BRASÍLIA É CENÁRIO DE DOIS FILMES QUE ESTREIAM EM AGOSTO
Ano XV • nº 252 Junho de 2016
R$ 5,90
O GOVERNO DE BRASÍLIA CONTINUA TRABALHANDO PARA SUPERAR OS DESAFIOS E ENTREGAR NOVOS RESULTADOS À NOSSA POPULAÇÃO. As peças continuam sendo organizadas uma a uma e, por isso, seguimos transparentes ao mostrar como estão sendo investidos dinheiro e trabalho por aqui. As entregas que chegaram com o mês de maio passam por restaurações rodoviárias, contratações de servidores, obras de infraestrutura, urbanização e lazer para a nossa população. Seguimos trabalhando com determinação e em busca de novos resultados. RESTAURAÇÃO DA DF-035 E BALÃO DA ESAF • ALÇA PERTO DO BALÃO DA ESAF, NOVA FAIXA NA PISTA VINDA DE SÃO SEBASTIÃO E CONSTRUÇÃO DE CICLOFAIXA. • 140 MIL MORADORES BENEFICIADOS. • R$ 3,7 MILHÕES INVESTIDOS.
INFRAESTRUTURA E URBANIZAÇÃO EM VICENTE PIRES • OBRAS DE ASFALTO, MEIOS-FIOS, DRENAGEM PLUVIAL E CONSTRUÇÃO DE PONTES. • R$ 467 MILHÕES SERÃO INVESTIDOS.
www.brasilia.df.gov.br
3.223 CONTRATAÇÕES DE SERVIDORES • 918 POLICIAIS CIVIS E MILITARES. • 1.933 PROFISSIONAIS DA SAÚDE. • 372 TRABALHADORES DA EDUCAÇÃO.
REVITALIZAÇÃO DO PARQUE DA CIDADE • 10 KM DE NOVA PISTA DE CAMINHADA COM TOTAL ACESSIBILIDADE. • 80 MIL PESSOAS BENEFICIADAS. • R$ 5,2 MILHÕES INVESTIDOS.
EMPOUCASPALAVRAS
Esta edição traz também boas novidades gastronômicas. Apesar da fase ainda delicada a que assistimos na economia e na política, já há sinais alvissareiros de uma pequena recuperação no setor. Pipocam aqui e ali ações criativas de empresários que apostam na recuperação e apresentam ao público novos empreendimentos. Só de casas que escolheram a carne de porco como carro-chefe há duas novas, ambas na Asa Norte: o Swine Bar, na 314, e o Oinc Bar, na 408. No primeiro, todas as carnes do cardápio são suínas; no segundo, é possível encontrar até um drink e uma sobremesa que têm entre seus ingredientes o bacon (página 10). Registramos ainda a chegada de uma nova boulangerie, criada pelo ex-gerente do Café Daniel Briand, batizada de L’Amour du Pain (página 6); do Mercadito, na 202 Sul, com proposta de misturar gastronomia, coquetelaria, arte e música; do Uai Bezinha!, na 311 Sul, com delícias tipicamente mineiras; e do nordestino Bem Arretado, no Setor de Indústrias Gráficas (página 13). Apresentamos também um ateliê de doces instalado num subsolo da 309 Norte, que preserva a tradição de bolos considerados patrimônio imaterial de Pernambuco (página 4). Mesmo entre os restaurantes já estabelecidos percebemos um novo gás para atrair clientes que atualmente pensam duas vezes antes de abrir a carteira. No Complexo Brasil 21, por exemplo, a chef Myriam Carvalho lançou cardápio de petiscos para agradar a carnívoros, vegetarianos, veganos e até aos que sofrem de alguma restrição alimentar (página 7). No Universal Diner, a chef Mara Alcamim ampliou e deu um up-grade no bar que reedita os pubs nova-iorquinos dos anos 50 (página 8). E na pizzaria Baco toda quinta-feira é dia – ou melhor, noite – de fazer uma viagem gastronômica pelas ruas de Nápoles, no sul da Itália (página 13). São ou não são sinais de recuperação? Não custa bater três vezes na madeira e torcer para o sucesso de todos.
Divulgação
Brasília é uma cidade muito fotogênica, sabemos todos. Tal e qual os bebês de hoje em dia, que antes mesmo de nascer já são fotografados dentro da barriga da mãe, e assim que dão o primeiro chorinho são clicados freneticamente por seus pais-corujas, nossa cidade, desde o início de sua construção, em 1956, teve seu desenvolvimento documentado passo a passo por fotógrafos daqui e de fora. Um deles, nascido no Rio de Janeiro, mas brasiliense desde criança, encontrou recentemente uma maneira bem diferente de fotografá-la: refletida nas poças d’água formadas pela chuva. É de Nick Elmoor que estamos falando, nosso personagem da seção Brasiliense de coração, que mostra seu trabalho, sua vida e sua relação com Brasília (página 26).
28 diáriodeviagem Há quase um milênio a bela Catedral de Santiago de Compostela é o ponto final da viagem de milhares de peregrinos procedentes de todos os cantos do mundo
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Boa leitura e até julho! Maria Teresa Fernandes Editora ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14 – Conjunto 2 – Casa 7 – Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes | Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa Carlos Roberto Ferreira | Colaboradores Alessandra Braz, Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, Ana Vilela, Beth Almeida, Cláudio Ferreira, Conceição Freitas, Eduardo Oliveira, Elaina Daher, Heitor Menezes, Júlia Viegas, Laís di Giorno, Luana Brasil, Lúcia Leão, Luís Turiba, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Ronaldo Morado, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle | Fotografia Fabrízio Morelo, Gadelha Neto, Rodrigo Ribeiro, Sérgio Amaral, Zé Nobre | Para anunciar 9988.5360 | Impressão Editora Gráfica Ipiranga Tiragem: 20.000 exemplares. 3
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Lúcia Leão
ÁGUANABOCA
Doçuras
pernambucanas
POR LÚCIA LEÃO
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esculpe se alguém discorda, mas a confeitaria pernambucana é imbatível! Especialmente na categoria “bolos”, cada receita carrega a força da civilização nascida no ciclo da cana-deaçúcar, a nossa civilização miscigenada, amarga e doce, de Casa grande e senzala. Aqui vamos abstrair o amargor e tratar da doçura dos bolos com assinatura, com terroir na Zona da Mata e certificado de origem nas cozinhas dos senhores de engenho onde as senhoras, com auxílio das mucamas, se esmeravam em adaptar recei-
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tas portuguesas aos ingredientes nativos e em criar misturas exclusivas que honrariam os nomes de família. Como o bolo Souza Leão, patrimônio imaterial de Pernambuco. Têm o título ele e o bolo de rolo, outra joia da coroa que, por si só, justificaria a afirmação que abre esta matéria. E agora a boa notícia: essas e outras delícias compiladas por Gilberto Freyre no livro Açúcar, de 1937, saem diariamente de uma pequena cozinha artesanal num subsolo da 309 Norte, preparadas com esmero e todo respeito às tradições pela jovem confeiteira Rosinha Magalhães. Lá também ganham “roupinhas”
para festas e casamentos que reforçam, na apresentação, as características de “barroco e até rococó”, que Freyre identificou no receituário dos doces pernambucanos. Natural da sertaneja Serra Talhada, Rosinha foi praticamente criada na cozinha da mãe, Cida Rodrigues, cozinheira profissional e dona de um respeitado bufê de comida regional na cidade do Vale do Pajeú até a família se mudar para Brasília, há quase dois anos. “Comecei a cozinhar com ela aos sete anos. Aprendi tudo com mainha”, revela Rosinha, que hoje conta com a ajuda da mãe nas encomendas mais volumosas. “Eu me formei
Divulgação Divulgação
A delicadeza dos arranjos e das "roupinhas" rendadas é marca registrada dos doces produzidos no ateliê de Rosinha Magalhães
Os “rolinhos” (R$ 2,70), miniaturas com “roupinhas” rendadas, estão substituindo com sucesso os “bem casados” e “bem nascidos”. E ela prepara ainda os biscoitos, com fatias bem finas do bolo que são assadas por uma segunda vez. Tudo é muito lindo e delicioso. E, lembrando o folclorista Câmara Cascudo, faz justiça ao que trazemos de mais doce no nosso sangue lusitano: o bolo como representação da solidariedade humana. O que está presente em noivados, casamentos, visitas de partida, ani-
versários, convalescença, enfermidades, condolências. A “saudação mais profunda, significativa, insubstituível”. Oferta, lembrança, prêmio, homenagem; o que visita, faz amizades, carpe, festeja. Como na cultura portuguesa, o bolo, no Brasil, tem a “delegação mais legítima na plenitude simbólica da doçura”. E nisso os pernambucanos são campeões. “Pronto”. Ateliê de Bolos Rosinha Magalhães 308 Norte, Bloco E (3039.3009)
Fotos: Lúcia Leão
em hotelaria e fiz vários cursos de gastronomia e aperfeiçoamento em confeitaria. Mas o que eu faço aqui é basicamente o que ela me ensinou”. E lá ela faz o bolo de noiva pernambucano (“aqui chamamos de bolo de frutas, porque as pessoas confundem o bolo com a apresentação; mas é um tipo de bolo bem molhadinho, com passas e ameixa seca embebidas em vinho”, explica), o bolo de pé de moleque (de massa puba e castanha, açúcar mascavo e condimentado com cravo da índia e erva doce), o Souza Leão (de mandioca e ovos) e seu carrochefe, o bolo de rolo, em inúmeras formas de apresentação e formatos, com “roupinhas” – como ela chama as embalagens e toques de decoração – sempre muito delicadas e criativas. A versão mais propagada – a começar, novamente, por Gilberto Freyre – é a de que o bolo de rolo é uma derivação da iguaria portuguesa “cama de noiva”, um bolo enrolado com recheio de creme de amêndoas. Na falta delas, as senhoras pernambucanas substituíram o recheio pela goiabada. Mas por que ficou tão fininho, ao contrário dos rocamboles tradicionais em outras regiões? “Acredita-se que havia uma disputa entre as senhoras dos engenhos para ver quem fazia os doces mais delicados e cuidadosos. E assim a massa foi afinando... Mas é uma suposição, ninguém sabe ao certo”, diz Rosinha. A massa, feita de manteiga, ovos, açúcar refinado e farinha de trigo, é posta para assar rapidamente em forma bem rasa (em torno de meio centímetro). Depois recebe uma camada farta de goiabada cremosa e é cuidadosamente enrolada (veja o passo a passo nas fotos abaixo). Para os bolos sem cobertura – minis (R$ 4,20) ou grandes (até R$ 800), os mais demandados para festas de casamento – as camadas de massa são sobrepostas.
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Fotos: Divulgação
ÁGUANABOCA
Tem francês novo
na praça
POR LAÍS DI GIORNO
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paixão pelo pão acaba de trazer mais um pedacinho da França para Brasília. Recentemente inaugurada na 115 Sul, a L’Amour du Pain promete conquistar o paladar e o coração dos brasilienses. Na nova boulangerie et cafe, o pão é trabalhado de maneira artesanal e livre de aditivos, para maior qualidade de sabores e texturas. “Utilizamos apenas produtos naturais, farinhas boas, fermentação longa, fazendo um pão com um pouco mais de casca, mas bem melhor pra saúde e de gosto muito melhor”, explica o boulanger e proprietário Serge Segura. A casa é o sonho que se torna realida-
de do francês natural de Montpellier, cidade situada ao sul da França, na beira do Mediterrâneo. Serge é mais um discípulo do também francês Daniel Briand que alça voo próprio após 14 anos de dedicação ao café de propriedade do mestre, onde atuava como gerente. Inspirado em “poetas que trazem o amor pelo pão no olhar”, como o boulanger Nicholas Supiot, o estrangeiro radicado em solo brasileiro especializou-se na École Française de Boulangerie de Christian Vabret. “Pude me dedicar à minha verdadeira vocação dentro da cozinha, colocando a mão na massa. O pão é mágico, é matéria viva”, conta. O dom é herança da mãe, Regine Segura, que desde cedo lhe ensinou o prazer da comida e da criação.
