BRASÍLIA É CENÁRIO DE DOIS FILMES QUE ESTREIAM EM AGOSTO
Ano XVI • nº 259 Janeiro de 2017
R$ 5,90
Delícias geladas
na pedra
EMPOUCASPALAVRAS Súsan Faria
“Dinheiro não compra felicidade, mas compra sorvete, o que é quase a mesma coisa.” Essa foi uma das nove frases que uma fábrica brasileira de sorvetes estampou nos palitos de picolé em campanha publicitária veiculada há cerca de dois anos. Com bom humor, fazia referência ao prazer inigualável que um sorvete pode proporcionar, sobretudo em época de termômetros beirando os 40 graus. Essa tradução de felicidade, ao que tudo indica inventada pelos persas, adotada depois pelos chineses e consagrada pelo talento dos italianos na arte de fazer seus gelati, chegou ao Brasil em forma de picolé no final do Século XIX, mais precisamente em Cataguases, Minas Gerais. Outra versão, contudo, garante que o sorvete começou a ser confeccionado em 1934, no Rio de Janeiro, quando chegou, vindo de Boston, um navio com um carregamento de pêssegos. O importante, para nós, é que essa delícia ganhou os paladares dos brasileiros e se reinventa, a cada verão, para conquistar mais e mais apreciadores, como mostra nossa matéria de capa, dedicada à nova onda de sorvetes preparados na pedra. Na pedra? Sim. Trata-se de uma bela combinação de sorvete, castanhas, confeitos coloridos e biscoitos misturados com maestria sobre uma pedra congelada que garante a consistência correta da delícia. Saiba como se dá essa alquimia lendo O queridinho da vez (página 4). Outra saborosa alquimia acontece numa fazenda do Novo Gama, onde se produz o queijo de manteiga, considerado a maior iguaria láctea nordestina. O Laticínio Xique Xique, dos mesmos donos dos restaurantes de carne de sol, tem fornecido esse e outros três queijos produzidos ali para os melhores restaurantes da cidade. Um deles é a Baco Pizzaria, que ganhou o prêmio de melhor pizza do Brasil usando como ingrediente a sofisticada fior di latte, a muçarela leve produzida com leite fresquíssimo e conservada na salmoura (página 10). Em matéria de diversão, destaque para as primeiras atrações musicais do ano (página 24) e para o festival Um outro, eu mesmo, com 20 longas e cinco curtas de 12 países cuidadosamente selecionados para discutir as delicadas questões de gênero. Sob curadoria de Gustavo Galvão, a programação tem filmes como o clássico Quanto mais quente melhor (1959), de Billy Wilder, Indian song, de Marguerite Duras, Tomboy, de Celine Sciamma, Billy Elliot, de Stephen Daldry, e o nacional Madame Satã, de Karin Aïnouz (página 32). Boa leitura e até fevereiro!
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diáriodeviagem
A deslumbrante paisagem do Embalse El Yeso, junto à Cordilheira dos Andes, é um dos muitos atrativos que encontramos nos arredores de Santiago do Chile.
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Maria Teresa Fernandes Editora ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14 – Conjunto 2 – Casa 7 – Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa Carlos Roberto Ferreira, sobre foto de Felipe Bastos | Colaboradores Alessandra Braz, Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, Ana Vilela, Beth Almeida, Cláudio Ferreira, Conceição Freitas, Eduardo Oliveira, Elaina Daher, Heitor Menezes, Júlia Viegas, Laís di Giorno, Luana Brasil, Lúcia Leão, Luís Turiba, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Ronaldo Morado, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Teresa Mello, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle | Fotografia Fabrízio Morelo, Gadelha Neto, Rodrigo Ribeiro, Sérgio Amaral, Zé Nobre | Para anunciar 99988.5360 | Impressão Editora Gráfica Ipiranga Tiragem: 20.000 exemplares. 3
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Fotos: Felipe Bastos
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O queridinho da vez POR VICTOR CRUZEIRO
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unca é demais repetir o quanto faz calor em Brasília. O clima seco e árido do Planalto Central pode ter incentivado Juscelino e outros desbravadores a erguerem esse belo monumento no meio do cerrado. Mas, muitas vezes, é preciso admitir que toda essa quentura desmotiva atividades simples como sair de casa. Nesses momentos, nada melhor do que algo bem gelado para amenizar o calor. Uma bebida ou, melhor ainda, um sorvete. O sorvete sempre foi, e talvez sempre será, o fiel companheiro do brasiliense durante grande parte do ano. De tempos em tempos, então, alguma reinvenção do gelado chega para dar uma reavivada no paladar do brasiliense – e, claro, de qualquer um que enfrente um clima desses. Dois bons e inesquecíveis
exemplos são os frozen yogurt e as paletas. Recentemente, desembarcou na cidade mais uma novidade no mercado da gastronomia gelada: o sorvete na pedra. Para aqueles ainda não familiarizados com essa tendência, é a montagem de uma mistura de sorvete com ingredientes variados, como biscoitos, castanhas e confeitos. Bem comum, não é? Ao contrário, a grande diferença reside no preparo, feito na hora em uma grande placa de pedra congelada, fazendo com que o sorvete mantenha-se na consistência certa, mas esteja maleável o suficiente para ser misturado. Física pura, sabor garantido. Duas casas já estão com as pedras prontas para receber o acalorado público brasiliense: a Ice Creamy, no Conjunto
Nacional, e a Stonia Ice Creamland, na 405 Sul. Ambas compartilham a maneira de preparo, mas diferem-se na diversidade de sabores, combinações e momentos de aproveitar o seu gelato. Começando pela Ice Creamy, temos 12 receitas prontas que variam de combinações de sabores precisos, como o Intense (sorvete de chocolate, amêndoas, creme de avelã e doce de leite), passando por releituras interessantes, como o Veranum, uma versão na pedra da Floresta Negra (sorvete de chocolate, cerejas, brownie e calda de chocolate). Mas a rede também surpreende – e estiliza – com ideias inesperadas como o Blend, unindo sorvete de champanhe com casquinha, cerejas e calda de chocolate. Se nenhum desses sabores agradar, o cliente pode montar do seu jeito, escolhendo o sabor do sor-
Divulgação
O preparo dos sorvetes na Ice Creamy (acima) e na Stonia Ice Creamland, em placas de pedra congeladas. Felipe Bastos
vete e inúmeros complementos. E, é claro, também há milk shakes, paletas, picolés e casquinhas de sabores variados. Saindo do Conjunto Nacional, logo ali, na 405 Sul, encontramos a Stonia Ice Creamland. O mesmo conceito de sorvetes misturados, ao vivo, com uma destreza somente comparável ao sabor. A imaginação do cliente pode passar por um sorvete e dois acompanhamentos (R$ 14,90) ou dois sorvetes e até três acompanhamentos (R$ 16,90). Assim como sua loja-irmã no Conjunto Nacional, a Stonia oferece milk shakes, cafés e algumas sobremesas especiais, que merecem uma certa atenção. É o caso da Avalanche, uma taça coberta com brigadeiro e castanha, com brownie de chocolate, ganache de chocolate, três bolas de sorvete de baunilha, doce de leite argentino, nutella, kinder bueno e morangos. A descrição avassaladora não deixa dúvidas de que, com certeza, serve mais de uma pessoa. A delícia sai por R$ 39,90. É importante ressaltar que as casas possuem espíritos diferentes, mas um mesmo objetivo. Enquanto a Ice Creamy está no 1º piso de um dos shoppings mais movimentados de Brasília, a Stonia está encrustada na Asa Sul. Cada uma oferece essa novidade, com zelo de preparo e habilidade, para um momento distinto. Tutti italiani
Também no Conjunto Nacional, as recém-inauguradas Pazzo Gelato e Bacio di Latte trazem, já nos nomes, o espírito italiano fundamental a um bom gelato. A Pazzo Gelato começou em São Paulo, no final de 2013, e logo ganhou a cidade. Unindo a cultura brasileira do picolé com a excelência italiana para fazer sorvetes, a marca traz freezers coloridos com embalagens identificadas por um simpático coringa. Daí o nome Pazzo – louco, em italiano. O mestre sorveteiro por trás de tudo é Fábio Macedo, que se apaixonou pelos sorvetes durante viagem à Itália. De lá, trouxe a expertise e o zelo da seleção de ingredientes e fornecedores, indispensáveis nesse mercado. A base, por exemplo, é feita utilizando creme de leite fresco, que confere uma “textura aveludada e não deixa aquele grude na boca quando você toma um gole de água”, explica Fábio. Além disso, a quantidade de ar incorporada à massa, o processo conhecido
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como overrun, também é controlado. Enquanto os sorvetes tradicionais podem chegar a 110% de ar, os premium mantêm-se em 40%. Segundo Fábio, os picolés da Pazzo chegam a até 30%, proporcionando “mais sorvete a cada mordida”, brinca. São mais de 20 sabores – e todos sem glúten, um grande chamariz no mercado atual. Já a Bacio di Latte, presente desde novembro também no ParkShopping, traz uma outra proposta, mas ainda dentro da esfera do premium: a cultura do gelato original, da massa ligada às raízes italianas. Também de origem paulistana, a Baccio já existe há cinco anos, conquistando com folga os mercados paulista, carioca, mineiro e agora brasiliense. Na casa, o diferencial não fica apenas nos ingredientes, selecionados entre os melhores nacionais e internacionais, mas na produção diária e local. Cada loja tem sua própria fabbrica di gelati. E o cuidado não se esgota na produção, mas na própria degustação, visto que cada centímetro da loja é pensado para oferecer um ambiente propício ao sabor dessa iguaria tão única.
Fotos: Divulgação
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Finalmente, mas não menos importante, a Bacio oferece um custo-benefício bastante difícil de alcançar num mercado premium. Pode-se escolher até três sabores para preencher cada copinho, que vem em três tamanhos: pequeno (R$ 11), médio (R$ 13) e grande (R$ 15). Além disso, para os mais ansiosos, que buscam provar o maior número possível de sabores, há ainda o copo Massimo, que comporta até quatro sabores (R$ 22). Portanto, não importa mais o momento, nem o dia. Seja na correria de um almoço durante a semana, ou no fim da tar-
de de um sábado, com opções tão bem guarnecidas de sabor e qualidade o calor pode vir quente que Brasília está fervendo!
único de combinações que já caíram no gosto do brasiliense.
creme, iogurte natural sem lactose, leite sem lactose, açaí, suco de laranja ou limão) com frutas (muitas opções!), uma forma de adoçar (açúcar refinado, mascavo ou adoçante) e até mesmo adicionais, como chia, aveia, granola, linhaça, leite condensado sem lactose, mel e whey (cada um por R$ 3 a mais). Uma boa pedida, sem dúvida, para esses dias mais calorentos na capital.
Ice Creamy
Conjunto Nacional, 1° piso (2106.9700). Diariamente, das 10 às 22h.
Stonia Ice Creamland
405 Sul, Bloco Bloco B (3244.8772). Diariamente, das 12 às 23h.
Pazzo Gelato
Conjunto Nacional, 1° piso (99981.2222). Diariamente, das 10 às 22h.
Bacio di Latte
Conjunto Nacional, 1º piso (3326.1332). Diariamente, das 10 às 22h. ParkShopping, 1º piso (4003.4137). Diariamente, das 10 às 22h.
Outra delícia refrescante Enquanto a Europa padece de uma onde de frio polar, o calor não está de brincadeira por aqui! Além disso, o ambiente desértico do cerrado não ajuda muito e, por isso, as opções de refrescância na cidade não são só uma demanda, são uma necessidade! Uma boa pedida é o smoothie – palavra inglesa que quer dizer “macio” –, uma bebida saudável, deliciosa e inegavelmente refrescante. O smoothie é uma combinação de sucos, frutas, iogurtes, sorvetes e quantos complementos a imaginação permitir. Da chia ao gengibre, do morango à paçoca, do whey protein ao iogurte sem lactose. A bebida, que combina energia com baixas calorias e quase nenhuma gordura, pode ser encontrada em várias casas e quiosques da capital, como a Smoothy, no térreo do Conjunto Nacional. Inaugurada há pouco mais de dois meses, a loja oferece um cardápio 6
Os smoothies podem vir em dois tamanhos – 400 e 500 ml – com preços que variam de R$ 12,90 a 16,90, dependendo do tamanho e das opções. O cliente pode optar por dez sabores prontos, como o Life (maçã verde, morangos, manga e água de coco) e o Tropical (pera, manga, abacaxi e água), ou criar sua própria receita. O cliente cria seu smoothie combinando uma base (água, água de coco, sorvete de
Smoothy
Conjunto Nacional, 1º piso (98371.1537). Diariamente, das 10 às 22h.
