Roteiro 235

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cinco mostras de cinema preenchem vazio cultural de janeiro e fevereiro

Ano XIV • nº 235 Janeiro de 2015

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Na primeira edição do ano, a Roteiro indica pelo menos três bons programas ligados à invenção dos irmãos Lumière. Um deles é a mostra Easy Riders – O cinema da nova Hollywood, uma viagem no túnel do tempo até os anos 70, quando uma nova geração de cineastas renovou o cinema norte-americano com uma safra de bons filmes autorais, como O poderoso chefão, Taxi Driver e Noivo neurótico, noiva nervosa (página 32). Outro programa semelhante, em cartaz nas salas Cinemark, é a mostra de clássicos que arrebataram gerações e continuam arrebatando, como é o caso de Casablanca, Psicose, Se meu apartamento falasse e De volta para o futuro, só para citar alguns. Ótima oportunidade para quem ainda não assistiu a esses filmes e para quem quer revê-los. Afinal, clássico é clássico (página 30). O terceiro bom programa de cinema não está em cartaz nas salas de exibição, mas no seu computador. É a quinta edição do My french film festival, que até 16 de fevereiro vai exibir 20 filmes lançados em 2013 e 2014 na França, com legendas em português. Internautas vão poder votar nos seus preferidos (página 34). Na gastronomia, como no cinema, a época também não é de entressafra. Bom exemplo disso é o mais novo projeto do jovem chef Lui Veronese: o Cru Balcão Criativo. Instalado no restaurante Oliver, do Clube de Golfe, recebeu a visita de nosso colunista Luiz Recena, que se encantou com o cardápio sofisticado repleto de ostras, carpaccios, tartares, ceviches e demais delícias cruas. Ideais para serem degustadas no verão (página 6). Apresentamos, finalmente, um novo restaurante que tem tudo para fazer os nascidos na terra de Caymmi e Caetano sentirem saudade do tempero de “mainha”: o Muqueca do Chefe, de Francisco Holanda. Por incrível que possa parecer, um legítimo cearense... com alma baiana (página 12)!

Heitor Menezes

Começo de ano, como sempre, não é um período pródigo em matéria de teatro, shows, dança e artes plásticas. Em função das férias de verão, os produtores culturais sempre deixam para lançar seus projetos depois do Carnaval, ou até mesmo em março, que é quando o ano definitivamente começa por essas paragens tropicais, não é mesmo? Sorte que isso não acontece quando o assunto é cinema, arte sempre prestigiada com boas novidades para serem apreciadas no escurinho da sala de projeção e ainda longe do calorão saariano desta época, já que quase sempre sob o abrigo de um bom e refrescante ar condicionado.

20 históriacandanga A defesa intransigente do solo e da história de Brasília é a missão que o Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal cumpre religiosamente há 50 anos.

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Boa leitura e até fevereiro. Maria Teresa Fernandes Editora ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14 – Conjunto 2 – Casa 7 – Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa André Sartorelli, com fotos de Andreia Marlière | Colaboradores Adriana Nasser, Alessandra Braz Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, Ana Vilela, Beth Almeida, Cláudio Ferreira, Eduardo Oliveira, Elaina Daher, Evam Sena, Felipe de Oliveira, Gustavo Torres, Heitor Menezes, Júlia Viegas, Lúcia Leão, Luís Turiba, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Melissa Luz, Pedro Brandt, Sérgio Moriconi, Silio Boccanera, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Vicente Sá, Vilany Kehrle | Fotografia Eduardo Oliveira, Fabrízio Morelo, Gadelha Neto, Rodrigo Oliveira, Sérgio Amaral, Zé Nobre | Para anunciar 9988.5360 Impressão Editora Gráfica Ipiranga | Tiragem: 20.000 exemplares.

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águanaboca

Saborosas infusões

Fotos: Andreia Marlière

e alquimias

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Por Luiz Recena

C

ontam que com poucos dias de vida alguém amassou folhas frescas de tempero e esfregou no nariz dele. E ele riu! Contorcia-se entre as fraldas e ria. Que moleque! Surpreendeu a todos, a começar por mãe e pai. E agora, 26 anos depois, anda ele aí, surpreendendo muito mais gente, rindo com seus temperos, riso entre tímido e irônico, entre o modesto e o provocador. O bebê cresceu e virou gente; o risonho, cozinheiro e alquimista. Sem perder o riso jamais. E assim começa o encantamento do chef Lui Veronese em sua mais nova e sorridente aventura: o CRU, no balcão e área especial do Oliver, restaurante do Clube de Golfe de Brasília que dispensa apresentação, precedido por uma década de fama e qualidade. CRU é cru e está tudo dito: da primeira ostra ao tartare de kobe, a natureza dos produtos principais e seus acólitos não menos importantes formam conjuntos únicos. Provocam metáforas fáceis: cavalocavaleiro; nado sincronizado; balé Bolshoi, seleção brasileira de 70. A imaginação se solta e voa. Mas sempre volta, em forma de prato pronto, bonito e gostoso. No começo, tudo foram ostras: a pri-


Fotos: Andreia Marlière

de morangos. E as flores. Ah! As “flores”: lichia com calda de rosas, hibisco, suspiro de flor de laranjeira e sorbet de limão. Quase um poema de amor servido numa peça que lembra uma gôndola. E a lua, enchendo, pode ser fatal... Os preços variam, mas um Menu Confiance, que permite várias provas substanciosas do conjunto, leva o cliente à saciedade por mais ou menos cem reais. Sem bebidas. Sobre os goles: o universo é grande, variado e bem equilibrado. Pensou-se, também, no bolso do freguês. A casa recomenda abrir com drinks de fru-

tas, servidos em jarras. Espumantes, brancos e rosés, e até um verde português, estão entre os mais sugeridos. Os tintos, de bons rótulos e preços idem, recebem a vassalagem de todos. Para o ambiente e para o negócio do Oliver, o CRU de Lui Veronese veio reforçar em Rodrigo Freire a velha máxima: “O que já era bom ficou ainda melhor”. Gil Guimarães, do Baco/Madrid, sempre definitivo, sentenciou: “O que você apreciou é apenas um dedo do que os talentos das duas mãos desse menino ainda podem produzir”. Gastrô Comunicação

meira com limão e mais dois japinhas; a segunda, oriental com molhinhos, nabo e ovinhas (tipo caviar) de salmão; a terceira ainda mais oriental e cítrica. Tudo requintado, as ostras soltas, molhos e serviço, e as pinças regulamentares, o que não exclui a possibilidade de que mãos marítimas levem-nas diretamente à boca. Com estilo, nada é deselegante. Em seguida, a dupla: duas ostras cozidas ao vinho, com mousse de cebola. Supimpa! E começaram os carpaccios, os tartares, os ceviches e os tiraditos. Da Mongólia ao Altiplano americano, passando por Itália, Peru, Equador, Japão, Rússia, enfim, o mundo do peixe cru imerso em infusões e alquimias. O fresco e o defumado. Nos ceviches, o leite de tigre clássico e o do cerrado, com limão-cravo e o nosso cajuzinho (seria leite de lobo-guará?). Em tempo: em matéria de picante, os tigres são “mansos”, delicados como devem ser as primeiras vezes. Há mais destaques: mexilhão ao escabeche e maionese caseira, tiradito de peixe branco com pesto genovês e coco verde. E um tartare de kobe e ovinho de codorna. Leve, forte, sublime. Aos quentes, que já são horas! Um ovo trufado (tem caldo de jamon), um sashimi de wagyu (tem redução de vinho madeira), um “nosso pescado” (tem aspargos e cogumelos Paris). E atenção: o Black Cod, peixe de águas profundas do Alaska, exige um átimo de meditação. Apenas o bolo desidratado de shoyu, que vem junto, está autorizado a romper o silêncio. As cortinas descem sob aplausos. Mas o espetáculo só acaba na sobremesa. Um carpaccio de abacaxi ou caviar

Lui Veronese: do riso ao talento na alquimia gastronômica.

NA PRÓXIMA PáGINA, O CARDáPIO COMPLETO DO CRU: criatividade e harmonia para todos os bolsos.

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Andreia Marlière

águanaboca

CARDÁPIO CRU Pratos frios • Ostras e mexilhões ao natural com limão, sal, tabasco e pimenta do reino: R$ 6 a unidade, R$ 64 a dúzia. • Trio de molhos (cru, oriental e cítrico): R$ 20. • Dupla cozida em baixa temperatura ao vinho com mousse de cebola: R$ 14. • Ceviche Clássico, de peixe branco com milho e batata doce: R$ 24. • Ceviche Sensei, de salmão com shoyu, gergelim, yuzu e alga nori: R$ 26. • Ceviche do Cerrado, de peixe branco com leite de tigre de limão cravo e cajuzinho do cerrado: R$ 26. • Tiradito Tropical, de peixe branco com pesto e coco: R$ 32. • Tiradito CRU, de peixe branco e camarão com maionese de camarão: R$ 34. • Carpaccio Italiano, de filé com molho de mostarda, parmesão e alcaparras: R$ 24. • Carpaccio Veggie, de manga com parmesão e sal negro: R$ 24. • Carpaccio Defumado, de salmão com molho ponzu e raspas de limão: R$ 28. • Steak Tartare, com picles, molho inglês, mostarda Dijon e ovo: R$ 32. • Tartare de Salmão, com molho agridoce leve e gergelim: R$ 28. • Tartare da Horta, de tomate com molho clássico e nozes: R$ 24. Pratos quentes • Ovo trufado, texturizado com crocante de pão, caldo de jamon e azeite trufado: R$ 22. • Sashimi de Wagyu, corte da carne com missô, redução de vinho madeira e shitake na manteiga: R$ 38. • Filé de Saint Peter com camarão, aspargos, ervilha e cogumelos Paris: R$ 38. • Black Cod, peixe de águas profundas do Alasca com bolo desidratado de shoyu: R$ 49. Doces • Flores de lichia com calda de rosas, hibisco, suspiro de flor de laranjeira e sorbet de limão: R$ 22. • Caviar de morangos com creme chantilly fresco e redução de aceto balsâmico: R$ 18. • Doce Carpaccio, de abacaxi infusionado com crumble e creme de limão: R$ 18.

Cru Balcão Criativo

Setor de Clubes Esportivos Sul, Trecho 2 Clube de Golfe de Brasília (3323.5961)

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Rômulo Juracy

Divulgação

Rômulo Juracy

Big Kahuna Burger

Drink Piratas do Caribe

Comida de cinema Por Lúcia Leão

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ão é nem o IBGE nem o IPEA que diz, mas todos sabemos: nove entre dez brasileiros já sonharam algum dia em ter seu próprio bar. É como o sonho da casa própria, só que feito de matéria mais fluida que quase sempre se evapora tão rápido quanto o álcool. Quase, mas nem sempre! Alguns conseguem transportar a energia onírica para a ponta do lápis, transformá-la em projeto e materializá-la entre quatro paredes – ou entre paredes, gramados e céu aberto de Brasília, como neste caso. O caso do sonho de João Kanzer e Octávio Basso, donos do Paradiso Cine Bar, que, com pouco mais de um ano de existência, firmou-se como uma das casas de drinks mais badaladas de Brasília (ganhou um dos 12 títulos de House of Drinks distribuídos em todo o Brasil pela Diageo, a maior empresa mundial de bebidas premium) e agora extrapolou as noites para fisgar pelo estômago também a clientela que precisa almoçar fora de casa mas não abre mão da qualidade e de um certo glamour que os self-services não podem oferecer.

