BRASÍLIA É CENÁRIO DE DOIS FILMES QUE ESTREIAM EM AGOSTO
Ano XV • nº 257 Novembro de 2016
R$ 5,90
Rock’n’roll
em estado puro Vinte anos depois, o Guns N’ Roses está de volta com sua formação original
ENTENDA PARA QUE SERVE A CÂMARA LEGISLATIVA. A Câmara Legislativa do Distrito Federal faz parte do Poder Legislativo. Ela serve, entre outras coisas, para criar e aprovar leis, fiscalizar o Poder Executivo, acompanhar o andamento das aplicações de recursos públicos, debater assuntos de interesse da população, promover audiências públicas e mediar discussões entre o governo, a sociedade e as classes trabalhadoras. É para isso que a Câmara serve. E para muitas outras coisas também. Acesse www.cl.df.gov.br e saiba mais sobre a Câmara Legislativa do Distrito Federal.
EMPOUCASPALAVRAS
Última chance também para aproveitar o Festival Bar em Bar, que há três anos mantém o mesmo preço camarada de seus petiscos concebidos para harmonizar com uma boa conversa entre amigos e bons goles de sua bebida preferida. Mini hambúrgueres, bolinhos de todos os tipos, falafel e até raclete figuram entre as criações de 33 bares da cidade que participam do animado festival (página 4). Por falar em animação, conheça um espaço recéminaugurado para os brasilienses praticantes de pôquer, que agora têm um lugar para chamar de seu: o Casanova Poker Lounge, situado no Setor Hoteleiro Norte. O carteado que até há pouco tempo era considerado um jogo de azar ganhou agora status de esporte, quem diria! (página 11). Nas artes cinematográficas, são duas as boas notícias. A primeira, o festival do novo cinema escandinavo, que começa dia 23 no CCBB e trará 14 filmes recentes de países como Dinamarca, Noruega, Suécia, Finlândia e Islândia (página 32). A segunda, o lançamento do esperado documentário de nosso cineasta Vladimir Carvalho, intitulado Cícero Dias, o compadre de Picasso, oitavo longa do diretor de O país de São Saruê (página 30). Finalmente, não deixe de visitar, no CCBB, a exposição Los Carpinteros: objeto vital. Trata-se de um acervo de mais de 70 obras de um coletivo cubano de arte que já tem 35 anos de história pontuada por carências e muita criatividade. Outro coletivo, este formado por músicos e poetas brasilienses, fez o percurso contrário para participar pela primeira vez da Festa da Cultura Ibero-Americana, em Cuba. Um ensaio de intercâmbio cultural entre Brasília e Havana que tem tudo para render bons frutos (página 18). Boa leitura e até dezembro! Maria Teresa Fernandes Editora
Rafael Lobo - Zoltar Design
Oito de novembro, terça-feira, Estádio Beira-Rio, Porto Alegre. Cerca de quarenta mil incrédulos e emocionados fãs aguardam ansiosamente Axl, Slash e Duff entrarem no palco. Afinal, ninguém podia imaginar que os integrantes originais do emblemático Guns N’ Roses voltariam a tocar juntos algum dia. Aos primeiros acordes de It’s so easy, Axl Rose, o galã mal-humorado dos anos 90, aparece sorridente, para delírio da galera roqueira. Está aberta a turnê brasileira da banda californiana, que passará por São Paulo, Curitiba, Rio e culminará em Brasília dia 20, no Estádio Mané Garrincha. Será o último grande show internacional do ano na cidade, razão de sobra para mais uma extravagância financeira (página 20).
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águanaboca
Ainda dá tempo de experimentar os petiscos criados especialmente para a décima edição do festival Bar em Bar, como esse "trio de causas" do Cru Balcão Criativo.
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picadinho garfadas&goles pão&vinho happyhour esporte&lazer memóriamusical dia&noite brasília&havana graves&agudos diáriodeviagem luzcâmeraação verso&prosa crônicadaconceição
ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14 – Conjunto 2 – Casa 7 – Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa Carlos Roberto Ferreira | Colaboradores Alessandra Braz, Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, Ana Vilela, Beth Almeida, Cláudio Ferreira, Conceição Freitas, Eduardo Oliveira, Elaina Daher, Heitor Menezes, Júlia Viegas, Laís di Giorno, Luana Brasil, Lúcia Leão, Luís Turiba, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Ronaldo Morado, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Teresa Mello, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle | Fotografia Fabrízio Morelo, Gadelha Neto, Rodrigo Ribeiro, Sérgio Amaral, Zé Nobre | Para anunciar 99988-5360 | Impressão Editora Gráfica Ipiranga Tiragem: 20.000 exemplares. 3
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ÁGUANABOCA
Quadrilha, do Carpe Diem.
Já que não tem mar... B
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aseado na ideia de que o bar é, na essência, um lugar de compartilhamento e, portanto, democrático, o festival Bar em Bar segue oferecendo, em 33 dos melhores endereços gastronômicos da cidade, petiscos pensados especialmente para o momento, com um preço especial e, acima de tudo, tentador. As iguarias viajam por diferentes sabores, estilos e cozinhas, servem de uma a três pessoas e compartilham entre si uma única coisa: o valor de R$ 30, numa interessante e audaciosa decisão da organização, consolidada há três anos. Rodrigo Freire, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Distrito Federal (Abrasel-DF), afirma que o festival é uma boa maneira de mostrar que o bar é um espaço democrático de lazer. “É o ponto de encontro de todos que desejam
relaxar, degustar sabores de todos os tipos e aproveitar a vida”. Celebrando a variedade
Com o tema “o festival que celebra a gente”, esta décima edição do Bar em Bar reforça a cultura da happy hour na ca-
pital com um misto de clássicos, releituras e criações que trazem para a mesa o melhor da nossa gastronomia. Enquanto o Dudu Bar Lago (SHIS, QI 11) e o Empório Santo Antônio (Pier 21) investem na tradição caseira do pastel de frango da vovó e do bolinho cremoso de carne, resFotos: Rafael Lobo - Zoltar Design
POR VICTOR CRUZEIRO
Las Pelotas, do La Rubia Café.
pectivamente, o Bar do Mercado (509 Sul) relê as clássicas coxinhas sob o sabor pontuado do bacalhau e do camarão, acompanhadas de um molho chutney de tomate. Para os menos afeitos às frituras, o festival não faz feio. O Bar Brasília (506 Sul) e o Bistrô Escondido (213 Norte) oferecem o tradicional hambúrguer com indefectíveis roupagens. No primeiro, o Salve Jorge ataca com uma avalanche de sabores, com quatro mini hambúrgueres envoltos em bacon, acompanhados de batatinhas e calabresas puxadas na manteiga. Já o bistrô serve um trio variado de mini hambúrgueres, tradicionalmente vestidos em pão artesanal e com queijo derretido, acompanhado de batatas rústicas. E já que se trata, como dito anteriormente, de ambientes democráticos, não poderiam faltar petiscos sem carne. Nas duas unidades do Beirute (107 Sul e 109 Norte), os bolinhos de grão de bico que compõem a porção de falafel são acompanhados de geleia de pimenta. E no Olivae (405 Sul) a pedida é a raclete. O prato suíço de queijo gratinado, semelhante ao fondue, é repaginado com batatas rústicas e picles de pimentas jalapeño. É importante frisar que, durante os 18 dias do festival, que se encerra no dia 20, os preços convidativos e a variedade de opções chamam os brasilienses para uma experiência completa do bar. Portanto, muito além do comer, o Bar em Bar pede uma mesa de amigos e, mais ainda, uma bebida que acompanhe. Seja um suco, uma cerveja ou um drinque, o bar existe para lembrar que comidas e bebidas dialogam necessariamente entre si, como de praxe nesse mundo vasto do paladar. É uma boa pedida, então, que se experimente mais do que só a comida, e que se dê asas à imaginação degustativa, para que os sabores dos comes e bebes deixem impressões na memória de cada um. Finalmente, é importante lembrar o tom social do festival. A cada prato vendido, um real é destinado a uma instituição filantrópica da cidade. Como dizem por aqui no Planalto Central: “Já que não tem mar, vamos para o bar!”. É só esperar o expediente acabar.
De cima para baixo: Empanadas Folhadas, do BSB Grill, Barbaridade Tchê, da Cervejaria Godofredo, e Salve Jorge, do Bar Brasília. Fotos: Rafael Lobo - Zoltar Design
Comer, beber e fazer o bem
Festival Bar em Bar
Até 20/11 em 33 bares e restaurantes da cidade (relação completa, fotos e descrição dos pratos em www.barembar.com.br).
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ÁGUANABOCA
Oswaldo Scafuto
Oswaldo Scafuto
Lula Lopes
Delícias de aniversário Q
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uem ainda não conheceu, deve conhecer; quem já esteve por lá, certamente voltará. O restaurante Santé 13, localizado na 413 Norte, que acaba de completar quatro anos, é um lugar especial, onde a paisagem, a ventilação natural e permanente, a decoração, a comida gostosa e o aconchego fazem a diferença. Uma casa que agora está mais graciosa, com novas plantas e luminárias e novo cardápio, para bem comemorar seu aniversário. No comando, o jovem empresário Oswaldo Scafuto, brasiliense de 36 anos que administra outros três empreendimentos, entre eles o Eleve Mercado Saudável, na 708-709 Norte. Além da gestão, que inclui a supervisão geral e muito trabalho no dia a dia, Scafuto cuida do jardim do Santé, onde encontra refúgio para repor energias e desacelerar. O resultado chega direto aos clientes, que podem respirar o ar puro vindo das plantas: bananeira, figueira, bracelete de césar, coqueiro, espirradeira, cica (palmeira sagu), gramíneas, murta, flores... tudo em harmonia. Com paisagem dentro e fora do restaurante, colado ao Parque Olhos D’Água, decoração espelhada, pequenos detalhes, como a foto de Marilyn Monroe no banheiro feminino ou as velas ace-
sas em castiçais cobertos, e um projeto arrojado e ao mesmo tempo clean do arquiteto Nardim Júnior, o cliente se sente bem acolhido. Inclusive a cozinha é integrada e pode-se conferir a feitura dos pratos. “Quis fazer daqui um lugar diferente, todo aberto. Onde não tem jardim, tem varanda”, explica Scafuto, destacando que também oferece um bom cardápio, música adequada e preço justo. As inovações incluem o retorno às caçarolas do primeiro chef do Santé, Divino Cardoso. No cardápio, novas opções de entradas: polvo com teriyaki, tentáculo grelhado sobre creme wasabi, acompanhado de caponata a modo mío (R$ 24); coxinhas de rã ao molho cinco ervas sobre cama de tártaro (R$ 34); capra ao molho laranja e mel e pasteizinhos de cama-
rão, carne, palmito ou queijo (R$ 19). Entre os pratos principais, todos individuais, risoto roxo de polvo ao vinho tinto com crocante de gengibre (R$ 56); penne à la Morue, massa com lascas de bacalhau, tomate cereja, azeitonas e brócolis, puxados no azeite (R$ 57); e a sugestão do mês, o filé mignon trançado ao molho funghi, com nhoque de abóbora e creme de queijo brie (R$ 69). As sobremesas são feitas com base em receitas caseiras de família. De segunda a sexta-feira é servido menu executivo, com entrada, prato principal e sobremesa ao preço de R$ 53. Santé 13
413 Norte, Bloco A (3037.2132) De 2ª a sábado, das 12 às 15h e das 19 às 23h; domingo, das 12 às 16h. Oswaldo Scafuto
POR SÚSAN FARIA
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PICADINHO Novembro Azul
ervas frescas, pistaches e nozes. De sobremesa, cocada de forno com sorvete artesanal de coco. Finalizando, café espresso, limoncello e, claro, bolinhos de chuva.
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Terça do vinho
Em tempos bicudos como os que vivemos, chegar à maioridade não é pra qualquer um. Por isso, o chef David Lechtig decidiu comemorar em grande estilo os 21 anos do seu El Paso, com muita tequila, ceviche e... marimba. Isso mesmo: a dança típica guatemalteca, executada pelo Cuerpo de Ingenieros del Ejército de Guatemala, é a atração deste segundo fim da semana do mês na unidade da 404 Sul, a primeira da rede El Paso. Dia 22, no Instituto Cervantes (707/907 Sul), Lechtig vai comandar uma “cata de tequila” – ou seja, ensinará aos apreciadores da icônica bebida mexicana qual é a maneira correta de degustá-la (a inscrição custa R$ 80). Um festival de ceviches, de 17 a 26 de novembro, completará as comemorações.
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Bolinhos de chuva
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Marimba, tequila e ceviches
Para uns, parece uísque americano. Para outros, parece uma daquelas antigas garrafas de Rum Creosotado, Biotônico Fontoura ou algum outro estimulante do apetite. Mas não é nada disso. Trata-se de um misterioso vinho chileno – o Winemarker’s Secret Barrels – que não informa no rótulo nem as uvas, nem a safra, muito menos a região em que foi produzido. Acondicionado em garrafas de um litro, é um dos oito exemplares que serão servidos, dia 22, no lançamento da promoção Terça du Vin, no C’est la Vie Bistrô & Creperia (408 Sul, Bloco A, tel. 3244.6353). A partir de agora, na segunda terça-feira de cada mês os clientes do C’est la Vie poderão degustar vinhos e espumantes encontrados em raríssimos restaurantes da cidade. No dia 22 haverá também uma degustação às cegas, conduzida por Santiago Temer, da Trilix, importadora parceira do restaurante.
