Ano XVI • nº 267 Setembro de 2017
R$ 5,90
Festival
cinquentão
Era uma vez Brasília, de Adirley Queirós, é o concorrente do DF nessa edição histórica do mais antigo evento cinematográfico do país
A Copa Airlines leva vocĂŞ diariamente de BrasĂlia para mais de 70 destinos n
nas AmĂŠricas e no Caribe. Aproveite!
EMPOUCASPALAVRAS Divulgação
Desde que nossa revista nasceu, há quase 16 anos, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro sempre teve lugar garantido em todas as capas que anunciam sua chegada. Afinal, é a iniciativa cultural brasiliense de mais importância, que se consagrou como o primeiro festival de cinema realizado no país. Sua dimensão histórica confunde-se com a trajetória do cinema brasileiro contemporâneo. Já está no ar a edição 2017 do cinquentão que enfrentou censura, crises políticas e econômicas e foi suspenso durante a ditadura, de 1972 e 1974. Idealizado pelo crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes, chega à sua quinquagésima edição ampliado, com dez dias de duração, e robusto, com programação de 150 produções (página 28). Dos nove longas-metragens integrantes da mostra competitiva do festival, apenas um é prata da casa: Era uma vez Brasília, de Adirley Queirós, um cineasta da Ceilândia que já ganhou o prêmio de melhor filme na edição de 2014, com Branco sai, preto fica (página 31). Na seara gastronômica, as novidades não são poucas. Há escolhas de sobra para quem não tem problemas com a balança, como é o caso das guloseimas húngaras presentes no cardápio da Duna; das doçuras confeccionadas com limão, da doceria João Limão; das criações veramente italianas, do restô Siamo Noi; da cozinha artesanal do Bla’s; e, finalmente, do bacalhau e do pastel de nata carros-chefes da recém-inaugurada Tasca da Vila. Um consolo, contudo, para quem tem problemas com as calorias a mais é a fórmula criada por uma chef e uma nutricionista para integrar o cardápio do restaurante Dalí Camões: caldo, entrada, prato principal, sobremesa e café totalizando apenas 300 calorias. Tudo isso está explicado a partir da página 6, onde começa a sessão Água na Boca. Terminando essas poucas – ou seriam muitas? – palavras, sugerimos que fiquem de olho na programação musical da cidade, que vem de carona no mega badalado Rock in Rio. É que os produtores de bandas internacionais com presença garantida nesse festival aproveitam para esticar a agenda de seus popstars para outros destinos nacionais, como é o caso de Pet Shop Boys, The Cult e Nile Rodgers & Chic, com três shows confirmados em solo brasiliense, conforme o leitor pode conferir em Graves & Agudos, a partir da página 26. Boa leitura e até outubro.
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graves&agudos
Atrações internacionais do Rock in Rio, Pet Shop Boys (foto), The Cult e Nile Rodgers fazem escala em Brasília
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águanaboca picadinho garfadas&goles pão&vinho dia&noite galeriadearte luzcâmeraação crônicadaconceição
Maria Teresa Fernandes Editora
ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14, Conjunto 2, Casa 7, Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes | Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa Carlos Roberto Ferreira, sobre foto de Joana Pimenta | Colaboradores Alessandra Braz, Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre Franco, Ana Vilela, Cláudio Ferreira, Conceição Freitas, Elaina Daher, Heitor Menezes, Laís di Giorno, Lúcia Leão, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Ronaldo Morado, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Teresa Mello, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle | Fotografia Rodrigo Ribeiro Para anunciar 99988.5360 | Impressão Editora Gráfica Ipiranga Tiragem: 20.000 exemplares.
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PENHA – SANTA CATARINA
MINISTÉRIO DO TURISMO
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ÁGUANABOCA
Guloseimas húngaras POR VILANY KEHRLE FOTOS RODRIGO RIBEIRO
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o abrir o cardápio da Duna, o cliente se depara com um poema que celebra um dos grandes símbolos da Hungria: “... É que sou menino. Lá faço curva e sigo manso... Eu sou o Danúbio! E aqui, nesta casa, também me chamam Duna!” Funcionando desde o final de abril em caráter experimental, e a todo vapor a partir de 5 de agosto, a Duna – Casa Húngara surgiu de um antigo sonho aca-
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lentado pela jornalista Gabriela Körössy. É ela a autora do poema impresso no menu. Capixaba criada no Triângulo Mineiro, filha de pais nascidos na Hungria – eles chegaram ao Brasil fugindo da guerra, mas foi aqui que se conheceram –, Gabriela fala fluentemente a língua dos antepassados e seu paladar foi educado com os sabores da culinária tradicional húngara. Ela diz que tudo que sabe aprendeu com “o perfume do bolo feito em casa”. A Duna tornou-se realidade depois que Gabriela, acompanhada do marido, o fotojornalista e parceiro nos negócios Laycer Tomaz, passou uma temporada na Hungria, onde visitou cafés e restaurantes, aprimorou e aprendeu novas receitas culinárias. “A Duna está servindo para preservar e divulgar a cultura húngara e, também, para misturar o calor e a receptividade dessa cultura e da brasileira”, afirma a jornalista. Caracterizada pelas carnes de porco, de aves e defumadas, pelas saladas azedas e por temperos fortes como a páprica, pimentão, pimenta do reino e kümmel (espécie de cominho alemão), a gastronomia húngara também é conhecida pelos doces, bolos e sopas, como o tradicional goulash, adotado também pelos austríacos e
tchecos durante o Império Austro-Húngaro (1867-1918). Um dos pontos altos da casa são as tortas doces, cada uma recheada de boas histórias. A Dobos (camada de pão de ló com creme de chocolate meio amargo, café e rum, coberta com caramelo crocante) surgiu em 1885, quando um confeiteiro que dá nome ao doce a inventou para recepcionar o casal de imperadores. Já a Blaja Lujza (amêndoas com geleia de framboesa) homenageia uma grande dama do teatro húngaro, filha de artistas mambembes. A Esterházy (feita de nozes) e a Ringó Jancsi (pão de ló de chocolate com mousse de chocolate meio amargo ao rum) são as outras duas tortas clássicas oferecidas pela casa, todas ao preço de R$ 14. A Kavé (de nozes e café), criação da própria Gabriela, e outras feitas com a massa que sua mãe preparava em casa, como a Almás (tartelete de maçã), a Lekvaros (tartelete de framboesa com creme de ricota), a Kortés (tartelete de pera) e a Linzer (biscoito amanteigado de amêndoas com geleia de fruta) são outras que compõem o cardápio dos doces, resultado de um trabalho minucioso e delicado da proprietária. “Minha filha diz que a cozinha é o meu laboratório de química, física. É verdade.
Cozinha
artesanal
Duna – Casa Húngara
214 Norte, Bloco C (3576.0102). 3ª e 4ª feira, das 9 às 21h; 5ª e 6ª, das 9 às 22h; sábado e domingo, das 8 às 22h.
Asa Norte”. Ali está, virado para os blocos residenciais, o pequeno espaço acolhedor, com suas mesas de madeira, fachada decorada e iluminação delicada. Como o de inúmeras casas. O Bla’s – acrônimo do sobrenome do chef Gabriel Braga Lima Albano – é uma dessas consubstanciações oportunas que surgem em grandes centros. Um profissional que descobre sob suas atividades rotineiras – Gabriel era especialista em TI – uma delicadeza que só serve às mais su-
POR VICTOR CRUZEIRO
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ma caminhada por qualquer quadra do Plano Piloto mostra a rotatividade de bares e restaurantes de Brasília. Uma mesma comercial pode apresentar, em dois momentos do ano, diferentes ideias, propostas e apostas. Afinal de contas, estamos lidando com estabelecimentos comerciais. Mas... e quando o assunto é gastronomia? Os altos e baixos das tendências, as preferências de certos grupos e as oscilações de preços podem competir – ou serem equiparadas – ao aprendizado e evolução de uma equipe de cozinha, aos desafios de criação de um chef ou mesmo à consistência de um menu que una proposta e objetivo? É importante louvar e conhecer as casas que abrem e se mantêm. Um bom exemplo é o Bla’s. Fundado em 2013, já se mostra sui generis pela localização, na 406 Norte, quadra que abriga o Sebinho Café e uma variedade de restaurantes por quilo, e que está às portas do complexo de bares grosseiramente rotulado de “Baixa
Fotos: Divulgação
Tudo lá me encanta”, confessa Gabriela. Quem gosta de uma boa sopa nas noites frias encontra na casa três opções: a de creme de cebola (R$ 16), a de cogumelos com queijo brie (R$ 20) e o goulash, um guisado de carne com páprica (R$ 18). Quem preferir lanchinhos vai se deliciar com o Töpörtös Pogácsa (pão de torresmo), o Sajtos Rudák (palitinhos de queijo nos sabores parmesão, kümmel e anchovas), o Sajtos Pogácsa (pãozinho de queijo húngaro) e o Körözöt (patê de ricota, páprica, kümmel e cebola). Mas também há croissants, sanduíches e pães da casa. Além de chás, licores, conhaque, cervejas, algumas de origem tcheca e austríaca, a Duna serve vinhos húngaros de alta qualidade, como os Tokaji Aszú, que custam R$ 224, conhecidos pela leveza e aroma diferente.
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ÁGUANABOCA vimentado, algum cliente o interpelou curioso para saber como tanto podia ser feito em espaço tão pequeno. Em pouco tempo, esse obstáculo será ultrapassado. Outro obstáculo superado foi o atendimento, que foi sendo lapidado com o mesmo esmero da equipe da cozinha. As sobremesas da casa (como a torta de Nutella e crocante – R$ 16,90) foram aos poucos sendo criadas, tendo hoje um profissional exclusivo para elas. A adequação às diversas necessidades dos clientes, como vegetarianos, por exemplo, foi sendo feita com opções como a substituição da carne por cogumelos e por receitas especiais, como cogumelos na manteiga e shoyu, acompanhados de cubos de legumes, que desponta no cardápio como uma forte opção. A música ao vivo, que por muito tempo esteve fora (por ecos da tenebrosa lei do silêncio que assola a cidade), também planeja sua volta após a reforma, com estilos variados durante a semana (de terça ou quarta até sábado), para dar mais vida àquele cantinho da 406 Norte. No mais, seja pensando em novas formas de apresentar seus pratos, em renovar as opções e mesmo e oferecer novos serviços, o forte do Bla’s é, sem dúvida, o atento e calmo passar do tempo. É o lento progresso de uma casa que não pretende ser nenhuma outra, nem tampouco manter-se a mesma e, por isso, segue firme e forte há quase quatro anos. Bla’s
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tis artesanias. Não há aplicação prática para o deleite de cozinhar, nem para o bem, nem para o mal. Gabriel apostou nessa ideia. Primeiro, com uma lanchonete. Em seguida, com o restaurante. A vontade de diversificar sua produção, de arriscar e surpreender, é um dos seus nortes, não só como chef, mas como membro de uma equipe de cozinha. Para ele, modificar continuamente o cardápio é uma maneira não só de atrair novos clientes e eventualmente surpreender os contumazes, mas também de prezar pelo bom trabalho dos profissionais da cozinha. Esse é um dos pontos que pode ajudar a explicar a longevidade da casa. Mas o processo não está nem perto de acabar, afirma Gabriel. Longe de se con-
solidar em um nicho, o Bla’s está se descobrindo cada vez mais. O chef diz que não tem um rótulo, de comida italiana, japonesa ou brasileira. Sua melhor definição é a de um restaurante em ritmo constante. Assim, ele pode brincar com novos componentes e técnicas, deixando em evidência sua principal filosofia: oferecer ao cliente o que ele gostaria de comer, pelo preço que ele quer pagar. Nessa cadência de novas experiências, Gabriel já antecipa o que virá por aí. O restaurante, que hoje ocupa três lojas, foi crescendo aos poucos e quer crescer mais. No início de 2018, ele dará início a uma grande reforma, que incluirá uma cozinha “do tamanho de qualquer ideia”. Foram vários os momentos em que, num dia mo-
