Ano XVI • nº 268 Outubro de 2017
R$ 5,90
Diversão
congelante
A vida passa pelo trânsito.
Ligou o carro, desligue-se do celular. No trânsito, é preciso resistir à tentação de atender ou teclar no celular. Porque é isso que vai evitar acidentes e preservar vidas. Hoje, o uso do celular ao volante é uma das principais causas da mortalidade em nossas vias. As pessoas sabem que correm perigo, mas mesmo assim insistem em teclar. Celular cega. E ainda pode matar.
Lúcia Leão
EMPOUCASPALAVRAS No momento em que escrevo estas mal traçadas linhas, os termômetros instalados em Brasîlia insistem em registrar temperaturas acima de 30 graus centígrados, podendo atingir sufocantes 34 graus no fim de semana de 14 e 15 de outubro. Ainda bem que a primavera com cara de verão que nos assola será devidamente amenizada a partir do dia 18, com a inauguração do Ice Bar – Brasília Abaixo de Zero. Nesse verdadeiro iglu moderno, tudo é feito de gelo: balcão, mesas, paredes, cadeiras, copos e até esculturas. Projetado pelas arquitetas Victoria Rossetti e Lilia Saraiva, o bar congelante mede 57m2 e foi construído com 15 toneladas de um gelo especial cristalino, pra esquimó nenhum botar defeito (página 18). Se as temperaturas em torno de dez graus negativos forem demasiado altas para nossas almas tropicais, resta aquecê-las em um ou vários shows imperdíveis que acontecem na cidade na segunda quinzena deste mês e no início de novembro. Ou não é um privilégio podermos ver, num mesmo palco, Marisa Monte e Paulinho da Viola, e, em outros, Ney Matogrosso, Zé Ramalho, Ben Portsmouth (o cover mais perfeito de Elvis Presley), Madeleine Peyroux, Titãs e Biquíni Cavadão? Nossa agenda musical está nas páginas 22 e 23. Ninguém fica indiferente às imagens de Roger Ballen, o artista norte-americano das fotos em preto-e-branco que têm em comum a aproximação com a estética do grotesco e do surrealismo. A mostra Transfigurações, fotografias 1968-2014 fica em cartaz na Caixa Cultural até 27 de novembro (página 28). O contraponto, no mesmo espaço, é o trabalho da fotógrafa e videasta brasiliense Karina Dias, exposto em Tempo paisagem. As imagens em fotos e vídeos buscam interromper a voracidade contemporânea e levar o espectador a um estado meditativo (página 28). Na seção Água na Boca apresentamos bons motivos para o leitor conhecer as novidades salgadas e doces de um novo bistrô que respeita os clássicos, mas admira os modernos; de uma nova padaria francesa; de uma pizzaria mais saudável e da incursão de um ator global em projeto que resgata a gastronomia familiar. Tudo isso, e muito mais, a partir da página 4. Boa leitura e até novembro. Maria Teresa Fernandes Editora
24 brasiliensedecoração O personagem desta edição é o cantor, compositor e pianista Eduardo Rangel, que se prepara para gravar DVD em que interpretará músicas de Chico Buarque.
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ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14, Conjunto 2, Casa 7, Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa Carlos Roberto Ferreira, sobre foto de 70 Mil Comunicação | Colaboradores Alessandra Braz, Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre Franco, Ana Vilela, Cláudio Ferreira, Conceição Freitas, Elaina Daher, Heitor Menezes, Laís di Giorno, Lúcia Leão, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Ronaldo Morado, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Teresa Mello, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle | Fotografia Rodrigo Ribeiro Para anunciar 99988.5360 | Impressão Editora Gráfica Ipiranga Tiragem: 20.000 exemplares.
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Felipe Menezes
ÁGUANABOCA
Respeito pelo clássico,
admiração pelo moderno
Felipe Menezes
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perfume de eucalipto na subida da QI 19, no Lago Sul, indica que o Saveur Bistrot não é um restaurante comum: fica em um pequeno condomínio no Setor de Mansões Dom Bosco, com segurança na guarita e sem problema para estacionar. Só funciona à noite, de terça a sábado, sob reserva, de preferência – mas quem quiser pode esperar na área externa, perto da piscina. São 42 lugares distribuídos em 15 mesas no térreo da casa onde o chef Thiago Paraíso, 26 anos, mora com a mãe, o padrasto e Paola, a irmã de seis anos. “O que os clientes mais elogiam aqui é o local”, conta ele. Modéstia. Com pouco mais de um ano de funcionamento e equipe de 14 funcionários, incluindo três estagiários, o sucesso da casa incentivou o jovem chef a abrir um segundo restaurante: o Ouriço, de frutos do mar, previsto para o fim do ano na QI 21. Ao lado de Thiago estão o irmão mais velho, Marcelo Paraíso, 28, que cuida do financeiro; o amigo de in-
fância Rodrigo Yani, 26, no administrativo; e o primo Lucas Flores, 23, nas mídias sociais. E foi assim, trabalhando em família, que a paixão pela culinária tomou conta do garoto criado em uma chácara em Sobradinho até os oito anos: “Meu padrasto gosta de cozinhar, fazia jantares, churrascos, e eu cresci assim. Ele me disse que quando eu fizesse 12 anos ele iria me ensinar, porque antes disso seria perigoso”.
Os limites carinhosos traçados pelo funcionário público Carlos Guilherme Fonseca, de 64 anos, foram fundamentais para Thiago, que não teve dúvidas ao escolher a carreira de gastronomia. Depois do curso no Iesb, morou um ano na Suíça, onde fez especialização na Culinary Arts Academy e estágio no restaurante Domaine de Chateauvieux, duas estrelas no Guia Michelin. A temporada expandiu seus horizontes: “O melhor de tudo Divulgação
POR TERESA MELLO
Felipe Menezes Rafael Lobo-Zoltar Design Felipe Menezes
foi a troca de culturas. Na sala de aula, eram 30 pessoas de 27 nacionalidades”. O valor da responsabilidade, transmitido pelo padrasto, levou o jovem a assumir também as funções de empresário sem muito estresse. Aos 25 anos, inaugurou o Saveur, bistrô no qual o javali é uma homenagem a Fonseca, admirador de carnes de caça. “Ele é meu crítico mais fiel”, diz o chef. A costela de javali chega congelada de São Paulo, e a coxa de rã de Goiás: “Sempre que vou acrescentar um prato no cardápio, vejo primeiro se o fornecedor tem qualidade e disponibilidade”. Na arte, a criação costuma ser espontânea e é assim para Thiago. “Tenho um monte de anotações no celular. Às vezes, estou dirigindo, tenho ideia de um molho, depois anoto e vou pensar na proteína”, diz. Em seguida vem a fase de testes, de provas, até entrar para o cardápio, trocado a cada três ou quatro meses, sempre com o lema “respeito pelo clássico, admiração pelo moderno”. Para provar sabores que vão do cítrico ao doce em texturas diversas, o chef alinhavou dois menus especiais. “Na quarta-feira, nós só servimos o menu-degustação de dez etapas. É como se fosse um tour pelo nosso cardápio”, compara. Nos outros dias, o carro-chefe é a costela de javali ao molho de jabuticaba, risoto de queijo coalho e banana crocante (R$ 79). Outro destaque é o magret de pato (R$ 84), servido com purê de mandioquinha, minicebola crocante assada, emulsão de laranja com alecrim e chips de mandioquinha. Há também tornedor de filé-mignon, coelho braseado, peixe do dia... São sete pratos principais, antecedidos por seis sugestões de entradas, como vieiras grelhadas com farofa de açaí e coxas de rã com purê de ervilhas. Entre as sobremesas estão o brownie de chocolate Oreo com parfait de doce de leite e licor Baileys e o pain perdu de banana, um tipo de rabanada com gelato fior de latte, paçoca e creme inglês ao perfume de trufas negras. A precisão suíça é percebida no alinhamento impecável das mesas e na higiene do salão. As cerâmicas são assinadas por Davi Ferraz, os vinhos vêm da França, da Itália, da Argentina, de Portugal. Tudo para que o jantar seja uma experiência sensorial inesquecível. Na saída, o cri-cri dos grilos parece dizer: boa noite! Saveur Bistrot
Setor de Mansões Dom Bosco (SMDB), Conjunto 10, Lote 1, Lago Sul (99116.3211) De terça a sábado, a partir das 19h30.
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ÁGUANABOCA
Os “potim”
de Murilo Grossi
TEXTO E FOTOS LÚCIA LEÃO
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les mal chegaram ao mercado e já estão virando uma febre. Desde o início de agosto, quando as famílias Bigonha e Grossi – sim, é um negócio estritamente familiar – fizeram as primeiras ações de divulgação dos produtos em uma banquinha montada na ponta da Asa Norte para servir pequenas refeições, os “potim”, como dizem os “mineirim”, arrebatam clientes que, de cara, cedem aos encantos das mais sofisticadas receitas mediterrâneas envasadas em potes de vidro, prontas para ir à mesa. Vão do popular pomodoro, carro-chefe da linha, à lusitana “punheta de bacalhau”, passando por uma gama cada vez maior de molhos, pastas e conservas, todos preparados artesanalmente e com produtos orgânicos. E sabem por quem? Pelo músico e ator Murilo Grossi, que hoje divide seu tempo entre os estúdios de TV, os palcos de Brasília e a cozinha do apartamento onde vive com a família, transformada em oficina de produção. Passar horas depelando pacientemen-
te os tomates que vão se transformar em molho não é nenhuma novidade para Murilo Grossi. Ele faz isso desde a infância, quando, como filho do meio, era o mais convocado pela mãe Maria Cirene, mineira de ascendência italiana, para ajudar na cozinha. E foi com ela que aprendeu as receitas e os segredos do preparo dos pratos que seguiu fazendo em casa para deleite da família e dos amigos, até então o círculo restrito de privilegiados conhecedores desse seu dom. “Eu sempre cozinhei em casa, para meus filhos e para amigos que viviam me provocando para abrir um restaurante. E eu sempre resisti. Até que reencontrei a Fernanda”. E entra na história Fernanda Bigonha, a antiga namorada que Murilo reencontrou depois de 20 anos. Uma linda história de amor que se desdobrou numa família ampliada – cada um com seus dois filhos – e no Potim, projeto recheado dos melhores princípios e muito amor. Fernanda, cozinheira de mão cheia, vinha de uma interessante, mas igualmente estressante, experiência à frente do restaurante e pizzaria Bazzo,
que sucumbiu à crise. O casal, estimulado especialmente por Elisa Grossi, filha de Murilo, resolveu somar seus saberes e colocar tudo dentro dos potes, “a mais antiga forma de armazenamento de alimentos em recipientes, que vem do período da expansão dos impérios fenício, grego e romano”, ensina Fernanda. As receitas, por sua vez, estavam prontas: seriam as tradicionais da dieta mediterrânea, herdadas de dona Cirene e utilizadas no dia a dia em família. Os insumos, como em casa, seriam orgânicos, submetidos a longos processos de cozimento, confitamento e condimentação, que tanto atribuem sabor aos alimentos como lhes preservam os nutrientes. A alternativa dos potes permitiria a reutilização das embalagens. Elisa, artista plástica, desenvolveu os rótulos e toda a identidade visual da marca Potim. Luca e Luiza, os filhos do meio, colaboram como podem carregando insumos, encaixotando os potes ou mesmo assumindo o caixa nos eventos promocionais. Nem o caçula Felipe, de cinco anos, quer ficar de fora do trabalho em equipe. “A tarefa dele é passear com o cachorro”, brinca Murilo. Essa equipe familiar azeitada é que permite ao “multitarefas” Murilo Grossi compatibilizar a Potim com seus projetos profissionais como ator e músico. Atualmente ele se prepara para iniciar as gravações da nova novela da TV Record e para a montagem do espetáculo Furacão Carmem, uma produção íbero-americana com texto do argentino Santiago Serrana em que vai contracenar com o ator português Antonio Revez, sob a direção do cubano Julio Rodrigues. Potim
Encomendas pelo telefone 98472.2255
Fotos: Thamires Gomes
Mais uma francesa POR VILANY KEHRLE
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padaria Cardabelle é fruto de uma longa história, resultado da vivência de Benoît Rataboul no mundo da gastronomia, que começou na infância em um pequeno vilarejo no sul da França, atravessou fronteiras e foi se aprimorando. Ele cresceu em Onet l’Église, numa casa que ficava entre uma fazenda de cabras e outra de vacas, em contato diário com a produção e com práticas ligadas à terra. Em 2006 entrou no mundo da panificação, ao mesmo tempo que começou a descobrir o Brasil. Cinco anos mais tarde resolveu morar em Brasília. Da experiência e do fascínio desse maître boulanger pelo universo da fermentação surgiu a Cardabelle (nome de
flor nativa típica da região onde ele nasceu, que os moradores, seguindo uma tradição local, colocam na porta de casa para atrair a boa sorte), onde Benoît investe em produtos que agregam criatividade às receitas tradicionais. Aberta no início de setembro, na 403 Norte, funciona também como café. “Eu me alimento de muitas ideias, de novos e diferentes sabores, aromas, cores e texturas, como também de novas técnicas, mas sem abandonar as raízes, o conhecimento baseado na minha tradição”, afirma Benoît, enfatizando a proposta do novo empreendimento. Além da baguette e do croissant tradicionais, é possível saborear um croissant brasileiro rechea-
do com creme de paçoca de amendoim. Num primeiro momento, alguns produtos podem soar um pouco exóticos, ou mesmo estranhos, como o Pão da Bahia feito com dendê, coentro e outros temperos da culinária baiana, cozido na folha de bananeira (R$ 12,80), e o Coroa Thai, à base de farinha de trigo e de grão de bico, coberto com crosta de condimentos da culinária tailandesa (R$ 13,10). Mas a criatividade do boulanger não para por aí. Há o Pão da Horta, preparado com acréscimo de beterraba e toque de gengibre (R$ 14,90) e o Pão de Quintal, com cenoura e suco de laranja (R$ 14,80). O brioche Zigzag é recheado de cremes de coco, gengibre e abacaxi (R$ 15,50) e o de es-
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peciarias, coberto por biscoito de textura crocante, leva infusão de muitos condimentos (R$ 14,50). Quem preferir degustar um sanduíche pode optar pelo Primavera, composto de baguette, abacate, tomate, queijo de cabra, nozes, pimenta rosa, manjericão e molho pesto (R$ 23,50). Todas essas delícias, entre tantas outras, podem ser acompanhadas pelo tradicional cafezinho, cujos grãos vêm de uma fazenda no sul de Minas especialmente para a Cardabelle. Além dos vários tipos de pães, folhados e brioches, no cardápio enxuto da padaria há opções de frios, tortas doces, espumantes, vinhos, champanhes e cervejas. Moradora da 404 Norte, Clarice Lira aprovou a novidade. “É mais uma boa opção para degustarmos excelentes pães artesanais, com fermentação natural. Sem contar que o local é bem bonito, aconchegante, com um atendimento atencioso e uma rabanada de croissant deliciosa”. Além de ser fruto do famoso terroir francês, Benoît buscou, ao longo dos anos, aperfeiçoar seus conhecimentos, estudando e trabalhando em muitas padarias. Em 2007 obteve o Certificat d’Aptitudes Professionelles (CAP) e em 2011 cursou o Institut National de la Boulangerie ((INBP), onde recebeu o Brevet Professionel e o Brevet de Maîtrise – um diploma exigido na França para o uso do título de maître boulanger e para o ensino da panificação. Este ano, formou-se em gastronomia e pós-graduou-se em Docência no Ensino Superior, pelo Iesb. Très bien! Cardabelle
