Roteiro 285

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Ano XVIII โ ข nยบ 285 Janeiro de 2019

R$ 5,90



EMPOUCASPALAVRAS Divulgação

Se você acompanha minimamente as redes sociais, já deve ter ouvido falar da Jenifer, não é? Pois nas últimas semanas, essa música chiclete cantada pelo forrozeiro Gabriel Diniz está sendo considerada o grande sucesso do verão de 2019. “O nome dela é Jenifer! Eu encontrei ela no Tinder”, diz o refrão. Para quem, como eu, viveu os tempos áureos da nossa MPB, fica difícil, nessa hora, não ter saudades dos emblemáticos festivais de música que deram à luz gênios como Chico Buarque, Edu Lobo, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Elis Regina e muitos outros. Para aqueles mais novinhos, que não sabem bem do que estamos falando, o convite, então, é que façam uma viagem ao túnel do tempo e confiram espetáculos como o musical MPB – A era dos festivais, dirigido por Edu Krieger, a ocupar o palco do Teatro Dulcina no dia 2 de fevereiro. Lá estará contada a história do nascimento de nossa boa e legítima MPB, com músicas muito diferentes das tais Jenifers atuais (página 20). Outro convite que fazemos a nossos leitores é conhecer as inúmeras possibilidades de se refestelar com o delicioso pecado da gula, a começar pela proximidade de dois festivais gastronômicos – Boa Mesa e Restaurant Week – a partir de 4 de fevereiro e até 3 de março (página 4 ). Só de cafés, apresentamos dois novatos, ambos na Asa Sul: Labecca Café e Blend Cafés & Livros. Suas propostas estão na matéria Café, livros e gentileza (página 6). Ainda na seara gastronômica, destaque para uma nova lanchonete árabe, a Tarbush, uma franquia de coxinhas com grife, Oh! Coxinha, e a autêntica Cremeria Italiana, novidade ideal para amenizar o calor dos últimos tempos. Na telona, a sugestão de nosso crítico de cinema, Sérgio Moriconi, é o filme Assunto de família, premiado com a Palma de Ouro do Festival de Cannes. Com direção de Hirokazu Koreeda, o drama de 121 minutos joga luz sobre os pobres do Japão de hoje. Estão lá, sem retoques, o verso e o reverso, ou a frente e o verso da moral, sem que haja qualquer tipo de condenação moralizadora das ações praticadas pela família Shibata. Segundo ele, o diretor nos faz ter simpatia por seus integrantes, todos eles com comportamento “politicamente incorreto”. Nada mais atual (página 32). Boa leitura e até fevereiro

19 queespetáculo Mímica, expressão corporal, dança e técnicas circenses fazem a magia do Teatro Negro de Praga, que sobe ao palco do Ulysses Guimarães no dia 8 de fevereiro.

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Maria Teresa Fernandes Editora ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14, Conjunto 2, Casa 7, Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa Carlos Roberto Ferreira, com fotos de divulgação | Colaboradores Alexandre Marino, Alexandre Franco, Conceição Freitas, Heitor Menezes, Lúcia Leão, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Teresa Mello, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle | Fotografia Rodrigo Ribeiro | Para anunciar 98275.0990 | Impressão Foxy Editora Gráfica Tiragem: 20.000 exemplares.

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ÁGUANABOCA

Vila Tevere

Olivae

Maratonas

gastronômicas

POR VICTOR CRUZEIRO

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ara uma cidade relativamente nova, como Brasília, até que sua vida cultural é expressiva, mesmo se considerarmos problemas relativos à manutenção de ícones abandonados, como o Teatro Nacional. O Centro Cultural Banco do Brasil, o complexo Caixa Cultural e o Cine Brasília (para mencionar apenas três de um rol imenso que se estende para além do Plano Piloto), proporcionam vasta programação durante todo o ano, a preços acessíveis. É importante enfatizar, contudo, que a cultura da capital vai mais além: oferece cada vez mais boa programação de festivais gastronômicos a demonstrar o potencial de seus bares e restaurantes. Prova disso é que, a partir de 4 de fevereiro, Brasília receberá não um, mas dois festivais gastronômicos simultâneos, envolvendo algumas dezenas de estabelecimentos, sempre com o mesmo objetivo: proporcionar aos clientes experiências

gastronômicas de qualidade, fora dos menus cotidianos, e a preços fechados. A maratona começa com o festival Boa Mesa, que estreia sua primeira edição de 4 de fevereiro a 3 de março. Ele nasceu da iniciativa de alguns chefs que buscavam uma oportunidade de mostrar suas novas criações sem estarem presos a um tema específico. A divertida ideia, totalmente candanga, contará com mais de uma dezena dos estabelecimentos mais renomados da cidade (Tejo, Gero, Villa Tevere, Taypá, Dom Francisco, Ticiana Werner, Nikkei, Santé 13, Authoral, Eat Olivae, Rapport Bistrô), que oferecerão quatro diferentes menus, compostos de entrada, prato principal e sobremesa, variando na sofisticação e ingredientes. Numa divertida brincadeira, cada menu recebeu uma designação bastante local, tipo Tesourinha, Catetinho, Catedral e JK. Os preços variam entre R$ 69 e R$ 115. O segundo é o Restaurant Week, que entrará em sua 20ª edição com o tema “Do campo à mesa”, dando aos chefs

participantes a possibilidade de provocar seus clientes com pratos que tragam à mesa a cultura campestre. Serão temas e ingredientes que remetem ao rústico, ao caipira e à comida familiar (quem não sente uma sensação especial com a lem-

Taypá


Ceia da Belini Pães & Gastronomia

Fotos: Gui Teixeira

brança da comida de vó? Esta é a verdadeira comfort food!). Começando no dia 8 de fevereiro e indo até 3 de março, o Restaurant Week oferecerá duas opções de menus para almoço e jantar, sendo a primeira tradicional (R$ 43,90/almoço e R$ 54,90/jantar) e a segunda contando com ingredientes exclusivos (R$ 55/almoço e R$ 68/ jantar). Deste valor, como de praxe, será opcional o acréscimo de R$ 1 à conta para doação a uma ONG (neste ano a Amigos da Vida, atuante na promoção e defesa dos direitos humanos de pessoas acometidas pelo HIV/AIDS e na prestação de cuidados às crianças órfãs da AIDS). A lista completa de casas e seus menus ainda não está disponível, mas, a julgar pela edição anterior do Restaurant Week, que contou com 72 estabelecimentos e angariou aproximadamente 50 mil pessoas em seus pouco mais de 20 dias, nenhum dos festivais vai carecer de público – mais uma prova de que o brasiliense não está faminto apenas de casas novas, mas também de bons sabores! Os dois festivais são uma demonstração de que Brasília é, também, um centro

gastronômico de respeito, que nada deixa a desejar na comparação com o Rio de Janeiro e São Paulo, mas subsiste (e se destaca) na sua criatividade e dedicação ao que é seu, aos seus ingredientes, aos seus chefs e aos seus clientes.

1º Boa Mesa Brasília

De 4/2 a 3/3. Preços entre R$ 69 e R$ 115. Mais informações: @festivalboamesabrasília e facebook.com/FestivalBoaMesaBrasilia.

20º Restaurant Week Brasília

De 8/2 a 3/3. Preços: almoço entre R$ 43,90 e R$ 55 e jantar entre R$ 54,90 e R$ 68. Mais informações: www.restaurantweek.com.br.

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Thamires Santiago

ÁGUANABOCA

Labecca

Blend

Café, livros e gentileza POR TERESA MELLO

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feto e aconchego transbordam em dois novos cafés da Asa Sul: o Blend Cafés & Livros, inaugurado em 20 de novembro, na 405 Sul, e o Labecca Café, em 13 de dezembro, na 408 Sul. Ambientes claros e amplos predominam nas duas lojas, ambas comandadas por famílias: as três irmãs Labecca – Amanda, 38 anos, Fernanda, 34, e Flávia, 33 –, que abriram a primeira casa na QI 13 do Lago Sul em 2010, e o casal de administradores Cristiano Gomes, 46, e Iassi Elvas, 41. Nas férias de janeiro, os filhos, João, 17 anos, e Maria Luiza, 10, acompanham os pais: João fica no caixa e Luiza sobe e desce as escadas que levam à livraria no segundo piso. No Labecca, a imagem de São José abençoa o espaço: “É da minha mãe”, conta Amanda. “Ele é o protetor das famílias.” A madeira em tom de caramelo con-

fere elegância ao Labecca, arejado pelo paisagismo de Marina Franco, que salpicou plantas na estante lateral, onde também ficarão os chocolates especiais produzidos por Flávia com matéria-prima belga. No balcão, há dez tipos de torta servida em porções generosas: “A queridinha é a de banana”, diz Amanda. A fatia sai a R$ 15. Outra que faz sucesso é a de brigadeiro ao leite, mas o cheesecake não fica atrás: de frutas vermelhas, de Nutella e vegana. Os bolos encantam. O de cenoura vem acompanhado por brigadeiro, e o de rolo fica majestoso na travessa: “Em Brasília tem muita gente do Nordeste e eu queria que todo mundo se sentisse em casa aqui”, explica. Conseguiu. O carinho mora nos detalhes do café com capacidade para 75 pessoas. Símbolo da cidade, a flor de ipê está no cardápio e nas sacolas, e os veganos, como a irmã Fernanda, são bem-acolhidos. Há tapioca de carne-seca com requeijão, mas

também de ricota de tofu e tomate. A limonada vem adoçada com melado de cana e pode acompanhar saladas e sanduíches, sendo que os do tipo roll (no pãofolha) ganham recheios como salmão defumado e guacamole. Outra atração é a tostada, fatia de pão de fermentação natural com recheio de avocado e ovo caipira, por exemplo. O café da manhã conquista o público nos fins de semana. “Se você chegar às 12h30, ele estará disponível”, avisa Amanda. Há três combinações, com preços de R$ 39 a R$ 49, e o cliente encontra cafés, sucos, frutas frescas, iogurte, croissant, bolo, tostada, pão de queijo. Não deixe de provar o pão de mel, receita da avó Vitória. Portas duplas de madeira levam a um lugar encantado na 405 Sul. Ideal para amantes de cafés e de livros, o Blend conquista pelos produtos especiais e pela simpatia dos donos e dos funcionários. Quem preferir ficar no


Marcos Sant’Ana Arruda

Blend Cafés & Livros

405 Sul, Bloco C (3532.4112). De terça a domingo, das 12 às 20 horas.

Labecca Café

408 Sul, Bloco B ( 3542.9532). De terça a sexta, das 13 às 22 horas; sábado e domingo, das 8 às 14 horas.

Marcos Sant’Ana Arruda

Marcos Sant’Ana Arruda

vermelho da marca Salted Caramel: “É de Patrocínio e tem sais minerais acentuados, porque fica numa região mineira conhecida como Chapadão de Ferro”, informa Cristiano. Para acompanhar, há pães de queijo, bolos, tortas, tapiocas e sanduíches. No segundo andar, o paraíso é administrado pelo livreiro Rogério de Oliveira, de 33 anos, que circula entre estantes de obras clássicas e contemporâneas: “Nosso destaque é a diversidade”, define. Já existe um clube de leitura e uma agenda de palestras. “Queremos fazer saraus e lançamentos de livros”, acrescenta Iassi. Por incrível que pareça, o burburinho da quadra comercial não consegue invadir a área. Os consumidores agradecem e colaboram falando baixinho.

