Ano XVIII โ ข nยบ 288 Abril de 2019
R$ 5,90
EMPOUCASPALAVRAS Divulgação
Enquanto a economia brasileira patina, patina e não consegue sair do lugar, o mercado gastronômico brasiliense exibe surpreendente vitalidade. Está certo que alguns empreendimentos vão ficando pelo caminho, nocauteados pela crise econômica que teima em se prolongar. Mas é certo também que são rapidamente substituídos por outras marcas, vindas até de outros Estados, como é o caso da recéminaugurada hamburgueria Bullguer. Apenas nesta edição, além da Bullguer, apresentamos aos nossos eleitores quatro casas gastronômicas com concepções tão diversas quanto a renascida das cinzas Oca da Tribo; a confeitaria Casa Doce, agora em nova sede e incorporando um bistrô; um novo e glamo roso restaurante japonês, batizado de Roji; e o Rincón Ibérico, versão melhorada do antigo Jamón Jamón. Tudo isso está reunido na seção Água na Boca, que começa na página 6, e complementado em Picadinho, com as sempre bemvindas renovações de cardápio de restaurantes (página 14). Variam do choro ao heavy metal os destaques da programação musical da cidade. Do mais brasiliense dos ritmos nasceu a Escola de Choro Raphael Rabello, que completa duas décadas de vida e comemora com a realização do 1º EICHO – Encontro Internacional do Choro, reunindo instrumentistas do calibre de Armandinho Macedo, Nicolas Krassik, o trompetista português Gileno Santana, Fagner e muita gente boa. No mais, é conferir os shows de Nando Reis, Los Hermanos, Renato Teixeira com Oswaldo Montenegro, Vanessa da Mata e, para quem gosta dos metais, da banda norte-americana S.O.T.O (página 24). Este mês de abril e o começo de maio estão repletos, também, de bons espetáculos da arte de Isadora Duncan. Está no ar a quinta edição do Movimento Internacional de Dança, que ao longo de 18 dias traz nada menos que 55 apresentações de 36 coreografias internacionais e nacionais. Entre estas, a estreia nacional de Estou sem silêncio, do Grupo Quasar (página 28). Finalmente, sugerimos a leitura de Luz Câmera Ação, que contempla a 18ª Mostra do Filme Livre com a exibição, no CCBB, de 126 filmes selecionados entre 773 inscritos, e outros 29 convidados. Brasília é representada com quatro curtasmetragens. Nosso crítico de cinema Sérgio Moriconi nos traz, desta vez, o filme Ayka, concorrente à Palma de Ouro de Cannes no ano passado, mas que só agora chega ao país. Relata o drama de uma jovem do Quirquistão que luta para sobreviver numa suja e lúgubre Moscou (a partir da página 30). Boa leitura e até maio.
22 graves&agudos Renato Teixeira e Oswaldo Montenegro estão entre as principais atrações da temporada musical, dia 3 de maio, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.
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Maria Teresa Fernandes Editora ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14, Conjunto 2, Casa 7, Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa Carlos Roberto Ferreira, fotos divulgação | Colaboradores Alexandre Marino, Alexandre Franco, Conceição Freitas, Heitor Menezes, Laís di Giorno, Lúcia Leão, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Teresa Mello, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle | Fotografia Rodrigo Ribeiro | Para anunciar 98275.0990 | Impressão Foxy Editora Gráfica Tiragem: 20.000 exemplares.
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EU VI AS MARCAS NO ROSTO DELA. E NÃO FIZ NADA.
Muitas vezes, os sinais de violência contra as mulheres aparecem bem antes de o agressor chegar a um golpe fatal. Por isso, ao ver uma mulher sendo ameaçada, humilhada, subjugada ou sofrendo qualquer tipo de agressão física ou verbal, denuncie. Caso você, uma amiga, vizinha ou colega de trabalho esteja passando por qualquer tipo de violência, procure ajuda. A sua denúncia pode salvar uma vida. O seu silêncio pode ser fatal.
FEMINICÍDIO: SEU SILÊNCIO PODE SER FATAL.
DENUNCIE LIGUE 180
ÁGUANABOCA
Renascida das cinzas POR TERESA MELLO
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m incêndio no início da tarde de 3 de agosto de 2011 destruiu completamente um dos restaurantes mais queridos dos brasilienses: a Oca da Tribo. O bufê de culinária natural alimentava moradores e recebia a visita de personalidades, como a então primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama. Com arquitetura circular, inspirada nas moradias indígenas, a estrutura era feita de madeira e palha. Bastaram a baixa umidade do mês e o vento forte para que fagulhas de um incêndio nas vizinhanças atingissem o local, segundo o laudo do Corpo de Bombeiros. “Mas estava no seguro, né?”, perguntei ao empresário. “Não, estou pagando os prejuízos até hoje”, disse Vitor Manuel Pontes, 72 Norte anos,Asana reabertura do estabelecimento, agora às margens do Lago Paranoá, bem perto da Concha Acústica. “O seguro não cobre estrutura de palha”, acrescentou a filha Ritamel, que comandava a casa. “Brasília tinha uma relação forte com a Oca”, lembra a mãe, Sandra. Confian-
te na memória afetiva e nos benefícios da alimentação saudável, o angolano Vitor aproveitou uma enorme balsa – usada na construção da Ponte JK e adquirida por ele e um sócio em 2005 – para inaugurar, em 29 de março, a nova Oca. O espaço tem 500 m2, capacidade para 150 pessoas e mezanino para eventos: “Estamos
fazendo também um telhado verde, plantando lá em cima”, informa Vitor. Com decoração que mescla o Xingu e a África, as novidades se reproduzem no menu, que passa a ser à la carte, e na jovem chef de 22 anos, a filha Ana Cristal (na foto ao lado). “Meu pai sempre chamou a família dele de tribo”, conta a brasiliense criada em Alto Paraíso, onde tudo começou: “Eu fui vegetariana até os nove anos e apenas uma vez por ano comia bacalhau na casa da minha avó portuguesa”, conta. Os avós paternos eram donos da Panificadora Portuguesa, na Asa Norte (708/709), hoje conduzida pelas netas. Autodidata, a chef esbanja sensibilidade na elaboração do cardápio e oferece criações com bacalhau, peixe, frango, pato, cordeiro e carne bovina, sem esquecer o tofu, o broto de feijão, a alga. Como entrada, o ceviche de tilápia vem com chips de tubérculos e sai a R$ 38; e a salada de feijão-fradinho (R$ 25) leva batata-doce, azeitona, ovo caipira. A dúzia de ostras custa R$ 85 e está disponível às quartas-feiras. Para veganos, há
O melhor mesmo é ficar numa das mesas da varanda, bem na beirinha do lago. Para ver o tempo passar, a chef indica queijo-coalho com dadinhos de tapioca, geleia de pimenta e delicadas pétalas de maçã. No cardápio de petiscos, a partir das 16 horas, há bolinho de bacalhau, espetinho de lombo suíno, brusqueta, samosa (pastel indiano). A turma fitness se sentirá em casa, degustando açaí com salada de frutas e saboreando um dos power drinks, como o de jatobá, banana, pólen e mel. E quem gosta de doce pode escolher entre torta de maçã, cheesecake, brownie.
A ampla carta de bebidas contempla desde as combinações especiais com gin Tanqueray, passando por aperitivos e digestivos e abrindo o leque de vinhos com origem no Chile, na Argentina, no Uruguai, em Portugal, na França e na Espanha. Há rótulos Malbec e Chardonnay orgânicos: são os argentinos Domaine Bousquet Reserva (R$ 136, tinto) e Domaine Bousquet Premium (R$ 98, branco). Oca da Tribo
SHTN, Trecho 1, Polo 3 (4141.2116). De 3ª a sábado, das 12 às 23h; domingo, das 12 às 16h.
Fotos: Divulgação
tofu com cogumelos, arroz integral, lentilha e legumes e moqueca de banana-daterra com palmito. Entre os principais, o robalo ao chutney de manga custa R$ 80 e é servido com farofa de castanhas, purê de mandioca e crocante de bifum (macarrão de arroz). O camarão ao curry (R$ 95) vem no abacaxi com arroz basmati (origem indiana, de grãos mais longos), amêndoas laminadas e banana. O pato com laranja e gengibre é acompanhado de chips de batata-baroa e o bife de chorizo chega com arroz e fritas.
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ÁGUANABOCA
A evolução da Casa Doce Uma das novidades é o bistrô com pratos à la carte servidos à noite. POR WALQUENE SOUSA FOTOS RODRIGO RIBEIRO
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público que aprecia uma boa sobremesa precisa conhecer o novo espaço da Casa Doce, localizado na 112 Sul, mesma quadra onde funcionava anteriormente, mas agora ocupando todo o Bloco D, uma construção de 1.000 m² com capacidade para 160 pessoas, em ambiente climatizado, com decoração clássica e elevador, para facilitar o acesso ao andar superior. Tudo pensado em detalhes para proporcionar conforto aos clientes. Quem entra pelas portas da Casa Doce não sabe o quanto a família se dedicou até chegar ao que é hoje. No comando do empreendimento, junto com dois de seus quatro filhos (George, na administração, e Fabrício, chef de cozinha), a empresária e confeiteira Angela Tonon que começou sua paixão pela cozinha na infância, em Bauru (SP), acompanhando o dia a dia do pai, também confeiteiro e dono de padaria. Depois de casada, mudou-se para Pirassununga com a família e começou a
vender bolos na porta da escola dos filhos. Anos depois, vieram para Brasília e ela continuou, por mais sete anos, trabalhando com encomendas produzidas na cozinha do seu apartamento. Após esse período, Angela alugou uma sobreloja, para poder atender ao aumento da demanda. Quando o movimento cresceu ainda mais, decidiu que era o momento de enfrentar seu maior desafio: abrir a
Casa Doce. “Foram muitos anos de trabalho intenso, mas sempre realizado com amor e dedicação, por mim e por meus filhos, buscando oferecer produtos de qualidade”, enfatiza Angela. Todo esse reconhecimento pode ser comprovado por meio da fidelidade dos frequentadores: “Tenho clientes que vêm aqui desde o início, são 14 anos no mercado”. Na inauguração do novo espaço, o
Apresentação:
No horário do almoço estão disponíveis pratos executivos, como filé à parmegiana, risoto de alho poró e tilápia com arroz integral e salada, para os que preferem uma refeição mais leve. Os preços variam de R$ 40 a R$ 78 (para duas pessoas). A Casa Doce passou a contar também com um bistrô no andar superior, que funciona somente à noite, servindo jantar à la carte. O chef Fabrício Tonon tem como principal aposta o medalhão de filé em crosta de panko (uma farinha para empanados feita de pão) e amêndoas, acompanhado por risoto de queijo emmental e limão siciliano. O resultado é a combinação de sabores de encher os olhos e o paladar.
Cerveja Oficial:
TAVA COM SAUDADE?
Casa Doce 112 Sul, Bloco D (3445.2807). Confeitaria: de 3ª a domingo, das 11 às 20h; Bistrô: de 3ª a 5ª feira, das 19 às 23h; 6ª e sábado, das 19 às 24h. O horário de funcionamento ainda está sendo avaliado e poderá ser alterado.
DE 12 DE ABRIL A 05 DE MAIO Fotos: Divulgação
público consumidor superou a expectativa. “Esperávamos que viesse muita gente, mas fomos surpreendidos pela quantidade de pessoas. Desde então, a casa tem ficado cheia todos os dias. Estamos felizes com a resposta da clientela”. Mesmo com tanta procura, Angela não pretende abrir filiais por enquanto, mas deixa em aberto essa possibilidade para o futuro. A confeiteira sempre gostou de cozinhar e de fazer bolos e doces, mas com açúcar em quantidade menor do que as receitas traziam. “Eu percebi que muitas pessoas tinham a mesma preferência que eu, que adoro doces, mas com açúcar na medida”. Na Casa Doce há inúmeros tipos de doces, pães e salgados, mas desde antes de a confeitaria existir o bolo de abacaxi, feito com massa de pão-de-ló, creme de abacaxi, pedaços da fruta fresca e chantilly, era o mais pedido. É impossível não sentir vontade de provar um pouco de cada coisa. As vitrines são repletas de opções para todos os gostos, inclusive para intolerantes à lactose e ao glúten.