Cozinha saudável Pão com torresmo e alho poró, pão de abobrinha com semente de girassol, pão de especiarias e bolo de nozes com frutas vermelhas são algumas das receitas saudáveis, nutritivas, com muito sabor, textura, aromas e baixo teor de carboidratos que a chef goiana Mara Manuela, especialista em gastronomia funcional, vai ensinar nesta quarta-feira, dia 16, das 18h30 às 21h30, no Bhumi Restaurante (113 Sul, tel. 3345.0045). A inscrição, que pode ser feita pelo whatsapp 98250.7878 ou pelo telefone do restaurante, custa R$ 250, com direito a todos os ingredientes que serão usados na aula, degustação dos pratos preparados, receitas e certificado de participação.
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Dose dupla
Ainda dá tempo de aproveitar a promoção deste mês do Villa Tevere (115 Sul, Bloco A, tel. 3345-5513). Somente até o dia 18 será servido, no almoço de segunda a sexta-feira, o já tradicional menu “Bolinhos de Chuva”, composto de prato principal, sobremesa, café e limoncello (R$ 71). São quatro as opções de pratos principais: filé mignon ao molho de redução da própria carne com manteiga, ervas e parmiggiano servido com risoto de cogumelos; filé de pescada amarela assado em azeite perfumando com azeitonas negras, alho e alcaparras servido sobre massa ao molho cremoso de limão siciliano e toque de queijo de cabra; camarões ao molho de mostarda de Dijon, mel e conhaque servido com risoto de alcachofra; e nhoque de batata doce ao molho de gorgonzola com crocante de pão italiano,
Como contribuição à campanha Novembro Azul, de prevenção ao câncer de próstata, os restaurantes da rede Rubaiyat (em Brasília, no SCES, Trecho 1, tel. 3443.5000) vão doar ao Instituto do Câncer Dr. Arnaldo, de São Paulo, parte da renda obtida com a venda do vinho Pazo de Rivas (R$ 95 a garrafa e R$ 38 a taça). Trata-se de um vinho tinto leve, adequado para o verão, produzido com uvas Méncia Gallega, Syrah e Merlot numa propriedade de Berlamino Fernandez Iglesias, presidente do grupo Rubaiyat, na região espanhola da Galícia.
Os clássicos Cosmopolitan, Bloody Mary, Mojito, Aperol, Clericot, Martini (foto) e as caipiroscas, em suas inúmeras versões, estão na promoção “dose dupla” de todas as quintas-feiras, das seis da tarde à meia-noite, na tratoria e bruschetteria Due (209 Norte, Bloco D, tel. 3532.1018). O preço dos drinques varia de R$ 17 a R$ 34.
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GARFADAS&GOLES
LUIZ RECENA
Domingueiras tardes
lrecena@hotmail.com
e um prato de comida
Tardes de domingo em Buenos Aires. Esse verso é de uma canção moderna sobre a capital argentina. E trata, é claro, desse dia complexo, o domingo. Buenos Aires, Moscou, México, Paris, Berlim, São Paulo ou Rio, até Brasília. O dia dedicado aos templos e aos deuses, depois do meio-dia começa a declinar em humor, a crescer em tristezas. O vinho deixa de ser amigo para ir aos poucos se transformando em força desagregadora do ser. O nada chega ao tudo, tudo de complicado. Nem a perspectiva da segunda-feira vem em socorro do próximo. Antes, deflagra o quadro dantesco da visão do trabalho. Tristes tardes de domingo. “Tristes domingos del Sur”, cantou outro grande argentino, Atahualpa Yupanqui. E quando o sol se põe e a acauã canta, é como se o coração fechasse para balanço, revisando as contas das dores da vida.
Café da manhã
Verdade vos digo: ele, o domingo, começa bem, em forma de café na padaria, e o Lago Norte está pródigo nesse quesito. No horário do colunista pode-se, com sorte, apreciar o fim da missa principal na igreja que um dia meu amigo pensou dinamitar... éramos poucos, mas tínhamos muitas libações, tantas que o desejo virou sede e a intenção foi afogada. Essa o capeta perdeu. Voltemos ao café na padaria em frente à igreja: farto e com letras, com muitas letras, pois é perto da banca de revistas. Mestre Castelinho Branco disse certa vez que “domingo é o dia que mais se compra jornal e menos se lê”. Tinha razão, mais agora, com o advento das leituras internáuticas. Resistentes, ainda gastamos boa hora lendo tudo, do bom ao melhor, do ruim ao pior, segundo o observatório sueco de Corrupsalla... Estamos bem na foto...
Onde almoçar?
Pergunta difícil, principalmente depois das três da tarde. A cada vez mais provinciana Brasília começa a se engessar em horários. Às treze horas, casas cheias; depois das catorze e trinta ataca a praga do “estamos em falta”, disputando palmo a palmo com “desculpe senhor, mas esse prato acabou”. Nos domingos sulistas era ainda pior: na décimo-segunda badalada do meio do dia, um hibernal anholinni descia em forma de sopa e o fim do
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dia começava a ser decretado. “Tristes domingos del Sur”.
La Madriguera
Esse era o nome que dávamos aos buracos ou tocas onde certas fêmeas lebreiras pariam e ali ficavam alimentando e cuidando de seus filhotes, ou “cachorros”, que não é o nosso cão, português ou andaluz. Dizem que as raposas também fazem assim. Só que lá não as temos em forma de bicho, apenas mulheres e homens na política escolados.
Então, o risoto
Na Madriguera familiar, agora sem “cachorros”, resolve-se o domingo em forma de almoço a qualquer hora. Arroz, tomate, manjericão, cogumelos, um queijo gorgonzola. Feito! Um tinto clássico ou um rosé da moda. Vespertinas orações a Baco sempre ajudam a enfrentar o sol poente. Só ajudam. Essa hora, dita do Ângelus, é sempre definitiva, um desafio entre o homem e o seu destino. Viver, pensar e morrer. Comer, amar e beber. O destino pode ter seis verbos ou muito mais. O homem, um só: cumprir o destino dele. Quanto assunto para um fim de tarde de domingo! Começou igual a tantas, no polo mais do que negativo, e termina assim, entre um homem e um destino. O trem imaginário apita na curva idem. É hora de pensar no futuro. Em novas receitas, novos vinhos.
PÃO&VINHO
Vinho de praia Quando o leitor deitar os olhos nesta coluna já estarei longe e muito saudoso deste verdadeiro paraíso que guarda Pernambuco. Praia de Morro Alto, com mar multicolor em tons diversos de verde a turquesa, areias poucas mas claras e macias. Tudo lindo, mas o imperdível é o tão falado Nanai. Um hotel digno de nota, aliás nota 10. Sou bastante crítico aos hotéis que frequento, especialmente quando são caros como este, mas aqui cada centavo é justificado. Um bangalô em estilo balinês nos recebe já com um espumante Salton a nos aguardar em balde gelado. Que belo começo para a recepção de um enófilo. O espumante, sabemos, não é tão especial, mas, como sempre digo, qualquer espumante nacional é no mínimo decente, e ajudado pelo clima, pelo visual e pelos ânimos, já dentro da piscina privada do bangalô, com uma taça na mão e minha mulher na outra, foi como beber um bom champanhe. A percepção do vinho pode sempre se alterar com a situação, a companhia, os ânimos, enfim. Empenhado ainda na promessa de navegar pelos mares de vinhos novomundistas, no jantar à base de frutos do mar fiz-me acompanhar de um Sauvignon Blanc chileno que nunca havia visto: Single State da Casa del Toque 2015. Surpreendentemente agradável, gostoso. A palavra chave foi frescor. Um vinho muito fresco e leve, mas com tudo que se quer de um Sauvignon Blanc: aromas claros de frutas tropicais, com toques minerais e cítricos. Ótimo ! Ao longo dos dias, à beira-mar, afrontando uma deliciosa brisa a refrescar o impacto do sol continuamente brilhante, sempre pude ter à mão uma garrafa de espumante nacional, que se alternou com uma ou outra garrafa de verdadeiro champanhe Veuve Clicquot. Tanto uma como outra deliciosas, sempre geladas ao ponto no bem servir do competentíssimo serviço do hotel. Aliás, de forma rara para hotéis brasileiros, mesmo
ALEXANDRE FRANCO pao&vinho@agenciaalo.com.br
os de categoria, aqui se oferece espumante no café da manhã, sempre. Verdade que o prestígio pela própria região leva-os a oferecer o não muito bom Terra Nova, dali do Vale do São Francisco. Mas vá lá que a ideia é boa, o lugar é ótimo, o céu azul e o sol brihante... e vamos bebendo nosso espumante de toda hora. No segundo jantar, a grelha surgiu com lagostas e lá fui eu, como se não houvesse o amanhã. Para acompanhar, um Torrontês, obviamente argentino, da Las Perdices, também 2015. Amarelo palha com tons dourados, aromas claros de flores brancas, com leve toque de pêssego. Acidez razoável, mas álcool um pouco saliente, para meu gosto. Nunca foi minha casta preferida, mas, afinal, é o maior ícone branco da Argentina, e, fiel às minhas promessas, pareceu-me nada mais que justo incluir um exemplar na minha jornada sul-americana. Ajudado pela lagosta e o bom serviço, foi bem. Por fim, na última noite, contrariando toda a minha intuição, mas fiel ao propósito desta coluna, optei por desprezar a paella de aspecto excelente que se apresentava e encarar uma picanha grelhada para acompanhar algum argentino tinto. A carta de vinhos, aliás muito acima da média para um hotel de praia, sofria do constante problema de pouquíssimas opções em meia-garrafa. Um único argentino tinto lá se apresentava, o tal de Cava Negra Malbec 2015 da Bodega Barberi. O rótulo, que trazia em seu fundo claro uma grande bola preta, já deveria servir de alerta para os mais desavisados. O vinho não era simplesmente “fraquinho” ou “simplezinho”. Era ruim mesmo, sem integração de seus elementos, magro e ainda assim alcoólico. Enfim, o conselho que me resta deixar ao leitor é apenas este: evite-o. Basta dizer que o melhor vinho que tive na refeição foi o que participou da preparação de uma ótima “pêra ao vinho” de sobremesa.
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HAPPY HOUR
Estilos de cerveja
RONALDO MORADO www.ronaldomorado.com.br ronaldomorado.blogspot.com.br @ronaldomorado
“A boca de um homem feliz cheira a cerveja” Antigo provérbio egípcio
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A classificação de cervejas é um tema apaixonante. A primeira vez que isso foi feito, de maneira reconhecida publicamente, aconteceu em 1977 e está registrado no livro The world guide to beer, do jornalista inglês Michael Jackson, que se tornou conhecido como “the beer hunter” (“o caçador de cervejas”). Classificar cervejas segundo determinado critério ou conjunto de critérios não é tarefa simples, pois são inúmeros os parâmetros que podem nortear uma classificação. As cervejas podem ser agrupadas por cor, ingredientes utilizados, método de produção empregado, origem do estilo, teor alcoólico etc. Muitos especialistas e grupos de referência classificam as cervejas de acordo com o processo de fermentação, ou seja, basicamente em três grupos: as de fermentação de superfície (alta), chamadas geralmente de Ale; as de fermentação de fundo (baixa), chamadas geralmente de Lager; e as de fermentação espontânea, chamadas de Sour (ácidas). Essa divisão, porém, é mais prática do que adequada, porque os nomes Ale, Lager e Sour, que já existiam antes mesmo da primeira classificação das cervejas ter sido feita, são usados em várias partes do mundo para se referir ao tipo de fermentação utilizada, mas não oferecem maiores indicações ao apreciador sobre sub-estilos, nuances em relação a cor, aroma e paladar. Por exemplo, algumas cervejas que são produzidas pelo processo de fermentação alta (acontece na superfície do tanque) têm aparência e sabor de uma tradicional Lager, da mesma forma que algumas têm aparência e sabor de Ale, mas usam fermentação de fundo ou “baixa” (acontece no fundo do tanque). Conclusão: O processo de fermentação como critério único de classificação serve bem ao connaisseur, mas tem pouca serventia como referência de estilo ao apreciador leigo. Cerveja é uma bebida que permite a criatividade, a inovação e a variedade, desde que se respeitem os conceitos básicos de tradição e qualidade. Com o avanço das tecnologias de produção de malte e de processo de produção é possível inventar, criar e inovar de tal maneira que a cada momento pode surgir um tipo ou estilo diferente e delicioso de cerveja.
A categorização das cervejas em estilos tem como objetivo descrever os parâmetros que são considerados como referências e, com isso, ajudar o consumidor a encontrar a cerveja que procura. O propósito não é desqualificar aquelas que não se enquadrem nos estilos existentes. Uma das classificações mais aceitas mundialmente é a do Beer Judge Certification Program Inc., uma organização sem fins lucrativos fundada no Colorado (EUA), em 1985 (www.bjcp.org). Impulsionado pelo grande movimento das microcervejarias e cervejarias caseiras, o BJCP enfrentou o desafio de organizar os critérios de avaliação. Contando com dezenas de mestres cervejeiros e “cervejólogos” voluntários, desenvolveu um guia de estilos atualmente reconhecido e adotado em quase todo o mundo por várias escolas e experts. O Guia BJCP, na sua versão 2015, relaciona 104 estilos detalhadamente descritos que se diferenciam por suas características de aroma, aparência, sensação na boca, índice de amargor (ibu), cor (srm), teor alcoolico (apv) e história (região de origem e tradição). Outras referências para a classificação: Beeradvocate (www.beeradvocate.com) e a Rate Beer (www.ratebeer.com). Lagers x Ales Muitas pessoas ficam confusas diante das palavras Lager e Ale. Isso é consequência do pouco esclarecimento que os próprios fabricantes passam ao mercado. Esclareço: Ale e Lager são dois tipos de leveduras usadas na fermentação da cerveja. Os estilos de cerveja que utilizam a levedura Ale (saccharomyces cerevisia) são os mais antigos: Pale Ale, India Pale Ale, Stout, Porter, Bitter, Altbier, Trigo, Belgian Ale etc. Os estilos que usam a levedura Lager (saccharomyces pastorianus) são os mais recentes na história e se consolidaram a partir do séc. 19: Pilsen, Bock, Helles, Rauchbier, Vienna etc. Apenas para complementar: alguns poucos estilos utilizam leveduras selvagens (brettanomyce): Lambic, Gueuze etc.
