Ano XVI • nº 269 Novembro de 2017
R$ 5,90
A Divina Comédia
no traço de
Salvador Dalí
EMPOUCASPALAVRAS Divulgação
D de Dante... D de Dalí. O que une esses dois nomes tão expressivos da cultura mundial? O poeta italiano Dante Alighieri (1265-1321) ficou imortalizado por seu longo poema A divina comédia, uma viagem para o Inferno e depois para o Purgatório, onde reencontra a amada morta Beatriz. De lá, seguem para o Paraíso, ponto final dessa saga cheia de simbolismo. Quase 700 anos depois da morte do poeta, o pintor surrealista espanhol Salvador Dalí (1904-1989) criou 100 gravuras que reconstituem essa viagem, uma releitura da obra com foco nas angústias que o homem contemporâneo experimenta em sua luta eterna com seu subconsciente. O início da viagem de Dante está na capa desta edição para anunciar aos leitores que as 100 gravuras inéditas já podem ser vistas na Caixa Cultural e lá ficarão até 4 de março (página 22). Outra exposição que retrata uma viagem está no CCBB até 14 de janeiro. Trata-se de Dragão floresta abundante, do artista plástico paraibano Christus Nóbrega. Ele participou de um programa de residência artística na China e transformou essa experiência em obras inspiradas tanto nas tradições milenares daquele país como nas impressionantes imagens da China industrial contemporânea (página 24). Em matéria de música, há boas opções para todos os gostos. O icônico Boy George se apresenta em Brasília com sua ressuscitada banda britânica Culture Club, em turnê que está rodando o mundo. Os anos 80 virão com tudo nesse show no Net Live onde certamente não faltarão sucessos inesquecíveis da época, como Karma Chameleon, por exemplo. No festival Porão do Rock, já em sua 20ª edição, o rock vai dividir palco com o rap e a MPB, num ecletismo capaz de unir a banda Sepultura e Elza Soares (a partir da página 27). Ecletismo também se apresenta nas páginas da seção Água na Boca. Lá vamos encontrar um restaurante com proposta bem latina, como é o caso do Otramanera; um bistrô francês, o Le Parisien; uma saudável mistura, nascida em Taguatinga, de um bistrô agregado a uma loja multimarcas; e ainda o Vila Cinco, que alia a tranquilidade de uma vila romana à modernidade das grandes cidades (a partir da página 6). Boa leitura e até dezembro.
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graves&agudos
Boy George e o Culture Club encerram uma temporada musical marcada por grandes shows internacionais.
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Maria Teresa Fernandes Editora
ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14, Conjunto 2, Casa 7, Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa Carlos Roberto Ferreira, sobre foto de © Salvador Dalí, Fundación Gala-Salvador Dalí/ AUTVIS, Brasil, 2017 | Colaboradores Alessandra Braz, Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre Franco, Ana Vilela, Cláudio Ferreira, Conceição Freitas, Elaina Daher, Heitor Menezes, Laís di Giorno, Lúcia Leão, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Ronaldo Morado, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Teresa Mello, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle | Fotografia Rodrigo Ribeiro Para anunciar 99988.5360 | Impressão Editora Gráfica Ipiranga Tiragem: 20.000 exemplares.
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O GOVERNO DE BRASÍLIA FAZ OBRAS IMPORTANTES PARA TODOS NO DF. São obras viárias, hídricas, da área da saúde e da educação. E vai continuar trabalhando para fazer mais.
ABASTECIMENTO DE ÁGUA
O problema está sendo enfrentado com a captação e distribuição de água do ribeirão Bananal, uma importante obra, recém-inaugurada, que veio ampliar o abastecimento das regiões atendidas pelo Sistema Santa Maria/Torto, beneficiando cerca de 200 mil moradores. Além disso, a captação do lago Paranoá foi entregue e a obra de Corumbá IV está bem encaminhada no DF.
TREVO DE TRIAGEM NORTE E LIGAÇÃO TORTO-COLORADO 26 obras, entre pontes e viadutos, que trarão mais agilidade e segurança para 200 mil pessoas.
DF 001 29 mil veículos circulando por dia.
HOSPITAL DA CRIANÇA 2º bloco do Hospital da Criança com obras em fase final.
EDUCAÇÃO NO RUMO CERTO
E o Governo de Brasília também realiza muitas outras obras. Confira algumas delas: Balão do Morro da Cruz | Ciclovias | BRT Oeste | Reforma das Estações de Tratamento do Rio Descoberto e de Águas Lindas Parque Tecnológico | Centro de Dança do DF | Aterro Sanitário Hospital do Câncer | Escola Verde.
Foram entregues 23 creches, 11 escolas, quase uma por mês, além da Escola Técnica do Guará.
Trabalho certo. Trabalho sério. Trabalho que você vê. 5
ÁGUANABOCA
Delícias muy latinas POR VILANY KEHRLE
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enário multicolorido, comidas diversificadas, drinques exóticos e calientes, muita animação. É assim o Otramanera Cocina Latina, concretização de um sonho de Karla Dias, uma brasiliense de 32 anos profundamente apaixonada pela cultura latino-americana que, de mãos dadas com o sócio Jefferson
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Mattos, pensou o espaço com muita paixão e carinho. Com capacidade para 140 pessoas, entre mesas, lounge e um amplo salão, o Otramanera abriu as portas nos últimos dias de setembro, na 413 Sul. As mais de 30 criações do cardápio são de autoria da personal chef Raquel Amaral, que faz a releitura de diversos pratos clássicos de países como Argentina, Cuba, Colômbia,
México e Peru. A carta de drinques, bastante variada e baseada no rum, ficou por conta do mixologista Gustavo Guedes. Apresentando-se como o primeiro bar de Brasília com conceito “Tiki” (inspirado na cultura da Polinésia), o Otramanera se esbalda nas referências latinoamericanas, a começar pelas cores fortes presentes na fachada, paredes internas, mesas, cadeiras, decoração. Marcam presença por lá a morenice caribenha, pilares que lembram totens e inscrições de civilizações pré-colombianas, símbolos do Dia dos Mortos celebrado no México, imagens de Havana, Cartagena das Indias, Che Guevara e Frida Kahlo, resultado do fascínio de Karla por toda essa riqueza cultural. Entre os pratos principais estão o arroz chaufa, com frutos do mar, omeletinho enrolado e limão em conserva (R$ 39), o chicharrón, composto de costelinha com chimichurri, purê de batata doce roxa, purê de abóbora, cubos de batata frita (R$ 29), o lomo saltado a lo pobre, à base de pedaços de carne de porco grelhado com azeite no carvão, tomates e batata bem fininha, arroz e ovo (R$ 25), e o bife de cho-
(R$ 22), criação da chef. E mais: churros Otramanera, bolo três leches e compota de banana. Gustavo Guedes, representante de Brasília no World Class, evento de coquetelaria, optou por criar drinques bem coloridos e de visual extravagante, onde o rum, gins, tequilas, cachaças e sucos de frutas convidam o cliente a se refrescar, a se aquecer, em preparos de encher os olhos. Como o Mai Thai, drinque símbolo do estilo “Tiki”, à base de rum 7 anos, cointreau, orgeat, sumo de limão, xarope simples, abacaxi e hortelã (R$ 27); o Mi Corazón, com rum zacapa 23, vermute com infusão de café, mix de Amaros com infusão de nibs de cacau, bitters de chocolate e laranja (R$ 34); e o Además, Quiero, feito
com gim, redução de maracujá com alecrim, xarope de mel, orgeat, falernum, sumo de limão siciliano e citrus (R$ 27). Para reforçar a latinidade, todas as sextas, a partir das 21h, a casa é animada pela banda Sabor de Cuba, que balança a galera com muita salsa e outros ritmos caribenhos. Às terças tem a Zouk Otramanera, com a presença de DJs, e uma quinta-feira por mês uma sessão de bachata (ritmo musical originário da República Dominicana. “No início, pensei em abrir um espaço de cultura cubano, depois, percebi que tinha de ampliar”, revela Karla. Fez bem. Otramanera Cocina Latina 413 Sul, Bloco A (3222.6450) De 3ª a sábado, das 18h à 1h; domingo, das 12 às 17h.
Fotos: Marliére Fotografia
rizo com quinoa, que leva demi glace, maionese de salsa e picles de aipo (R$ 37). Raquel Amaral diz que não quis reproduzir os pratos exatamente como eles são por uma questão de identidade e, também, pela dificuldade de encontrar por aqui alguns ingredientes típicos dos países vizinhos. A chef, que este ano participou do reality show Taste Brasil, do canal GNT, atualmente se divide entre Brasília e São Paulo, onde faz residência no Maní, de Helena Rizzo. Para manter a qualidade e a originalidade do menu, o Otramanera contratou a chef colombiana Jeniffer Munar e o subchef peruano Anthony Ortega. Como opções de petiscos há, entre outros, o patacons com trio de moles, composto por panquequinha de banana frita, guacamole, pico gallo e feijão vermelho (R$ 31), o anticuchos, preparado com coração de boi marinado, maionese de salsa e salsa criolla (R$ 19), e o mini arepas a nuestra manera, feito com carne desfiada, salsa criolla, guacuamole, páprica e espinafre (R$ 32). Há, também, ceviche de peixe e de frutos do mar, salada criolla e de quinoa com camarão, como entradas, e sanduíches como o tradicional choripan, produzido com pão francês, linguiça, chimichurri e salada (R$ 21), e o arepa recheada, à base de carne desfiada, maionese de salsa e salada (R$ 22). Os apaixonados por doces podem pedir de sobremesa brulée de milho com picles de abóbora e raspas de laranja
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Francês descolado POR TERESA MELLO FOTOS RODRIGO RIBEIRO
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m Paris, Jérémy e Maxime moravam a 200 metros um do outro, no 15º Arrondissement. Não se conheciam. Mas o Cupido colocou as brasileiras Ana e Noemy no caminho dos jovens franceses, que, apaixonados por elas, vieram para o Brasil há dois anos. Na capital, tornaram-se colegas no curso de Português para Estrangeiros da Universidade de Brasília. “Esse encontro mudou a minha vida”, reconhece Jérémy Gentilleau, 33 anos, ex-gerente do Café République, na Place de la République. “Eu procurava um sócio porque queria fazer outra coisa além de dar aula de francês aqui”, completa Maxime Colin, 36 anos, farmacêutico. A ideia de abrir um autêntico bistrô francês começou a ser planejada e, há dois meses, eles inauguraram o Le Parisien Bistrot, na 103 Norte, com a consultoria do chef Leandro Nunes, ex-Jambu. “Na França, você vai a um bistrô apenas para tomar um vinho, comer um petisco, não precisa jantar, não precisa ser
chique”, explica Max. O projeto da Domingo Arquitetura sapecou azulejos brancos e pretos no piso e transformou uma esquina de quadra em um local aconchegante e com capacidade para até 80 pessoas. Os brasilienses parecem ter adorado. Ocupam as mesas vestindo bermuda, de tênis, enquanto outros vão direto do trabalho. E os donos esbanjam simpatia, trabalhando como garçons, de avental, cami-
sa branca e calça preta, além de comandarem 10 funcionários. Na cozinha, mais coincidências: o chef Leandro Nunes, 32 anos, é amigo da família de Noemy e se especializou em cozinha francesa no Cordon Bleu, em Paris. Elaborou um cardápio com seis pratos principais e um leque amplo de petiscos, com indicações L (lactose), G (glúten) e V (vegetariano) e a preços não abusivos. O
O magret de canard é uma das especialidades do Le Parisien, assim como o Apple Martini, um dos coloridos drinques criados pelo mixologista peruano Javier Bazan.