Banco Oficial:
Patrocinador:
A sua batata preferida!
Apoio: Angela Tonon: amor e dedicação produzem delícias como essa torta de abacaxi.
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Japa cheio de glamour O
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jovem sansei Bruno Kamakura, 34 anos, passou mais da metade de sua vida trabalhando em restaurantes japoneses e sabe muito bem tocar uma cozinha incrementada e saborosa. Em sua família, residente na capital paulista, são sete sushimen. Então, que tal provar um dos pratos desse neto de imigrantes de Kamakura, a cidade japonesa que abriga uma estátua de Buda com mais de 13m de altura? Basta ir ao Roji Restaurante, recém-inaugurado na Asa Sul. “Trabalho com matéria prima fresca e tenho especial cuidado na finalização dos pratos”, explica o chef, contratado pelo Roji para oferecer aos brasilienses uma gastronomia com ingredientes raros e exóticos, como o polvo e o bluefin (atum gordo) espanhóis ou a vieira canadense. Bruno, que começou a trabalhar aos 16 anos e passou por famosos restaurantes nipônicos de São Paulo, como o Nakka e o Jam Itaim, investiu em iguarias pouco vistas na culinária japonesa, como o foie gras, a lichia e o azeite com trufas brancas. Criou pratos com lagosta, toro (corte nobre do atum), ovas de ouriço, king crab
(caranguejo gigante do Alasca), centolla (crustáceo de origem chilena) e enguia. Se a cozinha é de alto padrão, o novo japa não deixa por menos: ambiente sofisticado, com capacidade para 125 pessoas sentadas, área verde com ombrelones, brinquedoteca, adega, mesinhas de madeira, pendentes de cobre e de vidro... tudo bem pensado. A molheira de shoyo feita à mão e os copos e pratos são da ceramista Josie Carvalho, de São Paulo, mas o projeto arquitetônico é da brasiliense Bethânia Midian. São 330 m2 cer-
cados de verde, com paredes de tijolinho ou de vidro escuro e balcões de mármore. Roji significa viela em japonês. E não é que o restaurante tem mesmo uma passarela lateral, onde estão sendo providenciados assentos para se tomar drinks ou ficar na espera, ouvindo uma boa música? Os pratos crus são maioria no cardápio: sashimis de atum gordo, robalo, olho de boi, polvo ou vieira; peixes, bateras, salmão, carpaccios e sushis diversos. As exceções de pratos quentes são yakissoba, salmão grelhado, peixe branco ou Fotos: Anderson Ferreira Souza
POR SÚSAN FARIA
Divulgação
beaf shogayaki com arroz branco e risoto de frutos do mar. Os proprietários do Roji são os amigos Thiago Ribeiro, de 31 anos, e Laert Gama, de 32 com experiência em uma parceria bem sucedida no restaurante japonês Novo Kimura, na Rua 12 de Vicente Pires. Vindo de uma família de empresários do ramo da educação, Laert trabalha com franquias do Subway e do Chiquinho Sorvetes. Antes de abrir o Roji, os dois pesquisaram o mercado, foram conhecer restaurantes japoneses em São Paulo e visitaram muitos pontos gastronômicos de Brasília. Segundo Thiago Ribeiro, o feedback tem sido ótimo, inclusive com vídeos de clientes elogiando o restaurante. “Nos preocupamos em prestar um bom atendimento. Estamos focados, nos doando muito na área operacional”, afirma, chamando atenção para uma facilidade oferecida aos clientes: o QR Code. Basta fotografar o aplicativo com o celular para ter em mãos o cardápio do Roji, em vários idiomas, com detalhamento e fácil manuseio. No cardápio, destaque para os camarões empanados com molho spicy e gergelim torrado e o carpaccio de salmão trufado (R$ 30, ambos). O sashimi de salmão temperado com raspa de limão siciliano, acompanhado de crispy de palha de batata doce, custa R$ 45. O prato executivo de sushi, sashimi ou sushi mais sashimi (R$ 49) pode ser combinado com entradas como o edamame, shimeji, guioza, temaki de salmão, harumaki ou sunomono (nesse caso, o preço sobe para R$ 59). Entre as sobremesas, brigadeiro de colher ou panna cotta umeshu (R$ 20), merengue de morango (R$ 18) e o original mochi de sorvete artesanal, em vários sabores (R$ 25). Os drinks levam a assinatura do mixologista Gustavo Guedes, que investiu em preparos à base da vodka holandesa Ketel One e do gin Tanqueray, nas versões Tradicional, Ten e Flor de Sevilla. A adega climatizada abriga mais de 50 rótulos de vinho e champanhe francês. O Hakushika Gold, saquê com flocos de ouro comestíveis, ilustra o glamour da casa, que oferece mais de uma dezena de versões do destilado. Roji Restaurante
408 Sul, Bloco B (3546.8883). De 3ª a 5ª feira, das 11h30 às 15h e das 19 às 23h; 6ª, das 11h30 às 15h e das 19 às 24h; sábado, das 11h30 às 24h; domingo, das 11h30 às 17h.
Bom e barato POR VICTOR CRUZEIRO
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esembarcou em Brasília mais uma novidade vinda de São Paulo, do ramo das hamburguerias. E, ansiosa como é por novidades, não foi difícil ver a boa recepção da cidade à abertura da Bullguer. Com uma dezena de franquias espalhadas por São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, aterrissa aqui com a proposta de ser um meio termo entre as redes de fast-food e as hamburguerias gourmet. Assim, com um controle de qualidade e fornecimento, e um cardápio mínimo, a Bullguer vem batalhar numa arena que já parece saturada, mas na qual consegue oferecer alguns trunfos interessantes e, ao menos, um visual agradável e único. Começando pela parte física: uma loja de 85 lugares que ocupa os três andares de uma esquina da 410 Sul, explorando todas as possibilidades que a configuração bastante única das quadras comerciais oferece. Enquanto o andar superior é reservado à administração e a cozinha fica no térreo, o subsolo dá lugar a um salão amplo, com uma grande mesa compartilhada no centro e mesas menores ao redor. Uma escada amarela de metal leva à parte de trás do bloco, com mesas voltadas para a área verde (numa recuperação da ideia original de Lúcio Costa para as quadras comerciais), e na passagem entre os dois blocos se localiza outra grande mesa, de frente para o caixa e a cozinha. Virada para a rua, apenas uma grande fachada que chama a atenção pelo nome e por um grande mural de azulejos pretos que, bebendo na estética de Athos Bulcão (mais brasiliense impossível), dispõe alea-
toriamente riscos amarelos entre os azulejos, vez ou outra formando o zigue-zague das batatas crinkles, marca da casa (R$ 9). Um menu enxuto com oito sanduíches e dois cachorros-quentes utiliza ingredientes simples para acertar em todos os paladares, além de diminuir os preços. Na contramão das casas gourmet, cujos sanduíches podem chegar a R$ 50, a Bullguer apresenta preços reduzidos, na faixa dos R$ 20, por meio de receitas fáceis e hambúrgueres menores – 100 gramas. Uma boa pedida é o Stencil, composto por carne, queijo prato fundido, cebola roxa, alface, tomate e molho especial à base de páprica (R$ 22). O sanduíche recebe esse nome pela marcação em brasa da logo no pão. Como opção vegetariana, a Bullguer oferece o Cheese Please, elaborado com um disco de 100 g de queijo camembert empanado em farinha panko, além de molho, alface e tomate (R$ 25). Outros atrativos são as sobremesas e bebidas, como a Berrie Lemonade, uma espécie de coquetel (não alcoólico) feito com limões tahiti e siciliano, amoras e açúcar (R$ 9). A bebida é bem servida para o preço, como também é a imoderada Apple Pie (R$ 18), uma torta crocante de maçã assada na hora, servida com um sorvete simples e calda de caramelo. Eis, portanto, mais uma entre tantas hamburguerias da cidade, oferecendo algumas soluções práticas e diferenciais visuais para, quem sabe, se destacar no imenso mar de similares, cuja correnteza vai muito mais em direção à novidade do que ao próprio sabor do hambúrguer. Bullguer Brasília
CLS 410, Bloco C, Loja 5 (3554-1777) Diariamente, das 12h à meia-noite.
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Bolinho de abóbora com carne seca, da Adega da Cachaça.
Mini porpetas de Angus, do Armazém do Silveira.
É tempo de buteco POR VICTOR CRUZEIRO
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Fotos: Divulgação
m 2000, na capital mineira, iniciouse, timidamente, um movimento com o objetivo de restaurar a força dos negócios espontâneos e familiares da noite belohorizontina, dos baluartes da vida boêmia e, em grande medida, também da identidade de qualquer cidade: os butecos. Butecos com “u” mesmo: a vogal que melhor soa, aberta e intransigente, num ambiente regado a cerveja, boa comida, música, televisão e tudo mais que define esses centros de sociabilidade urbana, muitas vezes menosprezados. Agora, em 2019, essa iniciativa comemora 20 anos, na sólida e robusta roupagem do Comida di Buteco, uma instância de fortalecimento contínuo desse elemento genuinamente brasileiro. Assim
como os desfiles das escolas de samba acontecem no início de cada ano e fazem girar, durante o resto do ano, toda uma indústria que movimenta economias locais e fortalece vivências únicas, o Comida di Buteco procura tornar abril/maio a “época dos butecos”, que sucede o Carnaval e há de se tornar parte da identidade nacional. É com esse propósito que, a cada ano, o Comida di Buteco busca expandir sua seleção, rebaixando uns e selecionando outros, gerando uma rotatividade que não causa uma competição nociva, mas a busca por um padrão sempre constante. Sem terem de pagar nada para participar, nem serem forçados a utilizar produtos dos patrocinadores, os butecos se esmeram para gerar um prato novo todo ano, com o objetivo de atrair o maior
número de clientes e, ao lado desse e de outros critérios (atendimento, higiene e temperatura da bebida), conquistar o prêmio de melhor buteco da cidade (numa primeira etapa) e, em seguida – por que não? – do país. Em Brasília, a iniciativa conta com o trunfo de trabalhar a difícil aproximação entre o Plano Piloto e as demais regiões administrativas. Nesta edição, dos 22 butecos selecionados, quatro são de Taguatinga, três de Sobradinho, um do Cruzeiro, um do Núcleo Bandeirante e um de Águas Claras. Nesse leque tão amplo, a criatividade tem espaço garantido, como no Universidade da Cerveja (Quadra 1.505, Cruzeiro Novo), que traz o temático Professor Croc, um pastel aberto com escondidinho de carne seca descontruído, com cebola caseira empanada. Já no estreante Matulla Prosa e Petiscos (Quadra 17, Sobradinho), temos o Palitinho de Porco, feito de massa crocante recheada com carne de porco cozida lentamente acompanhado de chutney de abacaxi picante. As opções são muitas (todas envolvendo carne de alguma forma) e, na grande novidade desde ano, em comemoração aos 20 anos do festival e da empreita, o preço de todos os petiscos participantes será de R$ 20. Comida di Buteco 2019
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Kafta de carne suína, do GamBar.
Até 12/5 em 22 bares da cidade. Relação dos participantes, fotos e descrição dos petiscos em www.comidadibuteco.com.br.
