Roteiro 241

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invenções geniais de leonardo da vinci em exposição no tcu

Ano XIV • nº 241 Julho de 2015

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Mundialmente consagrado por sua obra-prima Monalisa, Da Vinci teve produção científica que ficou quase desconhecida até 1952, quando pesquisadores da Universciense, de Paris, decidiram criar réplicas de suas invenções e apresentá-las ao homem contemporâneo. Pois é esse trabalho, em forma de 40 peças e dez instalações interativas, vindas do acervo do Museo Nazionale dela Scienza e dela Tecnologia Leonardo da Vinci, de Milão, que os brasilienses poderão admirar até 27 de setembro, quando a exposição seguirá para Londres (página 28). Satisfeita a fome de cultura, bom mesmo é saciar a fome de pratos mais substanciosos, ricos em carboidratos e gorduras, capazes de nos aquecer neste inverno brasiliense. Pensou em sopas, caldos, fondues e uma boa massa? Nós também, e fomos procurar nos restaurantes da cidade o que eles têm de bom para nos oferecer nesse quesito tão fundamental da estação fria em terras brasilienses (página 6). Lembram do Arabeske, aquele restaurante árabe de esquina que ficava em frente ao Beirute da 109 Sul e fechou suas portas em 1996? Pois é, para a alegria dos antigos frequentadores, a casa está de volta, agora em novo endereço, na 211 Norte. Samir Ghani e seu tio Yassim Foqahaa, agora com a ajuda do chef Musa Foqahaa, também primo, apresentam à cidade seu novo Arabeske, com 200 lugares, mesa ao ar livre e, no cardápio, falafel, quibe com queijo, quibe cru e todos os pratos da antiga casa, só que, agora, com o acréscimo de bailarinas de dança do ventre, às quintas e sábados (página 10). Gostaria de finalizar corrigindo um erro que cometemos na matéria Guardiã da comida sertaneja, publicada na edição anterior, na página 16. Erramos ao citar o nome do pai de Ana Rita Dantas Suassuna, o folclorista Joaquim Dantas (é esse seu nome correto). Nosso pedido de desculpas à entrevistada. Boa leitura e até agosto. Maria Teresa Fernandes Editora

Tamna Waqued

Paris, Munique, São Paulo e agora Brasília. A exposição recordista de público da Galeria de Arte do SESI-SP, onde recebeu mais de 105 mil visitantes, chega a Brasília no dia 22, para se instalar no Tribunal de Contas da União. Trata-se de Leonardo Da Vinci: A natureza da invenção, impressionante acervo de projetos, desenhos e maquetes que mostram ao espectador o lado inventor do gênio renascentista nascido em Vinci, Itália, em 1452, e morto em 1519 na cidade de Amboise, na França.

28 galeriadearte A vasta produção científica de Leonardo da Vinci, menos conhecida do que suas obras de arte, será exposta de 22 de julho a 27 de setembro no TCU.

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águanaboca garfadas&goles pão&vinho doisespressoseaconta caianagandaia verso&prosa dia&noite diáriodeviagem graves&agudos queespetáculo luzcâmeraação

ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14 – Conjunto 2 – Casa 7 – Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa André Sartorelli | Colaboradores Adriana Nasser, Alessandra Braz, Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, Ana Vilela, Beth Almeida, Cláudio Ferreira, Eduardo Oliveira, Elaina Daher, Heitor Menezes, Júlia Viegas, Luana Brasil, Lúcia Leão, Luís Turiba, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Melissa Luz, Pedro Brandt, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Vicente Sá, Vilany Kehrle | Fotografia Eduardo Oliveira, Fabrízio Morelo, Gadelha Neto, Marx Farias, Sérgio Amaral, Zé Nobre | Para anunciar 9988.5360 Impressão Editora Gráfica Ipiranga | Tiragem: 20.000 exemplares.

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Divulgação

águanaboca

Creme de tomate com queijo de cabra, do Rubaiyat.

Comidinhas

para espantar o frio

“C

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ada coisa a seu tempo tem seu tempo”, constatou Ricardo Reis em fins do Século 19. É claro que o “tempo”, para o heterônimo meio brasileiro de Fernando Pessoa, tinha um significado mais profundo e prestava-se a considerações filosóficas no diálogo que o poeta tecia, ali, com sua amada Lydia. Mas vamos nos manter na rasa objetividade, à qual a verdade definitiva da poesia também se aplica: é tempo de frio. Tempo de sopas, chocolates, fondues, vinhos... tempo, enfim, das coisas que neste tempo têm seu tempo. Parece que todo ano os brasilienses se esquecem como o inverno na cidade pode ser rigoroso e se surpreendem com as baixas temperaturas sob o céu estupidamente azul. Uma surpresa boa, que busca casacos e adereços do fundo dos armários, que resgata aquele cachecol ou

chapéu trazidos de uma viagem, que dá oportunidade de ostentar uma elegância discreta e sair por aí, na busca dos prazeres próprios desse tempo. Entre eles, e

com mais destaque do que nunca, os de comer e beber. Com o frio, o apetite aumenta e o corpo “pede” comidas quentes e ricas em Felipe Menezes

Por Lúcia Leão

Caldos de feijão e frango, da Galeteria Beira Lago.


Henrique Ferrera

carboidratos e gorduras. “No tempo frio o metabolismo precisa ser acelerado, trabalhar mais para se aquecer. Esse esforço extra gasta mais energia, que vem da queima dos carboidratos e gorduras”, explica a nutricionista Daiane Sousa, do Conselho Regional de Nutrição. E se o corpo dos clientes pede, os bares e restaurantes da cidade atendem! Praticamente todos os estabelecimentos oferecem pratos especiais para a estação, que ficarão em destaque nos cardápios até a primavera dizer que chegou, a seu tempo. A opção mais comum, e de aceitação generalizada, são as sopas e os caldos, oferecidos desde as versões mais simples e tradicionais, como o caldinho de feijão, até as mais sofisticadas, criadas com ingredientes gourmet por chefs especializados. É o caso das sopas que o chef espanhol Carlos Valentí preparou para o Rubayat. São quatro opções de puro requinte: o creme de tomate com queijo de cabra (R$ 30), preparado com o queijo francês chabichou, finalizado com manjericão e tomate seco picado e servido com torradas de baguete (R$ 30); a sopa de cebola servida com torrada de pão italiano, queijo minas e parmesão (R$ 30); a vichyssoise de palmitos frescos com vieiras e alho-poró (R$ 35) e a de pescados e frutos do mar, feita com camarão, lula, vieira e peixe em molho provençal e toques de licor de anis e whisky no caldo cremoso (R$60). O Bar do Mercado, que sempre se inspirou em ícones da gastronomia popular paulistana, oferece nesta temporada sopa de cebola (R$ 21), com a receita tradicional, tal qual a que é servida nas gélidas madrugadas no Ceasa da capital paulista. Para quem aprecia os pescados, mesmo longe do sol litorâneo, há as opções de aquecer este inverno no Recanto do Camarão, em Taguatinga, ou no Bistrô Bom Demais, do CCBB. O primeiro colocou no cardápio da temporada caldos de surubim, de camarão e de peixe (R$ 14,50 cada) e o segundo oferece, até setembro, um caldinho de sururu (R$ 16) que este ano veio fazer dupla de inverno com a canjiquinha (R$ 10) servida há dez anos pela chef Cristina Roberto e que hoje é uma exigência dos clientes. “Em maio o pessoal já começa a perguntar pela canjiquinha. É uma coisa que poderíamos oferecer o ano inteiro, mas os clien-

Fondue de caramelo, do La Bonne Fondue.

tes só pedem nesta época!”, revela. Diferentes e sofisticados são também os caldos do duoO preparados com ingredientes orgânicos, sem lactose ou glúten: creme de cebola caramelizada (R$ 17), creme de cenoura com gengibre (R$ 18), caldo de feijão azuki (R$ 21) e creme de palmito (R$ 19). No contraponto, o campeão dos campeões caldinho de feijão! Qualquer bar de esquina, nesta época, há de ter o seu e apregoar suas qualidades. Algumas de fato excepcionais! Mas é difícil chegar ao nível de reconhecimento da iguaria servida no Feitiço Mineiro (R$ 10). “Nós oferecemos caldo de feijão todos os dias

desde que o restaurante abriu, em 1989. Estava no cardápio original”, lembra Mauro Calichman, guardião do legado de Jorge Ferreira. “Mas nesses meses de frio vira o carro-chefe da casa. Vende mais do que pão quente!”. Até na “chic” orla do Paranoá podese degustar o tradicional caldinho de feijão. A Galeteria Beira Lago serve a popular iguaria e o caldo de frango em cumbucas ao também popular preço de R$ 10. Se a ideia for um petisco de mais “sustância”, a opção de inverno do restaurante são os escondidinhos de bacalhau (R$ 41), de carne seca (R$ 39) ou de frango (R$ 35).

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Sopa de cebola, do Bar do Mercado.

Rondelli al gratin, do Fatti a Mano.

Felipe Menezes

Massas e cozidos Por falar em sustância, é também no inverno que as massas têm seu período áureo à mesa. Ricas em carboidratos e, portanto, calorias, elas estão naquela categoria de alimentos que o organismo “pede” para produzir mais combustível e manter a máquina em bom ritmo de aceleração. “Elas são um tipo de carboidrato de absorção rápida e facilmente transformados pelo organismo em energia. Isso se o molho for leve, pouco gorduroso, é claro!”, observa a nutricionista Daiane Sousa. O L’affaire, do Hotel Mercure Líder, é uma das boas opções para uma refeição à base de massas. O cliente pode montar seu prato no balcão (R$ 36), escolhendo entre penne rigate, talharim e espaguete e os molhos pomodoro, quatro queijos, alho e óleo, funghi e bolonhesa. No vizinho Hotel Cullinan, o Fatti a Mano,

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Creme de cenoura com gengibre, do duoO.

Felipe Menezes

Divulgação

águanaboca

especializado em massas artesanais, destacou para a estação o rondelli al gratin, recheado com presunto e queijo gratinado ao molho alfredo (R$39), e o italianíssimo minestroni bolognese, sopa de legumes com filé mignon em cubos, macarrão e molho roti (R$ 21). Outro prato que está desde sempre associado ao frio nos trópicos é o cozido, muito bem representado nos cardápios do Bar do Calaf, no Setor Bancário Sul, do Empório Árabe, de Águas Claras, e do Loca Como Tu Madre, da 306 Sul, em variações de acordo com a origem de seus chefs. O catalão Venceslau Calaf serve o puchero, também conhecido como cozido madrilenho, preparado com carnes de boi, de porco e de frango, grãode-bico, repolho, batata e chorizo espanhol, além de pirão para acompanhar. O prato está disponível no self-service do almoço (R$ 49 o quilo), todas as terças-feiras, até o fim do inverno. A receita da chef Lídia Nasser para o Empório Árabe leva carnes bovina e de carneiro e muitos legumes, acompanhado de couscous. Estará no cardápio até 23 de setembro (R$ 58, para duas pessoas). Já o Loca Como Tu Madre servirá a versão argentina do prato, chamada de locro (R$ 31), que a chef Renata Carvalho prepara com cortes variados de carne, legumes e feijão branco. E, finalmente, fondues! Em termos de cozinha universal, não há prato mais associado ao frio do que a receita suíça, cuja versão tradicional funde, no calor de um réchaud posto à mesa, vários tipos de queijo em vinho branco, formando um creme consumido em cubos de pão. Há também as versões com carne e legumes, com vários molhos, e o de chocolate, que lambuza deliciosamente pedaços

de frutas. Brasília tem algumas casas especializadas nessa iguaria, como o La Bonne Fondue, no Setor de Clubes Sul, e a Cantina Dom Fondue, na 109 Norte. Ambas oferecem porções individuais ou rodízio completo, que vai do fondue de queijo ao de chocolate, passando por carnes e legumes com molhos variados (R$ 74 no La Bonne e R$ 70 no Don Fondue). Aí estão, portanto, muitas opções para aproveitar bem mais esta estação. Porque, afinal, como disse Paulo Leminski: Inverno É tudo que sinto Viver É sucinto Rubaiyat

SCES – Trecho 1 (3443.5000)

Bar do Mercado

509 Sul – Bloco C (3244.7999)

Recanto do Camarão

Praça do DI, Taguatinga Norte (3563.1083)

Bistrô Bom Demais

Térreo do CCBB – SCES, Trecho 2 (3310.9478)

duoO

SIG – Quadra 8 – Lote 2375 (3326.1726) 103 Sul – Bloco C (3224.1515)

Feitiço Mineiro

306 Norte – Bloco B (3272.3032)

Galeteria Beira Lago

SCES – Trecho 2 (3223.7700)

L’affaire

SHN – Quadra 5 – Hotel Mercure Líder (3326.7130)

Fatti a Mano

SHN – Quadra 4 – Hotel Cullinan (3327.9673)

Bar do Calaf

SBS – Quadra 2 (3322.9581)

Empório Árabe

Av. Castanheiras 1060 – Loja 24 – Águas Claras (3436.0063)

Loca Como Tu Madre

306 Sul – Bloco C (3244.5828)

La Bonne Fondue

SCES – Trecho 2 (3223.0005)

Cantina Dom Fondue

109 Norte – Bloco B (3273.5105)


Combinado especial flowers

Para comer (também)

com os olhos

S

e, como dizem, comida boa mesmo é aquela capaz de despertar um terceiro sentido, além do paladar e do olfato, vale a pena uma visitinha ao Sushi San, da 211 Sul. Os ceviches, tiraditos, tatakis, guiozas, temakis, robatas e outras iguarias japonesas servidas na casa fazem bem não apenas ao nariz e à boca, mas também aos olhos. Delicados e coloridos, mais parecem ter saído das mãos de um artesão, tal o esmero e o bom gosto com que são montados os pratos. Degustá-los um a um, sem pressa, é uma experiência gastronômica das mais prazerosas. Comecemos por esse belo leque de salmão aí ao lado, com raspas de limão siciliano, regado com azeite trufado e acompanhado de batata palha. Uma delícia. Custa R$ 49 – e vale cada centavo. Em seguida, bolinhas de tofu crocante de tapioca com molho doce de pimenta (R$ 18), sushi com molho de laranja

(R$ 18), tiradito de salmão com molho de azeite trufado, queijo coalho maçaricado e crispy de couve (R$ 31) e tiradito de atum com molho de missô e raspas de gengibre, furikake e castanha picada (R$ 35).