Madero express “P
arece que é metal”, comentou uma menina, ao ver a fachada do Madero Container, na Avenida Castanheiras, em Águas Claras. Palpite certo. O novo fast-food da rede paranaense fundada por Junior Durski é formado por oito contêineres, tem 350 m2 de área e acomoda 123 pessoas em dois ambientes. Foi montado em três semanas, segundo o gestor, Taylor Lima de Jesus, a um custo de R$ 1,5 milhão. As carnes nobres nos burguers levam a grife Madero. O resultado? Filas invadindo a calçada numa tarde de domingo, 7 de janeiro. Para acelerar o atendimento, um funcionário distribui o cardápio aos consumidores na parte externa. Dois caixas dão conta do movimento intenso: “O tempo médio na fila é de 20 minutos”, calcula o gestor, que entregava cada compra pessoalmente no balcão. O cliente recebe um pager, que avisa quando o pedido está pronto. “Aqui tem caixa preferencial?”, quis saber uma mulher com bebê no colo. Taylor providenciou. À frente de 16 funcionários – a empresa decidiu contratar mais um, depois de dez dias de funcionamento –, o brasi-
liense de 26 anos aproveita a experiência em empresa concorrente na nova gestão. “O Durski descobriu a porcentagem certa de gordura para a carne ter sabor e ser suculenta, sem ser pesada”, anuncia. Que o digam os fãs do Madero Bacon Super, sanduíche com dois burguers de 180g cada e dez fatias de bacon, vendido a R$ 37 (ou a R$ 45 no combo). “O bacon é processado na fábrica do Madero
em Curitiba”, informa o gestor, acrescentando que o pão, a carne, as paletas, tudo é produzido ali. Entre os 11 sanduíches tradicionais, os mais pedidos em Águas Claras são o Madero (R$ 27 e R$ 35 no combo), o Madero Bacon (R$ 31 e R$ 39) e o Bacon Super. Há ainda o hambúrguer de carne de cordeiro, a R$ 34 e R$ 42. Na linha fit existem quatro opções, com desFotos Gerson Lima
POR TERESA MELLO
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Divulgação
taque para o vegetariano – burguer de quinoa, aveia e cenoura, a R$ 29 e R$ 37 (o complemento do combo pode ser um chá gelado de 500ml com batatas fritas secas e crocantes, deliciosas). Quem quiser pode pedir um chope tirado em caneca congelada e petiscar chicken finger. De sobremesa, existem paletas e um divino petit-gâteau de doce de leite com sorvete artesanal de baunilha e calda de frutas vermelhas. “Essa calda é uma receita da avó do chef”, emenda Taylor. No site ww.restaurantemadero.com.br, Junior Durski declara: “Gosto da cozinha de raiz; não faço nada que minha avó não comeria”. Nascido em Prudentópolis (PR) e formado em Direito, desde 2005 o empresário inaugurou 80 unidades do Madero no Brasil e uma em Miami, comandada pela filha, Laysa. Em abril de 2014, apresentou a versão compacta do Madero Container, em Campo Largo (PR), e hoje existem 26. A arquitetura da rede é assinada pela esposa, Kethlen, e os planos de expansão são grandiosos: chegar a 200 estabelecimentos até 2018. Em Brasília, estão previstas mais steak houses neste semestre: uma no Brasília Shopping e outra no Pier 21. No ano passado foram abertas as duas primeiras, no Pátio Brasil e no Shopping ID. Em Águas Claras, a inauguração foi em 28 de dezembro, em pleno recesso de fim de ano. “O movimento surpreendeu”, admira-se o gestor. “Tivemos fila até lá fora.” Naquele domingo, dia 7, Ezio Custódio de Araújo Junior, de 55 anos, levou a mulher, filhas e genro para experimentar a novidade da região. “A batata é seca e nova”, elogiou. “É perto de casa, dá pra vir a pé”, completou a filha Amanda, 25. A happy hour, que dá desconto em alguns sanduíches, ocorre de segunda a sexta-feira, das 18 às 20h.
Madero Container 8
Rua 26 Norte, esquina com Avenida Castanheiras, Águas Claras (3081.1505) Diariamente, das 11 às 23h.
Novo point
do Lago Norte
POR SÚSAN FARIA
E
les são publicitários e resolveram investir em gastronomia, no Lago Norte, bem próximo a seu local de trabalho. E assim nasceu, há sete meses, o Trow Parrilla & Beer, que é ao mesmo tempo restaurante, bar e casa de shows. Leo Côrtes, André Ávila e James Batista Soares se juntaram à chef e arquiteta Fabiana Pinheiro e hoje comandam um restaurante que caiu no gosto de muitas famílias das redondezas. A decoração é à base de muita madeira, luz indireta, ombrelones na área externa, aquecedores para as noites de inverno e um balcão com cara de pub. O playground tem mesas e bancos largos cercados de palmeiras e muito verde. Na brinquedoteca, nos finais de semana, uma monitora conta histórias e brinca com as crianças. “Como só há uma porta
de entrada e saída, a segurança das crianças é grande”, explica Leo Côrtes, 42 anos, publicitário e produtor de audiovisual. Segundo ele, a proposta é ter um ambiente acolhedor, mas não formal. Além do excelente ponto, chamaram a atenção dos publicitários as altivas palmeiras imperiais à frente da construção. Desenharam o projeto, reformaram e decoraram o prédio, aproveitando o máximo da estrutura original e transformando-a em vários ambientes: restaurante, brinquedoteca, playground, palco, sala de sinuca com mesa Brunswick de 100 anos, coworking – para quem precisa trabalhar com acesso a internet e vídeo – e uma lojinha de lembranças. Parrilla e cerveja são as especialidades da casa, que tem drinques diversos, tiragostos e carne certificada do Rio Grande do Sul, a Hereford. “Compramos de uma cooperativa gaúcha e pegamos o
Para desfrutar da happy hour, música ao vivo e cervejas especiais, espetinhos de alcatra, de coraçãozinho e queijo coalho, com preços variando entre R$ 8 e R$ 10. De terça a sábado, das 20h30 às 22h30, tem chorinho, MPB, jazz ou pop internacional. Bruno Gafanhoto e Quarteto, a banda Let it Beatles, Murilo Grossi e Jaime Ernest Dias são algumas das atrações. Inicialmente, os três sócios pensaram em abrir um pequeno bistrô, onde se comesse boa comida, com cerveja bem gelada, para celebrar momentos especiais, mas acabaram optando por uma casa di-
versificada. A escolha do nome inspirouse em viagem que fizeram aos países nórdicos. Trow é uma criaturinha imaginária do folclore escandinavo, que vive nas florestas e nas montanhas, tem nariz e olhos grandes e cabelos arrepiados. Leo Côrtes explica que, apesar desses detalhes, não se trata de um restaurante tipicamente escandinavo. Trow, Parrilla & Beer
CA 7 do Lago Norte, Conjunto Q (3542.3772). De 3ª feira a sábado, almoço executivo, happy hour (couvert a R$ 12) e jantar. Aos domingos, apenas almoço.
Fotos: Divulgação
produto fresco, direto no Aeroporto de Brasília”, explica Leo Côrtes. O Trow serve bife ancho (350g a R$ 64), t-bone (600g a R$ 109) e outras carnes que podem ser escoltadas por arroz com brócolis (R$ 13), farofa de ovos (R$ 15) ou salada caesar (R$ 23). Um dos pratos mais pedidos é o Trow Burger, muito farto, com pão brioche (o fermento é natural), hambúrger, molho bombom, batatas chips, maionese especial de ervas e mix de alfaces, bacon, crispy, cebola caramelada, queijo montanhês, molhos, noz moscada (R$ 35). Entre as sobremesas, doce de Leite Viçosa (R$ 9) e petit-gâteau com sorvete de creme (R$ 22), A chef Fabiana Pinheiro, que participou como jurada da última edição do programa Masterchef, da TV Bandeirantes, não se esqueceu daqueles que preferem alimentos mais leves e preparou pratos como surubim na brasa, legumes na brasa, batatas com páprica e outras delícias. Há opções para todos os gostos, desde um jantar reforçado, com bons vinhos, aos pratos executivos no almoço, como o filezinho ou franguinho na brasa com arroz, tomatinho e batata (R$ 28) e o penne ao molho de tomate e queijo ralado (R$ 24).
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Requeijão chapeado com crispe de alho poró e geleia de jabuticaba, da Toca do Chopp.
Queijo refinado made in Novo Gama POR LÚCIA LEÃO
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e preparo refinado, o queijo de manteiga é mais caro e só produz quem cria um número expressivo de vacas leiteiras. É bem sabido no sertão que para se fazer um quilo de queijo são necessários dez litros de leite.” Ana Rita Suassuna, a senhora das delícias do sertão, começa assim o capítulo dedicado ao queijo manteiga no seu premiado livro Gastronomia sertaneja – Receitas que contam histórias. E segue descrevendo passo a passo o processo de produção da que é considerada a maior iguaria láctea nordestina até chegar à apoteótica
finalização: a marca do produtor – a mesma que identifica o gado da fazenda – cravada na casca já endurecida das valiosas peças de queijo. “Muitas pessoas veem essas marcas não só como indicador de procedência, mas também de qualidade. Queijo de má qualidade não tem ferro”, constata a estudiosa. Os olhos de Robson Lucena denunciam a força do sangue potiguar quando exibem o mesmo orgulho ao dizer que o queijo de manteiga do Laticínio Xique Xique é o único oficialmente “marcado” do Brasil. Não é o orgulho de um “coronel”, mas de um jovem empresário moderno; e a sua marca não é feita a ferro e fogo, como segue sendo nos bons quei-
jos artesanais sertanejos, mas com o CIF. Único queijo de manteiga do Brasil com Certificado de Inspeção Federal, a “marca” garante que ele atende às normas técnicas do Ministério da Agricultura, seja na procedência da matéria-prima, seja nas instalações e processo de produção do laticínio localizado dentro da fazenda da família no Novo Gama. “Tivemos que fazer algumas adaptações na receita original, especialmente substituindo o leite cru pelo pasteurizado, para atender às normas do Ministério da Saúde. Foram muitos testes, muitas experiências com essas modificações, até chegarmos às mesmas características do tradicional requeijão do sertão”, conta
Robson Lucena: dois anos de trabalho para profissionalizar a produção do laticínio do Novo Gama (abaixo).
Juntos, fomos enfrentando o desafio de melhorar nossa produção tradicional e desenvolver novos queijos, que estão sendo muito bem recebidos no mercado”. Fior di latte
Além de chegar à excelência e “cifar” os produtos tradicionais – o queijo de coalho, o queijo de manteiga e a manteiga de garrafa – a marca Xique Xique se expandiu para as muçarelas. Não só a tradicional, mas também a de trança e a top das tops fior di latte, corresponsável pelo
título de melhor pizza do Brasil conquistado pela Pizzaria Baco. Robson lembra como isso aconteceu: “Eu e o Gil Guimarães somos amigos de muitos anos. Conversando sobre meu projeto de reformulação e melhorias no laticínio, ele disse: você não quer produzir fior di latte? É uma muçarela muito fina e sofisticada, feita com o leite fresquíssimo (não pode ter mais de oito horas), sem ser cortada nem enformada. São aquelas bolas conservadas na salmoura, consumidas especialmente na Itália. Eu disse: vamos fazer! E Fotos: Lúcia Leão
Robson, filho de Rubens Pereira de Lucena – criador e proprietário dos restaurantes Xique Xique – e responsável pela unidade da Asa Norte e pelo laticínio do grupo. Há pouco mais de dois anos, a queijaria que hoje é referência entre produtores e alguns dos consumidores mais qualificados de Brasília era quase que uma unidade artesanal e se limitava a produzir o queijo de coalho, o queijo de manteiga e a manteiga de garrafa consumidos nos dois restaurantes Xique Xique. Desafiado a realizar um sonho antigo do pai, Robson abandonou os dele – preparavase para seguir carreira de administrador de hotéis nos Estados Unidos – e mergulhou, com muita determinação de acertar, num universo desconhecido. Sua meta era clara: profissionalizar e diversificar a produção do laticínio, fabricando os melhores queijos que jamais se imaginava conseguir numa região de tão pouca tradição como o Distrito Federal. “O meu pai trazia de Caicó, o berço da nossa família, a tradição dos queijos nordestinos. Mas os profissionais que iam literalmente colocar a mão na massa, não. O Paulo (Paulo Paulino da Silva), nosso mestre queijeiro, é quase um autodidata, que aprendeu fazendo. Não tem formação profissional formal, em escola, mas desde muito jovem trabalhou em laticínios e teve ótimos tutores, como o Paulo Cabral, um queijeiro reconhecido como um dos melhores da nossa região.