Acima, o livreiro Rogério de Oliveira e uma peça decorativa vintage da Blend; abaixo, deliciosa torta do Labecca. Thamires Santiago

balcão, na certa vai absorver conhecimento, enquanto beberica grãos selecionados. Isso porque o barista sênior Eudes Gonçalves (ex-Café Cristina), 33 anos, é apaixonado pela profissão e adora conversar. Nascido em Santa Luzia do Paroá, no Maranhão, ele apresenta o programa Falando de café, no YouTube. “Com uma única matéria-prima você consegue várias bebidas”, alegra-se. E explica: “O mesmo grão dá um sensorial diferente, dependendo do método”. Para entender, basta provar, por exemplo, o café Wolff colhido em Manhuaçu (MG) com notas de jabuticada. No método Hario V60, há uma explosão da fruta, enquanto na prensa francesa destacam-se a cafeína e os óleos essenciais. A bebida preparada no Hario V60 e na prensa francesa sai a R$ 9,50, enquanto no método clever custa R$ 10,50. O espresso curto ou longo custa R$ 6. “Temos cappuccino italiano com leite de coco”, conta Iassi. Outras variedades de café incluem o mocha (café, leite e chocolate), o latte (com espuma de leite) e o com Nutella, por exemplo. A loja vende grãos moídos na hora. Um deles é o catuaí

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ÁGUANABOCA

Iguarias árabes POR SÚSAN FARIA

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arbush é um chapéu de feltro vermelho, usado por personalidades de alto comando das nações árabes, e é também o nome da mais nova casa árabe de Brasília. Os donos são os amigos sírios Sami Sabbagh e Zafer Mozak, que estão no Brasil há quase três décadas e também são proprietários de padarias. Especializada em doces e salgados, a nova loja tem chamado a atenção da vizinhança na Asa Sul, pela aparência, sabor e qualidade dos produtos. São três pequenos ambientes. Na entrada estão os balcões com bandejas de doces sírios e a prateleira de trigo, semolina, tâmaras, pães e temperos. Adiante, mesinhas e sofás, de onde se vê na parede o pôster de um homem e uma mulher de olhos negros, expressivos. Ao fundo, uma tenda vermelha com luminárias, mesinhas e vista para a área verde. Na decoração da arquiteta carioca Doris Daher, um mosaico de madeira com formato do doce baklava cobre as paredes da casa. Sami, 55 anos, dois filhos, nascido em Marmarita, vila no noroeste da Síria, perto de Homs, diz que aprendeu recei-

tas com os amigos árabes e hoje, casado com uma brasileira, é quem pilota o fogão de sua casa. “Nossa comida tem tempero. É gostosa”, garante. Ele se divide entre a Tarbush e a padaria Mister Pão, na 414 Sul. Emprega o sobrinho de mesmo nome, Sami Sabbag, de 28 anos, que chegou a Brasília há dois anos. “Trabalhei na padaria, sempre cheia, com clientes que puxam conversa. Fui entendendo algumas palavras”, explica o jovem, que quase domina o português. O jovem Sami deixou para trás a faculdade de marketing, os pais, os irmãos e amigos e em julho de 2016 se arriscou na ida para o Líbano, de onde saiu para São Paulo rumo a Brasília. Cozinha, atende os pedidos de encomendas, gerencia, faz entregas. Sonha em voltar a estudar. Parte do salário envia para o pai, motorista de Uber, na Síria. “Gosto de fazer os sanduíches”, diz, destacando, por exemplo, o shawarma de carne ou frango, fatiado com batata, picles, pasta de alho e tomate (R$ 22). Duas unidades podem vir juntas (R$ 40). No cardápio, destaque para o falafel – seis bolinhos fritos de grão de bico, alface, tomate, picles, hortelã e tahine

(R$ 20) – e o shish taouk – salada de repolho, batata, frango, picles, pasta de alho, ketchup e mostarda (R$ 22). A pasta de homus (grão de bico, tahine e pão sírio) custa R$ 17, mesmo preço do baba ganoush, pasta de berinjela tahine e pão


Fotos: Divulgação

sírio. Tem ainda fahita de frango ou carne, com salada de repolho, misto de pimentão, cogumelo, cebola, picles, pasta de alho e ketchup (R$ 22). Fazem sucesso também as esfirras de carne ou espinafre (R$ 6 a unidade) e os quibes frito (R$ 6) e assado (R$ 7). Os doces são de massa hada com nozes ou pistache, almofadas de caju, burma de tâmara, ninhos de amêndoas, castanhas ou damasco (entre R$ 7 e R$ 8 a unidade). Na Tarbush – que não é um restaurante, mas uma lanchonete e ponto de entrega de doces e salgados árabes – trabalha o sírio Hayan Aldarwish, 28 anos, que deixou a faculdade de engenharia civil em Homs e suas raízes para enfrentar nova vida em outra cultura. “Perdi muitos amigos. Vi bombas explodirem à minha frente”, diz hoje o confeiteiro, nascido em Homs, a 160 km de Damasco. Recentemente, um irmão de Hayan chegou a Brasília e trabalha em um restaurante no Lago Sul, o que amenizou um pouco as saudades de sua terra, mesmo com todas as dificuldades e traumas do passado. Em situação parecida encontra-se a

venezuelana Sujey Sarai Garcia Pacheco, de 19 anos, ajudante de confeitaria. “Tenho aprendido bastante, são muitas saudades e também experiências. Agora, até entendo um pouco de comida árabe”, diz a moça, que, como os colegas, manda parte do seu salário aos pais, sonha em estudar e um dia voltar a sua terra, mas a

passeio. Enquanto isso, todos trabalham com afinco, produzindo iguarias para lanches. A loja abriu há dois meses. “Quem experimenta o que oferecemos volta”, garante o jovem Sami Sabbagh. Tarbusch – Doces e Salgados Árabes

113 Sul, Bloco C (3548.7137). Diariamente, das 10 às 22h (exceto aos domingos).

ECOLÔNIA

JANEIRO 2019

COLÔNIA DE FÉRIAS

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Fotos: Nathália Millen

ÁGUANABOCA

Coxinhas com grife POR SÚSAN FARIA

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uem foi que disse que coxinha tem que ser só de galinha? Uma nova proposta desse salgado tipicamente brasileiro acaba de ser lançada por aqui em versões totalmente inusitadas, entre elas a coxinha de batata doce com recheio de picadinho de carne no molho de cerveja preta, a de feijoada recheada com calabresa cremosa e a de costela suína ao molho barbecue. Produzidas pela recém-inaugurada Oh! Coxinha, têm inspiração em pratos criados por Dayse Paparoto, consultora de gastronomia vencedora do programa MasterChef Profissionais, da TV Bandeirantes, em 2016. A fábrica fica na Colônia Agrícola Samambaia e atende por delivery aos moradores de Águas Claras. Contudo, a ideia é expandir, franquear e, a partir de fevereiro, abrir duas lojas próprias: uma em shopping e outra na Asa Sul ou Asa Norte, para validar a marca e atender também por delivery. O empreendimento é a materialização do sonho de três jovens amigos: o economista carioca Pedro Magna, 34 anos, e os empresários Thiago Carvalho, 34 anos, e Márcio Gomes, 40 anos, ambos nascidos em Brasília. “Somos amigos há oito anos e desde que nos conhecemos falávamos em monAsa tar Sul um negócio”, explica Márcio. Depois

de muita pesquisa, eles optaram pela fábrica de coxinha e o menu assinado por uma chef renomada. “Foi um grande desafio, mas conseguimos executar perfeitamente nossos projetos”, diz o empresário. Segundo ele, a fábrica tem capacidade para produzir 1 milhão e 200 mil coxinhas por mês (ou seja, 40 mil por dia), mas, como está no começo, funcionando apenas em um turno e sem as franquias, produz hoje entre 1 mil e 1,5 mil unidades por dia. “As entregas estão aumentando progressivamente”, explica. São 12 sabores de coxinha à venda. Além dos tradicionais, como o de frango com catupiry, há os vegetarianos (cenoura assada com alho, tomilho e queijo, cebola glaceada no tabasco e queijo meia cura) e opções doces, como torta de limão, banana assada com creme de avelã e maçã verde com canela. A caixa com 15 unidades custa R$ 19,90; a de 30, R$ 35,90; a de 60, R$ 69,90; e a de 120 unidades, R$ 139,90. Cada salgado pesa 24 gramas. São 13 molhos desenvolvidos, todos caseiros, entre eles maionese de carvão, maionese tradicional, picante, de alho e ervas. Cada unidade, com 50 gramas, é vendida a R$ 3. Neta de italianos da Calábria, de quem herdou o sobrenome e o gosto por uma boa mesa, Dayse Paparoto lembra que demorou um pouco a desenvolver as mas-

sas, recheios e molhos da Oh! Coxinha. “Fiz muitos testes. É tudo caseiro, bem artesanal”, explica, lembrando que prefere trabalhar com as culinárias francesa e italiana e ingredientes brasileiros. “Penso que essas coxinhas vão pegar no gosto popular e chegar a todo o país”, avalia. Paulista de Mogi das Cruzes, Dayse tem 34 anos, trabalhou com chefs renomados, como o francês Laurent Suaudeau. Ela venceu a primeira edição da MasterChef Profissionais, na qual chefs renomados avaliam pratos da alta gastronomia feitos por profissionais que competem pelo título de melhor cozinheiro do Brasil. As coxinhas da fábrica brasiliense são preparadas em fritadeira especial de alta temperatura, com capacidade para fritar até três quilos de salgados em um minuto, tempo máximo em que cada unidade permanece no óleo. Para quem fecha a cara só de ouvir a palavra fritura, é bom dizer que as coxinhas são sequinhas e feitas para se comer “com o olhar”. Apesar de coxinha ter adquirido significado pejorativo nos últimos tempos, a verdade é que fica difícil resistir a esse brasileiríssimo – agora superbrasiliense – petisco. Oh! Coxinha

Delivery: 3972.7060 (das 15h30 às 23h30), pelo site www.oh.coxinha.com.br ou apelo aplicativo da fábrica, disponível para Android e IOS (por enquanto, apenas para moradores de Águas Claras).


Fotos: Divulgação

Doce novidade POR VILANY KEHRLE

“C

ada vez mais o público brasiliense tem percebido a diferença entre sorvete e gelato italiano. E o melhor: ninguém precisa mais ir à Itália para provar essa delícia, reconhecida como a melhor do mundo”, proclama Paolo Calanchini, um dos proprietários da Cremeria Italiana, uma doce novidade no circuito gastronômico de Brasília, inaugurada no final do ano passado. Localizada na 206 Sul, com 107m2 e capacidade para atender até 50 pessoas, a cremeria abriu suas portas no início de dezembro e, como manda a tradição italiana, oferece produtos totalmente naturais, produzidos de forma artesanal, com matéria-prima de alta qualidade, sem aromatizantes, conservantes, corantes artificiais ou gorduras hidrogenadas, além de, em média, ter 50% menos gordura e açúcar do que o sorvete tradicional. “Temos sabores que chegam a 75% de fruta em sua composição”, afirma Mirko Stortini, o outro sócio no empreendimento. A variedade de sabores agrada aos mais simples e aos mais exigentes paladares: morango, limão siciliano, chocolate

em várias versões, coco fresco, avelã, fior di latte, doce de leite argentino e uruguaio, tapioca, pistache, tiramisù, “spagnola” (creme com amarena), nozes com figos caramelizados, cheese cake mesclado com fruta fresca... Além de outros sabores produzidos com receitas inusitadas, como a Crema Modenese, que mistura creme de mel com caramelo de vinagre balsâmico e um crocante de pistache salgado. Paolo e Mirko avisam que a cada dez dias pretendem apresentar uma novidade no cardápio, o que explica, segundo eles, o “sobrenome” da casa – ‘Il Gelato Creativo’ . Uma casquinha pequena de biscoito com até dois sabores custa R$ 13; cascão de biscoito até três sabores, R$ 16; copo pequeno até três sabores, R$ 13; copo médio até três sabores, R$ 16, e copo grande até três sabores, R$ 19. Um lembrete: para os intolerantes a determinados produtos, a gelateria oferece vários sabores sem lactose, sem açúcar, sem glúten e veganos. Calanchini e Stortini são dois mestres gelatier italianos com mais de 20 anos de experiência no ramo. Paolo mora desde 2002 em Niterói, onde é dono da marca Crema & Cioccolato Café, e

junto om Stortini, dono de gelaterias na Europa e de uma escola de gelato tradicional em Roma, mantém há quatro anos o projeto Gelato Italiano, que já formou centenas de profissionais por aqui e levou os dois especialistas a muitas consultorias ao redor do mundo. Por ser uma casa italiana, os proprietários incorporaram à gelateria uma cafeteria cujo cardápio oferece desde os clássicos espresso e cappuccino até o affogato al café e o mocaccino, assim como doces – bavarese, brownie, mousse, petitgâteau, tiramisù artesanal e waffles. Outra novidade é que o projeto agrega um espaço para cursos de gastronomia – a primeira escola-gelateria do Brasil, de acordo com os sócios, onde serão ministrados cursos teóricos e práticos sobre as técnicas de elaboração de gelatos. Um curso já está confirmado para este mês, entre os dias 21 e 25 (informações em www.projetogelatoitaliano.com.br ou pelo e-mail @projetogelatoitaliano.com.br). Paolo e Mirko avisam: se tudo correr bem, a Cremeria Italiana abrirá suas portas no Sudoeste muito em breve. Cremeria Italiana

206 Sul, Bloco B. Diariamente, das 11 às 23h.

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PICADINHO

TERESA MELLO

picadinho.roteiro@gmail.com

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Novidades no bistrô

Já conhece a coxinha do Flávio?

Janeiro chega animado ao Rapport Cafés Especiais e Bistrô (201 Sul). A empresária Fabiana Braga anuncia para a coluna, em primeira mão, a contratação do mixologista Vitor Moretti: “Ele promete trazer muita novidade pra gente e, provavelmente, no fim do mês já estaremos com a carta de drinques nova”. No cardápio, ela informa que o chef paulistano Arthur Gulfi (ex-Bistrô Escondido) prepara pratos frescos para acompanhar o verão. Enquanto isso, o menu executivo continua fazendo sucesso entre o pessoal que trabalha no Setor de Autarquias Sul. É renovado a cada semana e costuma encher os 100 lugares da casa, em funcionamento desde 2015. O cliente pode escolher, por exemplo, entre frango ao curry e cuscuz marroquino (R$ 39); tilápia grelhada e legumes; e filé mignon ao molho de vinho do Porto e purê de batata-baroa. “Um diferencial nosso também são as opções de vinho em taça, que pode ser tinto, branco ou espumante. A saída é enorme na hora do almoço”, diz Fabiana, brasiliense de 39 anos, formada em Administração, e que já organiza, para fevereiro, cursos de risoto e de métodos de preparo de café.