Essa sequência é suficiente para até três pessoas. Para os desacompanhados, uma escolha perfeita é o combinado especial flowers (20 peças por R$ 58). Na hora da sobremesa também não faltam opções. Fotos: Rafael Lobo-Zoltar Design

Por Adriano Lopes de Oliveira

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águanaboca As que acabam de entrar no cardápio são o tempurá de banana com calda de gengibre e canela com cobertura de cacau e avelã (R$ 26) e os sushis doces – trios de sushis de frutas (morango, banana e kiwi) com caldas de cacau, maracujá e morango (R$ 22). Esses são alguns pratos do revigorado cardápio do Sushisan, um dos primeiros japoneses de Brasília, aberto há 19 anos. Os proprietários, Danielly Brito e seu irmão Roberto, resolveram imprimir a suas receitas uma pegada mais contemporânea, inovando nos sabores e nas texturas. “Decidimos oferecer a nossos clientes uma gastronomia japonesa que tenha como principal marca a criatividade”, diz Danielly. Sushis, temakis, yakissoba, guioza, robatas e outros clássicos foram mantidos no cardápio, a preços que oscilam entre R$ 29,20 e R$ 34,50. A eles vieram se somar criações exclusivas, entre elas os já mencionados bolinhos de tofu crocante, os tiraditos de salmão e atum e o tartare de salmão com molho de caramelo, especiarias e flocos de tempurá (R$ 32). De terça a sexta-feira, das 12 às 15h, os clientes podem optar pelo rodízio de pratos quentes, sushis, sashimis e harumakis, ao preço de R$ 59,90. “Pensamos em nossos fregueses que dispõem de pouco tempo para almoçar. Queríamos algo rápido e saboroso, mantendo a estrutura de um restaurante com atendimento cordial e diferenciado”, explica Roberto Brito.

O velho Arabeske

está de volta

Por Vicente Sá Fotos Lúcia Leão

E

Sushi San

Rafael Lobo-Zoltar Design

211 Sul – Bloco B (3345.1804) 2ª feira, das 18 às 23h; 3ª e 4ª, das 12 às 15h e das 18 às24h; sábado, das 18 às24h; domingo, das 12h às 15h30.

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Bolinhas de tofu crocante de tapioca com molho doce de pimenta.

ra uma vez, numa Brasília distante quase 20 anos da Brasília de agora, um restaurante de esquina, de comida árabe, denominado Arabeske, que se viu obrigado a fechar as portas. Era o ano de 1996. Esse restaurante, durante muitos anos, disputou acirradamente a preferência de público com outro, também de comida árabe, chamado Beirute, localizado numa rua boêmia da capital da República, a 109 Sul. Quando o Arabeske encerrou suas atividades, os clientes mais fiéis ficaram desolados. Alguns tentaram até se cotizar para que ele não fechasse, mas os problemas enfrentados pelos proprietários eram muitos e não houve mesmo jeito. Um dos proprietários, o então jovem Samir Ghani, antes de embarcar para o sul do país, garantiu a seu tio Yassim – que também embarcava em outra direção, Miami – que um dia eles voltariam a

abrir o restaurante. Selaram com um apertado abraço a promessa feita e cada um partiu para seu destino. No último 24 de abril, a promessa foi cumprida. Samir Ghani e seu tio Yassim Foqahaa, agora com a ajuda do chef Musa Foqahaa, também primo, reabriram na Asa Norte o Arabeske, numa história não das mil e uma noites, mas de sete mil noites, ou 19 anos. Situado, agora, em outra esquina, no Bloco C da 211, o novo Arabeske tem três ambientes, 200 lugares, mesas ao ar livre para quem gosta de uma happy hour tranquila, com cerveja gelada protegida numa capa térmica, enquanto belisca um quibe ou uma esfirra. Os mais sensíveis vão se sentir em países de sonhos ao ouvir o vento balançando as pequenas palmeiras que decoram o lado externo. Para os novos clientes, é uma agradável surpresa; para os clientes antigos, uma volta no tempo e motivo de comemoração. José Manoel de Souza, 58 anos, que frequentava o antigo Ara-


beske, levou seu filho de 25 anos para conhecer o novo e ficaram os dois extasiados diante de uma pasta de coalhada com gergelim e uma cerveja gelada. “Estamos gostando muito, assim eu mostro a ele um pouco do meu passado e do passado de Brasília”, diz o pai, enquanto brinda com o filho. O autor de teatro Alexandre Ribondi, que frequentava o Beirute e o Arabeske nos anos mágicos da 109 Sul, garante que o falafel é ótimo e que o ambiente é típico (veja depoimento no quadro). Dele pode-se se dizer que, de cliente antigo, passou a assíduo, pois mora, como gosta de dizer, a 40 segundos do Arabeske. Entre os novos clientes, algumas conquistas já foram feitas. Em menos de três

meses, o restaurante tem uma cartela de fiéis fregueses. Robson Neves e Thaís Varela são dois deles. Mesmo tendo mudado da 408 Norte para o condomínio Entre Lagos, não deixam de, pelo menos duas noites por semana, desanuviar a cabeça com um chope gelado e os petiscos árabes. “Eu gosto de tudo, mas o quibe com queijo e o quibe cru são meus preferidos”, diz Thaís, que comemorou o aniversário da mãe no restaurante com direito a “parabéns pra você” em árabe. “Os proprietários são muito simpáticos e facilitam a convivência. A gente se sente em casa”, afirma. O casal Gilson e Scheila Calixto se junta ao coro, destacando o atendimento como um diferencial importante, “além das comidinhas que só eles sabem fazer”. Os proprietários garantem que o esforço é de todos para que o Arabeske renasça com força e tenha longevidade. Uma das apostas é a dupla de cozinha Samir e Musa, que se revezam nas iguarias de mil e um temperos. O tio Yassim explica que poucas casas árabes, no Brasil, têm chefs árabes, como os deles, e ainda brinca: “Se um árabe for fazer uma fei-

joada ou um churrasco, não vai dar certo. Nós fazemos nossos pratos com um prazer especial, pois estamos lidando com nossa cultura”. O novo Arabeske também se diferencia do antigo no almoço. Nos anos 1990 ainda não existia o self-serviçe que hoje reina por toda parte e que o Arabeske adotou, mesclando comida brasileira e árabe. “No almoço temos arroz, feijão, saladas, carnes, peixes, frangos e, é claro, comida árabe no peso. Já no jantar, servimos somente comidas árabes à la carte”, avisa Musa. E, como toda história árabe tem que ter magia e sedução, às quintas-feiras e aos sábados as professoras de balé e danças árabes Camila Correa e LelyNagmah irrompem entre as mesas do Arabeske, a partir das nove e meia da noite, e encantam os clientes com dança do ventre, ao som de cantos e tambores árabes. Aí é que aquela atmosfera de “era uma vez” fica completa. Arabeske

211 Norte – Bloco C (3256.4549) Almoço todos os dias Jantar de terça a sábado.

Samir Ghani, o tio Yassim Foqahaa e o primo Musa Foqahaa comandam o novo Arabeske.

Reencontro com a Brasília antiga Quando o Arabeske abriu aqui na minha vizinhança, eu me perguntei quem teria mudado: o bar ou eu? É porque lá tem falafel, verdadeiro acarajé árabe feito de grão-de-bico. Hoje, o falafel está no rol das comidas que mais amo, mas para isso eu tive que envelhecer um pouco, porque antes não conhecia. Então, não posso afirmar se o Arabeske antigo, aquele que ficava do lado do Beirute, na Asa Sul, já tinha esse prato ou não. O atual Arabeske, que fica aqui do lado da minha casa, não esconde o jeitão rigorosamente árabe. Você entra e já vê o filho no caixa, o pai de olho no movimento, o primo ajudando e um palestino na cozinha. Mas o mais legal, mesmo, é esse reencontro com a Brasília antiga. Na hora do almoço, que é self-service, o movimento é das pessoas que trabalham nas redondezas, mas à noite você encontra os antigos frequentadores da casa e a 211 Norte começa a pegar um jeito da 109 Sul de há muitos anos. Se Brasília tem uma história, é claro que o Arabeske faz parte dela. (Alexandre Ribondi)

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GARFADAS&GOLES Luiz Recena

lrecena@hotmail.com

Réquiem por um grande palco

Dez badaladas em tom grave. Gravíssimo. Dez horas da noite no Lago Norte. Frio. Cabeças brancas correram lentas atrás da bola pela última vez no Sarkizão, no final do mês de junho. Muitos anos e muita gente a pisar naquela relva sempre bem cuidada. Mais de duas décadas. E o pérfido tempo a embaralhar memórias. Gente que jogou e passou e foi embora. Uns para sempre, outros não, pois há os que voltaram para uma festa, um novo trago e a mala de garupa recheada de novos causos e histórias, coisas no limite do imaginário. Fantasias? Pode. Mentiras? Nunca! Ninguém lembra exatamente que ano corria. Corríamos nós em disputa pela esfera de couro, a redonda, a menina má, a bola, este ser cheio de espíritos indomáveis, que se deixavam dominar às vezes pelos talentosos; raros momentos pelos médios e quase nunca, nunca, pelos inábeis. Para uns tantos valia acertar canelas longas em lugar da redonda pequena e saltitante. Ô, danada,que não ficava quieta! Para uns poucos, ela morria doce na ponta do pé. Hoje, nas noites, nem isso mais. O campo noturno não há mais. Ali sonhamos e rimos dos sonhos e das mesmas piadas. Choramos ao ver o tempo passar com suas vibrações. Na mais ampla escala do riso ao pranto e deste novamente ao riso, vimos, sentimos, sofremos, comemoramos de tudo um pouco e um pouco de tudo.

Nessa marca pétrea, nessa cicatriz indelével nossa memória foi talhada. Churrascos, paellas, cozidos, churrascos de novo outra vez. Inúmeros bares nas noites sem festas caseiras. Brindes. Saideiras a perder de vista. Discussões intermináveis varavam noites e passavam governos. Uns se exaltavam, outros gritavam, alguns pensavam em perder a calma, todos riam. O importante era não perder a piada. Bons tempos. Hemingway perguntou por quem dobravam os sinos. O peruano Scorza fez os sinos dobrarem no vilarejo de Rancas, onde até hoje vagueia o invisível Garabombo. Os sinos do Lago Norte dobram por um campo de futebol que se manterá vivo em nossas lembranças. Era hora de deixar de incomodar o Paulo e a Lu, os queridos donos da casa. Estava mais do que na hora de devolver o sossego a eles e às crianças, Paulo Jr., Pedrinho, Henrique, Thaís. Valeu Paulão! Desculpe qualquer coisa. E assim acabou o Sarkizão. Depois teve churrasco, claro, com quórum triplicado. Velhos casos foram lembrados, antigas piadas receberam novos risos, houve quem se exaltasse e gritasse sem ser ouvido, o riso sufocando argumentações. E assim, alegrinhos, os veteranos se recolheram na noite em que o campo fechou. Que a paz que demos ao campo aqueça nossos corações e lembranças. Junto com as garfadas e os goles que nos mantiveram ao longo dessas décadas.