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Claude Capdeville criou dois petiscos com os queijos Xique Xique. Abaixo, fatia de queijo coalho grelhada. Divulgação
ninguém sabia como, nem eu, nem ele, nem o queijeiro Paulo... fomos pesquisar, testar, experimentar... esse processo durou mais de seis meses, mas chegamos lá. A Baco hoje usa nossos queijos nas suas pizzas e conquistou o título de melhor pizza do Brasil com a nossa fior di latte”. Outro consumidor pra lá de qualificado dos queijos Xique Xique é a Toca do Chopp. Famoso pelos tira-gostos e pastéis que também arrebataram diversos títulos em certames de fóruns especializados, o proprietário Claude Capdeville – que hoje atende encomendas para eventos e recebe os clientes na Quituart do Lago Norte – se rende aos produtos Xique Xique, utilizados nos pratos à parmegiana e pastéis (muçarela) e em dois petiscos especiais, lançados no cardápio de 2017: o queijo de coalho na chapa com geleia de pimenta e o requeijão chapeado com crispe de alho poró e geleia de jabuticaba. Por este último, especialmente, Claude presta reverências, na figura do empresário Robson Lucena, à cultura gastronômica nordestina. “Eu nasci em Minas Gerais e meus ancestrais na França, os dois lugares de maior tradição queijeira no Brasil e no mundo. Mas cá entre nós, o meu predileto, o queijo de que eu mais gosto, é o queijo de manteiga. Ele tem um paladar e uma consistência únicos, é saborosíssimo e permite uma infinidade de composições”. Mas, creia, não é à toa! O queijo de manteiga (ou queijo do sertão ou ainda requeijão sertanejo, outros nomes por que essa delícia também responde) é uma variação de um dos mais celebrados queijos do mundo, o “queijo da Serra”, produzido na Serra da Estrela, em Portugal. As receitas são muito semelhantes, com a diferença de que o d’além mar é produzido a partir do leite de ovelha e o nosso, o nordestino, usa o leite de vaca. No seu petisco com queijo de manteiga, Claude utiliza a “rapa” que fica na chapa quando o queijo é posto a derreter. Ela é retirada com habilidade e, posta sobre a fatia do queijo derretido, alterna maciez e crocância no prato onde já se equilibram doce da jabuticaba e o salgado do crispe de alho poró e do próprio queijo. A “rapa”, portanto, tem destino nobre, tal e qual quando o queijo de manteiga é feito nas cozinhas de fazenda nordestinas, onde as senhoras retiram cuidadosamente a casquinha que fica como resíduo no fundo dos tachos e
Lúcia Leão
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oferecem como iguaria rara. São esses os queijos Xique Xique que chegaram ao mercado e estão disponíveis aos consumidores brasilienses nas melhores casas do ramo ou nos próprios
restaurantes da rede, na Asa Norte e na Asa Sul, a preços muito competitivos por quilo: queijos de manteiga, R$ 24; queijo de coalho, R$ 20,50; muçarela, R$ 16; fior di latte, R$ 32.
HAPPY HOUR
Cerveja à mesa
RONALDO MORADO @ronaldomorado
“O pão e a cerveja são o alimento da vida”. Cornelius Schrevelius, em Lexicon Manuale Graeco-Latinum et Latino-Graecum.
A cerveja, embora tenha sido item fundamental na dieta familiar durante milênios, somente há pouco tempo começou a ser explorada em todo seu potencial gastronômico. Na maioria dos restaurantes e em ocasiões especiais, ela aparecia apenas como uma bebida refrescante ou um aperitivo e, por vezes, foi considerada pouco digna de coadjuvar a refeição, merecendo, no máximo, o papel de parceira de comidinhas e tira-gostos. Uma das principais razões pelas quais a cerveja não participava das refeições mais sofisticadas é fruto de séculos de estreita ligação entre a cultura vinícola e a alta gastronomia. A identificação do vinho com a religião, durante a Idade Média, facilitou seu ingresso nos palácios e estreitou sua ligação com a nobreza. A cerveja, por sua vez, sempre foi vista como simples alimento, por ser nutritiva, e como a bebida das massas, por ser mais barata e mais fácil de ser produzida. Por essa razão, não se tem notícia de banquetes reais regados a cerveja, a não ser entre os povos bárbaros, pouco afeitos à finesse. Entretanto, as barreiras à entrada da cerveja no mercado gastronômico estão diminuindo. Nos últimos anos pudemos testemunhar, em vários países do mundo, que a existência de uma carta de cervejas em um restaurante já não é tão improvável nem exótica. No Brasil, além do desconhecimento do universo cervejeiro pela população em geral, as opções de estilo oferecidas ao mercado ainda são poucas e eventuais. A fabricação de cervejas diferentes das Pilsen tem sido pouco explorada pelas grandes cervejarias. As ousadas iniciativas de diversificação vêm, em geral, das microcervejarias de alcance regional. A presença de algo diferente de uma Pilsen em uma gôndola de supermercado é tratada como oferta sazonal de uma “cerveja especial”, como se uma Ale, por exemplo, fosse algo inédito ou mesmo um produto inovador sujeito à curiosidade do consumidor. Considerada mais versátil do que o vinho, a cerveja
pode ser tão ou mais interessante. Ela apresenta uma variedade considerável de sabores e aromas, como os de cereais, caramelo, café, chocolate, pão, banana, azeitonas, cítricos, florais, defumados, ervas e muito mais. Além disso, as diversas intensidades de amargor, carbonatação, refrescância, cor, temperatura de serviço e teor alcoólico representam variáveis fundamentais para aumentar as possibilidades de combinações ou harmonizações, que ocorrem por complementaridade, por equilíbrio ou por contraste. Diferente do vinho, que depende fundamentalmente da uva utilizada, a cerveja possui uma enorme gama de estilos e suas variações, que dependem da criatividade do mestre cervejeiro, o que a torna uma bebida flexível e capaz de agradar aspectos específicos da degustação. Na experiência gastronômica, todos os sentidos são envolvidos e as emoções vivenciadas variam da indiferença à surpresa, da frieza ao encantamento. E tudo ao redor conspira a favor e, às vezes, contra: a temperatura do ambiente, a atmosfera do local, a música, a sequência e o visual dos pratos e, naturalmente, a qualidade dos seus ingredientes. O que conta, afinal, é o prazer experimentado, resultado das impressões que percebemos. Nesse sentido, as pessoas que nos acompanham e as bebidas servidas são os elementos mais importantes para valorizar o momento. A experiência pode se tornar uma celebração dos sentidos, um festival de prazeres único e insubstituível. São raros os indivíduos capazes de perceber todos os aromas e sentir todos os sabores, o que torna a degustação uma experiência única e pessoal. Sabe-se, entretanto, que a percepção sensorial envolvida na degustação depende de aprendizado e, como tal, pode ser desenvolvida. Conclusão: harmonização de comidas e bebidas é um tema bastante complexo, porque envolve também questões de análise subjetiva, de difícil consenso.
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atender à crescente demanda de trabalhadores da região que buscam alimentação rápida, de qualidade e com preço justo.
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PICADINHO
Bar do Sallva
Um belo exemplo de adaptação aos novos tempos: após a proliferação dos food-trucks e a recente moda dos restaurantes instalados em contêineres, eis que surge na 409 Norte uma versão reduzida e despojada do Piccolo Emporium, sem mesas nem garçons e com um cardápio enxutíssimo. Parceria de Aílton Tristão com o chef Ville Della Penna, o Piccolo Deli foi projetado para ser um ponto de passagem, onde o cliente escolhe o que comer ali mesmo no balcão ou levar para casa. São comidinhas de rua, basicamente os sanduíches servidos no restaurante da Asa Sul, com ingredientes de boa qualidade e preços convidativos, mas também polpetones, massas e pães. Uma das criações de Ville é o Maialino (foto), que leva linguiça de bacon com fonduta de queijo e caramelo de abacaxi.
Filé Terve Assim foi batizado o prato criado para a temporada de verão pelo chef Divino Barbosa, do Santé 13 (413 Norte, Bloco A, tel. 3037.2132). Trata-se de um generoso naco de filé mignon grelhado sob paçoca de gergelim e mascavo, acompanhado de legumes grelhados ao molho de redução de balsâmico (R$ 63).
Fabricio Rodrigues
Piccolo Deli
Acaba de abrir as portas o Bar do Salva, na verdade um anexo do restaurante homônimo localizado no Pontão do Lago Sul. No cardápio, que leva a assinatura da chef Andrea Munhoz, uma grande variedade de petiscos próprios para a happy hour. O bar tem 30 mesas com capacidade para 60 pessoas e funciona de 3ª a 5ª feira, a partir das 17h, e de 6ª a domingo do meio-dia à meia-noite.
Delivery facilitado Para quem prefere ficar em casa, a pizzaria Fratello Uno acaba de lançar um aplicativo para Android e IOS que facilita ainda mais o serviço de delivery. Basta baixá-lo no celular para encomendar qualquer pizza do cardápio, como essa aí de shimeji com camarão trufado (pomodoro pelati, muçarela, shimeji e camarões refogados, cobertos com mascarpone, ervas finas e azeite trufado). A pequena custa R$ 70, a média R$ 76 e a grande R$ 82. O serviço de delivery funciona das 18h30 às 23h e atende as Asas Sul e Norte, Lagos Sul e Norte, Sudoeste e Noroeste.
Econômico
Custa R$ 31,90 esse suculento prato criado pela Boina Costelaria (QS 5, Águas Claras, próximo ao Pistão Sul, tel. 3797.4155) para
Fica bem ao lado da Livraria Leitura do Conjunto Nacional a recém-inaugurada 13ª unidade da rede Panelinhas do Brasil no DF – no país são mais de 30, espalhadas por sete Estados. Com espaço para 60 pessoas, além de uma varanda com acesso à livraria, a nova unidade preserva fielmente a característica mais marcante da rede especializada em receitas caseiras: as charmosas panelinhas de cerâmica que ajudam a manter a comida na temperatura ideal.
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13º Panelinha
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Leves e refrescantes, preparados sempre com ingredientes frescos. São assim os quatro pratos criados para a estação mais quente do ano pelo chef espanhol Carlos Valenti, da rede Rubaiyat (em Brasília, no SCES, Trecho 1, tel. 3443.5000. Um dos menus começa com essa salada de polvo com alioli aí à direita (R$ 32), segue com o tagliatelle de palmito e camarão da esquerda (R$ 50) ou cherne confitado com limão siciliano (R$ 95), e finaliza com uma sobremesa feita com Piña Colada, tapioca e sorvete de rum (R$ 21).
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Menu de verão
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Deliciosos pedaços
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A rede de doçarias paulistana Amor aos Pedaços inaugurou no início do mês seu primeiro quiosque na praça de alimentação do Aeroporto Internacional de Brasília. Fundada em 1982 por Ivani Calarezi, uma pianista por formação apaixonada por culinária, apostava numa ideia ainda inédita no país: vender bolos artesanais em pedaços, permitindo ao cliente escolher o tamanho desejado da fatia. A franquia tem hoje mais de 60 lojas espalhadas pelo Brasil e vitrines com 130 delícias em forma de docinhos, bolos, tortas, pavês, mousses e sorvetes.
