BRASÍLIA É CENÁRIO DE DOIS FILMES QUE ESTREIAM EM AGOSTO
Ano XV • nº 255 Setembro de 2016
R$ 5,90
De volta ao começo Festival de Brasília deve ser palco de um acalorado debate político
Deserto, com Lima Duarte, é um dos nove concorrentes ao Troféu Candango
Atear fogo em lixo e entulhos é colocar em risco a sua vida e a de diversas outras pessoas. Uma vez iniciado, o fogo não pode ser controlado e facilmente se alastra, provocando incêndios que destroem a vegetação do cerrado e os animais que vivem ali. Além disso, a fumaça provocada por esses incêndios traz sérios problemas de saúde. Por isso, jamais coloque fogo em lixo ou entulhos. Você pode até saber onde ele começa, mas não onde pode acabar.
Para mais informações, acesse: www.sema.df.gov.br
EMPOUCASPALAVRAS Divulgação
Pelo nome de Ariclenes Venâncio Martins certamente poucos saberão de quem se trata. Mas se dissermos Lima Duarte, aí sim a associação será imediata com a figura do grande ator de 86 anos que temos a honra de homenagear na capa desta edição. Mineiro de Sacramento, região da Araxá, em Minas Gerais, ele está no elenco do filme Deserto, um dos nove longasmetragens classificados para a Mostra Competitiva do 49° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Dirigida por Guilherme Weber, a produção de 100 minutos conta a história de oito velhos artistas que apresentam um espetáculo pelo sertão brasileiro e descobrem uma cidade abandonada, onde decidem ficar. Os detalhes desse e dos demais filmes do festival, que este ano reafirma seu forte viés político, estão na matéria Controvérsia e polêmica, escrita pelo nosso comentarista de cinema Sérgio Moriconi (página 30). E não é só em matéria de cinema que Brasília está fervilhando este mês. A agenda musical apresenta shows capazes de agradar aos adeptos de praticamente todas as tribos sonoras. Ou não é farta uma programação que anuncia para as próximas semanas apresentações de Daniela Mercury, A Cor do Som, Whitesnake, Toquinho, Ivan Lins e MPB-4 no mesmo palco, O Rappa, o cover de Elvis Presley, Gal Costa, Elza Soares, Os Raimundos, o queridinho da vez Tiago Iorc e muitos outros? Impossível não ler, então, nossa seção Graves & Agudos (a partir da página 20). Quem também chega à cidade, para alegrar pais e filhos que cresceram amando suas revistinhas e seus livros, é Ziraldo, o cartunista de Caratinga, mineiro e octogenário como Lima Duarte (viva a terceira idade!). A partir de 21 de setembro, a Caixa Cultural apresenta a mostra Pererê do Brasil, a mais brasileira das histórias em quadrinhos, com personagens inspirados nas lendas e no folclore do país. A repórter Akemi Nitahara entrevistou Ziraldo sobre a exposição e seus futuros projetos (página 26). Deixamos para o final os destaques da seção Água na Boca, com a apresentação de três novos restaurantes (o Authoral, na 302 Sul, o Sallva, no Pontão, e o Dolce Far Niente, na 215 Sul), a partir da página 4, além de novidades no cardápio de muitos outros, na seção Picadinho (páginas 10 e 11). É ler para começar a salivar. Boa leitura e até outubro! Maria Teresa Fernandes Editora
24 galeriadearte Brasília acaba de ganhar em definitivo um acervo artístico riquíssimo, transferido das mãos de um traficante para o Museu Nacional da República.
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ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14 – Conjunto 2 – Casa 7 – Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa Carlos Roberto Ferreira | Colaboradores Alessandra Braz, Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, Ana Vilela, Beth Almeida, Cláudio Ferreira, Conceição Freitas, Eduardo Oliveira, Elaina Daher, Heitor Menezes, Júlia Viegas, Laís di Giorno, Luana Brasil, Lúcia Leão, Luís Turiba, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Ronaldo Morado, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Teresa Mello, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle | Fotografia Fabrízio Morelo, Gadelha Neto, Rodrigo Ribeiro, Sérgio Amaral, Zé Nobre | Para anunciar 99988-5360 | Impressão Editora Gráfica Ipiranga Tiragem: 20.000 exemplares. 3
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ÁGUANABOCA
Comida natural sem radicalismo
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sucesso de um empreendimento quase nunca é explicado por um só fator, mas por vários. Também não cabe numa formulazinha mágica, tipo “faça assim e dará certo”. Na maioria das vezes, o sucesso vem com muito trabalho, enfrentamento dos problemas que surgem e o olhar aguçado de quem toca o projeto. Assim também foi e é com o Green’s, de Rogério Mazer, um dos restaurantes naturais mais antigos da cidade, que completou no mês passado duas décadas de existência. Nele cabe tanto a caprichosa higiene e seleção de produtos e fornecedores quanto a delicadeza dos funcionários no atendimento aos clientes. Cabe também a orientação de seu Rubens, pai de Rogério, um simpático senhor de 80 anos que às vezes ajuda a pesar os pratos e costuma perguntar aos clientes, carinhosa e paternalmente: “Mas cadê o colorido de sua salada?” Para, em seguida, aconselhar: “Volte e sirva-se um pouco das frutas, combinam bem com as folhas”. Ou ainda, como se vê na foto ao lado: “Não se esqueça de mastigar 32 vezes a cada garfada”. O jeito bonachão parece imprimir
ao restaurante aquela atmosfera típica da casa do avô. Junte a isso a vontade de estar sempre inovando as receitas e tendo maiores cuidados no servir, avisando no cardápio se os pratos contém ou não glúten, lactose, frutos do mar ou amendoim. Se acrescentarmos que no decorrer desses 20 anos o Green’s desenvolveu uma belíssima panificadora, que produz mais de 20 tipos de pães especiais e tem uma linha de sobremesas saudáveis, vamos entender porque o restaurante é tão bem con-
siderado pelos clientes, que hoje chegam a mais de mil por dia nos dois endereços – o primeiro, da 302 Norte, e o segundo, da 202 Sul. Diariamente o Green’s oferece, nas duas casas, um bufê de almoço (R$ 49,90 até as 14h, R$ 45,80 após as 14h e R$ 54 aos sábados e domingos) com 14 pratos quentes, 25 tipos de saladas, sendo 90% delas orgânicas, além de sucos naturais e terapêuticos que estão fazendo enorme sucesso. “Acreditamos que a comida tem que ser saudável, mas com gosto,
Fotos: Divulgação
POR VICENTE SÁ
Filé de peixe grelhado ao molho de laranja com arroz de amêndoas e ervas
Cardápio primaveril POR TERESA MELLO
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té o dia 29 deste mês, o Le Jardin du Golf recebe os clientes para um brinde à primavera: um cardápio de jantar com entrada, prato principal e sobremesa, adornado por frutas e salpicado de flores. “É suave e bem fresco para a época”, define a chef Christine Recch Veloso, que divide o comando do restaurante com o marido, Carlos Augusto Veloso, ambos formados em gastronomia pelo IESB. “Nós sempre criamos os pratos e orientamos o nosso cozinheiro-chefe”, completa Christine, responsável pelos doces, enquanto Carlos se encarrega do menu salgado. Na linha primaveril, a laranja envolve a pescada amarela grelhada, o damasco aparece no crocante de brie e a goiaba e o coco são as notas de fundo da sobremesa. Enquanto um músico acalenta a noite em um piano de cauda preto, é servido o jantar, que começa com crocante
de queijo brie, geleia de damasco e salada de folhas ao vinagrete. Há duas opções de prato principal: medalhão de filé mignon, cogumelos gratinados e batata rosti ou filé de peixe grelhado, molho de laranja e arroz de amêndoas e ervas. Ah, e a sobremesa! Uhmmm! Mousse de queijo minas branquíssima e em formato de esfera com aquela calda de goiabada e tuile de coco, fazendo jus à origem mineira dos chefs (Christine é de Belo Horizonte e Carlos de Araguari, no Triângulo Mineiro). O “festival da primavera” chega à mesa por R$ 95, e o cardápio regular do restaurante – com destaque para o cordeiro, a codorna à moda do chef e o filé ao aligot – continua disponível. O gramado, as árvores e a vista da Ponte JK também. Le Jardin du Golf
Clube de Golfe de Brasília SCES, Trecho 2 (3321-2940) De 3ª a sábado, a partir das 12h; domingo, das 12 às 17h. Fotos: Divulgação
com sabor. E trabalhamos numa linha sem radicalismo, tanto que fomos o primeiro restaurante natural a servir carne branca sem gordura”, afirma Rogério. O artista plástico Ribamar Fonseca frequenta o Green’s desde sua abertura – aliás, já frequentava quando ainda se chamava Ken’s Kitchen e o próprio Rogério Mazer também era apenas um cliente. “Eu gosto muito da comida do Green’s, principalmente das saladas, que você pode misturar com as frutas e criar novas combinações de sabor. Os pães são tão especiais que venho de Águas Claras para buscar aqui na Asa Norte”, derrete-se Ribamar. Ele também confessa ser fã da lasanha de berinjela, um dos pratos que estão no bufê desde o começo do restaurante. Rogério confirma a história de Ribamar e diz que era apenas um frequentador, que não tinha intenção de virar um empreendedor, mas quando o proprietário teve que sair de Brasília ele resolveu comprar, reformar e reabrir. “Depois, com a ajuda de meus pais, viemos tocando o barco e aprimorando o restaurante”. À noite, o Green’s oferece caldos e um cardápio com pratos leves e sanduíches. O que caiu no gosto da clientela foi o sanduíche de salmão. Nele, a lâmina de salmão é marinada em açúcar e sal por 24 horas, untada com cream cheese e cebolinha, servido no pão de quinoa ou pão de uvas passas, com molho de mostarda, ao preço de R$ 24,90. Seguindo a linha de “restaurantes do bem”, o Green’s promove cursos e ajuda a pagar a faculdade dos funcionários, além de oferecer plano odontológico. Como ação de responsabilidade social, separa para reciclagem latas, papéis, plásticos e vidros, além de entregar todo o óleo utilizado na cozinha para ser usado em motores a biodiesel. Ainda sobra tempo para apoiar o esporte e a cultura do Distrito Federal, com ajuda a atletas, shows, peças e até ao cinema, como aconteceu na produção de Faroeste caboclo, por exemplo. Essa linha, também compartilhada por outros empresários, pode vir a fazer a diferença na cultura do DF num futuro não muito distante. Green’s
302 Norte, Bloco B (3326.0272) 202 Sul, Bloco C (3321.5039) De 2ª a 6ª feira, das 11h30 às 15h30 e das 17h30 às 22h. Sábado, só na Asa Norte, e domingo só na Asa Sul, das 11h30 às 15h30.
Medalhão de filé mignon, cogumelos gratinados e batata rosti
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Descontração
à beira do lago Fotos: Divulgação
POR SÚSAN FARIA
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ão há dúvida de que o Pontão do Lago Sul é uma das áreas mais belas da capital. São 134.000 m2, com orla de 1.200 metros, onde acaba de se instalar uma nova casa: o Sallva Bar & Ristorante, que, junto com outros quatro restaurantes, vários quiosques, parque infantil, jardins, paisagismo e uma espetacular vista do Lago Paranoá, forma um amplo complexo, capaz de atrair cerca de 200 mil pessoas, em média, por mês. O Sallva lembra os restaurantes Sallvattore, de São Paulo, e Jacaré do Brasil, de Trancoso. O primeiro, pela sofisticação e abreviatura do nome; o segundo, pela decoração rústica chique. O Sallva tem paredes forradas em lambril de madeira pintada, teto com palha natural (trabalho dos índios do litoral sul da Bahia), luminárias de cipó, mesas com tampas de madeira, muitas almofadas, louças pintadas a mão, adornos da casa Zanatta, de São Paulo, e projeto arquitetônico do MAAI Arquitetos Associados (de Arnaldo Pinho, Isabel Veiga e Mônica Pinto). Ocupando o espaço onde durante muitos anos funcionou o Café Antiquário, o Sallva tem capacidade para 128 pessoas
sentadas e outras 60 debaixo de quatro toldos que terão decoração semelhante ao restaurante principal, em frente. Priscilla Skaf, Christiann Silva e Andrea Munhoz, ex-chef de cozinha do Palácio do Planalto e do Grand Cru, são os sócios da nova casa. “Meus pais têm restaurante há 38 anos. Só no Lake’s da 402 Sul trabalhei durante 17 anos. No Sallva, nossa cozinha combina com o ambiente local e o gosto dos brasilienses”, explica Andrea. Massas, frutos do mar, carnes e petiscos estão entre as especialidades da casa, inspiradas na cozinha italiana contemporânea. Destaque para os pratos individuais: tentáculos de polvo com batatas douradas (R$ 67), ravioli com compotas de figo e parma crocante (R$ 59) e salada da horta, com cenoura, abobrinha e molho especial (R$ 35). Há delícias com zero lactose e zero açúcar, como a panacotta com frutas vermelhas e o suco de tangerina, além de lanches para o final da tarde. “Logo que abrimos, a casa lotou. Foi surpreendente. Brasília carecia de um ambiente descolado e ao mesmo tempo sofisticado, com preço adequado”, diz o empresário Christiann Silva, 35 anos, carioca radicado em Brasília. Segundo ele, 20% dos clientes são estrangeiros, principalmente europeus e norte-americanos, e todos os garçons são universitários. Christiann lembra que o Pontão é um dos lindos cartões de visita de Brasília, um lugar ímpar, com bom estacionamento e segurança, variada programação cultural e esportiva. Sallva Bar & Ristorante
Fotos: Divulgação
Pontão do Lago Sul (3522.4324). Domingo a 5ª feira, das 12 às 24h; 6ª e sábado, das 12 à 1h.