Voltando um pouco a fita, Octávio se lembra do dia em que, numa das intermináveis conversas com João sobre os rumos que dariam à vida, surgiu a ideia do Paradiso. Além da amizade de infância, eles tinham (e têm) em comum a paixão pelo cinema. Kanzer estudara cinema; Basso, Artes Cênicas. E ambos já haviam dividido produções de eventos audiovisuais. “Durante uma conversa na casa do João, de repente ele disse: por que não abrimos um bar? Com essa ideia na cabeça, começamos a elaborar o projeto do lugar que tinha que ter aquela energia que nos unia, que era o cinema”, lembra João. Convidaram José Augusto Basso, irmão de Octávio, para reforçar a sociedade, contrataram a consultoria de Diego Koppe – reconhecido chef brasiliense que hoje está à frente do restaurante Babel – e chamaram o mixologista Victor Quaranta para adaptar drinks tradicionais e criar misturas exclusivas. A fase de pré-produção tomou um ano e meio até o Paradiso Cine Bar ser inaugurado como um lugar de diversão e veneração à sétima arte através da ambientação e de cada detalhe do cardápio.

Aberto desde agosto de 2013, o roteiro do Paradiso vinha se desenvolvendo bem, mas podia melhorar. Em meados do ano passado, o chef Kiko Avelar foi convidado para reforçar o elenco. Levou os conhecimentos acumulados em escolas de gastronomia como a do SESI e a Cordon Bleu de Montreal, no Canadá, e experiências desafiantes nas cozinhas do Mercado Municipal e outras casas da rede do saudoso Jorge Ferreira. Com o reforço, o Cine Bar pôde responder à expectativa de um novo público que os sócios já haviam identificado: moradores das imediações da 306 Sul e funcionários públicos que trabalham nos ministérios. “Essas pessoas querem um almoço de melhor qualidade e gostam do ambiente que temos”, diz João Kanzer. “E querem pratos bem servidos”, acrescenta o experiente Kiko Avelar, que, já acostumado a inovar em pratos para a noite utilizando produtos em estoque, resolveu aproveitar e transformar as combinações em pratos executivos. O menu, oferecido entre 11h30 e 16h de segunda a sábado, ficou assim: A Vida é Bela, filé à parmegiana, arroz branco e batata frita (R$ 29,90); O Discurso do

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Divulgção

águanaboca Rei, cordeiro cozido na cerveja preta, arroz branco, batatas coradas e farofa de ovos (R$ 29,90); Mamma Mia!, frango à parmegiana com arroz branco e batata frita (R$ 23,90); As Férias de Mr. Bean, arroz de camarões (R$ 29,90); e La Belle Meunière, filé de surubim com arroz branco e batatas coradas (R$ 28,90). O cliente também pode montar seu próprio prato, escolhendo um tipo de grelhado, dois acompanhamentos e um molho. Mas esses são apenas alguns dos 80 itens do cardápio, onde os diretores da “fita” prometem manter sucessos como o hambúrguer de siri, especialidade de Bob Esponja, ou o Big Kahuna Burger, que aparece em alguns filmes do diretor Quentin Tarantino (hambúrguer com 180 gramas de carne, molho barbecue, maionese, queijo e rodelas de cebolas caramelizadas). Sem desprezar, é claro, os drinks coloridos e inebriantes, como o Jumanji (licor de Amarula, café e creme de menta), o Pernalonga (vodka Ciroc Peach, cenoura, limão, laranja e licor de pêssego) e o Meu Malvado Favorito (vodka Ciroc, maracujá e Curaçao Blue), que fizeram a fama da casa. E assim, entre um gole e uma mordida, os clientes do Paradiso mergulham no universo dos sonhos! Paradiso Cine Bar

Divulgção

306 Sul – Bloco B (3526.8072) De 2ª a sábado, das 11h30 às 24h.

Japa descontraído Por Vicente Sá

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Drink Pernalonga

á quase 18 anos ele vem conquistando fãs e não apenas clientes, tanto pela criatividade de colocar um sushibar dentro de uma arquitetura que imita uma Kombi como também por sua alta culinária e seu ambiente sempre cool. Somente em São Paulo são cinco casas e agora a Nakombi chega também a Brasília, pelas mãos dos irmãos Felipe e Marisa Braga e de Bruno Zardo. Tudo começou há um ano, quando os noivos Bruno e Marisa resolveram abandonar o escritório de advocacia e ingressar no mundo da gastronomia, por meio de uma franquia.

Na busca de um bom empreendimento, chegaram a passar por treinamento em algumas empresas de fast food, mas, na hora H, sentiam que alguma coisa estava faltando e não fechavam o contrato. Bruno tinha ido a um Nakombi no Rio de Janeiro, quando mais jovem, e se encantara com aquela réplica do veículo no salão onde eram preparados os pratos. Era o toque que faltava, e nesse momento juntou-se a eles outro fanático por culinária japonesa, o irmão de Marisa, Felipe, formado em administração e com alguma experiência em outra empresa da família. Foram a São Paulo entrar em contato com os detentores da marca e, depois de


Fotos: Divulgção

alguns meses de conversa, fecharam contrato e começaram a correria para montar a primeira Nakombi na capital da República, inaugurada em setembro do ano passado. “Além do interesse pessoal, constatamos a existência de um público amplo e uma tendência de mercado voltada para essa culinária. A comida japonesa é rica em sabor, possui um visual vivo e está na moda”, explica Felipe Braga. Na reforma para instalação da loja, além da kombi estilizada que é marca da franquia, eles contaram com um look especial do arquiteto George Zardo, pai de Bruno, que criou três ambientes distintos, proporcionando momentos diferentes para os clientes. “Nós temos uma varanda à meia luz e velas, um salão bacana e um mezanino aconchegante com sofá e poltronas com decoração diferente e confortável, ideal para encontros românticos, reuniões de trabalho e confraternizações com amigos e familiares,” afirma Felipe. O cardápio conta com uma boa seleção de pratos frios e quentes. São mais de 60 opções no rodízio, em que são servidos não apenas os tradicionais peixes crus e rolls, mas também iguarias à base de filé mignon e frango, tempurá de camarão, yakisoba, harumaki, missoshiru e o tataki misto (foto à direita). Entre os rolls, destaque para o Gunkas (salmão, shimeji e fujita). De terça a sexta, o rodízio custa R$ 64,90 no almoço e R$ 71,90 no jantar; aos sábados, domingos e feriados, preço único de R$ 71,90. Para quem prefere o serviço à la carte,

os pratos preferidos têm sido o yakisoba de filé mignon e o teppanyaki de salmão. Entre as sobremesas pontificam as panelinhas/recheio de chocolate, nascidas da parceria com um fornecedor. “Estávamos em processo de criação de um trio de petitgâteau (de goiabada, doce de leite e chocolate) e fomos a várias confeitarias em busca do melhor. Foi quando nos deparamos com as panelinhas. A princípio eram todas de chocolate ao leite, mas, ao fecharmos o acordo com a confeitaria, conseguimos diversificar seus sabores. Hoje temos chocolate ao leite com brigadeiro, chocolate branco com mousse de limão e chocolate meio amargo com mousse de nozes”, conta Felipe.

A carta de vinhos e espumantes foi preparada pelo gerente e sommelier Thiago Santos e nela constam rótulos nacionais e importados de diversas categorias. A diversidade dos saquês é outro atrativo, com destaque para o Hakushika Junmai Gold, que possui flocos de ouro e é servido em taça de espumante. Há também uma seleção de uísques japoneses premiados, como o Yamazaki, duas vezes eleito o melhor single malte do mundo, superando até os escoceses. Nakombi

404 Sul – Bloco B (3264.6888) De 3ª a 5ª feira, das 12h às 14h30 e das 19 às 23h; 6ª e sábado, das 12h às 14h30 e das 19 às 24h; domingos e feriados, das 12 às 19h.

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águanaboca

Chef cearense,

comida baiana

Por Vicente Sá Fotos Lúcia Leão

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s quadras 403 e 404 Norte nasceram emendadas, bem no comecinho de Brasília. São, talvez, as mais antigas da Asa Norte, do tempo em que os prédios ainda eram conhecidos por números e não por letras. Seus comércios, embora voltados para direções opostas, nunca deixaram de contribuir para a história dos bares e da gastronomia da cidade. Os mais antigos se lembram do Zebrinha, ponto de encontro da resistência universitária nos anos 70, na 404; outros, do lendário Rosental, na 403. Desde junho do ano passado, um novo restaurante está se firmando nesse espaço tão antigo da cidade e prometendo entrar para o rol das casas que fazem história. É o Muqueca do Chefe, de Francisco Holanda. A casa, antes que paire alguma dúvida, é terreiro de comida baiana e não capixaba. Em qualquer uma de suas 18 mesas, decoradas de forma simples, com toalhas que imitam fitas do Senhor do Bomfim, os clientes podem fazer um passeio gastronômico pela culinária da boa terra. As entradas são bem servidas e os preços em conta. O freguês pode escolher sem susto entre uma casquinha de siri e

um bolinho de aipim com camarão – ambos são de revirar os olhos, principalmente se vierem acompanhados de uma cachacinha que abra ainda mais o apetite. Tanto a muqueca mista (o Houaiss prefere a grafia moqueca) quanto a de camarão têm sido muito elogiadas pelos clientes que já descobriram a casa. Entre uma garfada e outra, Júlia Rios avisa que voltará no final de semana para comer com mais vagar a mista, feita com pescada amarela e, é claro, dendê e leite de coco, para ficar bem cremosa. Todas as muquecas custam R$ 90, servem bem duas pessoas e são feitas com pescada amarela. Caso o cliente seja sensível ao dendê ou ao leite de coco, elas podem ser servidas sem esses ingredientes. Esse ensopado de origem indígena é uma das especialidades que Francisco Holanda aprendeu ainda moço e desenvolveu nos 24 anos que passou como chef da antiga rede Bargaço, hoje Manzuá, onde ingressou em 1991. Ele foi o responsá-


vel pela abertura da filial de Brasília, em 1994, e a comandou até o ano passado, quando abriu seu próprio “cantinho”. No principal site de turismo e gastronomia do país, o TripAdvisor, o Muqueca do Chefe está cotado com quatro estrelas graças à excelente avaliação de seus clientes, em sua maioria servidores públicos, políticos, estudantes e, como não poderia deixar de ser, ba ianos. Um caso exemplar é o do restarateur Udileston Lopes, que não passa um mês sem almoçar um peixe ensopado, que ele recomenda como uma dieta necessária à sua baianidade. “É preciso relaxar um pouco e comer uma comida com aquele gostinho da nossa infância”, filosofa. O camarão na moranga é outra atração da casa, servido apenas com arroz branco soltinho e um molho de pimenta que é um caso à parte e tem ajudado a lotar a casa nos finais de semana. Por isso, no caso de comitivas com mais de quatro pessoas, é aconselhável fazer reserva. O camarão na moranga também serve duas pessoas e sai por R$ 80. Para quem quer sair um pouco dos ensopados, aconselhamos o filé de suru-

bim grelhado com molho de alcaparra ou camarão acompanhado de arroz com brócolis e legumes. Como os anteriores, esse prato serve duas pessoas e custa R$ 70. E como a casa é bem brasileira, pode-se amenizar a pimenta ou refrescar a garganta com uma cerveja bem gelada. As sobremesas são poucas e boas: pudim de leite e de tapioca e cocadinhas pretas e brancas de fazer o santo perder o regime, todas com os sabores e as cores da Bahia, mas, curiosamente, preparadas por um chef cearense. Isso mesmo: Francisco de Holanda é natural de Cascavel,