Obrigado, Nespresso!

spaghetti em lata”, escreve Antonello. Para ler o artigo completo acesse www.monardo.com.br.

Com título irônico e texto corajoso, o conceituado barista AntonelloMonardo fez fundamentada defesa do bom café brasileiro. Depois de provar que nosso bom café é mais barato que as pílulas da moda, faz um apelo aos restaurantes: “Livre, você poderá usar mais de 80 variedades dos melhores cafés do mundo. Espero que repensem e voltem a oferecer o legítimo café gourmet brasileiro, senão por patriotismo, pelo menos por questão econômica. Café em cápsula é falta de respeito com o cliente e com os profissionais do café. É como oferecer

Modesto e tranquilo

“A pizza de Brasília não deve nada a ninguém no Brasil, nem a São Paulo”. A frase é de Gil Guimarães, do alto de sua experiência e sucesso no Baco e ainda saboreando o reconhecimento de sua vera pizza napoletana, em recente concurso nacional. Final em São Paulo: Gil entre os cinco melhores do país. As outras quatro, vá lá, estão em Sampa. É questão de tempo.

Massagem fisioterápica e linfática, tratamento complementar de celulite e obesidade. Técnica japonesa. 12

Mariinha, profissional com mais de 40 anos de experiência. 910 Sul, Mix Park Sul, Bloco I sala 18. Tel.: 3242.8084


PÃO&VINHO ALEXANDRE FRANCO pao&vinho@agenciaalo.com.br

GRANDES

Como é bom quando podemos degustar alguns

frutas vermelhas maduras e tabaco, com toques

GRANDES vinhos. Comumente gostamos, e com razão,

mentolados para finalizar. Na boca, muito... de quê?

dos ótimos, dos bons e mesmo dos vinhos razoáveis, mas

De tudo. Um vinho pleno ao palato. Excelente.

quando temos a oportunidade de saborear os GRANDES... ah, que maravilha!

Mas o tal do Fojo 1996, ainda assim, conseguiu vencê-lo. Outro tipo, é verdade. Outras bandas, vinho

Uma das raridade que guardava em minha adega há

de propriedade tão encravada na região do Douro que

muitos anos era uma garrafa do Fojo 1996, um português

o acesso final a ela só se faz a pé. O vinho veio em cor

do Douro eleito pela Jancis Robinson nada menos que “o

granada com tons acastanhados, típico de um vinho mais

melhor vinho português de todos os tempos”. Não sei se

envelhecido. Elegante como poucos, perfumado, com

ela ainda mantém a opinião, mesmo porque, de quando

muita fruta vermelha madura, ótima estrutura, volumoso

ela a emitiu para cá, muitos outros vinhos excelentes, de

e, mais que tudo, incrivelmente sedoso à boca. Taninos

ótimas safras, aconteceram. Mas, de qualquer forma, um

extremamente elegantes, mas firmes. Dos vinhos mais

vinho em algum momento receber esse destaque torna-o,

longos que já provei. Espetacular.

no mínimo, algo especial. Pois bem. Junto com dois amigos de muitas provas,

Para acompanhar, um lombo do melhor bacalhau ao forno com batatas, cebolas e pimentões. Os dois vinhos

um deles, aliás, português de estirpe, abrimos esse Fojo

se demostraram muito gastronômicos, e a festa foi total.

1996 para compará-lo com outro grande: o Mouchão

Para completar com alguma diversidade, apresento

Tonel ¾ da safra 2008. O Mouchão, já muito conhecido

outro GRANDE, agora vindo da Itália, da Toscana, no

internacionalmente, inclusive em terras brasilis, não

que de melhor ela pode apresentar. Apareceu cá, numa

decepcionou, e nem poderia, pois a atuação do meu

promoção da Sonoma, que me entregou quatro garrafas

amigo Paulo Laureano, um dos enólogos mais

do excelente Brunello di Montalcino da Tenuta Il Poggione

competentes do Alentejo e, certamente, o maior

por 200 e poucos realitos a garrafa (grande negócio). Uma

especialista na casta Alicante Bouschet, base para esse

propriedade de mais de 100 anos por sobre as colinas de

caldo, e sua rigorosidade com esse rótulo, garante sempre

Florença que justifica a fama que tem.

o que há de melhor no Alentejo. Imaginem que, até esse

Vinho escuro, volumoso em boca, com aromas de

2008, houve apenas outras cinco safras do Tonel ¾ (1996,

couro, alcaçuz e especiarias. Algo defumado, esfumaçado

1999, 2001, 2003 e 2005). Um vinho potente, mas muito

mesmo. Na boca muito saboroso, com boa acidez e ótima

elegante, com taninos firmes, mas bem domados. Intenso

estrutura gastronômica. Com minha pasta ao molho de

como poucos, vermelho escuro, impenetrável, com nariz a

queijo, com muito alho e camarões, ficou ótimo. Saúde!

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DOIS ESPRESSOS E A CONTA cláudio ferreira claudioferreira_64@hotmail.com

Poeira e pioneiros

Para quem olha de longe, o bairro cresce como num passe de mágica. Para quem chega mais perto, a mágica é feita de muita poeira, operários circulando a toda hora e prédios enormes sendo construídos. O Noroeste está tomando forma, tem um dos metros quadrados mais caros da cidade e, por isso, pode se tornar um centro gastronômico interessante, quem sabe? Por enquanto, tudo ainda são promessas. Uma visita rápida pelo setor não ajuda muito na hora de saber como será o comércio local. São poucos os prédios com essa destinação já prontos. Também ainda não é possível perceber se haverá – a exemplo do Sudoeste – uma imensa avenida comercial, com lojas dos dois lados e espaço para todo tipo de bar e restaurante. Mesmo assim, corajosos pioneiros já se instalaram. Duas franquias, uma de hambúrgueres e outra de café, estão funcionando quase lado a lado. Na mesma área já dá para ver um estabelecimento que mistura café e pizzaria e outro que optou pelas cervejas especiais. Nada mal para um bairro onde o asfalto ainda não é maioria, faltam calçadas e, consequentemente, pessoas andando na rua. Quem é empreendedor fareja oportunidades em meio a pó, poeira e cimento. Há alguns blocos comerciais vazios – adesivos gigantes dão conta de que algumas lojas já têm futuro garantido, enquanto outras ainda estão na lista de ofertas. Os pioneiros se concentram mais próximos da pista principal, onde a urbanização chegou mais rápido. Tem gente de olho nesse “vácuo” de serviços, como o companheiro que já fincou sua faixa por lá, anunciando: “Fazemos o seu churrasco a domicílio”. Mas, por enquanto,

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dado o ritmo das obras, quem já pode disputar o posto de chef do Noroeste são os vendedores de marmitas. Sim, as quentinhas que salvam a vida dos operários estão em isopores, que estão em barraquinhas, que estão também na pista principal, mas do lado do Parque Burle Marx. Alguns restaurantes da Asa Norte também já arrumaram um jeito de tirar uma “lasquinha” do novo agrupamento. Quem tem serviço de delivery está incluindo o Noroeste no percurso – ímãs de geladeira e folhetos de propaganda avisam que o bairro ainda em construção já recebe os motoqueiros com pizzas e outros acepipes. Mesmo sem saber como será o setor comercial, o bairro já nasce com vocação para bons estabelecimentos. Os habitantes do Noroeste são egressos de várias partes de Brasília, mas, pela disposição de gastar com a moradia, pode-se supor que terão igual disposição para conhecer as novidades gastronômicas. Falando em dinheiro, a grande barreira para estabelecer um bar ou restaurante no bairro pode ser econômica. Uma amiga, quituteira das melhores, pensou em abrir negócio próprio e aproveitar o setor emergente. Viu os preços, fez as contas... e desistiu. Quem conseguir superar essa barreira monetária não precisa ficar restrito aos moradores do Noroeste. Pode atrair, por exemplo, o pessoal que passa pela EPIA Norte em direção ao Torto, Grande Colorado, Sobradinho, ou os que fazem o caminho inverso. Se a fome apertar no meio do caminho, essa gente vai procurar o primeiro letreiro que oferecer comida de qualidade. Boa oportunidade para quem tem o dom de imaginar um bom negócio, mesmo onde a paisagem ainda não está completa.


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caianagandaia

Era só o que faltava Q

uase todos que amam Brasília reconhecem que a esta cidade tão bem planejada por Lúcio Costa só falta uma boa praia. Como prêmio de consolação, Costa nos brindou com um lago artificial, o Paranoá, que nos dias de hoje é atração dos fins de semana de muitos que escolheram a capital federal para viver. Além de barcos a motor, a vela ou a remo, já tivemos até experiências de surf em marola de lanchas. E nestas férias ensolaradas de meio de ano, o Paranoá recebeu um empreendimento que nada mais é do que... uma praia! Na verdade, um complexo day use, instalado ao lado da Concha Acústica e aberto às sextas, sábados e domingos, com atrações diversificadas, que vão da prática da atividade física às baladas, passando pela tradicional happy hour regada a cerveja gelada e petiscos. Para deixar todo mundo no clima praiano, réplicas de igrejas tradicionais, redes estendidas e barraquinhas com comidas típicas, onde tem até biscoito Globo e queijo de coalho na brasa. O espaço de 6 mil m² também foi coberto por 500 toneladas de areia. As atrações começam a partir das 18

horas das sextas-feiras, com a happy hour do Bar Corona, principal empreendimento gastronômico do local, cuja cozinha é comandada pelo chef Dudu Camargo. Para apreciar o fim de tarde das secas brasilienses, a cerveja mexicana Corona pode ser acompanhada dos petiscos elaborados por Dudu, como o Maya Day (camarões e cogumelos refogados com tempero tailandês, R$ 59), o carpaccio ao molho de mostarda, parmesão e alca-

parras (R$ 40) e o sushi no pão folha (R$ 47), recheado com tartare de salmão, rúcula e coalhada seca de maracujá – servido em rodelas, é claro. Além do Bar Corona, o espaço conta com outras cinco opções gastronômicas, que vão da culinária japonesa do Soho à culinária árabe do Arabetto, lanches do Zimbrus e do Riders Burguers e até pizzas assinadas pela Santa Pizza. As atividades gastronômicas começam às 15 horas Paulo Cavera

Por Beth Almeida

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dos sábados e às 9 horas nos domingos. Já às sextas, apenas o Bar Corona abre as portas. O clima esquenta é com a programação das baladas marcadas para o local. No dia 25, por exemplo, o complexo sediará a segunda edição da festa Topless, que foi sucesso em 2014, com grandes nomes internacionais da música eletrônica, como Thomas Gold (Alemanha) e Pete Tha Zouk (Portugal). Entre os já confirmados para esta segunda edição, o coletivo Make U Sweat, composto pelos DJs Dudu Linhares, Pedro Almeida e Gustavo Guizelini, que prometem agitar a pista com o melhor do deep e tech house. Também está prevista a festa de encerramento, no dia 8 de agosto, com uma programação ainda mantida em segredo. Já no primeiro domingão de agosto a atração será a roda de samba em torno da Santa Feijuca, projeto que já está em sua sétima edição. Desta vez, o samba vem com a banda Primeiro Beijo e com o cantor Leandro Sapucahy, puxador do Bloco Sapucapeta e do Baile do Sapuca, no Rio de Janeiro, que apresenta faixas de seu último trabalho, Favela Brasil II, lançado em 2014. Para quem não é de baladas, o espaço também oferece treinos de HIT (high

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Paulo Cavera

caianagandaia

intensity training), atividade física que busca o ganho de condicionamento e massa muscular, além de clubinho com atividades para a criançada, aluguel de pranchas e espaços para a prática de vôlei de praia, slackline, stend up paddle e altinha (futebol). Mas, diferentemente dos espaços democráticos das praias, nesta é preciso pagar para entrar. São valores revertidos em consumação, descontados quando do uso de uma das atrações, que têm preços

variados. Para a sexta da happy hour, por exemplo, a consumação custa R$ 60 por pessoa, valor que não é tão difícil de gastar tomando uma cerveja com amigos, especialmente quando se contempla um pôr do sol tão lindo como o de Brasília. Sim, a nossa praia continua sendo o céu. Na Praia

