Visitamos caraívas, um paraíso no sul da bahia repleto de brasilienses
Ano XIV • nº 237 Março de 2015
R$ 5,90
empoucaspalavras Divulgação
Falar de cozinha francesa é o mesmo que falar de alegria de viver, de leveza, de otimismo e de prazer, garante o estrelado chef francês Alain Ducasse. Concordamos plenamente com essa premissa do padrinho de um projeto muito simpático que vai levar boa gastronomia da França a 1.300 restaurantes de 150 países: o Goût de France. Claro que o Brasil está dentro dessa festa marcada para acontecer em todo o mundo na noite de 19 de março, bem na véspera da entrada da primavera no continente europeu. Serão 60 jantares em solo pátrio a celebrar a gastronomia francesa com menus muitíssimo especiais. Aqui em Brasília, 12 chefs, com seus batalhões de auxiliares, estarão mobilizados em sete restaurantes, em duas casas do Lago Norte, na Aliança Francesa e na residência do embaixador Denis Pietton para garantir o sucesso da festa. Com menus e preços variados, os jantares têm tudo para atrair felizes comensais, a quem desejamos desde já “une bonne soirée” (página 4). Apresentamos também duas novidades inspiradas em culinárias da Argentina e da Austrália. Uma é cozinha ancestral, em que os alimentos são levados diretamente ao fogo, uma tradição dos pampas gaúcho e argentino praticada pela chef Renata Carvalho em seu novo restaurante, o Ancho Bistrô de Fogo, na 306 Sul (página 8). Outra é o australiano Dylan Café Bakery, onde pode ser encontrado o típico pão artesanal Sourdoug (página 9). Mas não é só na gastronomia que a cidade está cheia de boas novidades. Comemoramos também, nesta edição, a volta de uma livraria de rua. Isso mesmo: um espaço convidativo e aconchegante que não impõe ao cliente o best-seller da hora, mas o deixa à vontade para suas próprias descobertas. Assim é a Le Calmon Livraria e Café, que começa a atrair pessoas como um agradável ponto de encontro (página 28). É de se comemorar também a longevidade de restaurantes brasilienses que têm à frente mulheres com a fibra de Ana Toscano, do Villa Borghese. Ela é prova de que um grande restaurante não se faz só com bons pratos, mas com boas histórias. No momento em que completa 20 anos, tem no cardápio massas, camarão, risotos, filés e, aos sábados e domingos, um pouco de saudade: a moqueca “Panela de Barro”, nome do primeiro restaurante da família de Ana, na Galeria Nova Ouvidor, no Setor Comercial Sul (página 16). Boa leitura e até março. Maria Teresa Fernandes Editora
30 luzcâmeraação Branco sai, preto fica, vencedor do Festival de Brasília do ano passado, estreia dia 19 no circuito comercial.
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ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14 – Conjunto 2 – Casa 7 – Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa André Sartorelli | Colaboradores Adriana Nasser, Alessandra Braz, Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, Ana Vilela, Beth Almeida, Cláudio Ferreira, Eduardo Oliveira, Elaina Daher, Heitor Menezes, Júlia Viegas, Luana Brasil, Lúcia Leão, Luís Turiba, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Melissa Luz, Pedro Brandt, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Vicente Sá, Vilany Kehrle | Fotografia Eduardo Oliveira, Fabrízio Morelo, Gadelha Neto, Marx Farias, Sérgio Amaral, Zé Nobre | Para anunciar 9988.5360 Impressão Editora Gráfica Ipiranga | Tiragem: 20.000 exemplares. 3
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Codorna recheada com miúdos e servida com espaguete de palmito, receita de Simon Lau Cederholm.
A grande noite francesa Em 150 países dos cinco continentes, 1.300 renomados chefs vão render homenagem, simultaneamente, à mais requintada de todas as culinárias
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O bom gosto, o sabor e a qualidade da comida francesa serão lembrados no mundo inteiro, na noite de 19 de março. Cerca de 1.300 chefs de cozinha de 150 países dos cinco continentes vão preparar simultaneamen- te jantares com menus franceses. No Brasil, uma das cidades que tiveram maior número de restaurantes selecionados foi Brasília – dez, de um total de 60, atrás apenas de São Paulo, com 18, e Rio de Janeiro, com 11. A expectativa é de lotação esgotada em todos os estabelecimentos contemplados com a iniciativa, onde os clientes poderão saborear pratos, aperitivos, sobremesas queijos e vinhos franceses em grande estilo.
A ideia, batizada de Goût de France, partiu do famoso chef francês Alain Ducasse (na foto abaixo). Ele buscou inspiração em Auguste Escoffier, conhecido como “o cozinheiro dos reis e o rei dos cozinheiros”, que em 1912 iniciou os “Jantares de Epicuro”, em homenagem ao filósofo grego para quem a essência do bem-estar está no prazer, mas no prazer na justa medida, sem excessos. A proposta de Ducasse ganhou força junto ao Ministério das Relações Exteriores e do Desenvolvimento Internacional da França, que, junto com o chef, está à frente do evento. “A oportunidade de festejar a culinária francesa ao redor do mundo será um parêntese encantador em sua história”, disse Alain
Ducasse, ao apresentar o projeto ao ministro das Relações Exteriores e do Desenvolvimento Internacional da França, Laurent Fabius. Em sua opinião, reunir 1.300 chefs no mundo, de maneira puramente voluntária, para preparar um jantar em 150 países, na mesma noite, é Divulgação
Por Súsan Faria
Servir o jantar na Aliança Francesa também é algo especial. Estou arrumando tudo com prazer e jogando 200% nesse jogo. Parte da renda vamos repassar aos Amigos da Vida, uma entidade que ajuda portadores de HIV”. Já o chef Simon Lau Cederholm vai recorrer a produtos brasileiros como feijão verde, cajuzinho do mato, inhame, banana da terra, jambu, seriguela, umbu e até pé de moleque na farta ceia francesa. Natural da Dinamarca, ele não esconde sua admiração pela cozinha francesa: “Hoje há diferentes propostas, em diferentes países, mas a grande contribuição da gastronomia vem mesmo da França. Todas as pessoas que trabalham no ramo devem conhecê-la, porque dela vem a base de todas as grandes cozinhas”. Gustavo Maragna, do Senac Downtown, concorda com Simon: “A base da cozinha ocidental é a francesa, também referência de modelo pedagógico. Me identifiquei na hora com essa promoção. O jantar do dia 19 será como uma vitrine do nosso trabalho no Centro de Aperfeiçoamento de Gastronomia do Senac”. Agenor Maia, do Olivae, optou por um jantar clássico francês, sem adapta-
ções, inspirado na cozinha do interior da França. “Nosso subchefe, Mickael Delatre, é de Toulouse, filho e neto de chefs franceses. Seus pratos são irretocáveis”, garante. Um dos pratos que o Olivae vai servir, o coq au vin, preparado com frango cozido no vinho tinto, ficará marinando durante 15 dias. Receita tradicional e lendária, surgiu por volta de 50 a.C., durante a guerra entre gauleses e romanos. Como símbolo de sua rendição, um chefe gaulês, com sua aldeia cercada pelos romanos, mandou a Júlio César um galo de briga. O imperador respondeu convidando-o para um jantar feito com o próprio galo cozido no vinho da região. O entusiasmo dos chefs em Brasília, especialmente dos franceses, é grande com o Goût de France, por entenderem que é uma oportunidade ímpar de estar em sintonia com colegas de várias partes do mundo, trabalhando numa cozinha que prima pelos alimentos frescos, criatividade e boa apresentação. “Para um confeiteiro francês, esse é um grande evento. A cozinha, feita com muito capricho, é uma das qualidades da cultura da França”, afirma o pâtissier Daniel Briand, que participará em parceria com a chef Alice Pirarucu pocheado em molho de moqueca ao perfume de cachaça, de Emerson Mantovani.
Gastrô Comunicação
algo muito expressivo. “A culinária francesa é antes de tudo uma atitude”, ressalta. Inicialmente seriam 1.000 cardápios em 1.000 restaurantes. Contudo, o projeto superou as expectativas e 1.300 chefs foram selecionados, após se inscreverem junto aos promotores. Contando com os jantares nas embaixadas francesas pelo mundo, serão cerca de 1.500. Na França serão servidos 300 jantares, inclusive no Palácio de Versalhes, onde vão se reunir embaixadores sediados em Paris e várias personalidades. O objetivo é projetar a culinária e o turismo franceses, com vitalidade, modernidade e responsabilidade. “A gastronomia faz parte de nossa identidade. É também um fator de projeção da França no mundo. É importante que seja apresentada, promovida e vivida”, diz o ministro Laurent Fabius. A refeição à francesa está inscrita, desde 2010, no Patrimônio Mundial da Unesco. Em cada restaurante participante, garantem os organizadores, “o evento homenageará uma cozinha viva, aberta, inovadora e fiel aos seus valores: partilha, prazer, respeito ao comer bem e ao planeta”. No Brasil, 16 cidades participam: além das três já citadas, Recife, Olinda, Búzios, Salvador, Campinas, Curitiba, Natal, Belém, Guarujá, Indaiatuba, Santos, Maceió e João Pessoa. Todos os chefs vão preparar e servir menus “à francesa”, com aperitivo, entrada fria, entrada quente, um peixe ou crustáceo, uma carne ou ave, um queijo francês (ou uma seleção de queijos), uma sobremesa de chocolate, vinhos e um digestivo francês. A proposta é realizar uma cozinha com produtos frescos da estação, com menos gordura, açúcar, sal e proteína. Os preços ficam a critério dos restaurantes, que se comprometem a reverter 5% das vendas a uma ONG local que trabalhe em prol do respeito à saúde e ao meio ambiente. Em Brasília, o Goût de France vai mobilizar 12 chefs em sete restaurantes (Le Vin Bistrô, Inácia Poulet Rôti, Toujours Bistrô, Olivae, Trio Gastronomia, Grand Cru e Senac Downtown), em duas residências (ambas no Lago Norte), na Aliança Francesa e na residência do Embaixador da França. Criatividade e dedicação desses chefs não vão faltar. Entre outras especialidades, Lionel Ortega, por exemplo, servirá ravióli de manga, utilizando técnica francesa com fruta brasileira. “Estou muito feliz por ter sido selecionado.
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Os menus dos chefs Divulgação
• Kir Royal tropical (espumante e licor de jabuticaba), amuse-gueule, verrine de ratatouille e gourgères, queijos e pães. • Salada verde composée e rillette de pato. • Vol-au-vent com champignons e bechamel. • Robalo ao molho de azedinha e purê de cará, com vinho branco Mâcon Village (Domaine Eloy) Bourgogne. • Trou normand (sorbet de espumante Brut). • Coq au vin (frango ao vinho com cebolinhas caramelizadas, cogumelos, arroz perfumado com ervas frescas, cestinha com baguette) com vinho Bordeaux Château Le Bournac. • Trilogia chocolate branco e maracujá, millefeuille chocolate ao leite, sacher chocolate noir e bombom Daniel Briand. • Café, licor e água.
Simon Lau Cederholm – ML 12, Conjunto 1, Casa 5, Setor de Mansões do Lago Norte (3369.2301). Preço: R$ 250 (+ R$ 125 com os vinhos) • Salada de vieiras marinadas com feijão verde, toucinho defumado, coral e sorbet de cajuzinho do mato (vinho Bouchard Mâcon Villages 2012). • Pirarucu defumado com banana da terra, jambu e molho holandês ao tucupi (mesmo vinho anterior). • Bacalhau grelhado com purê negro de inhame e ovas salgadas de tainha (vinho Ventoux Côtes du Rhone 2010). • Codorna desossada e recheada com miúdos, servida com espaguete de palmito, redução de codorna e óleo de salsinha (vinho Crôzes Hermitage des Grands Chemins 2010). • Queijo roquefort com sapoti, pão de especiarias e mel de jataí (vinho Delas Muscat Beaumes de Venise 2010). • Sopa gelada de seriguela, gelatina de umbu, mousse de chocolate branco com baunilha do cerrado e pé de moleque (mesmo vinho anterior). • Café, chá e madeleines Daniel Briand e Alice Mesquita QI 11, Conjunto 9, Casa 17, Lago Norte (3327.8745). Reservas em castroalice17@gmail.com. Preço: R$ 220 (com vinho) ou R$ 180.
