Roteiro 248

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HAMBÚRGUER DE GRIFE: SÍMBOLO MAIOR DO TRASH FOOD DÁ A VOLTA POR CIMA

Ano XV • nº 248 Fevereiro de 2016

R$ 5,90


PARTINDO DE BRASÍLIA

PARIS

3 VOOS

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EMPOUCASPALAVRAS

Para os que procuram sugestões de voos mais curtos e menos radicais, dentro de nosso país, recomendamos a leitura da matéria Novo ícone carioca, na qual Akemi Nitahara apresenta o recéminaugurado Museu do Amanhã, parte integrante do projeto de revitalização da zona portuária carioca. A começar pela arquitetura grandiosa do arquiteto espanhol Santiago Calatrava, criador da Cidade das Artes e das Ciências, em Valência, passando por seu interior futurista e interativo, tudo nesse espaço leva o visitante a pensar no planeta que temos e no planeta que queremos deixar para as futuras gerações (página 32). Em matéria de viagens gastronômicas, as possibilidades locais são imensas, uma vez que está no ar, até 6 de março, mais uma edição do festival Restaurant Week. São 64 bares e restaurantes da cidade com sugestões de entrada, prato principal e sobremesa a R$ 43,90, no almoço, e R$ 53,90, no jantar, mais um real por refeição que irá para o cofrinho da ONG Amigos da Vida, uma instituição de promoção dos direitos de portadores de HIV/AIDS. Os detalhes estão na seção Água na boca (página 8). Na mesma seção o leitor encontrará salivantes sugestões dos chamados hambúrgueres de grife, iguarias que caíram no gosto dos chefs brasilienses e têm feito a alegria de quem não se furta aos prazeres da carne, mesmo na quaresma (página 4). E fica sabendo também que o restaurante Ilê, de moquecas e frutos do mar, abriu filial no Parque da Cidade (página 6). Finalmente, em matéria de viagens musicais, o destaque é o Brasília Rock Show, que vai juntar no mesmo palco Titãs e Paralamas do Sucesso, num encontro do tipo imperdível. Será no NET Live Brasília, dia 5 de março, mesma data, aliás, em que o ex-Titã Nando Reis apresenta seu show acústico no Centro de Convenções. Um dilema para os fãs, sem dúvida (página 20). Boa leitura e até março! Maria Teresa Fernandes Editora

Akemi Nitahara

“Viajar é trocar a roupa da alma,” disse um dia o poeta gaúcho Mário Quintana (1906/1994). Foi isso o que fizeram, mas de uma forma bem radical, 18 brasilienses que se aventuraram, de moto, numa viagem até o Deserto do Atacama, no Chile. Depois de percorrerem 8,5 mil quilômetros em 15 dias e conviverem com frio, calor, paisagens paradisíacas, estradas perigosas, chuva, sol e poeira, eles voltaram com a roupa de suas almas trocada, conforme relata uma das integrantes da caravana, a jornalista Ana Vilela (página 22).

26 turismocultural Menos de dois meses depois de inaugurado, o Museu do Amanhã já se tornou uma das principais atrações turísticas do Rio de Janeiro.

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ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14 – Conjunto 2 – Casa 7 – Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes | Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa Carlos Roberto Ferreira, sobre foto de Ana Vilela/Matosta Tur | Colaboradores Alessandra Braz, Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, Ana Vilela, Beth Almeida, Cláudio Ferreira, Conceição Freitas, Eduardo Oliveira, Elaina Daher, Heitor Menezes, Júlia Viegas, Luana Brasil, Lúcia Leão, Luís Turiba, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Ronaldo Morado, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle | Fotografia Fabrízio Morelo, Gadelha Neto, Rodrigo Ribeiro, Sérgio Amaral, Zé Nobre | Para anunciar 9988.5360 | Impressão Editora Gráfica Ipiranga | Tiragem: 20.000 exemplares. 3

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Daniel Zukko

ÁGUANABOCA

Hambúrguer Ancho, do Ancho Bistrô de Fogo.

Hambúrguer de grife POR LÚCIA LEÃO

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á pouco mais de dois anos, de retorno do giro que faz periodicamente à Europa e aos Estados Unidos, a chef Mara Alcamim surpreendeu os conservadores e causou um certo frenesi entre os “descolados” quando passou a oferecer hambúrguer embrulhadinho no papel, no melhor estilo fastfood, na calçada do seu sofisticado Universal Diner, um dos mais tradicionais restaurantes cinco estrelas de Brasília. Claro que não era um hambúrguer qualquer, mas de bife ancho moído na hora, com cebola caramelizada e queijo cheddar. “Essa moda que chegou agora em Brasília já se propagava especialmente em Londres e em Nova York desde 2012, mais ou menos, um pouco associada aos food trucks e aos eventos gastronômicos de rua”, conta a sempre antenada Mara. A novidade de que tratamos aqui não se refere meramente aos hambúr-

gueres especiais, preparados artesanalmente e com temperos distintos dos de sabor empastelado oferecidos nas grandes redes de fast-food. Depois de inspirarem lanchonetes especializadas nos chamados “hambúrgueres gourmet”, os discos de carne moída recheando pães ganharam assinaturas e espaço em algumas das mais renomadas cozinhas da cidade. Como a da pioneira Mara Alcamin, que acaba de lançar mais uma novidade: uma omelete de abobrinha e claras de ovos que pode fazer as vezes do pão e atender a dietas menos calóricas e com restrição de glúten. E além do hambúrguer de ancho, que inaugurou sua linha de sanduíches, o Universal oferece hoje também versões de frango, vegetariano (de abobrinha) e de salmão. São servidos com maionese temperada, cebola roxa caramelizada e queijo cheddar. Todos custam R$ 25 no pão convencional ou R$ 30 na omelete. Se não estão mais na calçada, eles se-

guem servidos embrulhados em papel e apenas nas noites de quinta-feira. Mara explica porquê: “Não é um prato complicado, mas mexe muito com a logística da cozinha. Todos os ingredientes devem ser processados na hora e a parrilla fica lotada. Então, optamos por abrir um espaço exclusivo num dia em que há menos demanda por outros pratos do cardápio”. Ela disse parrilla? Sim. É o nome espanhol para a grelha em que os hermanos argentinos e uruguaios preparam os “asados”, o evento gastronômico típico dos dois países. Algo bem parecido com o nosso churrasco, em que reúnem-se os amigos para longas degustações de carnes. Só que lá, ao invés de espetos, os cortes são postos sobre essas grades aquecidas a carvão – as parrillas. Foi nesse conceito que se inspirou o Parrilla Madrid lá em sua origem, em 2008. Com o tempo, o chef e proprietário Gil Guimarães promoveu alguns ajustes de rumo, procurando opções de cardápio mais


Rafael Lobo - Zoltar Design

bacon artesanal e goiabada picante, a R$ 29); o Vegan Burger (hambúrguer de grão de bico e verduras, cebola grelhada, alface, tomate e molho barbecue, a R$ 27); o Gorgonzola Bacon Burger (com queijo gorgonzola, dose extra de bacon e molho aioli, a R$ 29); o Chipotle Burger (com queijo cheddar, cebola caramelizada e chipotle azteca, a R$ 29) e o The Big Burger (com queijo cheddar, bacon, picles, cebola grelhada, tomate, alface, molho barbecue da casa e aioli de mostarda, a R$ 35). Outro empresário que está feliz com a opção pelos burguers é Thales Furtado, que abriu o Hum!Burguer como que uma extensão do seu Primeiro Cozinha de Bar, no Sudoeste e em Águas Claras, e hoje vê os dois empreendimentos se complementarem mutuamente. Ele também partiu para o novo negócio depois de observar o crescimento das hamburguerias em mercados como São Paulo e Rio de Janeiro e nos polos gastronômicos além fronteira. “Em todos esses lugares, o público procura opção de alimentação que alie a qualidade das boas cozinnhas aos benefícios do fast-food, como a rapidez no serviço, a casualidade e os preços mais acessíveis”. Cortes especiais, preparo artesanal, um temperinho secreto, o pão de batata e a grelha – ou parrilla, como preferir – também são os grandes diferenciais apregoados pelo Hum!Burguer, que oferece duas opções de carne vermelha (uma com queijo mussarela e salada, a R$ 25, e outra com cebola, bacon e cheddar, a R$ 29), uma de frango (R$ 19) e uma vegana, de grão de bico (R$ 25). Outra casa que abriu espaço em sua

Daniel Zukko

despojadas, mas que preservassem a qualidade. “Foi nessa busca que lançamos o Calçadão da Parrilla, em outubro de 2014, tendo como carro-chefe o choripan, sanduíche de linguiça muito popular na Argentina e que teve uma excelente aceitação do nosso público”. Aceitação tão boa que do sanduíche de linguiça para o hambúrguer foi, para ele, como que um caminho natural. “O retorno positivo do público se uniu à minha vontade de fazer uma gastronomia mais descontraída, com ingredientes bem selecionados e uma receita singular”. E assim surgiu, em meados de janeiro último, a hamburgueria Parrilla Madrid. “Foram três meses de testes até chegarmos ao blend final, com hambúrguer desenvolvido especialmente para a parrilla, com uma carne 100% black angus moída diariamente na casa”, conta o empresário. O pão é um brioche especial preparado ali mesmo e os demais ingredientes vêm de fornecedores escolhidos a dedo. Como o bacon artesanal produzido a partir da barriga de porco caipira do Dom Porco; o queijo meia cura do Cruzeiro da Fortaleza, na Serra do Salitre (MG), e os molhos de Jack Daniel’s, goiabada picante e chipotle azteca, desenvolvidos em parceria com a Cornucópia Pimentas, que também fornece os picles de jalapeño. No novo cardápio do Parrilla Madrid o cliente pode montar o hambúrguer ou escolher entre as oito opções da casa: o Parrilla Burger, com queijo Canastra, cebola caramelizada e molho aioli (R$ 27); o Jack Burger (com creme de ricota, Jack Daniel’s Blend de whiskey e cebola caramelizada, a R$ 29); o Julieta Burger (com

Jack Burger, do Parrilla Madrid.

parrilla para os hambúrgueres foi a Ancho Bistrô de Fogo, umja extensão da Loca Como Tu Madre, de Renata Carvalho. A chef criou um hambúrguer com 300 gramas de ancho assado na grelha (R$ 30). Servido em pão da vizinha padaria francesa La Boulangerie, tem recheio de cebola caramelizada, pesto de tomate, queijo de búfala, alface frisée e creme de cebolinha. Para acompanhar, Renata sugere “papas rústicas”, batatas fritas com casca, temperadas com páprica, pimenta-do-reino e flor de sal e servidas com molho azedo. E pensar que, não faz muito tempo, ele era o símbolo do trash food, o terror dos paladares elegantes e vilão das dietas saudáveis! Definitivamente, o hambúrguer voltou por cima! Mais um modismo? Sinal dos tempos? Resposta à crise? Como diria Chicó, personagem de Ariano Suassuna tão bem interpretado por Selton Mello em O auto da compadecida: “Não sei, só sei que é assim”. Universal Diner 210 Sul – Bloco C (3443.2089). De 2ª a 5ª feira, das 12 às 15h e das 19 às 24h; 6ª, das 12 às 15h e das 19 à 1h; sábado, das 12 às 16h e das 19h à 1h. Hambúrgueres somente na 5ª feira, a partir das 18h30.

Parrilla Madrid 408 Sul, Bloco D (3443.0698). 3ª e 4ª feira, das 18h à 0h30; 5ª e 6ª feira, das 18 à 1h; sábado, das 12 à 1h; domingo, das 12 às 17h.

Hum! Burger Setor de Indústrias Gráficas, Quadra 8 (3028.1331), e Avenida das Castanheiras, Lote 1.310, Águas Claras (3263.7361). De 2ª a 5ª feira, das 12 às 24h; sábado e domingo, das 12 à 1h.

Anchô Bistrô de Fogo

Hambúrguer Fitness, do Universal Diner.

306 Sul, Bloco C (3244.7125). De 3ª a 6ª feira, das 12 às 15h e das 18 às 24h. Sábado, das 12 às 24h. Domingo, das 12 às 16h.

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ÁGUANABOCA

Fotos: Divulgação

Moquecas no parque

POR SÚSAN FARIA

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vento, o sol, as mesinhas de madeira, as duchas, os coqueiros, o quiosque de água de coco... até que, com um pouco de imaginação, dá pra se sentir numa beira de praia. Gostoso desfrutar da natureza em volta do recém-inaugurado Ilê Praia Parque, junto ao estacionamento número 9 do Parque da Cidade. Para combinar com esse clima praiano, uma casa descontraída, ventilada, de 3,5 metros de altura, cujo ponto forte gastronômico são os frutos do mar. São quatro ambientes sem paredes, sendo que os menores podem ser utilizados para comemorações particulares. O piso é de cimento queimado com ladrilhos hidráulicos. As paredes e pilastras são de tijolinhos, numa área construída de 430 m2, com capacidade para 200 pessoas sentadas. Vez ou outra haverá música ao vivo, uma flauta, um saxofone. Durante o jantar, os clientes podem contemplar o céu brasiliense, numa área coberta com teto retrátil. Tudo ideia do chef Paulo Maurício Ferreira, carioca, 55 anos, formado em administração de empresas, processamento de dados e educação física. Com a experiência de quase nove anos à frente do Ilê da 209 Sul, Paulo Maurício expande seus negócios em um ponto onde milhares de brasilienses fa-

zem suas caminhadas, principalmente pela manhã e ao entardecer, e onde há um amplo estacionamento, muito verde, árvores frutíferas e boas sombras. Ao redor do Ilê o chef plantou 100 coqueiros, está reconstruindo as calçadas e pintando as duchas. O principal, no entanto, é a boa comida: moquecas, principalmente, mas também peixe assado com vários acompanhamentos, paellas, ostras in natura ou gratinadas, frescas, vindas de Santa Catarina, vôngole, saladas, filé mignon, carne de sol, purê de banana e gengibre, petiscos como bolinho de bacalhau, iscas de peixe, asinha de pintado, pastéis e outros. Pratos para uma ou duas pessoas, com preços entre R$ 29 e R$ 69. O novo restaurante serve almoço e jantar à la carte, além de rodízio de camarão e frutos do mar (R$ 59). “Trabalhamos com o melhor custo-benefício e produtos de qualidade”, explica Paulo Maurício, cuja trajetória remonta aos ancestrais portugueses. O avô, Manuel Ferreira, era de Coimbra, Portugal, e trabalhou no Brasil, com bacalhau, na Rua Cachambi, no Rio de Janeiro. Durante a Segunda Guerra Mundial, perdeu carregamentos, quase faliu e passou a investir em um armazém de secos e molhados. “Tenho no sangue o gosto pelo comércio e pela boa comida”, explica o chef, que cresceu numa cozinha extensa, onde no mínimo dez pessoas comiam todos os

dias. A mãe, dona Dalva, mineira, fazia bolos, e logo cedo Paulo aprendeu a confeitar. Conhecimentos que já começa a passar para a filha de dois anos de idade. O Ilê Praia Parque começou com 30 funcionários, entre cozinheiros, garçons, copeiros e seguranças. Quem tem crianças pode utilizar o parquinho, o fraldário e a brinquedoteca da casa. Atletas têm desconto nas bebidas do restaurante. No dia 29 de março Paulo Maurício abre o terceiro Ilê, nome africano que significa casa. Trata-se do Ilê Self, localizado em um novo centro comercial da cidade – o Vega, próximo ao Conjunto Nacional. Ilê Praia Parque

Parque da Cidade, próximo ao estacionamento número 9 (3443.8099). De 2ª a sábado, das 11h30 às 24h ou enquanto houver clientes; domingo, das 11h30 às 17h.