Até 8/8, na orla do Lago Paranoá (Setor de Hotéis de Turismo Norte, ao lado da Concha Acústica). Mais informações: 3551.6069 e www.tevejonapraia.com.br.


verso&prosa

Cem edições de baixaria e rock’n’roll O mais autêntico – e anárquico – fanzine do Distrito Federal completa 21 anos Por Pedro Brandt

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“Q

uem é que vai gostar de um zine tosco?”, indaga Francisco Ricardo da Silva. Mais conhecido pela alcunha Tubá, o editor do periódico sabe a resposta: muita gente. A graça do fanzine em questão é justamente seu estilo anárquico e debochado, de aparência mal acabada, reproduzido em xerox. Autêntico desde a primeira edição, o Tupanzine completou duas décadas de atividades no ano passado e chegou recentemente à centésima edição. Sob o lema “baixaria e rock’n’roll”, o Tupanzine é uma espécie de revista Caras do underground do Distrito Federal. Ou, como já disse um de seus leitores, “a Capricho do indie brasileiro”. A comparação faz sentido: uma das propostas do zine é falar, entre elogios, xingamentos, fatos e boatos, dos acontecimentos e personalidades que povoam o cenário roqueiro nacional, com enfoque na cena de Brasília. Nesse balaio, sobra espaço para reclamar de vizinhos, parentes e, inclusive, de personagens fictícios. Apuração, coerência ou assuntos atuais são irrelevantes para a publicação. O rock, muitas vezes, não aparece na pauta da edição. Mas nem sempre foi assim, como conta Ricardo Tubá. Ex-jogador de futebol amador, vascaíno e guaraense orgulhoso, o funcionário público de 51 anos lembra que, nos primórdios, a música tinha uma presença maior no Tupanzine. Tubá criou o zine com o irmão William, em 1994, para poder entrevistar uma banda de amigos, a May Speed. Ao longo desses 21 anos, diversos colaboradores participaram com resenhas de discos e entrevistas. Com o tempo, as bandas de rock foram dividindo espaço com textos de política, futebol e sexo. Como um misto de Planeta Diário (publicação da turma do Casseta & Planeta antes da TV Globo), Placar, a sessão de cartas eróticas do leitor da revista Ele & Ela e a sessão de cartas da revista Mad, o Tupanzine moldou sua personalidade.

Falar mal de bandas é praxe no zine e isso nem sempre foi compreendido, gerando algumas mágoas e desentendimentos. “Não temos rabo preso, não aliviamos ninguém. Falamos mal até de bandas de que gostamos”, explica Tubá. A diagramação torta, os textos sem pontuação, escritos em caixa alta, fotos de mulheres nuas, de antigas equipes de futebol (o nome do zine foi inspirado em Tupãzinho, ex-craque do Corinthians) e montagens mal feitas produzidas com fotos de amigos compõem a estética tupanzinesca. Há quem não tenha sensibilidade – ou estômago – para apreciar. Mas o fato é que os fãs do Tupanzine estão espalhados pelo Brasil e a publicação é das mais reverenciadas entre os zines de papel que ainda persistem. As edições são distribuídas em lojas (de discos e camisetas) ou enviadas pelo correio. A tiragem é totalmente irregular (cerca de 20 exemplares

por edição), tal qual a periodicidade. Justamente por isso, as comemorações dos 20 anos serão celebradas (com festas e shows) no segundo semestres de 2015. Tubá admite que o espírito porra louca da publicação foi amaciado nos últimos tempos. “A gente vai ficando velho, tem filhos”, justifica. “Temos colocado menos fotos de mulher pelada. Até futebol diminuiu. É mais fofoca mesmo, o foco é esse”, detalha. Para o editor, o mérito do Tupanzine é justamente o humor. “Fazer um zine sério é fácil. Difícil é provocar risadas nos leitores. É essa veia humorística que mantém o zine vitalício”. A motivação para continuar, duas décadas depois, é a resposta do público. “Se um dia o pessoal parar de comentar, o zine acaba”, sentencia Tubá. Que venham, então, mais 20 anos de baixaria e rock’n’roll.

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Vicente de Mello

dia&noite brasíliautopialírica Foi com uma câmera Rolleiflex que Vicente de Mello registrou imagens de uma Brasília atemporal. Tudo começou em 2011, quando o fotógrafo lançou-se na aventura de fotografar Brasília com o desafio de traduzir uma visão particular sobre a arquitetura e o urbanismo da capital. O resultado são 30 fotografias em três formatos quadrados, 120 x 120 cm, 60 x 60 cm e 30 x 30 cm, que trazem uma leitura subjetiva e atemporal. “Queria que mesmo os brasilienses vissem as imagens e demorassem a captá-las, a entendê-las. Cada fotografia tem um título, e esse cruzamento entre palavra e imagem potencializa sua percepção, dando ao olhar a possibilidade de escapar da temporalidade e o espectador entende que a foto é mais do que se vê, é também a sua interpretação dela”, explica Vicente de Mello. Com curadoria de Beatriz Lemos e Waldir Barreto, a exposição Brasília utopia lírica está na Galeria 3 do CCBB, até 7 de setembro. De quarta a segunda, das 9 às 21h. Entrada franca.

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cenárioamazônico Durante 13 dias, o desenhista, pintor e fotógrafo Fernando Augusto viajou pelo Rio Madeira, de Manaus a Porto Velho, a bordo do navio hospital da Marinha Brasileira. Seu objetivo era fotografar e desenhar os diversos cenários amazônicos, além das comunidades ribeirinhas, como Arapuanã, Vencedor e Mariri, entre outras. Desse registro o artista traz para a exposição Viagem à Amazônia: desenhos e fotografias, quatro desenhos em carvão e cinco em grafite, além de oito aquarelas sobre papel e várias fotografias digitais. Nascido em Itanhém, interior da Bahia, Fernando Augusto graduou-se em Artes Plásticas pela Universidade Federal de Minas Gerais e aprofundou seus estudos na Sorbone, em Paris. A mostra pode ser vista de segunda a sexta, das 9 às 17h, na Galeria de Arte do 10º andar (Anexo IV) da Câmara dos Deputados. Até 6 de agosto, com entrada franca.

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Também no Congresso, mas no Salão Nobre, está em cartaz a exposição Mitologias e fábulas, com o trabalho do artista sírio Zahed Taj-Eddin. São 18 esculturas em barro vitrificado inspiradas em mitologias antigas da Mesopotâmia, Egito e Grécia, com toque contemporâneo. Inspirado nos artefatos das primeiras civilizações que floresceram no Oriente Médio, o artista expõe esculturas com personagens humanos e animais que contam histórias das lutas dos sírios sob a ditadura recente. Formado em artes em 1985, em Aleppo, na Síria, ele mora atualmente em Londres, onde concluiu o PhD na University of Westminster, em 2014. Sua linha de pesquisa baseou-se na falência egípcia, nos métodos antigos e nos desafios técnicos da criação de esculturas. Até 30 de agosto, das 9 às 17h, com entrada franca.

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arteembarro

artecontemporânea “Para cada obra, há uma história”. Assim o curador Sérgio Carvalho explica a exposição Vértice, em cartaz no Museu dos Correios (SCS, Quadra 4) até 16 de agosto. A primeira da série Coleções define bem o espírito da mostra: apresentar 200 trabalhos de artistas brasileiros contemporâneos, selecionados por curadoras de diferentes lugares e gerações – Marília Panitz, Marisa Mokarzel e Polyanna Morgana. Estão lá trabalhos que apostam na produção em torno das relações espaço-tempo do homem na História, seus documentos (de cultura e barbárie) e na sua própria memória. Foram selecionados entre as mais de 1.500 obras de arte contemporânea de Sérgio Carvalho, advogado residente em Brasília que começou sua coleção em 2003. De seu acervo fazem parte obras de Regina Silveira, Nelson Leirner, Iran do Espírito Santo, Efrain Almeida, Emmanuel Nassar, Hildebrando de Castro, Rubens Mano, Berna Reale, Jonathas de Andrade, Sofia Borges e Rodrigo Braga. De terça a sexta-feira, de 10 às 19h, sábados, domingos e feriados, de 12 às 18h. Entrada franca.


Flora Pimentel

permanênciaecontinuidade Lâmpadas abastecidas por energia solar e pneus reciclados compõem o cenário, em sintonia com o projeto de redução do impacto ambiental da turnê, que também envolve o plantio de árvores para neutralizar as emissões de carbono, nome não à toa escolhido para batizar o disco e a turnê de Lenine, com chegada prevista a Brasília no dia 29 de agosto. Quando entrar no palco do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, às 21h30, o cantor vai apresentar show composto por faixas do disco, como Castanho (Lenine/Carlos Posada), Simples assim (Lenine/Dudu Falcão) e Cupim de ferro (Lenine/Nação Zumbi), entremeadas por músicas consagradas de sua carreira, como Olho de peixe e Na pressão. Produtores do disco ao lado de Lenine, Bruno Giorgi (bandolim, guitarra, efeitos e vocais) e JR Tostoi (guitarra e vocais) juntam-se a Guila (baixo, synth e vocais) e Pantico Rocha (bateria e vocais), formando o “núcleo duro” de Carbono. Como define Lenine, “Carbono é permanência e continuidade”, uma deliciosa oportunidade para o cantor “tirar um som” ao lado dos amigos de longa data. Ingressos entre R$ 50 e R$ 150 à venda na Central de Ingressos do Brasília Shopping

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adrianacalcanhoto Após algum tempo afastada do violão, Adriana Calcanhotto retoma seu contato com o instrumento que a fascina. Produzido por ela em parceria com Daniel Carvalho, o show acústico Olhos de onda estará no Teatro da Caixa entre 5 e 9 de agosto. No repertório, sucessos antigos e músicas inéditas em versões voz e violão, entre elas Me dê motivo e a inédita Olhos de onda, que dá nome ao show. A cantora foi convidada para se apresentar em Lisboa em formato solo, nas comemorações de 20 anos da casa onde cantou na cidade pela primeira vez. Não tinha um show preparado, não tocava há muito tempo, mas aceitou o desafio e inventou um roteiro pensado para Portugal, “para pegar a estrada, pela janela do quarto, pela janela do carro, trancafiada em quartos de hotel, tocando compulsivamente para que o show fosse lindo e inesquecível”, explicou Adriana. De quarta a sábado, às 20h, e domingo, às 19h. Ingressos a R$ 20 e R$ 10. Informações. 3206.9448.

eternosinatra Se ainda estivesse vivo, Frank Sinatra completaria 100 anos no dia 12 de dezembro. Para marcar seu centenário, Louis Hoover, conhecedor da obra do músico, traz a Brasília, dia 14 de agosto, às 21h, o show Salute to Sinatra. Chamado de "o Sinatra do novo milênio" pelos críticos musicais, o interprete será acompanhado pela The Hollywood Orquestra. Fã de Sinatra desde a adolescência, Hoover logo percebeu a incrível semelhança de seu timbre vocal com o do ídolo. Ao ver três shows do astro, conhecido como The old blue eyes, no mítico Royal Albert Hall, em Londres, teve uma premonição de seu futuro. “É de fato uma homenagem que faço ao Sinatra. Mas não é uma representação ou um cover, não tento imitá-lo. É uma coincidência muito estranha que a minha voz seja tão semelhante à dele!”, justifica. O tributo será no NET Live Brasília (SHTN, Trecho 2), com ingressos entre R$ 250 e R$ 800, à venda na Central de Ingressos do Brasília Shopping.

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mulheres Elza Soares é quem abre a oitava edição do Festival da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha, na noite de 22 de julho, às 21h30, no Cine Brasília (106/107 Sul). Ela apresenta seu novo projeto, A voz da máquina, em companhia de DJ que usa suas ferramentas eletrônicas para misturar samba com house e techno. O show acontece logo após a estreia em Brasília de documentário sobre a vida de Elza, intitulado My name is now, de Elizabete Martins Campos. No dia 23, às 21h30, Folakemi, inglesa de ascendência nigeriana e radicada no Brasil desde 2012, apresenta show com repertório que vai do jazz ao neo-soul, passando pelo blues e reggae. Nos dias seguintes, a programação do festival traz shows de Tássia Reis (dia 25, às 12h), Nãnan Matos (dia 26, às 17h) e dos Filhos de Dona Maria (dia 26, às 17h). Entrada franca. Programação: www.afrolatinas.com.br.

