Ano XVI • nº 263 Maio de 2017
R$ 5,90
Filé mignon ao molho de gengibre com pimenta rosa, da Cantina da Massa
Delícias em dobro
Pratos compartilhados são a melhor novidade do Brasil Sabor 2017
Feira Gastronômica 03 a 04 de Junho das 11h às 17h no Parque da Cidade estacionamento n° 7 Chefs Renomados
Pratos Especiais
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Sabores são feitos para partilhar 18 de maio a 4 de junho
#MaisPorMenos
Melhores restaurantes da cidade com pratos para compartilhar a preços promocionais. Realização:
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Acervo Atlântida Cinematográfica
EMPOUCASPALAVRAS Nunca antes na história deste país a palavra compartilhar esteve tão na moda. Nas onipresentes redes sociais, compartilha-se de tudo um pouco: da foto de um bebê fofinho a piadas nada leves sobre os políticos da hora. E é justamente a palavra compartilhar que se apresenta agora como a grande novidade do Brasil Sabor, que começa nesta quinta-feira, 18, em 81 restaurantes da cidade. Em sua 12ª edição, o festival oferece pratos a R$ 49, R$ 69 ou R$ 89 que saciam a fome de duas e, em alguns casos, até três pessoas que não tenham apetite de leão (página 6). É ainda a palavrinha mágica compartilhar que estará presente na oitava edição do Chef nos Eixos, um grande encontro no Eixão Sul no qual chefs e seus clientes compartilham boa gastronomia e bons papos num domingo de pura descontração. A proposta é oferecer pratos ao preço máximo de R$ 29, saboreá-los ao melhor estilo piquenique e ainda conversar com os chefs numa pracinha montada especialmente para esse encontro (página 8). Se você, entretanto, preferir exercitar seus dotes culinários em casa mesmo, saiba que acaba de ser inaugurado o Eu chef – Alta Gastrô, onde é possível comprar pratos pré-prontos preparados com a técnica sous vide (a vácuo) e montá-los como quiser, usando sua própria criatividade. De lá mesmo poderá trazer azeites especiais da marca Vom Fass e ingredientes sofisticados para fazer bonito na sua cozinha, tais como trufas brancas, pimenta jalapeño, funghi, romã e outras delícias mais (página 13). Mas, como nem só de comida se preenche a vida, há também que se alimentar a alma com arte e cultura, conforme nossa revista propõe desde o seu nascimento, há 15 anos. Uma boa sugestão é a mostra Mundez, em cartaz no Museu da República até 4 de junho. Ao lado de obras de modernistas consagrados como Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Volpi, Ruben Valentin, Heitor dos Prazeres, Orlando Teruz e Cícero Dias estão trabalhos de artistas brasilienses contemporâneos, como Bené Fonteles, Renato Matos, Josafá Neves, e de grafiteiros como Antonio Delei, Brixx Furtado e Flávio Soneka. É ou não é um compartilhar artístico muito bem sacado pelo curador da mostra, Wagner Barja? (página 22). Alimento para a alma também é assistir a qualquer um dos shows de uma temporada musical bem eclética que tem nomes como Fagner, Bibi Ferreira, Steve Vai e a dupla Roberta Miranda e Rolando Boldrin, além de outras combinações peso-pesadas, como a que reúne Jorge Ben, Céu e Skank num mesmo palco. Um verdadeiro compartilhar musical você encontra na página 24. Boa leitura e até junho! Maria Teresa Fernandes Editora
32 luzcâmeraação Mostra comemorativa do centenário de Grande Othelo traz a Brasília 29 filmes em que ele atuou
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águanaboca picadinho garfadas&goles pão&vinho dia&noite galeriadearte graves&agudos brasiliensedecoração queespetáculo crônicadaconceição
ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14, Conjunto 2, Casa 7, Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa Carlos Roberto Ferreira, sobre foto de Rafael Lobo/Zoltar Design | Colaboradores Alessandra Braz, Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre Franco, Ana Vilela, Cláudio Ferreira, Conceição Freitas, Elaina Daher, Heitor Menezes, Laís di Giorno, Lúcia Leão, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Ronaldo Morado, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Teresa Mello, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle | Fotografia Rodrigo Ribeiro Para anunciar 99988.5360 | Impressão Editora Gráfica Ipiranga Tiragem: 20.000 exemplares.
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ÁGUANABOCA
Escalope de filé mignon ao molho de tamarindo, do Degust Gastropub (R$ 89).
Paella galinheira, do Oliver (R$ 69).
Para saborear a dois
Pratos compartilhados são a principal novidade do Festival Brasil Sabor POR VICTOR CRUZEIRO
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omer é necessário, mas com o tempo aprendemos que comer bem é preciso. A atividade indispensável para nossa vida torna-se prazerosa quando encontramos novos sabores, combinações e lugares. E ter prazer na vida é tão importante quanto ter boa saúde. Por isso, quando nos são oferecidas, ao mesmo tempo, várias oportunidades de comer bem, é preciso aproveitar. Se for a preços acessíveis, então, torna-se um dever.
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Contra-filé grelhado, do Beirute (R$ 69).
Esta é a feliz época do ano em que se inicia mais um festival gastronômico na cidade. A 12ª edição do Brasil Sabor começa no dia 18, quinta-feira, com 81 casas no seu cardápio. Promovido pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o festival acontece simultaneamente em 22 Estados, oferecendo opções para todos os gostos, bolsos e, o que é melhor, tamanhos. O diferencial deste ano é o convite ao compartilhamento. Esse ritual tão enriquecedor ganha um forte incentivo com o oferecimento de pratos maiores, servindo a duas pessoas. A ideia, diz o presidente da Abrasel-DF, Rodrigo Freire, é proporcionar uma experiência inovadora para os clientes. Inovação que começa no preparo dos pratos, feitos com ingredientes daqui, valorizando o produtor local e aproximando-o dos donos de restaurantes. “Muitas vezes, as pessoas só valorizam o que vem de longe por uma falta de conhecimento do que é produzido praticamente na porta de casa”, lamenta. A iniciativa, além de oferecer sabores originais aos clientes, fortalece a cadeia produtiva local e a criação de uma identidade cultural e gastronômica. Os pratos terão três faixas de preços: R$ 49, R$ 69 e R$ 89. Mas antes de pas-
sear por esse roteiro de sabores é preciso falar sobre outra novidade que instiga ainda mais o público a se aventurar por novos pratos. É que o chamado Circuito Gourmet ficou ainda melhor. Agora, quem consumir cinco pratos diferentes pode escolher o que mais gostou e voltar para um repeteco inteiramente grátis (nas edições anteriores o bônus era concedido somente a quem consumisse seis pratos). Explorando a rota de sabores Do italiano ao árabe, do sushi à galinha caipira, do arrumadinho de carne seca de Pernambuco ao lombinho mineiro, o festival promete não decepcionar ninguém. Difícil será decidir que rota tomar e que tipo de explorador você será. Para os convencionais, como Cristóvão Colombo, que já saem de casa com um velho e bom prato em mente, o Feitiço Mineiro (306 Norte) vai oferecer uma costelinha de porco assada coberta com melaço de cana, acompanhada de purê de mandioca, farofa especial e salada (R$ 49). Já o Villa Borghese (201 Sul) vai servir um filé mignon ao molho de redução de Malbec com champignons e ervas, acompanhado de penette ao molho mediterrâneo com azeite extravirgem, alho, tomatinhos, espinafre, pan-
cetta e raspas de limão siciliano (R$ 69). Para os mais ousados, como Marco Polo, que querem se aventurar fora do avião, sem perder de vista as delícias do festival, o Dolce Far Niente, de Águas Claras (Edifício Vila Mall, na Avenida Castanheiras), oferecerá o nhoque de mandioca com ragu de costela (R$ 89), uma releitura italiana do clássico brasileiro Vaca Atolada (o mesmo prato será servido na unidade do restaurante da 215 Sul). Enquanto isso, no Empório da Mata, do Jardim Botânico (Mansões Mata da Anta, chácara 15-A), será possível provar um frango ao molho de queijo Minas curado com risoto de beterraba e castanha de caju (R$ 69). Para os que gostam de explorar por pedacinhos, como Fernão de Magalhães, mas sem perder o espírito de aventura, o festival também oferece petiscos e porções. O Cru Balcão Criativo, localizado no Clube de Golfe, participará do festival com um trio de ceviches: o Clássico (peixe branco com leite de tigre, milho e batata doce), o Sensei (salmão com
Feira Gastronômica Outra ótima novidade: este ano, o festival será encerrado com a Feira Gastronômica Brasil Sabor – Original do Brasil, realizada pela Abrasel/DF em parceria com o Fun Festival. Mais de 30 restaurantes da cidade vão participar da feira com menus especiais a preços acessíveis, nos dias 3 e 4 de junho, no estacionamento 7 do Parque da Cidade.
Lombinho suíno empanado com farinha panko, do Bar Brasília (R$ 49).
shoyu, gergelim, yuzu e alga nori) e o Maido (peixe branco com leite de tigre e creme de coentro com crocante de batata doce). Os três por R$ 69. E o Johnnie Burger (210 Sul) servirá o Parme Burger, recheado com queijo, no pão brioche, com muçarela gratinada, molho pomodoro e bacon em cubos, acompanhado de batatas rústicas (R$ 49). Para um revolucionário, como Neil Armstrong, de gosto intrépido, que não perde a chance de tentar algo completamente novo, há o mix de petiscos exóticos do Godofredo (408 Norte): coxa dianteira de jacaré temperada com gengibre e empanada no coco ralado e gergelim, coxinha de carne de javali temperada com vinho tinto, arancini de risoto com carne de faisão, rolinho primavera de linguiça de javali e pastéis de galinha d’angola (R$ 69). Ufa! E, claro, para quem gosta de grandes aventuras, sem perder de vista a saúde e o cuidado, como Vilfredo Schürmann, haverá opções leves e mesmo vegetarianas (uma importante tendência atual). Na Valentina (310 Sul e 214 Norte) será possível provar uma saudável pizza de muçarela, berinjela e abobrinha, fatiadas bem finas, mais tomate cereja, tomilho, baru picado e orégano (R$ 49). A temporada de viagens e experimentações está aberta. Porque, como é sempre bom lembrar, sempre é tempo de comer bem!
Peixe na telha, do Nebbiolo (R$ 89). Fotos: Rafael Lobo - Zoltar Design
Filé mignon ao molho de redução de Malbec, do Villa Borghese (R$ 69).
Festival Brasil Sabor
De 18/5 a 4/6 em 81 bares e restaurantes do Distrito Federal (relação completa dos participantes, descrição, preços e fotos dos pratos em www.brasilsabor.com.br).
Trio de ceviches, do Cru Balcão Criativo (R$ 69).
