Roteiro 289

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Ano XVIII • nº 289 Maio de 2019

R$ 5,90

A número 1 Aos 20 anos, a Baco de Gil Guimarães é reconhecida

como a melhor pizzaria do país até pelo chef Alex Atala.




EMPOUCASPALAVRAS

Muita água passou debaixo da ponte de lá pra cá. No próximo dia 3 de junho, Gil terá muitas razões para brindar as conquistas dessa trajetória: sua Baco é uma das oito pizzarias brasileiras a ostentar o selo da Associazione Verace Pizza Napoletana; vários prêmios nacionais a reconhecem como a melhor do Brasil; e uma nova filial será aberta em agosto no shopping CasaPark. Outro motivo de orgulho é a feliz parceria com chefs renomados, entre eles Alex Atala, a quem pediu uma inusitada pizza de abacate. O desafio foi aceito por ele, que ainda reconheceu: “A melhor pizzaria do Brasil não está em São Paulo, não está no Rio de Janeiro... está em Brasília, e se chama Baco” (página 6). Outro desafio gastronômico imposto a chefs criativos da cidade está movimentando 65 restaurantes, bares e fast foods que participam, até 2 de junho, da 14ª edição do Festival Brasil Sabor. “O objetivo é que cada um apresente uma experiência no formato que melhor se adeque ao perfil do lugar, com harmonização dos pratos, menus ou petiscos com vinhos, cervejas, drinques ou outros tipos de bebida”, explica Rodrigo Freire, presidente da Abrasel- DF (página 9). Saindo um pouco da seara gastronômica, passamos para a programação musical deste mês, que tem como destaque o show Bloco na rua, de Ney Matogrosso, no qual o jovem senhor de 77 anos interpreta de maneira impecável Pavão misterioso, de Ednardo, Yolanda, de Chico Buarque, Como 2 e 2, de Caetano Veloso, e muitos outros sucessos para deixar alucinados os fãs de todas as idades e sexos (página 26). Finalmente, na telona, a sugestão de nosso crítico de cinema Sérgio Moriconi é assistir ao documentário Varda por Agnès, última produção da cineasta pioneira da Nouvelle Vague francesa, falecida a 29 de março passado (página 32). Boa leitura e até junho. Maria Teresa Fernandes Editora

Rodrigo Ribeiro

“Uma paixão pode alterar o destino de um homem. Que o diga o jovem Gil Guimarães, dono do Baco Bar au Vin, na Quituart.” Foi assim que, há quase 20 anos, a repórter Danielle Romani iniciou seu texto para matéria integrante da edição número 1 da revista Roteiro, então encartada semanalmente no jornal Gazeta Mercantil. Ela se referia ao “competente gourmet e sommelier que seis anos antes levava uma vida pacata, trabalhando como funcionário público, bem longe do mundo gastronômico”, mas jogou tudo para o ar, foi estudar na École de Boulangerie e Pâtisserie de Paris e, na volta, abriu o Baco Bar au Vin num pequeno box da Quituart.

30 responsabilidadesocial O Instituto Reciclando Sons, criado pela musicista Rejane Pacheco, deu novo rumo à vida de centenas de jovens da Cidade Estrutural, como a violinista Wanessa Aroucha.

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ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14, Conjunto 2, Casa 7, Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa Carlos Roberto Ferreira, com foto de Rafael Facundo | Colaboradores Alexandre Marino, Alexandre Franco, Conceição Freitas, Heitor Menezes, Laís di Giorno, Lúcia Leão, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Teresa Mello, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle | Fotografia Rodrigo Ribeiro | Para anunciar 98275.0990 | Impressão Foxy Editora Gráfica Tiragem: 20.000 exemplares.

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Rafael Facundo

ÁGUANABOCA

A número 1

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Até o chef Alex Atala reconhece: a melhor pizzaria do Brasil não é de São Paulo nem do Rio de Janeiro. É de Brasília. Mais um motivo para a Baco comemorar em grande estilo seu 20º aniversário.


POR VICTOR CRUZEIRO

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A pizza napolitana é um processo produtivo muito ligado ao pequeno produtor artesanal. Os cerca de 3.000 pizzaioli napolitanos não se esmeram com ingredientes caros e importados, mas mantêm uma relação muito próxima com o que é da sua terra, não por uma simples relação de custo-benefício, mas por um vínculo que se estende desde as necessidades campesinas do passado às relações afetivas que envolvem o preparo de qualquer alimento. Essa é a vocação da Baco, afirma o chef. Mais do que uma pizza, é um produto artesanal, e como tal deve envolver outros artesãos em sua cadeia, da massa ao molho. Esse é o elã da casa: com seu trabalho de qualidade já reconhecido, auxiliar na criação de uma rede de produtores locais e de origem. Esse desejo, é bom notar, não se limita à Baco, mas também está nos outros projetos de Gil. Mineiro de nascença, brasiliense por destino, Gil é um dos criadores do projeto Panela Candanga, que tem a proposta de acolher e respeitar o produtor e o produto local. Crescendo em Minas, o chef sempre se viu cercado pelos frutos e sabores do cerrado, que desaparecem na névoa do modernismo monumental de Brasília. “É um projeto de valorização da nossa terra, das coisas do cerrado que temos aqui, e também de busca pelos nossos produtos”, diz, lembrando que não quer rotular e engarrafar tudo que é local para lançar com seu selo, mas garantir que os que querem produzir aqui e daqui possam fazê-lo. Essa vocação torna-se mais ainda digna de nota em uma cidade construída sob a bandeira do progresso a

Fotos: Rafael Facundo

As pizzas dos chefs

pizza napolitana é uma especialidade tradicional com selo de proteção europeu desde 2008, tornada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco em 2017. A arte do preparo dominada pelos cerca de 3.000 pizzaioli napolitanos é também resguardada pela Associazione Verace Pizza Napoletana (AVPN), que garante o controle de qualidade do preparo da massa. No Brasil, há oito pizzarias registradas na AVPN, sendo quatro em São Paulo, duas no Rio Grande do Sul, uma em Minas Gerais e uma em Brasília – a Baco, que agora em junho completa 20 anos de existência. Inaugurada em 3 de junho de 1999, na Quituart, pequeno espaço gastronômico do Lago Norte, a Baco nasceu Baco Bar au Vin. Recém-chegado de um período na França, o jovem chef Gil Guimarães empolgou-se com a oportunidade de aplicar os conhecimentos sobre vinho e panificação que havia acabado de aprender. “A pizza foi por acaso”, conta Gil. No entanto, a receptividade foi enorme. O público se identificou imediatamente e, após um ano, a pizza dominava a casa. A expansão foi, então, um processo natural. A segunda casa, na Asa Norte, ainda não se assumia como pizzaria, e funcionava mais como um empório, oferecendo a experiência de panificação e vinhos tão cara a Gil. Contudo, a pizza continuava, sutilmente, capitaneando a casa. E a Baco foi eleita a melhor pizzaria da cidade, mesmo sem ser propriamente uma pizzaria. As premiações não pararam por aí. A pizza da Baco foi eleita duas ve-

zes a melhor do Brasil pela revista Prazeres da Mesa, além de receber inúmeras distinções de veículos como Roteiro, Veja, Gula, Encontro e Correio Braziliense. Fora do país, foi indicada ao principal guia italiano de gastronomia, o Gambero Rosso, e teve seu nome incluído no guia mundial Where To Eat Pizza, da editora Phaidon. Mesmo com toda essa qualidade, reconhecida nacional e internacionalmente, a casa ainda não havia atingido seu ápice. Foi em 2011 que o chef decidiu aprofundar-se na pizza napolitana, pois, apesar de sua pizza até então se aproximar da tradição dos pizzaioli daquela região, não era ainda uma verace pizza. Após um período de pesquisa e treinamento in loco, Gil retornou a Brasília com a certeza de que precisava dar uma guinada, e foi isso que fez. “Não foi uma guinada de uma só vez, mas foi radical”, conta o chef, lembrando dos percalços para se aproximar cada vez mais de uma pizzaria napolitana. Da destruição dos fornos à adaptação da própria massa, esse segundo momento da Baco foi responsável por proporcionar esse momento tão bom, tão atual, para a casa, que se estende até hoje, com a abertura de uma terceira pizzaria, no shopping Casa Park, prevista para agosto. “A pizza napolitana tem tudo a ver com a gente. Desde o início!”, conclui o chef, recontando as mudanças que envolveram a aproximação definitiva com a especialidade tradicional de Nápoles. Não apenas foi essa massa responsável por alavancar ainda mais o sucesso da casa, mas também por revelar o verdadeiro ethos do negócio e de Gil: a valorização dos ingredientes locais.

Alex Atala: escargot, abacate e burrata.

Mara Alcamim: carne de lata, muçarela de búfala e linguiça caipira.

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Divulgação

Evandro Matheus

Gil Guimarães na primeira edição da Roteiro, em 1999.

Alex Atala foi um dos chefs convidados por Gil a criar uma pizza comemorativa do 20º aniversário da Baco.

qualquer custo, e que nunca prezou pela valorização do seu bioma ou das suas características autóctones. Nessa toada, o crescimento da Baco seria inevitável. Sob a batuta de Gil, longe dos modismos e com a responsabilidade de submeter-se a limites de produção, a casa conquista pela distinção, sem ser uma “experiência gastronômica única” oriunda de uma tendência fugaz qualquer. Com toda essa singularidade, não era difícil imaginar que encontros viessem para somar ainda mais na história da Baco. Durante este mês de maio, em comemoração aos seus 20 anos, a única pizzaria napolitana de Brasília abre as portas do seu cardápio para Mara Alcamin, Marcos Livi, Rodrigo Oliveira e Alex Atala. Os quatro assinam receitas especiais no projeto Pizza dos Chefs, semelhante ao que Gil já executou no Merca-

do de Pinheiros, em São Paulo, que, por sinal, possibilitou o encontro com vários profissionais que também se esmeram no sutil equilíbrio entre tradição, qualidade e cuidado. “Eu aceitei o desafio do Gil de fazer uma pizza de abacate”, contou o chef Alex Atala, alertando que ela só dá certo se for com burrata e escargot. Ao lado dessa combinação também estão a carne seca na nata, abóbora cabotiá e pesto de coentro, do pernambucano Rodrigo Oliveira; o creme de abobrinha, gorgonzola e pancetta, do gaúcho Marcos Livi; e a linguiça suína, rapadura e mozzarella de búfala, da candanga Mara Alcamin. Nas suas singularidades, das suas origens às especialidades, esses quatro chefs dão um toque de desafio ao costumeiro cliente da pizza napolitana, estendendo-a até o limite possível do método, mas imergindo na criatividade e na técnica,

levando a Baco a um novo patamar, que faz com que Atala declare que “a melhor pizzaria do Brasil não está em São Paulo, não está no Rio de Janeiro... está em Brasília, e chama-se Baco!”. Isso, no entanto, é só o começo. Além da terceira casa e dos novos sabores, a Baco também presenteia seu público com um rótulo de cerveja, a Baco Session IPA, desenvolvida pela cervejaria local Hop Capital Beer. Mas dificilmente as novidades vão parar por aí. Sob os auspícios de seu homônimo, o deus do vinho e dos prazeres, a Baco é um navio em um oceano cujo horizonte se abre com um belíssimo sol dourado. Infelizmente, uma das poucas na capital. Que venham mais 20 anos. Auguri! Baco Pizzaria

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Fotos: Rafael Facundo

As pizzas dos chefs

309 Norte, Bloco A (3274.8600). 408 Sul, Bloco C (3244.2292). Diariamente, das 18 às 24h.

Marcos Livi: passata de abobrinha, gorgonzola, pancetta e muçarela de búfala.

Rodrigo Oliveira: carne seca na nata, abóbora cabotiá e muçarela de búfala.


