Ano XVII • nº 272 Janeiro de 2018
R$ 5,90
A arte múltipla de Athos Bulcão
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#VamosCombinar
EMPOUCASPALAVRAS Tatiana Coelho
Quando recebeu o título de professor-emérito da UnB, ele falou da escolha decisiva que fez em 1958: "Troquei o Rio de Janeiro, minha cidade natal, bela e alegre, pelo cerrado, à espera de construção. À espera de alma e beleza." Cinquenta anos depois dessa escolha, podemos dizer que sim, que Athos Bulcão colaborou para conferir alma e beleza a Brasília, razão mais do que suficiente para celebrarmos com orgulho o centenário de nascimento desse multiartista com a retrospectiva em cartaz no CCBB até 1º de abril. Lá, o visitante vai constatar que Athos não é somente sinônimo de azulejaria capaz de conferir elegância a inúmeros monumentos da cidade, mas também de pinturas, desenhos, fotomontagens e uma série de contribuições em cenários e figurinos para teatro, além de capas de revistas, livros e discos (página 24). Não bastasse essa exposição mais do que especial, o mês de janeiro nos oferece outra chance de mergulhar no universo de mais dois importantes artistas plásticos, Tomie Ohtake e Goya, ambos na Caixa Cultural. Na mostra Loucuras anunciadas estão expostas gravuras do espanhol Francisco de Goya produzidas entre 1815 e 1820, mas só reveladas 36 anos depois, todas com seu tom crítico à nobreza, ao absolutismo, à opressão do clero e às convenções sociais (página 27). Já na mostra Cor e corpo estão 48 obras do acervo pessoal da nipônica que viveu até os 101 anos, 60 deles em atividade artística, e costumava deixar suas digitais em esculturas e gravuras que remetiam a analogias com o cosmos, a profundidade marítima e células em crescimento. Tomie desenvolveu toda sua carreira no Brasil e se tornou estrela de primeira grandeza na arte contemporânea (página 28). A arte contemporânea é tema também de uma produção pré-indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro que está gerando controvérsia no seu lançamento. Trata-se do filme The square, do sueco Ruben Östlund, contendo uma crítica à arte contemporânea, sendo que ele mesmo já navegou nesse mar em companhia de Kalle Boman (página 30). Para não dizer que não falamos de gastronomia, finalizo com os destaques capazes de satisfazer a todos os apetites: a inauguração de uma parrilla que nos remete ao adorável Caminito, de Buenos Aires, de mais um Mangai e de outro restaurante com sotaque nordestino, batizado de Bodega Raízes do Sertão. Está tudo explicadinho a partir da página 6. Boa leitura e até fevereiro! Maria Teresa Fernandes Editora
21 queespetáculo Alexandre Borges dirige Dedé Santana e Fioravante Almeida na tragicomédia Palhaços, de Timochenco Wehbi, em cartaz no CCBB a partir do dia 25.
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ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14, Conjunto 2, Casa 7, Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa Carlos Roberto Ferreira, sobre foto de Vicente de Mello | Colaboradores Alessandra Braz, Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre Franco, Ana Vilela, Cláudio Ferreira, Conceição Freitas, Elaina Daher, Heitor Menezes, Laís di Giorno, Lúcia Leão, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Ronaldo Morado, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Teresa Mello, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle | Fotografia Rodrigo Ribeiro | Para anunciar 98275.0990 | Impressão Editora Gráfica Ipiranga Tiragem: 20.000 exemplares.
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O Caminito é aqui POR TERESA MELLO
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aradona chega ao SIG pra ficar. Bem ali, na Quadra 8 do Setor de Indústrias Gráficas, no restaurante Caminito, inaugurado em 12 de janeiro e em soft opening desde 2 de dezembro. A escultura de isopor com as características do craque vem se juntar à do Papa Francisco, outro argentino homenageado pelos quatro sócios do estabelecimento típico: os irmãos Re-
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nato e Tiago Muniz, Rafael Lago e Vinícius Telles, todos em torno dos 30 anos e amigos de colégio. “Fomos colegas desde a 5ª série no Leonardo da Vinci, na Asa Norte”, conta o advogado Vinícius. Depois de um ano de projeto, eles passaram cinco dias em Buenos Aires em outubro, quando voltaram ao Caminito (rua de casinhas coloridas no bairro de La Boca), pesquisaram cardápios, percorreram feiras de antiguidades e compraram objetos de decoração, como as cami-
setas de futebol emolduradas no lounge. São 115 lugares e uma equipe de 38 pessoas. Sabe quando você entra em um restaurante movimentado e vê os funcionários trabalhando felizes? Bom sinal, não? No Caminito é assim. Desde a recepcionista Haica, passando pelo maître Vicente, ao parrilero chef Ueslei e ao gerente Fabiano, todos exibem profissionalismo com simpatia. Também pudera. Estão em um local cercado de cuidados. O pé direito de seis metros e o revestimento com espuma no teto evitam que o zunzum dos clientes se espalhe. Há mesas redondas, outras para duas pessoas e as quadradas, encomendadas em Alexânia para acomodar famílias. Os acompanhamentos vêm em potes de cobre de Abadiânia, as carnes, em tábuas espessas de madeira; e as saladas, em cerâmicas de Davi Ferraz. Três jabuticabeiras dão leveza ao ambiente projetado pelo arquiteto Wantuir Rossi. A chef Paula Labaki, de São Paulo, criou o cardápio. “O bife de chorizo e o bombom de alcatra são os mais pedidos”, conta Vinícius. O chorizo, corte típico argentino, é servido em porções de 300g (R$ 49,90) e de 500g (R$ 79,90). Outros destaques são a picanha uruguaia, a fraldi-
Fotos Divulgação
nha marinada em mostarda e especiarias, o T-Bone. Ops, mas e as entradas? Enquanto se espera pelo prato principal, vale abrir o apetite. Que tal umas coxinhas de asa com molho barbecue artesanal e farofa de pão de queijo? Oito unidades saem a R$ 34,90. O Millionaire Bacon, acreditem, chega em fatias caramelizadas e picantes. Quer ficar em algo básico? Peça um sanduíche: burger defumado ou choripan (pão francês, linguiça, chimichurri, picles de cebola). Ah, e existe almoço executivo de segunda a sexta: 250g de bife de chorizo, de bombom de alcatra, 200g de salmão, todos com dois acompanhamentos, por R$ 39,90. Se preferir meio galeto, R$ 29,90. As cervejas são em garrafas de 600ml, raras em restaurantes. “Diminuímos nossa margem de lucro nas bebidas porque queremos que as pessoas fiquem muito tempo aqui”, diz Vinícius. Há dois tipos de sangria, em jarras de 1,3 litro, além dos drinques Casa Rosada, Eva Perón e Mafalda (gin, pepino, limão siciliano, morango, xarope de hibisco, angostura). Vinhos exibem preços camaradas, como o tinto argentino Fincas Privadas, de uvas Tem-
pranillo, Cabernet Sauvignon ou Malbec, a R$ 69, meia garrafa do tinto chileno Viña Indomita a R$ 46, taças a R$ 29. E a sobremesa? A recomendada pelo sócio é a de churros com brigadeiro defumado de Jack Daniel’s, mas vale provar a panqueca de doce de leite argentino com sorvete de creme ou o doce de leite com bananas assadas e farinha de brownie. Hora de pedir a conta? Então, bora fazer uma selfie com Maradona. O artesão cearense André Alves foi generoso e
projetou o argentino com 1,70m de altura (o original tem 1,65m). “É uma caricatura, não uma cópia fiel”, explica o artesão de 40 anos, 15 deles na Aruc. A escultura é feita em isopor e revestida em resina e não chega a pesar 20kg, mas é o suficiente para entreter o público, que também pode pedir a bênção ao Papa. Caminito Parrilla
SIG, Quadra 8 (3028.090). De 2ª a 4ª feira, das 12 às 15h e das 18 às 23h; 5ª, das 12 às 15h e das 18 às 24h; 6ª e sábado, das 12h às 24h; domingo, das 12 às 17h.
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O campeão dos foodtrucks POR VICTOR CRUZEIRO
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amos começar com alguns números: 60 mil hambúrgueres e 12 toneladas de batatas vendidos por mês, quatro foodtrucks, seis lojas físicas, cerca de 300 empregos gerados, tudo isso em pouco mais de dez anos de existência. Esses números são a tradução exata de uma história muito especial: a do Geléia Burger. Nascido em 2004 do sonho de um jovem empreendedor brasiliense, o projeto gastronômico que hoje toma as ruas da capital começou simples e não foi um sucesso logo de cara. Foram necessários anos e anos de aperfeiçoamento, prejuízos, surpresas e lojas fechadas para que, hoje, o Geléia Burger se aproxime da marca de dez milhões de hambúrgueres vendidos e seja uma das marcas mais queridas do público brasiliense. Alexandre Santos, o Geléia, não começou a vida nos hambúrgueres, muito menos num foodtruck. Há 15 anos, se você o procurasse nas ruas da cidade, provavelmente o encontraria dirigindo um táxi. “Trabalhava muito para ganhar pouco”, conta. Decidido a mudar de vida, o empreendedor, que já havia sido
DJ e promoter de festas, fundou uma agência de turismo, a Geléia Tour. E foi em 2004 que, farejando o apetite do brasiliense pela boa comida, Alexandre abriu seu primeiro negócio de hamburguerias. Com lojas físicas em Ceilândia, Gama, Samambaia, Taguatinga, Valparaíso e até mesmo na Bahia, o negócio foi... não tão bem. Não foram anos fáceis para o então
jovem empreendedor. Mas, como toda boa história de superação, surge um auxílio na hora de necessidade. O chef Jerry Correia, dono do Mr. Wolf Hot Dogs, foi o mentor da nova fase do Geléia. Assim, em 2015, no seu primeiro foodtruck, a ousadia de Alexandre e a expertise de Jerry davam o pontapé inicial no que viria a ser o Geléia de hoje. Receitas autorais e inovadoras marca-
usto S Fotos: Pedro Aug
ram esse novo Geléia, que teve seu primeiro obstáculo na prematura morte de Jerry, aos 45 anos, vítima de um bárbaro assassinato na última noite de julho de 2015. Sem se deixar abater, Alexandre levou adiante o negócio como uma forma de honrar a memória, o esforço e a paixão do amigo. Atualmente ele utiliza mais da metade das receitas que Jerry desenvolveu especialmente para o Geléia, numa tentativa de manter sua memória acesa da forma mais afetuosa possível: através do sabor. Indo de vento em popa, o Geléia não para de crescer e, como não poderia deixar de ser, de surpreender. Sendo uma das redes mais bem sucedidas de foodtrucks da cidade (quatro unidades móveis), ela buscou se profissionalizar e se reinventar até um ponto sem volta, para não correr o risco de cair no esquecimento, no mar de similares que se encontram todas as noites pelas ruas da cidade. O receio não é infundado. Segundo a Secretaria do Trabalho do DF, o mercado de foodtrucks cresceu 600% nos últimos três anos. Agora, após esse crescimento exagerado, a tendência é a estagnação e, com isso, uma profissionalização do segmento. Sem o equilíbrio entre técnica e qualidade, entre know-how e savoir-faire, nenhuma marca vai aguentar o setback desse mercado. Nesse ponto, o Geléia já está dois passos à frente. Não apenas a rede conta com um número satisfatório de quatro unidades móveis, como também possui seis lojas físicas, em Águas Claras, Gama, Samambaia, Santa Maria e agora no Sudoeste (no Bloco C da CLSW 105), além de já planejar a abertura de uma loja na Asa Norte. Quanto ao cardápio, há uma série de surpresas na manga. Para começar, o selo do chef texano-brasileiro Jimmy McManis – conhecido como “Jimmy, o Ogro” no programa Mais você, da Rede Globo – chegou com exclusividade às lojas e trucks da rede. O Ogro Burger vem ampliar ainda mais as opções do Geléia. Seguindo uma inevitável tendência, o cardápio já conta com dois sabores vegetarianos e planeja, para o futuro, um vegano. Sob o olhar atento do chef Daniel Reis (um dos egressos, na cidade, da escola de gastronomia francesa Le Cordon Bleu), a loja do Sudoeste já oferece o Veggie Burguer, de shitake recheado com queijo cheddar, maionese caseira e alface no pão australiano (R$ 24), e o Fit Veggie Burguer, de grão de bico recheado com cream cheese, maionese e salada (R$ 24). Aliás, essa nova e moderna loja (nas fotos à direita) vai funcionar como uma incubadora de delícias para a rede, que rapidamente se espalha pela cidade, e para ficar.