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Gilberto Evangelista
ÁGUANABOCA
Boa gastronomia ao ar livre POR TERESA MELLO
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primeiro Chefs nos Eixos de 2017 chega com melhorias no conforto, na sinalização e na infraestrutura para as milhares de pessoas que devem circular no Eixão em busca de gastronomia e lazer no domingo, 21 de maio. Tendas para o público se proteger do sol, espaços dedicados a crianças e a animais de estimação, áreas exclusivas para carnes e cervejas artesanais do DF e de Goiás e ainda música, massagem e selfies ao lado dos profissionais convidados são as principais novidades. Entre os chefs estreantes estão o peruano Marco Espinoza, do Taypá (Lago Sul), a especialista em cozinha espanhola Simone Garcia, do Jamón Jamón (109 Norte), e o sushiman Leonardo Bezerra, do MaYuu, recente-
mente inaugurado em Águas Claras. Nesta oitava edição do Chefs nos Eixos haverá uma pracinha para bate-papo sobre gastronomia, um minimercado e um espaço-saúde com massagem. O público pode se acomodar em tendas de 100 m2 ou fazer piquenique nos gramados ao longo de um quilômetro do Eixo Rodoviário, na altura da 108/208 Sul. A sinalização vai indicar os novos nichos, como o SBS/N (Setor de Bebidas Sul/Norte) e o SDS/N (Setor de Diversões Sul/Norte), este exclusivo para crianças e pets. Segundo a curadora e organizadora, Cris Mardine, cerca de 50 apoiadores estarão disponíveis para prestar informações. São cuidados necessários. Um balanço mostra que, desde a primeira edição, em novembro de 2014, o projeto atraiu 200 mil pessoas, que consumiram 350
mil porções de comida, o que resultou em R$ 5 milhões em vendas. “O Eixão é o quintal das pessoas, e o brasiliense comprou essa ideia de comer uma refeição com diferencial no potinho descartável”, analisa Cris, lembrando que já reuniu até 72 chefs no local e hoje opta por um número entre 30 e 36. “Fica mais confortável para a circulação”, afirma. Entre os pratos preferidos dos visitantes estão os que levam camarão, as carnes nobres e os sanduíches especiais. Com oferta de pratos ao preço máximo de R$ 29, uma das inovações é o aplicativo Bilo. Desenvolvido por uma startup do Rio de Janeiro, a plataforma de vendas permite que o visitante evite as filas numerosas comuns em grandes eventos. Depois de baixar gratuitamente o app, compatível para celular IOS e An-
8 Mara Alcamim
Marco Espinoza
Marcela Pinho
Marcelo Piucco
Rafael Lobo - Zoltar Design Rafael Lobo - Zoltar Design
Quesadillas de costelinha com chili, guacamole e nachos, do El Paso.
Dandá de frutos do mar, camarão seco e frango com arroz de coco, do Carpe Diem.
temperado, jamón na chapa, tomate e pimentão frito (R$ 20). “É um sabor marcante do sul da Espanha, da região de Andaluzia.” Outro chef ansioso pelo evento é Tonico Lichtsztejn, do 400Quatrocentos (410 Norte), que já esteve em três edições: “Vamos virar a noite lá”, avisa, prometendo chegar a partir de meia-noite a fim de montar as 30 churrasqueiras com capacidade para assar 30 quilos de costela cada uma. A carne, quase uma tonelada, será temperada com “sal grosso e carinho” e servida com mandioca, farofa e vinagrete. “Churrasco combina com o brasiliense e o projeto é uma vitrine aberta para a interação com o churrasqueiro”, comenta. No amplo estande desti-
nado a carnes, Tonico vai dividir a área com Marcello Piucco, do El Negro (413 Norte), e Ville Della Penna, do Piccolo Emporium (209 Sul). Uma área de 180 m2 vai abrigar 15 torneiras de chope, das quais jorrarão oito cervejas artesanais feitas no DF e em Goiás. “Vamos fazer um ambiente de madeira e um paredão com as chopeiras”, antecipa Tarso Frota, sócio da Casa Bier. O público poderá escolher uma Colombina e uma Seresta, ambas de Goiás, ou uma Corina e uma Cerrado Beer, do DF. A novidade é a Fiapo, uma cerveja forte, com sabor de manga, lançada em abril. 8º Chefs nos Eixos
21/5, das 10 às 17h, no Eixo Rodoviário, na altura das quadras 108/208 Sul. Fotos: Rafael Lobo - Zoltar Design
droid, é possível ver o cardápio de cada um dos 36 chefs, adicionar ao carrinho, validar por meio de QR Code e quitar no cartão de crédito. “É uma nova experiência de consumo”, resume a organizadora. Os chefs fazem os últimos preparativos e estão ansiosos para vivenciar o que o evento lhes proporciona: o contato com o público, as conversas, os pedidos de selfie, a humanização do profissional. Presente desde a primeira edição, o peruano David Lechtig, à frente da rede El Paso há mais de 20 anos, comenta: “O principal motivo de participar não é o lucro, mas estar perto do público que te conhece ou não e poder conversar”. Emoção garantida é rever uma família que costuma ir ao Chefs nos Eixos de bicicleta. O primeiro encontro ocorreu no El Paso e as filhas do casal têm, hoje, 15 e 13 anos. “Eles passam no Eixão e falam: foi aqui que tudo começou”. Para servir milhares de porções, a produção precisa começar na véspera do projeto: “Faço a preparação 12 horas antes, acordo às 7 horas, monto os carros e entro às 9 horas para servir a partir das 10”, detalha David, que este ano vai apresentar quesadillas de costelinha ceviche mexicano, que leva guacamole, vinagrete (pico de gallo) e geleia de jalapeños da La Pimenteira, fabricada no DF. O ceviche peruano ficará a cargo do estreante Marco Espinoza, do Taypá: “Quero estar mais perto das pessoas, saber o que acham da nossa comida, reforçar a nossa culinária”. Também animada, Simone Garcia, do bar de tapas Jamón Jamón, enxerga a democratização das cozinhas como uma das vantagens do projeto: “O preço é acessível, as pessoas têm a chance de conhecer ingredientes, de abrir o paladar, experimentar novas combinações”. A chef está com o cardápio pronto. Vai levar cone de batata frita com salsa alióli e jamón (R$ 15), vinagrete de frutos do mar com mexilhão, lula e camarão (R$ 20) e o serranito, sanduíche de lombo de porco
9 Lídia Nasser
Gil Guimarães
Simone Garcia
Tonico Lichtsztejn
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Para comer
sem pressa
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rasília tem alguns refúgios não muito à vista, mas próximos e onde a natureza se faz mais presente. É num desses recantos sossegados que se encontra um prédio todo azul onde funciona, há oito meses, o Villa Vegana, restaurante que serve refeições apenas de origem vegetal. Fica no Setor de Clubes Sul, dentro do Espaço Amygo, que abriga também clínicas de massagens terapêuticas, yoga, biodança, meditação e outras atividades esotéricas e holísticas. Além de atender – apenas no almoço – os frequentadores do Amygo, o Villa Vegana é aberto ao público. Em tempos de “carne fraca”, é uma opção interessante para saborear pratos veganos de boa qualidade, criados pelo chef Clever Donizetti de Almeida, um simpático mineiro de Tiros que morou fora do Brasil duran-
te 26 anos. Clever trabalhou em grandes restaurantes de Toronto, Nova York outras cidades norte-americanas do Estados de Nova Jersey, Carolina do Norte e Carolina do Sul.
“Trabalhava em restaurantes convencionais. Aqui conheci a cozinha vegana. Fiquei uma semana no Supren Verda e adorei a comida”, explica o chef, lembrando que a partir desse estágio foi deFotos: Divulgação
POR SÚSAN FARIA
Divulgação
senvolvendo os pratos do Villa Vegana. O que não falta é harmonia e criatividade na cozinha administrada por Clever, como os cortes bem feitos dos legumes, a montagem de tapas, canapés, tortas e rocamboles salgados ou os arranjos da farta e variada mesa em que, por R$ 34,50, o cliente pode se servir à vontade, inclusive de sobremesas como a panacota com damasco. No Villa Vegana primeiro “se come com os olhos” as saladas; depois o feijão à moda da casa; o tutu em forminha com arranjo de couve e tomate cereja por cima; o arroz com ervas, cebola, alho poró e alecrim ou a lasanha com recheio de berinjela; o rocambole de trigo assado com recheio de tofu e banana da terra; o escondidinho de abobrinha com uvas passas e maçã; os wraps com rúcula, manga ou cenoura; os quiches de azeitona e alho poró; a moranga ao forno com shimeji; o alfajor de milho enfeitado com tomate seco e ervilhas; o disco de lentilha e a torre de batata doce, tomate e abobrinha ao molho (esse foi o cardápio do almoço de uma terça-feira). Há outros cardápios, todos veganos, mas alguns pratos contêm glúten. Assim como o Supren Verda, o Villa Vegana pertence ao casal Ulisses e Vanda Beatriz Riedel. Os gerentes são sobrinhos de Vanda que viviam há 20 anos na Europa. Um deles é o professor de Educação Física Cláudio Vaz Vieira, que garante: tudo no restaurante é preferencialmente orgânico. Não se utiliza nada refinado, nem sal, nem açúcar. “Temos muitos clientes fiéis e a cada dia chegam novos. Isso aqui é quase um hotel-fazenda dentro de Brasília”, afirma. Devido à grande procura, principalmente nos finais de semana, o espaço do restaurante, hoje com 120 m2 e capacidade para 62 pessoas, deverá ser ampliado. O médico quiropraxista Marco Iannuzzi é um dos frequentadores assíduos. “A comida é boa e bem feita”, elogia. O ambiente realmente é silencioso, com vista para coqueiros, árvores nativas e de onde se escuta o canto dos pássaros. Um restaurante para ir sem pressa.
Villa Vegana
SCES, Trecho 2, Conjunto 59 (98352.5841). De 3ª a 6ª feira, das 11h30 às 15h; sábado, domingo e feriados, das 12 às 16h.
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Sabores do sertão POR LAÍS DI GIORNO
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o popular ao moderno, do tradicional ao exótico. É assim que a chef Dani Goulart define o Ziriguidum – Bar e Cozinha Regional, recém- inaugurado na 412 Sul. Com a proposta de oferecer uma experiência gastronômica diferenciada, ela fez uma verdadeira imersão pelo Nordeste brasileiro. De Estados como Ceará, Pernambuco e Bahia trouxe pratos típicos do sertão. “Dessa viagem surgiram ideias interessantes, como os dadinhos de tapioca e a cocada de forno”, conta. Para garantir a legitimidade da gastronomia, pequenos agricultores das cidades visitadas fornecem com regularidade os ingredientes originais das receitas servidas no Ziriguidum. “Inicialmente esbarramos um pouco na dificuldade de acesso aos ingredientes, já que queríamos coisas legítimas. Por exemplo: nos restaurantes com toque nordestino aqui em Brasília o feijão fradinho é utilizado como se fosse feijão verde. Mas nós não aceitamos essa opção”, afirma Dani. Com receita tradicional cearense, o Peixe à Delícia apresenta o pescado gratinado com banana frita e queijo coalho
(R$ 65 para duas pessoas). Também importados do Nordeste são a carne de sol na manteiga da terra, acompanhada de baião de dois, paçoca e macaxeira (R$ 79 para duas pessoas), o feijãozinho verde com queijo de coalho no creme borbulhando (R$ 29) e o arrumadinho pernambucano (R$ 32, para até quatro pessoas petiscarem). Mas nem só de comida regional é feito o cardápio. Aqueles que estão atrás de outras opções podem degustar o filé de bacalhau no azeite, bem ao estilo português (R$ 55), o bife de chorizo Black Angus, feito na brasa ao estilo argentino (R$ 49), ou o filé alto ao creme balsâmico com batata rosti e salada de rúcula (R$ 49). Para harmonizar com a gastronomia, o cardápio de bebidas é bastante variado. Os drinks, preparados pelo barman Flavinho Ribeiro, são oferecidos em dose dupla na happy hour, das 18 às 21h, todos os dias da semana. Seguindo a tendência das cervejas especiais, a casa conta com mais de dez opções de rótulos nacionais e importados, além das tradicionais garrafas de 600 ml para quem quer economizar, mas não abre mão de uma gelada. O Ziriguidum surpreende ao misturar modernidade e tradição, em um am-
biente que não é exatamente o esperado de uma casa de cozinha nordestina. Na decoração, elementos simples valorizam o toque de modernidade, como fotos de street art clicadas em várias partes do mundo – Nova York, Madri, Rio de Janeiro ou mesmo Brasília. “Essa ideia surgiu da herança que recebemos do inquilino anterior do imóvel, um imenso painel do Gurulino no nosso portão”, explica Dani, referindo-se ao personagem do artista brasiliense Pedro Sangeon.
ser o chef Brito Júnior
Fotos: Fábio Martins
Você pode
O espaço, que acomoda até 150 pessoas, é descontraído e confortável. Quem deseja um local mais acolhedor pode ficar na área interna, que conta com poltronas e mesinhas de centro. Já aqueles que querem interagir podem ficar em um dos três balcões ou na da área aberta do jardim, ideal para fumantes. Localizada numa quadra com poucas opções gastronômicas, o Ziriguidum promete agradar a quem busca comida de qualidade a preços acessíveis – apesar de a fachada sofisticada passar uma ideia contrária. Ziriguidum – Bar e Cozinha Regional
412 Sul, Bloco A (3548.4846). De 3ª a 6ª feira, a partir das 18h; sábado, das 12 à 1h; domingo, das 12 às 16h.
POR VICTOR CRUZEIRO
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alquimia da cozinha ganhou uma nova Meca em Brasília. Recém-inaugurado, o Eu Chef – Alta Gastrô traz da França e da Alemanha duas novidades imperdíveis e inesquecíveis para o mercado gastronômico da capital. Pra começar, um pouco de história. Os chefs Kalene Morais e Jomar Antunes especializaram-se no método de cozimento sous vide (pronuncia-se “suvíd”), que quer dizer a vácuo. A técnica consiste em cozinhar em sacolas plásticas seladas a vácuo, a baixas temperaturas (normalmente entre 40°C e 70°C, sempre estável), por um tempo maior do que o convencional (pode chegar a 72 horas). O objetivo da técnica é manter a integridade do alimento, evitando a perda de umidade e sabor, assim como obter textura, maciez e até coloração únicos.