Cerveja sem coleira POR VICTOR CRUZEIRO
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preciar uma boa cerveja especial já não é mais um desafio para o brasiliense. Várias casas especializadas se espalham pela cidade, e mesmo bares tradicionais já oferecem cervejas especiais nos seus cardápios. O próximo passo para a cultura cervejeira da capital é o aprendizado da harmonização, já difundido e conhecido no mundo dos vinhos. Foi com isso em mente que a recém-inaugurada I Love Beer – Tap House promoveu o Degusta Perro, em parceria com a cervejaria gaúcha Perro Libre. A ideia da “cerveja sem coleira” casa com a proposta dos donos da I Love Beer, Cláudio Rocha e Tatiana André, que, juntamente com o sommelier Leandro Ururahy, pretendem criar a cultura de eventos para a combinação de sabores e cervejas, sem amarras demais, mas prezando pela liberdade e espontaneidade que a cerveja pede. No caso do Degusta Perro, quatro pratos com traços contemporâneos foram elaborados pelo chef Augustus Marcondes (ex-Bottarga), que buscou combinar diferentes ingredientes que se harmonizassem, cada um ao seu tempo, com um rótulo da Perro Libre. Como entrada, um escondidinho de camarão foi saboreado com uma Ses-
sion India Pale Lager, de sabor refrescante e com bastante lúpulo. Em seguida, quesadillas com guacamole vieram acompanhadas de uma American Pale Ale, de sabor entre o cítrico e o amargo. Como prato principal, um filé mignon flambado, com molho e pão artesanal, chegou na companhia de uma India Pale Ale, turva, frutada e refrescante. Finalmente, carolinas recheadas com creme de nozes, acompanhadas de ganache de chocolate, fecharam a noite, juntamente com a 803, uma Black Rye IPA torrada e amarga, um dos conceitos mais interessantes da Perro Libre, que flerta com sabores e estilos, mas não se enquadra com precisão, demonstrando exatamente a sua proposta – sem coleira, sem rótulos. O Desgusta Perro foi uma noite memorável. A experiência completa saiu por R$ 180 por pessoa, ou R$ 300 o casal. No entanto, Tatiana e Cláudio planejam repetir e consolidar esse tipo de momento único. A ideia, dizem, é que eventos de harmonização como esse aconteçam uma vez por mês. Outros rótulos, outros pratos e outras possibilidades. Com toda certeza, os cervejeiros de Brasília só têm a ganhar com essa expectativa. I Love Beer – Tap House
210 Norte, Bloco B (3033.6909). De 3ª a domingo, a partir das 12h.
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O doce prazer do novo
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chef Lídia Nasser ataca novamente. Incansável, ela inaugurou, no mês passado, uma nova unidade da pizzaria Dolce Far Niente, na 215 Sul, bem ao lado do seu Empório Árabe. A casa mantém a fórmula da sua homônima em Águas Claras, tanto na proximidade ao Empório quanto na qualidade. O zelo e a criatividade que se misturam em experiências gastronômicas únicas se mantêm. Em tempo, façamos um pequeno retrospecto da unidade de Águas Claras. Um ambiente requintado, à boa moda italiana, com um cardápio de massas e risotos no almoço e pizzas à noite. Uma carta de vinhos ampla, mas cuidadosamente pensada, para harmonizar os vários sabores possíveis. Uma decoração aconchegante traz à tona a sensação que dá nome à casa: o doce sabor de não fazer nada, do ócio que agrada, seja sozinho ou na companhia de quem se gosta. A casa da Asa Sul é exatamente assim. Com o diferencial da localização, que se abre para a área verde da quadra residencial, o ambiente traz a familiar impressão de se estar jantando com amigos em uma villa no interior da Itália. No entanto, como um dos focos dos empreendimentos de Lídia é sempre surpreender, apesar dos toques simples e
até mesmo rústicos da decoração, um grande piano de cauda está instalado bem no meio, entre as áreas externa e interna, possibilitando que a música se propague para ambos os ambientes e ainda oferecendo música ao vivo, de quarta a sábado. Giocare a modo tuo. Essa curta frase, encontrada no site da pizzaria, é um dos mandamentos da Dolce Far Niente. Grosso modo, quer dizer “faça do seu jeito, faça como quiser”, e é um bom modo de iniciar a discussão sobre o cardápio. A Dolce Far Niente apresenta 37 sabores de pizza que podem ser provados em massa suave e fina – com ou sem glúten – com a opção de borda grossa ao modo napolitano. Decididos a massa e o
Dolce Far Niente
215 Sul, Bloco A (3345.4267). De terça a domingo, das 11h30 às 16h e das 18 às 24h. Fotos: Rener Oliveira
POR VICTOR CRUZEIRO
tamanho (seis ou oito pedaços), cabe ao cliente embrenhar-se pelas várias elaborações, que vão da tradicional margherita, cujos sabores se arvoram na combinação entre muçarela de búfala e parmesão, à refinada gorgonzola com pêra. O espectro de sabores vai do shimeji ao salmão (posto em lascas rústicas sobre a massa), da carne seca ao salame picante. Em caso de dúvida sobre quais sabores provar, o cliente pode esbaldar-se no rodízio da casa, no jantar das quintas-feiras (das 18 às 24h), por R$ 49,90. Para aqueles que preferem o sabor mais cheio de uma massa, a casa não decepciona. Um menu italiano típico cheio de toques contemporâneos (uma das marcas de Lídia) oferece, de terça a domingo, entradas, saladas, massas frescas e risotos. Breves destaques – e fortes recomendações – para o carpaccio de polvo, acompanhado de um molho oriental e pães (R$ 54,90), e o risoto negro de frutos do mar, muito bem servido (R$ 79,90). A inventividade de Lídia não se esgotou no transporte da casa de Águas Claras para a Asa Sul, e ela agora surpreende com pratos para a família, que servem até quatro pessoas, como a cauda de lagosta com manteiga de ervas e risoni trifolati envolto em rosa de caqui (R$ 390). Enfim, a Dolce Far Niente é tudo isso, um golpe totalmente inesperado da chef Lídia, muitas vezes – injustamente – reconhecida somente pela gastronomia árabe. Talvez seja este o momento de retirarmos dela o epíteto de chef e oferecermos, com louros, o de restauratrice.
Saltimbocca alla romana
Baião de dois cremoso com lagostins
Magret de pato com nhoque de abóbora
Bavaroise de limão siciliano
Cozinha sem rótulos
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m cardápio enxuto, nascido de uma gastronomia sem rótulos, em ambiente pós-moderno com grafite do artista Pomb, além de uma cachaça destilada com uso de energia solar. Assim é o restaurante Authoral, recéminaugurado na 302 Sul, projeto dos amigos André Castro, chef estrelado, Eduardo Moreth, advogado e fabricante de aguardente, e Manuela Britto, vegetariana e formada em biologia. “É uma cozinha de autor”, define André (na foto ao lado), lembrando que, antigamente, os cardápios pareciam uma Bíblia de tão extensos. “Não é preciso mais de dez pratos para encantar”, garante. Em uma página e meia estão entradas, sugestões para compartilhar, pratos principais e sobremesas, em total de 25 opções. “Evita o desperdício e é mais responsável com o planeta.” Bolinhos de peixe e de rabada abrem o apetite, seguidos de criações como baião de dois cremoso com lagostins e magret de pato com nhoque de abóbora, ambos a R$ 68. Sorbet de manga, com calda de laranja e de maracujá, acompanha a bavaroise de limão. Clientes alérgicos, com intolerância
ou sensibilidade alimentar são incentivados a informar suas restrições aos atendentes. O aviso atencioso faz parte do cardápio. “Nós conseguimos adaptar os pratos”, diz Manuela. “O nhoque de banana-da-terra com linguiça artesanal, por exemplo, pode ser servido sem a linguiça. É um restaurante para todos.” O espaço de 78 lugares leva gradil – tela artística de aço – no teto e na fachada. “Com isso, o restaurante fica mais visível e integrado à rua”, explica o arquiteto Daniel Mangabeira. Há tratamento acústico e teto retrátil no mezanino, para admirar o céu de Brasília. “É para tornar o local mais atraente, porque, geralmente, as pessoas não gostam de subir para o mezanino”, observa Eduardo. O grafiteiro Thales Fernando, o Pomb, de 27 anos, passou quatro dias trabalhando em um andaime para produzir uma figura feminina na parede de tijolos aparentes. Colocou ainda elementos em 3D, na forma de triângulos: “Fiz assim para sair do convencional”. A carta de bebidas exibe cervejas artesanais, vinhos e a cachaça Authoral, apresentada em garrafa como se fosse um grande vidro de perfume e classificada entre as 50 melhores do Brasil. Quando morou em Paris, Eduardo Moreth
observou que, nos bares e restaurantes, mais da metade da clientela era fã de cachaça, seja em shots, seja em caipirinhas. Em outubro do ano passado, começou a produzir a aguardente em alambique montado em casa. “Planto cana-de-açúcar lá mesmo e destilo a bebida com uso de energia solar”, conta. Em um ano, foram produzidas sete mil unidades, vendidas, em média, a R$ 250. Authoral
302 Sul, Bloco A (3225.0052) De 2ª a 6ª feira, das 12 às 15h e das 19 às 24h; sábado, das 12 às 17h e das 19 às 24h; domingo, das 12 às 17h.
Fotos: Felipe Bastos
POR TERESA MELLO
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PICADINHO Mais borbulhas
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Cinco receitas de risotos – funghi, camarão ao molho pesto, carne de panela, funghi com filé e gorgonzola com peras ao vinho e espinafre – estão disponíveis, de terça a sábado, no almoço do Fortunello Ristorante (206 Sul, Bloco A, tel. 3297.3232), ao preço reduzido de R$ 33. A promoção, que se encerra no dia 25, dá início ao processo de reestruturação do cardápio da casa, conduzido pelo chef venezuelano Miguel Ojeda (na foto abaixo). A ideia é imprimir ao Fortunello uma personalidade 100% italiana, privilegiando pratos leves feitos à base de peixes e frutos do mar, típicos da culinária mediterrânea.
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Por falar em espumante... Quem acaba de lançar seu rótulo próprio é o Pinella (408 Norte, Bloco B, tel. 3347.8334). É produzido pelo método Charmat, com 100% de uvas Prosecco, pela vinícola gaúcha Valmarino, no distrito de Pinto Bandeira, em Bento Gonçalves. O restaurante sugere harmonização com carpaccio de rosbife de filé mignon, molho da casa, rúcula, parmesão e alcaparras, ou ainda com dadinhos de tapioca e provolone. A garrafa de 750ml, safra 2016 , custa RS 67.
Rayan Ribeiro
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Vem aí mais uma edição do festival de espumantes Brinda Brasil, dia 27, no restaurante Coco Bambu Lago (SCES, Shopping Ícone Park, tels. 3026.0209 e 98131.7437). Desta vez, o formato será diferente: um jantar para apenas 100 comensais, ao preço de R$ 200, durante o qual serão degustados dez dos 21 rótulos premiados pelos júris técnico e enófilo na edição anterior do Brinda Brasil, que recebeu 1.700 visitantes nos dias 7 e 8 de junho. “Muita gente nos pediu um evento diferenciado com os espumantes premiados. Então resolvemos montar essa degustação específica”, explica Rodrigo Leitão, um dos organizadores do festival. No jantar serão servidas três entradas, três pratos quentes e duas sobremesas, além de água, refrigerantes e café. As oito vinícolas participantes também terão estandes montados no local para a venda de seus produtos a preços mais acessíveis. Parte da renda será revertida à ONG Ambiente, da Associação dos Catadores de Lixo da Estrutural.
Wooponis Lá pelo longínquo ano de 1920, no interior dos Estados, algumas mulheres de agricultures costumavam preparar pequenos lanches com restos de massa de bolo e recheios cremosos que eram recebidos pelos maridos aos gritos de “whoopie!”. Resultado: a singela iguaria acabou sendo batizada com esse nome. Pois o chef Ville Della Penna, do Piccolo Emporuim (209, Bloco B, tel. 3532.0304) resolveu fazer uma releitura da invenção americana, que rebatizou de wooponis, usando como ingredientes dos recheios aveia com coco, limão siciliano e framboesa, além dos tradicionais marshmallow e chocolate. “Fiz uma adaptação para sabores com a nossa cara, como o brigadeiro. Também fiz com limão siciliano, que é a cara da Itália”, conta o chef. Cada unidade custa R$ 7.
Festival de risotos Divulgação
Está de volta o festival de petiscos do Bar Brasília (506 Sul, Bloco A, tel. 3443.4323). Funciona assim: nas sextas-feiras, das 18 às 22h, ao preço fixo de R$ 32,90 os clientes podem saborear 15 diferentes comidinhas de boteco: batata portuguesa, mini quibe, croquete, frango à passarinho, pastéis de queijo e carne, bolinhos de baroa (foto), pequi, arroz com parmesão e abóbora com carne seca, linguiça caipira, linguiça recheada, mandioca frita com queijo, caldinho de feijão e croutons com alecrim.
Novidade semanal Após quase cinco meses de funcionamento como bistrô, o Rapport (201 Sul, Bloco B, tel. 3322.0259) passou a surpreender a clientela, a cada semana, com uma nova criação do chef André Carvalho, disponivel às sextas e sábados, apenas no jantar. Começou com esse suculento filé mignon em crosta de castanha de baru, acompanhado de fettuccine ao creme trufado (R$ 57,50). A intenção é oferecer uma alternativa para quem já conhece todo o cardápio da casa, que é bem enxuto.
Raquel Aviani
Petiscos à vontade
Rayan Ribeiro
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Portugueses harmonizados Primeiro, um generoso couvert: cesta de torradas, manteiga, patê de carnes nobres, pasta de berinjela e queijo de produção própria. Em seguida, de entrada, a famosa “surpresinha de bacalhau”, escoltada por uma taça de vinho verde Lagosta. Prato principal: lascas de bacalhau sobre batatas rosti, com gema de ovos e molho de salsa, harmonizadas com Esteva Douro Casa Ferreirinha. Para finalizar, pastel de nata com um cálice de Clemente de B, vinho licoroso do Alentejo. É assim o menu de jantar especial oferecido de terça a sábado pelo Tejo Restaurante (404 Sul, Bloco B, tel. 32647005), ao preço de R$ 120.
