos, domínio da canção e doses generosas de Clube da Esquina (não seria demais dizer que trabalhos assim são a evolução do estilo de Milton Nascimento, Beto Guedes e companhia). O Cais Trio registrou a experiência em DVD gravado no auditório do Sesc Garagem, em Brasília, projeto apoiado pelo Fundo de Apoio à Cultura do Dis-
trito Federal. São só os músicos, sem plateia, sob a direção de Bruno Sant’Ana. As cantoras Simone Guimarães e Ellen Oléria emprestam o talento em dueto com Laterza, enquanto Ocelo Mendonça (violoncelo), Hamilton Pinheiro (baixo) e Léo Barbosa (percussão) conferem mais brilho musical ao excelente repertório do trio. E que repertório. Dona Olímpia (Toninho Horta/Ronaldo Bastos), Mistérios (Joyce Moreno/Maurício Maestro), Depois dos temporais (Ivan Lins/Vitor Martins), Viola violar (Milton Nascimento/
Márcio Borges), Casa de oceano (Simone Guimarães) e Córrego rico (Ellen Oléria) se juntam às autorais Espelho (Baker/Laterza) e Bolero da paz (P.A./Laterza). É questão de tempo incorporar ao repertório a bela canção Cais (Milton Nascimento/Ronaldo Bastos), inspiração para o nome do grupo. “Todo mundo pergunta e essa música tem um ambiente que tem tudo a ver com a gente. Logo vai estar no repertório”, avisa Leonel Laterza. Cais Trio
DVD gravado no Sesc Garagem (913 Sul) www.caistrio.com.br.
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LUZCÂMERAAÇÃO
A ponte do Rio Kwai
Lawrence da Arábia
As distintas faces de Lean Considerado por muitos um dos grandes diretores de cinema do mundo, o inglês David Lean ganha uma retrospectiva integral de sua obra no CCBB. POR SÉRGIO MORICONI
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mbora um pouco esquecido hoje em dia, David Lean tinha uma verdadeira legião de admiradores nos anos 50, 60 e 70 do século passado. Autor de clássicos épicos, como A ponte do rio Kwai (1957), Lawrence da Arábia (1962), Doutor Jivago (1965) e A filha de Ryan (1970), Lean – se quisermos um termo de comparação – pode ser considerado um precursor de Steven Spielberg no que se refere ao perfeccionismo técnico e à grandiosidade de suas produções. O paralelo com o realizador de ET – O Extraterrestre, entre tantos outros blockbusters de entretenimento, deve ser colocado em perspectiva, no sentido de que Lean tinha uma preocupação maior em relação a um público adulto. A ponte do rio Kwai, por exem-
plo, traz uma denúncia do militarismo ainda relevante nos dias de hoje. Mas a mostra O cinema total de David Lean, em cartaz no CCBB até 4 de janeiro, nos proporciona ver a primeira fase do diretor, quando ele fazia um cinema intimista, diametralmente oposto ao das grandes produções. O apelo com um público vário e vasto pode ser testemunhado aqui em Brasília com as incríveis filas que se criavam em torno do extinto e saudoso Cine Karin (um dos primeiros a utilizar a projeção em 70 milímetros) para assistir A filha de Ryan. Suas produções eram sempre campeãs de audiência e assim permaneceram até a última de suas obras, Passagem para a Índia (1984), filme que Lean rodou quando beirava os 80 anos de idade. Katherine Hepburn, que havia trabalhado com Lean em Quando o coração floresce (1955), disse
Fotos: Divulgação
Doutor Jivago
nunca ter visto um diretor tão perfeccionista e tão cheio de dinamismo quanto ele. Num texto que escreveu sobre Lean, ela conta histórias adoráveis, muitas delas ouvidas de outros companheiros atores e atrizes que vieram a trabalhar com o diretor muitos anos depois. Um amigo dela que viveu um vilão em Doutor Jivago menciona a preparação de uma sequência que devia ter lugar numa plantação de milho. Numa das cenas, um grupo de soldados devia atacar alguns inimigos que se escondiam na plantação. Lean passou horas estudando a situação enquanto todos esperavam com seus figurinos e cavalos. Subitamente, ao se dar conta de que a ação se passava em 1917, e numa estação do ano específica, o diretor ordenou que os membros fossem buscar papoulas vermelhas em outro campo e misturá-las com o milho. “Era assim que este campo devia estar nesta época do ano”, argumentou. Ele achava que o cinema devia emular a realidade da forma mais verdadeira possível. Fotógrafos e cenógrafos diziam que Lean só filmava quando considerava a cena exatamente igual à que tinha imaginado. Também em Doutor Jivago, uma passagem em