Delícias catalãs POR LÚCIA LEÃO
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rês amigos que estreitaram a convivência numa mesa de bar tiveram a pretensão de, ao menos nesse quesito – “o bar” –, atingir a perfeição. Compraram o de sua preferência, aquele em que “marcaram ponto” e passaram tantas das noites dos últimos anos entre “tapas” e brindes. Ajustaram detalhes que os incomodava como clientes e voilà... hoje têm um lugar perfeito para chamar de seu. Esse lugar é o Rincón Ibérico, que dá sequência ao bistrô catalão Jamón Jamón, adquirido pelo jornalista Max Monjardim e pelos advogados Rodrigo Hauer e Freddy Ferreira no dia em que encerrou as atividades, em novembro do ano passado. “Nós já vínhamos há algum tempo amadurecendo a ideia de abrir um negócio no ramo da gastronomia, movidos especialmente pelo entusiasmo do Max, que é um apaixonado por cozinha”, conta Freddy Ferreira. “Pensávamos em um espaço gourmet, para reunir grupos e fazer uma espécie de de aulasespetáculo com chefs renomados. Mas de repente a oportunidade de comprar o bistrô caiu no nosso colo!”. E assim se deu: com nova marca e sob nova administração, o Rincón Ibérico abriu as portas há um mês com a mes-
ma decoração e basicamente o mesmo cardápio do seu precursor. “Aproveitamos praticamente todo o cardápio, apenas incluímos alguns pratos, alteramos alguma coisa em outros. Mas a principal mudança foi nos preços, que conseguimos reduzir em até 15%. Também ampliamos a carta de vinhos e aumentamos a equipe para agilizar o atendimento que, falando como cliente, às vezes era meio demorado”, observa Freddy. Entre os novos pratos do cardápio, o de bacalhau defumado na casa, uma especialidade de Max Monjardim servida com purê de batatas, cebola, pimentões e tomates cereja confitados (R$ 65). Ele, assim como a paella marinera (R$ 55), só é servido nos almoços de sábado. Para o jantar, ao longo da semana, as opções são o arroz cremoso de açafrão e camarões grelhados com bacon (R$ 65) – batizado como o prato do Freddy – e o filé ao molho de gorgonzola doce, o autêntico italiano, de origem controlada. Além, é claro, de inúmeras opções de croquetes, montaditos, tortillas e outras comidinhas em pequenas porções que os espanhóis nomearam de “tapas” (a partir
de R$ 15). Quem comanda a cozinha, agora, é o Chef Rory Filho. “Nós já frequentávamos o Jamón Jamón especialmente por causa da paella do sábado, que é muito boa. Acompanhamos na maior expectativa a reabertura do bistrô. E ele voltou ótimo com outro nome! A comida deliciosa, o pessoal atencioso... um astral maravilhoso”, festeja Jorge Rodrigues que, ao lado da esposa, Flávia (com ele na foto abaixo), segue aproveitando as noites brasilienses no Rincón Ibérico. Rincón Ibérico
109 Norte, Bloco D (3201.2824) De 3ª a 6ª feira, das 18 à 24h; sábado, das 12h30 às 16h e das 18 às 23h. Lúcia Leão
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PICADINHO
TERESA MELLO
picadinho.roteiro@gmail.com
Uirá Godoi
Novidades no bistrô Quatro sócios em torno dos 30 anos conseguiram sofisticar, há oito anos, o Bloco E da 403 Norte com o Cantucci Bistrô. Agora, a casa comandada por Andrei Prates, Guilherme de Sordi, Rodrigo Melo e Tarso Frota anuncia cardápio novo e projeto de expansão: “Vamos abrir uma pizzaria de fermentação natural na outra ponta”, antecipa o chef Rodrigo Melo, que faz pós-graduação online em Cozinha Autoral (PUC/RS). O brasiliense de 29 anos renovou 80% do menu à la carte, servido no jantar e no almoço de sábado, no qual uma das novidades da entrada é o profiterole de bacalhau. No bistrô mediterrâneo, o chef reforça a produção de massas caseiras como o ravióli e o nhoque com tiras de filé e molho rôti (R$ 44) e celebra os vegetarianos com o medalhão de lentilhas. Durante a semana, o almoço executivo fica concorrido. O prato mais vendido é o filé à Wellington com risoto cremoso de brie e pistache (foto). “Em maio, vamos lançar o cardápio de sobremesas.” À mesa, chegam louças de vidro da artista brasiliense Suzana Dourado.
Recheio de brownie
Café da manhã na creperia
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Pelo quarto ano consecutivo, a rede Outback investe na Páscoa com o Chokkie, meio ovo de 290g feito com 52% de chocolate belga Callebaut, recheio de brownie com nozes-pecãs e creme trufado de chocolates branco e meio-amargo. Criado pela equipe de pesquisa e desenvolvimento do grupo, é decorado com chocolate branco e vendido a R$ 49,90 em nova embalagem com ilustrações inspiradas na cultura aborígene. “O ovo de chocolate é um grande sucesso e, por isso, decidimos trazer o produto novamente”, informa a diretora de marketing do grupo no Brasil, Renata Lamarco. Inspirado na sobremesa Chocolate Thunder (brownie da casa, sorvete de baunilha, calda de chocolate, chantilly e nozes a R$ 29,90), o produto sazonal ainda pode ser encontrado nas unidades da rede em Brasília, nos shoppings Pier 21, Venâncio, ParkShopping, Iguatemi e DF Plaza.
Árvores generosas, como flamboyant e barriguda, trazem o verde para perto dos clientes da creperia e bistrô C’est la Vie (408 Sul). Na ponta do Bloco A e sem trânsito, o empresário Rodrigo Quintiliano, de 27 anos, animou-se a investir no gramado da casa, com pula-pula e miniescalada: “Há dois anos, nós fizemos um parquinho de madeira aqui”, conta. Para aproveitar ainda mais o ambiente, começou a oferecer café da manhã nos fins de semana: “É um espaço convidativo, leve, as crianças ficam brincando”. Com capacidade para 110 pessoas, o local fica bem alegre nas manhãs de sábado e de domingo e atrai eventos, como chás de fralda. O bufê a quilo custa R$ 54,90 e oferece tapioca, omelete, bolos, pães, queijos, geleias, frios, salgados, bebidas. O suco de fruta custa R$ 4,50 (400ml) e os potes de salada de frutas e de iogurte saem a R$ 7. “A gente só compra o pão francês, o resto todo é feito aqui”, diz. Funciona no sábado e no domingo, das 8 às 11h30. Domo Comunicação
Carol Melo
Um amor de avó
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Em 13 de abril, o animado Mercadinho do Brasília Shopping retomou as edições quinzenais com cerca de 30 expositores. Um dos destaques do projeto é a Vovó Gourmet Farofinha Solidária, criada pela paraense Vicky Tavares, à frente da ONG Vida Positiva. Em embalagens de 500g (R$ 25) e de 250 (R$ 15), estão disponíveis 17 sabores, como tradicional, torresmo, castanha-do-pará, castanhade-caju, pimenta, churrasco, curry, passas, banana. “A receita é cebola, manteiga tipo A, farinha e muito amor”, diz ela, que começou a produção artesanal há sete anos e ganhou visibilidade ao participar, em janeiro de 2018, do programa Encontro com Fátima Bernardes, da TV Globo. “Cerca de 40% das despesas da ONG são pagas com a venda das farofas”, conta. Com carinho de avó, Vicky cuida de 20 jovens na casa da Asa Sul e fornece 2 mil lanches por mês em cinco hospitais públicos para pacientes que fazem exame de controle do vírus HIV: “Eles só têm dinheiro para a passagem”. Encomendas pelo zap 99942.8940.
Teresa Mello
Orgânicos na Feira do Guará Desde janeiro, o Diário Oficial da União publicou a liberação de 152 substâncias agrotóxicas. Por isso, o cuidado com a saúde do brasileiro deve passar pela alimentação. Na Feira do Guará, Hélio Yukio Hobo e Kátia são donos da Banca 409, a única de orgânicos. “ Acho que falta mais divulgação, mais informação”, diz o paulista de 56 anos.”A alimentação vai refletir na sua saúde.” No local, o consumidor encontra alface-mimosa e lisa a R$ 3,50 e americana a R$ 5. E ainda abobrinha, vagem, pimentão, berinjela, batata-inglesa, tomate, manjericão, hortelã, tudo certificado. Hélio era produtor orgânico em Planaltina e os vendia na Ceasa e também para Kátia. Com o casamento, deixou a plantação e abriu espaço no negócio para agricultores locais, como de Brazlândia e de Vargem Bonita. Os irmãos Célia e Sérgio são donos de bancas ao lado, com hortifrútis convencionais, e por onde circula a mãe, dona Marina, que fez 80 anos em 14 de abril. Aproveite para comprar o ótimo arroz integral das marcas Yanagi e Guenmai.
Cardápio renovado
Carinho sem glúten
O Dudu Bar Lago estreia novidades em abril. A casa na QI 11 agora abre também na segunda-feira para almoço e jantar e o novo cardápio é apresentado pelo chef paulista Dudu Camargo, 47 anos. As mudanças contemplam 25% do menu executivo e 30% do à la carte. Servido no almoço, o executivo tem cerca de 20 pratos (de R$ 19,90 a R$ 49,90) e entre os novos estão o Cangaceiro (pastel de carne-seca, quibebe, arroz, feijão e farofa de bacon), o Venceremos (risoto de camarão com molho pomodoro e queijo Emmental) e o Marroquino (galeto desossado e cuscuz). As 60 sugestões do menu tradicional podem ser pedidas tanto no almoço quanto no jantar. Para quem quiser petiscar, a dica é o picadinho de filé com gorgonzola e cesta de pães. O ravióli de damasco vem com molho de rabada gratinado (R$ 58,90) e a costelinha de porco assada com purê de maçã e arroz. Para dividir, a paleta de cordeiro assada com cuscuz de castanha e arroz rústico serve duas pessoas e custa R$ 169,90. Na sobremesa, uma das novidades é o estrogonofe de chocolate com morango e castanha-de-caju.
Inaugurada no fim de março, a casa nova da Quitutices (315 Sul), da chef paulista Inaiá Sant’Ana, é um convite para saborear bem devagar as delícias da confeitaria sem glúten nem leite animal e que, agora, funciona também na segunda-feira. No espaço de 140 m2, com capacidade para 50 pessoas, o projeto da Fatto Arquitetura incrementou o conforto com sofás, poltronas, mesa comunitária e área externa. Aproveite para pedir um shake preparado com leite de castanha-de-caju e nos sabores de frutas vermelhas, de cacau com banana e de maracujá com gengibre. No menu salgado, destaque para o quibe assado de carne moída com quinoa e recheado com cebola caramelizada (R$ 18,90 a fatia). A coxinha de frango é feita com farinha de arroz, o pão sem queijo é de batata-baroa. Entre os doces, a base da tartelete leva farinha de amêndoas e o brownie tem chocolate meio-amargo sem leite. Abre na segunda, das 13 às 19h, e de terça a sábado, das 10 às 20h. Divulgação
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Drinques em promoção Até o fim do abril, o gastrobar Muv (408 Sul) convida para a promoção Entourage, disponível às quintas-feiras, das 17 às 22h. Da carta de 11 drinques o cliente pode escolher três, que são servidos juntos para serem compartilhados entre os amigos. Com destilados de qualidade, o trio de bebidas sai a R$ 44,90. No cardápio, há clássicos como o Aperol Spritz (Aperol, espumante, água com gás e laranja) e o Mojito (rum, água com gás, limão e hortelã), além das caipiroscas com vodca Ketel One, como a Rosemeri (limão-siciliano, uva-verde e alecrim) e a Space Berries da foto ao lado (morango, amora e pimenta-rosa). Para acompanhar, o chef Rafael Urdaneda sugere petiscos como queijo-coalho ao molho de goiabada, tiras de tilápia empanadas, carpaccio de lagarto e sanduíches. Há serviço de manobrista e funciona de terça a quinta até 1h, sexta e sábado até 2h e domingo até a meia-noite.