Fotos: Divulgação
406 Norte, Bloco D (3879-3430). De segunda a sábado, das 12 às 15h e das 19 às 23h.
Italiano de raiz padaria, que conta com opções como o turamisù, a panacota e as tortas do dia. Enquanto degustam a gastronomia do Siamo Noi, os clientes podem aproveitar os ambientes decorados pelo próprio Carbonara, pensados para que todos se sintam à vontade. No salão do restaurante, um poste aproveitado do antigo endereço da casa decora o espaço e reforça a ideia de uma pequena praça. Ou melhor: de uma piccola piazza. Siamo Noi
405 Sul, Bloco B (3242.7786) De 3ª feira a sábado, das 11 às 23h; domingo, das 12 às 16h; 2ª feira, das 11 às 22h. Fotos: Rômulo Juracy
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astronomia italiana tradicional e sem frescura. Esta é a nova proposta do Siamo Noi, da 405 Sul. Após passar por uma grande reforma, a casa reabriu as portas no início deste mês repleta de novidades. A começar pelo espaço, que agora traz o conceito de praça, ao integrar o restaurante com a padaria. A ideia é oferecer diversas opções: café, padaria, bar e restaurante. “Queremos proporcionar aos clientes uma experiência em que ele se sinta à vontade, entre amigos”, afirma o chef e empresário Milton Carbonara. Pensando nisso, ele apostou em um menu italiano de raiz. Pratos como a lasanha à bolonhesa, preparada na hora com camadas de massa fresca, ragú de carne bovina e muçarela (R$ 43), e a parmegiana de berinjela, finalizada com muçarela gratinada (R$ 49), vêm à mesa em porções fartas. Descendente de italianos, o chef conta que a tradição está presente até na forma mais rústica de servir: “A cozinha italiana é prática. A maioria dos pratos clássicos foi criada no período pós-guerra, quando as pessoas não tinham praticamente nada para comer. Então, eles abriam a geladeira e cozinhavam com o que tinham. Isso é tradição”. Ainda assim, o restaurante oferece pratos contemporâneos e autorais a preços acessíveis. É o caso do ravioli de carne seca, com abóbora na manteiga à base de manjericão (R$ 39), do linguine ao molho de pes-
to genovese com frango desfiado e lascas de parmesão (R$ 45) e do espaguete com tiras de filé mignon em redução de vinho tinto com funghi e parmesão (R$ 43). Totalmente contra o uso de produtos industrializados, Carbonara aposta em uma cozinha artesanal e de qualidade. Tanto que são comuns histórias de clientes que se recordam da infância por meio dos pratos. “O que está acontecendo na maioria dos restaurantes hoje em dia? Tudo vem pronto. Então, o molho bolonhesa vem pronto, a lasanha, o molho de tomate pelado... Aqui não, a gente faz tudo do zero. Então, não é aquela coisa que fica pronta em meia hora, é um processo para extrair o sabor”, afirma. Em geral, os pratos da casa são uma combinação dos temperos brasileiros com o modo de preparo italiano. Numa primeira visita ao Siamo Noi, vale degustar os preferidos do chef, como o risoto de frutos de mar flambados no vinho branco com pesto (R$ 39), o risoto de linguiça calabresa flambada no vinho tinto, pimenta calabresa e molho de tomate (R$ 43) e a parmegiana tradicional (de berinjela) feita no forno. “Muita gente ainda fica surpresa quando descobre que aquela parmegiana de frango não é a tradicional italiana, e sim a de berinjela”, diverte-se o chef. Apesar de não ter carta de vinhos selecionada, a casa conta com rótulos acessíveis e oferece indicações para harmonização. “Preferimos que o cliente se sinta à vontade de escolher qualquer tipo de vinho”, diz o chef. Já as sobremesas vêm da
Fotos: Rômulo Juracy
POR LAÍS DI GIORNO
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300 saborosas calorias Fórmula elaborada por chef e nutricionista está no cardápio do restaurante Dalí Camões
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uando recebeu o desafio de criar um menu em quatro etapas que não ultrapassasse 300 calorias, a chef Myriam Carvalho inicialmente pensou: “Não vou conseguir”. Ainda mais porque deveria abrir mão do uso de azeite e manteiga, os ingredientes mais queridinhos dos chefs de cozinha. Mas, juntando sua experiência com a da nutricionista Isadora Fadul, do Centro Terapêutico Dr. Máximo Ravenna, percebeu que a missão não era tão impossível assim. O resultado dessa parceria está desde 29 de agosto no cardápio do restaurante Dalí Camões, do Complexo Brasil 21. O combo – que consiste em uma bebida, um caldo, uma entrada, um prato principal, uma sobremesa e um café – foi lançado ao preço promocional de R$ 62. A partir do dia seguinte, entretanto, o preço passou a ser determinado pelo do prato principal, que varia de R$ 65 a R$ 80. São três opções de caldos: o verde, o de frutos do mar e o de cebola. A seguir, o candidato a consumir apenas 300 calorias pode escolher entre as saladas de espina-
fre com cogumelo Paris e vinagre balsâmico, de camarão com redução de laranja, a niçoise e a de aspargos com cenoura e alho poró ao molho Dijon. Entre os pratos principais, há o bacalhau de nata com brócolis alho e óleo (R$ 80), a moqueca de camarão com banana da terra (R$ 80), o medalhão de filé ao molho Dijon e mostarda rústica guarnecido com flor de pimentão (R$ 70) e a torre de legumes com queijo e molho chimichurri (R$ 65). As opções de sobremesa são a pera assada com especiarias, a ambrosia e o caipilé de morango. O segredo desse menu hipocalórico, segundo Myriam e Isadora (na foto à direita), é abrir mão de manteiga e azeite e caprichar na utilização de grande variedade de temperos e pimentas. Além disso, são cortados os carboidratos refinados, mas permitidos, em pequenas medidas, alimentos de baixo índice glicêmico, entre proteínas, frutas, verduras e laticínios. O Centro Terapêutico Dr. Máximo Ravenna foi criado em 1991 em Buenos Aires para proporcionar a seus clientes emagrecimento saudável. Quando morou na capital argentina, a baiana Moema
Soares conheceu o método e conseguiu emagrecer 47 quilos. Em 2009, ela abriu uma filial em Salvador e posteriormente em São Paulo (2010) e em Brasília (2012). São ao todo 14 unidades na Argentina, no Uruguai, no Paraguai, na Espanha e no Brasil. Todas adotam a mesma estrutura da matriz de Buenos Aires. Tendo como ponto de partida a adoção de uma dieta hipocalórica, as atividades do centro são planejadas para que o paciente não sinta fome, angústia, falta de energia ou alterações de humor. Dalí Camões
Complexo Brasil 21 – Bloco B (3039.8156) Diariamente, das 12 às 15h e das 19 às 23h Fotos: Rômulo Juracy
POR MARIA TERESA FERNANDES
ÁGUANABOCA
Tudo com limão POR TERESA MELLO
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Fotos: Divulgação
vida de Flávio e Helena é um doce. Na medida certa, sem enjoar e com raspas de limão. A fruta cítrica domina a produção da torteria artesanal João Limão, em atividade há pouco mais de um ano no apartamento do casal no Guará II. São nove itens, entre tortas, biscoitos e kits, divulgados nas redes sociais. O investimento na doceria caseira atrai clientes como cafés e hamburguerias no Guará, em Águas Claras e na Asa Sul, além de empresas que encomendam os mimos açucarados para presentear. Web designer, o capixaba Flávio Nogueira Nery, de 36 anos, incentivado pela servidora da Universidade de Brasília Helena Lamenza, resolveu fazer a sobremesa
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preferida da dupla enquanto aguardava uma vaga de trabalho em Brasília. “A gente sempre buscava uma torta perfeita e nunca achava. Era frustrante”, conta Helena. Colocada em prática, a ideia resultou em seis meses de testes para aperfeiçoar a massa e a estética. “Queríamos uma torta que não fosse dura, que pudesse ser cortada com garfo, sem esfarelar nem quebrar”, detalha Flávio. Para isso, ele costumava abrir até seis massas na cozinha de casa. Quando Helena chegava do trabalho, encarava a tarefa de provar e avaliar. Animada, a também designer criou e registrou a marca João Limão, inspirada em histórias infantis. A base da torta é a francesa clássica, feita de trigo, manteiga e açúcar, e a cobertura leva merengue tipo suíço, mais consistente. O pâtissier prefere trabalhar com limão Taiti, adquirido em supermercado, e leite condensado de marca tradicional. Com os ingredientes selecionados, prepara tortas de 1,5kg e 25m de diâmetro, vendidas a R$ 70, e também fatias de 150g, a R$ 10. Há ainda a versão Joãozinho, em unidades de 100g cada uma, a R$ 6. Pequenos biscoitos amanteigados – o pacote com 10 itens sai a R$ 10 – e cookies de limão com chocolate branco, a R$ 5, com-
pletam o cardápio, disponível também na forma de kits à escolha do freguês (cardapio.joaolimao.com). No Dia dos Namorados, por exemplo, a preferência foi o kit para dois, composto por duas fatias de torta, dois cookies, dois pacotes de biscoito e dois Joãozinhos. Tudo sob encomenda e com taxa de entrega de R$ 10. As criações conquistaram amigos, parentes, colegas de trabalho e vizinhos, mas o maior impulso surgiu nas redes sociais neste ano, depois de terem um post divulgado no gulagramdf, perfil no Instagram com 157 mil seguidores. “De 80 seguidores, pulamos para 809”, alegra-se Flávio. “Descobri que muita gente adora limão, mas não encontrava uma torta bacana.” E em busca da torta perfeita, ele prepara um ambiente ideal de trabalho. Violonista autodidata, fez uma seleção de 35 músicas e colocou no aplicativo Spotify, com muito gipsy jazz e blues. Gosta de ouvir Django Rainhardt, Gipsy Jazz Caravan, Jonny Lang, Ray Charles. Nas favoritas, entram a trilha dos filmes Ratatouille e O fabuloso destino de Amélie Poulain. João Limão Torteria
QI 23, Guará II (98196.6767) Produtos sob encomenda por telefone ou pela internet (pedidos.joaolimao.com)
Simples e sofisticada TEXTO E FOTOS LÚCIA LEÃO
“O
Brasil é em parte responsável pelos pastéis de Belém” professa, numa interpretação bem particular da história, o sociólogo e chef de cozinha João Manuel Coelho. E segue o seu relato: com o fim das benesses financeiras da Coroa à Igreja Católica, decretado por D. Pedro I quando retornou a Portugal, os monges do Mosteiro dos Jerônimos foram obrigados a buscar sustento no trabalho. Foi quando se associaram a uma vizinha usina de cana para produzir e vender os doces de uma receita secreta até então reservados ao seu próprio deleite. E nos idos de 1837 instalaram ali, no bairro de Belém – mesmo lugar onde funciona até hoje – a “Oficina do Segredo”, desde então ponto de paragem obrigatória de lisboetas e de quem quer que visite a cidade e aprecie os prazeres do paladar. E foi assim que nosso exImperador entregou ao mundo essa maravilha da doceria portuguesa. A receita dos famosos pastéis de nata já há muito não é segredo dos monges e mestres pasteleiros dos Jerônimos, mas poucos dominam com excelência a sua técnica de fabricação. João Manuel é um deles, e já foi incensado pelos “patrícios” como produtor do melhor pastel de Be-
lém em terras brasilienses, fornecendo a iguaria para a Embaixada e a colônia portuguesa residente na capital. Agora, ela pode ser degustada por quem aprouver na Tasca da Vila, novo restaurante que João Manoel e a companheira Yannah Raslan abriram, no início de agosto, na Vila Planalto. Depois de uma rápida incursão na área de restaurantes com um bistrô no CA do Lago Norte, onde ofereciam comidas variadas em sistema de self-service e João Manuel assava sardinhas no passeio à moda das tradicionais casas populares portuguesas, os dois se recolheram para preparar o novo e bem mais sólido empreendimento. No coração da Vila Planalto – que cada vez mais se firma como polo gastronômico da cidade – a Tasca é um espaço simpático e confortável, quase informal, que oferece com simplicidade o que há de mais sofisticado na rica culinária portuguesa, como as boas receitas de bacalhau, polvo e pato. E, claro, as sardinhas, que não são mais assadas ao relento, mas preservam o sabor e os preços (R$ 9,50 a unidade servida com broa de milho e R$ 38 o prato com três sardinhas, batatas, pimentões assados e arroz) da principal iguaria de rua das cidades portuguesas. O comando da cozinha, agora, está a cargo de Yannah, que nunca frequentou
nenhuma aula de gastronomia, mas conquistou o titulo de chef com estudos pessoais e muitos experimentos, tanto no Brasil como nas casas dos familiares de João Manuel, durante os períodos que o casal viveu “além-mar”. Foi naquelas cozinhas, por exemplo, que a mineira conheceu as migas, deliciosa receita regional do Alentejo preparada com migalhas de broa de milho incorporadas a cubos de bacon e brócolis. Para quem não conhece, na Tasca tem! Mas o carro-chefe da casa ainda leva o nome do patriarca: o Bacalhau do Manuel (R$ 85), uma versão do lagareiro, com o lombo do peixe assado na brasa, coberto com lâminas de amêndoas e servido com batatas ao murro, brócolis e pimentões. O restaurante também serve o mesmo prato com polvo no lugar do bacalhau (R$ 89). E o cardápio segue com outros preparos de bacalhau e algumas das maiores tradições culinárias lusitanas, como arroz de pato (R$ 49), de polvo e de mariscos (R$ 76), caldo verde (R$ 18) e sublimes bolinhos de bacalhau (R$ 25 a porção). Para fechar, um pastel de Belém (R$ 5) e uma taça de vinho do Porto. E aí não resta dúvida: é uma casa portuguesa, com certeza! Tasca da Vila
Rua 1, Lote 1, Acampamento DFL, Vila Planalto (3327.7343). Diariamente, das 11 às 22h.
