Ano XVIII โ ข nยบ 290 Junho de 2019
R$ 5,90
EMPOUCASPALAVRAS
Como boa cerveja combina com boa música, convidamos os leitores a apreciarem sem moderação a seleção musical eclética de nosso colaborador Heitor Menezes. Vai desde um concerto da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro dedicada à genialidade da dupla George & Ira Gershwin, passando por parcerias musicais inspiradas entre Lenine, Zeca Baleiro e Gabriel O Pensador – ou então entre Paralamas do Sucesso e Barão Vermelho – chegando até a versatilidade da eterna musa da Tropicália, Gal Gosta (página 22). Luz e sombra, humor e terror, doçura e estranheza são os opostos sempre presentes nas criações do cineasta Tim Burton, que enxerga o mundo de forma instigante. Os monstros que permeiam a arte do diretor dos filmes Eduardo mãos de tesoura e O estranho mundo de Jack estão hospedados até 11 de agosto no CCBB, onde está montada a exposição inédita A beleza sombria dos monstros: dez anos de A arte de Tim Burton. Trata-se de uma homenagem aos dez anos de lançamento do livro que condensa o mundo imaginário de seus personagens, todos fora dos padrões sociais, mas sempre mostrando muita afetividade e doçura em suas estranhezas (página 28). Também do cinema vem nosso último destaque desta edição: a mostra De Niro, que estará entre 25 de junho e 7 de julho no cinema do CCBB. Como diz nosso crítico de cinema, Sérgio Moriconi, “Robert de Niro é mais do que um ator”. Quando virou ator fetiche dos anos 70, “acabou ocupando o lugar de Marlon Brando e James Dean como o personagem que simbolizaria as angústias do jovem adulto americano após a Guerra do Vietnã”. Ótima chance, então, de ver – ou rever – os clássicos Touro indomável, O poderoso chefão II, Era uma vez na América e muitos outros (página 32). Boa leitura e até julho. Maria Teresa Fernandes
Divulgação
Se é verdade, como diz um antigo provérbio celta, que pessoas boas bebem boas cervejas, então podemos facilmente inferir que o número desses seres especiais está aumentando a olhos vistos ultimamente, tal é o crescimento do mercado das boas cervejas artesanais. Algo em torno de duas novas fábricas de cerveja a cada três dias, e a incrível marca de mil cervejarias no país. Para nossa alegria, algumas delas estão aqui em Brasília, razão pela qual dedicamos a capa desta edição à maior de todas, a Hop Capital Beer, uma cervejaria que tem um bar, e não o contrário. Com produção atual de 20 mil litros por mês, esse verdadeiro templo da cerveja abre de quarta a sábado e tem capacidade para 450 amantes da bebida (página 4).
32 luzcâmeraação Robert de Niro é o protagonista de 12 filmes que serão exibidos de 25 de junho a 7 de julho no cinema do CCBB, entre eles Jackie Brown, dirigido por Quentin Tarantino.
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Fernando Pires
ÁGUANABOCA
POR VICTOR CRUZEIRO
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ste é um texto sobre uma cervejaria. Portanto, é um texto sobre cerveja. E muita, muita coisa pode ser dita sobre cerveja. Considerando que vivemos num país que abre duas novas fábricas de cerveja a cada três dias, que já atingiu a marca de mil cervejarias, em que amadores e profissionais, entusiastas e empresários buscam fatias cada vez maiores do mercado, é provável que muita coisa já tenha sido dita, e essas linhas possam soar como mais do mesmo. Mas não vão. Para falar sobre cerveja, no mundo das cervejas artesanais, em que rótulos e receitas tomam cada vez mais as gôndolas e reinventam o imaginário e o paladar dos consumidores, não basta falar da história da cerveja. Os registros da China, Mesopotâmia, Egito e Europa são fato consumado para qualquer um que propõe um brinde nesse mundo cervejeiro. É preciso falar sobre as pessoas que povoam esse mundo. Sobre aqueles que estudam, concebem e tocam brewpubs e taprooms. Este texto, portanto, é sobre algumas dessas pessoas.
Ronaldo Morado é um empresário com extensa carreira em vários segmentos, mas que se distinguiu após a publicação da Larousse da cerveja e a presidência da Cervejaria Colorado, quando passou de uma marca nacional para um rótulo reconhecido em sete países. Ex-colunista da Roteiro, onde durante dois anos escreveu sobre o mundo da cerveja, ele tem a seu lado Gil Guimarães, um dos grandes nomes da gastronomia da capital, e, por fim, mas não menos importante, o mestre cervejeiro Paulo César Borges, o PC, a mente por trás das fórmulas e pela configuração desse novo empreendimento que não é nada menos que um templo de adoração à cerveja (e também uma excelente cervejaria!): a Hop. Com o nome completo de Hop Capital Beer, a casa já revela a que veio logo no nome (Hop é o nome em inglês do lúpulo, uma das bases da cerveja). Localizada no SIA (Trecho 17), a Hop é um brewpub, uma cervejaria que tem um bar, e não o contrário. Afastada das zonas residenciais, ela oferece uma experiência singular que harmoniza as cervejas únicas – porque somente existem ali – com
Fernando Pires
Um templo de adoração à cerveja
Raimundo Sampaio
weissbier – cerveja de trigo típica alemã – turva com leve dulçor; a BSB Red Ale (5,9%), uma Irish Red Ale com traços de malte e caramelo, balanceada e belamente rubra; a Grand Canyon (8,1%), uma Double IPA aromática e intensa; a Colônia (4,8%), uma Kolsch um pouco ácida, refrescante e maltada; a Flor de Hibisco (4,9%), uma Witbier que leva a flor, além de coentro e casca de laranja, com aroma e sabor inesquecíveis – além das já mencionadas West Coast (5,8%) e Coronado Stout (6,0%). A menina dos olhos da Hop neste momento é a Malvacea, derivada de uma witbier já existente na casa, a Flor do Hibisco (flor que pertence à família Malvacea sp). A partir de uma releitura, a Malvacea acentua algumas qualidades sensoriais e é apresentada numa nova roupagem – uma garrafa de espumante selada com uma rolha e ornamentada por um rótulo que projeta a personalidade da cerveja para além do sabor e do aroma, contendo um
Hop Capital Beer
SIA, Trecho 17, Rua 3, Lote 160 (3234.1720) 4ª e 5ª feira, das 18 às 24h; 6ª, das 17 à 1h; sábado, das 12 à 1h. Venda de garrafas na fábrica de 2ª a 6ª feira, das 8 às 16h. Raimundo Sampaio
um ambiente único – pois só é possível ali. Aberto de quarta a sábado, o brewpub comporta 450 pessoas e, considerando a rotatividade, chega a receber cerca 600 em um único dia no fim de semana. Logo na entrada, a visão é tomada pelos grandes fermentadores que se erguem para o alto como grandes ídolos prateados, chamando aquele que os contempla a experimentar os frutos criados ali mesmo. Toda a elaboração das cervejas, dos sabores aos rótulos, passa pela mão de PC, que articula processos complexos e delicados que criam produtos ímpares, como a West Coast, uma IPA cuja combinação de lúpulos resultou num sabor e aroma de maracujá, e a Coronado Stout, uma cerveja escura, cremosa e turva, com toques de café e chocolate, oriundos dos maltes torrados. Com uma produção atual de 20 mil litros por mês (mas com capacidade para produzir 30 mil), a Hop é líder em Brasília, destacando-se com facilidade de suas concorrentes locais, como a Cruls e a Entrequadras, e mesmo de cervejarias não-candangas – mas consolidadas na capital – como a Corina e a Stadt. Num breve resumo, a seara da Hop contempla a Califórnia (teor alcoólico de 4,7%), uma American Lager com um toque de amargor; a República Checa (4,8%), uma Premium Pilsner inspirada nas cervejas checas; a Tropical (4,2%), uma Session IPA leve com notas cítricas; a East Coast (5,9%), uma White IPA de sabor forte e maltado; a Hop Juice (6,3%), que é literalmente um suco de lúpulo, uma New England IPA com aroma e sabor extremamente acentuados; a Trigo do Cerrado (5,2%), uma Hefen-
QR Code que leva a uma playlist musical desenvolvida para acompanhá-la. E, mais ainda, a Hop produz cervejas personalizadas, como o lote comemorativo feito para os 20 anos da pizzaria Baco, do chef Gil Guimarães, um dos sócios. Apesar de ser uma prática comum no mercado das pequenas cervejarias, conforme explica Ronaldo Morado, essa personalização aumenta ainda mais a presença da marca pela cidade. Inclusive, para aqueles que pretendem procurar os rótulos da Hop (sem ter de ir à cervejaria), aí vai uma boa notícia: a presença da marca no comércio brasiliense aumentou em 30% nos últimos meses, alcançando 125 pontos de venda, que vão desde bares e restaurantes, como o Rapport (201 Sul) e o Barkowski (408 Norte), a grandes redes de supermercados e distribuidoras, como o Dona de Casa e a Super Adega. Em suma, a Hop é uma cervejaria de cervejeiros e por cervejeiros – mas para todos. Os atendentes são connaisseurs, prontos para guiar o paladar neófito ou simplesmente desafiador. A simplicidade dos rótulos e do menu (composto por sanduíches e pastéis que não são maiores que a cerveja), assim como a decoração igualmente simples, estão ali para provar, a cada instante, que não se trata de mais um lugar para entrar, beber cerveja e conversar, mas de um lugar em que a cerveja convida a entrar e conversar um pouco. Um misto de templo e escola, um encontro de paixão e oportunidade. Um bom lugar para se conhecer.
Paulo César Borges e Ronaldo Morado.
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Mais que um bar POR VICTOR CRUZEIRO
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á, na cidade de Nova Orleans, nos Estados Unidos, bem às margens do Rio Mississipi, um pequeno bar de queijos e vinhos chamado Bacchanal. Fundado em 2002 pelo amante de vinhos Chris Rudge, seria um lugar onde ele pudesse receber amigos e tomar bons vinhos, como praticamente todo wine bar. No entanto, o que tornou o Bacchanal tão famoso não foram seus bons vinhos, mas sua tragédia. Em 2005, o furacão Katrina destruiu o bar, e Rudge decidiu criar algo a partir disso. Uma vez por semana, aos domingos, as ruínas do Bacchanal recebiam chefs que também perderam tudo, e esses eventos ajudaram não apenas os profissionais, mas toda a comunidade, que voltou a acreditar na sua reconstrução.