que os cavalos cruzavam um pequeno riacho foi eliminada porque a água não borrifava da forma como queria. É natural esperar que alguns dos admiradores de David Lean elejam uma ou outra fase de sua cinematografia como a melhor. Não são poucos aqueles que preferem aquela mais – como mencionado – “intimista”, de filmes de produções muito mais singelas se levamos em consideração o período posterior do diretor. Mas de forma nenhuma se pode considerar filmes como Desencanto – considerado um dos maiores filmes ingleses de todos os tempos – como menos ambiciosos artisticamente. Muito ao contrário. Aliás, Desencanto figura em muitas listas dos melhores filmes da história pela sutileza e elegância com que trata a questão do adultério. Todas as obras de Lean também primam pelo cuidado técnico, pela segurança narrativa, assim como pela magistral direção de atores. Muito dessas características se deve a sua formação, primeiro como montador, depois como assistente de direção, em ambos os casos por solicitação de Michael Powell, outro grande do cinema inglês. Powell não é o único a quem se deve
dar crédito pela sólida formação de Lean. O realizador de Desencanto deu seus primeiros passos adaptando peças de Noel Coward, com quem dividiria a direção de Nosso barco, nossa alma (1942), seu filme de estreia. Na segunda metade da década, Lean se associa a Ronald Neame em duas bem sucedidas adaptações de Charles Dickens, Grandes esperanças (1946) e Oliver Twist (1948). Esses dois filmes serviriam para consolidar seu prestígio como o diretor “clássico dos clássicos” e preparariam o terreno para o grande salto das superproduções épicas. Antes, porém, com Quando o coração floresce, com Hepburn no auge de seu talento, Lean daria uma demonstração de sua astúcia, ao utilizar todos os cenários de uma Veneza turística, normalmente consideradas locações cinematográficas kitsch, sem que nenhuma delas adquirisse um valor autônomo vulgar, independente do contexto da história narrada. O cinema total de David Lean
Até 4/1 no cinema do CCBB (SCES, Trecho 2). Ingressos: R$ 4 e R$ 2. Horários, classificação indicativa e sinopses dos filmes em www.bb. com.br/cultura e facebook.com/ccbb.brasilia. Mais informações: 3108.7600.
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LUZCÂMERAAÇÃO
Curtas em festa Festival ocupa o Cine Brasília durante quatro dias com mais de 100 filmes Pablo Escajedo
POR PEDRO BRANDT
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Divulgação
Quando parei de me preocupar com canalhas
Divulgação
Baile de ilusão
m dos últimos eventos cinematográficos de 2015 na capital federal, o festival Curta Brasília será realizado entre 17 e 20 de dezembro com uma programação formada por mostras competitivas, temáticas, de videoclipes, além de oficinas e debates. Ao longo do festival serão exibidos 122 curtas, entre brasileiros e internacionais, em sua maioria inéditos na cidade. Em competição estarão 30 curtas e 15 videoclipes. Este ano, os premiados serão escolhidos por júri oficial e pelo voto do público. Em 2015, o festival estreia duas novas mostras: a Surdocine, com filmes que abordam a cultura surda, e a Espanha em Curtas, um panorama do Notodofilmfest, evento espanhol referência para os curtas-metragens. A elas se juntam as já tradicionais mostras Provocações (LGBT), Calanguinho (infantil), Prêmio Alemão de Curtas, À Francesa (com documentários em animação) e a mostra em homenagem a José Eduardo Belmonte, com seis curtas dirigidos pelo cineasta. “O festival foi mais uma consequência do que propriamente uma intenção”, lembra Alexandre Costa, produtor do Curta e ex-sócio da Cult Video. O evento nasceu, ele conta, dos DVDs que a Cult lançou compilando curtas-metragens brasilienses. “Não existia um mercado para esses filmes”, diz Alexandre. Produtora do festival, Ana Arruda comemora sua boa aceitação. Foram mais de 800 inscrições de produções brasileiras este ano, representantes de 25 Estados e do Distrito Federal. “Isso acaba constituindo, naturalmente, um panorama de curtas bastante diversificado da produção brasileira contemporânea”, comenta. Diretora de Crônicas de uma cidade inventada, escolhido como melhor curta-metragem de Brasília pelo voto popular no festival no ano passado, Luisa Caetano foi convidada para a comissão de seleção do evento em 2015. A cineasta percebeu certa sincronicidade na abordagem de temas entre os selecionados, como tramas que passam por questões sociais, de gênero e sexualidade, e relacionamentos contemporâneos. “Fiquei surpresa tanto pela enorme quantidade de curtas inscritos quanto pela boa qualidade de muitas das obras, com destaque para a expressividade das produções regionais e sua pluralidade de enfoques e de experimentação de linguagem”, avalia. 4º Curta Brasília
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Nua por dentro do couro
De 17 a 20/12 no Cine Brasília (EQS 106/107). Entrada franca. Programação, sinopses e classificação indicativa dos filmes no site www.curtabrasilia.com.br.