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Mesquita. “Aceitei o convite do Daniel para fazermos esse jantar e fiquei entusiasmada. É uma especialidade com que trabalho há 18 anos. Nós nos reunimos várias vezes para discutir o que fazer e chegamos a um bom acordo. Estamos fazendo tudo com muito bom gosto”, diz Alice. Manuel Mendonça, do francês Le Vin Bistrô, também comemora: “Está sendo muito bacana participar desse evento. Trabalhei com 12 chefs da França, durante 14 anos, e sempre observei que a cozinha francesa prima pela qualidade e decoração. É uma comida que a gente fica observando na mesa de tão perfeita. O Le Vin vai participar em Brasília, Rio e São Paulo com cardápios parecidos”. Para Emerson Mantovani, do Trio Gastronomia, participar de um evento como esse, que mobilizará grandes nomes da cozinha francesa, é um marco em sua trajetória profissional. Para Alexandra Alcoforado, do Inácia Poulet Rôti, também: “Estou me sentindo encantada ao pensar que sou uma das pessoas escolhidas no mundo inteiro. É o reconhecimento do trabalho e ao mesmo tempo uma grande responsabilidade”. Esse sentimento é compartilhado com outros três chefs brasilienses que vão participar da grande noite. “Estou feliz por termos sido selecionados pela banca de jurados. Vamos fazer um menu equilibrando ingredientes brasileiros, como o amendoim, com a cozinha francesa”, adianta Alexandre Aroucha, do Grand Cru. “É um privilégio participar. Brasília tinha uma gastronomia tímida, mas que agora está crescendo e requer divulgação”, acrescenta Leônidas Neto, que divide as caçarolas com Aroucha no Grand Cru. “É algo diferente. Sinto-me elogiado por participar e penso que o Goût de France provocará uma demanda ainda maior pela gastronomia francesa no Brasil e no mundo”, completa Francisco Lopes, do Toujours Bistrot. Dentro do espírito do evento, o Cine Clube da Embaixada da França em Brasília projetou, no último dia 10, o filme Por que você partiu? (Pourquoi êtes-vous parti?), de Eric Belhassen (Brasil 2012, 1h34). O filme acompanha a brilhante trajetória de cinco chefs de gastronomia francesa que residem no Brasil – Emmanuel Bassoleil, Erick Jacquin, Laurent Suaudeau, Alain Uzan e Frédéric Monnier. Alguns desses chefs também participarão do Goût de France.
Lionel Ortega – Aliança Francesa (708/908 Sul, 8271.1718). Preço: R$ 255 (vinhos incluídos). • Terrine de tomates aux asperges vertes, bouquet de salade à l’huile de basilic. • Petit farcis provencaux, jus viande langoustines, moutarde de Dijon. • Filet de loup rôti, quinoa citronné et crème brûlée aux poivrons rouges, émulsion de langoustines. • Filet mignon de veau en croûte de chou, pomme darphin à la truffe et jus mousseux à la moutarde de Dijon. • Queijos brie, emmental et roquefort • Ravioli de mangue à la mousse au chocolat blanc, glace à l’amande.
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• Confit de pato, mousseline de batata baroa, farofa crocante ao molho de laranja. • Queijos brie, camembert, ementhal e roquefort, acompanhados de morango, peras e melão. • Mousse de chocolate com biscuit de pistache, recheio cremoso de laranja e praliné de castanhas do Pará.
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Alexandra Alcoforado – Restaurante Inácia Poulet Rôti – 103 Sul, Bloco B (3325,4006). Preço: R$ 500 por casal, vinhos incluídos. • Mousse de agrião com tartar de manga, salmão ao molho de gengibre. • Sopa de mariscos (camarão, mexilhão e lagostim) e julienne de abobrinha. • Filé de peixe serigado grelhado sobre darphin de baroa assada e espaguete de fios de legumes. • Codornas à Madame Brassart (desossadas e recheadas com arroz, foie gras e cogumelos, molhos de alho e vinho do Porto). • Queijos camembert, comté, reblochon e brie. • Sorvete de manjericão e duo de minis souflês de chocolate meio amargo e ao leite com calda de frutas vermelhas.
Gustavo Maragna – Centro de Aperfeiçoamento de Gastronomia do Senac (SBN, Quadra 1, Bloco B, Nº 14). Jantar apenas para convidados. • Terrine de fígado, aspic de lagostim, picles de beterraba e mini focaccia. • Vieiras com aspargos braseados e creme de limão siciliano. • Sopa Bouillabaisse.
Alexandre Aroucha e Leonidas Neto Restaurante Grand Cru – SHIS QI 9/11, Conjunto L, Loja 6 (3368.6868). Preço: R$ 275 (bebidas à parte). • Laranja caramelada com foie gras, envolta em castanha do Pará, e terrine de foie gras com filigrana de pé de moleque. • Vieiras com ervas frescas na manteiga queimada e castanha de caju torrada. • Pirarucu com fumê de peixe, tucupi e flor de jambu. • Codorna recheada com aminelas, em sua redução e morilles, purê de ora-pro-nobis. • Queijo brie, toquefort e camembert, geleia de tomates e pão de especiarias. • Torta de chocolate orgânico amazônico 70% com caramelo toffee, flor de sal e curry. Emerson Mantovani – Trio Gastronomia 213 Sul, Bloco A, Loja 27 (3346.2845). Preço: R$ 289 (vinhos incluídos). Aqui serão três jantares, para apenas 12 pessoas por noite, nos dias 17, 18 e 19). • Rillete de atum e raiz forte com molho rèmoulade (vinho Château de La Mallevieille branco AOC Montravel 2009). • Consomê a la royale, finalizado com tapioca e pudim de leite com castanha de baru (mesmo vinho anterior).
• Pirarucu pocheado em molho de moqueca ao perfume de cachaça (vinho Château Les Palais Merlot-Syrah 2011). • Carbonada à flamenga (vinho Château Lagorce Bernadas AOC Moulis en Médoc 2006). • Queijos brie, roquefort e chèvre (vinho Château La Rouquette Monbazillac 2001 • Torta mousse de chocolate branco e chocolates 50% e 70% (vinho Domaine Didier Chavarin Vin Doux Naturel Rasteau). Francisco Lopes – Toujours Bistrot 405 Sul, Bloco D, Loja 16 (3242.7067). Preço: R$ 165 (bebidas à parte). • Tartare de saumon sus blinis. • Coquille Saint-Jacques gratin. • Poulpe provençale com ratatouille. • Gigot d’agneau, haricots blancs à l’huile de menthe. • Assiete des fromages. • Petit-gâteau au chocolat, glace vanille e coulis de fraises
Gui Teixeira
Manuel Mendonça – Le Vin Bistrô – Espaço Gourmet do ParkShopping (3028.6336). Preço: R$ 129 (vinhos à parte). • Salada de queijo de cabra. • Sopa de legumes. • Quenelle de salmão ao molho de limão verde com legumes. • Steak tartare com fritas. • Queijos chevre, roquefort, san paulin, rebrochon e brie. • Petit-gâteau.
Agenor Maia – Restaurante Olivae 405 Sul, Bloco B, Loja 6 (3443.8775). Preço: R$ 220 (vinhos incluídos). Aqui também serão três jantares, para 30 pessoas por noite, dias 19, 20 e 21). • Rillettes de porc et cornichon maison. • Anchois fumet. • Soupe a I’oignon. • Coq au vin. • Ris de veau avec viande a I’ancienne. • Aligot e tarte vigneronne au chocolat.
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Filé mignon na brasa com arroz biro-biro e batata rústica.
A kafta vegana é uma das opções para
Cozinha ancestral Por Beth Almeida
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Fotos: Rafael Lobo-Zoltar Design
radição dos pampas gaúcho e argentino, a culinária do fogo, em que os alimentos, especialmente carnes, são submetidos diretamente às chamas, é ainda mais popular na Argentina, terra natal do chef Francis Mallman, conhecido pela iniciativa de elevar esse estilo à alta gastronomia. Admiradora de Mallman e formada no Instituto Argen-
tino de Gastronomia, em Buenos Aires, a chef Renata Carvalho (na foto abaixo) escolheu decidiu trilhar esse caminho em seu novo restaurante, o Ancho Bistrô de Fogo, que começou a funcionar em fins de janeiro na 306 Sul, bem ao lado do gastropub Loca Como Tu Madre, também dela com a sócia Giovanna Maia. “Queria uma cozinha contemporânea, mas sem deixar de ser uma parrilla de bairro, como as de Buenos Aires”, ex-
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plica, acrescentando que, no cardápio, todas as criações “vêm do fogo e por meio dele, seja na parrilla ou em suas diferentes maneiras de representá-lo”. Além das carnes, muitos dos ingredientes dos pratos passam por processo de defumação, o que dá um gostinho todo especial ao creme de milho (R$ 14), por exemplo, em que a espiga vai ao fogo antes do preparo, e aos legumes braseados (R$ 15). O caráter ancestral desse tipo de cozinha é o que encanta a chef. “Após a domesticação do fogo, acredita-se que a primeira das técnicas utilizadas tenha sido a de assar carnes e vegetais sobre as brasas ou cozinhar sobre as pedras aquecidas. Só depois surgiram o envelopamento dos alimentos em folhas”, explica Renata. Não por acaso, no Ancho as carnes são levadas à mesa sobre pedras. O cardápio começou enxuto, mas capaz de atender aos mais diversos gostos, inclusive vegetarianos. Como duas das quatro variedades de empanadas (duas unidades a R$ 12), uma com um mix de cogumelos e outra com cebola, ervas e queijo de búfala. Todas são fritas, ao invés de assadas na brasa. Além das empanadas, a casa oferece outras 11 opções de entradas, com destaque para a língua ao vinagrete de chimichurri (R$ 19) e a tábua
fria, com patês e conservas da casa (R$ 41). Entre as carnes, seis cortes bovinos, uma de suíno e dois pescados, além de frango e carré de cordeiro. Para acompanhar essas delícias, nove guarnições. Para finalizar, três possibilidades na sobremesa, sendo indispensáveis os espetinhos de mini-churros recheados com doce de leite. O cardápio de inauguração foi logo incrementado com a parrillada, servida nas noites de terça a quinta-feira, sempre entre as 18 e as 20 horas. Ao preço de R$ 41 por pessoa, a casa serve diferentes tipos de carnes, legumes braseados, peixe e carne de sol da casa, tudo acompanhado de pão pita e conservas. E as novidades não pararam por aí. Em fevereiro, o restaurante passou a funcionar também no almoço, e o cardápio logo depois foi incrementado com um menu de pratos executivos, a preços de R$ 37 a R$ 43, incluindo entrada e prato principal. São duas opções de entradas, caldo do dia ou salada da casa, e cinco pratos principais, entre eles a kafta vegana com salada de rabanete, arroz sete grãos e molho de pepino (R$37). A partir deste mês, quem quiser levar para preparar em casa os cortes servidos no Ancho poderá escolher uma das 20 variedades porcionadas e embaladas a vácuo, prontas para ir ao fogo. A iniciativa é fruto de parceria entre o restaurante e seu fornecedor Beef Passion, frigorífico que inovou no mercado de carnes gourmet com práticas de criação de bovinos das raças Wagyu (japonesa) e Angus australiano. E se o tema é fogo, o desafio lançado ao mixologista Victor Quaranta foi criar drinques em tons de âmbar. Daí surgiram, por exemplo, uma releitura do Vernet con Coca, aperitivo muito popular entre os argentinos, que no Bistrô de Fogo recebeu, além dos ingredientes originais, Bacardi Oro e limão (R$ 16). Também a decoração, assinada pela Dona Arquitetura, remete ao tema da casa, especialmente no papel de parede, com traços retrô em tons dégradé que lembram as labaredas. As luminárias de teatro, garimpadas em um antiquário, reforçam a cor âmbar das chamas. Ancho Bistrô de Fogo
306 Sul – Bloco C (3244.7125) De 3ª a 6ª freira, das 12 às 15h e das 18h às 24h; sábado, das 12 às 16h e das 18h às 24h; domingo, das 12 às 16h.