Essa história não é um elogio pessoal ao Bacchanal ou a Chris Rudge (ainda que este tenha tragicamente falecido em 2015). Antes, é um louvor às casas que vão na contramão da gentrificação, esse fenômeno global em que construções abandonadas e bairros depauperados são invadidos por restaurantes exclusivos, que utilizam a ambientação rústica para construir uma atmosfera única revertida em lucros exorbitantes para os donos. O Bacchanal provou que não era assim. Provou que era possível fazer diferente. E foi com essa inspiração que, há alguns anos, uma brasiliense conheceu o wine bar de Nova Orleans e trouxe a ideia para a capital: o Hidden. O Hidden é um bar de vinhos temporário, que iniciou sua terceira edição no dia 30 de maio e segue até o fim de outubro. No entanto, mais do que só
servir vinhos, ele é uma tentativa de recuperar espaços da cidade, valorizar produtos e produtores locais, empregar e capacitar pessoas e, claro, oferecer bons vinhos e boa comida para quem quiser. Filho da produtora cultural Mari Braga, o Hidden nasceu com a proposta de instalar algo novo numa cidade que tem uma resistência natural à perenidade (um dos sintomas que levam à gentrificação). Contudo, longe de se aproveitar disso, o Hidden alimenta a cidade com isso, de diversas formas: Esteticamente, ele abraça locais relegados ou desconhecidos e, por meio de ideias arquitetônicas novas e breves, ressignifica momentaneamente aquele espaço. A primeira edição, em 2017, foi na passagem subterrânea do Pier 21; em 2018, no antigo bicicletário do Parque da Cidade; e, neste ano, na Ilha do Par-
Fotos: Equipe Bloco Pictures
que da Cidade, no estacionamento 10. Culturalmente, o Hidden apresenta uma proposta mutante, que se adapta ao local e à época, mas mantendo a essência original de um “minimalismo sofisticado”. Sem abrir mão da proposta original de um bar de vinhos e frios com autoatendimento, Mari criou um espaço que vai se adaptando ao público mais cativo do local, cujas preferências musicais vão do jazz ao rock dos anos 70, passando pelo soul e funk, apresentadas por uma das três atrações de cada noite (cuidadosamente curadas por Mari para todos os quatro meses de evento). Economicamente, o Hidden é uma joia rara. Com a proposta da exclusividade, o bar poderia se fartar em opções estrangeiras ou mesmo convencionais. Ao contrário, Mari e sua equipe esmeraram-se para encontrar marcas, produtores e distribuidores locais, garantindo, do vinho aos patês, uma rotatividade de produtos brasilienses que fazem, essencialmente, a economia girar. Mais ainda, nesta edição o Hidden conta com um espaço para 19 chefs locais – fora do radar dos grandes nomes do nosso panteão – se apresentarem durante as noites, com dois pratos eleitos por um concurso. Socialmente, o Hidden vem crescendo dentro e fora. Da centena de visitantes que a primeira edição recebia até as 450 que a Ilha do Parque comporta hoje, o bar vem conquistando um público cada vez maior (no sábado, dia 8, mais de 700 pessoas!), o que demandou mais contratações (52 diretas e mais de 200 indiretas) e a especialização de seus funcionários, sem distinção. A entrada também tem seu quinhão social, sendo de R$ 30, para o couvert, ou de uma calça jeans para a iniciativa Banho do Bem (em apenas duas semanas, foram recebidas mais de 400 calças). Felizmente, não foi preciso um furacão devastador para que essa ideia surgisse, ainda que tenhamos nossas próprias formas de devastação por aqui. E é nessas ruínas, escondidas, que estão algumas boas ideias, algumas novas possibilidades e a nossa chance de reinvenção. Não há por que não tentar. Hidden
De quinta a sábado, a partir das 18h, até o fim do período da seca, na ilha do Parque da Cidade (estacionamento 10, local do antigo pesque-pague).
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Doces prazeres POR LÚCIA LEÃO FOTOS SÉRGIO AMARAL
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udo começou há dez anos com uma latinha de leite condensado. Carol Santos era funcionária do Cespe – o hoje Cebraspe – e trabalhava no prédio da instituição, que funcionava num local isolado dentro da UnB. Nada por perto quando batia aquela fome no meio da tarde, aquela vontade de um lanchinho mais gostoso. “Um dia, fiz uns brigadeiros para o meu lanche e todo mundo voou em cima. Naquela noite comprei duas latinhas de leite condensado e no dia seguinte não deu pra quem quis. Aí não parei mais”. E assim, de latinha em latinha, Carol foi criando uma cada vez maior e mais entusiasmada clientela, identificou nos doces seu caminho e fez apostas arriscadas para trilhá-lo: largou o emprego no Cespe, abandonou o recém-iniciado curso de Direito, enfrentou as reações da família (o pai Sérgio, que no começo foi
um crítico feroz, hoje é o primeiro a aplaudir a garra e o sucesso da filha) e até se afastou das companheiras de samba (ela é percussionista) com as quais se apresentava pela cidade nos grupos 4X4 e Arte Mulher. Em 2012, as “carolices”, que era como a família chamava os quitutes preparados por Carol para as festinhas domésticas, viraram marca. A confeiteira-empreendedora ampliou seu cardápio e, num trabalho quase solitário de formiguinha, passou a receber mais e mais encomendas até ganhar reconhecimento não apenas na cidade, mas para além dos limites de Brasília: no último mês de abril participou e venceu um dos episódios do reality show Que seja doce, do Canal GNT, executando, entre outras receitas, a Torta Regina, uma criação dos irmãos Di Cunto, donos da mais antiga confeitaria paulistana, que foi coqueluche nas festas chiques da cidade nas décadas de 1960-70. Carol conta que nem sabia da existência da Torta Regina até ouvir sua des-
crição pela memória afetiva de uma espectadora do programa e encarar o desafio de materializá-la. “É uma receita muito elaborada, de pão de ló recheado com creme pâtisserie, coberto de carolinas recheadas com creme chantily e finalizado com fios de caramelo. As pessoas ali que conheciam a torta ficaram encantadas com o resultado. Foi emocionante, porque as memórias despertadas pelo paladar são mesmo muito fortes”. Agora, a Torta Regina (R$ 145 o quilo) está no cardápio da Carolices ao lado de clássicos como a Floresta Negra, tortas de nozes, limão, muitas variedades de chocolate e frutas vermelhas e até o trivial bolo de cenoura (preços entre R$ 75 e R$ 95 o quilo). E, é claro, Carol segue preparando seus brigadeiros nas versões tradicionais e especiais (entre R$ 150 e R$ 170 o cento), doces finos tradicionais e algumas criações próprias, como o Romeu e Julieta, um delicioso brigadeiro com queijo cremoso envolvido em queijo parmesão e enfeitado com um pingo de goiabada.
Carol acaba de abrir uma loja em frente à sua oficina, no Grande Colorado, onde serve seus produtos e um generoso café colonial nos finais de semana
(R$ 35,90 para uma pessoa e R$ 58,90 para duas). Aos 35 anos, dividindo o tempo entre o negócio e os cuidados com o filho Jorge Otávio, de três anos,
Carol Santos é um tipo raro de doce empreendedora que vale a pena conhecer. Carolices
SH, Grande Colorado, Condomínio Jardim Europa II, Conjunto B (98332.4379)
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Recanto italiano POR VILANY KEHRLE
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epois de dois meses funcionando de maneira informal, o Tres Bistrô & Bar abriu suas portas, oficialmente, no segundo sábado de maio. A proprietária Juliana Camargo diz que o tempo de informalidade serviu para definir o melhor horário e a melhor forma de funcionamento da casa. Instalado no Bloco D da 405 Norte, o bistrô investiu num cardápio marcado pela culinária italiana. Os tradicionais spaghetti, fettuccini, ravióli, lasanha e nhoque são feitos com massas frescas artesanais, elaboradas pelas mãos de Juliana, uma jovem de 27 anos descendente de italianos que, pela primeira vez, assume a responsabilidade de ser proprietária de um restaurante. Juliana conta que, incentivada pela mãe, começou a cozinhar muito jovem. Um dia descobriu que não estava feliz ao cursar Ciências Políticas na UnB. Para liberar o estresse, resolveu aperfeiçoar o que ela realmente gostava de fazer. Começou então a criar tortas, bolos de festa, tarteletes e docinhos que passou a vender
pela Dark Side, confeitaria que ela criou para entrega por encomenda. Fechou o curso na universidade, foi estudar gastronomia no IESB e tudo começou a fluir. Depois de passagens pela Hostaria dei Sapori (antiga cantina da 212 Sul), pelo espaço gourmet NutriChef, no Lago Norte, e pelo Mi Petit, que produz comida infantil congelada, a empresária chegou ao CaFê, empresa para a qual começou a fornecer torta de limão e onde depois assumiu o posto de chef de cozinha. Agora, o Tres Bistrô ocupa o espaço onde funcionava o CaFê. Ao elaborar o cardápio, uma das grandes preocupações da empresária foi pensar em pratos voltados para vegetarianos. O risoto de gorgonzola e rapadura (R$ 33) é um dos destaques do menu e há, também, os risotos de limão siciliano (R$ 31) e caprese, com tomate cereja, manteiga, muçarela de búfala e pesto (R$ 33), além do shiitake refogado na manteiga e shoyo (R$ 12). Com opções de massas que variam entre R$ 27 (spaghetti e fettuccini) e R$ 31 (ravióli e lasanha), que podem vir acompanhadas dos molhos de tomate,
pesto e bechamel, há outros tipos de risotos como o de calabresa (R$ 31) e o de filé mignon (R$ 35), duas saladas e entradas como bruschettas (R$ 15) e arancino, tradicional bolinho de risoto recheado com muçarela de búfala, acompanhado de molho tártaro (R$ 17).