Sangue novo
Rayan Ribeiro
Divulgação
Novos drinques
Chefs mirins
Dezoito novas criações do barman Rinaldo Honorato acabam de engrossar a carta de drinques do Zero61 Restaurant & Lounge (Pier 21, tel. 3224.0061). Ele foi buscar inspiração em bares do eixo Rio-São Paulo, celeiro de talentosos bartenders. “Precisei equilibrar as novidades de lá com o paladar do brasiliense. Sinto que as pessoas daqui estão começando a apreciar novos sabores agora, então eu preciso conquistá-las aos poucos“, diz, exemplificando a seguir: “Eu percebi que algumas pessoas evitavam tomar Gin por ser uma bebida forte, então acrescentei a suavidade do hibisco“. Surgiu assim o Gin Beefeater Hibisco – gin, xarope de hibisco, limão siciliano, chá de frutas vermelhas e água tônica (R$ 28,90). Três dos novos drinques levam pimenta. Um deles esse aí da foto acima, o Sharlote – tequila ouro, tangerina, pimenta dedo de moça e geleia de pimenta (R$ 27,90).
Palomitas No Madero Steak House (Pátio Brasil Shopping, tel. 3041.7005, e Shopping ID, tel. 3046.0017)
Daniel Becker
Nem as crianças conseguem ficar indiferentes ao atual glamour da gastronomia. Basta ver o número de inscrições no Pequeno Chef, oficina de gastronomia ministrada pelo badalado Rubaiyat (SCES, Trecho 1, tel. 3443-5000) para meninos e meninas com idade entre quatro e dez anos. Uma ótima oportunidade para aprender um pouco de técnicas culinárias e alimentação botando literamente a mão na massa. Na oficina mais recente, dia 27 de agosto, o chef Roberto Felizardo, que comanda a cozinha do restaurante, ensinou a molecada a preparar empanadas de carne e frango, mini pizza de legumes e espetinho de frutas com ganache de chocolate. A inscrição custa R$ 40, revertidos em consumo no almoço do mesmo dia. O kit com avental e luvas custa R$30.
o drinque pode até sair de graça. Até o dia 29, quem for a um dos dois endereços de segunda a quarta-feira, na happy hour (das 18 às 20h) e pedir qualquer sanduíche do cardápio será presenteado com uma das três versões do drinque Palomita: Orange, Strawberry ou Passion. São criações de Tony Harion, embaixador da Bacardi no Brasil, que combinam tequila, suco de frutas frescas, refrigerante cítrico e um toque de sal. “Esse é o segundo festival monotemático de drinques que lançamos em nossos restaurantes. O primeiro foi o Mojito Fest, em julho, que aumentou nossas vendas desse drinque em 400%”, comemora Leandro Lorca, diretor de marketing do Madero.
Mais de 12 anos de estrada no Brasil e no exterior – eis as credenciais que levaram a chef Nathalia Quirino ao comando da cozinha do Bar Santa Fé (Jardim Botânico, Rua 1, tel. 3427.2312). Formada em Gastronomia pelo IESB, Nathália já passou por renomadas cozinhas de São Paulo, Fortaleza, Curitiba, Barcelona e Ibiza (nestas duas últimas cidades, nos badalados Buddah Bar e Café del Mar). “Queremos que o Santa Fé seja referência em gastronomia tanto quanto já é em cultura e vida noturna”, diz a chef, conhecida por valorizar a chamada culinária funcional, usando produtos frescos e de qualidade em pratos contemporâneos. Inspirado nos botequins paulistas dos anos 60, o Bar Santa Fé homenageia os sambistas da época tanto na decoração quanto no cardápio.
Erramos Na edição de agosto, grafamos incorretamente o nome do dono do La Rubia Café (404 Norte). Em matéria da página 9, intitulada Divertida esquizofrenia, dissemos que o estabelecimento pertencia a Marcelo Gulo, quando seu nome correto é Marcelo Galo. A ele, nossas sinceras desculpas. 11
GARFADAS&GOLES
Lembranças e saudades
que setembro traz
– Guri, vai lá no bolicho e me compra um quilo de papas, dois pacotes de fidéos e três véus de gajetas. Aproveita e te compra também um novo par de cholitas pra trepar nos paraísos. Tradução: menino, vai no armazém comprar um quilo de batatas, dois pacotes de macarrão e três de biscoitos. Compra também um novo par de sandálias (fechadas) para subir nos pés de cinamomos. A linguagem da fronteira oeste do Rio Grande do Sul é bastante peculiar, mesclada por palavras e expressões dos idiomas espanhol e guarani, também esses ricos portadores de contribuições idiomáticas de outras fontes. Assim, dessa diversidade de matrizes, todas carregadas de histórias, formou-se um idioma, um dialeto único naquela distante região brasileira, um verdadeiro enclave, uma esquina do mundo. Ao mesmo tempo um lugar de passagem: andarilhos, viajantes, aventureiros, vagamundos, poetas e menestréis, filósofos e contadores de histórias, bandidos, espertos, vigaristas, mágicos, ilusionistas, mestres, professores, comerciantes, artesãos, artistas e um sem-fim de outros seres quase-normais, a maioria seguindo viagem, mas muitos estacionando naquelas paragens com cara e desenho de futuro melhor. Era outra a aposta dessas centenas de almas, penadas ou não: estacionar e viver sem responder a perguntas. Sem passado, só com um futuro a ser construído. Distância, tempo, geografia, todas as quimeras resumidas em sentidos, velhos sentidos novos: olhar, ouvir, cheirar, provar e provar, criar sabores, sentir, amar, sorrir e chorar, ter prazer, prazeres, trabalhar e descansar, procriar, sofrer e esperar a morte. O sentimento de fronteira, do “ser fronteira”, não deixa mais o indivíduo que com ele nasce e depois sai pelo mundo. Com frequência fica quieto, hiberna. De tempos em tempos sai da toca que o aprisiona. Uma toca de carne e osso,
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LUIZ RECENA
lrecena@hotmail.com
nervos e músculos, história e cultura, o tempo e as marcas do tempo. Erupção em escala total, de A a Z, de zero a cem. Cada um sabe de si, cada momento é único. Nas panelas, pratos e copos o “ser fronteira” é igualmente único. Da carne crua ao bem passado, do minestrone ao gazpacho, do cozido ao puchero. Caviar, strogonoff, borsch, sopão, empanada, chimichurri, farinha. Vermute, cachaça, canha, fernet, vinho tinto e bastante. Cada um que passava falava em comida ou bebida; cada um que ficava tratava de adaptações para enfrentar distâncias, saudade, tristeza, passado. Tudo para melhorar o presente e preparar o futuro. Setembro é pródigo em provocar erupções no ser esse da fronteira. Então, provisões de boca que provocam: cabeça de ovelha; tapichi ensopado(nonato, cordeiro não nascido); espinhaço de ovelha; guisado de sangue; assado com couro; miolos, rins, timos, chinchulins e outras tripas, ubre da vaca, saco do touro, costelas gordas e outras carnes; puchero (cozido), mocotó de colar beiço (dobradinha com feijão branco, com caldo grosso que cola os lábios), torta pascoalina, tortilhas, paellas várias, macarronadas, molhos muitos, poucas coisas enlatadas; folhas, tubérculos, raízes, vegetais plantados em casa; frutas diretas do pé. Anticorpos naturais presentes em tudo. Na bebida reinavam os importados, destilados ou fermentados. Nacional só a cachaça, mas também vinha de longe. Mesmo a nossa cerveja não vinha de perto. O tinto reinava, forte, grosso, às vezes reduzido por uma água de soda, gasosa e em sifões. No final entravam os conhaques e digestivos do tipo fernet, underberg, genebra, nada leve. Licorezinhos, só os feitos em casa, de bergamota, ameixa, pêssego e outra frutas que não produziam álcoois fortes. Há mais, a lista é longa e assim o tempo passou. Salve o 20 de setembro, precursor da liberdade!
PÃO&VINHO
Novo, mas nem tanto Na esteira da minha última coluna, tentarei permanecer fiel ao objetivo de trazer para este fórum alguns vinhos do Novo Mundo, para variar das minhas preferências já mencionadas às órbitas de França, Itália, Espanha e Portugal. O dito Novo Mundo da enologia, observe-se, já não é tão novo assim, apresentando diversas garrafas tradicionais e de grande qualidade, verdadeiros ícones da enologia mundial. De qualquer forma, o conceito desce à visão tradicional de que o novo é aquele que provém de outros terroirs que não os da Europa, em especial a ocidental. Cá nas Américas, apesar do grande sucesso da malbec na Argentina, da tannat no Uruguai, da emblemática carménère chilena, creio que a casta que melhores vinhos produz é a cabernet sauvignon, tanto no Chile quanto, especialmente, nos Estados Unidos. Melhor prova disso foi a competição às cegas que Spurrier (revista Decanter) organizou em 1976, conhecida como “O julgamento de Paris”, na qual vinhos varietais da cabernet sauvignon produzidos no Napa Valley desbancaram fragorosamente os clássicos vinhos franceses de Bordeaux. Esses vinhos “novomundistas” são comumente muito estruturados, bastante alcoólicos e tânicos, mas quando bem trabalhados podem se transformar em verdadeiros néctares, especialmente no acompanhamento de refeições que bem compatibilizem esse tipo de caldo. Para nós, o ideal é fazê-los acompanhar um bom churrasco. E foi nessa toada que há poucas semanas fiz um churrasco em casa para alguns amigos, com excelentes carnes do sul do nosso país, todas de gado Hereford, e as harmonizei com um dos grandes cabernets norteamericanos, o Etude, da ótima safra de 2006.
ALEXANDRE FRANCO pao&vinho@agenciaalo.com.br
Ainda relativamente jovem, fundada em 1982, a Etude Wines busca, de fato, o estudo do seu terroir e dessa casta, bem como da pinot noir, para atingir o mais alto padrão possível de qualidade em seus vinhos, de maneira quase “religiosa”, até porque seu enólogo já não o nega em seu nome, Jon Priest (padre em inglês). Seus vinhos trazem sempre fruta madura e rica, com estrutura elegante e boca opulenta. Este cabernet 2006, com 14,7% de álcool, veio cheio de blueberry, blackberry e cassis ao nariz. Na boca, seus poderosos taninos muito bem domados são aveludados e de grande equilíbrio com o álcool e a acidez, trazendo cerejas negras, chá preto e toques de baunilha. Excelente vinho, que acompanhou com perfeição as carnes suculentas e marmorizadas do Hereford. Para completar nossa coluna deste mês, fugindo um pouco do conceito purista de “Novo Mundo”, trago a esta página um vinho da Europa Central, um branco de qualidade exuberante. Trata-se do Ryzlink Rynsky 2008, da Sonberk. A República Checa produz bons vinhos, mas em especial seus brancos são dignos não só de nota, mas de prêmios importantes. A Sonberk vem ganhando consistentemente nos últimos anos os prêmios de melhor vinho branco seco da Europa central e oriental. E esse riesling definitivamente é um dos motivos do sucesso. De cor dourada com nuances esverdeadas, aromas de damasco, maracujá e papaia, e toques de mel, menta e eucalipto, traz ainda boca rica, saborosa, com ótima acidez e presença cítrica, apimentada e mineral. Vinho delicioso. Acompanhou soberbamente o risoto cítrico de camarões que preparei para o aniverário de 19 anos da Victória, minha filha. Harmonização aplaudida por todos os convidados.
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HAPPY HOUR
Cervejas divinas
RONALDO MORADO www.ronaldomorado.com.br ronaldomorado.blogspot.com.br @ronaldomorado
“Preciso de um copo de cerveja para que na luta contra o diabo eu possa desprezá-lo.” Martinho Lutero, fundador da Igreja Luterana
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Em rodas de amigos curiosos costumo contar uma estória sobre um francês que amava cerveja, mas tinha vergonha de admiti-lo. Talvez não fosse vergonha de fato, mas apenas uma preferência, justificável, por um bom champanhe. Certo dia, atormentado pelo dilema, teria sonhado com uma bebida que parecia champanhe, produzida e armazenada em caves da região de Champagne, mas que era cerveja!! Ao degustá-la, ficou tão encantado – como se estivesse realizando um sonho – que a chamou de DEUS. Essa é uma versão que inventei para apresentar uma cerveja sofisticada que mescla as melhores técnicas cervejeiras belgas e as mais sofisticadas tradições francesas de produção do champanhe. A verdadeira história conto ao final desse artigo. A cerveja DEUS Brut de Flandres é produzida por uma cervejaria belga – Brouwerij Bosteels – fundada em 1791 e até hoje controlada pela mesma família, já na 6ª geração. O processo de produção, sofisticado e interessante, começa na Bélgica e termina na França. Primeiro a cerveja é produzida na Bélgica e acondicionada para fermentação; o produto segue, então, para a França, onde passa pelo processo conhecido como champenoise. Em caves especializadas na produção de champanhe, o produto recebe açúcares fermentáveis e fermento selecionado e é engarrafado para provocar um novo processo de fermentação durante meses – em geral 12 meses. Esse período, chamado de “longa maturação”, acontece no interior de caves preparadas para tal, que usam o método conhecido como remuage. As garrafas são colocadas com a boca para baixo (a 45º) – de forma que o fermento se concentre no gargalo – e giradas periodicamente. Após esse longo período, o gargalo é congelado para retirar o fermento e abrir a rolha. Para finalizar, a garrafa veste sua roupa de gala para ser apresentada aos maravilhados pobres mortais. Temos então uma cerveja de aroma frutado, sabor
levemente cítrico, carbonatada e leve. O álcool nem é percebido, apesar do teor de 11,5% por volume. A preciosidade é melhor apreciada servida exatamente como um bom espumante, em taças tipo flute, a uma temperatura entre 2º e 4ºC. O personagem verdadeiro da história dessa cerveja é um belga que se valeu da amizade com franceses da cidade de Reims, região de Champagne, na França, e propôs a experiência de submeter uma boa cerveja belga ao método traditionelle ou champenoise. Diz a lenda que a bebida resultante foi chamada de DEUS porque esse cervejeiro se incomodava com o fato de a cerveja belga mais famosa no mundo ser a Duvel (diabo no idioma local, o flemish). No Brasil, a cervejaria Wäls de Minas Gerais produz a Wäls Brut e a cervejaria Eisenbahn de Santa Catarina produz a Lust da mesma forma. De excelente qualidade, aroma frutado cítrico, espuma consistente, sabor complexo e levemente adocicadas. A apresentação é fina, elegante e a um preço razoável em comparação com sua similar belga. Além das brasileiras, podemos encontrar em Brasilia a DEUS e a Malheur, também belga. ................... Foram abertos dois novos points na cena cervejeira brasiliense que vale a pena conferir: I Love Beer – Tap House. Bar com 30 torneiras de chopes muito especiais, boa gastronomia e música de qualidade. Os garçons estão preparados para orientar os clientes no melhor aproveitamento da carta de cervejas do local. 210 Norte, Bloco B, Lojas 53, 55, 63 e 73, tel. 3033.6909 (a partir de 12h, exceto 2ª feira). London Street. Bar com clima londrino através da oferta prioritária de chopes, cervejas e gastronomia tradicionais da Inglaterra. Ambiente super agradável, com boa música e excelente atendimento. 214 Norte, Bloco D, Loja 23, tel. 99119.2482 (a partir das 17h, exceto 2ª feira).