nhoque de beterraba e cenoura, por exemplo, custa R$ 38. Há entrecôte ao molho de pimenta verde e batatas gratinadas (R$ 58), bisteca suína, magret de pato, pescada amarela, sobrecoxa de frango envolta em presunto de Parma. O toque sutil aparece no molho diable – “usado para carne de caça”, diz o chef –, na erva-doce que acompanha o peixe e no azeite de tapenade (patê de azeitona, alcaparra etc) do nhoque. Neste mês, Leandro apresenta os pratos do dia: frango, na terça; linguiça, na quarta; camarão com talharim, na quinta, boeuf bourguignon, na sexta; cassoulet, no sábado; e bouilabaisse (sopa de peixes), no domingo. Entre as sobremesas, estão as clássicas profiterolle, fondant au chocolat e crème brûlée. Os tira-gostos exibem requinte. Há quiches de salmão, ratatouille, capeletti recheado de escargot, tábuas de queijo, terrine de fois gras e pera marinados em vinho tinto e servidos com geleia de cebola e torrada, rillette de patê de pato (R$ 26). As gostosuras incluem bouef bourguignon (massa folhada recheada com carne bovina, por R$ 26), vols au vent de frango e maçã, gougère (pão de queijo francês, recheado com creme de queijo). Ah, e existem os suculentos sanduíches gratinados. O croque monsieur leva queijo gruyère, presunto de Parma, é acompanhado de saladinha e custa R$ 24; e o croque madame vem com ovo estrelado. “Usamos os pães da Castália”, informa o chef. Aqueles bons drinques não podem faltar. Por isso, o mixologista peruano Javier Bazan, 40 anos, ex-Taypá, completa o quarteto fantástico do Le Parisien. Ele criou especialmente o Miss Noemy, com
vodca, espumante e licor de cassis; e o Miss Ana, com gin, xarope de toranja, suco de laranja, Angostura e água com gás, além do Jack Javier. “É uma bebida que tem uísque Jack Daniel’s, suco de limão-siciliano, xarope de framboesa, uva-rubi e manjericão.” Os vinhos, em sua maioria, são franceses, e os clientes podem degustar alguns rótulos em meia garrafa e na taça (R$ 10). Para boas celebrações, a carta tem o champanhe Vollereaux Brut, a R$ 250 a garra-
fa. Existem ainda o Pastis, licor popular na Europa, feito à base de anis, e o Calvados, destilado de cidra indicado como digestivo. O licor de génépi (planta aromática típica dos Alpes) é um aperitivo exclusivo da casa, inaugurada em 15 de setembro. Duas semanas depois, nascia Valentin, primeiro filho do Jérémy e Ana. Le Parisien Bistrot
103 Norte, Bloco B (3033-8426) De terça a sexta, das 18 às 24h; sábado, a partir das 12h; e domingo, das 12 às 16h.
Acima, o croque monsier, um clássico da cozinha francesa; abaixo, o tradicional fondant de chocolate.
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Saborosa reinvenção O
setor gastronômico em Brasília não para de crescer. Assim tem sido nos últimos anos. Fecha-se um bar, restaurante ou café e logo abrem-se dois ou três. A novidade é que, com a insistente crise econômica, o segmento tem apostado na inovação e no profissio-
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nalismo, tanto na variedade de serviços quanto na forma de oferecê-los e administrá-los. Os conceitos e propostas são mais robustos, e à frente dos negócios é mais frequente encontrar nomes fortes do setor ou grandes marcas. Uma mostra dessa movimentação é a aposta dos empresários William Martins e Fabiano Bérgamo, que se uniram a Pedro Bérgamo e Rubens Biliga e investiram numa proposta inspirada nas charmosas vilas do mundo e do interior do país. Após sete anos à frente do Mercado 153, resolveram lançar uma marca própria: o bar e restaurante Vila Cinco. A operação teve uma pré-estreia, com cardápio bem mais reduzido, na edição do Na Praia deste ano. E desde setembro ocupa os mesmos endereços antes destinados à franquia pernambucana, no Brasília Shopping e no Aeroporto Internacional de Brasília. Para receber a nova proposta, tudo
mudou. Não se trata apenas de uma repaginada. Os proprietários são os mesmos, mas o ambiente e o conceito são completamente diferentes. Tudo para remeter ao aconchego dos vilarejos, sem perder de vista a modernidade de um centro urbano. O espaço lembra as famosas vilas italianas – com seus tijolinhos e clima caseiro – e, ao mesmo tempo, remete à cidade grande, com a imponência do aço e seu estilo contemporâneo. Não por acaso, da cozinha do Vila Cinco saem elaborações contemporâneas que unem o simples ao saboroso, capazes de atender a exigentes e variados gostos. O desafio é do chef Melquisedeque Tavares. Com 44 anos, o pernambucano de Buíque soma duas décadas de experiência em cozinhas de São Paulo, Recife e Brasília. No currículo, ostenta restaurantes como o extinto 72 (SP), do chef Michel Darqué, onde ficou por qua-
la Cinco. Três receitas são oferecidas todos os dias, no almoço e no jantar, todas por R$ 69,90 no Brasília Shopping e R$ 79,90 no Aeroporto. A primeira receita apresenta a cauda do crustáceo grelhada no azeite extravirgem, acompanhada de spaghetti carbonara ao molho de pimenta verde (foto acima); na segunda, que se destaca pelo sabor agridoce e dos acompanhamentos, a lagosta também é
grelhada no azeite extravirgem e servida com arroz de abacaxi e castanhas, batata röti e redução de açafrão; e na terceira a cauda é grelhada em crosta de queijo do reino e guarnecida com risoto de funghi. Vila Cinco
Brasília Shopping (3047.8680). Diariamente, das 11 à 1h. Aeroporto JK (3364.9233). Diariamente, das 8 às 2h. Fotos: Morvan Rodrigues
se cinco anos como subchef, mesma época em que Alex Atala passou por lá como consultor. O 72 foi a primeira cozinha em que Atala atuou no Brasil ao retornar do exterior. Antes de chegar à supervisão da rede do Mercado 153 e aceitar o convite para vir para Brasília, ele também foi chef do Quattrino, em São Paulo, e do Il Pescatore, em Recife. Nos dois endereços, o espaço e o menu são um convite a sentar-se, “afrouxar a gravata” e relaxar. O ponto forte é a happy hour. Mas o ambiente casual e descontraído também é inspiração, seja para um almoço, um animado encontro entre amigos, um jantar ou uma reunião de trabalho. Sobretudo na unidade localizada no Brasília Shopping, dividida em três espaços – varanda, térreo e mezanino. Essa proposta versátil está expressa no cardápio, que conta com 13 seções, de caldos, queijos e frios e sanduíches a entradas, petiscos, saladas e uma boa variedade de pratos principais, entre eles o carré de cordeiro ao Barolo, em redução de vinho do Porto, acompanhado de risoto de açafrão (R$ 65 no Aeroporto e R$ 59 no Brasília Shopping). Novembro é o mês da lagosta no Vi-
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Gaia Schüler
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Burrata
Feliz combinação T
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aguatinga é, definitivamente, uma cidade repleta de surpresas que a tornam roteiro obrigatório para quem curte conhecer as redondezas da capital federal – nos feriados, fins, meios e começos de semana, não importa. É cidade com vida própria, independente, comportamento e “way of life” de metrópole que caminha para tornar-se roteiro (quase) obrigatório para exploradores que adoram descobrir novas paragens, fazer compras e, por que não, comer e beber bem, a custos nada assustadores. Bom exemplo disso está na QSA 22, Taguatinga Sul, numa esquina onde um prédio de dois andares, arquitetura moderna, fachada colorida com parede desenhada em estilo que lembra ‘grafite chique’ e dá visibilidade a manequins vestidos com roupas de cores alegres e modelos “up to date”. É a Via Faro, multimarcas feminina pensada para entreter por várias horas as senhoras e senhoritas que pretendem uma repaginação no visual e, como ninguém é de ferro, depois das compras dar um jeito nas madeixas, tomar um drinque, fazer um lanchinho rápido ou uma refeição completa escolhen-
do entre a culinária francesa e a italiana, pratos tradicionais preparados na cozinha comandada pela chef Luiza Nasr, ex-Trattoria 101 e Universal Diner (foto abaixo). Vamos por partes. Essa esquina pertence a Fabiane Rossi, é um projeto arquitetônico assinado por Flávia Nars e Laísa Carpaneda que reúne num mesmo lugar, em espaços distintos, butique com trajes femininos (grifes brasileiras), sapatos, bolGaia Schüler
POR MARIZA DE MACEDO-SOARES
sas (Nathalia Tolentino), ‘bijoux’ de Zeni e Eleonora Hsiung; salão de beleza (Massae Instituto de Beleza) e o simpático Salú Bistrô, um lugar aconchegante com poucas mesas (como convém), cozinha discretamente aparente, cardápio eficiente e adega com rótulos da França, Itália, Chile, Argentina, Espanha, Portugal e Brasil; bebidas sem álcool, bebidas quentes (cafés); sanduíches e padoca; drinques; destilados; cervejas e licores. Adega extensa, generosa, pensada para os que não vivem sem um drinquezinho para terminar o dia. Do cardápio enxuto e eficiente do Salú constam entradas de porções generosas (comem sem reclamar dois gulosos) e preços altamente convidativos, como a burrata preparada como originalmente foi criada, com leite de vaca (R$ 49); o brie ao forno, servido ‘comme Il faut’, com mel e torradas (R$ 22); a polenta ao gorgonzola (R$ 17) e o filézinho Salú, com cogumelos, molho especial da casa e manjericão (R$ 25), apenas para citar quatro. Aos pratos principais também correspondem a fartura, qualidade dos produtos e preços convidativos: por um filé au poivre que vem com molho de grãos de pimenta do reino e acompanhado de risoto de queijo parmesão, paga-se R$ 52; pelos
de moda estão presentes a preços inacreditáveis. 3. Silhuetas mais avantajadas não são problema na Via Faro – feita a escolha do modelito, Fabiane anota as medidas da cliente, vai ao fabricante e encomenda a peça no tamanho maior. Seja ele qual for. Afinal, o direito de escolher o que vestir é absolutamente pessoal. 4. Se o desejo da chique for um traje absolutamente luxuoso, inteiramente bordado, coisa de ir para festa mesmo, não tem problema: Fabiane tem um subsolo repleto dessas preciosidades. Via Faro e Salú Café Bistrô
Gilberto Evangelista
QSA 22, Lote 1, Térreo, Taguatinga Sul (3561.3343)
Filé au poivre
camarões alla siciliana, grelhados com alho, ervas e servidos com risoto de limão siciliano, R$ 62 (o valor mais alto entre os pratos principais); se a escolha for parar no risoto negro com lulas grelhadas no alho, cebola, ervas e tomates confit, o desembolso será de R$ 56; e por um penne al pomodoro e stracciatella, R$ 30. Desnecessário dizer que outros pratos são preparados na cozinha do bistrô. Seus preços e porções igualmente mantêm-se atraentes. Fazem parte do quesito sanduíches os Panino Salú (ciabatta com filezinho de carne, queijo gruyere, rúcula e manjericão, por R$ 22,90); o tradicional Croque Monsieur (R$ 15,90); o Panino Caprese (R$ 18); o Panino de Parma (R$ 25,50) e o Burger Salú (brioche com hambúrger de 180g, gruyere, bacon crispy, tomatinhos confit, rúcula, manjericão molho especial da casa, tudo acompanhado por batata frita, a R$ 29,90). Se a escolha for Padoca, dá para ficar entre croissant, que pode ser o tradicional com manteiga e geleia (R$ 12) ou com doce de leite (R$ 15), e o que vem recheado com gruyère e presunto (R$ 15); os ovos mexidos com torradas (R$ 9,90); quiches de alho poró (R$ 12) ou de bacon (R$ 12,90); cestinha de pão de queijo assado na hora (R$ 13); fatia de bolo do dia (R$ 5) ou um singelo iogurte com frutas e granola (R$ 8). Para finalizar a refeição a casa oferece carrossel de banana ou de brownie (servidos em taças recheadas com bananas ou
Flávia Nars e Laisa Carpaneda assinam o projeto arquitetônico do Via Faro, da empresária Fabiane Rossi. Gilberto Evangelista
Gaia Schüler
brownie, doce de leite na primeira opção, brigadeiro na segunda, sorvete de creme e finalização com chantilly nas duas), por R$ 19; panqueca de dulce de leche acompanhada de sorvete (R$ 24); brigadeiro para comer de colher (R$ 5,50); pão de mel de receita guardada a sete chaves (R$ 5) e palha italiana, receita tradicional da família Crosara (R$ 6). Impossível encerrar sem importantes informações adicionais: 1. Para os absolutamente frugais, o Salú reserva duas saladas – a Caesar (R$ 26,90) e a Salú (R$ 32). 2. Nas araras e prateleiras, no espaço fashion, as marcas brasileiras mais badaladas e de destaque em nossas semanas