Fotos: Carol Melo
Quem deseja saborear um docinho após a refeição tem ao seu dispor as sobremesas tipicamente italianas tiramisù e panna cotta (R$ 16), além do brownie servido com o sorvete da marca brasiliense Vai Bem Gelados (R$ 15). Para acompanhar as massas, o cliente dispõe de alguns drinques preparados com vodka, gim, tequila e rum, sucos, carta de vinhos e os chopes artesanais da
Cruls (300ml/R$12; 500ml/R$16), produzidos em Santa Maria, no Distrito Federal. E aqueles que desejarem provar as delícias do cardápio sem sair de casa podem pedir pelo serviço de delivery, pois o bistrô está cadastrado no iFood. Com um ambiente aconchegante e descontraído, o Tres Bistrô & Bar está aberto à realização de eventos e, também, vende molhos caseiros, como o de
azeite e vinagre aromatizados. Outra novidade é que, ao lado do restaurante, funciona uma pequena loja, administrada pela mãe de Juliana, onde é possível adquirir alguns produtos como bijouterias, canecas e agendas. Tres Bistrô & Bar
405 Norte, Bloco D (99909.4224) De terça a sábado, das 18h à meia-noite.
Você já experimentou o autêntico gelato italiano?
cremeriaitaliana.com.br /cremeriaitalianabsb 206 Sul 11
PICADINHO
TERESA MELLO
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picadinho.roteiro@gmail.com
Bolo de pipoca Quando morava em Taguatinga, Talita Borges ia ao Plano só para frequentar as poucas cafeterias existentes. A paixão pelos grãos especiais ficou forte e ela trocou a carreira de veterinária pela de empresária e barista, com total apoio da família e do marido, o agrônomo Leandro Mariani. Em junho, comemora os quatro meses do Jacket Café (106 Sul) com menu de inverno que inclui sopas de tomate assado e de abóbora com gorgonzola, além de tábua de docinhos, como bolo de milho e pé-de-moça (mais macio que o de moleque). O encanto do local − com 38 lugares e projeto do Estúdio Mova − está na tranquilidade do jardim, nos dez funcionários bem treinados, na jaqueta fixada na parede. “É uma peça aconchegante, que aquece e dá confiança a quem usa, assim como o café”, compara a mineira de 32 anos. O cardápio é outro mimo, assinado pela chef Karen Barbosa e com consultoria de Edgard Filho, autor da receita exclusiva do bolo de pipoca (R$ 14 a fatia): “Pedi que ele criasse um bolo que lembrasse cinema, aquela sensação quando os sabores da pipoca salgada e doce começam a se misturar no pote”, conta. É feito com farinhas de pipoca e de trigo, butter cream, caramelo e flor-de-sal. Torrefações de excelência, como a paulista Um Coffee e a brasiliense AHA!, garantem a qualidade da bebida. A casa serve café da manhã de terça a domingo, das 9 às 13h. Funciona de terça a quinta, até as 21h, e de sexta a domingo, até as 20h.
Fusão de culturas no Taypá
Almoço de domingo
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Churrasco marinho, rapadura, tamarindo, lula, polvo, gengibre e quinoa são algumas das estrelas do novo cardápio do peruano Taypá, na QI 17 do Lago Sul. Para comemorar os nove anos da casa, no último dia 10, o chef Marco Espinoza, 39 anos, preparou fusões com referências em algumas culturas: “São produtos regionais, como a rapadura, o tamarindo e a abóbora; sabores do Mediterrâneo, como o ceviche de polvo, e a parrilla”, explica. Para ele, a mudança do menu, com 60% dos pratos renovados, é uma necessidade profissional e também para os clientes. Entre as opções de entrada está o mini-hambúrguer de atum com fois gras e geleia de gengibre; entre os principais, o leitão crocante com arroz de vegetais (R$ 61), o magret de pato com molho de figo, rapadura e vinho com canela; e o camarão com quinoa e ervas. O camarão na brasa e o polvo servem duas pessoas, e a atração doce são os churros com farinha de milho roxo. E mais novidades: em julho, Espinoza e o sócio Renato Carioni inauguram a filial do italiano Così, no Brasília Shopping.
Brinde com espumante orgânico Divulgação
Desde o início de junho o bufê de carnes nobres do Brazólia funciona a partir de meio-dia de domingo. Estão à disposição dos clientes cortes como ancho, paleta de cordeiro, picanha e chorizo, além de dezenas de pratos quentes e saladas. Tudo por R$ 69,90 o quilo e embalado pelo samba do Sete na Roda, grupo há 11 anos na estrada (couvert a R$ 10). “Nossos fornecedores são de qualidade, para que possamos manter o diferencial em relação às carnes”, observa o sócio Hélio Nogueira. Para os pequenos, há serviço de brinquedoteca; para os adultos, o chope de 300ml tem preço promocional de R$ 3,90 das 12 às 16h. Com projeto de Leo Bucar, a casa, aberta há quase um ano, integra o grupo do qual fazem parte o Santa Fé, no Jardim Botânico, e o Basic Lounge, em Águas Claras. Fica perto do Palácio do Buriti (Setor de Garagens e Oficinas Norte, Quadra 3) e abre diariamente.
Faro Comunica
Um dos grandes lançamentos da indústria de vinhos nacional é o espumante orgânico Brut Astral Biodinâmico, recém-apresentado no festival Brinda Brasil, no B Hotel (Eixo Monumental). Com uvas Chardonnay e Pinot Noir, marca os 88 anos da Garibaldi Cooperativa Vinícola, localizada na Serra Gaúcha. Tem coloração amarelo-palha com reflexos esverdeados, aromas com notas de damasco e de amêndoas e um toque de pão tostado. A ficha técnica indica 12% de álcool, 6,15g/l de acidez e 6g/l de açúcar. Recomenda-se apreciar em temperatura em torno de 7ºC. A garrafa de 750ml custa cerca de R$ 80 pela internet e há também suco de uva da mesma linha. O processo da agricultura biodinâmica, que busca a harmonia entre homem e natureza, sem produtos agrotóxicos, e segue as teorias do filósofo croata Rudolf Steiner (1861/1925), chegou ao Brasil na década de 1970.
No bosque do parque Fernando Veller
Ouriço, Baco, Café e um Chêro, Mercadito, Brace Carnes, Stonia, Giraffas e outros estabelecimentos de Brasília estão, até 30 de junho, em charmosas construções no Bosque dos Pinheiros (Estacionamento 4 do Parque da Cidade). É a vila gastronômica do Funn Festival, que abre ao público sexta e sábado, das 9 às 2h, e domingo, até a meia-noite. O chef Thiago Paraíso (Ouriço) preparou, especialmente para a temporada, o Porco Bão (pão chinês no vapor, barriga de porco braseada com goiabada, picles de cebola roxa e aioli). O La Chaumière leva picadinhos de filé ao roquefort, steak au poivre e filé simples, acompanhados de arroz e batata sautée. “A gastronomia e as atrações para toda a família, além dos esportes, são as nossas apostas este ano”, diz o sócio Pedro Henrique Caetano, de 29 anos. O evento, que estreou em maio de 2017, reuniu 5 mil pessoas por dia na arena de shows e 4 mil no complexo em 2018. Ingressos a R$ 10 (meia-entrada, pelo site funnfestival.com.br ou 1kg de alimento). Crianças até 11 anos não pagam.
Parece carne, mas não é “Já parou para pensar que gosto tem o futuro?”. Esse é o teaser do hambúrguer vegetal Futuro Black Beef, recémlançado na unidade da 402 Sul. Com cheiro e textura de carne bovina, é desenvolvido pela Fazenda Futuro com proteínas de ervilha, soja e grão-de-bico. O sanduíche é preparado no pão tipo brioche e leva queijo parmesão e molho de shiitake. Custa R$ 26 e, até o fim do mês, deve chegar às 24 lojas da rede The Black Beef, presente em 16 cidades, e que começou no food truck do chef Deco Sadigursky (foto) em Maceió, em 2014. A parceria com a fazenda responsável pela carne vegetal é comemorada pelo CEO do grupo de hamburguerias, Maurício Coutinho: “Queremos atingir todos os tipos de consumidores para as nossas lojas”. Além da Asa Sul, a empresa está na 302 do Sudoeste e no shopping DF Plaza (EPTG).
Rômulo Juracy
Viagem pelo mundo Para comemorar dois anos de funcionamento, o Contê, da 403 Sul, renova o cardápio com as criações do chef Glecio Almeida. “Pensamos numa viagem gastronômica pelo mundo com toques de contemporaneidade”, explica. Por isso, os nomes fazem referências geográficas, como o Camarão Koh Phi Phi, sugestão de entrada, por R$ 58, servido no coco. Há também queijo brie empanado e croquete suíno com chutney de banana. Nos principais, que tal provar o camarão-rosa na crosta de coco e castanha-de-baru ao molho de queijo emmental e risoto de frutas vermelhas, por R$ 92? Ou, então, o carré suíno com batatas e espaguete de legumes por R$ 58? Quem preferir encontra a versão minimalista do menu, na qual o prato transforma-se em petisco a ser dividido: “São porções pensadas para quem vem acompanhado e quer degustar, descobrir e compartilhar novos sabores”, diz o sócio Gustavo Leal. Na sobremesa, a dica é a Torta do Tio Cacau (R$ 24), em parceria com a Café e um Chêro: sorvete, brigadeiro, Bis, Leite Ninho e calda de chocolate.
Feijoada no hotel Com capacidade para 80 pessoas, o restaurante no pilotis do Intercity Led Hotel (QS 1 de Águas Claras, perto do Taguatinga Shopping) tem a feijoada como carro-chefe aos domingos. O consumidor encontra um bufê de pratos quentes que reúne lombo e costelinha defumados, paio, charque, calabresa, feijão preto e arroz, além dos complementos característicos. É servido das 12 às 15h e sai a R$ 35 por pessoa, sendo que crianças de 6 a 11 anos pagam metade. Inaugurado em março de 2016, o hotel da rede Intercity privilegia o lazer dentro do esquema Led (Life Essencial Design), com piscina climatizada, sauna e academia. O estacionamento é gratuito para os clientes do restaurante.
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Na agenda pra você • 22 de junho: Festival Gastronômico e Cultural. Na Embaixada da Indonésia (SES, Quadra 805, Lote 20). Pratos e drinques típicos, apresentações culturais do Sudeste Asiático. Das 10 às 15h. • 25 de junho: 2º Dia do Vinho. No restaurante Ticiana Werner (201 Sul), em parceria com a importadora Del Maipo. Vinhos, antepastos e jantar (paella, risotos, ravióli, filé-mignon, robalo). Ingressos: R$ 250 por pessoa. Das 19h30 às 23h. • De 28 a 30 de junho: 8º Festival do Japão Brasília. Na Expobrasília, Parque da Cidade. Gastronomia, artesanato, artes marciais. Sexta e sábado, das 10 às 2h; domingo, até as 20h. • 28 e 29 de junho: Arraiá do Santuário. No Santuário São Francisco de Assis (SGAN 915). Comidas, bandas e quadrilhas. Ingressos: R$ 6. A partir das 19h. • 5 e 6 de julho: 7º Arraiá 216 Norte. Com o forró da sanfoneira Dona Gracinha. A partir das 17h.