403 Norte, Bloco E (3036.6656). De 3ª a domingo, das 7h30 às 21h30.
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Thamires Gomes
ÁGUANABOCA
Fotos: Henrique Eira
Pizzas mais saudáveis POR VICTOR CRUZEIRO
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magine um local onde a preocupação com a confecção da comida vem em primeiro lugar, antes mesmo do sabor. Onde o cuidado com a construção do ambiente é milimétrico e perpassa até mesmo a luz. Não é fácil encontrar lugares assim em Brasília. Na verdade, não me recordo de um lugar que tivesse essa ousadia ingênua e quase quixotesca. Mas agora não mais. Na 307 Norte surge a Pinoli, uma pizzaria feita de detalhes, atenção e, como todo ideal que vai contra a corrente, de contestação. Imagine dois jovens, Thiago e Bruno. Bruno Lameira sempre foi acometido de intolerância à lactose, e Thiago Lucas decidiu, em um momento de revisão, investigar os efeitos do que comia, iniciando uma dieta restritiva de trigo. Os dois amigos privaram-se, então, de uma infinidade de produtos que são consumidos todos os dias, quase que mecanicamente. Então, um dia, Thiago quis comer uma pizza. Mas como comer pizza sem trigo? E como dividir uma com Bruno, sem queijo nem nenhum derivado? Caiu sobre eles a percepção chocante de que, para muitas pessoas, essa privação não era de alguns dias ou meses, mas de uma vida
inteira. Uma vida inteira sem pizza! Surgiu então o singelo projeto de prover esse alimento tão fundamental na vida do brasiliense – a pizza – para todos aqueles que não podem consumir trigo e derivados. No final de 2016, os amigos começam a fazer pizzas 100% sem lactose e apropriada para celíacos, congeladas, que logo ganharam receptividade de vários mercados orgânicos da capital. Menos de um ano depois, na Asa Norte, abriu as portas a Pinoli, a consubstanciação dessa ideia que começou como um projeto e evoluiu para um desafio e um símbolo na luta em prol de uma alimentação mais saudável, atenta e, acima de tudo, acessível. Mas como fazer uma pizza sem trigo? E sem queijo? Isso quer dizer que ela é vegana? Em primeiro lugar, a massa é de mandioca, sem contaminação cruzada com nenhum tipo de derivado do trigo ou de laticínios. Também leva azeite e linhaça. Nesse processo, a massa não adquire o gosto comumente salgado nem cheio a que estamos acostumados. É leve, suave a ponto de deixar o azeite perceptível. Ora, isso é um choque! Numa cultura acostumada a um desfile de sabores exaltados no salgado e no doce – principalmente doce! – uma massa suave
pode ser tachada de “sem gosto”. Pois que seja. Ela é, e isso é essencial para o que vem por aí. Os sabores esmeram-se em poucas combinações. Em geral um ingrediente, como abobrinha, cogumelos ou mesmo carne seca, domina a pizza (grande, de oito pedaços), ornada por um molho reduzido de tomate feito por eles – também mais consistente do que saboroso. Podese escolher sem queijo, com muçarela sem lactose ou mesmo muçarela normal. A Pinoli lança mão de tudo que se considera normal, para surpreender num minimalismo que se repete na própria decoração monocromática em laranja chamativo – e com belas luminárias! Há muito o que se contar para o tanto que há para se conhecer. Na falta de espaço aqui, indica-se a visita à casa – cuidado, ela tem poucas mesas – ou o pedido por delivery. Uma pizza grande sai entre R$ 45 e R$ 57. Num mundo de excessos – de sabor e de sectarismo – na gastronomia, renunciar a tanto em prol de uma luta quase invisível é digno de um Quixote. Que sua luta seja longa e gloriosa! Pinoli – Pizzas Saudáveis
307 Norte, Bloco E (3532.9914) De terça a domingo, das 18 às 22h.
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PICADINHO
Menu de primavera 1 O chef Flávio Leste, do Villa Tevere (115 Sul, Bloco A, tel. 3345.5513), acaba de lançar seu cardápio especial de primavera. Até 30 de novembro, a fórmula entrada, prato principal e sobremesa vale para os almoços de terça a sábado e para os jantares de segunda a quinta, ao preço de R$ 80. São duas as escolhas de entrada: pequena salada de hortaliças frescas do dia, tomatinhos sweet grape e lascas de parmesão ou salada de lulas e camarões ao vinagrete em concha de vieira com spaghetti de pupunha e toque de pesto. Há ainda cinco opções de prato principal, entre elas esses escalopes de filé mignon flambados em conhaque ao molho de cerveja preta servido sobre risoto salteado recheado com Bel Paese. Para encerrar a trilogia, a dúvida fica entre o sorvete de vanilla com morangos ao balsâmico e crocante de suspiros e a torta de Amareto e chocolate belga meio amargo.
Divulgação
Iguarias latinas
Kyanza
Menu de primavera 2
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No Ces’t la Vie Bistrô & Creperia (408 Sul, Bloco A, tel. 3244.6353), o menu de primavera, que será servido somente até o dia 25, custa R$ 49. De entrada, mini crepe com massa de beterraba e recheio de ricota temperada com azeites e ervas, ratatoullie com mostarda e mel e um fio de molho de iogurte; prato principal, risoto de banana da terra acompanhado de filé de pescada amarela ao molho de sálvia e champignon (foto); e de sobremesa, massa de crepe com banana, morango, sorvete de creme e um toque de açúcar refinado e fios de chocolate.
Frutos do mar, omeletinho enrolado e limão em conserva são os ingredientes do Arroz Chaufa (R$ 39), um dos carros-chefes do recém-inaugurado Otramanera Cocina Latina (413 Sul, Bloco A, tel. 3222.6450). Trata-se da releitura de uma receita peruana, feita pela chef Raquel Amaral, que se divide entre Brasília e São Paulo, onde faz residência no badalado restaurante Maní, de Helena Rizzo. Ela buscou inspiração em vários países hispânicos – México, Cuba, Colômbia e Argentina, além do Peru – para formatar o cardápio da nova casa, onde figuram outras delícias como a costelinha com chimichurri, purê de batata doce roxa, purê de abóbora e cubos de batata frita (R$ 29) e o polvo com batatas, chimichurri e pesto de pimentão (R$ 44). “Não quis reproduzir os pratos exatamente como são por uma questão de identidade e também pela dificuldade de encontrarmos alguns ingredientes típicos dos nossos países vizinhos, mas que não temos aqui”, explica a chef, que criou mais de 30 opções de petiscos, entradas, pratos principais e sobremesas.
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Jantar temático Renascença, barroco, clássico, romântico e moderno. Para cada período da música clássica o comensal degustará um prato da respectiva época “regido” pelo chef Rodrigo Viana ao som de repertório executado pelo Brasília Brass. Assim será o jantar temático História da música, marcado para o dia 21 em uma casa do Lago Norte. Serão cinco blocos musicais combinados com cinco pratos – da entrada à sobremesa. As bebidas – espumantes, vinhos, sucos e água – também estão incluídas. As reservas podem ser feitas no Espaço Cultural Alexandre Innecco (116 Norte) ou em www.alexandreinnecco.com. Preços: R$ 174 (sócios do Clube ECAI) e R$ 349 (não sócios).
PF do Le Vin Não confundir com prato feito. Estamos falando de preço fixo, promoção do Le Vin Bistrô (Espaço Gourmet do ParkShopping, tel. 3028.6336) que oferece aos clientes a oportunidade de pagar apenas R$ 48 por uma entrada (salada ou sopa) e um prato principal à sua escolha (strogonoff de filé mignon, milanesa de filé com purê de mandioquinha, penne à primavera ou filé de tilápia com purê de batata doce (foto).
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70 Mil Comunicação
Pranzo Italiano Pelo mesmo valor – R$ 49 – é possível degustar uma das saborosas combinações do novo menu executivo do Oliver (Clube de Golfe, tel. 3323.5961), batizado de Pranzo Italiano. De entrada, bruschetta napoletana ou insalata caprese; pratos principais, penne toscano gamberetti, que leva tomates sweet grape, muçarela de búfala, camarão e manjericão, filé de Saint-Peter com aspargos, cogumelos frescos e camarões e uma das estrelas da casa, esse filé à parmegiana em cama de presunto de Parma, coberto por crosta crocante de farinhas especiais e finalizado com molho pomodoro platô San Marzano rústico gratinado com parmesão. Pagando mais R$ 10 o cliente pode escolher, de sobremesa, o clássico tiramisù ou o gelato de avelã. Há ainda a possibilidade de harmonizar os pratos com vinhos italianos em taça por apenas R$ 10. O Pranzo Italiano será servido, no almoço de segunda a sexta-feira, até 30 de novembro, quando será substituído por outro menu executivo.
Sabor Suíno
Por falar em vinho... Toda a carta do Pecorino Bar e Trattoria (210 Sul, Bloco C, tel. 3443.8878, e Boulevard Shopping, tel. 3033.8285) está com 30% de desconto de segunda a quarta-feira, das 12 às 15h e das 19 às 24h. São mais de 80 rótulos, entre eles, o português Grilos Branco (R$ 55,30), o argentino Crios (R$ 67,20), o francês Languedoc Roussillon (R$ 66,50), o espumante brasileiro Gran Legado (R$ 45,50), o italiano Prosecco Madona (R$ 89,60) e o espanhol Cava Jaume Serra Brut (R$ 55,30). A promoção vai até o final de novembro.
Rafael Lobo-Zoltar Design
O nordestino Ziriguidum Bar e Restaurante (412 Sul, Bloco A, tel. 3548.4846), que até 25 de setembro funcionava somente à noite, passou a abrir também no almoço, oferecendo sempre um prato do dia ao preço de R$ 33 e muitas outras comidinhas como o frango tailandês, o peixe cevadinha (foto), a bisteca suína com molho de seriguela e o arrumadão, uma versão mais completa do tradicional prato pernambucano, que leva carne de sol, paçoca, baião de dois e macaxeira. Há pratos família, duplos e individuais.
Vem aí mais uma edição – a oitava - do Festival Sabor Suíno, com a participação de 30 dos mais tradicionais restaurantes da cidade (a relação completa, com descrição, fotos e preços dos pratos está em @saborsuino). De 23 de outubro a 5 de novembro os brasilienses poderão degustar pratos com três faixas de preços (R$ 39, R$ 49 e R$ 69) que dão direito ainda a uma entrada ou sobremesa. Um exemplo: o Bar Brasília (506 Sul, tel. 3443.4323) vai oferecer, por R$ 39, esse filé mignon suíno envolto em lâminas de bacon, sob fatias de abacaxi pérola e coberto por uma camada de chutney de abacaxi. De entrada, cebolas empanadas acompanhadas de geleia de pimenta vermelha.