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ÁGUANABOCA
Divertida sala de espera
POR VICTOR CRUZEIRO
“A
Fotos: Divulgação
gente fica muito ansioso quando vai fazer uma tatuagem, desde o dia que decide até o dia que vai fazer”, começa a jovem Júlia Zerbinato, às portas dos seus 20 anos e exibindo belas tatuagens. Com muito entusiasmo e tranquilidade, ela e o companheiro Mateus Barjud falam sobre o momento único de gravar algo no corpo. “A gente queria criar uma experiência especial para quem está sendo tatuado... e para quem tatua!”, explica Mateus, idealizador, junto com Júlia, de um dos empreendimentos mais surpreendentes já vistos na cidade. O Rabisco Tattoo Lounge abriu as portas há pouco mais de dois meses, reu-
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nindo num só espaço um bar com duas profissionais da mixologia, uma cozinha de peso, uma proposta cultural diferenciada e um estúdio de tatuagem no segundo andar. “Não é um bar que trabalha para um estúdio”, esclarece Mateus. Ele conta que muitos estúdios de tatuagem têm um pequeno cooler com algumas cervejas, para distrair as pessoas enquanto esperam sua vez. Mas não é o suficiente para uma experiência tão sem igual. “Temos um estúdio que trabalha para o bar”. O Rabisco nasce, então, da ideia de desenhar uma nova experiência gastronômica, artística e cultural na cidade. A degustação de drinks de todo tipo, uma boa música, um ambiente incomparável (cuidadoso projeto de Fernanda Graneiro, responsável pela identidade de ícones como o Universal Diner, vizinho da casa), são adicionados ao momento de gravar na própria pele. “É um lifestyle. Não é só um negócio”, dizem os dois, satisfeitos. Voltado tanto para a residencial quanto para a comercial da 210 Sul, o Rabisco já tem público consolidado, atividades frequentes e uma dezena de ideias para serem postas em prática. Para começar, a carta de drinks é assinada por duas das melhores bartenders de Brasília: Bruna Inocente, egressa do 5uinto Bar (102 Norte), e Dayane Dias, vinda
do Paradiso Cine Bar (306 Sul). As duas desenvolveram drinks com identidade e apresentação únicas, como o Apaga a Luz e Toma (acima, no centro), com xarope de maçã verde, vodka, suco de limão e cranberry (R$ 17 ou R$ 22, dependendo da escolha da vodka), servido em um copo em formato de lâmpada, apoiado em uma pequena lanterna. Há também criações ousadas como o Sossega Leão (acima, à esquerda), de aperol, cointreau, shrub de maracujá vodka e Red Bull Tropical (R$ 28). O aperol dá uma solidez ao paladar à altura do sabor doce-cítrico do energético). E, claro, o bar está sempre aberto aos clássicos, dependendo apenas do gosto do freguês, além de servir também quatro variedades de chope da Stadt Bier. Quanto à cozinha, o chef André Amorim, do Tabuada Bar e Drinks (101 Sudoeste), chegou repleto de ideias, desde aperitivos como a Coxtela, uma porção de coxinhas de ragu de costela servidas com um fondue de queijo (R$ 35), até hambúrgueres e pastéis. André também planeja almoços executivos durante a semana, numa pegada de culinária goiana e mineira, com um toque a mais. No estúdio acima do bar, um dos tatuadores diz como o formato – único na cidade – promete, não só pelo encontro de boas ideias e profissionais, mas porque traz mais conforto para complementar esse momento único que é o de fazer um rabisco para toda a vida. Rabisco Tattoo Lounge e Bar
210 Sul, Bloco C (98662.7121 / 99973.1994)
PICADINHO Mr. Fit para viagem Pratos congelados, que podem ser levados para casa, são a principal novidade anunciada na inauguração da segunda unidade brasiliense da rede de comida saudável Mr. Fit, no Shopping ID (Praça de Alimentação, tel. 3036.1229). São muitas as opções: panqueca de frango integral, filé de frango à parmegiana, tilápia com legumes, strogonoff com biomassa de banana verde, fricassê de frango com brócolis... Desenvolvidas por nutricionistas com a preocupação de que não percam nem o sabor nem os nutrientes, as receitas são todas de baixo teor de gordura (nenhuma leva óleo ou manteiga). Quem comanda a nova franquia – uma das mais de 70 espalhadas por todo o país – é a empresária Maite Barbosa.
Festivais de lagosta
tel. 3577.5520) o crustáceo, preparado com azeite e ervas (foto abaixo), é oferecido com três opções de acompanhamento, todos ao preço de R$ 149: fettuccini ao molho de tomates, risoto de limão siciliano e legumes na manteiga.
Mafiosa
Delícias do Nordeste Essa suculenta bisteca de porco ao molho de seriguela, acompanhada de macaxeira rosti (R$ 43), é uma das novidades do cardápio do nordestino Ziriguidum Bar e Restaurante (412 Sul, Bloco A, tel. 3548.4846), junto com o filé de peixe grelhado acompanhado de cevadinha ao molho de amora (R$ 49) e do Arrumadão, uma versão do clássico pernambucano com carne de sol, baião de dois, paçoca com banana frita, macaxeira e vinagrete, acompanhado de manteiga da terra (R$39). Mas o carro-chefe da casa continua sendo o feijãozinho verde com queijo coalho (R$ 35), servido com um molho cremoso na panela de barro.
Hora de aproveitar o período de pesca da lagosta, que se encerra no final de novembro. Duas sugestões: no Ilê Praia Park (estacionamento 9 do Parque da Cidade, tel. 3443.8099) a lagosta ao termidor com arroz e passas ou na manteiga de ervas com batatas assadas está sendo servida de terça a sábado, no almoço e no jantar, e no domingo, apenas no almoço, por R$ 69. No Gero (Iguatemi Shopping,
Assim foi batizada a nova criação da Pizzaria Pinna (EPIA Norte, na subida do Colorado, tel. 3591.7444). Preparada com muçarela, alho, calabresa, berinjela, palmito, brócolis, catupiry e orégano, é uma das mais pedidas entre as 30 pizzas servidas no rodizio da casa (R$ 28, com direito a refrigerantes, massas, caldos e grelhados do bufê).
Sem glúten Essa é pra quem não resiste a uma pizza, mas não quer abrir mão da dieta. Nas noites de segunda a quinta-feira e no delivery, o DuoO (103 Sul, Bloco C, tel. 3224.1515) está dando 50% de desconto na compra da segunda unidade (tamanho grande) de qualquer uma das 25 versões sem glúten, preparadas com biomassa de banana verde e farinha de arroz. Para os veganos, a casa oferece a Vitral (R$ 74), preparada com molho de tomate pelatti, mix de cogumelos, pesto de manjericão, requeijão de castanhas, cebola caramelizada, aspargos no shoyu, alho laminado e salsinha. Mas há também pizzas com proteína animal, como a Caleidoscópio (R$ 73), recheada com calabresa, muçarela sem lactose, alho-poró, orégano e pesto de brócolis com manjericão, e a Bossa Nova (R$ 85), que traz presunto de Parma, muçarela de búfala, tomate italiano e orégano.
Cozinhando com Francisco...
... e com Lionel Ortega Ensinar tradicionais receitas francesas de forma fácil e simples, em seis aulas práticas com uma hora de duração, é a proposta do curso de gastronomia da Cultura Francesa, ministrado pelo chef Lionel Ortega em uma cozinha especialmente preparada na 316 Norte. As próximas aulas (dia 21, às 18h30 e 20h30) serão no idioma francês (as outras de setembro serão nos dias 28 e 29). Cada aula custa R$ 115, mas o preço individual cai para R$ 95 quando forem feitas três inscrições juntas e para R$ 85 no caso de três ou mais inscrições. Os pratos preparados pelos alunos serão degustados por eles após as aulas, harmonizados com vinhos fornecidos pela Prime Vinho & Cultura.
Fotos: Divulgação
Começa no dia 18 mais uma edição do curso Cozinhando com Francisco – Técnicas e receitas de sucesso, que vai se estender pelas três segundas-feiras seguintes, até 9 de outubro, sempre das 19h30 às 23h30, no Dom Francisco da Asbac (SCES, Trecho 2, tel. 3224.8429). Na primeira aula, o chef Francisco Ansiliero ensinará o básico da cozinha de seu restaurante – os principais molhos, ervas e outros ingredientes utilizados – e o preparo de risotos e massas. A partir da segunda aula, os menus serão escolhidos, preparados e degustados pelos próprios alunos, enquanto o professor dará dicas sobre harmonização de cada prato com o tipo certo de vinho. O curso custa R$ 1.200 e as inscrições podem ser feitas pelos telefones 3224.8429 e 3226.2005.
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GARFADAS&GOLES
Encontro casual
LUIZ RECENA
lrecena@hotmail.com
Quarenta anos depois você encontra uma pessoa que conheceu na ponta de lá da travessia do deserto. O encontro, portanto, foi na ponta de cá. Quer dizer, os dois estão no mesmo lado do deserto. Atravessaram o dito. Estar no mesmo lado não quer dizer do mesmo lado. Afinal, teve esse deserto quase 15 mil dias de travessia, ou catorze mil seiscentos e poucos, pois tem os bissextos, que dá preguiça de calcular. Ferre-se um pouquinho a exatidão aritmética e sigamos no tema do deserto. Ou dele e a vida. O deserto é fértil. A vida é um deserto de ideias. Logo, o deserto tem ideias e a vida é fértil. Ah! Os silogismos do meu primeiro professor de Filosofia, ex-padre, Leônidas Didonet, ensinavam a gente a concluir, às vezes, que cachorro era gato, dependendo da falsa premissa. Grandes tempos! Filosofia e Política na adolescência do segundo grau. O Rio Grande do Sul tinha a mania da boa escola pública. Um avatar que elegia pessoas e consolidava carreiras políticas. Ou não. Muita gente mentiu na educação e não repetiu mandato. Pois bem, voltemos ao deserto. Meu amigo e eu não passamos 40 dias a jejuar e sofrer esperando quais desígnios Deus e Diabo nos preparavam sob o sol escaldante. O egoísmo dos dois não tinha espaço para nossas pobres perguntas baianas e gaúchas. Saramago tentou, mas botou os dois dirigentes partidários em um barco, com o nosso Cristo de remador, apenas ouvindo a discussão sobre o destino dele. Também não é o nosso caso, de cristãos novos baianos, gaúchos por Kleiton e Kledir. Vida que segue: nove chopes, meio tinto chileno e um sprinterol, croquetes, pastéis, fofocas! Papo em dia. O deserto é fértil. PS: desertos têm oásis. E os nossos são os outros amigos. Assim soube que mais um grande grupo dividiu-se em vários subgrupos, que dom Teat anda brigando, que Murr pegou a Kombi do Allende e foi morar no mato, e que o Ki Filé agora tem sanduba. Pode, Raimundo? Pode! Sucesso.
