Roteiro 283

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Ano XVII • nº 283 Novembro de 2018

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Uma experiência que tem tudo pra dar certo: a fusão dos festivais Bar em Bar e Sabor Suíno


O Circuito que tem tudo pra mexer com você. Desafie seus limites, divirta-se com seu melhor amigo e aproveite para dançar muito no aulão aberto do

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No capítulo novidades gastronômicas damos destaque, ainda, à inauguração de uma nova casa de culinária italiana, o restaurante 'A mano, uma sociedade do chef Ronny Peterson, que trabalhou 19 anos no badalado Fasano e foi chef do Gero, com Carlos Rodrigues, Tiago Boita, Leandro Pompeu e André Sampaio. Entre os pratos principais, o salivante canelone recheado com pato e gratinado com parmesão, risoto de banana-da-terra e camarões (página 10). Os palcos e as telonas da cidade estão com programação bem alentada neste mês. No Complexo Cultural Dulcina de Morais começa dia 24 o Festival Dulcina, com workshops, exposições e nove peças de teatro, sete aqui de Brasília, uma de São Paulo e outra de Pernambuco. E o melhor, com entrada franca (página 32). Nas telonas, dois festivais vão deixar os cinéfilos enlouquecidos com tantas possibilidades de diversão: O cinema de Spike Lee, no CCBB, a partir do dia 20, e o Lobo Fest, Festival Internacional de Filmes, no Cine Brasília, a partir do dia 27. Não bastasse essa diversidade, há ainda a estreia de um documentário sobre o paisagista e pintor Burle Marx, de João Vargas Penna. Nele está a trajetória desse personagem fundamental na história de Brasília e do país. Em Luz Câmera Ação, a partir da página 38. Para fechar com chave de ouro a agenda musical de 2018, selecionamos para o leitor o que há de melhor em matéria de shows nacionais e internacionais. Começando pelos Mutantes, passando pelo retorno de Maria Bethânia com Zeca Pagodinho, Gal Costa, Caetano e filhos, e culminando com a apresentação da cantora inglesa Sarah Brightman, a soprano que mais vendeu discos no mundo. Difícil é escolher entra tanta coisa boa pra se ver! (página 28). Boa leitura e até dezembro. Maria Teresa Fernandes Editora

Divulgação

“Viva a melhor porção da vida”, conclamam os organizadores do festival Bar em Bar, já em sua 13ª bem sucedida edição. Desta vez, entretanto, a alegria de nove em cada dez botequeiros vem devidamente acompanhada por outro festival, que, aliás, combina muito bem com ele: o Sabor Suíno, em sua 9ª edição. Assim, unidos nessa saborosa comunhão, o Bar em Bar e o Sabor Suíno estarão, até 2 de dezembro, presentes em 27 estabelecimentos com pratos especialmente criados ao preço de R$ 30 e que harmonizam muito bem com a estupidamente gelada presente em todos eles. Essa verdadeira maratona do prazer botequeiro está em nossa matéria de capa (página 8).

28 graves&agudos Única artista a cantar na abertura de duas Olimpíadas (Barcelona e Pequim), a soprano inglesa Sarah Brightman fecha com chave de ouro a temporada musical de 2018.

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ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14, Conjunto 2, Casa 7, Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa Carlos Roberto Ferreira, com fotos de Samuel Fenix (Agência Joy) | Colaboradores Alexandre Marino, Alexandre Franco, Conceição Freitas, Heitor Menezes, Laís di Giorno, Lúcia Leão, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Teresa Mello, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle | Fotografia Rodrigo Ribeiro | Para anunciar 98275.0990 | Impressão Foxy Editora Gráfica Tiragem: 20.000 exemplares.

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ÁGUANABOCA

Beyti Restaurante

Bar Brasília

Saborosa parceria POR VICTOR CRUZEIRO

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ma grande parceria está na mesa, neste momento, na capital. Uma parceria de peso no nome e no sabor. Como já é de praxe, novembro é o mês do festival Bar em Bar, um dos mais importantes dedicados ao mundo dos petiscos, ao lado do Comida di Buteco, e que, juntamente com outros eventos, como o Brasil Sabor e o Restaurante Week, movimenta a cena gastronômica brasiliense, mesmo em tempos de crise (como essa que se avizinhou e insiste em lentamente se manter). Com esse espírito de busca de soluções para afastar os problemas e, ao mesmo tempo, de união de ideias para surpreender o público, a 12ª edição do Bar em Bar iniciou uma parceria com o Fes-

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Asa Norte

tival Sabor Suíno, que entra em sua 9ª edição, para juntos criarem um dos momentos mais diversificados e ricos da cena gastronômica brasiliense. Realizado desde 2009 pela Associação de Criadores de Suínos do Distrito Federal (DFSuin), o festival Sabor Suíno tem como objetivo promover a carne de porco e desmitificar seus vários preconceitos. Presta, assim, um duplo serviço ao consumidor, de informação e oferta, para tornar a carne suína um produto cada vez mais versátil, saudável e, claro, saboroso. Consagrado como um dos principais festivais gastronômicos de Brasília, o Sabor Suíno conta com o apoio financeiro do Sebrae-DF e reúne, todo ano, mais de 40 restaurantes dispostos a garantir o melhor paladar da iguaria, oferecendo pratos a preços promocionais.

Pastelaria do Beto

Assim, unidos por essa saborosa fusão, o Bar em Bar e o Sabor Suíno iniciaram o desfile de 27 estabelecimentos participantes que estarão – ou não – utilizando a carne suína na elaboração dos seus pratos, sempre ao preço promocional de R$ 30. Para o presidente da DFSuin, Ivo Jacó de Souza, é uma oportunidade de mostrar ao consumidor as qualidades não só da proteína suína como ingrediente, mas evidenciar a qualidade da carne produzida no Distrito Federal. “Tínhamos vontade de mudar o modelo do Sabor Suíno e, então, surgiu a oportunidade da parceria”, conta. “Resolvemos abraçar essa ideia na expectativa de receber um público maior e diferenciado das edições anteriores”. O objetivo da parceria é não apenas desmitificar a carne suína para o público frequentador de bares,

Godofredo

Oficina Burguer


La Rubia

Bar Brahma

do Lago Sul), que consiste em filé mignon suíno recheado de maçã caramelizada com açúcar mascavo, e o Óink, Uai! do Mandaka (Pistão Sul, Taguatinga), inspirado na culinária mineira, trazendo na chapa picanha suína assada na parrilla e fatiada, com macaxeira cozida, molho barbecue, berinjela escalivada e vinagrete. Para os menos afeitos ao sabor forte da carne suína há o Maria Bonita, do Godofredo (408 Norte), com bolinhos de abóbora recheados com carne seca refogada na manteiga de garrafa, acompanhados de geleia picante de manga. E para os vegetarianos há opções como o mix de tempurás do La Rubia Café (404 Norte), composto de tempurás veganos de lambari da horta, cenoura, vagem, chuchu, pequi e brócolis, acompanhados de molho picante de soja e gengibre. Com o tema “Viva a melhor porção da vida”, o Bar em Bar busca promover o caráter democrático e social dos bares, além de valorizar os produtores do DF.

Rodrigo Freire observa que, nos últimos anos, o festival tem orientado os estabelecimentos a sempre escolherem os ingredientes produzidos na região, valorizando os pequenos e médios produtores locais. Com a parceria iniciada este ano com a DFSuin é esperado que haja um fortalecimento da identidade gastronômica de Brasília, tão importante para que a cena se fortaleça, incentivando chefs e casas de todo o DF. Para aqueles que não perdem de vista o aspecto competitivo de um festival como esse haverá o concurso Os melhores do Bar em Bar, no qual jornalistas, parceiros e patrocinadores, entre outros convidados, visitarão as casas participantes para avaliar sete categorias: ambiente, atendimento, garçom destaque, bartender e drink, petisco, petisco suíno e cerveja ou chope mais gelado. Aproveitem! Bar em Bar & Sabor Suíno

Até 2/12 em 27 bares e restaurantes. Mais informações em www.df.abrasel.com.br. Fotos: Samuel Fenix (Agência Joy)

restaurantes e botecos, mas encantá-lo com receitas criativas que mostram novas possibilidades para esse ingrediente, harmonizando bem com cervejas, vinhos e até cachaças. Durante 18 dias, até 2 de dezembro, os bares e restaurantes participantes apresentarão suas criações exclusivas, que servem de uma a quatro pessoas. No entanto, ainda que seu formato seja de petiscos, os pratos oferecem mais do que somente um rápido aperitivo entre uma bebida e outra. O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do Distrito Federal (Abrasel-DF), Rodrigo Freire, afirma que os pratos foram criados para agradar a todos os tipos de público. “Temos menus individuais e para compartilhar, para os vegetarianos e os apaixonados por carne e também para quem prefere um petisco mais sofisticado”. Gratas surpresas estão, portanto, à espreita nessa próxima semana, como os 3 Porquinhos, do Dudu Bar Lago (QI 11

Raízes do Sertão

Villa Carioca

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ÁGUANABOCA

Requinte à italiana POR TERESA MELLO

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restaurante ‘A Mano nasceu em uma conversa na Quarta-Feira de Cinzas entre Carlos Rodrigues (ex-Fasano) e Tiago Boita (Otro Parrilla), sócio também do japonês Oma e que buscava uma maneira de incrementar o ponto na 411 Sul. “Você toparia uma sociedade?”, perguntou ao amigo Carlos. O assunto rendeu. Os empresários Leandro Pompeu e André Sampaio juntaram-se ao negócio, assim como Ronny Peterson, 19 anos de Fasano e exchef do Gero, do mesmo grupo, no Shopping Iguatemi Brasília. “Eu e o Ronny sempre tivemos o sonho de ter um restaurante”, diz o paulista Carlos Rodrigues, 39 anos, que também trabalhou como garçom em navios de cruzeiro pelo Mar Mediterrâneo. “Sentia aquela angústia, porque eu queria ter mais liberdade para criar, para colocar pratos novos”, completa Ronny Peterson, 37 anos, nascido em Serra Talhada (PE). Os dois colegas logo acharam um jeito de empreender: criaram há quatro anos o bufê Due Amici, que agora também faz parte da so-

ciedade com Tiago, Leandro e André. “O bufê cresceu demais, é o preferido dos políticos”, completa Carlos. A reforma do ponto na esquina da 411 Sul ficou a cargo da arquiteta Karla Amaral, que aproveitou o pé-direito alto para estender uma cortina de metal na entrada. Uma parede é forrada de pedra, e o uso de vidro permite que o verde da quadra traga luz natural para o ambiente. O local onde são feitas as massas ganha destaque: é quase uma vitrine para os olhos do público. O salão no térreo acomoda 80 pessoas e o mezanino, 24. Uma adega comporta 150 rótulos e é apontada como o diferencial do restaurante: “Hoje, um vinho atrai muito o cliente, e nós temos uma carta justa, com valores a preço de custo”, aponta Carlos, que contratou Ana Klara Carvalho como sommelier. A bebida, par perfeito para a culinária italiana, vem de países da América do Sul e também da Itália, da França (como o champanhe Dom Pérignon Vintage), de Portugal, da África do Sul e do Líbano. “Somos uma equipe de 40 pessoas, entre salão, cozinha e escritório”, calcu-

la Carlos, que divide com André o gerenciamento da casa, inaugurada no último dia 7. No atendimento às mesas, há dois maîtres, seis garçons (três trazidos de São Paulo) e seis ajudantes. E é na cozinha que o chef Ronny pensa, faz testes e aprova as criações. Ele leva em conta até mesmo as cores dos ingredientes para que sejam integradas, à


língua bovina assada no vinho tinto, o ossobuco de vitela baby com risoto de açafrão, o confit de pato ao molho de laranja, o carré de cordeiro grelhado. Mas, antes dos pratos principais, a etiqueta pede degustação de antepastos, certo? Que tal um carpaccio de camarão ou de filé mignon? A Insalata di Brie al Tartufo vem com queijo brie em massa folhada com mel trufado e salada baby. E o banquete se estende até os doces. O chef Ronny Peterson indica o trio de creme brûlée (com nutella, doce de leite e gengibre) e o creme de queijo mascar-

pone com pera assada no vinho tinto. Mas não deixe de provar o tiramisù. “É um menu mais enxuto para a inauguração”, classifica o chef. E precisa mais? Só um pouco de história. Além da vocação artesanal na gastronomia da casa, o nome do restaurante lembra o nascimento da capital do Brasil. “Oscar Niemeyer fez o desenho de Brasília à mão, é uma homenagem à cidade”, celebra Carlos. ‘A Mano

411 Sul, Bloco D (3245.8235). De 2ª a 5ª feira, das 12 às 15h e das 19 às 24h; 6ª e sábado, das 12 à 0h30; domingo, das 12 às 17h.