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Mangai em dobro POR VICENTE SÁ FOTOS LÚCIA LEÃO
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uando, em 1989, Leneide Maia Tavares, mais conhecida como Dona Parea, deu início à quitanda que batizou de Mangai, não imaginava que aquele pequeno comércio de queijos e rapaduras iria se tornar um restaurante dos mais queridos de João Pessoa e depois se expandir para Natal e Brasília. Muito menos sonharia que, em menos de 30 anos, o Mangai se tornaria uma marca de renome nacional e um empreendimento que não para de crescer. Como prova da vitalidade da marca foi aberto, em novembro do ano passado, no Shopping ID, o quarto restaurante Mangai do Brasil e o segundo de Brasília, que, mostrando que não há crise para quem trabalha bem, nos dois primeiros meses se manteve com fila de espera para o horário de almoço, apesar dos seus 350 lugares.
A qualidade e a variedade da culinária nordestina servida no Mangai já foram provadas e aprovadas pelos brasilienses desde 2008, quando o primeiro restau-
rante foi aberto no Centro de Lazer Beira Lago. Agora, no Mangai ID, no amplo salão decorado pelo arquiteto Leonardo Maia, além dos pratos já tradicionais da
O gerente Luiz Menezes comemora o ótimo movimento dos dois primeiros meses.
casa, como a carne de sol com nata, o baião de dois e os camarões, os grelhados também estão fazendo a diferença. Além dos mais de 200 pratos da culinária nordestina do bufê, oito opções de carnes assadas na grelha, que vão de picanha, carne de sol e maninha até filé de frango, são oferecidas diariamente aos clientes. “Nossa ideia é manter o que já foi bem aceito pelo cliente e acrescer novas opções ao cardápio. Por isso, à noite estamos com uma carta em que é possível saborear do camarão sertanejo Mangai (refogado na manteiga da terra, com queijo coalho e flambado na cachaça) à carne de sol xique (com quatro queijos e arroz cremoso de queijo coalho). Além de pratos na chapa, como os camarões, linguiça e carnes, com preços que vão de R$ 79 a R$ 149”, informa o gerente da casa, Luiz Menezes. Outra novidade do Mangai ID é a happy hour de promoções. Das 17 às 20 horas os clientes têm 15% de desconto em entradas como escondidinho de camarão (R$ 19) e o espetinho de carne de sol (R$ 13). Nas bebidas o desconto é ainda maior: 50% para chopes e caipiroskas de frutas do Nordeste.
Mangai é o nome que os nordestinos davam antigamente às feirinhas do interior, onde se encontra de quase tudo. Assim, mantendo a tradição e remontando às origens, ao lado do restaurante uma quitanda nos moldes da que deu início à rede Mangai oferece produtos oriundos da Paraíba, como rapadura, manteiga da terra, cuscuzeiras e flocos para cuscuz, cachaças, geleias, biscoitos caseiros e pão
de macaxeira, entre um tanto de coisas. Assim, se o cliente, depois de um bom mergulho na culinária nordestina, quiser fazer uma imersão ainda maior, a quitanda está à disposição, com ingredientes utilizados no dia a dia do sertão. Mangai Shopping ID
SCN, Quadra 6, Bloco A (3252.0157) De 2ª a 6ª feira, das 11h30 às 15h e das 18 às 22h; sábado e domingo, das 11h30 às 22h.
TEMOS ATÉ MUSCULAÇÃO. Circo, natação, balé, lutas, aeróbica, programação para crianças, além de instrutores formados e capacitados para cuidar de você. Afinal, temos tudo para a sua família, até o que as outras academias têm. www.companhiaathletica.com.br/unidade/brasilia
SCES, Trecho 2, Conj. 32/33, Lj. P01, Pier 21 Lago Sul, Brasília/DF +55.61.3322-4000
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Parceria sertaneja TEXTO E FOTOS LÚCIA LEÃO
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uando 2017 chegou, encontrou Rosinha Magalhães no seu Ateliê de Bolos, produzindo maravilhas da doceria pernambucana na pequena cozinha artesanal montada num subsolo do Bloco E da 309 Norte. O negócio ia bem e a cada dia ela era mais reconhecida como uma das melhores chefs da cidade em sua especialidade. No andar térreo do mesmo bloco, Fabiano Martins, brasiliense filho de paraibanos, também tocava com sucesso a Tapiocaria Raízes do Sertão, casa que já ia para o quinto ano de vida com uma clientela fiel e satisfeita. Mas a crise econômica não pouparia ninguém, e virou assunto corrente nos encontros casuais dos dois vizinhos. Jovens e determinados empreendedores, identificados pelo forte sangue sertanejo, eles não demoraram a ver na união de forças uma saída para encarar a turbulência anunciada. E eis que 2018 encontrou Rosinha e Fabiano juntos em um novo e saboroso empreendimento: a Bodega Raízes do Sertão, café e restaurante que oferece o melhor da culinária nordestina
no café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar. “A primeira ideia era a tapiocaria se tornar também um ponto de venda para os produtos do ateliê da Rosinha, que até então só trabalhava por encomenda. Mas, papo vai, papo vem, decidimos montar a Bodega”. A nova casa é pequena e aconchegante, ambientada com a simplicidade sertaneja, e oferece alguns dos principais ícones da culinária nordestina. O carro-chefe do cardápio continua sendo as tapiocas. São 26 sabores, doces e salgados, nomeados em “sertanês” e com preços que variam de R$ 4 (a “lisa” – pessoa sem dinheiro –, só com manteiga) a R$ 28 (a “Miaeiro” – guardador de dinheiro –, com salmão, champignon e cheddar). Os clientes têm também a opção de montar suas próprias receitas. As opções do almoço são os tradicionais baião de dois (R$ 23), carne de sol com queijo de coalho (R$ 26), escondidinho (R$ 21) e moqueca de peixe (R$ 24). À noite a casa serve caldos à base de mandioca e milho, ingredientes básicos também das iguarias sertanejas servidas ao longo de todo o dia: mungunzá, pamonha, cuscuz e bolinho de macaxeira
com carne de sol. Além, é claro, dos bolos da Rosinha: de rolo, Souza Leão, pé de moleque, de milho e de massa puba, servidos em fatias. Dentro do mesmo espírito de somar forças para enfrentar a crise, a Bodega reservou um espaço para venda de produtos de pequenos produtores – artesanato e geleias, licores, azeites aromatizados, entre outros. Um dos parceiros nessa iniciativa é o publicitário Marcus Marconi, morador da 309 Norte e antigo cliente da tapiocaria, que agora também vai expor ali as camisetas da sua grife Estilingue. Além de continuar tomando sua cervejinha e, às vezes, um café, e alimentando sua filha Isadora, outra fã das tapiocas e dos temperos do sertão. “Foi ótima essa mudança. O restaurante ficou muito gostoso, com mais opções e mais movimento. Além de abrir esse espaço alternativo de parceria para a venda de produtos diferenciados. Somar esforços é mesmo a grande alternativa para enfrentar esses tempos de crise”, constata Marconi. Bodega Raízes do Sertão
309 Norte, Bloco E (3037.9433). De 2ª a sábado, das 9 às 23h. Delivery: das 11h às 22h30.
PICADINHO Pururucachaça
Menu de verão
rústico, acompanhado de arroz integral e ratatouille (R$ 38); rabadinha com farofa de cuscuz marroquino e legumes (R$ 28); bife acebolado, feijoadinha, arroz branco e vinagrete (R$ 32); moqueca de peixe branco com banana, dendê e leite de coco, acompanhada de farofa e arroz branco (R$ 39, individual, ou R$ 72, para duas pessoas); e, fechando a lista, ribs glaceada com molho barbecue, acompanhada de batatas ao murro e molho sourcream (R$ 36 ou R$ 69).
Prato do mês O paillard recheado da foto abaixo (R$ 65) é a receita especial de janeiro do Santé 13 (413 Norte, Bloco A, tel. 3037.2132). Criado no Século XIX por um chef francês chamado Paillarde, o prato é composto de um bife fino de filé mignon batido e grelhado em fogo alto, recheado com aspargo in natura e agrião e escoltado por um risoto de couve de manteiga ao molho de gengibre.
Pratos leves e refrescantes compõem o menu de verão do DuoO Restaurante (103 Sul, Bloco C, tel. 3224.1515). Oferecido pelo preço de R$ 49,90, o menu começa com salada verde, seguida de frango e abacaxi em cubos ao molho de laranja e mostarda, acompanhado por arroz sete grãos e farofa de ovos, ou salmão ao molho de maracujá, guarnecido com legumes. Para finalizar, sorvete de banana com melaço de cana. Outra promoção da casa contempla os apreciadores de açaí: das 15 às 20h, quem pedir uma porção pequena (300ml, R$ 14) ou grande (500ml, R$ 19) ganhará outra do mesmo tamanho, com um dos seis complementos da casa (banana, morango, hortelã, gengibre, cacau ou castanha de caju).