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DIA&NOITE
vivaathos Permanece em cartaz somente até o dia 24, na Fundação Athos Bulcão (404 Sul), a exposição Acervo: Recortes III, em cartaz. Acostumados aos painéis instalados nos pontos turísticos de Brasília, os visitantes podem se surpreender com peças pouco conhecidas do acervo de Athos Bulcão (1918-2008). São trabalhos criados a partir da década de 1970 nos quais fica evidente o caráter múltiplo de sua atividade artística, brincadeiras do mestre em que utiliza como recurso sua própria criação: estudos para projetos nos mais diversos suportes (vitrais, lenços de seda, ladrilhos, painéis em fórmica e alvenaria) e objetos de cena da ópera Amahl e os visitantes da noite. A exposição abre também uma janela para o lado pessoal do artista, com cartas de amigos nas quais vida e obra se misturam de modo inexorável. De segunda a sexta-feira, das 9 às 18h, e aos sábados, das 10. Entrada gratuita.
retratosurbanos
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artelatina
dosquadrosantigos A proposta do artista plástico Hiran é despertar no público a ideia de que materiais descartados podem ser transformados em arte. Na exposição em cartaz somente até o dia 21 no Espaço do Servidor (Câmara dos Deputados) estão trabalhos nos quais ele utiliza técnica mista, como spray, tinta acrílica e colagens em madeira, gesso e placas de duratex, além de pó de madeira, cola e moldura de madeira restaurada de quadros antigos. Sociólogo e teólogo, Hiran nasceu no Rio e mora em Brasília desde 2010. A exposição Verdades impressas em coisas que restam pode ser vista de segunda a sexta-feira, das 9 às 17h. Entrada franca.
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O rato Níquel Náusea, Rê Bordosa e os Skrotinhos, Aline e os Piratas do Tietê são personagens icônicos de histórias em quadrinhos que marcaram as décadas de 1980 e 1990, principalmente por retratarem com humor o caos das zonas urbanas brasileiras. Essas criações de Fernando Gonsales, Angeli, Adão e Laerte estão na mostra Cidades em tiras: os quadrinhos e as cidades no Brasil, em cartaz na Caixa Cultural até 16 de outubro. Com curadoria do historiador André Cezaretto, apresenta 60 revistas originais, entre primeiras edições de Chiclete com Banana, Piratas do Tietê, Níquel Náusea e outras, além de 30 estudos e desenhos com diferentes olhares sobre cidades caóticas, violentas e socialmente tensas. Uma instalação de vídeo e som desenhada por Luis Gê e musicada por Arrigo Barnabé faz parte da mostra e foi pioneira na época, uma antevisão do que seria a participação desses cartunistas no nascente formato do vídeo. Essas experiências redundariam na criação de projetos como o Olhar Eletrônico, TV Pirata e, até mesmo, na TV Colosso, todos com envolvimento de cartunistas oriundos desse período. De terça a domingo, das 9 às 21h, com entrada franca.
Durante os longos períodos em que países latino-americanos estiveram sob o jogo de ditaduras militares, muito pouco cada um deles soube da produção artística de seus vizinhos. Esse desconhecimento, vindo em parte desde a época das colonizações espanhola e portuguesa, foi inspiração para a mostra Horizontes da arte na América Latina e Caribe, montada no CCBB até 24 de outubro. Estão lá acervos de representações diplomáticas situadas em Brasília e de obras cedidas pelos governos dos 19 países participantes. São 60 pinturas, gravuras e desenhos, de Tomie Ohtake, Di Cavalcanti e Antonio Bandeira, do Brasil, e de Alexandre Lobaina (Cuba), Diego Rivera (México), Esperanza Gill (Paraguai) e Roberto Aizemberg (Argentina), entre outros. De quarta a segunda, das 9 às 21h, com entrada franca.
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A proposta de Ima Montoya é reinterpretar os personagens e paisagens de Dom Quixote, trazendo-os para a realidade do Século XXI. Como parte das comemorações pelos 400 anos da morte de Miguel de Cervantes, a pintora espanhola apresenta Quixote, a loucura de viver, em cartaz no Instituto Cervantes (707/907 Sul) entre 23 de setembro e 31 de outubro. Ao apreciar os 15 óleos sobre tela da exposição, Montoya pretende que o espectador se identifique e crie cumplicidade com os personagens e seus desejos. “Quero que tirem Quixote da estante de leitura e o vejam em um pub, ferido, com os olhos brilhantes e cheio de paixão”, afirma. Em algumas telas há gruas de construção, uma espécie de metáfora dos moinhos de vento enfrentados por Quixote. “Agora são grandes construções industriais que estão gerando graves problemas em muitos países, sobretudo quando deixam de gerar empregos. Lá está a figura do Quixote, de todos nós, representada por um homem que está acima dessas estruturas”, explica Montoya. Poeta, romancista, soldado e dramaturgo, Miguel de Cervantes Saavedra nasceu em Alcalá de Henares, em 1547, e morreu em Madri, em 1616. De segunda sexta-feira, das 9 às 20h, e sábado, das 9 às 15h, com entrada franca.
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quixoteatual
Fani
arteemchita O tecido floral colorido que alegra as festas juninas por este Brasil afora é também matéria-prima de Fani Bracher, artista plástica mineira que expõe seu trabalho no CTJ Hall (706/906 Sul) até 1º de outubro. Em Minas dos fazeres, Fani utiliza técnicas diversas, recortes das estampas da chita reaplicados em suportes de outros tecidos, trabalhados com tintas para criar seus panôs, que configuram um universo plástico e colorido. A chita foi introduzida no Brasil pelos europeus a partir de 1800. Tinha sido trazida das Índias em 1498, por Vasco da Gama, e era conhecida pelo nome de chints. As primeiras peças do tecido chegaram à Bahia e a Pernambuco, mas foi em Minas que o tecido conheceu usos e processos de industrialização mais apurados, com flores que exprimiam coragem, força, descaramento e ousadia. De acordo com Fani, casada com o também artista plástico Carlos Bracher, “a chita, para nós brasileiros, não é apenas um tecido; é uma história de vida, vida de um povo, de um país, hoje muito presente em nosso folclore e nos estandartes que expressam nossa religiosidade”. De segunda a sexta-feira, das 9 às 21h; sábados, das 9 às 12h. Entrada franca. Divulgação
velhochico Durante 15 anos, o artista plástico Otoniel Fernandes produziu dezenas de telas inspiradas nas paisagens captadas em suas viagens pelo Rio São Francisco. O resultado de seu trabalho pode ser visto na mostra Velho Chico ilustrado, montada no Espaço Cultural Codevasf (601 Norte) até 30 de setembro. Estão lá óleos sobre telas com registros do homem e da paisagem ribeirinha, entre parques nacionais, povoados, ilhas, represas e embarcações. O público poderá adquirir o livro de arte Velho Chico, uma viagem pictórica e o vídeo Velho Chico ilustrado. Neste último são vistos cenários marcantes, como as nascentes na Serra da Canastra, o porto de Pirapora, o cânion e a foz no litoral de Alagoas e Sergipe. De segunda a sexta-feira, das 8 às 17h, com entrada franca. Mais informações: 2028.4758.
brincadeiras
casacor
Os candangos e as bandeirinhas que marcaram o trabalho do artista plástico Alfredo Volpi (1896-1988) são suas referências mais conhecidas. Estamos falando de Luiz Costa, o artista plástico mineiro morador de Brasília há 47 anos cuja obra está exposta até 31 de outubro na Art & Art Galeria (QI 21 do Lago Sul). Intitulada Brincadeiras de Luiz Costa, apresenta 63 telas e esculturas onde ele retrata seus famosos candangos que muitas vezes incorporam personagens como Lampião e Maria Bonita, além de imagens coloridas de bichos. Segundo a galerista Celina Kaufman, “Luiz Costa é considerado o maior muralista do Brasil, admirado por Athos Bulcão e Alfredo Volpi, seus mentores”. De segunda a sexta-feira, das 9h30 às 17h30, e sábado, das 10 às 14h. Informações: 3366.5067. Entrada franca.
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Serão 40 ambientes distribuídos numa área de cerca de 5 mil m², no mesmo local em que ocorreu a última edição. Começa dia 22 de setembro o Casa Cor Brasília, este ano comemorando 25 anos e apresentando o trabalho de 70 profissionais de decoração, arquitetura e paisagismo. Organizada pelas empresárias Eliane Martins, Moema Leão e Sheila Podestá, a mostra pretende superar os 32.920 visitantes de 2015. Os restaurantes Bloco C e Ernesto Café são as atrações gastronômicas deste ano. O Casa Cor Brasília fica até 9 de novembro, com liquidação nos dois últimos dias. De terça a sexta, das 15 às 22h. Sábados e domingos, das 12 às 22h. No antigo Instituto Nacional do Coração (QI 9 do Lago Sul). Jomar Bragança
Diego Bresani
instabilidadehumana Ao longo de sua trajetória, Diego Bresani fotografou anônimos, pessoas de seu círculo de amizades, atores e personalidades da política e da cultura. Na mostra que apresenta na Galeria Athos Bulcão até 16 de outubro, figuram o fotógrafo Sebastião Salgado, os músicos Erasmo Carlos (foto) e Ellen Oléria, os atores Juliano Cazarré, os deputados Jair Bolsonaro e Jean Willys. São mais de 180 retratos que atestam o fascínio de Bresani pela potência, fragilidade e instabilidade da forma humana. “Retrato é sempre uma relação de interesses. É uma escolha. Sempre fico nervoso. Eu não sei o que vai acontecer”, afirma Bresani. A montagem da exposição abdica de qualquer ordem cronológica ou técnica em função de uma distribuição constelar de imagens. Um recorte que dá notícia do universo imagético intimista de Diego Bresani. De segunda a sábado, das 12 às 19h; domingos, das 12 às 17h. Entrada franca.
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DIA&NOITE
acortinadababá Pouca gente sabe, mas a escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941) escreveu para uma sobrinha um conto infantil que foi encontrado em meio aos manuscritos do romance Mrs. Dalloway. Pois esse mesmo conto serviu de inspiração para o Grupo Sobrevento montar o espetáculo A cortina da babá, em forma de teatro de sombras chinesas. Ele estará em cartaz na Caixa Cultural dias 11, 12 e 13 de outubro, às 19h. Concebido para marcar os 30 anos da companhia paulista, trata-se da primeira experiência de seus integrantes com o Teatro de Sombras. Em parceria com a SP Escola de Teatro, envolveu uma troca de experiências entre os principais sombristas chineses e especialistas brasileiros em Teatro de Animação. Liang Jun, diretor da Companhia de Arte Popular de Shaanxi, uma das mais famosas da China, veio ao Brasil para ensinar a arte a 60 artistas, selecionados entre mais de 200 interessados. O conto de Virginia Woolf narra a história de uma criada que cochila enquanto costura uma grande cortina azul bordada com figuras de animais e de uma pequena aldeia, que aos poucos vão ganhando vida. Com direção de Sandra Vargas e Luiz André Cherubini, o espetáculo é recomendado para crianças a partir de quatro anos. Entrada franca. Informações: 3206. 9448.
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magiacigana Dança e teatro estão juntos na mais nova montagem da Cia. Os Buriti, grupo brasiliense que acaba de completar 20 anos. Trata-se de Kalo – filhos do vento, baseada no texto de Maurice Durozier, um dos mais antigos atores do francês Theatre du Soleil, no qual celebra a riqueza cultural dos ciganos. O espetáculo conta a história de Suki, uma cigana contadora de histórias que quer salvar a memória de seu povo. Baxt, a sorte do povo cigano, é um fantasma que a acompanha. Eles viajam juntos e transitam entre dois mundos: o real e o imaginário. Com música original ao vivo assinada por Daniel Pitanga, Jorge Brasil e André Togni, a montagem tem a colaboração de Soledad Garcia e Thiago Bresani, da Cia Lumiato Teatro de Formas Animadas, com seu teatro de sombras. Direção de mãe e filha, Eliana Carneiro e Naira Carneiro. Até 2 de outubro, sábados e domingos, às 19 h. Praça do CCBB, com entrada franca.