“Minha aventura nas panelas começou aos sete anos de idade. Venho de uma família apaixonada por comer e cozinhar”. Mas nem só de pão vive a L’Amour du Pain. O protagonista da casa divide espaço com outras delícias que em nada ficam atrás no quesito sabor e originalidade. Com receitas exclusivas de Serge e outras tradicionais, o cardápio oferece diversas opções, como as saborosas éclairs – massa de bomba em sabores variados, como creme de pistache e figo (R$ 13), caramelo salgado (R$ 12) e chocolate belga e praliné de avelã (R$ 12), os macarons de banana, manga, morango, café ou de pistache (R$ 3,90 cada) e a torta de manga com mascarpone e toque de pimenta branca (R$ 12). Entre os salgados, destaque para
Tomas Faquini
a tira de massa de croissant com queijo de cabra e pimentão ao forno (R$ 7,90), o quiche de salmão com alho poró (R$ 22), ovos mexidos com queijo gruyère (R$ 9) e omelete de muçarela de búfala com vagem e tomate fresco (R$ 17). Para acompanhar, a dica é pedir um chocolate derretido com leite e creme de leite fresco (R$ 6,50). Vale provar também o café espresso com leite vaporizado, chantilly e calda de chocolate (R$ 8) ou com espuma de leite e cacau em pó (R$ 7), os chás nacionais (R$ 7 cada) e o cardápio de vinhos selecionados a dedo por Segura. Assim como a gastronomia, a arquitetura do espaço foi concebida com o cuidado de quem quer oferecer o melhor aos clientes. O ambiente moderno e aconchegante é ideal para degustar as delícias do cardápio, tanto no espaço interno quanto no belo jardim virado para a quadra. A decoração jovem ganhou um charme a mais com o piso de taco original reformado. “Este piso foi uma das coisas que mais me marcaram em Brasília”, afirma Serge. Além do cardápio com diversos lanches doces e salgados, os clientes podem experimentar as várias versões de café da manhã, que servem até duas pessoas. Pratos típicos de bistrô também podem ser apreciados ao longo do dia. Apesar de recente, a proposta tem agradado o público. Tanto que a casa está sempre cheia de comensais curiosos para provar as novidades oferecidas na única loja com duas fachadas da quadra, homenagem do boulanger francês ao projeto inicial da cidade que o acolheu tão bem.
Delícias sem restrições
L’Amour du Pain Boulangerie et Cafe
Masumi Ota Yida
115 Sul, Bloco B (3525.5909). De 3ª feira a domingo, das 7 às 20h.
calda de futas vermelhas, cheese-cake de limão, espeto de frutas, fisalis com chocolate, brigadeiro de baru, Romeu e Julieta da Canastra e tiramissú. Em cada item do cardápio consta a informação “sem glúten”, “sem lactose” ou “vegana”. Entre os petiscos, todos muito saborosos, há dois que exibem os três avisos: guacamole com tortilha de milho e involtini de berinjela com tomate seco. Além dessas, há mais 13 opções para veganos, 17 sem lactose e 18 sem glúten. Outra preocupação de Myriam Carvalho, com o objetivo de reduzir custos, foi priorizar produtos do Cerrado, como frutas e legumes da estação, prestigiando assim os produtores locais. Complexo Brasil 21
Setor Hoteleiro Sul, Quadra 6 (3039.8000) Tomas Faquini
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aior complexo hoteleiro/empresarial da cidade, com três hotéis Meliá, três torres de escritórios, um centro de eventos, três salas de teatro e cinco restaurantes, nem por isso o Brasil 21 ficou imune aos efeitos da crise que atinge, indistintamente, todos os setores da economia brasileira. Em tempos de dinheiro curto, o jeito é se reinventar, em sintonia com as demandas de consumidores que hoje pensam duas vezes antes de realizar qualquer despesa. Foi o que fez a chef executiva dos restaurantes do complexo, Myriam Carvalho (foto). Para imprimir maior atratividade não apenas aos restaurantes, mas também ao centro de eventos, ela lançou no início do mês um novo cardápio de petiscos capaz de satisfazer a gregos e troianos – melhor dizendo, aos carnívoros, aos vegetarianos, aos veganos, até aos que sofrem de restrições alimentares, como intolerância à lactose e ao glúten. Os frequentadores dos eventos que se realizam no complexo, inclusive nos restaurantes e nas salas dos hotéis Meliá, são o principal público-alvo. Os petiscos, que serão servidos tanto no café da manhã quanto nos coffee breaks, bufês e coquetéis, estão divididos em três pacotes, compostos por 16 canapés frios, 16 canapés quentes e dez empratadinhos frios e quentes. Complementam o cardápio dez opções de sobremesas – brigadeiro, mini churros de doce de leite com chocolate, trufa de chocolate com frutas secas, mini panna cotta com baunilha do Cerrado e
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Leo Feltran
ÁGUANABOCA
De volta aos 50
Novo bar da chef Mara Alcamim resgata ambiente e coquetéis de pubs nova-iorquinos dos anos dourados
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omo numa receita bem feita de Dry Martini, coquetel em que se misturam gim, vermute e azeitona, a chef Mara Alcamim dosou com equilíbrio os ingredientes necessários para colocar em movimento seu novo bar, aberto em espaço ampliado do antigo bar que funcionava no Universal, seu restaurante da 210 Sul, a saber: um bartender badalado da Pauliceia para assinar a carta de coquetéis, uma produtora de eventos encarregada de agitar a agenda da casa, uma arquiteta pautada para manter a personalidade irreverente do Universal, mas acrescentando referências nova-iorquinas da década de 1950, e, claro, sua própria expertise em gastronomia para criar petiscos que harmonizem com o conjunto da obra. Do incensado bar paulista SubAstor veio o jovem bartender italiano Fabio La Pietra, que criou carta de 21 drinques, a
R$ 31 cada. “A ideia é, a partir dos clássicos, porque não há inovação sem uma base forte, chegar-se aos modern classics. Clássico não significa apenas o que todo mundo conhece há dez anos. Há novas referências firmadas com consistência e técnica”, explica. Assim, no Bar do Universal estarão os drinques clássicos Mai Tai (rum Appleton, limão, Grand Marnier, amêndoas brancas, bitter cítrico, aromático e refrescante) ou Blood and Sand, uma das poucas bebidas mistas clássicas que inclui Scotch, até elaborações chamadas clássicas modernas, das últimas duas décadas, como o Gin Gin Mule, criado no Pegu Club, em Nova York, em 2004 – uma mistura de Gin Tanqueray, limão, hortelã e ginger beer, refrescante, aromático e simples de beber. Na noite de inauguração, Luciana Fabrino – produtora de eventos gastronômicos em Brasília, como Deguste e Tempera – convocou a DJ gaúcha Sophia Dalla Voguet e a dançarina de poledance Belle
Winter, do Nostalgique Cabaret, que se encarregaram de animar os convidados. E tratou de explicar que o novo bar casa com o conceito dos bares speakeasy da época da Lei Seca norte-americana, mas não restritivos e sim com experiências que podem surpreender, envoltas em Leo Feltran
POR MARIA TERESA FERNANDES
Daniel Zukko
charme e mistério. “Eventualmente, poderemos ter intervenções artísticas, flash mobs, DJs convidados de diferentes estilos, música ao vivo e o que mais a criatividade permitir”, adiantou. O projeto do bar, agora com capacidade para 50 pessoas, tem assinatura da arquiteta Fernanda Graneiro, do Studio Habita, que caprichou no teto dourado para se reportar aos restaurantes mais antigos de Nova York e acrescentou vários sofás clássicos, mais conhecidos como capitonê, aqueles aveludados com inúmeros botões, dando o ar retrô que é a cara do Universal Diner. O toque mais luxuoso veio com os lustres de cristal. Finalmente, na parte que lhe toca, a chef Mara Alcamim lançou um menu de petiscos para harmonizar com os novos coquetéis, composto por comidinhas elaboradas com bebidas mais aromáticas. “É um cardápio enxuto, mais leve, com produtos frescos, incluindo os possíveis orgânicos, e que será renovado constantemente”, explicou. Enxuto, de fato, mas muito saboroso, como puderam atestar os convidados da inauguração. As exclamações de satisfação recaíram, sobretudo, na enorme tábua preenchida com rabada desfiada e polenta, feita para ser compartilhada pelos comensais (R$ 69).
Luciana Fabrino, Fabio La Pietra e Mara Alcamim comemoram a inauguração do novo Bar do Universal.
Muitos elogios, também, para o pastel de bacalhau com redução de vinho do Porto (R$ 49), para o acarajé do Cerrado (R$ 49) e para a porção de queijos do Cerrado (R$ 84). “De comer rezando”, disseram alguns, enquanto outros brindavam com seus coquetéis clássicos ou
clássicos modernos ao sucesso da recémnascida casa da sempre irrequieta Mara Alcamim. Cheers!!! Bar do Universal
210 Sul, Bloco C (3443.2089). De 2ª a 6ª feira, das 12 às 15h e das 19 às 24h; sábado, das 12 às 16h e das 19 à 1h.
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ÁGUANABOCA
Eduardo Nobre faz questão de atender pessoalmente clientes como Ana Elisa e Leonard Blackman.
Porco e vinho TEXTO E FOTOS LÚCIA LEÃO
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uma proposta mesmo diferente de tudo o que a noite de Brasília já oferece. Um lugar sofisticadamente despojado, com uma invejável carta de vinhos de mais de cem rótulos, drinks internacionais, cervejas especiais e um cardápio construído a partir de um trocadilho. Cada detalhe da ambientação, decoração e serviço foi cuidadosamente desenhado pelo sommelier Eduardo Nobre quando ele e o sócio Fred Araújo decidiram materializar em espaço físico o Clube de Vinhos IVV – do famoso “in vino veritas”, ou “a verdade está no vinho”, e mais um bocado de provérbios em latim relativos às propriedades da bebida. O clube é, na verdade, uma loja virtual de vinhos, azeites, produtos e utensílios gourmet que em um ano de funcionamento conquistou uma significativa carteira de clientes na cidade. “Foi quase um caminho natural. Sentimos que havia uma demanda da clientela por um espaço onde se pudesse consumir vinho fora de casa e sem o classicismo dos bons restaurantes, que são normalmente as principais opções para os apreciadores da bebida”, explica Eduardo Nobre. E assim surgiu o Swine Bar. Com porco e vinho no nome, o trocadilho
aponta para o primeiro detalhe concebido por Eduardo: todas as carnes do cardápio são suínas. Além delas, os petiscos, tira-gostos e pratinhos contemplam queijos e vegetais servidos em porções fartas e apresentação criativa, como os suportes de pedra rústica no lugar das tábuas para os frios. Os ares cosmopolitas estão ainda nas mesas de caixotes que dividem espaço com os móveis tradicionais, e nos drinks da moda, como a sangria e o moscow mute (R$ 19), aperitivo que conta-se ter sido criado por um ator russo que atuava em Hollywood na década de 1960. É uma mistura de vodka com refrigerante de gengibre, servido com muito gelo em caneca de cobre, que está em alta nos bares da Califórnia. “Eu vim aqui porque soube que tinha moscow mute. E está muito bom, como os que eu bebi em São Francisco”, aprova o advogado Guilherme Medeiros, que conheceu o bar na companhia das colegas Cláudia Muler e Camila Sandri. As moças optaram pela sangria (R$ 55 a jarra) e também não acharam ruim. “Está tudo muito gostoso e agradável”, concordam. O drink foi um “bônus” que Eduardo Nobre trouxe da Califórnia, onde viveu por 14 anos e aprendeu praticamente tudo o que sabe sobre vinhos e gastro-
O advogado Guilherme Medeiros foi experimentar o drink moscow
nomia. Começou como garçom, para custear os estudos em Santa Barbara, passou a maître e decidiu mergulhar no universo do vinho a partir do trabalho em grandes adegas, como a Bouchon, a SeaGrass, a Wine Cask e a Miró, entre outras. Também colocou o pé no chão dos vinhedos e auxiliou no processo de fabricação do néctar em várias vinícolas californianas. Sentindo falta de uma base formal, fez o curso de vinhos da Santa Barbara City College e associou-se à Court of Masters Sommelier, organização inglesa que certifica profissionais do mundo do vinho desde 1977. Para completar, em 2011 deu uma volta ao mun-
O sommelier Eduardo Nobre e o sócio Fred Araújo.
Divulgação
do para conhecer de perto as características, o atendimento, a relação com o cliente e os vinhos e vinícolas mais famosos e importantes de cada região. Ao todo, foram mais de 50 países, quatro continentes e infinitas experiências com alimentos, condimentos e, claro, vinhos. É toda essa experiência que Eduardo Nobre aplica hoje no Swine Bar, onde faz questão de atender pessoalmente cada cliente, dedicando especial atenção aos que vão lá para brindar com Baco, dispondo-se a pagar por uma garrafa “de R$ 50 ao inimaginável”, brinca Eduardo. Como o casal Ana Elisa e Leonard Blackman, que normalmente bebe vinho em casa. “Somos apreciadores, não conhecedores. Raramente saímos para beber vinho, mas moramos aqui perto e ficamos curiosos para conhecer o Swine Bar. Nos aconselhamos com o somellier para decidir o que pedir”, diz o inglês Leonard, que fica ainda mais à vontade quando descobre que pode trocar ideia na sua língua mater. “Nós não temos aqui uma carta de vinho. Quando o cliente não vem com um pedido certo, a gente conversa, identifica qual é a intenção, em que tipo de coisa o cliente está pensando, e sugere. Porque, acima de tudo, o vinho é a ocasião”, sentencia, definitivo, o sommelier. Como diriam os romanos, “in vino vitae”. Ou “no vinho a vida”. Swine Bar
314 Norte, Bloco B (3034.3471). De 5ª feira a sábado, das 18 às 24h.
Leitoa à passarinho
Porco, de novo U POR VICTOR CRUZEIRO
m novo espectro ronda a 408 Norte: o espectro amplo e inconfundível da carne de porco. Na primeira segundafeira de junho, dia 6, o Oinc Bar abriu as portas ostentando um cardápio composto única e completamente – ênfase no completamente – de pratos salgados, sobremesas e até um drinque preparados com ingredientes derivados da carne suína. Assinado pelo chef André Batista, um dos grandes apaixonados pela comida (e cultura) de boteco na capital, o menu traz itens básicos de bar, como croquetes variados, de pernil e porco em lata (R$ 7 a unidade), mas também releituras ousadas como leitão a passarinho (R$ 51) acompanhado de farofa panko e molho de limão e bolinho harumaki de porco com geleia de abacaxi picante (R$ 29 por 8 unidades). Quando enfatizei o alcance da criatividade de André no mundo da carne suína, não estava brincando. De sobremesa, a casa serve brownie com bacon, e há um delicioso bloody mary (esse aí da foto ao lado), drink de vodca e suco de tomate que leva uma fatia de bacon crocante acompanhando o indefectível aipo.