Frio da seca (1)
O friozinho da época de seca congela almas e corações. Para enfrentá-lo, só o vinho que excita as mentes. Homens e mulheres, então, com a lucidez do álcool sentem-se aquecidos e, colossos, portentos, divas, vão às lutas, às liças, a defender conceitos e o que é melhor: a alegria e a resistência da vida. Os Pires de Sá fizeram o primeiro gesto, com rótulos Valduga em um barco a singrar o lago Paranoá. Testemunhas oculares e papilares atestam as excelências servidas.
Frio da seca (2)
A peculiar e tradicional Adega Bordalesa, desde 1988, fez das suas com três atacantes de alta qualidade: Lidio Carraro, Zanella e Villa Francioni. Destaque para os espumantes da
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Zanella. Dizer surpreendentes seria ignorar realidades. Confirmar suas qualidades, porém, é mais do que dever de casa: é a constatação de novas estrelas que surgem no firmamento das borbulhas. As promoções vão continuar. Fiquem atentos: 3447.9716.
Suspiros: Ai! Ah! Oh! Fit!
Mr. Fit, fast-food da comida saudável do Brasil, é assim que eles se apresentam. É o segundo em Brasília e, digamos, a biomassa de banana verde é bem saborosa, tal como o docinho de açaí. Tem outras comidinhas mais próximas da realidade e bem gostosas, embora o forte seja a fronteira do vegetariano e do vegano, praias distantes deste surfista. Maite Barbosa, a dos suspiros de verdade, abriu a segunda casa no Venâncio ID. Toda sorte!
PÃO&VINHO
Ícones ibéricos A Península Ibérica não só recebe os brasileiros melhor que todo o resto da Europa, nas figuras de portugueses e espanhóis, como nos brinda com vinhos muitas vezes sublimes. Nesta edição trarei vinhos de ambos, na verdade um dos dois maiores ícones portugueses, o Pêra-Manca, e mais sete excepcionais exemplares da Espanha. Iniciemos logo pelo fantástico Pêra-Manca 2005. Com 95 pontos de Parker e a justa fama de um “grand cru classé” de Portugal, apresentou-se em cor quase rubi intensa, com aromas de passa e frutos secos diversos, além de cacau e tons terrosos. Ao melhor estivo Velho Mundo, apresentou um palato muito harmonioso, com taninos sedosos, ameixa preta e acidez agradável. Excelente vinho. Nos espanhóis, iniciemos pelos Ribeira, os melhores tempranillo que se pode beber. Para começar, o Llanos del Almendro 2006. De cor violácea, apresenta aromas de frutas negras, além de herbáceos e defumados. Em boca é potente, com taninos bem estruturados, e confirma o nariz a frutas negras e herbáceos. Ótimo vinho, ainda que de preço um pouco alto. Depois, o Unacepa 2010. De cor rubi, traz ao nariz frutas vermelhas maduras, especiarias, baunilha e chocolate, e à boca mostra taninos intensos e elegantes. Grande! Em seguida, vamos ao Ramírez de Ganuza Gran Reserva 2005, um Rioja de alta classe e fama equivalente. Um vinho que já recebeu 100 pontos de Parker na safra de 2004 nem precisa de muita explicação. Maravihoso nariz a café e cerejas negras, com palato de pimenta branca,
ALEXANDRE FRANCO pao&vinho@agenciaalo.com.br
frutas negras e chocolate amargo. De corpo pleno e robusto. Gastronômico como poucos. Passando à região de Yecla, terra da Monastrell por excelência e da Garnacha, iniciamos pelo Solanera 2012, da ótima bodega Castaño. Com 94 pontos de Parker e um preço muito atraente, representa excelente relação custo/ benefício. Cor rubi, aromas primários de frutas vermelhas maduras, especiarias e algum tabaco. No palato traz anis e alguma erva em corpo médio e aveludado. Muito bom! Ainda da Castaño, o Coleccion 2013. Aqui, a Monastrell é cortada com a Cabernet Sauvignon. De cor rubi intensa, apresenta aromas de frutas negras maduras, pimenta e cravo, além de agradável toque amadeirado. Na boca é redondo, com taninos bem presentes mas muito elegantes. Mais um grande custo/benefício. Na sequência, os tintos de Yecla, grande ícone Casa Cisca 2012, top da Bodegas Castaño. Para mim o melhor exemplar de Monastrell que existe. Rubi intenso e profundo, muito complexo ao nariz, com frutas vermelhas em geleia e toques tostados e defumados. Em boca traz muita concentracão e alguma mineralidade, com taninos bem estruturados e doces, com corpo pleno e aveludado. Excelente! Por fim, já em estilo completamente diverso, um exemplar de Jerez Oloroso da mais alta qualidade. Um Matusalem de 30 anos da Bodega Gonzales Byass. No nariz, açúcar queimado. Na boca, muita cereja doce… e novamente açúcar queimado. Delicioso para acompanhar sobremesa ou um bom charuto.
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fazendoartes
Gabi Siqueira
DIA&NOITE
Quem nunca pensou em fazer teatro, aprender a dançar ou a dominar alguma arte circense que atire a primeira pedra. Para dar vazão a esses desejos escondidos de muita gente boa, o Espaço Cultural Mapati está comemorando 26 anos de atividades ininterruptas com uma série de oficinas gratuitas nas áreas de circo, teatro, dança contemporânea, dança inclusiva (para pessoas com alguma deficiência motora ou dificuldades de locomoção), dramaturgia para o teatro, iluminação cênica e produção cultural. Selecionado pelo edital Brasília Cênica, da Secretaria de Cultura, o Espaço Cultural Mapati tem a expectativa de atender em torno de 350 inscritos, “com a proposta qualificar e sensibilizar pessoas para as artes”. De acordo com Tereza Padilha, fundadora do Mapati, e Dayse Hansa, coordenadora do projeto vencedor, as oficinas serão ministradas por nomes renomados da cena brasiliense, tais como Daiane Rocha, Lívia Bennet, Edi Oliveira, Paula Nobrega e Jonathan Andrade. As oficinas acontecem no Espaço Cultural Mapati, dentro do IFB (Instituto Federal de Brasília), e na Escola Classe da 708 Norte. Inscrições prévias, condicionadas à disponibilidade de vagas, em https://goo.gl/forms/vSaKvJabwNAFWqyU2. Mais informações: 3347.3920
Divulgação
trembão
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espaçoaberto
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Até 24 de setembro os mineiros que estiverem curtindo saudades da terrinha podem visitar o Museu de Congonhas, localizado em Congonhas do Campo, cidade distante 800 km de Brasília. É lá que acontece a exposição interativa Mineiridades, com a proposta de captar a essência de ser mineiro. Nas salas Barroco Mineiro, Fazendas, Caminhos e Descaminhos e Jequitinhonha o visitante é convidado a mergulhar em memórias afetivas trazidas por meio de sons, imagens e aromas. Em cada localidade, a exposição agregará parte da cidade e da história de seus moradores, como forma de valorizar as tradições locais. Depois de Congonhas, a exposição irá para Nova Lima, Itabirito, Ouro Preto, Itabira, Brumadinho e Santa Bárbara. De terça a domingo, das 9 às 17h, e quartas, das 13 às 21h, com entrada franca.
Até 30 de novembro, artistas com projetos nas áreas de fotografia, escultura, pintura, gravura, desenho e obras em papel podem se inscrever gratuitamente no processo de seleção de exposições temporárias da Câmara dos Deputados, aberto a pessoas de qualquer nacionalidade maiores de 18 anos e pessoas jurídicas de direito público ou de direito privado sem fins lucrativos. Os projetos apresentados serão analisados pela Comissão Curadora do Centro Cultural Câmara dos Deputados, e os selecionados entrarão na agenda cultural de 2018. A Câmara oferece os espaços para exposição, supervisão da montagem e da desmontagem e expografia. Inscrições em centrocultural@camara.leg.br ou por via postal: Câmara dos Deputados – Anexo 1, sala 1602, Praça dos Três Poderes – Brasília/DF - CEP: 70160-900. Edital em www.camara.leg.br/ centro-cultural/edital-2017-2018. Mais informações: 3215.8068.
Walter Alvarez Toscano
humoremcaricaturas Ele surgiu em 1974, durante a ditadura militar, a partir da iniciativa de um grupo de jornalistas, artistas e intelectuais que receberam apoio dos cartunistas do extinto tabloide carioca O Pasquim. A cidade paulista de Piracicaba, distante 158 km da capital do Estado, sedia até 12 de outubro o 44º Salão Internacional de Humor, com acervo de 410 trabalhos realizados por 215 artistas de 32 países. O presidente dos EUA, Donald Trump, é um dos personagens registrados em caricaturas e charges, com foco no muro que ele propôs para separar o país do México. Um dos trabalhos premiados é a caricatura de Vladimir Putin, do peruano Walter Alvarez Toscano (foto). No total são 108 caricaturas, 70 charges, 79 cartuns, 73 tiras, seis prêmios com o tema Criança e 34 com o tema Saúde. Realizado pela Prefeitura de Piracicaba, a edição deste ano faz parte das comemorações dos 250 anos da cidade.
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deutrelelê Qual família que não enfrenta divergências entre seus integrantes, não é? Pois a família Silva Aguiar, ou melhor, Família S.A, não esconde os problemas de convívio entre Rosa, uma pré-adolescente, e seu irmão mais novo Gabriel. Esse é o universo do espetáculo infanto-juvenil Deu trelelê na Família S.A, em cartaz no teatro do CCBB até 14 de outubro. Com texto de Renata Mizhari e direção de Catarina Accioly e William Ferreira, a peça parte da reviravolta na família que desencadeia uma valiosa rede de afetos envolvendo os amigos, o padeiro, a professora e os pais. Tudo para superar o trelelê, ou seja, estimular o amadurecimento natural das crianças e adolescentes e auxiliar os irmãos a descobrir soluções criativas e coragem para enfrentar os desafios da vida. Ingressos a R$ 20 e R$ 10 Sextas, às 15h, e sábados e domingos, às 16h. Sessão gratuita dia 12, às 16h.
osbrincantes
casacor Divulgação
Em tempos de grana curta, nada mais apropriado do que focar no essencial, conforme propõe o tema da 26ª edição da Casa Cor Brasília. De 22 de setembro a 8 de novembro, o antigo centro médico da QI 9 do Lago Sul volta a sediar a já tradicional mostra de arquitetura, decoração e paisagismo. Foram montados 44 ambientes distribuídos em três andares projetados por cerca de 70 profissionais com a proposta de "colocar o design mais perto das pessoas com soluções e ideias que levarão ao consumidor a preocupação com o design e sua função, forma, experiência e a sobrevivência no cenário atual”. Realizada pelas empresárias Eliane Martins, Moema Leão e Sheila Podestá, a edição 2017 vem com programação encorpada de palestras, desfiles, shows e aulas de gastronomia. Pizza Parque, Ernesto Cafés Especiais, Restaurante Chef Paulo Tarso, Casa de Madeira e o bufê Rio 40 Graus são as atrações gastronômicas da mostra. De terça a sexta, das 15 às 22h, e sábados, domingos e feriados, das 12 às 22h. Ingressos a R$ 48 e R$ 24. Crianças até 11 anos não pagam. Mais informações: 3248.4638.