Ceará, mas nem por isso se intimida em trabalhar com uma comida tão típica de outro Estado. Na sua simplicidade, ele lembra Pierre Verger e Carybé, que nem brasileiros eram e se tornaram baianos com h. Depois de fazer essa viagem nos temperos do Muqueca do Chefe, a gente acaba acreditando que ser baiano, mais do que um estado de espírito, é um dom. Muqueca do Chefe

404 Norte - Bloco B – Loja 2 (3201.5204). De 3ª a domingo, das 12 às 24h.

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GARFADAS & GOLES Luiz Recena

lrecena@hotmail.com

Natal: “Todos os fogos o fogo” A prometida minúscula janela abriu-se nos estertores de 2014. A dezena final do ano não tem boa acolhida nos estudos de numerologia em séculos anteriores. Consta não existirem boas referências a ela desde a primeira passagem de nosso senhor Jesus Cristo por este vale de lágrimas. Mas deixemos o veredito definitivo para o momento certo, aquele em que soarem afinadas as trombetas do juízo final. O que mais apraz ao colunista é falar sobre a janela-janelinha que, em formato flute, no fim do ano se fez rainha. A cava espanhola gelada deu-lhe o conteúdo ibérico necessário. Um jogo armado previamente se concretizava no acompanhamento, bolinhas negras oleosas com sotaque russo inconfundível, saídas de esturjões incontestáveis. O caviar, um Petrossian autêntico, veio direto de Paris. Gramas poucas. O necessário para matar uma saudade. E reforçar laços de amor filial, paternal, fraternos em amplitude. Bom pão, boa manteiga/creme fresco, boa conversa. Nada mais. Nem precisava para começar um bom Natal. Janela aberta, não escancarada. Promessas cumpridas. Isso é bom. Jogo da amarelinha O título poderia ser As Armas Secretas, O Livro de Manoel, Autopista del Sur, Blow Up ou vários outros. A preferência pelos “fuegos” é antiga, garante a genialidade do escritor argentino Júlio Cortázar, e antecipa tintas insólitas ao que vem a seguir. Apaixonado pelo Brasil, foi testemunha e cúmplice do sucesso de Caetano e Betânia. Curtia-os tanto que comentou um dia: “Às vezes penso que são a mesma pessoa”. Curtimos a frase como curtíamos o escritor, rindo e entendendo o que ele dizia e escrevia e, ao mesmo tempo, sem sacar o genial com que via o convergente entre díspares, o que havia de igual nos diferentes. O Natal mesmo foi no Rio, casa incrível no Jardim Botânico. Casa despojada e cheia de encantos. Silenciosa e vazia, ou com amigos e parentes aos magotes, com todos

os barulhos. O barulho. O almoço do 25 apostava que o bebê sagrado da manjedoura teria uma centena de apóstolos: cardápio farto e variado devidamente abatido. Família grande sempre tem aniversário. Teve. De 90 anos, com missa, parabéns e bolo. Ao colunista foi permitido “passar” o primeiro item. E o churrasco? Também teve. E a gelada? Essa janela, discreta, se fechou para o colunista. Era o combinado. Blasfêmias só em pensamento.

Papi Noel existe O milagre acontecera dois dias antes, ao chegar ao bucólico endereço. “Estamos muito felizes com sua chegada, mas temos primeiro uma tarefa para você”, disseram Bel e Bob, pessoas fantásticas, casal de arquitetos que acabava de trabalhar

alguns dias em São Petersburgo, discutindo mágicas construtivas em prédios comerciais. Uma bolinha negra e oleosa para quem adivinhar a tarefa: atestar a legitimidade de um caviar comprado na rua, em mão suspeita. Dedos cruzados, olhos abertos, palatos limpos, energia total nos Orixás, Babuchkas, Ícones e Lênindades... todos somos um... abre-te tampa! E abriuse a tampa azul com palavras em russo. Era preto, legítimo e estava bom. E mais farto que o de Brasília. Ancorado em combinações de praxe e duas espanholas brut bem geladas. Bel e Bob. Quanta coisa em nossos vários papos. Com uma, com o outro, com os dois, com todos os demais e mais de novo com os dois e com um e com outra. Pensei em Cortázar. Plágio inevitável: “Em algum momento eles são o mesmo?”. Feliz 2015!

Massagem fisioterápica e linfática, tratamento complementar de celulite e obesidade. Técnica japonesa. 14

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PÃO & VINHO ALEXANDRE FRANCO pao&vinho@agenciaalo.com.br

Sob o sol da Toscana

Transmitindo diretamente de terras carcamanas, mais uma vez em viagem pela Europa fria de início de ano, faço chegar aos leitores “a voz do vinho”. Até que não seria um mau título para um programa de rádio. Após passar pela gelada Londres, onde deixei meu filho para um semestre de curso na King’s College, viemos, eu, minha esposa e minha filha, encontrar outros amigos para um novo tour pela Toscana. Sete pessoas e muitas malas me exigiram a locação de um pequeno “ônibus”, ao qual carinhosamente chamamos de “La Naveta”. Baseados na magnífica Florença, rodamos por toda a Toscana, ávidos por paisagens, pastas e vinhos. Embora com temperaturas relativamente frias, quase sempre acompanhados pelo “sol da Toscana”, pudemos ter acesso aos três objetivos. No primeiro dia, com chegada já pelo meio da tarde, ficamos apenas com “uno giro por la citá”, coroado por um jantar na Cantineta Antinori. Boa comida toscana, com salami e formagi, ripolita e pasta ao ragu toscano. Tudo acompanhado pela primeira ótima garrafa de Tignanello, primeiro dos “supertoscanos”, conceito criado pelo próprio Antinori e vencedor até hoje com alguns dos melhores vinhos que se pode achar por estas bandas. Safra 2011, novo, mas desde já muito bom, com taninos macios e aveludados, de cor rubi intensa e nariz de frutas negras, especialmente cerejas, e toque mentolado. Por fim, um palato agradável, de final longo e acidez muito bem equilibrada com a alcoolicidade. Grande ! No segundo dia, passagem por Arezzo, com direito a piquenique na van – pão, mortadela, parma e queijos junto a um Brunello menor, mas ainda1assim muito bom, Anúncio_vila e nirá janeiro1.pdf 13/01/2015 16:26:29 para depois visitarmos a linda Cortona. Uma cidade típica

da Toscana, muito turística e, aliás, palco do filme Sob o sol da Toscana, onde tomamos o melhor espresso de que já tive conhecimento e fechamos com “chave de ouro” ao encontrar uma loja de vinhos de quase 80 anos oferecendo os melhores rótulos pelos melhores preços que já vi. A consequência foi a formação de uma bagagem de sonho: um Solaia 2011, o top do grande Antinori; um Sassicaia 2008, grande safra para os Bolgheri; um Ornellaia 2010, outro Bolgheri especialíssimo; um Guado al Tasso 1998, aqui um Bolgheri de Antinori já pronto; e – pasmem – um Sodera 2006, a última safra de Gianfranco Soldera antes da terrível perda de cinco safras postas fora por um empregado descontente (a próxima só em 2017). De quebra, por indicação da loja, um Paleo 2010, considerado por alguns como o melhor vinho da região de Chianti, mas deste falaremos adiante. Para completar a mala, diretamente de Montalcino, um Poggio di Sotto 2008, um Casanova di Neri 2006, um Fuligni 2007 e um Madona del Piano 2007, todos Brunellos reserva das melhores safras deste século. E, claro, mais um Tignanello, que ninguém é de ferro. Para encerrar, vamos voltar à indicação da excelente loja. O Paleo 2010, com 100% de Cabernet Franc, um verdadeiro “Cheval Blanc” da Toscana produzido pela Le Macchiole, com nada menos que 96 pontos de Robert Parker, mostrou uma cor rubi intensa, com nariz a morangos, muita cereja, ameixa e amora, para depois trazer pimenta, couro e café. Nariz complexo e muitíssimo agradável. No palato, muito longo e bem equilibrado entre álcool, taninos e acidez perfeita, com doçura e maciez. Um vinho de deixar lembranças.

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DOIS ESPRESSOS E A CONTA cláudio ferreira claudioferreira_64@hotmail.com

Saudades da coxinha

Os últimos dias de 2014, recheados de eventos sociais, me trouxeram uma triste constatação: já não se fazem mais salgadinhos como antigamente. A forte competição entre chefs, bufês e receitas produziu um tipo de comida bem diferente nos últimos tempos – não só os pratos mais elaborados, mas os petiscos servidos em festas de todos os tipos. Fui a um evento em um órgão público e a um casamento. Senti falta de coxinhas, rissoles, quibes. Das empadinhas que esfarelam com facilidade e dos pasteizinhos com recheios nem sempre identificáveis. Dos brigadeiros que vinham com quantidades variáveis de chocolate granulado. Dos olhos de sogra que também tinham suas variações. Agora, todos os recheios são ocultos – é o garçom que tem que nos dizer do que é feito aquele salgadinho. Não há rastro de gordura, há muita coisa folhada, os molhos vêm em tigelinhas separadas. Tudo é muito asséptico, nada sai do lugar, nada respinga, não há um salgadinho mais amassado do que o outro, ou aqueles “patinhos feios” da bandeja, que visivelmente não tinham dado certo. Pra completar, há as misturas cada vez mais exóticas. Sabores doces e salgados agora costumam namorar. Não há mais divisão entre a parte salgada e a hora da sobremesa. No evento do órgão público havia alguns salgadinhos com geleia de frutas. No casamento, um petit-gâteau de salmão com molho de lichia. A criatividade impera nas novas cozinhas. Nenhuma dessas novas combinações é necessariamente ruim. Não gosto da mistura entre doce e sal, mas não me furto a experimentar sabores exóticos. E muito do que comi nas duas oportunidades era maravilhoso.

O que tenho, talvez, seja uma ponta de saudosismo. Dos croquetes da tia (alguém sempre tinha uma tia que era especialista em um determinado prato), dos pasteizinhos caseiramente recheados com salsicha amassada (com o garfo), do cachorro-quente com molho que vazava pão abaixo. Alguém se lembra dos bombons recheados com licor que a gente só descobria se era bom ou ruim depois que já estava tudo na boca? E o saudosismo não é só meu: outro dia vi, num programa de televisão desses de celebridades, alguém sentindo falta de bolinha de queijo e da rodelinha de salsicha espetada no palito. Olha lá! Gente chique que quer, na mesma festa, caviar e ovo de codorna! As festas de aniversário de criança, atualmente, vão pelo mesmo caminho. Nada de improviso, como nossas mães, tias e avós faziam tão bem. Agora tudo é calculado. Até o bolo é de mentira – continua lindo, mas só para cantar os parabéns; depois vem alguém com uma caixa e as fatias de bolo já cortadas e embaladas no papel alumínio. Não dá mais para ficar disputando com o amigo o maior pedaço. Nos eventos mais chiques, a cada salgadinho, um guardanapo. No primeiro evento, voltei para casa com o bolso do terno cheio de guardanapos sujos. No segundo, felizmente havia mesinhas de centro. Com petiscos tão engomados e tantos guardanapos à disposição, ninguém se suja mais. Não, não sou tão ogro quanto possa parecer. Mas tenho saudades do abacaxi com os espetos que mesclavam azeitona, queijo e salsicha (constrangedoramente apelidados por um palavrão cujas iniciais são p.q.p). É, às vezes tenho saudades de uma vida mais brega, confesso.