Os bolos do Flávio são bem conhecidos em Brasília, cidade em que o paraibano Flávio Cavalcante abriu a primeira loja em 2007. Hoje, são 13 unidades no Distrito Federal, além de um café em Águas Claras, na Avenida Araucárias (Posto BR), aos cuidados da esposa, Fabiana: “A torta Red Velvet é receita dela”, conta a gerente, Josie Mateus. Inaugurado em setembro e com capacidade para 40 pessoas, o local ganhou painel da dupla Toys e Omik, cactos no paisagismo, palhinha nas cadeiras e o amarelo vibrante da marca. “A grade de metal delimita o espaço da varanda no deck”, explica o arquiteto Alex Claver, da Studio 2, autor do projeto ao lado de Wilker Medeiros. No cardápio, os bolos estão no pote (R$ 12), em quadradinho gelado e em fatias. Há também cuscuz, tapioca e salgados. A coxinha é pequena, com massa fina e crocante. Ótima surpresa. Vai à mesa em cestinhas com seis unidades a R$ 8. Outra curiosidade é o pastel de açúcar, com recheio de carne desfiada, e a torta individual de carne-seca com banana-da-terra. Para acompanhar, existem cafés espresso, coado, especial e sucos servidos com canudo biodegradável. Funciona de segunda a sábado, das 8 às 20h.

Espaguete com frutos do mar Pratos leves de verão integram o cardápio do italiano ‘A Mano, na 411 Sul. O chef Ronny Peterson assina uma versão de espaguete na tinta de lula com frutos do mar por R$ 99. Outra opção é o carpaccio de camarão com lulas à provençal e vinagrete especial (R$ 67). E as novidades continuam. O italiano Salvatore Loi, ex-Fasano e com quem Ronny trabalhou, visitou os amigos em Brasília e compartilhou duas criações de seus restaurantes em São Paulo: do Modern, apresenta um ravióli de vitelo com Grana Padano; e da casa que leva o nome do chef, uma lasanhete com ragu de bolonhesa e muçarela de búfala. Nascido na Sardenha, Loi ficou conhecido pelo trabalho à frente do grupo Fasano no início dos anos 2000. “Ele é um parceiro antigo do chef Ronny e meu também. Para nós, é um grande prazer receber esse presente”, diz o sócio Carlos Rodrigues. Os destaques estão no menu desde o último dia 14.

Teresa Mello

A fábrica brasiliense de picolés e sorvetes artesanais Vai Bem começou no verão de 2015 em loja no subsolo do CA do Lago Norte. Quatro anos depois, a marca funciona em galpão de 600m2 no Setor de Oficinas Norte, tem 19 funcionários e 260 clientes entre mercados (Oba, Superbom, Dona de Casa etc), restaurantes e padarias. Produz 10,5 mil picolés por dia e 400 litros de sorvete por hora, segundo a gestora de marketing Melissa Valim, 25 anos. Sem conservantes, nem aromatizantes. “A Vai Bem nasceu de um desejo grande de empreender em Brasília, uma cidade quente e com pouca oferta de sorvetes de qualidade”, conta Júlio Faccioli, 28 anos, formado em Agronegócio pela Universidade de Brasília e que tem como sócio o amigo Fillipe Janiques. Neste verão, o lançamento é o picolé Crush, que tem textura de sorvete (de baunilha) e casca crocante com cobertura de chocolate e de amendoim. Pra levar pra casa, os potes de 500ml chegam em quatro versões: Mr. Brownie (chocolate belga e brownie), Praia Vermelha (frutas vermelhas, sem lactose), Hermanito (doce de leite) e Manolo (leite com alfajor). Ah, e enquanto isso, os pets ficam felizes com o Mapa Dog, sorvete de manga adoçado com mel.

Rayan Ribeiro

Rafael Lobo - Zoltar Design

Henrique Ferreira

Aqui vai tudo muito bem


“Eu não queria oferecer um hambúrguer gourmetizado, queria um bem-executado.” Assim, a empresária e confeiteira Bruna Prieto, 34 anos, define o carro-chefe das três casas e dos 110 funcionários que comanda com os sócios Lucas Arteaga e Gabriel Prieto. Das viagens, ela traz inspiração para cada contêiner projetado por Valéria Gontijo: o da 207 Sul foi inspirado em Nova York; o do Setor Hoteleiro Sul, na Califórnia; e o da Avenida Castanheiras, em Londres. Com um detalhe: todas as lojas foram abertas em 30 de novembro. Desde 2016. A de Águas Claras (Rua 28 Norte) é diferente. Tem 330m2, parceria com a loja colaborativa Endossa e área ao ar livre para 60 pessoas: “Estou adorando a cidade cheia de vida e pessoas na rua”, diz Bruna. No cardápio, o sanduíche da temporada é o Electric, que leva blend de black angus gratinado com queijo gouda holandês e guacamole. Custa R$ 32. O shake mousse de maracujá impressiona com calda de manga e espuma de coco. Mesas com tampo de madeira de Tiradentes (MG), sofá gigante (8m) no terraço e banheiros agêneros são outras atrações. Funciona de segunda a sexta, a partir das 17h, e sábado e domingo, a partir das 12h.

Rodrigo Zago

No terraço da Páprica Burger

Happy hour com pizza em dobro

Muito além do crepe Divulgação

Milk shakes, waffle, bolos, saladas, cafés e vinhos. A quadra 101 do Sudoeste ganhou, em dezembro, a segunda unidade da Chez L’ami, creperia e café com capacidade para 66 pessoas e projeto da Esquadra Arquitetos. A casa, comandada por Fernanda Barros e Priscila Costa Freire, mantém receitas clássicas e inovações criadas por Fernanda, nutricionista e ex-franqueada da Chez Michou: “Fizemos uma pesquisa no Instagram, e os nossos clientes é que escolheram o que entraria no novo cardápio”. Entre os sete crepes salgados, destaque para o Camarão Thay e o de queijo de cabra, mel e alho-poró; entre os doces, o de chocolate com frutas vermelhas. Existem ainda carta de vinhos com 25 rótulos, milk shakes, como o de churros, e taça de sorvete com calda de chocolate e marshmallow. Outra novidade é o Ginger Ale, refrigerante que leva gengibre, açúcar mascavo, limão e água com gás. A Chez L’ami também funciona na 207 Norte.

Que tal experimentar pizzas de massa caseira, com ingredientes frescos e molho pomodoro artesanal? As 12 unidades do Abbraccio no Brasil celebram janeiro com promoção de pizzas: se pedir uma, você ganha a segunda. A rede de culinária italiana contemporânea oferece seis sabores, que podem ser degustados, em Brasília, nos shoppings Iguatemi e ParkShopping. A promoção só vale de segunda a quinta, das 17h30 às 20h, e termina no dia 24. As variedades são as seguintes: marguerita, por R$ 39,50; calabresa, por R$ 44,50; quatro queijos (parmesão, muçarela, fontina e queijo de cabra com tomates secos, por R$ 44,50); linguiça italiana e pepperoni, por R$ 44,50; carbonara (queijos, ovos e pancetta [carne suína curada], por R$ 44,50) e pesto e proscuitto (com rúcula, tomate seco e prosciutto [presunto] assado, por R$ 51,50).

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Lucas Hamann

Sorvete de menta no verão Em embalagem de 400ml, o milk shake da Latteria, nos sabores de doce de leite, morango e chocolate, é acompanhado de canudos comestíveis. Assim, com respeito ao meio ambiente, nasceu a marca brasiliense inaugurada em novembro no Taguatinga Shopping. No quiosque instalado no Piso 1, o cliente pode escolher entre os tradicionais chocolate, doce de leite, pistache, morango, maracujá e flocos. Nos fins de semana, há rodízio com as novidades menta, coco, amarena e baunilha negra. “Temos apostado mais no sabor menta neste verão. Combinado com chocolate, fica uma delícia”, sugere a brasiliense Luiza Dourado Miccieli, de 31 anos, formada em Nutrição e ex-coordenadora de loja do grupo Giraffas: “Passei por um período de imersão no mundo da gelateria, estudando para desenvolver um excelente produto. Os testes foram realizados durante cinco meses”. Os sorvetes são vendidos a R$ 8 (uma bola) e R$ 10 (duas).

Na agenda pra você • Até 31 de janeiro: Festival do Bacalhau. No Dom Francisco (Asbac e 402 Sul), a partir das 18h. Pratos para duas pessoas. Entre eles, arroz de bacalhau (R$ 110), bacalhau à portuguesa e bacalhau em postas finas. No domingo, a unidade da Asbac funciona só para almoço. • De 24 a 26 de janeiro: Brasília Cachaça Experience. No Venâncio Shopping, das 10 às 20h. Vila da Cachaça e palestras sobre caipirinha (dia 24, às 18h30), harmonização de cachaça (dia 25, às 18h30) e a história da brasiliense Authoral com o produtor Eduardo Moreth (dia 26, às 11h). Entrada franca. Informações: 3322.8876.

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GARFADAS&GOLES

LUIZ RECENA

Esperança ainda rima com Brasil O VERDE VIOLENTOU O MURO é livro de 1984. O autor, Loyola Brandão, viveu em Berlim durante 15 meses, entre 1981-82. Começou brigando com os alemães, os costumes deles, a lógica germânica, os humores, horários e disciplinas. E o autor é paulistano por adoção. Berlim é mais do que tudo isso somado, incluindo autor e personalidade. Sorte nossa, porque conquistou o escriba e ele produziu um livro ótimo, pequeno e com gosto de quero mais. O Muro ainda dividia em duas, “nós e eles”, a hoje novamente capital de todos os alemães. Nos dois lados, sinais de efervescência, ruidosa e colorida no lado ocidental, no oriental a surdina marcava o compasso, como costumava ser nos países dominados pelo medo e pelo autoritarismo. A juventude alemã-ocidental, com o apoio de jovens de todo mundo, fazia a festa e pintava o Muro. Esperanças eram gestadas em todos os cantos de cá e em muitos cantos de lá. ESTE CRONISTA ESTEVE EM BERLIM anos depois. O Muro, das Mauer, ainda estava em pé. Só que todo pintado. Do outro lado, o cinza dominava, mas não abafava mais os murmúrios da liberdade, os soluços da raiva que alimentava a luta clandestina. A esperança e o verde andavam novamente de mãos dadas. Loyola foi premonitório; eu, testemunha privilegiada. Voltei várias vezes antes, durante e depois de minha correspondência moscovita. Em uma delas, senti que faltava alguma coisa, após conversas com os berlinenses. Não faltava, sobrava: o Muro físico tinha ido embora, mas ainda estava lá – vestígios de concretos na cabeça das pessoas, mais nas velhas. TUDO VEIO À TONA dezembro passado, findo o “nós contra eles” nacional, conhecidos os resultados e os nomes que iriam dirigir os destinos do país. Nesta época do ano, quando todos fazem balanços pessoais e materiais, o cronista faz balanços de saúde, os check-ups que determinarão as cores dos cartões a serem recebidos e os suplícios e castigos com

que este infiel será flagelado dos pés à cabeça, passando por joelhos, colunas, estômago, esôfago, coração, sistemas de pressão de portas, janelas e outros, além do mais sacrificado de todos: o velho fígado, sempre escolhido para o castigo maior. Paciência! As penas não variaram e algumas aumentaram. MAS OS DISCÍPULOS DE ESCULÁPIO queriam mais além de novidades de forno e fogão e safras de tintos ou espumantes nacionais e da vizinhança. Defendi como pude meus assados, aceitei legumes sem veganices, argumentei em favor de manjares que saem das panelas, rabadas com agrião, galinhadas, carreteiros, ensopados, costelas gordas e picanhas idem, tudo o que terei de diminuir neste novo ano. Entreguei meu malbec da temporada (Sol Fa Soul, do argentino Marcelo Pelleritti) e espumantes gaúchos com novos predicados, tipo Garibaldi, Pedrucci e outros. Nada. ESTOU DE OLHOS VENDADOS diante do pelotão de fuzilamento. Não beberás! Resistirei, responde o rebelde todo amarrado num pedaço de mim que nem eu mesmo sei onde fica... MAS HÁ DETALHE COMUM no meio dessas escaramuças com a turma do jaleco branco: a pergunta “Cronista, o país terá saída? Nós podemos ter esperança?”. Eles estão no meio das idades e das carreiras. Uns votaram no vencedor em segundo turno, outros passaram em branco. Nenhum voltou a votar em quem governou nos últimos anos. Perguntas têm na esperança a fonte. Explico que as histórias se sucedem e que o país emerge do outro lado do rio, sempre mais forte. Todo governo de neófitos começa confuso, filhos dão dor de cabeça, damas dos mares confundem ciência e fanatismo religioso... y la nave va. GUARDO DÚVIDAS COMIGO. Volto a apostar no título: a rima continua ao lado da esperança. Acalmo os algozes à espera de indulto futuro, mísero que seja, em mililitros...