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GARFADAS&GOLES
As águas podem rolar ou não Quando as cataratas não são do Iguaçu ou de Niágara... nem são cataratas! Essa abertura curta é uma paródia. Lembrança e homenagem. Ao poeta, médico e professor Luiz Fernando do Prado Veppo. Nascido no Quaraí, fez carreira em Santa Maria. Nos anos difíceis dos militares meia-quatro foi mestre para nos guiar com cuidado e parceiro para incendiar, alentar com carinho nossas ilusões sobre um país melhor. A paródia é de um poema dele, curto: “Quando a Lua é um disco, eu jogo/ Quando a Lua é um barco, eu navego/ Quando a Lua não é disco, nem é barco, nem é Lua..!”. Prado Veppo era assim, cuidadoso por ser médico, rebelde por ser poeta. As cataratas entram na história tipo aquelas dicas de receita: ...”uma pitada de sal...”. Depois de três décadas pilotando quatro ou seis bocas de gás para agradar amigas e amigos, não, não sei o tamanho de uma “pitada”. As cataratas em questão são as dos olhos do colunista, removidas por mãos competentes dos doutores abrigados na Clínica Pacini. Salve nossos médicos e JK, também um médico, que abriu a porta. O único alerta veio do anarco-pintor Paulo Andrade, remanescente da tribo Wodstock-Não-Acabou. Disse o guru lisérgico: “Prepare-se para rever coisas que não via há tempos; e talvez não gostar”... Intriga feita! Só vi coisa boa, a começar pela sala de espera, gente muito animada, do rebelde Zé Maria, com a filha Gabriela, a bela, até o pessoal de apoio, chamando de mestres a quem tem mais de três casamentos, detalhe que não contempla o Zé, pacato nesse ramo. ENQUANTO SEU LOBO NÃO VEM, mantenhamos a linha narrativa com dois mestres inesquecíveis: um das Belas Artes, Cláudio Carriconde; e outro, jornalista visceral, professor da nossa turma durante quatro anos, do primeiro ao último dia, Antônio González, o verdadeiro mestre, entre muitos que bem nos ensinaram na primeira turma da Faculdade de Comunicação da velha federal de Santa Maria. CARRICONDE, O “CARRICA”, dono de alma generosa como o
discurso sobre nós: “Gurizada, vocês são bons, tenham calma”. Era tom daqueles mestres que, mesmo sem nos dar aulas, conosco se preocupavam. Afinal, ainda jovens, tinham vivido um ocaso de democracia e o começo de uma noite verde-oliva, feia. Cláudio pintou a baleia no restaurante Moby Dick, um refúgio eleito por nós por três razões: a meia costela assada, com maionese de batata, o cabernet da Granja União e a baleia. Diziam más línguas que ele bebeu boa parte do cetáceo... Intrigas de quem não comia, não bebia e com medo da farda dormia sob a cama. ANTONIO GONZÁLEZ. Difícil até hoje falar do mestre Antoninho, que em quatro anos fundiu três motores de Ford Corcel, saindo ao meio dia de sábado de Porto Alegre para dar aulas às três, quatro da tarde, para os insanos de Santa Maria, a 330 km de distância. Às vezes penso que Antoninho não existiu. Tenho a certeza de tê-lo visto nesses quatro anos. Depois, em Brasília, recebi o mestre e dele fiquei perto os dois dias que passou na capital. Sempre preocupado com a milicada-64, não escondia o orgulho de ver o inquieto aluno dele cheio de cuidados ao tratar com o noticiário fardado. Via o recado dele usado com cuidado na prática. Professor, sem desdouro dos demais, o melhor deles. E incansável: ficou quatro anos conosco. Comíamos sanduíches. E quando tínhamos algum, pagávamos o galeto no restaurante Augusto. Indignado, queria participar da conta. “Estou fazendo minha obrigação e vocês parem de me corromper com tanto carinho”. Até hoje rimos dele com corações transbordantes de saudade. Foi patrono da primeira turma e os milicos-64 que infestavam a universidade não foram na festa. Melhor: falamos mal de todos. O coração dele, indisciplinado, tirou-o de nós. Há quem alegue ciúmes coronários. É possível, tratando-se do Antoninho, um jornalista e professor tão bom que até o próprio coração tinha ciúmes dele. Poeta para fechar chama Chico: “Eu que não creio peço a Deus por minha gente”... Antoninho, por mim, é primeiro na fila.
AS DELÍCIAS DE MINAS PERTINHO DE VOCÊ 14
LUIZ RECENA
lrecena@hotmail.com
Queijos, doces, biscoitos, castanhas, pão de queijo, pimentas, farinhas, polvilho caipira, massa para tapioca, mel, manteiga, cachaças, linguiça, frango e ovos caipira.
Av. Castanheiras, Ed. Ônix Bl. A - Loja 2 - Águas Claras
PÃO&VINHO
De volta da França Cá estamos de volta de mais uma feira de vinhos, a Vinexpo de Bordeaux, e na mala vieram 50 e tantas garrafas. Muitas de amostra para a seleção final do que se importar para a Winemania, e outras para minha coleção pessoal, pois ninguém é de ferro. Conforme prometi, foram muitas e diversas as regiões consagradas com a escolha de alguns bons caldos para uma análise final e provável importação, mas claro que privilegiamos aquelas que já caíram no gosto e na preferência do consumidor brasileiro. E nessas consegui, creio, encontrar produtores e seus vinhos que ainda por aqui não vieram apenas por falta da devida garimpagem, pois são grandes vinhos com bons preços. Na primeira degustação de retorno, juntei os sócios da Winemania e apresentei algumas maravilhas da Provence e muitas de Bordeaux. Foram vários os magníficos rosés, mas os vencedores, com absolutos méritos, que devem ser trazidos em breve, já para o próximo verão, foram dois: O IG Mediterrannée Reve de Sud e o Côtes de Provence Sainte-Victoire Domaine des Hautes Restanques, ambos da safra de 2018. O primeiro mostra uma cor rosa “velho” muito agradável e sensual, com um pouco mais de extração que o comum para os Provence. Extremamente aromático, traz lichia e pêssegos brancos ao olfato e seduz ao primeiro gole, rapidamente. Em boca é muito fresco, com boa acidez e ótimo equilíbrio. Um vinho gastronômico de nariz marcante. O segundo faz parte da nobreza da região, já que os Provence Saint-Victoire são considerados uma categoria acima dos demais. E o vinho não decepcionou. De um rosa muito claro, quase translúcido, apresenta nariz complexo e muito agradável, suave e sensual, com grapefruit, frutas brancas e pétalas de rosas. Na boca é fresco e redondo,
ALEXANDRE FRANCO pao&vinho@agenciaalo.com.br
com ótima acidez gastronômica. Perfeito para grelhados do mar e saladas. Já os vinhos de Bordeaux foram mais de dez e não haveria espaço aqui para comentarmos todos. Na escolha do que trazer, ainda não concluída, aliás, tivemos de nos restringir por grupos de vinhos, tendo em vista os negociant dos mesmos e a necessidade de grupage dos vinhos a serem importados. Assim, dividimos os vinhos degustados em três grupos e escolhemos um deles. Resolvi comentar aqui dois vinhos do grupo escolhido e um dos não escolhidos. O Château du Monastere 2015, de Graves, com medalha de ouro no Salão de Bordeaux, foi um dos grandes achados. Apresenta uma bela cor rubi brilhante e traz aromas de frutas vermelhas e especiarias. Trata-se de um corte típico de Cabernet Sauvignon e Merlot, muito bem trabalhado, de modo a mostrar um palato elegante e redondo, com taninos presentes, mas muito bem domados. Perfeito para acompanhar um entrecôte. Depois, o Chateau Vieux Lavergne 2014, um grand cru de Saint Emillion que justifica seu título. A supremacia da Merlot típica da área é valorizada por um corte com 15% de Cabernet Franc e 15% de Cabernet Sauvignon, criando um vinho de grande qualidade. Premiado pela Decanter em diferentes safras, apresenta cor rubi intensa, com aromas de frutas negras bem maduras, framboesa e cedro e palato com taninos suaves, boca cheia e redonda e um final limpo, claro e muito agradável. Para completar, um vinho de um dos grupos descartados que deixará saudades: o Château Bertrand Braneyre 2007, um Haut Medoc com nariz inesquecível. De cor já terrosa, próprio ao seu bom amadurecimento, os aromas animais desse vinho são fantásticos, com couro, carne e defumado de bacon. Na boca é sedoso e muito gostoso. Ótimo vinho!
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Lúcia Leão
DIÁRIODEVIAGEM
A comida de Lampião soteropolitanos, o destaque, no Uauá, não são as moquecas e os pratos de dendê, típicos da gastronomia da Bahia litorânea. Sua especialidade é a menos incensada, por mais desconhecida, culinária do árido ou semiárido interior nordestino. Ou, como anunciava a primeira campanha publicitária do restaurante, “a comida que alimentou Lampião”. Entre
POR LÚCIA LEÃO
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Lúcia Leão
Arquivo pessoal
A
ndar pelas ruas do Pelourinho – e disso sabe quem já foi a Salvador – é caminhar por uma parte importante da história do Brasil. Cada paralelepípedo da velha cidade, como canta Chico Buarque, conta um tanto da alma do nosso povo, o que a gente costuma chamar de sua “cultura”. As ladeiras do Pelourinho exalam arte e tradição como que saídas das páginas de Jorge Amado, seu mais completo tradutor. Foi numa dessas viagens no tempo, já devidamente calibrados por uma dose do “cravinho” do Terreiro de Jesus (parada obrigatória de quem visita o Pelô!), e costeando cautelosos as ladeiras de piso irregular, que demos com o casarão do Século XIX que abriga o Uauá, com sua comida cheia de sabores e lembranças afetivas do sertão nordestino e com dona Joana Loiola, a criadora do restaurante quarentão que – soubemos então – nos idos do século passado foi ponto de encontros memoráveis da intelectualidade baiana, tendo à frente Calasans Neto, Caribé e o próprio Jorge Amado. Diferente da maioria dos restaurantes
uma garfada e outra do guisado de carneiro – um dos carros-chefes da casa, com muitos legumes e um sabor maravilhoso! – ouvimos esta e outras histórias saborosas de Dona Joana. “Pouco depois de eu abrir o restaurante, me queixei a um amigo publicitário, Oleone Coelho, do fraco movimento. Aí ele bolou esse slogan – ‘a comida que ali-
Dona Joana Loiola no dia da inauguração do Uauá no Pelourinho e hoje, com a filha Maria das Graças.