Delícia portuguesa Divulgação
Divulgação
Helio Montferre
Atende por esse sugestivo nome a mais recente criação do chef Gustavo Pereira, do bar Piratas (Setor de Indústrias Gráficas, Quadra 6, tel. 99919.0742). Trata-se de barriga de porco marinada na cachaça por três dias, servida com geleia de menta e polenta frita. Custa R$ 38,90 e já é uma das estrelas do cardápio de petiscos do barzão inaugurado em outubro do ano passado na vizinhança do Setor Sudoeste, com capacidade para 500 pessoas.
Igor Almeida
Sarah Stedille
À la carte
Saboroso e refrescante, esse misto de frutos do mar estará no cardápio do Tejo Restaurante (404 Sul, Bloco B, tel. 3267.7005) até o final do verão, em 21 de março, ao prepço de R$ 149. Ele leva polvo, lula, camarão, robalo, lagosta e salmão, todos grelhados no azeite e ao molho Moçambique (manteiga, limão e catchup), acompanhados de abacaxi grelhado e arroz com brócolis.
Expansão acelerada Já o Loca Como Tu Madre (306 Sul, Bloco C, tel. 3244.5828) começou 2018 reforçando seu menu de almoço com pratos até então servidos apenas à noite. Um deles é esse picadinho de filé mignon ao molho rôti, com farofa de banana, arroz branco e ovo pochê (R$ 37). Vamos aos outros: milanesa de filé mignon com muçarela de búfala ao molho
Mal inaugurou sua segunda unidade brasiliense, no Sudoeste, a hamburgueria alagoana The Black Beef abre as portas da terceira, em Águas Claras. O local escolhido foi a praça de alimentação do shopping DF Plaza (Rua Copaíba, às margens da EPTG), onde servirá o mesmo cardápio das outras duas unidades – hambúrgueres artesanais com preços entre R$ 15 e R$ 24, o que ajuda a explicar a rápida expansão da marca na cidade.
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Rafael Lobo-Zoltar Design
Torta de tiramisù Essa a Roteiro provou – e aprovou. Criação do chef Flávio Leste para as festas de fim de ano, a torta de tiramisù do Villa Tevere (115 Sul, Bloco A, tel. 3345.5513) entrou de vez para o cardápio da casa e – melhor ainda – passou a ser vendida também em fatia, como sobremesa. “Clientes que encomendaram a torta no Natal começaram a pedi-la também quando vinham almoçar ou jantar aqui. Então, tivemos que inclui-la no cardápio. Quem ainda não conhece pode experimentar uma fatia e encomendar uma torta inteira pra levar”, sugere Flávio. A torta é preparada com os mesmos ingredientes do tiramisù – mascarpone, café, licor, chocolate belga – entre camadas de bolo e creme de chocolate envoltos por biscoito champanhe.
Rio, Recife, Salvador? Nunca nem vi. #Carnaval NoParque www.carnavalnoparque.com.br Vendas Abertas pelo APP 8 a 13 de Fevereiro no Parque da Cidade
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Durval
Kevinho
QUADRADINHO
QUINTA-FEIRA
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Cleber e Cauan
PEGA O BALÃO E SOBE
SEXTA-FEIRA
DE BOA NA S2
10 SÁBADO
Yuri Martins
Vintage Culture
Xand Aviao S
Alok
Koringa
Simone e Simaria
TESOURINHA
11 CABULOSA
Leo Santana
DOMINGO
Luiza e Maurilio
Kekel
DEBAIXO DO
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SEGUNDA-FEIRA
Saulo
BOTO FÉ
13 NO EIXÃO
TERÇA-FEIRA
Gabriel Diniz
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GARFADAS&GOLES
LUIZ RECENA
lrecena@hotmail.com
Primeiros e promissores prazeres É sempre bom um novo ano que some onze. Este ano de 2018 é um deles: dois mais um três, mais oito onze! Então, zero nesse caso não conta, 2018 é um ano que soma onze, vai trazer sorte e estamos conversados! O colunista não é um numerólogo nem militante da numerologia. Mas, seguindo o princípio de “que las hay, las hay”, há mais de uma década fui a um tipo de sessão dessas. Não é bruxaria e quem recomendou foi meu vizinho aqui de página, o Alexandre dos vinhos. E se ele entende de vinhos (e como entende!) mereceu minha confiança e valeu a pena. A sessão foi interessante, ótima. E o onze que eu desconfiava ser um parceiro transformou-se em aliado. Um bom aliado. Por isso pretendo apostar em 2018. Ele começou bem, com boas garfadas e goles idem. Vamos a ele:
AUSTRÁLIA, 31/12: na fronteira oeste do Rio Grande do Sul ou em Sidney, as comemorações pelo novo ano começam ao mesmo tempo. Na Austrália porque sim, é o horário. E na fronteira oeste porque também! É que o calor e a sede aceleram o fuso horário. E às margens do belo Rio Uruguai ouvem-se ruídos: rolhas e foguetes! Começou o Ano Novo. Longe dos pagos um solitário “poup!” ecoou em uma janela do Lago Norte. Tradição mantida. SORVIDA A PRIMEIRA estrela do abade Pérignon (ops: uma prima dela, nacional), era hora de recolher-se ao único espaço masculino verdadeiro da casa: a cozinha! Desde a noite anterior dormiam plácidas, em pirex redondo e fundo, postas de bacalhau cobertas por azeite de oliva. Mistura portuguesa, com certeza. O gadus morrua foi devidamente consumido antes da virada, com cenourinhas e batatinhas. Ao fundo, depois de pausa para os fogos em Moscou, o Garibaldi, brut, esperava. Ou seria um Ponto Nero? ORAÇÃO A SÃO SILVESTRE: fazei, santo corredor, que no próximo ano possa assistir a corrida! Como castigo e autoflagelo, dormirei duas horas ao fim da tarde e nada sorverei até o aproximar-se da virada. Amém! DESCANSO FEITO, promessa cumprida, banho tomado, roupas novas, íntima e/ou aparentes, volta o piloto ao quatro bocas, desta feita para ultimar um agnus dei qui tolli pecata mundi.
O cordeiro que tira os pecados do mundo marinava em vinho e espécies mediterrâneas. Foi ao fogo baixo e lá ficou até o quase esquecimento. Dois vinhos: um cabernet e um colheita tardia, doce e alcoólico. O filhote de ovino dormiu bêbado e assim acordou, pois era repasto para o primeiro dia do ano. Desmanchava ao contato do molho e do arroz. Supimpa! NÃO HOUVE CONTABILIDADE rígida durante as mais de 30 horas de convescote, mas é possível garantir que não faltaram estrelinhas nos pequenos regatos dos líquidos espumantes e floridos e frutados bosques de doces. Que o ano seja pródigo em bons rótulos! AGORA AS PROMESSAS: depois de tantos goles e ainda maiores garfadas, é hora de descansos e promessas. Os primeiros muito mais garantidos do que as outras. Descansar é próprio do homem e dos gêneros, juntos, separados e misturados. Prometer também. É fácil. Cumprir exige, demanda mais esforço e até certa dose de caráter, que por vezes claudica... Mesmo assim, entre o rato e o homem, percebi palavra de ordem culinária, política e anárquica, bem ao estilo colunista-coluna: Fora Tender, Dietas já!... É o que estou a fazer: boca fechada, trago zero, caminhadas mais frequentes. Afinal, estão no partidor deste primeiro semestre, prontos para a largada, pelo menos três parelheiros da melhor estirpe, a saber: Carnaval, Semana Santa e Copa do Mundo. Promissores prazeres! Que venha 2018! (soma: onze).
AS DELÍCIAS DE MINAS PERTINHO DE VOCÊ 16
Queijos, doces, biscoitos, castanhas, pão de queijo, pimentas, farinhas, polvilho caipira, massa para tapioca, mel, manteiga, cachaças, linguiça, frango e ovos caipira.
Av. Castanheiras, Ed. Ônix Bl. A - Loja 2 - Águas Claras
PÃO&VINHO
ALEXANDRE FRANCO pao&vinho@agenciaalo.com.br
Winemania Com o ótimo nome de Winemania – All You Need is Wine, foi lançado no apagar das luzes de 2017 um novo e-comerce de vinhos, que pretende oferecer rótulos de importação própria e de terceiros bem selecionados e a bom preço. Posso garantir a qualidade dos vinhos oferecidos e, em especial, a condição de um valor superior ao preço em cada uma das garrafas lá apresentadas, porque assumi a curadoria da empresa e só aprovo para o site vinhos que cumpram essa exigência. A curadoria é responsável pela seleção dos rótulos a serem importados e comercializados e pela aprovação dos preços ofertados. Convido-os, desde já, a visitarem o site winemania.com.br para que possam verificar por si mesmos a qualidade e os bons preços dos vinhos ofertados. Já comentei alguns deles, como foi o caso dos rótulos do Domaine Bousquet. E aproveito esta coluna para comentar alguns mais que considero de excelente relação custo x benefício. A ótima vinícola portuguesa Herdade do Perdigão, da região do Alentejo, produz uma segunda linha de seus vinhos a que chama de Villa Romanu, um tinto e um branco que são grandes opções. O tinto 2013, produzido a partir das principais castas alentejanas – Trincadeira e Aragonês – e da casta francesa Cabernet Sauvignon, passa por um rápido estágio em barricas de carvalho francês e apresenta coloração rubi brilhante, com aromas de frutas vermelhas maduras e boca muito fresca, com ótima e equilibrada acidez, sendo portanto muito gastronômico. O branco 2013 é moderno, jovem, fresco e, mais que tudo, “gostoso”. O nariz traz notas de frutas brancas e cítricos, além de toques florais, e a boca é fresca, de corpo médio e ótima acidez, com boa persistência. Ambos pelo preço
promocional de lançamento de R$ 56,80, que fazem deles duas das melhores opções do mercado. Da França é oferecido um Vieilles Vignes do Château Fontareche, de Cobieres, muito agradável. Com 40% Syrah, 30% Mouvedre e 30% Carignan, esse francês é de fazer “biquinho”. Rubi escuro, com nariz complexo de frutas negras muito maduras e toques apimentados e boca ampla, bem estruturada, carnuda, traz taninos maduros, mas com frescor e acidez bem equilibrados, de amplo espectro gastronômico. Por R$ 92,80, é uma pechincha! Do Chile vem a linha de uma grande vinícola, a Viña San Esteban, marcante por apresentar vinhos, mais que tudo, honestos, pois apresentam boa qualidade com preços amáveis, proporcionando grande satisfação ao consumidor. A linha é extensa, mas comentaremos apenas três. O primeiro é um Sauvignon Blanc Reserva 2014 super característico da casta. Palha esverdeado, com aromas típicos de maracujá, arruda e cítricos como o grapefruit, é crespo e muito fresco em boca, como cabe a um Sauvignon Blanc de qualidade. Vai muito bem com ceviche, ostras, mariscos e outros frutos do mar. O preço nem vou contar, olhem lá no site e pasmem. O rosé é simples, mas muito bem feito. Ideal para a piscina e os petiscos. Aromas claros de morangos e toques florais em boca leve e bem equilibrada entre acidez e doçura. Finalmente, um de seus melhores tintos, o Carménère Gran Reserva 2013. Extraído dessa que é a casta mais emblemática do Chile, o vinho apresenta cor rubi intensa, com aromas de cerejas negras e amoras em toques apimentados. A boca é redonda e sedosa, mas com boa acidez e alcool equilibrado. Uma “gran” opção.