VERSO&PROSA
O longo caminho até o Nobel
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escritora chilena Gabriela Mistral vivia em Petrópolis, onde exercia o cargo de cônsul geral de seu país. Era 1945, e terminava a Segunda Guerra Mundial, que cobriu o planeta de traumas quase insuperáveis e inspirou Gabriela a escrever versos delicados e pacifistas. “Não se trabalha nem se cria a não ser em paz; esta é uma verdade consabida, mas que se esfuma no instante mesmo em que a terra escurece com uniformes, exalando odores infernais”, escreveu ela em A palavra maldita, publicado em 1950. Pois foi ali, em dezembro daquele ano, que ela soube que a Academia Sueca a escolhera para receber o Prêmio Nobel de Literatura. De 1940 a 1943 o prêmio não fora outorgado, devido à guerra. Gabriela já era muito conhecida internacionalmente, graças a seu trabalho não só em literatura, como também em educação e diplomacia. Pela primeira vez o Nobel era outorgado a um latino-americano (o Chile voltaria a ganhá-lo em 1971, com Pablo Neruda). Os 70 anos do Nobel de Gabriela Mistral estão sendo comemorados em Brasília com uma exposição sobre a escritora e sua obra no Instituto Cervantes, na 707/907 Sul. Sob o título Filha de um povo novo, é composta de 13 painéis infor-
mativos, com fotos históricas e reprodução de cartas e documentos, além de textos do poeta chileno Gustavo Barreira, que a organizou. A exposição percorre a trajetória de Gabriela desde sua juventude até o Nobel, abordando sua atuação nos campos da poesia e da educação. Gabriela nasceu em 7 de abril de 1889 em Vicuña e morreu em 10 de janeiro de 1957, aos 67 anos, em Nova York. Seu nome de batismo é Lucila de Maria del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga, mas ela adotou o pseudônimo de Gabriela Mistral em homenagem a seus poetas prediletos, o italiano Gabriele D’Annunzio e o provençal Frédéric Mistral. Ela o usou pela primeira vez em 1914, quando inscreveu o livro Sonetos de la muerte nos Juegos Florales de Santiago – e venceu. A morte é um dos temas centrais de sua obra, marcada por tragédias que a perseguiram desde jovem. Quando tinha três anos, seu pai abandonou a família. Na adolescência, já escrevendo seus primeiros textos literários e publicando em pequenos jornais, apaixonou-se por Romelio Ureta Carvajal, ferroviário da província de Coquimbo, para onde Gabriela se mudara a fim de lecionar. Romelio se envolveu com um roubo na empresa onde trabalhava e acabou se matando, em 1909. Foi em homenagem a ele que escreveu Sonetos de la muerte, livro que co-
Gabriela Mistral – Filha de um povo novo Exposição em cartaz até 9/1 no Instituto Cervantes de Brasília (707/907 Sul). De 2ª a 6ª feira, das 9h às 19h; sábado, das 9 às 13h.