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dia&noite

thesmashingpumpkins A banda norte-americana de rock alternativo se apresenta em Brasília dia 27 de março, como parte do festival Lollapalooza, que acontece no Autódromo de Interlagos nos dias 28 e 29. Formada em Chicago, em 1987, passou por diversas mudanças de integrantes ao longo do tempo, mas a maior parte de seus sucessos foi composta pelo vocalista Billy Corgan, que continua na banda. Suas letras moldaram canções e álbuns que têm sido descritos como “angustiados, relatos da terra de pesadelos de Billy Corgan”. Em um ano, o grupo lançou dois álbuns: Monuments to an elegy e Day for night. A banda norte-americana de indie rock Young The Giant abre o show. Os ingressos custam entre R$ 130 e R$ 500 e começam a ser vendidos no dia 21 de janeiro em www.ingressorapido.com.br e na Central de Ingressos do Brasília Shopping.

Sergio Moraes

précarnaval

Fábio Cunha

Quatro horas de show no Estádio Nacional Mané Garrincha. Será no domingo, 1º de fevereiro, o Bell Exclusive, que marca os 30 anos de carreira do cantor de axé music conhecido por sua carreira como vocalista do Chiclete com Banana. Bell Marques vai reviver sua trajetória em show que começou em Salvador e segue em turnê pelo Brasil. “Estou bastante ansioso para levar esse belo projeto para outras cidades. Reviver minha história em Salvador foi muito emocionante e espero que o Brasil se divirta comigo relembrando esse repertório”, conta Bell, que passou mais de um mês trancado em estúdio com sua Big Band para escolher o repertório que serviria de base para o show. Além das canções de maior sucesso do Chiclete com Banana, imortalizadas em sua voz e através da força de sua guitarra, Bell Marques apresenta sucessos de sua carreira solo, como Voltei, Amor bacana e Vumbora vumbora. Ingressos a R$ 160 (masculino) e R$ 140 (feminino), à venda nas lojas Free Corner. Informações: 3248.5221.

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diadevinil Todas as quartas, a partir das 20 horas, o gastropub Loca Como Tu Madre (306 Sul) apresenta o Bolachas borrachas, projeto no qual desfilam bolachões de música brasileira, groove e black music, além de ritmos africanos e latinos. Tudo começou com a paixão pela música e pelos discos de vinil que uniu os amigos Felipe Romero, Gabriel Hargreaves e Thiago Freitas no coletivo Bolachas Borrachas. Sempre em busca da batida perfeita, há mais de dois anos o coletivo comanda as noites de quarta-feira no gastropub, onde projeto nasceu em janeiro de 2013. Couvert artístico a R$ 7.

jerrylewisvemaí Considerado o rei da comédia tipo pastelão, o comediante de 88 anos será homenageado na mostra Jerry Lewis, entre 18 de fevereiro e 16 de março, no CCBB. Serão exibidos 25 filmes do ator, desde os trabalhos em que atuava na companhia do também ator e cantor Dean Martin, passando por sua carreira solo e chegando até os filmes dos anos 60. Destacam-se, entre eles, O terror das mulheres, O mensageiro trapalhão e Professor aloprado (foto). Nessa época ele dirigia, atuava, roteirizava e produzia seus próprios filmes. Alguns consideravam suas produções estranhas, já outros o tinham como “gênio do cinema moderno”. A mostra será de quarta-feira a domingo, com ingressos a R$ 4 e R$ 2.

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bellmarques

Lula Lopes

Os festejos de Momo abrem passagem no CCBB, já a partir dos dias 6, 7 e 8 de fevereiro, período em que acontece o Encontro Nacional de Orquestras Populares. Na programação, apresentações de grupos que são referência no Brasil e no exterior, como a Orkestra Rumpilezz (BA), a Banda Savana Jazz (SP), as brasilienses Orquesta JK, Orquestra Brapo e Orquestra Popular Marafreboi (foto), a Orquestra Contemporânea de Olinda (PE), a Orquestra Popular do Recife (PE), a SpokFrevo Orquestra (PE) e a Orquestra Voadora (RJ). O projeto, idealizado pela Beco da Coruja Produções Culturais, com curadoria do maestro Fabiano Medeiros, tem como objetivo reunir os melhores instrumentistas do país e promover o intercâmbio musical de toda riqueza, diversidade e representatividade cultural do Brasil. A abertura, dia 6, é com a Orkestra Rumpillez, no teatro do CCBB. Entrada franca mediante retirada de ingressos na bilheteria, uma hora antes da apresentação. Nos dias 7 e 8, as apresentações serão nos jardins, a partir das 15 horas.


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contrações Quem não se lembra do jogo de gato e rato que Débora Falabella e Adriana Esteves protagonizaram em Avenida Brasil, exibida em 2012 pela Rede Globo? Na novela, Nina e Carminha eram as rivais fervorosas que conduziam a trama de dominação e rivalidade em cenas que hipnotizavam os espectadores. Pois agora a atriz Débora Falabella interpreta papel muito semelhante ao de Nina na peça Contrações, em cartaz no CCBB entre 20 de fevereiro e 15 de março. Com texto do inglês Mike Bartlett e direção de Grace Passô, o espetáculo tem também no elenco Yara de Novaes, no papel de gerente de uma empresa que pratica assédio moral sobre a personagem Emma, interpretada por Débora. A peça traz de forma bem humorada, e ao mesmo tempo cruel, a reflexão das relações no ambiente de trabalho. Por meio do poder corporativo, a gerente submete a várias provações sua funcionária, que resiste a tudo pelo emprego. De quinta a domingo, com ingressos a R$10 e R$5. Classificação indicativa: 14 anos.

Igor Cabral

conexãobrasíliario

criarcomoquetemos

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¨Nos próximos três meses teremos extensa programação cultural conceituada, com peças de teatro, filmes e debates, entre outras atividades. A ideia é praticar o exercício de proximidade, seja entre as cenas culturais e artistas do Rio e de Brasília, seja a de públicos, seja entre os sujeitos e a rua”. Assim Patrick Sampaio explica o BR-040 Práticas de Proximidade, projeto que ocupa o Teatro Plínio Marcos, da Funarte, com programações fixas, de quinta a domingo, desde 15 de janeiro. A primeira a desembarcar do Rio é a peça O que você gostaria que ficasse, do grupo carioca Brecha. Na obra, os artistas investigam afetos relacionados à memória e ao desejo de permanência da humanidade, diante de um suposto processo de extinção de nossa espécie. De 22 a 25 de janeiro entra em cena Desbunde, produção de Juliana Drummond e Abaetê Queiroz, aqui de Brasília, com um retrato do auge da ditadura, na década de 1970, quando um grupo de artistas pede por liberdade sem temer a provável repressão. De 29 de janeiro a 2 de fevereiro estará em cartaz o espetáculo carioca Paralelamente (foto) de Brecha e João Rodrigo Ostrower (RJ). Na peça, cinco amigos que não se veem há anos se encontram em um lugar desconhecido que, além de interferir na presença dos corpos, influencia de modo determinante as relações entre aqueles que lá habitam. Teatro Plínio Marcos, da Funarte, de quinta-feira a sábado, às 21h, e domingo, às 20h. Ingressos a R$ 20 e R$ 10, à venda duas horas antes do início de cada sessão. Informações: 3322.2076.

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curtaaomeio-dia Depois de uma breve interrupção em janeiro, o projeto do CCBB volta com força total a partir de 6 de fevereiro, agora com curtas-metragens brasilienses exibidos gratuitamente, de sexta a domingo, sempre ao meio-dia. O módulo Visões de Brasília apresenta uma homenagem aos dez anos da morte de Lyonel Lucini (foto), um argentino que viveu entre 1939 e 2005 e adotou Brasília como sua cidade ainda nos anos 60. Foi professor do Intituto de Artes da UnB, teve de se afastar durante a ditadura militar, mas voltou nos anos 90, passando a lecionar e formar diversos cineastas em Brasília. Eu Sou o Cerrado, seu drama com características documentais, foi aclamado por ambientalistas por mostrar como o desmatamento deixou o segundo maior bioma brasileiro em uma situação drástica. Outro destaque do módulo é Brasiliários, de Sergio Bazi e Zuleica Porto, inspirado na obra de Clarice Lispector. O curta relata a visita de uma escritora à cidade. De sexta a domingo, ao meio-dia, com entrada franca (senhas distribuídas uma hora antes do início de cada sessão). Programação em www.bb.com.br/cultura.

Biscoitos, câmaras de pneus, palitos de dente, dejetos eletrônicos e até mesmo lixo entram na lista dos materiais utilizados nas obras da mostra Ciclo – criar com o que temos, em cartaz no CCBB entre 5 de fevereiro e 20 de abril. Com trabalhos de 14 artistas de diferentes gerações e nacionalidades, a exposição leva o público a refletir sobre uma questão relevante de urgência: como produzir arte a partir de elementos do mundo, oferecendo novos significados a materiais e reinventando maneiras de ver e sentir as coisas? Algumas das instalações permitirão a interação do público como Gum head (cabeça de chiclete), um enorme autorretrato do canadense Douglas Coupland sobre o qual os visitantes colarão chicletes mascados, e a performance Eating de city (comendo a cidade) organizada pelo chinês Song Dong, sobre a qual o público vai devorar a cidade de Brasília, reconstruída na forma de uma gigantesca maquete de doces, no dia 7 de fevereiro, a partir das 11h. No CCBB, de quarta a segunda-feira, das 9 às 21h, com entrada franca.

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A partir da esquerda, os acadêmicos Paulo Castelo Branco, Eugênio Giovenardi, Vera Ramos, Lourierdes Fiúza dos Santos e Osmar Alves de Melo.