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dia&noite durarealidade O artigo 5º do Estatuto da Criança e do Adolescente, que este ano completa 25 anos de existência, estabelece que “nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (...)”. Para Pollyanna Lolita, entretanto, a realidade não é bem assim. Há três anos a travesti, de apenas 16 anos, se prostitui para sobreviver. Ela é a personagem central de Através de ti, espetáculo estrelado por Pedro Silveira e que tem única apresentação no dia 2 de agosto, no teatro Sesc Paulo Autran, de Taguatinga. Com direção de Fernando Villar, a montagem é um desdobramento da peça Trajetória X, que em 2010 colocou em cena quatro personagens reais (ou “personagentes”, como eles preferem chamar, a exemplo de Guimarães Rosa) extraídos de uma ampla pesquisa do Grupo Violes, do Serviço Social da UnB, com crianças e adolescentes vítimas de exploração sexual. O mesmo ator, Pedro Silveira, vivia no espetáculo a travesti PL. Em Através de ti, Pollyanna Lolita traz características da “personagente” real, ouvida na pesquisa, mas sua história ganhou novos contornos e aprofundamentos ficcionais. A entrada é franca.

Luiz Alves

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“Toda vez que releio esta história, enchem-me os olhos de lágrimas. Ela é mais forte do que eu, pois me comove.” Foi assim que o escritor Guimarães Rosa (1908/1967) se referiu a Campo geral, uma história mais conhecida como Miguilim, talvez por ser em parte autobiográfica ou pelo protagonismo infantil que sempre atrai singeleza para o texto. A Semente Companhia de Teatro tem nova releitura da obra de Guimarães Rosa, em cartaz até 2 de agosto. Se entre os temas recorrentes do autor está a travessia do ser humano, Campo geral é a narração da travessia do menino Miguilim, uma travessia iniciada, apenas, pois, como disse Guimarães Rosa, “cada criatura é um rascunho a ser retocado sem cessar”. Com direção de Valdeci Moreira e Ricardo César, a peça está no Espaço Semente (Setor Central do Gama, próximo à rodoviária). Sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 20h. Ingressos a R$30 e R$15. Informações: 3385.3439.

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rascunhoaserretocado

cenáriobrasiliense Entra em cartaz dia 20 de agosto o longa metragem O último cine drive-in, dirigido pelo brasiliense Iberê Carvalho, logo após ser exibido na competição oficial de longas metragens do 43º Festival de Cinema de Gramado. Protagonizado por Breno Nina, Othon Bastos e Rita Assemany, é um drama bem humorado sobre encontros e perdas familiares e tem como principal cenário o último cinema drive-in em funcionamento do Brasil, o nosso Cine Drive-in de Brasília. O jovem operário Marlombrando precisa levar a mãe para fazer um exame em Brasília. Sem ter a quem recorrer, Marlombrando precisará reencontrar seu pai, Almeida (Otton Bastos), ausente há muitos anos. Dono do último Cine Drive-in de Brasília, Almeida insiste em manter vivo um tipo de cinema que já não atrai mais espectadores. Iberê nasceu em Brasília em 1976, estudou antropologia, jornalismo e fez pós-graduação em direção cinematográfica em Madri. Já dirigiu os curtas metragens Suicídio cidadão, Para pedir perdão e Procura-se, além do documentário Maria Lenk – A essência do espírito olímpico.

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vampirocarioca Fausto Fawcett estará no Teatro da Caixa no dia 27 de julho. Conhecido por trabalhos musicais como Básico instinto, desta vez ele passa pela cidade como protagonista do filme Vampiro carioca, atração de julho do projeto Teste de Audiência. Dirigido por Marcelo Santiago, o longa conta a história do vampiro Vlak (vivido por Fawcett), que, cansado da mesmice do submundo gerenciado pela Limbo Corporation, se rebela, arrancando da própria gengiva o canino chip pelo qual era controlado por aquela multinacional gerenciadora de negócios escusos. O filme nasceu como uma série no Canal Brasil. O diretor Marcelo Santiago levou para a TV a história criada por Lúcia Chataignier no livro As aventuras do vampiro carioca. Na publicação, entretanto, o personagem principal, um ascensorista, era vampiro somente em sua imaginação. Depois de uma temporada, Santiago e Fawcett acharam que seria mais interessante que ele se tornasse de fato um vampiro. Esse desenvolvimento na trama rendeu mais duas temporadas, mas foi na terceira que a história se cristalizou e virou um longa. Às 20h, com entrada franca. O diretor Marcelo Santiago participa de debate no fim da exibição.


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bodasdeprata O Estádio Nacional Mané Garrincha será, até 1º de agosto, o palco da comemoração dos 25 anos do Seminário Internacional de Dança de Brasília. No programa, apresentações de grupos convidados e alunos participantes, que tradicionalmente montam um espetáculo grandioso durante o Seminário. Como nos anos anteriores, 100 bolsas serão concedidas a artistas carentes. O ponto alto será a Gala dos Premiados, apresentando os bolsistas que fizeram uma carreira digna de nota, com a participação da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, sob a regência do Maestro Claudio Cohen. A professora e coordenadora do Seminário, Gisèle Santoro, encara o projeto como sua missão de vida. Ela se emociona ao relatar algumas das muitas histórias que presenciou nesses 25 anos, como a de um menino da cidade paulista de Araraquara que se viciou em crack aos nove anos, mas se libertou das drogas por meio da dança. Informações em www.seminario.dancebrasil.art.br.

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carametade

Mantendo sua tradição de abrigar obras de dois artistas no mesmo local, a Alfinete Galeria (116 Norte) apresenta, na sala A, a mostra Metarmofoses bestiais, de Eduardo Belga (foto), e, na sala B, Entre o vértice e a margem, de Luciana Paiva. A primeira, com curadoria de Raquel Nava, apresenta trabalho que se inclina para o lado obscuro da vida, a pulsão de sexo e morte, a selvageria latente na obra do artista em forma de metamorfoses bestiais. Na segunda, com curadoria de Marília Panitz, Luciana apresenta trabalhos inéditos de três séries. A obra O branco abre parênteses sobre a pauta entre o vértice e a margem faz parte da série Livros de construção, que reflete sobre a relação entre elementos da escrita e da arquitetura. De 25 de julho a 29 de agosto, de quarta a sábado, das 15 às 19h30. Entrada franca.

Olhe bem para a foto abaixo. Se tapar a metade esquerda, verá o ex-presidente José Sarney. Se tapar a metade direita, dará de cara com o ex-presidente Lula. A imagem bem-humorada é uma das 14 em forma de grandes painéis que misturam imagens de figuras célebres na mostra Carametade, de Roger Regner. Pode ser vista na Vila Telebrasília, sobre o gramado ao lado do campo de futebol, bem na entrada da cidade, até o dia 31. Em seguida, irá para o Sesc de Ceilândia Norte (de 4 a 23 de agosto), para o Sesc de Taguatinga Sul (de 25 de agosto a 13 de setembro) e, finalmente, para a Avenida do Contorno de Sobradinho (de 15 de setembro a 4 de outubro). Com curadoria de Ana Queiroz, a exposição foi montada pela primeira vez em 2012. Roger Regner é um artista multilinguagem, que atua na fotografia e nas artes cênicas desde a década de 1980. Em 1989 começou uma rota de fotógrafo independente por países da Europa, Ásia, América Central e América do Norte, encerrando em 1994, quando foi morar em Nova York, e passou a atuar experimentalmente nas artes visuais.

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Anne Vilela

encontronachapada “Queremos que as pessoas conheçam um pouco mais sobre esse Brasil escondido, um Brasil profundo. Que as mídias enquadrem um Brasil rural, escondido. Que essas pessoas sejam incluídas no desenvolvimento do país, nas políticas públicas e no pensamento da formação da nação.” A afirmação é de Juliano Basso, coordenador da 15ª edição do Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, que acontece até 2 de agosto em Vila de São Jorge, Alto Paraíso. Segundo ele, essa é uma época difícil, em que povos indígenas e quilombolas vêm perdendo seus direitos, razão pela qual a questão será discutida. Apesar da falta de recursos, o encontro na vila situada a 250 km de Brasília terá oficinas, apresentações dos grupos de cultura tradicional, rodas de prosa, apresentações teatrais e shows viabilizados com campanhas de financiamento coletivo. A Aldeia Multiétnica, ponto central do encontro, está localizada em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural, categoria de unidade de conservação particular criada em área privada, com quatro casas permanentes: uma Xinguana, uma Krahô, uma Kayapó e uma do povo Kalunga, remanescentes de quilombos que vivem na região da Chapada dos Veadeiros. A aldeia será aberta à visitação do público mediante uma taxa de entrada, que foi pensada e estabelecida respeitando os preços da região. A sociobiodiversidade será o tema desta edição, por ser fundamental para a manutenção de culturas tradicionais que usam da cultura do manejo, da agricultura familiar e da inclusão produtiva para subsistência. Saiba mais em www.encontrodeculturas.com.br/2015.

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diáriodeviagem

A beleza e a paz

da Serra da Estrela

Região portuguesa que se orgulha de produzir “o melhor queijo do mundo” tem também lagoas e fontes de águas límpidas, vilas e aldeias medievais e excelente gastronomia Texto e fotos Súsan Faria

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iajantes do mundo inteiro estão descobrindo as belezas, as facilidades e o aconchego de Portugal, que já não é apenas porta de entrada da Europa para os brasileiros. É muito mais do que isso. É encanto, praias, serras, neve, construções medievais, história, natureza abundante, turismo urbano e rural, excelente gastronomia a preços convidativos, boa receptividade e fácil comunicação. Dados do site oficial do governo português indicam que os ingleses, seguidos dos espanhóis, franceses, alemães e brasileiros (579,2 mil hóspedes do Brasil em 2014, 10,6% a mais do que em 2013) são

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os que mais fazem turismo em Portugal. Em 2014, o país recebeu 16,1 milhões de hóspedes (57,9% estrangeiros), que originaram 46,1 milhões de diárias, 11% a mais do que em 2013. A área do Algarve continua sendo a mais procurada pelos turistas, por causa das praias, do sol e do golfe, mas preferi conhecer uma região ainda meio isolada, que desperta a atenção sobretudo dos amantes da natureza rústica, pelo ar puro, a neve em novembro e “o melhor queijo do mundo”. Tratase da Serra da Estrela, cujo nome não é por acaso. À noite, podemos observar centenas de estrelas cintilando na região, 300 km ao norte de Lisboa, onde se pode ir de carro, comboio (trem) ou autocarro (ônibus), em estradas bem conservadas.

Mais práticos são os comboios diários que partem de Lisboa, na Estação Santa Apolônia ou Estação do Oriente, com destino a Guarda, passando por Coimbra até Nelas, estação mais próxima da cidade de Seia e da Serra da Estrela, no centro de Portugal. A linha segue pela Guarda, Vila Formoso, chega a Salamanca e Irun (Espanha), na fronteira com a França, de onde se pode mudar de linha, passar por Bordeaux e ir até a Gare Saint Lazare de Paris. Antes de chegar à Espanha ou à França, há muito que se ver na Serra da Estrela, como o Rio Mondego, as lagoas e as fontes de águas limpíssimas brotando numa vegetação verde e pujante. No sopé da montanha, rios, ribeiras, vilas e aldeias antigas. Hospedei-me na Quinta


da Cerdeira, em Maceira, pertinho da serra e a 3 km de Seia, onde pude apanhar cerejas nos pés próximos à propriedade, andar em trilhas, ver nascentes, ouvir barulho de pássaros, fotografar as flores de cardo, usadas há milênios para coalhar naturalmente o leite, e conhecer a queijaria e a maneira como se faz aquele queijo com crosta dura e derretido por dentro, quando partido. Conheci o pastor de ovelhas Luiz Amaral enfeitando seus animais para a romaria das ovelhas, em Folgosa da Madalena, na freguesia de Santiago. É ele quem fornece leite para a Quinta da Cerdeira, que produz 10 mil kg de queijo por ano, vendidos principalmente em Seia e restaurantes de Lisboa, e na loja on line (da Quinta). “O trabalho é grande e o lucro pequeno”, garante Luiz Amaral. Foi com muito orgulho que ele conduziu seu rebanho para a romaria, onde cerca de mil ovelhas enfeitadas com flores e adereços fazem parte da festa de São João, no dia 21 de junho, ao entardecer, dando voltas ao redor da Igreja de Folgosa, um ritual para clamar por um bom ano e proteção aos animais. Os moradores da aldeia enfeitam as ruas com bandeirinhas, rezam e fazem procissão com muitas coroas de flores, aplaudem a banda de música e participam de leilões de prendas. Voltando à Quinta da Cerdeira, noites de muitas estrelas e barulho apenas dos bichos. Dias de descanso com pequeno almoço (o nosso café da manhã) e refeições deliciosas feitas e servidas pelo proprietário Élio Eugénio da Silva, que também fabrica artesanalmente os queijos, ofício aprendido com a mãe e herança de várias gerações. Na queijaria de 150 m2, duas resfriadoras com capacidade para até 1.200 litros de leite, cuba de coagulação, onde se coloca a flor de cardo seca e moída, prensas, câmaras frigoríficas e máquina de lavar roupa exclusiva para os panos que cobrem os queijos. “Trabalho com um produto natural e raro, que prima pela qualidade e sabor”, explica Élio. A produção – queijo, manteiga e requeijão – segue as normas da vigilância sanitária e só é feita com leite de ovelhas da raça Bordaleira, autóctone, com chifres abertos e de origem remota. A Quinta já exporta queijos para Suíça, País Basco, Espanha e Escócia. Élio Silva está à procura de importador do Brasil, especialmente para o queijo triangular, com 150 gramas, que tem a marca registrada “O melhor queijo do mundo – Quinta da Cerdeira”. É feito igualmente como os demais queijos, os cilíndricos de 600 gr, 1 kg e 1,5 kg, mas é menor e está tendo grande aceitação nos mercados externos. “Penso que seria ótima opção para o mercado brasileiro, sobretudo para os consumidores que não conhecem o produto e queiram experimentá-lo”, explicou. O primeiro documento que registra o queijo da Serra da Estrela remonta a 1.800 anos atrás, quando a região se chamava Montes Hermínios. “Aqui, temos registro de ter-

Na Quinta da Cerdeira, é o próprio dono, Élio Eugénio da Silva, quem fabrica artesanalmente os queijos.