Fotos: Divulgação
POR ALEXANDRE MARINO
meçou a chamar a atenção para sua obra. Gabriela já era uma personalidade importante das letras chilenas quando viveu duas grandes perdas, em 1942 e 1943, quando já estava no Brasil como cônsul geral. O escritor austríaco Stefan Zweig, seu grande amigo, suicidou-se com a esposa Lotte, em Petrópolis, em fevereiro de 1942, deprimido com a expansão do nazismo na Europa. Em seguida, seu sobrinho Juan Miguel Godoy matou-se por amor aos 18 anos. Era tido como o sobrinho querido de Gabriela, mas sua origem e história são obscuras. Ora tido como filho bastardo de um primo, ora como de uma amiga, ora como filho de um meio irmão, ou até mesmo filho da própria Gabriela, que o tratou e criou como tal. As histórias de Gabriela Mistral aparecem superficialmente na exposição, que destaca aquilo que de fato interessa, agora que ela faz parte da história da literatura chilena: sua obra e o prêmio Nobel de Literatura de 1945. Talvez uma observação cuidadosa nos painéis expostos no salão do Instituto Cervantes instigue um conhecimento mais aprofundado de seus livros, que encantaram de tal forma o secretário da Academia sueca, Hjalmar Gullberg, que ele próprio traduziu para o sueco uma coleção de poemas de seus três livros mais importantes, Desolación, Ternura e Tala. A antologia saiu com o título Sangen om em son (Poema do filho). Foi assim que ela começou a ganhar o mais importante prêmio literário do mundo.
ESPORTE&LAZER Divulgação
Eliete Russo
Charmosas pedaladas A
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s avenidas largas, o solo plano, o verde pujante, o horizonte esplêndido... A natureza de Brasília é um convite a pedalar e sentir a liberdade e o belo que a capital nos proporciona. E mesmo sem tantas ciclovias, que poderiam facilitar a vida de quem anda de bike, cresce a cada dia o número de adeptos do pedal na cidade. Entre os grupos da modalidade, existe um mais do que especial: o BBBs – Brasília Batom Bikers, formado por meninas de 12 a 70 anos de idade e com cinco mil seguidores nas redes sociais. Elas usam uniforme cor-de-rosa e bikes apropriadas para mulheres, mas sem radicalismo. Há um número pequeno de homens, geralmente namorados, maridos ou amigos, que as acompanham. O grupo pedala no asfalto e se junta a outros grupos de bikers nas trilhas. Reúne- se aos sábados, às 8 horas, em frente à Catedral de Brasília, onde segue a cada semana por caminhos diferentes, podendo chegar ao Setor Noroeste ou ao Lago Sul, por exemplo. O BBBs tem crescido em número de integrantes e em inovações, como a promoção de cicloviagens e provas. Em outubro de 2014, as meninas BBBs trouxeram a Brasília a Audax 200, prova em que o atleta precisa cumprir o percurso de 200 km em até 13 horas, e que é autorizada apenas pelo Clube de Pa-
ris, na França. “Foi o primeiro grupo de mulheres, no Brasil e no mundo, a coordenar uma prova dessa importância”, explica uma das coordenadoras do BBBs, Maria Regina Fiúza Teixeira, 54 anos, funcionária pública. Segundo ela, a Audax 200 reuniu 265 ciclistas do Brasil pedalando pelos principais pontos turísticos da capital federal e região do Colorado. Antes, em janeiro de 2013, o BBBs promoveu a primeira cicloviagem a Barro Alto (GO), junto com jeepeiros, durante 50 km “desfrutados com muita chuva, lama, aventuras e alegrias”, lembra Regina.