Fotos: Rayan Ribeiro

perfeição, com a louça: “Penso em uma massa de beterraba, que é vermelha, com um creme de abóbora, amarelo, porque a gente come também com o visual. Gosto de trabalhar com cores, porque elas despertam o palato, a memória gustativa”. A cozinha italiana tradicional ganha sofisticação pelas mãos do mestre, que carimba um toque de modernidade nas massas clássicas. O agnolotti é um ótimo exemplo. Ganhou recheio de leitoa caipira e molho de abóbora trufado (R$ 66). “O creme de abóbora com a proteína ficou valorizado com um toque de trufas negras”, explica. “E a gente nunca para, vai aprimorando o resultado”. É assim também com o nhoque de batata-doce com creme de couve-flor e lagosta (R$ 87). Além do próprio chef, um item faz toda a diferença: a farinha de trigo italiana 5 Stagione. “O cliente não sai daqui se sentindo pesado”, garante. “E é tudo artesanal, tudo cortado aqui, não há nada industrializado.” Até um simples espaguete recebe tinta de lula e a companhia de frutos do mar. No cardápio trilíngue do ‘A Mano há caneloni recheado com pato e gratinado com parmesão, risoto de banana-daterra e camarões e lasanha à bolonhesa clássica. A Bauletti di Manzo é feita de massa de batata recheada com filé mignon em cubos ao molho cremoso de funghi seco. Custa R$ 73. Outras delícias são o filé mignon ao molho marsala, a

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ÁGUANABOCA

Prazeroso aprendizado TEXTO E FOTOS LÚCIA LEÃO

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icardo de Souza é um contador tributarista cansado de se envolver e resolver problemas alheios. Sonha em dar uma guinada na vida montando uma confeitaria – na verdade, um ateliê culinário – e fornecer doces gourmets para lojas e recepções. Vera Boanngis procura uma alternativa profissional capaz de unir prazer e resultado financeiro e pensa montar em casa uma cozinha industrial voltada para confeitaria e panificação. Rafael Morbeck já é da área de restaurantes, mas atua na parte administrativa. Agora, quer botar a mão na massa. José Menk ama cozinhar para a família e amigos e não descarta, no futuro, oferecer seus serviços como “chef a domicílio”. Estes são alguns dos alunos da Cesco Gastronomia, escola de culinária que funciona há três meses em Águas Claras, sempre com turmas lotadas. “Eu sinto uma identidade muito grande com os alunos. Meu primeiro objetivo com a Cesco foi melhorar minha própria qualidade de vida. Com a escola em funciona-

mento, vi que é justamente isso, também, que eles vêm procurar aqui”, conta o chef Kiko Avelar. Cozinheiro formado pelo Senac, com cursos de especialização em culinária francesa na Le Cordon Bleu de Otawa, Canadá, e de gestão de alimentos e bebidas na UnB, Kiko vivenciou a prática em algumas das principais cozinhas de Brasília, como as do Le Français, Gazebo e Mercado Municipal. Chefiou as cozinhas do Paradiso Cine Bar e da Sorella Rotisseria e atuou como consultor e professor em várias escolas da cidade. Uma rotina pra lá de estressante, de quase 12 anos sem finais de semana nem noites livres, que o chef decidiu abandonar depois da chegada do filho Francesco, hoje com dois anos. Com o apoio dos muitos amigos que conquistou nos tempos do “batidão” das cozinhas, abriu a Cesco. “Graças ao apoio dos chefs que conheci ao longo de minha trajetória, conseguimos montar uma agenda de cursos de alta qualidade com preços muito acessíveis”, diz o chef-professor. As “Quintas Italianas” confirmam a

afirmação de Avelar. Carro-chefe da Cesco, são aulas de culinária ministradas sempre por chefs da FIC – Federazione Italiana Cuochi – que a cada semana ensinam a preparar um prato italiano da forma rigorosamente tradicional, sem nenhuma adaptação ou substituição de ingredientes. As aulas, nesse programa, têm duração média de uma hora e meia e custam R$ 20, com direito a degustação. Ana Cláudia Morale, única especializada em doceria entre os chefs brasilienses credenciados pela FIC, ensinou, em uma das “Quintas”, a preparar o verdadeiro tiramisù, uma das sobremesas mais conhecidas do mundo. O pavê à base de queijo mascarpone, café e vinho massala tem origem controversa. Uns dizem que sua criação remonta às cortes da Toscana do Século 16; outros afirmam que nasceu em bordéis italianos no início do Século 20. De qualquer sorte, todos garantem que tem poderes afrodisíacos. “Vocês vão ver por aí muita sobremesa preparada com leite condensado e chamada de tiramisù. É uma heresia! Se quiser colocar nozes, coloque, mas chame de


outro nome”, alerta Ana, enquanto mostra aos alunos a ciência de cada etapa do preparo até culminar na apresentação, polvilhando com cacau e finalizando com grãos de café. “O objetivo da FIC é promover a culinária italiana, o intercâmbio de conhecimentos e o apoio mútuo entre as pessoas que se dedicam a ela. É isso que fazemos nesse projeto”, explica a chef. Mas nem só da cozinha italiana vive a Cesco. Sua arquirrival gastronomia francesa e a nossa inigualável cozinha brasileira também têm lugar de destaque na grade da escola. Periodicamente, Kiko Avelar ministra, por exemplo, aulas-almoço de feijoada, que tem as vagas super disputadas. No próximo dia 30, o chef Fabien Helleu vai ensinar como era fácil agradar ao paladar quase simplório de Napoleão Bonaparte. Os alunos vão aprender a preparar seu cardápio preferido completo: a entrada de consommé de aspargos com profitéroles, “poulet Marengo” (frango com molho aveludado, preparado para Napoleão no dia em que seu exército venceu a Batalha de Merengo) como prato principal e gaufre à la crème (wafles com creme fresco) de sobremesa.

Os chefs Kiko Avelar e Ana Cláudia Morale.

As turmas têm no máximo 12 alunos, e o custo da hora-aula varia entre R$ 20 e R$120. “Não é só uma aula, é um ótimo programa! A gente aprende enquanto se diverte, come, bebe e conhece pessoas. Pretendo vir a todas as aulas

que puder”, promete a aluna Vera Boanngis, de olho no calendário da Cesco. Cesco Gastronomia

Rua 13 Norte, Vitrinni Shopping, Loja 172, Águas Claras (98639.0956 / 98535.4240) www.facebook.com/cescogastronomia.

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festival de música, cultura e arte 1 a 6 de março | luziânia-go-brasil

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Fotos: Luis Tajes

ÁGUANABOCA

Pura gentileza POR SÚSAN FARIA

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m café com jeito de Brasília, cheio de luminosidade, amplitude, imponente e com linhas simétricas. O Gentil Café, Pausa e Prosa acaba de abrir as portas na Asa Sul com o gosto daqueles que primam pelos detalhes, pelo bom-gosto. Na linha de frente, três irmãs: Patrícia, Michelle e Cristine, todas com o sobrenome herdado do bisavô paterno José Gentil, que tomaram emprestado para batizar a casa. As três nasceram em Fortaleza, mas chegaram ainda crianças a Brasília. Cresceram junto com a capital e vendo a mãe, Sarah, abastecer a casa com boa comida e atender às encomendas de doces, salgados e bolos. Agora, compartilham com os clientes essa herança culinária em ambiente para “um bom papo, um bom café, um bom vinho”, e onde acreditam que “gentileza gera gentileza”. “Nossos pais sempre abriram a casa com mesa farta”, conta a jornalista Cristine Gentil, que, junto com o marido, o fo-

tógrafo Luís Tajes, já faz sucesso com o food truck Se Essa Rua Fosse Minha, especializado em sanduíches de linguiças artesanais. Das receitas da mãe, Cristine destaca o bolo conhecido no Ceará como Amanda, recheado com doce de leite e castanha caramelizada (R$ 14 a fatia), o Romeu e Julieta, com goiabada e queijo da Serra da Canastra, e o bolo de laranja com calda de limão (ambos por R$ 11 a fatia). Cafés especiais de Minas Gerais não faltam na nova casa, que trabalha com o espresso e três métodos de cafés coados: V60, aeropress e prensa francesa. Os sanduíches (os mais sofisticados custam entre R$ 25 e R$ 30), as quiches, o empadão, as saladinhas, geleias, tortas e lanchinhos têm ingredientes leves e frescos, vindos de produtores locais. Os pães são artesanais, com fermentação natural. Com 110 m2, em dois ambientes, o Gentil Café atende até 70 pessoas sentadas. O projeto arquitetônico é de Simone Turíbio, da Choque Arquitetura, que privilegiou vidros bem transparentes e

as cores branco, cinza e preto. No teto do piso superior, externamente, idealizou uma onda de luz, quase escultural, com 300 lâmpadas pequenas alinhadas. Internamente, há o verde das plantas na jardineira em cima do balcão de atendimento. O piso é de porcelanato na cor de madeira clara; as mesas e cadeiras são da Franco Bachot, e as louças da Terracota, delicadas, pequenas e artesanais. A ideia de empreender começou com a nutricionista Patrícia Gentil, que fez cursos, se aprofundou na área e se juntou a Cristine e depois a Michelle, que trabalha no ramo de turismo. A reforma do prédio demorou seis meses, com alto investimento. Além de um bom café, a ideia é servir a um público que aprecia comida artesanal e de boa qualidade, com ingredientes saudáveis, em espaço aconchegante, ao som de música ambiente, descontraidamente, pelo prazer de comer, beber e prosear. Gentil Café, Pausa e Prosa

410 Sul, Bloco B (3546.8651) De 2ª a sábado, das 12 às 20h.


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PICADINHO

TERESA MELLO

Pétalas de rosa no prato “Antes que a tarde amanheça e a noite vire dia, põe poesia no café e café na poesia.” O verso de Paulo Leminski ilustra os guardanapos do Café du Centre, aberto em 17 de outubro em Águas Claras, perto da estação Arniqueiras (Rua das Pitangueiras). Em estilo neoclássico, a casa acomoda até 60 pessoas em dois salões ornados com cortinas drapeadas e lustres imponentes. Uma Torre Eiffel carregada de sachês de açúcar enfeita as 19 mesas. Mas luxo, mesmo, são as pétalas de rosa vermelha nos pratos. “Eu vi requinte nessa franquia, nesses detalhes. Na etapa final da obra, as pessoas pediam pra entrar aqui só pra olhar”, conta a empresária paulista Bruna Murillha, de 25 anos, que veio para Brasília há um ano e meio acompanhar o marido cardiologista. O cardápio da franquia de Itapema (SC) é um livro com cerca de 110 itens: há 40 tipos de cafés, chocolates e chás, 28 salgados, 22 croissants e 17 taças. Na preferência do público estão o croissant de Parma e brie, o de linguiça de Blumenau e o de Parma, gorgonzola, figo e mel. Entre as taças, a La Mairie vem com banana tostada no melado, biscoito, sorvete, calda de caramelo e nozes. Custa R$ 22. O Café du Centre leva espresso, leite, leite de coco, macadâmia e chantilly. Formada em Ciências dos Alimentos pela USP de Piracicaba (SP), Bruna alegra-se com o sucesso da casa: há fila de espera todas as tardes. A loja funciona de segunda-feira a sábado, das 15 às 20h.