Crepes sem limite Sete receitas salgadas e doces são servidas, a preço fixo, no Festival de Crepes Illimité do C’est la Vie Bistrô e Creperie (408 Sul, Bloco A, tel. 3244.6353): Chet Baker (massa branca batida com ervas, peito de peru, muçarela, tomate seco e manjericão), Cariri (filé mignon fatiado, gorgonzola, catupiry, cebola e cheiro verde), Caravaggio (calabresa flambada na cachaça, muçarela, tomate, orégano e cebola caramelizada), 4 Fromage (muçarela, catupiry, gorgonzola e parmesão), Estrogonofe de frango (frango desfiado, molho de estrogonofe e batata palha), La Vie est Douce (morangos com doce de leite e chantily) e Brasileirinho (banana caramelada, mussarela, canela e açúcar). O preço normal do rodízio é R$ 43,50, mas durante as férias cai para R$ 32, das 15 às 18h. Além disso, quatro clientes pagam o preço de três e crianças até 12 anos pagam apenas R$15.
Pela metade do preço
Comidinhas Cássicos das cozinhas francesa, portuguesa, espanhola e italiana, em versões adequadas para cada hora do dia, são o principal atrativo do novo cardápio do Rapport Cafés Especiais e Bistrô (201 Sul, Bloco B, tel. 3322.0259), criado pela chef paulista Dine Hinz, residente em Brasília há dez anos. Na seção batizada de Comidinhas despontam, entre outros, o tartare de salmão com chips de batata doce da foto abaixo (R$ 34), o rosbife de filé sobre baguete francesa com maionese da casa, rúcula baby e gotas de azeite trufado (R$ 32); a burrata com tomate cereja, pesto da casa e folhas baby (R$ 51); o peito de pato marinado e cozido em suco de laranja e cubos de bacon, empanados em farinha Panko, servidos com chutney de maçã (R$ 31); e o fígado de frango temperado com ervas de Provance, salteado em manteiga e flambado com vinho Sauvignon Blanc (R$ 29).
Haoles Fotografia
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Caipirinhas preparadas com a cachaça premium Leblon, produzida pela Bacardi, serão servidas com 50% de desconto, até 17 de fevereiro, nas unidades Steak House da rede Madero (em Brasília, no Pátio Brasil, tel. 3041.7005, e Shopping ID, tel. 3046.0017). São cinco sabores: limão, morango, kiwi, morango com kiwi e frutas vermelhas. Produzida de forma artesanal em Minas Gerais, com processo de fermentação natural e armazenagem em barris de carvalho francês, a cachaça Leblon é um dos destilados brasileiros mais consumidos no mundo, sucesso absoluto nas cartas de drinques de bares de Nova York, Los Angeles e várias capitais europeias.
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GARFADAS&GOLES
O negrinho chorão Meu padrinho era um índio chamado Galileu Inda. Era grande, grande, muito maior do que eu podia olhar para cima. Um dia, quieto no meu canto, sentado no portal da nossa casa, cabeça entre as mãos, ouvi o vozeirão: “Negrinho, meu afilhado, o que tu estás fazendo aí, sentado desse jeito?”. E eu: “Nada, padrinho, só estou aqui chorando um pouco...”. Risos eternos para a história familiar. Lágrimas normais de quem chorava porque queria. Motivo? Vontade de chorar. Só. A lembrança veio outro dia, 50 anos depois de ter deixado a casa paterna. Foi agora, no Natal passado. Chorei, sim, estava lembrando. Sem embriaguez. Um pranto, digamos, racional. Pois sim: aqui, ó! Todo pranto tem um lastro. É o navio e seu calado. O trago solta o choro? Nem pensar! Sequer facilita. Quem domina o pranto, pranteia quando quer. Garrafas facilitam as máscaras, outros choram para ficar bravos. A lágrima vira mar. Ou um vale, vale de lágrimas, a vida, a própria. Por quem choram os sinos? Pergunta do velho Ernest, que preferia a resposta: eles dobram por você. Hemingway sabia que o velho do mar não chegaria às neves do Kilimanjaro, nem conseguiu dar adeus às armas nas ilhas da corrente. Contentou-se com abocanhar o próprio rifle e puxar o gatilho. Velho Papa! Foi dos maiores e melhores. Um filho escreveu, duas netas foram para o cinema e ficaram entre o sucesso e o suicídio. E entraram neste artigo sem razão nem rima, diria mestre CDA. “Chorar é pra quem tem tempo e o tempo do pobre é escasso”, escreveu um poeta gaúcho veterano, faz um pouco mais que um dia desses. Pois não é que a rima ficou? Poucos lembram o poeta, mas a rima taí. Tabajara (“Taba”) Ruas é um escritor que matou um personagem. Tudo bem, todos fazem. Uma ova! Taba matou um parente e um pedaço da minha infância. Conheci o trem em que o morto fugiu. Eu andava no vagão de carga
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LUIZ RECENA
lrecena@hotmail.com
daquela infância e pulei nele quando o trem passou, digo, quando li o livro do Taba em que o trem passava e... Negrinho, por que tu estás chorando? Por nada, padrinho, é só um pouco e passa... Tem uma figueira no fundo do pátio e lá tem uma negra que conversa comigo e eu paro de chorar e me escondo de tudo. Galileu ria solto e passava. Tempo de padrinho. E ainda disse, o Taba, que eu estava muito parecido com meu pai. Escritor e malvado: fisicamente não pareço. Ele era branco e eu sou o negro. Ele cabelo liso, eu cabelo crespo. No físico sou minha mãe, no riso sou meu pai. O espumante do meio-dia 31? Começamos a comemorar com a Austrália! Costume mantido sem choro. Divertido, o Taba, esse... que chegou com Ligia e Lucas, um guri passarinheiro, dos antigos, capaz de parar patrulha em discussão de nome ou cor de penas de maritacas. Ou seriam caturritas? Memórias vertem livros, histórias chamam causos. Tu lembras? Mas tu eras um guri. De onde vem essa memória de guri? Talvez do rio, quem sabe da ponte, debaixo da ponte, das esquinas, da Baixada da Rua Duque; e os nomes, todos os nomes que tu não esqueces, memória bendita. São fantasmas? Não! Do velho do anzol, da velha dos jujos (ervas), do caolho da burra, do louco Sebastião, que espantava os diabos das goteiras dos telhados, eram todos vivos e do bem. Só voltam para dar risadas e não para chorar. Só quem chora sou eu, para contar ao meu padrinho. E para a Negra da Figueira. E agora? A comer! Deliciosas costelinhas de cordeiro assadas pelo Pedro, filho do Carlinhos Muller, que entra na história porque tem direito, abriu a casa dele para nós e não precisa de rima. Completam a poesia da tarde Mireya y su Mamá e don Luís Terrinha e senhora. Por que não chorar? Feliz Ano Novo!
PÃO&VINHO
Saldão de 2016 Como já é praxe desta coluna, todo janeiro, na primeira edição do ano aproveitamos para comentar alguns dos bons vinhos degustados ao longo do ano anterior que não tiveram a oportunidade de se apresentar nestas linhas. São, todavia, tantos, que achei por bem dividir esta matéria em duas: uma só dos italianos, que apresentarei a seguir, e uma segunda dos franceses e alguns espanhóis, que trarei no próximo mês. Da nossa querida Bota, foram várias as descobertas de 2016 que vale a pena trazer ao seu conhecimento. Iniciamos pelo La Cattura, um IGT da Toscana de alta qualidade e bom preço. Um corte predominantemente de Teroldego, uva rara do norte da Itália, mais especificamente de Trentino, somada a uma pequena quantidade de Syrah, que a Poggio al Casone, estrela ascendente da Toscana, produziu com grande sucesso em 2011. De cor rubi intenso, traz aromas de frutas vermelhas do bosque, além de toques defumados e mentolados. De taninos finos e bem domados, à boca traz framboesa e morangos. Na Sonoma por cerca de R$ 120, é um grande negócio. Ainda da Toscana o Brunello di Montalcino da San Polo, também 2011, trouxe o clássico do gênero. Importado pela Wine e vendido a bons preços conforme a época, tem nada menos que 93 pontos de Robert Parker. De cor rubi claro, apresenta aromas de frutas vermelhas maduras com toques de baunilha, café e húmus. Na boca, confirma as frutas vermelhas em paladar prolongado, com taninos elegantes e bem domados que arredondam o vinho agradavelmente. Ótimo! Do norte da Itália, de uma denominação praticamente desconhecida, Sfursat di Valtellina, o Raccolta 2008 da Aldo Rainoldi traz a principal casta da região da
ALEXANDRE FRANCO pao&vinho@agenciaalo.com.br
Lombardia em sua melhor forma. A Nebbiolo dá aí um vinho mais dócil do que os renomados Barolos. Talvez o achado mais interessante de 2016, esse Raccolta passa pelo mesmo processo de apassimento das uvas típico dos Amarones. De cor rubi intensa, traz aromas de frutas vermelhas e negras em geleia, tudo bem confirmado na boca macia e muito saborosa e intensa. Uma verdadeira geleia de frutas. Excelente! Para finalizar, ainda do norte, meus preferidos de toda Bota, os Amarones e seus irmãos caçulas, os Ripasso. Foram dois Amarones e um Ripasso, todos novos para mim e todos ótimos. Começo pelo Valpolicella Ripasso da Castelforte 2012, de vermelho intenso e aromas de cereja negra e cassis. Muito saboroso na boca, com acidez e taninos bem equilibrados, trouxe toques de café e pimenta. Capaz de acompanhar com perfeição toda a refeição, da entrada à sobremesa. Delicioso! O primeiro Amarone foi o Capitel de Roari 2010. Daqueles pequenos produtores que impressionam, Luigi Righetti nos traz um ótimo caldo. Vermelho intenso, com halo granada, traz ao nariz frutas vermelhas e negras em geleia, com toques de anis e chocolate. Em boca, é quente, com fundo doce e toque leve mineral. Muito bom! E, por fim, um Amarone que pensei ser simples mas me ganhou o paladar: o Montresor 2013. Apresentado em garrafa diferenciada, meio bojuda, não dá, à primeira vista, muita confiança em sua qualidade, mas ledo engano. De vermelho profundo, traz toques herbáceos, além de figo, café e tabaco, misturados a um intenso chocolate. Sua ótima acidez e alcoolicidade produzem grande equilíbrio com seus poderosos taninos e um fundo de boca doce muito agradável. Grande vinho!
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BRASILIENSEDECORAÇÃO
Seu Armando da Quituart POR VICENTE SÁ FOTOS LÚCIA LEÃO
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adolescente caminha atento ao tráfego. Afinal, está na maior cidade do país. São quase dois milhões de habitantes, neste ano de 1946. São Paulo é uma cidade que cresce e permite o crescimento das pessoas. Por isso, sua família veio do interior do Estado e, ele, aos 14 anos, foi trabalhar o seu primeiro dia como ajudante de mecânico com carteira assinada. Foi sua primeira decisão na vida profissional: largar a venda de rua e aprender um ofício. Na padaria onde tomava um café rápido, pôde ouvir conversas sobre a Constituinte e a rádio tocando De conversa em conversa, com Isaurinha Garcia. Depois, Armando Rampani – este é o nome do jovem que acompanhamos – confe-
riu, cuidadoso, o dinheiro, antes de pagar a conta e seguir o começo de sua vida. O jovem é, hoje, um senhor de 84 anos, o bem sucedido proprietário do restaurante Araratuba, localizado na Quituart, no Lago Norte. Casado há 51 anos com Dona Margarida, que ainda é sua chef de cozinha, Seu Armando, como todos o chamam, também é ajudado pelo filho Daniel e por uma nutricionista, Carla Villar. O quarteto é que toca o restaurante, de sexta a domingo, servindo uma das melhores paletas de cordeiro da cidade e a festejada leitoa à pururuca. Mas como aquele jovem mecânico se tornou um restaurateur? Onde encontrou essa parceira para toda a vida? Foram muitas peripécias e sustos que vamos contar nas próximas linhas. Na São Paulo dos anos 50, o jovem Armando se esforçou muito para apren-
der seu ofício e o aprendeu bem. Aos 18 anos, era o chefe dos mecânicos, uma ascensão merecida e que não era contestada pelos colegas de trabalho. Mas o jovem tinha sonhos, queria ter uma casa própria, levar a mãe para morar com ele, casar, e percebeu que o último cargo que tinha para galgar naquele emprego era o de seu chefe, que ganhava pouco mais que ele. Assim, de novo, tomou uma decisão em sua vida. Era o começo dos anos 50, o rádio estava em alta, era a diversão da família, todos queriam ter um rádio transistorizado em casa. A televisão já era uma realidade nos Estados Unidos e logo estaria também em todos os lares brasileiros, diziam os profetas do desenvolvimento. Assim, Armando pediu as contas e, com o dinheiro que já havia conseguido juntar, se inscreveu em um curso de eletrônica.