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diáriodeviagem roir de queijo”, explica Élio, que, por sugestão de um chef de cozinha, fez queijos de até 40 quilos. Na Quinta, boa opção para o turismo rural, a hospedagem é numa casa antiga do Século 19, de paredes grossas de pedras, sete quartos bem ventilados com suíte, sala de TV, wi-fi, amplas instalações e decoração clean e de bom gosto. No centro do Parque Natural da Serra, fauna e flora extraordinárias e a estação de esqui, a 2.000 metros de altitude, onde se pratica esportes radicais. Em Seia, com 25 mil habitantes, os museus da Eletricidade, do Pão e do Brinquedo são algumas das atrações. Ao lado ficam São Romão e Senhora do Desterro, onde comemos saborosa sardinha assada, no restaurante Margarida I. A poucos quilômetros dali, conheci Belmonte, terra de Pedro Álvares Cabral, que faz parte das aldeias históricas de Portugal, com belíssimo castelo, sinagoga e um museu judaico. Também interessante é ir a Piódão (“gente que anda a pé”), terra de mel, azeite, queijo, centeio, milho e carvão, onde hoje vivem cerca de 200 pessoas, e que muitos acreditam ser local de refúgio e isolamento do resto do mundo. Em quatro décadas, Piódão perdeu 80% de sua população, por migração e envelhecimento. A

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144 km de Seia, chega-se à Espanha e logo a Salamanca, com sua catedral, universidade, a Plaza Mayor, monumentos da Idade Média, o fervor de estudantes e gentes. Antes, outra cidade histórica espanhola, a Ciudad Rodrigo, de arquitetura renascentista, igrejas, tradições e construções antigas. Em poucos dias, apenas seis, tantas paisagens, tanta história pelo interior de Portugal, com uma esticadinha à Espanha, e ainda com direito a contemplar um céu deslumbrante, fontes de águas límpidas e o sossego e a paz da Serra da Estrela, sem gastos elevados. “Portugal se desenvolveu e se abriu para o turismo. A gente nota isso claramente”, diz o cabeleireiro Jefferson Xavier Bento, goiano da Cidade de Goiás, há 14 anos trabalhando em Lisboa. Ele lembra que são oito voos diários de capitais do Brasil para Lisboa. “Isso não é pouco”, avalia, destacando que, mesmo com a crise econômica, vive-se em Portugal sem o pavor da violência, do medo, dos assaltos. Contudo, apesar dos avanços do turismo no país, há muita crítica à recente venda – sobretudo ao valor – da TAP. Uma parcela de 61% da empresa foi privatizada em junho deste ano para o grupo Azul, do Brasil, e um consórcio norte-americano.

Os pastores e as ovelhas enfeitadas para participar de romaria até Folgosa da Madalena.

Serra da Estrela

Estação de esqui – iniciação ao esqui, trenós, passeios de motos e de raquetes na neve e piquenique a 2.000 metros de altitude (http://www.skiserradaestrela.com). Quinta da Cerdeira – duas noites, 125 euros; uma noite, 75 euros, para duas pessoas, em quartos com banheiro, café da manhã e opção de almoço e jantar. Telefones: 351 238 390 017 e 351 919 439 745 (http://www.quintadacerdeira.pt). XXI Festival Internacional de Cinema Ambiental – de 10 a 17/10, em Seia. Inscrições abertas: www.cineecoseia.org).


David Sassi

graves&agudos

Repertório

Biografia musical Raul Seixas é homenageado em espetáculo que passeia por sua vida e principais sucessos Por Pedro Brandt

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s fãs de Raul Seixas têm tido, desde a morte do cantor, em 1989, uma série de possibilidades de celebrar o ídolo. Além da discografia lançada e relançada em CD, de livros, de shows-tributos, sósias e covers, do documentário Raul – O início, o fim e o meio (de 2012, dirigido por Walter Carvalho), em 2015, quando o músico completaria 70 anos de idade, chegou aos palcos o musical Viva Raul. Depois de passar por várias cidades, o espetáculo paulistano será encenado em Brasília nos dias 25 e 26 de julho, no Auditório Planalto do Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Viva Raul faz um passeio pela biografia do cantor, apresentando alguns dos principais acontecimentos de sua vida, acompanhados de seus maiores sucessos. “Tudo foi pensado para termos a história do Raul em ordem cronológica, do começo, na banda Os Panteras, até o final da carreira, em sua última tour, junto com Marcelo Nova”, detalha, em entrevista, Carlos “Branco” Gualberto, diretor artístico do musical. Raul Santos Seixas nasceu em Salva-

dor, em 28 de junho de 1945, e sempre foi fascinado por música, especialmente pelo rock’n’roll. Antes de se transformar num dos ícones da música brasileira, trabalhou como músico e produtor. Em 1972, conseguiu destaque no Festival Internacional da Canção e trocou de vez os bastidores pelo palco. Na sequência, emplacou uma série de discos de sucesso. Sua cultura musical e literária e sua personalidade inquieta e contestadora resultaram em canções (muitas feitas em parceria com Paulo Coelho) sobre amor, angústias, misticismo e filosofia, que reverberam até hoje em corações e mentes de fãs em todo o Brasil. A produção do espetáculo foi fundo na pesquisa iconográfica para que o público tenha a impressão de estar de frente com Raulzito. A escolha do intérprete também foi minuciosa. “Achar alguém parecido, que cantasse como Raul, tivesse os mesmos trejeitos – e até o jeito de falar – foi difícil”, conta Branco. O escolhido para o papel foi ator/cantor Renato Ignácio. “Dos mais de 30 candidatos, o Renato realmente incorpora o saudoso Raul em todos os sentidos”, garante o diretor. No palco, Renato é acompanhado

Gita Metamorfose ambulante Maluco beleza Aluga-se Cowboy fora-da-lei Medo da chuva Eu nasci há dez mil anos atrás Ouro de tolo Mosca na sopa Sociedade alternativa Let me sing, let me sing O dia em que a Terra parou

pela banda formada por Marcos Correia (baixo), Izac Satim (percussão), Charlô (bateria), Junior Ribeiro (guitarra), Helinho Duka (guitarra), Paulo Ungaro (teclados), Fernanda Souza e Letícia Lima (backing vocals), que mantém nas interpretações fidelidade às músicas originais. Branco Gualberto se surpreende com o público que tem comparecido ao espetáculo, que vai de crianças a idosos – reflexo do bom momento dos musicais no país. Quem também aprovou o musical, conta o produtor, foram as herdeiras de Raul. “Temos o apoio da família e pretendemos, ainda este ano, realizar várias ações em conjunto, inclusive uma grande exposição contando tudo sobre vida e obra dele – projeto no qual estamos trabalhando junto com Vivi e com curadoria de Kika Seixas.” Viva Raul

25/7, às 21h, e 26/7, às 20h, no Auditório Planalto do Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ingressos: R$ 140 e R$ 70 (meia). Pontos de venda (pagamento somente em dinheiro): Belini (113 Sul) e lojas Cia Toy. No dia do espetáculo, ingressos à venda na bilheteria do Teatro, das 12h às 20h. Vendas pela internet: www.naoperco.com. Classificação indicativa: 12 anos. Mais informações: 4101.1230.

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graves&agudos

Divulgação

O Beckham do violino

Por Heitor Menezes

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abe o Beckham, aquele ídolo inglês que jogava um bolão? Em seus dias de glória, além de craque era um tipo boa pinta por quem mulheres e homens caiam em suspiros e inveja (e viceversa, fazer o quê?). Pois efeito magnético parecido está para acontecer na capital, quando subir ao palco do NET Live Brasília, quarta-feira, 29 de julho, o violinista alemão David Garrett. É isso mesmo. O Beckham do violino vem aí, trazendo a Brasília a Classic Revolution World Tour. Entre um Beethoven e um Bach, cabe um Coldplay, Beatles,

Michael Jackson e até Guns‘n’Roses ao violino, pode apostar. Além de parecer jogador de futebol, esse alemão de 34 anos também parece modelo de grifes famosas, mas é um músico de mão cheia, como provam seus trabalhos, principalmente na área da música dita erudita, que incluem gravações de estúdio, concertos e filmes. David Garrett tem sido apresentado como “o violinista mais rápido do mundo”, o que é uma bobagem. Prodígio, começou no violino aos quatro anos, e aos nove já tocava Mozart com orquestra. Aos 14, artista exclusivo do famoso selo clássico Deutsche Grammophone.

Seus primeiros quatro discos foram eminentemente de peças eruditas, tendo experimentado o cânone do violino, como os Caprice de Paganini, concertos de Tchaikovsky, Mozart, e peças de Beethoven e Bach. Em 2007 veio a guinada, quando lançou o álbum Free. Entre o Voo do besouro, de Nikolai Rimsky-Korsakov, e as Csardas (Dança cigana), Garrett abriu espaço para Metallica (Nothing else matters) e o conhecido tema Duelling banjos, do filmaço Deliverance (1972), de John Boorman. Gente besta, somente os entusiastas hardcore de música erudita teriam ficado horrorizados com a intromissão do repertório popular. David Garrett não foi o primeiro. O inglês Nigel Kennedy já havia feito algo semelhante quando incorporou Jimi Hendrix ao repertório do violino. Em 2008, Garrett enfiou o violino na jaca, quando mandou AC/DC, Queen, o tema do filme Piratas do Caribe (Hans Zimmer), junto a peças de Vivaldi, Brahms e Bach. Na capa, aquele jeito Beckham de ser: barba de três dias, tênis, jeans e rabo de cavalo no cabelo dourado. Nunca ouviu falar de David Garrett? A culpa não é sua. Saiba que a música feita e tocada com violino resiste e é encantadora. Só para lembrar, o século passado foi pródigo em violinistas, numa lista que passa por gigantes como Pablo de Sarasate, Fritz Kreisler, Isaac Stern, Itzahk Perlman, Yehudi Menuhin e Stephane Grapelli, entre outros notáveis. Multidões aplaudiram esses músicos. Hoje talvez tenha perdido a força de outrora, mas graças a pop stars tipo a compatriota Anne-Sophie Mutter e David Garrett, o violino resiste e merece o nosso olhar, digo, nossos ouvidos por uma boa música. Em tempo: não é um concerto de “música clássica”. Para esta turnê sulamericana, que inclui Buenos Aires, Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, o violinista virá acompanhado de banda, mais para o rock do que para o clássico. David Garret – Classic Revolution World Tour

29/7, às 21h, no NET Live Brasília (SHTN, Trecho 2). Classificação indicativa: 16 anos.