Cozinhando com Francisco

Orgânicos no parque

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Fiel à ética de transmitir o que aprendeu, o chef catarinense Francisco Ansilliero convida os brasilienses para mais uma edição do curso Cozinhando com Francisco. “Quem não ensina o que aprendeu é um covarde”, decreta o mestre, citando frase do colega Laurent Suaudeau. As aulas serão às segundas-feiras, de 19 de novembro a 17 de dezembro, das 19h30 às 23h, no Dom Francisco da Asbac (SCES, Trecho 2). Em entrevista à Roteiro em julho, o chef disse: “Os lugares onde morei foram um laboratório de pesquisa, eu aprendi e ensinei também, porque, senão, como diria Sartre, você pisou inutilmente sobre a terra que o acolheu”. Nesta edição, os alunos terão, na primeira aula, ensinamentos básicos sobre temperos, ervas e molhos e ainda frango recheado, risotos e massas. Já na segunda e na terceira aulas quem define o cardápio é a própria turma. Em seguida, Francisco ensinará bacalhau grelhado, peru recheado e pato. E, na última, assado de tira suína, T-Bone suíno, javali e ganso. Preço do curso: R$ 1,2 mil. Inscrições e informações: 3224.8429 e 3226.2005.

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Que tal comprar produtos orgânicos com preços semelhantes ou mais em conta do que os praticados no sacolão e no supermercado? Os moradores de Águas Claras — 148,9 mil, segundo a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad/2016) da Codeplan — têm à disposição uma feirinha todo sábado, das 7 às 13h, com folhas, frutas, legumes, verduras e tubérculos trazidos bem cedo do Núcleo Rural do Lago Oeste. Lá, são cultivados sem agrotóxicos nos sítios Semente, Raiz, Florescer e Sintropia. Para se ter uma ideia, o pé de rúcula custa R$ 3,50; os de alface e de couve, R$ 3. A dúzia de ovo caipira sai a R$ 12, a caixa de morango a R$ 6 (valores de outubro). Há outros itens como café, mel, óleos essenciais, pão e cogumelo shiitake (200g a R$ 12). A feira orgânica é montada sob um grande toldo no Parque Ecológico de Águas Claras, perto da entrada da Unieuro.

Almoço executivo no Pontão O chef Lui Veronese criou um menu executivo especial para o Sallva, restaurante com ares praianos localizado no Pontão do Lago Sul: entrada, prato principal e sobremesa saem a R$ 59, no almoço de segunda a sexta-feira. São duas opções de entrada, três de principal e duas de sobremesa a cada dia. Algumas sugestões são brandade de peixe branco, saladinha Caprese com molho pesto e bolinho de arroz com queijo grana padano. Entre os principais, as opções são bife a cavalo, peixe branco grelhado com purê de abóbora e chips de batata, polpetone, moqueca de peixe, Saint Peter com creme de espinafre e batata rústica e massas frescas da casa. De sobremesa, o cardápio executivo oferece brownie com nozes, doce de leite e sorvete, canoli de ricota e profiteroles.

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picadinho.roteiro@gmail.com


Delivery em promoção

Chocotone trufado Imagine um chocotone com cobertura de cacau 80% e recheado com amêndoas de cacau e cristais de caramelo. Ele existe. É o Pérola Negra, lançamento da Chocolateria Brasileira dentro da linha Delícias de Natal. O pão doce tem 700g e custa R$ 115. Outros tipos de panetone são os trufados, vendidos em embalagens de 700g a R$ 64,90: Puro Cacau (recheio de cacau e cobertura de chocolate amargo), Doce de Leite (doce de leite e cobertura de chocolate ao leite) e Tradicional (chocolate ao leite e nozes). No mercado desde 2015, a rede com sede em Marília (SP) é comandada, desde o ano passado, por Christian Neugebauer, herdeiro de família tradicional do setor de confeitaria e chocolates — em 1891, o alemão Franz Neugebauer abriu a primeira fábrica de chocolate no Rio Grande do Sul. Hoje, das cerca de 20 franquias no Brasil, há quatro delas em Brasília: no Park Shopping, no Venâncio Shopping, no Sudoeste (Quadra 303, Bloco C) e em Águas Claras (Rua 35 Sul). O empresário acalenta plano ousado de expansão, com expectativa de inaugurar 400 unidades em dez anos, sendo 240 delas no Sudeste.

Em temporada de chuva, pedir comida em casa é uma comodidade e tanto. O Empório Árabe e a Dolce Far Niente criaram estrutura para fazer entrega em regiões como Plano Piloto, Águas Claras, Guará 1 e 2 (até a QE 38), Lago Sul (quadras 1 a 15), Park Way (quadras 1 a 5), Taguatinga Norte (da QNA à QNF) e Taguatinga Sul (da QSA à QSE). As taxas de entrega variam de R$ 5 a R$ 15. Há duas promoções, válidas de segunda a quinta-feira, das 18 às 23h, pelo telefone 3451.4750. Uma delas é o Combo Rafiq (quatro esfihas, dois quibes recheados fritos e 1,5 litro de refrigerante) por R$ 31,90 mais a taxa. A outra oferta é a pizza. Se você pedir uma grande, ganha 50% de desconto na segunda unidade (menos as com sorvete). O Empório Árabe funciona diariamente, das 10 às 24h (Águas Claras) e das 11 às 24h (215 Sul); a Dolce Far Niente da 215 Sul abre às 18h, de terça a quinta, e das 11h30 às 15h e das 18 às 24h de sexta a domingo; em Águas Claras, a loja abre às 18h, de segunda a quinta, e, de sexta a domingo, das 11h30 às 15h e das 18 às 24h.

Thiago Bueno

São seis sanduíches e seis porções, quase tudo com nomes de raças de cães. Desde 25 de outubro, as criações do chef Henrique Fogaça, do programa de TV MasterChef Profissionais, estão mais acessíveis aos brasilienses com a inauguração da segunda unidade do gastropub Cão Véio — a primeira abriu em junho de 2017 na 404 Sul. Instalada em contêiner no Espaço Yurb (SCES, ao lado do Pier 21), funciona de quinta a domingo, das 17 às 24h. Entre os hambúrgueres, o Mastim é servido no pão caseiro, recheado com cupim assado, manteiga de garrafa e vinagrete. Custa R$ 32. Já o Shiba Inu leva angus, queijo-brie, tomate-cereja, cebola roxa e rúcula no pão de brioche, e o Bulldog Inglês chega com angus, cheddar inglês, bacon e cebola roxa no pão preto. As batatas rústicas com alho e alecrim custam R$ 14. Outras porções incluem o Fila Brasileiro (filé mignon empanado com queijo gruyère e gorgonzola, por R$ 32) e o Espírito de Porco (costela suína em molho de pimenta defumada com maracujá, por R$ 43).

Chefs no shopping André Castro, Daniel Briand, Marcelo Petrarca, Simon Lau e Paola Corasella estarão na 2ª edição do Mercado Mundi, de 23 a 25 de novembro, no Taguatinga Shopping, das 12 às 22h. Alimentação de qualidade, sustentável e que valoriza o pequeno produtor rural são as bases da programação, que recebeu curadoria do chef e professor de Gastronomia Sebastian Parasole (Iesb) e de Jean Marconi (Slow Food Cerrado). Haverá aulas-show e conferências, além de estandes com produtos artesanais. Tudo com entrada franca, mas é preciso se inscrever para aulas e conferências no site www.mercadomundi.com. Veja algumas exposições:

Na agenda pra você Divulgação

Divulgação

Hambúrguer de grife

Dias 21 e 28/11: Pátio Gourmet — Receitas de Natal. Dia 21, às 19h30, panetone salgado, com a chef Kézia Pimentel, e dia 28, às 19h30, harmonização de espumantes com chocolate, com o sommelier Tiago Pereira. No Pátio Brasil, 3º piso. Capacidade: 24 alunos. Inscrições gratuitas: 2107.7404. De 29/11 a 1/12 e de 7 a 9/12: French Wine Scholar. Curso da instituição paulista Eno Cultura sobre regiões vinícolas da França, incluindo castas, viticultura e vinificação, com os professores Zeh Lima, Ferrazzo, Fábio Lobosco e Vinícius Miranda. Degustação, apostila, exame e certificado. Na Adega Almeida (710/711 Norte, Bloco F). Preço: R$ 4,5 mil. Informações: www.enocultura.com.br.

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GARFADAS&GOLES

LUIZ RECENA

Voltar-voltar-voltar: viva México! “Volver, volver y volver... a tus brazos otra vez”. A memória da canção acalenta o abraço que recebe um antigo parceiro no aeroporto. O aeródromo cresceu e a cidade mais ainda. A cidade do México, antigo Dêfe (DF), tem hoje mais de 20 milhões de habitantes e fez o que pôde para acompanhar esse gigantismo. Com foco no tráfego e na mobilidade, tem hoje várias opções de transporte urbano, um metrô que chega a quase 90% da cidade e auxiliares em rodas, tipo ônibus papa-filas, vans de todos os naipes e um aracnídeo gigantesco de viadutos, vias expressas, anéis, corredores especiais, enfim, tudo para ajudar o caos da cidade. Só que o caos é próprio dela, da cidade, desde quando a conheci, há 45 anos. Melhor: quando a vi por vez primeira, pois nunca a conheci de verdade. Passei mais de ano investigando, a pé, de ônibus, eletrobus e ainda bondes centenários, pela avenida Revolución até o campus da Universidad Autónoma de México, UNAM, com quase cem mil estudantes. O DF tinha só dez milhões de pessoas na época. Apenas... O Campus até diminuiu e a cidade não parou de crescer. Mega, enorme, gigante, é por aí o caminho das definições desse lugar cheio de encantos, lembranças, histórias. História: é o que esse encantado país tem muito, de sobra. No mundo antes do Cristo: Mayas, Aztecas, México; na época do Cristo: Mayas, Aztecas, Mexicas: México. Na barbárie espanhola: Aztecas, México; nos tempos modernos: espanhóis, americanos, México. UM COLUNISTA NÃO deve usar seu espaço para acertar contas com quem maltratou “su pays amado”. A história tarda, mas não falha. Os espanhóis sempre mataram. O último massacre foi em 1968, mais de dois mil jovens, de segundo grau e universitários. A Olimpíada não podia ser manchada por protestos. Só por sangue inocente. E assim foi. Esses descendentes hispânicos passaram, foram tragados por americanos e hoje não passam de capital associado. “Gachupines comprados por los gringos”. É a mais perfeita tradução do novo século em um país estruturado desde antes do começo dos tempos.

México segue nos seus pratos. DESAYUNO, DESJEJUM, CAFÉ DA MANHÃ. No México é uma refeição: ovos, presunto ou bacon, tutu de feijão, tortillas de milho, pães variados, geleias, frutas, sucos, queijos, café, leite, creme, etecetera, porque pode ter mais. Quem decide é o cliente, ou sua fome e ressaca. Tá sem fome? Então não come, chama o home! Sempre haverá uma sugestão para resolver seu drama alimentar. Com sustância e muito prazer. O ALMOÇO TAMBÉM SURPREENDE, principalmente aos que imitamos algum sistema “diz-que” eficiente porque cumpre horários definidos. Os mexicanos almoçam depois das duas, três da tarde. Com calma. Come-se entradinhas de pão ou tostaditas com guacamole, seguidas de um prato mais forte, uma salada, arroz, por fim um doce, se ainda couber. Para beber? Água, suco, um aperitivo, cerveja. Uma taça de vinho é possível, mas ainda não em todo lugar. ENTÃO A NOITE CHEGA e com ela os fantasmas e os espíritos que habitam o vale e vulcões que rodeiam a cidade gigante. Ela sente e se encolhe. Em posição de defesa. Afinal, foi abordada por gente hostil durante séculos, que somados fazem milênios. A cidade é menina. Agora menina sabida: não é mais tão simples enganá-la. Ao resistir, mostra além da gastronomia mexicana famosa, saborosa. Apresenta o que atraiu: o modernismo de uma centena de países que se misturam com a cozinha básica do México. E os restaurantes da noite, além de tudo, têm cartas de vinho. Médias, na média. E os “gachupines” que dominam boa parte do negócio, tentam proteger La Rioja, o que não é ruim. Argentinos, chilenos e outros enfrentam a concorrência. O que é sempre bom. A noite é farta: dos pratos mexicanos (moles, tacos, enchiladas), até os novos: filés, massas, camarões, vasta oferta. Enorme como é a cidade do México. Voltar y volver confortam.