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Célio Maciel
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criatividadenadança Como acontece o processo criativo de um coreógrafo? Foi a partir dessa indagação da bailarina Juana Miranda que surgiu o projeto O olhar na dança, a ser lançado dia 23 de janeiro, às 19h30, no Museu da República. Coordenadora do KOH – Núcleo de Pesquisa da Cena, Juana explica que o intuito é pesquisar o processo de criação dos coreógrafos a partir do conceito de união das linguagens do teatro, da dança e do cinema. Com entrada franca, o lançamento será aberto ao público e terá bate-papo com profissionais de diferentes áreas: Carol Senna (designer gráfico), Gustavo Serrate (cineasta e roteirista), Célio Maciel (fotógrafo e músico). Patrocinado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC), o projeto O olhar na dança produzirá um livro com 30 entrevistas e um site que servirá de observatório da dança e espaço de comunicação. Lá serão publicadas notícias sobre criatividade, entrevistas curtas, um mapeamento dos grupos de dança por região, além de ser uma plataforma de divulgação para o trabalho das companhias. “Com tão poucos livros sobre o assunto no Brasil, nosso objetivo é disponibilizar essas informações para todos. Estabelecemos critérios e escolhemos coreógrafos com mais anos de carreiras e mais trabalhos produzidos”, informa Juana.
fábricachinesa Divulgação
entreamodaeaarte Esse é o tema de um curso que a Galeria Ponto (710/711 Norte) realiza neste início de ano com o objetivo de traçar um panorama analítico de uma história de supostas tensões e contaminações entre a moda e a arte. Mais que a mera apresentação dessas relações, busca-se um olhar que as possa desnudar dentro de uma perspectiva crítica. Ministrado pelo professor da UnB e curador Marco Antônio Vieira, questiona, entre outras coisas, o oportunismo mercadológico de certas grifes de moda ao abraçarem fundações de amparo à arte. São quatro encontros, nos dias13, 20 e 27 de janeiro e 3 de fevereiro, das 10 às 13h, ou nos dias1 8 e 25 de janeiro e 1º e 8 de fevereiro, das19 às 22h. Inscrições em galeriaponto.typeform.com/to/ A8PdI9
mostratiradentes
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Quem ainda não viu tem a chance de ver no CCBB, até 21 de janeiro, a exposição Dragão floresta abundante. Na performance Fábrica de pipas, a proposta do artista plástico Christus Nóbrega é oferecer ao espectador a experiência de trabalhar em uma fábrica chinesa de pipas. A cada 11 unidades fabricadas, o “funcionário” pode levar uma para casa com o carimbo da fábrica e do artista como “pagamento”. Quem primeiro produzir mil pipas ao longo da mostra levará para a casa a “Pipa de ouro”, uma obra gigante feita por Christus, avaliada em R$ 200 mil. A performance funciona com a presença de monitores na função de gerentes de produção, das 9 às 19h. Os funcionários receberam instruções e material para confecção das pipas. Em Passeio controlado também podem ser vistos fotos de chineses impressas em pipas que conseguem aumento da renda familiar trabalhando como modelos para artistas. As pipas nasceram na China por volta do ano 1.200 a.C, utilizadas originalmente como dispositivo de sinalização militar. Hoje, a pipa faz parte da tradição cultural chinesa. Em dias de vento, velhos e crianças ocupam os parques para empiná-las. Com curadoria da historiadora da arte Renata Azambuja, a exposição é resultado de uma residência artística de Christus Nóbrega na China. De terça a domingo, das 9 às 21h. Informações: 3108.7600. Divulgação
Esta é pra quem está visitando as cidades históricas de Minas Gerais ou para quem se habilita a percorrer 900 quilômetros para assistir à 21ª edição da Mostra Tiradentes, entre 19 e 27 de janeiro. Da programação constam 30 longas-metragens com temáticas que vão da ousadia formal à abordagem de questões centrais no Brasil de hoje. Os filmes têm representantes do Distrito Federal, com Era uma vez Brasília, de Adirley Queiroz, e de oito Estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraíba, Goiás, Bahia, Pernambuco e Paraná. A curadora Lila Foster chama atenção para a dedicação extrema de alguns filmes nas imagens de beleza forte, expressiva e poética, em contraste com as imagens mais diretas e menos performadas. “Talvez o tom geral seja brando em dramaticidade, com maior investimento nas sutilezas. Do documentário observacional aos hibridismos vida/ficção, das estetizações subjetivadas ao cinema de terror social, a mostra Olhos livres 2018 não aponta caminhos, sequer saídas, sequer sentidos únicos ou absolutos”, destaca a curadora. Informações em www.mostratiradentes.com.br.
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renatorussoemsampa Até 28 de janeiro, quem for a São Paulo não pode perder a exposição Renato Russo, no Museu da Imagem e do Som. A exposição é resultado de uma vasta pesquisa realizada no acervo que se encontrava no apartamento onde o compositor morou e traz diversos objetos pessoais como fotos, manuscritos, instrumentos musicais, fanzines, letras de músicas, desenhos e cartas de fãs. Com curadoria de André Sturm e direção de arte do Ateliê Marko Brajovic, a mostra ganhou o prêmio de melhor exposição do ano promovido pelo Guia da Folha de São Paulo. Os ingressos são vendidos na recepção do museu, válidos apenas para o dia da compra, a R$ 12 e R$ 6. Ingressos antecipados podem ser adquiridos por R$ 30 e R$ 15 em ingressorapido.com.br/renatorussonomis. Às terças-feiras, a entrada é gratuita e os bilhetes começam a ser retirados a partir da abertura da bilheteria. De terça a sábado, das 10 às 21h, e domingos e feriados, das 9 às 19h. O MIS fica na Avenida Europa, 158.
teatroparacriancinhas Ele vive na terra, ela vive no mar. É a atenta plateia de espectadores de um a seis anos que vai ajudar os dois a se encontrarem. Assim é o espetáculo Mergulho, em cartaz dias 27 e 28, às 11, 15 e 17h, no Teatro da Caixa Cultural. A montagem da companhia catarinense Eranos Círculo de Arte foi elaborada a partir de histórias e desenhos sobre o mar, criados por crianças em uma pesquisa que compôs o processo do espetáculo. Com direção de Max Reinert, o foco da narrativa é imagético, linguagem mais próxima do universo das crianças dessa faixa etária, e faz uso de projeções digitais em constante relação com elenco e plateia. Envolver a criança desde cedo como espectador ativo na construção do espetáculo é um dos conceitos defendidos pelo grupo de Itajaí. “Nossa proposta é estimular a participação das crianças e transformar os pequenos espectadores em figuras ativas do espetáculo, num espaço de mediação entre limites e liberdade” afirma Sandra Coelho, atriz e psicóloga. Ingressos a R$ 10 e R$ 5. Informações: 3206.9448 e 3206.6456.
teatronasférias A temporada começou no dia 12 com Aeroporto Internacional de Pasárgada, a primeira de quatro peças que estarão a cada fim de semana no palco do Espaço Cena (205 Norte). Com a proposta de movimentar a cena teatral no período de férias, o ator e diretor Leonardo Shamah convidou para o projeto o ator e músico Marco Michelângelo, a atriz e professora de teatro Adriana Lodi, o diretor e coreógrafo Édi Oliveira e a atriz e palhaça Ana Flávia Garcia. Juntos, eles criaram os quatro espetáculos que ficam em cartaz até 4 de fevereiro. Os artistas se dispuseram ao exercício de imaginar onde passariam suas férias e, a partir dessas motivações, escolheram os temas a serem abordados em seus espetáculos, todos concebidos a quatro mãos, sendo Shamah o único presente em todos os espetáculos. “Essa ocupação surge do desejo de realizar espetáculos expressos, partindo do princípio de se oferecer ao público opções para ir ao teatro, já que são poucas nesse período do ano”, comenta Shamah. De sexta a domingo, sempre às 20h, com ingressos a R$ 20. Informações: 99697.7797.
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As férias da molecada de todas as idades pode ter trilha sonora caprichada. De 18 a 28 de janeiro está de volta no CCBB o Musicar – Festival de Música Infantil. Depois de estrear em janeiro de 2017 com ingressos esgotados para todas as atividades, o projeto chega à sua segunda edição bem maior. Serão nada menos que 20 shows e mais 50 atividades, entre vivências e oficinas musicais conduzidas por integrantes desses grupos e por educadores e artistas convidados. Concebido para crianças de todas as idades, o projeto promove ainda rodas de conversa e sessões de cinema, além de contar com duas instalações plástico-sonoras feitas para as crianças explorarem e se relacionarem ativamente com o universo musical. No gramado do CCBB, uma feira gastronômica com produtos orgânicos pensados para a alimentação consciente completa a programação. Ingressos a R$ 20 e R$ 10.
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ceilândiacultural Música, poesia, repente, hip-hop e teatro de bonecos made in Ceilândia estão na terceira edição da Feira Cultural de Ceilândia, que começou dia 13 de janeiro e continua dias 3 e 18 de fevereiro em espaços abertos e tradicionais da cidade. “A proposta é valorizar os artistas da cidade e oferecer ao público local um evento diversificado e gratuito, além do contato direto com a arte e suas diferentes expressões culturais, resgatando a cultura popular e nossas tradições como forma de ampliar horizontes e transformar a realidade local”, define Rosângela Dantas, produtora do projeto. Entre as atrações da feira estão espetáculos do grupo de teatro Mamulengo Fuzuê (foto), dos repentistas chico de Assis e João Santana, do Grupo de forró Caco de Cuia, do grupo de samba Marcelo Café, do grupo de forró Paraibola e do teatro com Marília Abreu, a Palhaça Filomena. Dia 3 de fevereiro, na Praça do Trabalhador, e no dia 18, na Casa do Cantador. Às 14 horas, com entrada franca.