Hoje, aos 86 anos, dona Joana vai pouco ao Uauá, cujo comando operacional está entregue a Maria das Graças Loiola, uma das quatro filhas. Quando isso acontece, é uma festa para toda a equipe da casa, que a cerca de abraços e pedidos de benção que tivemos a sorte de testemunhar. “Eu assumi a administração do restaurante simplesmente porque era, na família, a que estava mais disponível, mas procuro fazer tudo exatamente como se fosse a minha mãe. O que não é difícil, porque ela deixou uma equipe de pessoas muito bem treinadas e comprometidas. A maioria dos funcionários está aqui desde o tempo de Itapuã”,
conta Maria das Graças. Pra não dizer que não deu um toque pessoal, Maria das Graças acrescentou novos recheios ao bolinho de macaxeira e introduziu algumas geleias caseiras – sua especialidade na cozinha – às opções de sobremesa. Depois de muita conversa regada a caipirinha de cajá e bolinhos de macaxeira (R$28), nos refestelamos com o guisado de carneiro (R$ 95, para duas pessoas) e a carne de sol à Calasans Neto, homenagem que dona Joana faz no cardápio ao velho amigo pintor (R$ 85, para duas pessoas). Como é bom saborear a cultura brasileira!
Fotos: Arquivo pessoal
mentou Lampião’ – e me convenceu a fazer uma campanha no jornal. Eu achei aquilo muito estranho, afinal Lampião foi um bandido. Mas, como ele prometeu me devolver o dinheiro dos anúncios se a campanha não desse certo, eu concordei. E não é que deu? De repente a casa estava lotada, era um sucesso estrondoso!”. O Uauá foi criado em 1982 em Itapuã, à época um bairro isolado e de difícil acesso. O nome, assim como toda a inspiração do negócio a que dona Joana se lançava sem nenhuma experiência no ramo da gastronomia, vinha de suas origens na fazenda Queimada dos Loiolas, no município de Uauá, onde começou a saga de Antônio Conselheiro. Foi o primeiro, em Salvador, a oferecer a tradicional comida sertaneja, com guisado de bode, buchada, jacuba de vaqueiro – uma farofa molhada assim chamada porque não vai ao fogo e por isso alimentava os vaqueiros em suas jornadas conduzindo rebanhos –, carne de sol, baião de dois, purê de macaxeira... Com essa comida e uma empatia pessoal incomparável, aliadas a bons amigos e um animado trio de forró, logo o lugar conquistou uma extensa clientela, fiel e diferenciada. “O Calasans Neto, nosso amigo, fez a capa do primeiro cardápio e levou sua turma para o Uauá: o Jorge Amado, a Zélia Gattai e o Caribé, entre outros de um grupo muito animado, eram assíduos”. Quando foi lançado o projeto de revitalização do Pelourinho, em 1992, o Uauá foi um dos primeiros restaurantes convidados a ocupar um dos casarões restaurados no Centro Histórico, recém-içado à condição de Patrimônio Cultural da Humanidade. “Convidaram os principais restaurantes da cidade para ocupar os casarões restaurados e eu fiquei muito feliz de estar entre eles. Era uma grande honra. No começo tudo foram flores, mas depois começaram a aparecer os problemas, como a burocracia para se fazer a manutenção em imóvel tombado, a dificuldade de acesso pela proibição de circulação de carro particular... só podem passar por aqui táxis. Coisas como essas, além da diminuição do movimento de moradores da cidade – os turistas continuam vindo, afinal é um dos conjuntos arquitetônicos mais importantes e belos do Brasil e talvez do mundo! – levou ao fechamento da maior parte dos restaurantes pioneiros. Somos dos poucos que resistem”.
Jorge Amado e Zélia Gattai frequentavam o Uauá junto com o pintor Calasans Neto (na foto ao lado).
O Uauá, o pintor e Itapuã Calasans Neto, o pintor baiano, tinha especial atração por Itapuã. Fez vários quadros da praia que, nos anos 80, era ainda pouco visitada. Em uma dessas suas andanças, adentrou por acaso no restaurante Uauá e conheceu dona Joana e sua culinária sertaneja. Ficou tão encantado que se ofereceu para ilustrar o cardápio e trazer amigos. Levou Jorge Amado e Zélia Gatai, Caribé e outros nomes de porte, transformando o lugar em ponto de encontro de intelectuais e artistas baianos. Costumava levar também visitantes ilustres, até mesmo estrangeiros, para conhecer “a comida que alimentou Lampião”, embora soubesse a história que havia por trás anúncio. Tornou-se não só freguês habitual como amigo de dona Joana e continuou a frequentar o Uauá mesmo quando o restaurante foi transferido para o Pelourinho. Sempre mantendo fidelidade à carne de sol, seu acompanhamento predileto, que figura com seu nome no cardápio (Vicente Sá). 17
Silmara Ciuffa
DIA&NOITE
titãsacústico Lançado em 1997, o projeto Titãs Acústico MTV foi o mais famoso de todos os Acústicos MTV, um fenômeno com mais de dois milhões de cópias vendidas, ganhador de discos de ouro, platina e diamante. Dia 24 de agosto, às 21h, Branco Mello, Sérgio Britto e Tony Bellotto estarão no Centro de Convenções Ulysses Guimarães para celebrar os 22 anos de um show afetivo e despojado, em que os três – munidos apenas de violões, piano, guitarra acústica e contrabaixo – recriam canções do Titãs Acústico MTV e acrescentam outras pérolas de seu repertório, como Epitáfio, Isso, Enquanto houver sol, Porque eu sei que é amor e Toda cor. Esse show ainda contará com as participações especiais de Mário Fabre e Beto Lee. Ingressos entre R$ 70 e R$ 180, à venda no Brasília Shopping, no Conjunto Nacional, no Pátio Brasil e em www.bilheteriadigital.com.br.
Diego Bresani
ocomavemaí Ney Matogrosso, Maria Gadú, BaianaSystem, Hamilton de Holanda Quarteto, Scalene, Odair José, Pedro Luís e muitos outros artistas e grupos musicais já confirmaram presença na terceira edição do Festival CoMA, que ocupará o gramado da Funarte entre 2 e 4 de agosto. Lançada em 2017, a Convenção de Música e Arte tem como foco reforçar Brasília como grande produtora cultural. À tradicional festa de abertura, na sexta-feira, segue-se intensa programação de mais de 50 shows divididos entre Planetário, Clube de Choro e pelo gramado da Funarte, além de uma conferência com debates sobre produção cultural, artes, games e outros temas ligados a música e are. Os ingressos custam entre R$ 25 e R$ 100 e estão à venda em http://bit.ly/coma2019.
Gaita de fole, tambores, naipe de apitos, agogôs, tamborim, reco-reco, claves de madeira e outros instrumentos, num total de 23, compõem a Debanda, máquina instrumental inventada e interpretada pelo multi-instrumentista César Lignelli. Radicado em Brasília, o também ator e compositor está percorrendo as regiões administrativas do DF com seu espetáculo cantado Debandando nas feiras. Trata-se de uma performance teatral que fala de amor, música, conquista e perda com um toque de drama, mas sem perder o humor. César Lignelli é um menestrel moderno que viaja num motorhome com todos os equipamentos necessários para o espetáculo. A estreia foi dia 9, em Sobradinho, seguindo-se a Feira do Guará (dia 16) e, a partir de agora, as feiras do Cruzeiro (dia 23), Núcleo Bandeirante (dia 30), Taguatinga (7 de julho), Torre de TV (14 de julho), Samambaia (21 de julho) e São Sebastião (28 de julho). Sempre às 11h, com entrada franca.
Esse é o nome do mais novo espetáculo da Oficina Flamenca, que se apresenta dia 28 de junho, às 20h30, no Teatro dos Bancários. O título é uma alusão à expressão tradicionalmente usada nos tablados andaluzes para se referir ao grupo de artistas que fará parte de uma determinada apresentação. De acordo com a coreógrafa Patricia El-moor, “no espetáculo de dança flamenca os artistas serão alunos e alunas que, embora não vivam profissionalmente dessa arte, dedicam-se com amor e afinco para que o flamenco faça parte de seu cotidiano”. Ingressos a R$ 60 e R$ 30 (estudantes, professores, bancários, maiores de 60 anos e portadores de um quilo de alimento não perecível), à venda na secretaria da escola Oficina Flamenca(110 Norte, Bloco A, subsolo), de segunda a quinta das 17 às 21h, e na bilheteria do teatro (314/315 Sul).
Nick El-moor
cuadroflamenco Divulgação
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debandandonasfeiras
arteemplanaltina Foram mais de 250 inscritos, mas somente 15 artistas de Brasília e do Entorno estão na segunda edição do Salão Mestre D’Armas de Artes Visuais, mostra competitiva em cartaz até 11 de agosto no Museu Histórico e Artístico de Planaltina. Cada finalista participa com três obras, nas linguagens pintura, performance, objeto, escultura, instalação e intervenção urbana. “Realizar um salão de arte contemporânea em Planaltina é uma forma de atrair para esta região promissores expoentes da nova produção artística. Com isso, provocamos novos olhares e damos a oportunidade de nossa comunidade, também formada por amantes das artes, ter acesso ao novo e ao instigante próximo de casa”, explica a curadora Simone dos Santos Macedo. São estes os artistas que receberão prêmios entre R$ 3 mil e R$ 10 mil: Camila Soato, Clarice Gonçalves (foto), Débora Passos, Gabriela Mutti, Gustavo Silvamaral, Isabela Couto, Lis Marina Oliveira, Luciana Paiva, Márcio Mendanha de Queiróz, Marcos Antony Costa Pinheiro, Mattheus Mota, Patricia Bagniewski, Rafael da Escóssia, Shevan Lopes e Waleska Reuter. O Museu Histórico e Artístico de Planaltina foi inaugurado em abril de 1974 e conta com acervo de mobiliário e utensílios que narram a história da antiga Vila de Mestre D’Armas. De terça a domingo, das 9 às 21h, com entrada franca.
athosetc É esse o nome da exposição em cartaz na AB Galeria, da Fundação Athos Bulcão (404 Sul), até 30 de agosto. Organizada por Victor Zaiden e Renata Reis, alunos do curso Teoria, Crítica e História da Arte, da Universidade de Brasília, a mostra tem coordenação da curadora e professora Ana Avelar. “É a oportunidade dos estudantes da universidade pública colocarem em prática os conhecimentos aprendidos na academia em uma ação voltada para a sociedade”, destaca Valéria Cabral, secretária-executiva da instituição. Grande parte dos trabalhos presentes no acervo da Fundação foi doada pelo próprio artista. Algumas obras foram doadas por colecionadores e outras adquiridas ao longo dos anos. A mostra faz parte do conjunto de ações do projeto Atos para preservar Athos Bulcão, que tem patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura. De segunda a sexta, das 9 às 19h, e sábados, das 10 às 17h.