AS DELÍCIAS DE MINAS PERTINHO DE VOCÊ 18

lrecena@hotmail.com

Queijos, doces, biscoitos, castanhas, pão de queijo, pimentas, farinhas, polvilho caipira, massa para tapioca, mel, manteiga, cachaças, linguiça, frango e ovos caipira.

Av. Castanheiras, Ed. Ônix Bl. A - Loja 2 - Águas Claras


PÃO&VINHO

ALEXANDRE FRANCO

Vive la France! Há muito que me rendi aos fatos do consumo de vinhos de alta qualidade e reconheci que na faixa dos super premium os melhores vinhos, como concentração de produção, se originam da França. É certo que há vinhos maravilhosos de outras tantas procedências, da Itália, da Espanha, de Portugal e de tantos lugares do dito Novo Mundo, mas, mais cedo ou mais tarde, nos rendemos aos franceses. Assim, neste mês escolhi quatro grandes franceses para trazer ao leitor. Iniciemos com um dos grandes brancos a se produzir por lá. Em pleno Vale do Loire, região muito conhecida pela grande concentração dos mais belos castelos franceses, às margens do Rio Loire, encontramos a AOC Poully Fumé, onde reina a Sauvignon Blanc em todo seu esplendor. O nome deriva de um aspecto visual e de outro aromático. A Sauvignon Blanc ali, na sua plena maturidade, apresenta um aspecto visual como que revestido de um cinza cor de fumaça, e os aromas desses vinhos, ao menos dos melhores, trazem nuances claramente “esfumaçadas”, o que os torna muito agradáveis ao nariz. Dali, degustei recentemente o excelente Poully Fumé Florilege 2016, de Jonathan Didier Pabiot, um verdadeiro vinhateiro artesão, como indicado em seu rótulo. De cor amarela esverdeada, traz um nariz muito agradável e complexo com fumaça, maçã verde e margaridas silvestres. No palato tem bom corpo, ótima acidez e boa mineralidade, além de um final cremoso excelente. Muito elegante e perfeito com frutos do mar. Depois vamos à área vinculada ao Papado de Avignon. A Aoc de Chateauneuf-du-Pape é a mais importante

pao&vinho@agenciaalo.com.br

produtora de vinhos de alta qualidade do Ródano e se caracteriza por vinhos elegantes e marcantes, produzidos quase sempre a partir de assemblages de diversas uvas, tendo como protagonista a Grenache, mas podendo aproveitar muitas outras castas como Cinsault, Counoise, Mourvèdre, Muscardin, Syrah, Terret Noir e Vaccarèse. Um dos meus preferidos é o Domaine de La Solitude 2004 – Cuvée Barberini. Rubi denso, com aromas de terra e fruta negra, além de nuances de chocolate, café e kirsh. Na boca inicia denso e vai ficando mais leve, com tons herbáceos e agradável amargor no final. Bom vinho! Em seguida, duas estrelas daquela que é provavelmente a região vinícola mais conhecida e procurada do mundo, Bordeaux. Trouxe aqui o ótimo Cateau Talbot 2010, de Saint-Julien, e o excelente Château Siran 1995, da minha sub-região preferida, Margaux. Primeiro o Talbot 2010, aclamado por Parker com 94 pontos, apresenta uma cor purpura e um nariz bastante complexo que traz frutas vermelhas maduras, cedro, ameixas, creme de cassis e agradável toque mentolado ao final. No palato tem ótimo corpo e grande equilíbrio, é redondo, com taninos delicados e final longo. Vinho extremamente elegante. Por fim, o Siran 1995, já devidamente maduro, apresentou cor rubi com nariz de impressões de outono, além de café, chocolate e trufas. Depois vieram cerejas negras, terra e mineralidade. Aromas complexos e agradáveis. Na boca, tem corpo equilibrado, com ótima acidez e taninos excepcionais típicos da sua maturidade, e retorna o café, além de frutas vermelhas e negras. Grande vinho!

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Daniel Zukko

DIA&NOITE

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E não é que haverá um toque brasileiro na próxima apresentação do circo canadense? Graças ao talento da coreógrafa brasileira Deborah Colker, o espetáculo Ovo vai ter bossa nova, samba, xaxado e até funk. Hora, então, de separar uma parte do 13º salário para conseguir entrar no Ginásio Nilson Nelson entre 5 e 13 de abril do próximo ano, pois os ingressos custarão entre R$ 130 e R$ 550. O espetáculo retrata as mudanças em um ecossistema de insetos quando um ovo misterioso aparece. Desse ovo, que representa o enigma e os ciclos da vida, surge um inseto desajeitado e estranho que fica encantado por uma bela joaninha. Começa aí uma história de amor cheia de desafios. Os ingressos já estão à venda para clientes do Bradesco. Para os demais, só a partir de 1º de dezembro, na bilheteria oficial (sem taxa de conveniência), no Shopping ID, ou no site www.tudus.com.br, com taxa.

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“Temos carnaval, circo, teatro e a junção das artes. Ao sair do espetáculo, gostaria que o público dissesse que viu algo novo no cenário do circo no Brasil. Um circo estudado, que emociona e contagia com alto nível técnico e números circenses contagiantes. E que, através da emoção, descobrisse curiosidades da vida brasileira e do nosso passado”. É Gustavo Lobo, fundador e criador da Companhia Rudá, quem resume o espetáculo Marabá, montado até 2 de dezembro no estacionamento do Boulevard Shopping. Trata-se de uma proposta de olhar para a identidade do povo brasileiro e suas influências, representado pelo herói da história, Marabá, nome que em tupi-guarani significa mistura de raças. Gustavo já passou por algumas das principais companhias circenses do mundo, como as canadenses Cirque Du Soleil e Cirque Eloize e a suíça Teatro Sunil de Daniele Finzi Pasca, em turnês mundiais ao longo de dez anos. Ingressos a partir de R$ 25, à venda no quiosque do Circo Rudá, no Boulervard Shopping, e no site www.circoruda.com.

vivaluna Ela tem só seis anos e ama a Ciência. Curiosa e destemida, Luna não sossega até conseguir responder à pergunta: “O que está acontecendo aqui? Eu quero saber! Eu preciso saber!”. Luna, a cientista mais querida das crianças, fará um show inédito, dia 25 de novembro, às 15h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães! O espetáculo traz Luna, Júpiter e Cláudio numa incrível aventura de Natal. Ela estreou no Brasil, mais exatamente no canal Discovery Kids, em 13 de outubro de 2014. A cada episódio, uma curiosidade é abordada, seja no quintal da casa de Luna ou na praia, onde, sem saber, Luna, seu irmão mais novo, Júpiter, de quatro anos, e o furão de estimação da família, Cláudio, praticam ciência diariamente, formulando hipóteses e fazendo experimentos. Às 15h, com ingressos entre R$ 30 e R$ 160, à venda nas lojas Cia Toy e no site www.naoperco.com, com taxa de conveniência.

megabazardenatal A cada ano ele fica maior. Desta vez estará no Estádio Mané Garrincha, entre 6 e 9 de dezembro. Vem aí o Bazar do Rema, promovido há 42 anos pela Casa Espírita Recanto de Maria, do Lago Sul. Estarão à venda mais de dez mil peças distribuídas em dez seções: Natal, Infantil, Baby, Decoração, Cantinho do Lar, Cantinho da Etiennete (casa de docesa), Crochê, Bijouterias, Garage Sale e Brechó, além de restaurante e lanchonete. O Bazar do Rema, ao lado de uma pequena editora de livros espíritas, é a única fonte de renda da Casa Espírita Recanto de Maria. Lá não se paga nem mensalidade nem dízimo, mas os voluntários produzem objetos para serem vendidas no bazar, em madeira e em tecido, além de colaborarem na cozinha do restaurante e da lanchonete.

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A deusa do amor, a atômica Gilda. O clássico de 1946, de Charles Vidor, imortalizou Rita Hayworth como a diva emblemática do cinema noir por sua incomum tensão sexual para a época. Dia 21 de novembro, às 19h, o Cine Brasília exibe o filme da protagonista símbolo do star system hollywoodiano e lança também o livro Rita Hayworth – Cinema, dança, paixão, do jornalista e escritor italiano Claudio Valentinetti, que mora em Brasília e estará presente para autografar o livro, primeiro título em português das edições Artdigiland (R$ 40). Na obra, detalhes da vida e da carreira da atriz que participou de mais de 60 filmes (Sangue e areia, A dama de Shanghai, entre outros) e teve cinco maridos, entre eles Orson Welles. Rita começou sua carreira como dançarina nos espetáculos da escola de flamenco da sua família. Gilda, assim como Rita Hayworth, se notabilizaria por encarnar uma nova visão da mulher. “Nunca houve uma mulher como Gilda!”, já dizia o pôster do filme. Uma diva que, entretanto, nunca obteve aquilo que sempre desejou: a felicidade familiar. A comemoração marca os cem anos de nascimento de Rita Hayworth, completados no último 17 de outubro.

Daniel Zukko

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Luís Humberto

pequenascoisas As fotos que produziu ao longo de sua extensa carreira no fotojornalismo mostram um indivíduo interessado em olhar para os detalhes que compõem e dão sustentação a uma grande cena pictórica. Nesses detalhes, que podem ser pontos de cor ou luz em uma foto de uma multidão que caminha na rua, crianças correndo na Praça dos Três Poderes ou cenas do poder, residem a sustentação e o entendimento da importância da obra do artista. Na mostra A reforma do olhar possível, em cartaz no Museu da República até 5 de janeiro, o veterano Luis Humberto apresenta 45 imagens clicadas recentemente, resultado de um processo de mudança de paradigma, sua relação com a câmera e o espaço. O fotógrafo de 84 anos precisou começar a usar cadeira de rodas, mas essa nova realidade não o impediu de olhar o universo ao seu redor e observar e retratar a luz que entra pela janela ou os objetos que parecem banais. A reforma do olhar possível traz em si uma “dupla militância do possível”, tanto do olhar quanto da reforma. “É algo sempre penoso. O olhar também é submetido aos novos limites. Agora, meu olhar passa a navegar em outros mares”, afirma o fotógrafo e professor que formou e inspirou várias gerações de fotógrafos. De terça a domingo, das 9 às 18h30, com entrada franca.

mpbnastelas Alexandre Zilahi

trêsestilos Três amigos de Brasília que se encontraram pelo amor às artes plásticas. Paulo Maurício, Roselena Campos e Stella Lopes expõem seus trabalhos na mostra Três nomes, três artistas, três amigos, em cartaz na Pátio Galeria até 1º de dezembro. O primeiro usa características da pop art em suas telas, utilizando cores vibrantes e fortes pinceladas na representação de imagens centradas em temas do cotidiano. Em um trabalho autoral que suscita reflexões poéticas acerca de conceitos como beleza, cor, vazio, ausência e presença, Roselena (foto) cria pinturas, esculturas, objetos, mosaicos e cerâmicas, em diferentes suportes e materiais. Artista visual que transita pela arte em diferentes técnicas e pelo design de jóias e de interiores, Stella acumula vasta experiência em organização, produção e curadoria. De segunda a sábado, das 10 às 22h; domingos e feriados, das 13 às 22h. Entrada franca.

Da mistura de sua paixão por música e pintura nasceu a exposição Música, tons e cores, em cartaz no CTJHall (706/906 Sul) até 7 de dezembro. A série de 60 obras produzidas pelo maestro e pintor Alexandre Zilahi poetiza o elo da música com as artes plásticas. São aquarelas e telas em acrílico que retratam compositores, instrumentistas e grandes intérpretes da MPB, entre eles Tom Jobim, Dorival Caymmi, Gilberto Gil e Elis Regina, mas também expoentes da música internacional, como Elvis Presley. “Minha arte está entrelaçada entre sons e cores”, afirma Zilahi, um arranjador e regente paulistano que dirigiu e criou inúmeros corais de São Paulo e em outros Estados, e atuou como maestro arranjador do TUCA (Teatro da Universidade Católica). Saindo da batuta e assumindo a aquarela, necessário dizer que Zilahi tem habilitação em Artes Plásticas e cursou mestrado em Artes Visuais na Unesp. Estudou desenho com Zilahi Sándor, seu pai, e José de Arruda Penteado, pintura a óleo/acrílica com Alcindo Moreira Filho e Percival Tirapeli e xilogravura com Hélio Vinci. De segunda a sexta, das 9 às 21h, e sábados, das 8 às 12h. Entrada franca.