Fotos: Samuel Barros

Feitiço Mineiro

Villa Tevere

Maratona de experiências POR LÚCIA LEÃO

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m desafio à criatividade dos chefs e uma oportunidade para os apreciadores da boa mesa vivenciarem experiências inusitadas, como um prato que combina robalo e costelinha de porco assados e banhados em calda de laranja. Essa é a proposta do Brasil Sabor, festival gastronômico que acontece até 2 de junho em todo o país e envolve 65 restaurantes, bares e fast-foods de Brasília. Na sua 14ª edição, a marca do evento, este ano, serão os menus harmonizados, incluindo as bebidas no preço da promoção. Se nas edições anteriores os participantes deveriam oferecer uma opção de cardápio com entrada, prato principal e sobremesa, este ano o Brasil Sabor deixa o cardápio inteiramente a critério dos participantes, que podem oferecer o menu completo, um único prato, petiscos ou mesmo sanduíches, desde que se encaixem nas faixas de preço estabelecidas – R$ 50, R$ 70, R$ 90 e R$ 120 – e incluam uma bebida, alcoólica ou não, que bem se harmonize com eles. Não à toa, o festival foi rebatizado este ano de Brasil Sabor Experience. “O objetivo é que cada restaurante apresente uma experiência no formato que melhor se adeque ao perfil do lugar, com harmonização dos pratos, menus ou petiscos com vinhos, cervejas, drinques ou outros tipos de bebida” explica

Rodrigo Freire, presidente da seção brasiliense da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel–DF). “As casas têm autonomia para criar os menus como quiserem. Não haverá regras como anteriormente, em que os menus deveriam ter três etapas. Neste, os participantes são livres para criar desde que sejam menus harmonizados, podendo ser com as bebidas que mais combinarem com cada um”. Abrindo o leque de opções, o Brasil Sabor atraiu mais estabelecimentos e espera multiplicar também o número de participantes do lado de fora do balcão. “Sem restringir o Brasil Sabor às refeições formais de almoço e jantar, conseguimos unir todos os estabelecimentos de alimentação fora do lar e atrair um número maior de clientes”, festeja Freire, destacando que a atual edição superou a meta de participantes. Ao todo são 65, incluindo desde franquias como o Sushiloco até os tradicionais Oliver e Dom Francisco. Dessa forma, o Brasil Sabor oferece desde a sequência de minissanduiches com chope no Bar Brasília ou a degustação de petiscos do Feitiço Mineiro (tor-

resmo, bolinho de milho com quiabo e queijo e espetinho de queijo coalho), harmonizados com cerveja puro malte (R$ 50, ambos), até sofisticados menus de três etapas, como o do Villa Tevere: rúcula e cebola roxa, muçarela de búfala empanada e tartare de morango ao balsâmico de entrada, tornedor de filé mignon com brie maçaricado, risoto de manjericão e bacon caramelizado no prato principal e pera ao vinho tinto com sorvete de passas e rum de sobremesa (R$ 120). Há ainda opções para quem valoriza os coquetéis. No La Rubia Café eles são as estrelas do menu de três etapas, cada uma com um drink (R$ 50). De cada prato vendido no Brasil Sabor, um real é destinado para instituições assistenciais (em 2018 foram vendidas dez mil refeições). Ah, e para quem se interessou pela costelinha de porco com robalo no molho de laranja, o prato, servido com quiabo e batatas assadas (foto), é do Parole Gastronomia (comercial da QI 09 do Lago Norte) e custa R$ 70. Está aberta a temporada de boas experiências gastronômicas! Festival Brasil Sabor Experience

Até 2/6 em 65 endereços gastronômicos da cidade. Relação completa dos participantes em www.abrasel.df.com.br.

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ÁGUANABOCA

Comidinhas da vó POR LÚCIA LEÃO

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cozinha brasileira está mesmo em alta! Falo daquela comidinha com temperos caseiros e receitas que remetem às mesas das famílias quando as reuniões diárias para almoço e jantar ainda eram hábito corriqueiro. Aquela comidinha que tinha a sustância do arroz com feijão enfeitada com as alegorias das “misturas” de carnes, saladas e legumes preparados sempre de uma maneira especial, “como a vovó fazia e ensinou”. Essa é a cozinha que, no melhor estilo, chegou ao Complexo Brasil 21 levada por ninguém menos do que Mauro Calichman. Junto com a proposta ousada de somar a simplicidade da culinária à elegância do ambiente, Mauro levou para o Uai Cozinha Brasileira sua experiência de 15 anos como diretor executivo do grupo Jorge Ferreira, além do chef Ville Della Penna – consultor responsável pela elaboração do cardápio – e de um entusiasmo que transborda a olhos vistos. “É meu primeiro empreendimento solo, fora do grupo Jorge Ferreira, e estou realmente muito feliz. É um desafio sob vários aspectos, a começar pelo horário. Durante 15 anos eu trabalhei no período do meio da tarde para a noite, já que o movimento maior das casas que eu supervisionava era noturno. Agora, trabalhamos exclusivamente com almoço e

ao meio dia tudo deve estar pronto para receber os clientes. Até eu estranho me ver de pé tão cedo”, diverte-se Mauro. A clientela alvo do Uai está bem ali e chega cedo. Com uma localização bastante privilegiada – o complexo abriga três hotéis, cerca de dois mil escritórios e diversos serviços – o restaurante está voltado, em primeiro lugar, para a clientela que trabalha ali. O preço é bem convidativo: R$ 36 por pessoa, para o serviço completo de bufê. “É um custo que cabe no tíquete-refeição do trabalhador médio”, observa Mauro Calichaman. Mas os hóspedes do hotel e o público

que acorre mais de longe também já começam a descobrir o Uai. Para quem quer chegar lá de carro, um grande atrativo é a comodidade do estacionamento coberto, com toda a segurança e gratuito. O foco central do restaurante – mas não o único – é a comida mineira, e as receitas básicas são as tradicionais, que Mauro classifica como “com gostinho nostálgico”. Mas, é claro, com o toque pessoal e releituras dignas do chef Della Penna. Pra começar, o chef trabalha com ingredientes orgânicos adquiridos diretamente junto a pequenos produtores. “Faz toda a diferença no frescor e no sa-


Fotos: Divulgação

bor das refeições”, garante. No bufê haverá todos os dias ao menos quatro pratos com proteínas. Entre aqueles que vão se revezar no bufê estão o pernil suíno assado, especialidade da casa, a costela com rapadura e cachaça, o filé de pescado ao molho de maracujá, a língua ao

molho madeira em cama de abóbora, a galinha ao molho pardo, a rabada com agrião ao vinho e pimenta caiena... Essas e outras receitas foram selecionadas por Della Penna e serão executadas por Alex Pereira, que é quem efetivamente vai chefiar a cozinha do Uai. As opções de

saladas são no mínimo seis e as guarnições, doze. De sobremesa, doces e queijos de Paracatu. É muita coisa, uai! Uai Cozinha Brasileira

Complexo Empresarial Brasil 21 (3039.9393) De 2ª a 6ª feira, das 12 às 15h.

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ÁGUANABOCA

Espadarte grelhado

Delícias da terrinha POR VILANY KEHRLE FOTOS RODRIGO RIBEIRO

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ma linda paisagem da cidade. A amplidão do lago Paranoá. Atmosfera praiana. Ambiente aconchegante e descontraído e um cardápio com a deliciosa culinária portuguesa. Tudo isso você encontra no Villa Marina, restaurante que funciona há sete anos junto ao ancoradouro do Clube do Congresso, no final do Lago Norte. A novidade é que, desde fevereiro, a casa está sob o comando do chef lusitano Jorge Santos, que tem uma densa história no mundo da gastronomia em Brasília. Sua jornada por aqui começou em 2009, com a Taberna do Infante, na 408 Norte; depois foi a vez do A Bela Sintra e do La Plancha, na Asa Sul; mais tarde, um quiosque na Quituart e o Bistrot do Manuel, no Lago Norte, onde os clientes saboreavam deliciosas sardinhas assadas. No Villa Marina, Jorge segue cativando e

atraindo a clientela da região onde mora há oito anos, mas ele pretende conquistar também a freguesia que habita fora dos limites do bairro. Para atingir seu objetivo, uma das primeiras medidas que adotou foi uma parceria com a empresa Premier Jet, cujas lanchas farão o transporte do Lake Side Hotel até o ancoradouro do Villa Marina, que fica do outro lado do lago. A revolução feita pelo chef começou pelo cardápio, que atraía os antigos clientes com o picadinho de filé (R$ 52), que foi mantido, mas ganhou o reforço da boa comida lusitana, representada pelos tradicionais bacalhau à Gomes de Sá (R$ 62), bacalhau à Lagareiro (R$ 94), polvo à Lagareiro (R$ 118) e arroz de pato (R$ 65). Há, também, o espadarte grelhado (R$ 65), o camarão tigre grelhado, proveniente dos mares africanos, mas fornecido por uma empresa de São Paulo (R$ 78), e a lagosta à Belle Meunière, feita por encomenda (R$ 189).

O bolinho de bacalhau (R$ 5), a bruschetta de bacalhau (R$ 23) e o camarão ao alho e óleo acompanhado de torradas (R$ 42) são algumas opções de entrada. Para os que preferem saborear uma boa carne, além do picadinho de filé e do arroz de pato, há, entre outros, o steak


com fettucine, batata chips e farofa de cebola (R$ 57) e o frango à Villa Marina, recheado com muçarela, empanado e assado com batata chips e farofa caramelizada (R$ 45). De olho na clientela das redondezas – “eu quero mesmo é ter um restaurante de bairro”, diz – ele criou um almoço executivo servido de quarta a sexta-feira (R$ 35). Na quarta, bacalhau com nata ou confit de frango ao molho de laranja (com batatinha assada e arroz primavera); na quinta, bacalhau com grão e confit de frango ao molho de laranja; na sexta, bacalhoada e feijoada completa. Aos sábados e domingos tem sardinha assada na brasa (R$ 10), bacalhau assado na brasa (R$ 94) e parrillada de marisco (R$ 145 para uma pessoa e R$ 265 para duas). Pastel de Belém e mil folhas de doce de leite estão entre as tradicionais sobremesas. Nascido no Porto, filho de uma pianista, Jorge Santos cresceu ouvindo boa música. Aprendeu a tocar piano e bateria, mas também gostava de cozinhar. Por isso, frequentou escola e participou

de alguns workshops de gastronomia em Lisboa. Quando o pai morreu, largou uma vida confortável em Portugal, onde era diretor financeiro da IBM, e se mandou para a praia de Barra Grande, na Bahia, onde administrou, durante quatro anos e meio, um piano-bar com culi-

nária portuguesa, frequentado por muitos profissionais da gastronomia brasiliense. E daí não parou mais. Villa Marina

Marina do Clube do Congresso, no Lago Norte (99957.2914). De 4ª a sábado, a partir das 10h; domingos e feriados, das 11h30 às 17h.

O primeiro alho em creme do mundo! O alho nosso de cada dia em sua forma mais inovadora sem glúten, sem lactose, sem corante, sem colesterol e sem gordura hidrogenada. Você pode usar como tempero, molho pronto ou pra dar aquele toque especial nas receitas com muita praticidade. Acesse o nosso site e descubra o ponto de venda mais perto de você.

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PICADINHO

TERESA MELLO

picadinho.roteiro@gmail.com

Rayan Ribeiro

Sucesso imediato Um restaurante com 280 lugares e que, na noite de abertura, teve até fila de espera. Assim foi a inauguração, no último dia 9, da segunda unidade do D’Lurdes em Águas Claras (Quadra 301). O local, com pé direito alto e na forma de bangalô, já estava na mira da empresa, que começou vendendo marmitex no Guará. “Há muito tempo queríamos abrir aqui, essa casa tem a cara do D’Lurdes”, diz o chef mineiro Anderson Ferreira, 51 anos. Neste primeiro mês, há promoção no rodízio de pizzas e massas, incluindo o bufê de caldos. Tudo por R$ 29,90. Estão disponíveis também cerca de 40 opções de pizzas à la carte: as tradicionais saem a R$ 49,90; as especiais, a R$ 59,90; e as exclusivas, a R$ 69,90. Que tal provar a de costelinha ao molho barbecue (foto) ou a de frango com pequi? Massas e caldos, como o de feijão e o de macarrão com legumes, completam o menu. Funciona diariamente, das 18 às 23h30. “Depois, vamos abrir para o almoço”, avisa o chef.

Inverno no Pontão

Toneladas de costela

Bebida que é a cara do inverno, o vinho reina durante a temporada no Pontão do Lago Sul. Até o fim de agosto, o projeto sazonal GB Vinhos oferece um bar específico montado em um contêiner e área preparada com deck, lounges, paisagismo e varal de luzes. “Assim, podemos dar vida a um local descolado e confortável nos meses de inverno”, diz o sócio Guto Jabour, à frente da empresa ao lado de Luiza Melo e Eduarda Mendes. “Temos cobertor para quem quiser e um palco para diversas atrações”, acrescenta. Na carta de bebidas há cerca de 30 rótulos, incluindo tintos, brancos, rosés e espumantes, que podem ser apreciados em taça ou em garrafa. Para petiscar, existe a parceria com o restaurante Soho, que fica bem ao lado. Com capacidade para 80 pessoas, o wine bar funciona de quarta a sexta, das 18h à meia-noite, e, aos sábados, a partir das 16h.