AS DELÍCIAS DE MINAS PERTINHO DE VOCÊ 14

lrecena@hotmail.com

Queijos, doces, biscoitos, castanhas, pão de queijo, pimentas, farinhas, polvilho caipira, massa para tapioca, mel, manteiga, cachaças, linguiça, frango e ovos caipira.

Av. Castanheiras, Ed. Ônix Bl. A - Loja 2 - Águas Claras


PÃO&VINHO

ALEXANDRE FRANCO pao&vinho@agenciaalo.com.br

A quantas anda a vinicultura nacional Você formou um grupo de especialistas para avaliar os vinhos nacionais, correto? Conta um pouco sobre isso. Tenho um grupo de degustação, uma espécie de guia que me permite afirmar coisas que sozinho seria mais difícil. Trata-se do Mauricio Tagliari e do Beto Duarte, ambos dispensam apresentação. Para vinhos brasileiros de excelência, conto com os donos do Tordesilhas, do Mesa 3 e da Vinheria Percussi, três restaurantes responsáveis pelo que há de melhor na gastronomia de São Paulo. Contamos também com alguns reforços importantes: o casal Jane Pizzato e Fábio Miolo, dois dos mais capacitados degustadores brasileiros. Como foi especificamente a avaliação dos espumantes nacionais, que afinal são as “joias da coroa” da nossa vinicultura? Alguns deles, como Geisse, Pizzato, Miolo, Valduga, Máximo Boschi, Estrelas do Brasil e Angheben, estão consagrados pela crítica nacional e internacional. Ocorre que não para de ter boas novidade. Guatambu de Dom Pedrito, Routhier & Darricarrere, Campos de Cima, além de alguns surpreendentes como o Lírica e Aquarius estão sendo falados mundo afora. Em avaliação às cegas que fizemos recentemente, tivemos em primeiro lugar o Azir, da Salton, e empatados em segundo lugar os espumantes Aquarius e Máximo Boschi, seguidos logo abaixo pelo Geisse e o Lírica.

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Meu caro amigo Breno Raigorodsky, um dos grandes conhecedores dos vinhos que tanto adoramos consumir, criou um grupo de avaliação dos vinhos brasileiros, pelo que resolvi entrevistá-lo.

Qual a impressão geral até agora sobre evolução da vinicultura nacional? A qualidade é ascendente em geral. A escala e os impostos não permitem preços competitivos o tempo inteiro. Mas a procura pela excelência tem permitido a convicção de que estamos prontos para entrar no clube dos grandes produtores mundiais. Tintos como o Vista do Chá, como o Storia, Lote 43, Tannat Velhas Vinhas, DNA99 e alguns outros permitem dizer que não devemos nada em qualidade de tintos. O mesmo podemos dizer dos brancos, capitaneados pelo Sauvignon Blanc do Guaspari, pelo Gewurzt da Cordilheira de Sant’Ana e pelo fantástico Semillon da Pizzato. Ou seja, é correr para o abraço, se os nós burocráticos e dos impostos forem equacionados.

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bitucaemBrasília O cantor e compositor Milton Nascimento fará show no Centro de Convenções Ulysses Guimarães no dia 13 de abril. Ele vem com a turnê Clube da Esquina, uma homenagem ao antológico disco de mesmo nome lançado em 1972. Com a expectativa de ser um dos melhores shows do ano, o cantor pretende fazer um resgate dos grandes clássicos dos dois álbuns, com maior foco no primeiro. Serão executadas músicas que o público nunca escutou ao vivo. “Eu nunca tinha pensando em fazer algo que juntasse os dois discos do Clube, mas agora me veio um sentimento de que era hora de fazer isso. E essa turnê com certeza vai ser um acontecimento muito mágico, mesmo, pra não dizer mais... Quero trazer uma ideia que possa unir as pessoas. E tenho certeza de que este será o meu projeto mais especial em todos estes anos”, revela Milton. No show serão apresentadas ainda canções dos discos Minas e Gerais, que vieram entre os dois álbuns do Clube da Esquina, e que possuem total ligação com eles. Ingressos a partir de R$ 90, à venda no Brasília Shopping, no Conjunto Nacional, no Pátio Brasil e em www.bilheteriadigital.com. Informações: 3364.2694.

abagunçacontinua

trilogiaatrês Divulgação

Não pense que o título desta nota tenha pecado pela redundância. O que ele exprime é a união de três grupos teatrais de três países para montar a trilogia As areias do imperador, do escritor português Mia Couto. Fruto de um intercâmbio entre os grupos Teatro do Instante (Brasil), Fundação Fernando Leite Couto (Moçambique) e Teatro O Bando (Portugal), o espetáculo Netos de Gungunhana: um desvio estará no Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul) dias 25 e 26 de janeiro, às 20h, e dia 27, às 19h. A peça se baseia numa história de guerras e imposições de uma civilização a outra – pelos batismos, pelos sapatos, pelos talheres – como um pretexto para discutir violências que ainda persistem. Nesse projeto, os grupos, que têm em comum a língua portuguesa, questionam os colonialismos históricos de todos os dias, os líderes de fachada e as manobras dos poderes na sombra e à vista de todos. A versão brasileira do espetáculo de Mia Couto, dirigida por Alice Stefânia e Diego Borges, aborda a guerra contra o imperador Ngungunhane durante o processo de colonização de Moçambique, por parte de Portugal, discussão na qual pode-se observar importantes ecos do processo de colonização brasileira. Depois de ser encenada aqui em Brasília, irá para Maputo (Moçambique), em fevereiro. Para cada país em que a obra circula, o grupo anfitrião propõe suas próprias dinâmicas de composição e eixos estéticos para a nova versão, de acordo com o patrimônio poético, técnico, cultural e histórico de cada nação. Ingressos a R$30 e R$15.

Sargent Peppers, She loves you, Obladi Oblada, Octopus Garden e muitas outras músicas dos Beatles estão no novo repertório do show Beatles para Crianças 2 – A bagunça continua, que acontece dia 26 no Teatro Royal Tulip, com sessões às 15, 17 e 19h. Na primeira versão, que ficou em cartaz por mais de dois anos, o grupo BPC, Beatles para Crianças, apresentou vídeos e animações operadas ao vivo. Com toda a experiência adquirida, o grupo promete apresentações “ainda mais empolgantes, ainda mais dançantes e ainda mais emocionante para crianças e adultos”. As crianças serão apresentadas a novos instrumentos musicais, tais como banjo, gaita, sanfona, escaleta e muitos outros. E, mantendo a tradição do grupo, dessa vez as crianças recebem no final do show uma carteirinha de fã nº 1. Ingressos entre R$ 65 e R$ 130 à venda nas lojas Cia Toy (somente em dinheiro) ou em www.naoperco.com, com taxa de serviço. Informações: 4101.1230.

Seguindo a proposta de divulgar a cultura pernambucana em Brasília, o bloco Suvaco da Asa faz o abre alas do Carnaval brasiliense em festa marcada para o dia 26, a partir das 17h, no canteiro central do Setor Comercial Sul (Quadra 3, bloco A). A Orquestra Marafreboi se une com a banda Tropicaos e as Djs Karla Testa e La Ursa para comandar os foliões do bloco que há 13 anos ocupa as ruas de Brasília. Em 2018, foi seguido por mais de 60 mil foliões no Eixo Monumental ao som de frevo, maracatu, samba, samba reggae e afoxé e músicas tradicionais do Carnaval. Ingressos a R$ 25, à venda em https://www.sympla.com.br/abre-alas---previa- ou no local. Classificação: 18 anos.

Sérgio Moraes

gritodecarnaval

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João Couto

DIA&NOITE


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tintasregionalistas Um cabaré, como o da imagem que ilustra esta foto, a Santa Ceia, uma baiana subindo uma ladeira de Salvador. Por mais diverso que seja o tema escolhido pelo artista, com certeza as telas do gaúcho Nelson Pinto têm como marca contornos fortes, cores vivas e muitas expressões regionalistas. Até 2 de fevereiro, sua pintura de expressão modernista contemporânea pode ser apreciada por quem visitar a mostra ​Alegorias regionalistas, na Pátio Galeria. Artista plástico autodidata, Nelson Pinto já foi premiado em vários salões de arte, com trabalhos expostos no Brasil e no exterior. Ex-publicitário, web designer, desenhista ilustrador e artes aplicadas à internet, seu estilo reflete composição envolvida por contornos em que sobressai a firmeza do traço, forma permeada por abundância de detalhes. Atua em seu ateliê em Porto Alegre e é representado em Brasília pelo Ateliê Monalisa. De segunda a sábado, das 10 às 22h, e aos domingos, das 13 às 19h, novo horário de funcionamento do Pátio Brasil. Entrada franca.

anossaw3 Zuleika de Souza

labirintodeamor Costurar, pintar e bordar o amor. Enfeitar e dar graça a desilusões, tropeços, desavenças. É assim que o artista plástico Jorge Fonseca concebe sua obra, em exposição na Caixa Cultural até 3 de março. “A mostra sugere a observação da nossa vida e da vida do outro de um jeito diferente. São obras que contam histórias, falam de percalços, sofrimentos, humores e alegrias tão familiares às pessoas”, explica o próprio artista, em atividade desde o início dos anos 1990. São mais de 20 obras que dão um novo significado a objetos do imaginário coletivo e apontam brechas de afeto em coisas simples do cotidiano. Elas misturam artesanato, arte conceitual, pop, kitsch, sempre com uma forte atitude contemporânea, uma crítica contundente às relações humanas Artista autodidata mineiro, Jorge foi maquinista de trem e marceneiro por mais de 15 anos. Intitulada Labirinto de amor, a exposição foi assim batizada porque sugere, segundo ele, que “a vida nada mais é que um grande labirinto de situações inesperadas”. De terça-feira a domingo, das 9 às 21h. Entrada franca.

Quem passa hoje pela primeira avenida de Brasília e se espanta com sua degradação não pode imaginar que um dia ela já teve seus momentos de glória. Em seus primeiros anos, ela foi o principal ponto comercial e cultural de Brasília. Por décadas a fio a fotógrafa Zuleika de Souza registrou fotos desse lugar que ela frequentou e agora expõe o resultado desse trabalho no Espaço Cultural Renato Russo. Com concepção visual de Clarissa Teixeira, a mostra W3 divergentes Brasílias apresenta retratos de novos, velhos, gradeados, descuidados, pintados, descorados, descascados, pichados, quebrados, grafitados, arranhados, colados, detonados, vazados, pretos, brancos, azuis, verdes, rosas, amarelos, vermelhos, listrados, estampados, de lambri, de madeira, de ferro, de vidro... Sobre o nome da exposição, afirma a jornalista Conceição Freitas, “a W3 é subversivamente bela. Nela, se desdobram divergentes Brasílias, pois o que é uma cidade senão a soma de nossas divergências em uma totalidade possível?” Até 3 de fevereiro, com entrada franca.

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André Santos

incisão Esse é o nome da exposição individual do português Alexandre Farto, em cartaz na Caixa Cultural até 24 de março. Mais conhecido por Vhils, o artista apresenta uma instalação visual que contou com a participação da comunidade indígena da Aldeia de Araçaí, no Estado do Paraná, além de painel fotográfico e vídeos sobre o seu processo artístico. Considerado um dos grandes nomes da street art mundial, com obras expostas em mais de 30 países, Vhils nasceu em Lisboa, em 1987, e começou a se interessar pelo grafite com apenas dez anos. Aos 13 já pintava paredes e trens em companhia de amigos ou sozinho. De Portugal, partiu para outros países europeus com o mesmo propósito de pintar trens. Da lata de spray, ele partiu para o stencil e, mais tarde, explorou outras ferramentas e processos. Desde os 19 anos vive em Londres, onde cursou Belas Artes na St. Martin’s School. Foi lá que começou a ser conhecido e conseguiu que a sua street art de retratos anónimos em paredes danificadas ou fachadas de casas abandonadas lhe valessem o reconhecimento mundial.Tem trabalhos espalhados em espaços públicos de várias cidades do mundo como Londres, Moscou, Nova York, Los Angeles, Bogotá, Medelín, Cali, Porto, Lisboa (na LX Factory ou na Fábrica do Braço de Prata). De terça-feira a domingo, das 9 às 21h, com entrada franca.