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Virtudes e defeitos T
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he Vintage Dining Bar, que abriu as portas em outubro, na 115 Norte, nos convida a uma reflexão sobre algo mais do que a abertura de um novo restaurante. Ele nos convida a pensar sobre a complexidade que envolve a abertura de um restaurante. A nova casa possui um cardápio contemporâneo consistente e aberto a diferentes gostos – incluindo opções para vegetarianos, como bruschettas de shitake e ravióli de brie, alho-poró e amêndoas. Os preços são justos, e até mesmo em conta, quando comparados com outros menus contemporâneos por aí. Os couverts não passam dos R$ 20, os pratos principais flutuam abaixo dos R$ 50 e há pratos para duas ou três pessoas que não ultrapassam os R$ 100. Nem por isso as porções deixam a desejar no tamanho. O chef Fábio Marques – do Café Vanilla, na AOS 4/5 da Octogonal – toca toda a criação e idealização com a avidez de um jovem mestre-cuca que já passou por cozinhas nos Estados Unidos, Austrália e Brasil, somando ao currículo participação na cozinha do duas estrelas Michellin D.O.M., de Alex Atala. Como todo jovem chef que conseguiu, com suor e criatividade, adquirir muita experiência rapidamente, Fábio aventura-se por entradas como churros salgados de batata com molho de queijo, ao mesmo tem-
po em que se esmera em um boeuf bourguignon, receita tão francesa quanto a própria Paris. Enfim, o lugar possui um ambiente aconchegante, com uma meia-luz propícia ao romance que pouco se acha por aqui (talvez nas esparsas casas de fondue), além de uma carta de drinks relativamente convidativa – e barata (o Negroni é o item mais caro, saindo a R$ 24). No entanto, isso é o suficiente? Abrir uma casa é como fazer uma maquete que, ao se colocar a última peça, está terminada? Ou é mais como uma daquelas fantasiosas máquinas de Goldberg nas quais uma série de itens se combinam em uma geringonça que funciona por si só, mas que exige que todos os componentes estejam no lugar? The Vintage ainda tem falhas. Algumas delas estão na ausência de vários ingredientes, situação contornada por um dos serviços mais atenciosos e pacientes que já encontrei em Brasília. Outras estão no preparo de alguns pratos, ainda não afinados como deveriam – e aqui aponto o boeuf bourguignon, especificamente. Um prato demasiado consistente para um preparo displicente. Ora, é claro que toda nova casa demanda um tempo. Não há restaurante que abra funcionando como um relógio. Há o tempo de adaptação do cardápio aos clientes, da equipe à demanda, da cozinha às receitas. Um restaurante é um
projeto em eterno acabamento, uma escultura quase perfeita, que a cada dia exige uma demão a mais de tinta aqui e uma suavização na superfície ali. The Vintage é um exemplo perfeito de um lugar assim, para o qual a calma honesta é tão importante quanto o afã criativo. Há tempo para tudo, e é de se esperar que apure suas engrenagens para aguçar nosso paladar, como tanto promete. Uma nova casa que, como toda nova oportunidade na cidade, tem tudo para nos surpreender. Desejamos, assim, boa sorte e até a próxima visita. Fotos: Mael Santos
POR VICTOR CRUZEIRO
The Vintage Dining Bar
115 Norte, Bloco C (3039.4511) De segunda a sábado, das 9 às 23h30.
Fotos: Divulgação
Bíblia dos cervejeiros E
m 2009 foi lançada a primeira enciclopédia sobre cerveja em língua portuguesa, compondo a linha editorial da famosa editora francesa Larousse. Para surpresa de muitos especialistas, essa obra não foi escrita por um alemão nem por um belga, mas por um brasileiro, Ronaldo Morado, um mineiro de Belo Horizonte apaixonado por bares e pubs, residente em Brasília. Aquela primeira edição, com mais de 360 páginas amplamente ilustradas, superou as expectativas de venda iniciais: foram vendidos quase 50.000 exemplares até o ano passado. No meio cervejeiro é adotado como livro de referência em todos os cursos sobre o assunto no Brasil e é considerado uma “bíblia” sobre a cultura cervejeira. Chegou agora ao mercado a segunda edição dessa obra, totalmente atualizada e ampliada. Ao longo de suas 440 páginas ricamente ilustradas, o livro apresenta
um panorama completo sobre a cultura cervejeira, dos seus primórdios aos dias atuais. Traz os detalhes sobre fabricação (matérias-primas e processos) e viaja pelos ambientes típicos, utensílios e serviços adequados, mostrando, inclusive, a diversidade dos copos e os que combinam melhor com os vários estilos de cerveja. A versão atual da Larousse da cerveja traz também um capítulo sobre a cena cervejeira atual no Brasil e suas tendências. Além disso, o capítulo referente aos estilos de cerveja foi completamente atualizado de acordo com as diretrizes do Beer Judge Certificate Program (BJCP), o maior e mais renomado programa de certificação de avaliadores de cerveja do mundo. No âmbito da degustação, o livro descreve em detalhes as características e as propriedades de cada um dos mais de 100 estilos de cerveja classificados, indicando exemplos de produtos brasileiros e estran-
geiros, para que o leitor possa reconhecer as sutilezas de cada estilo pelo próprio paladar. O capitulo sobre gastronomia e cerveja é uma referencia para o leitor. É uma obra de leitura fácil e de riquíssimo visual. Contém muitas informações e curiosidades que configuram as tradições da cultura milenar dessa bebida que é a mais consumida no mundo, depois da água e do chá. Ronaldo Morado, morador de Brasília há 11 anos, testemunhou o crescimento do movimento cervejeiro na cidade e é um grande fomentador do ambiente de negócios da cerveja por aqui. É consultor, palestrante e um dos colaboradores da Roteiro, onde assinou a coluna Happy Hour, sobre bares e cervejas. Larousse da cerveja – 2ª edição
Ronaldo Morado Editora Alaúde, 440 páginas, R$ 119,90. À venda nas livrarias Cultura, Leitura, Saraiva etc.
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Pedro Santos
Pedro Santos
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Guloseimas sem leite T
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odo mundo conhece alguém que não pode comer isso ou ter contato com aquilo. Mas só quem tem alguma restrição alimentar – ou convive com quem tem – sabe como é ruim se privar de certas delícias do mundo gastronômico e até de algumas coisas simples do dia a dia. A previsão da Organização Mundial de Saúde (OMS) não é nada otimista: em 2050, 50% dos brasileiros serão alérgicos. Atualmente, de acordo com a Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (Asbai), pelo menos, 30% dos brasileiros sofrem com algum tipo de alergia. E alergia é coisa séria. Em alguns casos, pode até matar. Quando a restrição é alimentar, sofre o alérgico e também a família. Ao receber o diagnóstico do filho, de alergia à proteína da vaca, a jornalista Paula Andrade precisou revolucionar não apenas a dieta, mas os hábitos e a vida social. Diferentemente da intolerância à lactose (açúcar do leite), causada pela falta da enzima lactase para quebrá-la, essa alergia é uma reação do organismo à caseína, proteína encontrada no leite de vaca. Paula teve que cortar leite, derivados e até mesmo carne de vaca. Da peleja diária para evitar as reações em seu pequeno, a jornalista conheceu a chef pâtissière Inaiá Sant’Ana, que comanda a Quitutices, uma confeitaria artesanal de produtos sem glúten e sem lácteos, localizada na 216 Sul, também inspira-
da pela busca de receitas mais saudáveis em razão das restrições alimentares da filha da proprietária, quando mais nova. Por isso, ao ter a ideia de escrever um livro que reunisse receitas específicas para mães e crianças com a mesma luta, a confeiteira foi logo convidada a fazer parte da publicação e assinar a seção de doces, que ainda têm o diferencial de serem sem glúten. Os demais preparos são livres de leite e derivados, mas também muito saborosos. Batizada de Não contém leite: o livro de receitas do APLV, a obra reúne cerca de 40 elaborações, entre entradas, pratos principais e sobremesas. O leite de vaca está entre os ingredientes mais utilizados na gastronomia. E, como o único tratamento indicado para a alergia ao alimento é sua retirada da dieta, a dificuldade para comer já começa aí. Por isso, o primeiro preparo ensinado no livro é o leite vegetal de arroz, amêndoas, castanhas, coco, aveia e inhame, além de requeijão de palmito e creme de leite de castanha de caju. Tem para todos os gostos. A seção Doces e sobremesas promete dar tranquilidade e alegria a quem sofre com a restrição. A chef Inaiá Sant’Ana traz receitas exclusivas da Quitutices, que já são sucesso na loja. Entre elas, brownie de chocolate, bolo de limão siciliano, cookie de três sabores (chocolate, baunilha e laranja), pudim de ‘leite’, brigadeiro de leite de castanhas e mousse de
chocolate, com ou sem ovo. Há ainda sugestões de entradas, com opções como pastas, caponata e ceviche. Entre as proteínas, há preparos de carnes vermelhas e brancas, de pernil suíno assado com abacaxi e arroz cremoso de carne seca a bobó de frango e minigratinado de bacalhau. Grandes aliadas dos alérgicos a leite de vaca, as massas aparecem com dicas de molhos e recheios. Tudo construído com a colaboração do personal chef Paulo de Tarso. Completam a lista de delícias receitas de pães e lanches, que estão entre as maiores dificuldades de quem precisa eliminar o leite. Biscoito de polvilho, crepioca e cuscuz de milho com tomate são algumas das possibilidades.
Não contém leite: o livro de receitas do APLV
Paula Andrade, com receitas de Inaiá Sant’Ana. Editora Senac, 169 páginas, R$ 84,90. À venda na Quitutices (216 Sul, Bloco A, Loja 12) e em livrarias.
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Índia e Tailândia O nome, o endereço e o conceito gastronômico mudaram, mas quem continua comandando a cozinha – e o próprio restaurante – é Arjun Khajuria, chef e proprietário do indiano Ashram, que ficava numa esquina da 103 Norte. Instalado agora no Bloco C da 408 Sul (tel. 3242.7271), o Kannika se diferencia de seu antecessor por oferecer também pratos da cozinha tailandesa. No almoço é servido um bufê com mais de 40 itens, ao preço fixo de R$ 40 ou R$ 60 o quilo; no jantar, pratos mais elaborados, como o khao pad sapparod, com camarão, arroz jasmine frito com ovo, cebola, abacaxi, amendoim, castanha de caju, ameixa seca e vegetais misturados (R$ 45, para duas pessoas), e o chicken tikka masala, cubos de frango assados no tandoor, misturados em molho de tomate e especiarias (R$ 65, também para duas pessoas). Para coroar a noite, uma grande variedade de guloseimas (foto), entre elas o gulab jamun (bolinhas airadas à base de leite e semolina mergulhadas em calda de rosas) e o gajar halwa (doce de cenoura cozido ao leite e mel), ambos por R$ 12.
cozinha clássica, mas ela pode se renovar, ficar mais atrativa e moderna”, afirma Celso Jabour, fundador da Sweet Cake. Júlia é brasiliense, formada em gastronomia no IESB e com passagem pelas cozinhas dos chefs Alex Atala e Helena Rizzo, em São Paulo. Matheus Brito é de Natal e conheceu Júlia no Hotel Escola Senac, em São Paulo, de onde seguiram juntos para o Peru, onde ambos trabalharam no Astrid y Gaston, do batalhado chef Gastón Acurio e de sua esposa Astrid Gutsche.
Novo prato Angosto com arroz de charque (R$ 54) é a mais nova estrela do cardápio do Dom Francisco da Asbac (SCES, Trecho 2, tel. 3224.8429). O agosto, ou chorizo, é um corte da traseira do boi, de sabor acentuado e com uma camada de gordura lateral que mantém a umidade da carne. O sommelier Leonildo Santana indica dois vinhos para acompanhar o prato: o brasileiro Quinta do Seival Castas Portuguesas 2013 (R$ 118) e o chileno Caliterra Reserva 2015 (R$ 110).