De volta de uma turnê bem sucedida pela Europa, o Grupo Cultural Pé de Cerrado comemora seus 18 anos de carreira em Brasília, sua cidade natal. Guará, Ceilândia e Torre de TV vão receber o espetáculo Os brincantes, que conquistou o Prêmio Dulcina de Moraes em 2014, do Fundo de Apoio da Cultura. A próxima apresentação será na Praça da Bíblia (Ceilândia), dia 26, às 20 h. Dentro do universo das brincadeiras populares, o espetáculo tem um toque de humor, mistura música, folclore e circo popular, com a presença indispensável dos palhaços Irmãos Saúde. Nessa apresentação, a plateia se familiariza com os diversos ritmos brasileiros: catira, samba-pisado, frevo, samba, maracatu, ciranda, coco e mais tantos outros ritmos brasileiros. Participam de Os brincantes Pablo Ravi (voz e acordeon), Bruno Ribeiro (triângulo e voz), Bruno Maciel (violão e pife), Fernando Rodrigues (baixo e percussão), Clenio Guimarães (percussão), Pedro Tupã (percussão), Davi Abreu (flautas), Renato Nunes (percussão) e os Irmãos Saúde – palhaços Raquaquá (Ruyberdran) e Xaubraubrau (Ankomárcio). Entrada franca.
Divulgação
coletiva Quinze artistas do Coletivo 2E1 expõem seus trabalhos na mostra O lugar do outro lugar, em cartaz no Elefante Centro Cultural (706 Norte) até 14 de outubro. Vindos de diferentes estados brasileiros e de outros países, os artistas enxergam a relação entre eles, do virtual para o real, o cruzamento de individualidades e as distâncias geográficas. Criado em 2010 a partir do grupo de estudos e acompanhamento de projetos orientados pela artista Carolina Paz, o Coletivo 2E1 se reúne semanalmente através de uma plataforma online.Entre os expositores estão a cearense Alina Duchrow, as mineiras Laura Teixeira de Oliveira e Inês Quiroga, os paulistas Wagner Priante, Kika Goldstein, Lilian Walker, Luana Lins e Sheila Ortega, a marroquina Myriam Zini, e os paranaenses Val Schneider e Pierre Lapalu (foto). De segunda a sextafeira, das 14 às 18h, e sábado, com horário marcado. Entrada franca.
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DIA&NOITE
jornadaliterária
paixãoporipês
Aline Macedo
Durante um mês, os brasilienses compartilharam fotos dos ipês da cidade e se inscreveram no concurso promovido pela Novacap em parceria com o Pátio Brasil. Das mais de 300 inscritas, 30 foram selecionadas e estão em exposição em cartaz no shopping até 1º de outubro, com entrada franca. O primeiro colocado foi Walter Arruda com uma foto de ipês-rosas, que costumam florir em agosto e setembro. O segundo colocado foi Léo Caldas (foto), que postou a imagem de um ipê localizado próximo ao Museu da República. Houve um empate no terceiro lugar. Alan Borges e José Soares venceram com fotos de ipêsbrancos e ipês-amarelos, respectivamente. Das 10 às 22h, com entrada franca.
paraospequenos Os clássicos do Balão mágico, de A bela e a fera e da Cinderela, assim como os atualíssimos Peixonauta, Os vingadores e Luna, prometem encantar crianças e adultos que forem ao Capital Kids, feira que acontece entre os dias 12 e 15 de outubro no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade. Ponto alto da festa é o encontro de gerações das crianças que marcaram época em novelas infantis dos anos 90 e as atuais no show As crianças mais amadas do Brasil. Caso da atriz Lorena Tucci, a Tecca, e de Júlia Oliver, a Pata, da novela Chiquititas, que teve sua primeira edição em meados de 1996 com os personagens do orfanato Raio de Luz. Na feira estarão montadas áreas de moda, saúde, brinquedos e um grande parque inflável, além de concursos de cosplay. A apresentação será da cantora Simony, do grupo Balão Mágico, febre entre os pequenos nos anos 80. Das 10 às 21h, com ingressos a R$ 50 e R$ 25 adquiridos antecipadamente nas lojas Setemares, Casa & Festa, além do site da Bilheteria Digital (www.bilheteriadigital.com), este último sujeito a taxa de conveniência. Mais informações: 3345.1000.
Divulgação
Infância, tiros e plumas é o nome da peça que estará no palco da Caixa Cultural entre 22 de setembro e 1º de outubro. Com texto de Jô Bilac e direção de Inez Viana, a montagem da Cia. OmondÉ conta três histórias ocorridas em tempos distintos, mas que acontecem dentro de um avião. Os acontecimentos se potencializam de maneira irreversível, modificando para sempre a vida dos personagens. Em comum, todos possuem o desejo de vingança e a vontade de apagar as suas próprias trajetórias da memória. A Cia. OmondÉ nasceu em 2010 da vontade da diretora Inez Viana de formar um grupo com atores vindo de várias partes do Brasil. Atualmente, é formada por dois mineiros, um potiguar, um paraibano, um paranaense e cinco cariocas. Os ingressos, já à venda, custam R$ 20 e R$ 10. Sexta-feira e sábado, às 20h, e domingo, às 19h. Classificação indicativa: 14 anos. Bilheteria: 3206.6456.
Leo Caldas
numavião
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Adriana Vichi
Mais de oito mil pessoas, moradoras de quatro regiões administrativas do Distrito Federal, devem participar da Jornada Literária que já está no ar e fica até o fim de novembro. Vinte escritores, entre eles os vencedores do Prêmio Jabuti de Literatura, como Ana Miranda (foto), Ivan Zigg, José Rezende Jr., Renato Moroni, conversam com alunos da rede pública sobre o mundo mágico da leitura. Também participam os escritores de Brasília Tino Freitas, Alexandre Pilati, Jéferson Assunção, Marco Miranda e João Bosco Bezerra Bonfim, este último curador da jornada. O início, nos primeiros dias de setembro, foi marcado pelo encontro de 300 professores que participaram de oficinas didáticas de mediação de leitura e de criação literária, além de bate-papo sobre o papel da literatura na formação intelectual e sua importância para a inclusão social das crianças e jovens. Programação em www.jornadaliterariadf.com.br.
amorgeral
tudonovamente Esse é o título do CD que o violonista Fernando César lança dia 19, às 21h, no Clube do Choro. “Cresci ouvindo que o choro ia morrer e não entendi o porquê. Eu era criança e aquele discurso, no cenho franzido e desesperançado de alguém que dava conta desse fim, não fazia sentido. Hoje fico tranquilo em acreditar que, enquanto houver um ouvinte atento e músicos exigentes, sempre haverá choro”, afirma o músico que será acompanhado por Junior Ferreira (acordeom), Pedro Vasconcellos (cavaquinho), Thanise Silva (flauta) e Valerinho Xavier (pandeiro). No repertório do show, as músicas do novo CD, resultado de sua turnê pelo país. D’Angola no choro, música de Rafael dos Anjos, abre o álbum, que conta com temas de Hamilton de Holanda, Alencar Sete Cordas, Léo Benon, Daniel Santiago, Marco César, João Lyra, Rogério Caetano, Tiago Tunes, Vinícius Magalhães e do próprio Fernando César. Além de levar o nome da música inédita – deixada por Alencar Sete Cordas (1951-2011) para o violonista – o disco faz referência à manutenção e à renovação do choro como gênero musical. Tudo novamente mostra como o choro se modernizou sem perder as raízes. A partir das 21h, com ingressos a R$ 30 e R$ 15. Mais informações: 3224.0599.
Esse é o nome do mais recente álbum de Fernanda Abreu, que se apresenta no Pátio Brasil no próximo dia 28, às 19 horas. Longe dos palcos há dez anos, desde que lançou o CD MTV ao vivo, a cantora explica que passou por momentos difíceis em sua vida pessoal, em função da doença prolongada de sua mãe e do fim de um casamento de 27 anos. Um dos motivos de seu novo disco se chamar Amor geral foi a percepção de que, em todos esses momentos, o amor foi o sentimento mais forte que ela sentiu, tanto nas horas de alegria quanto nas de tristeza. Conduzindo parceiros antigos (Liminha, Meme, Laufer e Fausto Fawcett) e novos (Qinho, Wladimir Gasper, Sergio, Tuto e Donatinho), Fernanda desfila, ao longo das dez faixas do álbum, por diversas levadas, sem perder o suingue jamais. A entrada é gratuita, mas os ingressos devem ser retirados antecipadamente na Bilheteria Digital do Pátio Brasil. Quem doar um brinquedo ganha direito uma das 500 cadeiras VIPs que ficarão na frente do palco. Divulgação
Recentemente essas vozes brasilienses conquistaram o 1º lugar na categoria música folclórica e melhor interpretação de música russa do Século XX, em São Petersburgo, Rússia, e diploma de prata nas categorias música sacra e música folclórica, em Rimini, Itália. Antes de partir para a Grécia, em outubro, o Coral Brasília se apresenta no dia 27, às 20h, na Casa Thomas Jefferson da Asa Norte (606, via L3). Fundado em 1995, o grupo se dedica à música brasileira e ocidental, com destaque para os compositores e arranjadores brasileiros com peças eruditas, populares e folclóricas. Sob regência do maestro Deyvison Miranda, professor de piano da Escola de Música, o coral vai participar do II Concurso Internacional de Coros de Kalamata,Grécia, em outubro, quando interpretará um repertório de compositores dos EUA, do Brasil, da Eslovênia, da Inglaterra e da Lituânia. Entrada franca.
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Ivan Simas
coralbrasília
Cristiano Costa/SESC-DF
vivamendelssohn É a obra do músico alemão Felix Mendelssohn-Bartholdy (1809-1847) que será interpretada pela orquestra Capital Philharmonia, dias 27 de setembro e 19 de outubro, no Teatro dos Bancários. No dia 27 será apresentada a Sinfonia nº 4 em lá maior e as aberturas As hébridas, Mar calmo, Viagem próspera e A bela melusina. No dia 19 de outubro será executada a Sinfonia nº 3 em lá menor e concerto para violino em mi menor, que contará com o solo do violinista peruano Ivan Quintana, spalla da orquestra Capital Philharmonia. A ideia de fazer uma série de concertos de obras de um mesmo compositor já estava há algum tempo na cabeça do maestro Artur Soares, fundador e regente da Philharmonia. Desde 2012 ele tem se apresentado à frente da orquestra em concertos sinfônicos com obras de compositores como Beethoven, Liszt e Tchaikovsky, entre outros. Às 19h30, com ingressos a R$ 40 e R$ 20, à venda em www. bilheteriadigital.com, no Conjunto Nacional, Brasília Shopping, Pátio Brasíl, Alameda Shopping e Feira dos Importados.
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GALERIADEARTE
Preciosidades sobre duas rodas POR SÚSAN FARIA
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Súsan Faria
realização de um sonho de quem, por mais de 40 anos, procurou resgatar e restaurar veículos antigos motorizados de duas rodas. Assim o geólogo e geofísico Augusto César Bittencourt Pires, 72 anos, carioca de Niterói, ex-professor da Universidade de Brasília, resume o que é o Museu Rodas do Tempo, instalado por ele há sete anos em Pirenópolis. Ali, não muito longe do centro da cidade, estão dezenas de motos
americanas, europeias, japonesas e brasileiras, que o professor foi comprando e reformando. Há também réplicas de bicicletas, com componentes “pré-históricos”. São coleções valiosas admiradas por motoqueiros e mesmo por quem não é do ramo. O resgate da história de veículos de duas rodas permite ao visitante, de qualquer idade, admirar sua evolução tecnológica e social através dos tempos. São cinco galpões para visitação: motocicletas, bicicletas, scooters (tipo vespas e lambretas), brinquedos antigos e oficina.