Vale lembrar que a combinação explosiva entre carne de porco, comida de boteco e André Batista não é de agora. À frente da charcutaria Cacciatore, André é um dos produtores de embutidos mais famosos da capital, fornecendo produtos para ícones da gastronomia brasiliense como o Parilla Madrid. Além disso, é responsável por um dos pratos mais inesquecíveis do Godofredo, também na 408: a linguiça do Tio André. Localizado no nicho do finado Aleatório, galeria e bar de extremo requinte, o Oinc conserva, com seu predecessor, a mesma essência de botequim, cuja simpatia rústica se soma à sofisticação de sabores de uma única origem, prometendo uma indescritível experiência. Oinc Bar
408 Norte, Bloco E, subsolo (99657.5038) De 2ª a 4ª feira, das 17 à 1h; de 5ª a sábado, das 17 às 2h. Divulgação
mute junto com as colegas Cláudia Muler e Camila Sandri.
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Fotos Felipe Menezes
ÁGUANABOCA
Receitas de famiglia POR VICTOR CRUZEIRO
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em-vindo ao Vittoria D’Italia, uma pérola incrustada na 214 Norte, bem em frente ao Parque Olhos D’Água. Aberto em 2014, tão logo seus idealizadores, Andrea Souza e Francesco Bravin, voltaram para o Brasil, o restaurante é um pouco da Itália em plena Brasília. Sua decoração, delicada e ao mesmo tempo rústica, dá um tom íntimo e aconchegante, coroado pela delicadeza com que os dois, e seu fiel time de dois garçons, recebem e cuidam de cada cliente. Andrea e Francesco se conheceram em Barcelona. Ele trabalhava num dos mais conceituados restaurantes italianos da cidade. Ela, no ramo de fornecimento de material para restaurantes. “São as voltas que a vida dá”, ri Andrea, que nunca imaginou que sua formação em letras a levaria à Espanha. De fato, são os acasos que marcam as trajetórias do casal. Francesco passou por química industrial e economia até decidir-se pela gastronomia “tempo pieno”. Foi em 2012 que o casal voltou para o
Brasil e iniciou uma família, primeiro com as filhas e, em seguida, com o restaurante. Em plena Copa do Mundo de 2014, o Vittoria D’Italia abriu as portas para regalar a cidade com as estupendas criações de Francesco, como o indescritível provolone grelhado com geleia caseira de tomate (R$ 20) e a surpreendente, ainda que simples, combinação de sálvia, parmesão e manteiga no molho tricolore (R$ 38). “Essa foi uma criação minha, aqui no restaurante”, conta o chef, apontando para um carpaccio com base de tomate, encimado por finas fatias de haddock defumado e finalizado com limão siciliano e pimenta rosa (R$ 42). Francesco é, numa breve definição, um criador. À guisa dos seus conterrâneos venezianos, como Bellini e Palladio, o chef do Vittoria D’Itália é uma mente criativa pulsante, cuja atividade não cessa. “Às vezes eu acordo pela manhã com uma ideia de um prato novo”, confessa. Enquanto me servem mais um cálice de seu limoncello caseiro, Francesco e Andrea (na foto abaixo) me presenteiam com várias histórias sobre seu encontro
em Barcelona, as aventuras gastronômicas dos dois pelo mundo e, por fim, o chef fala sobre as inegáveis influências das receitas tradicionais de suas nonne. Tudo que Francesco aprendeu com a família – e família é um conceito importantíssimo para qualquer italiano – foi transportado com o maior carinho e cuidado de Portogruaro, a cerca de 80 quilômetros de Veneza, para a 214 norte. “No começo foi difícil”, admite Andrea. “Mas é tudo parte de uma experiência! Ele nunca havia cozinhado aqui, não sabia como eram os brasileiros, o paladar, os gostos”. E eis que, com algum estudo e muita dedicação, a gastronomia italiana de Francesco caiu no gosto do público. “Mas não é adaptação, é adequação!”, alerta o chef. “Os ingredientes são todos os mesmos que eu usaria na Itália, mas o brasileiro gosta de uma massa com muito mais molho, por exemplo”. As massas são o exemplo cabal disso. Entre os 20 tipos de molho, o cliente pode escolher fettuccine, spaghetti ou penne e saborear um delicioso macarrão que um italiano da gema consideraria um tanto heterodoxo, mas que foi fielmente confeccionado seguindo as tradições da terra de Da Vinci e Fellini. Já não se pode, infelizmente, dar as boas vindas ao Vittoria D’Italia, prestes a completar dois anos. Mas é sempre possível receber as boas vindas dos anfitriões mais calorosos que você irá encontrar. Seja pelo zelo, pela graça ou mesmo pelo delicioso tiramissú (R$ 16), o Vittoria D’Italia tem sempre um bom motivo para receber sua visita. Benvenuto! Vittoria D’Italia
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214 Norte, Bloco D (3547.0795) De 3ª a 6ª feira, das 19h às 23h30; sábado, das 12h às 15h30 e das 19h às 23h30; domingo, das 12 às 16h.
Rayan Ribeiro
PICADINHO
Comida, diversão e arte
temperados com redução de aceto balsâmico, sal grosso e pimenta do reino, e uma compota de cebola roxa adocicada imprime um toque agridoce à criação do chef Miguel Ojeda, servida no almoço e no jantar, de terça-feira a domingo.
Festival de risotos
Ed Alves
O conceito estampado na capa da Roteiro cabe como uma luva no recém-inaugurado Mercadito (202 Sul, Bloco B, tel. 3536.2927), descontraído espaço de convivência onde se misturam e se complementam gastronomia, coquetelaria, arte e música, muita música. Os donos são três empresários jovens – Pedro Caetano, Henrique Lima e Ronnie Moura – mas muito experientes em promoção de eventos (são sócios da produtora Funn Entretenimento). Inspirada em bares e restaurantes nova-iorquinos, e considerando a natureza multiuso do empreendimento, a arquiteta Luciana Canali dividiu o espaço de 250m2 em vários ambientes, cujas paredes são decoradas com obras de artistas brasilienses. E reservou o mezanino para abrigar um pequeno empório. A carta de drinks leva a assinatura do premiado bartender Rinaldo Honorato e o cardápio foi elaborado pelo chef carioca Beto Ribeiro. Nos almoços de segunda a sábado, o Mercadito funcionará no sistema self-service, com bufê de saladas, grelhados e mais de 30 opções de pratos quentes e sobremesas.
“Biscoitos com gosto de casa da vó” é o que promete o recém-inaugurado Café Uai Bezinha! (311 Sul, Bloco B, tel. 3543.1000). Café moído e coado na hora, brevidades, tapiocas, pão de queijo, ambrosia, bom bocado, petas, arroz doce, pamonha assada e outros quitutes típicos das Minas Gerais, todos produzidos de forma artesanal, estão presentes no cardápio elaborado com a consutoria do chef Marcelo Riela. As proprietárias, Tereza Côrtes, mineira do município de Vazante, e a filha, Lara, dizem que sua intenção foi criar um ambiente acolheador, um convite “à boa prosa, aos olhares demorados e verdadeiros encontros, além de belas viagens à fazenda, à casa da vovó e à infância”.
Outro badalado italiano da cidade, o Villa Tevere (115 Sul, Bloco A, tel. 3345.5513), oferece até o final do mês um festival de risotos com 14 receitas, todas servidas em panelinhas individuais, ao preço de R$ 53. Entre as criações do chef Flávio Leste, destaque para esse risoto de bacalhau em lascas, feijão branco, cebola caramelada e queijo Reino. Para os apreciadores de frutos do mar, há pelo menos três opções: de gorgonzola, pera, nozes e camarões flambados em Amareto; de banana da terra com queijo Bel Paese e camarões flambados em cachaça; e de limão com vôngoles salteados e flambados em grappa. Os vegetarianos também foram contemplados com três receitas: de funghi, cogumelos frescos e secchi; de maçã verde, queijo de cabra e nozes; e de berinjela, abobrinha, tomatinhos e alho confitados com ervas frescas.
Hambúrguer defumado
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Gostosuras mineiras
Impossível resistir à febre dos hambúrgueres gourmet, disseminada principalmente pelos food-trucks. Até o italiano Fortunello (206 Sul, Bloco A, tel. 3297.3232) entrou na onda, com o lançamento de um suculento hambúrguer com sabor de churrasco, montado em pão artesanal com gergelim. Os vegetais são
Da gota serena A cidade acaba de ganhar mais um restaurante especializado em comida nordestina: o Bem Arretado (Setor de Indústrias Gráficas, Quadra 6, tel. 3341.1004). As estrelas do cardápio, elaborado pela chef Rafaela Jardim, são os clássicos baião de dois (R$ 21,90 o individual e R$ 36,90 para duas pessoas), a rabada com agrião (R$ 24,90 e R$ 43,90) e a carne de sol (R$ 24,90 e R$ 43,90). A decoração também é típica: parede de tijolos, chapéus de couro, namoradeiras, móveis rústicos de madeira de demolição e cactos da Caatinga.
Rayan Ribeiro
Uma viagem gastronômica pelas ruas de Nápoles, no sul da Itália, “para resgatar sabores e aromas da região da Campania”, é a atração de todas as noites de quinta-feira na Baco (309 Norte, bloco A, tel. 3274.8600, e 408 Sul, Bloco C, tel. 3244.2292). A “viagem”, que o proprietário da pizzaria, Gil Guimarães batizou de Giro Napoletano, começa com o tortano, um pão recheado com linguiça, ovo e queijo, assado em forno a lenha (R$ 10), e segue com um dos cinco sabores da pizza napolitana (R$ 30 a R$ 45) e com outra comida de rua, a pizza frita, recheada com ricota fresca, provolone defumado, cicoli (embutido napolitano) e pomodoro pelati, depois fechada como um pastel e submersa em óleo a 180ºC (R$ 20).
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Giro Napoletano
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GARFADAS&GOLES
LUIZ RECENA
lrecena@hotmail.com
Sábados, domingos
e o Rio de Janeiro
Não é fácil a vida de quem costuma almoçar tarde. Principalmente aos domingos e feriados. O sábado é especial e não entra nesse quadro de tormentos. O sábado, também conhecido em Brasília como dia de “São Bermuda”, desde sempre é um protegido, um mimado, um moleque cheio dos cuidados e das proteções. Então, é um dia que as pessoas, normais ou nem tanto, aproveitam para afazeres domésticos, compras maiores, oficina mecânica, visitas adiadas, uma chegadinha ao clube, aos parques, um salão de beleza. E as peladas? Essas dominam espíritos e estômagos. Craques de todas as denominações e origens diversas e/ou difusas jogam tudo e depois bebem e comem. Todos os bocados confluem à tarde, no meio da tarde, quando a oferta supera a demanda e a felicidade encontra guarida em todas as barrigas, goelas e bolsos também. No sábado, dizia o poeta, “os bares ficam repletos de homens vazios”. Vinícius não conseguiu acompanhar o crescimento da capital do país. Nem a melhoria da qualidade dos homens, mas isso é outro papo. O que importa, aqui, é garantir que, no sábado, ninguém fica sem um prato de comida.
Domingos e feriados
A coisa muda no dia da guarda ao senhor das religiões e nos feriados motivados por não importa qual argumento. Se caem em dias fixos provocam situações hilárias. “Puxa, dia dos namorados, a gente não esperava tanta gente, não nos preparamos, desculpem nossa falha”... “Terceira garrafa do mesmo vinho? Não, não temos estoque, serve outro, é da mesma uva”... E la nave va! Aos domingos nem a igreja salva! Paróquias e templos que ainda mantêm o hábito de vender comidinhas para angariar fundos e tocar obras divinas marcam hora para acabar: duas da tarde não tem mais nem um grão de arroz. Três da tarde restaurantes entram no rol do drama e começam a fechar. É dura a vida para os “fora de horário”. Até os shoppings e feiras não dão moleza. Os lugares de repasto têm horários de descanso. Pois é. E os que não descansam tampouco renovam seus estoques de comidas. É isso.