Kalene e Jomar (na foto acima) aprenderam a técnica em um estágio profissional no renomado restaurante espanhol El Celler de Can Roca, três estrelas no Guia Michelin, duas vezes o melhor do mundo (2012 e 2015) e atualmente terceiro lugar, segundo a The World’s 50 Best Restaurants 2017. Nesse breve período na Europa, o casal entrou em contato com a marca alemã Vom Fass, cujo conceito é único e, simplesmente, fantástico: oferecer óleos, azeites e destilados de finíssima qualidade e origens distintas a granel, num encontro superlativo de personalização e requinte. Sous vide para todos A Eu Chef – Alta Gastrô oferece sugestões de receitas elaboradas com a técnica sous vide, para que o cliente monte seu próprio menu e finalize em casa, combi-
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nar as garrafinhas com mensagens. Vamos às opções! Há várias marcas de azeite extravirgem, como o uruguaio Dom Eladio (R$ 23,80/100ml), e saborizados, que têm as olivas maceradas junto com insumos. As prateleiras exibem uma gama de produtos tão vasta como a criatividade na cozinha: funghi, romã, pimenta jalapeño, laranja, alegrim, gengibre com uva, manjericão, trufas brancas etc (entre R$ 25,90 e R$ 39,90/100ml). Há também óleos – de avelã, de argan, de sementes de uva, de abacate, pistache e alho e ervas, a partir de R$ 23,80/100ml. E balsâmicos, muitos bal-
sâmicos, entre os quais se destaca o Di Modena I.G.P Maletti. Feito a partir de vinagre de vinho tinto e mosto de uvas e envelhecido por 25 anos, a maravilha pode ser adquirida por R$ 59,90/100ml. A casa conta ainda com uma variedade de condimentos, uma cozinha panorâmica, onde o cliente pode acompanhar a confecção do sous vide e um deck para a área verde da quadra, onde os chefs pretendem realizar cursos rápidos e degustações. Eu Chef – Alta Gastrô
408 Sul, Bloco D (3554.2636). De 2ª a 6ª feira, das 9 às 19h; sábado, das 9 às 15h.
Fotos: Brito Júnior
nando com o que mais quiser, como molhos. Há desde bacalhau, salmão, medalhão de filé mignon e cupim a carré suíno e ballotonine (uma espécie de rocambole de frango), miolo da alcatra e músculo, sem deixar de lado vegetais, como cenouras e ervilhas. Todas as opções encontram-se resfriadas ou congeladas, em porções individuais ou para duas pessoas. A média de preços – de uma proteína com dois acompanhamentos – varia entre R$ 28 e R$ 38 (a porção individual). É importante frisar que todas as escolhas dos clientes, do sous vide aos produtos da Vom Fass, são montadas com uma consultoria técnica especializada da casa. Os chefs fizeram questão que a equipe fosse composta por diplomados em gastronomia. A Vom Fass é uma referência mundial em bebidas e azeites. Com 23 anos de história, a empresa traz à mesa produtos finos e de altíssima qualidade, elaborados com insumos de pequenos fazendeiros dos Alpes Suíços à costa do Mediterrâneo, o que diversifica imensamente sua oferta. O cliente adquire as garrafas próprias da marca, que variam entre 50ml e 1 litro e, após esgotadas, podem ser preenchidas por refil. As garrafas são personalizadas, recebendo o nome do óleo, azeite ou bebida que contém, com tal zelo que são também presenteáveis. Pode-se elaborar kits com garrafinhas numa caixa e ador-
PICADINHO Menu de outono
Peruano renovado (2)
Bacalhau e pato
Começa com um drink de boas vindas o menu especial que o Villa Tevere (115 Sul, Bloco A, tel. 3345.5513) criou para a estação das frutas. Custa R$ 79,10 e será servido até 15 de junho no almoço de terça a quinta-feira e no jantar de segunda a quinta. São duas opções de entradas, seis de pratos principais e três de sobremesas. Entre os principais, filé mignon com crosta de pimentas preta, branca e verde ao molho de conhaque, creme de leite fresco e mostarda de Dijon, servido com batatas rústicas; risoto de queijo Brie e damasco com camarõezinhos flambados em conhaque; e ravioloni recheado com ragu de linguiça de pernil ao molho de tomates italianos com pesto de alecrim e manjericão frescos.
Também especialista em comida andina, o chef venezuelano Miguel Ojeda (ex-Fortunello) assumiu o comando da cozinha do Nikkei Sushi Ceviche e Bar (SCES, Trecho 2, tel. 2099.2460). E começou criando logo três novos pratos: o lomo salteado com arroz à moda peruana, o tacu tacu com aji de gallina e o yassai tamê. Para ele, voltar a trabalhar com temperos latinoamericanos lhe dá mais liberdade de criação.
O clássico ravióli de queijo de cabra, o mais pedido pela clientela, continua firme e forte no cardápio do Pecorino Bar e Trattoria (210 Sul, Bloco C, tel. 3443.8878). Mas acaba de ganhar a companhia de três receitas à base de bacalhau, entre elas essa generosa posta com legumes no azeite (R$ 59). A iguaria aparece ainda desfiada com purê de batatas gratinado, servido com salada verde (R$ 56), e em lasca, escoltando um pappardelle com tomates, brócolis e azeitonas pretas (R$ 54). Um risoto e um ragu de pato são outros reforços do cardápio.
Novos pratos
Nova uisqueria Abriu as portas no final do mês passado o Jack’s Pub, mais uma boa opção para os apreciadores de uísques premium e jazz. Fica no Bloco A da 412 Sul, tem capacidade para até 50 pessoas, espaço para apresentações ao vivo de bandas de jazz e uma extensa carta de uísques, vendidos ao preço médio de R$ 20 a dose, além de outros drinks, champanhes e cervejas especiais. Para acompanhar, tábuas de frios e petiscos clássicos de bar. Funciona de quarta a sábado, das 19 horas às duas da madrugada.
Fasano em casa Azeites, massas, molhos e arroz para risoto, todos de origem italiana, são os novos produtos da marca Fasano à venda no restaurante Gero (Iguatemi Shopping, tel. 3577.5520) e na World Wine (410 Sul, Bloco C, tel. 3526.6168). Para desenvolver essa nova linha de produtos, o restaurater Rogério Fasano e Celso La Pastina, um dos maiores importadores de vinhos e bebidas finas do país, viajaram algumas vezes à Itália e selecionaram alguns dos melhores produtores em regiões de referência na gastronomia e enologia italianas.
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Uma fusão da gastronomia andina com a cozinha contemporânea, fazendo uso também de ingredientes tipicamente brasileiros. É assim que o chef peruano Marco Espinoza conceitua as novas receitas que criou recentemente em comemoração aos sete anos do Taypá (QI 17 do Lago Sul, Fashion Park, tel. 3248.0403), renovando cerca de 60% do cardápio do restaurante. Dos 42 itens, 24 são novinhos em folha, como a panceta crocante com molho de tamarindo e gengibre, o tartar cremoso de atum apimentado sobre banana da terra crocante e os mexilhões ao chimichurri cítrico sobre purê de batata apimentado, entre outras entradas. Estreiam também os ceviches de salmão com leite de tigre de caju e erva doce, castanha de caju e cebola, de atum com leite de tigre de pimentas, abacate e chips de batata doce, e de camarão confitado com leite de tigre quente de pimentas, mandioca e milho baby. Entre os 11 novos principais figuram a costela de porco com molho apimentado de tamarindo (foto), a coxa de pato confitada ao molho concentrado de pato na cerveja e salvia e a fraldinha confitada ao molho concentrado de cinco pimentas.
Japonês de raiz Ainda há quem pense que japonês só gosta de sushi e sashimi. Ledo engano. A gastronomia nipônica é muito mais do que isso, como demonstra o restaurante Miwa Donburi (Setor Bancário Sul, Ed. João Carlos Assad, tel. 3321.0860). Lá, o carro-chefe é um dos pratos mais consumidos no Japão – o donburi, que dá nome ao restaurante. Trata-se de uma tigela de arroz servida com várias opções de acompanhamentos, ao gosto do freguês. Para os vegetarianos, por exemplo, há o Kare Rice (foto), em que o arroz é escoltado por um ensopado de curry levemente picante, batata, cenoura e cebola (R$ 24,90).
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Fabricio Rodrigues
Peruano renovado (1)
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Outro restaurante que incrementou recentemente o cardápio é o Nebbiolo (409 Sul, Bloco D, tel. 2099.6640). Entre as novidades, medalhão de filé mignon com caldo de lagosta ao poivre, acompanhado de mousseline de mandioca, e ravioli alla fiorentina salteado na manteiga ghee, acompanhado de purê de maçã.
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GARFADAS&GOLES
LUIZ RECENA
lrecena@hotmail.com
Ordinários, ao sul! Voltar ou volver? Toda cidade tem seu mercado municipal. Mas só o Mercado Municipal de Porto Alegre, um senhor-doutor, tem o Gambrinus, que também pode ser grafado Gambrinos e assim pronunciado, pois o povo não está com isso preocupado, desde que ali se sorva preciosos líquidos e destrua-se, às garfadas, pratos que além do tempero carregam consigo, na memória, o amálgama de décadas de salivas. Prestem atenção quando lá forem, pois muitas dessas salivas e memórias podem surgir em bafos caídos de nuvens prenhes de saudade. Inverno, verão, chuva, geada, esfregar de mãos. Tudo pode produzir esse calor imaterial na hora do trago, dos goles e das garfadas. Nada disso foi tombado pelos burocratas da cultura. Justiça seja feita: alguns técnicos até fizeram coisas, com grana internacional, no Mercado Municipal e nas redondezas. E o restaurante está lá, com sopas, peixes, mocotós e muito mais.
Fígado e bacalhau
Madame P, “la princesse”, exigiu o Gambris. Nem precisava. Ah! Se o exigir das princesas fosse só esse... Entre os clássicos, fui de bife de fígado acebolado; ela, de salada de bacalhau: dois a zero para nós. Abertura com Adolfo Lona rosé brut e fígado acompanhado com um tinto Requengos lusitano. Taças. Fechei com mais uma de Adolfo Lona. Taça.
Filme e feira
Madame bebe café e ainda fuma. O que nada tem a ver com a frase ao fim do almoço: “45 anos de amizade, ao que atribuis isso?” O Macunaíma da minha direita cutucou: ao passar do tempo... quase mata o Humphrey Bogart que na esquerda queria San, play it again... sobrou a transparência da velha Fronteira Oeste, única verbalizada: “Resistimos, trabalhamos, sopramos o vento e seguimos com ele, é por aí”. M. não ouviu tudo. Queria ir às compras, pois eu precisava voltar cheio de guloseimas: charque duro, mole, picado, de ovelha, passa de pêssego, e mais não veio porque a tal da Anvisa deu para atrapalhar a vida de quem viaja e tem saudade. Fora ela! Fora Anvisa!