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DIA&NOITE

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Assim se chama a oficina que o CCBB está organizando dias 24 e 25, quinta e sexta, às 16h. Trata-se de uma experiência de interação com o espaço, os materiais cênicos e as luzes que utiliza o teatro de sombra moderno, propondo ao público presente brincadeiras para compreender as possibilidades dessa linguagem.
A proposta da Cia. Lumiato é “abrir as portas para esse universo onírico das sombras, onde fantasia e realidade se misturam, conduzindo os participantes à criação de mundos onde tudo é possível”. No dia seguinte, a companhia teatral apresenta Iara – Encanto das águas”, às 17h, espetáculo de teatro de sombras inspirado na lenda e no mito da sereia brasileira. A ideia é sensibilizar o público infantojuvenil sobre os saberes da tradição oral dos povos originários do Brasil. Ideal para crianças a partir de quatro anos. Informações: 3108.7624.

revistasraras Vem aí a sétima edição da Mostra de literatura – Criação e mercado, que este ano apresenta uma exposição inédita de revistas raras na Biblioteca Braille Dorina Nowill, de Taguatinga. De acordo com o produtor cultural Andrey do Amaral, a programação inclui também debates sobre temas relacionados aos Direitos Humanos, “promovendo a bibliodiversidade com livros e periódicos raros e valorizando a literatura, a identidade e os autores locais”. A mostra tem como foco conquistar novos espaços de leitura, distribuição gratuita de livros e audiolivros, formação de leitores, práticas sociais de leitura, conscientização sobre o valor social do livro e da leitura. A exposição acontece entre 21 e 25, das 9 às 16h30, e tem o apoio da Secretaria de Cultura do Distrito Federal. Todas as atividades são gratuitas e, se necessário, com audiodescrição para pessoas cegas e com baixa visão. Informações: 98157.9236.

históriasemquadrinhos No dia 30 de janeiro de 1869, há 150 anos, Angelo Agostini publicou na revista Vida Fluminense a primeira história em quadrinhos do Brasil. Chamava-se As aventuras de Nhô Quim ou Impressões de uma viagem à Corte. Para comemorar a data, foi criado o Dia Nacional da História em Quadrinhos, que este ano terá comemoração no CCBB com uma oficina básica de quadrinhos ministrada pelo artista e ilustrador Lucas Gehre. A proposta é convidar o público a conhecer o universo da criação das HQ’s apresentando as características e as possibilidades dessa linguagem para crianças a partir dos dez anos. Dias 29 e 30, das 17 às 21h. Informações e agendamento em 3108.7624 e agendamentodf@ccbbeducativo.com.

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Existem várias maneiras de se escrever um roteiro a partir de quatro pilares fundamentais: personagens, núcleo dramático, tom e gênero. É isso que a roteirista argentina Natália Smirnoff vai demonstrar no minicurso que dará entre os dias 23 e 26 no Quanto Café (103 Norte). Com apenas 15 vagas, e intitulado Roteiro – Pulsão vital, o minicurso realizado em quatro encontros tem como tema “A escrita como jogo e desfrute. Indagar os conhecimentos de roteiro em função de uma estrutura orgânica”. Nascida em Buenos Aires, Natália estudou direção na Universidad del Cine, trabalhou como assistente de direção e diretora de casting para diretores como Lucrecia Martel, Jorge Gaggero, Marcelo Piñeyro e Pablo Trapero, entre outros. Em 2009 escreveu e dirigiu Rompecabezas, selecionado para o laboratório Toscano Sundance 2006. O filme foi vencedor do prêmio de cinema Fonds Sud e nomeado para o Urso de Ouro no Festival de Berlim 2010. O serralheiro, seu segundo longametragem, selecionado no Laboratório do Festival de Havana, estreou no World Dramatic Competition del Festival de Sundace. Tree Turner, seu terceiro longa, ainda está em processo de finalização. Informações em nataliasmirnoffembsb@ gmail.com ou no whatsapp 98409.0453.

sombratividade

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cursoderoteiro

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vemaí Chama-se 50 anos de realismo – Do fotorrealismo à realidade virtual a exposição que o CCBB apresenta a partir de 5 de fevereiro. Com cerca de 100 obras de 30 artistas brasileiros e estrangeiros, tem como ponto inicial a realidade e sua representação através da pintura, da escultura e da realidade virtual nos últimos 50 anos. A proposta possui um caráter de ineditismo, pois o fenômeno da representação da realidade na arte contemporânea nunca foi tratado partindo do fotorrealismo, sendo este aprimorado no hiper-realismo e seguido pela realidade virtual. Com curadoria de Tereza de Arruda, tem obras do espanhol Andrés Castellanos, um dos grandes nomes do hiper-realismo europeu, bem como obras interativas assinadas por Akihito Taniguchi, Theo Triantafyllidis, Andreas Nicolas Fischer e Banz & Bowinkel. Nessas instalações, serão exibidas em monitores e projeções espaciais. A ideia é que em algum momento as peças dialoguem entre si. Referências importantes do Brasil, como as pinturas de Fábio Magalhães e as linhas arquitetônicas de Hildebrando de Castro, também são parte importante da mostra.


QUEESPETÁCULO

Deslumbramento e magia “V

ocê nunca saberá se viu ou se sonhou”. Esse é slogan do Teatro Negro de Praga, que chega a Brasília para uma única apresentação no dia 8 de fevereiro, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em que promete um tempo de puro deslumbramento e magia. O espetáculo Antologia é uma seleção de oito cenas de diversas produções originais do grupo desde sua criação, nos anos 1960. Com o palco transformado em uma caixa preta, os atores utilizam a mímica, a expressão corporal, a dança e técnicas circenses para, sem palavras e com muita tecnologia, contar histórias bem-humoradas sobre a essência humana. “O Teatro Negro é fantasia, é magia, é uma intenção de voltar ao sonho e perceber que tudo é possível. Nosso silêncio não é política nem protesto, é arte, é fantasia, são gargalhadas, sustos e alegria”, define Jiri Srnec, que hoje dirige o grupo criado por seu pai – de quem herdou também o nome – há 62 anos. O teatro negro – efeito da câmara ne-

gra que explora a incapacidade do olho humano de enxergar o negro sobre o negro – tem origem na China há cerca de 300 anos, em comédias apresentadas na forma de telas de projeção à luz de velas. A partir dos anos 1950 passou a incorporar tecnologias multimídia, como projeção cinematográfica, som, iluminação e especialmente luz negra. Desde os chineses, a técnica vem sendo utilizada por vários artistas em todo o mundo, de Stanislavisk a Michael Jackson. No Brasil, teve seu expoente na década de 1970, com a montagem do espetáculo Cobra Norato pelo grupo de teatro de bonecos mineiro Giramundo. Mas Jiri Snerc não esconde o orgulho e afirma sem nenhuma modéstia: “Somos os melhores. Fomos os primeiros a aperfeiçoar o teatro negro e fazê-lo nosso. Por ele, milhões de pessoas viajam a Praga. Não só para ver uma das cidades mais belas do mundo, mas também para nos ver. Ver os melhores do mundo nessa arte”. Mais do que o domínio da técnica, o que faz do Teatro Negro de Praga o melhor do mundo, para Snerc, é a crença no deslumbramento e no sonho impri-

mida por seu pai desde os primeiros espetáculos. “Os objetos que voam pelo palco não fazem apenas coreografias, mas têm alma, têm vida própria. O trabalho da nossa companhia trata de expressar e compartilhar histórias em uma linguagem universal, sem palavras. Só com emoção e magia”, conclui o diretor. Fotos: Divulgação

POR LÚCIA LEÃO

Antologia – O original Teatro Negro de Praga

8/2, às 21h30, no Auditório Planalto do Centro de Convenções Ulysses. Ingressos (meia): R$ 90 (setor especial) e R$ 120 (setor vip), à venda na bilheteria do teatro, na loja Eventim do Brasília Shopping, em www.eventim.com.br ou pelo telefone 4003.6860.

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GRAVES&AGUDOS

Assim nasceu a MPB POR HEITOR MENEZES

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i, a canção não é mais a mesma, e não é de hoje, lamentam os apocalípticos, para quem o estado atual da música popular brasileira é qualquer coisa que se aproxima da penúria, dada a “pobreza” do que se apresenta como sucesso ou preferência dos ouvintes. A canção, a junção de verbo e melodia, palavra e som, dizem, acabou. Para quem enxerga o fim do mundo, deve ser mesmo o fim do mundo! Para se chegar a tal constatação, por certo há a comparação com as “glórias”

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do passado, um período fulgurante de produção musical que fez neste país surgirem clássicos de toda ordem, do bolero e samba-canção à bossa-nova, passando pelo tropicalismo e a mais classuda MPB. A música, a canção, diz muito sobre o que somos. Pois é mais do que oportuno conferir o musical MPB – A era dos festivais, dia 2 de fevereiro, no Teatro Dulcina, não só para curtir e lembrar um punhado de grandes canções, mas também para ficar pensando melhor. Quem sabe bate a inspiração e o espectador sai de lá capaz de produzir qualquer coisa que chegue aos pés dos nossos mestres, como Cartola, Chico Buarque, Dorival Caymmi, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Antonio Carlos Jobim... Com título elucidativo, o espetáculo celebra o repertório de ouro da era dos festivais de canções. Entre 1965 e 1972, este país viu aflorarem canções, compositores e intérpretes que marcaram gerações e se tornaram grandes referências culturais. Tudo dentro do esquema dos competitivos e empolgantes festivais transmitidos pelas incipientes redes de televisão, que aos poucos dominavam a atenção e reinavam nos lares de norte a sul do Brasil. Edu Krieger, diretor musical do espetáculo, nascido no Rio de Janeiro, conta

que, em 2015, teve a ideia da montagem ao perceber que faziam 50 anos da arrasadora performance de Elis Regina cantando Arrastão (Vinicius de Moraes/ Edu Lobo) no festival da extinta TV Excelsior. Em preto e branco, aquela figura sorridente, cabelinho curto, rodando os braços feito um helicóptero, emoção à flor da pele, inaugurou a tal era e mudou para sempre os rumos da nossa música. Krieger afirma que concebeu o roteiro de modo que pudesse incluir o maior número de canções. “Obviamente, muitas ficaram de fora, pois foi um período muito fértil, de muita produtividade”, afirma. “Quis trazer músicas obrigatórias, as campeãs, como Sabiá (Antonio Carlos Jobim/Chico Buarque), Arrastão, Ponteio (Edu Lobo/Capinam) e Pra não dizer que não falei das flores (Geraldo Vandré)”. Quem for ao Teatro Dulcina (aliás, que legal recomendar um espetáculo no Dulcina) verá Krieger comandando time de ótimos músicos, como a cantora Nina Wirtti e o tecladista Marcelo Caldi, que chama a atenção para a qualidade dos arranjos envolvidos. “Em Roda viva, de Chico Buarque, conseguimos reproduzir ipsis litteris o arranjo vocal”, referindo-se ao grande jogo de vozes do original, com Chico e os rapazes do MPB4. Caldi é en-


E 1968, o ano que não acabou? Bem, nesse, a interferência dos militares no III FIC foi inevitável. Consta que Walter Clark, diretor da TV Globo, recebeu ligação de um general advertindo que Caminhando (Pra não dizer que não falei das flores) não poderia de forma alguma sagrar-se campeã, apesar da indisfarçável preferência popular. Por quê? A letra “subversiva”, claro, que falava de “soldados armados, amados ou não/Quase todos perdidos de armas na mão/Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição/ De morrer pela pátria e viver sem razão”. Um escândalo, né? O que se seguiu foi amplamente registrado: Sabiá, linda canção de Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, foi a

vencedora, mas seus autores e intérpretes foram sonoramente vaiados (imaginem, vaiar Tom e Chico!), pois o público que lotou o Maracanãzinho ficou inconformado com a estranha decisão do júri. Para que não houvesse mais dúvidas sobre quem mandava no país, em 13 de dezembro daquele ano os brasileiros ganharam de presente de Natal o infame Ato Institucional Número 5 (AI-5). O resto é história. MPB – A era dos festivais

2/2, às 18 e 21h, no Teatro Dulcina (Conic, no Setor de Diversões Sul). Direção musical: Edu Krieger. Com Edu Krieger, Nina Wirtti, Marcelo Caldi, Fabiano Salek e PC Castilho. Ingressos (meia): R$ 40 (pavimento inferior) e R$ 30 (pavimento superior). Classificação indicativa: 12 anos.

Fotos : Divulgação

fático: “A gente não deixa nunca de se encantar com esse repertório, que é um marco da nossa música popular brasileira”. Para quem perdeu o rumo da história, vale lembrar que a era de ouro dos festivais começou naquele 1965, com Elis defendendo Arrastão, em momento subsequente à tomada de poder pelos militares, no famigerado golpe (e não movimento, como imagina o ministro Dias Toffoli) de 1964. Como lembra o jornalista, escritor e produtor musical Zuza Homem de Melo, autor do livro A era dos festivais (2003), em 1967 a TV Record produziu aquele que é considerado o mais importante dos festivais, que pôs em evidência a batalha que dividia o Brasil de então: a contenda entre os verdadeiros entusiastas da música popular brasileira versus os que defendiam a modernização representada pelas guitarras do iê-iê-ê. Isso, a tradição cultural brasileira contra o imperialismo ianque. Nesse, o vencedor foi novamente Edu Lobo, desta vez com Ponteio, interpretado com galhardia por Marília Medalha, lembram? A partir daí – enfatiza Zuza Homem de Melo – os festivais viraram mote para aglutinar as vozes que bradavam contra a ditadura militar. Isso no campo político, enquanto a área musical viu a ascensão de jovens compositores, como Milton Nascimento, que nos apresentou a belíssima Travessia no Festival Internacional da Canção, em 1967.