Depois de alguns meses, já com o diploma na mão, procurou uma empresa do ramo para se alistar como empregado. “Mas era apenas para pegar experiência prática, eu já tinha outros planos, eu queria ter minha própria empresa de conserto de eletroeletrônicos”, lembra. Assim fez e, após alguns anos, conseguiu realizar seu sonho de comprar uma casa e levar a mãe para morar com ele. “Ela entrou chorando em nossa casa, dizia que era o sonho maior de sua vida”, conta. Aí a coisa melhorou de vez. As televisões chegaram e ele já as esperava em sua loja montada na própria casa. Foi a sopa no mel. Casou-se com a namorada, Margarida, teve três filhos e viveu muito anos em paz, mas sem nunca deixar de se preocupar com os menos favorecidos. “Eu via o olhar dos meus clientes preocupados com sua televisão quebrada, mas também preocupados com o valor que custaria o conserto. Eu dizia: não se preocupe, eu vou descobrir primeiro o defeito, mas só vou mexer quando o senhor autorizar. E muitas vezes cobrei abaixo do preço para ajudar”. Aos 59 anos, soube que estava com câncer. Era uma sentença de morte. De noite, sozinho no terraço da casa, falou com Deus: “Senhor, só peço que dê um tempinho, só para eu cuidar dos meninos até eles se formarem. Depois, pode me levar”, pediu, e Deus atendeu. O câncer foi vencido e ele continuou tocando sua vida, cuidando da mulher, dos meninos e das televisões e rádios. Até que chegou a tecnologia digital, que ele achava muito complicada. De novo, sentiu que já era tempo de tomar outra decisão: mudar, de novo, de ramo. E de cidade. Veio para Brasília e aqui comprou um espaço nos primeiros tempos da Quituart e também uma chácara onde até hoje cria os leitões, os marrecos e as galinhas que vende. “Tenho até uns carneiros, mas não são de boa carne e prefiro comprar dos argentinos. Os meus bichinhos ficam lá só para dar alegria aos netos”. O Araratuba está sempre cheio ou quase cheio e Seu Armando, novamente, não tem do que se queixar. À noite, antes de dormir, ele fala com Deus: “Olhe, agradeço o tempo que me foi dado e estou pronto, mas não estou pedindo para ir, não”. E assim acontece. Ele vai ficando e trabalhando, alegre e feliz, e se você quer confirmar essa história é só passar na Quituart, logo ali, no Lago Norte.
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DIA&NOITE
cemanosdearte Não é todo dia que temos a chance de visitar uma exposição com obras de um artista centenário. Pois Umazo Shinoda, que completou 100 anos dia 8 de janeiro, está expondo até o dia 28 no Templo da Boa Vontade. Intitulada Uma vida dedicada à arte, a mostra apresenta trabalhos em aquarela e óleo em acrílico de Shinoda, num estilo versátil que parte do abstrato ao hiperrealismo. Guerreiros, santos, naturezas mortas, retratos e autorretratos são o forte desse artista que nasceu em Hokkaido, no Japão, e aos nove anos começou a pintar. Em 1933 ganhou o primeiro lugar no Salão de Letras Artísticas, promovido pela prefeitura de sua cidade natal. Trabalhou um período na lavoura e, aos 16 anos, chegou a São Paulo. Lá conheceu o artista plástico Manabu Mabe, que o incentivou a voltar a pintar. Durante sua extensa carreira, Shinoda conquistou muitos prêmios em reconhecimento a seu trabalho. Diariamente, das 8 às 20h, com entrada franca. Mais informações: 3114.1070.
dragõesexistem?
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Não, esses seres enormes e assustadores, sabemos todos, não existem, mas sempre fizeram parte da mitologia de diversos povos. Eles nasceram da imaginação do ser humano, sempre que este não conseguia explicar, à luz da razão, algum fenômeno da natureza. Dez réplicas desses monstros com aspecto de répteis, asas, plumas e poderes mágicos estão fazendo a alegria da garotada que visita a exposição Na era dos dragões, instalada no ParkShopping até 12 de fevereiro. Alguns, com quase seis metros de altura, fazem movimentos e emitem sons para dar mais realismo à brincadeira. Nos painéis informativos a garotada vai saber, por exemplo, que enquanto na Europa os dragões eram seres temidos, que cuspiam fogo e aterrorizavam cidades, na Ásia eles eram vistos como criaturas nascidas da natureza, que comiam vegetais e traziam fartura, chuva e bondade para as vilas por onde passavam. De segunda a sábado, das 10 às 22h, e domingo, das 12 às 22h.
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Esse é o título da exposição do gaúcho Ricardo Giuliani, uma brincadeira com as palavras transparente, aparente e trans, sugerindo um diálogo entre o conteúdo e a forma do trabalho do artista plástico, uma vez que utiliza suportes de raios X, desenhos, colagens e pintura. Em cartaz na Galeria de Arte do Anexo IV da Câmara dos Deputados até 8 de março, a série composta por 14 trabalhos teve como proposta de criação a figura humana, ou partes dela, gravada nos raios X. As questões postas por Ricardo Giuliani vão muito além do visual, pois apontam a dualidade entre o que é a imagem e o que ela significa, já que o embate direto entre a vida e a morte traz para essa experiência artística um olhar contemplativo e ao mesmo tempo introspectivo. O também advogado, escritor e músico já expôs em várias mostras no Rio Grande do Sul e possui obras no acervo do Museu de Arte Contemporânea desse Estado e na Universidade de Caxias do Sul. De segunda a sexta-feira, das 9 às 17h, com entrada franca.
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transaparente
espaçocultural
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Estão abertas as inscrições do processo seletivo de projetos culturais para ocupação do Espaço Cultural Instituto Cervantes de Brasília (707/907 Sul) no primeiro semestre de 2017. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas até 15 de fevereiro. Os projetos selecionados irão compor a grade de programação cultural do Instituto Cervantes nas áreas de cinema e audiovisual, literatura, ciência, história, sociologia, antropologia, tecnologia, arquitetura, design, artes plásticas, fotografia, gastronomia, música e artes cênicas (teatro, dança, performance e circo). O edital está disponível em www.brasilia.cervantes.es.
Thiago Barreto
azuldaprússia Um encontro improvável entre um morador de rua e um jovem perdido na noite da capital federal. O diálogo que se segue é surpreendente e revelador, pois de forma lírica, bem humorada e distante do discurso panfletário traz memórias da ditadura militar. Assim é a nova peça de Alexandre Ribondi, Azul da Prússia, em cartaz no Teatro Brasília Shopping até 29 de janeiro. O título é uma alusão a uma tonalidade de azul inexistente na natureza, criada em laboratório, e cuja produção envolve elementos altamente tóxicos. Um deles é o ácido cianídrico, ou ácido prússico, descoberto pelo cientista sueco Carl Wilhelm Scheele em 1782, a partir da decomposição da própria cor. Esse elemento foi usado como arma química na Primeira Guerra Mundial e nas câmaras de gás dos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. “Aqui eu uso a cor para falar dos lábios de pessoas mortas”, explica Ribondi, acrescentando: “Como estamos vivendo momentos de muita incerteza no país, é muito bom a gente voltar a falar da época da ditadura brasileira”. Além de autor, Ribondi dirige a peça e interpreta a personagem do morador de rua, dividindo o palco com o ator da nova cena de Brasília Matheus Silva. Apesar da densidade do tema, ao retratar um drama vivido coletivamente pelo país, a peça promete momentos de ótimas risadas e boas reflexões. Sextas, sábados e domingos, sempre às 20h. Ingressos a R$ 40 e R$ 20.
aulasdeteatro Crianças a partir de dois anos, adolescentes e adultos podem participar dos aulões inaugurais de teatro, canto, balé, sapateado e street, promovidos pela Trupe Trabalhe Essa Ideia, agora em nova sede, na 713 norte. Dia 21 de janeiro, a partir das 9h, os interessados serão divididos em circuitos infantil, teen e adulto e poderão fazer todas as aulas oferecidas. As inscrições custam R$ 10 e devem ser feitas em trabalheessaideia@ gmail.com. Fundada em 2013, a trupe surgiu da parceria de colegas que faziam teatro ainda na escola. Porém, foi a estudante de artes cênicas Paula Hesketh que decidiu reunir o grupo para montar uma peça. “Hoje somos oito e só duas pessoas entraram depois, todo o restante do grupo já se conhecia e fazia teatro juntos no colégio”, conta Paula. O sucesso das peças, a principio infantis, foi tanto que começaram a surgir os convites para ministrar os cursos para crianças. O grupo já montou os espetáculos Matilda, O gato de chapéu e O mágico de Oz. Informações: 99592.7107.
PH Costa Blanca
O sucesso foi tamanho que o espetáculo Beatles para crianças está de volta a Brasília, dessa vez no palco do Teatro Unip (913 Sul). Serão duas apresentações, nos dias 11 e 12 de fevereiro, às 15h, cheias de interatividade regada a muito rock and roll em forma de sucessos da banda que foi o maior fenômeno da música mundial de todos os tempos. No início, as crianças assistem a uma animação que apresenta as fases do quarteto de Liverpool. Depois, já com a banda no palco, outra animação convida as crianças à diversão e ensina os três primeiros movimentos básicos de rock. Daí pra frente, as crianças, totalmente tomadas pelo entusiasmo, dançam, cantam e aprendem canções históricas do quarteto. Os pais também são tomados pela energia e animação, entram na dança com as crianças e a festa toma conta do lugar. Durante o show, o público canta, dança e ouve histórias que ilustram as letras das canções. Quando parece que tudo está caminhando para o final da apresentação, uma surpresa! A banda convida algumas crianças para subirem ao palco e tocarem Blackbird com os mais de 70 instrumentos dispostos em cena. Os adultos são, então, convidados a formar um grande coral no palco para cantar Twist and shout. Ingressos a R$ 100 e R$ 50, à venda nas lojas Cia Toy e na Belini Pães e Gastronomia (113 Sul). Informações: 4101.1121
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parapaisefilhos
tudooqueháflora Enquanto a internet encurta distâncias em plena era das redes sociais e cria uma imensa e, até há pouco tempo, inimaginável malha de conexões interpessoais, a solidão e a incomunicabilidade estão, paradoxalmente, cada vez mais presentes. É sobre essas duas questões que está baseada a peçaTudo o que há flora, primeira montagem da Nossa! Cia. de Atores, companhia carioca dirigida por Leila Savary, Lucas Drummond e Thiago Marinho. Com roteiro de Luiza Prado e direção de Daniel Herz, a peça, em cartaz até 5 de fevereiro no CCBB, conta a história de Flora, uma dona de casa que cumpre um ritual diário enquanto espera o marido para o almoço. O que poderia ser a história de amor entre um casal aos poucos revela seu lado sombrio. “Queríamos falar sobre como as pessoas conversam, mas não se escutam e muitas vezes vivem em uma aparente normalidade que nunca existiu, tentando esconder a solidão e suas imperfeições”, resume Leila. Para contar essa história, os três pensaram em seguir uma linha tragicômica, como explica Thiago: “Procuramos uma linguagem que fosse ao mesmo tempo engraçada e que provocasse reflexão”. De quinta a domingo, sempre às 20h. Ingressos a R$ 20 e R$ 10. Bilheteria aberta de quarta a segunda, das 9 às 21h. Informações: 3108.7600.