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Almoço no Ziriguidum
Chama-se poke a iguaria originária de Honolulu que é capaz de provocar tamanha alegria. Sucesso também na Califórnia e em Nova York, acaba de chegar a Brasília essa receita preparada com peixe cru cortado em cubos, marinado e servido, normalmente, em um bowl com arroz, verduras, frutas, grãos e algas. Ela está no cardápio do The Poke Bowl, recém-inaugurado na praça de alimentação do Boulevard Shopping, no finalzinho da Asa Norte. O poke é um prato caseiro, de influência japonesa, à base de atum havaiano, muito apreciado por surfistas de todas as nacionalidades e que agora começa a ganhar o mundo. O mais comum encontrado no Havaí é o que leva uma base de arroz Gohan (arroz japonês, o mesmo usado no sushi), atum cru marinado em molho à base de shoyu e óleo de gergelim, acompanhado de cebola mauí, abacate, macadâmias, algas e gergelim. Aqui ele é oferecido em inúmeras versões, com preços a partir de R$ 23.
Rodrigo Fonseca
Vinhos Villa Tevere Mais um restaurante brasiliense – o Villa Tevere – acaba de lançar sua linha própria de vinhos e espumantes, como parte das comemorações de seu 18º aniversário. São cinco rótulos, produzidos pela vinícola gaúcha Don Guerino: um espumante brut rosé e um brut Chardonnay elaborados pelo método Charmat (R$ 89, ambos), um vinho rosé Malbec 2017 (R$ 71), um Reserva Cabernet Sauvignon 2016 (R$ 85,40) e um Vintage Malbec 2016 (R$ 99,80). Experimentamos e aprovamos com louvor o Reserva Cabernet Sauvignon 2016, mas o chef Flávio Leste, proprietário da casa, aposta todas suas fichas no Vintage Malbec 2016, que figurou entre os top ten na seleção de vinhos brasileiros do VIII Vinum Brasilis, em agosto último. É indicado para apreciadores de vinhos potentes e com longa persistência.
Caipirinha na caneca congelada
Rafael Lobo-Zoltar Design
Andrea Rego Barros
Direto do Havaí
Após comemorar um faturamento recorde de R$ 314 milhões no primeiro semestre do ano (62% superior ao do mesmo período do ano passado), a rede de restaurantes Madero anuncia mais uma novidade: até 5 de novembro, em todas as suas unidades Steak House (em Brasília, no Pátio Brasil, Shopping ID e ParkShopping), a caipirinha será servida na caneca congelada, em várias versões preparadas pelo mixologista Rafael Pizanti com a cachaça Premium Leblon e os xaropes franceses da Monin. Preço: R$ 19 aos sábados e domingos e R$ 9,50 de segunda a sexta-feira. 11
GARFADAS&GOLES
O Tejo e as quatro estações
LUIZ RECENA
lrecena@hotmail.com
Quando Vivaldi compôs a sinfonia, Brasília era o sonho de Dom Bosco. O velho monge italiano delirava com os trópicos deitado em cama de pedra. JK sequer havia nascido. Pontes impossíveis. Vivaldi reinava sozinho. Mas o Rio Tejo lá estava, em lusitanas terras, e dele já haviam zarpado as naus de Cabral. Na calmaria contestada, descobriu o Brasil, teimoso em ser errado tendo tudo para dar certo. Viva Cabral! E, com ele, todos os portugueses que chegaram, produziram descendência e chamaram os que ficaram. Primavera, verão, outono, inverno. Lá e cá as quatro estações se repetem. Em períodos opostos, mas se repetem. Vivaldi não se importa com isso. Desde que ouçamos sua sinfonia e respeitemos as quatro estações da natureza. Manuel, Manuelzinho Pires, fez mais: trouxe o Tejo para Brasília feito restaurante e apresenta novo cardápio por estação. Pontes necessárias para talvez entender um pouco esse nosso doido universo, mais perto de sonhadores, artistas, visionários, do que de mortais comuns, onde este colunista marca passos... Então o Manuel resolveu fazer sua saudação à primavera: abriu com um gazpacho andaluz, sopa fria de tomate e espécies. Adequada para a época. Seguem duas opções de peixe, salmão e linguado, o primeiro com molho de maracujá, o segundo com molho de laranja. Ambos com agradáveis guarnições de legumes e uma surpreendente couve crocante. Um Lagosta verde, rosé, e um Torrontés/Chardonnay são os recomendados para a harmonia. Só abriria com eles. Aos segundos, um tinto, sempre. Eloquências da idade, talvez. Ao final, outra surpresa: um doce de tomate maduro, quase um manjar de goiabada da infância, com queijo tipo Serra da Estrela. Ai, Jesus!
Lembrança portuguesa, com certeza
O Tejo fez antes uma experiência, entre o outono e o inverno deste ano. Escrevi sobre, mas a publicação que pediu não saiu. Entre “eu não disse?” e “estás a ver, oh pá!”, meu lusitano editor vitorioso publicará. Ei-la: “Portugal declarou luto oficial por Juscelino Kubistchek antes dos milicos brasileiros. Mas um general nosso reconheceu países africanos que se libertaram dos grilhões do colonialismo luso antes de muitos outros países. Brasília passou seus primeiros tempos sem maiores referências na mesa da saudade. Nesses meus pouco mais de 40 anos na cidade, o primeiro registro é o Cachopa, galeria Nova Ouvidor. Depois, Mouraria e Sagres. E o Francisco, que batalhou e recuperou a boa imagem da comida da pátria-mãe. Tejo é rio em Portugal e restaurante em Brasília. Simples, não? Não! Entre um e outro há mais história do que pensa nossa gulosa imaginação. Do rio partiu Cabral, no Rio aportou Manuel, alguns séculos depois. O capitão d’El Rei descobriu o que estudamos. O restaurateur, depois de conquistar os cario-
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cas, atracou suas naves de prazeres na capital. O Tejo (404 Sul) tem gastronomia refinada, cardápio e design inspirados na terra de Manuel, e conta com dois salões e uma varanda. Para eventos, o segundo andar é ideal, lá está a adega, 300 rótulos e garrafas especiais. O menu lusitano tem pitadas brasileiras, como o picadinho e o frango com catupiry. Variações do bacalhau: Dourado (desfiado, com batata palha e ovos batidos temperados); Gomes de Sá (assado em lascas, com ovos, batatas e azeitonas); e Espiritual (desfiado e cozido com creme de leite, cenoura e gratinado). Tem arroz de pato e de frutos do mar. Polvo à moda do chef e paleta de cordeiro. Para o outono-inverno, mais dois novos pratos: cabrito ao tinto e açorda de camarão. Sobremesas? Variadas e quase assassinas: sericaia, toucinho do céu, rocambole de chocolate amargo com baba de moça, torta de nozes e calda de goiaba, pastel de Belém, ovos moles, strogonoff de nozes, encharcada de fios de ovos, farófeas. Pecador sou! Mas de quem eu gosto “nem às paredes confesso”...
PÃO&VINHO
O Gordo e o Magro A saudosa dupla de comediantes americanos Laurel e Hardy, que tanto fizeram sucesso entre nós como O Gordo e o Magro, não serão o foco desta coluna, embora imagine que eles também bebessem lá os seus vinhos. Na verdade, o que proponho é uma analogia com tipos de vinho. Chamo aqui de gordo o vinho potente, opulento, mastigável, comumente com muito álcool, muita fruta, tipicamente os de estilo moderno, chamados bomb wines; enquanto que o magro é o vinho comumente mais leve, mais elegante, com uma acidez mais marcante, mas nunca excessiva, no estilo normalmente tido como do “Velho Mundo”. Sem qualquer juízo de valor, pois ambos os estilos podem apresentar muito bons vinhos, confesso que minha preferência permanece com o magro. Interessante notar que podemos ter fortes pistas da tendência para um ou outro tipo não só pela cepa de uva utilizada ou o estilo do produtor, mas também pela origem. Por exemplo: vinhos argentinos e americanos tendem comumente ao gordo, enquanto franceses e italianos tendem ao magro, sem, é claro, que isso seja uma noção absoluta. Bem, para exemplos práticos trago aqui para três vinhos americanos claramente gordos, e três da casta Pinot Noir claramente magros. Nos Estados Unidos os vinhos tendem, de fato, a serem gordos, até pelo importante uso da madeira, além da preferência por castas como a Cabernet Sauvignon e a Chardonnay. Nosso primeiro exemplar é um Bevan Cellars Ontogeny 2014, um excelente exemplar do Napa Valley. Com um corte bordalês de Cabernet Franc e Merlot, o vinho se apresenta totalmente voluptuoso, escuro na taça, com aromas de creme de cassis, figos, chocolate, terra e trufas e perceptível, mas elegante, amadeirado. Na boca é untuoso e potente, com poderosos 14,9% de álcool. Gordo! Depois, um típico Cabernet Sauvignon do mesmo Napa,
ALEXANDRE FRANCO pao&vinho@agenciaalo.com.br
o Meli Melo 2013. Com um rótulo absolutamente inusitado, que apresenta a figura de um “cientista maluco” tirando o nectar de suas poções químicas, traz em seu púrpura fechado aromas claros de ameixa em compota, alguma framboesa e um toque de carvalho francês, enquanto o palato mostra corpo pleno e acidez mediana, pedindo ao menos uma hora de oxigenação para se revelar. GG com 14,8% de álcool! Por fim, o excelente Rentless 2007 da Shafer, uma das mais respeitadas vinícolas do Napa, tida por muitos críticos americanos como autora de seu melhor Cabernet. Com o corte, menos comum para a região, de Syrah e Petit Syrah, é um dos meus americanos preferidos. No nariz, muita fruta negra, trufas e um toque de carne e pimenta. Na boca é sedoso, redondo, muito saboroso. Com alcoolicidade também na casa dos 15%, consegue alcançar mais elegância do que os anteriores. Large! No Pinots, iniciamos, para efeito de uma transição mais tranquila, com um exemplar da Patagônia, o Kooch Pinot Noir 2008 da Universo Austral, com agradáveis 13,5% de álcool. De cor rubi brilhante e nariz elegante de frutas vermelhas maduras e alguma especiaria, na boca traz um toque de mineralidade e taninos delicados. Bom vinho, de estilo mais no caminho do clássico que é comum para os produtos argentinos, possivelmente devido a dois fatores: região fria e enólogos franceses. Um magro de peito largo. Depois, um Pinot americano, o Soléna 2013 de Willamette Valley, no Oregon, o único terroir fora da França capaz de produzir pinots realmente elegantes, em minha opinião. Aromas típicos de cereja e framboesa e um raro toque de menta. Na boca, toques de pimenta preta e cravo. Muito bom. Um magro musculoso. Finalmente um Pinot totalmente clássico, o Cuvée Latour 2014. No nariz, frutas vermelhas como cereja e morangos; no palato, taninos finos, leves, mas agradáveis e marcantes. Um magro clássico, elegante.
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debemcomocerrado Os capins nativos do cerrado brasiliense são a fonte de inspiração de Lourenço de Bem, também conhecido como o “artista dos capins”. Uma série inédita de 22 trabalhos em acrílico sobre tela, produzidos este ano, está em exposição no CTJ Hall (706/906 Sul) até 28 de outubro. Intitulada Cerrado abstrato, a mostra revela matizes e formas do capim que desabrocha na região Centro-Oeste, uma paisagem cotidiana nem sempre percebida aos olhos de quem vive o dia a dia do Planalto Central, mas que encanta Lourenço de Bem. “Embora difícil de ser descrito, esse tipo de vegetação tem muito a dizer sobre nós em nosso habitat. O capim nos fala sobre o tempo, o vento, as cores, os volumes, as formas e movimentos, a natureza do cerrado”, observa Lourenço de Bem, gaúcho que veio para Brasília, ainda criança, com o pai e mestre Glênio Bianchetti. Sua primeira exposição individual aconteceu em 1977. Depois aperfeiçoou sua técnica no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e formou grupos de pintores que expõem no Brasil e no exterior. Atualmente, em seu ateliê, reúne artistas plásticos para debates, projetos e exposições, exercendo papel de influenciador e formador de novos talentos. De segunda a sexta, das 9 às 21h, e sábado, das 9 às 12h. Entrada franca.
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DIA&NOITE
Marcela Rossiter
fotografia1 A brasiliense Marcela Rossiter é fascinada pelo estudo do passado e da identidade. Ela se utiliza de diversos suportes para abordar, principalmente, questões de gênero, sexualidade, opressão e memória afetiva. Já o mineiro residente em Brasília Nilson Filho se interessa por pesquisa em linguagem visual e tem forte influência do arquiteto alemão Bauhaus (1883-1969). A arte de ambos está na mostra Contramemória: vestígios de (des)histórias, em cartaz até 28 de dezembro no Espaço f/508 de Fotografia (413 Norte, bloco D). De acordo com eles, “quando nos vêm à mente questões de gênero, o que também nos vem à cabeça é resistência”. A partir de suas vivências, ambos mostram como os pensamentos que antes viviam no medo se tornaram realidade, afetando suas identidades e, em contraponto, reforçando a necessidade de luta. De segunda a sexta, das 14 às 19h, e sábados, das 9 às 12h, com entrada franca. Informações: 3347.3985.