Doce novembro
Johnnie Burguer Depois de Sudoeste, Águas Claras, 312 Sul, Taguatinga e Guará, chegou a vez do Conjunto Nacional receber a primeira unidade em shopping da rede Johnnie Special Burger. Com 200m2 e capacidade para 64 pessoas, a nova loja se divide em dois ambientes: um na parte interna do shopping e outro na varanda gourmet (foto). A próxima unidade será no Venâncio Shopping.
Rafael Lobo - Zoltar Design
Erivelton Viana
Parece nome de comédia romântica americana, mas trata-se, na verdade, da promoção do mês do Villa Tevere (115 Sul, Bloco A, tel. 3345.5513). São nada menos que 17 sobremesas pela metade do preço, de segunda a quinta-feira: cheesecake limoncello (foto) petit-gâteau, sorvete de pistache com calda de caramelo e café, brownie de chocolate e nozes com sorvete de doce de leite, banana flambada, crepe de nozes ao molho de laranja, marquise gelada de chocolate com sorvete de nata, profiteroles, tiramisú... e por aí vai, para alegria dos chocólatras.
“Nossos doces são diferenciados”, diz Liara Souza, empresária que fundou a Petit Cake em 2014 em Votuporanga (SP). A história da marca é meteórica em tempos de turbulência econômica: existem 16 franquias e previsão de atingir 60 lojas no Brasil em dois anos. No Distrito Federal, a grife aportou em Águas Claras (Rua 7 Norte, Max Mall, tel. 3547.8978) e já provoca algazarra entre as crianças. O cardápio é uma lista de doçuras que transbordam em grandes taças, formadas por brownie, sorvete e cobertura (a Magnata custa R$ 41,90 e a Suprema R$ 44,90). “O cliente é que faz a combinação”, explica a franqueada brasiliense Thaiane Porto. Entre as escolhas estão sorvetes nacionais com creme de Ninho, Ovomaltine, Nutella, Kinder Bueno, chantilly e mousse de Suflair. “O brownie é receita de família”, completa Thaiane. O bolinho simples sai a R$ 13,90 e o Do Chef a R$ 29,90. Funciona de segunda a sexta, das 10 às 23h; nos fins de semana, abre às 8h30 para o café da manhã.
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Rômulo Juracy
Petit Cake
Força jovem Dois jovens chefs reforçam a equipe do Sweet Cake, um dos mais tradicionais bufês da cidade. Júlia Almeida, de 27 anos, e Matheus Brito, de 23 – passaram a prestar serviços de consultoria em diversos setores da empresa, criando novos pratos e implantando novas técnica na cozinha. “Uma cozinha clássica será sempre uma
Jeronimo Assim foi batizada a terceira marca gastronômica criada pelo chef Junior Durski, do Madero, direcionada ao público jovem, os chamados millenials (geração Y). Segundo Durski, o Jeronimo mantém o padrão de qualidade do Madero, mas oferece um ambiente mais descontraído e uma grande variedade de hambúrgueres com apenas 15% de gordura (metade do habitual) ao preço de R$ 19, além de saladas e vinho em taça. A primeira unidade foi inaugurada no final de outubro no shopping Estação, de Curitiba. A segunda será, muito apropriadamente no Pier 21, um dos principais points de adolescentes brasilienses.
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GARFADAS&GOLES
Entre os melhores e mais caros
LUIZ RECENA
lrecena@hotmail.com
Comida japonesa e champanhe francês? Estranho... ao menos para os clássicos. O convite, no entanto, trazia alta linhagem e fina estirpe: assinado pela Solos, os importadores Pires de Sá, a Casa Valduga e a Domno Importadora, do grupo da vinícola. Local da contenda: a nova joia da coroa do Pontão do Lago Sul, o belo e agradável restaurante Soho. As armas e os barões, diretamente da região francesa de Champagne, com 13 gerações ou 250 anos de tradição, três tipos borbulhantes de Armand de Brignac, apresentados como figurantes do exclusivo grupo dos mais refinados e mais caros do mundo. E com comida japonesa? Pois é... o colunista se confessa pouco admirador dos manjares do país do sol nascente, o que não quer dizer, nem de longe, que isso signifique ficar de costas e fechar a boca, trincar os dentes e nada degustar. Muito ao contrário. Tratava-se de encarar, de frente, vários ícones. E com a boca bem aberta.
ENTÃO COMEÇAMOS: os 14 pares do reino sentaram-se à távola retangular e o serviço do Soho abriu com um sushi de atum com fatias de caju, foie gras, geleia de rubras e ovas; seguido por carpaccio de salmão com limão siciliano, azeite trufado e azeitonas verdes picadas. O primeiro Armand de Brignac mostrou a cara: um brut gold. Sen-sa-cio-nal! Assim mesmo, com as sílabas espaçadas. O “gold” é a cor da garrafa, dourado-metálicobrilhante. Jesus, Maria, José! Até um velho bolchevique apela a possíveis aliados católicos. E pensei no abade Dom Perignon, aquele que reza a lenda fechou os olhos e bebeu estrelas quando abriu a primeira garrafa de espumante. Enfrentei os primeiros e harmoniosos pratos bebendo de olhos fechados e, a cada novo encher de taças, olhando a garrafa de soslaio. Até acostumar. Não foi difícil. O homem é um animal domesticável, ainda bem. OS SEGUNDOS PRATOS foram sashimi de salmão, atum e robalo; e carpaccio de polvo. E com eles a bela surpresa da noite, o brut rosé. Marravilha!, diria o gaulês da televisão. Sem dúvida. Sensível, delicado e, ao mesmo tempo, untuoso e sólido. Juntou-se ao primeiro para um doublé perfeito. E a garrafa? Bem, um rosa-metálico-brilhoso-cheguei! Feche os olhos, meu bem. E durma pensando nas estrelas. O conteúdo da garrafa é bem capaz de levar você ao céu. POR FIM, o terceiro e último prato, um ceviche. Um tanto carregado na pimenta, como deve ser, quase em choque com o paladar do derradeiro néctar de Armand de Brignac, o Blanc de Blancs. Mineral, redondo, estrelas puras, mui digno represen-
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tante das montanhas de Reims. Um líquido para ficar na memória. Os três, na verdade, devem ocupar lugares nobres na galeria dos sentidos. A cor da garrafa é prateado-metálico, mais discreto. Os três também trazem o monograma da casa, uma flor de lis, da nobreza de França, que lembra um ás de copas. A ROUPAGEM dos magníficos borbulhantes franceses, contou um jovem e estudioso enólogo, privilegia o mercado dos Estados Unidos, onde contam com a preferência de famosos tipo Lebron James, Di Caprio, George Clooney, Luis Figo, golfistas e outros artistas da tela, das quadras e dos greens (há uma garrafa verde também, que não veio). Beyoncé e Jay-Z também estão no grupo. Dizem que o casal investiu pesado nos vinhedos da família Cattier, dona da marca. A INTRIGA diz que os dois teriam sido preteridos pelos marqueteiros da casa Cristal, em recente escolha para estrelar filmes publicitários. Irados, foram à forra investindo na concorrência. O champanhe Cristal é tido como o melhor do mudo e também o mais famoso. Disputa fama ( e preço) com o Krug. A memória pode falhar, mas Armand de Brignac, por mais recente e presente, nada deve aos outros dois. Dois especialistas do ramo, consultados pelo colunista, primeiro estranharam as cores, depois pesquisaram. O veredito: Armand de Brignac está mesmo nas alturas e foi ungido pelos maiores papas da crítica europeia. O abade dom Perignom mais do que merece missas. Santé! PREÇOS: o primeiro, R$ 2.100; o segundo R$ 2.300; o terceiro, R$ 2.800. Há desconto na segunda garrafa.
PÃO&VINHO
Giro d’Italia Assim como o Tour de France, o Giro d’Italia é a mais importante prova de ciclismo que se realiza anualmente na nossa querida bota. Não sendo, todavia, afeto de pedalagens, utilizo aqui o nome famoso para introduzir o meu esporte preferido a ser realizado pela Itália: um verdadeiro “alterocopismo” em uma rodada por aquele belíssimo país através de alguns de seus mais deliciosos vinhos. Desta feita, vamos nos concentrar na Toscana, no Veneto e no Piemonte. Da Toscana, é claro, os indefectíveis Brunellos di Montalcino. Selecionei nada menos que três belos exemplares. Primeiro, um Poggio Degli Ulivi 2006. De cor rubi intensa e reflexos levemente alaranjados, aromas típicos de frutas vermelhas maduras, palato macio e saboroso. Precisa de umas duas horas de oxigenação, mas aí se torna muito agradável. Vai bem com carnes de caça, massas com molhos vermelhos intensos e queijos maduros. Depois, o bem conhecido entre nós Lagerla 2009. De cor rubi suave, traz aromas de cereja, alcaçuz, couro e tabaco. Na boca tem agradável toque terroso, é equilibrado e saboroso. Vai muito bem com una bela pasta a la bolognesa. Por fim, um Podere la Vigna 2012. Ainda novo, mas já saboroso. Rubi brilhante, com especiarias, tabaco e claros aromas de húmus. Na boca traz taninos sedosos e memória de carne curada e ameixa, com final frutado e longo. Grande vinho. Melhor em cinco anos. Primo-irmão, por assim dizer, dos Brunellos, de uma
ALEXANDRE FRANCO pao&vinho@agenciaalo.com.br
aldeia vizinha, os Vino Nobile di Montepulciano também são uma grande escolha. Trouxe aqui um Dei Bossona Riserva 2006. Rubi brilhante, aromas de frutas negras maduras, com cereja e alguma pimenta. No palato é macio e gostoso, com toque licoroso, herbáceo. A madeira foi muito bem trabalhada e está corretamente presente. Pronto para beber com grande prazer. Depois, uma passada pelo Vêneto, degustando um dos grandes Amarones daquela região, o Simison 2013. Nada menos que 98 pontos de Luca Maroni. De cor escura, impenetrável, já mastigável ao olhar. Eleito melhor italiano de 2016 por Luca Maroni. O nariz é de frutos secos, couro, amoras e cerejas negras, com toque balsâmico e apimentado. Tem palato intenso e doce. Vai muito bem com molhos al funghi. Vinhaço! Por fim, passamos pelo Piemonte, mas não nos seus tradicionais Barolos e Barbarescos. Nem mesmo pelos Dolcetos e Barberas, mas fomos ali descobrir uma uva rara que cria um vinho delicioso. O Vigalón Giorgi 2012, da Província de Pavia. Um corte de 20% de Barbera e 80% da Croatina. Um exemplar do Piemonte que lembra muito os vinhos da Toscana. De cor rubi com reflexos roxos, aromas de cerejas e amêndoas e um palato muito saboroso e gastronômico. Com apenas 12% de álcool, é um verdadeiro frescor para os palatos modernos. Muitíssimo bom, e ainda por cima barato. Grande escolha. A Italia é infinita em vinhos e um “giro” por esses caminhos pode ser eterno. Assim, temos de escolher alguns a cada vez. No futuro traremos mais.
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DIA&NOITE
músicadeBrasília
belezapantaneira André Dib
arteindígenaemvidro A proposta da artista plástica Suzana Dourado é conectar referências de etnias que vivem na região dos rios Araguaia e Tocantins com a técnica de fusão de vidro tradicional dos artesãos italianos de Murano. Até 16 de dezembro ela expõe seu trabalho – 30 caçarolas de vidro com design e simbologia indígena e 20 artefatos femininos – no CTJ Hall (706/906 Sul). Formada em Belas Artes pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Suzana começou sua carreira com pintura em tela e painéis, mas há 15 anos se apaixonou pelo vidro. “O vidro exige paciência, pesquisa, imersão. Utilizo uma técnica milenar, mas todo vidreiro tem seus segredos. O colorido da peça é milimetricamente pensado e o resultado sempre surpreende”, revela. De segunda a sexta-feira, das 9 às 21h, e sábado, das 9 às 12h. Entrada franca.