RW 70 mil Comunicação e Consultoria

Divulgação

ÁGUANABOCA

Pesce Costa Brasil, do Villa Tevere.

Divulgação

Rafael Lobo

Bife ancho e arroz de açafrão com pedacinhos de bacon, do Barbacoa.

Filé de peixe ao molho de frutas vermelhas com arroz sete grãos, do Rio Bistrô.

Torta mousse de brigadeiro quente de chocolate com calda de baunilha, do Oliver.

Farra gastronômica POR VICTOR CRUZEIRO

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abores para todos os gostos, preços para todos os bolsos e uma mesma causa para unir os amantes da boa comida. Essa é a proposta da 14ª edição do festival Restaurant Week, que durante 21 dias, até 6 de março, agita o cenário gastronômico brasiliense. Com o objetivo de aproximar o público dos restaurantes e de seus chefs mais importantes, o festival oferece uma miríade de pratos a preço acessível, único, e que inclui uma contribuição social. O Restaurant Week é realizado a cada seis meses e conta, nessa primeira edição de 2016, com oito cidades brasileiras, cada uma com um amplo leque de opções durante as três semanas. Brasília, a primeira a iniciar os trabalhos, conta com 64 restaurantes e bares, abertos no almoço e no jantar, com menus selecionados em um combo de entrada, prato principal e sobremesa. Os conjuntos são oferecidos pelo mesmo preço de R$ 43,90 no almoço e R$ 53,90 no jantar. A esse valor é acres-

cido R$ 1, depois direcionado a alguma instituição social da cidade-sede. Nesta edição, assim como nas duas anteriores, a organização escolhida na capital federal foi a ONG Amigos da Vida, que atua na promoção de direitos para portadores de HIV/AIDS em Brasília e região. A arrecadação, acompanhando o sucesso de público, é sempre satisfatória. Em edições anteriores, o total registrado para as instituições foi de R$ 500 mil. O principal trunfo do Restaurant Week é dar ao público a oportunidade de conhecer restaurantes que, em outros momentos, seriam de difícil acesso. Caso do Nau, localizado no Setor de Clubes Esportivos Sul. O restaurante do Grupo Mangai tem como carro-chefe o camarão, e seus pratos podem sair por mais de R$ 200. Durante o Restaurant Week são oferecidas seis possibilidades de menu (escolhendo entre duas opções de entrada, duas de prato principal e duas de sobremesa) por apenas R$ 54,90. O organizador do festival, Fernando Reis, diz que a adesão do público só tem aumentado. “No ano passado houve res-

taurantes com filas de espera tão grandes que tiveram de fechar, ou não conseguiriam atender a todos”, conta. Felizmente, as opções são muitas, e a periodicidade do festival possibilita ao público conhecer diversos restaurantes em épocas diferentes de um mesmo ano. Cada edição do Restaurant Week tem um tema específico. Em 2015, as duas edições abraçaram a “cozinha saudável”, em fevereiro, e a “gastronomia afetiva”, em julho. Grande sucesso de público, a 13ª edição colocou os comensais em contato com pratos que, sem perder o toque de cada casa e de cada chef, remetiam às reuniões familiares e ao aconchego da infância. Agora, o foco é a contribuição que ingredientes nacionais podem oferecer à gastronomia clássica, adicionando queijo meia cura, tapioca e cachaça a pratos consagrados de outras cozinhas, como a italiana e a francesa, no bom – e hoje muito em voga – estilo fusion. Restaurant Week

Até 6/3 em 64 restaurantes e bares da cidade. Relação completa dos participantes e pratos em http://restaurantweek.com.br/evento/brasilia.

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PICADINHO

São nada menos que 12 – como os trabalhos de Hércules – as etapas do menu-degustação servido desde o mês passado pelo Jambu (Avenida JK, nº 2, Vila Planalto, tel. 3081.0900). Entre as receitas criadas pelo chef Leandro Nunes, a mais exótica é, sem dúvida, a que leva flor de jambu, requeijão maçaricado com pera, formiga-maniuara (isso mesmo, formiga, como se vê na foto acima) e shot de cerveja de ipê roxo. O menu, que será renovado a cada três meses, custa R$ 195. No cardápio diário do restaurante, o carro-chefe é o pato no tucupi, assado a baixa temperatura e finalizado com tucupi, jambu e arroz branco (R$ 74).

De casa nova Às vésperas de comemorar, em março, seu quinto aniversário, o árabe Zahia Café & Kebab, do Setor Sudoeste, acaba de se transferir para a quadra 301, Bloco B, subsolo, tel. 8237.9227 (antigo endereço do Peixe na Rede Sudoeste). É lá que, agora, são servidos os quibes, as esfirras, a coalhada seca, as kaftas e outras delícias da culinária árabe preparadas pela chef Dulcinéa Ramos Cassis.

Daniel Zukko

Boa lembrança

Panelas da Casa

Telmo Ximenes

menus compostos por pratos que marcaram suas carreiras, como os tacos do El Paso (foto), presentes na memória afetiva do chef peruano David Lechtig.

Tilápia à moda japonesa O Kaarage visto na foto abaixo (tilápia frita empanada com um tempero especial) e o Sushi de Tamago (massa de ovo com recheio de arroz e patê de peixe levemente apimentado) são os novos sabores servidos no bufê do Max Sushi de Águas Claras (Metrópoles Shopping, na Avenida das Araucárias, tel. 3568.2834). Muito consumido no Japão, o Karaage é crocante por fora e macio por dentro, enquanto o Sushi de Tamago é uma espécie de omelete japonesa. Mais de 30 itens compõem o cardápio das franquias da rede Max Sushi, nascida em Goiás e presente hoje em oito Estados, além do Distrito Federal.

Os brasilienses apreciadores da boa mesa têm mais um motivo para festejar, neste período pós-carnaval. Onze das mais conceituadas grifes gastronômicas da cidade participam do II Festival Panelas da Casa, que acontece paralelamente à 14ª edição do Restaurante Week (leia na página 7). Até o último dia do mês, os chefs desses restaurantes – Rede El Paso, Belini, Bhumi, Cantucci, Cartolaria Bistrô Musical, Dona Lenha, Genghis Khan, Loca como Tu Madre, Nossa Cozinha Bistrô, Olivae e Veloce – vão oferecer, ao preço de R$ 55,

Divulgação

Degustação hercúlea

Acaba de vir à luz no Aeroporto JK, em três pontos de grande afluência de passageiros (piers 1 e 2 e embarque nacional, próximo ao check-in da TAM), a sorveteria Lo Voglio, novo empreendimento de Eduardo Nogueira, Maurício Mandala e Niéliton Gomes, que conta ainda com o talento do mestre sorveteIro Francisco Sant’Ana e do restaurateur Rodrigo Cabral (ex-Ares do Brasil), este na coordenação operacional. Entre os oito sabores de gelatos oferecidos, todos produzidos sem conservantes, sem gorduras hidrogenadas e com produtos 100% naturais, destacam-se o de chocolate belga, coco e doce de leite, o de pistache, feito a partir da castanha importada in natura da Itália, descascada, torrada e moída na fábrica da empresa, e o de banana caramelizada com avelã.

Rodrigo Cabral

Facundo Fotografia

Sorvetes 100% naturais

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O Universal Diner, de Mara Alcamim, é o novo representante brasiliense na Associação dos Restaurantes da Boa Lembrança. Foram admitidos também como associados outros cinco restaurantes: Beijupirá (Olinda/PE), Girassol (Palmeira/PR), Domus Itálica (Vila Velha/ES), Donna Jô (Búzios/RJ), Favorito Comida Típica (Teresina/PI) e Varanda (Fernando de Noronha/PE).

Essa mussarela típica italiana é um dos ingredientes da pizza Fior di Latte & Due Pomodoro (R$ 59), uma das novidades deste mês na Baco (408, Sul, Bloco C, tel. 3244.2292, e 309 Norte, Bloco, tel. 3274.8600). Completam a receita o tomate sweet grape produzido na Fazenda Silvander, em Corumbá de Goiás, parmesão, basílico, azeite e flor de sal. Outras novidades são as pizzas sem lactose, entre elas a Calabresa Bêbada, flambada na cachaça com azeite de pimenta, e a Vera Marinara, de baixo teor calórico.

Divulgação

Fior di Latte


HAPPY HOUR

Cerveja e cultura

RONALDO MORADO www.ronaldomorado.com.br ronaldomorado.blogspot.com.br @ronaldomorado

Hoje é sexta-feira, chega de canseira, nada de tristeza, pega uma cerveja, põe na minha mesa. Leandro & Leonardo em Cerveja.

Cerveja é a bebida da celebração, da confraternização, do coletivo. Como escreveu mestre Antônio Houaiss: “Desde muito cedo as cervejarias, em várias partes do mundo, se fizeram enormes ambientes, extremamente conviviais, risonhos, extrovertidos, ridentes, cantantes, dançantes até.” Nas culturas em que a bebida alcoólica é admitida, todas as festividades são regadas a cerveja – desde uma simples reunião entre amigos para o churrasco na laje até os espetáculos coletivos nas mais diversas arenas esportivas. Essa ligação entre o festivo e a cerveja não é resultado de campanhas publicitárias, mas, ao contrário, é uma relação natural explorada ao extremo pelo merchandising - para o bem ou para o mal. Bares, pubs, biergartens etc são apenas locais explorados comercialmente para explorar a vontade e o impulso das pessoas se reunirem em torno da inspiração, do brinde e da conspiração. Afinal, cerveja não é uma bebida que isola as pessoas. Mais uma vez, o mestre Antônio Houaiss nos disse: “Os bebedores solitários de cerveja são poucos e não estão bem, ou falta-lhes, no momento, um amigo”. Essa bebida, fraternal por essência, não se apega a rituais e não combina com cerimônias. É relaxada, descompromissada, liberal e extrovertida. Ela está na raiz da cultura ocidental e se mantém relevante até hoje como elemento integrador. Não é apenas uma bebida, porque

traz consigo um conjunto de valores culturais capazes de promover, não na teoria, mas na prática do cotidiano, a disseminação de conceitos importantes de cooperativismo, tradição, confraternização e, afinal, encontro de pessoas. Mas por que a cerveja é tão popular? É certo que não é apenas pelo preço relativamente barato, pelo baixo teor alcoólico nem pela refrescância, visto que existem bebidas alcoólicas mais baratas, como a cachaça ou aquelas aromatizadas e refrescantes, como as “alcoolpop”, que nem por isso conseguem a popularidade da cerveja. Eu acho que a cerveja é assim querida porque traz consigo tradição, sabor e, desde que dela não se abuse, provoca descontração e alegria. Um de seus maiores apelos é a simplicidade: é despretensiosa, não está associada a nenhuma pompa ou circunstância, apenas à alegria pura e simples. Considerada alimento durante a quase totalidade do tempo de sua história de mais de seis mil anos, e integrante obrigatória da dieta familiar desde os primórdios da humanidade, a cerveja tem também um passado abonado pelos religiosos cristãos (católicos e protestantes), por intelectuais, filósofos, gênios e políticos. E assim continuará sendo pelos próximos milênios. Afinal, há muita alegria no encontro refrescante das pessoas. Como disse Benjamin Franklin, escritor, cientista e pai da independência americana: “No vinho encontramos sabedoria, na cerveja liberdade e na água bactérias”.

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GARFADAS&GOLES

LUIZ RECENA

lrecena@hotmail.com

Seis mais quatro, dez, nota dez! Ficar em hotel antigo é dormir com a história. A frase é de um velho amigo, veterano das coisas de vida. Aliás, no caso dele, uma vida muito bem curtida até agora. E assim continua. “Isso é chique, você fez muito bem”, completou, depois de desejar um feliz aniversário. Pois é, colunista também envelhece. Pela ordem: 64 de idade, 44 de jornalismo, 40 anos depois de pôr os pés pela primeira vez na terra emblemática do Cerrado. Tudo isso mereceu uma comemoração especial, uma noite no Brasília Palace, reconstituído com esmero depois de décadas fora do ar, consumido por um incêndio histórico. Chefe de reportagem do Jornal de Brasília, coordenei a cobertura. O plantão de sábado deu trabalho, mas a bela edição de domingo foi boa recompensa. Fotos antigas, azulejos de Athos Bulcão, uma Rural Willys daqueles tempos, velhas e frondosas árvores, um grande cenário. Tudo combinando com o que há de mais moderno nos serviços, além de simpatia e eficiência no atendimento. E ainda tem o restaurante Oscar, que sempre vale uma visita. Diria o amigo que é bom inaugurar nova idade antiga em cenário histórico. Tem razão. Ainda que os fantasmas não falem, provocam a memória. E essa dialética de estar vivo e lembrar do passado, rever e revisitar o acontecido é um exercício e tanto. Os fatos voltam só com a marca dos personagens, que viraram intocáveis, vivos apenas nos exemplos que deixaram. Então eles crescem, fatos e personagens, aumentam nesses tempos atuais, carentes, de protagonistas pobres. Bons tempos.