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ESPORTE&LAZER
Cartas que desafiam a mente POR TERESA MELLO
É
jogo ou esporte? É poker ou pôquer? A inauguração do Casanova Poker Lounge, no Setor Hoteleiro Norte, em 21 de outubro, aguçou a curiosidade sobre o tema. O jogo de cartas que vivia na clandestinidade é considerado, no Século 21, um esporte da mente, assim como xadrez, bridge e damas. Não está classificado como jogo de azar porque o pôquer (em português do Brasil) não depende apenas de sorte, mas de características como estratégia, cálculo matemático e observação do comportamento dos adversários. A atividade legal está representada pela Confederação Brasileira de Texas Hold’em, entidade cadastrada no Ministério do Esporte, e nosso primeiro campeão mundial foi o paranaense Alexandre Gomes, em 2008. Agora, esqueça tudo o que você viu em filmes sobre pôquer: veludo, couro, lustres, cortinas pesadas, uísque e cigarros. No antigo prédio da TV Brasília, as escadas levam a um salão onde a luz fluorescente branca ilumina as 17 mesas que comportam até dez pessoas cada uma. Numa sexta-feira à noite, havia duas mulheres entre as dezenas de jogadores, a maioria bem informal, alguns de bermuda e boné. Moradora do Lago Sul, Daniela Coelho, de 46 anos, estava com o filho João Vitor, de 21. “Eles jogam muito lá em casa, eu comecei na adoles-
cência”, conta ela, entre goles de café e se preparando para fumar na área externa. “Acho aqui muito bacana, é a segunda vez que venho”, completou o filho. Thalita Kelly Sousa Pereira, de 19 anos, joga há dois e comemora: “Já entrei com R$ 20 e saí com R$ 370”, alegra-se a vendedora de brigadeiros. Animados pela adrenalina de vencer, os frequentadores da nova casa chegam a ficar sete horas sentados à mesa, sob o comando de crupiês. Um deles é Thiago Pereira Leite, 20 anos, ex-professor de violão: “É um jogo de estratégia, sempre gostei muito, mas ainda existe preconceito”, comenta. O diretor de torneio Maykon Melo, 27 anos, ex-vendedor de plano de saúde, controla os jogos e os jogadores. “Uma pessoa não pode influenciar a ação de outra, não pode bater na mesa”, explica. O diretor conta que, na inauguração, a atividade fluiu das 19h às 9h da manhã seguinte, com o salão abarrotado por 175 pessoas. Pagava-se R$ 100 para jogar: “O campeão ganhou R$ 11 mil”, disse. As fichas são trocadas por dinheiro no caixa, e a casa recebe 20% do movimento. A curitibana Veronica Salinas, de 52 anos, resolveu investir em Brasília e no esporte da mente quando voltou ao país. Filha de um nicaraguense, morou no Equador e na Costa Rica e criou as quatro filhas na França. Maura, a mais nova, de 16 anos, acompanhou a mãe na em-
preitada. “Eu não jogo, ninguém na minha família joga”, afirma Verônica. “Esse espaço estava fechado havia mais de dois anos e eu ficava namorando o lugar”, lembra a empresária, que acatou a sugestão de uma amiga e investiu todas as fichas no negócio. No subsolo ficam a cozinha, as instalações dos funcionários e a administração; no térreo, a recepção; no primeiro andar, o salão; e no segundo, uma varanda com bar e uma sala com cinco mesas de pôquer. O cardápio enxuto tem um prato do dia, grelhados, salada, massa, risoto e porções de coxinha, pastel e filé a palito. O Mojito sai a R$ 18,90; a caipirinha, a R$ 13,90; e a sensação é o Shot Casanova, ainda sem preço: um mix de Absinto, Cointreau e Grenadine, flambado e finalizado com canela. “Nós temos uma proposta diferente, é um restaurante-lounge com jogos”, define. “Casanova era um personagem ético, e a gente pode jogar pôquer, ser boêmio e respeitar as pessoas”, acrescenta Verônica, que trata os quase 30 funcionários como se fosse uma colega de equipe. Mostra o organizado espaço dos escaninhos e a ampla mesa azul das refeições no subsolo. Até o terraço, são quatro lances de escada, mas ela, ex-bailarina, não reclama. Casanova Poker Lounge
SHN, Quadra 2, Bloco C (3547-2905) Diariamente, das 14h30 às 6h da manhã.
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MEMÓRIAMUSICAL
Hard Rock candango POR VILANY KEHRLE
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á três anos Augusto Vilhena largou a advocacia para montar um negócio que funcionasse como hobby, algo que amasse muito fazer. Não hesitou: resolveu investir em empreendimentos que tivessem a música como suporte. Em agosto de 2014 fundou, em parceria com Aline Valle de Carvalho, a Batuque Brasil, uma loja de instrumentos musicais. Oito meses depois, surgiu a Academia de Música de Brasília, que hoje conta com 22 professores e uma média de 250 alunos. Agora, chegou a vez do Academia Café, que vai servir como espaço cultural da escola. Aluno da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello entre agosto de 2012 e abril de 2015, Augusto é um apaixonado pela cultura produzida na cidade. Nasci-
do em 1970, viveu intensamente, quando garoto, o período de efervescência musical, quando a capital despontou no cenário do rock nacional, nos anos 1980. “Culturalmente, a gente tinha uma autoestima baixa. A partir dali, passamos a gostar não só da música local, como também da nacional, pois os jovens daqui só curtiam o que vinha de fora”, afirma o brasiliense de 46 anos. Com endereço na 201 Norte, no mesmo edifício onde funcionam a escola e a Batuque Brasil, o Academia Café abriu as portas em 24 de outubro, mas a inauguração oficial deve acontecer este mês. O diferencial do novo empreendimento é que nele a música tem a gastronomia como aliada. Para isso, Augusto contratou quatro colegas do Curso de Gastronomia do IESB, onde ele estuda atualmente: Jonas Morais Melo, Oswal-
do Guedes, Marília Gonzaga e Valéria Marques, que, junto com o chef Livino Silva Neto, são os responsáveis pelo cardápio e sabores da nova casa.
Fotos: Divulgação
O interior do café é uma verdadeira viagem aos tempos dourados do rock-Brasília. Fotos de bandas, discos emoldurados e um mural com notícias veiculadas na imprensa sobre os artistas e eventos da época tomam conta das paredes do Academia. Lá, os saudosistas vão se emocionar e reacender a memória ao se deparar com imagens, antigas e raras, de Os Primitivos, Aborto Elétrico, Renato Russo, Maskavo Roots, Obina Shok, Little Quail, Cássia Eller e tantos outros que tiveram papel fundamental na criação de uma identidade cultural da cidade. Com projeto visual de Elvis Kléber Figueiredo, e ocupando o térreo, primeiro andar e subsolo, onde está localizado o palco, o Academia Café possui uma decoração no chamado estilo industrial, que dá um toque mais rústico ao lugar. Tem tijolinho, cobogó, cimento queimado, materiais difundidos pela arquitetura moderna, e azulejo que lembra Athos Bulcão. No futuro vai ter também um pequeno jardim. Todo o ambiente celebra a Brasília de Niemeyer, de Lúcio Costa e dos anos 1970/1980. Augusto diz que tudo está sendo feito com muito amor, e sonha em transformar
o Academia num museu, uma espécie de Hard Rock Café. “Quero ajudar a reforçar o sentimento adquirido pelas pessoas daqui, no período dourado do rock candango”, confessa. Apesar do forte apelo visual do rock no interior do café, ele assegura que o espaço vai abrigar todos os ritmos e estilos musicais produzidos pelos artistas que estejam intimamente ligados à cidade – “seja samba, choro, pop ou erudito, todos serão bem-vindos”, diz. O novo ponto de encontro e inter-
câmbio musical recebe, entre 6 e 11 de dezembro, o primeiro recital dos alunos da Academia de Música de Brasília. A partir de janeiro, outros eventos vão rolar com maior intensidade em terrenos culturais diversos, já constando na programação uma exposição com a artista plástica Carmem San Thiago. Academia Café
201 Norte, Bloco A (3327.8438) Diariamente, das 8 às 18h.
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céusenós É possível ser lírico ainda hoje? A pergunta é lançada por Elyeser Szturm na exposição Céus e nós, em cartaz até 9 de janeiro no CCBB. Após nove anos sem expor em Brasília, cidade onde reside, o artista goiano traz um recorte inédito de sua pesquisa mais recente. São monotipias em silicone e esculturas em pedra-sabão, resultado de anos de investigação poética e de uso de novas técnicas. Com mais de 40 anos de carreira, marcada pela experimentação poética de suportes e procedimentos artísticos, ele questiona os limites da pintura e da escultura. “O artista deve estar atento à técnica, mas esta deve estar submetida aos ditames da linguagem, da expressão poética”, afirma. As monotipias em silicone criadas a partir de 2013 exploram o lirismo da cor azul e foram inspiradas nos tetos estrelados das capelas italianas góticas e pré-renascentistas, como as pintadas por Giotto na capela Scrovegni. O artista prepara uma parede, com reboco feito de cal e pigmentos azuis. Depois de talhar o reboco e fazer as incisões que remetem a estrelas e nuvens, ele aplica uma camada de silicone que, ao ser retirada, traz impressas as texturas, relevos e cores da superfície parietal. De quarta a segunda-feira, das 9h às 21h, com entrada franca.
André Carvalho
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Alexandre Camanho
Desde menino ele dava sinais de que as artes plásticas eram sua vocação primeira, mas uma asma acompanhada por uma alergia a tintas fez Paulo Araújo adiar seu sonho. Seguiu o trabalho como protético até que, com a perda de um grande amigo, decidiu não deixar mais nada para depois. “Quero ser feliz agora, fazendo algo que me instigue e que sempre quis fazer”, explica o agora artista plástico, que expõe seu trabalho no Iate Clube, entre 16 de novembro e 4 de dezembro. A exposição tem curadoria do também artista plástico Lourenço de Bem e intitula-se 420 D, uma referência aos 420 dias que separam a decisão de abraçar as artes plásticas até a data de início da série de pinturas agora apresentada ao público. Lá estão 12 telas de grandes dimensões (0,90 x 2,30 m) de um acervo de dezenas de obras que produz incansavelmente, “resultado de muito trabalho, estudos, observação e dedicação que sugerem um misto de sentimentos, emoções, alegrias”, como o próprio artista gosta de dizer. De segunda a sexta-feira, das 9 às 18h, no Cyber Café do Iate Clube.
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grotesco Entre 24 de novembro e 21 de janeiro a Galeria Oto Reifschneider (302 Norte) apresenta a exposição Grotesco, que, com obras de 20 artistas nacionais e internacionais, irá explorar as diversas vertentes dessa temática, como o monstruoso, o ridículo e o metamórfico. Estarão em exposição gravuras de Marcelo Grassmann e obras de Athos Bulcão, Alexandre Camanho (foto), Bernardo Cid, Eduardo Belga, Manuel Navarrete e Sérgio Rizo. De terça a sexta-feira, das 12h às 20h30, e sábado, das 10 às 18h.
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joiasdeparede Os irmãos Stella Lopes e Paulo Maurício sempre estiveram perto um do outro. Amigos, mas com trajetórias diferentes, trocaram muitas ideias sobre seus trabalhos nas artes plásticas. Ainda crianças, iniciaram suas trajetórias artísticas em Petrópolis, quando expuseram no Museu Imperial. Ele foi para o Parque Lage se aperfeiçoar com professores de pintura e inspirações do cotidiano. Ela para a Escola de Belas Artes, onde cursou desenho industrial. Agora, o trabalho de ambos pode ser visto na mostra em cartaz no Espaço Cultural STJ até 23 de novembro. Paulo se inspira em artistas como Luiz Áquila, Rubens Gerchman, e suas cores sempre fortes fazem sua pintura reconhecível até mesmo para um leigo. Stella transitou pelo desenho de joias, móveis, lustres, releitura de clássicos, pintura de objetos e a técnica tromp oil. De segunda a sexta-feira, das 19 às 19h, no edifício dos plenários do Superior Tribunal de Justiça, com entrada franca. Informações: 3319.8460.
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obomfilho... ... à casa torna. Depois de percorrer 40 cidades e ser visto por um público de mais de 200 mil pessoas, Bruce Gomlevsky volta aos palcos brasilienses para reviver Renato Russo. Será no sábado, 26 de novembro, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, a reapresentação de Renato Russo, o musical, espetáculo que rendeu o Prêmio Shell de melhor direção a Mauro Mendonça Filho. Lá estará a trajetória do compositor que começou sua carreira em Brasília, quando fundou a banda punk Aborto Elétrico, até o sucesso da Legião Urbana, passando pela confusão de 18 de junho de 1988, quando houve quebra-quebra no show em Brasília, e pelos problemas com drogas. Depoimentos, entrevistas de Renato e parentes, livros e imagens de shows serviram como base para a concepção da obra. Com texto de Daniela Pereira de Carvalho, o musical é composto por 22 canções executadas ao vivo pela banda Arte Profana, a mesma que estreou há dez anos, na primeira temporada da peça. “Cenário, figurinos e vídeos foram feitos exclusivamente para a remontagem. Conseguimos reunir a equipe original da peça, dos músicos à camareira, enfim, todos os técnicos e artistas”, diz a produtora Bianca De Felippes. Ingressos entre R$ 25 e R$ 50 à venda em www. bilheteriadifgital.com e nos shoppings Brasília, Boulevard, Alameda, Liberty Mall e Pátio Brasil.
choropracinco Thanise Silva na flauta, George Costa no violão, Vinícius Magalhães no violão de sete cordas, Pedro Silva no cavaquinho e Gabriel Carneiro no pandeiro. É assim formado o Choro pra Cinco, grupo que lança Caminho dos ventos, seu primeiro disco, no Clube do Choro, dias 30 de novembro, 1º e 2 de dezembro. Com a característica de aliar o tradicional e o inovador, o quinteto quer homenagear as sucessivas gerações de compositores que construíram o choro de Brasília e mostrar ao público o que a cidade tem produzido de melhor nesse ritmo tão brasileiro. Os músicos vêm de experiências e formações diferentes. Enquanto alguns se dedicam com mais afinco à vida acadêmica, outros aprenderam a tocar nas rodas de choro tão comuns na cidade. "O compromisso de poder ousar e inovar, sem se distanciar de registros sonoros anteriores, é o que move o Choro pra Cinco”, explicou Gabriel Carneiro. Nos últimos quatro anos, o Choro pra Cinco fez-se constantemente presente em apresentações e projetos culturais realizados em Brasília e há três anos se apresenta no Clube do Choro. Às 21 h, com ingressos a R$ 30 e R$ 15.