A história de Dorothy e seu cachorro, que são carregados por uma ventania e aterrissam nas terras de Oz, um poderoso mágico que mora na Cidade das Esmeraldas, está sendo contada até o dia 25 no palco do Teatro Goldoni (208/209 Sul). A montagem da Trupe Trabalhe Essa Ideia selecionou as meninas Laura Querino, Karol Proença, Izabelle Mour e Glenda Cury, as três não atrizes, para conviver com a rotina do teatro. A preparação do elenco ficou a cargo da atriz Renata Bittencourt. Sob direção de Paula Hesketh, a peça está sendo encenada aos sábados e domingos, às 17h, com ingressos a R$ 40 e R$ 20. Doações de brinquedos em bom estado dão direito a meia- entrada. A companhia está recrutando meninos e meninas entre 7 e 12 anos para participar da nova montagem. Mais informações: trabalheessaideia@gmail.com.
poeira
poetando Vai até 30 de setembro a série de saraus promovidos pela Associação Nacional de Escritores (707/907 Sul) sob o título Poesia em voz alta. A proposta é aliar a poesia a diferentes linguagens e apresentar o gênero ao público de forma lúdica. Com a presença de um poeta convidado e de outro que faz o papel de mediador com a plateia, as performances promovem também reflexões sobre o significado da poesia. De acordo com o presidente da ANE, Fabio de Sousa Coutinho, trata-se de um marco na história da associação, não apenas por ser o primeiro a receber recursos do FAC, como também pelo sentido social que é dado à atividade cultural. “O projeto é belíssimo e abre as portas da ANE para a comunidade”, diz. Dias 26, 27, 28 e 30 de setembro, das 15 às 16h30. Informações em www.poesiaemvozalta.com.br.
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Diego Bresani
Uma casa às vezes precisa mudar. Roupas, chão, livros, chuva, saudade, gargalhadas... Entre caixas abarrotadas de lembranças, um leve instante da realidade de três mulheres comuns sobre a ausência. E o que resta são memórias, poeira no tempo. Volta ao palco do Espaço Cena (205 Norte) a peça Poeira, com a participação de três mulheres não-atrizes numa história contada em cartas e poemas escritos em tempos de luto pela psicóloga Cristina Carvalhedo. Ao lado da também psicóloga Solange Cianni e da pedagoga Nayla Reis, Cristina se entregou ao desafio de encenar uma marcante passagem de sua vida. Em um dos poemas, ela pergunta: “E agora? Sigo adiante como se você jamais tivesse existido?“. O espetáculo “nasceu na forma de uma declaração de amor de filha para mãe e de mãe para filha”, relembra Tatiana Carvalhedo, idealizadora do projeto e filha de Cristina. Até 2 de outubro. Sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 20h. Ingressos a R$ 20. Classificação indicativa: 16 anos. Informações: 3349.3937.
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vivalegião Após quase 20 anos da morte de Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá estão em turnê de comemoração dos 30 anos do lançamento do primeiro vinil. Será no dia 28 de outubro, no Net Live Brasília, o show Legião Urbana XXX anos – Eles estão de volta, ocasião em que os músicos receberão convidados para tocar as músicas do disco lançado em 1985. Na primeira parte serão apresentados os sucessos do primeiro disco na ordem original; na segunda, alguns dos clássicos da banda. Junto com Dado e Bonfá, sobem ao palco Lucas Vasconcellos (guitarra), Mauro Berman (baixo) e Roberto Pollo (teclados). Nos vocais, relembrando Renato Russo, o ator e cantor André Frateschi. Ingressos entre R$ 70 e R$ 400, à venda na Central de Ingressos do Brasília Shopping.
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A filha de Martinho da Vila vai dividir o palco com a carioca radicada brasiliense Dhi Ribeiro. Será no dia 1º de outubro, às 22h, para comemorar o centenário do mais brasileiro dos ritmos: o samba. Mart’nália samba desde que nasceu, mas também ouve e gosta de outras vertentes de música. Só não canta axé, sofrência e sertanejo. Para abrir o show Misturado, Dhi Ribeiro, uma cantora que traz em suas veias o mais tradicional samba do Rio, o afoxé, o samba de roda da Bahia e a diversidade cultural e musical típicas da mistura brasiliense. Ingressos já à venda por R$ 40 na Aruc (Área Especial, nº8, Cruzeiro Velho) .
joãoemariaemópera O clássico dos Irmãos Grimm que marcou a infância de várias gerações e virou ópera de autoria do compositor alemão Engelbert Humperdinck (18541921) ganhará uma versão ainda mais moderna. Em seis apresentações gratuitas, João e Maria – Ópera e livro chega à cidade nos dias 7, 8 e 9 de outubro, no Teatro Eva Herz, do Shopping Iguatemi, e nos dias 27 e 28 de outubro, no SESC de Ceilândia. Baseado em história que faz sucesso em todo o mundo há mais de 150 anos, o espetáculo foi desenvolvido pela Cia. de Cantores Lirícos de Brasília, uma das companhias de ópera mais atuantes da cidade, com cantores que já compuseram o elenco de muitas montagens profissionais pelo Brasil, como o Festival de Ópera de Brasília, além de montagens de ópera em Pernambuco, Acre, Paraíba, Minas Gerais e São Paulo. “O espetáculo será um conto de fadas com todo o encantamento cênico que ele merece”, promete a produtora Renata Dourado.
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Os atores Ruy Brissac, Adriano Tunes, Yudi Tamashiro, Elcio Bonazzi e Arthur Ienzura vão se transformar em Dinho, Bento, Samuel, Júlio e Sérgio no espetáculo Mamonas, o musical, com apresentação única dia 15 de outubro no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. A trajetória do quinteto que teve carreira apoteótica nos anos 90 e fim trágico há 20 anos, num acidente aéreo, será contada em dramaturgia bem irreverente, como era o grupo Mamonas Assassinas. É como se os próprios integrantes contassem a trajetória do grupo desde o tempo em que animava festas de condomínios até o reconhecimento nacional, explica o autor Walter Daguerre. Sob direção de José Possi Neto, o espetáculo tem execução ao vivo dos principais sucessos da banda, entre eles Pelados em Santos, Robocop gay e Sabão Crá-Crá. Ingressos entre R$ 25 e R$ 120, à venda na Central de Ingressos do Brasília Shopping.
beatlesparafamília
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relembrandoosmamonas
Esse espetáculo-quase-festa é feito sob encomenda para os beatlemaníacos que queiram introduzir seus filhos no universo da banda inglesa surgida em Liverpool em 1960 e extinta em janeiro de 1970. Será no palco do Teatro dos Bancários, dias 1º e 2 de outubro, às 17h, o Beatles para crianças, show interativo no qual o público canta, dança e ouve histórias que ilustram as letras das canções. Um telão de LED compõe a cenografia da banda e apresenta um desenho animado mostrando as fases do quarteto inglês. Depois, já com a banda no palco, outra animação ensina os três primeiros movimentos básicos de rock. Daí para frente as crianças dançam, cantam e aprendem canções históricas dos Beatles. Quando parece que tudo está caminhando para o final, os integrantes da banda convidam algumas crianças para subirem ao palco e tocarem Blackbird com os 70 instrumentos colocados em cena. Depois é a vez dos adultos formarem um coral para cantar Twist and shout. Ingressos a R$ 100 e R$ 50. 19
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GRAVES&AGUDOS
Shows em profusão POR HEITOR MENEZES
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ntre as notícias alvissareiras e as medidas draconianas, o que é melhor? Aquelas, claro. Afinal, apertar o cinto só evita que a calça caia. Pois, a propósito de fartura, algo interessante ocorre sob o céu de Brasília: nunca antes nesta cidade a agenda de shows musicais se mostrou tão abundante e diversificada como a do período aqui relacionado. O exagero, o “sambari love”, é só para atrair a atenção do leitor, não reparem. Como são muitos shows, diferentes tipos de artistas, estilos musicais, vale a pincelada, o melhor daquilo que a temporada nos reserva. Feliz aquele cuja disposição, humor e saldo bancário permitem comparecer aos eventos. Antes de sair de casa, é bom atualizar a agenda, dado o grande número de atrações que aparecem de última hora.
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Música +. Centro Cultural Banco do Brasil, 19/9, às 19h30. Música é música, mas é arte que conversa com muitas áreas. Eis o ponto de partida do projeto comandado pelo cantor Zé Renato no CCBB.
Aqui o lance é música + ambiente. Zé Renato recebe a cantora Nina Becker e o historiador e filósofo Henrique Lian. Para ver, ouvir e ficar bem informado. Hélio Delmiro. Clube do Choro, 21, 22 e 23/9, às 21h. Pouquíssimos tocam violão e guitarra como mestre Hélio Delmiro. Que o digam Elis Regina, Clara Nunes, Elizete Cardoso, César Camargo Mariano, João Donato, Tom Jobim, Djavan, Sarah Vaughan, Dave Grusin, Milton Nascimento, Renato Russo, uma lista muito extensa para citar aqui. Pois vale e muito ir ao Clube do Choro reverenciar um dos nossos gênios das seis cordas. Daniela Mercury. Caixa Cultural, 22, 23 e 24/9, às 20h, e 25/9, às 19h. Daniela Mercury virou cincoentona, em julho. Um dia isso ia acontecer. Porém, em nada muda a qualidade da grande artista que se revelou ao longo de carreira vitoriosa. Ao contrário, a maturidade melhora e muito a arte do canto. Em A voz e o violão a baiana mistura axé, MPB, samba e o que mais lhe aprouver, de um jeito intimista que só um lugar pequeno como o teatro da Caixa pode permitir. Grande cantora, grande personalidade,
uma honra estar entre nós. A Cor do Som. Centro de Convenções Ulysses Guimarães, 24/9, às 21h30. A Cor do Som foi e sempre será referência de grupo que soube valorizar o instrumental e a melodia tipicamente brasileiros. Também, um grupo que reúne a guitarra de Armandinho Macedo, os irmãos Dadi e Mú Carvalho, a percussão de Ary Dias e a bateria de Gustavo Schroeter só poderia produzir aquele som filé mignon. Eis um grupo lendário para quem gosta mesmo de música. Detalhe: apresentação única, com a formação original. Imperdível. Ratos de Porão. Skina Hall, 24/9, às 21h. Feios, sujos e malvados. Sim, a banda de João Gordo envelheceu, mas continua a mesma coisa de sempre: um punk violento, raivoso, ininteligível, mas muito bacana. O fato de o cara ter virado uma celebridade em nada mudou o esculacho geral contra o sistema e o nhé-nhénhé. Não exatamente uma noite romântica, pois o lance lá no Núcleo Bandeirante vai ter DFC e Suicídio Coletivo abrindo a parada. Protejam os “zovidos” e curtam o som.
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Criolo na FunFarra. Centro Cultural Banco do Brasil, 25/9, às 15h. Para os familiarizados, a FunFarra é uma festa ou mais que isso, pois o projeto costuma misturar DJs, músicos ao vivo, artistas plásticos, grafiteiros, artistas circenses e dançarinos, diferente das baladas eminentemente eletrônicas, onde o som house é onipresente. Desta vez, o convidado é ninguém menos que Criolo, um cantor dos mais interessantes, pela capacidade de dialogar com diferentes estilos, mas sem perder a originalidade do canto meio rap, meio MPB. Uma verdadeira farra. 2 Cellos. Centro de Convenções Ulysses Guimarães, 25/9, às 20h. Subverter a tradição, eis o nome do jogo dos jovens violoncelistas Luka Sulic (Eslovênia) e Stjepan Hauser (Croácia). Músicos de formação clássica, os dois literalmente arrebentam os instrumentos de arco, tocando clássicos do rock’n’roll. Às vezes, uma bateria ajuda a dar mais peso ao negócio. Se depender das academias de Zagreb e Vianna, os dois seriam excomungados. O público adora. É a segunda vez da dupla em Brasília. Whitesnake. NET Live Brasília, 28/9, às 21h30. A banda de David Coverdale retorna a Brasília (a última vez foi em 2013, abrindo para o Aerosmith, primeiro show no reformadíssimo Mané Garrincha), com a Greatest hits tour. Apesar do tempo, os caras continuam mandando um hard rock de altíssima qualidade e com um repertório matador. Ano passado lançaram The purple album, no qual revisitam pérolas do Deep Purple, coisas da fase em que Coverdale comandou os vocais da banda. As clássicas Burn, You fool no one, Soldier of fortune e Mistreated estão nesse pacote. Showzaço, para redimir a falta de vontade do público que foi ver o Aerosmith e não sabia cantar as músicas do Whitesnake. Sim, o guitarra Reb Beach vai estar de volta com as caretas mais incríveis desse circo chamado rock’n’roll. Calourada UnB. Centro Comunitário da UnB, 1/10, às 22h. Calourada, a famosa festa no Centro Comunitário da UnB, se reinventa de todo o jeito e continua atraindo público sempre com atrações de peso. Desta vez, o ecletismo fica por conta de DJs convidados, o rapper Projota e os Raimundos, à frente os incansáveis Digão e Caniço. Para quem gosta de som e agito varando a madrugada.
Acima, Whitesnake; ao centro, 2 Cellos; ao lado, Ivan Lins, Toquinho e MPB4.