Iemanjá e navegantes

O dia seguiu com manifestações de carinho e notícias de longe, dos mares de Iemanjá e do Rio Guaíba de Nossa Senhora dos Navegantes, duas entidades do bem a tentar salvar seus adeptos das intempéries, das tempestades e dos desgovernos. A chuva parou e o pôr do sol do Centro-Oeste emoldurou o encontro com filhos, sobrinhos, amigos. No Parrilla Madri. Dois bons tintos, chopes, croquetes variados e a nova estrela da companhia, o hambúrguer especial. Parabéns pra você.

Tango na véspera

O restaurante 348 mudou de lugar, foi para a beira do lago, perto da ponte JK. Isso já faz um tempo. Mas o sol do último domingo de janeiro tirou as pessoas de casa e mesmo no meio da tarde boa parte delas estava no bonito espaço novo da casa. O bar e a sala de espera recebem os visitantes. Pulamos essa parte. Os meninos, sempre mais sedentos, esperaram a vacância da mesa e tudo estava pronto quando os mais velhos chegaram. É de lei. A tarde convidava para os drinques mais leves e refrescantes, tipo Aperol. Lindos, coloridos, saborosos.

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Dois vão bem. Nas entradas, entre sugestões normais, dois divisores de águas: rins e matambres. Não se deve insistir nem forçar. Quem gosta, gosta. Quem não gosta, odeia. A vida continua e a concórdia se restabelece nos pratos principais. Carnes excelentes e um ojo de bife quase de “cortar com colher”, de tão macio e bem feito. A conversa agradável, com rápidas passagens pelas fronteiras da intriga, acrescentaram o molho que faltava. O velho malbec a tudo assistiu e resistiu. Os trabalhos de saudações a Iemanjá estavam formalmente abertos. Salud!

Obrigado!

Aniversário é sempre um dia especial. O fato de coincidir com um festejo famoso, que deu até música de Dorival Caymmi, aumenta o significado da ocasião. Assim, há vários motivos para incentivar as saudações dos amigos e parentes. Os filhos aproveitam e muitas vezes fazem chorar. É de lei. Então, entre emoções e emoções, fica um registro para todos: muito, muito obrigado pelas lembranças e carinhos enviados. Foram, todos, para o lugar onde mais gosto de guardar tudo isso: o coração.


PÃO&VINHO

Comes e bebes apimentados É sempre um grande prazer reencontrar bons amigos que já não se via há tempos. Recentemente, por questões de negócios, pude reviver o convívio com uma pessoa de quem gosto muito e que não via já há anos. Trata-se de Chico Santa Rita, um verdadeiro hedonista no que tange a culinária e vinhos. Convidei-o a almoçar em minha casa, num sábado, e de pronto o problema se fez presente: o que preparar para um verdadeiro e talentoso chef de cozinha? Sim, o Chico, embora não trabalhe no ramo da gastronomia, é um dos melhores cozinheiros que conheço, capaz de preparar, com maestria, quase qualquer prato que se queira. E bom de vinhos também. No quesito vinhos não me preocupei, pois tratava-se apenas de fazer uma escolha apropriada nas minhas adegas. Mas no quesito comida... aí morava o perigo! Acabei optando por fazer o “simples com perfeição”. Preparei um belíssimo steak au poivre, conseguindo, como sempre (pois talvez esta seja minha maior especialidade), o ponto ideal da carne e cobrindo-a com um bem preparado molho. Para acompanhar, caprichei em um tradicional risoto à milanese. Em seguida, escolhi uma garrafa do Chateauneuf du Pape Boisrenard 2007, do Domaine de Beaurenard, produzido com 60% de Grenache e os demais 40% cortados com 13 varietais utilizadas na região de Chateauneuf. Aromas de cerejas negras maduras, café e um toque apimentado e um palato sedoso e muito elegante fizeram o vinho, de qualidade indefectível, combinar muito bem com o prato. Uma garrafa foi pouco, pois éramos oito pessoas, e

ALEXANDRE FRANCO pao&vinho@agenciaalo.com.br

assim completei o festim com uma garrafa de Amarone dela Valpolicella de Domíni Veneti. Este, da origem preferida da Fernanda, esposa do Chico, produzido com 70% de Corvina, 15% de Rondinella e 15% de Molinara, no mais puro estilo do Vêneto, trouxe ao nariz aromas nítidos de frutas secas, com algum defumado e um toque de pimenta. Na boca, um fundo doce e taninos aveludados completaram a harmonização de forma perfeita. Acho que acertei, pois tanto Chico quanto Fernanda e os demais convidados muito elogiaram e, mais importante, repetiram. O melhor é que parece ter tido uma aprovação mais efetiva pelo Chico, que já me convidou para o almoço mensal que faz com um grupo de grandes connaisseurs de comidas e vinhos. Será uma farra! Após o almoço, uma sobremesa leve e rápida, um bom café e fomos à varanda para que eu fumasse um charuto, o que não posso deixar de fazer depois de uma boa refeição. Normalmente faço acompanhar minha fumada de um bom Armagnac, como cabe a um enófilo de carteirinha como eu, mas desta feita fiz uma exceção e não me arrependi. Ocorre que o Chico produz uma cachaça especialíssima, que ele envelhece por nada menos que oito anos em barris de carvalho francês. Espetacular! Eu nunca havia bebido em minha vida – e fui na juventude bebedor de boas cachaças – uma cachaça tão sedosa e aromática quanto esta. Impressionou-me, especialmente, o fato de ser mais suave do que os destilados vínicos da melhor qualidade. Cachaça do Chico, garrafa 73/99, produzida em 2008, a partir de “cana precoce”, em Dona Carolina, envelhecida no tonel de carvalho nº 489 desde 12/09/2008 e engarrafada em dezembro de 2015.

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TEMOS ATÉ MUSCULAÇÃO. Circo, natação, balé, lutas, aeróbica, programação para crianças, além de instrutores formados e capacitados para cuidar de você. Afinal, temos tudo para a sua família, até o que as outras academias têm. www.companhiaathletica.com.br/unidade/brasilia

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OPINIÃO

É preciso silêncio

para ouvir música

ALEXANDRE MARINO *

Q

uando Brasília foi inventada, a civilização parecia prestes a aportar por aqui. Quase 60 anos depois, o que foi feito da cidade democrática, humanista, que garantiria qualidade de vida a seus moradores? Temos trânsito engarrafado, criminalidade e insegurança, falta de mobilidade, estresse, barulho, conflitos urbanos, poluição. Grande parte da área urbana carece de calçadas, muitas de nossas ciclovias dão em lugar algum, áreas centrais estão cobertas de mato, não há transporte público ligando o leste ao oeste (e vice-versa), o poder público não consegue definir como coletar e tratar o lixo, a cidade que reluz em sua arquitetura está sufocada de sujeira em seus pedaços mais íntimos. O bem-estar e a convivência pacífica da massa humana que se aglomera na urbe devem ser garantidos por leis civilizatórias, que promovam o respeito ao espaço e à liberdade de cada um. Por enquanto há alguns sinais de que podemos chegar à civilidade sonhada por seus inventores. Brasília foi a primeira cidade brasileira a proibir o fumo em locais fechados, tornando a convivência mais saudável; foi a primeira a adotar o respeito à faixa de pedestre. E conta com uma lei moderna e civilizatória para controlar a poluição sonora, a lei 4.092/2008, que alguns detratores chamam pejorativamente de Lei do Silêncio, como se fosse um instrumento de censura e não de organização da convivência no espaço público. Há quem diga que o controle da poluição sonora representa o atraso e uma virada à direita, como se o respeito à lei e aos direitos individuais não representassem a civilidade, e como se a selvageria e

o caos fossem nossos ideais políticos. A Lei da Poluição Sonora estabelece parâmetros para controle de emissão de som, não apenas para música, e não são valores aleatórios – são aqueles definidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que, por sua vez, segue valores estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), respeitados internacionalmente. Extinguir a Lei da Poluição Sonora ou adotar níveis aleatórios para medição do som significará mais um passo rumo à barbárie da qual Brasília deveria se distanciar. É preciso silêncio para ouvir música. O excesso de ruído – seja ele emitido por motores, betoneiras ou caixas de som – não faz bem para a saúde nem para a cultura, assim como a fumaça do cigarro em ambiente fechado nada tem a ver com liberdade individual. Da mesma forma, não se pode alterar o Código de Trânsito para que o motorista obrigado a parar na faixa de pedestre seja pontual em seu compromisso. Se os empresários da noite precisam de renda, é mais lógico que se adaptem à lei, e não a lei a eles. Se alguns músicos – não todos – temem o desemprego, que estimulem os empresários a cumprir a lei. Dizem que o nível sonoro permitido é tão baixo que a conversa de um grupo de pessoas é suficiente para superá-lo, mas se esquecem de que o som de uma conversa não se propaga além de alguns metros, enquanto o som amplificado atravessa barreiras e reverbera por longa distância. A situação piora quando a noite avança, e não se pode chamar de careta ou reacionária uma pessoa que se esforça para dormir quando deve acordar cedo no dia seguinte, seja para trabalhar ou estudar. Os artistas que combatem a lei 4.092

parecem ignorar que o Teatro Nacional está fechado há anos, assim como o Museu de Arte de Brasília e o Espaço Renato Russo; que a Biblioteca Demonstrativa fechou por falta de manutenção, e a Escola de Música está sucateada e segue o mesmo destino, e a cidade não tem uma biblioteca pública digna desse nome – e depois tentam nos convencer de que a Lei da Poluição Sonora nos empobrece culturalmente... A riqueza cultural de uma cidade não está relacionada à poluição sonora. As pessoas que apoiam a lei também gostam de se divertir, vão a bares e restaurantes, ouvem música e participam da vibração da cidade. Por sua vez, aqueles que defendem o som alto precisarão, em algum momento, de silêncio para descansar, os músicos precisarão de silêncio e sossego para criar, para se concentrar, porque o silêncio é saudável e necessário, porque o silêncio faz parte da harmonia. Não se pode confundir controle da poluição sonora com cerceamento cultural, como não se pode confundir violência urbana com progresso, trânsito engarrafado com desenvolvimento, ambiente enfumaçado com liberdades individuais. Uma cidade não precisa ser caótica e barulhenta para ser vibrante, assim como a contemplação e o silêncio podem nos enriquecer culturalmente. A sala onde descansa o piano em que meu amigo músico faz os arranjos para seu próximo show será um ambiente mais agradável e produtivo se não houver uma betoneira no apartamento ao lado. * Alexandre Marino é jornalista e poeta, e vive em Brasília desde os anos 1980. Tem parcerias com o grupo Liga Tripa e publicou seis livros de poesia. Exília (Dobra Editorial, SP, 2013) é o mais recente.

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Dalton Valerio

DIA&NOITE

tudomudaenadamuda

Diego Bresani

osilênciodomundo A história de uma mulher que resolve largar tudo e velejar sozinha, dando uma volta ao mundo, é contada na peça de Iberê Carvalho, diretor do filme O último cine drive-in. É o primeiro espetáculo do diretor do filme vencedor dos prêmios de melhor filme e melhor ator no 18º Festival Internacional de Punta Del Este e de melhor atriz coadjuvante no Festival do Rio 2014. A peça também terá direção de Larissa Mauro e texto de Renata Mizrahi, vencedora do Prêmio Shell de Dramaturgia em 2014, e contará com coreografia de Jana Marques, diretora da Cia. Azzo Dança, e cenário de Maíra Carvalho, diretora de arte do filme premiado. O silêncio do mundo estará em cartaz por dois finais de semana em fevereiro, de 18 a 21 e de 25 a 28, sempre no horário das 21h, de quinta a sábado, e das 20h aos domingos. No último domingo haverá sessão também às 17h. Na véspera, 27, às 17h, o público poderá participar de um bate-papo com a atriz e idealizadora da peça, Juana Miranda, a velejadora profissional Christina Amaral e os diretores. Ingressos a R$ 10 e R$ 5.

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Não há primeiro encontro sem surpresas. No ar e nos olhares, existem perguntas difíceis e respostas quase impossíveis. O que pode ser dito? O que deve ser guardado? E, mais que tudo, quais segredos devem ser revelados para que o encontro tenha valido a pena? As respostas estão na peça Depois desse dia feliz, em cartaz de 19 a 28 de fevereiro no Teatro Goldoni (208/209 Sul). Com direção de Abaetê Queiroz e texto de Alexandre Ribondi, que também volta a atuar como ator, o espetáculo inédito tem no elenco Rafael Salmona. Um homem mais velho toma a iniciativa de escrever uma carta a quem ele sabe que existe, mas nunca viu, com quem nunca conversou. A carta tem um convite sucinto: “Venha”. O homem mais novo aceita o convite, sem ter ideia do que se trata. A partir desse primeiro encontro, suas vidas tomarão rumos inesperados. Sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 20h. Ingressos a R$ 40 e R$ 20. Reservas: 3443.0606.

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oquepodeserdito

peça-festa Esse é o conceito que o Grupo Liquidificador criou para a montagem Ultra-romântico, uma releitura do livro Noite na taverna, de Álvares de Azevedo (1831-1852), um dos expoentes da segunda fase do romantismo literário. Trabalhando a partir de improvisações, o grupo criou um roteiro que funde em uma única narrativa as histórias contadas no livro pelos personagens Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann e Johann. Ângela, uma mistura de musa idealizada pelo jovem romântico com mentora que guia o herói em sua jornada, é o fio condutor dessa aventura que tem na noite sua força motriz. É ao longo da noite que o jovem romântico encontra espaço para se libertar do tédio e da burocracia do dia. E para perpetuar esse ciclo de aventuras que só a noite proporciona, o Liquidificador pensou no conceito de “peça-festa”, no qual a festa funciona como uma continuidade da peça. Dias 27 de fevereiro e 12 e 26 de março no Teatro Dulcina, do Conic, às 22h (e a festa às 23h). Ingressos a R$ 20 e R$ 10 para a peça-festa e R$ 40 e R$ 20 para a festa somente. Classificação indicativa: 18 anos. Informações: 9633.8711 e 8544.2928.