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joanabentes “Trata-se de uma espécie de amálgama reunindo as referências musicais que me acompanham desde criança, entre elas Caetano Veloso, Tom Jobim, Paulinho Moska e Cássia Eller”. É dessa forma que Joana Bentes, cantora nascida em Vitória e radicada em Brasília, resume seu primeiro trabalho, a ser apresentado ao público dia 22 de novembro, a partir das 19h30, na FNAC. Batizado de Entre, o disco contém cinco canções de sua autoria, uma delas em parceria de Marcos Xuxa Levy. No show, Joana estará acompanhada de Célio Maciel (bateria), Filipe da Hora (guitarra) e Rafael de Sousa (baixo). As variadas sensações provocadas pelo cotidiano e pelo amor orientaram a escolha de repertório. Entrada franca.
Do vigor do rock à paixão envolvente do tango, o violoncelista mineiro radicado na França Raphael Evangelista apresenta seu novo projeto de composições com base na fusão entre ambientes eletrônicos e a intimidade de seu instrumento acústico. Dia 26 de novembro, às 20h30, ele estará na Sala Funarte para apresentação de repertório que já passeou por palcos de mais de 18 países. O público poderá apreciar composições feitas tanto para projetos brasileiros, entre eles o da banda Dilei, como espanhóis, do trio Mara Hope, argentinos, do Duo Finlandia, e japoneses, da Fugenn & The White Elephants, realizados ao longo de dez anos de carreira. Além disso, o repertório apresenta duas músicas inéditas que estarão no seu primeiro disco solo, a ser lançado no Brasil e na França, em abril de 2017. O show Fusão entre extremos terá participações locais da cantora Moara, do cavaquinista e cantor Vitor Barbosa, do guitarrista Pedro Barbosa e do saxofonista Esdras Nogueira. Ingressos: R$ 20 e R$ 10. Divulgação
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“Você conhece a viola, menino? Você conhece a viola, menina? São dez cordas de aço num braço de pau, o corpo é de pinho, o som sem igual. A viola é brasileira, mas nasceu em Portugal.” Esses versos iniciam a música Violinha caipira, composta pelo músico brasiliense Marcello Linhos, autor das trilhas sonoras originais da Cia. de Comédia Os Melhores do Mundo, da qual é o diretor técnico. Essa e outras oito composições muito inspiradas do músico estão no CD de mesmo nome lançado este mês e que está à venda no Instituto de Música GTR (111 Sul e 709/709 Norte). Todas foram compostas para viola caipira, com arranjos que incluem mais de 20 instrumentos populares e eruditos. “Comecei a pensar nesse projeto quando meus filhos nasceram. Percebi que não há muitas opções para crianças que resgatem cultura regional e difunda conhecimentos”, explica o autor, pai de dois meninos de oito e 13 anos. O CD tem participações muito especiais de Zé Mulato e Cassiano, As Irmãs Galvão, Badia Medeiros e o violeiro Roberto Corrêa. As nove músicas estão disponíveis também em https://itunes.apple.com/de/album/violinha-caipira.
arteblack Dia 19 de novembro, a partir das 21h, no Espaço Floresta (Galeria dos Estados), a festa Makossa realiza uma edição especial, a Makossa Arte Black. A programação contará com os DJs Jamaika, Chicco Aquino, Chocolate, LM, DJ A, R3brkz, Jr Killa, Mak, Ocimar, DJ Hum (SP), Kefing (SP) e King (SP), além de uma atração internacional, o consagrado DJ Craze (EUA). No dia 13, a Makossa Arte Black promoveu oficinas gratuitas de hip hop (DJ, rap, dança de rua, graffiti e cenografia) no Faculdade de Artes Dulcina de Moares. No mesmo local, até o dia 17, pode ser conferida (acesso livre) a exposição Makossa nas ruas, com fotos de Paula Carrubba.
flamencoemfesta A Oficina Flamenca comemora seus 18 anos de atividades com um novo espetáculo: Oro puro. Segundo Patrícia El-moor, diretora da escola, trata-se de uma homenagem a todos os professores de baile do ritmo andaluz que transmitem com amor e generosidade parte daquilo que acumularam ao longo de suas vidas. “São ensinamentos que valem ouro e merecem ser guardados com todo cuidado e carinho”. O espetáculo, assinado por Patrícia e sua irmã Renata El-moor, será dia 19 de novembro, às 20h30, no Teatro da Fundação Universa (609 Norte), e terá a participação de mais de 60 pessoas. Uma oportunidade, segundo Patrícia, para ver de perto como o amor a uma arte que nasceu na Andaluzia, sul da Espanha, é capaz de unir pessoas com experiências de vida, idades e realidades tão diferentes”. Ingressos a R$ 60 e R$ 30, à venda na Oficina Flamenca (110 Norte). Informações: 3273.7374.
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O projeto Cine Curta Brasil, dedicado ao curta-metragem brasileiro, chega ao seu último mês de programação com duas sessões, nos dias 22 e 29 de novembro, no teatro da Caixa Cultural, das 13 às 14h. Dia 22, sob o tema "Pertencimento: sou bela, sou mulher, sou negra", serão exibidos Cores e botas (foto), de Juliana Vicente; Fábula de Vó Ita, de Nilma Meireles e Joyce Prado; e O sal dos olhos, de Letícia Bispo. No dia 29 será vez de #, de André Farkas e Arthur Gutilla; Marina não vai à praia, de Cássio Pereira dos Santos; e Crônicas de uma cidade inventada, de Luísa Caetano.
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sextasonora O projeto musical da creperia C’est la Vie (408 Sul), que teve a temporada de novembro aberta com show do mestre do tambor Sérgio Boré, apresenta dia 18 a cantora mineira Litieh (foto) e o violonista Félix Júnior, com show só de samba, em homenagem ao centenário do gênero. No repertório, canções de Paulinho da Viola, Cartola, Baden Powell, Hermínio Belo de Carvalho, Noel Rosa e João Bosco e composições próprias que representam os caminhos percorridos pela cantora na música mineira e no jazz contemporâneo. Litieh é conhecida pelas interpretações marcantes em suingue, afinação e autenticidade. Fechando a programação do mês, no dia 25 será a vez dos violonistas João Ferreira e Vinícius Vianna se apresentarem no restaurante, com composições do disco recém-lançado Dois Violões e muito samba, choro, baião e frevo. Às sextas-feiras, a partir das 19h30, com couvert a R$ 10.
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poemadesuspense Dois olhares sobre um mesmo tema – assim pode ser definido o livro Afonso (Supernova Editora, R$ 25), produção conjunta do poeta Vicente Sá e do artista plástico Ribamar Fonseca, que será lançado nesta quarta-feira, dia 16, às 19h30, no restaurante Comida e Arte, na 410 Norte. É o décimo livro do poeta e, como ele mesmo explica, “é composto de um único poema de suspense que, de forma lorquiana, conta o assassinato de um homem numa cidade pequena em um tempo indeterminado”. Produzido em preto e branco e medindo 23 x 29,5cm, o livro assemelha-se a uma grande revista do tipo mangá, tendo os versos grafados com letras de diferentes tamanhos, possibilitando uma leitura mais emocional do poema. O livro foi lançado em outubro durante a Festa iberoamericana de Houguin, em Cuba, da qual Vicente Sá e outros artistas de Brasília (Renato Matos, Túlio Borges, Sérgio Duboc e Fabrízio Morelo, participaram como convidados do governo cubano (leia mais nas próximas páginas).
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educaçãoambiental Lago Esgotado, Basquetrash, Podreira com Obstáculos e Canojentos. Esses brinquedos e brincadeiras de nomes nada convencionais foram montados no Pier 21 para criar nas crianças o hábito que muito marmanjo ainda não adquiriu: lugar de lixo é no lixo. Até 30 de dezembro o Trashpack vai se encarregar de divertir os pequenos com seu enorme escorregador em forma de privada inflável, o Lago Esgotado, com queda para uma piscina de bolinhas. No Basquetrash as crianças são desafiadas a encontrar os lixos de brinquedo no lago e colocá-los nas lixeiras correspondentes, uma maneira de ensinar a importância da coleta seletiva. Na Podreira com Obstáculos, as crianças são convidadas a subir, descer e atravessar o brinquedo no meio do lago, enquanto nos Canojentos uma grande estrutura as levará a explorar uma espécie de esgoto radioativo. De segunda-feira a sexta, das 12 às 20h; sábados, das 12 às 21h; domingos e feriados, das 14 às 20h. Nos dias da semana, ingressos a R$ 20 por 30 minutos. Nos fins de semana e feriados, R$ 30 a cada 30 minutos. São cobrados R$ 5 a cada dez minutos ou fração extra, além do tempo estipulado.
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acrobaciasaéreas O coletivo Instrumento de Ver promove, entre 7 e 11 de dezembro, a primeira edição do Festival Arranha-Céu, um grande encontro entre o público e praticantes de acrobacias aéreas de Brasília. A programação começa com um bate-papo sobre essa arte circense e apresentação de vídeos de acrobatas de outros países. Na sexta-feira, os artistas convidados apresentarão números de trapézio. No sábado será a vez do espetáculo Por um triz, solo da acrobata Beatrice Martins, ex-ginasta da seleção brasileira que teve a carreira esportiva interrompida por um acidente na via Dutra com a equipe do Flamengo, em 1997. Domingo, o espetáculo Meu chapéu é o céu, dirigido pela Leo Sykes. O festival termina com a participação especial do grupo Udi-Grudi. Na Funarte, com ingressos a R$ 40 e R$ 20. Informações: 98133.4493
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Um espaço para celebrar e enaltecer a beleza e a diversidade da cultura afro-brasileira. Com essa proposta, o AfroExplo apresenta o VII Desfile de Moda Afro, no Museu da República, dia 19 de novembro. Parte das comemorações do Mês da Consciência Negra, o desfile é uma realização do Instituto Cultural Congo Nya, em parceria com o Fórum de Entidades Sociais de São Sebastião. Com peças exclusivas Black Style, a coleção busca inspiração nas cores e elementos africanos, utilizando estampas e tecidos importados de países como a Tanzânia, homenageada dessa edição. Conhecida por seus parques e belezas naturais, a República Unida da Tanzânia é o 31º maior país do mundo e abriga os três maiores lagos da África: Vitória, Tanganica e Malauí. Terra natal de Fred Mercury, o icônico vocalista da banda Queen, a Tanzânia é dividida em 26 regiões, que incluem o arquipélago de Zanzibar, e possui alguns dos mais antigos assentamentos humanos, com fósseis dos primeiros hominídeos. Entrada franca.
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Esse é o nome de um dos livros do dramaturgo russo Fiódor Dostoiévski (1821-1861) e também do espetáculo que ocupará o palco do Teatro Eva Herz (Shopping Iguatemi) entre 7 e 18 de dezembro. Com adaptação e direção de Claudine M.D. Duarte e supervisão de dramaturgia de Eva Leones, o monólogo de Arthur Tadeu Curado traz à baila uma discussão tão existencialista e antiga quanto a data de sua publicação (1876): a importância da comunicação nas relações humanas. Na modernidade do hiperestímulo, a tentativa de compreensão dos silêncios de Dostoiévski 140 anos depois configura a própria noção do absurdo: a ideia de que não há sentido a ser encontrado no mundo além do significado que damos a ele. De quarta a sábado, às 20h, e domingo, às 18h. Ingressos a R$ 50 e R$25, à venda em www.ingressorapido.com.br.