São nada menos que 3.500 espécies de plantas aquáticas e terrestres, 656 de aves, 325 de peixes, 159 de mamíferos, 98 de répteis e 53 de anfíbios. Toda essa riqueza de fauna e flora está em Pantanal: bioma de beleza inigualável, exposição organizada pelo WWF-Brasil em cartaz até 29 de novembro no CasaPark. São 17 fotografias de André Dib, um retrato da rica biodiversidade da região. A relação de André com o Pantanal começou em 2013, quando viajou pelo bioma para fazer seu primeiro registro. Desde então, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul entraram para seu roteiro de trabalho. Este ano fotografou as principais ações do Programa Cerrado Pantanal do WWF-Brasil. De acordo com o coordenador desse projeto, Julio Cesar Sampaio, “o Pantanal é a maior área úmida continental do planeta, sendo um imenso reservatório de água doce de grande importância para o suprimento de água, a estabilização do clima e a conservação do solo”.
Esse é o nome do CD e agora do mais novo DVD a ser lançado pelo pianista José Cabrera, dia 24, às 20h30, no Teatro Sílvio Barbato do Setor Comercial Sul. Mais conhecido por suas músicas instrumentais, o pianista uruguaio que escolheu Brasília pra morar apresenta composições cantadas por sua filha, Laura Lobo, e convidados especiais que têm relação com sua carreira de 40 anos. O CD Vínculos nasceu em 2013, com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC/ DF). Já o DVD com 14 faixas foi gravado no teatro SESC Ceilândia com a participação dos músicos brasilienses Paulo André Tavares (violão), Oswaldo Amorim (contrabaixo), os filhos, Amaro Vaz (bateria) e Laura Lobo (voz), além de Júnior Ferreira (acordeon), Victor Angeleas (bandolim), Pablo Fagundes (gaita), Moisés Alves (trompete e flugelhorn), Sidnei Maia (flautas) e os integrantes da banda Ataque Beliz, Higo Melo (voz) e Thiago Jamelão (guitarra). Entrada franca.
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Arquivo pessoal Carmem Teresa Manfredini
A foto em preto e branco é do acervo de Carmem Teresa Manfredini, irmã do compositor e cantor Renato Russo. Ela está no livro Do Peixe vivo à geração Coca-Cola: música em Brasília 19601980, de Fátima Bueno, lançado no dia 7 de novembro, e na exposição de mesmo nome que fica em cartaz até 10 de dezembro no Museu da República. Publicado pela MusiMed, o livro reúne 70 entrevistas com personalidades da música brasiliense, entre elas Levino de Alcântara, Gisèle Santoro, Jorge Antunes, Emilio de Cesar, Néio Lúcio, o pessoal da banda Margem, do Liga Tripa, do choro, Jamelo do Baião, a família Tavares e outros personagens da cena musical brasiliense. Quando terminou seu primeiro livro, Estou na quadra, em 2010, Fátima buscou um novo projeto que também falasse sobre Brasília. Como frequentava o bar Grao, no final do Lago Norte, encontrava a velha guarda do choro – Pernambuco do Pandeiro, Walcyr Tavares, Coqueiro, Fernando Lopes, com suas histórias do Catetinho, do Clube do Choro, da Rádio Nacional. “Cheguei a Brasília em 1960, ainda criança, e acompanhei diversos movimentos musicais na cidade. Não havia ainda uma história desses tempos e a ideia logo me fisgou”, explica. O livro custa R$ 50 e está à venda na MusiMed (505 Sul).
nós
abaixoomoralismo “Nós queremos mostrar que a exibição da genitália não é pornografia”, explica Alexandre Ribondi, diretor da peça Virilhas, em cartaz até dia 19 na Casa dos Quatro (708 Norte).Em cena, dois homens vivem uma intensa história de amor, paixão e sexo. Por isso mesmo, estão nus durante toda a apresentação, "para representar a vitória do corpo sobre o pudor mal-cheiroso e a pálida moral dos infelizes". O ator Fernando Oliveira vive a personagem que é o amor. O amor descontrolado, forte, que grita o seu nome, que morde e, sobretudo, que incomoda a quem não quer se dar o trabalho de amar. É ele quem pergunta, aos berros: “O que é sentir preguiça de gostar?”. E Luís Ferrara é o outro, o que não quer ser incomodado, que aceita a superficialidade do corpo e das emoções. A peça, que já passou por outras temporadas em Brasília e em São Paulo, retorna “com a intenção de desafiar e se levantar contra o avanço da moral sombria e oportunista do século XXI”, conclui o diretor. As reservas podem ser feitas pelo e-mail desvioproducoes@gmail.com para a compra de ingressos a R$ 20. Na bilheteria, custam R$ 40. De sexta a domingo, sempre às 20h.
Enquanto preparam a última sopa de suas vidas, sete pessoas partilham angústias, algumas esperanças e muitos nós. Para comemorar os 35 anos de vida, o grupo mineiro Galpão apresenta seu 23º espetáculo, que debate questões atuais como violência, intolerância e convivência com a diferença, tudo isso a partir de uma dimensão política. Na peça Nós, em cartaz na Caixa Cultural de 24 de novembro a 3 de dezembro, a plateia será convidada a presenciar situações de opressão e de convívio com a diferença, provocadas pelas relações de proximidade entre artista e espectador, ator e personagem, cena e plateia, público e privado, realidade e ficção. Com direção de Márcio Abreu, o espetáculo estreou em 2016 a partir de um mergulho radical na experiência do grupo. Sextas-feiras, às 20h, sábados, às 17 e 20h, e domingos, às 19h. Ingressos: R$ 20 e R$ 10.
Guto Muniz
Um convite para uma festa surpresa. No menu, estrogonofe de frango, com opção vegana, além de um drinque de melancia, água, café e muita, mas muita conversa. Em Janta (2) – A ratoeira, o Grupo Liquidificador recebe o público para uma refeição intimista e íntima, em mais um projeto no qual o coletivo explora formas de se relacionar com a plateia. A peça dá continuidade ao que o grupo carinhosamente chama de espetáculos comestíveis, sempre com direção de Fernanda Alpino. Em Janta (1), de 2015, a atriz Karinne Ribeiro capitaneou uma conversa entre amigos sobre relacionamentos. Desta vez, Fernando Carvalho será o anfitrião da noite. Junto com a diretora, o ator e dramaturgo pega emprestados trechos e imagens de Hamlet, de Shakespeare, e Senhora dos afogados, de Nelson Rodrigues, para dar suporte ou contraponto ao seu discurso. Numa brincadeira de tentar entender o que seria o “ser ou não ser” num contexto atual, a dupla compartilha com o público, que faz as vezes de convidados do jantar, questões sobre os papeis de gênero dentro da estrutura familiar. Até dia 26, sempre de sexta a domingo, às 20h, no Setor de Indústrias Bernardo Sayão, quadra 3, conjunto C, lote 1, Núcleo Bandeirante. Os ingressos custam R$ 30, com direito ao jantar.
Michael Melo
Pedro Tobias
espetáculocomestível
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missãoimproviso “O espetáculo se desenrola em um local não revelado, com agentes que ainda não sabemos quem são. Eles encontram algo que, por enquanto, ninguém sabe o que é”, afirma Daniel Villas Bôas sobre o espetáculo que a Cia. de Comédia Sete Belos apresenta dias 2 e 3 de dezembro no teatro do Brasília Shopping. No roteiro de Missão improviso há ainda “uma ameaça que ninguém tem conhecimento do que se trata, e que pode acabar com algo que não foi sequer pensado”, brinca o comediante. Na segunda temporada do espetáculo, os espectadores sugerem temas e tudo é criado na hora, por mais improvável que seja o desafio. “Cenários, ameaças, artefatos, tudo o que você pensar e nossos agentes imaginarem pode vir à tona. Quanto mais impossível, mais improviso”, explica outro integrante do grupo, Daniel Lima. No sábado, às 21h, e no domingo, às 20h. Ingressos a R$ 15 mediante entrega de 1kg de alimento não perecível. Informações: 99212.9500.
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teletransporte Atire a primeira pedra quem nunca se pegou pensando em como seria bom ser transportado de uma cidade para outra sem precisar se locomover a pé, de carro, ônibus, trem, navio ou avião. Pois é exatamente essa possibilidade até agora um tanto quanto impossível que moveu a artista plástica e arquiteta brasiliense Gabriela Bilá a realizar a mostra Teleport City, em cartaz no Museu da República até 5 de dezembro. O projeto concebe um mundo a partir da hipótese da invenção do teletransporte, uma metáfora sobre um possível transporte de massa ilimitado e instantâneo. A mais radical revolução no tempo e no espaço possibilita à humanidade diversas experiências culturais. Novas formas de morar, transformações no espaço urbano, relações entre histórias e culturas, movimentos sociais pela defesa do ciclo biológico da vida humana, novas patologias – enfim, questões cotidianas, culturais, sociológicas e antropológicas encontram-se cingidas por uma trama futurista. “Essas hipóteses que estavam em formato de textos e desenhos foram transformadas em cinco instalações que fundem arte e tecnologia com obras que incluem recursos como o video mapping e sistemas mecatrônicos", explica Gabriela Bilá. De terça-feira a domingo, das 9 às 19h30. Entrada franca.
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contraponto Esse é o nome da coletiva em cartaz no Museu da República até 25 de fevereiro de 2018. Com curadoria da historiadora Tereza de Arruda, é composta por obras da coleção do advogado brasiliense Sérgio Carvalho, um acervo de mais de 1.900 trabalhos de 164 artistas brasileiros, sendo que 33 deles estarão representados na mostra: Antônio Obá, Berna Reale, Bruno Vilela, Camila Soato, César Meneghetti, Daniel Murgel, Delson Uchôa, Elder Rocha, Emmanuel Nassar, Fábio Baroli, Fábio Magalhães, Flávia Junqueira, Flávio Cerqueira, Floriano Romano, Gil Vicente, Gisele Camargo, Grupo EmpreZa, Hildebrando de Castro (foto), James Kudo, João Angelini, José Rufino, Laura Gorski, Lucia Koch, Manoel Veiga, Marcelo Silveira, Milton Marques, Nelson Leirner, Renato Valle, Rochelle Costi, Rodrigo Braga, Sofia Borges, Thais Helt e Tony Camargo. De terça-feira a domingo, das 9 às 18h, com entrada franca.
De 21 de novembro a 10 de dezembro o CCBB apresenta uma retrospectiva inédita do cineasta britânico John Akomfrah, realizador pioneiro na abordagem das ramificações contemporâneas do colonialismo e da dominação racial. A mostra incentiva o debate durante o mês da Consciência Negra e traz ao Brasil, pela primeira vez, o renomado historiador de arte Kobena Mercer (da Universidade de Yale). Especialista em autores e obras sobre diáspora africana nos Estados Unidos e no Reino Unido, ele apresenta aula magna sobre a obra de Akomfrah em 28 de novembro, às 19h30. São 19 filmes, entre longas, médias e curtas-metragens, incluindo seus primeiros trabalhos realizados no influente coletivo Black Audio Film Collective (BAFC), do qual foi membro fundador. http://culturabancodobrasil.com.br
telaemdebate Evento gratuito e aberto ao público, o 2º Encontro entre TELAAS ocupa diversos espaços da UnB entre 21 e 23 de novembro para discutir conceitos, formatos, trajetórias, impressões, transformações e as projeções para o futuro sobre diversas manifestações artísticas e culturais que têm, de alguma maneira, a tela como suporte. Entre os convidados estão Thierry Raspail, diretor do Museu de Arte Contemporânea de Lyon, o consagrado quadrinista brasileiro Marcello Quintanilha (foto), a atriz mineira Regiana Antonini (atualmente na televisão com a personagem Neide, na novela Pega pega), o psicanalista Christian Dunker e o premiado escritor Jacques Fux. Informações e inscrições em telaa.com.br.