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Esse é o nome do musical que vai homenagear a cantora mineira Clara Nunes, dia 20, no Teatro da UNIP (913 Sul), às 19 e às 21h. Em cartaz há quatro anos e visto por mais de 200 mil pessoas, o espetáculo já rendeu um DVD que será lançado aqui em Brasília. Com texto de Marcia Zanelatto e direção de Isaac Bernat, tem como protagonista a atriz Clara Santhana. No repertório estão os sucessos O canto das três raças (Paulo César Pinheiro/ Mauro Duarte), Na linha do mar (Paulinho da Viola), Morena de Angola (Chico Buraque) e O mar serenou (Candeia). Com direção musical de Alfredo Del Penho, o musical mistura música e poesia na construção de um olhar sobre a cantora Clara Nunes (1943-1983). “Nossa ideia é apresentar o legado de Clara para as novas gerações”, explica Clara Santhana, idealizadora do projeto e apaixonada pela obra da cantora mineira. Ela se apresenta acompanhada por um quarteto de violão, cavaco, percussão e sopros. Ingressos entre R$ 50 e R$ 120, à venda na Belini (113 Sul) Conjunto Nacional, Brasília Shopping e Pátio Brasil Shopping e, com taxa de conveniência, em www.bilheteriadigital.com.
Obras de artistas de vários Estados que foram exibidas em espaços da Câmara dos Deputados no ano passado e doadas ao acervo do Museu da Câmara estarão na exposição coletiva Acervo 2017, de 31 de janeiro a 21 de março. São fotografias, pinturas, desenhos, gravuras e peças de design de Rogério Mariano, Edmar Oliveira, Denise Vourakis, Salveci dos Santos e Katia & Morgana Moraes, Edson Campolina, Alessandro Venturim, André Amaro, Hudson Capa, Jan M. O., Thiago Valle, Francisco Ivo e Silvio Ferigato. O edital público para selecionar as exposições é lançado anualmente, sempre em agosto, e cria oportunidade para os artistas – já consagrados ou iniciantes – mostrarem seu trabalho. Ao expor em um dos locais mais visitados e movimentados da capital federal, o artista conquista maior visibilidade e seus trabalhos são divulgados em catálogos e nas mídias digitais da Câmara dos Deputados. Como contrapartida, o selecionado doa uma obra para o acervo da Câmara, que possui em sua coleção alguns dos grandes nomes da arte nacional, como Di Cavalcanti, Alfredo Volpi, Athos Bulcão, Glênio Bianchetti e Ivan Serpa. De segunda a sexta, das 9 às 17h, no Espaço do Servidor (Anexo II da Câmara dos Deputados), com entrada franca. Informações: 0800 619 619.
A partir do dia 20 o Píer 21 terá uma programação especial para as crianças que forem ao shopping, com fada contando histórias e palhaço alegrando a miniplateia. Além disso, promoverá uma oficina de musicalização infantil com Panderolê e o espetáculo Na trilha do tesouro. No sábado, 20, a estreia será da Fada Bruna, às 16h. Às 17h será a vez do pocket show com o Palhaço Presuntinho. No domingo, 21, novamente a fada abre a programação às 16h, sendo seguida pela oficina de musicalização. No sábado, 27, a abertura fica com Presuntinho, seguida pelo teatrinho Na trilha do tesouro. É esse último espetáculo que alegra a garotada no domingo 28, às 17h. A festa será na praça de alimentação, com entrada franca. Informações: 3251.2121.
Adla Marques
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QUEESPETÁCULO Fotos: Tatiana Coelho
Para rir, chorar e refletir Palhaços, de Timochenco Wehbi, ganha montagem no CCBB com Dedé Santana e Fioravante Almeida. POR PEDRO BRANDT
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palhaço fascina adultos e crianças há séculos. Sua figura está associada, primeiramente, ao riso. E justamente daí vem sua ambiguidade. Por detrás da maquiagem alegre apresentada no picadeiro pode estar um ser humano triste, que só revela suas lágrimas nos bastidores – situação retratada incontáveis vezes no cinema, na literatura, nas artes plásticas, cênicas ou na música. Inspirado numa experiência de sua juventude – a notícia do suicídio de um palhaço de circo que o fez rir na infância – o dramaturgo pau- lista Timochenco Wehbi (1943-1986) abordou a complexidade do tema na obra Palhaços, escrita por ele em 1976. De 25 de janeiro a 10 de fevereiro, de quinta a domingo, Palhaços ganha nova interpretação no palco do Teatro I do CCBB em montagem assinada pelo ator Alexandre Borges. Em cena estão os atores Dedé Santana e Fioravante Almeida. Eternizado como integrante do grupo Os Trapalhões, Dedé descende de uma longa linhagem circense. Filho de pai palhaço e mãe trapezista, o ator, de 81 anos,
além de trabalhos no palco e na televisão, voltou recentemente a frequentar as telas de cinema em diversas produções. Manfried Sant’Anna, seu nome de batismo, foi escolhido em 2015 por uma comissão de profissionais da área como Embaixador do Circo no Brasil, título criado para chamar atenção e buscar benefícios para essa comunidade de artistas. Na peça, Dedé dá vida ao palhaço Careta, que após uma performance é abordado no camarim pelo vendedor de sapatos Benvindo, interpretado por Fioravante Almeida – ator com carreira em teatro, televisão e cinema. Em 2014, Alexandre Borges e Fioravante foram premiados pela montagem Muro de arrimo, o primeiro pela direção, o segundo como ator. Como desdobramento desse sucesso, a TV Cultura convidou Borges para dirigir o espetáculo em uma versão televisiva. Em Palhaços, Timochenco Wehbi faz do encontro entre os protagonistas um momento de embate, no qual o espectador – tanto aquele vivido por Fioravante quanto o público que assiste à peça – testemunha, pouco a pouco, como Careta despe a visão do ingênuo Benvindo sobre
o que seria a vida de um palhaço. Mais do que isso, o texto dessa tragicomédia tece críticas contundentes às relações sociais estabelecidas, especialmente entre empregado e empregador. Em determinado momento, a peça sugere uma inversão de papeis e o público se perguntará qual dos dois ali é o cômico: Careta, o palhaço profissional, ou Benvindo, o palhaço da vida real, um sujeito que se deixa explorar sem se dar conta dessa situação. Timó, como também era conhecido o dramaturgo, foi professor de Sociologia e acompanhou de perto, no ABC paulista, tanto a movimentação cultural (ele foi um dos fundadores do Teatro da Cidade, em Santo André) quanto a dos trabalhadores das fábricas da região. Suas criações buscavam fazer a plateia rir, chorar e, acima de tudo, refletir. Palhaços
De 25/1 a 10/2, de 6ª a sábado, às 20h, e domingo, às 19h, no Teatro I do CCBB (SCES Trecho 2). Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (à venda na bilheteria do CCBB, de 3ª a domingo, das 9 às 21h, ou pelo site culturabancodobrasil. com.br/portal/distrito-federal. Não recomendado para menores de 12 anos.
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Matteo Ziliani
GRAVES&AGUDOS
Monstros do rock POR HEITOR MENEZES
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ania estranha: a gente gosta de lembrar da volta dos que não foram. Pois dos grandes grupos de rock de todos os tempos, a lista dos que nunca vieram ao Brasil (muito menos a Brasília) inclui os Beatles, óbvio, e outros idolatrados que jamais estiveram fisicamente no pedaço. É o caso do Dire Straits, banda britânica de estrondoso sucesso, chefiada pelo guitarrista escocês, monstro da guitarra, Mark Knopfler. Porém, roqueiros fiéis, alegrai-vos e exultai, haja vista que o Dire Straits (mesmo sem Knopfler) finalmente dará o ar de sua graça em Brasília, neste 21 de janeiro, no velho de guerra Ginásio Nilson Nelson. Pelo menos é o que diz o anúncio da banda DSL – Dire Straits Legacy, formada por elementos que um dia fizeram parte do grupo de Mark Knopfler. O legado em questão – e não uma banda cover, que fique bem claro – é defendido por músicos da fina flor do rock britânico, nomes que normalmente ficam em segundo plano, comparados às estrelas, mas que brilham nas fichas técnicas de grandes discos ouvidos por décadas e décadas.
No Dire Straits Legacy temos ninguém menos que Alan Clark (teclados), Phil Palmer (guitarra), Danny Cummings (percussão), Mel Collins (sax), Trevor Horn (baixo), Steve Ferrone (bateria), Marco Caviglia (voz e guitarra) e Primiano Dibiase (teclados). Tirando os dois últimos, os demais são conhecidos velhos de guerra, músicos de grande qualidade, aqui altamente credenciados a recriar o som cristalino inventado por Knopfler, em Londres, no distante ano de 1977. Para os superficiais, os caras tocam um som que rolava na MTV e nas FMs; para os connoisseurs, a chance ultra-mega rara de ver e ouvir de perto lendas como o saxofonista Mel Collins, um dos favoritos do rock progressivo. O sax desse cara é a cereja do bolo nos grandes discos de King Crimson, Camel e Alan Parsons Project, só para ficar em nomes mais conhecidos. Phil Palmer, sobrinho de Ray e Dave Davies (The Kinks), é o coadjuvante abençoado por MK, com quem tocou em diversas ocasiões. É de Palmer, aliás, a grande definição sobre o projeto: “O Dire Straits Legacy nasceu do desejo de recriar a atmosfera, a dinâmica e a paixão das versões ao vivo das grandes músicas criadas por Mark
Knopfler. Nossa intenção foi chegar o mais perto possível do espírito do Dire Straits, embora isso seja impossível sem a presença do homem que começou tudo”. E se não bastasse a presença de exmembros do DS, como Clark, Palmer, Cummings e Collins, temos ainda no line-up um cara chamado Trevor Horn, tocando baixo no lugar de John Ilsley, o baixista original. Parem as máquinas! Quem? Trevor Horn vem a ser o produtor que deu uma nova cara ao som do Yes, quando, em 1980, os dinossauros do progressivo procuravam um norte após o meteoro punk rock ter arrasado o planeta da música. O disco Drama (1980), do Yes, tem Horn no lugar do vocalista Jon Anderson, e é uma obra-prima irretocável. Ademais, Horn formou o genial Art of Noise, cuja façanha foi levar a música eletrônica experimental às massas. Enfim, pode chamar o DSL de universidade de monstros, porque nesse negócio só tem fera, PhDs em rock’n’roll. 2018 começa bem. Que não fique só nisso. Dire Straits Legacy
21/1, às 20h, no Ginásio Nilson Nelson. Ingressos (meia): área superior, R$ 70: frente palco, R$ 120; cadeira premium, R$ 250; cadeira extra ouro, R$ 450; cadeira extra prata, R$ 350; mesa (4 lugaes), R$ 1.600.