Em outubro deste ano, as meninas pedalaram por três dias no Jalapão (TO), trajeto de 220 km a 35 graus centígrados, no parque de 34 mil km2 em cuja área há rios de águas cristalinas, fervedouros, dunas alaranjadas, formações rochosas, fauna e flora exuberantes, e onde vivem quilombolas e artesãs do capim-dourado. Lia Costa, professora da rede pública, esteve com o grupo no Jalapão: “Superei desafios e limites. A beleza do lugar é indescritível”. Lia conta que, no ano passado, após passar por uma depressão, quis algo que a fortalecesse. “O pedal me ajuDivulgação
POR SÚSAN FARIA
As meninas do Brasília Batom Bikers em momentos de descanso e contemplação no Jalapão. Fotos: Lia Costa
da como terapia. É uma sensação de liberdade, prazer e autossuficiência”. Sílvia Gimenez, 60 anos, moradora da Asa Norte, destaca que as BBBs fazem um trabalho social, não para comunidades carentes de recursos financeiros, mas para mulheres que precisam de apoio: “Faça chuva ou faça sol, elas estão aqui, dando suporte, fazendo acreditar que você é capaz. É uma convivência gostosa”. Sílvia descobriu uma nova cidade: “Ver Brasília de bike é diferente de passar de carro. São novas cores e cheiros, novas descobertas”. Sentimento compartilhado pela arquiteta Alice Mafra, 33 anos, residente no Sudoeste: “Tinha medo de pedalar sozinha. Não tinha confiança. Entrar para o grupo foi a solução”. Mesmo com 40 anos de experiência no pedal, a diplomata americana Mônica Barreto se juntou às BBBs: “Vi as mulheres no pedal e entrei sem compromisso. Acabei ficando”. O entusiasmo fez com que ela convidasse uma amiga residente em Washington para integrar a cicloviagem ao Jalapão. “Gostamos demais”, diz Tudo começou com quatro meninas pedalando no Lago Sul, como treino para melhorar o desempenho em trilhas e em passeios ciclísticos, visando a alcançar os primeiros 100 quilômetros. No decorrer dos treinos, a turma foi aumentando e surgiu a ideia de criar um grupo que unisse mulheres interessadas em fazer novas amizades e praticar um esporte que proporcionasse alegria e diversão. Nasceu, portanto, o BBBs, em 27 de outubro de 2012, com um grande passeio ciclístico no Jardim Botânico de Brasília e a presença de outros grupos de ciclismo. Hoje, o BBBs é coordenado por oito integrantes: Regina, Simone, Eliete, Thais, Marly, Lilian, Pérola e Cristina.
Neste final de ano o grupo pedalou 75 quilômetros até Formosa e em março próximo irá a Cavalcante. Em 2016 pretende ir à Rota das Baleias, em Santa Catarina, e à região da Toscana, na Itália. A jornalista Maria Lúcia Sigmaringa, 50 anos, que entrou no BBBs há apenas seis
Diários de bicicleta Conhecer de bicicleta as Cataratas do Niágara, ou Londres, Berlim, Istambul, Manila... Pois é o que tem feito o roqueiro David Byrne, da banda Talkings Heads, aproveitando suas turnês musicais. Essas experiências estão relatadas no livro Diários de bicicleta, escrito por Byrne e prefaciado pelo músico brasileiro Tom Zé. Desde os anos 80 Byrne usa uma bicicleta como principal meio de transporte em Nova York. “Comecei aos poucos e me senti muito bem. “Observar e participar da vida de uma cidade é uma das maiores alegrias da vida. Ser uma criatura social faz parte do que significa ser humano”.
meses, quer aproveitar essas oportunidades. “O pedal abre também horizontes para o turismo”, comemora. Já o funcionário público Ricardo Araújo, 46 anos, comenta que a receptividade das BBBs é grande e gosta de apoiá-las. “É um esporte que até vicia, cada dia quero mais, pois estimula a superar limites”. Dificuldades, perigos de assalto ou no trânsito? “Pedalar é perigoso, mas nem tanto. Tudo na vida tem uma dose de perigo. Pedalamos sempre em grupo e ninguém sai do pelotão. Dessa forma, mantemos o grupo seguro”, explica Maria Regina. Brasília Batom Bikers (BBBs)
Saídas aos sábados, às 8h, em frente à Catedral de Brasília, com percursos fáceis, moderados e difíceis. Saídas para iniciantes sempre no primeiro sábado de cada mês. Em recesso de 26 de dezembro a 2 de janeiro. Equipamentos: bike proporcional à altura (a básica custa em torno de R$ 700 e as profissionais até R$ 50 mil), capacete, luvas, garrafa de água, kit de manutenção e par de tênis.