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André Amaro
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Begom Santiago
Até 8 de novembro, a segunda edição da mostra coletiva Quadrantes, montada no Centro Cultural Câmara dos Deputados, apresenta fotografias digitais de Alessandro Venturim, André Amaro, Hudson Capa e Mauro Sampaio. Em comum, o fato de que todas são ambientadas em várias partes do mundo, como uma praia paradisíaca na Bahia, uma rua íngreme em cidade histórica de Minas Gerais ou um ônibus circular em Brasília. E também que valorizam a presença do ser humano nas paisagens. Enquanto o piauiense Mauro Sampaio capta momentos da vida cotidiana de cidadãos que utilizam o transporte coletivo, André Amaro retrata personagens em paisagens da Bahia e da Espanha, sobre os quais constrói narrativas místicas. Com forte influência do fotógrafo francês Cartier-Bresson, Hudson Capa expõe momentos de pessoas anônimas, registrados no Brasil e em países do Mercosul. Finalmente, Alessandro Venturim apresenta fotos clicadas em vários países africanos, entre eles o Sudão do Sul, onde são exibidas as dificuldades enfrentadas pela população local, que enfrenta uma guerra. De segunda a sexta-feira, das 9 às 17h. Entrada franca.
Esta é para os aficionados em tecnologia e ao mesmo tempo interessados em saber como ela pode ser usada muito bem no mundo das artes. Até 10 de dezembro, o CCBB apresenta o FILE – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica, com o propósito de aproximar os mais diversos públicos de obras de arte, por meio de debates e pesquisas que utilizam a tecnologia como suporte ou como inspiração. Montado especialmente para Brasília, o FILE reúne formas inovadoras de expressão, com obras agrupadas em quatro eixos representativos de um conjunto de novos comportamentos: corpo vivencial, corpo cinético, corpo virtual e corpo lúdico. O público poderá experimentar formas inusitadas de interagir com a arte eletrônica, que promove uma ruptura na forma tradicional de apreciação das obras, pois agora é possível tocar, pular,balançar, imergir, jogar e brincar com a instalação. Entrada franca. 14
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mêsdascrianças1 “Uma viagem pelos sons do planeta.” É assim que os integrantes do grupo paulista Mawaca resumem o espetáculo infantil que será apresentado no teatro da Caixa Cultural entre 20 e 22 de outubro. Dirigido por Wanderley Piras e idealizado pela musicista Magda Pucci, Pelo mundo com Mawaca traz canções e histórias para crianças de todas as idades, com um repertório que passeia pela sonoridade de países como Japão, França, Portugal, Tanzânia, Israel e Grécia. As cantoras do grupo entrelaçam essas histórias das canções como se fossem fios coloridos, teias que se cruzam o tempo todo. Elas destacam os principais elementos lúdicos das canções com comentários sobre cada lugar, apresentando personagens e curiosidades locais de uma maneira divertida. Sexta-feira, às 19h; sábado e domingo, às 16h. Ingressos a R$ 20 e R$ 10.
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mêsdascrianças2 Brigadeiro da Ana, no dia 21; quibe assado do Aladim, com a presença do próprio, no dia 22; cupcake da Fada Natalina, no dia 28, e cupcake da Mamãe Noel, com a presença da própria, no dia 29. Essas são só algumas das atrações do projeto Mini Chefs, do Pátio Brasil, que no mês de outubro está mais encorpado para homenagear as crianças. As que não têm muito interesse em gastronomia podem participar das oficinas criativas com os brinquedos PlayMais (foto), bloquinhos comestíveis de sêmola de milho que, quando molhados, podem ser modelados. As que se amarram em contos de fadas podem participar da contação de histórias pilotada pela Cia. Néia e Nando. Nessa programação nem os bebês ficam de fora, pois podem participar do grupo de musicalização com uso de violão, pandeiro, xilofone, flauta e tambor. As brincadeiras acontecem aos sábados e domingos no terceiro piso do shopping e são gratuitas. Informações: 2107.7400.
Já no Shopping Iguatemi as atrações para os pequenos são comandadas pela companhia Canoa Mágica e pelo mágico Tio André, que estão se apresentando todos os domingos na Livraria Cultura. Às 15h, a Cia. Canoa Mágica faz uma apresentação para crianças de todas as idades. Além de músicas autorais e outras já conhecidas pelo grande público, traz versões bem-humoradas de clássicos do repertório infantil. E às 17h o tio André mistura magia com literatura, circo, humor, palhaços, ventríloquos, fantoches e marionetes (foto). Na praça central, o Mundo Gloob se encarrega da diversão com atividades recreativas dos programas Alvinnn!!! e os esquilos, Miraculous – As aventuras de Ladybug, Detetives do prédio azul, Porto papel e Valentins. Destinada a crianças de quatro a dez anos, a programação tem entrada gratuita, mediante distribuição de senhas e disponibilidade de lugares.
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Vai até 20 de outubro a programação especial infantil do Conjunto Nacional, com brincadeiras e oficinas gratuitas. Crianças de 3 a 12 anos podem se divertir em Barbie Você Pode Ser Tudo Que Quiser & Hot Wheels Desafie Seus Limites. Na primeira, há quatro estações interativas, onde dá até para virar astronauta e ter aulas de equilíbrio para lidar com a falta de gravidade no espaço. Ao embarcar no foguete da Barbie, as crianças chegam à Estação das Princesas para uma nova experiência. Lá, elas são coroadas para viver uma aventura em um castelo cercado de bonecas e objetos encantados. Na segunda, podem conhecer a maior garagem de Hot Wheels de todos os tempos, com elevadores, rampas, dezenas de carrinhos e uma atividade em equipe. As atividades são gratuitas e estão disponíveis diariamente, das 14 às 20h, na praça central do piso térreo.
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improvisonaveia A Cia. Barbixas de Humor está de volta ao palco do Teatro Unip (913 Sul) com o espetáculo Improvável – Um espetáculo provavelmente bom. Serão quatro apresentações nos dias 21 e 22 de outubro. Trata-se de um projeto de humor baseado em improvisações, no qual a plateia tem fundamental importância para criação das cenas. Um mestre de cerimônias faz o aquecimento do auditório com uma pequena introdução ao espetáculo, interagindo com o público e explicando como eles poderão influenciar nas cenas. Na hora das improvisações ele seleciona as sugestões da plateia e explica os mecanismos e as regras dos jogos de improvisação. A cada apresentação serão chamados dois atores convidados para completar o elenco. E como tudo é baseado no improviso, o público sempre verá uma peça diferente e interativa. Formado por Anderson Bizzocchi, Daniel Nascimento e Elidio Sanna em 2008, o grupo faz apresentações em São Paulo durante a semana e viaja pelo Brasil nos sábados e domingos. Algumas são gravadas para alimentar uma websérie com mais de quatro milhões de acessos por mês. Sábado, às 19 e 21h, e domingo, às 18 e 20h. Ingressos a R$ 80 e R$ 40, à venda na bilheteria do teatro, nas lojas Cia. Toy e na Belini Pães e Gastronomia (113 Sul).
outubrorosa Du Lopes
fatosreais O que você precisa fazer antes de morrer? Com essa pergunta, a relação entre obra e público é subvertida num espetáculo que mistura teatro, música e filosofia. Fepa – Baseado em fatos reais estará no palco da Caixa Cultural de 27 a 29 de outubro. Com concepção e direção de Fepa e Janaina Leite (Grupo XIX de Teatro), o musical se utiliza de projeções e aula de filosofia, em uma performance que compila as práticas de Fepa, que também é professor de filosofia. As canções compostas pelo artista e gravadas em seu segundo álbum homônimo são o norte musical da apresentação. Ele é acompanhado em cena por quatro músicos e um VJ, que garantem também a faceta musical do espetáculo. Sem pretender uma colagem de searas artísticas, o espetáculo propõe a construção de uma linguagem ancorada em uma das mais representativas expressões da contemporaneidade, que é a performance. Recomendado para jovens cursando ensino médio, estudantes de cursos de humanas e adultos. Sexta-feira, às 21h; sábado, às 18 e 21h; e domingo, às 19h. Ingressos a R$ 20 e R$ 10.
Esse é o nome do musical que faz temporada de 19 a 29 de outubro no Teatro SESC Garagem (713/913 Sul). Com direção de Miriam Virna, João Angelini e William Ferreira, é recheado com canções que falam com humor sobre solidão. Ambientado em Brasília, o espetáculo parte dos noticiários da cidade, cujo principal comentário é a presença de um super-herói indesejado. As informações circulam e chegam até uma quadra comercial e suas quitinetes. Até então protegidos em suas “caixas de morar”, os habitantes e trabalhadores do local são levados a compartilhar aspectos da vida humana. Solidão, medo, angústias, sonhos, desejos. A cada história surge um enredo e uma trilha sonora que fazem de Super Só e outros videoclipes um espetáculo sobre as relações humanas. Ingressos a R$ 20 e R$ 10. Informações: 3445.4401.
Diego Bresani
supersó
Flávio Barollo
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Jovens cantoras e instrumentistas se misturam às veteranas para animar as noites das quintas-feiras no Cantucci Bistrô (403 Norte). O projeto tem como proposta chamar a atenção das mulheres para a necessidade de se prevenirem contra o câncer de mama. Quem abriu a série, no dia 5, foi a cantora e atriz Carol Senna, que interpretou sucessos da MPB juntamente com Letícia Fialho, no violão e na percussão. No dia 19, a cantora e compositora Mariana Camelo se apresenta com o violonista e guitarrista Daniel Sarkis. No repertório, muito rock, pop, blues e música brasileira. Na última quinta-feira de outubro será a vez da cantora e violonista Litieh (foto) soltar sua voz afinada em interpretações com influência de Elis Regina, Ella, Esperanza Spalding, Gil, Djavan, Caymmi, Milton e Dominguinhos, interpretadas ao lado do violonista Zé Krishna. Sempre às 19h30, com couvert a R$ 10. Reservas: 3328.5242.
Walter Plunkett
osomnocinema Tudo começa em 1927, quando o filme O cantor de jazz (The jazz singer) marca o início das exibições com o som sincronizado à imagem. Toda a história que surge a partir daí será contada na mostra Som: a história que não vemos, em cartaz no CCBB entre 2 e 19 de novembro. Com curadoria de Bernardo Adeodato, a programação contém longas-metragens de todos os gêneros, épocas e origens, com destaque para M – O vampiro de Düsseldorf, de Fritz Lang (Alemanha, 1931); Cantando na chuva (foto), de Gene Kelly e Stanley Donen (EUA, 1952); Era uma vez no oeste, de Sergio Leone (Itália/EUA/Espanha, 1968); 2001: uma odisséia no espaço, de Stanley Kubrick (EUA/Grã-Bretanha, 1968) e Apocalipse now redux, de Francis Ford Coppola (EUA, 1979). Estão incluídas ainda produções recentes do cinema nacional, como O som ao redor, de Kleber Mendonça Filho (2012). Entrada franca.
voosolo
Chama-se Flor do tempo o primeiro CD da cantora brasiliense que será lançado dia 30 de outubro, às 21h, no Clube do Choro. Com uma voz cristalina, de timbre singular e raro, Nathália canta profissionalmente desde 2008, mas só concluiu agora seu primeiro álbum com dez canções relacionadas à memória, ao presente e ao futuro. “É essencialmente um disco que fala sobre o tempo e todas as suas diversas faces e que marca um desabrochar na minha vida e na minha carreira”, diz a cantora. Sob a direção artística e musical de Túlio Borges, responsável também pelos arranjos, o álbum de dez faixas tem a participação de diversos músicos da cidade. “Há vários elementos que podem servir de fio condutor e dar unidade a um trabalho musical. Em um primeiro disco, geralmente, o músico acumulou durante os anos diversos modelos de composição. No caso da Nathália, há influências inegáveis de várias vertentes da música brasileira, o que não é exclusivo dela, pois a MPB é um guarda-chuva muito amplo de referências”, explica Túlio. Ingressos a R$ 30 e R$ 15. Informações: 3224.0599.
canarinhosdearacaju Crianças e adolescentes das escolas públicas de Sergipe formam a Orquestra Villa Lobos e o Coral Canarinhos de Aracaju, que se apresentam dia 26 de outubro, às 20h, no teatro da Caixa Cultural. Regidos pelo maestro Carlos Magno do Espírito Santo, os integrantes dos grupos trazem melodia e ritmo num repertório que une composições populares nacionais e internacionais. Ingressos a R$ 20 e R$ 10.