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Bento Viana

urbanabrasília Vinte e quatro imagens de uma cidade cheia de vitalidade, intensidade e energia que registram os detalhes com suas texturas, formas e diferentes ângulos, revelando nuances de esculturas vivas esculpidas pelo cerrado ou criadas pelos monumentos arquiteturais espalhados por Brasília. Os registros foram feitos pelo fotógrafo Bento Viana e estão expostos na sede da Brasal do SIA, Trecho 2. Ele chegou a Brasília aos oito anos de idade e logo foi impactado pelo azul do céu, o vermelho do barro e os vastos espaços. Geógrafo de formação, costuma definir bem porque escolheu a fotografia como profissão. “Cursei geografia para entender como a terra é escrita, enquanto a fotografia me ensina como escrever com a luz”, diz Bento. “Estávamos à procura de ícones para ilustrar a relação entre a casa e a cidade e as fotos do Bento se mostraram perfeitas para ilustrar essa Brasília urbana, cheia de exclusividade , assim como nosso produto", afirma Cristiane Maruyama, gerente da Brasal. A exposição Urbana Brasília: vivacidade pode ser vista de segunda a sexta-feira, das 9 às 18h.

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músicasdasreligiões Tendo as filosofias espirituais como foco, o Lótus Festival chega ao Museu da República nos dias 30 de novembro, 1º e 2 de dezembro com propostas musicais que remetem ao universo do pensamento sobre a vida, o amor e o cósmico. Música das religiões de matrizes africanas, dos indígenas, dos rituais da União do Vegetal e Indiana e práticas de meditação estão na programação, que conta com a participação de Renata Jambeiro (foto), André Luiz Oliveira, Arun e Ha Ono Beko, de Brasília, Pedra Branca (SP), Juraildes da Cruz (GO), Djuena Tikuna (AM) e Mawaca (SP). Estão programadas ainda uma palestra, uma feira, oficinas para crianças, além de atividades como práticas meditativas e de bem-estar, realizadas em quatro parques da cidade. Entrada franca.

Assim foi batizado o novo espetáculo de dança da Oficina Flamenca, a ocupar o palco do Teatro dos Bancários (314/315 Sul) dia 30 de novembro, a partir das 20h30. De acordo com as irmãs Patrícia e Renata El-moor, diretoras da escola, em todo o mundo, a expressão ¡Olé! é utilizada para animar músicos e bailaores flamencos, manifestando entusiasmo durante alguma atuação. “Ainda que não se saiba a origem exata da palavra, o que temos certeza é como a utilizamos. Tanto o público quanto os artistas costumam fazer uso dessa expressão para transmitir alegria, emoção, força e paixão”, explica Patrícia. O espetáculo contará com a participação de alunos, alunas e professores da escola, que este ano completa duas décadas de ensino e difusão da cultura flamenca em Brasília. Ingressos a R$ 60 e R$ 30, à venda na bilheteria do teatro e na secretaria da escola (110 Norte, A, loja 73), de segunda a quintafeira, das 17 às 21h, e sábados, das 9 às 12h.

Esse é o curioso nome da banda independente que lança seu terceiro CD, Tónus, dia 29 de novembro, às 19h30, no Pier 21. Um dos grandes destaques do novo cenário da música independente brasileira, a banda goiana formada em 2014 mescla referências de rock dos anos 70 e MPB em canções com pendor pop. A abertura ficará a cargo da brasiliense Raquel Reis. Os dois primeiros LPs (Carne doce, de 2014, e Princesa, de 2016) receberam indicações a prêmios musicais e entraram nas principais listas de melhores discos do ano. O novo trabalho mostra a busca do quinteto pela produção de um material essencialmente intimista, com um cuidado que se reflete na composição dos arranjos e versos. Os músicos da Carne doce prometem fazer um show enérgico, protagonizado pela performance da vocalista e compositora Salma Jô (voz e efeitos), que divide o palco com Macloys Aquino (guitarra), Anderson Maia (baixo), João Victor Santana (guitarra) e Ricardo Machado (bateria). A produção das dez faixas ficou por conta do guitarrista João Victor Santana e o disco ainda tem colaboração do músico Fernando Almeida Filho (Boogarins) em duas composições. Entrada franca.

De que forma a arte pode ajudar a ciência e a tecnologia a se tornarem mais acessíveis e democráticas ao público? É o que procura responder a exposição A-riscado ACT: Arte, Ciência e Tecnologia, em cartaz no Museu da República entre 23 de novembro e 13 de janeiro. Na abertura, representantes do Museu do Amanhã, do brasiliense Biotic e do Museu de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul participam de seminário sob a coordenação de Laércio Faccioli. A mostra tem curadoria de Wagner Barja e Gilberto Lacerda Santos e participação dos artistas Allan de Lana, Alexandre Rangel, André Severo, Arthur Cordeiro, Cirilo Quartim, João Angelini, Márcio Vilela, Márcio Mota (foto), Miguel Ferreira, Miguel Simão, Milton Marques, Tânia Fraga e dos alunos artistas Frederico Krauser, Isa Sara Rego, Leona Raio Laser e Tarcísio Paniago. Buscar confluências entre a arte, a ciência e a tecnologia é imperativo, segundo os participantes. Mas é a-riscado... “Nos tempos atuais, é preciso duvidar, porque as certezas foram abolidas. E o principal paradigma da arte atual é instalar a dúvida e não as certezas buscadas pela ciência ou por uma arte tradicional”, afirmam os curadores da exposição, que tem patrocínio da Fundação de Apoio à Pesquisa do DF.

Rafael Rocha

arteeciência

Rafael Rocha

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¡olé!

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Angie Bazzana

GRAVES&AGUDOS

Sarah Brightman

Chave de ouro D

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ois mil e dezoito já avista a esquina (vai dobrar e sumir do mapa) e, embora fazer balanço seja o ó do borogodó, pensando bem, o ano foi interessante para o mercado de entretenimento musical, em Brasília. Shows como o de Roger Waters, lotando o Mané Garrincha, servem como exemplo de como a economia gosta de ver as coisas. O governo diz: Oba! Isso movimenta o turismo, o comércio, gera empregos e impostos, tudo em números altos. E deixa feliz o infeliz fã de música, que faz o suado dinheirinho pagar a conta. Mas as coisas não acabaram. Ao contrário, a temporada segue quente, com grandes atrações em curto espaço de tempo. Começando pelos Mutantes, patrimônio psicodélico brazuca e mundial, firme e forte sob a liderança de Sérgio Dias. Na quinta-feira, 22, clássicos como Baby, Panis et circenses e Caminhante notur-

no ecoarão pela 312 Norte, na 38ª Noite Cultural T-Bone. Na sexta, 23, dica boa é conferir, no Outro Calaf (Setor Bancário Sul), os perAnatole-Klapouch

POR HEITOR MENEZES

Lobão

nambucanos Eddie, orgulho de Manguetown, desta vez lançando o mais recente trabalho, Mundo engano, o sétimo da discografia, produzido pelo requisitado Pupillo Menezes (ex-Nação Zumbi). Os guerreiros querem se esbaldar? Não tem problema, o lance é o Favela Sounds – Festival Internacional de Cultura da Periferia, parada musical, dias 23 e 24, na área externa do Museu Nacional. No primeiro dia, o espaço Favela Sônica abriga baile de, entre outros, Flora Matos, Deize Tigrona e Preta Rara. Dia seguinte, o lance fica por conta de, entre outros, Drik Barbosa, Na Batida do Morro, Forró Red Light e Rico Dalasam. Vai rolar homenagem a Mr. Catra, funkeiro falecido em setembro passado. Dia 24, ali perto, no Museu dos Correios (Setor Comercial Sul), quem comanda o som é o grande guitarrista (de Taguatinga para o mundo) Dillo D’Araujo, em mais uma oportunidade de mostrar seu projeto Guitarrafrika.


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Concerto Negro, que vai juntar, na Caixa Cultural o grande Martinho da Vila na companhia de atrações como a Orquestra Zumbi dos Palmares, o Coral da Família Alcântara de Minas Gerais e o Desfile Beleza Negra, tudo no contexto da Semana da Consciência Negra. Criado há 30 anos pelo cantor e o maestro Leonardo Bruno, o projeto promove a fusão de música popular e erudita sob o viés da cultura afro-brasileira. O desfile ocorre no domingo, 25. Programa recomendadíssimo. Eterna Musa da Tropicália, Gal Costa volta a dar um rolê em Brasília, dia 25, no CCUG. Com o recém-lançado álbum A pele do futuro, inspirado na black music dos anos 1970, Gal inicia turnê da nova empreitada, dia 1° de dezembro, em São Paulo. Antes, porém, traz à capital o show intimista Espelho d’água, no qual, acompanhada apenas do guitarrista Guilherme Monteiro, desfila canções icônicas do estilo Meu nome é Gal, Vaca profana, Vapor barato e Baby. Diferente para os nossos padrões, e justamente por isso, programa altamente recomendável é a presença entre nós da cantora inglesa Sarah Brightman, terçafeira, 27, no CCUG. Considerada a soprano que mais vendeu discos no mundo, Brightman coleciona reconhecimento e números estratosféricos no mundo da música. Tudo graças ao talento que junta canto, composição, atuação teatral, dança e música. Ao que consta, foi a única artista a cantar na abertura de duas Olimpíadas, vistas por bilhões de pessoas: Barcelona (1992), em dueto com José Divulgação

Acompanhado de Lucas Tufas (baixo) e Robinho Batera (bateria), Dillo mostra a interessante pesquisa empreendida em campo, na África do Sul. O resultado são as matrizes rítmicas africanas misturadas com a guitarrada do Pará, o mundo e além. O showcase é parte de homenagens à Semana da Consciência Negra. Lobão deixou a barba crescer e agora realmente está com cara de lobão. O cantor carioca João Luiz Woerdenbag Filho (segundo a certidão de nascimento) também viu crescer a polêmica em torno de sua trajetória artística e pessoal. Tudo isso e mais alguma coisa, como Me chama, Corações psicodélicos, Vida louca vida e Decadence avec elegance, clássicos do BRock, estarão à disposição no show Lobão & Os Eremitas da Montanha, no contexto do Festival Churrasck’n’Roll – Edição 15 anos, dia 24, no Estádio Mané Garrincha. O disco Antologia politicamente incorreta dos anos 80 pelo tock é a base do som Lobão. Recordar é viver: dia 30 de maio, a inacreditável greve dos caminhoneiros chegava ao décimo dia provocando aquele estrago geral. Nesse mesmo dia, mesmo sem gasolina, muita gente lotou o Centro de Convenções Ulysses Guimarães para assistir à inédita parceria de Maria Bethânia com Zeca Pagodinho. Devido ao sucesso, a dupla volta à capital com o show De Santo Amaro a Xerém, desta vez com a turnê de lançamento do CD/DVD que registra a união. Quando? Dia 24. Onde? Novamente no Auditório Master do CCUG. Dias 24 e 25, opção alto nível é o

Carreras; e Pequim (2008), em dueto com o chinês Liu Huan. Desta vez, Brightman começa pela América Latina (Brasília, a terceira cidade) a turnê de Hymn, 15° álbum de sua matadora discografia. O visual, meio Columbia, chega adornado de cristais Swarovski, muito chique. Carne Doce é um nome bem provocativo e sugestivo para uma banda de rock. Assim como sugerem muitas coisas o som do grupo indie goiano, que passa pela capital, dia 29, no Pier 21, shopping beira lago, ao lado da ponte que voltou a se chamar Costa e Silva. O grupo liderado pela cantora Salma Jô vem com a turnê de lançamento do álbum Tônus. Detalhe: grátis. ABBA, o grupo sueco que emplacou hits mundo afora, sobretudo nos anos 1970, acabou faz tempo. Porém, permanece o interesse pelas canções da dupla Benny Andersson e Björn Ulvaeuss. Junto às cantoras Agnetta Fältskog e AnniFrid Lyngstad, o quarteto (em verdade, dois casais) vendeu horrores com um pop grudento, de muito bom gosto, digase. É o que pretendem mostrar agora os argentinos do ABBA Mamma Mia Tribute Show, atração do dia 29 no CCGU. No palco, buscam recriar a magia das apresentações originais, onde não faltam harmonias vocais, figurinos, cenários, coreografias e tudo o mais que ficou gravado em som e imagem. Vejam como as coisas rendem. Mamma mia é canção de 1974. Depois virou musical de teatro, em 1999; filme, em 2008; sequência, em 2018; além de tributos assim batizados mundo afora. Longa vida ao ABBA, ainda mais agora que estão dizendo que vêm aí inéditas recentemente gravadas pelo quarteto. Fyah Cultura Black é o nome do fes-