Cantinho
australiano
Por Vilany Kehrle fotos Marx Farias
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xiste programa mais delicioso do que sentar na mesa de um café para papear com amigos, depois de um exaustivo dia de trabalho? Não é à toa que os brasilienses se sentem cada vez mais atraídos por esses espaços aconchegantes e sedutores espalhados por várias quadras da capital. Uma das sensações do momento é o Dylan Café Bakery. Inspirado nos cafés australianos, o Dylan é comandado pelo brasiliense Fabrício Campos de Brito e por sua esposa argentina, Mariela Sztrum. Formado em Escola de Cozinha pelo Senac de São Paulo e pela Le Cordon Bleu de Sidney, Fabrício morou dez anos na Austrália, onde, além de estudar, trabalhou em grandes restaurantes e bufês. Foi lá que conheceu Mariela. De volta a Brasília, resolveu montar um café. Ocupando um amplo espaço no Bloco A da 315 Sul, o Dylan tem como ponto alto a produção do pão Sourdough, que, além de ser vendido no balcão nos tipos ciabatta, multigrãos, de campo, 100% integral, brioche, de azeitona e alecrim, nozes e ameixa, é utilizado nas torradas e nos três tipos de sanduíches ofe-
recidos pela casa (pastrami artesanal, peito de peru e vegetariano). O Sourdough é feito de forma artesanal – farinha, água e sal. A casca é dura, mas por dentro é extremamente macio. Fabrício conta que leva dois dias para fabricar o pão: um para fazer o fermento, outro para assá-lo. Outra grande atração do cardápio é a salada marroquina. Feita com couscous, trigo integral, peito de frango, rúcula, tomate cereja, limão siciliano e hortelã, custa R$ 19. O cardápio é escrito na parede e não existe o serviço de garçom tradicional, aquele que se dirige ao cliente a qualquer momento. Ao chegar, o freguês deve ir até o balcão fazer o pedido, pagar e aguardar para ser servido. Com teto alto e estilo retrô, o espaço é pra lá de descolado. As mesas são de madeira reciclada ou de ferro leve. Além de cadeiras, há sofás, pufes e um pequeno balcão. Caixotes funcionam como armários; paredes coloridas e grafitadas, luminárias e outros objetos coloridos completam a decoração. Uma das características do Dylan é mesclar gastronomia com cultura, “seguindo uma tradição dos cafés argentinos”, segundo Mariela. Além de boa música, o freguês dispõe de uma estante com jornais e livros. A oferta é bem eclética,
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águanaboca pois é possível apreciar obras de Tennessee Williams e Fernando Sabino e dos contemporâneos Fabrício Carpinejar e Martha Medeiros, ouvindo Bob Dylan ou outros ídolos pop da década de 1960. O café utilizado no Dylan é produzido no interior de São Paulo. Torrado forte, 100% arábica e de baixa acidez, é servido como espresso, macchiato, latte, chai latte (leite de soja), cappuccino, mocaccino (com chocolate belga) e americano. O Dylan oferece, ainda, um café da manhã australiano, composto por ovos mexidos, tomate assado, torradas, bacon e rúcula. O lugar, que já virou point do pessoal que trabalha no serviço diplomático na cidade, também oferece tarteletes de limão siciliano e de ganache, bircher muesli (granola, aveia, suco de laranja, maçã, iogurte natural, hortelã, morango, uva, maracujá), muffins, bolos e banana bread (com canela e nozes). Importante: lá não são servidas bebidas alcoólicas; apenas refrigerantes, suco natural de laranja, cranberry (garrafa), água, chás e – é claro –cafés.
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Dylan Café Bakery
315 – Bloco A (3363.1294). De 3ª a 6ª feira, das 9 às 20h; sábado, das 9 às 19h; domingo, das 10 às 18h.
Mais brasiliense,
impossível
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uem cresceu nas superquadras do Plano Piloto acostumou-se a chamar de blocos os prédios da arquitetura modernista que notabilizou a cidade. Hoje, como no passado, é comum ouvir as crianças brasilienses falarem que vão brincar embaixo do bloco, ou perguntarem em qual bloco mora aquele amigo novo que apareceu para bater uma bola no campinho. E não poderia ser outro o nome escolhido pelo chef gaúcho Marcelo Petrarca para seu primeiro restaurante, no qual homenageia a cidade que o acolheu aos dez anos de idade. Inaugurado em fevereiro, o Bloco C carrega referências a Brasília que não se restringem ao nome, mas também à decoração, com uso de concreto, cobogós e paineis de Athos Bulcão, e até o menu, cujo design lembra as placas de localização das entrequadras. Isso sem falar no pé direito alto e nas paredes de vidro, que permitem contemplar o céu da cidade. “Quero que as pessoas sejam felizes aqui dentro, do funcionário ao cliente”, observa Marcelo Petrarca, que tem os irmãos Daniel e Carolina como sócios. Mas se na decoração a homenageada é Brasília, no cardápio o chef apresenta um pouco do que aprendeu ao longo de sua jornada por cozinhas brasileiras, espanholas e italianas, que ele define como uma “cozinha simplificada, mas criativa,
com elementos contemporâneos”. Aberto para almoço e jantar, o restaurante tem propostas diferentes para cada uma das refeições. Durante o dia, a sugestão é o menu executivo (a R$ 46), com duas opções de pratos principais que mudam a cada semana, acompanhados de salada e uma pequena sobremesa. Mais sofisticado, o cardápio do jantar inclui criações como um saboroso filé com rapadura ao molho rôti, acompanhado de risoto de queijo grana padano (R$ 67), e um canelone com ragu de costela bovina (R$ 51). Entre as possibilidades de entrada, um steak tartare com batatas crocantes (R$ 38) e burrata cremosa com passata de tomate (R$ 46), entre outras opções. Natural de Pelotas, famosa pelos seus doces, Petrarca foi até lá para aprender
com a própria família a fazer as gostosuras que povoaram sua infância. O resultado disso são sobremesas como fios de ovos recheados com baba de moça (R$ 19) e churros de banana com recheio de doce de leite caseiro (R$ 21), capazes de encerrar com chave de ouro a refeição. Além da adega com cerca de 150 rótulos, a casa oferece uma carta de drinques clássicos e algumas criações do barman Francisco Pascual, como o Balão Mágico (vodka Ciroc, Peach Tree, Sour Mix, espumante e Granadine, a R$ 23,90) e o Orange Fizz (vodka Ciroc, creme de tangerina, calda de frutas vermelhas e espumante (R$ 23,90). Bloco C
211 Sul – Bloco C (3363.3062). De 2ª a 5ª, das 12h às 15h30 e das 19h30 às 24h; 6ª e sábado, das 12h às 15h30 e das 19h30 à 1h. Fotos: Fabiano Neves
Por Beth Almeida
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GARFADAS & GOLES Luiz Recena
lrecena@hotmail.com
Controvérsias
em volta da mesa
Lopes encomendou um leitãozinho. Tinha mais de cinco quilos e foi apelidado de Wilbur, dando indicativos das idades dos comensais (dois deles, somados, chegarão aos 130 nas próximas semanas, mas isso é fofoca de comadres e fica mesmo entre parêntesis). Bem assadinho, Wilbur foi devidamente devorado. Chegamos a onze na mesa quadrada. Orlando, o último a chegar, pegou meia quina. Por pouco tempo, pois dois que ainda deviam meio dia de trabalho para a República retiraram-se antes, abrindo-lhe espaço mais digno de suas obras e fama. Em certo momento, o capeta fez ato de contrição e uma continha deu mais de três séculos de jornalismo a comer e a beber juntos. Lembranças comoventes homenagearam os que estão faltando e doendo em nós. O silêncio mudou de assunto e passamos ao debate sobre a qualidade dos acompanhamentos: cordeiro desfiado na panela com polenta, corniglione ao molho de queijo, fraldinha grelhada, verduras, saladas, otras cositas más e, ao final, docinhos. Discretos, um tinto italiano Valpolicella, um branco chileno Chardonnay, chopes bem tirados, muitas águas, refris e sucos harmonizaram a moderação que reinou quase até o final, quando o capeta voltou a fazer das suas, disfarçado em destilados. Afortunadamente em baixo número, pois a zaga divina esteve eficiente e mandou-nos Madame A. Feliz por boas notícias médicas, contagiou os bárbaros e indicou-lhes os bem aventurados caminhos domésticos. Os protestos, pouco sólidos, serviram apenas para uma saideira molhada para bicos não mais tão secos. Só uma, somente só. Reformou-se o mundo em histórias, teorias e práticas. Vargas vivo seria melhor? Há controvérsias. Milicos fora, passamos ao Plano Real. Positivo quase unânime. E a privataria? Novas controvérsias. E o Barbudo? Mais controvérsias. E a Petrobras e a senhora que nos governa? Negativo quase unânime. Sem controvérsias, só frases tímidas, tipo “coitadinha”, “pobrezinha”, “é a dieta”. E o papo migrou rápido para a literatura, viagens a Cuba e uma deliciosa anedota sobre Joãozinho e o docinho brigadeiro. Entre risos encerramos. Assim é melhor.
Voltaremos
Palmas para o local, um Bartolomeu com ótima comida e bela adega, na 409 Sul. Serviço eficiente e com notável paciência (Maria Rita, Breno, Joaquim e outros que a memória bebeu) em atender tantas cabeças brancas ao mesmo tempo, na mesma mesa. Vale uma volta. Uma mesa redonda comporia ainda melhor. Enquanto isso não acontece, seguiremos quadrados e enquadrados. Salud!
Da Paulicéia
A terra da garoa nos mandou Márcia Fukelmann com novidades para o Armazém do Ferreira. Mais de 20 anos de estrada
para chefiar a abertura para almoço, atração especial para as comemorações dos 15 anos da casa. A novidade é o formato: menu fechado com salada e prato principal; ou pratos feitos, os velhos e bons PFs montados ao gosto do freguês. Márcia é também autora: um livro de 500 receitas, especial para a Folha de S. Paulo. Voltaremos ao tema. Longa vida ao Armazém!
Nova diretoria
Nosso amigo Jael Silva é o novo presidente do Sindicato dos Hotéis e Bares de Brasília, o Sindhobar. Votos de sucesso à diretoria que chega e aplauso também aos dirigentes que passam o bastão, liderados pelo eficiente Clayton Machado.
Massagem fisioterápica e linfática, tratamento complementar de celulite e obesidade. Técnica japonesa. 12
Mariinha, profissional com mais de 40 anos de experiência. 910 Sul, Mix Park Sul, Bloco I sala 18. Tel.: 3242.8084
PÃO & VINHO ALEXANDRE FRANCO pao&vinho@agenciaalo.com.br
Colcha de retalhos, o retorno
Meus caros leitores, na última edição escrevi sobre minha “colcha de retalhos”, vinhos que deixaram lembranças em 2014 sobre os quais não havia ainda falado. Na verdade, tive de optar por alguns desses vinhos primorosos que deixara para trás. Mas foram tantos os que ainda restaram que tomei a liberdade de, por uma última vez este ano, escrever-lhes esta continuação, “O retorno”. Assim, sem mais delongas, iniciamos, como é do meu costume, pelas extraordinárias borbulhas. Pierre Gimonnet & Fils, um champanhe 1er Cru pouco conhecido entre nós, mas com muito para mostrar. Um blanc des blanc, a alma da Chardonnay. Vivo, leve e marcante, claro ao olhar e límpido à boca. Perlage consistente e fino, aromas de panificação típicos e muito agradáveis e sabores elegantes e puros da Chardonnay. Excelente. Ainda por terras gaulesas, um Chateauneuf-du-Pape de Guigal 2006. Certamente um dos mais renomados produtores dessa apelação, não por acaso. De um vermelho rubi mais que profundo, com notas de frutas vermelhas muito maduras, quase em geleia, além de algumas especiarias. Elegante mais que tudo. Na boca, alguma ameixa, com grande corpo, mas bem equilibrado, de boa acidez e alcoolicidade. Taninos elegantes, maduros, perfeitos. Grande vinho. Passando pela Bota, mais um grande Brunello, o Poggio di Sotto 2005. Dos melhores produtores da Toscana, encravados entre duas das melhores safras do milênio, 2004 e 2006, os Brunellos 2005 tiveram a cumprir a dura tarefa de não ficarem “apagados”. Poggio di Sotto, todavia, conseguiu notas na faixa dos 92, 93 pontos. Harmonia é a palavra chave desse vinho. Tudo muito bem equilibrado entre taninos elegantes e maduros, acidez bem colocada e álcool correto.
De vermelho rubi, com aromas a frutas vermelhas e boca macia. Aromas especiais de cerejas maduras e pétalas de rosas. Boca de final longo e agradável. Muito gastronômico. Das Américas, um exemplar do norte e outro do sul: dos States, diretamente do Napa, um de seus famosos Cabernets Sauvignons, o Far Niente 2009. O nome, expressivo, nos leva a vivenciar, de fato, a vontade de nada mais fazer que não apreciar com calma e atenção esse belo vinho. De cor vermelha intensa e profunda, com notas de cerejas vermelhas e negras e toques florais, de tabaco e cedro. Um vinho bastante trabalhado com carvalho, mas ainda correto, sem exageros, muito claros em boca. Um vinho bastante gostoso, sem ser excepcional. Do sul, um dos mais importantes nomes da Argentina: um Malbec 2011 da Bodega Noemía. Ainda bastante novo, talvez por se tratar de um vinho da Patagônia, apesar dessa pouca idade já bastante palatável, embora pudesse ganhar muito com mais alguns anos de garrafa. Um vinho retirado de uvas em “pé-franco” de 1930, préfiloxera. Cor intensa, quase violeta, com aromas de frutas vermelhas maduras e algumas negras. Equilibra muito bem em boca o calor típico da Malbec com o frescor da Patagônia. Taninos marcantes, mas já elegantes, e boa acidez. Ótimo para acompanhar uma carne grelhada. E, para finalizar, um dos grandes: o Chateau-Figeac 2002. Um premier Grand Cru Classé de St. Emilion que sempre que posso me dou o direito. De cor vermelha já mais macia, com nariz à bolo de frutas, cerejas em compota e alguma pimenta. Na boca é grande, poderoso, mas macio e elegante, com ótima acidez e taninos finos, excepcionais, aliás. Daqueles vinhos para meditar.