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Ex-líder das bandas brasilienses Madrenegra e Sem Destino, Marcelo Marcelino parte para carreira solo em show no qual lança seu primeiro álbum. Será dia 28, às 19h, na FNAC do ParkShopping, com entrada franca. No repertório do show estarão as 14 canções do CD, no qual o artista toca violão, gaita, guitarra, baixo, bandolim, ukulele e kazoo, com uma sonoridade que remete ao folk. Sua trajetória musical começou na segunda metade dos anos 90, como líder do Sem Destino, banda formada no Jardim Ingá. No domingo anterior, 22 de outubro, ele participa do festival GAS (Grito Alternativo Show), no Saloon Red Rock Alternativo (QI 616, Samambaia), às 19h, com entrada a R$ 7 (até 21h) e R$ 10 (após). Conheça mais o artista em www.marcelomarcelino.art.br
Mavi Dutra
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CAIANAGANDAIA
Um bar
estupidamente gelado
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POR LAÍS DI GIORNO
Fotos: Daniel Paiva
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em novidade congelante chegando à cidade. É o Ice Bar – Brasília Abaixo de Zero, que promete temperaturas negativas em plena capital federal. Com inauguração marcada para o dia 18, o maior bar de gelo da América Latina tem tudo para ser um novo ponto de diversão dos brasilienses. O espaço é bastante inusitado, lembrando um iglu moderno, onde tudo é feito de gelo. Balcão, mesas, paredes, cadeiras, copos e até esculturas com figuras que fazem referência a Brasília e vão deixar qualquer um se sentindo um verdadeiro esquimó. Localizado no terceiro andar do Pátio Brasil Shopping, no Setor Comercial Sul, o Ice Bar será comandado pelos empresários Gustavo Henrique e Fábio Santana. Os amigos de longa data contam que vislumbraram o projeto a partir de uma viagem e, desde então, não mediram esforços para realizar o que chamam de “grande sonho”. Durante seis meses eles pensaram e criaram um conceito totalmente novo de Ice Bar. E garantem que a experiência em Brasília será totalmente diferente da que é oferecida em casas com proposta semelhante em outros Estados brasileiros e em outros países. Isto porque, além da sala fria, os brasilienses terão uma experiência muito mais completa, proporcionada pelos diferentes ambientes do espaço. “O Brasília Abaixo de Zero oferece uma nova logística. Vamos ter brinquedoteca, espaço para workshop, aqui ninguém precisará ficar horas esperando na fila pra poder entrar na sala fria. Ela tem outras opções, e a gente vai interagir com o cliente de várias maneiras”, explica Gustavo. “Em qualquer outro lugar você passa horas na fila esperando para pagar e ficar meia hora lá dentro”, completa Fábio. Ao chegar ao Brasília Abaixo de Zero, o primeiro contato dos visitantes será no “bar quente”. Com capacidade para até 150 pessoas, foi pensado para fazer com que todos se sintam em uma Brasília com temperaturas negativas. O projeto das arquitetas Victoria Rossetti e Lilia Saraiva traz uma proposta clean e moderna, com referências à arquitetura da capital federal – como, por exemplo, os belos cobogós que decoram o espaço. Além disso, um telão 3D de 13 metros de comprimento promete dar a sensação de que o inverno realmente veio para ficar. Assi-
nado pelo artista brasiliense Aluísio Mendes, ele retrata a Torre de TV, a Catedral e a Ponte JK em um ambiente congelado. Até no banheiro a surpresa é garantida: o piso 3D promete animar a garotada, dando a impressão de que um urso está saindo do chão e pinguins estão caindo dentro de um buraco de gelo. Como o Ice Bar comporta apenas 45 visitantes de cada vez, o espaço quente funciona então como uma “fila de espera descontraída” – enquanto aguardam sua vez, os clientes tomam uma bebida, batem papo, lancham e ficam entretidos com os amigos. No menu, petiscos práticos como tábuas de queijos e frios, alfajores, esfirras
e empanadas. Para beber, cervejas, refrigerantes e drinks. Para o espaço gelado será cobrado ingresso de R$ 50, com direito a uma roupa térmica capaz de suportar o frio e um shot da casa ou um chocolate quente. Mas não se preocupe. Antes de entrar, todos passam por uma antecâmara para se climatizar antes de enfrentar as temperaturas negativas e evitar um choque térmico. Depois que entram no Ice Bar, os visitantes podem ficar até 30 minutos curtindo o frio. “Se quiser, pode até pagar para ficar o dobro do tempo, mas quem aguenta isso tudo em uma temperatura negativa?”, diverte-se Gustavo. O rodízio acon-
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CAIANAGANDAIA e chocolate quente para as crianças. Às vésperas da inauguração, o Ice Bar – Brasília Abaixo de Zero já vem causando frisson na cidade e movimentando o shopping com curiosos para ver o espaço. Apesar de trazer a palavra “bar” no nome, o lugar é destinado a públicos de todas as idades, e crianças de 5 a 8 anos já podem conferir a novidade acompanhadas dos pais, mediante o pagamento da meia entrada. O espaço vai funcionar no horário do shopping e não oferece ingressos antecipados. Mas corra para conhecer: o projeto não é fixo e deve ficar na cidade por tempo indeterminado. Ice Bar - Brasília Abaixo de Zero
Pátio Brasil, 3º piso. De segunda a sábado, das 10 às 22h; domingos e feriados, das 14 às 20h. Ingresso: R$ 50 para acesso ao espaço com temperaturas negativas (inclui roupa térmica e drink). Mais informações: 2107.7400.
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tece também entre os funcionários, que vão trabalhar apenas durante uma hora e meia, já que ninguém suporta tanto frio. O bar de gelo tem 57m2 e foi construído com 15 toneladas de um gelo especial cristalino. Ali os clientes podem aproveitar o clima, curtir o som de boate, tirar muitas fotos e selfies com as esculturas da Catedral e dos Dois Candangos e até se sentar em uma réplica do Trono de Ferro da famosa série Game of thrones (na foto abaixo). Além disso, a combinação das paredes, feitas de grandes blocos de gelo com a iluminação de leds coloridos, confere uma atmosfera moderna e até fantasmagórica ao ambiente. Para esquentar e garantir a resistência nos -10ºC do bar, drinques e coquetéis serão servidos em copos de gelo esculpido que não grudam nos lábios e só podem ser segurados com luvas – além das opções do café
Cerveja A Stadt Bar & Music junta duas paixões nacionais em novo endereço POR MARIA TERESA FERNANDES
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a noite de inauguração – em pleno black-out do último dia 25, e com uma chuvinha abençoada (sinal de sorte?) – foi Philippe Seabra, da banda Plebe Rude, quem batizou a nova cervejaria do Setor de Indústrias Gráficas. Em discurso descontraído, logo depois que os convidados puderam ver os detalhes do ambiente de 300m2, até então no escuro, ele fez um desabafo: disse ter procurado várias casas da cidade para propor que o rock autoral brasiliense fosse o protagonista das noites de sábado, geralmente dedicadas a shows de bandas cover. E foram os empresários Aaron Barbosa, Rodrigo Figueiredo e Erica Schuster, em parceria com Marc e Yann Cunha, donos da Stadt Cervejaria, que toparam a proposta de Seabra. Com entrada voltada para o Parque da Cidade e capacidade para 200 pessoas, a nova cervejaria terá, sim, rock autoral nas noites de sábado, a partir das 22h. Na inauguração, coube às bandas brasilienses Belga e Calvet (na foto acima) estrear em grande estilo o palco da cervejaria. As bandas co-
combina com rock As cervejas Estrelas no cardápio, as Stadt têm estilos e graduações alcóolicas diferentes. Aqui no Brasil são mais conhecidas como chope quando saem das torneiras, enquanto lá fora são denominadas draught beer. Independentemente da denominação, todas seguem processo artesanal e são fabricadas com puro malte. No recéminaugurado Stadt Bar & Music as cervejas têm nomes que homenageiam Brasília: Capital (Pilsen), Monumental (IPA), Brasília (Lager), Delírius (Belgian Strong Ale), Ipê Roxo (Drink de uva) e JK (Weiss). Seus preços variam de R$ 8,90 a 16,90, dependendo do estilo e do tamanho. Fotos: Fred Freitas
ver não deixarão de ter lugar cativo na Stadt, mas nas noites de sexta-feira, enquanto as de quinta-feira serão dedicadas ao projeto Rock and house, com DJs mixando rock e eletrônico. De terça a sábado, a happy-hour da Stadt tem cardápio de petiscos a preços especiais, dose dupla dos drinks com cerveja e dos principais chopes da casa, das 17 às 19h. A pegada mais família acontece aos domingos, com o Stadt Boa no domingo, um programa concebido para convidar as famílias a curtirem o pôr do sol, a partir das 15 horas. Para a molecada haverá brinquedoteca, bicicletário, muita música e promoções no cardápio.
Para os mais ousados, há uma carta de drinks elaborados com as cervejas da casa. O destaque vai para a Caipilirius (foto acima), à base de limão, vodka e Delírius (R$ 18), o Black Velvet, drink encorpado à base de cerveja escura, espumante e licor de laranja (R$19) e o Hip Hospter, levemente lupulado, com frutas vermelhas, Monumental (IPA) e Jack Daniels (R$ 20). Tem ainda o Ipê Roxo 2.0, que leva Gin, Ipê Roxo (Drink de Uva) e Uvas (R$ 19). Erica Schuster e Rebeca Holanda, responsável pela cozinha, criaram o cardápio de petiscos, releituras de pratos tradicionais de boteco. Entre eles está MOB Rings, versão do Onion Ring, com seis anéis de cebola gigantes, envoltos com generosa porção de bacon e carne (R$ 37,90); o IPA Cheddar Burger, hambúrguer de 180g e molho especial de cebolas com IPA e fatias de bacon servido no pão australiano (R$ 28,90) e o Salsichão Capital, salsichão alemão do tipo Schublig, preparado à base da cerveja Stadt Capital (Pilsen) e servido com vinagrete e farofa da casa (R$ 22,90). Tudo isso, vamos combinar, regado a muito rock. Stadt Bar & Music
SIG Quadra 3, virado para o Parque da Cidade. Terças e quartas, das 17 às 24h; quintas e sábados, das 17 às 2h; domingo, das 15 às 24h.