Diego Bresani

Timon é um milionário que festeja seus amigos, a arte e o poder, mas se vê arruinado e abandonado por todos. Revoltado contra a humanidade, vai morar nas ruas, em tempos efervescentes de manifestações populares, com o propósito de derrubar o governo. Ele decide, então, se aliar aos manifestantes, mas logo se decepciona quando esses fazem uma coalizão justamente com o poder vigente. Em seu desespero, Timon desabafa: “Tudo muda e nada muda”. Assim é a versão atualizada de Timon de Athenas, de William Shakespeare (1564-1616), protagonizada por Vera Holtz em peça com elenco de 12 atores se revezando em 22 papéis. Dirigida por Bruce Gomlevsky, a montagem estreou no Teatro Maison de France, no Rio de Janeiro, em outubro de 2014, na celebrada adaptação do National Theatre de Londres, dirigida por Nicholas Hytner em parceria com o dramaturgo Ben Power. A montagem brasileira segue uma tendência internacional em peças shakespearianas, em que atrizes de grande renome interpretam papéis masculinos. A crítica teatral Bárbara Heliodora, falecida no ano passado, assinou a tradução a partir do texto original. Seguindo uma tendência mundial, a trama foi transposta para os dias atuais e localiza a ação no centro do poder de uma grande capital federal. A peça chega a Brasília para curta temporada, no Teatro Unip (913 Sul), nos dias 11 e 12 de março, às 21h, e no dia 13, às 18h30. Nas cidades por onde passa, a produção seleciona atores locais para compor o elenco. Ingressos a R$ 25 e R$ 12,50. Informações: 2192.7080.


Gustavo Serrate

chamamento

flamenconofortunello Toda quarta-feira, às 20h30, tem show de flamenco no Fortunello Restaurante, da 206 Sul. A apresentação do grupo Capricho Espanhol, dirigido pela bailaora e coreógrafa Patrícia Weingril, começou dia 13 de janeiro e prosseguirá até 30 de março, podendo se estender por mais dias, com muitos sapateados, floreos, braceos, castanholas e cajón, ao ritmo do som de Andaluzia. O couvert artístico custa R$ 17. Nesses dias, o restaurante serve paella, a R$ 83, mas todo o cardápio da casa, composto por entradas (tapas e pinchos), massas, peixes e carnes também pode ser consumido ao som do flamenco. Informações: 3297.3232.

O tema é música. Até 21 de março estão abertas as inscrições para a 8ª edição do In-Edit Brasil – 8º Festival Internacional de Documentário Musical, que acontecerá de 1º a 12 de junho em São Paulo. O melhor longa-metragem será exibido no In-Edit Barcelona 2016, com a presença do diretor. O festival, que no ano passado recebeu o prêmio especial da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), promove uma mostra competitiva destinada a longas-metragens nacionais, e também mostras internacionais, homenagens e sessões especiais com shows musicais e debates. Todas as obras devem ser inéditas no circuito comercial brasileiro. O formulário de inscrição está disponível no site do festival (www.in-edit-brasil.com).

Yorimatã: longa-metragem de Rafael Saar, vencedor em 2014.

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Luiz Fernando Borges da Fonseca

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Esse é o nome do novo CD de Fábio Miranda, atração do dia 24 de fevereiro, às 21h, no Clube do Choro. É o segundo disco do músico, que se diz arrebatado pela viola caipira, com canções autorais, a maioria em parceria com o paulistano, radicado em Brasília, Adalberto Rabelo Filho, interpretadas com a viola de dez cordas e voz. No show de lançamento, Fábio estará acompanhado de Fernando Miranda (percussão), Fernando Rodrigues (baixolão/viola), Lucas Muniz (sanfona/ clarinete), Pedro Vaz (percussão) e Thiago Ribeiro (violão). O novo CD, ao contrário do primeiro, Caravana Solidão (2012), se destaca pelas participações de músicos que têm uma história com Fábio. Ele reúne desde jovens compositores de Brasília, como Paulo Ohana, Gabriel Preusse, Rafael Miranda, Lidi Satier, Henrique Neto, Paula Zimbres, até músicos com mais estrada, como Marcos Farias, Gonçalo Aquino (conhecido como Sivuquinha de Brasília) e o DJ Jamaika. Além dos convidados, o álbum conta com a presença de alguns mestres da viola que influenciaram a caminhada de Fábio Miranda, como Badia Medeiros, Zé Mulato, Marcos Mesquita, Roberto Corrêa, Aparício Ribeiro, Cacai Nunes e Ricardo Vignini. “Fui movido pelo espírito agregador da música e saí chamando todo mundo. Veio daí a ideia do título do álbum, Chamamento, explica o violeiro. Ingressos a R$ 30 e R$ 15.

cinemondatta Grupo que mistura ritmos mineiros, africanos, jazzísticos, eletrônicos e de rock inglês, o CineMondatta se apresenta dia 20 no Clube do Choro. Seu primeiro disco, intitulado Blá.gue, foi lançado em 2014, em show que contou com participação especial da cantora Ellen Oléria. Formada por Renato Galvão (bateria), Léo Barbosa (percussão), João Pedro Mansur (guitarra e vocal), Felipe Viegas (teclado) e Jadão (baixo), a banda foi destaque na crítica como uma das dez mais promissoras, pelo virtuosismo de seus instrumentistas e composições únicas. No início de 2015, o cantor Dani Black fez participação em um dos shows do CineMondatta em Brasília. No show, que começa às 21h, a banda apresenta músicas do disco de estreia e inéditas que farão parte de seu novo trabalho. Ingressos a R$ 30 e R$ 15. Informações: 3224.0599. 15


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A obra Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach, serviu de inspiração para o trabalho da artista plástica mineira Ropre, cujas obras têm como cor predominante o azul. Até 2 de março, o Centro Cultural Câmara dos Deputados apresenta 14 pinturas da artista em acrílica sobre algodão cru, na exposição Reinvenção de trajetórias entre signos. Ao se inspirar na história de Richard Bach, sobre uma gaivota que tenta atingir seus limites e encontrar um sentido maior para a vida, Ropre levou para suas obras uma metáfora do voo do pássaro. Formada em Artes Plásticas pela Universidade Federal de Uberlândia em 2010, Ropre já participou de 120 exposições coletivas e individuais no Brasil e em diversos países, como Índia, Romênia, Estados Unidos, Espanha e Canadá. A artista começou a desenhar aos nove anos de idade e atualmente desenvolve o projeto Uberinvasão, em Uberlândia, sua cidade natal. A ideia é democratizar as artes visuais. O projeto consiste na exposição de trabalhos de vários artistas em bairros fora do circuito cultural. Ao final, esses trabalhos são doados ao público. De segunda a sexta-feira, das 9 às 17h, com entrada franca.

dosedupla Os artistas plásticos Eduardo Moraes, brasiliense, e Prabhu, gaúcho, apresentam sua arte no Centro Cultural Câmara dos Deputados até 16 de março. O primeiro traz uma série de pinturas em acrílica sobre tela que seguem o mesmo eixo poético da pesquisa intitulada Caminhos (re)feitos, nas quais ele propõe uma experimentação com novas ideias e imagens sobre uma representação já criada. Graduado em Comunicação Social pela Universidade Católica e em Artes Plásticas e Museologia pela UnB, seus trabalhos concentram-se nas áreas da pintura, desenho e fotografia. Já o gaúcho Prabhu participa da coletiva com a exposição Momentos de criação – A terra da magia, composta por 11 telas (como a da foto ao lado) pintadas nas técnicas acrílico sobre tela, aquarela sobre papel e acrílico em tela sobre madeira, entre outras. O artista iniciou sua carreira em 1977, após retornar da Índia e deixar a faculdade de arquitetura para se dedicar exclusivamente às artes visuais. Ele é professor da técnica batik e já realizou mais de 70 exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Espaço do Servidor, Anexo II, com entrada franca. De segunda a sexta-feira, das 9 às 17h.

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Castelos, museus, monumentos e festivais integrantes da cultura francesa sob a ótica da fotógrafa Maria Flore. Assim é a mostra Imagine France, em cartaz na Aliança Francesa (708 Sul) até 3 de março. Lá estão 25 fotos que propõem um olhar novo, poético e peculiar sobre esses locais visitados por tantos turistas de todas as partes do mundo. Entre julho e setembro de 2013, a fotógrafa francesa percorreu as estradas de seu país e visitou 25 locais de interesse cultural, elegendo cenas que a inspiraram a criar um personagem para cada um dos locais por onde passou. Assim, as fotos revelam atores vivos, expressivos e surpreendentes, que ora encenam, ora assumem o papel de espectadores. São personagens recorrentes que dão vida e renovam os patrimônios visitados. De segunda a sexta-feira, das 9 às 18h, e sábado, das 9 às 12h, com entrada franca.

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transformers As férias escolares acabaram, mas a programação infantil ainda está recheada. As incríveis máquinas-robôs que encantam as crianças brasileiras desde 1997 estacionam na praça central do ParkShopping e lá ficam até 9 de março. São nove esculturas gigantes dos personagens mais marcantes da saga Transformers, que encantaram milhões de pessoas nos desenhos animados e telas de cinema. O acervo é assinado pelo artista asiático Jienyue Zhou, que produziu alguns dos itens com peças de carros reciclados. Fazem parte da exposição o nobre herói Optimus Prime, o vilão Lord Megatron, o temível Fallen, o especialista em armas Ironhide, o explorador Jetfire, o sobrevivente Hound, o infiltrado Mudflap e o guerreiro Drift, sendo quatro deles acompanhados dos seus dinobots animatronics. Um dos dinossauros animatrônicos chega a cinco metros de altura e 12 de comprimento. “É uma exposição que chama a atenção pela dimensão, pelo material utilizado e detalhamento das peças,” ressalta a gerente de marketing, Natália Vaz. De segunda a sábado, das 10 às 22h, e domingos e feriados, das 12 às 20h. Entrada franca.

artenomemorial Mostras de fotografia, escultura, pintura, gravura, desenho e lançamentos de livros têm espaço no Memorial TJDFT, que abriu inscrições para seleção de artistas e escritores interessados em ocupar o espaço do tribunal em 2016. As obras deverão abordar, preferencialmente, temas relacionados a justiça, democracia, cidadania, história e datas comemorativas. Podem se inscrever pessoas físicas maiores de 18 anos, artistas consagrados e novos talentos da arte contemporânea, escritores brasileiros ou estrangeiros em situação legal no país e pessoas jurídicas de Direito público ou de Direito privado sem fins lucrativos. Inscrições até 29 de fevereiro, no Memorial TJDFT, localizado no 10º andar do Bloco A, Ala A. Informações em memoria@tjdft.jus.br. Telefone: 3103.5893.

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vivaadiferença De 2 a 14 de março, o CCBB apresenta a sétima edição do Assim Vivemos – Festival Internacional de Filmes sobre Deficiência, realizado a cada dois anos para convidar o público a refletir sobre preconceito, invisibilidade social, superação, inserção e acessibilidade. Serão exibidos 33 filmes de 20 países, entre curtas, médias e longas-metragens, nas categorias ficção e documentário. Dos selecionados, há sete produções brasileiras, com destaque para A onda traz, o vento leva, do diretor Gabriel Mascaro, documentário sobre um jovem surdo do Recife. Entre os internacionais, destaque para o alemão Carmina – Viva a diferença (foto), de Sebastian Heinzel, sobre um projeto internacional de dança que reúne 300 pessoas, com e sem deficiência, tanto dançarinos profissionais quanto amadores, para dançar a mundialmente famosa Carmina Burana, de Carl Orff. O tema central dessa empreitada – a inclusão – é um ponto contra o qual os participantes se rebelam repetidas vezes. Programação em www.assimvivemos.com.br/

O que a capoeira, o teatro de bonecos nordestinos e as baianas de acarajé têm em comum? Essas e mais 35 manifestações tipicamente brasileiras foram catalogadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), sendo que cinco foram declaradas Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco. Para conhecer melhor todas elas, a Caixa Cultural apresenta, até 27 de março, a exposição Patrimônio imaterial brasileiro – A celebração viva da cultura dos povos, que já passou por Rio de Janeiro, Fortaleza, Salvador, Recife e São Paulo, e chegou a Brasília ampliada. Isso porque a mostra original apresentava 30 bens culturais declarados patrimônio imaterial e o Iphan ampliou esse número. Nos últimos 15 anos, a instituição tem registrado patrimônios imateriais brasileiros, conceito estabelecido pelos artigos 215 e 1.216 da Constituição Federal de 1988, que caracteriza os bens de natureza material e imaterial, incluídos aí os modos de criar, fazer e viver dos grupos formadores da sociedade brasileira. Idealizada pela relações públicas Fernanda Pereira, o produtor cultural Luiz Prado e a pesquisadora e escritora Mirna Brasil Portella, a mostra tem curadoria de Luciano Figueiredo. O grupo dos 38 patrimônios culturais foi dividido em quatro categorias: Saberes, Lugares, Celebrações e Formas de Expressão. De terça a domingo, das 9 às 21h , com entrada franca.

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Doutor Jivago, Love story, O poderoso chefão, A vida é bela, Gladiador, Bonequinha de luxo, West side story e Evita. Músicas desses filmes estão no repertório do tenor italiano que se apresenta em São Paulo, dia 12 de outubro, em sua turnê Cinema world tour. Privilegiados 55 mil espectadores que comparecerem ao Allianz Parque poderão ver Andrea Bocelli interpretar músicas do último disco, Cinema, lançado em outubro passado, algumas em duetos com Ariana Grande, Paty Cantú (em sua versão hispânica) e Nicole Scherzinger (em sua versão internacional). O CD ficou diversas semanas entre os mais vendidos em todo o mundo. O artista italiano de 57 anos veio ao Brasil pela última vez em dezembro de 2012. Naquela época, os ingressos chegaram a custar R$ 2 mil. Para a próxima apresentação, os ingressos custam entre R$ 150 e R$ 1.200. Informações: (11) 4003.1212, de segunda a sexta, das 9 às 20h. Ingressos com taxa de conveniência em www.ingressorapido.com.br.

Ele adora viajar, explorar novos planetas, conhecer novas pessoas e estimular a imaginação de todos, para que o universo seja sempre mais interessante. Com suas músicas alegres, Bita, o personagem em questão, promete encantar as crianças que forem ao seu show no Teatro da Unip (913 Sul), nos dias 27 e 28 de fevereiro. Sucesso entre a criançada, com mais de 100 milhões de visualizações no Youtube e um DVD de Ouro, Bita, Lila, Tito e Dan divertem ao vivo com um show interativo e cheio de energia. Habitantes da Galáxia da Alegria, entre o Planeta Música e o Planeta Circo, localiza-se o maravilhoso Mundo Bita, com seus seres verdes super engraçados chamados de plots. O lugar é mais conhecido por ser a casa do amigão de bigode laranja e cartola na cabeça, o Bita! No Show do Bita, a trupe canta e brinca com a garotada, incentivando o público a embarcar no mundo encantado da imaginação. Entre as músicas mais consagradas estão Fazendinha, Viajar pelo safari e Chuá tchibum. Sábado e domingo, às 15h. Ingressos a R$ 100 e R$ 50, à venda nas lojas CiaToy.