Uma exceção
O colunista esperou três vezes para não negar a informação:
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come-se, aos domingos e feriados, fora do horário dito normal, no Dona Lenha da 413 Norte. Come-se bem. Cardápio variado e saboroso. E serve-se vinho em taça. Bom vinho e preço idem. Salud!
Boa notícia
Não fui ainda, mas a fonte é boa: o Moqueca do Chefe, na 404 Norte, serve uma bela moqueca, bem sortida e para duas pessoas. Quem foi, chegou às três da tarde e enfrentou fila. Mas diz que valeu e muito a espera. A conferir.
E o Rio?
Continua lindo, faça chuva ou faça sol, ciclovias despenquem ou viúvas do Barbudo atrapalhem o trânsito. O Lamas está lá, Copacabana está lá e a Confeitaria Colombo abre para convidados aos domingos e oferece um completíssimo chá da tarde. Chique. Pensa-se até em sassaricar ouvindo a velha marchinha. Rio é o Rio.
PÃO&VINHO
ALEXANDRE FRANCO pao&vinho@agenciaalo.com.br
Ilhados no Mediterrâneo Acabo de chegar de mais uma agradável viagem à Europa e, é claro, com algumas novas experiências enogastronômicas dignas destas páginas. Primeiro passei por Nápoles, onde saboreei a “vera pizza” numa de suas mais prestigiosas pizzarias, a Gino Sorbillo. Linda aos olhos e boa ao paladar. Acompanhei-a de um bicchieri de vino rosso da casa, leve como um Pinot Nero, mas com boa acidez para acompanhar o molho de tomates. Depois, alguns dias em Capri, onde fiz a melhor refeição da viagem no restaurante L’Ollivo, para mim o melhor da Itália a que já fui. Menu-degustação de primeira, cujo auge foi um fusili com ragu de coelho que estava fantástico. Tudo acompanhado de um bom Taurasi Principe Lagonessa 2004. Dos melhores caldos italianos e certamente o grande ícone da região da Campania, o Taurasi leva um mínimo de 85% de Aglianico e comumente é um varietal dessa excelente casta. Esse Lagonessa trouxe aromas de frutas negras do bosque, chocolate e húmus, em boca plena, com boa acidez e taninos suaves. Depois fomos à Sardenha, uma ilha maior do que eu esperava, com mais de 1,5 milhão de habitantes e uma produção de vinhos bastante razoável, não só na quantidade mas especialmente em qualidade. Afinal, a ilha é o berço da uva Cannonau di Sardegna. Embora já tenha sido considerada uma derivação da Granache trazida da Espanha na Idade Média, hoje estudos demonstram que a Cannonau é, na verdade, uma autóctone da Sardenha. Por lá foram várias as garrafas, mas o que mais impressionou foi a visita a uma belíssima vinícola, a Surrau. A Vigne Surrau produz de tudo: espumante branco e rosé, vinhos brancos secos e de colheita tardia, quatro tintos diferentes e ainda dois passitos, um branco e um tinto. Exceto pelos espumantes, que achei “fracos”, todos os demais tinham
qualidade de boa a ótima e um deles era excelente. Dos tintos, destaco o Sicaru Riserva 2011. Com 24 meses de barril, cor vermelha rubi com reflexos granada, traz ao nariz aromas de frutas vermelhas maduras e algo de floresta, e em boca é macio, morno, redondo. Bom vinho. A Vermentino é a casta de uvas brancas que melhor floresce na ilha. De fato, ela é a grande estrela branca da ilha e da Itália. Em especial a Vermentino di Gallura DOCG Superiore. E da Surrau temos o Sciala (pronuncia-se “chiála”), que em dialeto local significa abundância, muito próprio ao magnífico vinho que representa, não apenas o melhor branco da viagem, mas o melhor vinho branco italiano que já degustei. Tomamos o Sciala 2013. Verdadeiramente perfeito, tanto que o repetimos em mais duas refeições após a degustação na vinícola. O vinho tem tudo: apesar dos seus 14% de álcool, é leve e fresco, marcante e gastronômico. O olfato é rico, com flores brancas, especialmente jasmim, pêssegos e um toque de gengibre. Na boca é levemente apimentado, com toque de limão. Com boa acidez, revela-se crespo. Mais que tudo, é delicioso. Vinho excelente. De lá fomos para a ilha vizinha, porém francesa, a Córsega. Menor, muito menos habitada, mas nem por isso com menos qualidade vínica. Muitas e boas foram as experiências enogastronômicas, mas para citar apenas uma, fico com o jantar harmonizado no La Caravelle, restaurante estrelado de Bonifácio, a cidade medieval da Córsega. Tivemos a sorte de por lá passarmos em noite especial, comemorativa do restaurante, na qual o chef que inaugurou a casa anos atrás se fez presente para, em conjunto com o chef atual, nos preparar um ótimo menu-degustação, ao qual o sommelier somou uma bela harmonização de vinhos. Mas esta será uma história para futuras páginas .
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HAPPY HOUR
A nova cena cervejeira
RONALDO MORADO www.ronaldomorado.com.br ronaldomorado.blogspot.com.br @ronaldomorado
Para que qualquer país seja considerado um país, ele deve ter uma força aérea, um time de futebol e uma cerveja. Pode até não ter uma força aérea ou um time de futebol, mas tem que ter uma cervejaria.
Já comentei aqui a crescente revitalização da cultura cervejeira no Brasil. A “onda” começou a se formar na década de 1990, mas tomou impulso nos últimos dez anos. Vários fatores contribuíram para isso: o surgimento de várias microcervejarias nacionais, o nascimento dos movimentos cervejeiros caseiros, a maior oferta de produtos importados e, principalmente, o natural aumento de exigência do consumidor cansado da mesmice das cervejas tradicionais. Já percorremos o mesmo caminho com o vinho, com a culinária, com os perfumes etc. Na verdade, a cerveja está surfando na tendência da sofisticação sensorial do consumidor, que é uma característica intrínseca da sociedade desde o boom de consumo dos anos 1970. Nossas exigências de design, sabor, aromas, texturas, conforto etc são naturais e progressivas. O consumidor não se contenta com qualquer coisa e procura novidades e experiências, mais do que objetos. Como diz uma grande amiga, “uma mente expandida nunca retorna ao seu tamanho original”. No caso da cerveja, assim como era com o vinho décadas atrás, o público ainda carece de informações e conhecimento. Quando eu decidi escrever e publicar um livro sobre o tema – o Larousse da cerveja – estava mirando uma lacuna enorme de literatura sobre a bebida. Livros e revistas sobre vinhos sempre foram acessíveis; sobre cerveja, ainda não. O sucesso de vendas do livro demonstrou a carência que o brasileiro tem sobre o assunto. De dez anos para cá proliferaram confrarias, associações, palestras, feiras e eventos ocupando esse espaço de comunicação com o público para aculturamento e aproveitamento das oportunidades de negócio. Nessa trilha, como já comentei aqui, os tradicionais bares e botecos começaram a ceder espaço para os gastropubs, 16
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Frank Zappa, músico norte-americano.
cada um ofertando dezenas de bicos de chope diferentes e uma gastronomia mais sofisticada (nova, leve, moderna) para atender a esse público exigente e ávido por novas experiências. As próprias microcervejarias – atualmente são quase 500 no Brasil! – estão ocupando os nichos despercebidos pelas grandes cervejarias. Em paralelo a isso, os eventos sobre cerveja se multiplicam. As ofertas sobre o tema são variadas: festivais, brassagens, harmonização, cursos de beer sommelier, beer experience, “dia disso”, “dia daquilo”, degustação de “artesanais” ou “especiais”, palestras... tudo vale. O importante é satisfazer a enorme curiosidade reprimida do público que quer explorar o universo cervejeiro, mas tem sido vítima da “ditadura” da Pilsen nos últimos 100 anos no Brasil. Realizo palestras sobre cerveja por todo o Brasil, de norte a sul. Fico espantado – e satisfeito – com o interesse e curiosidade das pessoas sobre o tema. Em Brasilia já palestrei para mais de 500 pessoas e percebi o quanto é fértil esse campo por aqui. E, felizmente, percebo que a cena cervejeira na cidade tem mudado recentemente. Não apenas pelo surgimento de novas casas (bares, pubs e empórios), como também pela realização de eventos que procuram levar ao público novas experiências dessa bebida.
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ailhaemmim De temática figurativa e bastante colorida, Vera Sabino pinta basicamente com inspiração na cultura de sua cidade natal, Florianópolis. Quarenta trabalhos em acrílico sobre Eucatex realizados nos 50 anos de carreira da artista plástica compõem a mostra que a Caixa Cultural apresenta entre 29 de junho e 4 de setembro, com entrada franca. Colonização, fé, folclore, magia e a natureza da capital catarinense estão retratados nas telas onde santos, mulheres, flores e as lendas da ilha compõem uma viagem a Floripa. A mostra será dividida em quatro mundos do universo mítico da artista: Os santos, onde estarão as telas envolvendo sua religiosidade e devoção ao divino; O bruxólico, com sua viagem ao mundo da magia e do folclore de Santa Catarina; O feminino, no qual Vera retrata a mulher sob seu olhar particular; e As flores, que apresenta alguns dos quadros feitos especialmente para essa mostra e que retratam a natureza de Brasília, onde Vera morou quando jovem. Para imergir ainda mais no universo da artista, o visitante poderá assistir a um documentário sobre sua trajetória, intitulado A ilha em mim, da cineasta Suélen Ramos Vieira Vale. De terça a domingo, das 9 às 21h, com entrada franca.
focosvisuais
Um convite para mergulhar no diálogo entre geografia, tempo e espaço. Assim pode ser resumida a mostra Geografia do atopos, que apresenta até 2 de julho os trabalhos de Gregório Soares e Thales Noor (foto). Trata-se de uma proposta de olhares complementares: de um lado, o macro, as longas viagens, os caminhos e as catalogações; de outro, as ruínas, os detalhes, a matéria crua e as marcas que ficam pelo percurso enquanto rastro. Artistas plásticos por formação, seus trabalhos se caracterizam fortemente pelo ato da coleta – pedaços dispersos do mundo – e se reorganizam de acordo com referências e percursos pessoais: colagem, coleção de objetos, fotografia e assemblage. Como geógrafos ao avesso, Gregório e Thales propõem uma outra geografia do mundo, não científica, mais lúdica. Geografar o atopos é reconfigurar o espaço, redistribuí-lo, desorientá-lo, deslocá-lo onde parecia ser contínuo e reuni-lo onde se supunha que havia fronteiras. Os artistas se conhecem desde 2006 e se graduaram juntos na Universidade de Brasília (UnB). Na Alfinete Galeria (103 Norte), com entrada franca. De quarta-feira a sábado, das 15h30 às 19h.
Imagens arquivadas emocionalmente associadas a objetos trazidos de sua trajetória desde a infância no Piauí e por suas andanças mundo afora compõem a arte de Marcelino Cruz, que apresenta no CTJ Hall (706 Sul) uma série de pinturas e objetos resultantes de pesquisa de vários anos. Inovador e aplicado, o artista manteve, durante muito tempo, a escrita como complemento laboral. Restos de palavras e códigos foram transformados em linhas misturadas ao sobrepor de cores. Marcelino insere em cada uma de suas obras coisas, pessoas, pensamentos e devaneios. Na tentativa constante de transformar a obviedade dos objetos em algo novo, recolhe pela vida tudo aquilo que lhe desperta interesse. Une pontos, pensa em planos, concretiza volumes. Sua intenção, mesmo que não declarada, quase acidental, é promover focos visuais e propiciar, por meio de resíduos dispensados pelo mundo, o seu argumento, o seu mapa espacial e temporal. Restos de faixas de propaganda, trançados, bilhetes de viagem, lacres e ferros de marcar gado são utilizados na sua arte que constrói e desconstrói, expõe pedaços, aquilo que existe de mais visceral é que lhe dá razão para recriar. Até 2 de julho, de segunda a sexta, das 9 às 21h, e sábados, das 9 às 12h. Entrada franca.