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GRAVES&AGUDOS
Música de alto nível POR HEITOR MENEZES
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e restava alguma dúvida a respeito de a cidade estar passando ao largo de grandes eventos musicais, a profusão de artistas nacionais e estrangeiros que desde o início do ano visitam a capital prova o contrário. Até o momento, Brasília não tem do que reclamar em matéria de opções de lazer musical. Não vamos fazer retrospectiva porque o ano (ainda) não acabou. Mas dá gosto olhar para a frente e ver que a boa música acena com grandes possibilidades de entretenimento para todos os gostos e ouvidos. Música de alto nível, fique ligado. Começando pelo mais notável dos espetáculos do período, temos o privilégio de receber Marisa Monte e Paulinho da Viola (dia 20, às 21h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães). É o tipo do encontro em que temos a rara oportunidade de ver dois grandes amantes do samba com algo em comum para além do talento e da sensibilidade transbordantes: o Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela. De tanto gostar da Velha Guarda da Portela, Paulinho e Marisa um dia vão acabar como membros efe-
tivos do grupo. Paulinho, aliás, é considerado o criador da Velha Guarda, quando, lá em 1970, reuniu bambas da escola e produziu o LP Portela, passado de glória. É só acompanhar a linha do tempo para entender como Marisa Monte, filha de Carlos Monte, ex-diretor da Portela, afeiçoou-se ao projeto e é legítima herdeira desse grande patrimônio do samba nacional. Para encurtar, é o seguinte: Marisa Monte é maravilhosa; Paulinho da Viola, tudo de bom. O que dizer dos dois juntos? Vá e veja. Desde já
um dos grandes shows do ano. Neste 2017, o calendário marca 40 anos da saída de Elvis Presley para o plano astral. Saída uma ova. Elvis continua vendendo horrores, hoje contabilizando algo em torno de 1 bilhão de discos vendidos em todo o planeta. Fez bem: vende mais morto do que vivo, um fenômeno do qual tão cedo não vamos deixar de gostar. Daí, natural que um britânico tome a dianteira e hoje seja visto como o melhor artista-tributo a Elvis do planeta. Ben Portsmouth, o cara, retorna a Brasília com uma turnê que celebra os 40 anos da passagem do Rei do Rock. Amigos, não se trata de um cover qualquer. Imitar Elvis muitos fizeram. Mas incorporar o Rei em detalhes, da fisionomia ao timbre vocal, passando pelos arranjos, roupas e trejeitos, tem qualquer coisa de arte nisso tudo. Ben Portsmouth e a Taking Care of Elvis Band (grande nome!) esperam os súditos, dia 21, às 21h30, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Wop-bop-a-loom-a-boombam-boom! Mas a sua praia não é exatamente a velharia e a música eletrônica é que é o lance para o corpo e a mente. Não tem
que só rejuvenescem. Som de muito boa qualidade, podem crer. No mesmo dia 27, às 22h, o incansável Zé Ramalho e seu tenor cada vez mais barítono ocupam o auditório máster do Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Quem já viu o Zé ao vivo sabe como é a experiência, algo como ir às profundezas das coisas. O neto do Avôhai é uma mistura única de Zé Limeira, Bob Dylan e Raul Seixas, em cenários de sol da caatinga e o mais louco realismo fantástico. Pode passar na blitz do Detran na boa, pois a embriaguez aqui é de delírios poéticos. Chega o domingo, 29, e o compromisso é com Ney Matogrosso, no palco do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, às 19h. Comemorando 40 anos de carreira solo, Ney tem a qualidade do artista que sabe cativar e surpreender a audiência, numa mistura bem dosada de showman, cantor de amplo domínio vocal e intérprete refinado da nossa mais cristalina Música Popular Brasileira. São quatro décadas se reinventando como artista. Louvado seja Ney! Fotos: Divulgação
problema. Ricci é o artista que você procura. Neste mesmo dia 21, o DJ sul-matogrossense, de 21 anos, comanda o som no NET Live Brasília, ali pelas margens do Lago Paranoá. O domínio aqui é a eletrônica em sua vertente eu quero é bass! Bass, bass, bass, isso, o som carregado no baixo de tremer a barriga. Mas nem tudo é ressonância magnética. Ricci canta, inclusive em bom português, muitas vozes legais se juntam a ele, o som tem uma levada de quem domina a canção pop, o que é tudo de bom para os apreciadores de uma música muito bem produzida. Uma praia mais calma, na qual história, ciência, tecnologia, arte e música estão entrelaçadas é o Museu Itinerante do Piano, cuja carreta vai estar estacionada ao lado do Departamento de Música, no campus da Universidade de Brasília, entre os dias 23 e 27. Criação do luthier de pianos Rogério Resende, o Museu Itinerante do Piano é um caminhão, tipo carreta baú, carregado de raros instrumentos históricos. Entre as preciosidades, o Zeitter & Winkelmann, alemão, vertical, 1925, que pertenceu à saudosa professora e pianista Neusa França; e uma réplica de um Pleyel Doublepiano francês. Isso, um piano com dois teclados em lados opostos. Essa farra do piano acontece no contexto da Semana Universitária da UnB. Atenção para os recitais, às 12 e 14h. Detalhe: tudo grátis. Em termos de qualidade (das atrações musicais), o último fim de semana de outubro promete. A alegria pode se dar ao som de ícones e sobreviventes do BRock, Titãs e Biquíni Cavadão, em rodada dupla na Bamboa (ali por trás da Churrascaria Potência do Sul), dia 27, a partir das 22h. Mesmo desfalcado de grandes artistas que passaram pela banda, como Arnaldo Antunes, Paulo Miklos, Charles Gavin, Nando Reis e o falecido Marcelo Frommer, os Titãs seguem firmes, como provaram em sua recente aparição no Rock In Rio. Quanto ao Biquíni, os caras parece
Já estamos em novembro, e o primeiro fim de semana do mês vem cheio de atitude. Que tal um rolê pelo Brasília Tattoo Festival, de 3 a 5, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães? Além daquela tatuagem há muito sonhada e adiada, na parte musical temos a opção do reggae de Maskavo e Cidade Verde Sounds (dia 3); o rock’n’roll endiabrado do Matanza (dia 4); e o rap/hip hop do Haikaiss (dia 5), aliás, só música com aquilo roxo. Vai encarar? Em novembro, a estrela internacio-
nal Madeleine Peyroux volta a encantar o brasiliense com aquele jazz pop suave e sofisticado, não exatamente música para as massas. A cantora e compositora norte-americana continua sendo lembrada pela voz que – não tem jeito – lembra Billie Holiday, porém sem o trágico sofrimento desta. Dia 10 de novembro, às 22h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, o trio de Madeleine evoca 20 anos de carreira e a construção de um repertório no qual brilham covers personalíssimas de Leonard Cohen, Fred Neil, Tom Waits, Townes Van Zandt, Ray Charles, enfim, os clássicos da canção norte-americana. Para ver, ouvir e sair flutuando acompanhado (a) pelo Eixo Monumental. Vai reggaeton aí? Confirmando a premissa de que as Américas e o Caribe são realmente calientes, temos o ritmo nascido no Panamá atravessando fronteiras e produzindo estrelas como o astro colombiano Maluma, atração do dia 11 de novembro no NET Live Brasília. Quem conhece, óbvio, sabe do que se trata, ainda mais depois que o rapaz se juntou à cobiçada Anitta (juntos gravaram a sexy Sim ou não que, dizem, foi estopim de briga posterior entre os dois). Fofocas, sabem como é, movem o mundo. Mas, resumindo, Maluma é a moderna música colombiana, com conexões que passam pelo rap, hip-hop, batidas eletrônicas e reggae, tudo cantado em alto e bom espanglês. Falar nisso, vocês estão sabendo que Maluma gravou o hit Você partiu meu coração, clássico dos nossos tempos, assinado por Anitta, Nego do Borel e Wesley Safadão? Entenderam como o Brasil se insere na Panamérica utópica?
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BRASILIENSEDECORAÇÃO
Eduardo Rangel POR VICENTE SÁ FOTOS LÚCIA LEÃO
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cantor, compositor e pianista Eduardo Rangel é o típico brasiliense de coração. Filho de funcionários públicos cariocas, foi gerado em Brasília, mas nasceu no Rio de Janeiro quando Brasília ainda engatinhava, em 1962. Seis meses depois, voltou para crescer, estudar e brincar numa cidade ainda tranquila e com poucos carros e crimes. A música despertou seu interesse desde cedo e ele ouvia de tudo, de Chico Buarque a Pink Floyd, passando por jazz e blues. Mas suas investidas como criador vieram por outros motivos: “Meu sonho, como o de quase todo menino da época, era ser jogador de futebol, mas aos 15 anos me apaixonei e, pra chamar a atenção da menina, comecei a fazer versos e músicas. Como você vê, nada de dom ou inspiração, puro interesse”, brinca.
Ainda aos 15 anos classificou duas músicas no festival do Colégio Objetivo, na época uma das poucas portas para os jovens talentos mostrarem seus trabalhos. Venceu em Brasília e foi mostrar a música no festival nacional do colégio, em São Paulo. Mas aí o bicho pegou. A censura vetou sua música e, no dia da apresentação, os organizadores fizeram com que a orquestra que acompanhava todos os concorrentes tocasse outra música dele. Desavisado, levou um susto, mas cantou a música até o final. No ano seguinte seria classificado na Feira Pixinguinha, junto com artistas mais conhecidos da cidade à época, como Sérgio Duboc, Renato Matos, Argemiro Neto e Caiê Milfont. O mascote da turma encantou o criador do projeto, Hermínio Belo de Carvalho, com sua música e voz. Os elogios só confirmaram o que Eduardo Rangel já sabia: a partir daí, a música seria a razão maior de sua vida.
Depois do sucesso na Feira Pixinguinha, passou a fazer shows em várias casas e eventos de Brasília, numa agenda superlotada e com bons cachês, sempre acompanhado de grandes músicos da cidade. Alguns desses músicos, que também tocavam na Orquestra Filarmônica de Brasília, chegaram a comentar com Rangel que estavam ganhando mais tocando com ele do que na orquestra. Seu primeiro disco Pirata de mim, lançado em 1998, foi um grande sucesso, tendo inclusive uma música indicada ao Prêmio Sharp de Música Brasileira, onde concorreu com Chico Buarque e Paulo Miklos. O disco só não foi indicado ao prêmio porque era radicalmente independente, disseram os organizadores. Ainda nos anos 90 recebeu o Prêmio Renato Russo, da Secretaria de Cultura do Distrito Federal. Mudou-se para o Rio de Janeiro e viveu lá alguns anos. Fez contatos, shows, cantou
e encantou em vários teatros e bares. Sua casa tornou-se embaixada musical de Brasília: “Todos os músicos que iam para o Rio de Janeiro buscando viver de música, no começo ficavam lá comigo“, lembra. De volta a Brasília, foi finalista do Festival da Rede Globo Canta Cerrado e lançou, em 2006, um CD com a Orquestra Filarmônica de Brasília, com regência e arranjos do maestro Joaquim França. O trabalho teve boa repercussão de crítica, mas ficou sem tocar muito nas rádios. “As rádios clássicas achavam que ele era MPB, embora estivesse acompanhado de orquestra, e as rádios de MPB achavam que ele era um CD clássico, ou seja, ele não tocou muito em nenhuma emissora”, lamenta. Em 2014, no Feitiço Mineiro, apresentou o projeto semanal Laboratório/Show, onde mesclava teatro, música, cinema, pintura e poesia. Ao todo, foram mais de 250 artistas em uma integração que rendeu muitas parcerias e novos projetos, além de abrir portas para jovens talentos em todas as áreas. Apesar do sucesso, o projeto não entrou em seu segundo ano por falta de apoio financeiro de empresários locais. Mas Rangel chegou inclusive a fazer um piloto do Laboratório para a TV e, se depender dele, ainda pode ser levado ao ar. Recentemente lançou, aqui e no Rio, seu terceiro CD, Eduardo Rangel – Estúdio, com a participação de músicos consagrados como Leo Gandelman e Kiko Pereira, do Roupa Nova. Mais uma vez, sucesso. Com músicas gravadas por Edson Cordeiro, Renata Arruda, Márcio Faraco, Célia Porto, Antenor Bogea e Indiana Nomma, Rangel vez em quando volta à sua cidade natal para shows muito concorridos. Ainda no mês passado se apresentou no Memorial Municipal Getúlio Vargas, no Ginger Mamut e no Beco das Garrafas. Para o jornalista Irlam Rocha Lima, que acompanha a música de Brasília há mais de 40 anos, Rangel é um artista que, além de instrumentista e cantor, tem um lado performático que enriquece muito suas apresentações. Agregador, consegue trabalhar com muitos outros artistas, criando variações na sua arte. “E é o autor de um dos clássicos da MPB brasiliense, a conhecida Bicicleta. É um artista que já tem um lugar de destaque no cenário musical de Brasília”, afirma Irlam. Dono de voz privilegiada, personalidade no palco, humor ácido e lírico ao mesmo tempo, Eduardo Rangel une essas qualidades a sua melodia sempre rica e diferenciada e segue marcando seu espaço tanto na música de Brasília quanto do Brasil. Em janeiro do ano que vem ele começa a gravar o DVD Eduardo Rangel e Quarteto Sinfônico interpretam Chico Buarque, que tem previsão de lançamento para junho. É esperar e conferir. Quem ainda não conhece seu trabalho pode ouvir Bicicleta em www.ouvirmusica.com.br/ eduardo-rangel/1515823 ou Chafariz, com a Orquestra Filarmônica de Brasília, em www.youtube.com/ watch?v=LG2xRggaggk.