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paraosbaixinhos1 Em comemoração aos 40 anos de estrada, o grupo brasiliense Cia. Carroça de Mamulengos apresenta, na Caixa Cultural, os espetáculos Histórias de teatro e circo e Pano de roda. São bonecos gigantes, palhaços com perna de pau, mágica e muita música apresentados por uma trupe composta de oito filhos, duas netas, noras, genros e um ônibus que carrega em sua bagagem mais de um milhão de quilômetros rodados e centenas de espetáculos em suas andanças pelo Brasil. Em Histórias de teatro e circo, espetáculo clássico da companhia, os bonecos marcam a origem da entrada dos filhos em cena com a presença da burrinha Fumacinha, boneca que tem 30 anos. Apresentado entre 13 e 15 de janeiro, é um espetáculo musical, circense, inspirado nos reisados, nas folias, no teatro de bonecos. Em Pano de roda, a ser exibido entre 20 e 22 de janeiro, a família homenageia os palhaços e resgata a memória da companhia: uma verdadeira colcha de retalhos costurada com lembranças, experiências e aprendizados colhidos ao longo dos anos. Sextas-feiras, às 19h, e sábados e domingos, às 17h. Ingressos a R$ 10 e R$ 5. Bilheteria: 3206.6456.
Randal Matusca
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paraosbaixinhos3 Até 5 de fevereiro, meninos e meninas de quatro a dez anos têm um encontro com Dora, a aventureira, personagem queridinha do seriado da televisão. O brinquedo está montado na praça principal do Brasília Shopping e consiste num circuito no qual os pequenos embarcam numa atividade cheia de surpresas. Já na entrada, são recebidos por monitores que distribuem mochilas iguais às usadas por Dora e seu primo e amigo Diego. Dentro delas há um mapa que direcionará os aventureiros para um mundo de conhecimento e diversão. O ponto de partida é a Varanda da Dora. De lá, a turma entra em um labirinto e parte à procura das flores espalhadas pelo caminho. Depois, as crianças vão procurar o tesouro que está espalhado no navio da Ilha Perdida. Elas são orientadas e acompanhadas por monitores treinados durante todo o circuito, que dura cerca de 30 minutos. A brincadeira é gratuita, dura meia hora e está disponível das 14 às 20h, sendo que a última sessão começa às 19h30.
paraosbaixinhos4 Um colorido conjunto de 233.000 bolinhas de plástico foi escalado pelo Pátio Brasil para distrair a molecada neste verão. Até 12 de fevereiro está no ar o Mar de bolinhas nas férias, instalado na praça central do shopping. Adultos e crianças podem brincar juntos no espaço que tem também um farol de sete metros com quatro escorregadores, um escorregador em formato de estrelinha e um barquinho para crianças de até quatro anos. Para os menores, a diversão é virar um mini marinheiro e curtir a Ilha Baby, em companhia de seus pais. O ingresso custa R$ 15 e dá direito a 15 minutos de folia. De segunda a sábado, das 10 às 22h, e domingo, das 14 às 20h. Cada minuto adicional custa R$ 1. Informações: 2107.7400.
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O ator Juliano Cazarré, a atriz e escritora Elisa Lucinda, a poetisa Marina Mara e a atriz Patrícia Del Rey vão participar do Festival de Vacances, que acontece entre 21 de janeiro e 4 de fevereiro na creperia C’est la Vie (408 Sul). Eles estão no projeto Pipocando poesia, um sarau itinerante que percorre a cidade desde 2008 e vai fechar o festival de férias no dia 4. No comando do projeto está a atriz e poetisa Manuela Castelo Branco, que dá vida à palhaça Matusquella. No dia 21 de janeiro, ela fará uma tradicional apresentação de mágicas feitas com cartas, cordas e outros objetos considerado mágicos. No dia 28 de janeiro, o sábado será de histórias, música e muita poesia brasileira. A Matusquella vai contar a História do menino sem nome, sobre pernas-de-pau. “A ideia é levar as crianças até o céu com a imaginação”, adianta a palhaça. No dia 4 de fevereiro, fechando o Festival de Vacances, Matusquella leva o projeto para os jardins do C’est la Vie. A atração sugere a troca de um verso por um saquinho de pipocas com sabores muito especiais, produzidos pela palhaçapipoqueira. É uma oportunidade de colocar a garotada mais próxima da poesia brasiliense e brasileira. Às 17h, com entrada franca.
Mauro Kury
DIA&NOITE
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Compreender como se faz um projeto audiovisual, da sinopse ao financiamento. Essa é a proposta do 4º Icumam Lab, que selecionará no mínimo três inscritos em longas-metragens ficcionais ou documentais e três projetos de série para TV. Os produtores e diretores selecionados terão a oportunidade de receber consultoria e assessoria individual gratuitas de profissionais atuantes no mercado do audiovisual nacional. “A região CentroOeste é foco de atuação do Icumam Lab, que representa uma oportunidade para qualificação de profissionais e de aprimoramento e projetos. Caminhando para sua 4ª edição, os resultados começam a aparecer”, explica a diretora do Icumam, Maria Abdalla. Segundo ela, já existem nove projetos que passaram pelo laboratório e estão nas fases de financiamento, produção e finalização, como o brasiliense Capitão astúcia, de Filipe Gontijo. As inscrições para o 4º Icumam Lab – Laboratório de Fomento à Produção Audiovisual no Centro-Oeste são gratuitas e podem ser feitas até 17 de fevereiro em http://www.icumam.com.br/lab_2017/. O laboratório acontecerá de 3 a 8 de abril na Pousada Monjolo, a 30 quilômetros de Goiânia, no município de Nerópolis. Informações: (62) 3218.3779.
históriadaMPB Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth são considerados os pais da Música Popular Brasileira. Depois deles vieram Pixinguinha e o chorinho, o samba, as marchinhas de carnaval, os sucessos da era de ouro do rádio, a Bossa Nova, a Tropicália, o rock e muitos outros gêneros. Um passeio por esse rico universo musical é o que propõe o novo curso do ECAI (116 Norte), a se realizar entre 16 de janeiro e 22 de fevereiro. Serão 12 aulas, começando com a compositora e pianista Chiquinha Gonzaga e terminando no possível futuro da MPB, em duas aulas por semana, às segundas e quartas, às 20h. A primeira aula é gratuita para quem não conhece o ECAI, dirigido pelo maestro Alexandre Innecco. Informações em http://www.alexandreinnecco.com/nova-historia-da-mpb.
prêmioliterário
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talentosdoaudiovisual
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filmefrancêsonline Até o fechamento desta edição os organizadores da 7ª edição do My French Film Festival ainda não tinham divulgado a relação dos filmes legendados que poderão ser assistidos, via internet, entre 13 de janeiro e 13 de fevereiro. Nesse período, os internautas terão à sua disposição 28 produções francesas (curtas e longas-metragens), filmes francófonos belgas, suíços e canadenses, mais um filme clássico. Sorte nossa que moramos na América Latina, região que, juntamente com os espectadores da Rússia, Polônia, Romênia, África e Índia, está isenta de pagamento de taxas para ver os filmes. O cineasta argentino Pablo Trapero (de Elefante branco e O clã) preside o corpo de jurados composto por cineastas e integrantes da imprensa estrangeira. Os internautas, por sua vez, podem votar para escolher o vencedor do Prêmio Lacoste de Público. O acesso a todos os filmes pode ser feito em http://www.myfrenchfilmfestival.com/pt/.
Até 17 de fevereiro os novos escritores brasileiros podem inscrever seus textos no Prêmio Sesc de Literatura. Os vencedores terão suas obras publicadas pela editora Record, responsável pela edição e distribuição, com tiragem inicial de dois mil exemplares. Para participar, os candidatos deverão apresentar os originais de romances e as coletâneas de contos inéditos. O processo seletivo será realizado via internet, desde o envio de informações pessoais até a obra digitalizada. Todos os trabalhos são submetidos à avaliação das comissões julgadoras compostas por escritores, especialistas em literatura, jornalistas e críticos literários definidos pelo Sesc. Os vencedores serão anunciados em junho próximo. Franklin Carvalho e Mário Rodrigues foram os vencedores do Prêmio Sesc 2016, nas categorias Romance e Conto, respectivamente, com os livros Céus e terra e Receita para se fazer um monstro. Lançado pelo Sesc em 2003, o concurso revela novos escritores, 23 até agora. O edital completo estará disponível em www.sesc.com.br/premiosesc.
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GRAVES&AGUDOS Geraldo Pestalozzi
Primeiras
atrações do ano POR HEITOR MENEZES
“E
ste ano não vai ser igual àquele que passou”. Não bastasse a música popular ter sempre a linguagem certa para as horas incertas, essa marchinha de Carnaval, de autoria de Paulo Sete e Humberto Silva, sucesso em 1968, ainda tinha como complemento a terrível estrofe “eu não brinquei, você também não brincou”. De onde se conclui que os autores queriam dizer que foi ruim para todo mundo, não só para o casal referido nos versos. Sejamos otimistas, ruim foi o passado, pois para o presente o ano começa auspicioso em termos de atrações musicais capazes de nos tirar da inércia e cometer o estranho ato de pagar um ingresso para ver e ouvir artistas cujo meio de expressão é a música. Portanto, considere que valem a pena as seguintes atrações neste modorrento verão brasiliense: Vanessa da Mata – Centro de Convenções Ulysses Guimarães, 20/1, às 23h. Em 2017, a cantora e compositora nascida no Mato Grosso comemora 15 anos de lançamento do primeiro disco. Lembram dos sucessos Não me deixe só e Nossa canção? Essa última, inclusive, pode até ser cover do Roberto Carlos, porém o autor é o Luiz Ayrão. Ok, Vanessa da Mata está de volta à cidade com o show Delicadeza. Acompanhada de violão/guitarra (Maurício Pacheco) e piano (Danilo Andrade), a cantora mostra porque o amadurecimento nos leva às sendas da tranquilidade e da delicadeza. 24
Arnaldo Antunes – Caixa Cultural, dias 26, 27 e 28/1, às 20h, e 28/1, às 19h.
Vanessa da Mata
No meio artístico, os rótulos chegam a ser ofensivos. Mas, em se tratando de Arnaldo Antunes, que muitos ainda veem como um ex-Titã, dizer que o cara é concretista e pós-moderno pouco define, mas soa como elogio, pois os moldes tradicionais da canção já não cabem diante da aventura linguística e de estilo em que se lançou o cantor e compositor nascido em São Paulo há 56 anos. Antunes retorna a Brasília para temporada de quatro dias no pequeno teatro da Caixa. Para quem curtiu o Ao vivo lá em casa (2010), o iê-iê-iê antunesiano leva o nome de A casa é sua. É o que ele diz: “A casa é de vocês”. Entre e relaxe, mas seja um bom convidado. Paul Gilbert Trio – Clube da APCEF, 27/1, às 21h. O primeiro mês do ano nos traz a primeira grande atração internacional. Trata-se do trio comandado pelo guitarrista norte-americano Paul Gilbert, um baita virtuoso no mundo do hard rock/
heavy metal, associado a nomes consagrados como Racer X e Mr. Big, com o qual conheceu sucesso internacional, em 1991, com a balada To be with you. Quer saber? É pauleira instrumental de primeiríssima, ora blues, ora jam, ora rock’n’roll, o cara come a guitarra, e a cozinha infernal tenta acompanhar, o que prova que o espírito de Paganini até hoje anda por aí entrando e saindo de corpos. Por que guitarristas? Boa pergunta. Macakongs 2099 – República do Rock (Vicente Pires), dia 4/2. E por falar em hardcore, onde anda você? Quem sabe são os Macakongs 2099, grande instituição punk de Brazza City, que continua botando pra lascar. Desta vez, o abalo sísmico vai ser na antiga colônia agrícola (e atual caos urbano) Vicente Pires, mas ali pros lados da EPTG, fácil chegar e sair. É o aniversário do baixista Phu. Convidados de alto nível: as bandas Colizzor, Ingrena e Velha Carcomida.
Domingo no parque POR JOSÉ MAURÍCIO FILHO
O
Fechando o concerto, a presença sempre cativante de Fernanda Takai. Desta vez, a base da apresentação da mineira deve ser seu mais recente disco, Na medida do impossível, o quarto da carreira-solo e o primeiro no qual apresenta sua faceta de compositora, em músicas como a suave Partida, Seu tipo (parceria com Pitty) e De um jeito ou de outro (com Marcelo Bonfá). Com uma carreira sólida na MPB, tanto em voo solo quanto como vocalista da banda Pato Fu, Fernanda Takai confia tanto no seu taco que não deixa de se arriscar, fazendo versões para músicas como Amar como Jesus amou, do Padre Zezinho, Heal the pain, de George Michael (que virou Pra curar essa dor), e Como dizia o mestre (de Benito de Paula). Mas também deve dar uma passeada por alguns de seus maiores sucessos. No palco, estará acompanhada de Larissa Horta (baixo e vocais), Lenis Rino (bateria e vocais), Lulu Camargo (teclado e gaita) e Tiago Borba (guitarra, violões e vocais). Todos os sons
12/2, às 15h, na Praça das Fontes do Parque da Cidade (entrada pelo estacionamento 9). Apresentações musicais a partir das 17h. Entrada franca. Mais informações: 3349.3937.