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brasília na tela Em setembro, uma das pinturas de Fábio Pedrosa foi selecionada para o projeto Arte quentinha, da Secretaria de Cultura, que distribuiu em padarias de todo o DF 130 mil saquinhos de pão com imagens de obras de 24 artistas brasilienses. Agora, o trabalho do artista plástico alagoano que mora e trabalha aqui desde os anos 90 pode ser visto no Espaço Cultural Codevasf (SGAS 601). As cores de Brasília e a interação das pessoas com a cidade e, mais recentemente, a fusão do mundo real com outro quase mágico são aspectos explorados por Fábio na exposição Do ninho à fuga: breve passeio por quatro anos de pintura. É composta por 18 telas, divididas em três fases. Na primeira está a produção realizada entre 2012 e 2014, inspirada em diferentes temas. Na segunda fase há dois momentos em que se nota uma diferença na abordagem: no primeiro, Brasília é o foco da atenção do artista, a cidade é facilmente reconhecida. No segundo momento, aponta para uma transição: Brasília está lá, mas em imagens que poderiam ser de qualquer outra cidade. Na terceira fase estão os exemplares de uma nova série ainda em produção, com elementos de abstração em situações corriqueiras. Até 8 de julho, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h30, com entrada franca.
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alfinetegaleria
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Renato Gama
DIA&NOITE
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sócomavoz Apesar de não utilizarem instrumentos musicais, os integrantes do grupo SetBlack têm sonoridade de uma banda com sons vocais e imitações de instrumentos musicais, tais como baixo elétrico e bateria. Composto por cantores com vasta experiência musical e que cantam à capella, o grupo que tem como referência a música negra se apresenta dia 17 de junho, às 20h, no CTJ Hall (706 Sul). Com performances criativas e qualidade técnica elogiada pela crítica, o SetBlack foi finalista do quadro À cappella, do programa Domingão do Faustão. Paulo Santos, idealizador e diretor musical do grupo, dirige também o elenco brasileiro do grupo israelense Voca People. Ana Barreto assina a direção artística do SetBlack e do Voca People. Entrada franca.
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vivacervantes
picnikemjulho A próxima edição do Picnik será em 2 e 3 de julho, na Concha Acústica. A festa reunirá uma série de atividades, como palestras e workshops sobre cultura e bem-estar, além de mercado com mais de 150 expositores de arte, moda, decoração, discos de vinil, gastronomia e produtos orgânicos. Ao longo de dois dias de programação vão se apresentar Lucas Santanna (BA), Bike (SP, foto), Trementina (Chile), Bang Band Babies (GO), Magic Crayon (SP), IFA Afrobeat (BA), Gasolines (SP), Camarones Orquestar Guitarrística (RN), além de locais como Dillo, Joe Silhueta, Aloizio e Enema Noise. O acesso é livre.
cantolírico Ela já foi premiada em diversos concursos internacionais de canto e recebeu a bolsa de estudos Virtuose do Ministério da Cultura para especializar-se em canto barroco em Florença, onde estudou e atuou com vários grupos musicais. Estamos falando de Ariadna Moreira, a mezzo soprano que também é professora de Canto Erudito da Escola de Música de Brasília e se apresenta dia 1º de julho, às 20h, no CTJHall (706/906 Sul). Com vasto repertório operístico, Ariadna já se apresentou como solista de orquestras de diversos países. No próximo recital será acompanhada pelo pianista Deyvison Miranda e pelo Quarteto Capital. No programa, peças de Xavier de Montsalvatge, Johannes Brahms e Ernest Chausson, entre outros. Ariadne estudou música e canto lírico na Escola de Música de Brasília e na Universidade de Brasília. Atualmente, é professora efetiva de Canto Erudito da Escola de Música de Brasília. Entrada franca.
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Os 400 anos de morte do escritor espanhol imortalizado por sua obraprima Dom Quixote estão sendo muito bem comemorados no Instituto Cervantes. Até 24 de junho, os brasilienses poderão visitar Quijotes, que reúne 42 edições traduzidas do livro em mais de 20 idiomas. Com curadoria de Rosa SánchezCascado, a exposição tem como destaque algumas edições ilustradas por artistas renomados em todo o mundo, como o brasileiro Cândido Portinari, o espanhol Salvador Dalí, o francês Gustave Doré e o chileno Roberto Matta. Dom Quixote de la Mancha teve sua primeira edição publicada em Madri, em 1605. O livro surgiu em um período de grande inovação e diversidade por parte dos escritores ficcionistas espanhóis. Parodiou os romances de cavalaria, que no passado gozaram de imensa popularidade, mas àquela altura já se encontravam em declínio. Nessa obra, a paródia apresenta uma forma invulgar. O protagonista, já de certa idade, entrega-se à leitura desses romances, perde o juízo, acredita que tenham sido historicamente verdadeiros e decide tornar-se um cavaleiro andante. Por isso, parte pelo mundo e vive o seu próprio romance de cavalaria. De segunda a sexta-feira, das 9 às 20h, e sábado, das 9 às 15h, com entrada franca.
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coraldescontraído Seu repertório não inclui a música sacra erudita, mas em algumas canções da MPB a religiosidade popular é o tema principal. Gilberto Gil, Ivan Lins, Luiz Gonzaga e outros compositores estão no repertório do grupo vocal Boca do Mundo, criado há 11 anos com a proposta de apresentar música sacra com referências a folguedos religiosos do Nordeste. Dia 24 de junho, às 20h, o grupo estará no CTJHall (706/906 Sul) para mostrar como cantores vindos de diversos grupos vocais e corais de Brasília fazem de seu canto uma atividade descontraída e prazerosa. Nessa apresentação, o Boca do Mundo mostrará o trabalho que levará em julho próximo para o Festival Ensembles Polyphoniques en Provence, na França, uma importante reunião de coros de diversos países da Europa. A MPB estará muito bem representada, especialmente com seus gêneros pouco conhecidos do público estrangeiro, e com destaque para as influências da música europeia, africana, indígena e norte-americana. Entrada franca.
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Estão abertas as inscrições para a 26ª edição do Seminário Internacional de Dança de Brasília, que acontece de 11 a 31 de julho em vários pontos da cidade. Os homenageados serão o dramaturgo inglês William Shakespeare e o romancista espanhol Miguel de Cervantes. Coordenado pela bailarina, coreógrafa e professora Gisèle Santoro, o festival criado há 25 anos tem como proposta promover espetáculos de dança gratuitos, além de dar oportunidade aos bailarinos de Brasília para entrarem em companhias de destaque mundial. Várias modalidades da dança estarão à espera dos participantes na Avenida da Dança, que ocupará o Teatro Dulcina de Moraes (Conic), assim como no palco a ser montado em frente ao Conjunto Nacional, além da Galeria Athos Bulcão e das salas de ensaio do Teatro Nacional Claudio Santoro. As inscrições podem ser feitas em www.dancebrasil.art.br. Os preços variam entre R$ 610, por 20 tickets que dão direito a 20 aulas, e R$ 950 o passe livre, com o qual os participantes poderão fazer todas as aulas e ainda entrar em contato com coreógrafos e mestres de todo o mundo. Entrada franca para os espetáculos.
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Dono de uma vasta filmografia e apontado como um dos mais inventivos diretores de filmes de terror, o americano George Romero é o homenageado da mostra A crônica social dos mortos-vivos, em cartaz no CCBB até 20 de junho. Com curadoria do crítico de cinema e jornalista Mario Abbade, a retrospectiva exibe todos os filmes que Romero fez para cinema e um documentário para a TV. Diretor do clássico A noite dos mortos-vivos (1968), horror cult com temática zumbi que influenciou a série de TV The walking dead e jogos e filmes da série Resident evil, Romero foi considerado um gênio por Quentin Tarantino, Brian de Palma e John Carpenter. De acordo com o curador, o diretor homenageado é dono de uma obra que abordou racismo, segregação, desigualdade social, consumismo e questões existenciais de modo original, além de transcender as gerações e os limites do cinema. Ingressos a R$ 10 e R$ 5, à venda na bilheteria do CCBB, de quarta a segunda, das 9 às 21h. Programação em http://culturabancodobrasil. com.br/portal/distrito-federal.
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Quem é da área certamente já ouviu falar de Mariana Brasil, consultora que trabalha há 20 anos no mercado de produção independente, sendo os últimos nove na área de produções para TV. Desde 2012 ela ministra cursos em desenvolvimento de projetos para TV, tendo já atendido mais de mil alunos e produtores independentes em todo o país. Ela estará em Brasília nos dias 8, 9 e 10 de julho para ministrar o curso Pensamento de Produção, que parte de um roteiro ou projeto de preparação de orçamento e segue pelo cronograma de execução, editais, janelas de exibição, formatos de negócio etc. O curso tem carga horária de 15 horas, sendo três horas na sexta à noite, três no sábado de manhã, três à tarde, três no domingo de manhã e três à tarde. O curso foi planejado para produtores (coordenadores, diretores de produção, produtores executivos etc.) da área audiovisual que já atuem no mercado ou tenham conhecimentos básicos dessa área. Informações em oficina@guinadaproducoes.com.br.
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Estão abertas também as inscrições para a 26ª edição do Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro – Curta Cinema 2016. De caráter competitivo, o Curta Cinema é o primeiro no Brasil a qualificar seus prêmios de melhor filme nacional e internacional para a disputa do Oscar. Para participar, os realizadores devem inscrever Mate-me, por favor, curta de Anita Rocha da Silveira filmes de no máximo 30 minutos e que tenham sido produzidos entre 2015 e 2016. Este ano, além da programação competitiva, o festival volta com as tradicionais mostras Panoramas Carioca e Latino Americano. Uma série de programas temáticos e especiais acompanham os quatro painéis principais, fechando a programação ao lado de debates, workshops e oficinas. O Curta Cinema aceita filmes dentro de todas as propostas, gêneros e estilos. As inscrições vão até 22 de julho e devem ser feitas em www.festhome.com.
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transbordacoração Questões que envolvem a labuta diária do ofício teatral estão expostas no monólogo Quando o coração transborda, encenado por Maíra Oliveira, filha de Ary Pára-raios, diretor do Esquadrão da Vida, morto há 13 anos. Foi na investigação de textos, memórias, cartas, músicas, poemas e imagens que fazem parte da trajetória do Esquadrão da Vida que a atriz buscou inspiração para colocar no palco indagações comuns a quem abraçou o teatro, como ela. Por que fazer teatro, e para quem? São algumas das questões colocadas no monólogo que tem direção de Maíra, codireção de João Antonio de Lima Esteves e direção musical de Roberto Corrêa. As respostas estão até 26 de junho no palco do Teatro Dulcina de Morais. É o primeiro monólogo interpretado por Maíra, que teve temporada em 2015, duas apresentações no Cena Contemporânea e curta temporada no Teatro da Caixa, em janeiro passado. Maíra toca viola caipira e violão e canta em cena, num grande encontro informal com a plateia. Sábado e domingo, sempre às 20h. Ingressos a R$ 30 e R$ 15.
desilusõesamorosas
princepezinho
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Mesmo entre pessoas com interesses completamente distintos, o cupido lança suas flechas e pode, sim, ser bem-sucedido. Essa é, em resumo, a mensagem embutida na comédia Amores glaciais, em cartaz até 26 de junho no Teatro Brasília Shopping. De Maurício Witczak e dirigido por Wol Nunnes, a peça sugere que o amor, ainda que em tempos de intolerância e descompassos, tem chances. Segundo a diretora, a história relata o encontro de dois vizinhos, uma escritora e um astrônomo, na noite mais fria dos últimos tempos. O autor se utiliza do humor para falar de desilusões amorosas em um cenário que remete ao fim do mundo. “Os personagens representam o conflito entre a arte e a ciência, mostrando que esses dois universos estão em rota de colisão”, explica Witczak. “E, no final das contas, o que será que lhes aguarda: uma nova era glacial ou um novo amor?”, pergunta Wol Nunnes. Sábados, às 21h, e domin- gos, às 20h, com ingressos a R$ 30 e R$ 15.
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É para a Casa Velha da Ponte, onde viveu a doceira e poeta goiana Cora Coralina, que o espectador será transportado no espetáculo que volta a entrar em cartaz dia 19 de junho, às 17h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Com roteiro da escritora e também atriz Lília Diniz e direção de Adeilton Lima, a peça percorre teatros, escolas, saraus, congressos, cafés e eventos literários pelo Brasil afora há 16 anos. Como se estivesse na casa da infância, com cheiro da comida da avó, o público é guiado por canções e poemas, enquanto o doce de banana, que é feito em cena, fica pronto para degustação da plateia ao final do espetáculo. Ingressos a R$ 40 e R$ 20, com toda renda do espetáculo destinada à aquisição do terreno da nova sede da Fraternidade Rosa da Vida.
O rei, o contador, o geômetra, a raposa, a rosa, o adulto solitário e a serpente estarão no palco do Teatro Brasília Shopping até 26 de junho. Está em cartaz o clássico de Saint-Éxupery O pequeno principe, sempre aos sábados e domingos, às 16h. De acordo com a diretora da peça, Néia Paz, trata-se de uma obra atemporal, um marco para aqueles que, em algum momento da vida, tiveram contato com o pensamento do piloto francês que morreu numa missão durante a Segunda Guerra Mundial, um ano após lançar o livro. O pequeno príncipe vivia sozinho num planeta do tamanho de uma casa que tinha três vulcões, dois ativos e um extinto. Tinha também uma formosa flor de grande beleza e igual orgulho. “Foi o orgulho da rosa que arruinou a tranquilidade do mundo do pequeno príncipe e o levou a começar uma viagem que o trouxe finalmente à Terra, onde encontrou diversos personagens a partir dos quais conseguiu descobrir o segredo do que é realmente importante na vida”, observa Néia. O livro, traduzido para mais de 250 línguas, continua na lista dos mais vendidos. Ingressos a R$50 e R$25.