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DIÁRIODEVIAGEM
Descobrindo
Alter do Chão
TEXTO E FOTOS ANA VILELA
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epois de caminhar cerca de dois minutos até chegar à praia de Alter do Chão, parei e pensei: este lugar existe mesmo? Era inacreditável. Areia muito branca, água indo do transparente, nas margens, ao azul-esverdeado. Presente do Tapajós, realmente o rio mais bonito que já vislumbrei até hoje. Tudo isso cercado de floresta. Estava acompanhada de duas colegas, uma espanhola e uma alemã, que conheci no barco, indo de Belém a Santarém. Permanecemos as três assim, meio bobas, por alguns minutos, até criarmos coragem de entrar na água. E eis a próxima surpresa: a água era muito quente e podia-se caminhar até bem adiante, sem atingir grande profundidade. Resultado: ficamos ali horas, esquecidas completamente do tempo e de tudo o mais, até porque somente nós estávamos naquele trecho de paraíso (desculpe o lugar-comum, mas é inevitável). Como Alter do Chão, que ganhou fama depois de matéria publicada no jornal inglês The Guardian, surgiu em meu roteiro de viagem ao Pará? Assim que contei a uma amiga da minha ideia de férias, ou seja, enfim conhecer Belém, ela disse logo: “Por que não vai a Alter do Chão?”. Verdade, pensei. Rapidamente
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me veio à memória uma antiga visita do príncipe Charles à região e, depois, as informações dadas por um colega nascido por ali. Era uma ótima ideia. Comecei minhas pesquisas. As opções de chegada a Alter do Chão, nome que homenageia uma vila homônima portuguesa, eram de barco ou de avião, ambas as rotas descendo em Santarém. Decidi ir de barco, um daqueles cheios de rede mesmo, que a gente vê vez ou outra na televisão. Seria
o ônibus intermunicipal naquele pedaço de terra rico em águas. Há barcos mais luxuosos e outros mais simples e a opção de ficar em camarotes. Escolhi o Rodrigues Alves (R$ 130), segundo recomendação do dono do Albergue da Floresta, onde ficaria em Alter. Comprei uma rede numa loja que fica bem perto do mercado Ver-o-Peso, em Belém (R$ 35, com cordas para amarrar, pois não há ganchos no barco), e lá
fui. Três noites e quase três dias navegando pelo Baixo Amazonas até chegar a Santarém. No barco são servidas refeições simples, mas é sempre bom levar frutas e biscoitos para os lanches, além de água. Também é recomendável carregar na mala um mosquiteiro, que pode ser útil nas pousadas ou em algum passeio pela floresta. Outra dica: para quem sai do Sul ou do Sudeste do Brasil, e tem tempo para explorar a Amazônia, recomenda-se começar por Manaus e, então, pegar o barco até Santarém. São dois dias navegando pelo Rio Amazonas. Uma das primeiras impressões que ficam ao chegar a Santarém é o encontro das águas ocre-argilosas do Rio Amazonas com as azul-esverdeadas do Rio Tapajós, atualmente patrimônio cultural de natureza imaterial do Pará, tamanha a beleza da cena. As águas correm paralelamente por alguns quilômetros, sem se misturarem, por causa das diferenças de densidade, de temperatura e de velocidade. Da cidade, pode-se tomar um táxi (R$ 80 a R$ 100, vale negociar) ou seguir até o centro e, lá, optar por ir de ônibus (R$ 2,50) até Alter do Chão. Em média, faz-se o trajeto em cerca de meia hora. Nossa primeira opção, como estávamos em três e não conhecíamos a cidade, foi seguir de táxi. Mas, na volta, não pensei duas vezes: fui de ônibus até Santarém, tranquilo e rápido, e, chegando lá, peguei outro para o aeroporto (o último sai do centro às 19h45). Escolhi em Alter do Chão o Albergue
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DIÁRIODEVIAGEM
da Floresta (R$ 50 a diária em quarto coletivo sem café da manhã; R$ 65,00 com café; mas tem também quartos individuais e suítes), que fica a cerca de cinco minutos de caminhada a partir do centro da vila, pegando rua de terra, e a 50 metros de uma das partes mais isoladas da praia, sem bares. A cidade tem algumas opções de pousadas e de hotéis, mas nada de muito luxo. O passeio é ainda uma opção um tanto rústica. Minhas colegas de viagem acabaram seguindo comigo para o albergue realmente construído entre árvores da floresta. Mal deixamos as bagagens no quarto, todo de madeira, com amplas janelas, e seguimos para a praia.