Na agenda pra você 4 de maio: Bazar Europeu. Com estandes de gastronomia típica. Na Aliança Francesa de Brasília (708 Sul). De 11 a 1h. Entrada franca. 5 de maio: Mostra de Cultura Japonesa. Culinária, bazar, oficina. Na Escola Modelo de Língua Japonesa de Brasília (SGAN 611, Módulo A). Das 10 às 16h. Entrada franca. 11 de maio: 5º Festival de Pimentas. Expositores, comida, campeonato. No gramado da Funarte (Eixo Monumental). Das 11 às 18h. Entrada franca. 15
GARFADAS&GOLES
Quando o silêncio é eloquente É sempre difícil reunir mais de 300 anos de jornalismo para um almoço. Mas é possível e agradável, muito e melhor nas primeiras investidas aos goles e inícios de garfadas. Quase tudo são flores e os “olás-como-vai-a-vida” fluem mansos e carinhosos. Até os atrasos e enganos iniciais do serviço são relevados, quase nem notados. Depois de cem dias, é momento de cuidar das feridas pós-eleitorais, mesmo que, no caso, se trate de grupo sem maiores diferenças no atacado político e pouquíssimas opiniões discordantes sobre o varejo governante nas esferas federal ou estadual. A segunda tem crédito sobrante, ao contrário da primeira, que tenta tampar com mãos pequenas o ralo por onde escorre célere o expressivo capital de votos recebido em primeiro e segundo turnos. Trapalhadas acontecem em qualquer começo de governo. Só que tantas, e em tempos escassos, chamam atenção e até perturbam, danificam e empanam o otimismo. MAS UM ALMOÇO DE SEXTA-FEIRA, de um grupo de amigos e colegas que têm nenhuma ou pouquíssima saudade dos governos lulo-petistas, não recomenda gastar mais do que 20 minutos em analisar rumos e destinos das ações do oficial-dedia em comando no palácio e no país. Tem ele o suficiente para se preocupar. Determinante nessa hora é mudar o tema e partir para a escolha dos pratos principais. Não sem antes dedicar uma palavra de simpatia ao atual ocupante do Buriti. “Antes de qualquer comentário dos outros, realço que ele não é indeciso nem tem medo: erro ou acerto, decide, não enrola”, disse o decano. Somos de um tempo em que a voz da experiência calava todas as outras. Não se voltou, portanto, ao tema, não se recorreu a nenhum massacre e, menos ainda, foi requerida qualquer dissecação de cadáver ausente. Assunto encerrado. Vida que segue. A pauta mudou logo e entraram em campo a mídia, a rede social, a literatura, a música, o cinema, filhos e netos, as mulheres (as nossas, claro!) e outros
assuntos terrenos que acompanham os mortais. Não na ordem citada, mas em sintonia com a importância requerida pelos temas, juntos ou separados. CADA IDIOMA TEM SEU CHARME. Há quem diga que tem destinações especiais. Assim o francês com a gastronomia. Feitos um para o outro. Gostamos de fazer uma brincadeira: ofereça a um desconhecido uma “carne de sol com manteiga de garrafa” e uma “viande du soleil avec sa beurre mis en bouteille”. Peça para ele escolher apenas pelo som e teremos conversa para dois ou mais jantares. Assim, escolhemos a costela “sous-vide”, o sucesso do mais recente ponto da Asa Norte, o Sous Ribs & Beer, na 309. A costela bovina é cheia de encantos e segredos e foi apresentada por Vilany Kehrle na última edição desta Roteiro, a 287, como a “perfeita combinação”. Digamos que está quase lá. É preciso voltar para comer e fazer novos comentários sobre tons de sais e sombras na apresentação e degustação do prato. Uma novidade que veio e quer ficar. Há cervejas tradicionais e artesanais, dessas que estão na moda e turbinam comentários de jovens bebedores, fazendo-os crer já terem conseguido a erudição etílica para conversar em qualquer mesa. Há vinhos também. Carta modesta, boa qualidade, destaque para o Soul Fa Sol, Malbec do argentino Marcelo Pelleritti, um campeão. Então veio a chuva. Forte para nos mudar de lugar; média, para nos manter no bar. Suficiente em tempo para não reabrir feridas, julgar à revelia ou condenar ausentes. Tudo passa e a vida continua. O proprietário Luciano Martins acertou. E tirou a sorte grande em ter a colaboração da jovem Ellen, pequena princesa do atendimento. À primeira pergunta, respondeu que era campeã de tiro e estuda para ingressar em academia militar. Depois, só paciência: conversou, atendeu e viajou com os veteranos por mais de quatro horas pelos túneis de séculos e séculos de histórias do jornalismo local e nacional. Amém!
AS DELÍCIAS DE MINAS PERTINHO DE VOCÊ 16
LUIZ RECENA
lrecena@hotmail.com
Queijos, doces, biscoitos, castanhas, pão de queijo, pimentas, farinhas, polvilho caipira, massa para tapioca, mel, manteiga, cachaças, linguiça, frango e ovos caipira.
Av. Castanheiras, Ed. Ônix Bl. A - Loja 2 - Águas Claras
PÃO&VINHO
ALEXANDRE FRANCO
Roteiro de uma boa refeição Embora haja umas poucas coisas melhores, uma boa refeição é certamente um dos grandes prazeres ao nosso alcance. Basta que estejamos dispostos a criar e seguir um bom roteiro para ela. Às vezes é a comida que nos dá o fio condutor da estória que queremos contar, e outras vezes é o vinho que nos guia. Certo é, ao menos para mim, que para um roteiro de sucesso nenhum dos dois pode faltar: uma boa comida acompanhada de um bom vinho. Escrevo esses roteiros ao menos nos fins de semana e, como deve ser em qualquer roteiro, sempre penso que deve ter um começo, um meio e um fim. Grosso modo, imagino um começo que cative as atenções do espectador, alguns petiscos acompanhados de um bom espumante, talvez. Segue-se uma ponte para o cerne da estória, um prato leve que case bem com um bom vinho branco. Depois chegamos ao clímax com um prato principal de certo peso escoltado por um tinto que permanecerá na memória. Finalmente, um epílogo trazido por uma sobremesa que nos deixe com vontade de assistir a uma próxima estória, acompanhada de um vinho que combine bem o doce com a acidez. Vamos então a um caso prático: lascas do grana padano brasileiro RAR, incrivelmente tão bom quanto os originais da Bota, acompanhadas por uma garrafa do Aquarius Kraken, um espumante nacional com 36 meses de maturação excelente, de cor dourada clara, perlage fino e consistente, nariz de frutas brancas e nítidos toques de panificação, com palato refrescante, mas ao mesmo tempo suave e elegante. Seguimos com torradas com creme azedo e ovas de capelini, já que o caviar, mesmo, é quase impagável. Aqui acompanhamos com o espumante Dona Bita, da Don Giovani. Com nada menos que 60 meses de maturação, não passa vergonha nem em frente aos bons champanhes. Amarelo claro com reflexos dourados, perlage fino e aromas
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de brioche, castanhas, caramelo e nozes, no palato é estruturado, equilibrado e marcante, com um mousse cremoso e final longo. Avançamos, então, para o primeiro prato, uma salada de folhas verdes com nozes e damascos picados e um levíssimo molho de mostarda e mel. O acompanhamento perfeito aqui foi um Chardonnay 2016 da Altamisque, produzido na região de Tupungato, em Mendoza, um dos melhores vinhos brancos da Argentina. Dourado claro, com nariz muito típico que nos traz frutas tropicais como abacaxi, além de pêssegos e damasco, tudo contornado com um agradável amanteigado e leve toque lácteo. No palato, tem um perfeito equilíbrio entre álcool, acidez, cremosidade e frescor. Chegamos finalmente ao ápice com um delicioso boeuf bourguignon. Realizado ao longo de vários dias, resultou em uma carne macia e extremamente saborosa, com molho denso ao vinho de Borgonha com cebolinhas, cenouras e champignons, tudo escoltado apenas por um aveludado purê de batatas. Para esse auge, não deixei por menos: a estrela da refeição foi o Clos de Vougeot Grand Cru 2004 do Domaine Armelle et Bernard Rion. Já com 15 anos, mostra cor granada e traz um leque fantástico de aromas, com frutas do bosque como cereja, groselha e cassis, toques de especiarias e um leve e agradável mentolado, mas o mais marcante é o húmus. No palato é fantástico, muito sedoso e equilibrado, ainda com acidez perfeita e taninos finos. Grande vinho! Para finalizar, figos ramy com chantilly fresco, deliciosos por si só, mas ainda engrandecidos pelo Duet Ice Wine 2016 da Shelburne Vineyard, realização a partir das castas Vidal Blanc e Arctic Riesling no Estado de Vermont das terras do Tio Sam. Amarelo claro com aromas de pêra, maça verde, damasco e pêssegos assados, no palato sua deliciosa doçura está muito bem equilibrada pela sua acidez afiada. Ótimo!
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aindadátempo... ...de curtir a mostra 50 anos de realismo – Do fotorrealismo à realidade virtual, em cartaz até 28 de abril no CCBB. Estão lá cerca de 90 obras de 30 artistas, entre brasileiros e estrangeiros, que têm como ponto inicial a realidade e sua representação através da pintura, da escultura e da realidade virtual nos últimos 50 anos. Com curadoria de Tereza de Arruda, a mostra percorre o trajeto do realismo, que ganha força na história da arte nos anos 60, como reação ao abstracionismo, e vai até a arte veiculada pelas novas mídias, como os vídeos e a realidade virtual, que cria mundos ilusórios onde o espectador pode penetrar, se mover e interagir com seus próprios sentidos. As pinturas expostas impressionam pela fidelidade ao real. A fotografia é o ponto de partida dessas obras, e é difícil acreditar que o quadro à nossa frente é feito de tinta com técnicas de pintura, e não de pixels, como o Bahnhofstrasse (foto), do espanhol Andrés Castellanos, que revela um cenário urbano em que se veem edifícios, automóveis, trilhos e trens de metrô, árvores, pessoas, em clima sombriamente chuvoso, quando algumas luzes já se acendem. De terça a domingo, das 9 às 21h. Entrada franca, mediante retirada prévia de bilhete.
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ato,teatroedança Assim foi batizada a nova exposição da fotógrafa Mila Petrillo, em cartaz até 30 de junho no Museu Nacional. Lá estão registrados belos momentos de artistas nos palcos de Brasília no período de 1985 até o ano 2000. Eram espetáculos que, inevitavelmente, refletiam conjunturas político-sociais intensas no Brasil. Além da exposição, o projeto também prevê o lançamento do livro Por outras lentes, dia 17 de maio. Lá estão imagens recuperadas e digitalizadas e textos do jornalista e escritor Severino Francisco. O projeto de Mila começou durante o 51º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, quando expôs registros importantes realizados por ela durante várias edições do festival. O projeto tem como objetivo recuperar e digitalizar cerca de dez mil imagens do acervo pessoal de Mila Petrillo. Fotógrafa profissional desde 1978, tendo passado pelas áreas da fotografia de cena para cinema, ela contabiliza 32 exposições individuais. Também publicou três livros e participou de outros 17, além de somar diversos prêmios. De terça a domingo, das 9 às 18h30, com entrada franca.
quase60 Brasília, única cidade do mundo construída no século 20 considerada Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela Unesco, faz 59 anos no dia 21 de abril, mas será homenageada com 60 fotos de dez fotógrafos que retratam, em suas obras, o espaço urbano da capital, seus monumentos, sua natureza, sua arquitetura, seu céu, sua gente e detalhes encantadores de sua vida e de seu cotidiano. São eles: Carlos Barcellos, Glauco Castro, Gisele Porcaro, João Barbosa (Joca), Márcio Sores, Mariana Almada (foto), Mariana Raphael, Paulo Stein, Sandra Bethlem e Solange Rocha, todos associados do Candango Fotoclube, fundado em 2006 para difundir a arte fotográfica independente. A mostra pode ser vista até 30 de abril, com entrada franca. Diariamente, das 8 às 20 h.