Hana Khalil
Outras
boas
atrações POR HEITOR MENEZES
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Robertinho de Recife Divulgação
sse período meio férias, meio préCarnaval, está modorrento? Os políticos e os juízes estão muito quietos? Brasília está um marasmo? Só se você quiser, pois na área musical a programação segue com atrações que justificam sair de casa em busca de entretenimento cuja satisfação é garantida. Um lugar legal pra ir, como diria Renato Russo, seja pra conhecer ou bater ponto, é o Clube do Choro (no Eixo Monumental, entre a Torre de TV, o Planetário e o Centro de Convenções). Verdadeiro espaço de resistência cultural e de música de qualidade, o clube completou 40 anos de fundação em 2017, mas se olharmos fundo no passado veremos que sua origem se confunde com a construção de Brasília e com a presença de músicos que fizeram história na capital, como Dilermando Reis, Jacob do Bandolim, Odete Ernest Dias, Avena de Castro e Waldyr Azevedo, entre outros gigantes da música brasileira. Em resumo, estar no Clube do Choro faz um bem danado. É o antídoto antimonotonia, remédio contra o roubo de almas perpetrado pela televisão, o celular e a internet. E nesse período, assim, assado, continua abrindo as portas para grandes artistas, como o lendário guitarrista pernambucano Robertinho de Recife, atração nos dias 22 e 23, dentro do projeto Clube do Choro Convida. Robertinho, radicado faz mais de 20 anos nos Estados Unidos, vem aí com um power trio, que faz uma síntese do rock pesado com a música nordestina! Uau, o Clube é realmente eclético, pois poucas vezes você verá aquela casa associando as palavras choro e rock pesado no mesmo contexto.
Renato Teixeira e Sérgio Reis
Seguindo em frente, dias 29 e 30 quem sobe ao palco do Clube do Choro é a cantora Deborah Vasconcellos. Brasiliense, mas com corpo e alma fincados no samba do Rio de Janeiro, a cantora volta à cidade para comandar batucada de bambas, desta vez a bordo de um novo trabalho de inéditas e com a regravação de um clássico, Saudade louca, de Arlindo Cruz, considerado por ela padrinho, ídolo e amigo. Na semana que antecede o Carnaval, o projeto Clube do Choro Convida recebe o grande Danilo Caymmi (dias 5 e 6 de fevereiro). Cantor de bela voz, produtor, compositor, filho do Dorival e da Stella Maris, irmão do Dori e da Nana, Danilo tem longos serviços prestados à música e cultura brasileiras. Lembram de Andança, na voz de Beth Carvalho? É de-
le, parceria com Edmundo Souto e Paulinho Tapajós. E de tantas andanças, a que teve como flautista e backing vocal da Banda Nova, de Antonio Carlos Jobim, é lembrada pelo artista com carinho especial. Seu mais recente projeto é o disco Danilo Caymmi canta Tom Jobim, cujas músicas e histórias certamente grudarão na memória de quem for ao show. Mas a vida não se resume a Clube do Choro. O período reserva ainda espaço para o samba do Sorriso Maroto, atração no dia 20 de janeiro na Bamboa (Setor Hípico). Ou a dupla Renato Teixeira e Sérgio Reis, que celebram a amizade sincera em show homônimo, recheado de clássicos da música caipira, dia de 2 de fevereiro, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.
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GALERIADEARTE
A arte múltipla de POR ALEXANDRE MARINO
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thos Bulcão é um dos artistas inconfundíveis de Brasília. Assim como Oscar Niemeyer e seus edifícios em formas de esculturas, Alfredo Ceschiatti e os anjos da Catedral, Marianne Peretti e os vitrais, Bruno Giorgi e o Meteoro do Itamaraty, Athos se identifica pelos painéis de azulejos que se espalham pela cidade. Eles estão na Catedral, na Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, no Hospital Sara Kubitschek, no Aeroporto JK, no Congresso Nacional, em escolas e grande número de edifícios públicos e privados. Mas a arte de Athos vai muito além dessa linguagem mais conhecida, e o público em geral poderá ter uma visão mais ampla de seu trabalho agora que o CCBB, para comemorar seu centenário, apresenta a mostra 100 anos de Athos Bulcão.
Athos Bulcão A exposição, que abrange todas as linguagens em que Athos trabalhou, permanece em cartaz em Brasília até 1º de abril, e em seguida será apresentada em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, cidades que contam com unidades do CCBB e onde existem obras importantes do artista. Mais de 300 trabalhos de Athos Bulcão compõem a mostra, que conta também com obras inéditas e faz um panorama completo de sua criação, dos anos 1940 até 2005. Nascido no Rio de Janeiro em 2 de julho de 1918, Athos se identifica com Brasília não só por sua contribuição à construção da cidade, ou por tê-la adotado para aqui viver, ao contrário da maioria dos artistas que trabalharam na construção. Suas marcas na capital federal
são fortes. Ele se apresenta, por exemplo, no painel de blocos de concreto do Teatro Nacional, com seus 125 metros de base por 27 metros de altura – ainda que este, um dos mais importantes espaços culturais de Brasília, padeça de um abandono que completa quatro anos. A curadoria da exposição é de responsabilidade de André Severo e Marília Panitz, que conseguiram reunir um acervo espalhado em diversas coleções particulares, além do farto material sob a guarda da Fundação Athos Bulcão, entidade sem fins lucrativos criada em 1992 para divulgar e preservar a obra do artista. A importância dessa mostra se deve também ao material que será levado ao público pela primeira vez. Marília Panitz é professora aposentada da Universidade
Fotos: Vicente de Mello
de Brasília e conviveu com Athos, frequentou sua casa e teve com ele amigos em comum. “Era um autêntico mestre, uma pessoa receptiva e gentil, que gostava de reunir amigos e atendia jovens artistas”, recorda. Ao morrer, em julho de 2008, aos 90 anos, Athos deixou obras em espaços públicos, pinturas, desenhos, fotomontagens e uma série de contribuições em cenários e figurinos para o teatro, além de capas de revistas, livros e discos, ilustrações de jornais e até estamparias para lenços. Amostras de todo esse farto material poderão ser vistas na exposição, realizada pela Fundação Athos Bulcão. A cor da fantasia é o título do Núcleo 1 da exposição, que acompanha os primeiros tempos da obra de Athos. Começa com uma série de pinturas figurativas sobre o Carnaval. Athos tinha irmãos carnavalescos, o que o atraiu para o tema. No entanto, suas pesquisas sobre a paleta renascentista, pós-medieval, o levaram a criar um Carnaval de tons terrosos, numa estrutura e cores que têm a ver com a pintura litúrgica que ele produziu, conforme explicou a curadora Marília Panitz. Assim, Athos aproxima o religioso e o profano. Nesse núcleo também estão presentes vestes litúrgicas e projetos para painéis e vitrais de igrejas. O Núcleo 2, sob o título Devaneios em preto e branco, guarda experimentações surrealistas, incluindo as fotomontagens, material importante dentro da obra de Athos. O público tomará contato não apenas com esse material, mas também com as colagens originais, feitas com fotografias analógicas, que serviram de matriz para as fotomontagens. As colagens estarão numa exposição pela primeira vez, cedidas por uma colecionadora.
Série Vida de Nossa Senhora (acervo da Catedral de Brasilia)
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Série Carnaval
Figurino para o grupo teatral O Tablado
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Até 1/4 no CCBB (SCES, Trecho 2). De 3ª a domingo, das 9 às 21h, com entrada franca. Informações sobre visitas mediadas: 3108.7624.
Edgar César
Acima, obra da série Carnaval; ao lado, painel do Hospital Sarah Kubitschek: abaixo, relevo em madeira laqueada do Panteão da Pátria Tancredo Neves, na Praça dos Três Poderes. Edgar César
Os próximos núcleos da mostra, 3 e 4, contam com pinturas e objetos sobre o tema da documentação antropológica imaginária, desenvolvidos a partir de sua vivência em Paris, onde frequentou o Museu do Homem, com vasto acervo de caráter pré- histórico. Desse núcleo constam também pinturas, gravuras e desenhos de inspiração antropológica, incluindo uma coleção de esculturas de animais imaginários. Outro item interessante dessa parte da mostra é a coleção de máscaras, fruto de experiências de Athos Bulcão com reprodução de símbolos culturais ancestrais. No Núcleo 4 estão experiências pictóricas realizadas entre as décadas de 60 e 90, em que texturas geométricas dialogam com estudos para os painéis de azulejos. O Núcleo 5 reúne desde ilustrações para jornais até estamparias em lenços, passando por capas de revistas, discos e livros. Também aí estão reunidos seus trabalhos desenvolvidos para uso no teatro, especialmente para o grupo O Tablado, de Aníbal Machado, em que foi cenógrafo e figurinista. Athos realizou ainda projetos para mobiliário, especialmente para a Rede Sarah, mas também para residências particulares. Essa parte da exposição guarda exemplos interessantes dessa atividade. Os núcleos seguintes revelam de maneira mais precisa suas propostas de integração da arte à arquitetura, a partir de seus métodos de criação. Relevos acústicos e divisórias instaladas em prédios públicos são exemplos dessa busca. A exposição oferece um aplicativo que permite ao visitante interagir com as obras, de forma que pode, por exemplo, experimentar os azulejos de Athos sobre a superfície de um prédio ou de uma casa. Uma última parte da exposição é reservada para artistas que conviveram com Athos ou que reconhecem sua influência sobre seus trabalhos. A exposição conta ainda com visitas mediadas para escolas e grupos, mediante agendamento, visita teatralizada, aos sábados, domingos e feriados, e acompanhamento em língua brasileira de sinais (libras), dirigida a pessoas com deficiência auditiva. A bilheteria informa os horários disponíveis.
Vicente de Mello
GALERIADEARTE
Delírios de Goya Disparate fúnebre
POR LÚCIA LEÃO
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Romantismo da época para o Expressionismo que caracterizaria as artes plásticas dali a um século. “Goya instituiu a modernidade na Espanha”, afirma Mariza Bertoli, uma das maiores conhecedoras do artista espanhol e de sua obra e curadora da exposição em cartaz na Caixa. Os Disparates dormiram nas pranchas de cobre gravadas por Goya até 1864 – 36 anos depois da morte do artista –, quando foram vendidas pela família para a Academia de Belas Artes de San Fernando, que imprimiu a primeira tiragem de 360 cópias das gravuras. Uma delas é a que está exposta em Brasília. Loucuras anunciadas – Francisco de Goya
Até 4/3, das 9 às 21h, nas Galerias Piccola I e II da Caixa Cultural (Setor Bancário Sul, Quadra 4), com entrada franca. Classificação indicativa: livre.