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BRASÍLIA&HAVANA
Cubanos cá, brasilienses lá Em Brasília, a arte de forte apelo social do coletivo Los Carpinteros; em Havana, a poesia, a música e o cinema produzidos em Brasília. POR LÚCIA LEÃO
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a noite do último dia 2 o CCBB de Brasília abriu suas principais galerias a Los Carpinteros, um coletivo de artistas cubanos que apresenta aos brasilienses uma face ainda pouco conhecida para o grande público da ilha recém-resgatada do isolamento: de criadores modernos, ousados, críticos e bem humorados nascidos dos escombros da profunda crise dos anos 90, quando o esfacelamento do bloco socialista deixou os cubanos à deriva. A mostra é composta por mais de 70 obras, entre desenhos, aquarelas, esculturas, instalações e vídeo. Organizadas em três blocos, elas contam os 35 anos de história do coletivo inicialmente formado pelos artistas Marco Castillo, Dagoberto Rodriguez (na foto abaixo) e Alexandre Arrechea. Colegas de faculdade e vizinhos de alojamento, atravessaram os anos negros para a sociedade cubana agarrados à amizade e à arte. “Nós vínhamos de províncias para es-
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tudar em Havana em meio a uma crise muito grave. Não havia produtos, coisas materiais. A arte foi nosso recurso de salvação, nossa forma de sobrevivência. Nos debruçamos sobre a essência da arte e o ofício de construir objetos”, contou Marco Castillo, um dos Los Carpinteros, em entrevista à revista Vogue. A carência de materiais impôs aos artistas cubanos um modo de produção único, baseado na manufatura artesanal (e isso não só com Los Carpinteros, pois até hoje pode-se encontrar por lá instrumentos musicais com encordoamentos feitos pelos próprios músicos utilizando restos de fiações elétricas). A intensa utilização de madeira esculpida e a visível influência do realismo soviético marcam o nascimento do coletivo, apresentado no primeiro bloco da exposição (“ObjetoOfício”). Eram meados da década de 90, quando eles eram três amigos – Arrechea se desligou do grupo em 2003 – que levaram ao extremo um exercício de classe do Instituto Superior de Artes de Havana que propunha aos alunos enxergarem-se mutuamente e produzirem em conjunto. “E não paramos, faz 35 anos”, constata Marco Castillo. Como também não diminuiu o interesse do grupo “por tudo o que o homem fabrica e os espaços onde a vida se desenvolve”, ele fala na entrevista à Vogue. O que aproximou os artistas da arquitetura e do design, descortinando o universo da arte pop e lhes abrindo seus maiores templos: nos últimos anos Los Car-
pinteros foram incensados pelo MoMA e o Guggenheim, de Nova York, o Museum of Contemporary Art, de Los Angeles, e a Tate Gallery, de Londres. As obras desse período, quando já não há limitações nos processos de produção e a escassez de material deixa de ser problema, estão organizadas no bloco “Objeto Possuído”. Os artistas tiram do papel projetos ousados, com grandes estruturas, e ampliam sua temática para além da ilha sem, no entanto, perder suas principais referências, representadas pela música e instrumentos musicais. O terceiro bloco, chamado de “Espaço-Objeto”, é dedicado à arquitetura e a estruturas urbanas subvertidas na sua funcionalidade. São obras conceituais, belas e divertidas, para perceber e pensar. Artistas do mundo, hoje Los Carpinteros exercem seu ofício em Madri e Havana, onde o ateliê é uma referência para jovens artistas e começa a entrar no roteiro de turistas que visitam cada vez em maior número a ilha. Enquanto isso...
Naquela mesma noite de 2 de novembro, enquanto acontecia a vernissage de Los Carpinteros: objeto vital, um grupo de artistas brasilienses embarcava no Aeroporto José Marti, em Havana, encerrando uma breve turnê por terras cubanas, onde se agregaram à comunidade artístico-cultural ibero-americana para uma representativa mostra da diversificada produção poético-musical da cidade.
Fotos: Divulgação
e encontros com artistas cubanos e de outros 15 países latinos, o coletivo brasiliense, que foi apoiado pela Secretaria de Cultura do DF através do FAC – Fundo de Apoio à Cultura, mostrou o Brasil que há por traz das nossas novelas – a grande paixão cubana! Mostrou frevo, samba, baião e reggae; calou plateias hispânicas com poesias em bom português e deixou, literalmente, a arte brasiliense gravada na ilha. “Tive a oportunidade de conhecer grandes músicos, como o guitarrista Reynier Marino, com quem inclusive pude entrar no estúdio para duas gravações. Foi uma identificação imediata, não só com ele mas com diversos artistas. Somos diferentes mas iguais, dá pra entender?”, relata o cantor e compositor Renato Matos. O poeta Fabrizio Morelo se surpreendeu ao ser convidado para subir a um palco aberto e, ao som de DJs, ler poesias suas e de Paulo Leminski, nome admirado também por artistas da Ilha.
Mês que vem será a vez do cinema brasileiro chegar às telas cubanas. Classificado para participar do Festival Internacional de Cine Latino-americano, o documentário CubaJazz, de Mauro di Deus e Max Alvim, faz um mergulho na nova cena jazzística cubana e abrirá o Festival de Jazz de Havana, dia 15 de dezembro, com direito a uma grande “descarga” – como eles chamam as jam sessions por lá – dos maiores músicos cubanos do gênero na atualidade. Alguma coisa que, sim, vai para além das coincidências – e, diga-se, das praticamente inexistentes iniciativas oficiais – conspira para aproximar Brasília de Havana. Talvez mais um capricho da arte, a mostrar que, como disse Renato Matos, “somos diferentes, mas iguais”. Dá pra entender? Los carpinteiros: objeto vital
Até 15/1 no CCBB (SCES, Trecho 2). De quarta a segunda-feira, das 9 às 21h, com entrada franca. Classificação indicativa: livre. Fotos: Lúcia Leão
A coincidência de datas – se coincidências existem! – não é a única. Os que foram, como os que vieram, têm seus trabalhos alicerçados na amizade e na produção conjunta – são coletivos! –, com uma sincronicidade que mostra que há mais identidade entre o Brasil e Cuba do que sonha nossa vã filosofia. Falo, é claro, de cultura e de arte. Formado pelos músicos Renato Matos, Tulio Borges e Sérgio Duboc e pelos poetas Fabrizio Morelo e Vicente Sá, o coletivo brasiliense “Um canto de cada canto” foi composto de modo a carregar um tanto de tudo o que se produz em Brasília, por sua vez a grande caixa de ressonância artístico-cultural do país. Na ilha caribenha foi festejado como o primeiro grupo brasileiro a participar da Festa da Cultura Ibero-americana, que há mais de 20 anos o Ministério da Cultura de Cuba e a Casa de Iberoamerica realizam na cidade de Holguím. Em quatro apresentações, entrevistas
O grupo de artistas brasilienses nas ruas de Havana. Á direita, apresentação de Renato Matos durante a Festa da Cultura Ibero-Americana, na cidade de Holguim.
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GRAVES&AGUDOS
Vinte anos depois POR HEITOR MENEZES
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alam que essa é a volta dos Guns N’ Roses, não propriamente a Brasília, o que acontece pela terceira vez, no dia 20 de novembro, no glorioso
Estádio Nacional Mané Garrincha, o colosso do Eixo Monumental. É a volta no sentido de que fazia uma data (20 anos, digamos) que o vocalista e dono da banda, W. Axl Rose, não excursionava com o mítico guitarrista Slash (aquele da car-
De Egypcio a Zeca Baleiro Egypcio. Skina Hall (Núcleo Bandeirante), 19/11, às 22h. Sabe o Tihuana, a banda da Tropa de elite, a música, depois incluída no filme? Pois bem. O paulistano Egypcio, o vocalista do grupo, mostra o lado batalhador e dá um rolê lá no Núcleo Bandeirante, exibindo bom gosto rock’n’roll com um repertório da própria banda, além de coisas dos Raimundos, Rage Against The Machine e Legião Urbana. O rapaz, aliás, é o idealizador do projeto Urbana Legion, tributo a vocês sabem quem. Salve o tempo que nos dá frutos maduros.
do cantor e compositor Zé Renato e do jornalista e escritor Ruy Castro, no bate-bola Música + cinema. Em sua saga de fazer a música dialogar com outras expressões, Zé Renato traz ao palco Ruy Castro, que, além de biógrafo de ilustres como Carmen Miranda, Nelson Rodrigues e Garrincha, é um especialista em música e no cinemão, sobretudo o americano, que tanto amamos. Programa interessante, em conteúdo e qualidade. Ao Ruy, a provocação: o Bob Dylan, que você tanto detesta, virou Prêmio Nobel de Literatura. Chato isso, né?
dos shows mais instigantes do ano, por trazer a Brasília o universo criativo do cantor, compositor e guitarrista paulista Rodrigo Campos. Seu terceiro álbum, Conversas com Toshiro, lançado no ano passado sob a chancela da Natura Musical, apresenta um interessante discurso musical, que une Brasil e Japão de forma bem inusitada. Quando a gente ouve palavras como Toshiro, Asayo, Wong Kar-Wai, Funatsu, Ozu, Katsumi, Chihiro, não é o cara falando japonês, mas nomes conhecidos do cinema nipônico que viraram fonemas e frases em uma costura linguística muito bem elaborada. Como elaborado é o som, um samba suave com tons de música oriental. Nesta ocasião, Campos vem acompanhado dos músicos presentes na gravação: Ná Ozzetti e Juçara Marçal (coros), Marcelo Cabral (baixo), Curumin (bateria), Dustan Gallas (teclados e guitarra) e Thiago França (sax e flauta). Alto nível e imperdível.
Zé Renato & Ruy Castro. CCBB, 21/11, às 19h30. Não se trata de dupla sertaneja, mas
Rodrigo Campos. Caixa Cultural, 25 e 26/11, às 20h, e 27/11, às 19h. Desde já um
Ana Gabriela. Livraria Cultura do Iguatemi Shopping, 2/12, às 28h30, e 3/12, às 17h.
E se sobrar um dinheirinho, como se isso fosse possível, vale a pena investir no seguinte presente pré-natalino: entretenimento musical. É boa dica, sobretudo porque garante de volta momentos agradáveis de música tocada ao vivo, com músicos de verdade, eis o charme de tudo.
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tola, cigarro, cabelão e um monte de tatuagens) sob a alcunha Guns N’ Roses. Slash já esteve umas duas vezes em Brasília, mas comandando a usina de riffs do GNR a partir de uma guitarra Gibson Les Paul, com Axl ali por perto, no Eixo
Para quem curte os trending topics, os assuntos do momento que bombam na internet, o nome da cantora Ana Gabriela faz todo o sentido. Com mais de 20 milhões de acessos no YouTube, a jovem de São José dos Campos tem o canto firme, suave e discreto que cai como um cotonete terapêutico no ouvido. Melhor dizendo, parece alguém fazendo confidên cias, aquelas coisas românticas de derreter estátua. A apresentação da menina, a primeira em Brasília, ocorre no formato pocket-show. Sucesso tão grande que vai haver sessão extra, dia 2, no Teatro Eva Hertz. Daniel e orquestra. Centro de Convenções Ulysses Guimarães, 4/12, às 20h. Daniel (sim, o Daniel), o cantor romântico sertanejo (ou sertanejo romântico, como queiram) dá o ar de sua graça na capital, desta vez acompanhado de 40 músicos da Orquestra Brasília Sinfônica. O show tem por base o
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do em entrevista quando haveria uma reunião do GNR original e o ex-carrancudo e iracundo vocalista mandou a frase “não nessa vida”. Não nessa vida é o que entendidos no metier diziam, e quebraram a cara, pois Axl Rose parece ter largado as manias, as capas de chuva amarelas, e no glorioso ano de 2016, acreditem, fez um frila no AC/DC, uma das coisas mais incríveis que veio lá da Austrália. Essa foi de arranhar o vinil. W. Axl Rose comandando o vocal do AC/DC é algo tão esdrúxulo quanto colocar Ozzy Osborne para cantar no Led Zeppelin. Ou Paul McCartney rebolando igual a Mick Jagger. Mas, acreditem, os informes não
são nefastos, e o que parecia um AVC na verdade provou ser uma grande renovação para o AC/DC. E uma grande demonstração de profissionalismo do tal do Axl. Portanto, o GNR que nos visita novamente não só está cheio de novidades como nos faz lembrar que a vida é boa, apesar de cara, bastando para tanto um pouco de paciência. Foi mal, perdoem.
DVD Daniel in concert em Brotas, sendo Brotas, à guisa de esclarecimento, o município do interior de São Paulo. Mas fato é que vale conferir a produção de uma orquestra a serviço de um cantor com repertório popular, com o qual todos temos familiaridade. Agora, se você estiver apaixonado, dá licença, curta o momento ao lado do seu my love.
Zeca Baleiro. Centro de Convenções Ulysses Guimarães, 10/12, às 21h. Além do Baile do Baleiro, nos canais por assinatura, Zeca Baleiro pode ser visto ao vivo e em cores nas estradas da vida divulgando consagrado trabalho autoral. Desta vez, o bardo traz as canções do mais recente esforço, Era domingo. O cara é incansável. Para quem perdeu a conta, desde 1997 são 12 discos de inéditas, um tanto de “ao vivo”, coletâneas, trilhas e até música infantil (!). E mais: Baleiro é escritor e colunista de revista semanal. Antes do mundo acabar, melhor canção no 27° Prêmio da Música Brasileira, este ano, na voz de Zélia Duncan, foi escrita por... Zeca Baleiro.
Zé Ramalho. Centro de Convenções Ulysses Guimarães, 9/12, às 22h. Impressionante o quanto Zé Ramalho, 67 anos, continua magnetizando plateias com sua voz de trovão cada vez mais grave e sua arte cancioneira, messiânica, à base de sincretismo, provérbios, profecias e filosofia, uma perspectiva diferente na MPB, desde que surgiu lá atrás, nos anos 1970. Pois Zé não veio ao Grande encontro com Elba, Alceu e Geraldo, para agora passar na capital com seu Acústico, celebrando 40 anos de música. Avôhai.
Guns N’ Roses
20/11, às 20h, no Estádio Mané Garrincha. Ingressos (meia): pista – R$ 350; pista premium – R$ 540; cadeira inferior – R$ 300; cadeira superior – R$ 210; camarotes – R$ 10.800 (para 18 pessoas), R$ 12.600 (para 21 pessoas) e R$ 18.000 (para 30 pessoas). Vendas: 4003.6860 (de 2ª a 6ª feira, das 11 às 17h) e Central de Ingressos do Brasília Shopping.