Mariana Almada
Mila Petrillo
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Animais, mandalas, formas humanas, paisagens. Essas são as principais inspirações da artista plástica Andréa Bussinger, que apresenta seu trabalho na galeria Arte Em Pauta BSB (Jardim Botânico Shopping) até 6 de maio. São obras sobre tela, papel, desenhos em pastel seco, lápis, além de pinturas a óleo e aquarelas. Partindo do preto e branco para o colorido intenso, a artista brasiliense revela seu talento e personalidade multipotencial e convida os visitantes a um passeio entre as diferentes técnicas pelas quais é apaixonada. Professora, mãe e dona de casa, encontra tempo e motivação entre as muitas tarefas do dia a dia, para deixar fluir a energia contida em suas mãos, pensamentos e sentimentos, resultando em trabalhos repletos de encanto e poesia. De segunda a sábado, das 10 às 18h, com entrada franca.
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DIA&NOITE
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opelédopiano Depois da brilhante passagem do pianista Nelson Freire por Brasília, no último 17 de março, chegou a vez de mais um orgulho do piano brasileiro se apresentar na cidade. Ninguém menos que Arthur Moreira Lima fará quatro recitais no Teatro Royal Tulip, de 2 a 5 de maio. Em repertório eclético, o pianista carioca de 69 anos interpretará composições de Bach, Beethoven, Brahms, Chopin, Liszt, Mozart, Rachmaninoff e Tchaikovsky, passando por Astor Piazzolla, Ernesto Nazareth, Luiz Gonzaga, Radamés Gnattali, Villa-Lobos e Pixinguinha. “Queremos levar a todos aquela música que vem, através dos tempos, encantando qualquer ouvinte, desde que lhe dê a oportunidade de conhecê-la”, declara o pianista, que iniciou seus estudos aos seis anos e aos oito fazia o primeiro recital na Associação Brasileira de Imprensa. A revista La Suisse chamou Moreira Lima de "Pelé do Piano". O crítico londrino Dominic Gil,l do Financial Times, escreveu: "Moreira Lima sabe tudo sobre o piano romântico, fazendo seu instrumento falar". Ingressos a partir de R$ 120, à venda na loja Made in Brazil Music Store (3462.1066) e em www.ingressodigital. com.
omelhordetchaikovsky
festivalvarilux Divulgação
Graças a Deus, último filme de François Ozon, estreou na França em fevereiro passado, apenas alguns dias antes da condenação do cardeal francês Philippe Barbarin, por seu silêncio sobre abusos sexuais cometidos contra menores de idade por um padre da sua diocese. Vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim – prêmio do júri – será exibido durante o Festival Varilux de Cinema Francês, entre 6 e 19 de junho, em todo Brasil. Será destaque, também, a animação Astérix e o segredo da poção mágica, de Alexandre Astier e Louis Clichy, que já foi vista por quatro milhões de franceses. Na edição do ano passado, a programação do Festival Varilux atingiu 88 municípios, 118 salas de cinema e um público de 172 mil pessoas. A edição 2019 comemora os dez anos de sucesso crescente do festival e a incrível marca de um milhão de espectadores. A programação ainda não está fechada, mas em breve poderá ser conhecida no site http://variluxcinefrances.com.
O lago dos cisnes, A bela adormecida e Quebra-nozes compõem o espetáculo em três atos que o Ballet Imperial da Rússia apresentará no Centro de Convenções Ulysses Guimarães dia 11 de maio, às 17 e às 20 horas. Criado em 1994 por Gediminas Taranda, estrela do Ballet Bolshoi de 1980 a 1993, o Ballet Imperial da Rússia reúne artistas provenientes das melhores companhias de balé do mundo, como a Ópera de Paris, Teatro Mariinsk, Teatro Bolshoi e American Ballet Theatre. O espetáculo O melhor de Tchaikovsky é composto por um elenco de 28 bailarinos, com destaque para os solistas Ivan Zviagintsev (que já passou por companhias como Bolshoi, Russian Ballet Theatre e Russian National Ballet); Kseniia Pukhlovskaia (Russian Ballet Theatre e Russian National Ballet); Lina Sheveliova (Teatro Nacional de Ópera e Balé da Moldávia) e Nariman Bekzhanov (Teatro de Ópera e Balé Abay State, no Cazaquistão). Ingressos entre R$ 70 e R$ 200, à venda no Brasília Shopping e no site www.eventim.com.br, com taxa de conveniência.
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lenineeminhotim Agora, mais do que nunca, Brumadinho precisa de todo esforço para se recuperar minimamente da tragédia que abateu a região com o rompimento da barragem da Vale em 25 de janeiro passado. Com esse propósito, intensa programação cultural e educativa está sendo organizada para ocupar o belíssimo Instituto Inhotim, sede de um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e considerado o maior museu a céu aberto do mundo. Localizado em Brumadinho, a 60 quilômetros de Belo Horizonte, vai ser palco do show Lenine em trânsito, nova turnê do cantor pernambucano, que apresenta grandes sucessos dos seus mais de 30 anos de carreira, além de canções inéditas. Dia 27 de abril, às 15h, com ingressos a R$ 22 e R$ 44, incluindo a visita ao parque, que abre às 9h30 e fecha às 17h30. Vendas em www.ingressorapido.com.br.
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artebrasiliense
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Com a proposta de divulgar seus trabalhos, Ana Lúcia Laudares e Maria Alice Prata criaram, há 12 anos, o grupo Elas & Elas na Arte. Tempos depois, decidiram abrir caminho para outras artistas mulheres com atuação em Brasília. Hoje, o grupo de dez integrantes junta talento para apresentar a mostra de mesmo nome no Shopping Deck Norte (segundo piso). A diversidade de estilos e técnicas é a marca dessas artistas mulheres. São elas: Ana Laudares, Ana Pimentel, Angélica Bittencourt, Eusanete Sant’Anna, Junira Klein, Malu Perlingeiro, Maria Alice Prata, Roselena Campos (foto), Salma Manzano e Socorro Mota. Até 26 de abril, de terça a sábado, das 14 às 19h. Entrada franca.
elesconvidam Os músicos brasilienses Túlio Borges (foto) e Rodrigo Bezerra têm convidadas especiais no fim de semana de 26 a 28 de abril. São as jovens cantoras Simone Guimarães e Joana Duah, que se apresentam no Espaço Cena (205 Norte), sexta e sábado às 20h, e domingo, às 19h. No programa, trabalhos autorais e clássicos da MPB no violão de Rodrigo Bezerra e na voz de Túlio Borges seguidos da apresentação de Simone Guimarães – que já gravou com Milton Nascimento e fez shows, entre outros, com Ivan Lins e Leila Pinheiro – e de Joana Duah, também brasiliense e radicada em São Paulo. Ela lançou recentemente, pela Warner, o CD Michael N’Bossa, com músicas de Michel Jackson em ritmo de Bossa Nova. Ingressos a R$ 30 e R$ 15. Como o teatro é pequeno, o ideal é reservar antes pelo telefone 3349.3937.
Artur Dias
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sonharecriar Desde pequena, Elda Evelina Vieira teve contato com diversas formas de arte, entre elas desenho, música, teatro e poesia. Estudou piano, violão, arte sobre tela, teatro, mas é como artista plástica que ela apresenta seu trabalho na mostra Cores e poemas, em cartaz até 10 de maio no Apetità Bistrô (410 Sul). Suas pinturas têm na composição textos que refletem sua preocupação com a descoberta do homem por ele mesmo, de sua condição de parte integrante da natureza e da sua relação com Deus. Elda realiza também trabalhos de decoração em cerâmica, reunidos na série Recriando Fabergé, inspirada nas obras do joalheiro russo famoso pelos ovos Fabergé. “A arte não é expressa só com pincéis, mas também com a caneta e o teclado. Eu me sinto muito bem acompanhada nesse encanto pelo escrever com cores e pintar com as palavras”, afirma. De segunda a sexta-feira, das 12 às 21h; sábados, das 12 às 22h; domingos, das 13 às 22h. Entrada franca.
Humberto Araujo
sobreofracasso Um solo "performático-pop-clown-multimídia" que transita entre o teatro e o cinema, por meio da interação com tecnologias que permitem a manipulação da cena pelo próprio ator, que controla luz, som, projeção, sensores e câmeras. Assim é o espetáculo Misanthrofreak, que volta aos palcos de Brasília, dias 11 e 12 de maio, depois de passar por oito países e dez cidades brasileiras. Nele, o diretor e ator Rodrigo Fischer, do Grupo Desvio, aborda o fracasso, o erro e a dificuldade de tomar decisões de forma poética e lúdica. De acordo com o professor da USP e crítico teatral Luiz Fernando Ramos, Misanthrofreak é um contra-espetáculo extraordinário, pois "constrói meticulosamente um procedimento de autossabotagem contínuo e ininterrupto, em que a representação é desestabilizada do início ao fim e, no entanto, alguma coisa continua acontecendo e afetando o público”. O espetáculo possui poucas falas. Tudo se concentra no que está sendo visto. Nesse sentido, buscou-se potencializar a percepção que o espectador tem do espaço cênico, bem como do próprio ator em cena. No Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul), sábado, às 20h, e domingo, às 19h. Ingressos a R$ 20 e 10.
Rui M. Leal/Getty Images
GRAVES&AGUDOS
Do choro ao
heavy metal
POR HEITOR MENEZES
A
Caroline Bittencourt
migos, rola uma situação difícil para a cultura neste país, pois ideias de jerico que pairam no ar ameaçam virar realidade. Seguindo em frente, com o perdão do trocadilho infame, melhor que chorar é curtir o chorinho, faz bem melhor. Esse é o lance que nos proporciona, claro, o Clube do Choro, reduto da música de fino acabamento e alta expressão artística, no Eixo Monumental.
Entre os dias 23 e 28, no intuito de comemorar os 20 anos da Escola de Choro Raphael Rabello, o espaço abriga o 1° EICHO – Encontro Internacional de Choro. Segundo a premissa, o lance promove o intercâmbio entre instrumentistas nacionais e de além-fronteiras. E não apenas. Em seis dias de evento, a programação envolve cursos, rodas musicais, palestras denominadas “choro talks” (muito chique!), prática de conjunto e muitos shows com instrumentistas de alto calibre (leia mais na próxima página).