Toquinho, Ivan Lins e MPB-4. Centro de Convenções Ulysses Guimarães, 1/10, às 21h. A geração de ouro da MPB é toda ela septuagenária. O que significa que nesses tempos muitos comemoram 50 anos de carreira. É o caso de Toquinho, Ivan Lins e o grupo vocal MPB-4, atração 3 em 1 de alta qualidade. Os três dispensam apresentações. A curiosidade fica por do MPB-4, que depois do falecimento de Magro Waghabi, em 2013, ago-
ra é formado por Aquiles, Miltinho, Dalmo Medeiros e Paulo Malaguti. Calma que nos shows a gente fica sabendo quem é quem. Tiago Iorc. Centro de Convenções Ulysses Guimarães, 1/10, às 18h. Amei te ver, música cujo clipe tem a participação de uma certa Bruna Marquezine, parece ter arremessado o cantor Tiago Iorc a uma enorme audiência. Gente nova, bonita, um charme irresistível ronda o
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Natally Andressa
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trabalho desse brasiliense criado no exterior e que rodou mundo, para agora se redescobrir como autor de grande música pop brasileira. Lembra levemente Djavan e isso é um elogio, pois o cara tem muita personalidade. Coisa linda e Me espera, parceria com Sandy, estão no repertório, para alegria geral dos fãs. O Rappa. Área Externa do Ginásio Nilson Nelson. 8/10, às 21h. Acústico Oficina Francisco Brennand é o mais recente projeto d’O Rappa e é de se perguntar: por que ninguém havia gravado antes um musical naquele mítico lugar, nas cercanias de Recife? Visual impactante à parte, fato é que O Rappa segue em frente a trajetória de música urbana (rock, rap, reggae e MPB) com forte viés de observação social. Incrível pensar que o disco Rappa mundi, aquele que tem A feira e Vapor barato, completa 20 anos em 2016. Longa vida ao Rappa! Green Move Festival. Esplanada dos Ministérios, 8/10, às 15h. O sábado, 8 de outubro, promete mesmo ser agitado. Além d’O Rappa, em outro ponto da cidade rola mais uma edição do Green Move Festival, na Esplanada dos Ministérios. Nesse dia, às 15h, teremos a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro abrindo os trabalhos, no Museu da República. Em seguida, três grandes nomes do rock nacional: Nando Reis e Os Infernais, às 17h; Paralamas do Sucesso, às 19h; e, fechando a tampa, o Skank, às 21h. Só para lembrar, o Green Move Festival é gratuito, mas para participar mesmo é preciso se engajar nas causas que o evento defende. Elvis Tribute – The King Is Back. Centro de Convenções Ulysses Guimarães, 8/10, às 19h e 21h30. E se não bastasse, o sábado, 8 de outubro, ainda reserva o britânico Ben Portsmouth, considerado um dos melhores covers de Elvis Presley de todos os tempos. Esse espetáculo já passou por aqui e é mais uma chance de conferir o trabalho que recria a magia do grande e inesquecível Rei do rock’n’roll. Haja troca de figurinos e todos os trejeitos, incluindo o balanço de pernas e quadris. Elvis foi esperto: mudou-se para outro planeta e deixou sósias gerando lucros quase 40 anos depois de ter decolado para o infinito e além.
Outra órbita musical POR PEDRO BRANDT
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esde a primeira edição, o festival anual Satélite 061 consagrou-se como um evento antenado, dedicado a trazer para Brasília o melhor da música brasileira, artistas novatos e veteranos, dos mais diversos estilos, especialmente aqueles que nem sempre ganham espaço merecido na grande mídia. Este mês, o festival chega à sua quinta edição sob o lema “Diversidade e empoderamento”. Tal bandeira pode ser compreendida de diversas formas e, ao analisar-se as trajetórias dos convidados, fica clara a intenção dos organizadores. No line up estão cantores, cantoras e bandas que tocam suas carreiras com independência, buscando caminhos alternativos para viver de música. Entre os nomes consagrados estão pessoas que souberam se reinventar de maneira digna e criativa. Há, ainda, um outro viés importante que pauta o festival, o da questão de gênero e raça, como explica a produtora e curadora do festival, Marta Carvalho: “Recusamos aquelas (atrações) que são prevalentes e que passam pela representação vitimizada, hipersexualizada e estereotipada. Ou seja, construídas a partir do pensamento racista/sexista ainda dominante na nossa sociedade. É preciso irradiar o protagonismo de bandas e artistas que trazem ideias de transformação”. Partindo desse preceito, o Satélite traz duas mulheres poderosas para abrilhan-
tar sua programação, Elza Soares e Gal Gosta. Entre rock, soul, MPB, hip hop e samba, vale chamar a atenção para duas novidades: o show do grupo Baiana System, cujo novo álbum, Duas cidades, está entre os mais elogiados do ano, e a revelação da MPB As Bahia e a Cozinha Mineira, que conta com duas vocalistas trans. Todo os shows são gratuitos. Elza é a estrela que encerra a série de shows que passarão pela estrutura montada aos pés da Torre de TV no sábado, 24 de setembro. Na ocasião, mostrará o repertório de seu álbum mais recente, A mulher do fim do mundo. Antes, no mesmo palco, se apresentam, a partir das 16h, Nova Raíz, Som de Papel, Caê Maia, Di Mello (SP), Phoro (Uruguai), Fioti (SP), Consuelo e Baiana System (BA). No domingo, 25, é a vez, a partir das 15h, de Filhos de Dona Maria, Thabata Lorena, Marssal, Autoramas (RJ), Joe Silhueta, Guizado (SP), As Bahia e a Cozinha Mineira (SP) e Gal Costa. A Torre de TV também receberá, dias 24 e 25, o Palco Radiodifusão, com participação de diversos DJs brasileiros. E até o dia 25 a programação do Palco Radar, com espetáculos de teatro e dança, passará pelo Teatro Garagem (Sesc 913 Sul), pela Torre de TV e pelo IESB. Satélite 061
24/9, das 14 às 2h, e 25/9, das 15 às 24h, na Torre de TV, com acesso livre. Programação completa www.satelite061.com.
Participe nas categorias Contos infantis e Poesias. Inscrições abertas até 1º de dezembro. Acesse: www.sescdf.com.br
GALERIADEARTE
Aquarela de Anita Malfatti
Óleo sobre tela de Cícero Dias
Um acervo riquíssimo POR LÚCIA LEÃO
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gora é definitivo: essas obras nos pertencem. Falamos de 192 quadros dos mais importantes pintores modernistas brasileiros – Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Benedito Calixto, Volpi e por aí afora – apreendidos pela Polícia Federal com o traficante Pablo Montaño em 2006 e entregues, à época, à guarda do então recém-inaugurado Museu Nacional da República. Vencidos todos os prazos de recurso, o museu passou de “fiel depositário” a “proprietário” das obras que, in-
corporadas à já rica coleção de arte contemporânea, tornou-o detentor de um dos principais acervos da produção artística brasileira dos séculos XX e XXI. “Hoje podemos dizer que somos de fato um ‘Museu da República’, um museu que guarda a história da arte brasileira moderna e contemporânea. É um acervo de referência da nossa produção artística no período republicano, desde o início do século XX até hoje”, celebra o diretor do museu, Wagner Barja. Hoje, o acervo guarda mais de duas mil obras, volume bastante representativo consideran-
do que a instituição ainda completará dez anos no próximo mês de dezembro. Para se ter uma ideia, o MASP, aos quase 70 anos de existência, possui oito mil obras. “Apesar dos parcos recursos que o museu sempre recebeu, incorporamos uma média de 110 obras ao nosso acervo a cada ano”, contabiliza Barja. A grande maioria são trabalhos de artistas contemporâneos – pinturas, desenhos, esculturas e fotografias – doados ou adquiridos a título de premiações. Por isso, a incorporação das obras da coleção Oceanos gêmeos – o nome vem da operação da Polí-
24 Têmpera sobre eucatex com areia de Fulvio Pennacchi
Óleo sobre tela de Pancetti
cia Federal que prendeu Pablo Montaño – é tão importante. Estão ali, entre muitos outros, Anita Mafalti (Aquarela), Samson Flexor (Jardim de oliviers), Benedito Calixto (Fragata brasileira), Aldo Bonadei (Natureza morta), Volpi (Bandeirinhas) e Manabu Mabe (Batalha histórica). E Djanira, Di Cavalcanti, Portinari, Pancetti, Fulvio Pennacchi, Burle Marx... As obras estão guardadas em local seguro e climatizado, com todos os cuidados necessários à sua preservação. E a maioria ficará assim até novembro de 2017, quando serão apresentadas ao público em uma grande exposição sobre o Modernismo, programada para comemorar o aniversário da República não só com as nossas obras, mas com as principais sobre o período, que se encontram
Óleo sobre tela de Antônio Gomide
Óleo sobre tela de Di Cavalcanti
em museus do Brasil e do exterior. Até lá poderão ser vistos outros fragmentos do acervo, com recortes feitos pela curadoria do museu dentro e fora do prédio do Complexo Cultural da Esplanada dos Ministérios. No projeto Acervo além-muros, as obras são cedidas para exposição em outros espaços, como a residência oficial de Águas Claras, onde estão atualmente quase 50 peças da coleção. “Como não estamos ocupando a residência oficial para moradia, mas apenas para eventuais reuniões de trabalho, decidimos torná-la um espaço cultural aberto a visitação. E aproveitar esse espaço para expor o riquíssimo acervo que pertence à cidade”, explica a primeira dama Márcia Rollemberg, idealizadora do projeto Portas abertas. Além dos quadros distribuídos pelos gabinetes da residência oficial – há, entre outros exemplares assinados por Volpi, Athos Bulcão, Rubem Valentin, Leonardo Alencar e Joaquim Paiva – um dos prédios do complexo residencial foi transformado em galeria de arte e abriga atualmente a exposição Moradas, que reúne 35 obras do acervo do Museu da República, entre elas esculturas, fotografias e desenhos dos artistas Pedro David, Pedro Motta, Carppio de Morais e Nino Cais. As visitas à residência oficial de Águas Claras são guiadas e devem ser agendadas pelo www.roac.df.gv.br.
Fotos: Acervo do Museu Nacional
Acrílica sobre madeira de Djanira
25 Desenho a lápis de Cândido Portinari
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A turminha do Ziraldo Brasília recebe exposição sobre histórias do artista inspiradas no folclore brasileiro POR AKEMI NITAHARA
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iver dá pé, dá pé viver/ Pé de saci/ Pererê, pererê, pererê, pererê”. A alegria contagiante da música Grande final, tema da Turma do Pererê, composta por Moraes Moreira e gravada também por Gal Costa, dá o tom da exposição Pererê do Brasil, que chega à Caixa Cultura de Brasília neste 21 de setembro. A mostra já passou por Salvador e Recife, apresentando as histórias criadas por Ziraldo sobre a Mata do Fundão de uma forma lúdica e interativa, com a identidade visual baseada na linguagem dos quadrinhos e a alegria e o bom humor característicos dos personagens, como diz a música: “Não nego a minha parte/ Entrego a vida à arte/ De ser feliz, de ser feliz”. A mais brasileira das histórias em quadrinhos, que tem personagens inspirados em lendas e no folclore do país, a Turma do Pererê foi também a primeira revista em quadrinhos colorida e de um único
autor, lançada em 1º de outubro de 1960. Em entrevista exclusiva à Roteiro, Ziraldo lembra emocionado da passagem da exposição pelo Nordeste: “Essa rememoração me encheu de alegria ao perceber que o Pererê está vivo ainda. Nas duas cidades, os pais fizeram questão de levar as crianças para ver a exposição e muita gente levou a revistinha do Pererê original, gasta, velhinha, para eu autografar. De maneira que está sendo muito emocionante”. Segundo diz, alguns personagens do Pererê foram inspirados em amigos dele que estão vivos e moram em Brasília. “Então vamos fazer uma farra lá”, promete. Com curadoria de Tarcisio Vidigal e Adriana Lins, a exposição leva o visitante à Mata do Fundão, com a turma toda: o indiozinho Tininim, o macaco Alan, o jabuti Moacir, o tatu Pedro Vieira, o coelho Geraldinho e a onça Galileu, além da coruja Professor Nogueira, o sábio que sempre é consultado quando os amigos têm dúvidas. “Ele é muito caprichoso, fez um trabalho maravilhoso, arranjou originais,
a exposição está uma gracinha, bem montada”, elogia Ziraldo, referindo-se a Tarcisio Vidigal. O projeto da mostra foi desenhado por Adriana e Guto Lins, com uma linha do tempo dos personagem em mídias como TV, teatro, desenhos animados, quadrinhos animados, material gráfico e produtos licenciados. A exposição também conta com a reprodução das 43 capas da revista Pererê, publicada entre 1960 e 1964, e as dez capas da revista A Turma do Pererê, publicada pela Editora Abril em 1975 e 1976, além de revistas e pranchas de desenhos originais, livros, cartilhas, fotos do autor e outros produtos. Também estão entre as atrações 17 histórias da turma em formato de quadrinho animado e o documentário Ziraldo. Quadrinho inovador
Ziraldo explica que, no lugar de um saci tradicional, que apronta e prega peça nos fazendeiros, criou um menino de bom coração e que preza muito a amiza-
Fotos: Divulgação
de. “A gente fez uma espécie de alegoria com o saci, eu não queria fazer um personagem misterioso, mágico, que pregava peça. A tradição do Pererê é que toda coisa errada que acontecia no campo – quem azedava leite, quem embaraçava o pelo do cavalo, várias maldadezinhas – era o saci que fazia. Eu tirei tudo isso, esse aspecto do Pererê, e o transformei num menino da floresta, um duende da floresta”. As histórias do Pererê trabalham com o lúdico e o companheirismo, além de terem introduzido o tema da sustentabilidade nas histórias para as crianças. “A primeira vez que se falou em ecologia numa história infantil brasileira foi no Pererê, do cuidado com a preservação das florestas, tudo isso não era material de literatura infantil, eu que inventei de botar isso”, explica o autor. Sobre a falta de personagens femininas – as únicas são a Mãe Docelina, a passarinha Quiquica, mulher de Pimentel, e as namoradas do Saci e do Tininim, Boneca de Piche e Tuiuiú, sempre sendo disputadas com os rivais Rufino e Flecha Firme – Ziraldo se defende. “Não vem me chamar de machista por causa disso não, hein?”. Ele explica que nas lendas brasileiras as
histórias são sempre sobre os mesmos animais, os que foram incluídos na turma, e não aparecem personagens femininas. “Eu precisava colocar os amigos do Pererê na história e coloquei seis personagens: o tatu, o jabuti, a onça, o macaco, a coruja e o coelho. Só existe lenda brasileira com esses seis personagens. É sempre o macaco enganando a onça, é sempre o jabuti, o tatu, é sempre a coruja, que é símbolo da sabedoria, são sempre esses mesmos personagens. Agora, eu não fiz isso como propósito não, quando vi tinha surgido assim, sabe?” Para o futuro, os projetos para o Pererê e sua turma são grandes, conta Ziral-
do. “Tem essa exposição e tem o projeto de, primeiro, fazer um desenho animado grande. O Tarcisio tem o sonho de fazer um filme e voltar a botar toda a estrutura do Pererê de novo na imprensa, na mídia, criar revista, criar livrinho, criar jogos, dar vida a esses seis personagens. Estamos com as conversas muito adiantadas”. Esperamos ansiosos pela volta do Pererê, como na canção: “Eu vim/ Pra fazer o carnaval, promessa/ Fazer o grande final/ Onde tudo de novo começa”. Tomara! Pererê do Brasil
De 21/9 a 27/11, na Caixa Cultural. De 3ª feira a domingo, das 9 às 21h, com acesso gratuito. Mais informações: 3206.9448
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SCES, Trecho 2, Conj. 32/33, Lj. P01, Pier 21 Lago Sul, Brasília/DF +55.61.3322-4000
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Cerejas dos bolos POR TERESA MELLO
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um piercing na arquitetura.” Assim o escultor Rogério Reis, de 45 anos, resume sua monumental obra, que chega até seis metros de altura e conquista o olhar dos brasilienses. As estruturas em aço carbono podem ser vistas nas fachadas de prédios no Noroeste e no Park Sul, em trabalho desenvolvido com arquitetos e construtoras, de acordo com a legislação distrital. A Lei n° 2.365, de 4 de maio de 1991, determina a inclusão de obras de arte em edificações de uso público e coletivo com área igual ou superior a 1.000m2. O artista se debruça também sobre
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projetos de mesa de design, de formas sinuosas e orgânicas. Duas delas estarão a partir do dia 22 na Casa Cor, na QI 9 do Lago Sul, no espaço House Club Experience, assinado pela arquiteta Denise Zuba. “Rogério é muito talentoso, detalhista, trabalha com precisão e cria peças fora do comum”, avalia Denise. Em sua loja, na QI 21, a fachada preta destaca ainda mais a escultura colorida. “É a de que mais gosto”, aponta Rogério. A atração por artes plásticas começou cedo: “Na oitava série eu ganhei uma lata de spray de amigo oculto”, conta ele, já se iniciando no grafite. A influência estética aflorou no curso de programação visual na Universidade Federal do Rio de Janeiro e depois no Parque Lage. Em agências de publicidade, era design gráfico. “Eu trabalhava meio período e depois me perdia nos museus cariocas.” A imersão na escultura vem desde 2006, em Brasília. O primeiro rabisco sempre sai no papel. Em seguida, ele fotografa, passa para o computador, imprime e projeta na madeira. “São uns 20 dias para fazer uma peça”, diz ele, que mora em Águas Claras e tem ateliê em Vicente Pires. A execução do projeto é feita numa metalúrgica de Taguatinga. “Um serralheiro não teria condições. O aço tem uns 6cm de espessura”, explica ele, que se encanta com o espaço industrial: “A
metalúrgica lembra um ambiente Mad Max”. Quando as peças chegam aos prédios, são colocadas em um pedestal. “Nunca faço nada com parafuso aparente, porque a escultura tem de parecer que está flutuando.” Se no início a criação era monocromática, hoje ela explode em cores, principalmente o vermelho, o amarelo e o azul. “Uso o preto e o prata como cores neutras”, diz. Além do aço carbono, conhecido como ferro-doce, “que permite a curva”, Rogério usa fios de sisal, neon flex (um tipo de mangueira), alumínio e madeira. As esculturas para interiores, iluminadas por LED, humanizam halls de prédios e são perfeitas para dar personalidade a casas e apartamentos: “É como um piercing na parede”. A filosofia artística de Rogério Reis obedece ao conceito Morfoses, linguagem em escultura contemporânea que mescla arte, design e pensamento: “É o momento em que a transformação ocorre, é um ponto cego, uma membrana invisível”. O escultor tem influência de nomes como Tomie Othake, Oscar Niemeyer, Anish Kapoor e Gaudí. Um botton de metal fixado na lateral das peças funciona como assinatura. Nele, a obra é batizada com frases curiosas como “Alugam-se nomes para travessias terrestres” e “Entorpecente atemporal indicado para utópicos”.