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Monumental, pode ter certeza: é a primeira vez que o respeitável público nambiquara vai poder presenciar tal coisa nestas paragens. Volta a memória para 1991. O GNR toca para 200 mil pessoas no Rock In Rio II, em duas memoráveis noites no Maracanã. Esqueçam o zum-zum-zum fora do palco, as brigas, o jeito marrento do Axl. Quem foi, viu o rock’n’roll em estado puro tocado por uma grande banda que ajudou a marcar uma era. Slash estava nessa, lembram? O GNR que passou por aqui, incluindo outros “rocks in rios” e as duas visitas a Brasília (em 2010 e 2014), era outra coisa: era a banda do Axl, ainda que este sempre apareça cercado de grandes músicos, gente que entende mesmo da metalurgia rock’n’roll. Só para a gente não se perder, nessa próxima reunião Axl e Slash têm a companhia de Duff McKagan, baixista da primeira formação, que durou de 1985 a 1997 e que forjou os grandes clássicos do GNR. Completam o quadro: Dizzy Reed (teclados, membro desde 1990); Richard Fortus (guitarras, no grupo desde 2002); Frank Ferrer (bateria, gunsnroseiro desde 2006) e a garota Melissa Reese, a grande novidade, incorporada à atual turnê, intitulada Not in this lifetime... (algo do tipo “não nessa vida”). Como uma coisa leva à outra, cabe a explicação: o nome da turnê é uma piada interna, pois em 2012 Axl foi pergunta-
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GRAVES&AGUDOS
Celebração dos anos 60 e 70 Destaque da atual safra do rock brasiliense, banda Rios Voadores lança disco de estreia POR PEDRO BRANDT
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zônia para irrigar toda a América Latina. “Gosto da sonoridade psicodélica que o nome sugere”, continua o guitarrista. Justamente em busca desse tipo de som a banda desembarcou em Porto Alegre, em 2014, para se enfurnar durante alguns dias no estúdio do produtor Thomas Dreher. O disco foi finalizado no começo deste ano, em Brasília, no estúdio de Gustavo, irmão de Thomas. A escolha da dupla, conta Gaivota, se deu pelos artistas com quem eles já haviam trabalhado, caso, por exemplo, do cantor gaúcho Júpiter Maçã (1968-2015), outra forte referência para a Rios Voadores. O grupo não fica apenas estacionado na sombra dessa coleção de boas influências e apresenta momentos inspirados, como o rockão Barnabé Itamar Produções, as valsas psicodélicas Praça Central e Calejado ou a balada climática Música do cais. Em todos os casos, a lisergia é bem dosada, até discreta. O clima do disco é, acima de tudo, de celebração. Rios Voadores
LP à venda na Dom Pedro Discos (412 Norte). R$ 60. Ouça em riosvoadores. bandcamp.com ou soundcloud.com/ riosvoadores.
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urgida em 2012 com um punhado de boas canções que evocam o rock brasileiro dos anos 1970, e tendo na linha de frente a espevitada Gaivota Naves, vocalista que não passa despercebida onde se apresenta, a banda brasiliense Rios Voadores logo chamou a atenção. Depois de muitos shows e um breve hiato, voltou à toda em 2016. Em 22 de outubro, o quinteto lançou seu primeiro álbum, em vinil e CD, em show no Teatro Dulcina. Desde então, a turma organiza a agenda para mostrar suas músicas dentro e, especialmente, fora de Brasília. Batizado com o nome da banda, Rios Voadores, o disco é o primeiro registro de longa duração de uma jovem cena que vem despontando no rock local, a “grogue”. Mais uma ação entre amigos – de bandas que tocam juntas e compartilham integrantes, e que tem em Rios Voadores, Almirante Shiva e Joe Silhueta seus principais representantes – do que uma carta de intenções ou o que quer que seja, os autodenominados gro-
gues têm em comum um forte apreço pelo rock dos anos 1960 e 1970. Mutantes e Secos & Molhados estão entre as referências fundamentais para o som da Rios. Mas não apenas eles, frisa o tecladista Tarso Jones. “Curtimos muito Casa das Máquinas, Ave Sangria e Som Imaginário, de quem gravamos a música Cenouras”, conta o músico, fundador da banda junto de Gaivota e do guitarrista Marcelo Moura, sergipanos radicados em Brasília desde 2006. “Ouvimos também Lula Côrtes, Tom Zé, Eumir Deodato, Gal e jazz de toda sorte”, reforça Gaivota. Os conterrâneos da banda Plástico Lunar são outra unanimidade para o trio. Por sua vez, o baixista Beto Ramos e o baterista Hélio Miranda trazem informações de prog rock. “Cada um vai colocando o seu tempero e resulta no som da Rios Voadores”, acredita Marcelo. O nome da banda, conta o guitarrista, que traz na bagagem passagem pela Snooze, banda emblemática do rock de Aracaju, foi herança do primeiro baixista do grupo, Carlos Silva, inspirado por um documentário sobre o fenômeno meteorológico dos rios voadores, que partem da Ama-
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A leveza do som
Tatá & Danú compõem, cantam e produzem eventos nos quais dão oportunidade a talentos do DF. Em dezembro, a dupla faz show com músicas do primeiro disco. POR PEDRO BRANDT
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música sempre esteve presente nas vidas de Renata Weber e Daniela Gontijo. Mas, em tempos recentes, ganhou um inesperado protagonismo, especialmente quando elas se lançaram em carreira artística como Tatá & Danú. “Tudo isso é super recente. Ainda no ano passado, estávamos, cada uma na sua área, defendendo nossas teses de doutorado”, lembra Renata. Foi também em 2015 que as cantoras-compositoras, donas de vozes macias, lançaram o primeiro disco da dupla, O leve. Composto por 14 faixas, o álbum passeia por diversos ritmos da música brasileira, em especial o samba. Mas não apenas ele. Os músicos que trabalharam no disco – o violonista Wilson Bebel, o guitarrista Zé Krishnna, o cavaquinista Pedro Vasconcellos e o tecladista Misael Silvestre, além de outros convidados – contribuíram para dar colorido e personalidade às canções de Tatá & Danú. Tem algo de jazz, muito de MPB e até pop/rock nas músicas. Nas letras, as autoras refletem vivências e percepções do cotidiano em interpretações delicadas, líricas, leves, como sugere o título do disco. “Se, por um lado, é muito simples colocar um disco na web, por outro é mui-
to difícil fazer com que ele seja ouvido com atenção. Por isso, nossa sensação é de que O leve não andou ainda nem um terço do caminho que tem que andar”, pondera Tatá. Em Brasília, fazer-se ouvir permanece como um desafio. Até por isso, a cantoras desenvolvem, junto com outras colegas, um projeto destinado a dar espaço para novos artistas, o Coletivo do Quadrado. “Brasília enfrenta um grande problema: não forma público para os artistas daqui. Com a problemática lei do silêncio, o cenário ficou ainda mais complicado. O Coletivo do Quadrado surgiu nesse contexto, há um ano, para reunir artistas autorais do DF, valorizar o trabalho daqui e criar público para todas”, explica Danú. Foram produzidas quatro temporadas, com 16 noites de espetáculos no Teatro Sesc Garagem. Elas também produziram, com Tate Nascimento e Daniela Vieira, o Sonora – Ciclo Internacional de Compositoras no DF, com 23 apresentações musicais em três noites de espetáculos. A proposta é valorizar a arte autoral de mulheres, pessoas negras, LGBTs, da periferia e de outros grupos que têm e historicamente tiveram suas vozes desautorizadas e reduzidas. “Essa é nossa vibe”, afirma Danú. “E isso tem provocado um rebuliço por aqui. Muita gente nos
procurando, querendo tocar, querendo somar. Uma verdadeira primavera da autoria, sobretudo de mulheres negras, lésbicas, periféricas. Mas ainda há muito a fazer. Nosso público tem oscilado entre casa cheia e meia lotação. Ou seja, o público segue sendo o nosso maior desafio”, continua. Em 3 de dezembro, a partir das 21h, Tatá & Danú vão se apresentar no Clube do Choro mostrando o repertório do disco e algumas novidades: no palco, além de músicos que gravaram O leve, a inclusão na banda da percussionista Larissa Umaytá. Uma das novas músicas que aparecerão no show, Foi foda quando você soltou a minha mão, será, conta Tatá, provavelmente o carro-chefe de um EP. “Ela tem uma sonoridade diferente d’O leve, de leitura mais popular, menos jazzy, cheia de toques dramáticos”, adianta. “Isso não quer dizer que estamos avançando num novo caminho conceitual”, explica. “Muito provavelmente, todo o novo trabalho ainda vai refletir as bases disso que a gente precisou nomear carinhosamente de psycojazz rural. Não tem muito jeito, ainda há um bom caminho a trilhar nessa direção”, garante a cantora. Tatá & Danú
3/12, às 21h, no Clube do Choro. Ingressos: R$ 30 (inteira). Ouça: www.oleve.com.br.
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Cláudia Chabloz
DIÁRIODEVIAGEM
Delta do Parnaíba
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Vilany Kehrle
Do Velho Chico ao
Cláudia Chabloz
POR VILANY KEHRLE
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Um passeio interessante que fizemos foi o chamado Vapor do Vinho – o nome é uma homenagem às antigas embarcações que percorriam o rio. O barco sai de uma vila de pescadores nos arredores de Juazeiro e navega um pouco até ficar retido em um local que lembra um elevador, enquanto espera atingir o nível do lago de Sobradinho, pois uma das grandes emoções do passeio é a experiência da eclusagem. Durante os 20 minutos que durou a operação, brindamos com espumante, vendido na embarcação, enquanto um violonista executava Sobradinho, de Sá e Guarabyra (“Adeus Remanso, Casa Nova, Sento Sé / Adeus Pilão Arcado, vem o rio te engolir”), e Petrolina, Juazeiro, de Jorge de Altinho (“Petrolina, Juazeiro / Juazeiro, Petrolina / Todas as duas eu acho uma coisa linda”). De repente, o lago desponta com sua paisagem belíssima. A apreciação do lago e o clima de festa no barco duraram umas quatro horas. Depois de servido o almoço, retomamos nosso lugar no ônibus para visitar a Viní-
cola Miolo, na Fazenda Ouro Verde, no município de Casa Nova, uma das cidades do interior da Bahia varridas do mapa com a construção de Sobradinho, nos primeiros anos da década de 1970, e reconstruídas nas proximidades da represa. Vinhos do sertão
Vinhos produzidos com a uva Syrah e uma linha de espumantes são os produtos oferecidos pela Miolo no sertão baiano. A visita incluiu informações técnicas, degustação e compras na lojinha – e, apesar do sol intenso, conseguimos curtir um pouco os vinhedos. É admirável ver aquela paisagem árida da caatinga servindo como ponto de fabricação de um produto que, à primeira vista, pode parecer inadequado, ou mesmo exótico, naquelas paragens. Mas o sol intenso e a seca frequente permitem que as seis vinícolas da região consigam plantar e colher uva em qualquer época do ano, produzindo vinhos compatíveis com o nosso clima tropical. Cláudia Chabloz
sol estava se despedindo quando cheguei à cidade de Petrolina em um voo que saiu de Salvador, onde fiz conexão. No hotel iria encontrar Claudia e Stella, grandes amigas de adolescência no Recife e velhas companheiras de viagem, e mais quatro amigos de Claudia, que hoje mora em São Paulo: Rodrigo, Nadir, Benvinda e Dani. Banhada pelo São Francisco, Petrolina é uma bonita e moderna cidade, um lugar que soube aproveitar o rio para gerar riqueza. Grande exportadora de frutas e, hoje, inserida no mapa do enoturismo nacional, tem muito a oferecer ao turista, além da beleza e da poesia do Velho Chico: ilhas, balneários, orla urbanizada, oficinas de artesãos, museus, igrejas, mirantes, vinícolas – além da travessia para Juazeiro, para ver o pôr do sol, quando, admirando as duas margens, é impossível não ter em mente a música O ciúme, de Caetano Veloso (“Dorme o sol à flor do Chico, meio-dia / Tudo esbarra embriagado de seu lume / Dorme ponte, Pernambuco, Rio, Bahia / Só vigia um ponto negro: o meu ciúme”). Para os que desejam conhecer o Parque Nacional da Serra da Capivara, Petrolina é o lugar mais próximo, com melhor infraestrutura, pois recebe diariamente voos que chegam de Recife e Salvador, além de possuir boa rede hoteleira e ótimos restaurantes – como o Monjopina, que fica no Bodódromo, um espaço com muitas opções gastronômicas, onde comemos um delicioso carneiro na brasa, e o gracioso Cuscuzeira, onde nos fartamos de tapioca e cuscuz com recheios da culinária regional.
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Vilany Kehrle
DIÁRIODEVIAGEM
conjunto de pinturas rupestres do mundo (leia mais a partir da próxima página). Da pacata São Raimundo Nonato fomos para Teresina, onde pernoitamos, e na manhã seguinte chegamos ao nosso último destino: Parnaíba. Começamos nosso passeio pelo Parque Nacional das Sete Cidades, no município de Piracuruca, a duas horas de distância de Parnaíba, onde tivemos mais uma rica experiência de sítios arqueológicos, formações rochosas, pinturas rupestres e monumentos geológicos. Foi um passeio de um dia inteiro, que teve início no centro de visitantes e terminou com um almoço no hotel-fazenda situado ao lado do parque, que é dividido em núcleos, como se fossem cidades formadas por diferentes espécies de rochas.