Chalé “aberto”
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Ainda teve ao fim da tarde uma passagem pelo Chalé da Praça XV e uma ida a uma cervejaria moderna dentro do mercado. Tudo perto, tudo competente, coisa de gaúcho... pois é! E um sanduíche aberto dos antigos, do tempo que alemão ainda "falafa" português com "zotaque". Tudo de bom.
Dois alemães
Se fosse continuar no estilo da última nota, seria a “cervecharia das doiz alemão”. Feliz dos nossos tempos modernos, que tudo, ou quase, mudou para melhor. Então a surpresa, a mais bela surpresa, foi a Horst & Biermann, cervejaria artesanal de um casal de terceira ou quarta geração germânica no Sul, mas com o mesmo gosto pelo trabalho e a qualidade trazida por seus ancestrais. Várias novidades além da cerveja feita em casa, com toda a ciência: fica na Zona Sul, no bairro Guarujá, onde antes só veleiros e velejadores tinham vez. O galpão é um achado, a decoração criativa, o ambiente dos melhores e a visita, conduzida por mãos carinhosas, familiares e queridas, só ajudam a gostar e a querer voltar. Até porque os donos prometem novidades em breve. Muito mais do que Blond Ale, Pilsen, Stout, Weiss, IPA e o barril de chope Hoerst & Biermann. Prost! PortAllegrau, Alles blau!.
PÃO&VINHO
Muito álcool ou pouco álcool Bem, nem uma coisa nem outra. O álcool ideal para um vinho é o álcool correto e bem trabalhado para aquele vinho. A verdade é que, antes de mais nada, o volume de álcool em um vinho depende principalmente da maturação das uvas, o que, por sua vez, depende das condições climáticas de cada ano de produção. Mas não é só isso: há que se considerer as castas utilizadas e o estilo do produtor, ou melhor, do enólogo que realiza a produção do vinho. E é sobre esse “estilo” que eu gostaria de falar. Historicamente, os vinhos seguiam um padrão com menor volume de álcool, algo entre 12% e 13,5%. Já mais modernamente o estilo tem sido voltado a vinhos mais alcoólicos, entre 14% e 16%. Os produtores mais tradicionais costumam manter o estilo mais antigo, produzindo vinhos com alcoolicidade moderada e assim devem fazer. Afinal, não se deve “mexer em time que está ganhando”. Eu, pessoalmente, prefiro a princípio esses vinhos que são mais delicados, mais complexos, mais sensuais. Mas, sem dúvida, há exceções. Há gente produzindo vinhos bastante alcoólicos, de até 16%, sem que isso seja percebido pelo nariz ou pelo palato, ainda que acabe sendo evidenciado mais tarde por seus efeitos. Mas, quando bem feitos, são muito saborosos. Esse álcool “a maior” traz uma certa doçura ao vinho. E não se enganem: a diferença de 2 ou 3% de álcool no vinho faz grande diferença. Como disse, o vinho pode ser muito bom com menos ou com mais álcool. Para provar, trago aqui, hoje, quatro exemplos de vinhos excelentes, dois franceses com menos álcool, na faixa de 13% e 13,5%, e dois bem alcoólicos, um chileno com 14,5% e um espanhol com 15%. Comecemos pelo menos alcoólico, um Mercurey da Maison Chanson 2007. Como deve ser um bom Borgonha, tem apenas 13% de álcool. Realizado pelo enólogo
ALEXANDRE FRANCO pao&vinho@agenciaalo.com.br
Jean-Pierre Cofuron, um dos mais renomados na região, mostra-se um ótimo exemplar de Borgonha, com a devida sensualidade, delicadeza e maciez. Aromas de cerejas negras maduras e geleia de morangos. Palato sedoso, de muita concentração e bem equilibrado. Ótimo vinho! Depois um Bordeaux, nada menos do que um Grand Cru, o Chateau Côtes de Rol 2010, com 13,5% de álcool. Grande exemplar de Saint-Emilion, com aromas de café e especiarias, toques de cerejas maduras e baunilha. Palato bem estruturado, mas ao mesmo tempo muito macio, de frutas vermehas maduras e um apimentado doce no final. Excelente, não por acaso medalha de ouro do guia Gilbert e Gaillard. Agora o chileno, certamente o melhor exemplar da emblemática Carménère, um Purple Angel 2013 da Montes. O vinho é verdadeiramente uma delícia. Apesar de seus 14,5% de álcool, é elegante, embora pungente. Mastigável, bem encorpado, mas ainda assim fresco e elegante. Um vinho de cor púrpura, claro, com nariz de chocolate, pimenta negra e especiarias. Na boca é voluptuoso, com muita fruta, mais que tudo muito “gostoso”. Grande vinho, para o qual James Suckling deu 97 pontos. E, finalmente, o mais impressionante deles, um espanhol da região de Toro, o Pintia 2011, realizado pela onipotente Vega Sicilia. Com 15% de álcool, dos quais só se sabe ao se examinar o rótulo. Com taninos da melhor qualidade e muito bem trabalhados, apresenta um corpo quase pleno, com muita ameixa no nariz, além de cravo, canela e alcaçuz. No palato é inesquecível, saboroso, com acidez perfeita, muito gastronômico, com frutas negras e final de delicado amargor. Vinho nota dez. Ou melhor, segundo Robert Parker: nota 94. Desta vez, tenho que confessar, os mais alcoólicos levaram a melhor.
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DIA&NOITE Débora Proença
debussyparacrianças Música ao vivo, narração, animação em vídeo, figurinos e adereços que contextualizam a vida e a rica obra do compositor francês do período impressionista Claude Debussy (1862-1918). É assim o espetáculo multimídia que estará no CCBB nos dias 27 e 28 de maio. A proposta é aproximar, de forma lúdica e divertida, a música clássica do universo infantil. “Concerto para crianças é um projeto necessário e importante na formação de plateia, é um momento de suspiro para pais e filhos que se propõem a uma viagem lúdica e histórica pelo universo da música clássica”, afirma a diretora artística Tatiana Bittar Debussy. O objetivo é desmitificar a música erudita e despertar o interesse da criança para esse gênero musical. No elenco estão as musicistas Luciana Morato e Francisca Aquino e a atriz Cirila Targheta. Com direção musical de Naná Maris, o espetáculo acontece no sábado e no domingo, às 11 e às 17h. Ingressos a R$ 20 e R$ 10.
pedroeseucavaquinho Divulgação
brincadeiradançada
Débora Amorim
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Chama-se Speaking of now o show que o músico brasiliense Pedro Vasconcelos apresentará nos dias 18, 19 e 20 no Academia Café (201 Norte). O título se refere ao álbum homônimo do norteamericano Pat Metheny, que foi lançado há 15 anos e ganhou o Grammy de melhor álbum de jazz contemporâneo. “As melodias de Pat e seu parceiro Lyle Mays nos trazem quase sempre uma apreciação esperançosa, brilhante e otimista. Nesse álbum, a combinação desses fatores com a genial sofisticação musical nos leva a lugares incríveis”, afirma o cavaquinista, que será acompanhado pelos músicos Thanise Silva (flauta), Renato Galvão (bateria), Zé Krishna (guitarra), Pedro Miranda (contrabaixo) e Misael Silvestre (piano). Quinta e sexta, às 20h, e sábado, às 21h. Ingressos a R$ 20. Informações e reservas: 3327.8438 e 99211.3000.
Lara Nogueira
Até 21 de maio a criançada tem no Teatro Goldoni (208/209 Sul) uma boa opção de lazer. É o espetáculo Brincatividade, dirigido pela bailarina Daniela Amorim e produzido pela Trupe Trabalhe Essa Ideia, uma mistura bem dosada de dança, teatro e interatividade. De acordo com a diretora, há poucos trabalhos de dança para crianças, “então procuramos trazer para os pequenos a interatividade com os elementos da dança, movimento e ritmo, de forma lúdica e sem perder a apreciação”, comenta. Sábados e domingos, às 16h. Meia entrada a R$ 20 (válida também para quem levar um quilo de alimento), à venda no teatro, duas horas antes das apresentações. Mais informações: 98120.0697.
dissonicos O trio buscou referências literárias, cinematográficas e musicais para narrar as desventuras de um anti-herói, “perturbado e perdido”, vivendo em Brasília nos dias de hoje. Depois de uma ausência de cinco anos, os integrantes da banda Dissonicos voltaram a gravar e apresentam o novo trabalho em pocket show que farão dia 19, às 18h, na Fnac do ParkShopping. Formado por Álvaro Dutra (guitarra e vocal), Regis Matsumoto (baixo) e Delton Porto (bateria), o trio vai participar de um bate-papo com o público e exibir um documentário sobre seu trabalho. Entrada franca. Mais informações: 2105.2000.
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últimoarquivo Imagens de livros queimados, escolas, casas e sinagogas abandonadas no momento em que os nazistas invadiram a antiga Tchecoslováquia, há quase 80 anos. Cerca de 60 imagens dessa época estão no Museu da República, que apresenta a exposição internacional Last folio – Preservando memórias, do fotógrafo Yuri Dojc, além de vídeos da cineasta Katya Krausova. Apresentada em Berlim, em 2015, para marcar o 70º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, a mostra atraiu milhares de visitantes e seguiu para Estados Unidos, Reino Unido, Rússia, Eslováquia e Itália. Foi exposta nas sedes da Comissão Europeia, em Bruxelas, e da ONU, em Nova York, e no ano passado esteve em São Paulo. Yuri Dojc e Katya Krausova nasceram na antiga Tchecoslováquia e deixaram sua terra natal em 1968, por razões políticas. Em 1997, Dojc começou a viajar para a Eslováquia repetidamente, para criar retratos de sobreviventes do Holocausto, e a partir de 2005 Katya Krausova juntou-se a ele nessas visitas a seu país de origem. Yuri Dojc agora vive no Canadá e Katya em Londres. Entrada franca.
Quando criança, ele colecionava imagens de Salvador Dali e René Magritte, artistas que o inspiraram a traduzir, na adolescência, suas observações do cotidiano em desenhos, pinturas e colagens figurativas, surrealistas e psicodélicas. Mineiro de Juiz de Fora, o artista plástico Rogério Mariano apresenta seu trabalho no Espaço do Servidor (Anexo II da Câmara dos Deputados). São cinco telas grandes, com pinturas abstratas, nas quais lança mão de vários utensílios para a impressão da tinta na tela – como pincel, espátula e rodo, entre outros, que produzem um efeito de monotipia. Rogério iniciou-se na arte com seu avô, que tinha como passatempo copiar imagens de jornais e revistas com papel de seda nos cadernos de desenho e criar charges a partir dessas imagens. Iniciou seus estudos em 1991, no Núcleo de Artes Visuais de Vitória, no Espírito Santo, onde mora atualmente. A exposição Abstração fica em cartaz até 28 de junho. De segunda a sexta, das 9 às 17h, com entrada franca.
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mãeseflores Angélica Bittencourt, Rosana Melo e Maria Lúcia são três artistas plásticas e também mães que apresentam seus trabalhos na Galeria de Arte do Templo da Boa Vontade (915 Sul) até 30 de maio. Composta por mais de 20 obras, a coletiva Mães e flores traz a público um olhar diferente e delicado que convida à introspecção e à reflexão em torno da divindade materna. A pintura em acrílica de Angélica apresenta o impressionismo contemporâneo, enquanto os óleos sobre tela de Rosana exibem o estilo figurativo e abstrato, e as mandalas trabalhadas artesanalmente de Maria Lúcia têm como foco principal a mística trazida pelos cristais que as compõem. Diariamente, das 8 às 20h, com entrada franca.
monóculo “A exposição é instigante ao propor, como no monóculo, aumentar e aproximar o que está ao longe e finalmente ver o que não se conseguia avistar. É um descortinar de sentimentos, saudade, alegria, angústia, melancolia, orgulho, liberdade...”. Assim o curador Lourenço de Bem resume a mostra Monóculo, do artista plástico alagoano radicado em Brasília Fábio Pedrosa, um acervo de 25 pinturas, incluindo três painéis de cerca de 2,5 metros e três estruturas entre 1 e 1,5 metro que remetem a monóculos. Em cada um dos monóculos há uma pintura e uma interferência nessa pintura. Um convite para que o espectador experimente uma sensação adicional além da contemplação normal de uma obra de arte. A exposição pode ser vista até 25 de junho no Museu Nacional dos Correios. De segunda a sexta, das 9 às 17h. Entrada franca.