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Dia 27 de abril, ó vida, ó azar, o que fazer? Tem Djavan, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, e Los Hermanos, no Estádio Nacional Mané Garrincha. Se escolheu aquele pop brasileiro sofisticado, algo que os americanos se derretem e chamam de smooth jazz, brazilian jazz, coisa que o valha, periga de você cair (mais uma vez) na graça de Djavan Caetano Viana, há 40 e tantos anos frequentando nosso imaginário de ouvinte com um repertório matador. Vesúvio, seu mais recente trabalho de inéditas, apenas adiciona novas pérolas a um repertório que é uma bela coleção de joias. Tendo escolhido os barbudos marmanjos do Los Hermanos, vale a chance de conferir mais uma volta do quarteto. Marcelo Camelo, Rodrigo Barba, Bruno Medina e Rodrigo Amarante encaram a maturidade e a vontade de se reunir em grupo. Lembrando que eles lançaram apenas quatro discos de inéditas e desde 2007 estão dando um tempo para se dedicar aos projetos pessoais. Ao lado de Anna Julia e Último romance, músicas de sucesso, aparece Corre corre, canção inédita depois de 14 anos sem novidades. Então, corra. Serão apenas 12 shows na atual turnê.
que pode desde já encontrar semelhanças e pontos em comum tanto na trajetória artística quanto no repertório carregado de emoções que os dois cultivam há décadas. O esquema é aquele: cada um dá seu recado em separado e lá pelas tantas juntam forças. Belas canções é o que não falta. Ah, mas metal é que é legal. Tá bom. Nesse mesmo dia 3, a pedida é bater cabeça novamente no Toinha, que abre as portas para mais um grande show internacional. A atração da noite é a banda S.O.T.O., liderada pelo vocalista norteamericano Jeff Scott Soto, uma das grandes vozes do heavy metal da atualidade. A garganta desse sujeito já esgoelou grandes rocks, desde que apareceu como vocal da banda do extravagante guitarrista sueco Yngwie Malmsteen. Aliás, o currículo desse camarada é impressionante. Na bateria, o brasileiro Edu Cominato. Esse Soto, como dizia Nelson Gonçalves, é no gogó, Gugu!
Carol Siqueira
Dia 30, véspera de feriado, tem metal alemão no Toinha Brasil Show, o pub rock’n’roll no SOF Sul. A casa recebe a Grave Digger, banda formada no longínquo ano de 1980, mas que continua firme e forte, forjando o metal temperado de referências que vão da lenda do Rei Arthur a Jesus Cristo, passando pela história da Escócia, Edgar Allan Poe e Richard Wagner. Tá pensando o quê? Metal é cultura. Primeiro de maio, feriado do Dia do Trabalho, em plena quarta-feira, não dá para sumir do mapa e emendar o descanso. A opção é ir à noite ao Taguaparque, em Taguatinga, onde tem show grátis com a cantora Vanessa da Mata. A promoção é uma homenagem aos 40 anos do Sinpro, o sindicato dos professores do DF. Oswaldo Montenegro e Renato Teixeira dividem o palco do Centro de Convenções Ulysses Guimarães dia 3 de maio. A apresentação conjunta é uma novidade para os músicos e o público,
Em uma praia mais tranquila vem Nando Reis, na calma de voz e violão, transfigurando clássicos de uma longa carreira que começou lá atrás, no início dos anos 1980, com os Titãs do Iê-Iê. Dia
Pixinguinha decerto ficaria encantado com a programação e com os nomes que estarão presentes no 1º EICHO, Encontro Internacional de Choro, de 23 a 28 deste mês no Clube do Choro. O músico, que contribuiu de forma impactante para o aprimoramento do gênero e foi o primeiro a levá-lo para fora do país, com certeza aplaudiria essa grande festa da música em comemoração aos 20 anos da Escola de Choro Raphael Rabello e dos 42 do Clube do Choro. Afinal, não é todo dia que se tem os maiores expoentes do gênero e admiradores do estilo reunidos em shows, cursos e “choro talks”. Nos quatro primeiros dias subirão ao palco Fagner e Manassés, o brasiliense Henrique Neto e o trompete do português Gileno Santana, Carlos Malta e Robertinho Silva, Nicolas Krassik e Marcelo Caldi. Nos dias 27 e 28, sábado e domingo, a farra musical contará com a guitarra do israelense Yotam Silberstain, Armandinho Macedo, Spok Quinteto, Moisés Silva, Ian Cury, Tiago Nunes, Junior Viegas, Luiz Caldas, Nilze Carvalho, Choro Livre, Gypsy Jazz Clube, os professores da Escola de Choro Raphael
Rabello e uma atração surpresa, para encerrar com chave de ouro. Para Henrique Filho, o Reco do Bandolim, presidente do Clube do Choro, esse primeiro encontro vem sacramentar a força e o respeito que o gênero conquistou nos últimos anos dentro e fora do país e é também uma confirmação da globalização respeitosa entre as culturas. “É importante que a gente permita que o choro, tão brasileiro, dialogue com outras culturas musicais, outros estilos, e alimente essa troca benéfica”. Reco lembra que, hoje em dia, o choro é reconhecido e aplaudido em todo o planeta e que existem clubes que se reúnem para aprender e difundir o gênero espalhados por várias cidades do mundo, como Paris, Tel Aviv, Tóquio e Lisboa. “A ideia do festival é celebrar o chorinho. Brasília é um grande celeiro de talentos e o EICHO vem para reunir grandes músicos desse estilo num só lugar. Nosso objetivo é que seja o primeiro de muitos e que a cultura do choro seja cada vez maior e mais democrática. Como faz parte da comemoração dos 20 anos da nossa escola, também é a chance de homenagearmos nossos professores, que mantêm a escola de pé e preservam viva a nossa música”, diz Reco. Os shows do EICHO já estão mobilizando a cidade. O de Fagner, por exemplo, está com o primeiro lote de ingressos esgotado e outros, com o de Armandinho e Yotam
Fotos: Divulgação
Uma festa para o mais brasiliense dos ritmos
Silbertein, caminham na mesma direção. Ao todo, serão seis dias de programação intensa que contempla cursos, rodas musicais, palestras, prática de conjunto e shows com os maiores nomes do choro no Brasil e no mundo, além de gêneros que flertam com o chorinho, como a MPB, o jazz e outros. As atividades terão como sede o tradicional palco do Clube do Choro e uma estrutura externa com palco e lounges. 1º EICHO – Encontro Internacional de Choro
De 23 a 28/4, no Clube do Choro (Eixo Monumental). Ingressos dos shows (1º lote): R$ 30 e R$ 60 (à venda no local, em www.bilheteriadigital.com/eicho e nas lojas da Bilheteria Digital no Conjunto Nacional, Brasília Shopping e Pátio Brasil). Cursos: R$ 200 (desconto de 20% para alunos da Escola Raphael Rabello).
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GRAVES&AGUDOS
Raimundos
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igualmente imperdível é a apresentação do norte-americano Mark Farner, pela primeira vez em Brasília, dia 12, no Toinha Brasil Show. Farner vem a ser um dos fundadores do Grand Funk Railroad, lendária formação rock’n’roll, aliás, a banda favorita do Homer Simpson, que afirma isso em um dos episódios dos Simpsons. Quem curte o rock dos anos 70 tem o Grand Funk na mais alta estima e consideração. Farner, amigos, se define como um músico cristão, seja lá o que isso signifique. Como dizia o ridículo título daquele filme do Led Zeppelin no Brasil: rock é rock mesmo! Pode ir ao Toinha professar a religião, bro. Batendo a rebordosa, e a pessoa que-
rendo nadar em águas tranquilas, doce como açúcar, afinal, é Dia das Mães! Se não tem Roupa Nova, que tal Fábio Jr, ao vivo e em technicolor? Isso, o cara mais romântico entre os românticos volta à capital com o seu show repleto de momentos de ternura. Vai ser no dia 12, famoso segundo domingo de maio, no Yurb Brasília. Esqueçam as músicas chatas, pensem nas legais. Fábio Jr canta Don’t let me cry (quando assinava como Mark Davis), Senta aqui, 20 e poucos anos, O que é que há, Enrosca (Guilherme Lamounier), Seu melhor amigo e até uma inesperada versão de Esses moços, do grande Lupicínio Rodrigues. É dor de cotovelo pra mãe nenhuma botar defeito. Fotos: Divulgação
4, no Ulysses Guimarães, o cantor e compositor prova porque é um dos artistas mais tocados do país, segundo dados do Ecad, o escritório central arrecadador de direitos autorais. Você já ouviu Nando Reis com os Titãs, com Cássia Eller, com Marisa Monte, com Skank, com Jota Quest e com o próprio, é obvio. Incrível a naturalidade com que faz suas canções soarem familiares e grudentas no ouvido. E os Raimundos? Faz tempo que você não confere o que andam fazendo Digão, Caniço e companhia? Pois pode matar a saudade de uma das bandas mais legais do rock candango. Dia 11 de maio, a rapaziada manda aquele som no Yurb Brasília, casa de shows na beira do Lago Paranoá (Clube de Engenharia). Você pode não acreditar, mas os Raimundos comemoram 25 anos de rock’n’roll (um quarto de século!). Para comemorar, vão ter duas baterias no palco (ai, ai), uma delas tocada pelo Fred Castro, da primeira gloriosa formação. Quer rock, filho? Barulho bacana? Então, tá. Ratos de Porão na veia e no “zovido” é o que você terá nesse mesmo dia 11, no Canteiro Central (Setor Comercial Sul), autodenominado espaço da cultura urbana no coração de Brasília. Nesse caso, a banda do João Gordo chega para comemorar com você, cidadão consciente, os 30 anos do disco Brasil, um petardo sonoro pra lá de atual. Não tem nhé-nhé-nhé, é punk rock do carvalho. Sensacional e imperdível, simples assim. Como o rock domina a temporada,
Mark Farner
Transando Caetano Esdras Nogueira faz releitura instrumental de emblemático álbum do cantor baiano. POR PEDRO BRANDT
N
os anos 1970, a gíria “transar” tinha múltiplos significados. Se hoje virou sinônimo de ato sexual, naquela época significava também “curtir”, gostar a valer de alguma coisa. Se estivéssemos em 1972, por exemplo, seria possível dizer que o saxofonista brasiliense Esdras Nogueira transa a música de Caetano Veloso. Tanto que em seu mais recente disco, Transe, o instrumentista transou o álbum Transa, do cantor e compositor baiano. Ficou confuso? Calma que eu explico. Pouco antes de deixar o exílio em Londres, Caetano Veloso gravou um dos discos fundamentais de sua carreira. Produzido por Jards Macalé, Transa (lançado no começo de 1972) é de uma brasilidade inegável, mas pouco ortodoxa, em diálogo – também pouco convencional – com a música pop universal da época (como rock e até reggae), resultando em
um disco de personalidade fortíssima. Com uma sonoridade agreste, em arranjos “secos”, de banda, Caetano canta (em inglês e português) saudades e nostalgias, reflexos da temporada londrina. “Caetano é lindo, icônico, atual”, comenta Esdras. Na infância, o músico, que durante anos foi integrante da banda Móveis Coloniais de Acaju – e hoje, além da carreira solo, acompanha outros artistas do DF –, ouvia o cantor por influência dos pais. “E o gosto pegou”, afirma. A sugestão de regravar o álbum Transa, entretanto, veio de um amigo do saxofonista. “Me aprofundei nesse trabalho e fiquei doido com as músicas”. O recém-lançado (nas plataformas digitais) Transe, no qual Esdras Nogueira – acompanhado de Thiago Cunha na bateria, Rodrigo Balduino no baixo e Marcus Moraes na guitarra – executa as sete faixas de Transa (seis de autoria de Caetano, além de Mora na filosofia, de Monsueto Menezes e Arnaldo Passos), encontra-se
num meio termo entre a homenagem (um tanto comportada) e um disco autoral (com explorações sonoras mais interessantes). “Trazer o Transa para o nosso universo da música instrumental, sem perder a origem das músicas e sem soar como cover, foi muito desafiador”, avalia Esdras. Desafio, o ouvinte vai perceber, recompensado por um disco no qual o saxofonista e cia. transam Caetano em universo próprio, que passa por jazz-fusion, afrobeat e dub. Aqui, o banzo das letras e a sonoridade agreste do LP de 1972 foram trocados por leituras muito mais solares, valorizando as melodias em favor dos climas angustiados do álbum de Caetano. Por vezes, esquecemos que se trata de versões do Transa. O que é ótimo para esse tipo de proposta musical. Transe
Disco de Esdras Nogueira. Sete faixas. Lançamento independente, disponível para audição nas plataformas digitais. Visite www.esdrasnogueira.com.