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GALERIADEARTE

O mago das capas TEXTO E FOTOS HEITOR MENEZES

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s grandes capas de discos, obviamente da época do vinil, têm ares de arte pop. Andy Warhol que o diga. Porém, nomes como Roger Dean (capas do Yes), Hipgnosis/Storm Thorgerson (Pink Floyd), Peter Saville (New Order, Peter Gabriel), Anton Corbijn (U2/Depeche Mode), dentre tantos, ajudaram a consolidar esse veículo como tal. No Brasil, salta à mente o nome de Elifas Andreato. Como artista gráfico, ilustrador, jornalista e além, esse paranaense (70 anos completados em janeiro) revolucionou esse segmento aliado da música, ao conferir o termo projeto gráfico – de muito bom gosto – a centenas de trabalhos de artistas, músicos do mais alto calibre da música popular brasileira, tipo Paulinho da Viola, Chico Buarque, Elis Regina, Adoniran Barbosa e Martinho da Vila, para lembrar alguns. E é esse Elifas Andreato, o artista gráfico e além, que a gente pode conferir em

exposição comemorativa de 50 anos de profissão, no Museu dos Correios. Em revista, 80 trabalhos que passeiam pela arte gráfica em capas de discos, cartazes e publicações marcantes da imprensa alternativa dos anos 1970, além de prêmios recebidos ao longo da carreira. Imagem marcante do que estamos falando certamente é a capa do disco Nervos de aço (1973), de Paulinho da Viola, cujo acrílico sobre papel, original, está lá para quem for conferir. Andreato já contou a história de que, quando viu a capa, Paulinho ficou encabulado, pois o visual denunciava o estado de coisas pelo qual ele passava: a separação da esposa à época. O Paulinho chorando com o buquê, longe de ser piegas, preparava o ouvinte para o conteúdo autoral daquele LP. Ademais, é Paulinho cantando Lupicínio. Até os brutos se derretem. Na abertura da exposição, Elifas Andreato, entre um cumprimento e um pedido de fotos, disse o seguinte à Roteiro: “Olhando com um certo distanciamen-

Elifas Andreato foi personagem de reportagem publicada na edição nº 120 da Roteiro, de maio de 2007.

to, digo que tenho a preocupação de sempre servir aos outros. As ideias que eu ilustrei são maiores do que a obra que posso fazer. A responsabilidade que isso traz é... fazer o convite certo. Você não pode fazer o convite errado para uma grande obra ou um grande criador”. E como criador, Andreato explica parte do processo, no qual o domínio da técnica está subordinado ao resultado final de uma ideia, em que transparece o traço inconfundível, verdadeira assinatu-


GRAVES&AGUDOS

Exposição Elifas Andreato – 50 Anos Até 3/4, no Museu dos Correios (Setor Comercial Sul, Quadra 4), com entrada franca. De 3ª a 6ª feira, das 10 às 19h; sábados, domingos e feriados, das 12 às 18h. Mais informações: 3213.5076 e www.correios.com.br/cultura.

Música popular refinada Vitor Schietti

ra autoral: “Sempre achei necessário fazer um desenho que fosse capaz de comunicar as ideias. Ou usar técnicas que alcançassem essa proximidade com a obra que quero divulgar. Usei de tudo, desde uma ossada de cavalo (cartaz da peça Rezas de sol para a missa do vaqueiro, de 1978) a entalhes (capa do disco Pelas terras do Pau Brasil, de João Nogueira) e esculturas, para comunicar aquilo que me interessava. Foi isso que fiz a vida toda e continuo fazendo”. E a influência estilística, o traço, o corpo humano muito bem retratado, de onde vem, Elifas? “A influência vem da Renascença. A condição humana sempre foi a minha grande preocupação. É o que sempre me interessa, o humano, do trabalho infantil ao político. Nunca fui de pura abstração, objetos geométricos, nunca desenhei uma paisagem. É o que me comove. Meu mais recente trabalho se chama Fuga da Síria, um retrato de um pai com uma criança. É um trabalho poderoso, grande. Influência? Michelangelo”. Ao ver nas mãos do repórter um exemplar da Roteiro n° 120, de maio de 2007, que contém entrevista feita pela jornalista Angélica Torres quando da exposição comemorativa de seus 60 anos de idade, no Centro de Convenções Brasil 21, Elifas faz aquela cara de quem se assusta com o tempo: “Isso já tem quase dez anos! Passa rápido pra cacete!”. Ao comentário de que naquela época ele se queixava dos desvios que resultaram em decepção com o governo Lula, o artista tenta se esquivar de assunto desagradável, mas manda na lata: “Bando de fdp. A gente já antevia ali que a coisa era pior do que aquilo que a gente observava na Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Passei a ser uma pessoa incômoda, quando batia às portas do governo, apresentando projetos, porque eu não fazia rolo. Precisava de anúncios na minha revista Almanaque, mas pegava chá de cadeira, não dava em nada. Apresentei o projeto O melhor do Brasil são os brasileiros, baseado em Câmara Cascudo, mas o Luiz Gushiken, que nunca me recebia, simplesmente ignorou”.

POR LÚCIA LEÃO

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m 2010, o musicólogo e crítico musical Zuza Homem de Mello ouviu o CD Eu venho vagando no ar, de um jovem músico de Brasília, que estreava já como um cancionista maduro no universo fonográfico nacional, e teceu o seguinte comentário: “Proponho aos ouvidos atentos prestarem bastante atenção ao trabalho musical de Túlio Borges. Depois a gente conversa”. Pois bem, depois é agora. Está mais do que na hora de falar sério sobre o trabalho refinado e cativante desse jovem que encerra em Brasília, dia 1º de março, a turnê de lançamento do seu segundo álbum, Batente de pau de casarão. Pra começar a apresentação desse trabalho, ele foi eleito, entre 1.252 títulos, o segundo melhor disco produzido no Brasil em 2015. E Tu, a faixa do disco em que o compositor homenageia a companheira Marina Fauth, ficou em quarto lugar no ranking das mais belas canções. Fala sério! Batente de pau de casarão é dedicado à cidade pernambucana de São José do Egito, considerado o berço da poesia popular nordestina. Lá estão as raízes paternas de Túlio, o que pode explicar um bocado a alma do artista que, brasiliense, é um

tanto conterrâneo de nomes sagrados do panteão do repente como Louro do Pajeú, Rogaciano Leite e Antônio Marinho. Neste trabalho, Túlio se expõe por inteiro: resgata e insere o Sertão do Pajeú na musicalidade moderna e singular desenvolvida nas teclas do piano, desde a adolescência, em Brasília. Para isso, conta com a parceria de grandes poetas nordestinos, como Jessier Quirino, Climério Ferreira e Afonso Gadelha, e com alguns dos mais talentosos músicos de Brasília e do Brasil, como Rafael dos Anjos (violão), Júnior Ferreira (acordeom), Pedro Vasconcelos (cavaquinho), Victor Angeleas (bandolim), Daniel Sobreira (violão de aço) e Papete (percussão). No show do Sesc, ele subirá ao palco com Fernando César (violão de 7 cordas), Pedro Vasconcellos (cavaquinho), Júnior Ferreira (acordeom), Valério Xavier (percussão) e Afonso Gadelha (percussão e voz). Para quem não conhece, Batente de pau de casarão – assim como o álbum de estreia, Eu venho vagando no ar – pode ser baixado no site do artista (www.tulioborges.com), onde se encontram também letras e cifras das músicas. No momento em que encerra a turnê de lançamento de Batente de pau de vasarão, Túlio já anuncia o próximo trabalho, o álbum Cutuca meu peito incutucável, com lançamento previsto para junho. “Está repleto de canções que falam de desejo, de paixão e que cutucam as feridas de todo coração que já amou. As gravações estão lindas e apaixonadamente elaboradas”, revela o autor. Como os dois trabalhos anteriores de Túlio Borges, Cutuca meu peito incutucável é uma edição do autor e que conta com a venda antecipada para a finalização. Quem participar desse esforço receberá o disco pelo correio sem custo de frete e com outros mimos, como o download do novo álbum com um mês de antecedência do lançamento oficial, acesso a faixas extras e cifras manuscritas. Os interessados podem fazer a compra antecipada, por R$ 30, no site do artista ou durante o show no Sesc. Batente de pau de casarão

1/3, às 20h30, no Teatro Sesc Garagem (913 Sul)

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Fotos: Divulgação

GRAVES&AGUDOS

O pulso ainda pulsa POR HEITOR MENEZES

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as grandes bandas do BRock dos anos 1980, a Plebe Rude, o Capital Inicial, os Titãs e os Paralamas do Sucesso são aquelas que continuam agitando e honrando a camisa. Trinta e tantos anos depois, não é fácil manter o pique, mas os eternos jovens senhores que militam nesses grupos sabem por onde passa a caravana e estão aí para provar que o pulso ainda pulsa. Com essa premissa em mente, e por gostar das canções e da atitude dos envolvidos, vale a pena sair de casa para curtir ícones de nossa música, autores de canções memoráveis. No dia 5 de março, no NET Live Brasília, casa de shows à beira do Paranoá, na Vila Planalto, Paralamas e Titãs fazem dobradinha no Brasília Rock Show. Curiosamente, no mesmo dia, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, o cantor Nando Reis (durante muito tempo uma das principais cabeças dos Titãs) comanda a plateia apenas com voz e violão. Dos Titãs espera-se sempre aquela energia, ainda mais agora, que retomaram o som mais pesado, em detrimento das baladas de acento mais leve. A bordo do disco Nheengatu, lançado em maio de

2014, os Titãs, de Branco Melo, Sérgio Brito, Paulo Miklos e Tony Beloto, prometem que ainda têm muito combustível pra queimar. O interessante do mais recente trabalho é que ele tem forte influência de outra obra marcante do próprio grupo, o fundamental Cabeça dinossauro (1986), que foi retomado em 2012, ano de comemoração dos 30 anos atividades da banda. De tanto tocar as músicas de Cabeça dinossauro” (AAUU, Igreja, Polícia, Bichos Escrotos), os remanescentes do grupo acabaram recebendo doses de revitalizante, que redundaram na mais recente aventura sonora. Quanto aos Paralamas, algo realmente mudou no grupo desde que o cantor e principal compositor Herbert Viana sofreu aquele acidente, em 2001, com um ultraleve, numa praia do Rio de Janeiro. Depois desse evento, que resultou no falecimento da esposa de Viana, Lucy, e fez com que Herbert ficasse numa cadeira de rodas, o grupo voltou mais sério e o som ficou mais cru, consequentemente mais pesado. Mesmo sucessos radiofônicos antigos, como Meu erro, A novidade e Alagados, ganharam nova musculatura, mas não perderam a originalidade. Assim como os Titãs, os Paralamas

construíram sólida carreira e têm repertório para horas e horas de apresentação, sem deixar a peteca cair. O mais recente trabalho de inéditas do grupo é o álbum Hoje, lançado em 2008. De lá até os dias atuais, os Paralamas cumprem agenda lotada de shows, praticamente dispensando uma nova fornada de hits. Para completar a trinca, Nando Reis bem que poderia entrar na roda, mas tem mais o que fazer com sua carreira solo, tão bem-sucedida quanto a que teve como baixista e vocalista dos Titãs. Como membro da trupe titânica, ele assinou sucessos desde o primeiro disco, de 1984, até o último em que apareceu como membro – A melhor banda de todos os tempos da última semana (2001). Como artista solo, tornou-se um dos músicos de maior sucesso e prestígio do BRock. Difícil é escolher para onde ir no mesmo dia. quase na mesma hora: NET Live ou Centro de Convenções. Brasília Rock Show

5/3, às 21h, no NET Live Brasília (SHTN, Trecho 2). Ingressos (meia): R$ 50 (pista) e R$ 80 (frente do palco). Mais informações: 3342.2232.

Nando Reis – Voz e violão

5/3, às 22h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ingressos (meia): R$ 50 (poltrona superior), R$ 80 (poltrona especial), R$ 100 (poltrona lateral) e R$ 150 (poltrona vip). Mais informações: 3364.2694.


Campeões de longevidade E

spantado com a vitalidade dos Rolling Stones? Cinquenta e tantos anos de carreira e ainda contando. Mas pedra que não cria limo mesmo é o conjunto Demônios da Garoa, atração no Teatro da Caixa Cultural de 18 a 21 de fevereiro. Tudo bem, os integrantes não são os mesmos capetas da formação original, iniciada nos anos 1940, em São Paulo. Mas a verve da atual moçada de interpretar sambas clássicos continua intocada. Vocal e ritmo, Arnaldo Rosa, considerado o fundador, faleceu em 2000; o violão tenor Antônio Gomes Neto, o Toninho, partiu para outra em 2005; o outro violão fundador, Artur Bernardo, foi- se antes, em 1990. Dentre os membros que entraram e saíram ao longo de tantos anos, ficaram atualmente (a confirmar) Ricardo Rosa, o Ricardinho (pandeiro), neto de Arnaldo Rosa, Roberto Barbosa, o Canhotinho (cavaquinho), Dedé Paraizo (violão de sete cordas), Izael Caldeira da Silva (timba) e Sérgio Rosa (afoxé). Enfim, são os demônios, ninguém duvida, o grupo que, em 1994, entrou

no livro dos recordes, o Guinness Book, como o “conjunto vocal brasileiro mais antigo em atividade”. Consta que, ao longo da carreira, contabilizam-se mais de 30 gravações em 78 rpm, dezenas de compactos, LPs, CDs, DVDs, totalizando mais de 60 discos. As coisas boas são assim, viram instituições duradouras. Basta o grupo pôr em ação o desfile de sambas paulistanos do genial Adoniran Barbosa (1910-1982) – Trem das onze, Malvina, Saudosa maloca, Mulher, patrão e cachaça, Samba do Arnesto, Joga a chave, Tiro ao Álvaro – para o público ficar em estado de graça, tal o impacto que essas canções exercem no imaginário. Músicas que ativam o botão da felicidade, pode apostar. Como se explica tal longevidade? Elegância, acima de tudo, brasilidade de alta qualidade, e a sacação dos atuais membros de que, em que pese o desparecimento de músicos originais, a ideia, as histórias e a música que sustentam o grupo permanecem, tal o interesse que continua despertando no público. E se não bastasse, favoritas nos shows são os pot-pourris de Ataulpho Alves e

de Noel Rosa, além de Você abusou (Antonio Carlos e Jocafi), Regra três (Toquinho e Vinícius de Moraes) e até Óculos (Paralamas do Sucesso). Os Demônios tocam rock, viu, Rolling Stones! Ao final, fica a dúvida, sempre bemvinda: o que esses caras cantam em Trem das onze? Uns dizem: “Faz, faz, faz, faz, faz, faz. Faz caringundum...”. Outros cantam: “Quais, quais, quais, quais, quais, quais. Quaiscalingumdum”. Ou “quais, quais, quais, quais...”, no Samba do Arnesto. Ou “joga as cascas pra lá, joga as cascas prá lá”, em Saudosa maloca. É “enrolation”, muita onomatopeia, a cara do Adoniran, uma cara que sabia tirar sarro e fazer rima (“Pafunça, Pafunça, que pena, Pafunça. Que a nossa amizade virou bagunça”). Basta lembrar do maravilhoso português terrível: “Nós fumos, não encontremos ninguém... Baita duma reiva... Da outra vez nós num vai mais... Você devia ter ponhado um recado na porta”. Os gênios escrevem por linhas tortas. Demônios da Garoa

De 18 a 21/2, no Teatro da Caixa Cultural (SBS) De 5ª a sábado, às 20h; domingo, às 19h.