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tecnologianaarte Antes de explicar o que é a mostra O essencial é invisível aos olhos, em cartaz na Caixa Cultural, é preciso que se explique o que significa, nestes dias, a sigla VJ. Ela se refere ao vídeo jockey, um profissional que cria e manipula imagens e as combina com músicas ou sons, por meio de dispositivos tecnológicos. Dito isso, passemos aos fatos. A instalação interativa da dupla VJ Suave (Ygor Marotta e Ceci Soloaga ) propõe uma imersão no ambiente de uma floresta, onde o público é convidado a participar de uma experiência de autoconhecimento e reflexão. “As florestas são espaços energéticos fortes e poderosos. A natureza nos lembra quem somos nós e que somos parte dela. É preciso ampliar a percepção que vai além da vista. Experimentar o ambiente com todos os sentidos, aguçar as sensações e descobrir as forças que são invisíveis aos olhos”, explicam os VJs. Com o auxílio luxuoso da tecnologia, o projeto da dupla faz um resgate da sabedoria dos povos indígenas. “As medicinas ancestrais, a cura pelas plantas, as trocas de energia e as sutilezas que não conseguimos enxergar nem explicar”, concluem. Até 16 de julho, de terça a domingo, das 9 às 12h e das 13 às 21h, com entrada franca.
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Antonio Wolff
Prestes a completar uma década, a festa Mistura fina prima pelo bem servido cardápio musical de black music e música eletrônica sob o comando de DJs de renome local, nacional e internacional. A edição de 27 de maio (sábado), no Espaço Secreto (SOF Sul, Quadra 9, Conjunto A), começa às 23h e se estende até às 9 da manhã. Estão escalados para as duas pistas do evento os DJs Eli Iwasa (Alliance Artists, na foto), Cinara (Red Bull Thre3style), Nedu Lopes (Red Bull Thre3style), Mari Perrelli (5uinto), Chicco Aquino, Hugo Drop, Drezin, Pezão, Ops, Simple Jack e Thiago Secchi. Os ingressos do primeiro lote custam R$ 50, à venda em www.mobprodutora.com.br. Classificação indicativa: 18 anos.
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raimundosacústico Não será só um show, mas uma confraternização do rock brasiliense. Vem aí novo acústico dos Raimundos, dia 10 de junho, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Para comemorar a boa fase de shows lotados em todo o Brasil, o grupo lançou recentemente o CD/DVD Raimundos acústico, que servirá de base para o show, do qual também participarão músicos da cidade convidados. Será montado um serviço de bar que atenderá a plateia durante o show. Depois haverá uma festa ao ar livre, tendo como atrações a banda Eduardo e Mônica, que homenageará os grupos de Brasília, e DJs apresentando grandes sucessos da black music e do pop rock. A aventura musical dos Raimundos começou em Brasília, ao lançarem o primeiro álbum em 1984, com as músicas Mulher de fases, A mais pedida, Selim, Cintura fina e muitas outras. A partir das 22h, com ingressos entre R$ 50 e R$ 120, à venda na bilheteria digital do Liberty Mall e em www.bilheteriadigital.com, com pagamento de taxa de conveniência.
galeriasurbanas A Torre de TV, a Ponte JK, as curvas das tesourinhas e a Catedral ganham imagens de um diálogo entre chão e céu bem diferente da formalidade padrão das fotografias aéreas. O fotógrafo Bento Viana apresenta a mostra Galerias urbanas – #monumento 61, com trabalhos que registram ícones da capital federal. A homenagem à cidade por seus 57 anos é composta por 38 imagens surpreendentes e pode ser vista em uma galeria digital a céu aberto. São 20 totens digitais posicionados em sequência para exibir o trabalho fotográfico, com telões alimentados por energia solar. A paixão de Bento Viana pela capital já se concretizou nos livros Brasília iluminada, Brasília seen from the sky, Do céu, Brasília e o recémlançado #Monumento 61. Até 5 de junho no Pontão do Lago Sul, com entrada franca.
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Uma exposição das artistas plásticas Cecilia Mori, Gisel Carriconde de Azevedo, Iracema Barbosa e Natália Yamane inaugura o calendário cultural de 2017 no Elefante Centro Cultural (706 Norte). Com curadoria de Cinara Barbosa, a coletiva Outros informes fica em cartaz até 14 de junho. No térreo, Gisel Carriconde Azevedo apresenta a instalação Beyond repetition, um trabalho feito com escultura, papel de parede, prateleira e cortina, enquanto Cecilia Mori expõe as obras Quadrante para terra firme, uma instalação feita de lacres pretos de diferentes tamanhos, e A valsa dos flagelos solitários (em três atos), outra instalação de tamanho variável feita de lacres brancos. No segundo andar, Iracema Barbosa traz à mostra ripas de madeira pintadas em uma combinatória de cores que se repetem e também uma pesquisa que mistura cor e tecido, enquanto Natália encontrou na fotografia a própria poética para criar versões do haikai sobre objetos do seu cotidiano que, metaforicamente, e por meio de símbolos, dizem algo sobre ela e sobre o mundo. De terça a sábado, das 14h às 18h30. Entrada franca.
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sexoaossessenta É sobre a arte de envelhecer com bom humor que trata a peça Se minhas rugas falassem, escrita, dirigida e interpretada por Alexandre Ribondi. De acordo com ele, o sexo para os sexagenários deve ser praticado com sabedoria, paciência e muito fôlego. E as perguntas que são feitas e respondidas ao longo do espetáculo, por si sós, já provocam riso: "Há orgasmo após seis décadas de vida? Se há, qual é a autonomia da ereção? Os gritos e clamores alcançam quantos decibéis? As novas pílulas que existem no mercado são realmente necessárias ou servem apenas para esquentar as bochechas do pobre homem que as ingere? É possível pedir bis? Os cabelos brancos contribuem ou atrapalham?" Professor de teatro nas Oficinas do Ribondi, o ator e diretor estreou no teatro em 1970, com o espetáculo Mandala, dirigido por Laís Aderne. Foi responsável, nos anos 80, pela concepção e direção do primeiro show de Cássia Eller, batizado de Gigolôs. Até 29 de maio no teatro do Brasília Shopping, somente aos sábados e domingos, às 20h. Ingressos a R$ 40 e R$ 20.
músicaecinema O projeto Groselha – Blasfêmias, Filmes B e Rock'n'roll, cuja proposta é reunir num mesmo evento shows de rock e exibição de curtasmetragens (com enfoque no cinema de gênero), chega à quarta edição no dia 21, domingo, desta vez em novo local, o Teatro Mapati (707 Norte, Bloco K, Sala 5). Na ocasião, quem se apresenta, a partir das 16h20, são as bandas My Magical Glowing Lens, do Espírito Santo (foto), Mahmed, do Rio Grande do Norte, e as brasilienses Bran, Magodiabo e Transquarto. Para a curadoria de filmes, o Groselha firmou parceria com a Sétima Produções, responsável pelo Curta Brasília – Festival Internacional de Curta-Metragem, que escolheu animações brasileiras que se destacaram ao longo de suas cinco edições: Ed (RS), Papel Y-10 (DF), Faroeste, um autêntico western (GO), O homem planta (PE) e RYB (DF). Ingressos antecipados pelo site www.sympla.com.br por R$ 20. Classificação indicativa: 18 anos.
comíciogargalhada Nove “candidatos” vão defender suas propostas eleitorais em comício pra lá de engraçado, entre eles a transexual Valéria Vasquez, do programa Zorra total, e Carol Paixão, que ganhou fama no quadro do BBB 2015, ambos da Rede Globo. O mediador será o humorista Rodrigo Sant’anna, que apresenta o espetáculo Segundo turno de risadas, dia 21 de maio, às 20 horas, no Teatro Unip (913 Sul). Rodrigo ficou conhecido por seus personagens Adimilson e Valéria, do Zorra total. No palco, dará vida também a Adelaide, candidata que tem “a prataforma da família”, e a outro candidato que defende os direitos dos homossexuais obesos. Segundo o ator, trata-se de uma sátira aos comícios eleitorais “onde o voto não é obrigatório, mas o riso é garantido!”. Ingressos a R$ 100 e R$ 50, à venda nas lojas Cia. Toy, na Belini Pães e Gastronomia (113 Sul), somente em dinheiro, e no site www.naoperco.com.
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Duas mulheres conversam sobre resistir e sustentar os papéis que escolheram, ou não, representar no contexto em que vivem ou sobrevivem. Elas são o que são, e não se desculpam por isso e por nada. Se são felizes, carentes, plenas, desejadas ou satisfeitas, descobre-se na cena. Assim é o espetáculo Copo de leite, uma montagem da Cia. (Ex) Ordinária de Teatro. Tem direção de Gustavo Gris, que se integra ao processo coletivo ao lado do assistente de direção Deni Moreira e das atrizes Gabriela Correa e Lucélia Freire. A peça circula pelas cidades-satélites e será exibida de 19 a 21 de maio na Tao Filmes (711 Norte, bloco C loja 5), às 20h30. Informações: 3274.8160. Entrada franca (doação voluntária de 1kg de alimento não perecível e/ou lixo eletrônico).
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copodeleite
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GALERIADEARTE
Do modernismo
ao grafite
TEXTO E FOTOS LÚCIA LEÃO
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a massa provou do biscoito fino, como previu Oswald de Andrade. Num único final de semana – o do feriado da Semana Santa – o Museu Nacional da República recebeu nove mil visitantes, a grande maioria jovens, uma marca inédita nos seus dez anos de existência, celebrados com a inusitada e surpreendente exposição Mundez. Ela colocou lado a lado Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Volpi, Ruben Valentin, Heitor dos Prazeres, Orlando Teruz e Cícero Dias, entre outros modernistas consagrados, artistas brasilienses contemporâneos como Bené Fonteles, Renato Matos e Josafá Neves e grafiteiros que conquistaram o reconhecimento nas ruas, como Antonio Delei, Brixx Furtado, Flávio Soneka. Três grupos de artistas, três tendências que, em comum,
marcam rupturas estéticas com o conservadorismo clássico e propõem questionamentos e polêmicas em reflexões sobre novas formas de pensamento. “Essas linguagens aparentemente distintas afloram em momentos históricos
diferentes, mas tratam das mesmas questões humanas, sociais e políticas”, afirma Wagner Barja, diretor do museu e curador da exposição. Inspirado no conceito antropofágico, Barja selecionou 30 obras dos acervos do Museu da República e do
MAB e convidou artistas contemporâneos e urbanos para interagir com elas, produzindo ora uma releitura, ora um diálogo com os mestres consagrados. “O Barja nos convidou, sugeriu o artista com quem deveríamos interagir e nos deu toda liberdade para criar, desde que trabalhássemos contra o tempo. O meu artista foi Heitor dos Prazeres. Tivemos seis madrugadas para produzir nossos trabalhos. Foi uma maratona de explosão criativa indefinível”, conta Josafá Neves. Artista dedicado ao legado africano na cultura brasileira – está com a exposição Diáspora no salão principal da Caixa Cultural –, ele pintou naquelas madrugadas uma Nossa Senhora Aparecida em óleo sobre tela com três metros de altura por dois de largura (foto à esquerda), além de uma sequência de ícones do candomblé (foto à direita). “O conceito da antropofagia que atravessa a modernidade no Brasil tem desdobramentos na arte atual. A mestiçagem presente nas três etnias que formam nosso caldo cultural se faz representar nas imagens do índio, do negro e do homem branco colonizador. Nessa abordagem surge uma ideia de nação, em seus aspectos positivos da miscigenação e negativos do racismo. Os possíveis diálogos travados entre as imagens da exposição mani-
festam essa ideia híbrida e contraditória na nossa cultura”, define Wagner Barja. “O Brasil não é para amadores”, completa, usando a frase de Tom Jobim, uma das que pontuam a exposição com breves reflexões sobre cultura, arte e vanguarda. “A arte é a expressão da alma, não importa onde ou sobre que suporte ela é produzida. Quando levou a arte de rua para dentro do museu, a Mundez levou também todo o público desses artistas urbanos que tiveram oportunidade de apreciar um Di Cavalcanti, uma Tarsila do Amaral e outros mestres da pintura brasileira com quem eles dificilmente teriam
contato”, observa Renato Matos, que participa da exposição com o ziriguidum e outros estranhos instrumentos (vistos na foto acima) de onde tira um som estranho batizado de “ruidismo”. Como vaticinou Oswald de Andrade, cuja frase “a massa ainda vai provar do biscoito fino que fabrico” está impressa numa parede do museu, muitos jovens aprenderam com a Mundez o caminho do Museu da República e mergulharam um pouco na nossa história através da arte. Mundez
Até 4/6 no Museu Nacional, com entrada franca. De 3ª a domingo, das 9h às 18h30,
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GRAVES&AGUDOS
Rayan Ribeiro
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Temporada eclética POR HEITOR MENEZES
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Marluci Martins
nquanto nos aproximamos do período mais frio do ano, a temporada de shows musicais segue firme, trazendo à cidade atrações das mais interessantes, dos mais diversos tipos, do samba à música sertaneja mais autêntica, passando, é claro, pelo rock. Observem que a música, mais do que em qualquer outra época, torna-se onipresente. Quem falou em festas juninas, acertou. Para onde você vai, tem uma trilha sonora. Relaxe, pegue um quentão, o seu par, anarriê, e curta de montão.