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DOIS ESPRESSOS E A CONTA cláudio ferreira claudioferreira_64@hotmail.com
Micos de viagem
Viajar é sempre bom – mesmo que seja a 50 quilômetros de casa. Mas os micos, infelizmente, são inevitáveis, principalmente nas viagens ao exterior. Não basta saber a língua do país que a gente visita: comida é cultura, comer é um hábito cultural e, como tal, existem nuances que o turista nem sempre percebe à primeira vista. Ninguém ensina a ler um cardápio nas aulas de inglês, francês ou espanhol. Portanto, a primeira barreira num país distante é decifrar as descrições dos pratos. Mesmo com prática em idiomas, sempre me enrolo nessa parte. Misturo os nomes das verduras e legumes em inglês, e sempre tem uma palavra estranha no meio da descrição. E se aquele for justamente o item apimentado que vai me fazer mal? E se for alguma coisa que eu deteste? Numa das primeiras viagens ao exterior, apelei para outros recursos. Na Espanha, cheguei em um restaurante onde havia, em tamanho grande, fotos de alguns dos pratos a serem servidos. Mesmo assim, fiquei em dúvida sobre algumas carnes. O atendente não teve dúvida: fez um barulho característico com a boca, para me indicar que aquele prato que eu apontava era carne de porco. Nem sempre dá certo. Em Buenos Aires, também custei a entender a descrição de um prato. Apesar disso, resolvi arriscar. Veio uma carne estranha, esbranquiçada, fibrosa. Deixei pela metade. Só quando voltei ao Brasil, e com a ajuda de um dicionário, é que descobri que tinha comido parte do pâncreas de um animal. Eca! Muitos garçons estrangeiros têm a maior boa vontade de tentar traduzir nomes e ingredientes dos pratos. Mas algumas perguntas têm respostas que não nos atendem.
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Nos Estados Unidos, sempre pergunto se a comida é muito condimentada, pois não me dou bem com muito tempero. A resposta é sempre: “Não, não tem pimenta nenhuma”. Pois sim! Na última viagem que fiz, passei pelo menos dois apuros com pratos excessivamente “spicy”. Para um indiano ou um mexicano, por exemplo, o conceito de “spicy” vai ser bem diferente do meu. Outro embaraço é na hora da conta, mais especificamente por causa da gorjeta. Esse é outro hábito que muda de cultura para cultura mas, em geral, o pior é não dar gorjeta. Contra os nossos regulamentares 10 por cento, nos Estados Unidos eles “sugerem” três percentuais, 15, 18 ou 20%. A primeira dúvida é qual deles escolher. Apesar da torcida dos garçons pelo valor mais alto, penso na cotação do dólar e opto pelo percentual mais baixo. Em muitas contas, os valores da gorjeta já vêm especificados. Mas também está destacada, depois do valor inicial da conta, a parte dos impostos. E na hora de calcular a gorjeta a gente coloca o percentual sobre o valor com ou sem as taxas? Não chega a ser um problema, mas rola um pequeno estresse. Falando em conta, também nos EUA os garçons têm um hábito que, na primeira vez, desconcerta um brasileiro. Vendo que o cliente terminou o prato principal, eles perguntam se a pessoa quer sobremesa ou mais bebida. Não quer? Minutos depois, a conta chega sem você ter pedido. Quando veem a cara de assustado do freguês, os garçons avisam que ninguém precisa ter pressa de sair. Mas se você perder a chance de pedir o cafezinho, aí eles vão ter que reabrir a sua conta. Ou você volta para o hotel sem cafeína.
picadinho
Pratos executivos com preços mais em conta não são novidade. Há muito tempo, grande parte dos restaurantes já adota essa prática, de segunda a sexta-feira. Mas poucos ousaram tanto, em matéria de preço, quanto o Nolita Coffee & Fun (QI 9/11, Lago Sul, tel. 3364.0186). Convenhamos: R$ 25,90 por esse espaguete com picadinho de filé, preparado com leite fresco e queijo parmesão argentino, é um preço pra lá de camarada, e que vale também para os outros dois pratos executivos. Mas não é só isso: a promoção avança pelo fim de semana. “Nem todo mundo tem tempo sobrando no sábado e no domingo. Muitas vezes a pessoa precisa ser prática também nesses dias e por isso decidimos fazer um almoço executivo diferente da maioria”, explica a proprietária, Michele Calmon.
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Prazeres harmonizados
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Trufas da Páscoa Especializada em doces norte-americanos, a Brou’ne acaba de lançar, em comemoração à Páscoa, o Brownie Truffles, nas versões Classic, Walnut, White Chocolate e Deep Dark Chocolate. São 12 trufas mistas, totalizando 300 gramas, em embalagens de vidro, ao preço de R$ 44. A Brou’ne tem duas lojas em Brasília: no Dakota Shopping (301 Sudoeste, Bloco C, tel. 3209.5233) e na QI 9, Bloco A, Lago Sul (3364.0186).
Prazeres harmonizados 2 No dia seguinte, no Rubaiyat (Setor de Clubes Sul, Trecho 1, tel. 3443.5000) quem responderá pela harmonização dos vinhos com o cardápio criado pelo chef espanhol Carlos Valentí será o sommelier Marcelo Vilhena, da importadora Winebrands Brasil. De boas vindas, enquanto é servido o couvert, espumante Norton Brut Rosé; a entrada (ceviche de polvo com alioli), o primeiro prato (cogumelos, queijo manchego e azeite de pinholes sobre base crocante) e o segundo (levíssimo na brasa com batatas soufflé) serão escoltados, respectivamente, por um Torrontés 2013, um Bonarda 2012 e um Malbec 2012; finalmente, para acompanhar a sobremesa (sopa de abacaxi e coco com sorvete de rum), um Norton Cosecha Tardia 2013. Todos da vinícola argentina Matias Riccitelli. Preço: R$ 150. Reservas pelo telefone 3443.5000.
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De segunda a domingo
o Pazo Barrantes Albariño tem tudo para enriquecer o sabor da saladinha de polvo à Dom Francisco. Quando chegar o primeiro prato (penne ao ragu de marreco) serão servidos o Dinastia Vivanco Crianza e o Tres Picos Garnacha. Para o segundo (stinco de cordeiro com polenta cremosa trufada) foram escolhidos o Marqués de Murrieta Reserva e o Valderiz. Finalizando, degustação de sobremesas da casa, chá e café espresso. Preço: R$ 180 mais taxa de serviço (10%). Reservas pelos telefones 3224.1634 e 3321.0769.
Quatro diferentes combinações de sushis, temakis, yakissoba, salada oriental, guioza e frango grelhado compõem o menu expresso de um dos mais novos restaurantes japoneses da cidade, o Koi Zushi (403 Sul, Bloco D, tel. 3322-6161). O preço varia de R$ 29,20 a R$ 34,50. “Montamos o menu pensando na correria de alguns clientes, com curto tempo para saborear nosso rodízio”, explica Nathália Fujimoto, uma das proprietárias.
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Gilberto Evangelista
Radicalmente napolitanas É quase como fazer um tour pela Espanha. Em parceria com a Art du Vin, o restaurante Dom Francisco da 402 Sul (tel. 3224.1634) realiza neste 17 de março, a partir das 20 horas, um jantar regado a grandes vinhos espanhóis indicados pela enóloga Márcia dos Santos Carcano, que se formou e trabalhou na França mas há seis anos vive na Espanha. Na entrada,
Desde que a Baco conquistou o selo de qualidade da Associazione Verace Pizza Napoletana, dois anos atrás, Gil Guimarães não para de exercitar a criatividade. Aqui vão suas últimas invenções: a Filetto Carnevale, clássica de Nápoles, em forma de estrela, bordas recheadas com creme de ricota, tomate sweet grape, parmesão, manjericão e leve toque de alho (R$ 57); a calzone Grazie Napoli, homenagem à pizzaria paulista homônima, com mussarela de búfala, cogumelos frescos, creme de ricota, presunto e parmesão (R$ 45,80); e, para a sobremesa, o Murzillo, outro clássico napolitano em que a massa da pizza é recheada com nutella e calda de morangos (R$ 12). A pizzaria funciona em dois endereços: 408 Sul, Bloco C (3244.2292), e 309 Norte, Bloco A (3274.8690).
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20 anos de talento e paixão Por Luiz Recena
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o tempo antigo dos jornais procurei a abertura do texto: uma charada. “A mulher açougueira comemora 20 anos de restaurante”. Resposta em onze caracteres e um espaço. Assim exercitávamos memória e idioma. Agora não é brincadeira. Adivinharam? A foto ajudou mais do que a memória? Então quem respondeu Ana Toscano talvez ganhe uma receita do Cordeiro da Vovó, perna do Agnus Dei assada com ervas e vinho, servida com molho do assado e tagliatelle na manteiga. Surpreendente feito a chef. Com um pouco mais de 20 anos, cansada de guerras legislativas, secretariados, salas de aula, casamento, mudou a armadura. Transformou lança em faca de verdade e... abriu um açougue! Não, açougue não, butique de carnes, porque as coisas dela sempre foram refinadas. Um açougueiro das antigas ensinou-a a “desmanchar o boi”, na linguagem da
época. E lá se foi a professorinha, agora para aprender. Do açougue à confeitaria (Francesa), ao Bon Appétit, às massas Toscanello e, passando por um sorvete, chegou ao porto seguro de duas décadas: o restaurante Villa Borghese, na 201 Sul. Poucas linhas para uma experiência tão rica. Mas se todos os ingredientes básicos estão na página, imaginar a receita básica de vida e sucesso da personagem não é difícil: muito talento, muito trabalho e mais trabalho ainda, seguindo a máxima de outros grandes criadores, dez por cento de inspiração e noventa de transpiração. E no meio de tudo isso ainda se arruma tempo para um palco muito especial: a televisão, com o programa Temperando a vida. Sete anos de chef Ana serviu e ensinou a cozinhar na televisão. Foi por tédio que isso começou? Longe disso. Ela tinha o suficiente para fazer e não pensava em “brincar de casinha novamente”. Daí procurar mais trabalho, que veio em forma de cenário e receitas no ar, com o
apoio de Eber Romão, publicitário e amigo de sempre. Um sucesso com público órfão e carente até hoje, daqueles de parar a Ana na rua e perguntar quando volta às telas. Quer voltar? Talvez, mas está tudo tão difícil, o patrocínio que não aparece, a paciência que não é
Três momentos inesquecíveis de Ana Toscano na Itália: acima, curtindo a bela bela paisagem da Toscana; ao lado, entrevistando uma nonna, em Milão, para o programa Temperando a vida; abaixo, participando de um festival gastronômico na cidade medieval de San Gimignano.
Fotos: Arquivo pessoal
mais a mesma, os interesses principais, que mudaram. Principalmente aquele desejo de viver mais e melhor, prazer e qualidade de vida. “Um restaurante só, com dedicação exclusiva; alguns eventos especiais, viagens, pronto, está bom demais”, diz ela, que ainda vai para a cozinha e atende pessoalmente a clientela. Ela tem espaço de festas para até cem pessoas. A vida flui melhor e, se 2014 foi ano ruim, este 2015 veio com fé e otimismo. “Cozinhar é uma paixão e adoro gente, adoro meu público”, garante. Tirava fotos de seus comensais muito antes da moda dos selfies e celulares. Eles gostam e as paredes são testemunhas. Vez por outra, acontecimentos extra-frigideiras alteram escalações e fotos, discretamente, mudam de lugar no campo visual. Coisas da nossa corte brasiliense, onde políticas e amizades eventualmente ganham formas de nuvens e podem mudar conforme os ventos. Nada que produza danos insanáveis... A boa comida, os bons vinhos e principalmente ela, Ana Toscano, sempre ali aparando as arestas. As paredes continuam cheias de boas fotos e ótimas histórias. Um grande restaurante, então, não se faz só de bons pratos. De boas histórias também. Ninguém atravessa 20 anos numa cidade de pouca história e memória idem. Tem massa, camarão, risoto, bacalhau, filés variados, peixes interessantes. Sábados e domingos tem saudade: a moqueca “Panela de Barro”, nome do primeiro restaurante da família, na Galeria Nova Ouvidor, no Setor Comercial Sul. Receita capixaba trazida pelo pai, deputado Oswaldo Zanello, na década de 1970. Veio junto com um mandato federal pelo Espírito Santo. Tempo em que todos moravam perto, sabiam uns dos outros, brincavam juntos. Até alguns começarem a sumir para sempre e cair uma longa noite escura sobre a democracia e sobre a cidade. Os tempos mudaram e a paixão continua. O Villa Borghese está aí, com denominação e histórias italianas que atravessaram o mar oceano, se aclimataram na serra capixaba refundindo temperos e receitas na solidão e na esperança do Planalto Central. Com 20 anos de restaurante, segue Ana Toscano seu caminho. Pessoalmente com mais histórias do que a casa. Com sólidas raízes no passado, mãos hábeis cozinhando o presente, olhos visionários apostando no futuro.