Divulgação

POR HEITOR MENEZES

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DIÁRIODEVIAGEM

Fascinantes

paisagens chilenas

A incrível aventura de 18 brasilienses, de moto, rumo ao deserto do Atacama. POR ANA VILELA

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paisagens, 18 desafiantes, 18 desafios. Às 8h da manhã de 16 de janeiro, estávamos todos na Esplanada. Amigos, parentes, curiosos, a imprensa. Havia ansiedade, certo nervosismo, medo, expectativa, animação e aquele brilho nos olhos causado pelo desconhecido, pelo novo. Rodaríamos no mínimo 600 quilômetros por dia, às vezes até 900 quilômetros. Já sabíamos que pegaríamos chuva ainda na BR 060 e assim foi durante boa parte do trajeto, até chegarmos a nosso primeiro destino, São José do Rio Preto. Esta viajante aqui andava de moto

Ana Vilela/Matosta Tur

oderia ficar com números apenas. Cerca de 8,5 mil quilômetros percorridos. Altitude de 4,8 mil metros no ponto mais alto da Cordilheira dos Andes pelo qual passamos. 42ºC cravados no termômetro da moto na Ruta 16, Província de Chaco, indo de Corrientes a Salta, onde, não à toa, fica a cidade Pampa del Infierno. Já retornando ao Brasil, 5ºC negativos na manhã de 26 de janeiro, quando cruzamos novamente a Cordilheira, rumo ao Paso Jama (con-

forme escrito nas placas, no entanto, encontramos também Paso de Jama), fronteira entre Chile e Argentina. Mas a viagem de Brasília ao deserto do Atacama, no Chile, iniciada na manhã de 16 de janeiro, foi muito, mas muito além de números e de paisagens de parar a respiração, agradecer a Deus, sentir o corpo arrepiar, lágrimas nascerem... O grupo inicial para esta aventura teria 22 pessoas, 16 motos, um carro de apoio. Mas os fatores inesperados começaram ainda durante a organização. Seguimos adiante com 14 motos e 18 pessoas – 18

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Godô

La Portada, um dos mais belos monumentos naturais do Chile.

da Mata Atlântica, tanto do lado brasileiro quando do argentino, um dos trechos mais bonitos de estrada em toda a viagem. Em Corrientes, nossa primeira noite do outro lado da fronteira, fomos praticamente todos atacar um enorme bife de chorizo e tomar nossa primeira garrafa de vinho ou algumas cervejas. Aliás, da Argentina ao Chile, algo que chama a atenção é o tamanho dos pratos – ao menos por onde passamos. Principalmente no Chile. Geralmente, o individual serve duas pessoas, ou até mais, para os que co-

mem pouco. Outros pontos a destacar são o atendimento e a hospitalidade tanto dos argentinos quanto dos chilenos. Depois do chorizo e de um pouco de descanso, outro grande desafio nos esperava de Corrientes a Salta. Pegamos a Ruta 16 e atravessamos as províncias de Chaco e de Santiago del Estero. Uma região insuportavelmente quente. Uma grande reta deserta. Animais a invadirem a pista o tempo todo. Muitos trechos passando por reforma. E uma imensa invasão de borboletas amarelo-claras. Ana Vilela/Matosta Tur

pela primeira vez, mesmo sendo garupa. Não sabia o que esperar. Tudo me surpreendia. A chuva, já no início, foi o primeiro presente. A integração corpo, máquina e natureza me fascinou desde os quilômetros iniciais e as primeiras gotas. Nossos impasses, no entanto, começariam logo. Foi na BR 153, antes de Prata (MG), que uma moto teve de ir para o carro de apoio. O motivo? Buracos e mais buracos na pista. A aventura havia mesmo começado. Em uma viagem como a nossa, longa, por estradas às vezes desertas, os imprevistos são inevitáveis. Foram quatro motos no conserto. No retorno ao Brasil, duas ficaram para trás. Máquinas e pessoas ultrapassando seus limites. Para quem deseja embarcar em uma jornada como essa, o primeiro conselho é: desgarre-se das expectativas, prepare-se para o inesperado, abra-se ao novo, a tudo que vier. Em 8,5 mil quilômetros de chão, 15 dias e muitos destinos, na companhia de pessoas as mais diferentes, inicialmente desconhecidas, tudo, tudo mesmo pode acontecer. A maravilha está em, exatamente, deixar vir, deixar sentir, permitir o novo. Nosso segundo dia seguiu com a moto ainda na carreta. Dormiríamos em Foz do Iguaçu. Depois, no dia seguinte, já entraríamos na Argentina, onde se percorre alguns quilômetros pelo Parque Nacional Iguazú, com extensa área preservada

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DIÁRIODEVIAGEM Paulo Stangler

Teve também sua beleza. Não para as motos e visores. Todos, ao final, pintados de insetos. Às vezes, completamente tomados. Os isotônicos e a água foram nossos maiores aliados durante todo esse trajeto, ou melhor, durante toda a viagem. Nesse trecho, tivemos a segunda moto com problemas, consertada em uma oficina de beira de estrada, igual àquelas de filmes ambientados nos desertos dos Estados Unidos. E talvez pelo cansaço, pela fome, sabe-se lá, ou talvez porque estivesse mesmo bom, comemos por ali a melhor milanesa. Como se sabe, os argentinos são apaixonados pelo que chamamos de bife à milanesa. Passadas as borboletas, as cabras e os cavalos soltos na estrada e alguns trechos complicados, às vezes escorregadios, por causa das reformas, chegar à cidade de Salta foi realmente redentor. Ninguém havia ali que não estivesse cansado. Âni-

A longa jornada

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mos, não à toa, se exaltaram. Era o teste humano. O limite. Cada um com sua razão, com seu corpo, com seus medos, dores, desafios e aprendizados. Tudo, no entanto, tem sua recompensa. O dia seguinte nos traria o que, para mim, foi um dos trechos mais fascinantes de toda a viagem. Saímos de Salta e atravessamos a Provincia de Jujuy para chegarmos a Paso Jama, fronteira entre a Argentina e o Chile, a 4,2 mil metros de altitude, em um total de 470 quilômetros rodados de muitas curvas fechadas, perigosas, a exigirem baixa velocidade, mas, ao mesmo tempo, permitindo vislumbrar uma paisagem única. Este ponto une a Provincia de Jujuy, na Argentina, à Región de Antofagasta, no Chile, pelas rutas Nacional 52, da Argentina, e 27-CH, distante 157 quilômetros de San Pedro do Atacama (Chile) e 155 quilômetros da cidade de Susques (Argentina).

O grande presente do caminho foi assistir à Cordilheira dos Andes se aproximar, depois se ver em seus aclives, no íngreme, acompanhando a mudança da paisagem, a cor dos montes, do verde ao ocre. Realmente, para mim, foi a melhor experiência de todas, além de chegar, depois, ao Oceano Pacífico. Durante todo esse trajeto, senti meu corpo se arrepiar. Quem vai a San Pedro do Atacama deve mesmo partir de Salta. No caminho, ao menos uma noite na cidade andina de Purmamarca (Pueblo de la Tierra Virgen), Provincia de Jujuy. Deu vontade de ficar por ali um ou dois dias, ver mais de perto o Cierro de Los Siete Colores, saber um pouco da rica história local. Mas o grupo não parou em Purmamarca. Seguimos direto, por entre a Cordilheira, passando pela cidade argentina de Susques, a quase 4 mil metros de alti-


tude, para abastecer. Posto? Não. Uma única bomba cheia de adesivos de viajantes do mundo todo. Um marco. Ali, nos emocionamos, nos sentimos todos gratos. Saímos dessa última cidade antes da fronteira com a certeza de que, sim, valia a pena estar na estrada. Em Paso Jama, por motivos estratégicos, o grupo se dividiu. Uma parte dormiu na Argentina. Outra, mais aventureira, se deliciou ao ter de enfrentar a descida da Cordilheira até San Pedro de Atacama durante a noite. O reencontro foi na manhã do dia seguinte, à beira da piscina. Um refresco para todas as almas e corpos. Em San Pedro, que fica na Provincia de El Loa (uma das três províncias que formam a Región de Antofagasta, composta também pelas províncias de Antofagasta e Tocopilla), tivemos mais tempo para os amigos, para a cerveja, para o vinho, para as carnes

Ana Vilela/Matosta Tur

e para o melhor ceviche que já comi. Dali, a cada um dos cinco dias que passamos no deserto, novas surpresas. Banhos na Laguna Miscanti e em Ojos del Salar, Lascar Volcano e visita ao Valle de la Luna, com direito a um pôr do sol de tirar o fôlego e, depois, à lua cheia. O tempo não foi suficiente para tudo o que a região oferece. Ficaram de fora o Valle de la Muerte, a visita aos povoados, os Géiseres del Tatio, o tour astronômico... Porém, fomos até La Portada, no Oceano Pacífico, a cerca de 20 quilômetros da cidade de Antofagasta (província de mesmo nome) e a 337 quilômetros de San Pedro de Atacama, um dos pontos mais fascinantes de toda nossa excursão, com certeza. Em Mano del Desierto, obra do escultor chileno Mario Irarrázabal, inaugurada em 1992 e localizada a 1,1 mil metros acima do nível do mar, chegamos ao

nosso ponto máximo da viagem. A mão, de 11 metros, fica na Ruta 5 (Carretera Panamericana), também na Provincia de Antofagasta, não muito longe de La Portada. O artista deixou livre a interpretação de sua criação. A cidade se despedindo do viajante, a angústia dos torturados durante a terrível ditadura militar chilena, o adeus ao deserto... Mas o fato é que estar ali, no coração do deserto, diante de tanta imensidão, nos reduz a nada, nos engole, nos faz sermos cobertos e consumidos por espaço e tempo. No deserto ficou algo de cada um de nós. Naquele nada impressionante de silêncio, areia e vento, em todos nós algo novo surgiu. Foi nesse ponto o fim real de nossa viagem. Dali, começamos a retornar... A mão talvez seja somente um aceno de adeus. Uma despedida prévia. Um marco em cada viajante que se aventura pelo deserto. Fotos: Ana Vilela/Matosta Tur

Ana Vilela/Matosta Tur

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TURISMOCULTURAL

Novo ícone carioca TEXTO E FOTOS AKEMI NITAHARA

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esde sua inauguração, em 19 de dezembro, o Museu do Amanhã, uma das mais importantes obras de revitalização da zona portuária carioca, chamada de Porto Maravilha, figura entre as principais atrações turísticas do Rio de Janeiro. Já no primeiro fim de semana de funcionamento, que contou com um viradão e entrada gratuita, foram mais de 25 mil visitantes. No primeiro mês, 118 mil pessoas – das 450 mil esperadas por ano – enfrentaram as filas para mergulhar na experiência imersiva. A média tem sido de 4,5 mil pessoas por dia. Numa quarta-feira chuvosa de feriado no Rio, 15 professores que participavam de um encontro na cidade chegaram às 8h45, com mais de três horas de antecedência, e garantiram o primeiro lugar na fila. Sem reclamar da espera, já que “no exterior a gente fica horas na fila sem problema”, Dayse Canano tinha boas expectativas para a visita. “Ver surgir um museu na contemporaneidade já é ótimo, principalmente com a revitalização desse espaço da cidade, que estava morto. Agora estamos esperando o AquaRio”, diz a professora. “Ver o amanhã é melhor do que ver o hoje

político do Brasil”, brinca José Luiz. Pela terceira vez no Rio, a família Arcoverde aproveitou para conhecer a nova atração e foi à Praça Mauá três vezes até decidir encarar a fila. Bárbara, de 13 anos, achou o museu muito interessante e gostou do filme do Cosmos, a que assistiu duas vezes. “Aprendi sobre a velocidade da luz, a história dos transportes e das comunicações. Eu esperava uma coisa bem diferente de um museu tradicional, mas queria que tivesse um pouco mais de interatividade”, relata a estudante, garantindo que as duas horas de espera valeram a pena, para depois passar quatro horas explorando as atrações do museu. Para o pai de Bárbara, Clodoaldo, a visita supera as expectativas. “Você não vê o tempo passar e sai feliz, apesar do futuro sombrio que a visão alarmista da exposição coloca”. Ele achou o espaço bonito e moderno, mas diz que a cobertura metálica não é prática, por ser vazada e não proporcionar sombra nem proteção da chuva. A mãe da família, Beatriz, faz mais uma recomendação: “O ar-condicionado é muito frio, é bom não esquecer de levar um casaco, apesar do calorão que costuma fazer no Rio”. Localizado na Praça Mauá, que também abriga o Museu de Arte do Rio