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É um lugar para permanecer horas conhecendo a história dos veículos, ouvir música ambiente dos anos 60 e apreciar cada objeto. A coleção foi sendo montada aos poucos. Augusto César foi reunindo e consertando motos antigas no quintal de sua casa, em Brasília. Depois, alugou um galpão no Setor de Indústria e Abastecimento e em seguida comprou o imóvel em Pirenópolis e o transformou em museu. Dentre as preciosidades adquiridas, o geofísico encontrou uma moto DKW alemã, no meio do mato, abandonada em uma fazenda no Estado do Rio de Janeiro. A moto mais antiga é uma Harley-Davidson de 1925. Hoje, a coleção de veículos com duas rodas soma 250 peças, das quais 200 são motos e bicicletas. “Noventa por cento estão recuperadas e prontas para andar”, informa Augusto César. O Rodas do Tempo tem área total de 1.600m2, metade construída: galpões, jardim interno, banheiros e lojinha para lembranças, projeto dos arquitetos Maria Luci Costa, de Goiânia, e Raffael Innecco, de Brasília. Pode-se sentar junto ao mascarado – símbolo das festas das cavalhadas em Pirenópolis – esculpido no tamanho de um homem, ou em motos grandes, expostas
Súsan Faria
no jardim do museu. “Sempre gostei de motos. Ainda ando nelas, mas não com a frequência de antes”, explica o professor. Hoje, ele não restaura, mas supervisiona o conserto dos veículos de duas rodas que adquire. “Desde garoto gostava de mecânica”, conta, explicando que compra peças no mundo inteiro para os consertos, usando a internet para fazer a procura em escala global. No Rodas do Tempo, cada veículo possui ficha de identificação em português e inglês. Há painéis detalhando a história das vespas, lambretas e da primeira bicicleta. Cerca de 35 mil pessoas, inclusive muitos estrangeiros e motoqueiros, já visitaram o museu. A média hoje é de 500 visitantes por mês. Nas redes sociais, o internauta Damasceno Diver disse que encontrou “um repositório de máquinas fantásticas, conservadas ou restauradas com perfeição. Passeio imperdível para quem curte duas rodas, motorizadas ou não”. Com três filhos e cinco netos, o professor Augusto César é casado e tem residência em Brasília e Pirenópolis. “Trouxemos o museu para Pirenópolis porque queríamos usufruir da qualidade de vida da cidade e dar ao turista a oportunidade de conhecer a coleção”, explicou. O trabalho de recuperar veículos e compartilhar a coleção lhe faz muito bem. “Gosto de conversar e divulgar o trabalho de uma memória tecnológica”, afirma. Súsan Faria
A coleção
Rodas do Tempo
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Avenida Prefeito Luiz Gonzaga Jayme, 172, Alto do Bonfim, Pirenópolis (062-3331.2487). Diariamente, das 9 às 17h. Ingresso: R$ 15. Escolas públicas podem agendar e não pagam nada. Escolas particulares pagam preço diferenciado.
Motos americanas: são três Indians (1935, 1939 e 1946), uma Rokon (1975) e quatro Harleys (1925, 1945, 1946 e 1957). Motos europeias: as inglesas BSA, Matchless, Ariel e Velocette; as alemãs BMW, DKW e Rabeneik; as italianas Moto Guzzi, Ducati, Mondial e Minarelli. Ainda fazem parte do acervo motos de países como a França, República Tcheca e Suécia. Motos japonesas: Honda, Yahama e Suzuki (os três principais fabricantes japoneses). Variam em potência, desde as cinquentinhas até as poderosas de mais de mil cilindradas. De motos de rua às de corrida e fora de estrada. Motos brasileiras: destaque para a Amazonas, que pertenceu à Policia Rodoviária Federal. Trata-se da primeira grande motocicleta fabricada no Brasil com base num motor Volkswagen. Bicicletas motorizadas: estão expostos itens representativos de diversas marcas e países: Villiers, Táxi Mundial Rabeneick, Peloplás, Durkopp com motor Vitória, NSU, Benelli, Puch, Ciao, Graziella, Velosolex, Gulivette e Monaretta. Scooters: fazem parte da exposição uma Peugeot c/sidecar, uma Iso, Lambrettas 150D, 150LD, Li, MS-150, uma Xispa e duas vespas – M3 e M4. Veículos especiais: uma Romi-Isetta, um Messerschmit e um Lambrecar; Bicicletas: Phillips, Raleigh, Schwinn, Gekko, Colmo, Monark, Rabeneick, Rivera, Peugeot, Caloi, Legnano, Colnago e Columbia. Réplicas mostram a evolução histórica da bicicleta: celerífero, draisina, boneshaker e biciclo.
O colecionador Augusto César Bittencourt Pires é PhD e pós-doutor também em Geofísica pela Colorado School of Mines, dos Estados Unidos. No Rio de Janeiro, trabalhou na Encal Consultores Associados, empresa de geofísica, e no então Observatório Nacional do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Veio para Brasília em 1981, transferido para a administração central do CNPq, onde ocupou várias chefias. Foi também professor adjunto (e depois titular por concurso) da Universidade de Brasília, onde se aposentou em 2012. Ocupou ainda postos na Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior (Capes), no Ministério da Ciência e Tecnologia e no Senado Federal.
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GALERIADEARTE
Retratos da condição humana Brasília é a quarta e última capital a receber a exposição Êxodos, de Sebastião Salgado, um convite à reflexão política, econômica e social POR ANA VILELA
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m dia chega e é preciso ir, não por querer, mas por ser obrigado a partir, deixar a cidade natal, a terra, o país, o povo. Uma multidão de exilados, refugiados, migrantes movidos por conflitos, repressão, guerras, desastres naturais, em busca de paz, de melhores oportunidades ou apenas de permanecer vivo. São essas pessoas em trânsito, sem lugar, à procura de sobrevivência, as personagens das imagens captadas por Sebastião Salgado, agora expostas em Êxodos, mostra com visitação aberta até 29 de outubro na Galeria Vitrine da Caixa Cultural. A exposição é, segundo Rose Lima, responsável pelo projeto expográfico, um recorte da primeira, realizada ainda em 2000 com cerca de 300 fotografias. “É uma versão feita para ser
itinerante. A esposa de Sebastião, Lélia Wanick, preparou cinco módulos com 12 quadros cada: África, Luta pela terra, Refugiados e migrados, Megacidades e Retratos de crianças.” Rose Lima acrescentou ao cenário um grande quadro negro com o mapamúndi desenhado, para que as pessoas possam escrever sobre o que as provocaram, o que as fizeram refletir. A coleção que compõe a exposição foi doada por Lélia e Sebastião ao Instituto Terra, ONG ambiental fundada pelo casal em 1998, em Aimorés (MG), que atua na recuperação da Mata Atlântica, dentre outras ações. Brasília é a quarta e última capital a receber a mostra, que pela primeira vez passou pelo Nordeste. Êxodos é o resultado de seis anos de viagens por 40 países, em que Sebastião Salgado lançou seu olhar sobre o humano, o
social, a dor e as emoções de pessoas obrigadas a deixar para trás uma vida inteira, uma história. Suas imagens mostram, como ele mesmo diz, que a raça humana é uma só, unidas por reações, emoções, alegrias e sofrimentos iguais. Na exposição, impossível não refletir sobre os caminhos tomados pelo homem, sobre a condição humana e o ambiente social, político e econômico. Difícil impedir que a força dos rostos captados pela lente sensível do artista envolva e emocione o espectador, gerando reflexão. Mas a identidade desesperançada do humano e da Terra transmitida pelas fotos recebe um sorriso, retratado nas crianças em meio às tragédias. Rose Lima conta que a ideia de captar as faces de meninos e meninas veio do anseio deles diante da câmara. “Elas queriam ser registradas.” E são essas crianças que levam certa leveza para o quadro do desamparo. Um sopro de possibilidades, de futuro, de vida. Êxodos – Sebastião Salgado
Até 29/10, de terça a domingo, das 9 às 21h, na Galeria Vitrine da Caixa Cultural (SBS, Quadra 4, tel. 3206.9450)
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Super Image
GRAVES&AGUDOS
Pet Shop Boys
De carona no Rock in Rio POR HEITOR MENEZES
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Tim Cadiente
obre o Rock in Rio, o mordaz Millôr Fernandes (1923-2012) mandou essa: “Pelo amor de Deus, no próximo Rock in Rio liberem a droga e proíbam a música!” Imaginem, isso foi por conta da primeira edição (1985) do famigerado megafestival, cujas atrações hoje reputamos como histórica: AC/DC, Iron Maiden, James Taylor, Queen, Ozzy, Rod Stewart, Yes, por aí vai. Àquela época, puristas e provocadores, como Millôr, queriam música de verdade, não ficando claro exatamente quem deveria ter sido chamado, muito menos a escalação ideal do festival. O Rock in Rio hoje é outra coisa, é entretenimen-
to altamente balizado no circuito internacional etc. E o bom do Rock in Rio, para aqueles que não podem estar lá, é poder ver (algumas) atrações internacionais que, aproveitando a passagem pelo país, esticam a permanência, realizando shows onde houver bilheteria e bons contratantes. Não teremos The Who, Bon Jovi, Aerosmith, Red Hot Chili Peppers, Maroon 5, muito menos Guns N’ Roses e Lady Gaga, as grandes atrações do evento, mas as marolas de som trazem até Brasília Nile Rodgers & Chic, Pet Shop Boys e The Cult, três grandes nomes do Rock in Rio 2017. Essa é a notícia boa. A ruim é que esse pessoal passa pela capital no curto espaço de nove dias. Resumindo: no hay plata, diñero, para ver todos. Nessas horas, o
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The Cult
cartão de crédito é altamente seletivo. Feliz é aquele que pode se dar ao luxo etc. Tirando Nile Rodgers & Chic, já abordados na edição anterior da Roteiro, ficamos então com os senhores ingleses do Pet Shop Boys (neste domingo, 17, no Net Live Brasília), como, quem sabe, a grande atração internacional do ano na cidade. As vacas estão magras, esqueceram? Amigos, Pet Shop Boys é show classe A. Neil Tennant e Chris Lowe estiveram aqui em 2009, no mesmo Net Live de acústica capenga que novamente os recebe. Naquele ano, era a turnê do álbum Yes. O apuro da performance, a cenografia, as músicas imortais, tudo lindo e maravilhoso (menos o som do Net Live). A dupla deve tocar coisas de Super, excelente disco lançado no ano passado e, claro, aqueles greatest hits que ativam os neurotransmissores responsáveis pela felicidade instantânea. Não precisa nem dizer os nomes das músicas. Em uma palavra: imperdível. Mas o seu negócio não é technopop (hahaha, esse termo é muito antigo). É samba de raiz. Então tá bom. De um extremo a outro, a agenda do período nos diz que a pedida, nesse caso, é o grupo Sampri, atração do projeto Samba de bamba (dia 20, no Teatro da Caixa). Aqui não tem sintetizador, nenhum guéri-guéri eletrônico. Tudo é na base do gogó, violão, pandeiro e cavaquinho. Tudo lembra cerveja e azaração, mas, ei: é o Teatro
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da Caixa, olha a compostura. Samba pra ouvir sentado. Se segura, malandro! Recomendadíssima é a apresentação do Duofel, dias 21 e 22, no Clube do Choro. Duofel são os violões do paulistano Luiz Bueno e do alagoano Fernando Melo. O som, um intrincado instrumental cristalino, há trinta e tantos anos a serviço da inteligência emocional. Palavras do visionário Hermeto Pascoal: “O Duofel não é um duo, é um trio, às vezes um quarteto e outras uma banda inteira, por isso acho que deveriam mudar o nome para Trio Duca”. No sábado, 23, o Net Live Brasília volta a receber ingleses: The Cult, longeva instituição do rock’n’roll que, sabe-se lá como, mantém acesa as válvulas dos amplificadores, sempre tinindo poderosas guitarras e vocais de responsa. Estamos falando respectivamente de Billy Duffy e Ian Astbury, profissionais do ramo e lendários músicos que trilharam caminhos, digamos, diferentes daqueles tomados por seus pares da época. Em 80 e lá vai poeira, o The Cult se diferenciava do rock enxuto e/ou eletrônico que reinava então. Eram pesados quando poucos queriam continuar sendo, foram grunge antes do grunge, até que veio o Nirvana e colocou todo mundo no bolso. Esta é a segunda passagem do Cult por Brasília. A primeira, no Iate Clube, em 2008, ainda hoje é lembrada como uma grande noite em que se confirmou que o rock jamais vai morrer. Nesse mesmo sábado, a cidade recebe outra atração internacional, de certo modo conflitante, rock’n’rollmente falando. Trata-se dos norte-americanos do Led Zepagain, que trazem a Brasília, como o nome indica, a magia imorredoura do Led Zeppelin. Isso, é uma banda cover, na qual os quatro grandes originais Robert Plant, Jimmy Page, John Paul Jones e John Bonham, dizem, recebem tratamenMauricioTrilha
Il Divo
Geminis Bee Gees
to à altura por parte dos tributaristas Swan Montgomery, Anthony David, Jim Wooten e Derek Smith. Consta que o próprio Jimmy Page teria conferido e dado o aval ao tributo prestado pelo Led Zepagain. O lance rola no Espaço Cultural Canteiro Central, na Quadra 3 do Setor Comercial Sul. Danado esse fim semana, 23 e 24 de setembro. Nesses dias, quem baixa na cidade são os argentinos do Geminis Bee Gees, atração no Teatro da Unip (913 Sul). Como o nome denuncia, é um tributo aos lendários Bee Gees, que muitos acham que são australianos, mas em verdade são de origem britânica. Pouco importa. Os Bee Gees dispensam apresentações. Os lendários irmãos Barry, Robin e Maurice Gibb tiveram diversas fases, mas foi naquele final de anos 1970, quando compuseram a trilha do filme Os embalos de sábado à noite (Saturday night fever), que viraram estrelas quintessenciais do pop mundial. Consta que o espetáculo dos argentinos Geminis Bee Gees é recriação minuciosa do som original, o que inclui incríveis falsetes, visual e outros balacobacos que nos fazem crer que são Barry, Robin e Maurice no palco. Lembrando que em 2011 Robin Gibb, doente, cancelou show inédito em Brasília. No ano seguinte, o cantor partiu para outra. Bamboa Brasil, reduto sertanejo polivalente perto do Parkshopping, já abrigou Capital Inicial e Humberto Gessinger (e também Nego do Borel). Agora, dia 27, recebe os valentes Titãs e Biquini Cavadão em rodada dupla. É BRock, dá licença. Voa, condor! (voa com dor?) Sim, Oswaldo Montenegro está de volta, dia 29, no Centro de Convenções Ulysses Gui-
marães. Desta vez, é o show Nossas histórias, no qual celebra a parceria com a flautista Madalena Salles. É a deixa para que músicas como Bandolins, Lua e flor e Metade, entre tantas, ganhem novos arranjos e peso com banda e orquestra. Isto é Oswaldo Montenegro fino trato. Sabe as origens nossa da canção? A poesia provençal da Idade Média? Cantiga de amor, cantiga de amigo e cantiga de escárnio? De lá, de muito longe, vem a tradição dos menestréis, da qual a canção moderna é legítima herdeira. E poucos contam essa história de maneira tão honesta e convincente como os cantadores Elomar, Renato Teixeira e Xangai, que juntam forças no show Cantorias & Cantadores, dia 6 de outubro, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. É a hora do Brasil profundo pedir passagem. Quer entender o país? Esse cancioneiro poético tem o ensinamento que vos aguarda. Il Divo, apesar do nome, não é um grupo italiano, mas a empreitada internacional muito bem-sucedida de um americano (David Miller), um suíço (Urs Bühler), um espanhol (Carlos Marín) e um francês (Sébastien Izambard). Juntos, cantam que é uma maravilha e são considerados os reis do crossover clássico. Pop e música erudita, juntas e misturadas, capisce? No quesito boa pinta, os caras deixam no chinelo os grandes 3 Tenores Plácido Domingo, José Carreras e Luciano Pavarotti, uma clara inspiração. Mas Il Divo não é só um terno Armani. A versatilidade de cantar entrosados em várias línguas e o repertório emocionante que arrebata o público, isso é coisa altamente profissional. Sábado, 7 de outubro, também no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.