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Ouvidoria 0800 642 1105 SAC/Ouvidoria PcD 0800 648 6162
omundodeisabel
Leo Aversa
Saudade é uma ilha com saudade de barco. Explicação é uma frase que se acha mais importante do que a palavra. Irritação é um alarme de carro que dispara bem no meio de seu peito. Essas são algumas das explicações que a menina Isabel tem mania de dar a todo momento. Personagem nascida do texto de Adriana Falcão, ela se materializa na atriz Luana Piovani, protagonista do musical infantil Mania de explicação, que estará em Brasília nos dias 3, 4 e 5 de abril. Com direção de Gabriel Villela e músicas de Raul Seixas, o espetáculo já foi visto por 20 mil pessoas no Rio, em São Paulo e mais sete capitais. Tem ainda no elenco Ivan Vellame, Beth Lamas, Luiz Araújo, Janaína Azevedo e Diogo Almeida. Trata-se de uma adaptação para o palco do livro de mesmo nome de Adriana Falcão. “A originalidade contida no livro está exatamente no fato de Adriana ter um conceito de síntese muito grande sobre as aventuras de uma criança que pergunta tudo e na graça com que ela concebe as palavras inspirada no personagem original, que é a filha dela”, afirma Gabriel Villela. No Teatro Ulysses Guimarães (913 Sul), com ingressos a R$ 80 e R$ 40, à venda no Brasília Shopping e no teatro (3346.3738).
prodianascerfeliz O sucesso, no ano passado, foi tanto que o musical volta a Brasília, no dia 21, para duas apresentações no Centro de Convenções Ulysses Guimarães: às 18h e às 21h30. Estrelado por Emílio Dantas, reúne alguns dos maiores clássicos de Cazuza, em carreira solo ou no Barão Vermelho, como Pro dia nascer feliz e Codinome Beija-Flor. Estão presentes no roteiro do musical as músicas Bete Balanço, Ideologia, O tempo não para, Exagerado, Brasil, Preciso dizer que te amo e Faz parte do meu show. São apresentadas ainda composições de Cazuza que ele nunca chegou a gravar, como Malandragem, Poema e Mais feliz. Dirigido por João Fonseca, o espetáculo já foi visto por 200 mil pessoas. No elenco estão ainda Stella Rodrigues, Marcelo Várzea, André Dias, Fabiano Medeiros, Brenda Nadler, Arthur Lenzura, Igor Miranda, Diego Montez, Marcelo Ferrari, Dezo Mota, Sheila Matos, Carol Dezani, Oscar Fabião, Osmar Silveira, Philipe Carneiro e Carlo Leça. Eles interpretam Lucinha e João Araújo, pais de Cazuza, assim como Ney Matogrosso, Bebel Gilberto, Frejat e Caetano Veloso, entre outros personagens que gravitaram no universo de Cazuza. Ingressos à venda na Central de Ingressos do Brasília Shopping, com preços entre R$ 25 e R$ 110.
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Esse é o nome do novo show de humor de Evandro Santo, mais conhecido como Christian Pior, do programa Pânico na TV. Trata-se de uma mistura de histórias reais, exageros, risadas e, obviamente, signos do zodíaco. “Um show para nenhum virginiano criticar”, explica o comediante, para depois completar: “Ô raça ranzinza!” É a quarta vez consecutiva que Evandro estreia na cidade um show que terá turnê nacional. “Eu sou uma pessoa rodada: rodei o mundo, rodei a baiana e rodei pelos zodíacos; passei pelos doze signos, desde o sonso de Câncer até o exibido de Leão, passando pelo tagarela de Gêmeos e pelo zombeteiro de Sagitário; uma verdadeira orgia, colegas!”. Dias 27 e 28 de março no Teatro Ulysses Guimarães (913 Sul). Sexta e sábado, às 21h, com ingressos a R$ 60 e R$ 30, à venda nas lojas Cia.Toy e Belini Pães e Gastronomia. Mais informações: 8144.1514.
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O texto da peça deu ao autor, o norte-americano David Lindsay-Abaire, o prêmio Pulitzer 2007 e várias indicações ao Tony em 2008. Com direção de Dan Stulbach, A toca do coelho chega a Brasília para três apresentações, nos dias 20, 21 e 22 de março. Após temporada de sucesso em São Paulo, no Rio de Janeiro e nas principais capitais brasileiras, tem novo elenco formado por Bianca Rinaldi, Anderson Di Rizzi, Neusa Maria Faro, Simone Zucato e Rafael de Bona. A peça inédita no Brasil fala sobre perda, culpa, dor e também superação, recomeço e perdão, mostrando o drama de uma família atingida por uma tragédia que irá reconfigurar as relações e traçar um novo caminho para todos os envolvidos. Sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 20h, no Teatro Ulysses Guimarães (913 Sul), com ingressos a R$ 50 e R$ 25, à venda em www.ingressorapido.com.br.
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afrolatinas Lutas, sonhos, cotidiano, força e beleza estão presentes na exposição que ocupa o Museu da República até 28 de março. Concebida por Jaqueline Fernandes, tem curadoria de Chaia Dechen e montagem de Lina Lopes. Afrolatinas contém parte do acervo do maior festival de mulheres negras da América Latina, o Latinidades, com os momentos que marcaram as sete edições já realizadas. O visitante é recebido com 100 fotografias de momentos que marcaram a história e toda a trajetória do festival. Em outro ambiente estão 20 vídeos com depoimentos de mulheres negras que compuseram as mesas dos diversos painéis, conferências, oficinas e debates realizados ao longo do festival. Tem como proposta colocar em primeiro plano e dar visibilidade à luta das mulheres negras, que representam 25% da população brasileira, segundo a PNAD. De terça a domingo, das 9h às 18h30, com entrada franca.
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picassoemsampa Quem for a São Paulo entre 25 de março e 8 de junho poderá ver a mostra Picasso e a modernidade espanhola, no CCBB. Com curadoria de Eugenio Carmona, apresenta 90 obras do artista e do mito espanhol Pablo Picasso (1881-1973), em seu percurso criativo que culmina com a realização de Guernica, uma de suas principais obras. Estarão lá também trabalhos de outros mestres da arte moderna espanhola, como Gris, Miró, Dalí, Domínguez e Tàpies. De quarta a segunda, das 9 às 21h, com entrada franca. O CCBB São Paulo fica na rua Álvares Penteado, 112, centro.
Até o dia 18 o artista plástico mineiro André Lafetá apresenta dez telas que representam mulheres brasileiras em situação de violência doméstica. A mostra faz parte da campanha Paz em Casa, idealizada pela ministra do Supremo Tribunal Federal Carmen Lúcia. A campanha foi levada a todos os tribunais do país, com a realização de vasta programação para comemorar o Dia Internacional da Mulher. Artista plástico formado pela FAAP, André Lafetá é radicado em Brasília desde 1959 e já dirigiu o Museu de Arte de Brasília (MAB). Recebeu o prêmio de melhor pintor do Salão de Artes Visuais de Brasília de 2002 e atualmente realiza exposições no Brasil e no exterior. A mostra Santas mulheres pode ser vista de segunda a sexta-feira, das 12 às 19h, no Memorial TJDFT. Entrada franca.
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sutilezas Também para marcar o Dia Internacional das Mulheres, a Câmara dos Deputados realiza, em parceria com a Secretaria da Mulher, exposição com 17 obras em acrílico sobre tela e óleo sobre tela que retratam a figura feminina. De autoria das artistas plásticas Carolinna Drummond e Christiane Contreiras, além do pintor Tony Lima (foto), a mostra está em cartaz até o dia 25. Carolinna Drummond é graduada em artes plásticas pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo e reside em Sorocaba. Christiane Contreiras é psicóloga e artista plástica. Com 12 anos de carreira, já participou de exposições em Amsterdã, Budapeste, Haia e Nova York, sendo selecionada para integrar galerias como a Nasse Galery, nos Estados Unidos, e a Amstelveen Galery, na Holanda. Tony Lima é piauiense e mora em Brasília desde o final da década de 70. Autodidata e influenciado por Modigliani, o artista já disseminou sua obra pelo Brasil, onde está presente em vários museus e coleções particulares. Espaço do Servidor, Anexo II, de segunda a sexta-feira, das 9 às 17h, com entrada franca.
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vivaafrancofonia Chama-se Semana da Francofonia, mas de fato são dez dias de intensa programação com foco nas culturas dos países integrantes da Organização Internacional da Francofonia (OIF). Em sua 18ª edição, de 16 a 26 de março, tem como ponto alto o show do cantor suíço Bastian Baker (foto), no encerramento, dia 26, às 21, no CCBB, com entrada franca. É sua primeira turnê pela América Latina. Vencedor do prêmio Swiss Music Award 2014 de melhor álbum pop-rock, Baker ganhou também o Swiss Music Awards na categoria revelação do ano, em 2012. Faz parte da programação, ainda, um festival de cinema, de 18 a 22, no CCBB. Destaque para a animação Kiriku e a feiticeira, longa-metragem franco-belga dirigido por Michel Ocelot, que passou parte da infância na Guiné, onde conheceu a lenda de Kiriku. Realizada anualmente, a Semana da Francofonia nasceu da iniciativa de três chefes de Estado africanos: Felix, Houphouet-Boigny, da Costa do Marfim, Habib Bourguiba, da Tunísia, e Hamami Diori, do Níger.
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Integrantes do Patubatê, grupo de percussão que já participou, entre outros, do Rock in Rio Lisboa e Madri, estão ensinando percussão em oficinas que incluem também a construção de instrumentos feitos de sucata. Fred Magalhães, fundador do Patubatê, e Felipe Fiúza, integrante do grupo desde 2012, ensinam novatos e iniciados a dominar os brasileiríssimos maracatu, samba, frevo, baião, ijexá, coco, ciranda e carimbó. Realizados em grandes rodas, os encontros acabam se transformando em descontraídas festas. A manipulação dos instrumentos, de extintores de incêndio a grandes tonéis de plástico e baldes de metal, dão cor, brilho e movimento aos espetáculos. As aulas acontecem no Colégio Sigma (606 Norte) e na Escola de Música Tupiniquim Musical (206 Norte). No primeiro, às quintas-feiras, das 19 às 22h. No segundo, aos sábados, das 9h30 às 12h. As mensalidades custam R$ 125. Inscrições abertas o ano inteiro, sujeitas a lotação, em www.patubate.com. Mais informações: 9216.2662 e 8282.2547.
Quarto escuro e A procura de inspiração, que nunca veio, que não teve encaixe, que foi tão tênue. São esses os nomes das duas exposições que a Alfinete Galeria (116 Norte) sedia até 4 de abril. A primeira apresenta o trabalho da artista plástica Waleska Reuter, uma instalação idealizada especialmente para o espaço da galeria, transformada para receber dois ambientes que aludem ao interior doméstico e íntimo. “Essa atmosfera, refinada e aparentemente familiar, provoca o surgimento de um espaço às avessas, que é o lugar denso e escuro da memória, onde ressoam lembranças (fantasmas?) que o objeto de arte faz retornar à consciência”, explica a artista, formada em Artes Visuais pela UnB. A segunda exposição apresenta 20 desenhos de Leopoldo Wolf, também formado em Artes Visuais pela UnB, concebidos entre 2014 e 2015, cujo tema gira em torno do imaginário sobre o corpo. Suas imagens contêm um humor “sutilmente horroroso” e oscilam entre “questões relativas à economia estética do signo gráfico e à dissolução formal, por meio da reflexão sobre possíveis mecanismos ficcionais na construção da linguagem”. Sob curadoria de Renata Azambuja, as exposições podem ser vistas de quarta a sábado, das 15 às 20h, com entrada franca.