(MAR), o Píer Mauá, onde atracam os navios de cruzeiro, e o histórico Edifício A Noite, primeiro arranha-céu da América Latina e sede da Rádio Nacional, atualmente fechado para reforma, o Museu do Amanhã nasce com a proposta de ser uma janela de reflexão sobre a história de humanidade e uma projeção de onde estaremos daqui a 50 anos. Por fora, a arquitetura moderna e futurista impressiona. Inspirado nas bromélias do Jardim Botânico, o arquiteto e engenheiro valenciano Santiago Calatrava, criador da Cidade das Artes e das Ciências, em Valência, do Estádio Olímpico de Atenas e da Estação do Oriente, em Lisboa, projetou os 15.000 m2 do monumental edifício como um barco que flutua suavemente entre o céu e o mar da Baía de Guanabara. Claro que a sustentabilidade não foi esquecida. A água do mar é utilizada no espelho d’água que circunda toda a obra e para ajudar no sistema de resfriamento (uma cascata devolve a água limpa para a baía). Nada menos de 5.492 placas fotovoltaicas nas abas móveis do teto captam energia solar, e a construção favorece a iluminação e a ventilação naturais. O paisagismo é assinado pelo escritório Burle Marx e privilegia espécies nativas e


de restinga em um jardim de 5.500 m2. O local, que avança 400 metros na baía, é o antigo Píer Engenheiro Oscar Weinschenk, mais conhecido como Píer Mauá, construído para ampliar a capacidade do Rio de Janeiro de receber turistas estrangeiros para a Copa de 1950 – embora não tenha ficado pronto a tempo. Por dentro, as atrações tecnológicas e interativas surpreendem. O conceito de conteúdo apresentado de forma sensorial, experimental e interativa conta com o rigor científico de pesquisas divulgadas por instituições do mundo inteiro e é apresentado com a expressão artística em suporte tecnológico, como instalações, vídeos e jogos. O conteúdo foi produzido por 31 pesquisadores e consultores do Brasil e de outros países, como Mayana Zatz, Marcelo Gleiser, Miguel Nicolelis e Sérgio Besserman. O material será atualizado constantemente pelo Observatório do Amanhã, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e o Massachusetts Institute of Techonology (MIT), dos Estados Unidos. A parte artística é obra de outro grupo, que conta com nomes como as produtoras O2 e Conspiração, o jornalista Marcelo Tas e o artista plástico americano Daniel Wurtzel. A curadoria é do físico doutor em cosmologia Luiz Alberto Oliveira.

O slogan “O amanhã é hoje. E o hoje é o lugar de ação” leva o visitante a uma reflexão sobre o passado para projetar cenários possíveis futuros, que variam de acordo com as atitudes que tomarmos agora. A exposição principal explora o Antropoceno, nome ainda informal no meio geológico para a atual época em que o homem é o motor das mudanças na natureza, interferindo no clima e nos ecossistemas. Para quem espera descobrir “de onde viemos” e “para onde vamos”, o curador adianta que a ideia é justamente o contrário. “O museu oferece as perguntas, não as respostas. São elas que norteiam a série de experiências, de maneira a construir uma narrativa de exploração e interrogação”, diz Luiz Alberto Oliveira. Logo no hall de entrada, um globo terrestre, com cerca de 5 metros de diâmetro e formado por milhares de lâmpadas de LED, mostra em rotação diversos aspectos, como a deriva continental, ventos, correntes marítimas, o efeito de um tsunami, pontos de queimada e luzes noturnas. A exposição começa pelo Cosmos, com uma viagem pelo universo projetada em um domo 360o. Em seguida vêm os temas Terra, Antropoceno, Amanhãs e Nós, que exploram tendências para o planeta nas questões de mudanças climáticas, biodiversidade, crescimento da população e da longevidade, maior integração e diferenciação de culturas, avanço da

tecnologia e expansão do conhecimento. O Laboratório de Atividades do Amanhã complementa e experiência. Até março o espaço estará ocupado pela mostra É permitido permitir, do coletivo dinamarquês Superflex. A proposta traz a exposição e oficina de criação de luminárias Copylight Factory – às quartas e sextas, até 30 de abril – e de fabricação de cerveja artesanal Free Beer – de terça a domingo, até 1o de abril. Ambos os projetos discutem a propriedade intelectual e os conteúdos livres. Na área de exposições temporárias, está em cartaz até 13 de março a instalação audiovisual Perimetral, de Vik Muniz, Andrucha Waddington e escritório de design SuperUber. São imagens da implosão do elevado da Perimetral, que passava bem em frente ao local onde fica agora o Museu do Amanhã. A próxima será sobre Santos Dumont. Museu do Amanhã

Praça Mauá, Centro. De terça a domingo, das 10 às 18h. Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (entrada gratuita às terças). Bilhete único do Museu do Amanhã + MAR: R$ 16 e R$ 8. Meia entrada: menores de 21 anos, estudantes, pessoas com deficiência, servidores públicos municipais e clientes Santander. Gratuidade: estudantes da rede pública de ensino fundamental e médio, professores da rede pública, menores de cinco anos e maiores de 60 anos, funcionários de museus ou associados do International Council of Museums (ICOM), guias de turismo e vizinhos do museu. Metrô mais próximo: estação Uruguaiana (8 minutos a pé).

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TURISMOCULTURAL

Arte e gastronomia

no mirante

POR ALESSANDRA BRAZ

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Fotos: Ariel Martini

este 23 de fevereiro o Mirante 9 de Julho completa seis meses de funcionamento. Em tão pouco tempo já virou ponto de encontro dos paulistanos e mais um atrativo turístico da capital paulista. A localização ajuda muito, já que fica logo atrás do Museu de Arte de São Paulo, o MASP, próximo à Avenida Paulista. A construção de 1939, revitalizada no ano passado, fazia parte do casarão Belvedere Trianon, es-

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paço para a burguesia demolido nos anos 50 para dar lugar ao MASP. Por muitos e muitos anos o local permaneceu abandonado pelo poder público. Antes da atual reforma, era até ponto de consumo e venda de drogas. A revitalização, que custou R$ 800 mil, foi possível graças a uma parceria público-privada entre a Subprefeitura da Sé, que apenas cedeu o espaço, e duas empresas – o Grupo Vegas e a MM18 Arquitetura. “Nossa ideia é buscar locais que façam um resgate da memória e da identi-

dade do paulistano. Percebemos que esse local poderia ser melhor utilizado. Muita gente diz que fizemos uma reforma ‘higienista’, já que o local estava abandonado, era uma boca de crack e de dependentes químicos. Mas o que buscamos fazer foi dar a ele um uso social”, explica o empresário Facundo Guerra, do Grupo Vegas, responsável pela reocupação. Durante a restauração foi encontrada uma escadaria, até então escondida, que se transformou numa pequena galeria de arte, com espaço para apenas 15 visitantes por vez. A parte superior do mirante foi transformada em palco para bandas alternativas, onde recentemente o grupo goiano Boogarins fez um show com lotação total. As escadarias que dão acesso ao café e bar foram tomadas pelo público, o que sempre acontece, também, quando há exibição de filmes. No Mirante 9 de Julho funcionam ain-


Marcelo Paixão

da o Isso é Café, para lanches rápidos, e um espaço gourmet que recebe diferentes chefs a cada mês. Em janeiro foi a vez da chef Dadá Lopes, que já havia participado de outro empreendimento do Grupo Vegas, o Z Carniceria, em Pinheiros. “Buscamos novos talentos, chefs que não têm um local fixo para trabalhar. Sempre que convidamos alguém temos a preocupação de fazer um cardápio com preços razoáveis. Já que estamos em um espaço público, a ideia é ser o mais democrático possível. Por isso, os preços não ultrapassam os 22 reais”, diz a administradora do espaço gastronômico, Lira Yuri. O plano de revitalização prevê ainda a reforma das fontes localizadas na 9 de Julho, que deverão ganhar jogos de luzes semelhantes aos do Parque Ibirapuera. Segundo Facundo, a reforma será concluída ainda este ano. Depois, será preciso cuidar muito bem do local, para que não se repita o que aconteceu dez anos atrás. Em 2006, a prefeitura de São Paulo reformou as fontes e três meses depois elas estavam novamente abandonadas. Mirante 9 de Julho

Viaduto Bernardino Tranchesi, 167 – Bela Vista, São Paulo – (11) 3111.6342.

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Lúcia Leão

BRASILIENSEDECORAÇÃO

Blueseiro e luthier POR VICENTE SÁ

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e você, caro leitor, viveu Brasília nos anos 1960/70, quando éramos poucos, poucos eram os carros, vasto o horizonte e a imensidão nos apertava o peito com a possibilidade do infinito, você vai entender os solos de guitarra do blueseiro Haroldinho Mattos e aquela saudade sem nome e sem lembrança. Ele também sentiu isso ao chegar aqui, aos seis anos, em 1971, deixando em Belo Horizonte o pai e amigo, com quem fazia aeromodelismo e escutava música clássica, e chegando com a mãe e o irmão numa cidade a se fazer. “Brasília era assim, ou você aprendia a conversar consigo mesmo, olhar para dentro, ou voltava para onde tinha vindo. Eu fui para a música”, conta. E foi mesmo. Aos nove anos, depois de tanto pedir uma guitarra para a mãe, a poetisa Tita, Haroldo ganhou um violão e Paulo, seu irmão, uma escaleta. E como a música já se tornara mesmo companheira e confidente dos dois meninos, logo à noite mostraram para uma mãe encantada a primeira composição em sua homenagem. A solidão do cerrado havia feito mais duas vítimas, ou felizardos.

Dizem que a magia acompanha os magos e talvez acompanhe mesmo, pois só assim podemos explicar a primeira guitarra de Haroldinho Mattos aos dez anos de idade. “Eu andava muito introvertido, cantarolando sozinho umas musiquinhas e olhando pro chão. Costumava até achar dinheiro pelos caminhos da Asa Sul, onde eu morava. Achei tanto dinheiro que comprei uma guitarrinha Tremendinha, que não era o ouro, mas já era uma guitarra”, lembra. Embora apaixonado por música desde pequeno, Haroldinho nunca teve aulas em escolas de música ou com professores particulares. Seus primeiros ensinamentos foram de outro geniozinho da guitarra candanga, Toninho Maia, que lhe passou alguns acordes que ele garante estudar até hoje. Eram os anos 1980 e nascia a Galeria Cabeças, que passou a ser o point dos jovens artistas da cidade e um caldeirão de trocas. Haroldinho diz que, mais uma vez, deu sorte, pois morava ali perto: “O Cabeças era tudo, tinha rua do lazer, concertos, poesia, teatro, a gente respirava arte todos os dias por lá”. É no Cabeças, sob influência de Néio Lúcio, que nasce então o Mel da Terra,

um dos primeiros grupos pop brasilienses a fazer sucesso dentro e fora do Distrito Federal. Nele já surgia a marca do guitarrista e solista Haroldinho Mattos. “Quando vi aquele menino de 15 anos tocando daquele jeito, eu não tive dúvida: peguei toda a minha coleção de vinil do Jimmy Hendrix e dei pra ele. E ele fez bom uso, pois se tornou o grande músico que é e toca tudo do Hendrix até hoje”, afirma o cantor e compositor Renato Matos. Com a bola toda, o grupo Mel da Terra ensaiou um grande voo: abriu um show de Gal Costa, aqui em Brasília, com mais de 100 mil pessoas na plateia, e foi para o Rio de Janeiro e São Paulo gravar dois discos. Mas ainda não decolou. Foram dois anos de muita luta e no final o produtor sumiu com o dinheiro dos meninos (o mais velho não tinha 25 anos) e eles chegaram a passar necessidade em uma pequena cidade do interior de São Paulo, onde se haviam instalado. Haroldinho se desiludiu e voltou para Brasília. Aqui, passou a tocar com vários artistas, gravou discos e fez shows com Renato Matos (aquele dos vinis do Hendrix). Por fim, descobriu o blues. “Era uma terça-feira. Eu tinha acabado de fazer uma apresentação na UnB


Lúcia Leão

luthier: “Eu sou novo aqui em Brasília, vim do Ceará, mas me indicaram o Haroldinho. Eu já vim outra vez, com meu outro baixo, e adorei o serviço e o músico que ele é. Agora sou cliente desse médico de instrumentos”. Um dos grandes orgulhos de Haroldinho é ter feito a abertura de um show de B. B. King no Pontão do Lago Sul, em março de 2004. Ao final do espetáculo, ele e os companheiros foram chamados ao camarim do mestre americano, onde Haroldinho pediu que King autografasse

Divulgação

quando o músico Bemol me chamou e me disse que eu era do blues, que tínhamos que tocar juntos, que, já no sábado, teríamos uma apresentação no Bom Demais. Uma coisa de louco. Eu fiquei meio assim... mas, no outro dia, ele foi lá em casa, me mostrou vários blues, ensaiamos e acabou que deu certo e nasceu o Oficina Blues, que existe até hoje, embora eu não participe mais”, relata Haroldinho. Uma das características dos músicos brasilienses é a versatilidade e Haroldinho não foge à regra. Mesmo depois de se tornar um blueseiro, manteve-se eclético. “Eu já toquei lambada, brega, jazz, durante três anos toquei em trio elétrico na Bahia, tudo é música e tocar enriquece a gente”, filosofa. Mas viver de música nunca foi fácil no Brasil e Brasília não é exceção. Com o nascimento das filhas Isabela e Manoela, Haroldinho, que já era uma espécie de luthier dos amigos músicos, passou a encarar a arte de consertar e fabricar instrumentos musicais como fonte de renda. Primeiro na Condor Music; depois, abrindo sua própria oficina, em 2004. Hoje, o dinheiro da lutheria paga as contas da família e ele é considerado um dos melhores profissionais do ramo no DF. Enquanto visitamos sua lutheria encontramos o músico Radier, que levava seu baixo elétrico para uma “consulta e medicação” e não poupou elogios ao

sua guitarra. King perguntou se a marca era Gibson e quando soube que não era explicou que, em razão do contrato com essa fábrica de guitarras, que o patrocinava, ele não podia assinar instrumentos de nenhuma outra marca. Haroldinho ficou triste, mas teve um estalo e explicou que sua guitarra era fabricada por ele mesmo e, sendo assim, não concorria de maneira nenhuma com a multinacional Gibson. King concordou e assinou a guitarra que Haroldinho usa com orgulho até hoje em seus shows, mas antes brincou: “Eu, que sou gordo, gosto das guitarras bojudas; você, que é magro, gosta dessas fininhas”. E é verdade: o luthier e guitarrista prefere fabricá-las mais leves e de acordo com o tipo físico de cada músico. Trabalha com madeiras recicladas ou de manejo e leva em média seis meses para entregar uma pronta para ser tocada. “Demora porque eu tenho os outros trabalhos de luthier e de músico”, justifica Hoje, Haroldinho é nome consagrado na música de Brasília e reconhecido em quase todo o Brasil, tem participação em mais de uma centena de CDs produzidos no DF, gravou três discos solos e prepara um próximo para sair ainda este ano. Do último, sobraram uns poucos exemplares, que podem ser adquiridos pelo email hnharoldinhomattos@gmail.com. E é claro que, no YouTube ou na página de Haroldinho no Facebook, você pode assistir a mais de uma dezena de performances desse grande instrumentista.