TEXTO E FOTOS PAULA PRATINI
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ormada pela Universidade de Brasília e mestra em vidro pela Joshidi University of Art and Design, em Yokohama, no Japão, Patrícia Bagniewski é mais uma artista brasiliense que começa a ganhar o mundo. Ela caba de participar de uma residência artística de três meses no Berengo Studio, na ilha de Murano, localizada no Lago de Veneza, na Itália, onde desenvolveu o projeto Habitações, uma instalação com 21 casas em metal e vidro soprado que estará exposta a partir do dia 22 na Casa Cor Brasília, na QI 9 do Lago Sul. O Studio Berengo é um dos mais conceituados espaços de produção em vidro de Murano. Em seus 30 anos de existência, a Fundação Berengo, dirigida por Adriano Berengo, já convidou alguns dos mais importantes artistas contemporâneos para colaborações e experimentações com o suporte em vidro. Entre eles estão nomes como Vik Muniz, Louise Bourgeois e Ai Weiwei. Na década de 1980, Adriano se inspirou nas experimentações e viagens de Peggy Guggenheim e Egidio Constantini, que quebraram barreiras e incorporaram novas ideias ao mundo dos vidros. Desde aquela época, o vidro deixou de ser limitado ao papel decorativo e foi inserido nas ar-
tes em suas mais variadas formas. “Durante as três décadas nós convidamos mais de 300 artistas de todo o mundo e de todas as áreas para colaborarem com nossos mestres. Não somente das artes visuais, mas também arquitetos, designers, estilistas e até mesmo músicos, como Pharrel Williams. A maioria nunca tinha usado o vidro como uma possibilidade nem visto de perto o processo nos fornos, a modelagem. Foi uma experiência incrível poder assistir a essa combinação da abordagem conceitual de todos eles com a minha equipe. Eu sempre quis
Fotos: Estúdio Berengo Murano
Design em vidro
que o mundo conhecesse as obras surpreendentes que foram criadas a partir dessas parcerias”, afirma Adriano. A brasiliense foi selecionada para a residência por meio da apresentação de seu portfólio e desenvolveu junto aos “mestres” as técnicas de sopro em cana, acabamento e polimento das peças criadas durante os três meses. No projeto Habitações ela trabalhou com vigas de ferro galvanizado, mesmo material utilizado em construções e obras. “A habitação é um direito humano unânime. Traz um sentimento de segurança e liberdade. Com o crescente problema da superpopulação e migração maciça para as grandes cidades, a habitação tornou-se um bem de luxo. Os compradores estão cada vez mais endividados com bancos e hipotecas, com o aumento exorbitante dos preços e a aceleração imobiliária. Possuir um lugar tornou-se um fardo” – assim a artista justifica a escolha do tema. Em Habitações todas as peças foram fabricadas com a técnica de sopro dentro de uma estrutura metálica em formato de casa. A aparência em cada uma é inflada, deformada, e, olhando-as com atenção, a impressão que se tem é que elas irão explodir a qualquer momento. A instalação das obras é toda feita pelo teto, com as casas penduradas por correntes. Elas parecem estar voando e transparecem leveza e alforria. Ao mesmo tempo, a sensação de ser acorrentado a grandes dívidas e ao peso da responsabilidade. A transparência no vidro transporta o espectador para o interior das casas e faz com que ele tenha uma percepção maior e mais profunda da proposta.
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LUZCÂMERAAÇÃO
Deserto, de Guilherme Weber
Controvérsia e polêmica Essa deve ser a marca do 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que reafirma o forte viés político presente na maioria de suas edições. POR SÉRGIO MORICONI
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s vésperas do seu meio século de existência, o maior certame cinematográfico da cidade continua ampliando a abrangência do seu campo específico de atuação, ao mesmo tempo em que reafirma sua vocação para andar sempre de mãos dadas com a conjuntura político-social do país. Neste ano, o festival, que acontece entre os dias 20 e 27, contará com nove longas-metragens – fo-
Mostra competitiva
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A cidade onde envelheço Ficção, 99min, 2016, MG (em coprodução com Portugal). Direção: Marilia Rocha. Roteiro: João Dumans, Marilia Rocha e Thais Fujinaga. Com Elizabete Francisca, Francisca Manuel, Paulo Nazareth, Wederson Neguinho e Jonnata Doll. Classificação indicativa: 12 anos. Francisca é uma jovem portuguesa que mora há um ano no Brasil. Ela recebe Teresa, uma antiga conhecida com quem já tinha perdido contato. Enquanto Teresa vive momentos de descoberta e encantamento com o novo país onde deseja se instalar, Francisca deseja voltar a Lisboa. O filme acompanha as aventuras
ram seis na edição passada – e doze curtas e médias-metragens na competição oficial, aquela que confere o troféu Candango às várias premiações em disputa. Além dos filmes da competição oficial, outros 20 longas participarão de mostras paralelas e sessões especiais, o que sem dúvida vai contribuir para produzir um painel bastante significativo do conjunto da produção do cinema brasileiro contemporâneo. Também não se deve deixar de mencionar a super presti-
giada Mostra Brasília, dedicada às produções do Distrito Federal, assim como o Festivalzinho, destinado às crianças. Ambos acontecem também no Cine Brasília. Como é tradição, a seleção oficial de filmes traz obras de diferentes regiões do Brasil. Entre os longas, competem A cidade onde envelheço, de Marilia Rocha, uma coprodução mineira/portuguesa, Antes o tempo não acabava, de Sérgio Andrade e Fábio Baldo, do Amazonas, Deserto, de Guilherme Weber, do Rio de Janeiro,
de cada uma pela cidade e a profunda amizade que nasce entre elas, obrigando-as a lidar com desejos simultâneos e opostos: a vontade de partir para um país desconhecido e a saudade irremediável de casa. Antes o tempo não acabava Ficção, 85min, 2016, AM. Direção: Sérgio Andrade e Fábio Baldo. Roteiro: Sérgio Andrade. Com Anderson Tikuna, Severiano Kedassere, Fidelis Baniwa, Kay Sara, Ana Sabrina, Rita Carelli, Begê Muniz, Emmanuel Aragão e Arnaldo Barreto. Classificação indicativa: 16 anos. Anderson é um jovem indígena em conflito com os líderes de sua comunidade, localizada na periferia de Manaus. As tradições mantidas por seu povo parecem anacrônicas em relação à vida contemporâ-
nea que ele leva. Em busca de autoafirmação, Anderson abandona a comunidade para viver sozinho no centro da cidade, onde experimenta novos sentimentos e enfrenta outros desafios. No entanto, o velho pajé planeja trazê-lo de volta para mais um ritual. Deserto Ficção, 100min, 2016, RJ. Direção: Guilherme Weber. Roteiro: Guilherme Weber e Ana Paula Maia. Com Lima Duarte, Cida Moreira, Everaldo Pontes, Magali Biff, Márcio Rosario, Fernando Teixeira, Claudinho Castro e Pietra Pan. Classificação indicativa: 14 anos. Um grupo de velhos artistas viaja apresentando um espetáculo pelo sertão brasileiro e, ao chegar num pequeno vilarejo, para mais uma apresentação, descobre uma cidade abando-
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Malícia, de Jimmi Figueiredo
ração na competição de longas. Eduardo Valente, o curador desta edição do festival, garante que regionalidade e reflexão sobre a realidade brasileira foram critérios que permearam a seleção de filmes, assim como a definição dos debates, seminários (organizados por Tânia Monto-
Ernesto de Carvalho
Elon não acredita na morte, de Ricardo Alves Jr., outra produção de Minas Gerais, Malícia, de Jimi Figueiredo, do Distrito Federal, Martírio, de Vincent Carelli, em colaboração com Ernesto de Carvalho e Tita, de Pernambuco (Estado coqueluche do momento), O último trago, de Luiz Pretti, Pedro Diogenes e Ricardo Pretti, do Ceará, Rifle, de Davi Pretto, do Rio Grande do Sul, e Vinte anos, de Alice de Andrade, outra coprodução internacional do Rio de Janeiro com a Costa Rica. A mesma diversidade regional acontece na seleção se curtas, sendo que aqui os curtas Procura-se Irenice, de Marco Escrivão e Thiago B. Mendonça, Quando os dias eram eternos, de Marcus Vinicius Vasconcelos, Demônia – Melodrama em 3 atos, de Cainan Baladez e Fernanda Chicolet, e Os cuidados que se tem com o cuidado que os outros devem ter consigo mesmos, de Gustavo Vinagre, todos produzidos em São Paulo, suprem a surpreendente ausência de obras dessa unidade da fede-
Martírio, de Vincent Carelli
nada, composta de algumas casas, uma igreja e uma fonte da qual jorra água limpa, como uma miragem ou um milagre do deserto bíblico. Velhos e cansados da vida errante, os oito artistas decidem ficar nesse vilarejo e quixotescamente fundar ali uma nova sociedade. Entretanto, essa sociedade não consegue escapar dos piores vícios das sociedades convencionais. Elon não acredita na morte Ficção, 75min, 2016, MG. Direção: Ricardo Alves Jr. Roteiro: Diego Hoefel, João Salaviza e Ricardo Alves Jr. Com Rômulo Braga, Clara Choveaux, Lourenço Mutarelli, Grace Passô, Germano Melo, Silvana Stein, Eduardo Moreira, Claudio Marcio e Helvecio Alves Izabel. Classificação indicativa: 16 anos. Após o mis-
terioso desaparecimento de sua esposa, Elon imerge em uma jornada insone pelos cantos mais sombrios da cidade, buscando entender o que pode ter acontecido com Madalena, na tentativa de não perder sua sanidade pelo caminho. Malícia Ficção, 87min, 2016, DF. Direção: Jimi Figueiredo. Roteiro: Ana Saggese e Jimi Figueiredo. Com Sérgio Sartório, Vivianne Pasmanter, João Baldasserini, Marisol Ribeiro, Laura Teles Figueiredo, Murilo Grossi, Rosanna Viegas, Luciana Caruso, Simônia Queiroz e Alexandre Ribondi. Classificação indicativa: 12 anos. Dono de um restaurante tenta quitar suas dívidas por meio de uma propina, sem saber que é vigiado pelo ex-marido de sua mulher.
ro) e palestras que acontecerão em salas e auditórios do Hotel Kubitscheck Plaza. Há este ano uma grande expectativa em relação à reação das platéias durante as exibições de filmes e nos eventos paralelos, muitos deles, como os seminários, com temáticas virtualmente políticas. Especialmente mostras como A política no mundo e o mundo da política e Cinema agora! devem acirrar ânimos, elevar a temperatura e promover acaloradas discussões sobre os últimos acontecimentos políticos no Brasil. A presença do diretor Kleber Mendonça, de Aquárius, numa das palestras deve contribuir para reafirmar o festival como um núcleo de controvérsia e polêmica no que diz respeito à conjuntura atual do Brasil. Não vamos nos esquecer que o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro foi, durante três décadas, principalmente nos anos 60,70 e mesmo 80 do século passado, um foco de resistência às arbitrariedades cometidas pela ditadura.