Desde o dia 2 a casa especializada em costela Sous Ribs & Beer, na 309 Norte, apresenta a promoção Quinta do Vinho. Rótulos da Casas Del Maipo, com origem no Chile e na Argentina, estão com 20% de desconto toda quinta-feira. São eles: Chardonnay (R$ 49,90), Sauvignon Blanc (R$ 49,90), Rosé (R$ 49,90), Cabernet Sauvignon (R$ 49,90) e Sol Fa Soul Malbec (R$ 66). Para acompanhar, a pedida é a costela assada a vácuo. O corte bovino leva tempero de ervas finas e sal grosso, é selado hermeticamente e cozido em temperatura de 68,5ºC por até três dias. Antes de ir à mesa, é finalizado no maçarico e incrementado com molho chimichurri. Para se ter uma ideia do sucesso, desde a abertura, em 24 de janeiro, foram consumidas duas toneladas da carne. “Nosso objetivo é chegar a uma tonelada por mês”, anuncia Luciano Martins, dono do restaurante, ao lado do irmão Fabiano. Em porções para uma pessoa (R$ 39,90) ou para duas (R$ 76,90), a proteína vem acompanhada de arroz, farofa, vinagrete e mandioca frita.

Um café adorável Divulgação

Divulgação

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Um café com varandão de vidro em frente ao Parque de Águas Claras é disputado pelos moradores desde a inauguração em fevereiro. Na Rua Carnaúbas, a segunda loja do Adorável Café tem capacidade para 30 pessoas e equipe de seis funcionários, sendo duas baristas: Juliana Morgado e Tayná Castro. Com pães de fermentação natural da brasiliense Bäckerei, chás especiais trazidos de Salvador e grãos de torrefação escolhidas com carinho, a casa dos publicitários Fabrício Landim e Carolina Sprenger faz sucesso: “As pessoas estão amando os nossos croissants recheados com muçarela de búfala e presunto de Parma”, conta Carol, 30 anos. O cardápio, criado pela chef Ana Alvarenga, inclui a french toast, feita no pão brioche e com doce de leite ou Nutella, sorvete e geleia (R$ 19). “A cena do café em Águas Claras é muito recente, e muita gente não conhecia os métodos de preparo. Nós explicamos e eles voltam para provar o Hario V60, o Aeropress, a prensa francesa”, completa. Entre as torrefações estão a brasiliense Aha, a goiana Kings Café e as novas Pato Rei e Sensory, de São Paulo.


Na Asa Norte e na Flórida Divulgação

Tudo começou em uma lojinha de 20m2 em Salto, no interior paulista, em 1997. Hoje, a Sodiê Doces tem cerca de 300 unidades em 13 estados e no DF e anuncia abertura de um ponto em Orlando, na Flórida (EUA), em meados deste ano. Com receita à base de pão de ló, produtos de qualidade e frutas frescas, a franquia celebra a segunda unidade no DF (708/709 Norte) e divulga os dois bolos promocionais de maio: a Baba de Moça e o Chiffon da foto ao lado (levíssimo como o tecido, preparado com óleo vegetal no lugar de manteiga). Inaugurado no fim de abril, o novo espaço tem 11 mesas. O cliente pode encomendar a torta inteira, que fica pronta em uma hora (de R$ 60 a R$ 80 o quilo), ou comprar as fatias, em torno de R$ 8. O difícil, mesmo, é escolher um tipo entre os cerca de cem doces artesanais. Você pode passear pelo cardápio em http://sodiedoces.com.br/sabores. Em Águas Claras, as opções mais vendidas são morango com leite condensado, Leite Ninho e Leite Ninho com morango, além da linha zero açúcar.

Cordeiro com hortelã Com consultoria do chef Marcello Piucco, os sanduíches do El Negro não são recheados de mesmice. “Para este ano, queremos ampliar os sabores e investir em criações cada vez mais diferentes”, afirma o proprietário, João Clerot. As novidades da temporada incluem o especial de cordeiro com molho de hortelã e provolone no pão australiano (R$ 32), o choripan com linguiça artesanal grelhada na parrilla e servida na baguete artesanal (R$ 17,50) e a provoleta ao vinagrete (linguiça, provolone, maionese de mostarda com alho tostado e rúcula a R$ 20). Há também o Kalango Burger, de frango, e o Juliana Veggie, à base de cheddar e salada. Em operação desde fevereiro de 2016, a agenda noturna dos dois food trucks é divulgada nas redes sociais. Geralmente, é a seguinte: terça, na 206 Norte e na 310 Sul; quarta, no Arena Hall (Vicente Pires) e na 214 Sul; quinta, no parque Bosque do Sudoeste e no estacionamento do Cave (Guará 2); e de sexta a domingo na Praça do Cruzeiro e na 206 Norte.

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Chefs ensinam o beabá Depois de uma experiência de 12 anos em restaurantes, o chef brasiliense Kiko Avelar, 40 anos, decidiu criar uma escola de culinária em Águas Claras: a Cesco Gastronomia, batizada em homenagem ao filho de quatro anos, Francesco. Funciona no Vitrinni Shopping desde o fim do ano passado. Integrante da Federação Italiana de Cozinheiros (FIC), com formação no Senac e especialização no Canadá, ele aposta no local para encher as turmas de até dez pessoas. E tem conseguido. “É uma cidade com renda alta e o shopping é bem-centralizado”, comenta ele, que conta com o sócio Rafael Moerbeck na administração. “Queria abrir um espaço para outros chefs darem aulas também”, diz. Na agenda de mestres estão nomes como o confeiteiro francês Fabien Helleu. Na primeira semana do mês, há a Quinta Italiana, com dicas de um prato clássico como risoto. No local, Avelar prepara massas sob encomenda. A lasanha de ricota com espinafre, por exemplo, sai a R$ 20 a porção individual de 400g, e a de cogumelos shiitake e Paris a R$ 24. Contatos pelo zap 99986.2291.

Oswaldo Silva

Teresa Mello

Canjica de amendoim Em Brasília é assim: as festas juninas começam em maio e só terminam em agosto, tomando conta de paróquias, clubes, faculdades e quadras residenciais. A abertura, em grande estilo e com 13 dias de duração, ocorreu na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, a Igrejinha da 308 Sul. O brasiliense encontra, nos arraiais, o melhor da culinária junina, preparada com carinho pelos voluntários: pratos salgados, como arroz carreteiro e galinhada, passando por churrasquinhos e pastéis, e terminando nas barracas de doces e dos derivados de milho, nas quais os panelões da canjica fervem nas modalidades coco, amendoim e mista. Na festa da Igrejinha, a unidade era vendida a R$ 7. Veja os próximos eventos. • De 16 a 19 de maio: Paróquia Santa Cruz e Santa Edwiges (905 Sul). • De 31 de maio a 2 de junho: Paróquias Santa Teresinha (Quadra 801, Cruzeiro Novo) e Nossa Senhora de Guadalupe (311/312 Sul) e Arraiá de Águas Claras (Faculdade Uniplan, Avenida Pau-Brasil, com ingressos a R$ 1 + 1kg de alimento não perecível por adulto). • 1º e 2 de junho: Clube dos Previdenciários (712/912 Sul). Ingressos: R$ 5 (meia). • De 7 a 9 de junho: Clube Nipo (SCES, Trecho 1). • 14 e 15 de junho: Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (SHIS QL 6/8, Lago Sul).

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GARFADAS&GOLES

LUIZ RECENA

lrecena@hotmail.com

Telefone toca no outono parisiense Em certa tarde de outono parisiense o telefone tocou. Ainda eram aparelhos fixos, só que, se fossem siderais, cibernéticos, a voz seria a mesma, igual ao convite “imperativo carinhoso”. “Recena querido, você almoça comigo amanhã? Não, melhor: você me leva para almoçar amanhã? Claro, você é meu convidado; o que quero é um lugar que você viu e guardou para você e para poucos; sou candidato a esse 'poucos'." Cantadas. De homens, de mulheres; para homens e para mulheres. Irresistíveis. Uma festa! Hemingway foi dos poucos a entender o quanto talvez fosse triste essa festa. Pelo menos a do grande escritor quando morou na cidade. AU COUP DE FOURCHETTE DE LA CHAROLAISE, ao golpe do garfo (garfada) da Charolesa era um registro dessa tristeza, ou uma lembrança alegre do passado. Bistrô clássico: velho, quase dos tempos em que os cossacos russos teriam inventado o nome desse tipo de comedor e assim o batizaram para sempre, enquanto perseguiam a cavalo, com gritos e lanças, franceses napoleônicos apavorados. Bistra, em russo, quer dizer rápido, e era o que os perseguidores queriam: comida rápida. OS RUSSOS DERAM OS MERECIDOS CASCUDOS nos guerreiros de Napoleão, que havia sumido, e voltaram logo para suas estepes do Rio Don. Deixaram no hábito um rebatizado bistrô e o conceito que ainda dura. Mesas amontoadas. Pratos do dia de consumo rápido. Atrás vem gente faminta e que também quer comer. Mais clássica a senhora dona: voz rouca de cigarro e comando de décadas, sem marido, morto ou perdido nas tantas guerras que a Gália enfrentou depois disso. Nada ali se inventava. Tudo, ou quase, estava no papel, ensebado pelas mãos da dona, lustrado pela fome e desejo dos clientes, comensais assíduos. Ali caímos. Ali tinha chegado antes no tempo o colunista, mas isso só vem ao caso para introduzir nosso ilustre passageiro, que de repente se transformou no centro das atenções.

QUANDO MADAME NOS VIU, correu alegre, o que não era de seu feitio. Demonstrava simpatia ao “sauvage” civilizado. Quando apresentei o visitante, “journaliste, brasilien”, muito famoso, trouxe logo três taças do vinho da casa para comemorar e não desmaiar. Ela mesma fez o brinde, escolheu nossa mesa e, para não perder tempo, trouxe logo um saucisson lyonnais para iniciar os trabalhos. Leonardo Mota Neto era, no dizer da época, um cavalheiro, um gentleman. E logo encantou madame com um francês pausado e correto. LA CHAROLAISE TINHA MAIS DUAS ESPECIALIDADES, ambas muito bem servidas. Com porções mais reduzidas enfrentamos as duas: coq au vin e boef gros sel; uma penosa e um boi. No arremate da perfeição, um tinto macho e de boa idade. Se comer assim é pecado, o inferno de Dante se materializa nas sobremesas: oeufs à la neige (ovos nevados); soufflés au Gran Maenier e mousse au chocolat. Tudo original, tudo feito em casa, com receitas e carinhos seculares. Uma provinha de cada não cairia mal. Em seguida, café e Calvadós, aquilo que nós chamamos de “digestivo”. Mais forte. NÃO VI A CONTA. Leonardo e Madame negociaram longe do cronista e os francos trazidos de Pindorama, presumo até hoje, foram mais do que suficientes para saldar o ágape. Tanto que ainda fizemos por merecer duas ou três (ou mais...) rodadas de pequenas doses de eau de vie (água da vida, ou aguardente) da coleção de La Charolaise. Torre, praça e avenida de Montparnasse nos esperavam para a caminhada regulamentar para digestão de tal banquete. Um almoço, uma reunião inesquecível, com histórias e parceiros idem. Quando voltei a Paris, há menos de dez anos, não encontrei mais o local. MEU PARCEIRO LEONARDO MOTA acaba de nos deixar. Ficam memórias e lembranças como esta, da melhor qualidade. É a vida. Gracias a la vida!

AS DELÍCIAS DE MINAS PERTINHO DE VOCÊ 16

Queijos, doces, biscoitos, castanhas, pão de queijo, pimentas, farinhas, polvilho caipira, massa para tapioca, mel, manteiga, cachaças, linguiça, frango e ovos caipira.