Bruno Arruda

Idolatria sem fim Por Heitor Menezes

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uem adentra o mondo Beatles abre as portas para o universo. Eis o grande lance sobre esse marcante fenômeno cultural que ajudou a definir a humanidade do Século 20 (e cujos ecos ainda soam fortes, hoje, Século 21). Mais do que uma mera banda de pop-rock, e não apenas um fenômeno exclusivo da cultura anglo-saxônica, os Beatles parecem ter mostrado para várias gerações mundo afora os significados das coisas que realmente importam. Filosofia, mensagens de amor, de paz, de contestação e de admiração, embaladas em belíssima música. É o que podemos depreender das canções que os Beatles nos deixaram. Isso estamos carecas de saber, mas, sempre que algo surge revolvendo o mondo Beatles, vale a pena observar a extensão da mensagem. Todo esse preâmbulo para dizer que no sábado, 1° de agosto, no Espaço Cultural Brasília (Iguatemi Shopping, no Lago Norte), rola a chance de vislumbrar os Beatles fenômeno cultural planetário. É

o espetáculo musical Across the universe – Histórias de amor ao som dos Beatles. Adaptado do filme Across the universe (2007), da diretora Julie Taymor, o espetáculo segue a mesma trama, a saber, a odisseia do britânico Jude na América dos anos 1960, quando ele encontra amigos, o amor, a psicodelia, as bombas e os cassetetes, não necessariamente nessa ordem. Quem viu o filme sabe que o musical é um grande recorte do mondo Beatles: em busca do pai, Jude vai de Liverpool a Nova York num piscar de olhos; a menina se chama Lucy; o guitarrista, Jo-Jo; tem a Prudence, a Sadie, o Mr. Kite, a Rita e até o Dr. Roberts, ou seja, as personagens e situações foram tiradas das letras escritas por John, Paul, George e Ringo. Claro que o filme tem coisas estranhas, a saber, o finado Joe Cocker em triplo papel relâmpago: mendigo, cafetão e hippie maluco. Depois daquela eletrizante performance no festival de Woodstock, este redator nunca imaginou que veria Joe Cocker usando peruca. Ou ainda Bono, o cantor do U2, no estranhíssimo papel do Dr. Roberts, nu-

ma clara alusão ao não menos maluco Timothy Leary, o guru que defendia abrir a mente à base do consumo do terrível ácido lisérgico, mais conhecido pelo simplório nome LSD. O musical que nos visita é composto por quase duas dezenas de canções, entre as quais Let it be, Yesterday, Come together, Revolution, All you need is love, I want you, Because e Blackbird. No palco, 12 atores se revezam, cantando e dançando ao som de banda que toca ao vivo os clássicos beatlônicos. Para os que sabem de tudo e nunca cansam dos Beatles, uma curiosidade. Para os que estão chegando agora (como parece ter sido o caso do filme), um curso intensivo em forma de teatro musical. Nada de rebolado, mas yeah, yeah, yeah, love is all we need. Across the universe – Histórias de amor ao som dos Beatles

1/8, às 21h30, no Espaço Cultural Brasília (Iguatemi Shopping, Lago Norte). Ingressos (meia): piso 1, R$ 50; piso 2, R$ 40; piso 3, R$ 30 (à venda nas lojas Free Corner e Café Suplicy, do Iguatemi) Classificação indicativa: 12 anos. Mais informações: 9698.3830.

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galeriadearte

O gênio inventivo de Por Júlia Viegas

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e alguém na história merece o título de homo universalis (termo cunhado para designar o homem com conhecimento universal), este é Leonardo da Vinci (1452-1519). Aliás, ele é o paradigma do inventor, criador, artista. Ninguém, como ele, legou à humanidade tantas obras de arte e tantas invenções. Do submarino ao avião, da asa delta às casas pré-fabricadas, nada escapou à mira genial do mestre renascentista. Mas, ao contrário da obra artística, a produção científica de Da Vinci ficou quase desconhecida. Quase. Lá nos idos de 1952, para relembrar os 500 anos de nascimento do artista, pesquisadores e engenheiros da Universcience, de Paris, decidiram criar réplicas de suas invenções científi-

cas, apresentando para o homem contemporâneo a cosmologia de Da Vinci. Agora, esse material finalmente chega a Brasília. A exposição Leonardo da Vinci: a natureza da invenção abre as portas neste 22 de julho, no Tribunal de Contas da União, e lá permanece até 22 de setembro. Para receber esse acervo, que pertence ao Museo Nazionale della Scienza e della Tecnologia Leonardo da Vinci, de Milão, o TCU criou um ambiente especial. O visitante vai ser convidado a descer ao subsolo do edifício-sede do tribunal e fazer uma viagem ao ambiente renascentista de Da Vinci. Pelas paredes, desenhos, anotações e croquis – alguns célebres, como o Homem vitruviano. Montados em vitrines e tablados, 40 objetos e dez instalações interativas, criados a partir dos rascunhos e esboços deixados por

Da Vinci. Aliás, o artista é apontado também como o inventor da moderna ilustração científica, já que os textos acompanhavam os desenhos, explicando-os e detalhando-os, e não o contrário. O grande atrativo da exposição é proporcionar ao homem do Século 21 um contato com a cosmologia única desse artista que forma, com Rafael e Michelangelo, a tríade de grandes mestres do Renascimento. Leonardo da Vinci era versado em todos os âmbitos do conhecimento humano. Estudou aerodinâmica, hidráulica, anatomia, botânica, ótica, arquitetura, escultura, pintura, desenho, engenharia. Costumava observar os pássaros com a certeza de que o homem também podia voar. Analisava o organismo humano em detalhes – ele gostava de frequentar dissecações de cadáveres – e esta-


Fotos Tamna Waqued

Leonardo da Vinci va seguro de que também poderíamos passar bastante tempo dentro d’água. A maior parte das invenções de Da Vinci ficou mesmo só no papel – infelizmente, isso costuma ocorrer com aqueles que vivem muito à frente de seu tempo. Mas outras foram essenciais para a vida de sua comunidade, como o guindaste giratório que ele projetou para a construção da cúpula da Catedral de Santa Maria de Fiori, em Florença, em 1471. Mas a mente brilhante do autor da Mona Lisa inventou (e descreveu detalhadamente em croquis), antes de todo mundo, peças como o tanque de guerra, a arma automática, o submarino e até uma nave voadora (ancestral do avião). Essas e outras invenções estão montadas na exposição, segundo os desenhos de Da Vinci. Ao longo de sua vida, Leonardo da

Vinci atuou como pintor, engenheiro, arquiteto e mecânico para vários grandes homens do poder – em Milão, para Ludovico Sforza; na França (onde veio a falecer), para Francisco I, e por aí vai. Em 1499, para defender Veneza, projetou uma grande quantidade de artefatos militares. Chegou mesmo a imaginar uma maneira de suprir a “crise da habitação” com um projeto de casas pré-fabricadas. Vivesse hoje e talvez a nanotecnologia fosse coisa de criança e Marte nosso parque de diversões. Leonardo da Vinci: A natureza da invenção

De 22/7 a 27/9 no Tribunal de Contas da União. De 4ª a 2ª feira, das 9 às 20h, com entrada franca. Classificação indicativa: livre. Agendamento programa educativo: 3316.5381.

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queespetáculo

Sentimentos

e temperos à mesa Raquel Pellicano

Em seu novo espetáculo, Grupo Liquidificador convida o público para um jantar entre amigos

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m jantar íntimo, no qual todos se sentem à vontade para compartilhar histórias e sentimentos. O motivo do encontro? A anfitriã está de coração partido e precisa dos amigos por perto para tentar expurgar um pouco a dor. E quem são esses amigos? O público, claro! Saindo mais uma vez do lugar comum da sala de teatro, o Grupo Liquidificador leva para a cozinha e para a copa sua nova montagem. Em Janta (1), em cartaz de 1º a 18 de agosto no Quintal f/508, a plateia é a convidada da atriz Karinne Ribeiro para uma noite de conversas, desabafos e confissões amorosas, tudo ao sabor de um delicioso escondidinho feito na hora por ela.

Janta (1) pode ser considerado o espetáculo mais confessional do Liquidificador. A montagem, quarta do grupo, é uma costura de trechos e cenas de autores como Woody Allen, David Foster Wallace e Lena Duham com textos tirados do diário de Karinne sobre suas aventuras e, sobretudo, desilusões amorosas. “É intencional que fique muito da Karinne em cena. A brincadeira é aproximar anfitriã e convidados, como num jantar comum, para depois distanciá-los, como num espetáculo convencional de teatro. Então, num instante ela pode estar ao seu lado, perguntando de sua vida e contando sobre a dela, para no seguinte estar sob um foco de luz interpretando

um texto do Woody Allen”, detalha Fernanda Alpino, também atriz do Liquidificador, em sua estreia como diretora. O diário de Karinne, base da montagem, virou uma publicação que estará à venda durante a temporada. “Para mim, como atriz, Janta (1) é uma oportunidade de investigar o meu entendimento sobre as representações. O que a gente representa no mundo. O que a nossa história faz com a gente. E o que esse corpo aqui diz sobre a forma de lidar com relacionamentos”, confessa Karinne, que também assina a dramaturgia. Ela e Fernanda chegaram ao cardápio da noite partindo da premissa de um bom ambiente para elas e para o público. Afinal, um jantar entre amigos pressupõe acolhimento, conforto e aconchego. O famoso confort food surgiu da união de duas boas lembranças de criança: purê de batata, do lado de Karinne, e frango, do lado de Fernanda. O menu se completa com escondidinho de legumes e tortinhas de limão de sobremesa. Mas, apesar de todo o tom confessional e até pessoal de Karinne, Janta (1) não se trata da vida dela. Ao escolher dois temas comuns a todos os seres humanos, comida e relacionamentos amorosos, a montagem tem a pretensão de abrir um canal de diálogo com o público. “A ideia é sempre multiplicar e não estabelecer um discurso distante na base do ‘olha aqui a minha experiência’. Queremos que o público sinta a receptividade. Ele pode até ser confrontado, mas neste lugar íntimo e acolhedor, da autorreflexão. E não num lugar distante, de afronta”, explica Fernanda. Janta (1)

De 1º a 18/8 no Quintal f/508. Como se trata de uma refeição real, o espetáculo só comporta 15 pessoas por sessão. Os interessados devem reservar o ingresso, no valor de R$ 35, até às 22h da véspera de cada sessão, pelo telefone (61) 8301-2905 ou pelo e-mail reservas@grupoliquidificador.com.


Carlos Laredo

Da rua para

o palco

Por Angélica Torres Lima

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momento é pra lá de oportuno. Mas se o espetáculo entrasse em cartaz numa época em que o debate da redução da maioridade não estivesse em pauta, seria tão importante e necessário quanto, porque quando foi que a enorme população de meninos abandonados nas ruas teve voz entre nós, cidadãos? Meninos da guerra estreia dia 24, no Teatro Newton Rossi do SescCeilândia, cidade onde os cerca de 15 atores vivem hoje em abrigos e orfanatos. No Plano Piloto, a peça estreia no Teatro Garagem, da 913 Sul, em 4 de agosto. É imperdível. Até por ser uma temporada de apenas seis apresentações. Iniciativa do diretor, dramaturgo e encenador espanhol Carlos Laredo e de sua companheira, a atriz e produtora brasiliense Clarice Cardell (Cia. de Teatro La Casa Incierta), o projeto foi concebido em abril do ano passado, logo que o casal se mudou de Madri para Brasília. Contemplado pelo FAC-DF, tomou forma em março deste ano, já com outros convidados à trupe. Para a codireção, Zé

Regino (Cia. Casa das Antas), e para a assistência de direção a atriz Lívia Fernandez, docente de teatro para meninos carentes e mestranda em Artes Cênicas na UnB. A trilha sonora é do rapper Gog e a direção musical de Higo Mello. Se o projeto parece admirável, não menos foi o processo para efetivá-lo. De quebrar os protocolos e vencer as barreiras para poderem, durante um mês inteiro, percorrer os abrigos da periferia de Brasília em busca dos garotos com perfil para o intento e do local para os ensaios; daí a conquistar a confiança do inusitado elenco e conseguir implantar uma disciplina regular de ensaios; construir a dramaturgia a partir dos doloridos relatos de suas vidas em família e depois já abandonados ou fugidos de casa, até trabalhar suas atuações e, por fim, tramar as cenas e tecer a peça em si, foi de fato uma tenaz, apaixonada, heróica batalha em muitos atos. Sobretudo porque nunca se sabia se voltariam para o próximo ensaio. Sequer se estariam vivos no dia seguinte. Sempre nos deparando com os chamados meninos de rua em diversos pontos da cidade, e no país inteiro, não se faz

ideia da guerra real e permanente que enfrentam para sobreviver, desde a mais tenra infância. David Hare, o dramaturgo e roteirista britânico festejado na Flip, autor do roteiro do filme As horas, diz que os temas que revitalizam são aqueles que nos levam a conhecer mais sobre eles. A afirmação cai perfeita para Meninos da guerra. Não há como sair do teatro com o mesmo olhar acostumado e indiferente em relação a essa vasta população abandonada à própria sorte. Carlos Laredo chama a atenção exatamente para esse ponto. “O que muda é o olhar, nosso para eles, mas também o deles para nós. Como heróis que levam todas as pancadas quando o que mais precisam é de amor e compreensão, estão ali no palco querendo proteger com a própria vida os que conseguem vê-los sem o medo que ameaçam”. Meninos da guerra

24, 25 e 26/7, às 20h, no Teatro Newton Rossi do Sesc-Ceilândia; 4, 5 e 6/8, às 20h30, no Teatro Garagem do Sesc (913 Sul), com entrada franca. Classificação indicativa: 16 anos. Transmissão ao vivo pela Comova, às 20h de 26/7; assista em primeirainfancia.org.br. Página no Facebook: Meninos da guerra.