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Hildebrando de Castro
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Naiara Pontes
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máquinadelivros A engenhoca já está circulando em São Paulo, São Bernardo do Campo, Itu e Salto, mas bem que poderia desembarcar no nosso Planalto Central qualquer dia desses. Tão simples quanto original, a Incrível Máquina de Livros estaciona numa praça qualquer de uma cidade e imediatamente atrai a curiosidade das pessoas que passam por ela. Logo elas descobrem o seu funcionamento. Basta levar um livro novo ou usado em boas condições e inseri-lo na máquina. Como num passe de mágica, esse leitor recebe outro livro que pode levar pra casa. Simples assim. Em um mundo cada vez mais conectado e digital, o projeto da Câmara Brasileira do Livro é um ovo de Colombo capaz de promover o incentivo à leitura em crianças, jovens e adultos.
Bia Parreira
todososchoros O violonista paraense Sebastião Tapajós, o maestro e saxofonista pernambucano Spock, o bandolinista baiano Armandinho Macedo, o violonista carioca Maurício Carrilho, com participação especial do clarinetista carioca Paulo Sergio Santos, o pianista mineiro Wagner Tiso (foto), o bandolinista paulista Danilo Brito e o professor gaúcho Luiz Machado, do Rio Grande do Sul, participam do projeto Brasil de todos os choros – Origens, sotaques, encontros e caminhos, um mapeamento inédito dos diferentes estilos do choro em cada região do país, com suas histórias, influências e peculiaridades. O propósito do Clube do Choro é democratizar o estudo do choro por meio de oficinas e shows que acontecerão entre 21 de novembro e 22 de dezembro, a partir das 20h. As palestras e as oficinas serão gratuitas e quem delas participar pagará meia entrada (R$ 20) nos shows. Inscrições na secretaria do Espaço Cultural do Choro. Informações: 3225.1199.
brasíliaesflamenca
gisberta Nick El-moor
Uma mistura de política, história, música, teatro, poesia e ficção. Assim é o espetáculo Gisberta, que conta a história de uma brasileira vítima da transfobia que teve morte trágica em 2006 no Porto, em Portugal, após ser torturada por um grupo de 14 menores de idade. É Luis Lobianco, integrante do grupo Porta dos Fundos, quem encarna a personagem, num monólogo baseado em fatos reais. Idealizada por ele, com direção de produção de Cláudia Marques, texto de Rafael Souza-Ribeiro e direção de Renato Carrera, a obra conta a trajetória da caçula de uma família com oito filhos que já na infância dava sinais de que estava num corpo que não correspondia à sua identidade. Após a morte do pai, Gisberta deixou os cabelos crescerem definitivamente. Em 1979, aos 18 anos, quando suas amigas morriam assassinadas, na capital paulista, com medo de ser a próxima vítima, deixou o Brasil rumo a Paris. Mais tarde, já depois de realizar tratamento hormonal e fazer implante de silicone nos seios, mudou-se para o Porto e enturmou-se na cena gay local. Essa história pouco conhecida no Brasil vai levantar algumas questões, segundo afirma o autor: há liberdade para identidade de gênero mesmo que se tenha nascido em um corpo de outro sexo? Gays podem se amar sem exposição à violência? De quinta a sábado, às 20h, e domingo, às 19h. Ingressos a R$ 20 e R$ 10.
Vem aí mais um espetáculo da Oficina Flamenca, academia de dança que há 19 anos ensina flamenco “e contribui para fazer de Brasília uma cidade encantadoramente flamenca”, de acordo com as irmãs El-moor. Elas produzem e dirigem Brasília es flamenca, a ser apresentado dia 2 de dezembro no Teatro Universa (609 Norte), com a participação de alunos e professores da escola. Os ingressos estão sendo vendidos antecipadamente e custam R$ 60 e R$ 30 na secretaria da escola. situada na 110 Norte, de segunda a sexta-feira, das 17 às 21h. Informações: 3273.7374.
Aline Macedo
Luiz Alves
heróisemcaráter “É índio, é branco, é negro, piá... É guerreiro.” A Semente Cia. de Teatro apresenta sua mais recente montagem: Macunaíma, em cartaz até 10 de dezembro no Espaço Semente (ao lado da rodoviária do Gama). Com direção e dramaturgia de Valdeci Moreira, parte do texto literário de Mário de Andrade (1893-1945), “para ferver de criação onírica: um prato cheio para as análises junguianas sobre o ser brasileiro”. De acordo com o diretor, “na atual conjuntura política e social em que o Brasil se encontra, discutir nossa identidade através da arte é fundamental para o entendimento da preguiça do povo de brigar por seus direitos”. Segundo explica, “a diversidade cultural apresentada por Mário na forma de rapsódia e representada na forma de teatro é motivo de reflexão profunda quanto aos atuais dias, tempos de velada censura, repressão e apagamento de nossas origens.” De sexta a domingo, às 20h, com ingressos a R$ 20 e R$ 10. Não recomendado para menores de 16 anos. Informações: 3385.3439.
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GALERIADEARTE
O anjo caído (Purgatório).
Os avarentos e os prodígios (Inferno).
A viagem de Salvador Dalí
pela selva escura de Dante
Caixa Cultural expõe gravuras raras do pintor catalão, inspiradas em A divina comédia POR ALEXANDRE MARINO
“A
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meio caminhar de nossa vida fui me encontrar em uma selva escura; estava a reta minha via perdida. Ah! Que a tarefa de narrar é dura, essa selva selvagem, rude e forte, que volve o medo à mente que a figura.” Assim descreve o poeta Dante Ali-
ghieri o início de sua penosa caminhada às três regiões do outro mundo – o Inferno, o Purgatório e o Paraíso. Com A divina comédia, obra clássica em versos, carregada de linguagem simbólica, o poeta italiano, nascido em Florença em 1265, tentou estabelecer um guia moral para a humanidade, mas acabou criando uma obra literária imortal. O simbolismo presente nessa obra e sua riqueza de imagens, que abordam os medos, sonhos e pesadelos humanos, tem sido uma fonte inesgotável de inspiração para artistas de todas as linguagens através dos séculos, e assim foi para o pintor espanhol Salvador Dalí. Autor de telas de imagens inusitadas, genial explorador do subconsciente, Dalí ilustrou a
obra de Dante com 100 gravuras impressionantes, de grande beleza, que poderão ser vistas pelo público de Brasília na Caixa Cultural até 4 de março. “A divina comédia de Dante resulta numa oportunidade incrível para Dalí fazer uma releitura de seu repertório estilístico”, explica o curador da mostra Dalí – A divina comédia, Rodolfo de Athayde. Ele observa que o Dalí criador dessas obras é “muito diverso e contrastante” do artista catalão que se notabilizou no mundo inteiro. “Na parte dedicada ao Inferno e ao Purgatório temos várias referências ao Dalí surrealista, com as clássicas imagens de objetos derretidos, muletas ou corpos com gavetas. Em contraste com isso, na parte dedicada ao Paraíso o público en-
Fotos: © Salvador Dalí, Fundación Gala-Salvador Dalí/ AUTVIS, Brasil, 2017.
São Tiago e a esperança (Paraíso).
trará em contato com a parte mística de Dalí, que também é coerente com um período artístico posterior do pintor, em que as imagens adquirem uma aura espiritual e transmitem serenidade e paz.” As 100 gravuras de Dalí são acompanhadas por trechos de A divina comédia selecionados pelo próprio artista. “Mesmo o espectador que não conhece o texto de Dante poderá ter uma compreensão inicial de suas palavras, porque as imagens criam uma ponte efetiva com o poema”, garante o curador. As gravuras percorrem a época e o imaginário do poeta e do pintor. Dalí retrata os círculos infernais, o centro da Terra, o encontro com Lúcifer, o reencontro com Beatriz, a mulher amada e idealizada, a visão do Paraíso. Ao criar em poesia sua visão do Inferno, Purgatório e Paraíso, Dante foi além da mitologia e da visão religiosa. O Inferno de Dante não é apenas fogo queimando as almas – tem pântanos, água, desertos – e de lá Dante sai vivo, levando a consciência dos males humanos, e prossegue em sua jornada rumo ao Paraíso idealizado. Dante, homem da Idade Média, era temente a Deus e acreditava que a finalidade da vida humana era buscar o bem e a verdade. Sua obra seria uma forma de despertar nos homens os valores morais e a consciência da redenção. Já
Salvador Dalí sugere uma análise psicanalítica desse mundo espiritual e propõe uma leitura das angústias que o homem contemporâneo experimenta em luta com seu subconsciente. Para a professora Ana Maria Magalhães, doutora em História da Arte pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), “as imagens de Dalí tratam mais das fantasias ocultas na mente humana do que de um outro mundo”. A coleção que o brasiliense pode ver na Galeria Vitrine da Caixa Cultural é de um acervo particular espanhol, número 283 de uma edição de 500 exemplares. Trata-se de uma raridade, observa o curador Rodolfo de Athayde, já que é difícil encontrar hoje essa coleção completa. Dalí a criou nas décadas de 1950 e 1960, quando o governo italiano comemorou os 700 anos de nascimento de Dante Alighieri. Ele teve a ajuda dos gravadores franceses Raymond Jacquet e Jean Taricco, e já nos anos 60 as xilogravuras foram publicadas em forma de livro por uma editora francesa, ilustrando em seis volumes as obras completas com o texto de Dante. Daí vem a exposição de Brasília. Dalí – A divina comédia
Até 4/3/2018, na Galeria Vitrine da Caixa Cultural (Setor Bancário Sul, Quadra 4) De terça a domingo, das 9 às 21h.
POR PEDRO BRANDT
Em cartaz até 3 de dezembro na galeria 2 do Museu Nacional, a exposição Traço suspenso – Desenhos de Mateus Gandara reúne 110 obras, entre ilustrações, rascunhos, estudos de personagens e histórias em quadrinhos de autoria do artista, morto aos 28 anos, de linfoma, em 2015. A curadoria da exposição é de Renata Azambuja, que foi professora do quadrinista no curso de Artes Plásticas da Universidade de Brasília. “Gandara manteve uma produção de desenhos prolífica e diversificada. Sua obra é típica de um sujeito curioso, aberto a pesquisas que possibilitassem abarcar diferentes materiais e assuntos”, afirma a curadora.
Entre os representantes da atual cena de quadrinhos de Brasília, Gandara se destacava pelo conhecimento de anatomia humana, pela expressividade de seus personagens, pela capacidade narrativa e pela sensibilidade que aplicava nas tirinhas da série Batata frita murcha. A última HQ publicada por ele, Mondo colosso (2014), feita em parceria com o roteirista Vitor Vitali, demonstra a vitalidade de seus desenhos, além de ser um claro indicativo de seu lugar de destaque na produção de quadrinhos da cidade. Dentro da exposição, o projeto D.E.E.P. (Diário Erótico Estético Pornográfico) ganhou uma sala exclusiva. Publicado postumamente, em agosto passado, a obra é uma coletânea de ilustrações de casais em momentos íntimos. Mais sobre Mateus Gandara em www.vuducomix.iluria.com.
Mariana Costa
Traços de Gandara
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Divulgação
GALERIADEARTE
A China vista com arte C
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hristus Nóbrega estava em Pequim em dezembro de 2016 quando a cidade atingiu o mais alto nível de poluição já registrado no mundo e foi envolvida por uma fumaça preta que, literalmente, não permitia um palmo de visão. “Era até uma imagem bonita, interessante. Parecia que você enxergava através de um filtro. Uma cena de ficção científica, apocalíptica!”, lembra o artista plástico, que participava, então, de um programa de residência artística do Itamaraty em parceria com a Central Academy of Fine Arts, na capital chinesa. A primeira impressão se desdobrou em observação acurada e reflexões diversas sobre o fenômeno, retratado hoje em Fábrica de nuvens, uma das obras integrantes da exposição Dragão floresta abundante, em cartaz no CCBB até 14 de ja-
neiro. “Da janela do quarto em que me hospedei, no campus da Universidade, eu via uma chaminé que liberava fumaça noite e dia, formando desenhos como nuvens. Era uma fábrica de nuvens”, o artista fez a analogia e montou a instala-
ção a partir de intervenções em fotografias da chaminé. Convidado para o programa pela identidade que seu trabalho guarda com a arte tradicional chinesa, especialmente com a técnica de recortes e sobreposição Divulgação
POR LÚCIA LEÃO
Christus expõe uma China complexa e contraditória.