Av. Castanheiras, Ed. Ônix Bl. A - Loja 2 - Águas Claras


PÃO&VINHO

A França em vinhos Já estou de malas prontas para embarcar para a França ainda esta semana, e na próxima desembarco em Bordeaux para a Vinexpo, a maior feira de vinhos franceses. Quem fica sabendo do meu destino sempre demonstra “inveja”, mas vamos esclarecer: viajar a degustar vinhos enquanto se passeia é pura diversão e contentamento, pois, ainda que a degustação seja com atenção, ela sempre ocorre junto com a diversão, seja em boas refeições, em visitas a produtores ou a lojas especializadas. Isto sim é, de fato, sempre “invejável”. Todavia, uma visita a uma feira desse tamanho, com o objetivo de degustar centenas de vinhos em poucos dias e a responsabilidade de identificar e escolher quais os ideais para se fazer um investimento de grande monta na importação de quantidades significativas, posso garantir: está mais próximo de trabalho do que de diversão. Basta lembrar que degustamos e degustamos, analisamos, anotamos, discutimos condições de fornecimento de centenas de vinhos sem sequer beber um deles. Afinal, seria impossível beber centenas de vinhos em poucos dias, e ainda avaliá-los. Ficamos, pois, só na percepção de aromas e palato e dispensamos (cuspimos, em bom português), muitas vezes com “dor no coração”, todos aqueles ótimos vinhos. A própria preparação para a viagem é longa e cansativa. São alguns meses de reservas e pesquisas para se escolher, dentre tantos produtores e vinhos, quais visitar. Que eu não deixe, todavia, a impressão de que faço isso com sofrimento, pois, muito ao contrário, o faço com muito prazer. Mas isso de deve ao fato de que sou meio “doente” por vinhos, o que não é comum para a maioria das pessoas. Fato é que, ao realizar as tais pesquisas para escolher o que procurar na feira, mais uma vez me dou conta de que a França é uma soma de regiões vínicas, pois por todo o seu território se produz bom vinho e são tantos e em tantas regiões que temos de optar por uma pequena parte deles para degustar. Então, vejamos o que o leitor pode esperar para a minha

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pao&vinho@agenciaalo.com.br

coluna no mês que vem. Logo a leste de Paris fica a famosa Champagne, região absolutamente especializada e imbatível na produção de vinhos espumantes, os famosos champanhes. Uma região mais para fria e úmida, que é o que dá as características próprias para um bom vinho espumante. Baseada essencialmente em três castas: Chardonnay, Pinot Noir e Petit Meunier. Certamente degustarei vários xemplares desse néctar e tentarei escolher ao menos um para a importação da Winemania. Daí para o sul alcançamos a Borgonha, para mim o melhor paraíso de grandes vinhos, todos feitos, quando de alta gama, de Pinot Noir, quando tintos, ou de Chardonnay, quando brancos. Terra do Romanée Conti e de tantos outros tesouros vínicos. Para mim, essa vai ser minha mais difícil e importante missão: encontrar grandes vinhos de Borgonha por preços possíveis, já que baratos não haverá. Mais ao sul ainda, chegaremos ao Rhone, onde se encontram um sem número de apelações magníficas, com vinhos esplêndidos. Tantos que tenho de focar em um alvo mais preciso e minha escolha aí será o Chateauneufdu-Pape ideal para compor o portfólio. Um pouco mais a leste encontramos a terra dos vinhos rosé, a lindíssima Provence. Ali, os vinhos rosés alcançam o seu máximo e se baseiam quase sempre nas castas Syrah, Grenache, Cisault e Mouvedre. Os melhores, ao menos para mim, são de um rosa muito claro, têm bom corpo e boa acidez, capazes de acompanhar a excelente culinária da região, sempre à base de bastante alho. Nossas linhas já vão se acabando e ainda haveria muitas regiões a comentar. Certamente procurarei por alguns bons vinhos de Bordeaux, eventualmente algo do Loire, da Alsácia, do Languedoc, certamente um Sauterne e um Armagnac. Bem, desejem-me sorte e sabedoria nas escolhas, pois elas serão revertidas a seu favor na forma dos maravilhosos vinhos que hei de encontrar e trazer ao Brasil para todos nós.

OBRIGADO, BRASÍLIA BAIXE O APLICATIVO COMIDADIBUTECO.

ALEXANDRE FRANCO

Jornal Oficial:

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ECONOMIACRIATIVA

Três em um POR WALQUENE SOUSA

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Felipe Batista

uem passa pela “esquina” da 704/705 Norte logo avista uma árvore imponente – uma gameleira de mais de 60 anos, patrimônio paisagístico da capital federal. É nesse endereço que funciona há dez anos o charmoso Cobogó Mercado de Objetos, misto de cafeteria, loja e espaço cultural. Pertencente ao casal de empresários Maria-

na Dap e PH Caovilla, desde o início deste ano conta com um novo sócio, o fotógrafo e jornalista Nick Elmoor, que chega com sua expertise artística e com novas ideias. Essa sociedade não surgiu por acaso, pois Nick sempre frequentou o Cobogó. “Resolvemos transformar a experiência do café em três momentos distintos. A área externa com parquinho e música, o interior da loja misturado com a cafeteria,

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Os sócios Nick Elmoor, Mariana Dap e PH Caovilla se divertem na gigantesca gameleira da 704/705 Norte.

com mesas e cadeiras, e a galeria no subsolo. Assim, o público pode apreciar arte e tomar um cafezinho de forma mais intimista e reservada”, explica Nick Elmoor. Para Mariana Dap, a ideia é oferecer um ambiente onde os visitantes se sintam no quintal da casa da avó, com o aconchego proporcionado pelas receitas caseiras, desfrutadas à sombra da linda árvore. Um lugar agradável para estar com os amigos e a família”, diz a empresária. Na lojinha são comercializados artesanatos de design brasileiro garimpados e produzidos por Mariana Dap. Atrações à parte são a MiAudota (feira de adoção de cães e gatos) e a Feira de Quintal, com plantas e comidinhas, realizadas todo primeiro e último sábado de cada mês, respectivamente. A parte gastronômica traz novidades. A linha de conservas de picles e confit de tomate e os defumados (copa, lombo, linguiça de pernil e maminha), produzidos artesanalmente por PH Caovilla, compõem os recheios dos hambúrgueres assados na brasa. Vale ressaltar outros itens do cardápio, como os pratos do dia servidos no almoço, de segunda a sábado (R$ 25). Todos feitos com jeitinho caseiro, que agrada em cheio à clientela. Produzido diariamente, o bolo de cenoura,


um dos destaques do cardápio, chega quentinho à mesa, acompanhado de uma generosa calda de brigadeiro. A chegada do novo sócio agregou diversidade à proposta cultural do Cobogó. Nick criou uma galeria para expor obje-

tos de acervo próprio, além de obras de outros fotógrafos, grafiteiros e artistas plásticos da cidade. Cada artista poderá expor suas obras gratuitamente, por duas semanas. No segundo semestre terá início o calendário de mostras individuais.

“Mesmo sendo um espaço aberto, quero ter a prerrogativa de ser o curador, com ajuda de outros profissionais, para garantir a qualidade das exposições”, diz Elmoor. A galeria é também um coworking. As pessoas podem usufruir da tranquilidade para trabalhar e se deliciar com as comidinhas da cafeteria. O número de mesas foi aumentado de 20 para 50, distribuídas nos três ambientes. Assim, o Cobogó oferece mais conforto àqueles que apreciam pratos caseiros, arte e cultura, enquanto as crianças se divertem no parquinho. “Brasília tem um público acostumado a conviver com arte, pois estamos inseridos em um grande projeto arquitetônico. O Plano Piloto proporciona diversas referências artísticas, como as criações do Athos Bulcão. O que queremos, então, é proporcionar aos brasilienses mais um cantinho de diversão e cultura”, afirma Mariana Dap. Cobogó Mercado de Objetos

704/705 Norte, Bloco E (3039.6333). 2ª, 3ª, 4ª e 6ª feira, das 11 às 20h; 5ª feira, das 11 às 21h; sábado, das 9 às 20h.

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QUEESPETÁCULO

Café com teatro POR VICENTE SÁ

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ue tal mergulhar na vida de uma cidade do interior do final dos anos 90, com sua tranquilidade, sua religiosidade e as fofocas que acontecem após a chegada de um novo vigário, adepto de modernidades tecnológicas? E, depois disso, saborear um legítimo café colonial feito à moda de Minas Gerais? Essa é a proposta inovadora do “café com teatro”, da Companhia da Ilusão, grupo criado e dirigido por Alberto Bruno em cartaz até 26 de maio com As beatas. A peça, que aborda a quebra de paradigmas na igreja com os avanços da tecnologia, é ambientada na fictícia Santo Antônio do Piripaco e trata, com muito humor, das relações nem sempre amistosas entre o velho e o novo, em um ambiente conservador na virada do milênio. O autor da peça, diretor e criador da escola de teatro é Alberto Bruno, que foi aluno e professor da Faculdade Dulcina

e desde 1993 ocupa, com sua Companhia de Ilusão, um pequeno teatro na 510 Sul. Natural de Governador Valadares, mas criado na pequena Coroaci, Alberto usa de sua vivência interiorana para mostrar os conflitos advindos com a tecnologia e as novas ideias. Desde pequeno ele tinha paixão pela representação e, ainda sem saber escrever, desenhava cenas no muro de casa para que suas irmãs interpretassem. Mas o destino parecia querer brincar com ele. Nas suas duas únicas participações em peças na escola de Coroaci, atrapalhouse com os figurinos e com o enredo. As apresentações tiveram que ser interrompidas e ele ganhou fama de azarão e atrapalhado. Assim, durante toda sua vida escolar, as professoras evitavam chamá-lo para algum papel em peça ou mesmo declamação de poesia. O sonho de fazer teatro, entretanto, ficou dentro dele. Filho de padeiro, Alberto trabalhou dos oito aos 15 anos com o pai e, ainda

adolescente, saiu de Coroaci para São José dos Campos, São Paulo, em busca de alguma coisa que ele já não sabia o que era. O sonho de teatro estava começando a se perder na alma juvenil. Aos 18 anos, voltou para Minas e trabalhou num laboratório em Belo Horizonte. Certo dia lhe caiu nas mãos um jornal e ele soube que a atriz Dulcina de Moraes iria abrir uma faculdade de teatro em Brasília. O sonho renasceu em seu peito e ele veio para cá em 1979. Mas o destino gostava de testar sua paixão e, por questões financeiras, Alberto fez de tudo um pouco, desde furar fossas e pintar grades até serviços burocráticos. Somente aos 27 anos, já com a vida mais estabilizada, conseguiu finalmente cursar a Faculdade Dulcina, onde conheceu grandes nomes do teatro local, como Murilo Eckart, Humberto Pedrancinni, Dimer Monteiro, Fernando Azevedo e até a grande Dulcina, que lhe deu aulas. Logo depois de formado, o destino, ou


A partir de 30 de maio, e durante todo o mês de junho, vai acontecer o projeto Bistrô, jantar com teatro, com a peça A ceia dos cardeais, de Júlio Dantas, todas as quintas- feiras. Adquirindo um ingresso, o espectador assiste ao espetáculo e tem direito a um jantar acompanhado de uma taça de vinho.

Enquanto junho não chega, As beatas e o café colonial são uma criativa opção gastronômico-cultural. Bom espetáculo e bom apetite.

O faz-tudo “Mais um domingo, mais uma apresentação, mais uma tarde de casa lotada”. Com esse bordão Alberto Bruno comemora com os alunos a apresentação da peça de sua autoria, As beatas. Depois do espetáculo, os espectadores dividem os elogios entre a montagem e os petiscos do café colonial servido após a apresentação e também preparado pelo faz-tudo da companhia, o próprio Alberto. No burburinho do café, uma senhorinha se destaca: é dona Joaquina, que se derrete em comentários elogiosos ao diretor: “Ele escreve, dirige, produz e ainda é um chef de cozinha de mão cheia”. Ela destaca as tortas de frango e limão como estrelas do pós-espetáculo.

As beatas

Todos os domingos, às 17h, no Teatro de Bolso (510 Sul, Bloco C, tel. 3241.3544). Ingresso: R$ 80, dividido em até 12 vezes em www.sympla.com.br/cia-da-ilusao__491323.

Fotos: Pedro Gentil

talvez apenas o governo Collor, aprontou mais uma com ele, que foi demitido da Eletronorte. Com mulher e dois filhos, passou a fazer e vender marmitas e depois tortas naturais no Plano Piloto. Mas o sonho do mineiro do interior era mesmo o teatro. Ele conseguiu fazer pós-graduação, passou a dar aulas no Dulcina e montou seu próprio curso de teatro, numa salinha do Conic. E aí, em 1992, ingressou de vez na vida teatral da cidade. Criou o primeiro teatro de bolso de Brasília, com apenas oito lugares, fundou a Companhia da Ilusão, montou espetáculos e se apresentou no DF e em outros Estados. De lá para cá, são 27 anos de muito teatro, muita criação e muita alegria. Nesse tempo, Alberto Bruno já rodou todas as casas de espetáculos de Brasília e fez montagens grandiosas, como O inspetor geral, no Espaço Cultural da Funarte, ou pequenas, como a atual. Mas sempre com a alma pulsando de felicidade por fazer o que ama. Sua Companhia da Ilusão oferece, na 510 Sul, cursos de teatro, montagem de espetáculos e produção de peças.