Defensores de Brasília Texto e fotos Heitor Menezes

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ocê mora no Plano Piloto? Interessante. Você deve morar num pedaço de papel, pois na verdade ninguém mora no Plano Piloto. Mora em Brasília, na Asa Sul, Asa Norte, Cruzeiro, Taguatinga, Guará, Distrito Federal, por aí vai. Plano Piloto de Brasília, desculpe aí, é a concepção urbana da cidade. Pode parecer semântica, inútil coisa

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importante, uma vez que todos entendem a figura de linguagem (uma metonímia? uma perífrase?), mas pronunciar e aplicar corretamente os nomes e significados desse mundo Brasília é que é o charme, o pulo do calango, o que nos distingue com a identidade daquilo que somos: brasilienses, tanto os nascidos na terra como os que vieram e se apaixonaram por esta cidade, e por isso podem ser assim chamados. E há um lugar nesta capital repleto de

calangos que sabem sentir, admirar e entender o cerrado brasileiro e a cidade mais espetacular nele construída. São notáveis, de diferentes áreas, que fazem da defesa intransigente do solo e da história deste quadrante a razão de viver. Esse lugar é o Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, agremiação cultural, sem fins lucrativos, que completou 50 anos em 3 de junho de 2014. Sabe aquele prédio, ali na 703/903


Sul, que mais parece a catedral amassada? Obra inacabada do arquiteto Milton Ramos (1929-2008), o mesmo das soluções dos arcos do Palácio do Itamaraty, é a sede do IHGDF. Adentrar aquele espaço é perceber que Brasília e sua região têm algo profundo e mágico. Não por acaso, a capital federal do Brasil é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e reconhecida desde 1988 pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade. “O IHGDF tem dado uma contribuição muito grande. Aqui é o único lugar onde realmente se ensina a história do Distrito Federal e da construção de Brasília”, ressalta a arquiteta Vera Ramos, primeira vice-presidente do instituto. Ela se refere ao curso “Distrito Federal: Seu Povo, Sua História”, ministrado nas dependências do IHGDF aos professores e alunos da rede pública de ensino. Quase mil mestres e cerca de 70 mil alunos aprofundaram conhecimentos e aprenderam os termos corretos e imperativos constitucionais referentes à nossa cidade-capital. “Distrito Federal, Brasília, Plano Piloto, cidades e regiões administrativas são colocados nos seus devidos lugares”, enfatiza o cartógrafo Adalberto Lassance, um dos incansáveis palestrantes do instituto e ferrenho defensor das coisas sobre o Planalto Central. Por que devemos entender esses imperativos? Explica Lassance: “A razão é simples: o Distrito Federal e Brasília são singulares, são atípicos e são diferentes. Nós, que viemos de outros Estados, trouxemos uma cultura própria, diferenciada daquela que temos aqui. Nossa organização administrativa e nossa organização territorial também são diferentes. Como é singular, há uma dificuldade de as pessoas absorverem essa singularidade. No entanto, existem leis, como a Lei Orgânica do Distrito Federal e a Constituição Federal, que instituem essa singularidade. Ela não foi inventada por mim”. Ok. Saibamos nós e agradeçamos que o IHGDF reúna nossas melhores cabeças e mantenha viva a memória, por que não, o estado democrático de direito, e é a contra mola que resiste à especulação. Lembram quando um desses governos tentou aprovar de afogadilho o polêmico Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília, o PPCUB? Documento mal ajambrado que, graças aos olhos de acauã do IHGDF e seu Conselho de Preserva-

ção de Brasília (Conbras), não passou no escrutínio dos especialistas e nesse momento mora nas calendas gregas, aguardando a devida revisão. “O Conbras é um conselho interno e não tem poder deliberativo junto às autoridades”, lembra Vera Ramos, “mas, pelo respeito, pela condução ética das questões e pela qualidade de seus membros, atuantes na história do Distrito Federal, suas opiniões são muito valiosas. A criação do Conbras é uma homenagem ao Dr. Ernesto Silva, que teria completado cem anos em 2014”. Um dos maiores entusiastas de Brasília, o coronel do Exército e médico pioneiro Ernesto Silva (1914-2010) foi persona-

gem-chave da construção e transferência da capital. Foi ele quem assinou o Edital do Concurso do Plano Piloto, em 1956. O traçado urbanístico de Lúcio Costa e a preservação da ideia de Brasília com suas escalas têm no médico carioca um dos seus mais aguerridos defensores. A nostalgia fica por conta de uma foto do Dr. Ernesto presente em todas as reuniões do Conbras, onde não faltam soluções para Brasília e um bom pão de queijo mineiro, para alimentar o espírito das conversas. 2014 já vai tarde, e foi mesmo um ano de muitos atropelos. 7 a 1, eleições, coisas que é melhor não lembrar muito. Nem deu para fazer aquela homenagem mereci-

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históriacandanga da aos 50 anos do IHGDF, nem aos cem anos de Ernesto Silva. “Coisas boas estão por vir”, avisa a primeira vice-presidente Vera Ramos. Tomara. Em 2014, também não dá para esquecer, passou para a história outro acadêmico do IHGDF, o poeta, filólogo e advogado Raimundo Nonato da Silva, o primeiro jornalista de Brasília. Ainda no Rio de Janeiro, na antiga sede da Novacap, antes da inauguração, ele lançou a Revista Brasília. O que deveria ser um boletim de atas e “prolegômenos burocráticos”, como lembra Jarbas Marques, transformou-se em uma publicação inovadora, em design e conteúdo. A biblioteca do IHGDF guarda essas joias para consulta. Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal (IHGDF)

703/903 Sul – Conjunto C (3224.6544). Visitas das 8 às 12h e das 14 às 18h. Mais informações: www.ihgdf.com.br.

Patrono ilustre O IHGDF foi fundado cinco dias antes da cassação do mandato do presidente Juscelino Kubitschek como senador pelo Estado de Goiás. Quem faz a lembrança é o historiador Jarbas Marques, que já ocupou a primeira vice-presidência do IHGDF. Eis as datas: o IGHDF, em 3 de junho de 1964. JK, em 8 de junho daquele ano, já contaminado pelo golpe militar de 31 de março.

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A cassação interrompeu os planos de Juscelino para uma eventual volta ao Palácio do Planalto, nas eleições de 1965, que acabaram abortadas por vocês sabem quem. O resto é história. JK é o patrono do IHGDF; o presidente, outro mineiro de Diamantina, que foi subchefe da Casa Civil da Presidência, nos melhores anos do presidente Kubitschek (1957-1961): o coronel reformado do Exército Affonso Heliodoro dos Santos, 98 anos, firme e forte. Jarbas Marques destaca que o IHGDF guarda semelhança com o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), funda-

do em 1838, na época do Império, e ainda de pé e atuante, no Rio de Janeiro. “É o mais antigo organismo na preservação da história e da geografia brasileiras. Seu patrono, D. Pedro II, apoiou o modelo de 40 membros, baseado na Academia Francesa de Letras”. No caso do IHGDF, são 120 sócios acadêmicos. “O nosso IHGDF começou graças ao Dr. Ernesto Silva, que, como diretor da Novacap, fez as gestões para a cessão do lote, onde se encontra erguida a sede do instituto. Podemos dizer que o IHGDF nasceu com as pessoas que fixaram residência em Brasília e criaram a massa crítica; foram os literatos, os historiadores, os cartógrafos, os intelectuais de diversas nuances que ergueram o instituto”. O IHGDF mantém aberto ao público o Museu Memorial Brasília, com exposição permanente sobre a história da capital. Nele, respira-se o ar dos desbravadores e se acham objetos curiosos, como uma mala que pertenceu ao astrônomo belga Luiz Cruls; a cadeira de barbeiro usada por JK e o restaurado jeep Maracangalha, com o qual Juscelino e Bernardo Sayão inspecionavam a construção da capital. Às duras penas, o IGHDF mantém biblioteca destinada à pesquisa histórica do DF. Visita imperdível.


galeriadearte

Brecheret e a alma

da matéria bruta

Por Ana Vilela

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Fotos: Divulgação

recheret – Mulheres de corpo e alma, desenhos e esculturas, em cartaz no Museu Correios até 15 de março, é uma mostra para presenciar a materialização da alma antes oculta no cerne da matéria bruta. A anima, o componente feminino da personalidade de todos os seres humanos, é vista e desvelada pelo olhar do artista, que faz emergir do interior do mármore, do gesso, do bronze, o seu espírito, a arte ali contida. São 37 peças e 107 desenhos a conduzirem o espectador pelo mundo de formas, contornos e traços criados pelas mãos do ítalo-brasileiro nascido em 1894 em Farnese di Castro, Itália.

Dividida em oito conjuntos de desenhos que dialogam com cinco grupos de esculturas, de acordo com a variante da temática do feminino, os trabalhos expostos foram realizados pelo artista entre 1920 e 1955. Em uma sala especial estão instalados oito painéis de mármore, com “mulheres alegorias” talhadas em médio e baixo relevo. Desenhos e esculturas trazem formas delineadas com suavidade e em linhas minimalistas, na leveza construída primeiramente pelo olhar e pela própria anima do escultor. Produzidas em mármore, gesso, pedra granítica rolada pelo mar, bronze patinado e bronze polido, as esculturas são, em sua maioria, nus femininos talhados com elegância e delicadeza. Os traços trazem evidente sensibilidade quanto ao universo anímico, à essência feminina, à força da Mãe Terra, a deusa Gaia, natureza constantemente impressa por Brecheret em qualquer que tenha sido a matéria-prima usada para deixar vir à tona o espírito por ele vislumbrado. Influenciado por escultores pós-Auguste Rodin, a exemplo de Émile-Antoine Bourdelle e de Ivan Meštrovi, no Brasil ligouse a Di Cavalcanti, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti del Picchia. Ao lado de Anita Malfatti, é considerado o precursor do Modernismo no Brasil, que culminou na Semana de Arte Moderna de 1922, quando expôs 20 esculturas no saguão e nos corredores do Teatro Municipal de São Paulo. Com bolsa concedida pelo governo de São Paulo desde 1921, manteve paralelamente uma carreira de sucesso na Escola de Paris e no Brasil. Uma de suas obras mais conhecidas é o Monumento às Bandeiras, um projeto apresentado em maquete em 1920, com execução encomendada em 1933 pelo governo do Estado de São Paulo e que demorou 33 anos para

ser construído (1920-1953). Em 1951, o artista foi premiado como melhor escultor nacional na primeira Bienal de São Paulo. A exposição, com curadoria de Daisy Peccinini e realização do Instituto Victor Brecheret, comemora os 120 anos do artista, que chegou ao Brasil ainda menino e adotou como sua a cidade de São Paulo, onde morreu em dezembro de 1955, deixando por aqui seu nome, sua história e a arte de um dos maiores escultores do país. Exposição Brecheret – Mulheres de corpo e alma, desenhos e esculturas

Até 15/3 no Museu Correios (SCS, Quadra 4, Edifício Apolo). De 3ª a 6ª feira, das 10 às 19h; sábados e domingos, das 12 às 18h (entrada franca). Visita guiada com a curadora dia 7/3, às 16h. Mais informações: 3213.5076.

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Guardiões de uma

arte em extinção

Por Lúcia Leão

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ara além do vale do Tejo, rio que nasce no centro da Espanha, divide Portugal ao meio e encontra o mar em Lisboa, estão alguns dos vinhedos e olivais que notabilizaram os portugueses nas artes dos vinhos e azeites. Os produtos do Alentejo colecionam medalhas e a simples indicação de origem é como um selo de qualidade reconhecido em todo o mundo. E há, espalhados entre os imensos campos cultivados, reminiscências de uma história milenar guardada em cidadelas, castelos, conventos, igrejas, muros e portais que, tanto quanto a boa mesa, atraem hordas de visitantes de todo o

mundo para as quase sempre pequeninas e acolhedoras cidades da região. Não foi nem uma coisa nem outra, no entanto, que nos levou a Estremoz, apesar de ser ela também produtora de bons vinhos e azeites premiados e dotada de belíssimas edificações medievais, como o Castelo de Evoramonte e as muralhas que protegeram, nos idos dos 1.300, a Rainha Pacificadora Santa Izabel. Fomos à pequena cidade de 7.400 habitantes, no coração do Alentejo, conhecer Lúcio Zagalo, um dos últimos guardiões dos segredos dos mosaicos, ou ladrilhos hidráulicos, uma arte e um ofício prestes a desaparecerem. As peças de cimento produzidas artesanalmente para revestir

os pisos de casas e edificações públicas da era moderna, em todo o mundo, tiveram sentença de morte decretada pelo avanço tecnológico na construção civil e executada a toque de caixa, no final do Século XX, pela disseminação das fábricas de cerâmicas e pavimentos industriais. Para entender a importância de Lúcio Zagalo e de uma meia dúzia de ladrilheiros que resistem com suas oficinas pelo interior português, procure livros ou manuais que falem das técnicas do mosaico hidráulico ou conte a sua história. Ao menos em línguas ocidentais, não vai achar mais do que algumas referências em estudos sobre engenharia ou fotografias em revistas de arquitetura e decoração.