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terceiro e último show da série Todos os sons iniciada em dezembro acontece dia 12 de fevereiro, já em clima de Carnaval. Vai ser difícil ficar parado ouvindo as músicas da recém-criada banda brasiliense Consuelo (nome que a cantora, compositora e percussionista Claudia Daibert criou para se apresentar à frente de um super time de instrumentistas), dos paulistas da Samuca e a Selva (quem não conhece vai se surpreender) e da mineira Fernanda Takai, com sua voz doce e delicada, mostrando também seus dotes de compositora. Como nos dois outros shows da série, o local é a Praça das Fontes do Parque da Cidade, perto do estacionamento 9. A música começa com o som eclético de Consuelo, o novo momento da carreira da cantora brasiliense Claudia Daibert. A artista já é bem conhecida daqueles que acompanham o panorama musical da cidade. Foi vocalista das bandas As Minas do Rei Salomão, Trio Perfumado e Casa de Farinha (com a qual fez turnês pelo Brasil e exterior), participou de algumas outras de levada mais experimental, como Toró de Palpite e Cachorros das Cachor-
ras, e foi uma das fundadoras do núcleo Criolina. Nessa nova fase, ela reuniu alguns dos melhores músicos de Brasília para um trabalho que passeia pelos ritmos latino-americanos, pelo folk, rock e até o flamenco. Consuelo conta com Vavá Afiouni (baixo), João Ferreira (violão), Marcus Moraes (guitarra), Esdras Nogueira (sopros) e Thiago Cunha (bateria). Uma das características da banda paulista Samuca e a Selva também é a grande qualidade instrumental. Os saxofonistas Bio e Kiko Bonato, o trompetista Felippe Pipeta, o trombonista Victor Fão, o percussionista Fábio Prior, o baterista Guilherme Nakata, o tecladista Marcos Mauricio, o baixista Thiago Buda, o vocalista e flautista Samuel Samuca e o guitarrista Allan Spirandelli são todos músicos experientes que resolveram se juntar para fazer um trabalho diferenciado, que eles definem como “groove latino-americano”, numa alusão à fusão de ritmos. A proposta eclética está implícita no próprio nome da banda. Selva faz referência ao grande leque de influências sonoras do grupo, que mistura latinidade com o som afro, soul, samba rock, afrobeat, funk, jazz, forró, baião, maracatu e coco. Som dançante do começo ao fim.
Fernanda Takai
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Heitor Menezes
GRAVES&AGUDOS
O primeiro piano E
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le é, provavelmente, o Santo Graal dos pianos de Brasília, o primeiro exemplar do “rei dos instrumentos” aqui no Sítio Castanho*, ressoando música, não qualquer música, numa época em que Brasília, como escreveu Vinicius de Moraes na letra da Sinfonia da Alvorada, “era o ermo, antigas solidões sem mágoa, o altiplano, o infinito descampado”. Estamos falando de 1957 a 1959, pré-inauguração de Brasília, tempo em que se pode chamar de epopeia aquela aventura de desbravar o sertão e fazer brotar no cerrado vermelho a nova capital do Brasil. Pois nem tudo naquela época foi a poesia concreta dos caminhões e betoneiras e prédios lentamente ocultando o horizonte e nem o violão de Dilermando Reis nos momentos de descontração no Catetinho. Houve música tocada ao piano, provavelmente por um etílico Bené Nunes, o favorito de Juscelino Kubitschek, que vinha, via aérea, do Rio de Janeiro especialmente para abrilhantar as noites frioren-
tas e de silêncio de uma Brasília de barro revirado, cidade que sequer tinha nascido, mas já era a “capital da esperança”. Um piano inglês Bentley, modelo tipo armário, aqui chegou vindo de Goiânia junto com a história de sua dona, a professora de música Maria de Lurdes Cruvinel Brandão, a primeira professora de música de Brasília. “A Neusa França, também professora de piano, chegou aqui em 1960, três anos depois de mim”, ressalta a professora de musicalização Maria de Lurdes. O Bentley, de faia e imbuia, fabricado em 1946, está em sua residência, ali no início da Asa Sul, e se encontra em perfeito estado de conservação, segundo atesta o luthier e afinador de pianos Rogério Resende. “Esses pianos são valentes, têm um bom projeto e sonoridade alta para o tamanho reduzido. São instrumentos que desafinam pouquíssimo”. E se dissermos que foi nesse piano que Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes compuseram a Sinfonia da Alvorada e, de quebra, a clássica Água de beber (“Água de beber/Água de beber, camará”), quando aqui estiveram, em 1959?
A professora Maria de Lurdes não sabe responder a essa questão, pois seu instrumento era levado emprestado para as “noitadas do presidente” e ela, com três crianças para cuidar, na remota Candangolândia, não frequentava os saraus promovidos por JK. “Não sei do Tom Jobim, sei que o Bené Nunes vinha do Rio e tocava nele. Eles vinham até a minha casa e levavam o piano, depois o devolviam”. No texto que acompanha o álbum Sinfonia da Alvorada, Vinicius de Moraes dá o testemunho da época e fala do piaPaulo H. Carvalho/CB/Reprodução
POR HEITOR MENEZES
Fotos: Jader Neves
no que ele e Tom Jobim usaram durante aquele dolce far niente, como define os dez dias como hóspedes do Catetinho: “Falei em piano. É fato. João Milton Prates [piloto da FAB e amigo de JK] providenciou-nos um piano, que veio de Goiânia. Ajudados por Luciano [caseiro do Catetinho] e três candangos, nós o subimos a braço para o Catetinho, com mais medo de que seus degraus cedessem ao peso do que de um enfarte do miocárdio. Naturalmente, pois o Cateti-
nho é hoje um monumento histórico, e a estátua do fundador de Brasília parecia apreensiva, sobre seu pedestal no terreiro em frente, com os resultados de nossa operação”. As poucas fotos que mostram Tom e Vinicius ao piano, no Catetinho, não permitem dizer com exatidão se o Bentley da professora Maria de Lurdes é o mesmo usado pela dupla. “Será que foi o meu piano?”, indaga. Quanto ao piano que se encontra no
Museu de Planaltina, e que por diversos motivos pode reivindicar para si o título de “primeiro piano” de Brasília, a professora Maria de Lurdes afirma: “Não sei se ele chegou antes do meu, mas não podemos dizer que foi o primeiro de Brasília, pois Planaltina já estava aqui antes da inauguração da capital”. Nome atribuído originalmente ao *“quadradinho” onde seria construída a nova capital do Brasil.
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DIÁRIODEVIAGEM
Natureza
bruta e bela
TEXTO E FOTOS SÚSAN FARIA
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Chile é um país cheio de mistérios, lendas, lutas e natureza bruta. País de muito mar, relevos, cordilheiras, desertos, ventos e magnetismo na Patagônia, vulcões e tsunamis. Durante nove dias, junto com a amiga Dulcineide Camargo, conheci Santiago do Chile, quase aos pés da Cordilheira dos Andes, onde a vida tem ritmo acelerado nas principais avenidas, com vaivém constante de trauseuntes tomando mote con huesillo (suco de pêssego e grãos de trigo cozidos, parecidos com milho), passeando e observando equilibristas, palhaços, artistas de rua, danças folclóricas, ou lotando os restaurantes, bares, mercados e o comércio em geral. Santiago é repleta de igrejas antigas e monumentos históricos. Alguns desses monumentos foram substituídos por espigões, mesclando o que não poderia existir: o moderno lado a lado com a memória da cidade, no centro da capital, onde a natureza também já provocou enchentes e terremotos, arrasando com centenas de edificações, muitas reerguidas ou fortificadas. Na Plaza de Armas, continuam a imponente Catedral Metropolitana, o Museu Histórico Nacional, o Museu de Arte Precolombino e o Edifício dos Correios.
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Embalse El Yeso
Muitas igrejas estão próximas umas das outras, porque o lema dos conquistadores espanhóis no Chile foi conquistar e catequizar. Quando em Santiago, nascida em 1.541, viviam 80 mil habitantes, já se somavam 13 congregações da Igreja Católica na cidade, pregando para os incas e os mapuches, que sempre adoraram não Jesus Cristo, mas uma mulher, Pachamama. Quem entra na Catedral Metropolitana de Santiago pode ver a escultura de um Jesus negro, magro, com características indígenas, para persuadir os nativos da região. Fizeram imagens e esculturas de santos não mais com auréola, mas com sol na cabeça, mais familiar aos indígenas. Histórias essas contadas e mostradas pelos guias da prefeitura municipal. No ciclo da dominação, os que se revoltaram sofreram empalhamento ou tortura. Séculos mais tarde, o país foi amordaçado pela ditatura militar, que deixou cicatrizes difíceis de apagar. Contudo, o Chile de hoje é alegre, com economia, educação e turismo prósperos. Conhecemos Santiago e arredores, como as vizinhas Viña del Mar e Valparaíso – onde funciona o Congresso Nacional do Chile, desde a gestão do general
Augusto Pinochet. Não falta aonde ir em Santiago, cheia de barzinhos, bistrôs e shoppings modernos, como o Costanera Center, onde fica o mirante mais alto da América Latina. Obrigatório visitar o Parque Metropolitano e o Cerro Santa Lucia, declarado monumento nacional em 1983. A prefeitura de Santiago instituiu
desde 2010 tours gratuitos, simultaneamente em português, espanhol e inglês, para turistas e estudantes. São cinco guias e cinco passeios a pé para turistas e 11 para escolas, com duração entre 1h30 e 3h cada um. Acompanhamos três desses passeios, saindo às 10h da Plaza de Armas: o das igrejas; o dos mercados; e o passo a passo, percorrendo Catedral Me-
O velho e o novo no centro de Santiago: a Catedral Metropolitana bem ao lado de um modernoso espigão.
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DIÁRIODEVIAGEM
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tropolitana, Congresso Nacional, Palácio de Tribunais, Bolsa de Comércio e Palácio de La Moneda, onde despacha a presidente socialista Michelle Bachelet. Os outros dois tours saem do Cerro de Santa Lucia, todos impregnados da história e da cultura do país. O Chile tem mais de quatro mil quilômetros de costa marítima banhada pelo Oceano Pacífico. Seus primeiros habitantes viviam junto às águas, alimentando-se de pescados. Fala-se muito nas belezas do deserto do Atacama, na região norte, onde estão as cidades de Calama e Autofogasta e o Rio Chuquicamata, uma mina de cobre a céu aberto. Bem perto de Santiago estão o Vale Nevada, o Cajon del Maipo e vinícolas tradicionais, como a Concha y Toro e a Undurraga, entre outras, onde se pode ir por conta própria ou com serviço de turismo. No Embalse El Yeso, junto à Cordilheira dos Andes, a 2.700 metros de altitude, encontra-se a represa de águas límpidas que abastece a capital. Lugar de silêncio e contemplação de uma vista deslumbrante, ao qual se tem acesso por uma estrada estreita, cheia de curvas perigosas. Os preços no Chile não são exatamente atrativos: uma refeição simples custa entre 7 mil e 15 mil pesos, por volta de R$ 40 a R$ 100, sem luxo ou sofisticação. Um táxi do centro da capital para o aeroporto custa 16 mil pesos (cerca de R$ 90) e para subir ao mirante do Costanera Center o turista paga 8 mil pesos (mais de R$ 40) nos domingos ou 5 mil pesos nos demais dias. Interessante é levar reais na viagem. A troca por pesos nas casas de câmbio do centro de Santiago é mais em conta do que nas do Brasil. Entretanto, é bom levar alguns pesos para pagar despesas de chegada, como táxi e refeição. Há programas interessantes e gratuitos – ou quase gratuitos – na capital, como os espetáculos do Centro Cultural Gabriela Mistral e o tour Santiago Popular, com os guias da prefeitura, para viver a identidade da cidade, percorrendo a Igreja de Santo Domingo, o Mercado Central, a Estação Mapocho e La Piojera. Interessante visitar também os museus Violeta Parra, de Arte Colonial de San Francisco e de Belas Artes, ou ver a troca de guarda em frente ao Palácio de La Moneda, tradição que se mantém desde 1851, dia sim, dia não, pela manhã. A entrada é gratuita no Museu Histórico Nacional e na Catedral Metropolitana, que tem 14 altares, 18 vitrais de estilo Munich, elementos barrocos e neoclassicistas, muito mármore e madeira pintada e dourada. Interessante observar os altares dos dois primeiros santos chilenos – Santa Teresa de los Andes, presente em quase todas igrejas de Santiago, e San Alberto Hurtado. Não se pode ir ao Chile sem provar o mote con huesillo, as empanadas, os pratos com peixe fresco e o suco de framboesa. Visitar as casas do poeta Pablo Neruda, no bairro Bellavista ou em Valparaíso, são parte do roteiro. No caminho para Valparaíso podemos ver a pouca distância leões marinhos e o início do deserto. O Chile possui mais de dois mil vulcões, dos quais cerca de 90 estão ativos, dentre eles o Llaima, o Villarrica e o Cabulco, todos no sul. Os dois últimos entraram em erupção em 2015 e forçaram a evacuação de milhares de pessoas das proximidades. Todos são monitorados. Os relatos sobre terremotos amedrontam. Ouvimos muitas vezes a frase “somos um país sísmico”. Os chilenos adultos já enfrentaram mais de um terremoto, como o enfermeiro Patrício Quispe Soza, 43 anos, residente em Santiago, que presenciou três: “Não queira imaginar. Meu prédio parecia estar se retorcendo e eu não podia fazer nada”, disse.