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GRAVES&AGUDOS Divulgação

Phil Anselmo

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Sérgio Britto

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então, o que quereis? – pergunta o arrebatador poema de Maiakovski, voz da sabedoria para nos acalmar em meio ao mar agitado da história. Pergunta pertinente, pelo menos à boa parte da classe artística e público consumidor dessas artes, haja vista a extinção do Ministério da Cultura, ou pelo menos seu rebaixamento como secretaria vinculada ao novo Ministério da Cidadania. O que isso representa ainda não dá para dizer. O que quereis tem sentido muito amplo. Certo é que nem a virada de ano nem a de governos esmoreceram os ânimos da programação cultural da capital. O período tem samba, rap, hip-hop, covers legais, heavy metal, mpb e, claro, o pré-Carnaval de blocos dando a tônica do período momesco, tal qual nos impõe o calendário. Começando com o silêncio, a música interior, da batida do coração, do pulsar das veias. A pedida é a Meditação da lua cheia, na noite deste domingo, 20, no CCBB. A primeira lua cheia do ano será celebrada com meditação coletiva, iniciativa para todos com ou sem experiência em concentração mental e fluidez da respiração. Para atrair coisas boas, desejar

paz aos amigos e inimigos. Passada a fase de contrição, uma esbórnia cai muito bem, obrigado. No Carnaval, a pessoa perde o controle. Portanto, a dica é o Abre alas – A prévia do Suvaco da Asa. Suvaqueiros e suvaqueiras já sabem onde se jogar: a festa no quentíssimo Espaço Cultural Canteiro Central (Setor Comercial Sul), sábado, 26. Olha as atrações: Orquestra Popular Marafreboi, Fanfarra Tropicaos e as DJs La Ursa e Karla Testa. Aliás, o dia 26 está terrível no Setor Comercial Sul. Na rua de baixo (Quadra 4) rola a festa Criolina no Setor com BNegão Bota Som. Para um bom entendedor, Bernardo Santos, o BNegão (da fama Planet Hemp) manda rap e hip Divulgação

POR HEITOR MENEZES

DJs La Ursa

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Esquenta para o Carnaval

BNegão

hop, junto ao seu coletivo favorito de DJs, que reúne os seguintes elementos nas carrapetas: Tahira, Barata, Pezão e Forró Red Light. Em outro canto da cidade, no mesmo sábado, no combalido Setor de Oficinas Sul, quem comanda o rock é a banda Urbana 2 (cover de Legião Urbana), direto de Belo Horizonte, no Toinha Brasil Show. Lá perto, na Cervejaria Criolina, o maranhense Phill Veras volta à capital depois de dois anos, desta vez com as músicas do disco Alma, mais folk do que nunca, lançado em 2018. Esse carinha já esteve no Rock In Rio e, nadando contra a corrente, defende bravamente o som autoral.


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Nayron Rodrigues

Mestrinho e Mariana Aydar

Jorge Vercillo Phill Veras

Por algum motivo não dá para ir a nenhum desses eventos? Você guarda o sábado? No problem. No dia seguinte, domingo, outro pré-Carnaval violentíssimo (no bom sentido) é a festa Essa Boquinha Eu Já Beijei – Verão após Calypso, fim de tarde, no bar Outro Calaf (Setor Bancário Sul). O grito de Carnaval fica por conta da banda Essa Boquinha Eu Já Beijei, além dos DJs Pati Egito, Tamara Maravilha e Medro Pesquita. Agito semelhante, aliás, evento concorrente desse domingo é o lance Múltiplo Ancestral convida Fanfarra Tropicaos, literalmente um pré-Carnaval tomando conta do CCBB. A desculpa é celebrar o Dia Nacional do Compositor. Em resumo: parada gratuita, para levar a família, amigos e amores. Mudando o disco, aumenta que isso aí é heavy-metal! Em menos de um mês, outra grande atração peso-pesado nos vi-

2 de fevereiro é dia de festa no mar, dizia Dorival Caymmi, lembrando o dia de Iemanjá. Também é dia de rock, mano. Isso porque o grande Titã Sérgio Britto vai mandar um som legal, no Poizé (305 Norte). Além dos clássicos titânicos, Britto deve engatar covers de Ramones, The Clash, Paralamas e Beatles. Como complemento, o lendário Tadeu Miura comanda as carrapetas com muito rock nacional e internacional. Voltando à calmaria, outra digna de nota é o tributo à grande Mercedes Sosa (1935-2009). Dia 7 de fevereiro, no Feitiço Mineiro (306 Norte), o grupo Merceditas lembra as inesquecíveis canções de La Negra, uma das vozes mais incríveis nascidas nessa América Latina. Eleni Fagundes (voz e direção musical), Ednea Fagundes (voz e cajon),Eliane Timm (voz e percussão) e Eulália Augusta (voz e violão) lembram Mercedes através da música de Violeta Parra, Atahualpa Yupanqui, León Gieco, Maria Helena Walsh,

Daniel Viglieti, Virgilio Carmona, Horacio Guarany, Victor Jara, Ariel Ramirez, e Armando Tejada. Como o período é de folia, e a Quarta-Feira de Cinzas é só em março, vale curtir Mestrinho e Mariana Aydar, dia 9 de fevereiro, no Minas Brasília Tênis Clube. O tradicional reduto do forró no Setor de Clubes Norte abre as portas para isso mesmo: forró! Mas forró com pitadas de MPB e samba, como convém aos artistas anunciados. Os DJs Cacai Nunes (Forró de Vitrola) e Rafael Pops e a banda Samba Urgente seguram a onda, caso as coisas esfriem lá pelas tantas. Ja Rule é o apelido do novaiorquino Jeffrey Atkins. No mundo do rap norteamericano Ja Rule é o autor de Holla, holla, Daddys litlle baby e Put it on me, embora também seja conhecido por controvérsias envolvendo outros rappers. Deixa estar, quem curte o estilo não pode perder o retorno do cantor à capital, dia 10 de fevereiro, no complexo Yurb, Setor de Clubes Sul. Para finalizar, dia 15 de fevereiro, preparem-se para o Frankamente Sinatra. Isso mesmo, alguém teve a ousadia de mandar um cover do velho Ol’ Blue Eyes, Mr. Frank Sinatra, A Voz. A ousadia fica por conta de Helcio Hime, emulando as canções que fizeram a fama do grande Frank, o tal primeiro grande ídolo das massas. Caso duvide, compareça ao Teatro dos Bancários. Ver é crer, ouvir é acreditar, dizia São Tomé. Então, o que quereis? Divulgação

sita. Primeiro foi Blaze Bailey (ex-Iron Maiden). Agora é Phil Anselmo, norte-americano que muitos conheceram se esgoelando na extinta Pantera, formação barra-pesada que nos deu pelo menos dois grandes discos do gênero: Cowboys from hell (1990) e Vulgar display of power (1992), aquele que na capa tem um indivíduo levando um socão na cara. A barulheira é no domingo, 27, no pub Toinha Brasil Show. Passado o sufoco, dia 31, no Teatro Pedro Calmon (ao lado do QG do Exército), a calmaria fica por conta de Jorge Vercillo e Beto Dourah, acompanhados da Orquestra Filarmônica de Brasília. É a abertura da temporada OFB 2019, sob regência do maestro Thiago Franciss. No programa, ainda tem homenagem à falecida Dora Galesso (Orquestra de Senhoritas).

Helcio Hime

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GRAVES&AGUDOS

Brazilian Blues Band

Para além

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hows musicais com artistas da cidade, intercalados por exibições de curtas-metragens premiados também produzidos em Brasília, circulando por três regiões administrativas do Distrito Federal. Essa é a proposta do projeto Fora do eixo, que percorrerá o Guará (19 e 20/1), a Candangolândia (27 e 28/01) e o Núcleo Bandeirante (3 e 4/2), sempre com entrada franca. O projeto, idealizado pelo músico e produtor Zelito Passos, será realizado pelo Instituto Casa da Vila com apoio da Secretaria de Cultura e das administrações das cidades por onde vai passar. O Fora do eixo pretende contribuir para descentralizar a cultura e irradiar a produção artística local para além do Plano Piloto, especialmente em locais com poucas opções de lazer, entretenimento e cultura. “A ideia é mobilizar um espaço cultural itinerante que possibilite a fruição artística, a descentralização cultural, a cidadania e a celebração coletiva num ambiente de qualidade”, afirma o produtor. Para a itinerância, o projeto conta

com uma superestrutura em uma carreta com palco móvel de 22 metros, tela de 9 x 4,5 metros e 500 cadeiras, além de área de alimentação com food trucks. A programação é bastante diversificada. Entre as atrações, bandas e artistas brasilienses reconhecidos e com carreira consolidada, como a Brasília Blues Band, programada para a estreia. A cultuada banda de blues candanga completa 25 anos de car-

Fora do eixo

19/1, às 17h, em frente à Casa da Cultura do Guará: Brasília Blues Band, Os Cabelo Duro, Kadu Lambach (tributo à Legião Urbana) e Nova Raiz. 20/1, no mesmo horário e local: Manassés de Souza, Wagner Malta e Junior Tanna. 26/1, às 17h, na Praça dos Estados da Candangolândia: batucada dos Raparigueiros, Coisa Nossa e banda Bicho Grilo. 27/1, no mesmo horário e local: Manassés de Souza, Wagner Malta e Brasília Blues Band. 2/2, no estacionamento do Lendários, do Núcleo Bandeirante, às 17h: batucada dos Raparigueiros, Coisa Nossa e Bicho Grilo. 3/2, no mesmo horário e local: Manassés de Souza, Wagner Malta e Junior Tanna. Entre os shows serão exibidos sempre curtas-metragens produzidos em Brasília. Fotos: Divulgação

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do Plano Piloto

reira e está com álbum novo na praça. Participam também Kadu Lambach, ex-guitarrista da Legião Urbana, que apresentará repertório da lendária banda, Os Cabelo Duro, um dos expoentes do punk brasiliense, com 30 anos de estrada, a banda de reggae Nova Raiz, que circulou recentemente por festivais de música na Europa, e o veterano Manassés de Sousa, conhecido e respeitado músico cearense residente há muito em Brasília. Entre as apresentações musicais o público vai ter a chance de assistir a filmes de curta-metragem produzidos no DF e premiados em festivais, entre eles 4, de Vicente Sá, que fala de quatro referências musicais de Brasília (Clodo Ferreira, Liga Tripa, Zé Mulato e Cassiano e Tiãozinho, fundador da banda Esquema 6); Colorirá, de Gabriele Fernanda, que trata do racismo na infância com a história de Bia, garota de dez anos discriminada na escola; e Censurado, premiado curta de Pedro Buson que revisita a época da ditadura militar para explorar a questão da censura de forma bem-humorada.

Os Cabelo Duro


Divulgação

A partir da esquerda, Alessandro, Pablo Fagundes, Pedro Miranda, Misael Barros e Serge Frazunkiewcz.

Assovio contagiante Acompanhado por renomados instrumentistas, Alessandro Oliveira lança o disco Fazendo bico. POR PEDRO BRANDT

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adialista de voz marcante e presença carismática, Alessandro Oliveira, 43 anos, tem uma outra característica que, entre uma conversa e outra, logo se revela, especialmente se o assunto é música: seu talento no assovio. “Sou filho único e minha mãe sempre me pedia para eu gravar uns assovios no celular para ela ouvir quando eu estivesse distante”, revela. Essa facilidade para assoprar melodias, claro, não passou despercebida pelos inúmeros músicos que Alessandro conheceu e entrevistou como apresentador da Rádio Nacional. “Existia até uma cobrança de alguns músicos, que me diziam: “Você assovia bem, é afinado, isso aí já é um instrumento”, ele conta. “Mas eu resistia, não achava que daria conta”. Foi depois de um braço quebrado, que o deixou de molho em casa por algum tempo, que Alessandro resolveu experimentar como seria seu assovio melodioso e espontâneo dentro de um arranjo musical, com a participação dos instrumentistas que, de entrevistados, tornaram-se amigos.

“Telefonei para o [músico e produtor] Dudu Maia e perguntei como era o processo de gravar no estúdio dele, a Casa do Som”, continua o radialista. Dudu abraçou o projeto e assim foram surgindo as oito gravações que compõem o disco Fazendo bico – Alessandro Oliveira e amigos da Casa do Som. Assoviador e produtor levantaram uma lista de compositores, composições e instrumentistas para se juntar a eles. “Para minha surpresa, todos toparam participar imediatamente”, lembra Alessandro. Ao longo de um ano e meio, 20 prestigiados instrumentistas de Brasília – do choro, do jazz e da música instrumental brasileira – passaram pelo estúdio do bandolinista Dudu Maia – nomes como Leander Motta (percussão), Hamilton Pinheiro (baixo elétrico), Pablo Fagundes (gaita cromática), Serge Frazunkiewicz (teclado), Oswaldo Amorim (baixo acústico), Pedro Vasconcellos (cavaquinho), Misael Barros (bateria e percussão), Pedro Miranda (baixo elétrico) e Fernando César (violão de sete cordas). Alguns trouxeram a tiracolo composições inéditas. As gravações seguiram em ritmo descontraído, na medida que a agenda de cada um permitia. Os encontros, geralmente, começavam com churrasco e cerveja para, depois, a entrada em estúdio,

onde os arranjos iam surgindo coletivamente e com muita liberdade de criação. “Minha ideia não é fazer malabarismos com o assovio. Toots Thielemans assoviava muito bem num contexto de jazz. O multi-instrumentista brasiliense Milton Guedes também é um assoviador da pesada. Por outro lado, muita gente usa o assovio em uma parte incidental de uma canção, de forma simples, mas com grande potencial de comunicação com os ouvintes, a exemplo do Caetano Veloso”, comenta Alessandro. O poder do assovio, ele acredita, pode divertir e ainda trazer alento por sua característica terapêutica, pois instiga a memória afetiva das pessoas. Disponível nas plataformas digitais desde dezembro de 2017, Fazendo bico ficou ali, quietinho, sem pressa, enquanto Alessandro encontrava o momento certo para começar, um ano depois, sua divulgação. Quem procurar o disco vai encontrar em seus 27 lúdicos minutos a prova do alto astral que permeou sua produção. Está ali uma música familiar, brasileira, que entra macia no ouvido. Encanta, acalenta e diverte. E, claro, dá vontade de assoviar. Fazendo bico

Alessandro Oliveira e amigos da Casa do Som. Ouça gratuitamente em www.youtube.com/user/olival4 ou em outras plataformas digitais.