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DIA&NOITE
agitogaúcho
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cinemaportuguês Dia 10 de junho é a data nacional de Portugal. Pra comemorar, o Museu Nacional da República apresenta, de 14 a 17 de junho, a Mostra Cine Portugal. Fruto de uma parceria entre o museu, a Casa de Cultura da América Latina e o Instituto Camões, a mostra exibirá quatro filmes do moderno cinema lusitano. A abertura, dia 14, será com o filme O inimigo sem rosto (2010), de José Farinha. No dia seguinte será exibido O que há de novo no amor? (2011), de Hugo Alves, Mónica Santana Baptista, Hugo Martins, Tiago Nunes, Rui Santos e Patrícia Raposo; na quinta-feira, 4 Copas (2009), de Manuel Mozos; e, finalmente, na sexta-feira, 17, Os gatos não têm vertigens (foto), de Antônio Pedro Vasconcelos. No auditório 2 do museu, sempre às 19h, com entrada franca.
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sambapernambucano Karynna Spinelli é a quarta atração do projeto Samba de bamba, com curadoria do jornalista e crítico musical Rodrigo Browne, em cartaz na Caixa Cultural. Presidente do Clube do Samba de Recife, a cantora se apresenta no dia 14 de junho, em show que tem repertório com 22 canções de seus dois CDs – Morro de samba e Negona. Interpreta ainda toadas de terreiro e composições do samba brasileiro que estão intimamente ligados às diretrizes musicais da artista, tais como Zeca Pagodinho, Jorge Aragão, Martinho da Vila e Efson. Karynna será acompanhada por cinco músicos de Pernambuco (Rubem França no violão de 8 cordas, Fernando Moura no cavaquinho, Ricardo Sarmento no pandeiro e voz, Rafael Almeida no surdo e repique e Nêgo Henrique nos ilus e congas). De acordo com Browne, o projeto Samba de bamba reafirma a proposta de mostrar ao público que o ritmo brasileiro há muito tempo transcendeu as fronteiras de rodas de samba consagradas no Rio de Janeiro. “Se, por um lado, o recorte temporal do presente projeto se dá a partir das novas vozes reveladas na revitalização musical da Lapa carioca, por outro é importante observar que seus representantes estão espalhados por todo o país”. Ingressos a R$20 e R$10. Divulgação
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O reggae da banda Chimarruts abre a programação de dez shows que vão ocupar o palco da Expotchê entre 1º e 10 de julho no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade. No dia 2 será a vez do Tchê Guri, a mais conhecida banda de música regional gaúcha. No dia 6, quem volta ao palco da Expotchê é a banda Papas da Língua, com seu pop-rock autoral. No dia 7 virá o Nenhum de Nós (foto), grupo amado pelo público de Brasília, prestes a completar 30 anos de carreira. Thedy e cia. prometem incendiar o pavilhão com repertório de seu 16º CD, Sempre é hoje. Estão ainda na programação shows da banda Maskavo (dia 8) e de Teixeirinha Filho e Teixeirinha Neto, herdeiros do cantor Teixeirinha (dia 9). De segunda a sexta, das 16 às 23h; sábados e domingos, das 11 às 23h. Ingressos a R$ 20 e R$ 10. Entrada gratuita na primeira hora da feira em todos os dias da semana.
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baixonochoro São quatro vertentes na mesma pessoa: o instrumento, a composição, a produção musical e a educação. Hamilton Pinheiro, em seus 25 anos de carreira, transita por esses quatro mundos. Em seu trabalho solo ou acompanhando artistas, é por meio do contrabaixo que Hamilton Pinheiro expressa sua música. Não por acaso, o quarto CD do músico intitula-se Quatro e será lançado dia 21 de junho, às 21h, no Clube do Choro. No novo projeto, Hamilton Pinheiro mostra suas duas atuais vertentes de atuação musical, a música brasileira e o jazz, encontrando-se numa sonoridade que se assemelha à música de Minas Gerais. “Essa mistura se alinha à nova maneira de tocar música instrumental, encabeçada no Brasil pelo bandolinista Hamilton de Holanda, em que a importância do arranjo musical é elevada ao mesmo nível da improvisação, tornando a música mais dinâmica e complexa”, explica o músico. O CD celebra o encontro de amigos e parceiros musicais como o pianista Flávio Silva e o baterista Pedro Almeida, companheiros há cerca de dez anos. Para completar o quarteto, Eudes Carvalho, na guitarra, parceiro que chegou em 2012, quando Hamilton fazia intercâmbio na Universidade de Louisville, época em que cursava música na Universidade de Brasília. Ingressos a R$ 30 e R$ 15.
GRAVES&AGUDOS
Vivendo
de risco Com uma máquina de corte alemã, selo independente de Brasília investe em discos de vinil POR PEDRO BRANDT
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não fazem questão de vender e são conhecidos mundialmente no cenário fonográfico pela dureza. Foi um trabalho danado”, comenta Fredy. A situação mudou – benção de Crom, provavelmente – quando ele comentou com os irmãos que, em 2004, discotecou numa festa realizada após o show da banda alemã Kraftwerk em Brasília, que contou com a presença dos integrantes do grupo. “Eles, então, me aceitaram e nos tornamos amigos”, conta Xistecê. A resposta à Lombra veio rápido. Bandas brasileiras, da Argentina e da Finlândia já fizeram encomendas. Entre os próximos lançamentos estão novidades de Grindfull Dead, Dead Rocks, Giant Gutter, Quarto Astral, Macaco Bong, Mechanics, o segundo volume da coletânea Jagwatirika e ainda, adianta Biu, a estreia do projeto LSD (Lombra Society Discos), um clube do vinil com lançamentos mensais: “E aí que o bicho pega de vez, é banda a dar com pau: Valdez, Worsa, Gatunos, Chapa Mamba, Zefirina Bomba... como vê, estamos atolados até o fim da vida”. Diferentemente das grandes fábricas, que produzem LPs e compactos em larga escala a partir de uma matriz que prensa cada unidade, as máquinas de corte, caso da Vinylrecorder, produzem os discos individualmente, usando um equipamento
que risca cada um deles, num processo quase artesanal. O resultado são os chamados dubplates, produtos cuja fabricação é muito mais barata e permite tiragens pequenas. No passado, os dubplates tinham vida útil muito curta, o que mudou com o advento da tecnologia. “Hoje em dia, eles são muito duráveis, ao contrário de especulações negativas”, garante Xistecê. “Quando colocamos a máquina para funcionar, superou todas as nossas expectativas. Ninguém reclamou até agora, muito ao contrário”, comemora Biu, que emenda: “Gostaria de enfatizar o seguinte: essa parada é feita por quem ama música para quem ama música. Nós só estamos interessados na revolução, ainda que por minuto”. Lombra Records
Compras e encomendas: lombrarecords@gmail.com. Fotos: Divulgação
á três anos, os amigos Biu Ramos e Fredy Xistecê começaram a planejar um sonho ambicioso: não apenas lançar, mas fabricar discos de vinil. “O investimento nessa ideia, numa empreitada totalmente independente como é o caso, num país com uma carga tributária surreal como é a do Brasil, requer realmente um tantão de loucura. Mas alguém tinha de fazer”, decreta Biu. A Lombra Records surgiu desse ímpeto e, recentemente, lançou seus primeiros filhotes. Além de fabricarem os compactos e LPs das bandas de rock nas quais acreditam, os sócios da Lombra também oferecem seus serviços a terceiros. A máquina Vinylrecorder T-560, com a qual os discos são riscados, está localizada em São Paulo, onde Vice Fiori, parceiro da dupla, opera o equipamento. Biu é o representante da Lombra em Brasília e Xistecê em Goiânia. “Nós três tocamos o barco. Mas quem está no comando mesmo é Crom, segundo Fredy, e eu acredito”, afirma Biu, citando o deus cimério das histórias em quadrinhos de Conan, o bárbaro. De fato, conseguir trazer para o Brasil a Vinylrecorder, máquina de corte alemã, foi como vencer uma batalha. O investimento na Lombra (viagens à Alemanha, a máquina, equipamentos, impostos etc.) se aproxima de R$ 200 mil. Fredy negociou a compra durante dois anos com os inventores do equipamento, os irmãos Ulrich e Fritz Sourisseau. “Eles
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GRAVES&AGUDOS
Só música refinada Divulgação
POR HEITOR MENEZES
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esmo com toda a crise, a temporada de shows musicais segue oferecendo de tudo um pouco para o brasiliense, ávido consumidor de música em todas as latitudes. É verdade que o período é altamente afetado pelas tais festas juninas, que, em tese, deveriam oferecer cardápio musical à base de forró e quadrilhas. Mas como aqui temos festas juninas, julinas, agostinas e setembrinas, e as mesmas oferecem pizzas e food-trucks disputando espaço com as canjicas, é compreensível que a temporada também seja eclética. Do erudito ao pop, passando pela MPB, o jazz e o blues, o que não falta é motivo para um programa musical do mais saudável entretenimento. Francesca Anderegg e OSTNCS – 21/6, às 20h, no Teatro dos Bancários.
Pedro Luís: Aposto – 23, 24 e 25/6, às 20h, e 26/6, às 19h, no Teatro da Caixa.
Na gramática, o aposto é o tal termo que qualifica o sujeito, tipo explicando quem é o tal. No caso do incansável Pedro Luís (da fama Pedro Luís e A Parede e Monobloco), a palavra assume o sentido de aposta, pois desta vez é o próprio artista se encarregando de apresentar suas músicas, que parecem ser mais conhecidas nas vozes de outros. Sucessos como Girassol (Cidade Negra), Miséria
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Violinista e concertista internacional, a norte-americana Francesca Anderegg vai estar à frente da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional
Cláudio Santoro, sob a regência do maestro Cláudio Cohen. É a chance de conferir uma das raras virtuoses do instrumento se desdobrando em peças eruditas do tipo Tzigane, de Maurice Ravel, e o Concerto para violino n° 2, de Sergei Prokofiev. Promoção da Casa Thomas Jefferson em parceria com a Embaixada dos Estados Unidos.
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Ricardo Gomes
S.A (O Rappa), Braseiro (Roberta Sá) e Mão e luva (Adriana Calcanhotto) têm a assinatura de Pedro Luís. No palco, é ele no cavaquinho, violão e voz, acompanhado do percussionista Paulino Dias. A temporada no Teatro da Caixa oferece quatro oportunidades para conferir o trabalho solo de um legítimo representante da nova MPB. 2° Festival BB Seguridade de Blues e Jazz – 25/6, às 14h, no estacionamento 4 do Parque da Cidade.
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Ano passado, nessa época de friozinho, teve Hamilton de Holanda, Zélia Duncan e o guitarrista Stanley Jordan, entre outros, fazendo do Parque da Cidade o lugar perfeito para os amantes do blues e do jazz. Agora, a dose de música do mais alto nível se repete na segunda edição do Festival BB Seguridade de Blues e Jazz, com senhor elenco: Maria Gadu divide o palco com o cantor Tony Gordon (sobrinho de Dolores Duran); o percussionista Marco Lobo recebe o lendário superbaterista Billy Cobham; o cantor e gaitista norte-americano Steve Guyger recebe o colega de blues Flávio Guimarães (Blues Etílicos). E se não bastasse, a maratona ainda traz o mestre da guitarra e violões Toninho Horta, a Orleans Street Jazz Band, a Orquestra Voadora e a brasiliense Brazilian Blues Band. Desde já, um dos melhores eventos do ano. João Bosco – 1/7, às 21h30, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.
Fifth Harmony – 3/7, às 20h30, no NET Live Brasília
Girl power, girl band, seja lá do que chamarem as norte-americanas do Fifth Harmony, fato é que um grande agito, no mínimo, deve tomar conta da apre-
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Rodando o Brasil com o autoexplicativo show 40 anos depois, que celebra quatro décadas de carreira, João Bosco não poderia deixar Brasília de fora. O retorno acontece três meses depois de o artista participar, em março, daquela homenagem a Tom Jobim, no CCBB. Desta vez, é só João Bosco dizendo “obrigado, gente”. Antes disso, ele passeia pelas canções mais marcantes de sua carreira, em espetáculo perfeito para quem admira o duradouro casamento do canto com o instrumento. No caso, as canções são maravilhosas e que violão o João toca!