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Os trabalhos de Farnese de Andrade e Thiago Martins de Melo (foto), artistas plásticos de gerações e linguagens diferentes, ocuparão as galerias do Museu da República entre 25 de junho e 4 de agosto. Com curadoria de Denise Mattar, as exposições Memórias imaginadas e Necrobrasiliana resultam da parceria entre o museu brasiliense e as galerias paulistanas Almeida e Dale e Leme/AD, como parte de um projeto itinerante dessas galerias, que visa a levar mostras de artistas renomados para diferentes regiões do país. Sobre o primeiro, diz a curadora: “Sua gravura é plena de texturas, cortes abruptos e contrastes de luz e sombra. Sem tirar a pena do papel, realizava compulsivamente os nanquins intitulados Obsessivos, de quase inacreditável precisão”. Sobre o segundo, continua a curadora: “Sejam esculturas, instalações, vídeos ou pinturas, as obras de Thiago Martins de Melo se constroem no excesso, em camadas de imagens intensas, sempre conectadas ao extermínio e às problemáticas enfrentadas pelas minorias. Por isso, seu trabalho causa impacto, não apenas pelas grandes dimensões e temas retratados, mas, também, por sua exuberância formal”. De terça a domingo, das 9 às 18h30. Entrada franca.
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Toninho de Souza
meioséculodearte Não é todos os dias que se encontra por aqui um artista plástico que chega aos 50 anos de carreira com a vitalidade de Toninho de Souza, um baiano residente em Brasília desde os seis anos de idade. Por essa razão ele celebra a data com três exposições simultâneas, a primeira delas em cartaz até 15 de julho, na Galeria do Templo da Boa Vontade. Nascido em Riachão das Neves, em 1951, Toninho é pintor, escultor, gravador, ceramista, muralista, cenógrafo, desenhista, poeta, escritor, curador e precursor da arte digital no Brasil. Reconhecido mundialmente como artista de vanguarda, tem trabalhos espalhados em acervos particulares de diversos países, entre eles México, Chile, Estados Unidos, Canada, Japão, Itália, Bélgica, Suíça, França e Alemanha. De seu atelier em Sobradinho saem suas belas telas de araras multicoloridas que são sua marca registrada. Dia 20, às 17h, a mostra 50 anos de arte no Distrito Federal estará também na Galeria Vincent Van Gogh, de Sobradinho, até 30 de julho. Dia 22 de julho, às 19h, será a abertura da terceira mostra, até 30 de agosto, dessa vez no Teatro de Sobradinho, a cidade que o artista escolheu para morar e produzir sua arte.
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festadatecnologia “A Campus Party é uma imersão de pessoas que utilizam as mais diversas tecnologias para mudar o mundo.” A definição, talvez um pouco pretensiosa, é dos organizadores da terceira edição da Campus Party, que acontece até o dia 23 no Estádio Mané Garrincha. Computando mais de 550 mil “campuseiros” cadastrados no mundo todo, a festa já passou por Espanha, Holanda, México, Alemanha, Reino Unido, Argentina, Panamá, El Salvador, Costa Rica, Colômbia, Equador, Itália e Singapura. Presente no Brasil há doze anos, a Campus Party é considerada uma imersão em tecnologia porque quem dela participa tem a sensação de que o tempo para, não distinguindo se é dia ou noite. “São dias totalmente imersivos em um ambiente propício para a inovação, troca de conhecimento e até novos negócios”, garantem os organizadores. Há três formas de participar. A primeira é conferir a área gratuita, com simuladores, drones, estandes de patrocinadores, educação do futuro, robótica e praça de alimentação. A segunda é participar da arena, com palestras, bancadas com internet de velocidade, games etc. Finalmente, o camping, área paga com barracas, duchas e um espaço para cuidados com a saúde, além de uma padaria. Ingressos a partir de R$ 120, à venda em https://brasil.campus-party.org/campus-party-brasilia.
capitaldacultura Pedro Ventura - Agência Brasília
quevengalalazarzuela Antes de mais nada, é bom que se esclareça: a zarzuela não é somente um saboroso prato típico espanhol, mas uma espécie de ópera cômica que se originou na Madri do Século 17 e migrou para os países de colonização espanhola, entre eles o Uruguai. É de lá que vêm um pianista e quatro cantores líricos que se apresentam dias 22 e 23 no CCBB, justamente para divulgar esse gênero musical ibérico. Débora de León e Manuela Hernández (sopranos), Alfredo Belloni (tenor) e Marcos Carrasco (barítono), solistas da Escola Nacional de Arte Lírica do Sodre, de Montevidéu, serão acompanhados pelo pianista uruguaio Ignacio Pilone. No programa, as músicas mais representativas e famosas da zarzuela espanhola em forma de romances, duetos, trigêmeos e quartetos. Entre os compositores estão Asenjo Barbieri, Moreno Torroba, Fernández Caballero, Lecuona e Giménez y Nieto. Entrada franca.
Na tela, o vídeo de um coração pulsando ao ritmo de uma música executada por uma orquestra de metais. A mesma imagem se reproduz em outras 12 grandes telas à medida que a música adquire tons mais fortes. Uma mão empunhando uma rosa vermelha se aproxima ao som de um pungente solo de violino. Assim começa a videoinstalação Fragmentos, de autoria de Paulo Roberto Pereira Carnielo, de Goiás, um dos oito artistas participantes do Brasília Mapping Festival, uma projeção mapeada em cartaz até 7 de julho na estação de metrô Galeria dos Estados. Participam também Rubens Gabriel Mota Nogueira (CE), Andressa Silva Costa (BA), Natacha Figueiredo Miranda (MS), Sergio Andres Sanchez Camacho (SP), Camila Cidreira Ribeiro (DF), Kelly Pires de Carvalho (SP) e Pedro Brandão de Farias (SP). As obras digitais estão sendo exibidas de segunda a sexta-feira, das 10 às 22h, e aos sábados e domingos, das 10 às 16h.
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“Brasília é uma cidade cosmopolita em seu DNA, que recebe e acolhe pessoas de todas as partes do Brasil e do mundo. Isso faz com que a cultura pulse aqui de diversas maneiras e em diversas manifestações”, diz o secretário executivo da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, Cristiano Vasconcelos, ao anunciar que Brasília será a capital íbero-americana da cultura em 2022. A iniciativa é do Fórum IberoAmericano de Diplomacia Cultural das Cidades e Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. As capitais que recebem esse prêmio, no valor de 100 mil euros, devem promover a diversidade cultural ibero-americana, o diálogo intercultural e o entendimento mútuo entre a cidadania íbero-americana e sua abertura ao mundo. O prêmio é atribuído anualmente a uma das 30 cidades que fazem parte da União das Cidades Capitais IberoAmericanas (UCCI), organização internacional da qual o GDF é membro nato desde 1986.
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lánosertão “A fotografia me permitiu derrubar fronteiras e a minha inquietude me fez fotógrafo. Eu passei a registrar a vida dessa gente simplória, que vive em casas de barro, de chão batido, sem recursos”. Quem diz isso é Noilton Pereira, cujas imagens registradas no sertão baiano ganharam o mundo pelas redes sociais, passaram a ser vendidas e hoje financiam programa que fornece material escolar, alimentação, brinquedos, roupas, móveis e até novas casas para famílias da Chapada Diamantina. Uma coletânea de 50 fotos do fotógrafo está na exposição Sertão forte, em cartaz no CTJ Hall (706/906 Sul) até 20 de julho. Autodidata e ex-radialista, Noilton conhecia muito bem o contexto do sertanejo daquela região. “Eu visitava as comunidades, conhecia o dia a dia sofrido de muitos deles, as tantas limitações impostas pela história do nosso país, mas não conseguia transmitir isso para as pessoas que viviam fora dessa realidade”, revela. Os anos se passaram e ele compreendeu que a fotografia e o voluntariado eram sua vocação. As fotos expostas também estão à venda e a renda reverterá para o projeto Sertão forte. De segunda a sexta, das 9 às 21h, e sábados, das 9 às 12h, com entrada franca.
Os livros A fome, de Rodolfo Teófilo, Vidas secas, de Graciliano Ramos, e A hora da estrela, de Clarice Lispector, serviram de referência para a elaboração do espetáculo Boca seca, criação coletiva da Cia. VíÇeras, fundada em 2010. Esse grupo surgido das entranhas do Espaço Cultural Renato Russo tem como proposta trabalhar diferentes linguagens artísticas, como a dança, o audiovisual, as artes plásticas, o teatro e a performance. Durante a produção da obra, três estudantes de diferentes cursos (artes cênicas, artes visuais e música) passaram a trabalhar como assistentes técnicos. Os estudantes contemplados se tornaram colaboradores criativos e estão em diálogo com profissionais da área. Para o diretor Roberto Dagô, “os projetos desenvolvidos com o Fundo de Apoio à Cultura têm sido elaborados cada vez com maior complexidade e criatividade em Brasília. É impressionante como esse investimento se desdobra em tantos benefícios para a cadeia produtiva e simbólica da cidade”. Dias 21, 22 e 23, às 20h, no Teatro Garagem (913 Sul); dias 25 e 26, às 15h, no Teatro Paulo Autran; e dia 27 no Centro de Ensino Médio Escola Industrial de Taguatinga ( QNB 1 Taguatinga Norte), com entrada franca. Thaís Mallon
feijoadaempb Estreia dia 22 o projeto Bem Brasil, que um sábado por mês vai apresentar shows de vários grupos de música brasileira no palco do Bar Brahma, sempre entre 14 e 22h. A estreia será com as bandas Maria Vai Casoutras, Salve Jorge e Choro Delas. Maria Vai Casoutras (foto) é formada só por mulheres que tocam estilos variados na levada da percussão: axé, forró, sertanejo e samba. Também feminino, o grupo Choro Delas é formado por quatro musicistas brasilienses que mandam muito bem no choro, baião, samba e maxixe. Já a banda Salve Jorge, que volta após cinco anos, apresentará repertório de sucessos de Jorge Ben Jor, Tim Maia, Mundo Livre e Seu Jorge. Couvert de R$ 10 (das 12 às 16h) e R$ 20 (a partir das 16h).