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Pri Oliveira /Cwb Live

GRAVES&AGUDOS

rock’n’roll, no SOF Sul, vizinho do Parkshopping. Formado no ano 2000 como uma dissidência do Angra, por André Mattos, Luis Mariutti e Ricardo Confessori, o grupo inicialmente se chamava Shaaman. Veio o guitarrista Hugo Mariutti e o trio perdeu um “a” e virou quarteto. Essa formação “desbandou” em 2006 e agora volta a reunir as forças em turnê comemorativa. Os álbuns Ritual (2002) e Reason (2005) devem ser tocados na íntegra. O tempo passou tão rápido que agora Caetano Veloso já é avô, quem sabe,

Divulgação

tival que rola dia 30 no Estádio Mané Garrincha. Se ainda tiver ingresso disponível, vale a batalha para curtir as atrações de peso anunciadas: o reggae encharcado de jazz e dub dos norte-americanos Groundation e Dezarie, cantora de reggae-raiz, diretamente das Ilhas Virgens. MC Marechal (RJ) e grupo Meiaum, do DF, completam o line-up. E metal? Não tem metal nessa agenda? Tem, sim. Shaman, power metal progressivo brasileiro, é talvez a última grande atração de peso do ano, dia 29, no Toinha Brasil Show, pub devotado ao

bivô. Junto aos filhos Moreno, Zeca e Tom, vem fazendo sucesso com show que mistura musicalidade, companheirismo e um belo repertório em doses familiares. Um ano atrás passaram por Brasília mostrando a inédita parceria. Agora, voltam com Ofertório, show que sintetiza a reunião, e que virou CD e DVD. “Sempre cantei para eles dormirem. Moreno e Zeca gostavam. Tom me pedia para parar de cantar”, confessa Veloso pai. Dia 1° de dezembro, no CCUG. Cidade Negra, a banda, continua na ativa, com Toni Garrido, Bino Farias e o batera Lazão. Membros originais, o vocalista Ras Bernardo e o guitarrista Da Gama seguem em frente, defendendo o legado inicial do grupo, formado em 1986, em Belford Roxo (Rio de Janeiro). A dupla é responsável pelo Os Originais do Cidade Negra, atração do dia 8 no Toinha Brasil Show. Os dois discos pré-Toni Garrido, Lute para viver (1990) e Negro no poder (1992), são o mote da reunião. E por falar em reunião, Ivan Lins, Toquinho, João Bosco e a paulistana Tiê juntam os talentos no show Vozes da MPB, dia 8, no CCGU. Em ação, músicos de larga contribuição ao legado de nossa mais refinada música popular. Interessante é o equilíbrio proporcionado por Tiê, jogando frescor na música de gigantes da MPB. As apresentações são em solos, duos e o grande final com o quarteto no palco.

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Studio Sartoryi

Diego Bresani

QUEESPETÁCULO

Essa coisa chamada amor

DeBanda

Teatro democrático N

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ão é de hoje que se reconhece a importância dos festivais para a difusão do teatro. É sabido que na Grécia antiga os homens ricos e depois o Estado arcavam com as despesas dos festivais, incluindo aí, garantem alguns historiadores, até alguns trocados para que os moradores mais pobres assistissem às tragédias ou comédias. Um incentivo, uma espécie de Fundo de Apoio à Cultura da época. O importante era que o teatro chegasse até o público. É dentro dessa filosofia e com o apoio de um FAC verdadeiro – o da Secretaria de Cultura – que Brasília ganha mais um festival de teatro, que deverá movimentar o Setor de Diversões Sul, mais precisamente o Conic, a partir do final deste mês, com workshops, exposições, aulas-show, encontros e teatro, muito teatro. São nove peças no total, sendo sete locais, uma de São Paulo e outra de Pernambuco. O Festival Dulcina, como foi batizado, vai priorizar a diversidade de linguagens teatrais nos espetáculos, na exposição de artes visuais e nas oficinas e workshops. “Teremos espetáculos de rua, de palco, de sombras, tradicionais, com cadeirantes, sem palavras, com muitas palavras... a diversidade foi o que nos norteou. Pra fazer essa escolha, tive a

oportunidade de ler ou ver 38 peças de Brasília e outros Estados”, explica Humberto Pedrancini, curador do festival. Entre as atrações de fora de Brasília está o espetáculo Paranoia, do icônico Teatro Oficina de São Paulo, que mistura música, teatro e vídeo. Em cena, o ator Marcelo Drummond interpreta os poemas de Roberto Piva (1937-2010). Paranoia tem a estrutura de um show, mas é a história de um poeta que circula pela região central de uma grande metrópole que cresce e se deixa invadir pelo erotismo e pela loucura latente na madrugada. Será exibida também a peça Aquilo que meu olhar guardou pra você, do grupo pernambucano Magiluth, que levanta uma reflexão oportuna sobre as cidades em que vivemos e tem recebido ótimas críticas por onde tem passado. Entre as pratas da casa mais aguardadas está o diretor Fernando Guimarães, que durante muitos anos foi professor da Faculdade Dulcina de Moraes e estreia no festival a peça Essa coisa chamada amor, um questionamento sobre as relações amorosas e suas inadequações às realidades cotidianas. Outras atrações imperdíveis do Distrito Federal são DeBanda, de César Lignelli, que estreia em Brasília depois de viajar por cinco países da América Latina, e a hilária aula-espetáculo do próprio Humberto Pedrancini em que ele analisa

os 25 principais defeitos de um ator. O festival foi idealizado por Cleber Lopes, ex-aluno, professor e membro do Conselho Curador da Faculdade Dulcina de Moraes. Segundo ele, o Dulcina é um dos espaços mais democráticos da cidade, porque está ao lado da Rodoviária do Plano Piloto, facilitando o acesso a pessoas de diversas regiões administrativas. “É uma estrutura de cinco mil metros quadrados no centro da capital do país que precisa de atenção e manutenção para que permaneça pulsando e produzindo arte e artistas”. Festival Dulcina

De 24/11 a 3/12 no Complexo Cultural Dulcina (Edifício FBT, Bloco C, Conic). Entrada gratuita, com distribuição dos ingressos duas horas antes de cada apresentação. Programação completa em www.revistaroteiro.com. Diego Bresani

POR VICENTE SÁ

2 mundos


GALERIADEARTE

Autorretrato, de Amedeo Modigliani (1919).

Figura com página de música, de Gino Severini (1942).

Arte italiana do entreguerras POR ALEXANDRE MARINO

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Centro Cultural Banco do Brasil traz para Brasília a exposição Classicismo, realismo, vanguarda: pintura italiana no entreguerras, que reúne 67 obras criadas por alguns dos mais importantes representantes da arte moderna italiana do período entre as duas guerras mundiais. Amedeo Modigliani, Felice Casorati, Carlo Carrà, Gino Severini, Bruno Saetti, Mario Sironi são alguns dos artistas apresentados na mostra. De acordo com Ana Magalhães, curadora da exposição e docente do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, esta é a mais importante coleção de pintura moderna italiana da primeira metade do Século 20 fora da Itália. As 67 obras da exposição foram adquiridas entre 1946 e 1947 por Francisco Matarazzo Sobrinho e sua esposa,

Yolanda Penteado, para a criação do antigo Museu de Arte Moderna de São Paulo. Fundado oficialmente em 1948, o museu mudou várias vezes de endereço, até que em 1963, depois de sucessivas crises, foi extinto, e teve seu acervo doado ao Museu de Arte Contemporânea da USP, que atualmente é responsável por sua administração. Na exposição poderá ser vista a obra Autorretrato, de Modigliani, considerada a mais importante e preciosa da coleção. O período entreguerras foi uma das mais férteis épocas para a arte moderna italiana, quando seus grandes expoentes criaram novas expressões. É perceptível na mostra a arte figurativa que predominava na época, quando o realismo dialogava com a tradição clássica. As obras demonstram ainda intensa troca entre o ambiente artístico modernista brasileiro e italiano no período.

Nausicaa, de Bruno Saetti (1932). Classicismo, realismo, vanguarda: pintura Italiana no entreguerras De 24/11 a 20/1, de 3ª a domingo, das 9 às 21h, no CCBB (SCES, Trecho 2).

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DIÁRIODEVIAGEM

Surpreendente

Suíça!

TEXTO E FOTOS LÚCIA LEÃO

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Suiça é um país esplendoroso! Difícil não deixar cair o queixo diante da paisagem majestosa das montanhas em volta do Lago Léman, que corre, com seus cisnes e patos furta-cor, entre as cidades de Genebra e Montreaux e delimita a parte francesa do país de várias línguas e culturas. Foi esse pedaço da Suíça que eu conheci e de onde teria muita coisa pra contar. Poderia falar do Bain de Paquis, um píer que adentra o Lago Léman no centro de Genebra, e que em tudo contrasta com a sisuda primeira impressão da cidade dos relógios precisos e dos cofres sigilosos. É uma área pública de lazer, com raias de natação e outros equipamentos de esporte, salas de massagem e até uma sauna de vidro, montada exclusivamente para o inverno, onde há um restaurante popular de autosserviço que oferece um divino fondue preparado com vinho espumante, tido como um dos melhores da cidade, e vive lotado de um público mais que diverso. “É o Posto 9 daqui”, definiu a amiga carioca que me apresentou ao lugar.

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Poderia falar do Museu Charlie Chaplin, na cidade de Vevey, quase no outro extremo do Léman. É a casa em que o grande Carlitos viveu os últimos 25 anos de sua vida, a partir de 1952, quando foi expulso dos Estados Unidos, e que arranca lágrimas de emoção em vários momentos da visita. Como quando até os mais

aficionados conhecedores de sua obra se surpreendem com alguns filmes inéditos: os registros caseiros de seu cotidiano com a família, quando um Chaplin gorducho e de cabelos brancos brinca de “vagabundo” com os filhos, em malabarismos e piruetas no jardim ou fazendo o chapéu levitar na mesa de jantar e regendo um


A família Huber no vinhedo da vinícola Abbaye de Salaz.

coral de barulhos de sopa sugada pelas crianças. Afastando-se um pouco do lago e começando a subir as montanhas, poderia falar da minúscula e encantadora Gruyères, uma vilazinha medieval que dá nome a um dos mais famosos queijos suíços. Ela é divertida. Com uma única rua, tem três museus: um de arquitetura e história num castelo do Século 13; um dedicado ao Alien – isso mesmo, o personagem da ficção – e seu criador H. R. Giger; e o Museu do Tibete, com pinturas, esculturas e objetos rituais do Himalaia. E tem muitos pequenos restaurantes acolhedores, charmosos e bem caros. Poderia falar do Museu do Queijo, ao lado de Gruyère, do Museu do Chocolate, ali pertinho, do fantástico Museu de História Natural da cidade de Lausanne – ai que saudade do nosso Museu! – ou do Flon, seu bairro boêmio. E poderia falar de muitas outras coisas, mas resolvi falar dos vinhos suíços. Afinal, estava hospedada na região de Lavaux e não havia como ignorar as encostas de montanhas recobertas de vinhedos que no início do outono estão carregados; não dava para deixar de reparar no trabalho diuturno de colheita e nas

uvas sendo levadas para processar dentro do que aparentemente eram apenas residências; e, principalmente, não tive como não me curvar à excepcional qualidade do pouco conhecido vinho suíço. Foi quando me dei conta de que estava numa área de Patrimônio Cultural da Unesco, criada exatamente para preservar a paisagem natural dos vinhedos. Em Lavaux os vinhedos ficam entremeados de pequenos vilarejos e às vezes

A preparação das uvas para o processo da maceração.

parecem quintais bem cuidados, num misto de paisagem urbana e rural. “As vilas é que foram crescendo dentro dos vinhedos”, explica Janine Huber, engenheira de viticultura e enóloga, proprietária, com a família, da Abbaye de Salaz, uma das centenas de pequenas vinícolas da região – esta não fica em Lavaux, mas na vizinha Chablais, outra região produtora com praticamente as mesmas características. Tive o prazer de conhecê-la e

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DIÁRIODEVIAGEM

A enóloga Janine Huber wcuida de todas as tarefas da vinícola, do plantio à rotulagem das garrafas.