Fotos: Túlio Borges

Mestre Lúcio Zagalo em sua pequena oficina na cidade de Estremoz, no coração do Alentejo: "É muito bom passar adiante os segredos dos ladrilhos, que hoje só eu sei".

Ao contrário dos azulejos, que foram largamente estudados e registrados, contam com um museu próprio em Lisboa e são objeto de cobiça de colecionadores, os mosaicos hidráulicos – não menos importantes, seja pela função que tiveram na construção civil ao longo de séculos, seja pela beleza estética das peças produzidas uma a uma – passariam pela história quase em branco não fosse a persistência de alguns aficionados como Zagalo – que nasceu e passou a vida, já próxima dos 70 anos, no ofício, e, aqui perto de nós, o cantor e compositor Túlio Borges. Mas, antes de falar como Túlio Borges entra nessa história, vamos explicar melhor do que estamos falando: ambos revestimentos utilizados na construção civil nos países europeus e suas colônias ao longo dos últimos séculos, azulejos e ladrilhos hidráulicos não guardam, além desta, qualquer outra semelhança. Um destinado a paredes e outro principalmente a pisos, são feitos de materiais distintos – os azulejos de cerâmica e os ladrilhos de cimento – e por processos até opostos – os primeiros com cura a fogo e o segundo a água. Por isso, também chamados de ladrilhos hidráulicas, os mosaicos são feitos de três camadas de cimento e pigmentos prensados, que ganham rigidez e resistência submersos em tanques de água. Outra diferença que poucos sabem e mestre Lúcio faz questão de destacar: enquanto os azulejos estão no ápice de sua forma no momento da produção, os ladrilhos melhoram com o tempo, ficam mais polidos e viçosos quanto mais tocados pelos pés a que servem. “Até o som que produzem fica mais agudo e límpido com o tempo”, garante

Zagalo, dando petelecos em duas peças centenárias recostadas como mostruários nas paredes da oficina. “Eu posso dizer a idade de ladrilho pelo som que ele emite!”, orgulha-se Agora sobre Túlio Borges: em certo dia do início de 2014, o jovem cantor e compositor brasiliense, que arrebata críticos e público desde 2010, quando seu primeiro CD entrou na lista dos melhores do Brasil e ele ganhou o Troféu Cata-Vento de cantor revelação dado pela Rádio Cultura de São Paulo e desde então segue colecionando reconhecimentos (em 2014 venceu o Festival do Sesc), resolveu, num insight não muito bem explicado, produzir mosaicos hidráulicos em uma oficina que montaria, dentro dos mais rigorosos padrões “dos antigos”, num galpão que construíra em Olhos d’Água. “Eu nunca quis trabalhar com música com o objetivo de ganhar o pão, mas também nunca trabalhei com nada que me desse especial prazer. Sempre tive vontade de ganhar a vida com as mãos. Ao mesmo tempo, me espanta a arquitetura atual, a praticidade pouco durável, a falta de inspiração da maioria dos prédios, as pastilhas horrorosas que estão tomando conta das fachadas dos prédios reformados mais recentemente. Então, comecei a pensar que eu poderia mexer com azulejos... e onde e quando pulei dos azulejos para os ladrilhos é que não me dou conta...”. Foi na busca de informações sobre a produção dos mosaicos que Túlio descobriu Zagalo e fez-se “aprendiz” na pequena oficina onde o velho artesão atende encomendas de peças de reposição para restauração de imóveis e, vez ou outra,

de arquitetos mais ousados que procuram soluções exclusivas para acabamento em seus projetos. “Estas são para escrever o nome do dono da casa”, mestre Zagalo mostra a pilha de peças com letras gravadas uma a uma no cimento. Elas acabaram de sair do tanque de água e foram postas a secar em pallets, penúltima etapa do processo de produção. Ainda terão que ser polidas para serem dadas como prontas e acabadas. “Quando comecei nesse ofício, as oficinas eram enormes, ocupavam centenas de pessoas e não paravam de produzir para atender a pedidos que vinham de toda parte do mundo. De repente tudo acabou. Fiquei eu aqui”, diz, apontando o pequeno galpão onde trabalha de sol a sol com a ajuda de dois empregados. Como pinto no lixo, Túlio Borges observa cada ferramenta, cada movimento de mãos do mestre, cada medida dos materiais e tintas misturados... Porque Lúcio Zagalo é de pouca fala e muita insinuação. Como a que diz com o olhar: “Menino, segredo não se conta, se descobre”. E as poucas palavras se carregam ora de ressentimento – “isso aqui é um verdadeiro museu, mas não vou sair por aí com o pires na mão pedindo apoio pro governo” – ora de alegria – “é muito bom passar adiante os segredos dos ladrilhos, que hoje só eu sei”. E que o mestre fique tranquilo. Seus saberes, guardados como segredos na pequenina Estremoz, foram adiante. Cruzaram mar, se embrenharam no continente, fizeram morada na também pequenina Olhos D’Água e se metamorfosearem em novos ladrilhos que um dia, lá mais adiante ainda, soarão como música.

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Conjunto de peças que a Sartto vai levar para o Paralela Móvel.

O voo do

design brasiliense

Por Vilany Kerhle

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ímbolo do modernismo brasileiro, Brasília vem, ao longo dos seus quase 55 anos, alimentando essa modernidade a cada dia com criações de profissionais do design, das artes visuais e de outras tendências artísticas e culturais. Utilizado como atributo no mercado de produtos industrializados, o design promove a diferença, torna um objeto especial. O mercado de design autoral no Brasil ainda é dominado por produções provenientes dos Estados do Sul e Sudeste, mas trabalhos feitos por profissionais de Brasília começam a despontar nesse setor. E para demonstrar que os ventos estão soprando a favor dessa mudança, dois estúdios da cidade, a Sartto Design e o coletivo

Entre-eixos, estão se preparando para marcar presença na Paralela Móvel, a mais importante feira de negócios de design de mobiliário do país, que será realizada entre 2 e 5 de fevereiro no Museu Brasileiro da Escultura (MuBE), em São Paulo. Lá, vão se juntar a outros 35 participantes de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul. A Sartto e o Entre-eixos trabalham de forma integrada. Tudo começou quando o designer de produto Aciole Félix, formado pela Universidade de Brasília, voltou da Itália, em 2010. Depois de passar dois anos cursando mestrado na Universidade Politécnica de Milão, ele resolveu voltar para Brasília, onde se deparou com um mercado sem muita opção para o que pretendia desenvolver. Em 2013, sua carreira

profissional tomou um rumo mais definido quando convidou o colega Danilo Vale para criar a Sartto Design, voltada para a criação de móveis contemporâneos. O Entre-eixos surgiu na metade de 2014, a partir de contatos feitos por Aciole com vários colegas formados em Desenho Industrial na UnB. O coletivo engloba atualmente seis estúdios: Sartto, Baru Design, Domingo, Dfeito e os designers Dimitri Lociks e Eduardo Borém. “Cada um de nós tinha suas carreiras profissionais, mas não existia essa troca, apesar de produzirmos peças parecidas”, conta Aciole. Um dado que facilitou o surgimento do coletivo, segundo explica, é que tanto ele quanto Danilo já tinham boa experiência com chão de fábrica (nomenclatura usada por engenheiros, arquitetos e designers


bém é designer gráfico e possui experiência em cenografia. A arquitetura e as obras de arte de Brasília são fortemente identificadas no trabalho atual do Entre-eixos. Podemos observar traços de Athos Bulcão, Burle Marx, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, assim como dos designers que produziram o mobiliário para a nova cidade: os mestres Zanine Caldas, Sérgio Rodrigues e Jorge Zalszupin. Segundo Aciole, a inspiração de produzir móveis baseados na arquitetura, no design e nas artes plásticas da capital surgiu de uma demanda do Sebrae, por meio do projeto Brasil Original, apresentado em Brasília no começo de 2014. Na época, o Sebrae pediu que a Sartto criasse peças com a iconografia da cidade. “Nossa intenção, no futuro, é continuar produzindo peças com essa influência, mas queremos que ela seja menos literal, menos fiel, com referências mais sutis,” revela o designer. Na Parelela Móvel, a Sartto vai ocupar um estande com sete produtos. O Entre-eixos ocupará outro com seis peças, cada uma produzida por um dos estúdios, inclusive um aparador fabricado em metal, madeira e um material novo chamado Viroc, que imita a textura de concreto, produzido pela Sartto. Além das peças da Coleção Brasília (bancos Alvorada e Orfeu, bandeja Planalto, mesa Superquadra, cadeira Lila e mesa Duetto), uma novidade da Sarrto na feira será o lançamento da coleção da cadeira Athos (inspirada na obra de Athos Bulcão). Ela foi lançada apenas na cor azul, reproduzindo obra do artista no Brasília Palace Hotel. Na Paralela, a cadeira será mostrada nas cores vermelha, amarela e

Estante com pé palito, criação de Nina Coimbra.

preta, com desenhos diferentes correspondentes aos trabalhos executados pelo artista em diversos locais da cidade. Dimitri Locicks, que está produzindo uma poltrona de madeira com brises (quebra-sol) de alumínio, móvel bastante interativo e lúdico, para exibir na feira, afirma que novas oportunidades surgiram desde que começou a fazer parte do coletivo. Nina Coimbra, para quem o coletivo tem sido uma experiência muito positiva, no sentido de proporcionar trocas, disse que está levando uma estante com pé palito, com uma parte feita em madeira freijó e a outra laqueada.

Fotos: Divulgação

para designar conhecimento das técnicas e materiais de produção de uma fábrica), pois estão acostumados a criar projetos para a indústria hospitalar e eletrônica. “É algo diferente criar móveis com design autoral em Brasília, mas as peças estão agradando, estão vendendo”, comemora. Além de Aciole Félix e Danilo Vale, da Sartto, os profissionais que fazem parte do coletivo são Thiago Lucas e Bruno Antunes, da Baru Design; os arquitetos Gustavo Góis e Simone Turíbio, do Domingo; a artista plástica Nina Coimbra, do Dfeito, e os designers Dimitri Lociks e Eduardo Borém. Juntos, partem agora para conquistar o mercado nacional de móveis. “Nossa intenção é chegar aos lojistas, pois as vendas feitas hoje são, em sua maioria, diretas ao consumidor. Produzir apenas uma peça é mais caro, em quantidade barateia os custos”, diz Aciole. Os integrantes do Entre-eixos se reúnem uma vez por semana para dividir experiências e expor os projetos que estão sendo desenvolvidos. O interessante é que cada um possui grande conhecimento em um setor: Aciole lida bem com corte de metal; Nina, com tecidos e estampas coloridas; Dimitri, com madeiras; Gustavo e Simone, com a questão dos espaços; Thiago, com reaproveitamento de material reciclado; e Borém é um artista múltiplo que, além de desenhar objetos, tam-

Bandeja Planalto

Paralela Móvel Cadeira Athos

De 2 a 5/2 no Museu Brasileiro da Escultura-MuBE Avenida Europa, 218, Jardim Europa, São Paulo. Mais informações: www.paralelamovel.com.br.