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VERSO&PROSA
Unidos pela poesia
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quarto ano consecutivo em que artistas brasileiros participam das celebrações da Festa dos Anos de Álvaro de Campos. “Em 2014 levamos a Tavira, em colaboração com o projeto Há música na poesia, uma delegação brasileira para um show poético-musical e a entrega simbólica à cidade de uma nova composição de Túlio Borges para o poema Escrito num livro abandonado em viagem, de Álvaro de Campos. Em 2015 fizemos a primeira experiência dessa participação à distância transmitindo ao vivo um show de chorinho do gaitista Pablo Fagundes. No ano passado tivemos um espetáculo musical, também com transmissão ao vivo, com André Luiz Oliveira, um dos maiores conhecedores e intérpretes da obra de Fernando Pessoa no Brasil. E agora aguardamos com muita expectativa o espetáculo Acaso. É muito importante esse diálogo entre Portugal e Brasil através da arte e especialmente da poesia”. A atriz Bidô Galvão, que já desenvolveu vários trabalhos em terras lusitanas, explica que é muito grande a ligação cultural entre nós e Portugal, não só pelos laços históricos, mas também pelo intercâmbio constante promovido pela arte
dos dois países. Já o músico Túlio Borges ressalta o carinho que os portugueses têm pelos artistas brasileiros e lembra que é muito interessante a interpretação da poesia lusa pelo olhar tropical do brasileiro. “Fica com um novo sabor, e eles sacam isso e adoram”, comenta. Quem gosta de boa música e poesia poderá desfrutar de uma agradável tarde, ao mesmo tempo saboreando um arroz de bacalhau, um pirarucu de casaca (prato amazônico de forte influência portuguesa) e outras delícias de nossa cultura gastronômica miscigenada. Espaço Cultural Leão da Serra
Quadra 5, Conjunto 1, Taquari (9852.01752). Fotos: Divulgação
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a pequena cidade de Tavira, em Portugal, há dúvidas sobre se no dia 13 ou 15 de outubro de 1890 teria nascido Álvaro de Campos. Por isso, durante todo este mês, prestam-se homenagens ao heterônimo mais conhecido de Fernando Pessoa. Tanto lá como cá. Em Tavira, a Festa dos Anos de Álvaro de Campos terá shows, exposições, filmes e palestras. Aqui, o tributo será um espetáculo poético-musical no Espaço Cultural Leão da Serra, no Taquari. Poemas do homenageado e de poetas brasileiros serão lidos pela atriz Bidô Galvão e pelo poeta Vicente Sá, acompanhados do bandolim de Victor Angeléas. O show – batizado de Acaso – terá a participação especial do compositor e cantor Túlio Borges, que mostrará um apanhado de suas composições, incluindo uma canção sobre poema de Fernando Pessoa. O pintor Ribamar Fonseca, responsável pelo cenário, fará uma performance durante almoço com temática luso-brasileira, a partir das 13h deste sábado, 14. Tela Leão, diretora da Associação Partilha Alternativa, que hoje reúne mais de 20 entidades, instituições públicas e associações portuguesas, lembra que este é o
Sérgio Marques
QUEESPETÁCULO
A vida no abrigo
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ma em cada três crianças e adolescentes acolhidos em abrigo no Brasil tem entre 14 e 18 anos, idade limite para permanência sob a tutela do Estado. Em números absolutos, são 14 mil meninos e meninas que, habitando uma casa de acolhimento, esperam por uma improvável adoção e se afligem diante da perspectiva de irem ao mundo sozinhos. Se, até os 18, nenhuma família os adotou, terão de adotar a si mesmos, para a vida adulta. Sem família e como única referência a casa coletiva onde passaram boa parte da vida. Dramas, angústias, lembranças, dilemas, buscas, afetos de quem ainda não chegou à idade adulta compõem À margem do abrigo, de Sérgio Maggio e Yuri Fidelis, que será exibida no Teatro Goldoni até o dia 22, sempre aos sábados, às 21h, e domingos, às 20h. Com cenografia e figurino de Maria Carmen, a peça foi inspirada na série de reportagens Depois do abrigo, de Conceição Freitas, publicada no Correio Braziliense em agosto de 2014. Escrita a quatro mãos por Maggio e Fidelis, a peça apresenta três personagens que, retirados de suas famílias por força de terríveis circunstâncias, passaram boa parte da vida em abrigo e, às vésperas de
completarem18 anos, repassam com as palavras e com o corpo o que viveram e os temores e esperanças pelo que ainda vão viver fora da instituição que os acolheu. “O abrigo foi a casa deles, a família deles, e como em toda família estiveram sujeitos a alegrias e tristezas. Não foram laços de sangue o que os uniu. Foram laços de vida, e é com esses laços que eles seguirão à procura dos próprios caminhos”, explica Sérgio Maggio, que já carrega a experiência de outros espetáculos exibidos em boa parte do Brasil, como Eros impuro, Eu vou tirar você deste lugar – As canções de Odair José e L – O musical. No palco, três jovens e talentosos atores – Rodrigo Mármore, Micheli Santini e Pedro Mazzepas – em fortes atuações dramáticas, nas quais o corpo é quase um segundo elemento do mesmo personagem. O mesmo corpo que se impõe ao adolescente na travessia para a idade adulta. “Corpo que abriga e suporta transformação e conhecimento”, diz Maggio. Os três atores têm atuações-solo, simultâneas, porém cada um no próprio cenário. O espectador será convidado, na bilheteria, a escolher um dos três personagens, que têm os mesmos nomes dos atores. Um pequeno resumo do perfil de cada um dos
três estará à disposição na entrada do teatro para que o espectador faça a sua escolha. O espetáculo termina com os três personagens juntos no mesmo cenário. Para dar conta dessa arquitetura em três dimensões simultâneas, a cenógrafa Maria Carmen desenvolveu um projeto que vai permitir um isolamento espacial dentro da mesma sala de espetáculo. Cenografia que se transforma, nos momentos finais, num mesmo ambiente. Embora tenha tido como matriz uma série de reportagens, a dramaturgia a quatro mãos tomou a liberdade que só a ficção permite, sem deixar, porém, de ter um pé firme na realidade de quem vive na aflita espera por uma adoção. “Pesquisamos a realidade dos abrigos e fizemos uma espécie de laboratório de criação, primeiro num texto feito em parceria com o Yuri Fidelis e depois na sala de ensaio, com a participação de cada umdos atores”, conta Maggio. Já na fase final dos ensaios, o grupo visitou um abrigo em Ceilândia, experiência impactante que acabou também interferindo no texto. À margem do abrigo
Até 22/10 no Teatro Goldoni (208/209 Sul). Sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 20h. Ingressos: R$ 30 e R$ 15. Não recomendado para menores de 12 anos.
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GALERIADEARTE
As estranhas transfigurações
de Roger Ballen
POR ALEXANDRE MARINO
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inguém fica indiferente às imagens de Roger Ballen, ainda que sua exposição Transfigurações, em cartaz na Caixa Cultural, seja irregular e provoque reações desencontradas em suas várias fases. Ballen tem uma queda pelo estranho e pelo grotesco, mesmo quando seu foco são crianças ou meros desenhos sobre uma parede, e mistura o psicanalista Carl Gustav Jung ao cineasta Ingmar Bergman para explorar realidades interiores mais profundas. Roger Ballen nasceu em Nova York, em 1950, e iniciou sua trajetória profissional apenas em 1994. No entanto, começou a desenvolver o olhar aos 18 anos, quando ganhou uma câmera e passou a procurar temas e objetos para fotografar. É dessa época a foto que ele considera seu primeiro trabalho, Velhos pescando, que, como explicou em entrevista concedida à curadora da exposição, Da-
niella Géo, publicada no catálogo da mostra, “continha um aspecto de mim mesmo”. Fotografar homens velhos era uma das fixações de Ballen, inspirado pelas pinturas do holandês Rembrandt. A foto Velhos pescando está presente na mostra da Caixa. A exposição é dividida em nove blocos: Primeiros anos, Meninos, Pequenas cidades na África do Sul, Imagens da África do Sul rural, À margem, Câmara de sombra, Estalagem, Asilo dos pássaros, O teatro das aparições. São fotos em preto-e-branco, que têm em comum a aproximação à estética do grotesco e ao surrealismo. Algumas das fotos são cenários criados com o objetivo de tirar o espectador de sua inércia e refletir sobre as contradições da sociedade, da civilização, do comportamento humano. A fotografia de rua preenche algumas dessas séries e retrata o cotidiano urbano, refletindo um olhar ao mesmo tempo atento e aparentemente negligente, criando cenas únicas e irrepetíveis. Na
As paisagens e o tempo de
Karina Dias
POR ALEXANDRE MARINO
A segunda parte, Meninos, Ballen retrata o universo de meninos em diversas culturas, em fotos que se destacam também pelo inusitado. Essa série foi desenvolvida entre 1973 e 1978 na África do Sul, onde Ballen vive hoje. Nas séries seguintes, o artista retrata pequenas cidades e vilarejos por onde passa naquele país, trabalhando como geólogo. São casas, fachadas e interiores, em fotos que mostram detalhes de mobiliário, além de motivos que se tornaram característicos de sua obra, como fios, arames, manchas e rabiscos nas paredes. A partir daí estão algumas das fotos mais instigantes da mostra, pela busca do estranhamento no olhar dos habitantes das pequenas cidades rurais. Os gêmeos Dresie e Casie, por exemplo, não deixam o espectador indiferente diante da expressão de seus rostos. O que esses caras estão querendo me dizer? – eis a pergunta que ocorre. A partir de 2000, seu trabalho mergulha no surrealismo. A presença de animais no cenário e indivíduos sem identidade, que não raro mostram apenas um braço, um rosto ou uma parte qualquer do corpo, chamam a atenção. Finalmente, a mostra é encerrada com o que ele chamou de imagens do inconsciente, criadas a partir de desenhos rudimentares feitos pelo próprio Ballen sobre janelas de vidro.
artista visual brasiliense Karina Dias apresenta na Caixa Cultural um recorte de 20 anos de carreira como fotógrafa e videasta, na mostra Tempo paisagem, com curadoria de Cristiana Tejo. Na condição de uma das artistas mais influentes da cidade, Karina ganha um espaço nobre nas galerias Piccola I e II, devidamente preparado para o estado de contemplação que a exposição exige. Como diz o texto de apresentação da exposição, tempo e paisagem, como invenções humanas, são “definidos pelo ponto de vista do sujeito e a partir de uma experiência corporal, e de como e onde são vivenciados, captados e apresentados”. Karina tenta entrelaçar o que os gregos chamaram de tempo quantitativo, ou linear, e o tempo qualitativo, objetivo, diante da natureza. As imagens, expostas em fotos e ví-
deos, buscam interromper a voracidade contemporânea e levar o espetador a um estado meditativo que é um desafio para os frequentadores do espaço. No entanto, a beleza e a força de algumas dessas imagens podem pegá-lo pela mão nessa viagem. Os vídeos, ao contrário do que se pode imaginar inicialmente, não apresentam movimento – a não ser o movimento provocado pelo vento sobre uma vegetação rasteira, com uma cadeia de montanhas ao fundo, ou as ondas de um mar tranquilo quebrando sobre uma praia. Karina é observadora e caminhante nessas paisagens. Eventualmente, é ela que cruza lentamente o caminho do olhar do espectador. No entanto, as dimensões das paisagens e o estado de contemplação de quem vê podem fazer com que ela rapidamente desapareça, dando lugar àquilo que de fato importa no cenário: a capacidade do espectador de estancar o tempo, se não o tempo linear,
Transfigurações, fotografias 1968-2014 Até 27/11 na Galeria Principal da Caixa Cultural. De 3ª a domingo, das 9 às 21h.
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GALERIADEARTE ao menos o tempo subjetivo, da experiência pessoal, em que apenas as folhas, flores e nuvens se movem. Um movimento que não tenta nos convencer de que as horas passam, mas de que a natureza vive. Karina Dias é artista visual e professora do Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília. Trabalha com vídeo e intervenção urbana. As relações entre o homem e a paisagem, entre a imensidão dos espaços e aqueles que os percorrem são seus temas e focos de estudo. Ela já expôs em Barcelona, na Espanha, Dusseldorf, na Alemanha, na China e na França. Participou de mostras no Museu Nacional da República, na Funarte e no Espaço Cultural Marcantonio Vilaça, e recebeu vários prêmios de arte contemporânea. Tempo paisagem
Até 17/12 nas galerias Piccola I e II da Caixa Cultural. De 3ª a domingo, das 9 às 21h.