De cima para baixo: Pedro Luis e Nina Becker, Fifth Harmony e Brazilian Blues Band
sentação em Brasília do quinteto formado pelas meninas Ally Brooke Hernandez, Normani Kordei, Dinah Jane Hansen, Camila Cabello e Lauren Jauregui. Quem? Fifth Harmony, grupo feminino formado no contexto do X-Factor USA, programa de tevê que revela novos talen-
tos da música. O retorno do grupo ao Brasil inclui nova parada em Brasília e deve servir de termômetro da popularidade do quinteto. O som, aquela medida de pop e r&b, no qual a dança, os rebolados e as coreografias têm tanta ou mais importância que a música em si.
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BRASILIENSEDECORAÇÃO
A cidade
em dobro
POR VICENTE SÁ
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rasília tem uma relação muito especial com a fotografia. Desde o início das primeiras derrubadas e a abertura de estradas no quadradinho já aqui estavam os fotógrafos e suas máquinas para registrar tudo. A desafiadora construção de uma cidade no meio do nada foi documentada passo a passo por dezenas de fotógrafos durante os quatro anos que precederam sua inauguração. Talvez, das capitais do mundo, seja a mais clicada em proporção ao curto tempo de existência. Mas, e quase sempre há um mas, um fotógrafo carioca de nascimento e brasiliense de coração descobriu, no começo de 2015, um novo modo de fotografar Brasília: refletida nas poças d’água das chuvas. E o que começou como cliques de Instagram para serem enviados às redes sociais hoje é um livro e uma exposição. Nas fotos, percebe-se mais do que normalmente a ligação da escala monumental de Lúcio Costa com o céu do Centro-Oeste e a cidade como que nasce de novo ante nossos olhos. O nome do nosso fotógrafo: Nick Elmoor. Neto de libaneses e portugueses, nosso personagem nasceu Nicolau na cidade de Três Rios, no Rio de Janeiro, em 1963, e aos oito anos veio morar na 204 Sul, numa cidade que era o paraíso para as crianças, principalmente do Plano Piloto. Assim cresceu solto e sem medo em uma Brasília onde tudo estava sendo feito e era sem dono, ou melhor, todos eram donos de tudo. Estudou em escolas-classe e parque, como a maioria na época, e ainda pré-adolescente ouviu música brasiliense nos Concertos Cabeças. Naquele tempo, Nicolau acreditava que seria músico. Afinal, estudava violão clássico e violino na Escola de Música de Brasília e a máquina fotográfica que ganhara aos 12 anos era para ele apenas um hobby, embora já revelasse suas próprias fotos. No começo da idade adulta, achando que não tinha talento suficiente para ser músico profissional e não querendo ser professor, desistiu da música. Estudava jornalismo na UnB e fazia fotos das bandas de rock
dos amigos e de espetáculos teatrais que pipocavam pela cidade. Depois de formado, a aridez de um emprego como assessor de imprensa o levou de vez para a fotografia. Sua vida como fotógrafo profissional foi bem sucedida. Trabalhando com fotografia publicitária, começou em Brasília e depois foi para São Paulo, até ganhar o mundo. Fotografou em vários países, tendo se instalado na Itália e, pouco antes de voltar ao Brasil, no Canadá. Numa de suas visitas a Brasília, descobriu-se com câncer e começou uma luta que dura até hoje e que ele vai vencendo. Uma das consequências da doença foi a perda de parte do pulmão, o que lhe causou dificuldades respiratórias. Para melhorar sua capacidade pulmonar, teve que fazer caminhadas. A princípio andava apenas 100 metros por dia, mas com o tempo foi aumentando a marca e depois passou a caminhar pela cidade que sempre curtiu. Hoje, garante caminhar mais de dez quilômetros todos os dias. Num desses seus primeiros passeios, ainda em 2015, chegando à Esplanada dos Ministérios depois de uma chuva, viu nas poças d’água próximas ao meio fio o reflexo de uma Brasília diferente e, praticamente encostando seu telefone celular na água, fez as primeiras fotos. “Lembrei de Alice, personagem de Lewis Carroll que imaginou como seria o mundo do outro lado do espelho. Tudo estava ali, além da linha d’água”, explica Nick Elmoor. Nascia assim o projeto Além da linha, que culminou com o livro e uma exposição com 36 cliques impressos em papel de algodão Canson Infinity Edition (310g) montados em quadros de 22x22cm. As fotos foram expostas nos locais dos dois lançamentos do livro – dia 1º de junho, no Quintal do Co-Piloto, na 306 Sul, e dia 4, na Banca da Conceição, na 308 Sul. Quem perdeu pode assistir virtualmente no www.elmoor. com.br/alemdalinha. O livro está à venda, por R$ 40, na Banca da Conceição. A pretensão de Nick Elmoor é continuar com o projeto Além da linha, clicando outras cidades no Brasil, como Rio de Janeiro e São Paulo, e no exterior, como Paris, Roma e Nova York. Enquanto isso não acontece, ele já está editando outro livro de fotos cuja temática são as pessoas nos metrôs do mundo. A brochura já está em fase de finalização e deve sair ainda este ano. Para finalizar, confirmo que ele segue caminhando pela cidade que adora e adotou como sua, e torço para que seus passeios continuem produtivos.
27 Nick Elmoor posa para as lentes de um aprendiz muito especial: o filho Arthur, de 11 anos.
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DIÁRIODEVIAGEM
Mística e bela Um lugar para se desconectar da vida agitada, meditar ou rezar, observar, compartilhar, ajudar o próximo, silenciar, ter paz, sabedoria e nos tornarmos mais humanos. Não é só turismo o que nos espera em Santiago de Compostela, tradicional e secular cidade da Galícia. POR SÚSAN FARIA
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onheci Santiago de Compostela não da forma como gostaria, caminhando como peregrina, meditando e sentindo as dificuldades e as vitórias para se chegar até a cidade que tem o nome do apóstolo filho de Zebedeu e Salomé: o pescador, mártir e padroeiro da Espanha. Contudo, tive a oportunidade de conversar com muitos peregrinos, vêlos com seus cajados e pequenas mochilas, andar pelas ruas, parques, igrejas, construções medievais, restaurantes e bares de uma localidade mística que abriga, mesmo que temporariamente, gente de
todos os cantos do mundo. No final de abril, quando a primavera chega à Europa, mas quando o frio e a chuva ainda permanecem, fiquei encantada com Santiago de Compostela, especialmente com a Plaza de la Quintana, retangular – como a maioria das praças das cidades da Espanha – e cheia de edifícios antigos, como a Catedral de Santiago, um conjunto de espaços de cerca de dez mil metros quadrados de superfície, onde os peregrinos se encontram. Pela primeira vez me hospedei em um albergue, próximo à Rodoviária de Santiago. Gostei muito da experiência de “alugar uma cama”, numa casa ampla, aprazí-
vel, muito limpa, animada e com quintal. No albergue conheci o professor de História Jacobus Hollander, de Roterdã, que caminhou durante 30 dias da França até Santiago, trazendo apenas nove quilos na bagagem (roupa, calçado, comida e computador) e enfrentando frio, chuva e neve. “Não me perdi. Eu me encontrei nesse caminho”, brincou. A seu ver, cada dia da jornada foi especial, com experiências para não esquecer, conhecendo pessoas e aprimorando conhecimentos, sobretudo culturais. O arquiteto Ronnie Kommené, também holandês, cruzou a Bélgica e a França até chegar à Espanha, andando por três
Súsan Faria Súsan Faria Maria Teresa Fernandes
mil quilômetros, durante seis meses e meio, com 15 quilos nas costas. “Toda a gente é muito gentil, uns ajudando aos outros”, disse. Para o alemão Elmar Meissner, professor de Educação Infantil, há cinco meses a caminho de Santiago, a experiência mais forte foi sentir-se livre. Já o espanhol Juan Manoel, agente de viagem, caminhou apenas cinco dias junto com a namorada e alertou que a experiência serve para aumentar o poder de esforçar-se: “Na vida, sempre a gente pode avançar um pouco mais”. Em Santiago, ruas limpas, tranquilas, calçadão de pedra, lojinhas e o Parque de La Alameda, com 56 metros quadrados, fontes de água potável, escultura de Las Dos Marias e vista para a catedral. No percurso pela cidade, entre um monumento e outro, boas surpresas, como parar para ouvir um músico tocando clássicos, passar pela Igreja Paroquial de San Miguel ou pelo Convento de Santa Clara, que conserva a roda dos inocentes que recolhia crianças enjeitadas. À noite, um show de música celta, num bar rústico e diferente, a Casa das Crechas, lotadíssimo e com ingresso a um euro. O mapa de Santiago, considerada patrimônio da humanidade pela Unesco, recomenda a visita a nove conventos, 15 igrejas, três mosteiros, 33 edifícios históricos (entre eles a Casa da Parra, o antigo Hospital de San Roque, o Mercado de Abastos e o Colégio dos Irlandeses) e 12 museus, como o da Casa da Troia, o das Peregrinacións, o de Arte Sacra e o de Terra Santa. Surpresa boa também foi encontrar a exposição de fotografias Luces e silêncios de la Compostela mística, no Palácio da Fonseca. O autor das fotos, o matemático, escritor, artista e fotógrafo Antón Rodicio, abriu a mostra com um texto que não posso deixar de reproduzir parcialmente: “Há nas madrugadas de Compostela uma hora silenciosa e vazia, uma hora mágica em que os últimos notívagos já se foram, mas em que os madrugadores, todavia, não chegaram. Uma hora de esplendor tranquilo, em que é possível gozar da cidade só. Sentar-se na Plaza de la Quintana para escutar o silêncio, imerso na plenitude do momento presente. Com a alma quieta e a mente vazia. Sem desejos, sem recordações, sem passado e sem futuro. Sem tempo... Escutar fundidos com a pedra e o ar as últimas sombras da noite”. Tive sensações semelhantes às descritas por Antón Rodicio ao voltar a pé para o albergue com amigos, depois do show de música celta, de madrugada, pelas ruas e praças vazias e silenciosas da cidade.
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Fotos: Divulgação
VERSO&PROSA
Rosângela Vieira Rocha
Cristiane Sobral
Paulo Bentancour
José Rezende Jr.
Aposta na literatura POR JÚLIA VIEGAS
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estes tempos em que galãs de televisão e DJs afirmam, sem vergonha, nunca terem lido um livro sequer, em que as mensagens trocadas por ferramentas digitais são escritas num idioma “novo”, feito de abreviações e siglas, e em que a mídia acolhe com largos espaços a vulgaridade generalizada, pensar em divulgar a literatura entre crianças, jovens e adultos pode parecer anacrônico. Mas e daí? A humanidade tem dado seus maiores passos sob os pés de figuras que nadaram contra a corrente. Pois é justamente indo na contramão da mediocridade instalada que nasce a 1ª Jornada Literária do Distrito Federal, iniciativa do escritor João Bosco Bezerra Bonfim e da produtora Marilda Bezerra para incentivar, entre a comunidade escolar, a leitura literária. E por comunidade escolar entenda-se alunos, professores e pais de alunos. A Jornada Literária, que acontece de
12 a 16 de julho no CEDEP, o Centro de Desenvolvimento do Paranoá, quer propiciar cinco dias de conversas com escritores, oficinas, apresentações de música e tudo o mais. Mas o diferencial do projeto é que ele está sendo elaborado sobre um terreno minuciosamente trabalhado. Num autêntico labor de formiguinha, João Bosco e outros escritores vêm ministrando oficinas de formação e qualificação nas escolas da região – não só no Paranoá, mas também no Varjão, Itapoã e São Sebastião. Desde o começo do ano eles visitam as escolas, distribuem livros e procuram despertar, em estudantes e docentes, o prazer da leitura. Segundo afirmam, a ideia é desvincular a literatura dos exames e testes aos quais a leitura de livros está associada ao ambiente escolar. A proposta é fazer com que os encontros entre público e escritores participantes da 1ª Jornada sejam mais ricos. O time de autores que estará reunido conta com alguns dos nomes mais celebrados da literatura no Distrito Federal e
também no Rio Grande do Sul, que realiza uma das mais antigas e importantes feiras do livro no Brasil. Fazem parte do time os “brasilienses” José Rezende Jr., Nicolas Behr, Alessandra Roscoe, Rosângela Vieira Rocha, Alexandre Pilati, Cristiane Sobral, João Bosco Bezerra Bonfim, Lucília Garcez, Marco Miranda, Romont Willy, Tino Freitas e Wilson Pereira, e os gaúchos Paulo Bentancur e Jeférson Assumção. A Jornada Literária ainda vai promover um concurso de contos especialmente dedicado a estudantes (a partir do oitavo ano do Ensino Médio e do Ensino Fundamental) e professores da rede pública de ensino do Distrito Federal. A premiação dará direito à publicação online dos contos. Afinal, todos sabemos, quem lê muito acaba escrevendo bem. 1ª Jornada Literária do Distrito Federal De 12 a 16/7, das 9 às 21h, no Centro de Cultura e Desenvolvimento do Paranoá (Quadra 9, Área Especial 1). Entrada franca. Informações: www.jornadaliterariadf.com.br.