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Dia 29, a partir das 22h, o Setor Comercial Sul vai tremer com a segunda edição da festa Favela Sounds no Setor, que tem como ponto alto a apresentação de Iasmim Turbininha, a primeira mulher DJ de funk no Brasil. Carioca da Mangueira, com mais de 250 mil seguidores no Youtube, ela é figura carimbada das noites do Rio e promete trazer a mesma energia dos bailes de favela para os brasilienses. Quem abre a festa é Pati Egito, que mistura diferentes ritmos e vertentes musicais. Tendo a música brasileira como sua maior influência, ela faz um passeio pelo tecnobrega, carimbó, reggaeton. Também participa o DJ brasiliense Kacá, com o melhor do funk dos últimos tempos para o público curtir até de manhã. A festa é uma parceria do projeto Favela Sounds com o coletivo No Setor, responsável pela revitalização e diversas produções no SCS. Serão distribuídos 1.000 ingressos para quem entrar até meia-noite. Quando esses se esgotarem, as entradas custarão R$ 20 para compra em www.sympla.com.br. Na porta, de 22 às 24h, os bilhetes custam R$ 20 e, depois desse horário, R$ 30. Aniversariantes não pagam.
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favelasounds
sobreafome
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GRAVES&AGUDOS
Lenine
Zeca Baleiro
Gabriel O Pensador
Só biscoito fino POR HEITOR MENEZES
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ma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor, dizia o saudoso Chico Science, em A praieira. Aqui não temos praia, nesta época é aquele frio. Assim, parafraseando Chico Ciência, adaptemos as coisas ao modo Cerrado: troquemos a cerva pelo quentão; a praia pelo altiplano, o infinito descampado (obrigado, Poetinha) e as festas juninas, para se empanturrar de comida e música de época. Quer mais enrolation, enquanto bica o quentão? Qual a música mais tocada nesta época? É Asa branca (Humberto Teixeira/ Luiz Gonzaga). Mentira. Não é. Segundo o ranking do ECAD, com base no São João do ano passado, a mais tocada foi a instrumental levada na sanfona Festa na roça (Palmeira/ Mário Zan). Curioso. Só música antiga nessa lista (disponível no site do ECAD). Além de Asa branca, Gonzagão assina pelo menos cinco no Top 10 da entidade arrecadadora de direitos autorais. Portanto, amigos, sem mais teretetê, curtam o período. Entre um sertanejo e outro com jeito de Maurício, os terreiros sempre vão tocar um forrozinho da moléstia. O Xote das meninas sempre vai estar desafiando os
bons e maus dançarinos a se verem com seus parceiros. Dado o recado, passemos à agenda. E ela começa neste feriado de Corpus Christi (20/06) com a Hypnotic Brass Ensemble. What? Hypnotic Brass Ensemble, direto de Chicago, o combo de oito filhos do trompetista norte-americano Phil Cochran (1927-2017), lendário membro do não menos lendário grupo Sun Ra Arkestra, mestres do jazz estratosférico. Resumindo: metais em brasa cozinhando um caldeirão fumegante de jazz, hip hop, rock, funk, calypso e ou-
tros ingredientes estupefacientes. Onde? Na Cervejaria Criolina (SOF Sul). O dia seguinte ao feriado é uma sexta-feira, uhu! A pedida: Paralamas do Sucesso e o Barão Vermelho (sans Roberto Frejat), no Funn Festival, aquele evento ao ar livre no Bosque de Pinheiros (Parque da Cidade), que trouxe Paula Toller no Dia dos Namorados. Esse mesmo Funn Festival tem extensa programação musical, vale verificar. Com o devido respeito a todas as atrações, merece o destaque, dia 28, a trinca Zeca Baleiro, Lenine e Gabriel O Pensador. Exce-
Hypnotic Brass Ensemble
O Terno
Pop-reggae, diga-se. Melhor ficar ligado: essa é a única apresentação da banda do Alexandre Carlo, no Distrito Federal, em 2019. Liberdade pra dentro da cabeça, Presente de um beija-flor e Deixa o menino jogar, eternos hits, têm mais de 20 anos, mas nem parece tanto assim. Se na música erudita os nomes de Bach, Beethoven, Mozart e Chopin causam frisson, no jazz a menção aos nomes da dupla George & Ira Gershwin deixa em polvorosa os amantes do jazz. Por quê? Porque Gershwin é sinônimo de jazz e qualquer um que se atreva a tocar Summertime, Rhapsody in blue e outros biscoitos finos deve estar à altura dessa grande música. Pois bem, dia 2 de julho a pianista Solungga Liu, ao lado da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, regida pelo maestro Cláudio Cohen, apresenta, no Cine Brasília, o Concerto George Gershwin. É a homenagem ao 243° aniversário da Independência dos Estados Unidos. Todos que acompanham o imbróglio envolvendo o nome Legião Urbana fiquem sabendo que Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, respectivamente, guitarra e bateria originais do grupo liderado por Renato Russo, podem estar impedidos de se apresentar com a alcunha que os tornou famosos. Mesmo assim, mesmo não se chamando Legião Urbana, Dado e Bonfá seguem em frente defendendo o repertório campeão da Legião. Dia 4, a dupla é a atração do projeto Na Praia, ali na orla do Paranoá. Para matar a saudade de velhos conhecidos. E quando a pessoa tem tantas músicas para mostrar, mas precisa exercer o poder de concisão e dar o recado em, sei lá, duas horas de show? Problema que Gal Costa tira de letra em sua mais recente turnê A pele do futuro. Dia 6, no Centro de Convenções Ulysses Guima-
rães, a eterna musa da Tropicália volta à capital para mostrar em 20 músicas um legado de grandes, grandes canções que a alçaram ao fechado clube de maravilhosas divas da MPB. Dessa vez, Gal intercala as canções do mais recente álbum, que nomeia a turnê, com outras que a ajudaram a ser uma das maiores entre as maiores. Em se tratando do período de festas juninas, não se assustem se Festa do interior (Moraes Moreira/ Abel Silva) invadir o palco do CCUG como quem vai para a discoteca. Para ver, ouvir e dançar. Conhece a Knower? Muito prazer. A banda eletrônica norte-americana toca na Cervejaria Criolina, dia 12 de julho. O núcleo formado pela dupla Louis Cole (vários instrumentos) e Genevieve Artadi (voz e instrumentos) costuma incrementar o som com a presença de convidados, transformando o lance em uma usina sonora na qual o jazz-funk é a cobertura do bolo. Chequem na internet os tais vídeos virais, para saber melhor do que se trata. 13 de julho é um dia importante. É o Dia Mundial do Rock. Para quem não se ligou, tem a ver com o famoso concerto Live aid, aquele que, nessa data, em 1985, levou Queen, Genesis, Status Quo, Sting, U2, Dire Straits, David Bowie, The Who, Elton John, Paul McCartney, Santana, Led Zeppelin, Eric Clapton, Madonna, Neil Young, entre muitas outras estrelas, a lotar o antigo Wembley Stadium, em Londres, e o John F. Kennedy Stadium, na Filadélfia. Data inesquecível. Para comemorar, o Toinha Brasil Show programou a banda Iron Ladies, cujo nome entrega, é uma formação feminina de covers do Iron Maiden. A rockada conta ainda com a Parasite Kiss, tocando covers do Kiss, ora bolas. Fotos: Divulgação
lente três-em-um, concordam? Nesse interim, temos som da pesada, caveiras, monstros e tal com Michale Graves, figura que serviu um tempo nas fileiras dos Mifits, instituição punk rock norte-americana liderada pelo não menos figura Glenn Danzig. Atenção! Misfits significa algo como desajustados. Portanto, já sabem do que se trata. Quando? Dia 25. Onde? No Toinha Brasil Show (SOF Sul), o mais decente lugar da capital para curtir um bom rock’n’roll. Mudando para iguaria fina, digamos, um quentão reserva especial, vamos à Casa Thomas Jefferson (Asa Sul), que sempre tem programação top e free (traduzindo: bacana e grátis). Nesse dia 25, quem dedilha o Steinway & Sons, no CTJ Hall, é o pianista espanhol Iñaki Sandoval, que promete um repertório sofisticado à altura do pianão de cauda que faz a alegria daquela casa. Neste mesmo CTJ Hall, dia 26, saxofone ou Satanás, me intoxica com teu gás. Muita calma nessa hora, trata-se apenas do projeto O Brasil do Saxofone, que reúne os seguintes talentos: Ademir Junior, saxofones e clarineta; Baptiste Herbin, saxofones; Eduardo Farias, piano; Daniel Castro, baixo e Pedro Almeida, bateria. No repertório, o sax a serviço do frevo e do maracatu, e de seus parentes – o samba, o afoxé, a bossa nova e outros ritmos leve-metal. Mais Casa Thomas Jefferson: dia 28, o tradicional e longevo projeto Sextas Musicais apresenta o show Cerrado Atlântico, com Jaime Ernest-Dias (violão) e o pianista português João Lucas. Aqui, o improviso é rei, provando que um dia as águas do Atlântico depositaram conchinhas do mar no alto da Serra dos Pirineus. Em síntese, musicalidade em alto nível. Dia 29 tem O Terno no Teatro dos Bancários. Se você ainda não conhece o trabalho do compositor e cantor paulistano Tim Bernardes, aproveite o retorno a Brasília do grupo por ele liderado para conferir o folk e a música feita com toda a calma do mundo. Os americanos de bom senso ficaram embasbacados com esse som. Afinal, o que é bom para os americanos... a gente já sabia antes, hahaha. Aliás, tem muitas atrações na cidade nesse sábado, dia 29. Dentre elas, no Taguaparque, a volta da Natiruts, agora com o status (que não é de hoje) de uma das maiores do reggae made in Brazil.