Fotos: Divulgação
o corpo que jaz sobre o solo renasce um homem em cujos traços se reconhece o artista. Dom Francisco, ou simplesmente Paco, renasce para revolucionar a arte, para criticar a sociedade, o absolutismo e até os esclarecidos”. A descrição da crítica de arte Mariza Bertoli é de um detalhe do Disparate fúnebre, a primeira gravura da série Loucuras anunciadas, de Francisco de Goya, em exposição na Caixa Cultural. O autorretrato é o centro de uma cena cheia de detalhes e imagens simbólicas que contam um enredo: o artista, nesse novo estágio, é recebido pela figura híbrida de uma mulher-coruja e gente do povo saindo das sombras. É o começo de um grande delírio em 19 capítulos.
Convém arranjar tempo para apreciar com atenção e cuidado cada uma das pranchas expostas, admirar o esmero e a qualidade do desenho feito a pontaseca com brunidor sobre chapas de cobre, e tentar interpretar suas narrativas. Os Disparates constituem a última obra gráfica de Francisco de Goya. Eles foram produzidos entre 1815 e 1820, quando o artista, que já fora Primeiro Pintor da Câmara do Rei de Espanha, era perseguido pela Inquisição e se refugiava em sua casa de campo, a Quinta do Surdo – provável alusão à sua surdez –, e pintava só para si, berrando contra a nobreza, o absolutismo, a opressão do clero e as convenções sociais. São esses os temas das gravuras, cada qual uma crônica satírica e mordaz de comportamento, que projetam Goya do
Disparate alegre
Disparate de Carnaval
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GALERIADEARTE
Digitais de Tomie Ohtake POR LÚCIA LEÃO
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omie Ohtake para iniciantes e iniciados. É assim que Carolina de Angelis, curadora, junto com Paulo Miyada, define a exposição Cor e corpo, em cartaz na Caixa Cultural até o dia 4 de março. São 48 obras selecionadas exclusivamente do acervo pessoal da nipônica que desenvolveu toda a carreira no Brasil e hoje é referência da arte abstrata no país, considerada uma das mais importantes artistas plásticas das Américas. Foi nessa condição, de estrela de primeira grandeza nas artes latino-americanas, que Tomie Ohtake foi vista pela última vez pelos brasilienses, com pinturas que desde 2016 integram o acervo do CCBB ao lado de Portinari, Di Cavalcanti e Athos Bulcão, entre outros. Antes disso, em 2006, o mesmo CCBB apresentou uma mostra de suas esculturas. Agora, em Cor e corpo, o que se apre-
senta é um panorama geral da obra da artista, com peças gráficas (gravuras), esculturas e pinturas repetindo o diálogo que ela sempre estabeleceu entre as linguagens e os suportes que explorou ao longo da carreira e com os quais construiu um vocabulário plástico amplo e complexo. “Forma, matéria e cor estão totalmente associados na obra de Tomie Ohtake. Nessa mostra, percebe-se que a artista alterna suas ênfases para esses três elementos se potencializarem mutuamente”, observa Carolina de Angelis. Além da visão panorâmica de 60 anos de trabalho de Tomie Ohtake (vale aqui um parêntese biográfico: ela se descobriu artista aos 40 anos, em 1952, depois de criar os filhos e se desincumbir das tarefas familiares e domésticas, e desde então produziu sem parar até poucos meses antes da sua morte, aos 101 anos, no início de 2015), Cor e corpo joga foco sobre outros importantes aspectos da sua obra. Um é o sentido orgânico das for-
mas traçadas pela artista, que, apesar de abstratas, remetem a analogias com substâncias como a profundidade marítima, o cosmos ou células em crescimento, em renovação. Essa analogia é mais visível nas cinco pinturas expostas e que, no conjunto, podem ser vistas como diferentes estágios de fecundação, multiplicação, nascimento e crescimento. Pelo menos na visão dos curadores da mostra, mas não necessariamente na visão da artista. “Se se perguntasse a Tomie se existia de fato uma associação das formas abstratas com esses ou outros elementos, ela não confirmaria, mas também não negaria. Deixaria como uma possibilidade de interpretação. Por isso também ela não colocou título em suas obras, para não conduzir o olhar de quem as aprecia, para dar total liberdade de interpretação”, diz a curadora. Outro aspecto destacado em Cor e corpo é sempre a presença da mão da ar-
Fotos Divulgação
tista, suas digitais, mesmo nas gravuras e esculturas. As gravuras feitas a partir de colagens de papéis cortados a mão, por exemplo, guardam os contornos irregulares do papel rasgado e suas rebarbas e incorreções das formas geométricas sobrepostas em cores exuberantes e ousadas. O mesmo se observa nas três esculturas tubulares, de leveza e equilíbrio encantadores. Foram feitas a partir de moldes de dobradura de arame. Quando passaram para os tubos de aço carbono, preservaram todas as irregularidades e imprecisões do molde original, da mão da artista. “São fruto de torções, dobras e voltas realizadas previamente pela mão da artista em pequena escala, depois transplantados da maneira mais fiel possível em dimensão escultural”. Isso me lembrou uma história que eu sempre quis contar, uma conversa que testemunhei entre o artista plástico Reza e um dos seus grandes ídolos, Athos Bulcão. Foi há muitos anos, num tempo em que Reza explorava o computador como ferramenta de desenho. Falavam sobre ela, a ferramenta que podia ajudar nos traços geométricos tão presentes na obra de Athos. O que ele de chofre descartou: “Um computador roubaria da obra o traço trêmulo da mão do velho pintor” (eu ainda ouço a voz grave mas já um tanto rateante de Athos). Pronto, contei. E vendo a exposição de Tomie Ohtake ainda mais concordo com Athos Bulcão: além de toda a beleza, das formas, das cores, do equilíbrio e da leveza, encanta e emociona sentir a presença quase física da artista através de suas digitais. Cor e corpo – Tomie Ohtake
Até 4/3 na Galeria Principal da Caixa Cultural (Setor Bancário Sul, Quadra 4). De 3ª a domingo, das 9 às 21h, com entrada franca. Classificação etária: livre. Mais informações: 3206.9448.
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Ruben Östlund
LUZCÂMERAAÇÃO
A arte e otras cositas más Palma de Ouro no Festival de Cannes, The square – A arte da discórdia, do sueco Ruben Östlund, é também um dos pré-indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro este ano.
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ssim como os vinhos depois de bebidos, os bons filmes são logo reconhecidos depois de vistos. Apesar de toda a controvérsia gerada, o ruidoso lançamento de The square no início do mês não deixa dúvida de que estamos diante de um grande filme. E por várias razões. Muitos torceram o nariz pelas supostas críticas e ironias em relação à chamada arte contemporânea. Com fama de “polêmico”, Östlund, aparentemente, apenas zomba da frivolidade dessa linguagem. Mas a questão é vista com tal complexidade, e de tantos diferentes ângulos, que parece que estamos diante de uma gravura do holandês Maurits Escher. Sim, Östlund faz chacota com a arte contemporânea, sendo que ele mesmo experimentou a arte contemporânea ao lado de Kalle Boman, ambos autores de uma instalação apresentada no Vandalorum Museum na Suécia em 2014. Boman participou da produção de Força maior, longa anterior de Ötlund. Vagamente inspirado, talvez uma reflexão sobre esta solitária experiência,
The square teve outras fontes de inspiração. O diretor menciona o crescimento, na Suécia, de condomínios de luxo altamente vigiados e o roubo de um celular seu, episódio recriado e vivido no filme por Christian, interpretado pelo excelente ator Claes Bang. Ambos os episódios dão um importante substrato social ao
filme, substrato esse que se sobrepõe e se imiscui à questão da arte de uma forma tão orgânica que se torna impossível compreender qualquer uma delas sem a outra. O filme acompanha Christian, curador de um museu de arte contemporânea, e suas tentativas de promover a instalação que dá título ao filme. O Divulgação
POR SÉRGIO MORICONI
Divulgação
“Quadrado” é uma área delimitada no piso externo do museu, onde as pessoas devem ser induzidas a expressar sentimentos de solidariedade e altruísmo. Supostamente, Christian está tentando emascular o alegado atributo vulgar da arte que se expõe em seu museu. Muito da impressão de que o filme debocha da arte contemporânea fica impregnada na nossa memória logo na cena inicial em que Christian responde a perguntas da repórter norte-americana Anne – uma excelente Elisabeth Moss, recentemente vencedora do troféu Globo de Ouro por seu trabalho em The handman’s tale. Anne quer saber sobre o projeto The square. Christian está sentado numa cadeira aguardando o início da entrevista. Entrevistadora e entrevistado parecem desconfortáveis. No fundo do cenário, separados por uma parede de vidro, vemos uma das salas do museu onde dezenas de montículos de areia ocupam simetricamente todo o chão da exposição. Anne lê um depoimento do curador sobre o significado da arte contemporânea e pede que ele explique melhor o que quis dizer com aquilo. Trata-se de um arrazoado acadêmico e pretensioso. O escritor angolano José Eduardo Agualusa disse em sua coluna semanal no jornal O Globo não estar convencido de que o filme seria uma sátira à arte moderna. Para ele (através da perspectiva de Östlund sobre o seu protagonista), seria muito mais uma história sobre vaidade, arrogância e remorso. Especialmente o segundo termo pode ser compreendido com certa hesitação. O filme nos mostra que Christian é muito mais um insensível do que um arrogante. Ele é indiferente aos pedintes, aos imigrantes pobres e a toda sorte de desvalidos que povoam as ruas de sua cidade. O conteúdo social do filme se manifesta de forma eloquente a partir do momento em que Christian tem o seu celular roubado, vítima de uma armação típica de malandros urbanos. Ele grita por ajuda. Pede que alguém empreste um celular para denunciar à polícia e ninguém lhe dá bola. A partir daí, passa a se comportar de forma absolutamente inconsequente. Um GPS instalado em seu aparelho faz descobrir que ele está num conjunto habitacional popular. Vamos deixar o terceiro termo, remorso, para mais adiante. The square abre várias portas e não fecha inteiramente nenhuma. A insensatez
e futilidade das redes sociais; a relação de poder entre os sexos; a presunção da arte. Os assuntos são assuntos-dilemas, indagações, ambiguidades provocadoras sobre temas candentes. Os mundos separados entre ricos (sofisticados ou não) e pobres, por exemplo. O plano que Christian engendra com um de seus subalternos para recuperar o aparelho produz nele uma descida aos infernos. A confrontação com os pobres e marginalizados vai engendrar em Christian uma transmutação do sentido de vida e arte. The square passa a ser uma alegoria desse processo. Sua ideia (a de gerar solidariedade e confiança) pode ser de fato transformadora e não deixa de ser uma demonstração (para Östlund) de que a arte contemporânea pode ter um valor positivo. O “Quadrado” é, portanto, a antítese da sociedade real. Confiança, generosidade, solidariedade são conceitos fundamentais no filme. Eles estão pontuados em diversas sequências. No percurso de Christian vão estar presentes a consciência, a culpa e – lembrando Agualusa – o remorso. Existe algo de um princípio cristão (não doutrinário) em The square, demonstrado na passagem em que a estátua de um herói equestre, situada em frente ao museu, é derrubada para dar lugar ao “Quadrado”. Sua inscrição diz “o amor do povo, minha recompensa”. Sob essa imagem ouvimos a Ave Maria de Gounod/Bach, letra do poeta Alphonse de Lamartine em O livro da vida. É de Lamartine a célebre frase “estou far-
to de museus, cemitérios da arte”, que cito aqui espirituosamente, sem qualquer pretensão crítica às intenções do filme. Mas o filme tem muito humor mesmo. O rápido episódio do funcionário de limpeza motorizado fazendo manobras por entre os pequenos montinhos de areia da instalação e seus desdobramentos é um deles. O desaparecimento de uma pequena quantidade de areia de um dos montinhos é outro. Há igualmente em The square um tratamento não realista, até extravagante, como atestam os momentos impagáveis de Christian chafurdando no lixo, o chipanzé na casa de Anne e, especialmente, toda a sequência da performance do homem-macaco no restaurante frequentado por uma faustosa elite. É sem dúvida uma das grandes metáforas do filme. As performances, que costumam ser meramente recreativas – provocando no máximo um choque elegante nas pessoas –, atingem aqui um assombroso grau de violência. Para Baudelaire e todos os artistas de vanguarda que vieram depois dele, a arte devia épater les bourgeois e é justamente isso que o homem-macaco faz, afrontando a trivialidade e esnobismo das artes descompromissadas e fúteis, sejam elas contemporâneas ou não. The square
Suécia/Alemanha/Dinamarca/França, 2017, comédia dramática, 142m. Direção: Ruben Östlund. Com Claes Bang, Elisabeth Moss, Dominic West, Terry Notary, Sofie Hamilton, Annica Liljeblad, Marina Schiptjenko. Em cartaz no Cine Brasília, Cine Cultura Liberty Mall e Espaço Itaú de Cinema CasaPark.