Karina Santiago
jazzinstrumental Todas as quartas-feiras de março, às 20h, o Jazzy Club (413 Sul) promove encontros com os aficcionados do gênero musical. No projeto Bruno Gafanhoto Jazz Trio Convida, o grupo recebe a cada semana um convidado representante de um estilo musical diferente, do samba ao rock. “É um formato diferente em Brasília, mas que promoverá noites com som interessante para o público”, afirma Bruno Gafanhoto. A cantora Daniela Firme, da banda On The Rocks, inaugurou a série que teve sequência dia 11, com Guga Santana, da banda de axé Camafeu. Na terceira semana, dia 18, a atração será internacional, com a apresentação de Kajsa Beijer, cantora de soul que mora na Suécia. Na última quarta-feira do mês, Miriam Marques sobe ao palco do Jazzy Club para mostrar que é possível misturar samba com jazz. O músico Bruno Gafanhoto já acompanhou nomes de destaque como Harry Pickens, Gene Perla, Miami Sax Quartet, Doug Johnson, Mike Tracy, Ademir Junior, Hamilton Pinheiro e Marcelo Barbosa. Seu trio tem 26 anos de estrada no caminho do jazz. Ingressos a R$15. Informações e reservas: 3536.0691.
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pequenostambémtêmvez
Os fins de semana são de muita arte para as crianças que participam das visitas guiadas à exposição em cartaz no CCBB. A partir dessas visitas, realizadas em três horários, aos sábados e domingos, as crianças podem curtir o Laboratório de Artes Visuais, parte do projeto CCBB Educativo que propõe que “ponham a mão na massa”, independentemente do resultado final de sua “arte”. Na mostra Ciclo, atualmente em cartaz, os visitantes mirins podem experimentar os materiais necessários para se fazer uma escultura. Nessa fase, o CCBB Educativo propõe a construção coletiva de uma escultura, elaborada a partir de palitinhos de churrasco. Qual será o resultado? Crianças a partir de sete anos podem participar. As menores, só com acompanhamento do responsável. Há também o Laboratório Aberto, todos os sábados e domingos, entre 9 e 19h, com atividades de curta duração sobre a exposição em cartaz. Para a mostra Ciclo, por exemplo, a proposta é: “Será que os objetos contam histórias?”. Em Cantos e contos, as crianças participam de contação de histórias com suporte de bonecos e música, e em Musicando a experiência explora os sons tirados dos elementos da casa, como panelas e livros. Mais informações em www.bb.com.br/cultura e 3108.7623/7624.
artejovem
vemaí... Divulgação
Ananda Giuliani, André Vechi, Isadora Dalle, Marina Mestrinho e Samantha Canovas (foto) se conheceram no curso de Artes Visuais da UnB e perceberam que seus trabalhos, em diversas linguagens, tinham um “enlaçamento poético”. Nada mais natural, portanto, que se unissem na mostra DES tudo, em cartaz na Galeria Fayga Ostrower, da Funarte , entre 19 de março e 3 de maio. O projeto foi contemplado com o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2014 – Atos Visuais Funarte Brasília. De acordo com os curadores Luciana Paiva e André Vechi, “apesar de terem concluído o curso recentemente, eles apresentam poéticas pungentes e maduras”. Eles comentam que “a exposição apresentará trabalhos que transitam pelo caminho da dúvida”. E justificam, “A dúvida aqui é proposital e não o sinal de poéticas frágeis. Nesse sentido, a instabilidade na imagem se dará como convite vertiginoso para o olhar do público, que se verá obrigado a desestruturar a visão, contaminada pelas imagens cotidianas, para criar um entendimento a partir das sensações evocadas através das obra”. O projeto da exposição visa a difundir e dar visibilidade à nova produção brasiliense, colocando-a em conjunção com o cenário nacional. De segunda a domingo, das 9 às 21h, com entrada franca.
Entre 25 de março e 5 de abril o CCBB apresenta a mostra Nueva mirada, que reúne filmes de longa e curta metragens, todos com um novo olhar sobre a vida para crianças e adolescentes de várias idades. Ela é resultado de uma parceria entre o Sesc e a Nueva Mirada, associação sem fins lucrativos especializada em cultura e declarada de interesse cultural e educativo nacional pelo governo da Argentina. Serão exibidos 50 títulos produzidos em diversos países: França, Dinamarca, Eslováquia, Hungria, Letônia e Brasil, entre outros. As produções, fora dos circuitos comerciais de TV e cinema, são divididas em programações organizadas por idades de quatro a 11 anos. Entre elas está Kérity, a mansão dos contos (foto), animação francesa dirigida por Dominique Monféry que conta a história de Natanael, um menino que não sabe ler e recebe de herança uma coleção de livros. Ele descobre então que os livros servem como esconderijo para todos os heróis da literatura infantil. De quarta a segundafeira, com entrada franca. Programação em www.bb.com.br/cultura.
Samantha Canovas
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curtaaomeio-dia Filmes realizados por estudantes em vários períodos da história de Brasília, a capital que abrigou o primeiro curso de cinema em uma universidade pública e hoje possui diversas instituições comprometidas com o ensino da sétima arte. São eles os destaques da quarta edição do Curta ao meio-dia, projeto do CCBB em cartaz até 26 de abril. Na programação, entre outros, o curta de ficção Paixão traduzida (foto), de Ig Uractan, que narra a paixão de Kamilla, uma menina inocente, por um locutor de rádio, e o documentário Entre vãos, de 2010, dirigido por Luísa Caetano, ambientado no Vão de Almas, comunidade remanescente quilombola Kalunga, em Cavalcante, Goiás. Após a etapa Curtas universitários, a mostra será encerrada com Clássicos de Brasília. As exibições acontecem às sextas, sábados e domingos, entre 12h e 13h30. Entrada franca.
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diáriodeviagem
Um paraíso
no sul da Bahia
Refúgio entre o rio e o mar, Caraíva ferve de brasilienses no verão Texto e fotos Akemi Nitahara
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lugar parece mágico. Com praticamente nenhum sinal de telefone celular e pouquíssimo de internet (via rádio, em wi-fi disponibilizado por pousadas e campings), a ponta de areia de dois quilômetros quadrados entre o Rio Caraíva e o mar é um desses refúgios para escapar do estresse do dia a dia na cidade grande e se conectar com a natureza. Distante pouco mais de 1.300 quilômetros de estrada de Brasília, pode ser considerada a praia do brasiliense, na região costeira mais perto da capital (experimente traçar um compasso no mapa). Localizado no município de Porto Seguro, no limite norte do Parque Nacional Monte Pascoal e da Terra Indígena Pataxó de Barra Velha, na chamada Costa do Descobrimento, no sul da Bahia, o vilarejo de Caraíva é tido como o mais antigo do Brasil, onde os portugueses se fixaram em 1530. Vila de pesca-
dores, também vivia da exploração de madeira até aventureiros que foram andando de Trancoso descobrirem o local paradisíaco e incentivarem o turismo na região, na década de 1970. O point praieiro da vila fica justamente onde o rio encontra o mar, com barracas que oferecem tendas aos clientes, feitas com panos amarrados a estacas de madeira e bancos rústicos. Pergunte se tem caipirinha de biribiri. Apesar da fruta também chamada de bilimbi ser muito comum na região – compridinha e bem azedinha, parente da carambola –, nem sempre os restaurantes têm à disposição. O biribiri também é usado em saladas e peixes. Na rua do porto, beirando o rio, o turista encontra diversas opções de passeios para fazer, além de aluguel de caiaque, boia e stand-up-padle, praticados no rio. Para os entusiastas do trekking, guias indígenas oferecem passeios ao Monte Pascoal, com trilhas de até cinco dias. Na
direção sul ficam as praias de Barra Velha e Ponta do Corumbau, passeio disponível em buggies também administrados pelos pataxós, já que o trajeto passa pela reserva indígena, com possibilidade de uma visita à Aldeia Mãe de Barra Velha. Indo para o norte, com uma caminhada tranquila de 40 minutos – três quilômetros – chega-se à Praia do Satu, um senhor que se instalou no local há quase 40 anos e é dono da única barraca na região. Pequenos arrecifes propiciam ótimo local para quem gosta de brincar com máscara de mergulho e snorkel e um banhado em meio ao mangue também convida para um mergulho. Mais ao norte, quatro quilômetros depois do Satu, uma trilha leva ao topo das falésias, de onde é possível avistar as tartarugas que se refugiam entre as pedras. Com mais dois quilômetros, você está na Praia do Espelho, que, como o nome sugere, de acordo com a altura do sol, transforma o mar em uma grande su-
perfície que reflete dourado. Considerado o Caribe da Bahia, a Praia do Espelho tem boa infraestrutura, com restaurantes e barracas, mas preservando a natureza. O acesso também pode ser feito por lanchas, saindo de Caraíva ou de carro, e algumas barracas alugam máscara e snorkel. Apesar de ser um pequeno vilarejo, a vida cultural pode ficar intensa durante o verão. Este ano, quem se apresentou por lá foi nada menos que Hamilton de Holanda com seu Baile do Almeidinha, em dois shows que tiveram como convidados Elba Ramalho e Marcelo D2. Outra atração frequente é o grupo Caraivana, que se formou na cidade em 2005, com músicos que passavam férias por lá. Entre eles, o bandolinista brasiliense Dudu Maia. A energia elétrica chegou em Caraíva há menos de uma década, em 2007, e não ilumina as ruas – por opção dos moradores, que preferiram preservar a paisagem e o céu estrelado. A sustentabilidade também está presente na compostagem do lixo orgânico, fossas sépticas em todas as casas e trabalhos de reciclagem. A região também faz parte de uma Zona de Reserva Extrativista Marinha (Resex) e da Área de Proteção Ambiental (APA) Trancoso/Caraíva. Carro não entra na vila e as ruas são de areia fofa. O acesso pode ser feito de táxi a partir de Arraial d’Ajuda ou Trancoso ou de ônibus regulares que saem de Porto Seguro, Arraial d’Ajuda, Eunápolis e Itabela. De carro, subindo a BR-101, são 43 quilômetros de estrada de terra entrando pelo povoado de Monte Pascoal. Vindo do norte, o acesso é pela BR-367, partindo da cidade de Eunápolis em direção a Porto Seguro e depois Trancoso, seguindo 33 quilômetros de terra. O carro é deixado em estacionamentos e barcos fazem a travessia do rio. Também é possível acessar de carro por Prado, passando por Cumuruxatiba e Corumbau, deixando o carro na entrada do vilarejo. Claro que tudo isso tem um preço. Além do acesso restrito por natureza e para preservar a natureza, na cidade camisetas temáticas estampam: “Caraíva é cara mas é a minha cara”. Vá prevenido de dinheiro vivo, pois poucos lugares aceitam cartões e não há caixas eletrônicos. Além de muito protetor solar e repelente para insetos também. Caraíva é perfeita para se desligar do mundo e curtir o momento.
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graves&agudos
A 300 km por hora Um dos mais bem sucedidos roqueiros brasilienses, Gabriel Thomaz, fala sobre a atual fase do Autoramas
José Maria Palmieri
Por Pedro Brandt
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m 21 de fevereiro, a banda carioca Autoramas estreou em Brasília sua nova formação. Na ocasião, o guitarrista e vocalista Gabriel Thomaz subiu ao palco acompanhado de Fred Castro, ex-Raimundos, na bateria (posto antes ocupado por Bacalhau), Melvin no baixo (no lugar de Flávia Couri) e a cantora Érika Martins, mulher de Gabriel, nos vocais, guitarra e teclados. Não deixa de ser simbólico que a nova fase da banda tenha feito seu debut na cidade, afinal de contas Gabriel é brasiliense e foi aqui que ele iniciou sua trajetória musical, à frente da banda Little Quail and the Mad Birds. Preparando disco novo dos Autoramas, prestes a lançar o segundo álbum de seu outro grupo, Lafayette & Os Tremendões (com o tecladista da Jovem Guarda Lafayette Coelho), e ainda um livro sobre o cenário das fitas demo de bandas de rock dos anos 1990, Gabriel Thomaz conversou com a Roteiro e comentou as novidades de sua banda e os planos para este ano.
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O que as pessoas podem esperar do próximo disco dos Autoramas? Já estamos mostrando novidades nos shows. Em novembro, eu e Érika lançamos um EP juntos, como uma dupla, tipo Jane & Herondy (risos). Essas músicas agora fazem parte do repertório do Autoramas. Além disso, gravamos, já com a nova formação, a música Verão, parceria minha com o Alvin L. O disco vai se chamar O futuro do Autoramas e te-
rá também nossa versão para Garotos II, do Leoni. O Autoramas tem tocado muito fora do Brasil, especialmente na Europa, para onde vocês voltam em maio, depois de passar por México e EUA. Pois é, a gente consegue muito mais abertura do que muitas bandas brasileiras quando tocam no exterior. Em todo lugar dizem que o nosso som é muito pop. E eu concordo, é mesmo. A gente até toca no circuito garage rock, mas eles não nos consideram garage, dizem que somos outra parada. A famosa loja Rough Trade, ao anunciar um disco nosso, escreveu o seguinte: “excellent pop garage”. O anúncio da nova formação pegou muita gente de surpresa. Comente a saída da Flávia e do Bacalhau. Ficou magoa na relação de vocês?