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DIA&NOITE

arquiteturadacor Antes de embarcar para a Itália, no final do ano passado, o artista plástico Arnaldo Garcez se disse muito satisfeito por poder mostrar suas telas fora do Brasil. Levava a série Arquitetura da cor, que depois de encantar o público italiano está agora no CTJ Hall (706/906 Sul), para ficar até 18 de maio. “O trabalho está muito consistente e coerente com a linguagem que venho desenvolvendo em meu neoexpressionismo sempre focado na figura humana, traduzido em pinceladas fartas e cores fortes e exuberantes”, explica Garcez. Nascido em Manaus, mas morando há 40 anos no Rio de Janeiro, o artista mistura materiais convencionais a pigmentos minerais, criando um elo único de relação com a cor. “Ela é o elemento principal do meu trabalho, sem dúvida alguma. Dentro da concepção das escolas abstracionista e expressionista, desconstruo e, muitas vezes, até desfiguro a figura humana em meu processo de criação, sempre lançando mão dessa gama de pigmentação”, diz o artista, que assina as obras atrás da tela. “A assinatura é um desenho que acaba sujando a obra. E, para mim, o mais importante é que o espectador tenha uma conexão com a pintura sem essa interferência”, acrescenta Garcez, que também é músico e poeta. De segunda a sexta, das 9 às 21h, e sábados, das 9 às 12h.

Leo Flores

vozesdaalma “Maria Conchita, minha primeira amiga surda, foi quem inicialmente abriu minha mente e o coração para a cultura das pessoas surdas. Foi no contato diário que a empatia cresceu e fui me tornando mais sensibilizada, percebendo o quanto o mundo e as pessoas estão fechadas para a inclusão. Todos temos necessidade de nos comunicar. No caso de pessoas surdas, não é diferente, o que muda é a forma de comunicação. Quem sabe, por meio das fotografias, os ouvintes possam entrar em empatia mais facilmente e possamos ser verdadeiramente mais inclusivos.” É Nísia Sacco quem explica, em poucas palavras, a proposta da exposição Vozes da alma, por ela coordenada, em cartaz no Museu da República até 2 de junho. Ao longo de um ano, Celyse Sasse (foto), Elise Milani, Flávia Pompeu, Jacson Vale, Johnnatan Albert e Nubia Laismann fizeram um mergulho na arte da fotografia, a fim de torná-la ferramenta de comunicação. Durante esse tempo, cada participante teve a oportunidade de encontrar um pouco de si nos trabalhos que estava desenvolvendo, além de uma reflexão sobre a vida e sobre si mesmo. Os participantes foram escolhidos a partir de três apresentações do projeto com bate-papo no Museu Nacional, na Galeria Olho de Águia, em Taguatinga, e na Associação de Pais e Amigos de Deficientes Auditivos (Apada). Eles são moradores de diferentes regiões administrativas: Sobradinho, Paranoá, Santa Maria, São Sebastião, condomínios do Lago Sul e zona rural de Samambaia. A mostra, com curadoria do fotógrafo Olivier Boëls, tem entrada franca e pode ser visitada de terça a domingo, das 9 às 18h30.

Vão até 16 de julho as inscrições para o Festival Internacional de Fotografia Brasília Photo Show 2019/2020. Na última edição houve mais de 12 mil inscritos e mais de 21 milhões de views nas redes sociais. As fotos vencedoras formam o acervo de um livro, conquistam status de arte e protagonizam uma série de exposições. Além das 16 categorias da edição anterior, haverá mais quatro: foto de drone, melhor registro de parques nacionais, áreas de conservação e preservação e melhor foto de gastronomia. “Como, em 2020, Brasília completa 60 anos, também teremos uma categoria especial para a melhor foto da capital do país, que certamente está no rol das cidades mais fotogênicas do planeta”, afirma Edu Vergara, idealizador e curador do festival. Os fotógrafos que inscreverem até duas fotos não pagam inscrição. A partir da terceira, contudo, há cobrança de R$ 25 por imagem. Menores de 18 anos não pagam inscrição, mas podem inscrever apenas duas fotos no festival. Fotógrafos profissionais e amadores podem participar enviando trabalhos para www.brasiliaphotoshow.com.br.

...dois elefantes e muitos mais não incomodam nada e ainda enfeitam o centro de compras que recebe 30 coloridas esculturas desses simpáticos mamíferos. Depois de passar por Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Porto Alegre, está em Brasília a Elephant Parede Brasil, com o objetivo de chamar a atenção para o risco de extinção desses paquidermes. Criada em 2006 por Marc e Mike Spits, pai e filho, a iniciativa teve origem na triste história de Mosha, elefantinha de sete meses de idade que perdeu parte da pata pisando em uma mina terrestre. Hoje existem menos de 50.000 elefantes asiáticos no mundo, 70% a menos do que havia há 100 anos, e vivendo em habitat 95% menor. A causa tem defensores famosos como os duques de Cambrigde, Príncipe William e Kate Middleton, a cantora americana Katy Perry e o ex-piloto de Fórmula 1 Felipe Massa. Somente até o dia 26 no ParkShopping.Entrada franca.

Levi Cintra

umelefanteincomodamuitagente...

Celyse Sasse

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brasíliaphotoshow


Divulgação

festirua Cuidado, um palhaço mau pode arruinar a sua vida! Esse é o nome do espetáculo que encerra a terceira edição do Festival Internacional de Artistas de Rua de Brasília, que ocupa diversas áreas públicas do Distrito Federal. Na ampla programação estão performances de artistas nacionais e internacionais, como é o caso do palhaço argentino Chacovachi, citado no início, que se apresenta dia 2 de junho, às 19h, na Torre de TV. Os malabares, a magia, os equilíbrios e os balões são a desculpa de Chacovachi, enquanto Deus, a política, a morte, as drogas e o poder são as razões para rir. Entre 29 de maio a 2 de junho, artistas de rua de Brasília, de outros Estados e ainda da Colômbia, do Uruguai, do México, do Peru e do Chile poderão ser vistos em apresentações representantes de diversas linguagens. De acordo com a produtora Erika Mesquita, da companhia Circo Rebote, “com as mostras internacionais e a ocupação dos espaços públicos, que neste ano se estende do Plano Piloto a Taguatinga e Ceilândia, o FestiRua vem se consagrando como um festival importante no calendário cultural de todo o DF”. A primeira edição do FestiRua aconteceu em 2015 como uma iniciativa independente, idealizada por artistas brasilienses da Cia. Circo Rebote, que completa 15 anos, e realizada em parceria com a Cia. Circênicos. Programação em https://www.facebook.com/festirua.

fridaediego

Foi no seu contato com as trilhas e cachoeiras do povoado goiano de Moinho que a baixista, compositora e cantora Paula Zimbres buscou inspiração para compor as músicas do seu segundo CD, batizado também de Moinho, que será lançado no Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul). O disco traz atmosferas que remetem aos estímulos estéticos do cerrado, evidenciando suas referências ligadas ao jazz e à música brasileira. Foi gravado no Estúdio Casa do Som, do bandolinista Dudu Maia, e contou com as participações de Cairo Vitor (violão), Renato Galvão (bateria), Thanise Silva (flauta) e Pedro Tupã (percussão). Apaixonada pela música brasileira, Paula se dedica com mais intensidade ao baixo, instrumento que ensina na Escola de Música de Brasília, mas toca também violão e piano. Os ingressos custam R$ 20 e R$ 10 e podem ser comprados antecipadamente com desconto no Macarrão na Rua (estacionamento da 206 Sul) ou em www.ingressorapido.com.br. Dias 25 e 26 de maio, às 20 e 19h, respectivamente.

Quando se fala da vida dos artistas plásticos mexicanos Frida Kahlo e Diego Rivera, impossível não se falar do relacionamento conturbado que tiveram, a partir de 1922, ano em que se conheceram. Ela, menina de 15 anos, ele um artista consagrado de 36, casado e com filhos. Anos depois, se casaram, tiveram relações extraconjugais, se separaram e voltaram a se casar. Um pouco dessa história de amor e ódio está registrada em fotos da mostra Diego e Frida – Um sorriso no meio do caminho, no Centro Cultural TCU. As fotografias registram também a infância e o período estudantil dos dois artistas, a luta sindical e os relacionamentos com outros artistas. As imagens são de autoria de Edward Weston, Manuel Álvares Bravo e Nickolas Muray. Com curadoria de Karina Santiago, a exposição se propõe a fazer uma viagem pela trajetória desses dois ícones e, também, pela história política, social e cultural da época. Até 29 de junho, de segunda a sexta-feira, das 9 às 19h. Entrada franca.

sobredeficiência

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cerradocomoinspiração

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Estão abertas as inscrições para a nona edição do festival Assim vivemos, que acontece no CCBB entre setembro e novembro. Podem concorrer filmes nacionais e estrangeiros de qualquer gênero, duração e data de produção sobre o tema das pessoas com deficiência. É o primeiro festival de cinema no Brasil a oferecer acessibilidade para pessoas com deficiência visual (audiodescrição em todas as sessões e catálogos em Braille) e para pessoas com deficiência auditiva (legendas inclusivas nos filmes e interpretação em LIBRAS nos debates). Serão oferecidos cinco prêmios do júri e um do público, destinado ao filme escolhido nas três cidades. O júri é formado por pessoas com deficiência, artistas e profissionais ligados ao tema. O resultado da seleção sai em 20 de junho. Inscrições até 20 de maio em filmfreeway.com/AssimVivemosDisabilityFilmFestivalBrazil.

prêmioverabrant O Espaço Cultural Renato Russo recebe as obras de 11 artistas brasilienses que foram selecionados no IIº Prêmio Vera Brant de Arte Contemporânea para fazer residência artística na Casa Niemeyer, em parceria com a Casa de Cultura da América Latina (CAL/UnB). Até 9 de junho, os brasilienses poderão conhecer os trabalhos de Silvie Eidam, Raíssa Studart, Capra Maia, Amanda Naomi Yuki, Rafael da Escóssia, Gustavo Silvamaral, Fernanda Azou, Bárbara Paz, Patrícia Teles, Arnaldo Saldanha e Cecília Lima, a selecionada para realizar a residência na Espanha, onde realizou exposição individual. De terça-feira a sábado, das 10 às 20h, e domingo, das 10 às 19h. Entrada franca.

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vidraças Tal como uma vidraça estilhaçada, a pintura do artista plástico brasiliense Santunes apresenta o homem estilhaçado pelas provações, pelas provocações e pela inexistência de um alicerce que o fortaleça. Em sua primeira exposição individual, na Galeria Arte em Pauta BSB (Jardim Botânico Shopping), estão 22 obras em óleo espatulado sobre tela, em paleta reduzida a poucas cores e tons, quase todas com as mesmas dimensões. A pintura do artista é provocativa, construída na tentativa de decifrar a essência do homem na procura por respostas sobre sua existência, dividido entre a razão e as reações ancestrais, entre as paixões ditadas pelo desejo e a retidão moral. Sentimentos difusos, confusos. Julgamentos baseados na superficialidade de momentos, solidão, busca pelo desenrolar da vida, pelo entorpecimento dos sentidos, confusão em encontros e desencontros consigo mesmo. Até 10 de junho, de segunda a sexta-feira, das 10 às 19h, e sábado, das 10 às 14h.