As múltiplas linguagens dos novos talentos Entre 18 de outubro e 22 de dezembro a Caixa Cultural apresenta a Mostra Bienal Caixa de Novos Artistas, que reunirá trabalhos de novos talentos das artes visuais de todo o Brasil, nos mais diversos suportes e técnicas: desenhos, esculturas, fotografias, gravuras, instalações, intervenções, pinturas e vídeo. O tema desta edição da mostra são as configurações das relações urbanas da atualidade. A mostra vai reunir 37 obras de artistas contemporâneos que nunca fizeram exposições individuais nos espaços da Caixa. Eles vêm de 12 Estados: Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. Foram escolhidos entre 616 artistas, que inscreveram 1.414 obras. Os artistas selecionados são: Adriano Catenzaro, do Paraná, com colagem sobre papel (foto); Alessandra Bufe, de São Paulo, com instalação; Ana Kawajiri, do Paraná, com instalação sobre fotografia; Andrea Vasconcelos, do Espírito Santo, com pintura; Cátia Lantyer, da Bahia, com fotografa; Cecília Urioste, de Pernambuco, com objeto e vídeo; Denise Silveira, do Rio de Janeiro, com gravura; Elaine Stankiewich, do Paraná, com litogravura; Felipe Seixas, de São Paulo, com escultura; Fernando Bueno, de Goiás, com desenho; Guilherme Ma30
laquias Caldas Madeira, da Bahia, com fotografia digital; Jefferson Medeiros, do Rio de Janeiro, com escultura e assemblage; Joana Bueno, do Rio de Janeiro, com fotografia e vídeo; João Paulo Racy, do Rio de Janeiro, com obra em vídeo; José Viana, do Pará, com escultura; José de Arimatéa, do Piauí, com desenho em nanquim; Julie Brasil, do Rio de Janeiro, com intervenção sobre argila; Karine de Lima, do Distrito Federal, com vídeo; Leonardo Savaris, do Rio Grande do Sul, com fotografia; Lídia Malynowskyj, de São Paulo, com instalação; Lucas Lugarinho Braga, do Rio de Janeiro, com pintura; Luciano Barreto Ramos, do Espírito Santo, com desenho a lápis e nanquim; Luiz Guimarães, do Rio de Janeiro, com escultura; Marcela Antunes, do Rio de Janeiro, com fotografia; Natalie Mirêdia, do Espírito Santo, com instalação de fotografia e vídeo; Natasha Ulbrich Kulczynski, do Rio Grande do Sul, com instalação de grafite sobre impressão fotográfica; Paulo Viana, de São Paulo, com instalação; Rafael Antonio Ghirardello, com escultura; Sanzio Marden, de Minas Gerais, com pintura digital; e Thalita Filipe, de Brasília, com intervenção em estrutura metálica. Mostra Bienal Caixa de Novos Artistas
De 18/10 a 22/12 na Caixa Cultural. De 3ª a domingo, das 9 às 21h
Fotos: Divulgação
LUZCÂMERAAÇÃO
Imersão em
realidades fantásticas
POR JÚLIA VIEGAS
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uita gente defende que nenhuma TV, por maior que seja, 75, 85 polegadas, é capaz de substituir a experiência de ir ao cinema. Porque quando se vai ao cinema, o ambiente escuro e acolhedor conduz a um isolamento pessoal, a uma atenção especial ao que está sendo apresentado na tela. Mas e se a tela ocupar todo o espaço, até mesmo o da nossa visão periférica? E se som e imagem se combinarem para nos proporcionar uma vivência de imersão total no universo apresentado no filme? Pois é justamente essa a proposta de um festival que acontece pela primeira vez no Brasil. É o Immersphere – 1º Festival Internacional de Fulldome de Brasília, em cartaz no Planetário de Brasília de 1º a 30 de novembro. Serão exibidos 21 filmes diferentes de tudo o que a gente já viu. São produções de mais de uma dezena de países, entre animações gráficas, experimentos visuais, edições virtuais, geometrias, quase como se fosse possível olhar tudo pela lente de um microscópio ou de um super telescópio Hubble. O convite é para en-
trar em contato com realidades fantásticas e experimentar novas sensações. O festival é competitivo e já divulgou a lista dos filmes selecionados. Estão no páreo títulos brasileiros, britânicos, franceses, colombianos, canadenses, belgas, mexicanos e espanhóis, na disputa de seis prêmios. Mas vai haver também uma mostra não-competitiva, com produções feitas com tecnologia fulldome (para telas semi-esféricas), para ampliar a experiência sensorial dos espectadores. E, de quebra, uma exposição de arte e tecnologia com nove obras que reúnem o trabalho de vários artistas. Em foco, experimentos ligados a ciberespaço, inteligência artificial, abordagens criativas em tecnologia que prometem revolucionar os conceitos que temos sobre espaço, tempo, som, movimento etc. Oficinas e mesas de debate completam as atividades, proporcionando alternativas de aprofundamento em conteúdo interativo para fulldome, dicas para utilização de câmeras 360° e muito mais. A mostra competitiva do festival vai acontecer de 1º a 5 de novembro, quando a comissão julgadora elegerá os melhores em cada categoria: Melhor Filme (o único
com premiação em dinheiro, de R$ 6 mil), Prêmio Planetário (indicado pelo diretor do Planetário), Melhor Filme Experimental, Melhor Narrativa e Melhor Experiência Sonora. Haverá também um prêmio do público. Depois, os títulos poderão ser vistos até o dia 30, em sessões diárias, com entrada franca. Os filmes foram selecionados pelos pesquisadores Marilia Paculli e Ricardo Dal Farra. Ela é uma das fundadoras da Galeria de Arte Digital do SESI-SP; ele, fundador do Centro de Pesquisa Eletrônica de Artes de UNTREF (CEIArtE), na Argentina. Na curadoria da exposição está Suzete Venturelli, que desde 1986 atua como professora, artista e pesquisadora da Universidade de Brasília e do CNPq. Se você é como eu e foi pesquisar o que quer dizer fulldome, ambiente imersivo etc, para tentar entender o que propõe esse festival, a oportunidade está dada. E para quem já é íntimo dessas viagens virtuais não haverá programa melhor. Immersphere – 1º Festival Internacional de Fulldome de Brasília De 1º a 30/11 no Planetário de Brasília. Inscrições: http://immersphere.com.br.
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LUZCÂMERAAÇÃO De Laurentiis Entertainment Group
Heavy metal do horror
Rock-horror no paraíso No CCBB, até o final do mês, 38 produções que abordam as afinidades do heavy metal e derivados com o cinema de terror
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ão deixa de ser surpreendente um centro cultural como o CCBB apostar numa mostra com obras que abordam um subgênero do rock e suas afinidades com os filmes de horror e seus subgêneros – o trash seria um deles. Os subgêneros e seus subgêneros, portanto! O evento transcende o cinema ao oferecer toda uma série de atrações como food trucks e música sob o comando do DJ Criolina. Quem despreza o tipo de cinema e música do cardápio, mas tiver curiosidade, pode ver o que tem a dizer o curador Mário Abbade em sua master class do dia 20, às 18h, logo depois da exibição de Zombie nightmare. De todo modo, se você acredita no ditado que diz que algu-
mas coisas são tão ruins que acabam sendo boas, certamente terá muitos motivos para curtir pequenas pérolas do cinema trash, mas também pérolas que são de faDark Sky Films
POR SÉRGIO MORICONI
Deathgasm
to pérolas, como o clássico O fantasma do paraíso, de Brian de Palma. Cinematograficamente falando, o filme de Brian de Palma está longe de ser o único digno de interesse. Para os cristãosnovos no rock metal e trash, recomendase inicialmente dar prioridade aos documentários para se ter uma visão no mínimo sociológica de um fenômeno que, apesar dos inúmeros preconceitos, se globalizou e é um aspecto importante da cultura de massa. Metal – Uma jornada pelo mundo do heavy metal, de Sam Dunn, Heavy metal: louder than life, de Dick Carruthers, e Get thrashed: the story of thrash metal, de Rick Ernst, podem ser bons ritos de iniciação. Os três documentários exploram as origens e a cultura dos gêneros e subgêneros em questão, trazendo
Twisted Pictures
Repo – The genetic opera
onde suas existências tediosas são esquecidas e substituídas por um simulacro de um mundo idealizado, fantasioso e melhor, ainda que o “melhor” aqui seja indefinível e impreciso. Por essa mesma razão, Rock terror traz uma quantidade enorme de filmes em que o ordinário e o extraordinário são indistinguíveis. Alguns dos títulos programados falam de música (documentários e ficções), outros mesclam música e terror, vários outros terror clássico, outros tantos música e terror trash (juntos ou separadamente). O trash seria o rebotalho da cultura de massa, como alguns chegam a dizer? Historicamente, esse subgênero toma corpo a partir da acumulação do lixo industrial. Num certo sentido, é a “degradação” daquilo que costumamos chamar, em cinema, de filmes B. O trash e o B não necessariamente são medidos por motivos econômicos. Talvez por essa razão ele tenha se tornado cínico, quase sempre ofensivo e chocante para os critérios do “bom gosto”. Naïf inicialmente, Oregon Filmes
imagens de arquivo e entrevistas para tentar fazer entender por que legiões de fãs do mundo inteiro seguem suas bandas como devotos de uma seita demoníaca. Não se impressionem, o adjetivo aqui está empregado muito mais como metáfora do que como uma realidade de fato experimentada. Entre os documentários mencionados, Heavy metal: louder than life pode ser aquele que melhor aprofunda algumas das indagações e mistérios costumeiramente ligados ao gênero. O longa é um olhar sobre o contínuo desenvolvimento do metal, desde pioneiros (Led Zeppelin e Aerosmith) até os nossos contemporâneos do White Stripes. O que explicaria a longevidade do rock pesado? Não se esqueçam que um músico do prestígio de Lou Reed fez um disco inteiro ao lado do Metallica, o que, para muitos puristas do rock clássico, foi considerado uma heresia inominável. Esses filmes deixam evidente que não se pode tampar o sol com a peneira. A longevidade do metal e do trash é um fato, assim como o poder que conquistou na indústria da música. Mas afinal de contas, eles seriam a confirmação do mainstream ou sua negação? A associação do metal e suas crias com horror (em Rock terror) é em teoria e prática apropriada e natural. Uma análise superficial pode levar à conclusão de se tratar (ou induzir) a uma infantilização do mundo real. A um escapismo do mundo real – e é isso mesmo! Mas o “escapismo” em arte ou em produtos da arte pop e de massa é como o colesterol: tem o bom e o ruim. As crianças adoram a fantasmagoria do trash rock e dos filmes de terror trash. Os adeptos adultos também, e aparentemente mergulham num eterno halloween,
em algum momento ele perde a ingenuidade e a pureza daqueles que o iniciaram. Quando ligados aos cânones dos filmes de gênero, costumam ser ainda mais inocentes. O filme B veio à luz numa circunstância muito bem definida, mais ou menos em meados da década de 30, como uma consequência da crise de 1929. A indústria de cinema – que tinha a rede de exibição de filmes nas suas mãos – começou a inventar artifícios para ver se trazia o público de volta às salas. Uma das ofertas mais comuns era do tipo compre um ingresso e leve dois. O heavy metal e o trash metal (ou trash rock) surgiram no último terço da última década do último século como uma reação ao polimento excessivo do rock clássico. Eles pleiteavam o chulo, o vulgar, o desprezível, nunca tiveram pretensão ao reconhecimento do stablishment, menos ainda ao reconhecimento dos intelectuais. O que faziam era um brinquedo lúdico, um instrumento que lhes permitia uma comunicação espontânea e autêntica. Eles amavam o que faziam porque viam nos gêneros desprezivelmente blasfemos de sua adoção as formas mais adequadas para dizer o que queriam dizer. Inconscientemente, aspiravam à “divindade do satânico”, à irracionalidade. Ontem e hoje, os protagonistas do metal e do trash abominam assumir os valores do mundo adulto e respeitável. Filhos legítimos da literatura gótica, agem como crianças obscenas que se recusam a crescer. Tudo que eles não querem é sucumbir à lógica do bom senso. Rock terror
O fantasma do paraíso
Até 31/10, de 3ª a domingo, no CCBB (SCES, Trecho 2, tel. 3108.7600). Programação completa e sinopses dos filmes em culturabancodobrasil.com.br/ portal/rock-e-terror.
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CRÔNICADACONCEIÇÃO
Crônica da
Conceição
Ninguém alcança a sua dor N
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inguém alcança a sua dor, me disse uma amiga que conheci na 308. Ninguém alcançou a dor de Luiz Carlos Cancellier, o reitor que decidiu morrer depois de preso, despido e proibido de pôr os pés na universidade onde passara os últimos 40 anos. Embora tivesse recebido a solidariedade de amigos e colegas, pela humilhação inominável praticada pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, Cancellier escolheu lançar-se ao vazio. E ninguém saberá que caminhos invisíveis ele percorreu até saltar no vão livre do shopping. Por certo, não havia mais nada que valesse a pena, tão implacável tinha sido a experiência da prisão, da exposição e das proibições subsequentes. Cancellier morreu de morte matada e os que têm responsabilidade pela prisão do reitor e pela devastadora desonra sofrida jamais assinarão recibos. A eles interessa apenas sobreviver na selva político-midiática-judiciária que vem destruindo o país sob o pretexto de acabar com a corrupção. Sob o aplauso de uma horda cega de ódio. Quem leu o Ensaio sobre a cegueira, do agudo e inclemente José Saramago, deve se lembrar das hordas de cegos desesperados, exalando suas crueldades, suas covardias e suas pequenezas na ânsia de escapar da epidemia de cegueira. O próprio Saramago disse, sobre a obra: “Este é um livro francamente terrí-
vel com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso”. Nenhum de nós é bom, bonzinho, bondoso. Carregamos um traço indelével de maldade – faz parte da ordem natural da vida, desde a mais elementar de suas formas. Comemos uns aos outros para sobreviver. Se é justo ou não, por que é assim e não assado, qual a razão disso tudo, é o que menos importa. Pelo menos na cosmogonia que tento inventar pra mim mesma. O que pode nos salvar como espécie – essa que dominou as demais e está destruindo a si mesma, às demais e ao lugar que nos abriga –, o que pode nos salvar começa pela coragem de reconhecer que não somos bons, embora possamos ter fulgurações de bondade. Num Brasil delirante e caótico, como o que vivemos, o suicídio do reitor poderia incandescer as almas que ainda cultivam fagulhas de discernimento, coragem e princípios de civilidade. Mas continuamos paralisados, como sói acontecer no instante seguinte a uma tragédia: é preciso um tempo para entender o que acon-
teceu – tempo que não se afere no relógio nem no calendário. Cada um tem o seu e as multidões têm um tempo próprio, imprevisível. Só nos resta esperar que, num lampejo coletivo, as almas que não suportam tanta indignidade, tanto cinismo, tanta vaidade, tanta arrogância, cruzem os caminhos para, numa explosão de desejo de reencontrar a humanidade perdida, abram um clarão nas trevas. No livro de Saramago, uma personagem observa que todos estão cegos, “sem retóricas nem comiserações”. É cada um por si e não há limites para se manter vivo – no livro, é a busca pela comida, pela água, pela sobrevivência. No Brasil de agora, é o meu cargo, o meu instante de glória, a minha ascensão profissional, a minha sanha salvacionista (para salvar o quê, salvar a quem?), o meu ódio e a minha frustração acumulada. A personagem de Saramago passou a vida olhando dentro dos olhos das pessoas, procurando-lhes a alma – mas não vê olhos, não vê alma. Habita agora “o reino duro, cruel e implacável dos cegos”. Destruído pelo abuso moral da prisão e pelo abuso moral midiático, Cancellier teve a solidariedade dos amigos e da família – mas era pouco para quem estava destroçado. Tento me colocar no lugar dele – eu talvez também tivesse saltado para o nada. Há fraturas que não têm conserto. Às vezes, se morre antes de morrer.