Haroldinho Mattos (ao centro) nos bons tempos do Mel da Terra.

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Tahia Macluf

QUEESPETÁCULO

A dança sempre nova do Novadança POR ALEXANDRE MARINO

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riado em 1996 para trazer a Brasília espetáculos de dança que não eram vistos por aqui, o Festival Internacional da Novadança chega à 18ª edição, este ano, com uma programação fiel a suas intenções originais. Nos últimos anos, o festival criou a partir de Brasília uma rede de comunicação entre profissionais brasileiros e estrangeiros, atraindo grande atenção do país e do exterior. Até 4 de março, a programação do Novadança ocupa diversas estações do metrô, a Usina Centro de Arte e Entretenimento, no Setor de Oficinas Norte, e o Espaço Pé Direito, na Vila Telebrasília. O festival é um projeto de comunicação e intercâmbio, formação de opinião e aperfeiçoamento para dançarinos, coreógrafos, diretores e profissionais de dança, criado pelo coreógrafo Giovane Aguiar. Inspirada pelo movimento hippie e pelas práticas orientais, misturando influências indianas, japonesas, artes marciais e ioga, a Novadança surgiu na sequência da Dança Contemporânea, a partir dos anos 70 e 80. O festival se divide entre os estilos da Dança Contemporânea, da Novadança e da Dança Burlesca. São 20 anos de pesquisa continuada, que já levaram 100 mil pessoas aos espetáculos e workshops gratuitos. O festival também distribuiu três mil bolsas de es-

tudos a dançarinos, coreógrafos e interessados que participaram dos cursos, o que caracteriza a missão educativa do projeto, observa Giovane Aguiar, que é também diretor artístico do Nostalgique Cabaret. “No festival, o coreógrafo estuda, improvisa, coreografa, e ao mesmo tempo se apresenta”, explica. “Desde 1996 o projeto tem essa intenção educativa”, acrescenta. Além da oportunidade de aperfeiçoamento aos profissionais da dança, o festival oferece ao público espetáculos de altíssima qualidade. Passaram pelos palcos do festival o venezuelano David Zambrano, o espanhol Jordi Cortes Molina, o francês Jeróme Bel, a japonesa Hisako Horikawa, a holandesa Angélika Oei, os norte-americanos Howard Sonenklar, Mark Tompkins, Katie Duck, Daniel Lepkoff, Lisa Nelson, Alito Alessi, Katie Duck e Karen Nelson, os brasileiros Tica Lemos, Cristina Moura, Cristian Duarte, e as companhias Benvida Cia. de Dança, ASQ Cia. de Dança, Basirah, Wlap e Balangandança, entre outros. O festival também foi pioneiro no Brasil na difusão e incentivo à produção da linguagem de filme conhecida mundialmente como videodança. Em 1997, realizou a primeira mostra de filmes desse gênero e nos anos seguintes promoveu workshops e palestras entre cineastas e coreógrafos. Este ano o festival está dividido nas

seguintes categorias: espetáculos, performances, workshops, salas de vídeo, mostra de filmes Dançando Para a Câmera, mostra de vídeo e dança no celular, conversando com o artista (debates), Encontro Internacional de Criadores e Coreógrafos, lançamento de livro que conta os 20 anos do festival e a 2ª edição do Brasília Burlesque Festival, o primeiro festival de burlesco do Brasil. A mostra de performances é destinada a sessões de improvisação por parte dos dançarinos e coreógrafos selecionados para o festival, e será realizada nas estações do metrô da Ceilândia, Taguatinga, Guará, Águas Claras e Plano Piloto. Entre os espetáculos programados estão Noites sem fim, do próprio Giovane Aguiar; Por um fio, de Juan Guimarães, do Rio de Janeiro; Cartas, da Cia. Circo Navegador, de São Paulo; Behind the clothes, da Plataforma Shop Sui, também de São Paulo; Guarda sonhos, de Tainá Barreto, do Distrito Federal; e Por um triz, com Beatrice Martins, do Instrumento de Ver, também do DF. 18º Festival Internacional da Novadança Até 4/3 no Teatro Multiuso Yara de Cunto, da Usina Centro de Arte e Entretenimento (SOFN, Quadra 1), estações do metrô e Espaço Pé Direito (Vila Telebrasília, Rua 1). Ingressos: R$ 20 e R$ 10, à venda no site www.usina.loja2.com.br (alguns espetáculos são gratuitos). Programação completa e sinopses dos espetáculos no site www.festivaldedanca.blogspot.com.br.


Divulgação

LUZCÂMERAAÇÃO

Estranho humor islandês Vencedor do principal prêmio da mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes, A ovelha negra estreia no Cine Brasília e traz uma singular e rara cinematografia. POR SÉRGIO MORICONI

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scrito e dirigido pelo documentarista Grímur Hákonarson, este filme islandês foi considerado a grande supresa do ano passado pela crítica europeia. Além do troféu recebido em Cannes, arrebanhou vários outros, entre eles a Espiga de Oro da Seminci, anualmente celebrada na cidade espanhola de Valladolid. Foi também escolhido pelo governo de seu país para disputar o Oscar de melhor filme estrangeiro da Academia de Hollywood agora em 2016. A ovelha negra é apenas o terceiro longa-metragem de Hákonarson, mas já se percebe que o humor (um estranho humor!) é um dos elementos essenciais do seu cinema. Que tipo de humor? Um humor “islandês”, se é que assim podemos defini-lo, um humor salpicado de elementos de comédia do absurdo, acrescido de um pouco de tempero amargo e insólito. Afinal, o que se pode dizer de um filme cuja trama envolve um concurso de beleza de carneiros (!!!) em que dois dos participantes são irmãos que vivem como anacoretas em propriedades separadas por apenas 50 metros de distância. Apesar da proximidade, e do parentesco, esses dois excêntricos individuos não se dirigem a palavra há mais de 40 anos. Há muitas conjecturas a serem feitas sobre as origens do compartamento de Gummi e Kiddi, os irmãos protagonistas: solidão e ciúme são dois dos elementos certamente presentes. Entretanto, o director habilmente nos conduz para uma profunda compreensão dos atributos da alma e condição humanos em situações de isolamento. Ah, a natureza humana! No filme, um acontecimento dramáti-

co vai transformar a vida de Gummi e Kiddi: a “scrapie”, uma enfermidade mortal para o rebanho. A ovelha negra é também um conto moral. Falar de ovelhas para falar dos homens. O combate da doença vai exigir a colaboração dos dois irmãos. O filme ganha toda uma nova perspectiva e o director mescla magistralmente a mudança interior dos individuos em contraste com o soberbo uso da inóspita e bela paisagem nevada da região. Quando o filme foi exibido na mostra internacional de São Paulo, no ano pasado, o crítico Luiz Carlos Merten, do jornal O Estado de S. Paulo, entrevistou o realizador, que afirmou ser a mesma coisa falar de ovelhas e de homens na Islândia. “Nosso país tem mais ovelhas do que homens, mas, no fundo, meu filme é sobre um drama familiar, sendo que os homens, nesses cenários, se confundem com os bichos. Veja, os ovelhas não são apenas um meio de produção e de trabalho ali. Como os pastores vivem isolados, elas são também seu meio de diversão. Há uma tradição que faz das ovelhas personagens decisivas de contos clásicos da Islândia”. Para grande parte da população rural da Islândia, as ovelhas são como algo sagrado que deve ser conservado a todo custo. Os islandeses são muito orgulhosos de suas raças nativas e têm um enraizado preconceito contra quem vem de fora, especialmente os originários do Reino Unido. Em Bardardalur, lugarejo onde se rodou o filme, o emprego principal dos habitantes é a criação de carneiros e ovelhas. Por essa razão, a “scrapie”, enfermidade que não tem cura e que é muito contagiosa, é um dos principais temores da população, já que, se uma ovelha ape-

nas adoece, torna-se necessário sacrificar todo o rebanho. Isso ocasiona a ruína econômica de toda a região. Hákonarson conhecia profundamente a vida dessas pequenas comunidades e transfere esse conhecimento para fazer a descrição dos dois irmãos. O estilo de vida insular deles produzia a desconfiança, muitas vezes uma atitude colérica, como se vê repetidas vezes acontecer com Kiddi. O diretor lida com isso com um humor negro, aliás muito comum em filmes escandinavos. A ovelha negra chega ao Brasil num momento em que o cinema islandês começa a ser reconhecido internacionalmente, conquistando as graças da crítica e boa veiculação em alguns dos mais importantes festivais do mundo. E não é só Grímur Hákonarson, autor de Everest (escolhido para abrir o Festival de Veneza no ano pasado), obra que também recebeu a benção de importantes executivos de Hollywood. Seu compatriota Rúnar Rúnarsson é outro que chamou a atenção com Sparrows, vencedor da Concha de Oro do Festival de San Sebastián. Uma das grandes forças do novo cinema islandês – especialmente de A ovelha negra – é o fato de propor um tipo de existencialismo humanista único. No filme de Hákonarson, a rivalidade entre os dois irmãos chega a ser chocante e não é difícil considerá-la um modelo alegórico dos indivíduos de um modo geral. O filme também nos ensina, de uma forma tanto direta quanto “líquida”, a conexão emocional que os homens estabelecem com a natureza. A ovelha negra

Islândia, 2015, 90min. Roteiro e direção: Grímur Hákonarson. Com Charlotte Bøving, Sigurður Sigurjónsson e Theódór Júlíusson. Estreia dia 18/2 no Cine Brasília.

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CRÔNICADACONCEIÇÃO

Crônica da

Conceição

Divinas (e modernas) tetas

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uando esta crônica estiver sob os olhos de algum leitor, o carnaval já será apenas a miragem de um caudaloso rio que passou em nossas vidas. Mas em mim, por certo, continuará ressoando a voz das Divinas Tetas: “Brasília é nossa!, Bra-sí-lia éééé noooosssa!”, gritava Aloizio Michael, sob os pilotis da antiga sede do Banco do Brasil. Faz pouco tempo, o BB trocou o edifício de soberanos traços modernos por um vidro de perfume no começo da Asa Norte. Primeira edificação do Setor Bancário Sul, o edifício-sede do Banco do Brasil foi condenado ao abandono por uma série de razões que podem ser resumidas numa só: o desprezo da instituição por um primoroso exemplar da arquitetura moderna e, por extensão, o desapreço a um dos acontecimentos mais importantes de afirmação da cultura brasileira, o movimento moderno. E, dentro dele, o tropicalismo. Os pilotis do Setor Bancário, os garotos das Divinas Tetas caetaneando maravilhosamente, a multidão de jovens brasilienses carnavalizando a Tropicália, tudo acontecendo em Brasília... foi bonito de doer. Meninos e meninas de 15 a 30 e poucos anos, a grande maioria, por certo, nascida no mais importante sítio moderno do mundo. Donos de divinas tetas tropicalizando o carnaval na capital que reinventou, a partir das melhores influências

estrangeiras, o modo de viver em cidades. Brasília é a tropicalização do Brasil. Brasília onipresentemente, cantavam os vocalistas brasiliando a Bahia. Pois não é Caetano um dos mais afiados e poéticos tradutores da alma brasileira? “Êê vaca de divinas tetas/Teu bom só para o oco, minha falta/ E o resto inunde as almas dos caretas.” A banda que nasceu de grupo de Whatsapp praticando ativismo tropicalista contra a caretice do intolerante silêncio. Carnaval militante sem ser ideológico nem proselitista. “Vamos respeitar todo mundo que todo mundo é igual, porra!”, gritava um dos vocalistas. Tão igual que começam a desmontar as barreiras de gênero. As meninas tiravam a placa de “feminino” das portas dos banheiros químicos. Nem bonequinha de vestido nem bonequinho de calça comprida: a urgência do pipi é igual para todos. Ficar odara, joia rara, qualquer coisa que se sonhara nos vãos da rigidez do concreto armado. Quem ali iria reclamar do barulho? A área residencial mais próxima está a quase um quilômetro, o que é muito, mas é pouco para a cidade dos imensuráveis vazios. E qual o problema em ouvir, uma vez ao ano, o som estrepitoso da vida real? Barulhento é viver, porém mais barulhento ainda é ser infeliz e querer impor a infelicidade aos felizes. Caretas de Paris, New York, sem

mágoas estamos aí. Se alguma coisa acontece com o meu coração desde que saí do Correio Braziliense, essa coisa se fortalece ao som dos Divinas Tetas. A mistura de Caetano, Plano Piloto, carnaval, Tropicália, pilotis e juventude atiça meu reviver. Estou viva, quando parecia estar morrendo. O longo tempo numa mesma geografia vai amortecendo a vida. Desde que deixei o prédio do Setor Gráfico e me mudei para a esquina da 308, abriu-se um janelão dentro de mim. Não porque assim eu tenha planejado ou desejado. Fui atirada, por forças das circunstâncias, a um outro jeito de ter Brasília dentro de mim. Talvez eu não tivesse ido ao Divinas Tetas se eu não estivesse ao rés-dochão da 308. Estava tão cômodo no primeiro andar... Desalojada, sigo procurando novos alojamentos. Múltiplos ou pelo menos duplos como as tetas. Brasília tem o dom de acomodar os desavisados. O serviço público, o salário certo, a ilusão de poder, tudo se soma para criar em nós uma falsa segurança, um tá bom do jeito que tá. É preciso chacoalhar Brasília o tempo todo. E chacoalhar a Brasília que mora dentro de nós. Senão, ela apressa a caretice latente. Já estou em contagem regressiva para o próximo carnaval, debaixo do pilotis do BB que o BB não quis. Aconchegada nas divinas tetas.


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