Cláudia Chabloz
Depois de três dias de muitas descobertas, partimos da rodoviária da cidade em um ônibus velho, lotado, sem ar-condicionado, para percorrer os 380 quilômetros que separam Petrolina de São Raimundo Nonato, no sul do Piauí (quase seis horas de viagem, uma hora em um trecho esburacado, sem asfalto), e, a partir dali, desbravarmos a Serra da Capivara. Munidos de muita água, protetor solar, repelente, chapéus e óculos, nos dois dias seguintes, a partir das 7h da manhã, saímos com o guia Wilk Amorim para penetrar naquele real tesouro que é o Parque Nacional da Serra da Capivara. Criado em 1979 pela equipe da arqueóloga Niède Guidon e tombado pela Unesco, em 1991, como Patrimônio Cultural da Humanidade, é considerado o maior
Curioso e impactante, o parque nos proporcionou um grande divertimento: observar e descobrir quais as formas que tinham as rochas, fazendo com que nossa imaginação fosse exercitada o tempo todo. As formações de pedra são fantásticas. Podemos ver a Pedra da Tartaruga, feita de placas que lembram o casco desse animal; o Portal dos Desejos, que parece o Arco do Triunfo francês, onde podemos fazer pedidos; o Paço da Biblioteca, em forma de cobra; a Pedra do Imperador, que lembra bastante o busto de Dom Pedro I; o Preto-Velho, a Cabeça de Índio... No final do passeio, estávamos cada vez mais impressionados com a riqueza pré-histórica do Piauí. Depois de desvendar tantos tesouros escondidos, tendo o sol forte do sertão e o céu de um azul pleno como guias, bebendo cajuína, sucos de bacuri geladíssimos e taças de vinhos do sertão, comendo carneiros na brasa e “capotes” (galinhas de Angola), doces de buriti, entre outras delícias da culinária nordestina, mais uma bela surpresa nos aguardava: o Delta do Parnaíba, um passeio mais contemplativo. Nossa visita ao delta – fenômeno geográfico raro em que a foz de um rio se subdivide em vários braços, desaguando no mar, formando ilhas – foi feita no catamarã Mateus Portela, que saiu do Porto dos Tatus, a nove quilômetros de Parnaíba, às 9h de um sábado. Com muita gente e muita música, a embarcação penetrou lentamente nos “corredores” do rio, nos levando para mais uma experiência de puro encantamento: águas do rio e do mar, manguezais, ilhas, dunas, lagoas, animais silvestres, em um cenário paradisíaco. Uma linda e prazerosa despedida.
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A Pedra da Tartaruga (no alto) e o Paço da Biblioteca, em forma da cobra, são algumas das intrigantes formações rochosas do Parque Nacional das Sete Cidades.
Vilany Kehrle
Mergulho na pré-história das Américas POR CLÁUDIO FERREIRA
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otícias em vários jornais e sites de internet mostraram ao Brasil um pedaço de terra – grande, por sinal, 130 mil hectares – no sul do Piauí, que anda esquecido. O Parque Nacional da Serra da Capivara está lutando pela sobrevivência há algum tempo, mas nos últimos meses a situação se agravou. Mesmo com um acervo impressionante de pinturas rupestres e com uma área preservada de caatinga igualmente empolgante, o parque está ameaçado pela falta de verbas para manuten-
ção e vigilância. Então, o primeiro conselho é este: vá antes que acabe. É um conjunto de sítios arqueológicos cheio de mistérios. Por que as pinturas rupestres estão concentradas em área tão específica? Por que, depois de visitar pelo menos uma dezena de sítios, a impressão que se tem é de que foi a mesma pessoa quem desenhou tudo? Isso sem contar os desentendimentos da comunidade científica para aceitar que esses seriam os registros mais antigos da presença do homem nas Américas. Abandone as explicações e admire o tesouro descoberto pela pesquisadora Niède Guidon
em 1970 e transformado em parque nacional em 1979. A área engloba quatro municípios, mas a cidade mais bem estruturada é São Raimundo Nonato. É lá que estão os hotéis, todos muito simples, os restaurantes, com variedade muito limitada, e o Museu do Homem Americano, fundado por Niède para guardar algumas das peças que denunciam a passagem do homem pré-histórico. Equipes de arqueologia binacionais (Brasil e França) frequentemente fazem escavações na área em busca de mais vestígios. O museu é pequeno, bem organizado e dá uma ideia
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Cláudio Ferreira
DIÁRIODEVIAGEM da importância da região. Vale separar duas horas para a visita. Da cidade para o parque são cerca de 25 quilômetros, dependendo da entrada que o visitante escolher. O ingresso custa R$ 15 e o acesso só é liberado se o grupo tiver um guia credenciado, que cobra R$ 150 (preço tabelado) para levar até oito pessoas. A associação de guias é bem organizada; por isso, é bom pedir o contato ao reservar o hotel para já combinar com o guia quantos dias o grupo vai visitar o parque.
Cláudia Chabloz
Pedra Furada
Viaje sabendo que não dá para ver tudo. O principal circuito é o da Pedra Furada, junto com o Sítio do Meio, onde se alternam as pinturas rupestres e as vistas panorâmicas estonteantes. Tem a pedra enorme com o furo feito pelo vento e a erosão, dezenas de sítios arqueológicos e o teatro ao ar livre que promove apresentações de artistas regionais e de nomes mais conhecidos, como Camila Pitanga. É esse circuito que tem o único passeio noturno, porque há uma parte iluminada artificialmente. Se você sobreviver à maratona de caminhadas diurnas, é uma boa pedida. Esse é o circuito mais solicitado pelos turistas, mas, dependendo do número de dias disponíveis, há outras atrações. Um momento imperdível é acompanhar o pôr do sol no Baixão das Andorinhas. Se elas – as andorinhas – estiverem com vontade, vão se juntar em grupos que podem chegar a 100 pássaros para dar mergulhos no baixão, de onde só saem no dia seguinte. A paisagem e os rasantes valem a espera. Os circuitos do Desfiladeiro, Serra Branca e Serra Vermelha são outras opções. O acesso às pinturas em todo o parque é bem sinalizado, há passarelas e corrimãos. Os desenhos representam animais, pessoas, cenas de caça, de luta, relações sexuais e rituais. A maior parte deles é de cor vermelha, mas há também os feitos em preto, azul, amarelo e prateado. Alguns são bem nítidos, outros mais abstratos. Alguns são só o contorno, outros são preenchidos. Caatinga
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Além das pinturas pré-históricas, vale a pena prestar atenção na caatinga. A vegetação seca, espinhosa e difícil de trans-
Cláudio Ferreira
por – ainda bem que o parque tem estradas de terra em bom estado para quem tem um carro mais alto – guarda tesouros. Mesmo na estiagem, cactos como o xique-xique, o mandacaru, o rabo-de-raposa e o coroa-de-frade sobressaem. Algumas árvores, como o juazeiro, são mais resistentes à falta de chuvas, assim como algumas flores. A caatinga é moradia de vários animais que o visitante, com sorte, pode admirar. O mais tranquilo deles é o mocó, um roedor do tamanho de um preá que está por toda parte e não foge dos turistas. Os guias não gostam muito dele, porque o cocô e o xixi do bicho prejudicam as pinturas rupestres. Os macacosprego também são mansos, a menos que vejam alguém com comida na mão. Papagaios, corujas, tatus e serpentes compõem a fauna do parque. Inscrições rupestres, fauna e flora estão eternizadas na cerâmica vendida em vários pontos de São Raimundo Nonato. Louça de chá e café, tigelas, utensílios domésticos, tudo tem o arsenal de imagens da Serra da Capivara. Os guias indi-
cam locais com preço justo e variedade: são bons souvenires. Para comprar cerâmica, assim como para custear as despesas em geral na cidade e no parque, é bom levar dinheiro em espécie, porque quase ninguém aceita cartões de crédito ou débito. É bom planejar bem cada dia no parque. Para almoçar, é preciso sair da área preservada e os guias indicam opções. É só avisar na guarita e o mesmo ingresso dá direito a sair e voltar. Quem preferir passar o dia com um lanchinho, no entanto, pode aproveitar alguns locais destinados a piqueniques. Água, repelente, chapéu e protetor solar são itens de primeira necessidade. A alma do passeio, no entanto, é o guia. Se você der sorte, vai encontrar o Zezão, profundo conhecedor do parque, piauiense orgulhoso da natureza de sua região, defensor incansável da preservação do acervo arqueológico do local. Um ex-ajudante de pedreiro que mergulhou nos livros para não virar um papagaio repetidor de nomes e números. Se não encontrá-lo, há dezenas de outros (e outras)
esperando pelos brasileiros que, em sua maioria, ainda desconhecem a passagem do homem pré-histórico pelo semiárido nordestino. Àquela época, aliás, o sul do Piauí tinha clima tropical úmido e vegetação bem mais espessa do que a atual.
Como chegar De avião Teresina (PI) e Petrolina (PE) são as melhores opções de chegada. De Teresina sai um monomotor com dez lugares, duas vezes por semana, que faz escala em Picos e em São Raimundo Nonato. De Petrolina há vans que vão direto para a rodoviária de São Raimundo ou é possível alugar um carro. De carro De Brasília são cerca de 1.200 quilômetros e uma opção para o motorista que não quer dirigir à noite é dormir em Barreiras, na Bahia, na metade do caminho. Oitenta por cento das estradas estão em ótimo estado; o resto tem muitos remendos e buracos. Não há ônibus direto entre Brasília e São Raimundo Nonato.
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Arquivo pessoal
LUZCÂMERAAÇÃO
Do Engenho Jundiá a Paris Com seu novo documentário sobre o pintor pernambucano Cícero Dias, Vladimir Carvalho se afirma como um dos mais importantes e surpreendentes cineastas brasileiros do gênero. POR SÉRGIO MORICONI
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m cartaz em vários cinemas de Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, Cícero Dias, o compadre de Picasso, oitavo longa-metragem do autor do clássico O país de São Saruê, esmiúça cronologicamente a biografia do pintor, desde a infância no Engenho Jundiá, no município pernambucano de Escada, passando pela juventude no Brasil, por fim o período maduro em Paris, quando então é influenciado pelo surrealismo e a vanguarda europeia de um modo geral. O complemento do título nos diz “compadre de Picasso”, o que parece ser – como gostam de expressar os franceses – uma boutade, uma tirada espirituosa, no caso do filme de Vladimir uma boutade de sabor nordestino. Mas Picasso foi, de fato, padrinho da filha de Dias, resultado de uma convivência fraterna, a ponto de o pintor espanhol registrar o próprio telefo-
ne em nome do brasileiro, evitando assim ser importunado a todo momento pela imprensa e admiradores inconvenientes. O filme é narrado em primeira pessoa por Othon Bastos, representando Cícero Dias, e por Fernanda Montenegro, caracterizando Raymonde, a esposa do pintor. Através deles e de trechos de entrevistas com o próprio pintor e sua companheira, assim como por intermédio de depoimentos de Ariano Suassuna e Francisco Brennand, entre outros, conhecemos com mais profundidade a importância da arte de Dias. Em sua fase brasileira, é evidente a influência do ambiente e paisagens nordestinas na obra do pintor. Não seria sequer necessário citar o emblemático painel Eu vi o mundo, ele começava no Recife, apresentado no chamado “Salão Revolucionário” de 1931. Por sua enorme dimensão, seu onirismo lírico/telúrico à La Chagall, a tela foi imediatamente associada às correntes surrealistas, e mes-
mo cubistas, europeias. Vladimir se debruça sobre o pitoresco episódio da destruição de parte da obra (mais ou menos 1,5 metro que representavam poeticamente um bordel foram vandalizados), como reação de repúdio quando de sua exposição no Brasil. Ao que parece, Cícero conhecia o autor da mutilação, mas, enigmaticamente, guardou para si as revelações que poderia fazer. Vladimir mencionou em entrevistas o forte impacto que o painel lhe causou. “Recordo o Recife que vivi aos dez anos de idade, ou pelo menos a impressão colorida e feérica que a cidade me provocou, entre as pontes do Capibaribe, os trilhos da Pernambuco Tramway, carnaval e maracatus.” Vladimir e Cícero são (em espírito, evidentemente) irmãos siameses. Sendo ambos nordestinos, Vladimir faz de seu filme uma narrativa com um quê de autobiografia. Com seus mais de 20 metros de comprimento (hoje em
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Vladimir entrevista a viúva de Cícero, Raymonde, falecida em 2013, tendo ao fundo o quadro Recife lírico.
por ocasião de uma célebre exposição, em 1948, recebeu críticas implacáveis, inclusive de seu amigo Manuel Bandeira. Quem veio em socorro de Cícero foi a viúva Raymonde: “Ele morava aqui, mas a cabeça nunca saiu do Recife”. O paradoxo era que em suas memórias do Engenho Jundiá são citados os cristais, as louças de Limoges, objetos colecionados pela típica aristocracia rural dos vários Estados nordestinos. Foram para a Europa em seu caçuá imaginário os sons, as imagens, as cores do trópico. Instalado em Paris, Cícero conheceu Raymonde, o amor de sua vida, com quem foi casado até sua morte, em 2003, aos 95 anos. A ida para o continente europeu havia sido uma consequência natural das perseguições que sofria do Estado Novo, muito em função de sua militância sindical. Vários amigos lhe diziam que o Brasil não podia lhe proporcionar mais nada, inclusive (ou especialmente) esteti-
camente. A amizade com o já mencionado Paul Éluard, autor de poemas contra o nazismo que circulavam clandestinamente, teria grande importância em alguns dos episódios vividos por Cícero durante a Segunda Guerra Mundial. Engajado como funcionário diplomático na embaixada brasileira em Paris, conheceu Guimarães Rosa, notório fornecedor de passaportes para judeus em fuga para o Brasil. Cícero acabou preso por alguns meses, mas conseguiu refugiar-se com Raymonde em Lisboa, cidade onde iniciou o desenvolvimento do abstracionimo cubista, nunca inteiramente engolido pela intelectualidade e por muitos de seus companheiros brasileiros. Cicero Dias, o compadre de Picasso
Brasil/2016, documenário, 79min. Pesquisa, roteiro, produção e direção: Vladimir Carvalho. Fotografia: Jacques Cheuíche. Montagem: Vladimir e Gabriel Medeiros. Som: Bruno Armelim. Música original: Leo Gandelman. Divulgação
dia tem “apenas” 17 metros), Eu vi o mundo... foi apresentado pela primeira vez no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro como um marco do modernismo brasileiro, uma pintura que “conta” histórias através das inúmeras cenas retratadas no estilo típico da primeira fase de Cícero. Muitos – como observado anteriormente – aludiam esse estilo como próximo a Chagall, analogia que incomodava muito o pintor, já que ele, à época, não conhecia a obra do artista russofrancês. Como alguns interlocutores do filmes notam, a afinidade do pintor brasileiro com Chagall se dá muito em função do caráter “primitivista”, da aproximação popular e folclórica em ambos. Antes do filme se dedicar ao período europeu, e mesmo à infância e juventude do pintor no Brasil, Vladimir nos seduz com um prólogo inaudito: no cemitério de Montparnasse, em Paris, o diretor interpela um homem que observa a escultura de Jaildo Machado que evoca Eu vi o mundo... colocada sobre o túmulo de Cícero Dias. Esse indivíduo tomou conhecimento do pintor brasileiro a partir da empatia que o trabalho de Jaildo lhe provocou. Ele cita a relação de Cícero com Picasso, Miró, Fernand Léger, Alexander Calder e também Paul Éluard, sua aproximação com o cubismo e o abstracionismo, etapas tardias do seu percurso artístico, muito criticadas no Brasil em virtude do distanciamento em relação à representação poeticamente estilizada do folclore e das figuras humanas nordestinas da primeira fase do artista. Cícero visitava regularmente o Brasil. Numa de suas voltas,
Essas são algumas das cenas retratadas no gigantesco painel Eu vi o mundo, ele começava no Recife, no qual Cícero Dias trabalhou durante três anos, de 1926 a 1929.