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Andarilhos

do Brasil

Por Súsan Faria

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ue motivos levariam seres humanos a abandonar tudo – casa, filhos, família, amigos, pertences – e andar pelas rodovias do Brasil, sem eira nem beira, solitários, enfrentando frio, calor, sol ou chuva, sede e fome? O policial brasiliense Renato Lucena, 32 anos, quis entender. E transformou em arte um pouco de sua rotina na Polícia Rodoviária Federal. Ele e seus colegas geralmente são abordados por andarilhos atrás de um copo d’água ou de informações. O esforço e a sensibilidade desse profissional resultaram na mostra fotográfica Personagens das rodovias, montada até o final do mês no saguão de embarque da Rodoviária Interestadual de Brasília. Inicialmente, Renato apenas fotografava aqueles rostos; depois, passou a indagar sobre suas vidas e a anotar tudo. Descobriu muito. “A grande maioria tem histórias de perdas, de tragédias, e 80% sofreram desilusões amorosas”, revela. Os andarilhos passam dias inteiros sem ninguém para conversar e, naturalmente, apreciam uma boa prosa. Renato percebeu que são desapegados, solidários – repartem o pouco que ganham – e alguns não falam coisa com coisa. Muitos também foram obrigados a deixar suas casas por problemas de alcoolismo. Esse é o caso de Sebastião Alexandre da Silva, mineiro de Cambuí-MG, cozinheiro de profissão e, segundo ele, salgadeiro de mão cheia, que trabalhava em uma lanchonete de posto de combustíveis às margens da Rodovia Fernão Dias. Após a falência da lanchonete, começou a beber. Vendeu todos os móveis da casa que a mãe lhe deixara de herança, antes de se desfazer do próprio imóvel e gastar todo o dinheiro. Mas o divisor de águas em sua vida, o que o fez “de-

sandar”, conforme suas palavras, foi a traição de sua ex- esposa, há cerca de oito anos. Depois disso, “caiu no mundo”, como contou a Renato: “Desabafou, com lágrimas nos olhos, que não consegue dormir por causa do alcoolismo. Trazia consigo uma garrafa contendo álcool combustível diluído em água, que usava para satisfazer o vício”. Já o andarilho André Cordeiro, nascido em Belém do Pará, disse ter 27 anos, apesar de nascido em 1974. Saiu de casa e começou a andar com dez anos de idade, à procura de trabalho, pois sua família era muito pobre. “Figura curiosa, falava de si na terceira pessoa e caminhava a uns dez metros do acostamento, muito

devagar”, relata o policial-fotógrafo. Gisele Fátima da Silva, 54 anos, disse que nasceu em Boa Esperança, no Estado do Rio; entretanto, Renato pesquisou e não encontrou a cidade. Foi uma das histórias que mais o impressionaram. Gisele disse ter morado em passagens de pedestres subterrâneas na Asa Norte. Em 1988, deixou os quatro filhos com os pais (dois gêmeos) e começou a andar. Quando abordada, carregava uma quantidade enorme de objetos – de material para se abrigar a panelas – e tanto peso a limitava a andar. Fazia desjejum comendo arroz com carne e bebia café preto, tudo feito por ela. Há 14 anos na PRF, a sensibilidade

O paraense André Cordeiro: na estrada desde os dez anos.


O mineiro Sebastião: desilusão amorosa e alcoolismo.

de Renato aflorou quando soube que seria pai. Fez cursos de fotografia e comprou uma Canon P-3, para registrar a evolução do bebê. Com a mesma máquina fotográfica começou a clicar os andarilhos (os que andam a pé) e os “trecheiros” (os que andam de bicicleta ou de carona) e a postá-las no Facebook. As fotos fizeram muito sucesso, e daí surgiu a ideia da exposição. Primeiro no shopping Pátio Brasil, em outubro do ano passado, e agora na Rodoviária Interestadual de Brasília. São 12 totens de dupla face, com 90 cm de altura por 60 cm de largura. No total, 24 fotos em preto e branco de rostos, seguidas do primeiro nome (Edson, Cícero, André, Sebastião, Gisele, Antônio, Simeão, Eulinaldo...) e textos enxutos – estilo pequenas reportagens – revelando os personagens. Na apresentação da mostra, Renato registra que “o andarilho renunciou à sociedade e também, de certa forma, foi renunciado por ela”. Depois da primeira exposição ele continuou fotografando e ouvindo as histórias dos andarilhos. Com o acervo ampliado, quer fazer um livro com fotos e textos, além de levar a mostra a várias partes do Brasil. A PRF de Santa Catarina mostrou interesse em exibi-la em suas dependências, em Florianópolis. Recentemente, Renato foi entrevistado por um programa de televisão de grande audiência sobre o trabalho. Muitas novidades têm surgido, como

A fluminense Gisele, ex-moradora de Brasília, deixou para trás quatro filhos, que passaram a viver com os avós.

parentes de desaparecidos que o procuram e centenas de mensagens de parabéns no Facebook, onde cada andarilho tem mais de uma foto e as histórias são mais longas. “Sempre nos surpreendendo com mais uma história linda”, comentou um internauta. “Essas pessoas muitas vezes só precisam de um ouvido para que possam expressar seus sentimentos; outros precisam de um abraço, um beijo; e se nós podemos ajudar, por que não? Continue fazendo essas pessoas terem o direito de um pouquinho de alegria”, incentiva a mãe do policial, Yaneide Lucena Pereira. São andarilhos no anonimato, nôma-

des que andam na BR-040, rodovia que liga Brasília ao Rio de Janeiro. Segundo Renato, a intenção das fotos é “sensibilizar o público, que em geral não os percebe”. Homens e mulheres que, um dia, foram cozinheiros, caseiros, trabalhadores do campo e seguem a vida sem destino, desprendidos das coisas materiais ou sem saber se vão poder almoçar ou jantar nas próximas horas. Personagens das rodovias

Exposição de fotografias do policial Renato Lucena. Até 31/1 na plataforma de embarque da Rodoviária Interestadual de Brasília (SMAS, Trecho 4, EPIA, em frente ao ParkShopping).

Renato Lucena e a filha Nicole, hoje com 9 meses, que fez despertar sua paixão pela fotografia.

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O iluminado, de Stanley Kubrick.

Se meu apartamento falasse, de Billy Wilder.

De volta para o futuro, de Steven Spielberg.

Saudade não tem idade Por Sérgio Moriconi

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or favor, não levem em consideração o “saudade” do título apenas como nostalgia. A característica fundamental dos filmes que se tornam o que costumamos chamar de “clássicos” é o fato de permanecerem essenciais e expressivos até a nossa contemporaneidade. Nem sempre temos a percepção da importância e durabilidade de uma obra no momento de seu lançamento. Por diferentes motivos, Casablanca, de Michael Curtiz, Psicose, de Alfred Hitchcock, Se meu apartamento falasse, de Billy Wilder, Rastros de ódio, de John Ford, O iluminado, de Stanley Kubrick, e De volta para o futuro, de Steven Spielberg, deixaram distintas impressões na época de seus lançamentos – alguns deles chegaram a ser inteiramente negligenciados pelos próprios produtores ainda no momento em que estavam sendo feitos. Clássico não nasce clássico, mesmo quando realizado por cineasta de grande prestígio e no auge de sua energia criativa. Eles (os cineastas de prestígio) podem fazer grandes filmes, mas ninguém pode assegurar que vão se tornar criações paradigmáticas no futuro. Muitos dos filmes hoje

memoráveis sequer foram considerados bons filmes quando surgiram. Rastros de ódio (1956), por exemplo, foi reputado apenas como mais um bom western de John Ford, nada mais do que isso. Diziam que era apenas um caça-níquel. Havia nisso um pouco de prevenção (inconsciente, ao que parece) dos críticos em relação à ideia de que Ford era um irremissível racista. Em muitos westerns anteriores do diretor, os índios haviam sido retratados como incivilizados, ou – melhor dito – como forças incivilizadoras. O assunto é complexo. Na realidade, todos os westerns de Ford lidam com a tensão entre civilização (domínio da lei) e barbárie (lei do mais forte), sendo que, para o diretor, o “homem civilizado” perde algo de sua natureza essencial quando civilizado. Muito provavelmente os comentaristas da época estavam incomodados com a desconcertante esquizofrenia do filme. Rastros de ódio é baseado num livro de Alan LeMay, só que Ford e seus roteiristas modificaram inteiramente o texto original, inventando cenas, modificando a idade do protagonista (jovem no livro, muito mais velho no filme – disseram que para poder dar o papel a John Wayne), conduzindo a trama de forma violenta e

perturbadora, muito em função da alta voltagem racial e sexual da narrativa. Para quem não se lembra, Ethan (Wayne) quer se vingar por terem (os índios) assassinado a família de seu irmão. Antes de mais nada, ele quer matar a sobrinha por ter se tornado a mulher de Scar, o chefe índio. No romance, a sobrinha é uma filha adotada, o que evidentemente tornaria a história muito menos complexa do ponto de vista psicológico. “Culpa, redenção e confuso desejo sexual” – uso aqui os termos de Thomas Schatz, em O gênio do sistema. São de diferentes maneiras também os temas de Psicose e Se meu apartamento falasse. Schatz acha que o filme de Hitchcock foi um divisor de águas na carreira do diretor e também o fim de uma era para o cinema norte-americano. Nunca matérias tão sensíveis para os executivos dos grandes estúdios (sexo, perversão, relação edipiana) haviam sido colocadas tão abertamente e violentamente. Para evitar problemas, o diretor filmou rapidamente e quase em segredo. Psicose é baseado num romance de Robert Bloch, cujo enredo gira em torno de uma mulher aparentemente inescrupulosa que foge com o dinheiro que roubou do patrão, se esconde no pequeno hotel


Fotos: Divulgação

Casablanca, de Michael Curtiz.

Rastros de ódio, de John Ford.

Psicose, de Alfred Hitchcock.