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LUZCÂMERAAÇÃO
Cinema com pé na estrada POR PEDRO BRANDT
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s obras e os autores associados à literatura beat deixaram um enorme legado cultural e comportamental, influente ainda nos dias de hoje em diversas manifestações artísticas. A inovação estética, caracterizada por poesia e prosa coloquiais, com uso de gírias e um fluxo textual espontâneo, soma-se à escolha de personagens pouco usuais, geralmente à margem da sociedade. Na vida pessoal, esses escritores viviam muitas vezes como seus protagonistas, experimentando drogas, curtindo jazz, sexo livre, boemia e esoterismo. Numa época repressora nos Estados Unidos, entre as décadas de 1940 e 1960, eles apontavam para outras possibilidades de existência. No cinema, não foram poucos os filmes com personagens e enredos inspirados nos escritos e na maneira de enxergar o mundo propostos por escritores como William Burroughs, Jack Kerouac e Allen Ginsberg. Parte dessa produção cinematográfica está reunida na mostra Geração Beat, que ocupará o cinema do CCBB entre 30 de junho e 18 de julho. A programação conta com mais de 30 filmes, entre curtas e longas-metra-
gens que retratam a experiência beat sob diversas perspectivas. Muitos deles são inéditos no Brasil, caso dos documentários Love always, Carolyn (2011), de Malin Korkeasalo e Maria Ramström, protagonizado pela viúva de Neal Cassady (“muso inspirador” da geração beat), e American road (2013), que explora as ressonâncias artísticas, musicais e literárias da mística da estrada no folclore americano. Também serão exibidas adaptações de alguns dos mais famosos livros dos autores beat, como Na estrada (2012), leitura de On the road dirigida pelo brasileiro Walter Salles (foto acima), e Mistérios e paixões, a versão do diretor canadense David Cronenberg para Almoço nu. Produzida em parceria pelas produtoras Saraguina Filmes e Jurubeba Produções, a mostra tem curadoria de Roberta Sauerbronn. Produtora de cinema e entusiasta da geração beat, Roberta comenta alguns de seus favoritos presentes na programação. “Imperdíveis, para mim, são três: Próxima parada: bairro boêmio (o ambiente por onde o protagonista circula é cheios de personagens meio marginais), Mistérios e paixões (uma adaptação do romance Naked lunch super aclamada pela crítica) e Drugstore cowboy (a primei-
ra vez que vi o Burroughs e a primeira que me lembro de ter visto protagonistas tão párias)”. Entre os curtas-metragens, Roberta indica William S. Burroughs: The possessed. “Um filme experimental recente, super bonito e elegante”. Para a curadora, a grande surpresa da mostra é Häxan: a feitiçaria através dos tempos, produção sueca de 1922 que, ao ser relançada em 1968, ganhou narração de William Burroughs. “Foi o último selecionado para a mostra e veio para cá porque o Caselli, cineasta amigo que chamei para fazer nossa vinheta, me deu a dica. Assisti e amei. Eu não esperava tanta ousadia num filme mudo de 1922. Ele foi banido em vários países. A narrativa do Burroughs é sensacional!” Em 2 de julho, às 17h, será realizada uma master class sobre a geração beat e sua influência na sociedade e na cultura ministrada por Claudio Willer, ensaísta responsável pela tradução para o português de livros de Allen Ginsberg e Jack Kerouac. Geração Beat
De 30/6 a 18/7, de 4ª a 2ª feira, no cinema do CCBB, com sessões às 17, 19 e 21h. Ingressos: R$ 10 e R$ 5. Programação completa e sinopse dos filmes em culturabancodobrasil. com.br/ portal/distrito-federal.
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LUZCÂMERAAÇÃO
Varsóvia 44, de Jan Komasa
A Polônia que o cinema vê hoje Pequena mostra da produção recente de uma das mais sólidas cinematografias da Europa traz a Brasília filmes de alguns dos mais promissores cineastas poloneses.
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mais interessante nessa nova mostra do cinema polonês, em cartaz no CCBB de 22 a 30 de junho, é que ela não traz nenhum dos diretores normalmente identificados com o cinema do país. Nada de Roman Polanski, Andrzej Wajda, Krzysztof Kieslowski, Jerzy Kawalerowicz e Jerzy Skolimowski, entre vários outros velhos mestres que ganharam notoriedade internacional ao longo da segunda metade do Século XX. No lugar deles, Bodo Kox (A moça do armário), Michal Otlowski (Jeziorak), Tomasz Wasilewski (Prédios flutuantes), Jan Komasa (Varsóvia 44), Lukasz Palkowski (Deuses) e Anna Kazejak (A promessa), jovens cineastas que vão nos dar as notícias da Polônia contemporânea. Saberia essa nova vaga de realizadores preservar e atualizar algumas das melhores características estilísticas da cinematografia polonesa? O insólito e o farsesco são algumas delas, ainda que se possa identifi-
car uma enorme diversidade e singularidade na obra desses novíssimos cineastas de longas e curtas-metragens. Normalmente, costuma-se identificar três fases bastante nítidas no cinema da Polônia. Duas épocas de ouro: a primeira dos anos 50, onde prevaleceu Wajda; a segunda dos anos 70, outra vez com Wajda e sua “trilogia de guerra” contra a propaganda oficial – O homem de mármore, Sem anestesia e O homem de ferro). Nessa década se juntam a ele Krause, Zanussi, Kieslowski, Agniezka Holland e Lozinski, cujos documentários só puderam ver a luz do dia depois do advento do sindicato Solidariedadede de Lech Walesa. Muitos outros tiveram a mesma triste sorte. Muito bem, a terceira e última fase, que podemos chamar de cinema polonês contemporâneo, vai dos anos 80 até os dias de hoje e tem, além dos realizadores que permaneceram ativos desde os 50, Szulkin, Dejczer e Kedzierzawska e, claro, Kox, Otlowski , Wasilewski, Komasa, Palkowski e Kazejak, além de al-
guns dos auspiciosos diretores dos curtas programados na mostra do CCBB. Praticamente desconhecidos no Brasil, onde nunca tiveram um filme lançado comercialmente, e apesar dos diferentes gêneros, temáticas e estilos que não Fotos: Divulgação
POR SÉRGIO MORICONI
Jeziorak, de Michal Otlowski
A moça do armário, de Bodo Kok
A promessa, de Anna Kazejak
seus professores e inspiradores da linha a ser seguida na década seguinte. A filosofia da escola era – e ainda é, pode-se dizer – holística. Para aspirar a uma vaga na escola, o candidato tem que se submeter a um teste oral sobre a Polônia contemporânea, depois responder a um questionário sobre a análise de um filme projetado. Outro exame oral avalia a sensibilidade e o conhecimento artístico do candidato. Ele também tem que se submeter à leitura de obras de importantes escritores poloneses e ainda conhecer textos de referência de Gogol, Dickens, Balzac, Gorki etc. O preceito fundamental de Lodz é, portanto, o de que o diretor de cinema deve ter uma formação política, humanística e técnica geral. Em relação a este último aspecto, é exigido do aluno conhecimento de música (inclusive composição), efeitos sonoros, fotografia (incluin-
Fotos: Divulgação
eram levados em consideração pelas gerações que os antecederam, existe algo nesses diferentes novos filmes que os tornam identificáveis como parte de uma cinematografia singular. Mesmo quando são tratados assuntos da hora, como a homossexualidade, caso de Prédios flutuantes. Que explicação se poderia dar para tal fenômeno? De onde viria essa afinidade que nos faz discernir os diferentes filmes como parte de uma mesma sensibilidade artística e cultural? A explicação pode estar na célebre Escola de Lodz. Todos os diretores da mostra se formaram ou foram de alguma maneira influenciados por essa instituição. A Escola de Lodz se caracterizou por uma interessante abordagem da crítica social de matriz socialista. Com sua trilogia de guerra (Geração, Kanal e Cinzas e diamantes), Andrzej Wajda foi o diretor que melhor expressou as diferenças entre a abordagem stalinista, o chamado realismo social da escola soviética, e a interpretação muito mais matizada da realidade da Escola de Lodz. Professariam os diretores presentes no 6º Festival do Cinema Polonês perspectiva semelhante? “A ver”, diriam nossos irmãos portugueses. De todo modo, o tema da guerra – presente em Varsóvia 44 – seria uma consequência natural da própria origem da escola. Fundada em 1947, Lodz foi uma iniciativa do governo que tinha por fim mostrar a importância do cinema para o desenvolvimento político e cultural da renascida Polônia do pós-guerra. Inicialmente situada em Cracóvia, a escola logo é transferida para a cidade de Lodz, instalada num velho castelo restaurado, e rapidamente se transforma numa das melhores do mundo. Inspirada na VGIK, de Moscou, primeira escola de cinema do mundo, fundada em 1917, e depois no IDHEC de Paris, a Escola de Lodz tinha como uma de suas principais características a estreita relação que mantinha (e ainda mantém) com a indústria. A filosofia de seus criadores era justamente valorizar por igual os aspectos estéticos, de produção e comerciais do cinema. Isso é o que a torna uma referência importante na Europa ainda hoje. E foi tal pensamento que possibilitou à Polônia se transformar num modelo para o cinema mundial nos anos 50, 60 e 70. A trajetória de Wajda seria quase um símbolo de Lodz. Graduado na escola em 1954, ele viria a ser um dos
Prédios flutuantes, de Tomasz Wasilewski
do química de laboratório), ótica, gravação de som, iluminação e edição. Que tal? Não estaria aí o essencial da explicação que buscávamos sobre a afinidade que percebemos nos cineastas poloneses? 6º Festival do Cinema Polonês no Brasil De 22 a 30/6 no CCBB, com sessões de 4ª a 2ª feira. Ingressos: R$ 10 e R$ 5. Programação, sinopses dos filmes e respectiva classificação indicativa em www.bb.com.br/cultura.
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CRÔNICADACONCEIÇÃO
Crônica da
Conceição
Dentro de uma Kombi D
entre as brasilianidades que gostamos de repetir, nós os do quadradinho, uma delas é a de que Brasília cabe numa Kombi. É simpático, bucólico, divertido, comovente, mas há um equívoco nessa aparente característica brasiliense. Brasília não cabe numa Kombi (escrevi, num lapso: Brasília não cabe numa crônica). Nem numa nem na outra. Por certo, há uma Brasiliazinha que cabe numa Kombi. É a Brasília de Lucio e Oscar, a do circuito cultural/político/econômico que habita as asas, os lagos e os condomínios de classe média. Onde todo mundo conhece todo mundo, sabe da vida de todo mundo e, na hora do aperto, ajuda uns aos outros. É uma singularidade, mas não chega a ser de todo uma virtude, não do ponto de vista do que se deseja para uma cidade grande que nasceu para ser melhor do que as outras. Somos uma singela cidadezinha do interior dentro de uma metrópole esgarçada. Somos alguns dentre os 2,4 milhões de ha-
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bitantes do quadrado ou dos 4 milhões se, muito justamente, incluirmos o Entorno. Sob esse aspecto, Brasília não mudou nada desde a construção. Os candangos daquele tempo costumam lamentar que a cidade perdeu a atmosfera solidária do período inaugural. Todos se conheciam, se ajudavam, as famílias faziam churrascos nos fins de semana, a elite da construção civil e do serviço público ia para os mesmos restaurantes, os mesmos bares e a mesma ZBM. Olhando por esse ângulo, tudo continua como dantes. O Plano Piloto transbordou, as cidades-satélites se transformaram em unidades quase autônomas, mas a cidade de 500 mil habitantes continua tendo 500 mil habitantes, embora tenha quintuplicado. Se a segregação urbana, os muitos vazios, a inexistência de rua, tudo isso junto nos afastou uns dos outros, o ambiente virtual deu um jeito nas falhas do projeto de doutor Lucio. As redes sociais são as ruas do bairro burguês.
É um conforto afetivo morar numa metrópole provinciana. Só não é melhor porque há algo de muito injusto nessa Kombi. Ela deveria ser um ônibus, um transatlântico-inclusivo, com capacidade para agregar milhões de brasilienses ávidos de experiências culturais. Seríamos desconhecidos uns dos outros, sozinhos na América, como diria o poeta, mas a solidão é como colesterol, tem a ruim e a boa. A ruim enfraquece, a boa fortalece. Então, seria bem bom se Brasília precisasse de uma multidão de kombis para uma multidão de brasilienses interessados nas coisas boas da vida urbana: a fruição criativa do coletivo. Devo confessar, porém, que é reconfortante habitar uma Kombi de traços modernos. Como se fôssemos cúmplices e cobaias voluntários de uma experiência urbana. Talvez venha daí a boa sensação de pertencimento que essa cidade me oferece, nos oferece. Mas se Brasília tivesse cumprido seu destino, jamais deveria caber numa Kombi.
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