Peixes em abundância no Mercado Central
Dança folclórica no centro de Santiago
Museu de Belas Artes
Portanto, qualquer viagem ao Chile envolve o risco de se deparar com terremotos, que têm ocorrido em média a cada dez anos. Mas, quando se chega a Santiago, a ordem é se divertir, conhecer a cultura e a história do país e contemplar as belezas com que a natureza presenteou o país. Só não entendemos como um povo tão civilizado e evoluído consegue deixar tantos cães, a maioria de raça, abandonados nas ruas, conhecidos como perros callejeros. Uma realidade que tem sido questionada nas redes sociais.
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LUZCÂMERAAÇÃO
Hedwig – Rock, amor e traição
Sexualidade
sem preconceito
POR SÉRGIO MORICONI
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ocê já deve ter entendido que não se trata dos chamados “filmes de gênero” (terror, thriller, policial, comédia etc) e sim de obras cujas temáticas tratam da questão das identidades sexuais e/ou psicológicas que os indivíduos assumem na sociedade. É o tema da hora, muito embora essa preocupação tenha ganhado grande impulso e relevância a partir do final dos anos 50 e, especialmente, nos anos 60 do século passado, com o movimento da contracultura. Não vamos nos esquecer que a ativista existencialista Simone de Beauvoir declarou em seu livro O segundo sexo que “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. Um outro, eu mesmo – Variações sobre gênero, em cartaz no CCBB de 20 de janeiro a 13 de fevereiro, vai discutir homossexualidade, gays, lésbicas e todos os tipos de transgêneros não só nos filmes a serem apresentados como também num debate que inclui a
atriz franco-brasileira Clara Choveaux. O curador Gustavo Galvão foi muito feliz ao incluir na mostra o clássico Quanto mais quente melhor (1959), de Billy Wilder, com seu emblemático e burlesco final. Em sua antológica última cena, o personagem masculino Osgood Fielding III, vivido por um inesquecível Joe E. Brown, pede em casamento um travestido Jack
Tudo sobre minha mãe
Vinte longas e cinco curtas, de 12 diferentes países, discutem questões de gênero em mostra no CCBB.
Lemmon. Jerry/Daphne (Lemmon) responde num tom ao mesmo tempo confessional e tresloucado: “Mas eu sou homem!”. A réplica de Osgood é impagável: “Nobody is perfect”. Para quem não se lembra do enredo dessa hilariante comédia, Jerry, músico desempregado numa época de recessão, aceita emprego numa orquestra só de garotas (entre elas uma
deslumbrante Marilyn Monroe) e se transforma em Daphne. “Ninguém é perfeito” talvez soe de uma ambiguidade politicamente incorreta nos dias que correm. O tipo de finesse sarcástica de Wilder, norte-americano de origem judaico-polonesa criado em Viena (o que quer dizer muita coisa), de fato não prevalece hoje, a não ser de forma escrachadamente genial na obra de Almodóvar, presente na mostra com Tudo sobre minha mãe. Com Almodóvar é assim: se alguém contar o enredo de Tudo sobre minha mãe, ou de muitos outros de seus filmes, para pessoas mais conservadoras, elas poderiam ficar horrorizadas. No entanto, milagrosamente, não ficam! Qual o segredo? Uma possível resposta pode ser a habilidade do diretor em colocar na forma de melodramas caricatos seu personalíssimo cinema transexual e utópico. No mundo criado pelo diretor – pasmem! – o preconceito, ou qualquer das ideias cristalizadas que possamos ter a respeito de valores morais, perdem completamente o sentido. Tudo sobre minha mãe fala sobre vida e morte, sobre novas formas possíveis de tolerância sexual no final do Século XX. Almodóvar antecipa dilemas que o novo milênio colocaria como fatos estabelecidos. Filmes como Indian song, de Marguerite Duras, Orlando, a mulher imortal, de Sally Potter, Hedwig – Rock, amor e traição, de John Cameron Mitchell, Tomboy, de Céline Sciamma, Billy Elliot, de Stephen Daldry, e Minha vida em cor-de-rosa, de Alain Berliner, abordam muitos dos novos paradigmas, problemas, perplexidades e impasses assumidos pelas novas sexualidades. Esses filmes, de alguma maneira, fazem contraponto com o brasileiro Madame Satã, de Karin Aïnouz, que retrata a vida do legendário homossexual transformista marginal da boemia carioca na primeira metade do Século XX. Ao contrário da maioria dos filmes brasileiros do milênio anterior, o filme de Aïnouz evita a representação do gay como uma “bicha” grotesca, procedimento que prevaleceu nas chanchadas, nas pornochanchadas e mesmo nos pouquíssimos filmes de cineastas oriundos do Cinema Novo que contavam com tipos humanos semelhantes. O sociólogo e filósofo Michel Foucault foi uma dos primeiros a afirmar que foi no fim do Século XIX que a sexualidade passou a se constituir cada
Madame Satã
Indian song
vez mais como um elemento fundamental na formação do sujeito moderno. Isso desembocaria “num processo de valorização da intimidade que já vinha se processando desde o Romantismo”. A sexualidade desse sujeito moderno, ele diz, conduziria a um aprofundamento cada vez maior dessa matéria em dezenas de disciplinas e campos do conhecimento, entre elas a psicologia, a psicanálise e a sexologia. Num contexto contemporâneo, está claro que mesmo a cultura de massas, representada pelas mídias, soube capitalizar esse interesse, produzindo uma quantidade enorme de programas de televisão e de rádio, sites na internet voltados para a discussão da sexualidade, não raras vezes descambando para vulgarização e espetacularização do privado. O professor Denilson Lopes, da UFRJ, lembra mais uma vez que é nos anos 60, no contexto da contracultura, que os movimentos feministas, gays, lésbicos e transgêneros passam a ter um organizado ativismo político, articulando a
questão de gênero com as propostas comunistas, socialistas, anarquistas e libertárias. Nesse contexto “emerge um novo intelectual engajado, não só definido pelas questões de nação e classe, mas também pelas de etnia e gênero”. Para ele, a questão seria como escapar de um nicho muito restrito e abrir um diálogo com o resto da sociedade. A mostra do CCBB não deixa de ser um instrumento nessa direção. A bem da verdade, as identidades de gênero fazem parte de um movimento de contestação político-comportamental cuja essência – como bem declarou Mick Jagger ainda nos anos 70 – está no fato de que, “quando você contesta tudo, você passa a contestar inclusive a sua sexualidade”. Um outro, eu mesmo – Variações sobre gênero no cinema
De 20/1 a 13/2 no CCBB (SCES, Trecho 2). Ingressos: R$ 4 e R$ 2, exceto para as exibições de India song, Laurence para sempre e Madame Satã, que custam R$ 8 e R$ 4. Mais informações: 3108.7600.
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CRÔNICADACONCEIÇÃO
Crônica da
Conceição
2017 razões para não esmorecer
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e 2017 chegou anunciando o caos, há muitas boas razões para não esmorecer. Se o horizonte político próximo e distante prenuncia tempestades ameaçadoras, ainda há o horizonte próximo, o da vidinha de cada um de nós, que pode ser boa a despeito da ruindade geral. Levemos em conta, também, o imprevisível, sobre o qual ninguém tem domínio. Uma amiga, de esquerda desde criancinha, costuma dizer que a crise brasileira renovou nela o ímpeto para as boas lutas políticas. Haja ímpeto diante do tamanho da buraqueira em que a banda conservadora do Brasil nos meteu. Mas é à esperança que esta última página pretende se dedicar. Até porque, no fundo do poço, só resta o desejo de que um fio de luz apareça para abrir os caminhos. Por isso, me propus a inventar 2017 razões para não esmorecer. (Abro parênteses para dizer que uma coisa é uma coisa; e outra coisa, outra coisa. A vida pessoal nada tem a ver com a conjuntura política. Ouvi mais de um relato, na minha bancadivã, de que o ano de 2016 foi pessoalmente muito bom. Eu não tenho do que reclamar. Mais um pouco de grana e estaria tudo bem). Algumas das 2017 razões para não
esmorecer estão grudadas em Brasília. Em 2017, completam-se 60 anos do concurso do Plano Piloto e 30 da inclusão da cidade na lista de patrimônio da humanidade. Em janeiro de 1957, o primeiro milhar de candangos já estava no quadradinho. Seis construtoras já estavam instaladas a mais de mil metros de altitude. Quando o mês acabou, já se contavam 80 edificações – o Palácio de Tábuas, o galpão da Novacap, as casas de madeira dos primeiros engenheiros, os acampamentos de lona dos candangos. Eleito e empossado sob ameaças sucessivas de golpes, Juscelino não se intimidou. Ao contrário, insistiu em um programa de desenvolvimento que incluía a construção de uma nova capital para o Brasil. Ao longe, ouvia-se a ira insana de Carlos Lacerda, que pretendia “libertar o Brasil de bandidos políticos”. Só um homem com a envergadura de Juscelino para dar conta de navegar no caos político (o ano de 1955 é considerado um dos mais dramáticos da República), só ele para dar conta de enfrentar e driblar, dependendo da circunstância, o solo pantanoso da política brasileira. Com os olhinhos rasos e sorridentes, Juscelino pegou o leão pela juba e ofereceu aos brasileiros a crença em si
mesmos e no seu país. Lançou um concurso público para escolher o projeto da nova capital e mandou ver. Se tinha medo, não demonstrava. Havia nele uma combinação de coragem, arrojo, alegria e afetividade que ia abrindo os caminhos por entre a gosmenta política brasileira – com quem ele compunha e negociava, na medida da necessidade e das possibilidades. Sessenta anos atrás, o Brasil vivia uma crise política grave. Um ano e meio antes, Getúlio se suicidara para evitar que lhe tomassem o poder. Golpe de mestre do caudilho. Sessenta anos atrás, os brasileiros efetivamente começaram a construir uma improvável capital no meio do nada. Os goianos não gostam da expressão “no meio do nada”, porque nos arredores havia Formosa, Luziânia, Planaltina. Mas era um cerrado deserto, não há como negar. Trinta anos depois, um governador não-eleito, José Aparecido de Oliveira, meio bonachão, fez o que pôde para reunir lobistas da melhor qualidade e levá-los a Paris para convencer a Unesco de que uma cidade moderna poderia, sim, ser patrimônio da humanidade. Ainda faltam 2015 razões... fica por conta de cada um. Como no caso de Juscelino e de José Aparecido, tudo é possível, embora improvável.
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