Começa dia 24 e segue até 28 de fevereiro a quinta temporada dos Clássicos Cinemark, uma oportunidade de ver (ou rever) algumas das obras-primas atemporais do cinema. do esquisitão Norman Bates (Anthony Perkins) e depois se arrepende. Toda essa ação inicial não passa de um preâmbulo que pouco tem a ver com o conflito do filme. O que interessa vem depois. Hitchcock e a Paramount tinham tanta consciência das dificuldades que o filme enfrentaria com um público mais conservador que dirigiu toda a publicidade para as potenciais plateias mais jovens. Tema de dois filmes anteriores, Laranja mecânica e Barry Lyndon, a disfunção social e familiar volta a fazer parte das preocupações de Kubrick em O iluminado. Agora, porém, por uma outra razão. Barry Lyndon havia sido um enorme fracasso de bilheteria e o diretor resolveu surfar na onde dos filmes de terror, no seu caso terror parapsicológico, utilizando um texto do campeão de vendas Stephen King. Deu certo. Mas à sua maneira. O iluminado é um desses filmes de sucesso de público que vira clássico quase que imediatamente. Qual seria o segredo? Provavelmente o fato de expor a forma como a solidão prolongada conduz irremediavelmente à paranoia e à autodestruição. Ou à angústia existencial, tal como retratada em Se meu apartamento falasse. Por trás da história simples do funcionário de uma com-

panhia de seguros de Nova York que empresta seu apartamento para encontros amorosos, Wilder pinta um quadro social sombrio (apesar dos diálogos ágeis e bem humorados) da América dos anos 50. Sexo livre (?), adultério, suicídio, ingredientes suficientes para deixar o filme de molho por mais de uma década. Concebido em 1948, o filme só veria a luz do dia em 1960. Campeão mundial entre os clássicos imortais, Casablanca é o exemplo mais bem acabado de uma realização que tinha tudo para dar errado e acabou dando certo. Não seria exagero dizer que as histórias envolvendo sua produção são ainda melhores do que o próprio filme. Se você quiser detalhes, leia Cidade das redes – Hollywood dos anos 40, de Otto Friedrich. O autor garante que o charme do filme se deve à mais absoluta nuvem de indecisão sobre todos os aspectos de sua realização. Com as filmagens já em andamento, uma dezena de roteiristas, desconhecidos entre si, não sabiam como o filme deveria terminar. Ingrid Bergman implorava indicações sobre o desfecho da história para saber como se comportar nas cenas. O diretor Michael Curtiz pedia que fizesse cara de paisagem. Humphrey Bogart parecia

zangado o tempo todo com as ameaças da mulher, dizendo que iria matá-lo, desconfiada de ele estar cortejando Bergman. Friedrich sustenta que “pode ter sido a infelicidade de todo o elenco” a responsável pelo sucesso de Casablanca. Não só a incerteza de Bergman em relação a qual dos dois heróis devia amar, além do fato risível de Max Steiner, o compositor da trilha original, detestar As time goes by, tema principal do filme. Transformado em obra de culto, surpreende que ninguém entre seus produtores e realizadores tenha considerado Casablanca uma produção importante. Todas as atitudes tomadas à época encareceram uma produção que deveria ser barata. Páginas soltas vindas de várias direções faziam do roteiro uma colcha de retalhos sem nenhuma lógica. Todos pareciam desconcertados, menos Curtiz: “Não se preocupem com a lógica. Faço a ação correr tão depressa que ninguém vai notar”. Se muitas das coisas relacionadas aos clássicos ocorreram assim no passado, talvez seja melhor percorrer um caminho “de volta para o futuro”. Clássicos Cinemark

De 24/1 a 28/1 no Pier 21 e Iguatemi Shopping. Sessões aos sábados, às 23h55, domingos, às 12h30, e quartas-feiras, às 19h30.

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LUZCÂMERAAÇÃO

Sem destino, de Dennis Hopper.

Tempo de revoluções Mostra no CCBB faz um passeio pela década que redefiniu o cinema norte-americano

Taxi driver, de Martin Scorcese.

Universal

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“A Nova Hollywood não foi somente uma ruptura, mas também a continuidade renovada das tradições do cinema americano. Alguns jovens cineastas, como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola e Michael Cimino, se aplicaram em entender a configuração e a presença das comunidades étnicas em um país que lhes era hostil”, pontua Paulo Santos Lima. Além do caráter didático, os longas-metragens escolhidos pela curadoria são uma oportunidade para ver (ou rever) na tela grande (em cópias em BluRay ou 35 mm) filmes marcantes como O poderoso chefão (1972), de Francis Ford Coppola, Tubarão (1975), de Steven Spielberg, Taxi driver (1976), de Martin Scorsese, e Noivo neuró-

da Nova Hollywood apresentaram uma nova maneira de se fazer cinema, com apelo tanto para o grande público, em busca de entretenimento, quanto para o espectador mais crítico, interessado em cinema de verve autoral. A mostra Easy riders – O cinema da Nova Hollywood, que estreou no dia 14, ocupará o cinema do CCBB Brasília até 9 de fevereiro, de quarta a segunda-feira. Na programação estão filmes que ajudam a entender essa transformação vivida pela indústria da sétima arte nos Estados Unidos. A curadoria da mostra, que também passará pelas unidades do CCBB de São Paulo e Rio de Janeiro, é dos críticos Francis Vogner dos Reis e Paulo Santos Lima.

O estranho sem nome, de Clint Eastwood.

Universal

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m meados da década de 1960, muitos enxergavam o cinema americano como esgotado, com ideias redundantes e desconectado dos acontecimentos sociais, políticos e culturais da época. Hollywood passava por uma crise. Entretanto, com a chegada dos anos 70 pôdese perceber mais claramente que aquele período de entressafra seria substituído por um de bonança inimaginável, uma verdadeira revolução cinematográfica. Uma nova geração de cineastas trouxe fôlego renovado para o cinema made in USA. Promovendo uma revisão de conceitos, abandonando o velho naturalismo da era dos estúdios em função de um realismo mais acachapante, os filmes da chama-

Tubarão, de Steven Spielberg.


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Os filmes:

O poderoso chefão, de Francis Ford Coppola.

tico, noiva nervosa (1977), de Woody Allen. A lista também é composta por filmes cult como Warriors – Os selvagens da noite (1979), de Walter Hill, O comboio do medo (1977), de William Friedkin, Halloween, a noite do terror (1978), de John Carpenter, e outros dirigidos por grandes nomes, como Peter Bogdanovich, Terrence Malick, Brian De Palma, Robert Altman, Paul Newman, George Lucas, Sidney Lumet, John Cassavetes, Clint Eastwood, Roman Polanski e Sam Peckinpah. “Entre as contradições da tradição de Hollywood, o espírito de liberdade do cinema B e as questões éticas e estéticas do cinema moderno, o cinema norte-americano reorientou seus rumos, sempre des-

concertantes e paradoxais. Nunca o conflito entre arte e indústria se mostrou tão lancinante e agressivo”, comenta Francis Vogner dos Reis. Além da exibição dos filmes, em 29 de janeiro, às 20h30, será realizado um debate com os críticos de cinema Filipe Furtado, Bruno Andrade e Yale Gontijo sobre o cinema da Nova Hollywood. Easy riders – O cinema da Nova Hollywood

Até 9/2 no CCBB (SCES, Trecho 2). Ingressos: R$ 4 e R$ 2 (meia). Mais informações: 3108-7600. Programação completa em culturabancodobrasil.com.br/portal/ easy-riders-o-cinema-da-nova-hollywood-3.

A outra face da violência (1977), A última missão (1973), A última sessão de cinema (1971), All that jazz – O show deve continuar (1979), Amargo reencontro (1978), Bonnie e Clyde – Uma rajada de balas (1967), Cada um vive como quer (1970), Corrida sem fim (1971), Halloween – A noite do terror (1978), Hardcore – No submundo do sexo (1979), Loucuras de verão (1973), MASH (1970), Na mira da morte (1968), Nasce um monstro (1974), Noivo neurótico, noiva nervosa (1977), O bebê de Rosemary (1968), O comboio do medo (1977), O estranho sem nome (1973), O poderoso chefão (1972), O portal do Paraíso (1980), O preço da solidão (1972), Os maridos (1970), Pat Garrett & Billy the Kid (1973), Rede de intrigas (1976), Sem destino (1969), Taxi driver (1976), Terra de ninguém (1973), Trágica obsessão (1976), Tubarão (1975), Warriors – Os selvagens da noite (1979).

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Cinema na rede

Hipócrates, de Thomas Lilti.

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vida é só sair com os amigos, ter emoções, convicções e paixões. Já Sarah, garota nova na cidade, é linda, ousada, com uma história e uma personalidade fortes. Fora da competição estão o filme de Clément, que abriu o festival, e dois outros canadenses francófonos: o longa Caçando Godard em Abbittibbi, de Eric Morin, e Uma pessoa extraordinária, de Monia Chokri. O júri oficial é presidido por Michel Gondry e formado por cineastas do mundo inteiro, entre eles Joachim Lafosse (Bélgica), Abderrahmane Sissako (Mauritânia) e Nadav Lapid (Israel). O filme escolhido receberá o Prêmio Chopard. Seis jornalistas de jornais internacionais serão

encarregados de escolher a produção que receberá o Prêmio da Imprensa Internacional. Já o público, que poderá votar pela internet, escolherá o ganhador do Prêmio Lacoste do Público. Em 2014, o festival contabilizou mais de quatro milhões de visualizações (eram 750 mil em 2013) em 205 países e em 13 idiomas diferentes. O Brasil ficou em 5° lugar no ranking. A Unifrance Filmes é uma organização que promove o cinema francês no exterior. No Brasil, recebe apoio da Aliança Francesa e da Fnac. My French Film Festival

Downloud gratuito até 16/2 em http://www.myfrenchfilmfestival.com/pt/ Fotos Divulgação

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ue tal poder assistir na telinha do seu computador a 20 filmes que estrearam em 2013 e 2014 na França, todos legendados em português, de graça e sem sair de casa? Pois é isso o que oferece a quinta edição do My french film festival, promovido pela Unifrance Films com apoio da Embaixada da França, para quem acessar, até 16 de fevereiro, o site www.myfrenchfilmfestival.com. A abertura, dia 16 de janeiro, foi com a exibição, ao longo de 24 horas, da versão restaurada de O sol por testemunha (Plein soleil), um dos três filmes que não participam da mostra competitiva. Na produção de 1960, considerada pela crítica a obra-prima do diretor René Clément (1913/1996), o estreante Alain Delon encarna Tom Ripley, personagem imaginado por Patricia Highsmith no romance O talentoso Ripley, adaptado recentemente por Anthony Minghella, com Matt Damon e Jude Law nos papéis principais. Na programação dos filmes da mostra competitiva estão dez curtas e dez longas metragens, sendo dois belgas. Um deles é Hipócrates, de Thomas Lilti, sobre um jovem médico, Benjamin, cuja primeira experiência como interno na enfermaria do hospital onde seu pai trabalha não sai como ele esperava. Esse estágio forçará o protagonista a enfrentar seus limites e a abrir caminho para sua vida adulta. Outro é Respire, de Mélanie Laurent, sobre a jovem Charlie, de 17 anos, idade em que a

Até 16 de fevereiro, internautas do Brasil e do mundo poderão ver e escolher seus filmes franceses preferidos do festival My french film

Respire, de Mélanie Laurent.



Nos últimos anos construímos muito mais do que prédios. Acredite, é apenas o começo.

Nós da Construtora Ipê medimos o nosso sucesso pelos sonhos que ajudamos a realizar ou em histórias onde fizemos a diferença. Temos como marca a construção e desenvolvimento de empreendimentos com bases muito sólidas, com agilidade, visão de mercado, credibilidade, foco no cliente e responsabilidade social. Tenha certeza que nos próximos anos esses valores vão permanecer como marca de todas as nossas obras e serão multiplicados.


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