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Zé Renato, Moacyr Luz, Jards Macalé e Guinga – Dobrando a Carioca. Teatro da Caixa, 18, 19 e 20/5, às 20h, e 21/5, às 19h. Quatro mosqueteiros da mais tradicional MPB juntam talento, gogó e armas em encontro imperdível que é a própria celebração do samba e do Rio de Janeiro, sua mais completa tradução. Dobrando a Carioca foi registrado em CD e DVD em 2015, no Teatro Sesc Ginástico. O projeto teria nascido há 17 anos numa mesa de bar do histórico Bar Luiz,
no centro do Rio, e agora, durante quatro dias, poderá ser visto em Brasília. E que raridade uma aula de samba dada por quatro professores: Renato, a harmonia vocal; Luz, a tradição; Macalé, a irreverência; e Guinga, a erudição. O Bar Luiz fica na Carioca, mas, na moral, esse negócio tem a ver com Pivete, na qual Chico Buarque romanticamente traça a rota de fuga do malandro: “Dobra a Carioca, olerê/Desce a Frei Caneca, olará/ Se manda pra Tijuca/Sobe o Borel”.
Roupa Nova + Rádio Táxi. Ginásio Nilson Nelson, 19/5, às 21h. O Roupa Nova anualmente bate ponto em Brasília, no mês de maio. A razão seria o Dia das Mães, o que nos leva à conclusão de que muitas mães gostam das músicas do lendário grupo pop brasileiro. Mães, pais e filhos, diga-se, porque o comparecimento é sempre massivo. O Roupa Nova tem tantos sucessos que pode montar a ordem das músicas de todo jeito, e todo mundo vai curtir. Desta vez a carona fica por conta do Rádio Taxi, a banda formada pelo lendário baixista Lee Marcucci (ex-Tutti Frutti, antigo grupo de apoio de Rita Lee). Garota dourada (Wander Taffo /Lee Marcucci/Nelson Motta) e a versão da italiana Eva (Bigazzi/Tozzi) fazem da rodada um pacotão de grandes sucessos, do início ao fim. Steve Aoki. Federal Music, Prainha do Clube de Engenharia (Lago Sul), 20/5, às 16h. House, electro-house, dubstep,
Badi Assad, Clarice Assad, Sérgio Assad e Odair Assad – Sarau com a família Assad. Teatro da Caixa, 26 e 27/5, às 20h, e 28/5, às 19h. Em oposição a certos Assad que tiranizam por aí, esses são os Assad do bem, pessoas que inundam o mundo com música e mensagem de paz como demais precisamos. Os irmãos Badi, Clarice, Sérgio e Odair, cada qual em seu quadrado, vêm a Brasília celebrar a arte, a fraternidade e a musicalidade de maneira como pouco se ouve e vê em nossos dias. A world music de Badi, o piano de Clarice e os violões de Sérgio e Odair irmanam-se na voz uníssona da música carregada de espiritualidade. Para ver, ouvir e voltar para casa de alma leve. Fagner. Centro de Convenções Ulysses Guimarães, 27/5, às 21h. De todas as atrações da temporada, esta é talvez a que desperte mais interesse no quesito emoção. Raimundo Fagner, o cara que ajudou a escrever uma das mais belas páginas do cancioneiro brasileiro, retorna a Brasília com canções que marcaram épocas e gerações, mas desta vez é inevitável a expectativa em torno de Mucuripe, a pungente parceria com o (desde já) mitológico Belchior (1946-2017). A essa altura, com um evento tão recente assim, é de se esperar o tributo ao parceiro e conterrâneo cearense. Até chegar nesse ponto, entretanto, Fagner passa em revista seu fabuloso repertório, no qual música e poesia comemoram praticamente bodas de ouro, 50 anos de atividade artística ininterrupta. Steve Vai. Clube do Congresso, 1/6, às 21h30. Quando falam no guitarrista Ste-
ve Vai, vem à mente a infame piada de Wander Wildner, em Refrões: “Paulo Francis foi para céu /Steve Vai, mas depois”. Ainda bem que depois, pois na terceira visita do super guitarrista norteamericano a Brasília temos mais uma chance de conferir porque o cara é tão reverenciado e aclamado como um dos monstros sagrados do instrumento. Desta vez, o virtuose da guitarra elétrica põe em evidência as músicas dos discos Modern primitive (2016) e Passion and warfare, originalmente lançado em 1990 e tido como um dos mais completos álbuns de guitarra de todos os tempos. É nesse que se encontra a instrumental For the love of God (uma das favoritas dos fãs), que todo aspirante a guitarrista precisa aprender, para provar que sabe algo do instrumento. Se Jimmy Page notabilizou a guitarra Gibson e Eric Clapton a Fender Stratocaster, Steve Vai é o cara que deu personalidade sonora às guitarras Ibanez. Um sonho de consumo para quem gosta de guitarra e solos que não têm hora para terminar. Roberta Miranda & Rolando Boldrin – Viola de ouro. Centro de Convenções Ulysses Guimarães, 3/6, às 21h. Dos tantos encontros sertanejos que vimos por aí, este tem sua carga inusitada, mas
pensando bem, tem tudo a ver com o universo do gênero. Rainha sertaneja, Roberta Miranda encontra o Senhor Brasil, Rolando Boldrin, um dos incansáveis defensores dos gêneros musicais brasileiros de raiz. O encontro batizado de Viola de ouro diz tudo: Miranda canta a alma do Brasil profundo, aquele visto da boleia do caminhão, que parte e deixa saudade, que vence as dificuldades e os quilômetros de estrada de um complicado país continental. Boldrin, por sua vez, bem define a alma de matuto, o brasileiro que cultiva a simplicidade das coisas, do campo que já não é mais o mesmo, mas que ainda é a resposta à vida difícil das cidades. Enfim, um Brasil bom demais da conta. Bibi Ferreira. Centro de Convenções Ulysses Guimarães, 9/6, às 21h30. Incansável mesmo é Bibi Ferreira, decana dos palcos, 94 anos, toda uma vida dedicada à arte do encantamento de plateias. O espetáculo 4xBibi sintetiza as quatro mais recentes empreitadas da grande dama, a saber os musicais dedicados ao fado (Amália Rodrigues), ao tango (Carlos Gardel), ao cancioneiro norte-americano (Frank Sinatra) e aos classiques de la chanson fraçaise (Edith Piaf). Uma aula magnífica de talento e interpretação.
Divulgação
mais house, mais electro-house e mais dubsetp é o que promete o festival de música eletrônica Federal Music, em espaço aberto, ali perto da atual ponte Honestino Guimarães. As variantes do que se convencionou chamar (erroneamente) música eletrônica comandada por DJs é a alma do negócio. Diferente dos tradicionais shows de rock, onde todos ficam vidrados no palco, nesse tipo de iniciativa o lance é interagir, beber, dançar, paquerar, abraçar os chegados e se pendurar em tirolesas. A música é a trilha sonora. O DJ norte-americano Steve Aoki e seu toque de Midas são a cereja do bolo. Bolo que ele costuma mandar na cara da galera. É sério.
Jorge Ben Jor + Céu + Skank. Praça das Fontes (Parque da Cidade), 11/6, às 17h. Depois de eventos dedicados a Elis Regina, Tom Jobim, o samba, Tim Maia e o rock brazuca, o projeto Nivea Viva retorna à capital, desta vez celebrando a música do inigualável Jorge Ben Jor. Ao lado dos convidados, a banda Skank e a cantora Céu, o Babulina comanda o mix de samba, samba-rock, bossa nova, jazz, funk e o que estiver mais pela frente, resultado de uma carreira de mais de 50 anos de batalhas e contando. O clássico disco Samba esquema novo, lançado em 1963, nos deu Chove chuva, Balança pema, Por causa de você menina e a eterna Mas que nada. Foi só o começo de um som autêntico, de um violão irresistível e de um Rio de Janeiro, com toda a sua carioquice, passando na transversal. Para quem quer entender o que significa suingue.