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Fotos Divulgação
LUZCÂMERAAÇÃO
A luz, de Souleymne Cissé (Mali/1987)
Médico de monstro, de Gustavo Teixeira (Brasil/2017).
Um cinema surreal,
grotesco e encantador
POR PEDRO BRANDT
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inda que o espectador estranhe o termo “cinema fantástico”, com certeza sabe, por experiência própria, do que se trata esse tipo de filme. Afinal de contas, uma infinidade de blockbusters pode ser enquadrada nessa categoria – um “guarda-chuva” generoso onde cabem filmes de fantasia, ficção científica e terror. Mas, para os cinéfilos, o cinema fantástico se refere, mais especificamente, a produções que não costumam frequentar o circuito comercial, aquelas nas quais os cineastas podem deixar uma marca mais autoral ou mesmo radicalizar, pesar a mão no surreal ou no grotesco. Por isso mesmo, festivais dedicados ao cinema fantástico estão espalhados pelo mundo (Brasil, inclusive) e encantam um público apaixonado pelo gênero. E a capital brasileira, a partir deste mês, também entra nessa conta. Entre os dias 25 e 28, o CCBB recebe a primeira edição de O anjo exterminador – Festival Internacional de Cinema Fantástico de Brasília. A programação conta com quase 30 produções, curtas e longasmetragens, brasileiras e estrangeiras, vin-
das da Alemanha, Argentina, Colômbia, Croácia, Dinamarca, França, Espanha, Estados Unidos, Mali, México, Portugal, República Tcheca, Uruguai e Uzbequistão. Todas as sessões são gratuitas e o público pode votar em seus filmes favoritos (os mais votados ganham troféus). Além disso, os interessados podem acompanhar debates sobre literatura fantástica e participar de oficinas conduzidas por professores da Animatic – Escola de Animação e Arte de Brasília. O festival é uma criação de Josiane Osório, produtora do Lobo Fest (ex-Festival de Filmes Curtíssimos), e do jornalista Ulisses de Freitas, responsáveis pela curadoria. A seleção de filmes foi composta a partir de visitas e participações em festivais de cinema no Brasil e no exterior. “A linha curatorial foi pensada com a intenção de apresentar um panorama diverso do cinema fantástico no mundo contemporâneo, tentando contemplar tanto seus subgêneros quanto suas origens geográficas”, comenta Ulisses. Na abertura e no encerramento do festival, por exemplo, será exibido o longa A luz, de Souleymane Cissé, conceituado cineasta da República do Mali.
Na mostra competitiva de longas-metragens é possível conhecer filmes de terror de diferentes sotaques, como o paraibano O nó do diabo (que também esteve em competição no 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro), o goiano Terra e luz e o brasiliense O segredo do parque, ou ainda o uruguaio Deus local, o croata Exorcismo e o argentino Terror 5. As sessões das 14h são mais leves, voltadas para as crianças, com a exibição do curta espanhol de animação Bruxarias e do paulistano Médico de monstro. O evento foi batizado com o nome do filme O anjo exterminador, de 1962, dirigido por Luis Buñuel, clássico do cinema no qual o cineasta propõe, a partir de uma situação surrealista (aristocratas não conseguem, sem razão aparente, deixar a casa onde acabaram de jantar), um comentário sobre a hipocrisia e a falsa moral da sociedade. O anjo exterminador – Festival Internacional de Cinema Fantástico de Brasília
De 25 a 28/1, no cinema do CCBB Brasília (SCES Trecho 2). Sessões às 14h, 16h, 19h, 21h e 21h30, com entrada franca. Mais informações: 3108.7600.
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IDEIAS QUE INSTIGAM A
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CRÔNICADACONCEIÇÃO
Crônica da
Conceição
Os arquitetos caem do céu
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Durante quatro meses, as manhãs de segunda-feira foram subterrâneas, porém clarividentes. Um grupo de não mais de 20 alunos se sentava ao redor de uma mesa comprida para debater textos sobre as cidades contemporâneas. Eu era, de longe, a mais velha da turma. Até mais velha que a professora – e que professora! A cada meio-dia, eu saía moída, mas contente. Boa parte das convicções que sustentaram meu viver de cronista era triturada no moedor da razão. As cidades, me vi forçada a aceitar, não são elegias da paixão. Podem até ser – sempre teremos Paris, sempre teremos Brasília como traço do arquiteto e gesto de pertencimento ao Brasil. Mas elas são muito mais do que isso. Já chego lá. No mesmo semestre, fiz um (precioso) frila para o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-BR). Durante dois meses, dediquei longas horas a ouvir todas as palestras degravadas de cinco seminários nos quais arquitetos e urbanistas, geógrafos, engenheiros, pesquisadores e planejadores discutiram as cidades contemporâneas, as brasileiras em especial. Várias vezes ressoava em mim a frase que ouvi de um arquiteto, há alguns anos, e que bateu como uma ofensa pessoal: O Plano Piloto é uma porcariazinha (na verdade, “porcariazinha” é a minha versão. A palavra usava foi mais escatológica!). Doeu pra caramba. Mas engoli. Ando cada vez mais disposta a me pôr em cheque, às minhas certezas e ao arra-
zoado que me sustenta – abismos contínuos para esta morta de medo. As aulas subterrâneas, a escuta do pensamento da arquitetura e do urbanismo militantes e a “porcariazinha” me viraram do avesso. Num dos seminários do CAU, o arquiteto Gilson Paranhos contou o que está fazendo na Codhab, a companhia de Desenvolvimento Habitacional do DF. Nada de Plano Piloto. Paranhos e equipe estão intervindo nas ocupações irregulares dos pobres – Sol Nascente, Pôr do Sol, por exemplo. Regularizando, dando escritura, ouvindo a comunidade e fazendo melhorias a partir da demanda dos moradores. O arquiteto e urbanista colombiano Gustavo Restrepo relatou como, em pouco mais de uma década, Medellín se transformou do quintal de Pablo Escobar numa cidade humana, funcional, com redução drástica no número de homicídios, com metrocable ligando os bairros periféricos ao centro da cidade – uma espécie de bondinho do Pão-de- Açúcar conectando as favelas à cidade lá embaixo. O Plano Piloto não é uma porcariazinha – para quem leva em conta que uma aldeia, uma tribo, um povo, uma cidade, uma Nação, uma ideia de mundo só existe verdadeiramente se sustentada por uma cosmogonia. Quem é pedra não sonha. Até o rio canta no seu correr pela vida. Mas consegui entender o que quis dizer o arquiteto: diante da complexidade dos
problemas de uma cidade de mais de 4 milhões de habitantes, incluindo os moradores do Entorno, os puxadinhos do Plano Piloto são um acne num corpo doente. Fazer ressoar no tempo a utopia dos anos 50/60 é habitar a cosmogonia – fundamental, pelo menos pra mim. Porém, contudo, todavia, utopia não enche barriga. Muito mais importante do que proteger o Plano Piloto é assegurar transporte de qualidade a quem mora fora do Plano – mobilidade urbana é a utopia das cidades contemporâneas. Arquitetos e urbanistas do mundo todo estão caindo das alturas: a profissão não pode mais se reduzir à expressão artística e à veleidade de assinar um edifício espetaculoso plantado no centro de uma grande cidade. Oscar Niemeyer é coisa do passado (acabo de perceber que não sei mais escrever Niemeyer!). Arquitetura e urbanismo devem estar a serviço das cidades e dos cidadãos. Arquitetos e urbanistas têm como função primordial pensar e propor soluções que melhorem a vida dos moradores das cidades – o mundo é uma bola urbana. Como disse Gustavo Restrepo: “A Arquitetura não é só estética, é ética. O que se passa dentro dos edifícios é o que as pessoas necessitam fazer, não é o que quer o arquiteto. As pessoas sabem o que querem. Nós temos que lhes perguntar, isso é ética”. Niemeyer (acertei!) deve estar se revirando no seu céu de arquiteto.
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