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O São João chega ao Espaço Cultural Leão da Serra (Quadra 5, Conjunto 1, Taquari) já no dia primeiro de junho. A casa abre os festejos com um almoço musical junino recheado de comidas sertanejas tradicionais e a animação do grupo Chiquitas e Bacanas. Composto de um coral de seis vozes femininas e seis músicos, o grupo se reuniu no ano passado para animar blocos e bailes carnavalescos com as marchinhas clássicas do nosso cancioneiro. Agora adaptou a proposta para as festas juninas, mesclando as músicas que tradicionalmente embalam as festa de fogueira com baiões de compositores brasilienses. O almoço caprichado de autoria da chef Lúcia Leão custa R$ 45 e o couvert artístico R$ 15. Reservas: 98520.1752.

arraiá2 Também no primeiro dia de junho Maísa Arantes Trio tomará conta do palco do Clube dos Previdenciários (712/912 Sul) para inaugurar os festejos de São João com repertório de muito forró pé-de-serra e de calçada. No dia seguinte será a vez do projeto Forró do B e a apresentação da Quadrilha Segue o Fogo (foto). Barracas com pipoca, canjica, churrasquinho, quentão, arroz carreteiro, pamonha, curau, galinhada, caldos e outras comidas tradicionais estarão aquecendo a festança, que começa às 17h. Nos dois dias de arraiá o clube estará arrecadando agasalhos que serão entregues a entidades filantrópicas de Brasília e entorno. Sócios não pagam e não sócios pagam R$ 10 e R$ 5. Informações: 3878.7103.

arraiá3 O tradicionalíssimo Trio Siridó (foto) e mais os trios Balançado e Cajuína, além da dupla Zé Felipe & Miguel, estão escalados para a quarta edição do Arraiá de Águas Claras, entre 31 de maio e 2 de junho, no Centro Universitário Uniplan. Além de celebrar a cultura nordestina, a programação promete trazer as maiores quadrilhas do DF. Nas barracas, fartura de comidas típicas como milho, canjica, pastel, maçã do amor, espetinho e pipoca, com o reforço de food-trucks para atender a um público estimado de 35 mil pessoas. Ingressos a R$1 mais um quilo de alimento não perecível que o Grupo Mães Amigas de Águas Claras doará a instituições beneficentes. Sexta e sábado, a partir das 18h, e domingo, a partir das 17h. Informações: 99961.1448.

Ari Fotos

Após ganhar uma bolsa de estudo para fazer doutorado em Química, na Alemanha, um jovem, que passou sua vida dividido entre o piano e os laboratórios de química, terá agora, diante de uma garrafa de vinho tinto seco, que tomar a decisão da sua vida: ir para a Alemanha e abandonar de vez o sonho de ser pianista, ou continuar no Brasil, lutando para ser um renomado pianista. Assim é a peça Vinho tinto seco, em cartaz no Teatro Goldoni (208/209 Sul) até 9 de junho. Com texto e direção de Antônio Roberto Gerin, da Cia de Teatro Assisto Porque Gosto, tem no elenco os atores Alex Ribeiro e Leivison Silva. Em cena, conflitos de escolhas, onde a personagem se depara com a situação limite de ter que tomar uma decisão definitiva para sua vida. Isto significa escolher entre continuar lutando por seu sonho, ser o que ele realmente nasceu para ser, ou renunciar ao sonho e se acomodar em uma profissão financeiramente mais acessível. Sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 19h, com ingressos a R$ 40 e R$ 20, à venda em www. bilheteriadigital.com.br ou na bilheteria do teatro, a partir de duas horas antes do início do espetáculo. Classificação Indicativa: 14 anos.

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DIA&NOITE


Nina Quintana

GRAVES&AGUDOS

Música ancestral POR SÚSAN FARIA

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les executam músicas mediterrâneas, medievais, árabes, libanesas, turcas... sons que nos remetem ao deserto ou a regiões longínquas, a outras culturas, a muitas sensações e emoções. Bernardo Bittencourt (alaúde árabe), Igor Diniz (baixo), Mahmoud El Masri (derbak) e Thiago de Lima Cruz (riq – um tipo de pandeiro tradicional na música árabe – e percussão) formam a banda brasiliense Kervansarai, que completa dez anos de existência lotando espaços como o Clube do Choro e sendo bastante aplaudida. À exceção de Mahmoud, que é egipício, os demais músicos são brasilienses e não têm ascendência árabe. Apresentam-se sempre com convidados, às vezes dançarinas de la belle dance (dança do ventre). Thiago toca também o tabel sírio-libanês, que lembra a nossa zabumba e é muito apreciado para danças masculinas. E acaba de inaugurar um estúdio na 413 Norte, onde sua banda e outros músicos poderão gravar. Um espaço de 100 m2, dividido em três salas, para encontros, workshops e oficinas musicais, inaugurado com uma oficina de percussão afro-colombiana conduzida por Victor Giraldo. No final deste mês, o percussionista

paulista Edgar Silva Bueno ensinará ali música indiana. Em junho, o grupo fará vários shows, cujas datas e locais ainda estão sendo confirmados, e, como de costume, tocará em casamentos árabes ou festas promovidas por embaixadas. Thiago, que estudava percussão com o carioca Edson Quezada, estreou tocando derbak na Escola de Música de Brasília. “Apaixonei-me pelo instrumento, comprei um, estudei muito, fiz outro show, saiu nas redes sociais, o Bernardo viu, mandou mensagem e me juntei à banda”, conta. Bernardo, após conhecer, na Turquia, os instrumentos e a linguagem da música oriental, fundou a Kervansarai em 2008. “Estamos muito felizes com a receptividade do público. A música dos países mediterrâneos traz um legado ancestral que se incorporou na formação da música brasileira, especialmente a do Nordeste, com a rítmica, a influência moura”, explica. Kervansarai é ponto de encontro que remete à época das grandes caravanas (caravançarais ou hospedarias, encontradas na Europa, África e Oriente Médio). Os persas e turcos chamavam esses locais de Kervansarai, onde os viajantes paravam e participavam de riquíssimas trocas culturais, travavam contato com idiomas, costumes e melodias de outras civilizações. Segundo Thiago, o grupo faz uma fu-

são entre o clássico e o contemporâneo e, por meio de seu repertório, um passeio pelos países árabes, Turquia, norte da África, Andaluzia, Balcãs e demais regiões do Mediterrâneo. “Apresentamos aos espectadores e convivas uma nova faceta de tradições milenares que chegaram às terras brasileiras pelas mãos de imigrantes. É uma música diferente, com notas e formas rítmicas que não existem no Ocidente, o que exige uma imersão profunda em outras culturas”. Mahmoud El Masri, nascido no Cairo, morou na Itália, onde aprendeu culinária. Há 40 anos veio para o Brasil, trabalhou primeiro como chef de cozinha em um restaurante italiano no Rio de Janeiro e há 25 anos radicou-se em Brasília, onde abriu o restaurante Nilo. Hoje, vive de música e é referência no meio artístico árabe. “O Brasil é um país miscigenado, abrange todos os povos, o que enriquece sua cultura, com o compartilhamento”, comenta. O turco Tatyos Efendi, os egipícios Sayed Darwish e Mohammed Abdel Wahab e o tunisiano Anouar Brahem são os compositores preferidos da banda, que também executa músicas autorais, como a composição Kervansarai. Que essa caravana brasiliense, com tanta e tão rica cultura, arranjos e melodias, continue produzindo muitas emoções!

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GRAVES&AGUDOS

De Ney ao Queen POR HEITOR MENEZES

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aso os amigos leitores não tenham reparado, Brasília já sente os reflexos das medidas de corte de recursos destinados à cultura. No âmbito do Distrito Federal, o setor sofre o contingenciamento do FAC – Fundo de Amparo à Cultura. No que diz respeito à esfera federal, as estatais bateram a porta na cara dos produtores. Petrobrás e BNDES estão proibidos de fomentar cultura. Centro Cultural Banco do Brasil e Caixa Cultural, dois ativos redutos da boa música na capital, simplesmente nada têm programado para os próximos dias. É provável até que fechem o primeiro semestre de 2019 sem nada (ou muito pouco) para oferecer aos ávidos consumidores de música. Mas tudo está perdido? Sim e não. Sim, se considerarmos que muitos eventos só funcionam com o aporte de recursos públicos. Fecharam a torneira, babau. Não, porque as coisas também funcionam independentes do mecenato estatal. Só que, nesse caso, é bom ir enfiando a

mão no bolso. Cultura exclusivamente sob a modalidade paga é bacana, mas é fatal: devora o orçamento doméstico. Feitas as chorumelas de praxe, vamos logo a Matogrosso, Ney Matogrosso, grande destaque do período. Ney volta a Brasília dia 26, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Desta vez, o cantor e intérprete – metido em figurino assinado pelo estilista Lino Villaventura – traz à capital o show Bloco na rua, que (você acertou) remete à clássica canção do capixaba Sérgio Sampaio (Eu quero é botar meu bloco na rua). Os que curtiram o projeto anterior, Atento aos sinais, encontram Ney mostrando um poder incansável e inigualável no comando de repertório de altíssimo nível. A explicação é a seguinte: Ney é bom pra caramba e dá novos significados a canções de qualquer época. Mesmo aquilo que já cantou, como as músicas dos Secos & Molhados, reaparece com roupagem na qual o artista encontra novos detalhes em versos e frases musicais. Esses achados estão em Pavão mysteriozo (Ednardo), A maçã (Raul Seixas),

Yolanda (Chico Buarque), Como 2 e 2 (Caetano Veloso), Coração civil (Milton Nascimento), enfim, Ney domina a arte superior do cancioneiro e vê-lo em ação, aos 77 anos, com toda a carga expressiva que o caracteriza, é algo que merece outros “is”: incrível e imperdível! Em outro terreno musical, o da música erudita, igualmente espantosa de ver e ouvir, temos a rara oportunidade de conferir Joel Bello Soares, o decano dos pianistas eruditos de Brasília, dia 24 de maio, grátis, no auditório da Livraria Cultura (Casa Park). Bello Soares é um dos pianistas convidados do tributo ao programa Um piano ao cair da noite, apresentado ao longo do mês naquele espaço. Isso mesmo, um tributo ao saudoso programa de rádio que era a cara da extinta Brasília Super Rádio FM. Seus criadores, o falecido casal Lúcia e Mário Garófalo, estão sendo homenageados com uma série de recitais de piano, exatamente nos moldes daquele consagrado pela emissora. Atenção para a Fantasia triunfal sobre o hino nacional brasileiro (Gottschalk), que Joel Bello Soares executa


essa parte, vale a pena conferir os arranjos vocais em estilos difíceis de ouvir por aqui, como o doo-wop e o gospel, o verdadeiro gospel, não o estilo associado a determinadas religiões brasileiras. Com todo o respeito. Saudade dos Guns N’ Roses? Realmente, aquele show de 2016, no Mané Garrincha, foi memorável. Slash solando triunfalmente na chuva foi algo que ficou nítido na memória. Pois o homem da cartola com uma Gibson e um cigarro no canto da boca volta à capital, dia 29, no Ópera Hall (que voltou a ter esse nome depois de um tempo como NET Live Brasília). Slash featuring Myles Kennedy & The Conspirators – esse o nome da atração – é o retorno do guitarrista ao projeto com o cantor da banda norte-americana Alter Bridge. Isso. É a terceira vez que Slash se junta a Myles Kennedy, uma das grandes vozes do hard rock da atualidade. No repertório, canções dos três álbuns desse projeto, além, é claro, de alFotos: Divulgação

com um primor magistral de técnica pianística. Para sair encantado, com certeza. De volta à MPB, temos a satisfação de mais uma visita de Geraldo Azevedo à capital. O cantor pernambucano traz ao palco do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, dia 25, a turnê Solo contigo, naquele minimalista esquema de voz e violão. Pode parecer um tanto óbvio, pois sempre vimos Geraldo Azevedo assim armado (só com voz e violão). No entanto, consta que é a primeira vez que ele sai em turnê dessa maneira. Pouco importa. Ouvi-lo desfilar clássicos como a belíssima Caravana, a eternamente atual Bicho de sete cabeças, Dia branco, Táxi lunar e homenagear Luiz Melodia (Estácio, Eu e você) vale cada centavo do suado dinheirinho que gastamos com o prazer musical. Pensou que não existe banda mais antiga que os Rolling Stones? Errado. The Platters (atração no dia 26, no teatro do hotel Royal Tullip) são mais antigos. Se correr tudo bem, e a longevidade assim permitir, em 2022 o grupo vocal norte-americano vai bater a marca de 70 anos (!) de carreira. É verdade que o lineup original só durou o ano de 1953. De 1954 a 1970 talvez seja o período em que o agrupamento ficou mais conhecido por conta das mágicas Only you e The great pretender, assinadas por Buck Ram, e Smoke gets in your eyes (Jerome Kern/ Otto Harbach). Foi a época em que o tenor Tony Williams comandou a trupe. Depois, as sucessivas mudanças de integrantes tornaram praticamente impossível rastrear quem entrou e saiu do grupo ao longo de todos esses anos. Abstraindo

guns sucessos dos Guns, sempre aguardados com ansiedade pelos fãs. E por falar em rap, onde anda você? Se depender dos Racionais MC’s, o maior grupo de rap de todos os tempos neste país, o encontro com os amantes do gênero tem dia e hora marcados. O lendário grupo paulista formado por Mano Brown, Edi Rock, KL Jay e Ice Blue incluiu Brasília (8 de junho, no Ginásio Nilson Nelson) na turnê que celebra seus 30 anos de atividades. O plus a mais, como dizem, é que o quarteto virá com uma banda formada por 12 músicos, e não apenas com as bases programadas, como nos primeiros tempos, quando conquistaram a periferia de São Paulo e, depois, o planeta. Apesar de sempre ter vindo a Brasília, é a primeira vez que o grupo junta todas essas forças para dar novo significado às pungentes canções, que definitivamente elevaram o rap nacional à categoria de grande música popular. Claro, as músicas do clássico disco Sobrevivendo no inferno não podem faltar. Para quem nunca viu, é obrigatório. Simples assim. Interessante o que aconteceu com o Queen. A amada banda de Freddie Mercury parece que ganhou outro status, principalmente depois do filme Bohemian Rhapsody arrebatando prêmios etc e tal. De uma hora para outra, a popularidade, que já era alta, ganhou a estratosfera. Muito justo. Tão justo que pode valer a pena conferir o espetáculo Queen experience in concert, dia 8 de junho, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Nesse, a atmosfera da realeza do rock é recriada em riqueza de detalhes. Tanto que não são apenas quatro músicos emulando Freddie, Brian, John e Roger no palco. Com a adesão de uma orquestra, temos algo como 20 músicos recriando este que é um clássico do rock.