Fotos: Lúcia Leão
e papéis – foi o que chamou a atenção da curadora Thifany Berres, da academia chinesa que endossou sua indicação para a residência –, Christus foi muito além: deu forma às reflexões resultantes do encontro seu com uma China de dimensões complexas, contraditórias e incongruentes. Das tradições milenares mais enraizadas com os extremos sócio-culturais contemporâneos da produção em série e da economia industrial elevada a sua maior potência. “O que vemos na exposição é o resultado de uma aventura de um artista viajante que esteve a descobrir e a conhecer um território pouco conhecido e repleto de lacunas, propício para a invenção artística. Lacunas que deixam entrever questões compartilhadas pela atualidade global, como gênero, modos de produção de trabalho e meio ambiente, e que não escapam ao olhar de Christus”, afirma Renata Azambuja, curadora da exposição e criadora da sua espinha dorsal, a instalação Labirinto, uma homenagem ao escritor Jorge Luiz Borges, a quem o artista residente recorreu para tatear e fazer as primeiras descobertas na China. “Borges tem um texto que eu adoro, o Idioma analítico de John Wilkins, onde ele cita uma Enciclopédia Chinesa que nunca foi encontrada. Quando cheguei à China sem conhecer nada nem ninguém, resolvi procurar essa enciclopédia. Eu sabia que ela não existe, mas era um começo de conversa, um argumento pra mobilizar outros estudantes, pra visitar todas as bibliotecas e conversar com bibliotecários... Acabei encontrando obras e pessoas maravilhosas. Registrei tudo e, por sugestão da Renata, montamos a ins-
talação Labirinto, cheia de armários e gavetas para o público também procurar a enciclopédia”, explica Christus Nóbrega. O público também é convidado a interagir na Fábrica de pipas (fotos acima), performance onde quem quiser ser operário deve assinar contrato de trabalho, cadastrar sua digital no relógio de ponto e trabalhar uniformizado. A cada onze pipas produzidas, o “operário” ganha uma. As outras dez são a mais valia do artistapatrão. O contraste entre a tradição milenar e a realidade contemporânea aparece na instalação de centenas de pipas com fotos de chineses que trabalham como modelos para artistas e com documentos, cartas e bilhetes trocados por familiares que, por motivos políticos, de saúde ou
de trabalho, tiveram que ser separados forçosamente. Aparece também na série O rei está nu, a roupa nova do rei, composta de retratos de nus recobertos com mantos de papel recortados por artesãs chinesas e afixados com alfinetes de ouro. O olhar do artista brasileiro sobre a cultura chinesa também resultou na obra Dicionário feminino. Ao estudar mandarim, ele descobriu que muitas palavras utilizam o radical ‘mulher’ para serem construídas, como, por exemplo, barulho, intriga, ciúme, monstro, escravo, prostituta, estupro, entre outras. Dragão floresta abundante
Até 14/1 no CCBB (SCES, Trecho 2). De terçafeira a domingo, das 9 às 21h, com entrada franca. Mais informações: 3108.7600.
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GRAVES&AGUDOS
Era o que faltava
pra fechar o ano
POR HEITOR MENEZES
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Wembley que rolam na web (o DVD ou mídia correlata ainda não foi oficialmente lançado), uau, temos o Club aumentado com músicos de apoio que trazem mais peso e alma ao som, por si só uma ótima mistura de R&B com reggae e blue-eyed soul (soul de branco, digamos). O Culture Club foi um dos fenômenos que definiram uma era. A MTV ajudou nesse arremesso à estratosfera. Há trinta e tantos anos aquele pop embalado em imagem de androginia, crossdressing, o que for, chocava e atraia. O que não saia da cabeça eram as favoritas das FMs: Do you really want to hurt me, Karma chameleon, I’ll tumble for ya, Miss me blind, um caminhão de sucessos. Que a gente vai ver ao vivo em Brasa. U-hu! Culture Club
22/11, às 21h30, no NET Live Brasília (SHTN, Trecho 2). Ingressos (meia): pista premium, R$ 150; camarote, R$ 200 (à venda na Central de Ingressos do Brasília Shopping, www.eventim.com.br e tel. 4003.6560).
Divulgação
uem diria que o ano ainda nos daria a oportunidade de curtir a banda britânica Culture Club, no dia 22 de novembro, no Net Live Brasília? Pois é uma raridade imperdível ver e ouvir de perto um dos ícones dos anos 1980, com o consagrado cantor Boy George e seus companheiros originais de banda (Mikey Craig, baixo; Jon Moss, bateria; e Roy Hay, guitarra/teclado). Raridade porque o Culture Club ensaiou vários retornos desde que saiu de cena, em 1986. Ano passado começaram essa turnê, que culminou com um showzaço na arena Wembley, em Londres. Esse parecia ser mais um adeus, porém os apelos continuaram e neste fim de ano temos Culture Club rodando o mundo. A agenda deles on-line mostra que no espaço de um mês (7 de novembro a 7 de dezembro) vão fazer 17 cidades em quatro continentes, Brasília e São Paulo incluídas.
Olha, estava faltando Culture Club nessa festa. Se grupos e artistas que surgiram naquele tempo, como U2, Pet Shop Boys, Tears for Fears, Duran Duran e New Order, ainda estão por aí, faturando, por que perder a oportunidade? Nada como cabeça no lugar e uma boa gestão de carreira para perceber que é melhor deixar as diferenças de lado e seguir rolando as pedras, para não criar limo, e fazer um dinheirinho, afinal, as contas se renovam mês a mês. Quanto a Boy George, bem, Boy George está bem. Para muitos, o Culture Club nem existia mais, meio que porque George Alan O’Dowd (nome verdadeiro) andou aprontando com as substâncias, em algumas ocasiões, inclusive conheceu o sol quadrado. Boy George seguiu em frente e hoje é visto não só como o extravagante cantor, mas tem o respeito como bem-sucedido músico solo, DJ, designer de moda e fotógrafo. A tirar pelos aperitivos do show de
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Amannda
Agenda musical
Porão eclético
Agô – Samba e ancestralidade Shows com Glória Bomfim (19/11, às 19h), grupo de percussão afro Omô Ayo (20/11, às 19h) e Fabiana Cozza (20/11, às 20h), na Caixa Cultural. Alceu Valença. Show Anjo de fogo. 23/11, às 21h, no Estádio Mané Garrincha. Victor & Leo. Show Momentos – 25 anos de carreira. 25/11, às 21h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Antônio Zambujo (Portugal). Show Canta Chico Buarque. 26/11, às 19h,no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Luiza Possi. 1/12, às 21h, na abertura da Feira Brasil Diversidades, no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade. Amannda. Festa Brave push, com diversos DJs, além da cantora. 2/12, às 22h30, no Bay Park (SHTN, Trecho 2). Caetano, Moreno, Zeca e Tom Veloso. 2/12, às 21h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Festival In Rio. Rodas de samba e baile funk, com os grupos Imaginasamba, Di Proposito e MC Koringa, entre outros. 7, 8 e 9/12, a partir de 21h, no Clube Ases (SCES, Trecho 2). Daniel Boaventura. Show Uma noite de gala. 9/12, às 21h30, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Carminho (Portugal). Show Canta Tom Jobim. 10/12, às 19h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Benito di Paula. 15/12, às 22h30, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.
Em sua 20ª edição, festival vai do rock ao rap, da MPB ao metal POR PEDRO BRANDT
Rita Sousa Vieira
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Carminho
om rock no nome, o festival Porão do Rock é, evidentemente, um ambiente onde o gênero musical, em suas variadas vertentes, tem protagonismo. Engana-se, entretanto, quem pensa que não abre espaço para outras propostas musicais. Ao longo de sua trajetória, também passaram pelos palcos do Porão, por exemplo, artistas de reggae, hip hop e DJs de música eletrônica. Muito mais do que uma carta de intenções, esse ecletismo é apenas reflexo de umas das características primordiais do rock, que é a convivência com diferentes referências, influências e inspirações. Isso ajuda a entender a escalação do Porão do Rock 2017, que tem, entre suas 26 atrações, nomes tão díspares quanto a banda Sepultura e a cantora Elza Soares. Em 25 de novembro, o festival chega à 20º edição com rock, rap, MPB, hardcore, metal e muito mais. A arena montada no estacionamento do Estádio Mané Garrincha, mais uma vez, contará com três palcos, dois deles posicionados lado a lado, com shows se revezando, e um terceiro, o palco do som pesado, autônomo. E para quem gosta de metal e suas vertentes, a programação traz uma leva de veteranos ainda em boa forma, casos dos brasilienses Deceivers (metalcore) e Dark Avenger (heavy), do trio gaúcho Krisiun (death) e dos mineiros Eminence (death) e Sepultura (divulgando o novo álbum, Machine Messiah). A eles soma-
se a novata Mofo, quinteto brasiliense de thrash e speed metal. Punk, hardcore e variações estarão representados pelas bandas Water Rats, de São Paulo, Black Pantera, de Uberaba, e por ARD, Agressivo Pau Pôdi, Eufohria e The Grindful Dead, do Distrito Federal. Do indie ao stoner, passando pela mistura do rock com ritmos e temperos diversos, o Porão apresenta as locais Alarmes, Alf Sá, Dona Cislene, Lupa, Maria Sabina & a Pêia, O Tarot e Toro, além de Finger Fingerrr (SP), Rocca Vegas (CE), Braza (RJ) e Ego Kill Talent (SP). Conhecido como ex-integrante do Planet Hemp e por conta de seu cultuado primeiro álbum solo, Babylon by Gus Volume 1: O ano do macaco, o rapper fluminense Black Alien volta ao Porão despois da edição de 2000. Grupo dono de uma performance impactante, o Baiana System, de Salvador, promove um encontro original de influências brasileiras, latinas e caribenhas com hip hop e música eletrônica. Elza Soares lançou em 2015 um de seus mais elogiados e contundentes álbuns, A mulher do fim do mundo, disco que revigorou sua carreira e apresentou a cantora octogenária a um novo (e muito mais jovem) público – e que a levou a lugares antes inimagináveis, caso do Porão do Rock. Porão do Rock 2017
25/11, a partir das 15h, no estacionamento do Estádio Mané Garrincha. Ingressos (meia): R$ 20 + 1kg de alimento nãoperecível. Ponto de venda: www. bilheteriadigital.com. Classificação: 16 anos.