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Vermelho Profundo
LUZCÂMERAAÇÃO
O nó do diabo
Um clássico!
Festival de Brasília chega com força à histórica marca de 50 edições POR PEDRO BRANDT
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creditada ao professor e crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes (1916-1977) a afirmação de que “o pior filme brasileiro diz mais de nós mesmos do que o melhor filme estrangeiro”. Pesquisadores da obra de Paulo Emílio sabem que, pelo menos em seus escritos, ele – ardoroso entusiasta do cinema nacional – nunca disse tal frase, não com essas mesmas palavras. A provocação que ela traz, entretanto, é mais interessante do que a questão da autoria. Faz pensar, por exemplo, o que diria Paulo Emílio hoje de uma de suas mais perenes iniciativas? Em 1965, ele idealizou,
junto a outros professores da Universidade de Brasília, a Semana do Cinema Brasileiro, que, dois anos depois, foi rebatizada com seu nome definitivo: Festival de Brasília do Cinema Brasileiro – evento que, este ano, chega à histórica 50ª edição. O que dizem sobre nós as quase 150 produções audiovisuais que, até 24 de setembro, integram o festival? Este ano, o mais antigo festival dedicado ao cinema brasileiro expandiu-se, com dez dias de intensa programação. Seu alcance também está maior. Além do Cine Brasília, os filmes da mostra competitiva e diversas atividades chegam a 12 cidades do Distrito Federal. Uma das novidades deste ano é que todos os
nove longas e 12 curtas-metragens em competição (vindos de oito estados e do DF) receberam cachê de participação. Ou seja, o grande prêmio é o desejado troféu Candango. O voto do júri popular será feito com o uso de um aplicativo de celular/tablet. A programação conta ainda com as mostras paralelas 50 anos em cinco dias, 50 anos em cinco dias: registros de uma história, Esses corpos indóceis e Terra em transe. A elas somam-se o tradicional Festivalzinho, com filmes infantis; a Mostra Brasília, em sua 22ª edição; e sessões especiais e hors concours, além de oficinas, palestras, debates, encontros setoriais e lançamento de livros e DVD.
Zeppelin Filmes
Música para quando as luzes se apagam Rozca Filmes
Outra novidade de destaque é o Ambiente de Mercado, formado por atividades relacionadas à distribuição e à comercialização de conteúdos para TV, cinema, video on demand, internet e novas mídias. Em encontros com produtores, programadores, agentes de vendas, distribuidores e exibidores de empresas nacionais e internacionais, os participantes (cineastas ou produtores) têm a possibilidade de aprimorar seus projetos e fechar negócios. Estreando na 50ª edição, as sessões exclusivas Futuro Brasil, com filmes em finalização, serão acompanhadas por produtores e curadores dos festivais de Sundance (EUA), BAFICI (Argentina) e o Festival do Filme de Munique (Alemanha). Além de prêmios técnicos e consultorias, o objetivo é possibilitar a inclusão desses filmes nos eventos com os quais os convidados estão relacionados. Paralelamente será lançada a publicação especial Entre olhares e afetos: 50 Festivais de Brasília do Cinema Brasileiro, formada por fotos históricas e textos memorialistas. Parte dessas fotos compõem uma exposição no Museu Nacional da República até 1º de outubro. Em resumo, em 2017, o Festival de Brasília passa a limpo sua história e afaga a passado mirando o futuro. A mostra competitiva de longas-metragens tem nomes promissores do cinema, como Affonso Uchoa e João Dumans (do mineiro Arábia); novatos, caso dos baianos Ary Rosa e Glenda Nicácio (de Café com canela), do gaúcho Ismael Caneppele (Música para quando as luzes se
Café com canela
Os longas da mostra competitiva Arábia MG/2017, ficção, 96min, livre. De Affonso Uchoa e João Dumans. Com Aristides de Sousa, Murilo Caliari, Glaucia Vandeveld, Renata Cabral, Renato Novaes, Wederson Neguinho, Adriano Araújo e Renan Rovida. André é um jovem morador da Vila Operária, bairro vizinho a uma velha fábrica de alumínio, em Ouro Preto, Minas Gerais. Um dia, ele encontra o caderno de um dos operários da fábrica. Café com canela BA/2017, ficção, 102min, livre. De Ary Ro-
sa e Glenda Nicácio. Com Valdinéia Soriano, Aline Brunne, Babu Santana, Aldri Anunciação, Arlete Dias, Guilherme Silva, Antônio Fábio, Dona Dalva Damiana de Freitas e Michelle Mattiuzzi. Recôncavo da Bahia. Margarida vive em São Félix, isolada pela dor da perda do filho. Violeta segue a vida em Cachoeira, entre adversidades do dia a dia e traumas do passado. Quando Violeta reencontra Margarida inicia-se um processo de transformação, marcado por visitas, faxinas e cafés com canela, capazes de despertar novos amigos e antigos amores.
Era uma vez Brasília Brasil/Portugal, 2017, documentário, 100min, 14 anos. De Adirley Queirós. Com Wellington Abreu, Andréia Vieira, Marquim do Tropa, Franklin Ferreira. Em 1959, o agente intergaláctico WA4 é preso por fazer um loteamento ilegal e lançado no espaço. Recebe uma missão: vir para a Terra e matar o presidente da República, Juscelino Kubitschek, no dia da inauguração de Brasília. Sua nave perde-se no tempo e aterrissa em 2016 na Ceilândia. Essa é a versão contada por Marquim do Tropa, ator e abduzido. Só Andréia,
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a rainha do pós-guerra, poderá ajudá-los a montar o exército para matar os monstros que habitam o Congresso Nacional.
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Construindo pontes PR/2017, documentário, 72min, livre. De Heloisa Passos. Com Heloísa e Álvaro Passos. O filme retrata a relação entre a cineasta e seu pai, um engenheiro que teve seu momento de glória durante a ditadura civil-militar brasileira. Projeções, mapas e fotos são usados como primeiras pontes para se chegar ao passado. Mas é o inevitável presente que golpeia os dois quando, diante da conturbada situação política do Brasil, cada um se coloca num ponto oposto.
Por trás da linha de escudos Ricardo Telles
apagam) e do coletivo paraibano formado por Ramon Porto Mota, Gabriel Martins, Ian Abé e Jhésus Tribuzi (O nó do diabo); jovens veteranos, a exemplo da carioca Júlia Murat (Pendular), do pernambucano Marcelo Pedroso (Por trás da linha de escudos) e do ceilandense Adirley Queirós (Era uma vez Brasília), e ainda as experientes Heloísa Passos (Construindo pontes) e Daniela Thomas (Vazante). A mostra 50 anos em cinco dias passeia pela trajetória do festival com nove longas e 12 curtas que entraram para a história do cinema nacional, como O bandido da luz vermelha (1968), de Rogério Sganzerla, Iracema – Uma transa amazônica (1974), de Jorge Bodanzky, e Orlando Senna, Alma corsária (1993), de Carlos Reichenbach, e Santo forte (1999), de Eduardo Coutinho. Documentários sobre cinema brasileiro fazem parte da mostra 50 anos em cinco dias: registros de uma história. A veterana atriz e diretora Helena Ignez apresenta, fora de competição, seu novo filme, A moça do calendário. Destacado curta-metragista, o cearense Leonardo Mouramateus participa, também fora de competição, com seu primeiro longa, António Um Dois Três. Vencedor de sete Candangos com Eu me lembro (2005), Edgard Navarro volta a Brasília com o longa de encerramento do festival, Abaixo a gravidade. Ficções e documentários sobre questões de gênero e raça compõem a mostra Esses corpos indóceis. Temas, aliás, que tangenciam tramas de filmes de várias programações do festival em 2017. A turbulência política e social vivida no Brasil
Luis Henrique Leal e Símio Filmes
LUZCÂMERAAÇÃO
Vazante
em anos recentes serve de inspiração para os filmes da mostra Terra em transe. Falecidos recentemente, os cineastas Márcio Curi, Manfredo Caldas e Geraldo Moraes, todos com história no cinema brasiliense, estão entre os homenageados desta edição. O cineasta Nelson Pereira dos Santos foi escolhido para receber a Medalha Paulo Emílio Salles Gomes, láurea criada em 2016 e concedida
a figuras de destaque no ensino, crítica e difusão do cinema brasileiro.