Não estava nos planos, em janeiro eu não sabia que a banda mudaria de formação. Aconteceu o seguinte: há uns anos, a gente fez uma turnê com a banda dinamarquesa Colombian Neckties e a Flavinha começou a namorar o baterista deles. Fazíamos show na Europa e ela não voltava com a gente, ía pra Dinamarca, ficava por lá uma semana, 15 dias, um mês. Isso começou a atrapalhar a banda. No meio da turnê europeia do ano passado, ela me avisou que ia se casar. A própria Flavinha ficou incomodada, disse que não dava mais para conciliar e que ia sair da banda. Nas nossas últimas turnês, o Bacalhau reclamava de tudo, do voo atrasado, da comida, de não-sei-o-que... e isso foi enchendo o saco. Sendo que a banda está numa fase ótima, com várias portas se abrindo. Além de tocar, cada um de nós tem suas responsabilidades dentro da banda e descobri que o Bacalhau não estava cumprindo as dele. Tivemos uma conversa, eu reclamei de uma série de coisas e ele disse que ía sair. Não falo com eles desde então. Músicas suas alcançaram enorme aceitação na interpretação dos Raimundos. Você gostaria de fazer sucesso popular? Claro! E não só eu, acho que todo músico quer fazer suas ideias chegarem nas pessoas. O problema é que o mercado é muito fechado. Algumas músicas minhas, como A 300 km/h ou A história da vida de cada um, poderiam estar aí, no rádio, todo mundo curtindo. Tanto é que lá fora chamam a gente de pop (risos).
Dois dias, 50 shows Por Alessandra Braz
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previsão para os dias 28 e 29 de março é de tempo chuvoso e relativamente frio, com máximas de 24º C e mínimas de 19º C, de acordo com o Accu Weather, site americano que faz previsão do tempo global. Saber isso é o primeiro passo para escolher a melhor roupa para passar o dia inteiro no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, curtindo os mais de 50 shows que serão apresentados em dois palcos no Lollapalooza Brasil. A quarta edição do festival tem como atrações principais, no dia 28, o ex-vocalista do Led Zeppelin, o britânico Robert Plant, e o músico americano Jack White. Plant chega ao Brasil com a banda Sensational Space Shifters para cantar músicas de sua carreira solo e da época em que esteve à frente do grupo londrino. Já White mostra pela primeira vez canções do álbum Lazareto (2014). No mesmo dia, vale a pena conferir também a banda inglesa Alt-J, de rock alternativo, que tem chamado a atenção por fazer canções que misturam música eletrônica e indie. A voz do vocalista Joe Newman é também muito interessante. O Kassabian, que já tocou em tantas fesFotos: Divulgação
O britânico Robert Plant, ex-vocalista do Led Zeppelin, sobe ao palco do Lollapalooza no dia 28.
Jack White é outra atração da primeira noite.
tas ali pelos idos de 2008, mais Marina and the Diamonds, Bastille e, para os apaixonados por eletrônico, o produtor e cantor Skrillex, são opções para não desperdiçar. No time brasileiro, o xodó dos indies, a Banda do Mar, trio formado por Mallu Magalhães, o marido Marcelo Camelo e o português Fred Frerreira, vai tocar com sol a pino, às 14h. Para os fãs, vale chegar cedo. Os shows pelo Brasil têm sido disputadíssimos e o projeto que começou em 2014 já nasceu cheio de hits. No dia 29, o principal nome é Pharrel Williams, o cantor, compositor e produtor musical que conquistou todas as pistas de danças com várias músicas no ano passado, como Get lucky, em parceria com o Daft Punk, e Blurred lines, com Robin Ticke. Ele traz ao país, pela primeira vez, as canções de Girl (2014), que tem o hit Happy (trilha sonora do desenho animado Meu malvado favorito 2), Marylin Monroe e Come get it bae. Saindo do pop e indo para o rock, o outro headliner do dia é o grupo Smashing Pumpkins, de tanto sucesso nos anos 90. Aqui, eles chegam com material fresquinho, o disco de inéditas Monuments to an elegy, lançado no final de 2014, em Nova
York. Para os fãs mais inveterados, infelizmente o show não será cheio de canções saudosas como 1979, mas terá alguns hits como Tonight, tonight e Bullet with butterfly wings. Antes de passar pelo Lollapalooza o Smashing Pumpinks se apresenta dia 27 de março no Net Brasília. Os ingressos já estão à venda na Central de Ingressos do Brasília Shooping e variam de R$130 a R$ 500, em três categorias: pista (R$ 130, meia-entrada e clientes NET), pista premium (R$ 200, meia-entrada e clientes NET) e camarote (R$ 250, meia-entrada e clientes NET). Para abrir o show em Brasília, a banda escalada foi o Young the Giant, que também é destaque no dia 29 de março no Lollapalooza. Nesse dia também vale conferir o indie rock à la Joy Division do Interpol, The Kooks e os brasileiros do Far From Alaska. O grupo brasiliense Scalene também é uma das atrações do festival e toca ao meio-dia no palco Skol. Lollapalooza Brasil 2015
28 e 29/3 no Autódromo de Interlagos (Avenida Senador Teotônio Vilela, 261). Ingressos: de R$ 170 a R$ 660 (1º lote), à venda em www.ticketsforfun.com.br. Classificação indicativa: 15 anos.
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verso&prosa
O prazer de conhecer Por Alexandre Marino Fotos Marx Farias
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espaço é convidativo e aconchegante. As estantes não sufocam o leitor; ao contrário, sugerem que se tome o livro para folhear e ler algumas linhas. E o ambiente não parece impor ao cliente o best-seller da hora, mas o deixa à vontade para suas próprias descobertas. Talvez seja assim a livraria ideal, já que o livro, antes de ser um produto comercial, é – ou deveria ser – um suporte para o pensamento e a reflexão. A Le Calmon Livraria e Café, que está completando seis meses de funcionamento na 111 Sul, foi criada com esse espírito e marca a volta das livrarias de rua ao Plano Piloto, abrindo caminho, quem sabe, para outras iniciativas semelhantes. Criada por um casal de advogados, Adriana Beltrame (na foto ao lado) e Petrônio Calmon, ela faz parte de um projeto que inclui uma editora especializada, a Gazeta Jurídica, com dois anos de existência e já com 60 títulos publicados, e um selo literário, a Le Calmon Editora. Deste, Uvas, vinhos e tulipas, romance de Vanda Amorim, e Causos de São Chico e outras querências, de Athos Gusmão Car-
neiro, são os destaques. No andar superior da livraria foi montado o café, que complementa o ponto de encontro de pessoas que têm em comum o prazer da leitura. Os dois ambientes funcionam de segunda a sábado, das 9 às 21 horas. “Não queremos que a Le Calmon seja um ambiente frio, ela foi pensada para o uso das pessoas”, explica Adriana, que administra os dois espaços físicos – a livraria no térreo e o café no espaço superior. Leitora de romances históricos e fã de escritores como Ken Follett e Philippa Gregory, britânicos que têm na pesquisa histórica a base de seus livros, ela acredita que há uma tendência de movimento de refluxo desse consumidor diferenciado, que se volta para as pequenas livrarias depois da onda dos shopping centers. “Houve um momento em que o comércio de rua foi abandonado, mas agora o público já começa a se cansar dos problemas de deslocamento e da impessoalidade dos shoppings”, analisa Adriana. “Hoje temos um espaço voltado à comunidade, que também começa a atrair pessoas como um ponto de encontro.” Adriana mostra os espaços da livraria, projetados de acordo com esse conceito. Na primeira estante, à entrada, es-
tão os livros para os jovens. Ali podem ser encontrados tanto a ficção infanto-juvenil mais tradicional quanto clássicos ilustrados ou grandes obras da literatura recriadas na linguagem dos quadrinhos. Depois vêm os livros de literatura brasileira e estrangeira, entre clássicos e lançamentos. Os livros jurídicos aparecem nas estantes seguintes. Ali, na parte central da livraria, poltronas convidam o leitor a sentar-se e folhear os livros à sua escolha. Nas demais estantes há biografias, livros históricos e títulos na área de música.
Mais ao fundo há um espaço infantil, onde as crianças podem ficar à vontade para conviver com os livros e eventualmente são promovidas contações de histórias, e uma mesa para autores que poderão usar o espaço para autografar seus lançamentos. Adriana lembra que o cliente não encontrará nas estantes livros de autoajuda ou religiosos, que não fazem parte da proposta da Le Calmon. Este é mais um detalhe que dá à livraria uma personalidade diferenciada, já que são outros os seus “best-sellers”, como romances de literatura brasileira e estrangeira e biografias. Mas, caso o leitor não encontre na casa o que procura, a Le Calmon aceita encomendas de qualquer tipo de livro. A livraria é atendida por balconistas, que Adriana prefere chamar de consultores especializados. Ludmila e Rhayssa são formadas em letras e conhecem bem o produto que vendem. Jorge é jornalista, especializado em cinema. Laécio, formado em direito, atende o público que procura livros nessa área. O espaço de convivência é complementado pelo café, pensado para que o
leitor possa relaxar diante de uma xícara de café ou chá enquanto lê algumas páginas. Nesses poucos meses, já é habitual o acesso de grupos que ali se encontram para a happy-hour. Para bem atender essas pessoas, foram pensadas estantes de chás, que incluem os chineses, ingleses e nacionais, além de uísques, vinhos, cervejas importadas e cachaças especiais. Do cardápio constam ainda saladas, qui-
ches, sanduíches e petiscos. E o café ainda oferece ao cliente jogos de chás de porcelana e chaleiras de vidro, para preparar em casa. Se preciso, com preciosas dicas de Adriana Beltrame, que sabe fazer o casamento perfeito entre a literatura e essa tradição chinesa. Le Calmon Livraria e Café
11 Sul – Bloco C (3345.6233) De 2ª a sábado, das 9 às 21h. Mais informações: www.lecalmon.com.
A VERA É UM SUCESSO! Brasília provou e adorou a Vera Pizza Napoletana! Elaborada de acordo com rígidas normas e técnicas, é leve, saborosa e faz parte da dieta mediterrânea. Igualzinha a que se come em Nápoles, venha provar!