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Lúcia Leão
BRASILIENSEDECORAÇÃO
Unidos por Bach POR VICENTE SÁ
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ove da noite. O Feitiço Mineiro está já quase lotado à espera do show. O entra e sai de garçons com bandejas continua e, do lado de fora, dois homens acendem seus cigarros e conversam. São dois experientes músicos de formação clássica que acabam de se conhecer e vão se apresentar juntos na banda que acompanhará Sthel Nogueira, logo a seguir. A conversa, como não podia deixar de ser, é sobre música e, claro, acaba chegando em Bach, que os dois admiram. É final de outubro de 2014 e está nascendo uma parceria que nos próximos anos vai dar um novo colorido musical à cidade. 23 de junho de 2017, Casa Thomas Jefferson. Os acordes do piano de João Lucas e do violão de Jaime Ernest Dias se misturam e parecem dançar acima dos espectadores que lotam a sala. A música é a Valsa branda e burguesa, uma criação dos dois em homenagem a Johann Sebastian Bach, mais especificamente aos Concertos de Brandemburgo. Após os últimos
acordes, os aplausos começam. É o fim de dois anos de ensaios e criações e o começo de uma temporada que vai encantar públicos dentro e fora do Brasil. Mas quem são esses dois músicos clássicos que adoram tocar música popular e que navegam tão bem nesses dois mares? João Lucas é natural de Lisboa e está em Brasília desde 2011. Pianista, compositor, diretor e produtor musical, estuda música desde os oitos anos e se formou em piano no conservatório Nacional de Portugal. Por ter uma queda pelo jazz, frequentou a Escola de Jazz do Hot Club de Portugal e participou de diversos workshops com importantes nomes da música internacional europeia. Ainda em Portugal, compôs mais de 50 obras para balés e outras danças e criou trilhas sonoras para uma dezena de filmes. Aqui, tem trabalhado com grupos de teatro, com figuras conhecidas como Alexandre Ribondi e Iara Pietricovsky. Jaime Ernest Dias é de uma família de músicos. Filho da flautista Odeth Ernest
Dias, desde cedo ele e as irmãs enveredaram pelo mundo da música. Violonista formado na UnB, tem diversos discos e CDs gravados com parceiros e grupos e dois CDs individuais. Considerado um virtuose no violão, Jaime já se apresentou em várias capitais do Brasil e em países da América Latina e da Europa. Com Henrique Cazes e Afonso Machado, fundou a Orquestra de Cordas Brasileira, que conquistou, em 1989, o prêmio Sharp de melhor grupo e melhor disco de música instrumental. O compositor Sthel Nogueira, que os apresentou, sente-se meio pai da dupla e meio fã de carteirinha. “Assisto tudo deles, até ensaios. É um trabalho excepcional e diferente, são dois grandes músicos com muita coisa em comum. Como não me orgulhar de ter começado isto?”, pergunta o artista. A afinidade entre os dois é tão grande que Jaime sintetiza com uma história: “Assim que começamos a trabalhar juntos, ensaiando e tocando, eu me lembrei de uma música que tinha começado, inspirada em Bach. Nunca consegui terminá-la e ela jazia em algum canto de casa, esperando. Falei dela com o João e fui buscá-la, imaginando onde poderia estar, depois de tantos anos de esquecimento. Pois não achei logo na primeira pasta que abri? E não fica por aí: dois dias depois, o João me mandou a música terminada e com o divertido título de Valsa branda e burguesa, que é uma das mais bem recebidas no show. É por aí que estamos indo”. Para João Lucas, que passou grande parte de sua vida artística criando músicas e arranjos para outros artistas, é importante estar no palco, mostrando sua faceta de músico e compositor. “E com um grande músico como o Jaime ao lado é muito gratificante, pois sinto que estamos fazendo um trabalho de muita qualidade”, afirma. O show que eles vão apresentar no dia 9 de dezembro no Clube do Choro tem o singelo nome de João e Jaime, e é inspirado naquele que apresentaram na Casa Thomas Jefferson, incluindo algumas peças de Sivuca, Pixinguinha, Jacob do Bandolim, músicas autorais e, é claro, um Bach com versão para violão. Tudo feito a quatro mãos e com muito talento. Depois de Brasília eles devem se apresentar em Pirenópolis, Rio de Janeiro, Portugal e França. Bom show e bon voyage.
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LUZCÂMERAAÇÃO
O moderno
cinema português
Colo, de Teresa Villaverde, reafirma a importância de um cinema que vem ocupando espaço cada vez mais nobre em festivais internacionais. POR SÉRGIO MORICONI
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sétimo longa-metragem de Teresa Villaverde, em cartaz no Cine Brasília, proporcionou ao cinema português a segunda participação consecutiva na competição oficial do Festival de Berlim. Em 2016 o escolhido havia sido Cartas da guerra, de Ivo Ferreira, também exibido este ano no mercado brasileiro. Colocado em perspectiva, dadas as condições limitadas para a produção no país, isso não é pouco. Além da Berlinale, Colo foi o filme escolhido para a sessão de abertura do IndieLisboa e também recebeu o prêmio Bildrausch Ring of Cinema Art do festival suíço que acontece na cidade de Basileia. Villaverde merece. Ao lado de Pedro Costa, ela abriu as portas para a entrada em cena de cineastas da importância de João Pedro Rodrigues, de Fantasma e O ornitólogo, e Miguel Gomes, de Tabu e As mil e uma noites, este último dividido numa trilogia em três “volumes”, como o próprio diretor definiu. Quando apresentado em Portugal, não se sabe bem por quê, o título do fil-
me se transformou num enigma. Um jornalista do país relacionou Colo com “a necessidade de afeto, de compreensão, de uma mão que ajude num momento difícil”. Sim, é isso mesmo! Para plateias brasileiras, todo o “enigma” (ou polêmica) não passa de um inexato enigma. O filme, como veremos, provoca muito claramente esse sentimento de desamparo, de orfandade, que é, aliás, uma questão também central em Três irmãos (1994) e Mutantes (1998), os dois primeiros filmes da realizadora. Mas Villaverde se apressou em afirmar que o termo colo é provavelmente mais misterioso para os portugueses do que para os não portugueses. Pode ser, no entanto, que é de colo mesmo que os personagens necessitam, e é colo (numa perspectiva bem mais ampla) que Villavede reivindica para si e para o seu país. O desemparo em Colo assume uma ótica muito mais social do que nas duas primeiras obras da cineasta, quando eram intuídas apenas subjacentemente. Nas entrevistas que concedeu durante a Berlinale, Villaverde chamou a atenção para a desassistência financeira que o cinema português vem experimentan-
do desde a crise financeira de 2008. Nos colóquios durante o festival ficaria claro que o problema dizia respeito a todos os países europeus, a ponto de o festival berlinense ter criado um forum específico para debater a crise de financiamento para o cinema independente no continente e no resto do mundo. Cineastas presentes assinaram uma carta aberta reivindicando um posicionamento mais contundente de organizações governamentais. Colo foi realizado com baixíssimo orçamento até para os padrões portugueses. Villaverde disse haver ciclicamente esse problema em Portugal: “De degrau em degrau, vamos conseguindo resolver as coisas. Estou confiante que isso vai se resolver e que vamos conseguir ultrapassar essa situação. Porque é dessa solidariedade, também, que Colo fala”. O contexto social de Portugal hoje impregna todo o conflito do filme de Villaverde. Colo é a história de uma família de classe média e do modo como os indivíduos que a constituem, quase sem se darem conta, descendem na escala social. O processo tem aspectos objetivos (a perda de poder econômico) e psicológi-
Fotos: Divulgação
cos. O pai (João Pedro Vaz) está desempregado e desesperado. A mãe (Beatriz Batarda) se vê subitamente a âncora que sustenta a família. Procura arranjar outros empregos que compensem o dinheiro perdido e mantenham o nível de vida de todos. A filha, Marta (Alice Albergaria Borges), tenta encontrar seu caminho enfrentando ao mesmo tempo a passividade do pai e a ausência da mãe. “O que está acontecendo com as nossas vidas?”,
ela se pergunta num determinado momento. O enredo parece banal. O tratamento a ele dado, no entanto, é sutil, delicado, intimista. “Neste filme a crise é mais do que econômica. É também a crise da família, do pouco tempo que as pessoas têm para viver, para falar umas com as outras. Quis retratar a solidão, uma estrutura que se deteriora, porque quando existe uma crise econômica todos os outros problemas parecem ser exacerbados. Dos meus filmes, talvez este seja aquele onde o silêncio se sente mais. É mais importante aquilo que não se diz, os pensamentos que ficam por dizer.” Se nos filmes já citados e ainda em Água e sal (2001), Transe (2006) e Cisne (2011) Villaverde tratava com frequência da perda de inocência, com personagens em busca de redenção, em Colo assistimos ao processo anterior à tentativa de remissão (em sentido metafórico amplo) de “pecados” e desordens vividas. Aqui vemos um núcleo familiar, uma família que se desfaz lentamente sob a pressão de trivialidades como buscar dinheiro para comprar comida, pagar a luz, se divertir etc. Mas vamos botar os pingos nos is:
estamos falando de Portugal e não do Brasil. Nesse contraste reside uma parte importante do interesse e fascínio do filme para o público brasileiro. O desencanto como atributo fundamental do cinema de Villaverde já existia quando Potugal navegava nas águas calmas finaciadas pela União Europeia. O dinheiro investido no país trouxe uma prosperidade sem precedentes. Os credores estabeleceram um prazo para que Portugal fizesse reformas para poder andar com as próprias pernas. A crise fez a conta chegar antes do tempo. Ao contrário do que muitos imaginavam, Portugal foi um dos países europeus que melhor se saíram quando o pior havia passado. O que o filme de Villaverde parece dizer é que as cicatrizes deixadas foram muito maiores do que outros tantos imaginavam. E tudo isso visto sob as excepcionais e elegantes lentes de Acácio de Almeida, fotógrafo que trabalhou com todos os grandes mestres do cinema português. Colo
Portugal/2017, drama, 136min. De Teresa Villaverde. Com João Pedro Vaz, Beatriz Batarda, Alice Albergaria e Clara Jost.
Delicioso
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CRÔNICADACONCEIÇÃO
Crônica da
Conceição
As 30 luas de Brasília
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inha primeira Brasília era uma trama de infindáveis estradas-parque. As vias que me levam às delegacias de polícia das cidades-satélites. Eu era repórter de polícia. Era como se eu todos os dias fizesse cinco ou seis viagens a cidades distantes de um estranho território chamado Distrito Federal. Só algum tempo depois me dei conta da Esplanada, e de sua monumentalidade, que me espantou, mas também me oprimiu. Com um filho pequeno, fui para uma superquadra. Então, descobri que morar era muito bom. Eu, que vinha de palafitas em Belém e de bairros populares em Goiânia, experimentava algo muito novo: o de morar pendurada em apartamentos entre árvores e silêncios. Da janela de um terceiro andar sem elevador das 400 Norte, via o lago. A pé, chegava ao comércio e levava meu filho à escola. E brincava com ele debaixo do bloco. É verdade que eu e ele, ninguém mais. Já como repórter de cidades, ouvindo relatos de meus entrevistados, me dei conta de que vivia dentro da história: um experiência épica que estava muito presente na memória dos moradores. Então, mais do que propriamente pela obra de Lucio e Oscar, me en-
cantei pelas histórias que os candangos me contavam. Eles desfiavam memórias encantadas do que viveram. Por mais que tivessem sido esfolados pelo trabalho excessivo, havia neles um orgulho de quem se sente sujeito do seu fazer e parte de um projeto afirmativo de uma Nação. Por mais ingênuo que nos pareça hoje, a ideia de se estar construindo uma cidade onde todos seriam iguais dava sentido ao fazer, ao existir. Coisa que nos tem faltado, e muito. E, desde então, a minha Brasília é muito maior, mais plural, mais movimentada, mais democrática: é a Brasília das 30 cidades mais o Plano Piloto. O Plano Piloto tem 30 luas orbitando ao seu redor. Há muito de segregação espacial, social, cultural e econômica nesta galáxia modernista. Fora do Plano, há uma cidade histórica, Planaltina. Há cidades planejadas à moda do modernismo, como Samambaia, Sobradinho e Santa Maria. Há cidades totalmente verticais, como Águas Claras. Há cidades com atmosfera de interior, como Brazlândia. Há cidades compactas, como o Núcleo Bandeirante e a Candangolândia. Há cidades com renda per capita fa-
miliar da Noruega, R$ 23 mil mensais. Há cidades que nasceram do lixo, como a Estrutural. Há cidade onde brotou um movimento hip hop respeitado em todo o país, Ceilândia. Há cidade do samba, Cruzeiro. Uma que tem menos de 1 km², o Varjão. Cidade que tem Festival de Pamonha e Encontro de Rezadeiras, a Fercal. Cada uma com uma personalidade distinta que nos cabe descobrir. Uma Brasília feita de muitas Brasílias que se desconhecem. Por essas e por outras, dá para perceber que algo deu muito errado na cidade planejada. De um lado, o urbanismo telúrico e cósmico de Lucio Costa. De outro, a gente que faz ferver a cidade. E um imenso vazio entre elas... * Essa crônica foi lida no 2º Encontro de Urbanistas Colaborativos, realizado em outubro/2017, na UnB. A propósito, o vencedor da 2ª Mostra de Urbanismo Colaborativo foi o Coletivo Cubo Urbano, de Juazeiro do Norte (CE), com o projeto Aqui tem sombra! Para chamar a atenção do governo para a ausência e/ou precariedade dos abrigos de ônibus, a equipe colocou guarda-chuvas nos equipamentos. O cidadão se protegia do sol e, antes de entrar no ônibus, entregava a sombrinha para quem continuava esperando o busão.
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