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Quando ir O calor era algo fora do comum. Sabe aquela famosa chuva diária de Belém e região? Pois é, não chovia fazia mais de mês. O tempo todo escutei as pessoas reclamando da mudança de clima, da falta de chuva e do quanto o rio estava baixo. E suas altas e baixas dão a Alter diferentes possibilidades. Em junho, as águas come-
çam a diminuir, mas as praias aparecem somente em agosto. O menor nível é em novembro, sendo que as águas deveriam começar a subir já no início de dezembro, data em que cheguei ao local. Mas nada de chuva. Bom para nós, na verdade. De dezembro a maio chove muito e as águas sobem lentamente, atingindo o nível mais alto em maio, quando as praias desaparecem. Época para passeios de barco e para explorar a floresta. A festa regional mais conhecida, o festival folclórico do Sairé, é realizada em setembro, uma mistura de elementos religiosos e profanos. Atualmente, no entanto, a festa conserva pouco de sua originalidade. Ganhou destaque a disputa entre o boto-tucuxi e seu rival, o boto-cor-de-rosa. Depois de perdermos a noção do tempo afundadas nas águas quentes e esmeralda do Tapajós – que podem esconder perigosas arraias, exigindo atenção e certo cuidado – a fome começou a apertar. Hora de ir atrás de um lugar na sombra, com uma cerveja Tijuca bem gelada, e pedir um tambaqui na brasa ou um
peixe frito acompanhado de arroz, feijão, farinha e vinagrete (R$ 20 por pessoa em média, nas barracas da praia). Assistir ao pôr do sol é a opção seguinte. Por último, uma apresentação de carimbó, na praça da vila, e tomar um sorvete de murici ou de cupuaçu. Os sucos (cerca de R$ 2 o copo, nas barracas da praça), em geral, são feitos de frutas frescas, porém não são produzidos na hora. Ficam guardados em garrafas pet e já vêm adoçados, algumas vezes doces demais, assim como o café em quase todos os lugares. Mas se o objetivo é gastar pouco, Alter é ótima opção. Tudo depende do que se quer fazer e o quanto se quer gastar. Nas barracas da praça, por exemplo, come-se uma tigela de tacacá ou uma boa porção de vatapá com arroz por menos de R$ 8. Há também restaurantes, todos simples, bares com música ao vivo e festa aos sábados. Se a ideia é ficar quieto, apenas curtindo a água quente e o visual, então a viagem pode seguir e terminar por aí, entre pores do sol, luares, areia branca, peixes, água transparente... Porém, a partir da vila, há várias outras rotas de passeio. Uma delas é ir à praia Ponta do Cururu ver os botos ao entardecer, início da noite (o guia cobrou R$ 100 para três pessoas). Não tivemos muita sorte. Avistamos os botos muito rapidamente e ao longe, mas é comum estarem por ali. De qualquer forma, navegar pelo Tapajós é um passeio por si só. Há, ainda, diversos percursos de barco para outras praias. Um dos locais mais procurados, no entanto, é a Floresta Nacional do Tapajós (Flona), com área de 600 mil hectares e comunidades como as de São Domingos, Maguari e Jamaraquá. Por ali também está o município de Belterra, fundado em 1933 pela Ford, ainda habitado, diferentemente da conhecida Fordlândia (município de Aveiro), hoje apenas ruínas. Passeios de barco de ida e volta, saindo de Alter do Chão, ou para dormir uma ou duas noites, são oferecidos o tempo todo para a Flona (em média R$ 250 por dia, por pessoa, com refeições). O preço é salgado. Optamos por ir de ônibus com o guia, morador da comunidade de São Domingos, e dormimos duas noites em redário na entrada da floresta (R$ 150 com refeições, mais passagens de ônibus, R$ 2,50 até Santarém e R$ 10 até a comunidade). Uma experiência que vale muito a pena, mas aí já é outra história...
Grupo Segurador Banco do Brasil e Mapfre apresenta Banco do Brasil apresenta e patrocina
Exposição
IBERÊ CAMARGO UM TRÁGICO NOS TRÓPICOS 14 NOVEMBRO 2015 A 11 JANEIRO 2016 Centro Cultural Banco do Brasil Brasília Entrada franca
Apoio
Coordenação
Realização
Nos termos da Portaria 3.083, de 25.09.2013, do Ministério da Justiça, informamos que a Licença de Funcionamento deste CCBB tem número 00340/2011, com prazo de validade indeterminado.
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