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CULTURAPOPULAR
A partir da esquerda, Kleber Moraes, Zelito Passos, Cícero Venâncio, Manassés de Souza e Rodrigo Zolet .
Ideias em ebulição POR VICENTE SÁ
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s momentos de grande efervescência cultural no Distrito Federal sempre foram precedidos de pequenas ações de grupos e entidades na busca pela ocupação e criação de melhores condições para o florescimento e a difusão da arte aqui praticada. Assim foi nos anos 70, quando grupos de teatro e festivais de música incendiaram palcos e espaços públicos da cidade, criando um novo e forte ambiente cultural. Nos anos 80, os movimentos Concertos Cabeças, Panelão da Arte e Canta Gavião possibilitaram o surgimento de bandas de rock, grupos musicais e uma
safra de poetas que faz barulho até hoje. Trinta anos depois, a cidade parece preparar uma nova ebulição artística. Grupos de hip hop e de grafiteiros, ações de emponderamento de mulheres poetas, teatro nas cidades, jovens músicos recém-saídos da Escola de Choro e grande produção de filmes agitam a capital da República. Entre as novidades, um coletivo começou um trabalho que busca interligar várias formas de arte e se oferece como um espaço para discussão e desenvolvimento de projetos artísticos: é o Usina de Projetos. Cinco nomes estão à frente do coletivo: os músicos Manassés de Sousa, Zelito Passos, Kleber Moraes e Rodrigo Zolet e o
publicitário e artista plástico Cícero Venâncio. Esse grupo, que já está dialogando com pintores, escultores, cineastas, poetas e editores, desenvolve, desde o ano passado, projetos que estão trazendo mais energia para a ebulição que se aproxima. “Com o projeto Fora dos Eixos, levamos música, poesia e cinema para algumas cidades como Guará, Vila Planalto e Núcleo Bandeirante. Exibimos filmes produzidos em Brasília, realizamos shows com músicos e poetas da cidade e proporcionamos aos artesãos e empreendedores locais espaço para venda de seus produtos artísticos e de alimentação”, explica Zelito Passos. O projeto mais ousado do coletivo é o Brasília Seis Décadas de Música, que vai resgatar o caminho percorrido nestes 60 anos pela música candanga. “Para cada dez anos produziremos um CD com o que de melhor foi feito naquela década. Esse material será disponibilizado em diversas plataformas, 60 dias antes do aniversário de 60 anos de Brasília. A cada dia, uma nova música será veiculada. O trabalho também será registrado em vídeo e CD para posterior distribuição”, informa Manassés. A primeira fase do projeto – a pesquisa – já está em andamento. Kleber Moraes, outro integrante do coletivo, lembra que um estúdio completo está em fase de finalização na 409 Norte, para viabilizar todas essas gravações, assim como as de outros projetos, como o Caçador de Sons, que vai buscar novos talentos em oito cidades do Distrito Federal, gravar e produzir um show de lançamento dos selecionados. O gramado da 409 Norte também será palco de shows em outro evento produzido pelo grupo este ano: o Panelão da Arte, que aconteceu nos anos 80, será revisitado em formato mais amplo, reunindo poetas, pintores, escultores, projeção de filmes e músicos locais e do Centro-Oeste, num hapennig que durará um final de semana e acontecerá a cada semestre. O pintor Ribamar Fonseca, contatado pelo grupo, apoia a ideia e acredita que esse é um bom caminho para a cultura da cidade: “Precisamos criar outros mecanismos de ação cultural, não podemos ficar na dependência de ações do Estado”. O diálogo com o teatro também está nos planos da Usina de Projetos. Um pequeno teatro de bolso será montado no subsolo junto ao estúdio e movimentará dois projetos: um infantil, Pede Moleque, e o Mil Cenas, adulto. “Será um teatro
Fotos: Divulgação
pequeno, para 30 pessoas, no máximo, mas com todas as condições necessárias para a realização de um espetáculo, como palco, luz e arquibancada móvel”, adianta Cícero Venâncio, responsável pela montagem do espaço. O grupo, que pretende ser um agregador cultural ou, como eles se definem, uma fábrica de ideias, tem projetos que contemplam também os idosos, como o Na Idade do Mundo, que vai levar a essa camada da população, que já representa mais de 10% e tende a crescer, bailes com concursos de dança precedidos de salões de beleza e oficinas de informática para inclusão digital. Outro projeto, o Brasília Jazz Festival, está sendo trabalhado para acontecer no Carnaval do ano que vem e reunir músicos de Brasília, do Brasil e alguns nomes internacionais, oferecendo-se como opção para os que gostam de música, mas não querem folia. “É uma necessidade que sentimos já há algum tempo e vamos oferecer como lazer e como espaço para a boa música instrumental”, diz Rodrigo Zolet. O editor e poeta José Sóter, da Se-
O Panelão da Arte atraía multidões de jovens nos anos 80.
mim, já está desenvolvendo trabalhos junto ao coletivo na Feira Literária Itinerante, que, com uma biblioteca montada dentro de um ônibus, vai levar livros e bate-papos com escritores do DF às populações mais carentes. “É preciso criar público para nossos escritores e nada melhor do que levar o livro até aqueles que não
têm acesso por falta de bibliotecas em sua região administrativa”, completa Sóter. O Usina de Projetos já está promovendo reuniões com diversos outros coletivos e, ao que tudo indica, vai mesmo transformar a 409 Norte no novo polo de arte de Brasília neste boom cultural que se aproxima. É esperar e conferir.
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Marcus Camargo
QUEESPETÁCULO
Estou sem silêncio, do Grupo Quasar.
Corpo, mente e alma POR LÚCIA LEÃO
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té 5 de maio, Brasília será tomada por atletas divinos, como certa vez Albert Einstein definiu os bailarinos. Eles acorrem de vários estados do Brasil e de outros dez países ao redor do mundo para se juntar aos brasilienses e formar uma trupe de mais de uma centena de artistas de primeira grandeza que já começaram a ocupar os principais espaços da cidade para a 5ª edição do Movimento Internacional de Dança. Ao longo dos 18 dias em que a dança será protagonista da cena cultural de Brasília acontecerão 55 apresentações de 36 coreografias intercaladas com atividades voltadas à formação de profissionais (debates, oficinas e residências artísticas); ao intercâmbio entre curadores e artistas (rodadas de negócios); à formação de plateia e à mobilização do público em
geral. “O MID é o campo fértil para o intercâmbio intenso entre criadores e público, posicionando o Distrito Federal e, consequentemente, o Centro-Oeste como territórios visíveis para a dança tanto no Brasil como no exterior”, avalia Sérgio Bacelar, diretor-geral do festival. Um dos espetáculos nacionais mais aguardados do MID, o Grupo Quasar fará aqui a estreia nacional de Estou sem silêncio (Teatro do CCBB, 1º e 2/5, às 20h), nova coreografia de Henrique Rodovalho para um elenco feminino, com quatro bailarinas em cena. Outro nome brasileiro de destaque é o do coreógrafo, bailarino e performer Eduardo Fukushima, que se apresenta pela primeira vez em Brasília com dois espetáculos, O homem torto e Título em suspensão. Entre os participantes internacionais, a presença mais forte no MID é da França, que traz quatro espetáculos e co-
patrocina o evento. Entre os franceses está o único infantil, Tel Quel!, do grupo Centre Choregraphique de Tours, com coreografia de Thomas Lebrum, que dança em torno dos temas das diferenças, da tolerância, do sonho e do humor. “Estamos comprometidos com o MID porque não é somente um evento de difusão importante, mas também global, inclusive com uma parte de reflexão, de sensibilização, formação pedagógica, que se abre a todos os públicos,” afirma o conselheiro de Cooperação e Ação Cultural da Embaixada da França, Alain Bourdon. A Embaixada e o Instituto Francês patrocinam o evento junto com o Banco do Brasil e o GDF, através do FAC. Além dos franceses, participam do MID bailarinos e coreógrafos de El Salvador, Alemanha, Bélgica, Burkina Faso, Espanha, França, Itália, Lituânia, México e Moçambique. Entre as atrações in-
Diego Bressani
O vazio é cheio de coisa, da Cia. Nós no Bambu.
ternacionais estão cinco coreografias premiadas na edição 2018 do Solos de Stutgart, competição realizada anualmente na Alemanha. E finalmente Brasília, a anfitriã, também terá uma participação vigorosa no MID, com 15 coreografias (13 de até 10 minutos, que serão apresentadas nos teatros do SESC de Taguatinga, Ceilândia e Gama) e o envolvimento direto de 120 profissionais. Entre os espetáculos brasilienses mais esperados estão o Vin\co (Teatro Galpão, 26/4, às 20h), do grupo
Frédéric Lovino
Tel Quel!, do Centre Chorégraphique National de Tours, da França.
Dançapequena, com direção de Édi Oliveira, inspirado nas dobraduras do origami, e O vazio é cheio de coisas (Teatro Plinio Marcos, 25/4, às 19h), em que Poema Mulhemberg contracena com um bambu sob a direção de Edson Beserra. “O foco da curadoria é o de possibilitar que a dança se mostre em toda a sua dimensão plural de estilos, formas e linguagens, de estéticas variadas, refletindo o momento em que vivemos e a diversidade que o mundo comporta”, explica Yara de Cunto, uma das curadoras da mostra.
Divulgação
Homem torto, de Eduardo Fukushima.
E todo mundo que quiser vai poder dançar. Seja participando da batalha de breaking (seletivas no sábado, dia 20, entre 11 e 15h no Espaço Cultural Renato Russo, e embate final no domingo, 21, na área do CCBB, entre 14 e 18h) ou se inscrevendo nas aulas abertas de dança de salão, vogue e charme. É bom para o corpo, para a mente e para a alma! Movimento Internacional de Dança
Até 5/5 em vários espaços culturais da cidade. Programação completa em www. movimentoid.com.br.