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de visitar a pequena propriedade e seus quatro hectares de vinhedos plantados em torno de uma construção originária do ano 1.000, onde ela produz anualmente 20 mil garrafas de vinhos tinto, branco e rosé. A família vive no piso superior da antiga abadia. No andar térreo estão os equipamentos para debulhar, macerar, fermentar e filtrar as uvas. Nas caves do subsolo estão os tonéis para envelhecimento do vinho e um salão para eventos agendados. Todo o trato dos vinhedos orgânicos, pendurados nas encostas íngremes dos alpes, é manual. O relevo não permite nenhum tipo de mecanização e exige um trabalho duro, mas em contrapartida oferece frutas de qualidade superior. Janine explica que o ângulo da incidência do sol, potencializado pelo reflexo dos raios no Lago Léman, é extremamente benéfico para as plantas. E este foi um ano especialmente bom. “Tivemos muito sol e calor e não aconteceram grandes tempestades ou eventos climáticos radicais que às vezes acabam, em uma noite, com o trabalho de todo um ano. Nesta safra de 2018 teremos um ótimo vinho”, festeja. Ao lado da mãe, tios e irmãos – a sua é a terceira geração da família Huber à frente da Abbaye de Salaz – Janine executa todas as tarefas da vinícola, do plantio à colocação de rótulos e venda das garrafas, que só podem ser compradas ali e numa pequena loja em Ollon, o vilarejo mais próximo da fazenda. Ela nasceu e se criou na propriedade, mas nem tudo o que sabe aprendeu ali. Fez curso supe-

rior de engenharia agrícola com especialização em viticultura e enologia e não perde oportunidades de reciclar seus conhecimentos sobre o assunto, “da planta à taça”. A Abbaye de Salaz produz vinhos tintos (Merlot, Pinot Noir, Syhah, Mondeuse e Gamay), rosés (especialmente de uvas Gamay) e brancos (Chardonnay, Pinot Gris e Chasselas). Pergunto qual deles Janine destacaria e ela não titubeia: o Chasselas. E como se a palavra lhe desse um estalo, ela se levanta e olha o relógio. “Já passam das onze, podemos beber”. Abre uma garrafa, serve as taças e passa a discorrer sobre. É uma uva muito antiga, nativa da Suíça e que fora do país só vingou com algum sucesso em poucos vinhedos canadenses. Resulta em um vinho muito suave e levemente frisante, de buquê floral e traços cítricos. Outra ca-

racterística é sua capacidade de absorver e exprimir o terroir, carregando a identidade do pedacinho de chão em que a uva foi plantada. “É um vinho para beber com os amigos, com prazer e sem preocupação. Aliás, é para isso que são feitos os vinhos”. Com uma simpatia encantadora, Janine nos conduz a um passeio pelos vinhedos e instalações da vinícola, fala sobre cada etapa do processo, destila paixão em cada palavra e no final recomenda uma visita à Vinorama, um misto de museu e ponto de venda e degustação de mais de 500 rótulos de vinhos da região de Lavaux. Eu fui, e também recomendo. Entrando o outono, a colheita vai terminar, as folhas ficarão douradas – dizem que é o período das paisagens mais belas – e vão cair. As parreiras serão podadas e preparadas para enfrentar o inverno. Ano que vem, com o início da primavera, elas rebrotam. E recomeça o ciclo! Então, se quiser beber um Chasselas, vá à Suíça. Você não vai encontrá-lo fora do país. Aliás, dificilmente encontrará qualquer vinho suíço, que praticamente não é exportado, mas se mantém como um dos muitos luxos que os suíços preservam para si. E se planeja ir à Suíça sem encarar a neve e os muito graus abaixo de zero, pense no Festival de Jazz de Montreaux, um dos principais eventos musicais do mundo, realizado durante o mês de junho, no auge do verão. Na sequência, fique para a Fête de Vignerons, uma enorme feira de vinhos que acontece a cada 25 anos (é uma festa por geração!) na cidade de Vevey, logo ali ao lado. Em 2019 acontecerá a primeira do Século 21. Se puder, eu volto!


VERSO&PROSA

Crônica lírica

e refinada

POR ALOÍSIO BRANDÃO *

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ma sugestão de presente – de muito bom gosto, ressalte-se – para o Natal que se avizinha é o livro Crônicas S/A, de Vicente Sá, que será lançado no dia 1º de dezembro pela Semim Edições, de Brasília. A publicação reúne 53 inspirados textos curtos que abordam fatos e pessoas, como é da natureza da crônica, que o olhar sensível e certeiro do autor captura. Acontece que o realismo mágico que habita Vicente Sá, agregado à sua sensibilidade de poeta, faz com que ele vá mais longe e desloque os tradicionais elementos do gênero crônica

para a fronteira da poesia, perpassada pelo fantástico e pelo lirismo, resultando numa obra de extremos refinamento e leveza, além de agradável leitura. O maranhense de Pedreiras Vicente Sá, que veio menino para Brasília, é poeta de nascença. É como poeta que o brasiliense o conhece pelos seus livros e por seus recitais pela cidade nos quais embebeda o público de poesia, com a sua verve solta e ágil, ao falar os seus poemas. Mas, desde sempre, a crônica estava no poeta, ainda que subterraneamente, e seria inevitável que ela viesse rebentar no papel, mais cedo ou mais tarde. Há coisa de quatro anos, Vicente passou a mergulhar

fundo na prosa e a publicar os seus textos em sua página, no Facebook. Agradou tanto e foi tão cobrado pelos leitores que o livro vem como por declive. Vicente Sá é um apanhador de sutilezas pelas ruas de Brasília. Conhece os bares, os loucos, os lúcidos, os anjos, os lobisomens que vagueiam pela cidade. A colheita de sua matéria-prima ele faz a pé, andando, sempre, com seus passos curtos, o que lhe permite apalpá-la, como se estivesse na feira, experimentando frutas e legumes. Vicente não é um homem da palavra que se permite o confinamento em quatro paredes. E o que ele vê, nas ruas, certamente, só é possível, graças aos olhos de dentro. Dá para entender porque suas crônicas não trazem as agudas observações de João do Rio, nem o lirismo e a delicadeza de Cecília Meireles, a divagação ligeiramente filosófica de Rubem Braga e a, digamos, instigante metafísica de Clarice Lispector. Vicente maneja as engrenagens da palavra e mexe os pauzinhos da narrativa de um jeito que é só dele, para, desta forma (e lembrando a própria Clarice), chegar à beleza, que “é o nosso elo com o infinito”. O livro de Vicente tem capa, projeto gráfico e ilustrações de Zé Nobre e apresentação do cineasta Vladimir Carvalho. A publicação deve ser saudada como um fôlego novo para a crônica. Da poesia, além do lirismo e da delicadeza, Vicente Sá transportou para sua crônica o ritmo e a surpresa. O leitor haverá de estar, sempre, diante do inesperado, do fugidio, do fortuito. Tudo, em seus textos, flui numa velocidade desconectada da cronologia e do próprio espaço concreto, como se as pessoas com quem ele cruzasse, embora reais (será?), apenas aguardassem o encontro com o cronista para migrarem para uma outra dimensão: a da poesia, a da palavra escrita. E, nessa nova dimensão, readquirissem um tipo de vida que só a própria poesia explica e o leitor descobre. * Jornalista e compositor. Crônicas S.A.

Vicente Sá, com ilustrações Zé Nobre. Lançamento dia 1/12, às 13h, no Espaço Cultural Leão da Serra (Setor Habitacional Taquari, 1ª Etapa, Quadra 5, Lote 79). Semim Edições, 150 páginas, R$ 35. Preço: 35 reais (à venda no local do lançamento e na página da editora no Facebook).

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LUZCÂMERAAÇÃO

A paisagem de Burle Marx Filme sobre o paisagista e pintor estreia com proposta estética que remete ao trabalho desse personagem fundamental na história do país e da cidade. POR SÉRGIO MORICONI

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pensamento de Roberto Burle Marx está todo lá, impresso na tela, ilustrado pelos mais diversos depoimentos, mas o diretor João Vargas Penna evitou uma narrativa meramente biográfica. Para Brasília, este é um

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filme fundamental e que vem em boa hora. O que sabemos (isto é uma indagação) sobre esse que é um dos mais importantes paisagistas do Brasil no Século 20, reconhecido internacionalmente, essencial como colaborador e parte do projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer e do projeto urbanístico de Lucio Costa para

a capital? Pouco ou muito pouco, levando-se em consideração a amplitude de sua contribuição e o relativo esquecimento de sua obra. Filme paisagem, um olhar sobre Roberto Burle Marx demonstra de que maneira esse artista único compreendia o mundo a partir dos sentidos que o espaço e a geografia dos lugares sugeriam. A intenção primordial do paisagista era criar espaços de deleite e aproximação entre os homens e o meio ambiente. A trajetória de Burle Marx, desde o início, está muito ligada a Lucio Costa. Foi o arquiteto e urbanista quem convidou o paisagista para trabalhar no projeto de uma casa ainda no início dos anos 1930. Foi também ele quem convenceu Burle Marx a participar de projetos em Brasília, como o paisagismo do Eixo Monumental e da 308 Sul, os jardins do Palácio do Itamaraty, do Palácio da Justiça, do Teatro Nacional, do Tribunal de Contas da União e da Praça dos Cristais, no Setor Militar Urbano. Mas as relações do pai-


pernambucana uma série de praças e jardins públicos e cria, em 1937, o primeiro parque ecológico nacional. Por volta de 1935, torna-se aluno de Portinari, a quem consideraria um mestre para toda a vida. O documentário Filme paisagem, um olhar sobre Roberto Burle Marx apresenta as mais variadas facetas do homem e do artista. O filme está longe de ser uma biografia linear, mesmo quando apresenta suas ideias através de uma narrativa baseada em falas e textos do paisagista. Elas vêm sempre acompanhadas por imagens de suas obras, mas evitam a ilustração pura e simples. As imagens colhidas pelo diretor João Vargas Penna parecem o tempo todo procurar analogia com as críticas que afirmam ser a obra de Burle Marx uma constante busca de equilíbrio entre os jardins e as pinturas. Um colorismo paisagístico, chegou-se a dizer. Embora originalmente calcada em raízes e treinamento europeus, a pintura de Burle Marx viu-se enriquecida por fortes ingredientes telúricos, em razão do profundo interesse que o artista sempre demonstrou pelas riquíssimas nuances geográficas dos trópicos. Em certa medida, o filme busca uma dramaturgia cinematográfica também sinuosa e cromática. Talvez querendo fazer com que a disposição de arbustos e árvores, suas mudanças cromáticas ao longo das estações do ano – metodicamente pretendidas pelo paisagista – pudessem ser ainda melhor reveladas pelas imagens e pela relação que essas mesmas imagens entre si proporcionam. Filme paisagem, um olhar sobre Roberto Burle Marx

Brasil/2018, 72min, documentário. Roteiro e direção: João Vargas Penna. Narração: Amir Haddad. Em cartaz no circuito nacional. Fotos: Divulgação

sagista com Brasília eram conflituosas. Por algum desentendimento ele deixou de participar de forma integral na implementação de seus trabalhos. O Parque da Cidade, por exemplo, desenhado no fim da década de 1970, a partir de projeto original dele, de José Tabacow e de Hahuyoshi Ono, não obedeceu ao detalhamento feito pelos três. “Havia caminhos para pedestres. No lugar do pavilhão havia uma ponte e um lindo espaço ao ar livre para a Feira dos Estados”, lembra a arquiteta Aurora Gomes Ferreira Aragão Santos, prima em terceiro grau de Burle Marx, num artigo publicado pelo Correio Braziliense em 2009. De todo modo, a ligação de Burle Marx com Lucio Costa (e com Brasília) vem de muito antes. É uma história interessante e ziguezagueante, assim como a flora tropical que está na natureza mesma de sua arte. Paulista, mas morador do