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A periferia no centro Vencedor do Festival de Brasília de 2014 estreia dia 19 no circuito comercial, depois de conquistar a admiração de espectadores e críticos em outros festivais Por Sérgio Moriconi
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ranco sai, preto fica, o curioso título do filme de Adirley Queirós, faz referência à ordem dada por policiais aos participantes de um baile da periferia da capital. O título dá mesmo uma ideia da truculência cripto-racista que teria consequências trágicas para o grupo de amigos retratado no filme. A história é verdadeira e se passou na Ceilândia, a mais populosa cidade-satélite de Brasília. Com seus mais de 400 mil habitantes, e embora já tenha se constituído ali uma vasta classe-média emergente, a localidade ainda é habitada, em sua maioria, por famílias de baixa renda. Sua origem não nega. Nos anos 70, através de uma “comissão de erradicação de invasões” (daí o prefixo “cei” do nome da cidade), o governo do Distrito Federal resolveu erradicar a imensa favela do IAPI (ou in-
vasão, como queiram), situada muito próxima do Plano Piloto, para um descampado ermo localizado a mais de 20 quilômetros da área nobre da capital. O filme de Adirley não é documentário, tampouco uma ficção estrictu sensu. É uma obra híbrida, excêntrica, assim como seu diretor, protagonista de um gesto inédito, ao dividir o polpudo prêmio em dinheiro do Festival de Brasília com todos os seus companheiros da competição oficial. Adirley se considera um exilado da comunidade cinematográfica da capital, da mesma forma como considera os moradores das cidades-satélites do DF, inclusive ele próprio, marginais sociais. Sua voz necessária e dissonante está dramatizada de forma funambulesca em Branco sai, preto fica. Não vamos nos esquecer que o acontecimento da invasão policial ao baile funk, ocorrido na década de 80, e que mutilou diversos jovens,
entre eles os dois principais protagonistas do filme (eles são os “atores”/vítimas do fato real e do ficcional), marcou uma geração, potencializando, muitas vezes subconscientemente, o sentimento de segregação e preconceito dos moradores da Ceilândia em relação aos “bem nascidos de Brasília”. Adirley corteja a ficção científica ao produzir uma burlesca e “imaginária” comunidade pobre nas cercanias de Brasília. Como nos thrillers do cinema noir, moradores buscam no mercado negro passaportes falsos para transpor (vejam só!) os limites de uma indevassável Brasília. Não estamos muito distantes das sinistras, lúgubres e brumosas fantasias do quadrinista sérvio Enki Bilal. Mas o estilo é marginal terceiro-mundista. Adirley divide sua fábula em três frentes: um DJ de uma rádio pirata, deficiente físico; um rapaz amputado que vive de restau-
Fotos: Divulgação
rar pernas mecânicas encontradas muitas vezes em lixões; e um homem enviado do futuro com a missão de reunir provas de discriminação racial do governo. A “Ceilândia” desses três personagens é representada como um universo paralelo, um plano alternativo de existência, enfim, uma outra dimensão existencial e sócio-histórica. Grande novidade no cenário de cinema da cidade, Adirley Queirós é a voz das cidades-satélites do filme brasiliense. A voz da Ceilândia, mais especificamente. Goiano de Morro Agudo, Adirley começou a fazer filmes tardiamente, aos 28 anos, e meio que por acaso. “Eu queria fazer qualquer curso na UnB, acabei escolhendo o de Cinema pela nota, que era baixa. Naquela época, eu estava desempregado, tinha deixado os campos de futebol (eu jogava na categoria profissional) e tinha começado a dar aulas particulares de matemática. Eu era um aluno mediano, o mais velho entre os estudantes da graduação, e tinha que me dividir entre a minha família – me casei em 2000 – e meu trabalho. Quase larguei o curso. Cheguei a trancar por um ano. O primeiro filme, Rap – O canto da Ceilândia (2005), foi meu projeto de graduação e só aconteceu por conta do envolvimento dos professores Dácia Ibiapina, Caíque Novis e Érica Bauer.” A produção foi toda feita com equipamentos da UnB. O curta ganhou 17 prêmios, entre eles o de melhor filme no Festival de Brasília de 2005, e até hoje é um dos mais vistos pela Programadora Brasil. Quando pensou em fazer Rap – O canto da Ceilândia, Adirley já tinha claro que queria falar mais da cidade do que da música. “Eu fiz o trocadilho de ‘o canto da Ceilândia’. Na verdade, o ‘canto’ era a própria Ceilândia”. Depois, com exceção de alguns clips de músicas de rap, Adirley ficou quase quatro anos sem fazer cinema. Finalmente, entre 2008 e 2009, dirigiu Fora de campo, ganhador do DOC-TV IV – assim como Rap, todo ele gravado na Ceilândia. O documentário foi exibido no É Tudo Verdade e num festival do México. No ano seguinte fez Dias de greve, o preferido do diretor. “Ele tem uma certa inocência. São oito serralheiros de Ceilândia que querem parar a cidade. Foi um filme pouco trabalhado, a maior parte das filmagens foi feita nas ruas mesmo e o resultado é um filme de
ficção com cara de documentário”. Como acontece com muitos de seus companheiros de geração, a produção de Dias de greve foi toda realizada por um coletivo, o Ceicine. Adirley causaria polêmica ao retirar o seu A cidade é uma só – vencedor do Festival de Tiradentes – da programação do Festival de Brasília de 2012. “Nós o inscrevemos para poder tirá-lo. Não se trata de revanchismo. A nossa arma é o filme e queríamos dar visibilidade para algumas questões. Uma delas é a falta de uma sala de cinema na Ceilândia. Também foi um absurdo fazer uma pré-estreia nacional às 15 horas de um dia útil. Não tenho nada contra mudanças, mas é preciso haver discussão. E é preciso se preocupar com a marca de um festival que é patrimônio da cidade.” Independentemente dessas questões circunstanciais, A cidade é uma só é um marco na produção de cinema da Brasília “fora dos Eixos”. O filme seria possível graças aos mecanismos de produção consolidados ao longo dos anos 90 – especialmente o FAC – e também às novas formas associativas, os coletivos menciona-
dos anteriormente. O Ceicine surgiu em 2005, junto com Rap – O canto da Ceilândia, com o objetivo de agregar artistas da Ceilândia. Seria, nos termos de Adirley, “um coletivo apartidário, mas com processos ideológicos que contribuíssem para a autoestima da cidade”. Adirley queria fazer um cinema que dialogasse com as possibilidades locais, que pensasse a cidade e se preocupasse com a representação de personagens da periferia. Quando lançou A cidade é uma só, ele disse estar finalizando um “documentário” de longa-metragem também rodado na Ceilândia. Estava claro que Branco sai, preto fica seria um trabalho sobre amputados, vítimas da violência policial nos anos 80. Mas sua imaginação fantasiou um homem vindo do futuro para investigar o que aconteceu na fatídica noite do baile funk e recolher provas para processar o “Estado”. Cinema engajado é isso aí. Branco sai, preto fica.
Brasil/2014, 93min, drama. Roteiro, produção e direção: Adirley Queirós. Com Marquim do Tropa, Shockito, Gleide Firmino, Dilmar Durães e DJ Jamaica. Em cartaz a partir do dia 19.
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Lis Marina Oliveira
galeriadearte
O fazer de
Wagner
Barja
Por Vicente Sá
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s meses que precediam o Carnaval eram os mais movimentados para o pequeno Wagner, o menino criado pela avó Sofia e pelo avô Hermógenes, um marceneiro cego, ambos naturais da Espanha e que adoravam o Brasil. Era a época em que o menino mais visitava sua escola preferida, a de samba. Foi lá que aprendeu, no início dos anos 60, que a arte é uma beleza que não elimina a crítica – ensinamento que carrega até hoje. Nascido em 1952, Wagner Barja morou toda a sua infância com os avós em Vaz Lobo, no Rio de Janeiro. Solto como os meninos da época, aprendeu a liberdade de uma marginalidade ainda não tão pesada. Tão bem se enturmava no subúrbio que sua primeira obra encomendada foi para uma escola de samba. Ele desenhou uma alegoria. E quem sabe aí esteja o busílis: talvez por já ser, Barja nunca se sentiu artista. Apenas vivia e fazia coisas. Um caso exemplar foi o de uma tia que um dia comprou material de pintura e uma tela e o levou ao Jardim Botânico para que pintasse um quadro. Ele pintou, mas nem se lembra bem o que era. “Foi mais para me livrar daquela obrigação, eu não queria essa coisa de ‘artista’, era muito peso,” lembra.
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É claro que o menino não podia ficar a vida inteira na rua e acabou levando o estudo um pouco mais a sério, mas naquele Rio dos anos 60 ele foi um adolescente esquivo, que não queria muita coisa com a responsabilidade. Depois, fez arquitetura, arte, mas nunca esqueceu aquela primeira liberdade criadora. Aquela quase rebeldia. No final dos anos 70, a inquietude de Barja e de muitos intelectuais brasileiros era grande. Quem não estava na luta política buscava outros caminhos. Assim, ele e um grupo de artistas/professores, comandados pela pedagoga Sinclair Fasolino, foram para o povoado de Olhos D’água, no município goiano de Alexânia, morar em comunidade e criar uma escola experimental. Logo depois, no início dos anos 80, Barja começou a mostrar seus trabalhos em exposições coletivas no Rio de Janeiro. Veio para Brasília atrás da mulher, Maria Gorete, a Gogô, e aqui conheceu Wanderley Lopes, com quem fez uma boa parceria. Juntos, criaram uma editora e publicaram Semente de mostarda, um dos primeiros livros lançados no Brasil sobre a filosofia Rajneesh. Como artista, ele sempre teve uma linha de atuação muito individual. Nunca conseguiu aderir a movimentos. “Eu sempre fui um artista no limbo. Minha obra é diferente. As pessoas gostam mas não têm coragem de levar para casa”, brinca. Mas, se arisco a movimentos, Barja sempre gostou muito de beber dos artistas que respeitava. Glauber Rocha foi um dos bons loucos que ele curtiu. Rubem Valentim teve grande influência em sua carreira, tanto como pintor quanto como pessoa. Uma das máximas que aprendeu com Valentim ele leva como estandarte de sua vida: “Não existe saída fora do fazer.” Quem conhece o artista e gestor de cultura sabe o quanto isso está impregnado em sua vida. Como gestor, Barja teve papel importantíssimo na vida cultural de Brasília nos últimos 30 anos. Desde seu começo com TT Catalão no Espaço Cultural da 508, depois passando por diversos governos e secretários de Cultura. Diretor do Museu Nacional da República, licenciou-se recentemente para cuidar de uma retrospectiva de seus últimos 30 de carreira, em cartaz no CCBB (leia, ao lado, matéria de Lúcia Leão sobre a exposição).
Sensação,
discurso e humor
Por Lúcia Leão
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s brasilienses que visitarem o CCBB até o final de abril terão a oportunidade ímpar de penetrar um universo surpreendente de palavras, imagens, sons, cores e luzes, em formas sólidas e etéreas, que são as matérias e os materiais utilizados simultaneamente, ao longo dos últimos 30 anos, pelo multi-artista Wagner Barja. Com poemasgráficos, esculturas, instalações, fotografias e cinema, Experiência Tumulto III é a retrospectiva do artista que em tudo associa “sensação” e “discurso”; que emprenha cada obra de informação e conceito e, quase sempre com muito humor, se apresenta como estopim para reflexões que vão desde brincadeiras inocentes até densas discussões filosóficas e questionamentos sociais. A exposição, composta de 30 obras, ocupa duas salas do CCBB. Na primeira, que a curadora Marisa Florido César chamou de Antologia, estão, entre instalações, filmes e esculturas, os poemas visuais, ou “obranomes”, onde Barja recorre às linguagens verbal e visual que se agregam em exercícios intersemióticos na composição de ideias e mensagens. Des-
taca-se, entre elas, a obra Acadêmicos, apresentada pela primeira vez em 1986 pela revista Bric-a-Brac. Com bananas moldando as letras A, K e D e a figura do mico arrematando a sequência, trata-se, na definição do físico-poeta Roland de Campos, de uma “charada verbo-visual” que resulta numa “mensagem mordaz dirigida ao establishment artístico”. Como a charada igualmente bem humorada, embora menos ácida, da obra Dadá, apresentada com a grafia Da2, referência à “arte não significante”, movimento surgido na Alemanha no início do Século XX, mas que também é lida por alguns como remissiva a um jargão de uma determinada “tribo” alternativa de Brasília. Estudioso e pensador da história da arte, Barja derrama esses conhecimentos nas suas obras e conduz o espectador a grandes viagens e reflexões através das mais simples referências e associações. Como em H2O Monet, uma instalação de vidro, com uma projeção de luzes que transmitem a sensação de água e a assinatura do pintor impressionista. “Nessa instalação ele pensou pintura e produziu um objeto”, define Marisa Florido. E, por pura abstração, quem observa tem impressão de ver as águas de Giverny, retratadas pelo impressionista.
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Outros momentos da história da arte também estão referenciados na retrospectiva, como o barroco de Aleijadinho, o futurismo de Marcel Duchamp – que contracena com o “fantasma” da performer carioca Márcia X – e a poética filosofia de Goethe, de quem Barja relê O sol, para ser percebido por todos os sentidos e a partir do próprio “sol interior” do espectador (“se o olho não tivesse sol, como veríamos a luz?”). E Wagner Barja surpreende ainda com uma face política, de artista militante de causas sociais. Como o filme da dramatização de uma ocupação de terras por posseiros, que ele promoveu de forma quase involuntária no interior do Pará quando desenvolvia, pelo Museu do Marajó, um trabalho de resgate de manifestações culturais locais; ou a Quéops Brasílis, feita de copos de vidro sobre espelho e que o artista descreve como “uma pirâmide social que lança um olhar irônico sobre o poder e termina por falar da pintura”; ou a bandeira do Brasil estampada na cama de campanha, intitulada Deitada eternamente. Para além da antologia – as 29 obras expostas na galeria principal do CCBB –
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a obra inédita Jonas completa Experiência Tumulto III. É uma grande vídeoinstalação construída em espaço exclusivo – a galeria ao fundo do complexo do centro cultural – com 20 peças fundidas em alumínio e resina que simulam as vértebras de uma baleia com asas e onde são projetados diversos vídeos. Barja diz que Jonas faz seu discurso “anima/verbi-vocovisual”, conceito que perpassa todo universo de sua criação artística. Por tudo isso e muito mais, Experiência Tumulto III é uma viagem a ser feita com calma, sentidos aguçados, corações e mentes abertos. Ou, como define a curadora e professora de História da Ar-
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galeriadearte
te Marilia Panitz, é “diversão e complexidade, como deve ser a vida”. Experiência Tumulto III
Até 20/4 no CCBB (SCES, Trecho 2), de 4ª a 2ª feira, das 9 às 21h. Entrada franca. Classificação indicativa: livre. Entrada franca. Mais informações: 3108.7600.
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