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luzcâmeraação

Aurora

Cinema sob as estrelas Mostra de filmes na área externa do CCBB traz a Brasília, entre clássicos e contemporâneos, algumas obras-primas da sétima arte Por Sérgio Moriconi

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e a moda agora é fazer piquenique nas áreas públicas do Distrito Federal, especialmente no Plano Piloto, não se pode perder a oportunidade de usufruir da área verde do CCBB, entre os dias 29 de julho e 16 de agosto, período em que o centro cultural vai promover a adorável experiência de exibir alguns dos melhores filmes já produzidos em todos os tempos numa estrutura montada ao ar livre. As obras – sempre tendo como critério básico a qualidade – foram selecionadas de forma a agradar a um público o mais heterogêneo possível. O principal desafio para os curadores não era nada simples: de que maneira se poderia fazer uma mostra com realizações das mais diferentes épocas, do mudo ao falado moderno, que pudesse ser considerada relevante e ao mesmo

tempo prazerosa para esse hipotético público amplo e vário? O consenso inicial era de que se deveria apostar nos chamados filmes clássicos. Mas o que é um filme clássico? Muitos argumentam que os clássicos já nascem clássicos. Mas o contrário também é verdadeiro: nem sempre temos a percepção da importância e durabilidade de uma obra no momento de seu lançamento. Por diferentes motivos, Outubro (1928), de Sergei Eisenstein e Grigori Aleksandrov, Ladrões de bicicleta (1948), de Vittorio De Sica, Asas do desejo (1987), de Wim Wenders, Sonhos (1990), de Akira Kurosawa, Fargo (1996), de Joel e Ethan Cohen, A cidade dos sonhos (2001), de Davis Lynch, Um filme falado (2003), de Manoel de Oliveira, Um conto chinês, de Sebastián Borensztein, e mesmo o nosso O som ao redor (2013), de Kleber Mendonça, deixaram distintas impres-

sões (em distintas plateias) na época de seus lançamentos. Citamos esses, como poderíamos ter citado muitos outros. Vejam que são obras das mais variadas cinematografias – e esse, claro, também foi um critério importante da curadoria. Nem sempre a mostra privilegia obras paradigmáticas e consensuais entre historiadores e pesquisadores da história do cinema, muito embora muitas delas estejam devidamente nela representadas. Do período mudo, além de Outubro, Um homem com uma câmera (1929), de Dziga Vertov, e Aurora (1927), de Murnau – e vamos incluir aqui Monsieur Verdoux (1947), obra falada do gênio do mudo Charles Chaplin. As duas primeiras citadas são incontestáveis exemplos da chamada vanguarda russa dos anos 20 do século passado, escola que deixou todas as bases do cinema moderno. Futurista, o filme de Vertov chega a impressionar jo-


Fotos: Divulgação

De repente no último verão

vens realizadores da era digital pelo indescritível virtuosismo de sua linguagem e dos efeitos criados ainda na era das trucagens fotográficas. Um homem com uma câmera – e o título não deixa qualquer dúvida a respeito – é um manifesto sobre as potencialidades do cinema, assim como um ensaio poético sobre o frenesi do cotidiano nas grandes metrópoles. O terceiro representante do período mudo, Aurora, invariavelmente figura nas listas dos melhores filmes de todos os tempos. Muitas vezes considerado um exemplar atípico do “expressionismo alemão”, o filme de Murnau – realizador de Nosferatu, A última gargalhada e Fausto, entre outros – transcende qualquer tentativa de categorização. Repleto de um lirismo quase mágico, no limite de um horror que muitos chamaram de “metafísico”, Aurora é a prova viva de que um clássico não nasce necessariamente um clássico. Rodado nos Estados Unidos, o filme foi um tremendo fracasso comercial na época de seu lançamento. Qual a razão? Ninguém tem a resposta. Cineastas de grande prestígio enfrentaram o mesmo tipo de contrariedade em algum momento de suas carreiras. Para citar aqui um exemplo paradigmático, 2001, uma odisséia no espaço, de Stanley Kubrick, recebeu da crítica brasileira um desprezo olímpico quando exibido em 1968. Os motivos podem estar nas circunstâncias históricas. Maio de 1968 ideologizou os julgamentos, a ponto de essa extraordinária e sublime ficção-científica ser considerada uma peça que promovia a alienação das massas. São também circunstâncias históricas que definem linguagens, estilos e

Ladrões de bicicleta

mesmo gostos. Ladrões de bicicleta, por exemplo, talvez não tivesse sido feito da forma como foi feito – e provavelmente não teria o mesmo impacto – não fosse o trágico contexto do segundo pós-guerra. A escola neorrealista italiana, baseada em filmes de baixo orçamento filmados em cenários naturais, foi um produto desse ambiente. Estilos envelhecem, é verdade, mas isso não é uma verdade absoluta. Filmes de gênero – como o “noir” O segredo das joias (1950), de John Huston, o western Rio Vermelho (1948), de Howard Hawks e Arthur Rosson, e especialmente O crepúsculo dos deuses (1950), de Billy Wilder – surgem em ocasiões muito específicas, mas as transcendem e se tornam perenes. Em particular O crepúsculo dos deuses, quintessência tardia da era de ouro de Hollywood, onde Wilder promove uma crítica ácida ao modelo do star system dos grandes estúdios norte-americanos. Mas os dois lados do Atlântico produziram algumas das maiores obras e realizadores de cinema do século passado. É impossível não mencionar Hiroshima, meu amor (1959), de Alain Resnais, e O desprezo (1963), de Jean-Luc Godard, dois artistas (e filmes) fundadores da Nouvelle Vague francesa, movimento que, de certa maneira, inaugura o cinema moderno no mundo. O impulso da Nouvelle Vague, assim como a tradição marginal do underground, constituíu as bases do cinema de Robert Altman (O jogador/1992) e de David Lynch. E não foram apenas os EUA e a França, tradicionais e estabelecidos polos de produção cinematográfica, que nos deram grandes obras e realizadores. Longe dis-

so. O cinema japonês de Kurosawa e Ozu foi descoberto pelos europeus nos anos 1950, provocando uma redefinição de muitos dos conceitos cristalizados da história do cinema. E a Europa continuou ampliando o seu mapa cinematográfico, incorporando países antes ignorados ou deixados à margem da corrente principal da sétima arte. A Suécia seria percebida com novos olhos e nos daria Victor Sjöström, influência e ator de Ingmar Bergman em Morangos silvestres (1957). Vejamos um quadro mais dilatado: a Espanha de Luis Buñuel (A bela da tarde/ (1967), a Inglaterra de Lindsey Anderson (As baleias de agosto/1987), a Itália de Federico Fellini (Noites de Cabíria/1957), de Giuseppe Tornatore (Estamos todos bem/1990) e de Mario Monicelli, mestre da commedia all’italiana (Os eternos desconhecidos/1958), assim como a Polônia de Andrzej Wajda (Cinzas e diamantes/1958), sem esquecer o Portugal de Manoel de Oliveira, ajudariam – todos esses países e seus cineastas – a ampliar a geografia do cinema. Esse processo não cessaria de se alargar com a incorporação recente de países latinoamericanos, africanos e asiáticos (China, Vietnã, Taiwan etc), em especial o Irã do magnífico Gabbeh (1996). Se o grego Aristóteles inventou o método peripatético – aquele em que se estuda caminhando em meio à natureza – não é nada mal conhecer a história do cinema sob o tremeluzir dos astros e constelações do firmamento. Cinema ao ar livre

De 29/7 a 26/8 no CCBB (SCES, Trecho 2). Sessões às 18 e 20h, exceto às terças-feiras, com entrada franca. Programação completa em www.bb.com.br/cultura.

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luzcâmeraação

Um cineasta

que amava as mulheres

Por Alessandra Braz

F

alar de François Truffaut é falar de amor. Parece frase de soleira de caminhão, mas a verdade é que esse cineasta e, antes disso, crítico de cinema mostrou amor por tudo que fez em sua vida. Por isso, é natural que a exposição sobre sua vida e obra, em cartaz até 18 de outubro no Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo, tenha ganho o título de Truffaut: um cineasta apaixonado. “Ele conseguiu ser um cineasta revolucionário e ao mesmo tempo seguiu fazendo um cinema que se comunicava com as pessoas, que tratava do amor, mas também do ciúme, da paixão”, explica o diretor do MIS, André Sturm. Isso também comprova a grande popularidade de Truffaut, que morreu cedo, aos 52 anos, em decorrência de um câncer no cérebro. A mostra foi concebida em homenagem aos 30 anos de sua morte, “comemorados” ano passado pela Cinemateca Francesa, onde ficou em

cartaz até fevereiro deste ano, recebendo cerca de 80 mil visitantes. Número que pode ser superado no Brasil, já que o MIS acostumou-se a bater recordes de público. Para não enfrentar filas, pagando um pouco mais é possível comprar o tíquete no site www.ingressorapido.com.br. São mais de 600 itens espalhados por quatro espaços do MIS – livros, revistas, objetos pessoais, desenhos, fotos, manuscritos e cadernos, todos doados pela família à Cinemateca, mostrando até uma certa obsessão de Truffaut em guardar as coisas. Na lista ainda aparecem documentos inéditos descobertos recentemente por parentes de colaboradores do cineasta, como croquis de figurinos, fotos de cena e acessórios do filme O último metrô (1980). Por aqui, a mostra também segue uma linha diferente. Ao invés de contar a história de Truffaut cronologicamente, os filmes que fez é que contam a sua vida. O primeiro filme do ci-

neasta, Os incompreendidos, não só foi um sucesso de bilheteria como deu a Truffaut a estatueta de melhor diretor no Festival de Cannes de 1959. Antes disso, porém, ele já ganhara notoriedade como um severo crítico de cinema da famosa revista francesa Cahiers du Cinéma. “Na crítica, ele era intransigente e também apaixonante. Isso mostra esse lado passional dele”, explica Sturm. Muito rígido, escrevia contra o velho cinema francês e propunha filmes mais voltados para as personagens. Nascia ali a Nouvelle Vague, movimento renovador do cinema francês que juntou nomes como Alain Resnais, Claude Chabrol, Jean-Luc Godard e, claro, o próprio Truffaut. Uma das principais características do movimento era a não linearidade da narrativa, observada nos 25 filmes dirigidos por Truffaut, entre eles A mulher do lado, Jules e Jim, Fahrenheit 451, A história de Adèle H., O homem que amava as mulheres e A noite americana (este último lhe rendeu o Oscar de melhor filme estrangeiro). A maioria dos filmes de Truffaut tem um elemento semibiográfico, refletindo sua vida e seus humores. Homem apaixonado e sincero, ele foi fortemente atraído pelas mulheres e teve relacionamentos com muitas atrizes que participaram de seus filmes, particularmente Jeanne Moreau, Catherine Deneuve e Fanny Ardant.

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Divulgação

Truffaut: um cineasta apaixonado

Até 18/10 no Museu da Imagem e do Som de São Paulo (Avenida Europa, 158, Jardim Europa). De 3ª a sábado, das 12 às 21h; domingos e feriados, das 11 às 20h. Ingressos (inteira): R$ 10 na bilheteria do MIS e R$ 16 em www.ingressorapido.com.br. Classificação indicativa: livre. Mais informações: (11) 2117.4777 e www.mis-sp.org.br.


Exposição

Bracher:

catártico, figurativo, expressionista, intenso, dramático e, acima de tudo, imperdível. Até 27 de julho no CCBB Brasília. De quarta a segunda, das 9h às 21h.

Entrada franca. bb.com.br/cultura SAC 0800 729 072 Ouvidoria BB 0800 729 5678 Deficiente Auditivo ou de Fala 0800 729 0088

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Admirável. 212 Norte - 3202-4848 SIA trecho 2 - 3363-3950 Taguatinga Sul - 3561-0464

facebook.com/DuomoMoveis www.duomodecore.com.br É única e diferente. É pra você.


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