Rio de Janeiro durante a maior parte de sua vida, o paisagista se apaixonou pela flora brasileira passeando (vejam só!) pelo Jardim Botânico de Dahlem, em Berlim. Isso mesmo! Quando tinha apenas quatro anos de idade a família se mudou para a Alemanha e foi passeando pelas estufas dessa instituição que Burle Marx teve a revelação do que chamava de “a opulenta flora tropical brasileira”. Quando volta ao país, em 1929, matricula-se na Escola Nacional de Belas-Artes do Rio de Janeiro, mas a frequenta por pouco tempo. No entanto, é nesse curto período que dá início à sua aproximação com Lucio Costa. O arquiteto convida o artista Leo Putz para dar aulas na escola. Como o tirolês não sabia falar português, Costa convida Burle Marx para servir de intérprete em várias ocasiões. Uma viagem com Putz para a cidade de Angra dos Reis causaria grande impacto na percepção da realidade do futuro paisagista. “A natureza é apenas um pretexto para se fazer as divagações pictóricas da cor”, disse-lhe Putz. A despeito da presença de Lucio Costa e de Leo Putz, Burle Marx achava a Escola de Belas Artes acadêmica e medíocre. Num determinado momento, todos os discriminados professores de orientação mais moderna se retiram do corpo docente. Burle-Marx igualmente abandona o curso e se inscreve na aula particular do escultor Celso Antônio, com quem – declararia – não experimenta progressos. Aprenderia, isto sim, com o botânico Melo Barreto, cujo contato o orienta cada vez mais para o paisagismo. Em 1933, cria o primeiro jardim para a casa mencionada anteriormente, projetada por Lucio Costa. A soma dessas experiências o leva até Recife, onde seria nomeado diretor de Parques e Jardins da cidade. Desenha para a capital


LUZCÂMERAAÇÃO

Curtos e curtíssimos O

ma seleção plural que privilegia a produção independente e as novas linguagens e experimentações audiovisuais para, dessa forma, potencializar cinematografias fora do circuito comercial. O público terá a chance de ver curtasmetragens premiados nos mais importantes festivais de cinema do mundo (Cannes, Clermont-Ferrand, Sundance, Seul) e de países cuja cinematografia é completamente desconhecida, a exemplo do Sri-Lanka, Casaquistão, Kosovo, Nigéria ou Venezuela, ou de países com forte tradição em cinema como Irã, Turquia, Coreia. Haverá filmes para todas as idades, inclusive para crianças que ainda não foram alfabetizadas (algumas animações não têm diálogos), para o público adolescente (de 12 a 15 anos) e para os idosos. Uma homenagem será prestada à atriz, roteirista e diretora ucraniana Kira Muratova, falecida aos 83 anos em junho passado – uma cineasta ousada, de filmes avant garde, pouco conhecida, mas autora de uma obra perene.

A curadoria foi realizada pelos produtores do Lobo Fest, Josiane Osório e Ulisses de Freitas, pelos professores Ciro Inácio Marcondes e Érika Bauer, pelos críticos de cinema Gustavo Menezes e Fábio Krispin e pelo produtor audiovisual Rodrigo Martins (responsável pela seleção dos curtíssimos), que se debruçaram em um universo de quatro mil filmes inscritos pela plataforma internacional Film Freeway. Entre os olhares e afetos apresentados nos filmes estão criações engajadas e contemplativas, realistas ou oníricas, dramas, filmes de gênero, documentários e animações (boa parte delas assinada por mulheres), com diversificadas representações, anseios e visões de mundo. “Temos muitas produções de jovens cineastas, o que traz um frescor para a programação”, aponta Ulisses de Freitas. 10º Lobo Fest – Festival Internacional de Filmes

De 27/11 a 4/12 no Cine Brasília, com entrada franca. Programação completa em www.lobofest.com.br. Fotos: Divulgação

Lobo Fest – Festival Internacional de Filmes – realiza sua 10ª edição de 27 de novembro a 4 de dezembro no Cine Brasília. Primeiro festival dedicado exclusivamente a filmes de curta duração em Brasília, também inaugurou no Brasil o formato “curtíssimo” (filmes de até quatro minutos), uma de suas marcas registradas. Desde sua última edição, o Lobo Fest ampliou-se e passou a exibir também curtas-metragens de até 30 minutos. Este ano, serão exibidos cerca de 200 filmes, oriundos dos cinco continentes. O grande barato do festival é desmitificar a ideia de que o curta-metragem ou o curtíssimo é um laboratório para o longa-metragem. Longe desse clichê ultrapassado, o Lobo Fest traz um panorama do que seus curadores chamam de “cinema do presente”, ou seja, narrativas (ou não) com temas extremamente contemporâneos e calcados em novas estéticas. Nesta 10ª edição, portanto, o público terá um panorama completo da produção de curtas-metragens do mundo, nu-

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Febre da selva, de 1991.

O plano perfeito, de 2006.

Malcolm X, de 1992.

Para ver de olhos bem abertos S

pike Lee está de volta a Brasília. Não pessoalmente, como em abril de 2012, quando esteve aqui para fazer entrevistas para o documentário, em finalização, Go Brazil Go. Na ocasião, o cineasta americano gravou com o então ministro do STF Joaquim Barbosa, jantou com o então deputado e ex-jogador Romário e ainda visitou o Palácio do Planalto, onde encontrou-se com a ex-presidente Dilma Rousseff. Todos esses encontros, e tantos outros com celebridades da música, da política, do esporte e da sociedade brasileira, justificam-se pelo interesse do diretor de cinema em investigar as peculiaridades de nosso país nos últimos anos a partir das transformações ocasionadas pela ascensão das classes menos privilegiadas. Afinal, as relações entre diferentes tipos humanos regidas pelas regras sociais são uma característica de sua cinematografia. Vem daí o nome da mostra Acorde! O cinema de Spike Lee, em cartaz no CCBB Brasília entre 20 de novembro e 9 de dezembro. “’Acorde!’ é uma fala recorrente em quase todos os filmes de Lee. “É um chamado para a ação, para a ruptura de um comportamento padronizado, geralmente declamado por um personagem secundário para o personagem central, frequentemente em uma visão subjetiva: o ator fala ‘acorde!’ para a plateia do cine-

ma. Spike Lee quer que seu cinema faça o público acordar para a realidade que o cerca”, comenta o curador da mostra, Jaiê Saavedra. Principal cineasta negro dos Estados Unidos, Shelton Jackson Lee, nascido na cidade de Atlanta em 20 de março de 1957, fez uma carreira cinematográfica de sucesso tanto com obras mais autorais, nas quais apresenta de forma bem-humorada, mas crítica e contundente, dramas e alegrias da população afrodescendente de seu país, quanto trabalhos sob encomenda, caso da adaptação hollywoodiana do filme sul-coreano Oldboy. No CCBB serão exibidos 23 dos longas-metragens do diretor e ainda quatro videoclipes. A curadoria optou por um recorte com filmes que representam diferentes momentos da carreira de Spike Lee, com algumas produções pouco vistas nas salas de cinema brasileiras. Também estão na programação alguns de seus filmes mais conhecidos, como Faça a coisa certa (1989), que narra conflitos da população de um bairro de negros e latinos em Nova York com um comerciante local ítalo-americano; Malcolm X (1992), biografia do ícone na luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos; e a comédia Crooklyn – Uma família de pernas pro ar. Entre os clipes estão Money don’t matter 2night, de Prince; Headlights, de Eminem; o emblemático Fight the power, do

grupo de rap Public Enemy; e They don’t care about us, de Michael Jackson, com cenas gravadas no Rio de Janeiro e em Salvador, em 1996, produção que marcou o começo do contato de Spike Lee com o Brasil. Ainda sobre o ídolo pop, a mostra traz Michael Jackson’s journey from Motown to off the wall (2016) e outros exemplares de Lee na direção de documentários, como Kobe doin’ work, sobre o jogador de basquete Kobe Bryant. Fotos: Divulgação

POR PEDRO BRANDT

Spike Lee Acorde! O cinema de Spike Lee

De 20/11 a 9/12, de 3ª a domingo, no cinema do CCBB (SCES, Trecho 2). Ingressos: R$ 10 e R$ 5. Programação completa em www.bb.com.br/cultura. Mais informações: 3108.7600

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CRÔNICADACONCEIÇÃO

Crônica da

Conceição

CONCEIÇÃO FREITAS

conceicaofreitas50@gmail.com

O sertão pra me salvar

A

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tordoada, peguei a estrada no rumo do sertão. Eu e Zeca Pagodinho fomos pedir colo aos chapadões goianos – é lá que os deuses dormem. Fui a Monte Alegre de Goiás, cidadezinha de 8 mil habitantes que surgiu no ciclo do ouro, na segunda metade do Século 18. Singela e bem cuidada, predominantemente negra, a cidade se desdobra ao pé do Morro do Chapéu. Uma praça, uma igreja, algumas fileiras de casas. Não há cidade mais Kalunga. A estrada que me levou a Monte Alegre deve ser a mesma que leva os atordoados à quietude. É a GO-118 e também BR-010, uma das rodovias de Juscelino. Começa logo depois do Núcleo Rural do Pipiripau, a nordeste do quadradinho. Sobe os degraus da Chapada dos Veadeiros até o ponto mais alto do Planalto Central e segue margeando altiplanos, bordejando jardins de pedra do cerrado de altitude. Podia apenas ser bonito – é majestoso e infinito como o mar. Monte Alegre fica quase no fim do Goiás, bem perto de onde ele vira Tocantins. Tem o desenho vernacular das cidades coloniais – uma igreja numa praça e casario ao redor. Ao fundo, o

Morro do Chapéu. É esse o antigo nome da cidade, Chapéu. Conta-se que, no auge da exploração do ouro, 1,8 mil escravos escalavraram as encostas do morro. Mais ao fundo, a Serra da Contenda, muralha de pedra que serviu de proteção para os negros fugitivos que séculos depois seriam denominados, pelos brancos, de Kalungas. Foi no vão das serras que eles se esconderam durante mais de dois séculos. A comunidade quilombola se espalhou pelos municípios de Monte Alegre, Teresina e Cavalcante. A estrada que liga Brasília aos Kalungas é das mais bonitas. Vai nos levando ao cerrado de altitude, numa subida suave e ao mesmo tempo potente. É o mar que preenche meus olhos e acalma minhas aflições. Tem a força das pedras e a delicadeza das flores do cerrado – não haverá flor mais miúda. Muitas delas são menores que a pupila dos olhos. E são ardentes, coloridas. É a paisagem mais antiga do mundo, 40 milhões de anos. É voltar ao começo, para começar outra vez. Depois de Teresina, a GO-118 ficou só minha. Nenhuma viva alma, nenhum vivo carro por dezenas de quilô-

metros. Só os chapadões me acompanhavam – um silêncio de lua. E o Zeca cantando a música brasileira, como gosta de dizer. Fiquei pensando no que será o próximo carnaval e esperando por ele, porque a alegria ninguém vai me tirar! Só preciso de fôlego, chapadas e silêncio. O sertão está em toda parte, o sertão está em mim. Pouco antes de Cavalcante, à esquerda, os Alpes Goianos, uma fazenda com vista para os chapadões que se sucedem em camadas, até ficarem azulados de atmosfera. À direita, duas ou três casinhas de adobe, dois ou três muros de pedra. Numa das casas, café e biscoito frito para os poucos viajantes que descem da Bahia, do Tocantins ou sobem no rumo do Norte/Nordeste. Foram 680km, ida e volta. Saí cedinho e cheguei de noitinha, acompanhei o sol de leste a oeste. Vi quando ele acordou e o segui até a hora do sono. Quando dobrou o horizonte, deu pra ver ao longe o clarão de Brasília. Senti um aperto no peito. Acho que vou precisar de muitas chapadas, muitos silêncios e muitos carnavais para dar conta do que virá. ... Fiz um monte de fotos, mas o celular caiu no sorvete e morreu.



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