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GRAVES&AGUDOS
Música transformadora TEXTO E FOTOS LÚCIA LEÃO
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evantar a batuta é um gesto solene. Seja no suntuoso palco da Ópera de Berlim ou numa modesta sala adaptada para ensaios numa modesta casa adaptada para escola de música na modesta cidade do Paranoá. E lá, quando o maestro Valdécio Fonseca levanta a batuta, os 25 jovens e adolescentes se põem em prontidão, aprumam seus instrumentos e dividem o olhar entre o regente e a partitura, tal e qual fazem os músicos de toda grande orquestra, com a sobriedade e o orgulho de quem sabe que a partir daquele momento vai participar de um feito mágico: a música sinfônica. Isso acontece na Casa da Música, uma grata surpresa para quem entra no Paranoá. Bonita e bem cuidada, ela foi recém-reformada em sistema de mutirão pelos próprios professores, alunos e seus familia-
res para receber até 170 crianças e jovens nos cursos gratuitos de instrumentos sinfônicos de corda, sopro e percussão deste ano letivo do projeto Música e Cidadania. Daiana Andrade, moça atrevida, foi uma das que literalmente colocaram a mão na massa. Subiu no telhado, bateu prego e finalizou a reforma pintando a pauta musical que decora a parede externa da casa como se fosse mesmo a sua casa. Afinal, foi lá que ela encontrou um rumo para a vida em 2013, quando, começando o segundo grau na escola pública do Paranoá, iniciou as aulas de trombone. Hoje ensina o instrumento para os novos alunos do projeto, é responsável pela instrumentoteca de mais de 200 instrumentos da instituição e cursa a Faculdade de Música da UnB. “Hoje minha vida é isso aqui, a música”, diz Daiana, muito tímida e de poucas palavras. Dos nove professores do projeto, cin-
co são ex-alunos, como Daiane, e trabalham em troca de um pro-labore que gira em torno de 800 reais por mês. “Eles têm esse sentimento de devolver o que receberam. Comigo também é assim”, explica o maestro Valdécio Fonseca, que criou o projeto em 2007 dividindo seu tempo entre o Paranoá e o Colégio Militar onde, militar da ativa, também é responsável pela banda sinfônica. Com origem na periferia de Belo Horizonte, Valdécio teve a oportunidade de se aproximar da musica sinfônica graças a um projeto bancado pelo Sesi, semelhante ao que hoje dirige e que é mantido pela Poupex. E a palavra chave é essa: oportunidade. Como a que teve o garoto Thiago, que aos 13 anos lê partituras, manipula com leveza e com segurança o arco e tira notas límpidas do violino, que toa há um ano com instrumento da própria escola. Pensa em se profissionalizar, achou na
música um caminho de vida? “Não sei. Não pensei nisso. Toco violino porque gosto!”, é a resposta que faz cair na real: falamos de música, falamos de arte, falamos de expandir sensibilidade, ampliar horizontes. Não de um pragmático curso profissionalizante. Mas para quem descobre na música o caminho profissional, o projeto inicia os estudantes nos três grupos mantidos pela instituição: a banda e a orquestra sinfônica Tocando Sonhos, formadas exclusivamente por alunos, e a Brasília Sopro Sinfônica, uma orquestra de excelência formada por professores, alunos mais adiantados e músicos convidados, principalmente da Escola de Música e da UnB. Os músicos dos grupos não ganham nem duas mariolas para se apresentar. E já se apresentaram gratuitamente em vários eventos, especialmente do GDF – tocaram até no Palácio do Buriti – e o fariam novamente no dia 23 de abril, na abertura do Festival Curtíssimas, no Cine Brasília. Fariam, porque a Secretaria de Cultura não disponibilizou um caminhão para transportar os instrumentos e disse que
também não tinha verba para pagar a condução dos músicos, como o maestro Valdécio solicitou. “Todo mundo toca de graça e com o maior prazer, mas eu também não posso pedir que os músicos paguem para se apresentar”, justifica o maestro. Aberto a toda a comunidade, o projeto é voltado ao ensino de música para crianças e jovens de sete a 18 anos, contando com todos os instrumentos de uma Orquestra Sinfônica. No Projeto são ministradas aulas de
teoria musical, musicalização infantil e prática instrumental de violino, viola, violoncelo, contrabaixo, flauta transversal, clarineta, saxofone, trompa, trompete, trombone, euphonium, tuba e percussão sinfônica. Atende não apenas jovens do Paranoá mas também de outras cidades como Itapoã, Santa Maria, Sobradinho, Samambaia, Gama, Taguatinga, Ceilândia, Varjão, Lago Sul, Águas Lindas, Brazlândia e Céu Azul.
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BRASILIENSEDECORAÇÃO
O livreiro da UnB
POR VICENTE SÁ FOTO LÚCIA LEÃO
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le está sempre presente. É figurinha carimbada para os estudantes veteranos e novatos. Ajuda na busca por livros mais difíceis, orienta sobre os autores, faz um preço mais em conta para a eterna falta de grana dos alunos e tem sempre um tempo para conversar e ouvir os jovens que fervilham pela Ala Norte da Universidade de Brasília. Os calouros podem não saber quem é o reitor, mas logo ficam sabendo quem é e o que faz o Chiquinho da UnB, um dos livreiros mais conhecidos da cidade, cuja vida, desde a infância, sempre esteve ligada às letras, às publicações. Chiquinho já se chamou Francisco Joaquim de Carvalho e foi com esse nome que chegou de Picos, Piauí, em 1969, indo morar em Sobradinho, cidade que o encantou e onde reside até hoje. Logo aos 11 anos começou a trabalhar com publicações, vendendo jornais, mais precisamente o Diário de Brasília, que fez certo sucesso nos anos 70 e 80 e depois saiu de circulação. Chiquinho, como a maioria das crianças de sua idade, sonhava ter
uma bicicleta, mas, sendo de família pobre e com muitos irmãos, o sonho dificilmente seria realizado, a não ser que surgisse um concurso para o garoto que vendesse mais jornais no Distrito Federal e que o prêmio fosse uma bicicleta. Pois não é que isso aconteceu e o pequeno Chiquinho vendeu mais de 500 jornais em um mês, ganhando a sonhada magrela e virando matéria no próprio jornal que tanto vendeu? Em 1975 ele foi pela primeira vez para a UnB, trabalhar na banca de revista de Dona Chica, sua protetora. “Devo muito do que sou a ela, que me apoiou e me trouxe para a UnB, onde encontrei a efervescência de que precisava”, conta Chiquinho. Nos cinco anos em que trabalhou na banca ele aproveitava o tempo ocioso consumindo literatura. Lia em média seis livros por semana e conta a lenda que, quando se empolgava com um livro, chegava a ler dez horas seguidas. Daí para se tornar livreiro foi um pulo. Depois que saiu da banca passou a vender livros por conta própria, de mão
em mão, na universidade. Era visto, sempre, com uma ou duas sacolas cheias de livros nos ombros. Vendia de tudo: livros didáticos, literatura, poesia. Depois de sete anos, já bem conhecido dos alunos e dos funcionários e professores, foi agraciado com um espaço na Ala Norte para instalar seu pequeno negócio. E está nele até hoje, 28 anos depois. Chiquinho fica em sua livraria de segunda a sexta-feira. Além de vender livros, ele recomenda títulos a alunos, funcionários e professores, aceita encomendas de livros raros, faz lançamentos e expõe livros de autores da cidade. Nos últimos anos tem promovido debates e encontros de escritores, na busca da preservação da memória de Brasília e da UnB, chamados de aulas-memórias, que acontecem uma vez por mês em frente à sua livraria. Por lá já passaram professores renomados como Roque Laraia, o escritor João Almino, da ABL, o educador José Pacheco, criador da Escola da Ponte, e até mesmo um candidato à presidência de Portugal, Antônio Sampaio Novua. Os alunos prestigiam e os debates são produtivos, ele garante. “É importante a gente lembrar quem somos, analisarmos os fatos passados para entendermos melhor o presente e preservamos nossa alma cidadã. Se não, a gente vai se diminuíndo, perdendo nossa essência”, afirma. Por seu amor pelos livros e pela cultura de Brasília, Chiquinho já recebeu diversas homenagens e até o título de cidadão honorário do Distrito Federal. Foi personagem do Fantástico, da TV Globo, e é quase uma celebridade em sua Sobradinho. Cinquentão, não quer nem pensar em aposentadoria. O plano é seguir trabalhando, ler mais e aumentar sua coleção de autógrafos, um hobby de mais de 30 anos. Orgulhoso, conta que tem assinaturas de Nelson Mandela, do escritor moçambicano Mia Couto e de alguns prêmios Nobel. Quem sabe daqui a alguns anos a assinatura dele também seja cobiçada por outros colecionadores...
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QUEESPETÁCULO
O herói interno de cada um A
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atriz Clarice Cardell, da companhia hispano-brasileira La Casa Incierta, encara o espetáculo Meninos da guerra, encenado em 2015, como uma experiência difícil, desgastante, mas muito gratificante. A montagem foi concebida a partir de histórias de vida de um grupo de jovens do Distrito Federal em situação de risco, moradores de abrigos, e contando com esses adolescentes no elenco. “Alguns sumiram durante os ensaios, um deles morreu. Parecia que não íamos conseguir, mas com o tempo fomos criando uma relação de confiança com esses meninos e meninas e o espetáculo conseguiu muita repercussão”, lembra a atriz. A partir dali surgiu o desejo da companhia teatral de, mais uma vez, trabalhar com esses jovens. Uma vontade, ali-
ás, recíproca. Seis dos integrantes do elenco de Meninos da guerra estão também no novo espetáculo da companhia, Teto e paz. “O teatro para mim foi uma experiência muito positiva. Depois da primeira
peça fui convidado para outra, depois para estrelar um curta-metragem. Quem sabe algum dia estarei numa novela?”, entusiasma-se João Vitor Barbosa Arantes, 17 anos. Além de Clarice e dos seis jovens, Fotos: Gustavo Amora
POR PEDRO BRANDT
Teto e paz
25 e 26/5, às 21h, e 27/5, às 20h, no Espaço Cultural Samambaia; 2 e 3/6, às 21h, e 4/6, às 20h, no Sala Plínio Marcos da Funarte (Eixo Monumental, entre a Torre de TV e o Clube do Choro).
Diego Bresani
completam o elenco os atores Lívia Fernandes e Jeff Alves. O DJ Leo e o rapper Gog são os responsáveis pela trilha sonora original, que será executada ao vivo. A estreia de Teto epaz está marcada para 25 de maio no Espaço Cultural Samambaia. De lá, onde fica até o dia 27, segue para a Sala Plínio Marcos da Funarte, onde será apresentado de 2 a 4 de junho. O espetáculo, que tem patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), foi selecionado para participar do festival Cena Contemporânea, que começa em agosto. Diretor e dramaturgo de La Casa Incierta, Carlos Laredo construiu Teto e paz novamente a partir de conversas com os jovens do elenco. “Eles cresceram. A situação é completamente diferente”, detalha. “Antes, era uma situação muito delicada, agora não. Todos querem trabalhar, estar juntos, propor ideias. E estão mais confiantes. É uma relação muito mais parecida com a de um grupo profissional”. Teto e paz é um desdobramento de Meninos da guerra, mas a abordagem, explica Clarice Cardell, é diferente. “O primeiro mostrava uma realidade nua e crua. Era uma porrada. As pessoas saiam aos prantos, muito mexidas. Tinha uma estética muito realista. Em Teto e paz entramos no território da metáfora. A gente fala da realidade deles, mas resgata a mítica do herói dentro de cada um”. Sobre a dramaturgia, Laredo comenta que a linguagem do espetáculo é mais poética do que narrativa. “Ela é mais vertical do que horizontal. A intenção não é transmitir a realidade. Quero colocar uma delicadeza, uma leitura de coisas que não são possíveis de contar se você não faz um voo poético”. O texto, surgido das conversas com o elenco, revela situações como abandono e violência, segundo Carlos Laredo. “São pessoas vulneráveis que conseguiram sobreviver em condições que eu nunca conseguiria. Como eles conseguiram sair disso e viver uma vida diferente? Tentei traduzir em palavras o que é um comportamento heróico, de proteger o outro, salvar outras pessoas, ser pai e mãe, perdoar”.
Jogo poético cheio de humor POR JOSÉ MAURÍCIO FILHO
“C
riatividade”. Até hoje este é um termo que não aceita uma única definição. A criatividade é motor essencial para a evolução da espécie humana. Mas há quem vá além, atribuindo a Deus a definição de “essência da força criativa”. Fruto da complexidade natural da condição humana, a criatividade transforma a realidade, contextualiza, relativiza, origina. Com base nestas reflexões nasceu o espetáculo Cria, texto da diretora Ana Flávia Garcia interpretado pelas atrizes Caísa Tibúrcio e Nara Faria. A peça faz temporada em maio e junho, iniciada pelos campi do Instituto Federal de Brasília (IFB) em Taguatinga Norte e no Gama e que prosseguirá nos próximos fins de semana no IFB de Ceilândia e no Teatro Goldoni, da Asa Sul. Cria é um jogo poético que aborda assuntos que perpassam o universo humano, especialmente o feminino. Temas como a interdependência entre os opostos (só há o claro porque existe o escuro; o mal porque há o bem etc), a incompletude, a luta pelo poder, a materniadade e até a telepatia são tratados de forma poética e cheia de humor. As personagens passeiam por dimensões físicas e espaços alternativos. Podem ir de um ambiente concreto a um pulo no desconhecido, mas manten-
do sempre referências à realidade atual. O espetáculo nasceu de uma pesquisa iniciada pelas duas atrizes, sob a supervisão da artista mexicana Gabriela Muñoz, consagrada pelo trabalho com a linguagem do clown e especialista na investigação do silêncio como recurso cênico capaz de comunicação universal. Mas Caísa Tibúrcio e Nara Faria tinham muito o que dizer com palavras. Foi quando entrou em cena a atriz, diretora e autora Ana Flávia Garcia. O repertório temático foi oferecido pelas duas intérpretes, que provocaram a “criatividade” de Ana Flávia com reflexões, imagens, trilhas sonoras, pesquisas, referências etc. Caísa Tibúrcio e Nara Faria são atrizes com trajetória consolidada em Brasília. As duas já dividem o palco em Achadouros - Teatro para bebês e primeira infância, com direção de José Regino. Caísa é também diretora (já assinou projetos como Presépio de hilaridades humanas e Zezinho e o anjo marmanjo), integrou os grupos Esquadrão da Vida e Cia. Burlesca e tem a palhaça Ananica. Nara Faria é arteeducadora e ministra cursos de dança, circo, teatro e cinema, além de ter integrado a Cia. Nós no Bambu. Cria
23 e 24/5, às 21h, no IFB de Ceilândia; de 26/5 a 4/6 no Teatro Goldoni (EQS 208/209), com sessões às sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 20h. Entrada franca. Classificação indicativa: 16 anos.