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GRAVES&AGUDOS

Templo do

heavy metal

TEXTO E FOTOS HEITOR MENEZES

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a última vez em que esteve em Brasília, a banda Iron Maiden provocou a seguinte situação na plateia, minutos antes do show: um sujeito enorme (bota enorme nisso), do nada, surgiu ao lado deste repórter, punho cerrado erguido no ar, e mandou com voz de trovão: “Iron Maiden, fdp!”. O repórter, olhos esbugalhados, ía sair, de fininho, mas o sujeito provou ser um gigante gentil. Mandou aquele abraço fraterno (mais pra mata-leão), meio que se desculpando pela rude manifestação. Assim é o heavy-metal, amigos. Você se vê diante de gente mal-encarada, cabeluda ou careca, roupas pretas dominantes, olhares e danças ameaçadores, mas no final das contas é tutti buona gente, uma confraria de amantes do rock pesado. Gente normal com linguagem própria,

para quem o chifre nos dedos nada tem a ver com o Coisa Ruim. Ao contrário, é a atitude de quem se empolga com o conjunto da obra. Ou a obra do conjunto, no caso das bandas e artistas no palco. Tudo isso só para dizer que Brasília conta com um espaço digno dedicado ao rock com uns quilos a mais. Incrível que só agora, em 2019, a gente possa escrever algo assim. Trata-se do Toinha Brasil Show, no SOF Sul (Setor de Oficinas Sul, Quadra 9), casa que há um ano definitivamente tornou atrações roqueiras de pequeno e médio portes acessíveis aos brasilienses. E que atrações de qualidade! Nesse período, passaram pelo Toinha, só para lembrar, nomes como Glenn Hughes, exDeep Purple (o primeiro grande show internacional da casa), Grim Reaper (UK), Angra, Massacration, Paulo Ricardo (RPM), Tarja Turunen (ex-Nightwish),

Shaman, Blaze Bayley (ex-Iron Maiden), Phil Anselmo (ex-Pantera), Black Label Society (EUA), Grave Digger (Alemanha) e S.O.T.O., a banda do vocalista Jeff Scott Soto. “Todos os shows foram marcantes”, destaca o empresário Fábio Alves de Lima, lembrando com carinho dos artistas que passaram pelo palco do Toinha e ajudam a promover a proposta rocker elaborada junto ao sócio Lacy Júnior. “A inauguração, em abril de 2018, foi marcante, pois tivemos as meninas do TNSHE (tributo de mulheres ao AC/ DC) e as Iron Ladies (tributo ao Maiden), abrindo a casa, que ostenta um nome feminino”. E aí está a chave da coisa. Toinha Brasil Show é uma extensão da primeira experiência do empresário com o rock, o Toinha Rock Pub, bar que completa uma década de atividade, em agosto, em


rock na noite em que brilharam os alemães da Grave Digger. Desde a abertura, com a banda brasiliense Blazing Dog, pairava no ar a certeza de esquema altamente profissional. Som heavy, redondo, se espalhando incrivelmente audível por todos os ambientes. Quando a Grave Digger pisou no palco, fez-se o rock do jeito que se imagina legal: guitarra, baixo, bateria e voz em alto e bom som. O vocalista Chris Boltendhal, profissional do ramo há décadas, sacou que as condições eram favoráveis e tomou a plateia na mão. Uma noite perfeita para o rock. Todos agradecem. Brasília, principalmente.

E por falar em atrações rock’n’roll, reparem no que está por vir no Toinha Brasil Show. Simplesmente a fina flor do som pesado: 23/5, Cradle of Filth (extreme metal britânico); 25/5, Angra (power metal brasileiro); 26/5, Dead Kennedys (EUA) & Garotos Podres (show cancelado devido a muitas polêmicas, mas ainda consta na agenda da casa); 11/6, Raven (heavy metal britânico) & Leather (Brasil/EUA). Toinha Brasil Show

Setor de Oficinas Sul (Quadra 9). www.toinhabrasilshow.com fb.com. toinhabrasilshow instagram.com.toinhabrasilshow. Fotos: Divulgação

Samambaia. Em comum, o apelido afetuoso da mãe Antônia Francisca de Lima (Dona Toinha), musa inspiradora e que toca o barco na casa de Samambaia. Fábio explica que o pub na Samambex costuma atrair gente de diversas cidades do Distrito Federal. Muitos pediam para que ele abrisse uma filial próxima ao Plano Piloto. No endereço do SOF Sul, os sócios encontraram um ótimo lugar para as paredes chacoalharem sem perturbar a vizinhança, como é comum acontecer nos bares das Asas Sul e Norte de Brasília. Coisas da Lei do Silêncio, como todos sabem. “O Toinha Brasil Show é uma casa de eventos. Quando não há shows agendados, o espaço está disponível para locação”, avisa Fábio Lima. Então o rock ainda é rentável? “Sim, desde que a gente saiba bem manobrar a situação, mas não é fácil”, destaca. Dentre as manobras e conforto para os clientes estão o fácil acesso ao SOF Sul e a venda on-line de ingressos e reservas no site. No local, arena para 1.500 pessoas, camarotes com sofás e ótima visão do palco, tratamento acústico decente para quem quer curtir um bom rockão, bar diversificado, com cervejas, doses, drinks e bebidas não alcoólicas, área vip, área externa para os fumantes e muitas tomadas, para carregar o celular e afins. A Roteiro foi conferir esse templo do

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RESPONSABILIDADESOCIAL

Reciclando sons e vidas POR JUNIO SILVA FOTOS RODRIGO RIBEIRO

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s vozes de crianças cantando em coro Gostava tanto de você, de Tim Maia, que ecoavam do galpão cultural localizado entre oficinas, comércio, igrejas, residências e bares de uma larga rua do setor leste da Cidade Estrutural, eram um sinal das mudanças que aconteceram naquelas bandas de uns anos pra cá. Começou no início dos anos 2000 a história de uma professora de música inconformada com o sistema elitista muitas vezes presente na música clássica e também com as carências de uma cidade levantada sobre o maior lixão da América Latina nos anos 60 por grupos de coleta, história essa que iria mudar o rumo daquela região. “Minha mãe, aos sábados, trazia pães,

doações de padarias de Taguatinga, para oferecer um café da manhã para 100 crianças que estavam ali do lado do lixão. Foi quando conheci a comunidade e suas necessidades”, relembra Rejane Pacheco, fundadora do Instituto Reciclando Sons. A musicista vivia um hiato com os palcos em função de tudo que não concordava no mundo da música erudita. Foi um simples convite que, de certa forma, mudou sua vida e a daquela comunidade da Cidade Estrutural. Inconformada com tudo que via em sua profissão, Rejane acabou enxergando a música como instrumento de educação, inclusão e quebra de paradigmas, assim como a personagem de Meryl Streep em Música do coração, filme de 1999 dirigido por Wes Craven. Nele é contada a história de transformação de uma comunidade no Harlem, bairro pobre de Nova York, por meio de aulas de violino, o

que a inspirou profundamente. “Veio logo à minha mente a área carente que eu visitava aos sábados”, afirmou. Rejane se propôs, então, a utilizar a música como um meio de comunicação com as pessoas, suas culturas e experiências. Para isso era preciso fazer os instrumentos de orquestra e quebrar alguns paradigmas. “Eu não posso trazer o estudo da música clássica para uma comunidade que não tem experiência. Acho que o caminho é começar com movimentos de rua, que façam parte da vida deles, como rap, MPB, música gospel e outros gêneros musicais que transmitam a mensagem de inclusão”, pensou a instrumentista no início do projeto. Em 2001 ela arrumou um pequeno espaço, mais precisamente um restaurante inativo, próximo ao lixão, e passou a dar aulas de iniciação musical a 22 crianças que moravam por ali. Era o início do


Fotos: Divulgação

projeto sócio-educacional Instituto Reciclando Sons, que não visava apenas a formar músicos, mas a dar um novo rumo na vida dos participantes. Dezoito carnavais se passaram daquele dia até hoje. Mais de quatro mil pessoas já foram beneficiadas pelo instituto, que não forma apenas músicos, mas também abre portas para outras áreas de educação, e que recentemente trocou o espaço improvisado por uma sede própria, construída há um ano graças a campanhas de arrecadação. Muitas coisas mudaram e aconteceram, mas o foco – trabalhar em conjunto com a comunidade, em prol dela mesma – continua o mesmo. Exemplo desse trabalho é o método de replicação utilizado no projeto, que em 2013 recebeu o certificado de tecnologia social, em primeiro lugar na categoria juventude, sob os critérios de inovação e replicabilidade, pela Fundação Banco do Brasil. Aqueles que chegam à última etapa da formação podem se tornar monitores, caso queiram, ou atuar em outras áreas do projeto. “Minha tia, hoje diretora financeira do instituto, foi aluna desde o início. Ela chegou com um violino e eu me interessei muito. E foi o instituto que pôde me dar esse acesso. Hoje, eu quero ser um replicador da educação daqui”, afirma o violonista e agora monitor Salatiel dos Santos, 19 anos. Ao longo dos 18 anos, a gestão do projeto sempre contrastou com o glamour da música clássica e exigiu muito suor de todos que fazem parte do trabalho para manter o projeto ativo. Atualmente conta com alguns patrocinadores,

como o Instituto Bancorbrás, o Instituto Viva Cidadania e a Fundação Banco do Brasil, que apoiam os projetos Notas e canções, Arte do protagonismo e Sabor e som, respectivamente. Conta também com panificadoras comunitárias para atender e empregar pessoas que perderam suas rendas com o fechamento do lixão, há pouco mais de um ano. Recentemente, o Reciclando os Sons obteve o apoio do grupo Amigos da Orquestra, que busca o engajamento da sociedade civil com a causa, por meio da contratação dos músicos formados no instituto para eventos e concertos, aju-

dando, assim, não só o projeto, mas os jovens artistas ali formados a manter uma vida com qualidade. No fundo, conclui Rejane, a música parece apenas um pretexto. “Talvez hoje os alunos pensem mais no plano coletivo, sejam mais politizados, entendam o que é garantia de direitos e vejam o valor da educação, por meio da música”, afirma a fundadora do projeto que vem reciclando vidas. Instituto Reciclando Sons

Setor de Oficinas, Lote 6, Cidade Estrutural (3363.0036). www.reciclandosons.org.br.

A professora Rejane Pacheco, a violoncelista Pamella Vasconcelos e o violinista Salatiel dos Santos, que agora exerce a função de monitor do Instituto Reciclando Sons.