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GRAVES&AGUDOS

Entretenimento e dor Segundo álbum da banda Superquadra funciona como trilha sonora de um imaginário filme brasiliense POR PEDRO BRANDT

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raticamente uma década separa o início das gravações de Norte, o segundo álbum da banda brasiliense Superquadra, e seu lançamento nas plataformas digitais, em dezembro de 2018. Capitaneado pelo vocalista e letrista Claudio Bull e pelo guitarrista Wilton Rossi, o grupo não teve pressa. Família, emprego, estudos, entre outros compromissos, deixaram o disco em banho maria esse tempo todo. Ao longo dos anos 90, Claudio (na foto, de boné) e Wilton (à esquerda, de óculos) tocaram a banda Divine, um marco do rock de Brasília do período, na qual juntavam punk, glam e indie rock com inspiradas letras existenciais e referências como arquitetura, religião e cultura pop. A Superquadra, surgida no começo dos anos 2000, quando Claudio retornou a Brasília depois de uma temporada entre Rio e São Paulo, mais do que dar continuidade à extinta Divine apresentou um trabalho mais refinado e maduro. Brasília, uma incontornável musa inspiradora para Bull, é personagem importante de Tropicalismo minimal, primeiro álbum da Superquadra, lançado em 2006. Mas não a Brasília da Esplanada e sim – como o próprio nome do gru-

po sugere – a das superquadras, da vida cotidiana, onde casais se formam e namoros terminam, onde amigos saem para dançar e se divertir. Essa verve continua presente em Norte. Suas dez imagéticas faixas convidam o ouvinte a experimentar um filme imaginário, uma minissérie inédita ou uma novela nunca filmada tendo Brasília como pano de fundo. Cenas se passam no shopping, em apartamentos, em mesas de bar, nas ruas da cidade ou em inferninhos (como ilustra o recém-lançado videoclipe de 1000 ondas elétricas). Entre os diálogos, os personagens afirmam que “ninguém é fiel” (Judas); ponderam “se o mundo me leva rápido, eu vou devagar, quem corre chega à frente pra se lamentar” (Frenesi); exultam “ficar olhando no relógio a hora lentamente passar, pra depois no fim da tarde poder te ver chegar” (Brisa); questionam “quem não é cruel?” (Toulouse Lautrec), confessam “eu prefiro ser desprezado do que desprezar” (Foi um dia de novembro) e afirmam que “a droga não é mais desregramento, é entretenimento e dor” (Lestat). Norte é rock adulto no qual a maioridade está nos detalhes. Nas letras de Claudio existe a alegria de um relacionamento em ebulição, a tristeza da saudade e o rancor típico de quem olha para trás.

Tudo acompanhado de uma trilha sonora que passa pelo minimalismo do krautrock, pelas guitarras do indie e pela delicadeza do alt country – elementos filtrados pela sensibilidade de Wilton em companhia do baixista Badá, do guitarrista e tecladista Bruno Sres e do baterista Victor Lacombe – formação que, desde 2016, além da dupla fundadora, conta com Marcius Fabiani na bateria, Pedro Ivo Alcântara no baixo e Kelton Gomes na guitarra. Dez anos entre um disco e outro é muito tempo, mas a Superquadra compensou a demora com um novo álbum que, assim como seu antecessor, é uma audição indispensável na discografia do rock de Brasília.

Norte

Segundo álbum da banda brasiliense Superquadra. 10 faixas. Lançamento do selo Quadrado Mágico. Disponível para audição nas plataformas digitais.



GALERIADEARTE

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multiplicidade e a singularidade da conceituada artista Nilce Eiko Hanashiro (1948-2015) será, merecidamente, revista em uma grande exposição no Museu Nacional de 6 de fevereiro a 31 de março. Nissei, Hanashiro nasceu em Itaquiri (SP) e veio para Brasília ainda criança, em 1958. Filha de pioneiros, ela orgulhosamente se considerava candanga. Sua carreira artística começou cedo e por muito tempo dedicou-se ao desenho, mas no início da década de 1980 enveredou por linguagens mais contemporâneas. Intitulada Antologia – Nilce Eiko Hanashiro, a exposição é um resumo da produção da artista nas linguagens do desenho, da performance e de objetos e instalações que ela produziu ao longo de 45 anos. A mostra nasceu a partir de um grande acervo deixado pela artista ao amigo Gladstone Menezes, um dos curadores da exposição. “Fui amigo da Eiko e da família desde a década de 1970 e pude acompanhar grande parte de sua carreira, quando ela trocou o desenho por outras linguagens. Todo o acervo ficou sob minha responsabilidade e futuramente será distribuído para museus e instituições de Brasília, Rio de Janeiro e Curitiba”, diz Gladstone. Fernando Cocchiarale, artista, crítico, curador e professor de arte no Rio de

Janeiro, divide o trabalho de curadoria com Gladstone. A antologia conta com mais de 300 trabalhos do diversificado acervo. Estão incluídos desde os primeiros esboços de desenhos, produzidos na década de 1960, até registros de performances e reconstituição de objetos e instalações, já da primeira década dos anos 2000. Algumas obras de características efêmeras foram recriadas especialmente para a mostra. “Para escapar do didatismo das categorizações, a linha curatorial buscou integrar as obras de maneira a ressaltar a unidade que, a despeito da

aparente multiplicidade, a artista buscou, obsessivamente, em sua trajetória”, explica Gladstone. Segundo ele, Eiko sempre questionou a dualidade de suas raízes – brasileira e japonesa. “Os temas abordados por ela são basicamente esse resgate das origens e as dúvidas e questionamentos decorrentes – religiosidade, sexualidade, heranças, aquisições culturais, questões femininas”, afirma. Antologia – Nilce Eiko Hanashiro

De 6/2 a 31/3 no Museu Nacional. De 3ª a domingo, das 9 às 18h30. Entrada franca.

Fotos: Divulgação

Múltiplas linguagens A


Fotos: Álbum de família

Vera Brant em três momentos de descontração com o amigo Juscelino Kubitschek.

Jovens talentos premiados POR ALEXANDRE MARINO

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m prêmio que pretende servir de estímulo a jovens artistas do Distrito Federal e Entorno leva o nome de Vera Brant, uma das personalidades mais marcantes que passaram por Brasília em seus primeiros anos – ou décadas. Qualquer linguagem no campo das artes visuais está apta a participar do concurso, desde que se enquadre no conceito de arte contemporânea, que prevê voz própria, técnicas inovadoras, inventividade e reflexão sobre a própria arte. Entre os participantes será escolhido um para uma residência artística de até cinco semanas em Barcelona, no Centro de Arte e Cultura Espronceda. O 2º Prêmio Vera Brant de Arte Contemporânea selecionará 12 artistas do DF e Entorno – 23 cidades de Goiás e Minas Gerais que fazem parte da chamada Região Integrada de Desenvolvimento Econômico (RIDE) – que receberão R$ 3 mil e farão uma residência artística de dois meses na Casa Oscar Niemeyer, administrada pela Casa de Cultura da América Latina da Universidade de Brasília (CAL/UnB). Esses 12 artistas serão escolhidos entre 30 pré-selecionados, a partir de critérios como relevância e amadurecimento estético de sua obra, adequação à proposta da residência e

abertura para a interação com os demais participantes. Os trabalhos realizados durante a residência na Casa Oscar Niemeyer serão expostos no foyer do Teatro Nacional Cláudio Santoro durante 45 dias. Ao final, haverá o lançamento do catálogo do prêmio. Cinco jurados escolherão, entre os 12, o artista que viajará para Barcelona, onde permanecerá durante cinco semanas e depois fará uma exposição individual. O curador geral é Rogério Carvalho, que foi curador dos palácios da Alvorada e do Planalto e responsável pela restauração da Igreja Nossa Senhora de Fátima, a Igrejinha, localizada na 307/308 Sul. Arquiteto e restaurador, ele liderou a reorganização do acervo dos dois palácios do Governo Federal, conciliando as obras de arte com o mobiliário e os locais onde foram expostas. O Prêmio Vera Brant pretende não apenas estimular a produção artística, como estabelecer uma ponte entre artistas e possíveis investidores, diretores de museus, colecionadores, galeristas e o público em geral. Em sua primeiTroféu criado pelo artista Miguel Simão ra edição, em 2016,

foram inscritas 440 obras por 210 artistas. O primeiro colocado foi David Almeida, com a obra Conduta de risco, seguido por João Angelini, com Karma, e Pedro Gandra, com Desilusão sob a lua. O grupo vai selecionar também duas personalidades ou instituições para receber o Troféu Vera Brant, distinguindo novas iniciativas nas artes da região e atuações na história das artes plásticas no DF. Vera Brant veio para Brasília ainda na época da construção da capital, em 1960. Nascida em Diamantina (MG) em 1927, ocupou o cargo de inspetora do Ensino Médio no Ministério da Educação, ainda no Rio de Janeiro, e depois da transferência da capital para Brasília trabalhou ao lado de Darcy Ribeiro. Vera foi demitida em 1964 pela ditadura militar, mas, mesmo perseguida, permaneceu na capital até sua morte, em 2014. Foi amiga próxima de personalidades como Juscelino Kubitschek, Jorge Amado, Athos Bulcão, Oscar Niemeyer e Carlos Drummond de Andrade. Escritora e empresária, também foi galerista e colecionadora de obras. 2º Prêmio Vera Brant de Arte Contemporânea

Inscrições até 25/1. Resultado da seleção: 27/1. Residência na Casa Niemeyer: de 4/2 a 5/4. Residência em Barcelona: de 25/3 a 4/4. Exposição: abertura em 5/4. Lançamento do catálogo: 17/5.

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BRASILIENSEDECORAÇÃO

Gol de placa POR VICENTE SÁ

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ra início dos anos 60 quando Paulo Victor chegou ao Setor de Residências Econômicas Sul, atual Cruzeiro Velho, que, àquela época, ainda era apelidado pelos moradores de “Cemitério”, devido ao isolamento do local, ou “Bairro do Gavião”, em referência ao grande número de gaviões vermelhos que pousavam por lá. Com três anos de idade, o menino, nascido em Belém do Pará, quarto dos sete filhos de Dona Raimunda Barbosa, sentiu-se em casa. Alguns dias depois, já brincava no

campinho com os colegas e ensaiava seus primeiros voos em busca da bola. Estudou em escolas públicas e brincou livre como todos os meninos do começo de Brasília. “Era uma sensação maravilhosa de liberdade e segurança. E até hoje ainda me sinto assim em Brasília. Acho que a qualidade de vida daqui é muito boa, e olhe que eu sou bem rodado”, brinca o ex-goleiro do Fluminense. Paulo Victor confessa que virou goleiro porque era magrinho e também porque já levava jeito para a coisa. Destacou-se, e logo ficou conhecido a ponto de ser convidado para os primeiros times

Lúcia Leão

Ex-goleiro do Fluminense e da seleção brasileira dirige time de meninos carentes da Vila Planalto.