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LUZCÂMERAAÇÃO
O ator brasileiro por excelência Mostra em comemoração ao centenário de Grande Othelo traz a Brasília 29 dos mais importantes filmes em que atuou POR SÉRGIO MORICONI
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m dos maiores atores de cinema e teatro que o Brasil já conheceu, Grande Othelo talvez seja o artista que melhor representou as gran-
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dezas e misérias do povo brasileiro, elevando este último atributo (a miséria) às raias do sublime. Grande Othelo – O maior ator do Brasil não deixa por menos. Os curadores Breno Lira Gomes e João Monteiro traçaram o percurso desse ator singularíssimo em 29 filmes que sintetizam todas as facetas do homem que deu a feição mais potente e peculiar das chamadas chanchadas da Atlântida, assim como dos filmes engajados politicamente do Cinema Novo. Cito, entre vários outros, Rio, Zona Norte, de Nélson Pereira dos Santos, e Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade. A mostra inclui um debate com as presenças de Mário Prata, um dos filhos de Grande Othelo, do curador Breno Lira e do crítico do Correio Braziliense Ricardo Daehn, dia 26 de maio, às 19 horas, no Auditório Dois Candangos da UnB. Na ocasião será exibido o documentário Grande Othelo – O gênio negro da arte brasileira. Não há como compreender a arte de Othelo sem conhecermos um pouco de
sua vida. Se isso é um truísmo para todos os artistas, é ainda mais verdadeiro para ele. Grande Othelo teve uma trajetória artística que desafiava historiadores e críticos a tentar compreender questões que em muito transcendiam os assuntos estritamente relacionados com o campo das artes da representação. A originalidade de Othelo tem muito a ver com as extraordinárias peculiaridades de sua vida, que resultariam no seu estilo único de atuar no teatro e no cinema. Negro, um tampinha franzino de exatos um metro e meio de altura, Othelo talvez estivesse predestinado para o circo, dadas as excentricidades de seu minúsculo porte físico e da inclinação histriônica demonstrada desde a mais tenra infância. Nascido Sebastião Bernardes de Souza Prata na cidade mineira de Uberlândia, sua família se tornaria agregada dos Prata, cujo sobrenome seria incorporado ao de Othelo pelos pais de sangue Francisco e Maria Abadia de Souza. Esse fato já nos dá uma ideia de como se davam as rela-
Fotos acervo Atlântida Cinematográfica
ções de classe e raça no Brasil no início do século passado. Othelo teria outra experiência muito singular logo nos primeiros anos de vida: como sua mãe não tinha leite, o “Chico dos Prata”, como passou a ser conhecido, seria amamentado por Augusta Maria de Freitas, uma jovem branca e rica para cuja família os pais de Othelo costumavam fazer trabalhos ocasionais. Grande Othelo tinha uma mãe de leite branca! Isso explica porque o ator, convidado por entidades negras para um evento de comemoração do Quilombo dos Palmares no inicio dos anos 1980, iniciou sua fala dizendo (para estupefação geral): “Em primeiro lugar eu gostaria de agradecer às minhas duas mães brancas”. Sim, ele teria uma outra protetora, também branca, quando o ator mirim volta de suas perambulações pelo Brasil como parte do elenco da Companhia Negra de Revistas. Tinha 11 anos e integrava com grande sucesso o elenco das peças Café torrado, Carvão nacional e, finalmente, Tudo preto, ocasião em que passa a ser conhecido como “Pequeno Othelo”. O “Grande” só viria depois. Com a maioridade, dono do seu próprio nariz, Othelo sai à procura dos amigos que havia feito nas companhias de variedades e se integra ao grupo de Jardel Jércoles, pai do ator Jardel Filho, com quem contracenaria muitos anos depois no clássico Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade. Com Jardel Jércoles, na peça No goal, no Teatro João Caetano, é apresentado como “The Great Othelo”. O Pequeno
O artista com mulher e filhos
Othelo tornara-se pela primeira vez Grande Othelo. O circo foi a primeira escola, especialmente o contato com o mineiro Benjamin de Oliveira, natural de Pará de Minas, escravo alforriado, primeiro palhaço negro brasileiro. O dramaturgo, jornalista e poeta Arthur de Azevedo narra num de seus textos a forte impressão que lhe causou uma transposição para o picadeiro de Othelo, de Shakespeare, vivida por Benjamin de Oliveira, como impressionante, “superando todas que já havia visto antes”. Ele próprio, Benjamin, protagonizaria Peri, na peça O guarani, inspirada na obra de José de Alencar. Interessa aqui ressaltar o fato de que a peça foi registrada em filme pela Photo-Cinematographica Brasileira. O que isso tem a ver com Othelo? A relação desse fato com a vida de Grande Othelo, e para a compreensão de como se deram as relações entre as raças no Brasil, não deixa de ser interessante. Ora, é sabido que esses pequenos fragmentos de filmes da chamada Bela Época do cinema brasileiro circularam por décadas pelas salas do interior, muito provavelmente por Uberlândia, onde Grande Othelo era um dos mais fervorosos frequentadores das salas de cinema locais. Não deixa de ser interessante observar que Benjamin atuou com o rosto pintado de branco com alvaiade, aquele derivado do chumbo que, misturado com gelatina, servia para a fabricação da cor branca nas pinturas a óleo. Dizem que o Brasil não é um país para amadores – talvez nem para profissionais! Compreender esse país não é mesmo uma tarefa fácil: o negro Benjamin pintado, fazendo papel de branco, exato oposto do
que sucedeu com os atores de O cantor de jazz, primeiro filme sonoro do cinema, onde atores brancos viveram músicos negros norte-americanos. A inversão de valores à brasileira seria o traço característico das chanchadas da Atlântida. Elas fariam de Grande Othelo uma estrela de primeira grandeza do cinema. Lembramos da emblemática cena do galpão em Carnaval no fogo (1950), em que Othelo, travestido de Julieta, contracena com Oscarito, fazendo sedutoras caras e bocas – a boca em forma de flor, sua especialidade. Essa e outras tantas cenas similares expressam todas as características da paródia, estilo que fez a fama da companhia e do nosso herói. Sua trajetória de vida seria dramatizada em Moleque Tião (1943), o racismo em Também somos irmãos (1949), ambos de José Carlos Burle, as diferentes nuances do drama social brasileiro em Amei um bicheiro (1953), de Carlos Manga, Rio, Zona Norte (1957), de Nélson Pereira dos Santos, e Assalto ao trem pagador (1962), de Roberto Farias, culminando com Macunaíma (1968), obra ultra cult. Paródia refinada baseada no clássico livro de Mário de Andrade, Macunaíma dá algumas pistas sobre de que forma podemos compreender (ou tentar compreender) o caráter brasileiro, a ambígua relação entre classes e raças no Brasil, assim como as razões pelas quais um país capitalista periférico pode produzir um gênio com a complexidade singular de Grande Othelo. Grande Otelo – O maior ator do Brasil
De 24/5 a 4/6 no Cine Cultura Liberty Mall (Setor Comercial Norte, Quadra 2). Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia, para maiores de 60 anos, professores, estudantes, clientes e funcionários do BRB).
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CRÔNICADACONCEIÇÃO
Crônica da
Conceição
Deus e o diabo na terra do ódio “Sabe, no fundo eu sou um sentimental Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo (além da sífilis, é claro) Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora...”
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screvo em fogueira ardendo. Há ódio insano à direita e à esquerda também. Onde é que isso vai parar? Há uma guerra da qual todos seremos derrotados, nós e a sanidade, a temperança, o pensamento lógico, a verdade (se é que existe) insofismável, a honestidade intelectual, está tudo se dissolvendo em uma direita odienta e uma esquerda com não menos ódio. O brasileiro cordial esconde o ódio no mesmo peito onde bate o lirismo mais meloso. Há algo de bom nisso tudo: estamos sabendo um pouco mais sobre o que se pode chamar, vagamente, de povo brasileiro. Como gosto de repetir, Darcy Ribeiro já disse que “a doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal que também somos”. Nesta hora, em que nos digladiamos por nossas crenças, o insensível e o brutal que há em nós aparece em toda a sua descomunal magnitude. É um território de perigosa beligerância, confrontos entre surdos, mudos e cegos. Todos só escutam e veem o que lhes fortalece. Qualquer informação ou percepção que que-
bre o ego político das verdades absolutas será tratada como desdém. Escrevo sob profunda indignação com os ataques a Renato Alves, ex-colega de Correio Braziliense e amigo querido. Desde que publicou o endereço de José Dirceu em Brasília, as redes sociais à esquerda espumaram de ódio. Ficasse só na verborragia odienta dava até para suportar, dadas as circunstâncias. Porém, a reação passou a ser perigosa: ameaças e ataques via redes sociais, incluindo a publicação do endereço da escola da filha de Renato. Se o repórter pisou na bola, e pisou, não é dele a responsabilidade pelo uso odiento que o jornal fez do assunto. Como eu disse a Renato: publicar endereço de qualquer personagem de matéria, a menos que autorizado expressamente por ele, é grave. No que Renato reagiu: ninguém reclama quando sobrevoam a casa do Eike Batista, fazem protestos em frente à casa do ForaTemer, impedem a saída de Yeda Crusius de casa, com os netos. Ao que acrescento: vale do mesmo modo para José Dirceu, Gleise Hoffman, a família Lula da Silva, para mim e para você que eventualmente ainda esteja me lendo. A casa de cada um de nós é, depois do corpo, nosso território mais inviolável. Violar uma casa é violar a extensão do corpo, o sobre-corpo que nos protege dos demasiados perigos do viver e que nos permite fruir da intimidade nossa e do convívio com nossos queridos. Ninguém poderia ser preso dentro de casa, invadir sob qualquer pretexto a casa de alguém
deveria ser crime. O mais cruel dos humanos ainda merece uma casa. Por humano que é ou que um dia pretendeu ser. O mais grave sintoma da esquerda é se achar melhor do que a direita e fazer dessa exacerbada auto-estima justificativa para pisar na bola. Posso considerar, como considero, que à esquerda estão os mais genuínos compromissos com os direitos humanos, a justa distribuição de renda, a defesa dos direitos dos índios, dos negros, das mulheres, das minorias. A esquerda respira oxigênio mais humanista, por isso me achego a ela. Mas não me é permitido achar que a casa do Lula merece mais proteção do que a do Temer. O que trará de volta a confiança do eleitor na esquerda será a transparência de argumentos e procedimentos. Mesmo que seja preciso recuar 30 anos, mas começar de novo a partir de outros pressupostos. A ira não soma, afasta, e já estamos demasiadamente solitários embora iludidos com as redes e os grupos. Qualquer pessoa com um mínimo de honestidade intelectual, daquela que ao aplicada a si mesmo sente o chão derreter, qualquer pessoa que faça esse exercício saberá que há uma perseguição evidente a Lula e ao PT e uma proteção explícita ao PSDB. Porém, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. A política do olho por olho, dente por dente tem largos exemplos históricos de que resulta em barbárie. Iguala a esquerda ao pior deste Brasil tão perdido de si mesmo. É afundar no ódio. De onde não sairemos tão cedo.
Belém – Pará
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