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LUZCÂMERAAÇÃO

Cinema “transgênero” Uma das mais importantes cineastas do mundo, a francesa Agnès Varda, que morreu em 29 de março, retorna muito viva às telas brasileiras com Varda por Agnès, seu último opus. POR SÉRGIO MORICONI

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presentado fora de competição no Festival de Berlim deste ano, Varda por Agnès é uma incrível autoreflexão da realizadora sobre sua vida e arte. Pode-se facilmente considerar este seu último filme como uma generosa masterclass aberta ao público em geral. Pioneira da nouvelle vague francesa, movimento que em muitas medidas dá o pontapé inicial para o cinema moderno, Varda teve que esperar várias décadas até que a literatura lhe desse a devida importância histórica entre os renovadores da nova estética. Os créditos eram sempre conferidos a François Truffaut, Jean-Luc Godard e em menor medida a uma dezena de outros. Preconceito sexista, misoginia? É bem provável, afinal de contas o inovador La pointe courte, longa de estreia da diretora, havia sido realizado em 1955, quatro anos antes de Os incompreendidos e cinco antes de Acossado, obras iniciais dos dois diretores mencionados acima. Varda por Agnès nos faz refletir ao lado da realizadora sobre quem era aquela jovem que se propunha a reinventar o cinema, aberta a todas formas de arte visual (fotografia, instalações etc) e cuja es-

tética cinematográfica ignorava a rigidez de gêneros absolutos como a ficção e o documentário. Muitos dos filmes de Varda, especialmente os não-ficcionais, são o que talvez possamos chamar de transgêneros. São ensaios filosóficos, existenciais e estéticos. Varda por Agnès não escapa disso. Todo ele evita estruturar-se cronologicamente. “A cronologia é como a criminologia”, ela sustenta num determinado momento. Varda associa temas e ideias de forma a que o tempo (os ciclos e períodos de sua carreira) se dissipem em tempos que se anulam como que num passe de mágica e que, no fim das contas, passam a coexistir independentemente da cronologia. Fotógrafa de formação, depois de La pointe courte Agnès Varda faria três documentários. Um deles, A Ópera-Mouffe, aprofundaria ainda mais o aspecto ensaístico do seu cinema. O filme nada mais é do que um diário pessoal sobre o quarteirão onde morava, o distrito parisiense em torno da Rua Mouffetard. Muito tempo depois, entre 1974 e 1975, Varda faria o mesmo, desta vez num longa-metragem (Daguerreótipos) ambientado na Rua Daguerre, também em Paris, entrevistando algumas das pessoas pitorescas do lugar, comerciantes, moradores, entre eles, o

mágico Mystag. Já em A Ópera-Mouffe, a diretora introduziria, em meio à narração, textos literários e comentários pessoais sobre os assuntos tratados, recurso que jamais abandonaria. No início dos anos 60, em plena efervescência do novo cinema francês, Agnès Varda lança Cleo das 5 às 7, um filme belíssimo cuja crítica, pela primeira vez, não sem uma certa timidez, a coloca no mesmo patamar de Jean-Luc Godard e François Truffaut. Uma das novidades de Cleo foi fazer coincidir a duração da narrativa com o tempo real, como na célebre sequência do trajeto do táxi que vai das 17h58 às 18h04. Varda faz toda a ação do filme convergir para a expectativa de Cleo, uma cantora, em relação ao resultado de seu exame de câncer. As previsões de uma cartomante não haviam sido nada boas. Para desanuviar, Cleo vai às compras, experimenta chapéus, visita um namorado e, finalmente, encontra por acaso um soldado que lhe dá conforto ao acompanhá-la até o hospital. Repleto de comentários interiores, Cleo das 5 às 7 já tem um recorrente aspecto de diário íntimo e pessoal que encontramos da forma mais refinada possível em Os catadores e eu. Para uma compreensão mais ampla do estilo único e do


conceito do cinema de Agnès Varda, vale a pena mencionar a tradução literal do título original francês, Les glaneurs et la glaneuse, ou, em bom português, Os respigadores e a respigadora. “Respigadores” são aqueles que vivem da recuperação de detritos e sobras deixados de lado em lixos e outros depósitos. Seriam os nossos xepeiros. Mas a origem etimológica do castiço respigador é interessante. Respigar significa apanhar as “espigas” deixadas no campo pelas colheitadeiras. Espigas são, metonimicamente, não só espigas do milho, mas as de qualquer gramínea. Na França, existe a tradição de deixar as pessoas necessitadas recolherem as sobras deixadas pelas máquinas no processo de colheita. O filme de Varda documenta isso no contexto atual. Existem pessoas famintas também no primeiro mundo. A diretora, entretanto, não se limita a fazer uma crítica banal ao excludente modelo do liberalismo econômico globalizado. Há em Os catadores e eu uma preocupação também estética, moral e metafísica. Varda inicia seu filme com a imagem do célebre quadro de Millet, Les glaneurs, para refletir sobre a persistência nas sociedades modernas dos respigadores. Ao mesmo tempo, munida de uma pequena câmera digital, ela documenta a si mesma – mais uma vez um diário íntimo – em seu processo de documentação dos respigadores. O mesmo processo se repete no recente Visages, villages. Agnès Varda considera a si mesma uma “respigadora”. Para ela, a arte seria também respigar sobras. Respigar – ou recolher – aspectos deixados de lado pela observação ordinária da vida, revelando, a partir deles, uma essência transcendente de outra forma invisível. Varda declara-se uma “recuperadora” das imagens que os outros não querem ver nem fazer e que, portanto, deixam para trás. Belíssimos visualmente, os filmes de Varda são também o testemunho de uma liberdade política e moral absoluta. Obras como Saudações, cubanos! (uma celebração da revolução feita na primeira hora, em 1963), o antibelicista episódio de Longe do Vietnã (realização coletiva) e a anti-moralista As duas faces da felicidade falam por si mesmas. Casada com Jacques Demy até a morte do realizador de Os guarda-chuvas do amor em 1990, dedicaria a seu companheiro três filmes, reafirmando que, para ela, a vida e a arte são as duas faces de uma mesma moeda.

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VERSO&PROSA

Festa das letras Feira do Livro chega à 35ª edição, em junho, reverenciando a importância das bibliotecas. POR PEDRO BRANDT

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Complexo Cultural da República, que compreende o Museu da República e a Biblioteca Nacional, abrigará entre 6 e 16 de junho um dos mais tradicionais e longevos eventos brasilienses. Em sua 35ª edição, a Feira do Livro de Brasília reunirá dezenas de autores do Distrito Federal, convidados nacionais e internacionais, livrarias e editoras, promovendo ainda debates, exposições e oficinas, entre outras atividades. Este ano, o tema da FeLiB é “Biblioteca – Espaço do prazer e do aprender”. “A biblioteca transcende a guarda e o empréstimo de livros, é um ambiente dinâmico, de aprendizado, e que precisa ser ocupado com atividades culturais para alcançar seu potencial junto à comunidade”, defende o escritor Mauricio Melo Júnior, curador de literatura da feira em 2019. Seguindo esse raciocínio, foi escolhida como principal homenageada do evento a bibliotecária Maria da Conceição Moreira Salles (in memoriam), que durante anos esteve à frente da programação da Biblioteca Demonstrativa de Brasília (BDB), atualmente batizada com seu nome, onde produziu, entre outras tantas ações, exposições, saraus, palestras, apresentações musicais e clubes do livro. Entre os convidados está Joselia Aguiar, recentemente nomeada para dirigir a Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo. Também marcarão presença na feira nomes como Arnaldo Antunes, Ignácio

de Loyola Brandão, Ana Miranda, Mary Del Priore, Geovani Martins, Stella Maris Rezende, Alberto Mussa, Marcelino Freire, Luiz Antonio de Assis Brasil, Paula Pimenta, Clôdo Ferreira e Tino Freitas. Entre os autores internacionais estarão o angolano José Eduardo Agualusa e a portuguesa Mafalda Milhões. A lista de homenageados também conta com o poeta cearense Mailson Furtado, ganhador, em 2018, do prêmio Jabuti (a maior láurea literária nacional) na categoria livro do ano, por À cidade; com o brasiliense João Doederlein, o AKAPOETA, jovem autor conhecido a partir de poemas publicados na internet, reunidos em O livro dos ressignificados; e o artista plástico e escritor André Cerino. “Além de ilustrador e pintor, o André é autor de livros infantis e compositor. A identidade visual da feira está sendo feita por ele”, detalha Mauricio Melo Júnior. “Mailson e João são representantes da poesia contemporânea brasileira e teremos um debate com sua participação ao lado de veteranos como Fabrício Carpinejar e Nicolas Behr”, adianta o curador. Realizada pela Câmara do Livro do Distrito Federal e pelo Instituto Latinoamerica, a 35ª edição da FeLiB terá 119 estandes disponíveis para ocupação de livrarias e editoras, o que garante pluralidade de títulos e boas ofertas. 35ª Feira do Livro de Brasília (Felib)

De 6 a 16/6, no Complexo Cultural da República. De 2ª a 6ª feira, das 9 às 22h; sábado e domingo, das 10 às 23h.

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CRÔNICADACONCEIÇÃO

Crônica da

Conceição

CONCEIÇÃO FREITAS

conceicaofreitas50@gmail.com

Mãe, mais que uma

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ãe talvez seja um lugar idealizado que existe para nos tranquilizar a cada assombro diante da vida. Mãe pode ser pai, pai pode ser mãe, e não poucas vezes eles se alternam na oferta do colo que os filhos nunca deixam de buscar. É um substantivo LGBT, pode surgir nas mais variadas combinações. São muitas as mães: mãe-de-santo, mãe-do-rio , mãe-de-família, mãe-do-fogo, mãe-d’água, mãe-caridosa, mãe de Deus, mãe de aluguel, mãe preta. Mãe-de-santo materniza em religiões de matriz africana. Mãe-de-família é uma margarida de flores muito pequenas e coloridas. Mãe-do-fogo é uma madeira que, incendiada, sustenta o fogo por vários dias. Mãe-d’água é um mito indígena brasileiro, é também um dos epítetos de Iemanjá e é apelido de quem chora muito. Mãe-do-corpo é o nome que o Brasil profundo e antigo dá ao movimento do bebê dentro do corpo da mãe. Como se uma entidade movesse a vida que se forma no útero. Tive muitas mães – amigas-mães, amigos-mães, professores-mães, mães-de-amigas-mãe, chefes-mãe, médicos-mãe, psicanalista-mãe. Todos quantos me socorreram na aflição acenderam em mim um sentimento filial, do mes-

mo modo que às vezes tenho vontade de pôr no colo os aflitos que me comovem. A maternidade é um estado, não é um sujeito. A maternidade nem sempre se revela no ato de gestar e parir um filho. Há mulheres que pariram bebês e não foram mães, seja lá por quais razões – não me cabe julgar. Tem mãe que é tão mãe que faz mal aos filhos. Não os deixam crescer, querem-nos umbilicalmente entrelaçados a ela por toda a vida. Tem mãe que precisa de tempo, de férias, de não ser mãe para depois voltar a sê-lo. Ainda mais depois que a maternidade passou a ser apenas um dos muitos papéis de uma mulher. Mãe também não é a mesma coisa sempre. Mãe de bebê é de um jeito; mãe de criança maior é de outro; mãe de adolescente tem de se virar pra continuar sendo mãe sem perder o juízo; mãe de adulto é menos mãe – é uma coisa que ainda estou aprendendo a ser. Mãe não é amiga, no sentido comum que se dá à amizade. Mãe é mãe, amiga é amiga, embora em alguns momentos as duas possam co-existir no mesmo corpo. Sem nunca se esquecer de que para o filho (ou a filha) a mãe é uma instância mágica. Nenhum outro lugar formulado pelos humanos é tão

complexo e tão mitificado. Mães podem ser muito perigosas. Elas sabem o poder que têm sobre o filho. E esse poder, não poucas vezes, pode ser nefasto. Não existe mãe perfeita – tão humanas, somos. E até a mais supostamente imperfeita das mães pode ser uma mãe e tanto. Faz alguns anos, acompanhei os movimentos de uma moradora de rua que vivia na Rodoviária com um bebê de colo. O menino era gorducho, bochechudo e vivia limpinho e cheiroso. Até as educadoras de rua se surpreendiam com os cuidados que aquela mãe destinava ao filho. Na minha adolescência, tive uma amiga cuja mãe era alcoólatra. Moravam num cubículo fétido. Mas aquela senhora negra, de cabelos brancos, unhas parecendo garras e dentes pobres, cuidava da filha adotiva como quem cuida de uma princesa. Ao modo dela, com os recursos dela. Deixava sempre um prato de comida dentro do forno para quando a filha chegasse da rua. E sempre tinha um trocado para o lanche da minha amiga. No que me cabe, aprendo com meu filho a ser mãe. Há quase 30 anos, ele me ensina a ser a mãe dele, de modo que siga em frente, sem as perturbações que só uma mãe é capaz de provocar num filho.


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