Martírio Documentário, 160min, 2016, PE. Direção: Vincent Carelli, em colaboração com Ernesto de Carvalho e Tita. Roteiro: Vincent Carelli e Tita. Com integrantes das comunidades Guarani Kaiowá do Estaodo de Mato Grosso do Sul. Classificação indicativa: 14 anos. O retorno ao princípio da grande marcha de retomada Guarani Kaiowá através das filmagens de Vincent Carelli, que registrou o nascedouro do movimento na década de 1980. Vinte anos mais tarde, Carelli busca as origens desse genocídio, fruto de um conflito de forças desproporcionais: os despossuídos Guarani Kaiowá, dispostos a “morrer se for preciso”, frente à poderosa elite do agronegócio.
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Mário Canhão
LUZCÂMERAAÇÃO
treia mundial recentemente no prestigioso Festival de Locarno, além das sessões de abertura e fechamento com Cinema novo, de Eryk Rocha, elogiadíssimo no Festival de Cannes deste ano, e Baile perfumado, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas, obra que prenunciou o cinema vital que vem de Pernambuco nos dias de hoje.
Prêmios Vinte anos, de Alice de Andrade
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Emílio, ele igualmente tornado mestre, dono de uma invejável obra crítica, roteirista e ultimamente – é assim que gosta de ser denominado – ator. Toda a trajetória desse inefável personagem vai ser contada numa das sessões especiais do Festival, em A destruição de Bernardet, de Claudia Priscilla e Pedro Marques, sessão que será acompanhada de debate com os realizadores e o homenageado. Outras sessões especiais que devem receber atenção são as de Beduino, de Julio Bressane (quatro vezes vencedor do Troféu Candango), filme que fez sua es-
O último trago Ficção, 98min, 2016, CE. Direção: Luiz Pretti, Pedro Diogenes e Ricardo Pretti. Roteiro: Francis Vogner dos Reis, Luiz Pretti, Pedro Diogenes e Ricardo Pretti. Com Mariana Nunes, Ana Luiz Rios, Larissa Siqueira, Samya de Lavor, Rodrigo Fischer, Romulo Braga, Elisa Porto e Stephane Brodt. Classificação indicativa: 14 anos. Em três épocas distintas, trava-se uma luta contra a opressão. A história se repete, porém é atravessada pelo imprevisível, alimentando o espírito revolucionário. 1. Após cometerem um crime, Augustina, Ana e Tarsila se escondem em uma casa abandonada. Elas carregam consigo uma foto de Valéria, ícone de guerreira e pirata. 2. Vicente, Marlene e Cláudio se encontram isolados em
um bar no meio do sertão. Aos poucos, o refúgio é invadido pela assombração de Valéria. Ela convoca Vicente a participar da sua luta. 3. Valéria foi soterrada pela violência do mundo contemporâneo. Ela se esforça para restabelecer o elo consigo mesma e retomar o seu lugar no mundo. Algo há de acontecer. Rifle Ficção, 85min, 2016, RS. Direção Davi Pretto. Roteiro: Davi Pretto e Richard Tavares. Com Dione Avila de Oliveira, Evaristo Pimentel Goularte, Andressa Pimentel Goularte, Sofia Ferreira e Francisco Fabricio Dutra dos Santos. Classificação indicativa: 12 anos. Dione é um jovem misterioso que vive com uma família em uma região rural e remota. A tranquilidade da região é afetada quando um
Júri Popular Longa metragem: R$ 40 mil.
49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
De 20 a 27/9 no Cine Brasília, Cine Cultura Liberty Mall, Museu da República e Hotel Kubitscheck Plaza. Programação completa em www.festbrasilia.com.br.
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Mas a contestação já estava nos gens do festival desde o seu início, desde o que podemos chamar de pré-festival, ou seja, as duas Semanas do Cinema Brasileiro que aconteceram nos anos de 1965 e 1966, portanto, logo após o golpe militar de 1964. A primeira e a segunda Semanas aconteceram a partir do caldeirão contestatório da Universidade de Brasília, sob as asas do reitor Darcy Ribeiro e do jornalista Pompeu de Souza, criador do que viria a ser o Departamento de Comunicação da Unb. Foi nesse contexto que o pesquisador e crítico Paulo Emílio Salles Gomes ministrou muitas de suas aulas de cinema no Instituto Central de Artes. Seus cursos seriam a semente das Semanas do Cinema Brasileiro, que se tornariam o Festival de Brasília a partir de 1967. Bingo: uma das grandes criações do festival este ano é a criação da Medalha Paulo Emílio Salles Gomes (uma idéia do curador Eduardo Valente) a ser concedida todos os anos a grandes personalidades do cinema brasileiro. O homenageado deste ano será ninguém menos que Jean-Claude Bernardet, discípulo de Paulo
Longa metragem: R$ 100 mil. Direção: R$ 20 mil. Ator e atriz: R$ 10 mil. Ator e atriz coadjuvantes: R$ 5 mil. Roteiro, fotografia, direção de arte, trilha sonora, som e montagem: R$ 10 mil.
O último trago, de Luiz Pretti, Pedro Diogenes e Ricardo Pretti
rico fazendeiro tenta comprar a pequena propriedade onde Dione e a família vivem. Vinte anos Documentário, 80min, 2016, RJ (em coprodução com Costa Rica). Roteiro e direção: Alice de Andrade. Com Miriam Planas Grillo, Andrés Martínez, Silvia Plá Camaño, Danilo Perdomo, Marlene Berg Borbón, Mario Cotilla Aldama, Karla Cecília Berg e Winnie Camila Berg. Classificação indicativa: livre. Vinte anos é um filme sobre o amor e o tempo que passa, numa Cuba onde o tempo parecia não passar. É um retrato de um mundo prestes a desaparecer para sempre, às vésperas de uma mudança radical e imprevisível. Histórias de amor de três casais cubanos, filmadas ao longo de duas décadas.
Fotos: Divulgação
QUEESPETÁCULO
Crise em família
Clássico de Tenesse Williams em cartaz no CCBB até 9 de outubro POR PEDRO BRANDT
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a peça Cat on a hot tin roof, mais conhecida no Brasil como Gata em teto de zinco quente por conta do filme de 1958 estrelado por Paul Newman e Elizabeth Taylor, ou ainda Gata em telhado de zinco quente, como são tituladas suas montagens mais recentes – caso da que está em cartaz no Teatro 1 do CCBB até 9 de outubro – o dramaturgo americano Tennessee Williams (1911-1983) descortina as ambições veladas, os segredos adormecidos e as segundas intenções no seio das relações de uma combalida família americana. A montagem em questão, levada ao palco pelo grupo paulistano TAPA, tem direção de Eduardo Tolentino de Araújo e chegou a Brasília depois de aclamadas temporadas em São Paulo e Rio de Janeiro. O drama apresenta a história de uma família obcecada pela herança do patriarca doente. Na celebração de seus de seus 65 anos, o homem (interpretado por Zé-
carlos Machado) e a esposa (vivida por Noemi Marinho) recebem a visita dos filhos (Augusto Zacchi e André Garolli) e suas esposas (Bárbara Paz e Fernanda Viacava), pessoas infelizes pelos desvios que suas vidas tomaram, por conta de vícios ou pela falta de amor. Muito elogiada por sua atuação, Bárbara Paz faz o papel de Maggie, mulher desesperada por reconquistar a atenção do marido, um ex-jogador alcoólatra e desiludido, personagem que no passado foi interpretada por grandes damas do teatro brasileiro, como Cacilda Becker e Tereza Rachel. A consultora de moda Glória Kalil, em sua primeira participação em um espetáculo teatral, assina os figurinos. As roupas, ainda que remetam à década de 1950, foram pensadas para ganhar um caráter mais atemporal. Tennessee Williams não escondeu suas ressalvas à adaptação da peça levada ao cinema por Richard Brooks em 1958. Segundo o autor, seu texto foi suavizado, perdeu muito da acidez, e assuntos polê-
micos, como a homossexualidade de um personagem, foram cortados. Mesmo assim, o longa-metragem estrelado por Elizabeth Taylor e Paul Newman foi um sucesso de público e crítica (recebeu seis indicações ao Oscar, incluindo de melhor filme, ator e atriz) e permanece, ainda hoje, um contundente retrato de turbulentas relações familiares. A adaptação do grupo TAPA para a peça, a partir de nova tradução assinada por Augusto César, pretende trazer a complexidade e carga emocional do texto original para o palco, resultando numa montagem cujo clima entre os personagens esquenta até tornar-se insuportável, tal qual o telhado de zinco que dá nome ao espetáculo. Gata em telhado de zinco quente
Até 9/10, de quinta a sábado, às 20h, e domingo às 19h, no Teatro 1 do CCBB (SCES, Trecho 2). Sessões extras: 17/9, 1/10 e 8/10 (sábados), às 17h. Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia). Classificação indicativa: 14 anos. Mais informações: 3108.7600.
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CRÔNICADACONCEIÇÃO
Crônica da
Conceição
Por que a beleza importa
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a minha janela rente ao chão percebo a presença cada vez mais frequente de jovens arquitetos e estudantes de arquitetura brasileiros em Brasília. Vêm conhecer, no corpo a corpo, a cidade inventada em folha de papel. Quatro deles, gaúchos, passaram pela banca na semana passada. O mais falante partiu logo pro ataque – com um sorriso francamente gentil: “Vou dizer uma coisa que você não vai gostar. Só um regime totalitário seria capaz de construir Brasília”. Pois, claro! André Malraux, o filósofo e político francês, percebeu de cara, com a capital ainda em construção, o inusitado feito de um regime democrático. Os tempos eram outros, Juscelino era um sedutor, não havia a vigilância severa (e partidária) do Poder Judiciário e da Polícia Federal, muito menos internet, e o país vivia os anos dourados do desenvolvimento. Um dos gaúchos me sugeriu um documentário, Por que a beleza importa, do britânico Roger Scruton, de quem nunca havia ouvido falar. Lá fui eu. O filósofo brinda os brasilienses com uma frase retumbante: A arquitetura moderna foi “o maior crime contra beleza que o mundo jamais viu”. A
acusação é acompanhada de imagens de edifícios de concreto aparente, abandonados, pichados, conjuntos residenciais homogêneos, que se replicam num mar de cinzenta feiúra. Não há pra onde correr. O britânico tem razão. Roger Scruton é uma das vozes mais cultivadas do conservadorismo britânico. No Brasil, é replicado por Olavo de Carvalho e Rodrigo Constantino. Numa entrevista a um site de notícias de direita, o britânico diz que Brasília é “o ícone internacional da alienação urbana”. Onde fui parar?, me pergunto, assustada. Calma, calma, calma. Há boa dose de verdade no que diz o conservador. E qual o problema? Quem disse que a esquerda é absoluta? Que são dela e somente dela os bons sentimentos? A direita será muito útil à esquerda, como o inimigo é útil a quem se dispõe a ouvi-lo. Aí é que entra Scruton. Quando ele diz que a arte e a arquitetura moderna quiseram negar a beleza, por inútil, e fizeram da realidade bruta a sua matéria-prima e a sua estética, ele tem a sua razão. A partir dos anos 1930, diz o britânico, artistas e arquitetos tentaram destruir a dimensão do belo e do sagrado, tão essencial à sã sobrevivên-
cia do ser humano. O filósofo reconhece a qualidade estética da arquitetura moderna nas casas de Fank Lloyd Wright, por exemplo. (Uma delas envolve uma cascata natural. A cachoeirinha já estava lá quando a casa chegou). Depois de mastigar e engolir a pedra (“Brasília é o ícone da alienação urbana”), tive de aceitar, em termos, o que diz o britânico. A escalada monumental, a setorização excessiva, a segregação das cidades-satélites, tudo compõe para que a cidade do doutor Lucio seja complicada. O que talvez Scruton não saiba é que, tal qual as espécies que evoluíram em território inóspito e dele precisam para se manter vivas, o brasiliense se adaptou tanto a Brasília que não poucas vezes se sente um passarinho no pântano quando está em outra cidade. O que o guru dos conservadores também não teve olhos para ver, ouvidos para escutar e pele para sentir é que Brasília oferece muitos encantos a quem considera – como ele – a beleza essencial para a sanidade humana. Há beleza nas latitudes e longitudes brasilienses, ao rés-do-chão, na altura dos olhos ou acima da escala humana. Talvez Scruton esteja acostumado a um só padrão de beleza. Azar o dele!
Ministério da Cultura apresenta
Brasília / 2016
bb.com.br/cultura
Banco do Brasil apresenta e patrocina
ZEITGEIST ARTE DA NOVA BERLIM Até 12/10 Produção
Centro Cultural Banco do Brasil SCES, Trecho 2, Brasília/DF (61) 3108 7600 Licença de funcionamento nº 00340/2011. Governo do Distrito Federal/ Brasília/ Distrito Federal. Validade: prazo indeterminado.
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