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LUZCÂMERAAÇÃO
Noroeste, de Michael Noer.
Eu sou sua, de Iran Haq.
Novo cinema escandinavo POR JOSÉ MAURÍCIO FILHO
P
Fotos: Divulgação
ra começar, vamos jogar por terra aquela baboseira de que o cinema nórdico oculta, sob uma aparente frieza nas relações, uma explosão de intensidade dramática, de violência e de desejos. A própria produção cinematográfica dos países escandinavos contradiz essa máxima. Ou então, esqueçamos a delicadeza e a profundidade do cinema do mestre Bergman e dos preceitos do Dogma 95, por exemplo. O cinema nórdico tem muito mais a oferecer e tem se caracterizado pelo exercício de gêneros e linguagens. Para comprovar, basta dar uma chegada ao CCBB, de 23 de novem-
bro a 4 de dezembro, para conferir os títulos da Mostra de Cinema Nórdico. Serão duas semanas de cinema escandinavo, para confirmar que a região – que inclui Dinamarca, Noruega, Suécia, Finlândia e Islândia, além das regiões autônomas das Ilhas Faroé, do arquipélago da Aland e da Groenlândia) – é das mais consagradas na produção de cinema de qualidade no ocidente. Mas nem precisa ir longe: a terra que já gerou realizadores como Lars von Trier, Susanne Bier, Thomas Vinterberg e Mika e Aki Kaurismaki não precisa provar mais nada. Dentre os 14 títulos que integram a mostra estão O porto (2011), paródia sobre a imigração assinada por Aki Kauris-
maki, e O amante da rainha (2012), um romance açucarado que até poderia parecer duvidoso, não fosse inspirado em fatos reais e ter sido dirigido pela grande Susanne Bier. Corações valentes (2012), de Karri Anne Moe, é quase obrigatório, nestes tempos de radicalização política no mundo: o filme recupera a história do massacre da ilha de Utoya, na Noruega, quando um atirador neonazista atacou um acampamento de verão da ala juvenil do Partido Trabalhista, matando 69 jovens com idade entre 15 e 17 anos. Mas tem muito mais: Helsinque, para sempre (2008), com o trabalho do premiado diretor Peter von Bagh, falecido em 2014; Noroeste (2013), de Michael Noer, ficção ambientada no submundo das drogas e da prostituição de Copenhague; Eu sou sua (2013), de Iram Haq, indicado ao Oscar pela Noruega; Hotel (2013), da sueca Lisa Langseth, premiado com o Escaravelho de Ouro do Instituto Sueco de Cinema; Não chore por mim (2013), de Måns Mårlind e Björn Stein, eleito melhor filme do ano pelo MovieZine da Suécia; Mergulho profundo (2013), de Erik Skjoldbjærg, escolhido melhor filme do Festival de Chicago; Parentes são eternos, de Frode Fimland, vencedor do Festival de Montana, nos Estados Unidos; e por aí vai. Só filmaços. Mostra de Cinema Nórdico
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Alicia Vikander em Hotel, de Lisa Langseth.
De 23/11 a 5/12 no cinema do CCBB (SCES, Trecho 2). De 3ª a 6ª feira, sessões às 18h30 e 20h30; sábados e domingos, também às 16h30. Mais informações: 3108.7630.
VERSO&PROSA
Fotos: Divulgação
Pirenópolis, cidade-leitura
Tiago de Melo Andrade e Ignácio de Loyola Brandão estão entre os 30 escritores e ilustradores convidados a participar da 8ª Festa Literária da Pirenópolis (Flipiri).
POR TERESA MELLO
U
ma festa dedicada a incentivar a leitura será oferecida de 18 a 20 de novembro a milhares de visitantes, moradores e alunos de Pirenópolis e povoados vizinhos. Com o tema “Literatura e natureza”, a 8ª edição da Festa Literária de Pirenópolis (Flipiri) terá cerca de 30 autores convidados e atrações como conferências, saraus, debates e sessões de autógrafos, além de música e teatro. Entre os escritores e ilustradores convidados estão Ignácio de Loyola Brandão, Ziraldo, Ailton Krenak, Elder Rocha Lima, Tiago de Melo Andrade, Rita Gullo e Nurit Bensusan. A programação ocupa espaços no centro histórico da cidade, como o Theatro Sebastião Pompeu de Pina, o Cine Pireneus e o Centro de Artes e Música Ita e Alaor. “A essência da festa é o encontro do leitor com o criador”, resume a curadora, Iris Borges, autora de 18 livros e criadora do evento. “Fui à Flip há nove anos e, andando pelos calçadões, percebi o quanto Paraty se parece com Pirenópolis”, conta. A percepção foi aguçada por semelhanças nas artes, na gastronomia, no casario histórico. “Queria criar um programa de cultura que ajudasse Pirenópolis a se transformar em uma cidadeleitura.” Conseguiu. A proposta ganhou
estrutura, parceria do então secretário de Cultura do município, Gedson Oliveira, e recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) de Goiás. A cada edição, a atividade reúne três mil visitantes e moradores e atinge 5,6 mil alunos e professores da rede pública de ensino. “A formação de leitores é o resultado das nossas ações”, alegra-se Gedson, produtor da Flipiri desde a estreia. “Todo ano, um escritor visita uma das nossas escolas e é recebido com café da manhã e flores.” O saldo da Flipiri Itinerante é ascendente: mil livros doados a 22 escolas públicas e criação de gibitecas nas periferias e de uma biblioteca no Centro de Artes, além de melhorias no acervo municipal. “A Flipiri é excelente para o município, a cidade fica associada a eventos culturais”, destaca. Os livros recebidos são distribuídos na rede pública de ensino de Caxambu, Radiolândia, Jaranápolis, Índio, Goianópolis, Lagolândia, Capela do Rio do Peixe, Placa, Bom Jesus, Santo Antônio e Pirenópolis. A sessão de abertura da 8ª Flipiri ocorre no dia 18, sexta-feira, às 18h30, no Teatro de Pirenópolis, seguida da conferência “Era uma vez um bioma muito raro e triste chamado cerrado”, com Ziraldo e Nurit Bensunan, e de show com Marakatu Akdorge. No sábado, às 9h30, no Cine Pireneus, começa o
4º Encontro de Ilustradores, com a mesa “Como ilustramos os nossos livros e o mercado da ilustração no Brasil”. Estão confirmados nomes como Ziraldo, Geni Alexandria, Elder Rocha Lima, Roger Melo e Christie Queiroz. Bate-papo com autores, saraus e oficina preenchem a tarde, com show às 18 horas no Largo da Matriz e concerto às 20 horas. As atrações de domingo começam às 10 horas no Teatro de Pirenópolis com o bate-papo “Cardápio literário: separando o miojo da macarronada”, com Tiago de Melo Andrade. Às 15 horas haverá seminário de cultura popular com mestre Chacon, do maracatu Nação Porto Rico, de Pernambuco, no Centro de Artes Ita e Alaor. O espetáculo Solidão no fundo da agulha, do escritor Ignácio de Loyola Brandão e da filha, Rita Gullo, será exibido às 18 horas, no teatro local. Foi apresentado na Flipiri Mirim, em junho. Um lugar que promete concentrar visitantes e moradores entre um sarau e um bate-papo é o chamado “entroncamento”: o encontro do quintal do teatro com o do cinema. Sob um toldo, haverá um café e pequenas exposições, como a mostra em homenagem à poeta goiana Cora Coralina. 8ª Festa Literária de Pirenópolis (Flipiri) De 18 a 20/11 em vários espaços culturais. Programação completa em www.flipiri.com.br
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CRÔNICADACONCEIÇÃO
Crônica da
Conceição
A alteridade e o biscoito Globo
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ão sabemos quem somos, até que sejamos. Há algo de perigoso e esplendoroso neste imponderável que somos ou que não somos. Foi o que aconteceu com a impoluta senhora que durante toda a vida defendeu os fracos e os oprimidos. Se fossem meninos de rua ou adolescentes infratores, então, ela saía feito fera. Na juventude, arriscou a vida por alguns deles. Já uma senhora, ímpetos domados, seguia com olhos compungidos os meninos dos semáforos, os craqueiros do Setor Comercial Sul e da Rodô, e as notícias, sempre discretas, dos adolescentes assassinados nas cidades-satélites. Havia uma senhora outra, que ainda não havia sido. Mas as circunstâncias, as circunstâncias revelam o escondido de nós. E um deles surgiu num tênue começo de tarde. Foi quando dois estudantes de escola pública, de seus 16, 17 anos, se aproximaram da banca de revista. Um deles pediu pra que a jornaleira enchesse sua garrafinha de água. A mulher explicou que o filtro havia sido abastecido naquele instante. E ainda sorriu, quase se desculpando. Os
dois foram embora, e então a tola empreendedora se deu conta de que o outro garoto poderia ter pego um saquinho de biscoito Globo, enquanto o primeiro a distraía com o pedido de água. Havia pego, sim! Deu-se o inacreditável: a defensora dos frascos e dos comprimidos saiu feito uma tresloucada atrás do garoto – alto e magro, de mochila e tatuagem, de tênis e bermuda. Quando percebeu que estava sendo perseguido, correu por entre os pilotis da 108 Sul e desapareceu do alcance da enlouquecida. Melhor assim! – ela pensou quando recuperou a capacidade de pensar. Tivesse alcançado o jovem larápio, teria lhe dado uns bofetões – ou seja, poderia ser detida por agressão, justa e merecidamente. A alteridade. A alteridade é dos sentimentos um dos mais sofisticados da condição humana. É o despojamento de si mesma para ocupar o lugar do outro. Só assim é possível perceber o mundo para além da perigosa e restrita percepção a partir de nós mesmos. Para aquele adolescente, pegar um saquinho de biscoito pode ser um gesto de afirmação, de desobediência à
autoridade. Para aquela mulher, era um desrespeito ao seu trabalho, uma violação do seu patrimônio. Estamos o tempo todo inventando uma razão que nos dê razão. Tolos que somos. Tudo pode mudar a cada acontecimento. E a razão estará onde sempre esteve, movida pela lógica do raciocínio honesto, pelas causas que nos melhoram como seres humanos. Esteja ou não do meu lado, isso é um mero problema de cada um. De biscoito Globo em biscoito Globo, aquela mulher seguiu conferindo muito de si mesma e do mundo. Tem razão o seu Lourivaldo, o jornaleiro mais antigo de Brasília, quando diz que a atividade comercial é uma pegadinha atrás da outra. E não só ela. A luta pela sobrevivência é uma pegadinha atrás da outra. E, a cada nova pegaguinha, há de se perguntar: Quem serei eu diante desta nova circunstância? A – rrá! Posso não ser nada daquilo que imagino ser. Posso ser muito melhor, muito pior, ou pior ou melhor dependendo do dia, da hora e do acontecido. Mas se aquele menino do biscoito Globo passar na minha frente de novo, eu não sei de mim.
Ministério da Cultura apresenta
Brasília / 2016
bb.com.br/cultura
Banco do Brasil apresenta e patrocina
EXPOSIÇÃO
© Los Carpinteros. Pólen Rojo, 2016 Aquarela sobre papel
LOS CARPINTEROS: OBJETO VITAL De 2/11 a 15/1
Uma ampla retrospectiva do celebrado coletivo cubano criado em 1992. A arquitetura, escultura e o design extrapolam seus limites, ganhando as mais diversas facetas, se espalhando pelo campo do comportamento e das funções cotidianas. É a maior exposição já feita sobre o grupo até hoje, e inclui trabalhos nunca exibidos fora de Cuba. No Centro Cultural Banco do Brasil Brasília, não perca!
Centro Cultural Banco do Brasil SCES, Trecho 2, Brasília/DF (61) 3108 7600 Licença de funcionamento nº 00340/2011. Governo do Distrito Federal/ Brasília/ Distrito Federal. Validade: prazo indeterminado.
MINISTÉRIO DA CULTURA