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LUZCÂMERAAÇÃO
Os imigrantes invisíveis Concorrente à Palma de Ouro de Cannes no ano passado, mas só agora exibido no Brasil, Ayka relata o drama de uma jovem do Quirquistão que luta para sobreviver numa suja e lúgubre Moscou. POR SÉRGIO MORICONI
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á uma década, com Tulpan, seu longa-metragem de estreia, Sergey Dvortsevoy, natural do Cazaquistão, levou o prêmio de melhor filme na mostra Un Certain Regard, em Cannes. Antes, havia feito documentários que não chegavam a uma hora de duração e que também não tinham distribuição mundial. A inclinação pelo cinema documental se percebe também nas obras ficcionais. Talvez o motivo seja o gosto pela investigação da realidade de uma jovem nação que nem sequer atingiu a idade da razão depois que conquis-
tou a independência em 1991. Dvortsevoy pode muito bem ser considerado uma espécie de fundador do cinema do Cazaquistão. E com autoridade: ano passado o diretor retornou à Croisette, desta vez para competir na seção oficial com Ayka, filme baseado nas dolorosas e dramáticas situações experimentadas por milhares de imigrantes ilegais das ex-repúblicas soviéticas, especialmente as mulheres que buscam uma nova vida em Moscou. Estilisticamente parecido como Tulpan, Ayka, entretanto, não tem nada do humor quase picaresco do anterior. Aqui, o riso dá lugar à tristeza e ao pesar A norte-americana Terrie Odabi Nos dois filmes, a câmara de Dvortse-
voy está sempre inquieta. Especialmente em Tulpan, quando retrata as personagens dentro de seus iurtes (tendas circulares, típicas das estepes), potencializando, assim, o drama vivido por elas. No primeiro filme havia o respiro proporcionado pelas situações jocosas relacionadas às peripécias do indivíduo que tenta conquistar a única garota disponível da minúscula comunidade. Mas aqui, diferentemente de Ayka, a instabilidade da câmara dá sempre lugar a belas imagens fixas das estepes ventosas da inóspita região onde vive Asa, o jovem pastor nômade e solteiro que deseja casar. No filme, Asa se depara com os mais absurdos
timação (um deles até tem uma iguana!) do que com o drama dos seres humanos. Ayka valeu à atriz Samal Yeslyamova, que já havia participado do elenco de Tulpan, o prémio de melhor atriz em Cannes. Segundo o diretor, o filme foi escrito para ela, uma das poucas profissionais do elenco. O lauréu no festival francês não deixou de ser um consolo para as incríveis dificuldades encontradas por Dvortsevoy na fase de preparação do longa. Apesar de rodar numa metrópole como Moscou, não foi nada fácil reunir as condições para realizar o filme. O contexto político havia mudado inteiramente. Preocupado com a imagem do país às vésperas da Copa do Mundo de 2018, o governo russo criou uma série de dificuldades para o diretor, a ponto de a produção levar mais de seis anos para ser concluída. O ministro da Cultura, Vladimir Medinsky, chegou a declarar que só queria filmes positivos sobre o país. No entanto, curiosamente, o Ministério da Cultura o apoiou, dizendo que “não importava que filme ele fizesse, desde que fosse terminado em dois ou três anos. Tanto fazia se fossem filmes de arte ou de entretenimento”! Como Dvortsevoy levou muito mais tempo dos que os dois anos estabelecidos, acabou pagando uma pesada multa. O diretor vinha alimentando a ideia de fazer Ayka há muitos anos. Ele havia ficado muito impressionado com o fato
de, em 2010, duzentos e oitenta bebês terem sido abandonados em Moscou. Quiz contar a história a partir da perspectiva de uma única mulher, que simbolizaria as milhares de outras (imigrantes como a protagonista) que tentam sobreviver nas ruas. A Moscou que vemos no filme é uma cidade fria e sombria, onde os moradores têm cara de poucos amigos, muito diferente daquela que nos acostumamos a ver durante as transmissões do mundial de futebol. Esqueça a Praça Vermelha, a Catedral de São Basílio. Em Ayka, os indivíduos têm medo dos estrangeiros, do terrorismo, se ressentem de um temor abstrato do que está por vir. Estatísticas não-oficiais apontam a existência de sete milhões de imigrantes ilegais na cidade. A ambientação do filme em Moscou não deixa de ter também a sua simbologia. A capital – em contraposição a São Petersburgo, moderna e europeia – é considerada a representação da velha Rússia eslava com todas as suas tradições e superstições. Moscou é um termo feminino. Um dos provérbios russos diz que ela é “a mãe de todas as cidades”. Pelo jeito, ao menos no filme de Dvortsevoy, Moscou não anda tratando muito bem as garotas que nela buscam abrigo. Ayka
Polônia/Rússia/Alemanha/Cazaquistão/França, 2018, drama, 100 min. Roteiro e direçâo: Sergei Dvortsevoy. Com Samal Yeslyamova, Zhipara Abdilaeva, Sergey Mazur
Fotos: Divulgação
e insólitos obstáculos, todos eles interpostos pela cultura e valores seculares da coletividade. Não custa lembrar que o território do Cazaquistão foi habitado desde a Idade da Pedra. Ocupada depois por povos nômades, já sob domínio mongol, algumas de suas cidades fizeram parte da “rota da seda”, mítico percurso de ligação entre o ocidente e o oriente. Tudo isso não está no filme, mas não deixa de ser interessante como contexto. A abordagem em Ayka é de gênero. O filme segue uma jovem imigrante do Quirquistão que dá à luz e deixa o bebê no hospital. Demitida de seu emprego, Ayka não pode se dar ao luxo de ter um filho na condição precária em que vive, inclusive por ter contraído uma dívida impossível de pagar. Para o público “ocidental”, as condições de trabalho na Rússia, para os imigrantes, não deixam de ser reveladoras. Dvortsevoy faz um curioso paralelismo entre homens e animais. Por um lado, temos o discurso clássico – e banal – sobre a ferocidade da existência; de outro, de uma maneira muito mais sutil, há a sugestão de que Ayka está em uma condição ainda pior do que a dos animais que leva para a clínica veterinária onde tem uma ocupação temporária. Dvortsevoy insiste no paralelo de Ayka com os animais. Sua intenção parece ser a de destacar a hipocrisia e egoísmo dos donos dos animais, muito mais preocupados com seus bichos de es-
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Fotos: Divulgação
LUZCÂMERAAÇÃO
Bolha still
Quando elas cantam
O mistério da carne
Aulas que matei
O melhor do cinema independente
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m grande e diverso panorama da produção audiovisual independente brasileira é o que oferece a Mostra do Filme Livre, cuja 18ª edição, aberta no dia 16, segue em cartaz no CCBB até 12 de maio. A longeva MFL é considerada, hoje, a maior mostra de cinema nacional, uma vez que apresenta ao público a nata da produção audiovisual independente, representada por 155 filmes procedentes de todas as regiões do país. Em sua maioria, são produções realizadas sem verbas públicas ou sem grandes patrocínios, boa parte obras autorais e em diferentes formatos, gêneros, durações e épocas. No total, a MFL teve 773 filmes inscritos. Destes, 134 tiveram algum apoio estatal e 254 nasceram em escolas de cinema. Foram selecionados 126 filmes e outros 29 participam como convidados. Brasília tem presença marcante este ano, com quatro filmes: os curtas-metragens A praga do cinema brasileiro, de William Alves, Aulas que matei, de Amanda Devulsky e Pedro B. Garcia, Entre parentes, de Tiago de Aragão, e O mistério da carne, de Rafaela Camelo. Uma excelente chance para o público entrar em contato com a
produção local contemporânea. Este ano, a MFL homenageia dois cineastas que tiveram carreiras independentes e fundamentais para a inovação da linguagem do cinema brasileiro moderno. O mineiro Sylvio Lanna está intimamente ligado ao “cinema marginal”. Ele entrou para a história do cinema nacional em 1970, quando finalizou seu primeiro e único longa, Sagrada família, proibido pela censura durante anos. Lanna estará em Brasília para um debate sobre sua obra no dia 11 de maio, com mediação do cineasta e curador Christian Caselli. O outro homenageado é Geneton Moraes Neto (1956/2016), jornalista e cineasta que realizou em Recife curtas experimentais em Super-8, no início dos anos 1970, que deixaram marcas indeléveis no cinema pernambucano. Entre as sessões da MFL se destacam os Panoramas Livres, que apresentam tendências e possibilidades estéticas, econômicas e políticas para a produção audiovisual brasileira. Já a sessão Biografemas se debruça sobre a potência explosiva dos artistas retratados, por vezes de forma naturalista, em que a força de cada filme reside não apenas em sua inven-
tividade mas sobretudo na forma como dão a ver suas personagens. A Mostrinha exibe filmes para crianças de todas as idades e a Territórios traz filmes que levantam questões específicas, partindo da comum busca por um tempo inerente aos espaços e situações filmadas. A já tradicional Cabine Livre – estrutura fechada que exibe filmes experimentais em looping – está montada na Casa da Cultura da América Latina, no Setor Comercial Sul, Quadra 4, onde serão exibidos 20 curtas-metragens com durações entre dois e 20 minutos. Este ano a premiação terá três recortes: os Panoramas Livres (em SP), com os melhores curtas e médias; os Longas Livres (no RJ), com os melhores longas; e os Territórios (DF), com curtas, médias e longas que tratam sobre questões relativas ao uso da terra, urbanidades e migrações. Em cada cidade um júri diferente vai definir o melhor filme e os premiados serão convidados a exibir e debater seus filmes nas sessões de encerramento. 18ª Mostra do Filme Livre
Até 12/5 no CCBB (SCES, Trecho 2), com entrada gratuita. Programação em http://mostradofilmelivre.com/19.
Gangues de Nova York (2002)
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CRÔNICADACONCEIÇÃO
Crônica da
Conceição
CONCEIÇÃO FREITAS
conceicaofreitas50@gmail.com
Uma casa pobre, torta e feliz
A
casa mais importante da mi-
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nha vida não era minha, nem nela morei. Era de madeira enegrecida pelo tempo. Tábuas grandes, de árvores igualmente monumentais. Tinha um caimento que a deixava parecida com os chalés suíços, embora naquele tempo eu não pudesse fazer essa comparação. Nunca havia visto nem imagem de um chalé suíço. Coberta de palha, suspensa do chão, era uma palafita em terreno seco. Tinha pernas compridas para se precaver de uma possível enchente do Rio Guamá, que passava ao largo. A casa mais importante da minha infância era também a mais nua. Não havia móveis na sala, nada, nem um banquinho. Nos dois quartos, armadores de rede e caixas de madeira, onde se punham as roupas. Na cozinha, uma mesa, uma prateleira aberta como uma estante de livros e um jirau, pia feita de madeira. Não tinha geladeira, mas tinha fogão a gás. O banheiro era a casinha do lado de fora, num quintal tão comprido e cheio de árvores que não dava para ver onde terminava. Na frente, um pé gigante de jenipapo. Era uma casa silenciosa, como silenciosos eram seus moradores, seu Praxedes e dona Dica. Ele, um negro comprido e esquálido; ela, uma cabocla miúda, de cabelos pretos muito
longos. Nunca os vi conversando entre si nem com os três filhos. Falavam pouco e ouviam muito. Quando me faltava lugar em casa, corria para a casa torta. Ia quase todos os dias. Era torta, a casa mais importante da minha vida. Por muito velha, ela havia tombado de um lado, como uma pobre Torre de Pisa paraense. Embora cambaleante, a casa me dava a segurança de que eu precisava. E a dona me concedia a atenção que eu buscava. A porta da sala estava sempre aberta, tanto que não posso assegurar que ela existia. Eu ia direto para a cozinha, me sentava no banco de madeira e começava a falar de tudo e de nada. Só queria ser ouvida, mais que isso, só queria conferir que eu existia mesmo, me assegurar de que ocupava um lugar no tempo e no espaço. Dona Dica nunca parava para me ouvir, continuava a fazer o que estava fazendo, lavando louça, catando feijão, amassando alho, refogando o arroz, fritando peixe. Quase não sorria. Mas me olhava e de vez em quando murmurava alguma a coisa, o suficiente para eu continuar falando. Não tinha muito a dizer, só queria tê-la ao meu lado. Dona Dica morreu há muitos anos. A filha me contou que ela estava
sentada numa cadeira de balanço, logo depois do almoço, e tombou a cabeça de lado. Tinha ido embora. Morreu com a mesma suavidade com que viveu. Nunca a ouvi reclamando, nem falando mal da vida alheia. Havia nela um excesso de humildade, como se pedisse licença pra ocupar o tempo e o espaço. Tínhamos em comum a suspeita de que não havia lugar pra nós duas neste mundo. A casa mais importante da minha vida era a casa mais pobre da rua e também a mais dançarina, a mais colorida e festiva. Era lá que as quadrilhas juninas se apresentavam nos dias de Santo Antônio, São Pedro, São João e São Marçal. Uma noite, fugi de casa para ir ver as quadrilhas. Passei pelas pernas das pessoas que assistiam ao espetáculo e diante de mim surgiu a imagem mais extasiante que tinha visto até então: homens e mulheres de roupas muito coloridas, dando volteios aos som de “tem tanta fogueira, tem tanto balão”. Os rapazes tiravam o chapéu e faziam reverências para as meninas que mexiam as saias de muitas camadas e muitas rendas. Voltei para casa certa de que, quando eu crescesse, a vida seria colorida, eu vestiria muitas saias rendadas e dançaria para rapazes que se curvariam diante de mim.
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