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meiro jogador criado em Brasília a chegar à seleção canarinho. Fez vários jogos com a amarelinha e participou do grupo da Copa de 1986, no México, que caiu nas quartas-de-final para a França. Jogou ainda em vários clubes brasileiros e, antes de encerrar a carreira, defendeu os maiores clubes do Pará, seu Estado natal, Remo e Paysandu, levando os dois de volta à primeira divisão. Em 1994, depois de jogar por 20 anos em 14 clubes, com mais de uma dezena de títulos conquistados, Paulo Victor se aposentou. Em 1996 voltou para Brasília e aqui abriu uma escolinha para goleiros e depois uma escolinha de futebol. Com o apoio da esposa, formou-se em Educação Física, trabalhou na Secretaria de Esportes do GDF e como comentarista esportivo. “Brasília é a minha cidade, eu me criei aqui, me sinto um brasiliense e quero contribuir com meu nome e minha experiência no que puder para ajudar minha cidade”. Sempre preocupado em utilizar o esporte para ajudar crianças carentes, no ano passado ele assumiu o cargo de diretor executivo do Real Futebol Clube, da Vila Planalto. No final do ano, fechou um convênio entre o time e o Clube Unidade de Vizinhança da Vila, para recuperação do campo de futebol onde iniciou sua carreira e o desenvolvimento de projetos sociais para a comunidade local. “Toda vez que chego na Vila Planalto eu me lembro daquele tempo em que nós,

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Lúcia Leão

de dente de leite criados na capital da República. Jogou nos melhores das categorias de base (Defelê, AABB e Novacap) e já aos 15 anos era jogador profissional no time do Ceub. Em sua primeira excursão pela Europa e África com o Ceub, num jogo contra o Real Madrid, o jovem goleiro fez grandes defesas, que encantaram os cartolas espanhóis. Depois do jogo, eles tentaram de todas as maneiras contratar aquele garoto de cabelos longos e sorriso aberto, mas o Ceub não cedeu sua jovem estrela e Paulo Victor voltou ao Brasil para ver seu time se desfazer sem patrocínio. “Naquela época, os times de Minas Gerais tinham uma ponte com o futebol da capital, então eu fui pro Atlético Mineiro, mas, como lá eu era o sétimo goleiro, aproveitei uma oportunidade que surgiu e fui jogar no Operário de Mato Grosso”, conta. De lá rodou um pouco até chegar ao Fluminense, onde teve os melhores momentos de sua carreira. Fez 468 jogos, tornando-se o segundo goleiro que mais defendeu o tricolor em toda sua história – atrás apenas do lendário Castilho. “E olhe que eu ganhei mais títulos do que ele”, brinca. Conquistou o tricampeonato estadual do Rio da Janeiro de 1983 a 1985 e o Campeonato Basileiro de 1984. Enquanto o “casal vinte”, Assis e Washington, garantia os gols, Paulo Victor dava segurança à zaga e fechava os três paus, garantindo muitos resultados. Foi o pri-

eu e meus colegas de time, saíamos do treino e íamos a pé até a Rodoviária para economizar o dinheiro que o time nos dava para a passagem e poder tomar um caldo de cana na Viçosa. Sei como é ter dificuldades e por isso, e também para tirar esses meninos das ruas, é que estamos desenvolvendo nosso trabalho no Real”. Para o presidente do Unidade de Vizinha da Vila Planalto, João Anísio dos Santos, o convênio é bom para todo mundo: para os associados, que vão poder continuar utilizando as instalações do clube depois das reformas e inovações feitas pelo Real, e também para a comunidade, que vai usufruir dos projetos sociais que continuarão sendo desenvolvidos. “Teremos, além das aulas de dança e violão, as práticas de vôlei e futevôlei e uma piscina aquecida para hidroginástica dos idosos. É um projeto tão bom que o Paulo pretende, depois de instalado aqui na Vila, levar para outros locais carentes, como Varjão, Vila Telebrasília e Granja do Torto”, antevê João Anísio. À beira do campo em reforma, Paulo Victor caminha sem perder o sorriso: “Acho que ajudar as crianças e a Vila Planalto vai ser o jogo mais difícil, mas também o mais legal que eu vou jogar na minha vida”.

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LUZCÂMERAAÇÃO

A ética familiar Palma de Ouro do Festival de Cannes este ano, novo filme de Koreeda coloca mais uma vez o tema da família, desta vez se debruçando sobre indivíduos empobrecidos do Japão de hoje. POR SÉRGIO MORICONI

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uma das cenas finais do clássico noir O segredo das joias, de John Huston, um dos personagens diz a célebre frase “a contravenção é apenas um outro lado do esforço humano”. A sentença caberia como uma luva para definir algumas das principais ideias de Assunto de família, não fosse a ambígua e paradoxal parábola sobre a honestidade proposta por Hirokazu Koreeda. As implicações morais ligadas à questão das transgressões de conduta dos indivíduos aparecem no filme sob múltiplas faces e são uma novidade na obra do ótimo diretor japonês. Entre seus companheiros de geração, Koreeda tem a fama de ser um dos que procuram, sistematicamente, repre-

sentar a sociedade japonesa contemporânea de maneira profunda e contínua, a partir do microcosmo do núcleo familiar. Por vezes beirando o naturalismo (um naturalismo esquisito e incômodo), a gente pode dizer que o filme apresenta o verso e o reverso, ou a frente e o verso, da moral, sem que haja qualquer tipo de condenação moralizadora às ações narradas envolvendo a família Shibata. O bem, o mal, o bom, o mau estão complexamente imbricados em Assunto de família. A história, muito simples, gira em torno de uma família economicamente depauperada. Podemos chamá-la aqui, simplificadamente, de não convencional: os laços consanguíneos são fluídos, inexistentes e sem importância. São uma família que se inventou à sua ma-

neira. Afeto e solidariedade estão na base da relação entre eles. Os pobres não costumam ser objeto dos filmes japoneses contemporâneos, ao contrário do cinema clássico de Kurosawa, que abordou várias vezes dramas dos despossuídos do país. Os Shibata da obra de Koreeda não são delinquentes ou marginais sociais do tipo que costumamos ver em filmes socialmente engajados europeus e da América Latina. Eles são singulares. Vivem amontoados “clandestinamente” na casa da “avó”. Não podem dizer que moram ali, todos juntos, para não despertar a atenção do serviço sócia, que regula a ocupação das casas. Os Shibata adultos têm trabalhos precários e mal remunerados. Asamu exerce funções sazonais em canteiros de obras. Sua mulher,


tuitiva de sobrevivência e afeto pelos que lhes são próximos. Tabus e preconceitos não fazem parte do dicionário deles. São muito significativas as conversas cotidianas no ambiente doméstico, assim como a forma natural e inteiramente desprovida de preconceitos como tratam a profissão de Asamu. A observação da vida doméstica é sem dúvida um dos grandes méritos da direção de Koreeda. Ela nos diz muito (e é reveladora) sobre a vida dos indivíduos invisíveis da sociedade japonesa. Em sua autobiografia, o grande realizador espanhol Luis Buñuel disse que certa vez se vestiu de operário e saiu caminhando pelas ruas de Madri e percebeu que se tornara invisível. “As pessoas não olham para aqueles que estão nos degraus mais baixos da escala social”. O cinema militante resgata os mais pobres e destituídos do esquecimento. Assunto de família não é de forma nenhuma cinema militante. Koreeda faz um melodrama enviesado, humanista, onde os pequenos delitos são apenas algumas pedras no sapato de um percurso de iniciação a valores de relação social mais elevados do ponto de vista civilizacional. Faz isso sem cair na alienação conservadora. Mostra uma observação indiferente nos momentos em que Asamu rouba pequenos objetos esquecidos pelos clientes nas roupas deixadas na lavanderia. O mesmo tipo de observação

neutra se dá quando a avó sutilmente chantageia o filho de seu falecido marido para conseguir algum dinheiro. Há até mesmo humor no pequeno ritual inventado por Shota antes de surrupiar alimentos e objetos no comércio local. Os maus hábitos, os comportamentos considerados reprováveis, são vistos de forma generosa e complacente por Koreeda. Mas ao mesmo tempo, e na mesma medida, o respeito às leis e às normas de conduta social consensualmente aceitas são vistas como educativas e civilizadoras. Shota e Yuri compreendem isso quando se deparam com a loja de doces que costumavam roubar fechada: se eles são pobres e não podem comprar, o proprietário também fica pobre se todos roubam e ninguém compra. Dignidade, nobreza de comportamento, atenção às boas práticas sociais são conceitos presentes no filme, mas elas seriam irrelevantes sem o amor e o sentido de fraternidade. Amor e afeto são valores supremos no cinema de Koreeda. Amor e afeto como antídotos da solidão e de ideias preconcebidas – o episódio de Asamu com seu cliente, por exemplo. Amor e afeto sem caretice, nem pieguice, nem demagogia. Uma química delicada, essa. Assunto de família

Japão/2019, drama, 121min. Roteiro e direção: Hirokazu Koreeda. Com Lily Franky, Sakura Andô, Kiki Kirin, Kengo Kora, Sosuke Ikematsu, Chizuru Ikewaki e Akira Emoto.

Fotos: Divulgação

Nobuyo, é empregada de uma lavanderia. A irmã mais nova de Asamu é dançarina erótica numa casa de peep show. Koreeda trata os Shibata com uma poesia às vezes rude, às vezes comovente, como na bela cena em que todos da casa correm para ver ruidosos fogos de artifício explodirem no céu. A sequência é bela também pela opção do diretor de não mostrar os fogos. Ouvimos apenas os sons sob os rostos extasiados deles, adultos e crianças. As crianças são fundamentais para a construção dramática de Assunto de família. Eles são “adestrados” por Asamu para cometerem pequenos furtos em supermercados. Nenhum deles é filho verdadeiro do casal, nem Shota, o menino, nem Yuri, a menina, adotada depois que Asamu e Nobuyo a encontram na rua ao relento e descobrem que ela sofre maltrato dos pais. Não há entre os personagens nenhum tipo de constrangimento em ignorar as normas, regras ou valores sociais. Curiosamente, o filme também não está interessado em construir exemplos positivos de confrontação à ordem estabelecida. Isso fica muito evidente à medida que a história avança. Koreeda nos faz ter simpatia por todos os seus personagens, apesar – para usar aqui uma terminologia atual – do comportamento “politicamente incorreto” deles. A família Shibata lida com os valores morais a partir de uma lógica in-

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CRÔNICADACONCEIÇÃO

Crônica da

Conceição

CONCEIÇÃO FREITAS

conceicaofreitas50@gmail.com

É um palácio, somos nós

N

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uma terça-feira desses estranhos tempos, fui ao Palácio da Alvorada levar uma turista amiga. A primeira novidade é que, para se aproximar da área externa, é preciso apresentar documentos. “É o controle”, explica o soldado bem-educado, depois que eu reclamo que há seis governos visito o palácio e é a primeira vez que tenho de me identificar para entrar numa área pública. Ensaiei um odiozinho silencioso, que se dissolveu por inteiro quando vi ao longe a silhueta diáfana de algo que tocava o cerrado com a suavidade de um pássaro de asas brancas em fundo azul. Seria uma miragem para os olhos e o coração já cansados destes primeiros dias de janeiro de 2019. Ou, quem sabe, a projeção em tamanho real da pintura de um edifício que só poderia existir em sonho, tão etérea é a sua composição. Talvez seja uma música feita em concreto, vidro, mármore e um sentido de brasilidade hoje esmaecido. Se eu for 500 vezes ao Alvorada, 500 vezes eu vou pela primeira vez. É Oscar Niemeyer em sua mais suprema inspiração, técnica e percepção de Brasil, de sua arquitetura vernacular, de cerrado e de céu. Quando desenhou o Palácio da Alvorada, o arquiteto deveria

estar tomado pela ideia de que estava criando um palácio para representar com altivez (e sem ostentação), com leveza (e sem arrogância), com invenção (e sem espetacularização), o país que, naquela segunda metade dos anos 1950, se sentia esperançoso e feliz. Era Oscar sendo o mais perfeito Oscar. É o Brasil mostrando a si mesmo e ao mundo o quanto é inventivo, lírico. O quanto sabe miscigenar influências estrangeiras com a brasilidade que nos constitui. Sim. As colunas brancas (seriam garças de mãos dadas?) sustentam a laje com a ponta dos dedos – é o avarandado dos casarões das fazendas do período colonial brasileiro. O azul das persianas é o reflexo do azul celeste. E as colunas brancas, as nuvens que resolvem descer até nós. O arquiteto Claudio Queiroz identifica nas colunas do Alvorada as largas ancas da mulher brasileira. “É a beleza plástica apenas que atua e domina, como uma mensagem permanente de graça e poesia”, escreveu Niemeyer em Minha experiência em Brasília. Nas duas vezes em que entrei no Palácio da Alvorada (uma como repórter, outra como turista em visitas programadas), nas duas vezes, me debulhei em lágrimas. Tudo é muito forte: os salões abertos, a

escada vermelha (quando vermelho não era a cor do PT nem do comunismo nem de qualquer delírio semelhante), a parede dourada, a economia de cortes internos (nunca vi paredes tão discretas), o volume vazado que nos deixa dentro e fora, sob a natureza e sob a civilização. O Alvorada é altivo, solene, despretensioso, audacioso, lírico, tudo ao mesmo tempo. Tem técnica e tem arte e expressa o talento brasileiro. O Palácio da Alvorada é a obra-prima de Niemeyer, diz a professora Sylvia Ficher, da Arquitetura da UnB. A sinuosidade das colunas do Alvorada têm algo da pureza de Mies Van der Rohe e da poética de Le Corbusier, “mas não se vê o peso do Le Corbusier, nem a frieza do Van der Rohe”, diz Claudio Queiroz. Ela é a expressão de nossa mestiçagem, do quanto somos muitos, do quanto somos negros, índios, portugueses. Naquela terça-feira, a terceira de janeiro de 2019, saí do Palácio da Alvorada trazendo comigo o melhor do meu país, que tem muitos outros melhores. É deles que devemos nos alimentar. * As declarações de Sylvia Ficher e Claudio Queiroz foram retiradas de um livrinho chamado Palácio da Alvorada, majestosamente simples, de Severino Francisco.



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