O nó do diabo PB/2016, ficção, 124min, 16 anos. De Ramon Porto Mota, Gabriel Martins, Ian Abé e Jhesus Tribuzi. Com Fernando Teixeira, Isabél Zuaa Cíntia Lima, Edilson Silva, Tavinho Teixeira, Clebia Sousa, Alexandre Sena, Miuly Felipe da Silva, Yurie Felipe da Silva, Zezé Motta e Everaldo Pontes. Cinco contos de horror. Uma fazenda tomada por horrores há mais de 200 anos. Cinco encontros com a morte. Um nó que não se desata.
e Julia Lemmertz. Uma autora chega a uma pequena vila no sul do Brasil, com a intenção de transformar a vida de Emelyn em uma narrativa ficcional. Quanto mais a autora provoca Emelyn com suas câmeras, mais Emelyn se torna Bernardo, um adolescente dividido entre viver o seu desejo e continuar desejando.
Música para quando as luzes se apagam RS/2017, documentário, 70min, 14 anos. De Ismael Cannepele. Com Emelyn Fischer
50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
Até 24/9, no Cine Brasília, Museu da República, teatros e espaços culturais de Taguatinga, Sobradinho, Gama e Riacho Fundo. Ingressos: R$ 12 e R$ 6. Consulte outros locais, horários, classificação indicativa e programação completa em www.festivaldebrasilia.com.br.
Pendular RJ/2017, ficção, 108min, 16 anos. De Julia Murat. Com Raquel Karro, Rodrigo Bolzan e Neto Machado. Em um galpão abandonado, um casal de artistas contemporâneos observa a arte, a performance e sua intimidade se
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O cineasta da Ceilândia POR VICENTE SÁ
O
homem se levanta da mesa e vai até o banheiro. Na volta, seu olhar passeia pelas mesas do bar e pela rua ainda com algum movimento de pessoas e carros. Seu olhar parece atravessar as paredes e enxergar os movimentos dentro das casas em mais uma noite comum da Ceilândia. Os amigos à mesa aguardam pacientes, já viram muitas vezes aquele olhar e as ideias que vêm depois, ideias que se tornam roteiros ou
misturarem. A partir de sequentes contradições, eles vão aos poucos perdendo sua capacidade de distinguir o que faz parte de seus projetos artísticos e o que nada mais é que a relação amorosa, criando até mesmo um conflito com seu passado. Por trás da linha de escudos PE/2017, documentário, 124min, 10 anos. De Marcelo Pedroso. Documentarista engajado em ideais de esquerda num país em plena convulsão política, o diretor Marcelo Pedroso decide fazer um documentário no Batalhão de Choque da Polícia Militar de Pernambuco.
filmes. Eles conhecem bem Adirley Queirós, o cineasta que colocou Ceilândia nas telas do mundo. E os que não conhecem vão ter a oportunidade de assistir a parte mais recente de sua filmografia no 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. No dia 22 será exibido Era uma vez Brasília, seu nono filme e o terceiro longa-metragem, que estará representando o Distrito Federal na mostra competitiva de longas-metragens. Adirley Queirós já produziu e dirigiu outros oito filmes e recebeu mais de 60
premiações no Brasil e no exterior. Seu curta Rap, o canto da Ceilândia, de 2005, ganhou vários prêmios no Festival de Brasília, inclusive de melhor filme, sendo aplaudido de pé. Em 2014, o longa dirigido e produzido por ele, Branco sai, preto fica, levou o prêmio de melhor filme aqui em Brasília e outros prêmios em Mar Del Planta (Argentina), Vinnale (Áustria) e Ficunam (México) . Ex-jogador profissional de futebol, Adirley dirigiu dois filmes sobre o tema. O mais conhecido é Fora de campo, que
Trata-se da unidade policial treinada para lidar com multidões, atuando na repressão dos chamados distúrbios civis - categoria que inclui protestos e manifestações. Enquanto acompanha algumas operações de rotina e treinamentos no batalhão, ele passa a sentir na pele os efeitos da aproximação.
A história se passa nas Minas Gerais do Século XIX. De volta à casa, depois de longa viagem conduzindo uma tropa de escravos, Antonio descobre que sua mulher morreu em trabalho de parto. Sentindo-se sozinho e isolado em uma fazenda improdutiva, ele busca um novo casamento com Beatriz, uma menina muito jovem que frustra seus planos de ter filhos. Antonio volta às expedições, negociando escravos e gado. Sozinha na imensa propriedade, Beatriz encontra nos escravos sua companhia. Uma traição implode a família em uma espiral de violência, que é o anúncio dos ventos da mudança.
Vazante SP/2017, ficção, 116min, 14 anos. De Daniela Thomas. Com Adriano Carvalho, Luana Nastas, Sandra Corveloni, Juliana Carneiro Da Cunha, Roberto Audio, Fabrício Boliveira, Vinicius Dos Anjos e Maria Helena Dias.
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Joana Pimenta
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retrata a vida difícil dos boleiros. “Eu comecei muito cedo minha vida profissional no futebol, aos 14 anos. Também parei cedo, aos 23, porque me machuquei. Mas ficou o aprendizado”, lembra ele. Depois do futebol, Adirley fez várias coisas para viver. Cansado de dar aulas, ingressou no serviço público, no sistema de saúde, e um dia, sem saber bem como, ingressou na UnB para fazer cinema. Segundo a versão de alguns, apenas para ter uma carteira de estudante e evitar baculejos da polícia. O certo é que não só se apaixonou pela sétima arte como levava jeito. O projeto de conclusão do curso de documentário foi Rap, o canto da Ceilândia, que ganhou um monte de prêmios. Nesta época, Adirley ajudou a criar a CEICINE, um coletivo de cinema da Ceilândia que ajudava na formação técnica e na discussão de qual tipo de cinema eles, criadores daquela cidade, queriam fazer. Era uma vez Brasília, seu filme que concorre no Festival de Brasília, já foi apresentado em Locarno (Suíça), onde recebeu menção honrosa e convites para uma dezena de festivais internacionais. “O importante dos festivais é a visibilidade. Não só no Brasil como no exterior. O cinema que a gente faz não tem espaço nessas salas de shoppings, que só querem
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Acima, cena de Era uma vez Brasília, representante do DF na mostra competitiva deste ano; abaixo, Branco sai, preto fica, ganhador do Troféu Candango em 2014.
uma coisa de cinemão, padronizada. Nós temos que ter uma política de estado para o cinema brasileiro”, defende Adirley, para quem a importância dos festivais não está na premiação ou na competição. “Nós temos é que nos unir e não concorrer”. No festival de 2014, quando Branco Sai, preto fica ganhou, o prêmio de melhor filme foi dividido com todos os participantes, num acordo firmado antes da divulgação dos resultados.
Agora vivendo exclusivamente para a produção audiovisual, Adirley já está trabalhando na pré-produção do seu próximo filme, que terá financiamento da Agência Nacional de Cinema (Ancine). Com o título de Mato seco em chamas, seu quarto longa-metragem conta a história de cinco mulheres moradoras da Ceilândia que descobrem petróleo no solo da região. Um pouco de surrealismo num mundo mais do que surrealista, garante ele.
ma forma de se atestar a qualidade de um evento é notar o seu crescimento espontâneo. Em 2014, o animador Fernando Gutiérrez realizou em uma pequena sala, na Asa Norte, o Animecê, primeiro festival de curtas de animação do cerrado. No ano seguinte, o passo natural seria realizar a segunda edição, mas a oferta de filmes estrangeiros foi tão boa que o festival cresceu, ganhou outro organizador, o também animador Fernando Nísio, e se tornou o Brasília Animation Festival (BAF). E agora os Fernandos colocam de pé a terceira edição do festival, a segunda com a bandeira internacional. De 12 a 15 de outubro, o 2º BAF vai exibir em torno de 70 curtas-metragens, divididos nas mostras competitivas Nacional, Internacional, Mulheres, Infantil e Macabra. Foram selecionados trabalhos de todas as regiões do Brasil, sendo quatro curtas do DF, além de produções de 24 países, como Hungria, Croácia, Irã, Espanha e Lituânia. “A curadoria buscou contemplar filmes de temáticas e técnicas diversas, sempre de olho em produções que tivessem algo de diferente em relação ao que passa
na TV ou no circuito comercial. Tem filmes 3D, 2D, muita coisa experimental, outros de narrativas densas e conteúdos complexos, além de produções leves e divertidas. A mostra Macabra é um capítulo a parte, porque é onde conseguimos colocar aqueles filmes que não se enquadram em outras mostras porque são trabalhos muito peculiares, pitorescos, às vezes até estranhos”, explica Fernando Gutiérrez. Outro ponto alto do BAF são as palestras e oficinas. Nesta edição, virão a Brasília nomes importantes da animação nacional, como Alê Abreu, diretor do longa O menino e o mundo, indicado ao Oscar de animação no ano passado; Jonas Bran-
dão, animador com extensa experiência com série animadas para TV, que ministrará uma masterclass; e César Coelho, um dos diretores do Anima Mundi. Para Fernando Nísio, um time perfeito para celebrar uma data histórica: “Estamos comemorando 100 anos da exibição da primeira animação feita no Brasil. E o BAF terá a chance de fazer isso com a presença de ilustres nomes da animação, que generosamente irão nos ceder tempo e conhecimentos”. 2º BAF- Brasília Animation Festival
De 12 a 15/10 no Centro Cultural da Adunb, no campus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília, com entrada franca. Fotos: Divulgação
Curtas de animação U
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CRÔNICADACONCEIÇÃO
Crônica da
Conceição
Caliandra-crônica
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Havita Rigamont
C
rônica é uma flor do cerrado, tão sublime quanto frágil, de fugaz eternidade. Uma caliandra só retesa as finíssimas hastes vermelhas onde floresce. E ela não faz luxo de lugar: resplandesce no meio do poeirão de uma estrada cerratense. Caliandramente sozinha. No cerradão bravio, de árvores rabugentas e sombras esfiapadas. Nos grotões de pedras e entre arbustos raquíticos. Crônica não é qualquer coisa, embora a crônica possa caliandrar em qualquer estrada pedregosa, desde as trilhas que levam a lugar nenhum até as pistas que conduzem cronista e leitor aos temas mais inflamados. A crônica só precisa respeitar a sua atávica condição caliândrica. Cada haste de uma crônica aponta para um ponto indeterminado do infinito. Apontam para toda a órbita terrestre, as hastes da caliandra. Sem se perderem de si mesmas. Continuam unidas num mesmo feixe, embora cada haste aponte para um lugar único na imensidão dos lugares da abóbada que nos circunda. Qualquer coisa pode virar uma crônica, mas a crônica não é qualquer coisa. Não é libertina, embora possa ser libertária, desde que não se arvore a empunhar bandeira seja ela a mais legítima que for. É caliandra demais para sustentar algo mais do que a si mesma. Não é manifesto, não é ensaio, não é artigo, não é notícia, não é ficção, não é poesia – a crônica surge no vácuo de todas essas formas de expressão. Ela é a falta que ama, como no poema do itabirano. Às vezes, só a crônica se faz ouvir numa tempestade de trovões. Como a caliandra que explode, vermelha, pontia-
guda, retesada, cronicamente florida. A crônica não torrencia, chuvisca. Não troveja, murmura. Caliandramente, a crônica não se deixa domesticar. Muito já se teorizou sobre a crônica, mas ela escapa de todas as estufas acadêmicas. Murcha, quando decomposta em hastes isoladas. Cada uma delas vira um fio morimbundo do que um dia foi uma flor, crônica-flor, caliandra-crônica. A menos que o médico-legista seja um cronista. Então, a autópsia se transforma em uma nova crônica, como fazem os fotógrafos, os pintores, os gravuristas, quando querem para si uma caliandra eterna. A crônica não odeia, se odiar, bau-bau, não é mais crônica. Não vende verdades,
ao contrário, até se dá bem com uma mentira, desde que bem contada e sem ambições de ser nada além de uma mentirinha sutil. Há muito lugar neste mundo aonde só se chega por vias transversas, por lugares onde os pés não alcançam. A crônica nunca será uma caliandra de verdade, mas ela pode fingir que deveras é. Não raras vezes, é preciso gramar imensidões de cerrado para encontrar uma caliandra. Outras vezes, ela avermelha no inesperado. É preciso deixar os facões, as tesouras, as pás, as enxadas, os vasos e os adubos, até mesmo o desejo de florescer, é preciso deixar tudo onde está, e se oferecer à crônica, com a nudez da imperfeição e o mistério da eternidade. Talvez ela caliandre.
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