Natiruts
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Artur Dias
GRAVES&AGUDOS
Relicário musical
Coletânea em vinil apresenta breve panorama do que foi o Quarta Dimensão. POR PEDRO BRANDT
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o longo de três anos, o evento Quarta dimensão agitou o Teatro Dulcina, no Conic, com muita música. A edição de despedida, em 20 de abril (no Beco da CAL, no Setor Comercial Sul), marcou o lançamento de uma coletânea, em disco de vinil, que reúne 13 artistas do Distrito Federal que participaram do projeto. “Fizemos 44 edições, cerca de 100 apresentações musicais”, detalha Jeny Choe (foto), uma das realizadoras. Iniciado em março de 2016, o projeto, uma iniciativa pioneira, produzido de forma coletiva – sempre às quartas-feiras e, depois, em edições periódicas –, tinha co-
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mo um dos objetivos a ocupação cultural e a valorização do centro da cidade. “A coletânea é um registro de época, ficou com a cara do que está acontecendo agora em Brasília, com grande variedade de sons”, comenta a produtora. De fato, Quarta dimensão, o disco, dá uma geral no atual cenário musical brasiliense ao mesmo tempo que congrega novatos e veteranos. Tem rap (Viela 17), tem rock de inspiração sessentista/setentista ou psicodélica (Almirante Shiva, Rios Voadores, Joe Silhueta), tem música instrumental de diversas matizes (Muntchako, Esdras Nogueira, Pedro Martins, Aiure), tem grunge/stoner/metal (Komodo, Trampa), e ainda rock/ MPB/regional (Consuelo, Judas, Alberto Salgado). A audição do vinil revela artistas, cada um à sua maneira, de identidade e talento e, por que não, hits em potencial que marcaram presença no evento, caso de Ziggy, com Almirante Shiva; Ritos do leito, com Joe Silhueta; Barnabé-Itamar Produções, com a Rios Voadores; e Cabaça, de Alberto Salgado. Memória musical Em sua história, Brasília tem diversas coletâneas significativas, registros para a posteridade que ajudam a contar a história de seus participantes e os contextos
nos quais as músicas foram produzidas. Em muitos casos, essas coletâneas são, também, o único legado, em mídia física de longa duração, de determinado grupo. Em 1985, por exemplo, foi lançada, de maneira independente, pelo Sebo do Disco, a antológica Rumores, coletânea com as bandas Elite Sofisticada, Detrito Federal, Finis Africae e Escola de Escândalo. O disco, pra lá de honesto em sua modesta produção, se tornou cult e peça fundamental para entender o rock da capital brasileira. Nos anos 1990, coletâneas como Banana e Doomsday (que renderam dois volumes cada) eternizaram em CD grupos muito populares na época, que não chegaram a gravar álbuns, caso de Sunburst e Os Animais dos Espelhos. Nos anos 2000, o CD Terceira onda, organizado pelo selo Senhor F, ajudou a mapear o que havia de mais interessante no rock produzido em Brasília na primeira década do novo século (Prot(o), Suíte Super Luxo, Beto Só, Superquadra, etc.). Quarta dimensão se junta a esses (e tantos outros discos) como um importante relicário da música brasiliense. O disco de vinil pode ser adquirido com as bandas participantes da coletânea ou nas melhores casas do ramo pelo valor (médio) de R$ 100.
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Iano Andrade
VERSO&PROSA
Ritmos do Norte
Jornalista Fernando Rosa lança livro sobre a lambada e o beiradão. POR PEDRO BRANDT
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uando o assunto é lambada, quem não for do Norte do Brasil provavelmente vai se lembrar do gênero musical por conta de sua imensa popularidade, alcançada (internacionalmente, inclusive) na virada dos anos 1980 para 1990. A ressalva “nortista” deve-se ao fato de que, por lá, já se dançava lambada – e diversas outras danças e ritmos que deram origem a ela – muito, muito antes. E, passado o sucesso do grupo Kaoma e quetais, a lambada e seus congêneres sobreviveram, metamorfosearam-se e, hoje, encontram respaldo e admiração – e muito público, algo que nunca deixou de existir – tanto na região Norte brasileira quanto além. Para entender como isso tudo começou, dos primórdios aos dias de hoje, o jornalista gaúcho Fernando Rosa empreendeu uma intensa pesquisa por discos de vinil, trabalhos acadêmicos, matérias de jornal e ainda coletou depoimentos com músicos e outros entusiastas do assunto. O resultado está apresentado em seu primeiro livro, Ondas tropicais – A invenção da lambada e do beiradão na Amazônia moderna. Novamente radicado em Brasília, de-
pois de alguns anos morando em Porto Alegre, Fernando Rosa ficou conhecido nacionalmente como pesquisador e divulgador da “história secreta do rock brasileiro”, sobre a qual jogou luz em seu site, www.senhorf.com.br, desde 1998. Também agitador cultural, ele produziu, até meados da primeira década do Século 21, as Noite Senhor F, eventos roqueiros que marcaram época com shows das principais novas bandas nacionais, o que acabou se desdobrando no selo discográfico Senhor F Discos. Mais recentemente, dedicou-se à música latino-americana, com o festival El Mapa de Todos, cuja oitava edição foi realizada na capital gaúcha em maio passado. Sobre a gênese de Ondas tropicais, Fernando comenta: “Sempre tive uma grande curiosidade com a Amazônia, em todas as suas dimensões, cultural, social e política. Mas o universo da lambada, mesmo, é coisa dos anos 2000, quando ganhei a caixa de CDs Mestres da guitarrada, das mãos de Ney Messias, na época diretor da Paraense de Radiodifusão. A caixa, produzida por Pio Lobato, reunia Mestre Vieira, Aldo Sena e Curica, e foi um marco do renascimento da lambada, rebatizada de guitarrada”, contextualiza o jornalista. Ainda que populares, os gêneros musi-
cais apresentados no livro carecem de bibliografia. “Esse desinteresse tem a ver com a maneira com o ‘centro’ trata a Amazônia em todos os seus aspectos. A percepção disso foi sendo apropriada aos poucos, com a descoberta do tecnobrega, depois com a guitarrada, com o brega... Mas ainda sem a devida contextualização e importância social e cultural”, pontua Fernando Rosa. De leitura rápida, envolvente e repleta de informações e curiosidades, Ondas tropicais, ao longo de suas 106 páginas, repassa biografias e “causos” (como a briga judicial pelos royalties da música Chorando se foi). Estão no livro protagonistas indispensáveis dessa história, como os pioneiros Mestre Cupijó, Pinduca, Mestre Vieira, Teixeira de Manaus, Curica, Alypyo Martins e Manoel Cordeiro; grandes nomes da guitarrada, caso de Aldo Sena, Oseas e Barata, além dos principais representantes do beiradão (a lambada com saxofone em primeiro plano). “O livro é praticamente um inventário do que foi produzido nos anos 1980 no Norte do Brasil”, resume o autor. Ondas tropicais – A invenção da lambada e do beiradão na Amazônia moderna De Fernando Rosa. 106 páginas. Senhor F Livros. R$ 25 (ou R$ 30 com frete). Vendas direto com o autor pelo e-mail 61fernandorosa@gmail.com.
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GALERIADEARTE
Diogo Ramos
O mundo imaginário
de Tim Burton
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rianças e adultos que apreciam o estilo divertido e estranho do cineasta norte-americano não podem perder a exposição A beleza sombria dos monstros: dez anos de A arte de Tim Burton. Inédita no Brasil e no mundo, a mostra, em cartaz no CCBB até 11 de agosto, foi concebida em homenagem aos dez anos de lançamento do livro The art of Tim Burton e cria uma releitura sensorial dos 13 capítulos que o compõem, distribuídos em 14 galerias, correspondentes às partes da obra original, com artes conceituais de seus filmes e ilustrações do acervo pessoal. Cada capítulo aborda uma dimensão da imaginação artística de Tim Burton. Um deles, por exemplo, investiga seu interesse particular pelos animais e como
Leah Gallo Photography Ltd
POR WALQUENE SOUSA
ele os transforma para criar personagens; outro contempla seu medo e sua fascinação pelos palhaços e ventríloquos; em outro mais demonstra o seu modo de enxergar o amor com todas as suas nuances, boas e ruins, e assim a aventura continua páginas adentro.
A capital federal foi escolhida para ser a primeira localidade a receber as instigantes obras de Burton. “Demos prioridade em iniciar a exposição por Brasília devido ao interesse demonstrado pelo CCBB-DF e à disponibilidade de agenda para estreia já no primeiro semestre deste ano”, justifica o diretor-geral da mostra, Naum Simão. A exposição surgiu de um esforço coletivo e de uma colaboração internacional muito complexa. O grupo de desenvolvimento teve a participação direta de aproximadamente 30 pessoas, entre curador, designers, diretores de arte, arquitetos, especialistas em realidade virtual e tecnologia 3D, músicos, compositores e artistas de outras áreas. “Por essa razão, a mostra se tornou tão cativante para nós. Procuramos desdobrar o imaginário de Tim Burton em múltiplos aspectos (imagem, luz e som) para criar esse ‘livro-experiência’, possibilitando diversos formatos de leitura: imersiva, vivência espacial e sensorial das páginas da obra, num ambiente meio sombrio e, ao mesmo tem-
Vini Goulart
sição: Edward Mãos de Tesoura, Jack Skellington, Beetlejuice, Frankenweenie, entre tantos outros “monstrinhos” e seres caricaturais do dia a dia. Burton consegue como ninguém iluminar os seres colocados na sombra, evidenciando o claro e o escuro em seu trabalho, motivo pelo qual ele mesmo escolheu o título da exposição”, explica Naum Simão. Com 20 longas-metragens, 23 premiações e 70 nomeações no currículo, entre as quais duas indicações ao Oscar, Tim Burton passou a ser conhecido em razão dos icônicos filmes que dirigiu, como Beetlejuice (1988), Edward Mãos de
Tesoura (1990), O estranho mundo de Jack (1993), Big fish (2003), Sweeney Todd: O barbeiro demoníaco da Rua Fleet (2007), Grandes olhos (2014) e Dumbo (2019). Para complementar a experiência de imersão no mundo do artista, paralelamente à exposição, será apresentada uma mostra cinematográfica com filmes dirigidos por ele, bem como outros que o inspiraram ao longo dos anos. A beleza sombria dos monstros: dez anos de A arte de Tim Burton
Até 11/8, de 3ª a domingo, das 9 às 21h, no CCBB (SCES, Trecho 2), com entrada franca. Mais informações: 3108.7600.
Vini Goulart
po, um pouco doce”, ressalta. A forma com que o cineasta Tim Burton enxerga o mundo é instigante. Em suas criações, ele lida com os opostos – luz e sombra, humor e terror, doçura e estranheza – e ainda assim consegue cativar crianças, adolescentes e adultos. “Um dos pontos que mais atraem o público é a natureza de seus temas: os incompreendidos. São personagens que fogem aos padrões sociais, mas que demonstram muita afetividade e doçura em suas estranhezas. Como o caso dos personagens cinematográficos que nascem nos desenhos apresentados na expo-
Vini Goulart
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BRASILIENSEDECORAÇÃO
Wagner Hermusche POR VICENTE SÁ FOTOS SÉRGIO AMARAL
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le viu Brasília crescer. Na verdade, cresceu junto, pois chegou aqui aos nove anos, vindo de Uberlândia, em 1962. Morou próximo à Escola Parque, estudou no La Salle e Elefante Branco, seria um típico adolescente brasiliense da época se não fosse o Wagner Hermusche. Por isso, enquanto os outros jogavam futebol ou íam a festinhas, ele passeava de camelo e desenhava a cidade. “Meus pais eram pintores de fim de semana, daí cedo eu tive contato com essa possibilidade, mas eu acho que fiquei no mundo das artes porque não me adaptei às outras coisas”. Mesmo tendo formação de artista gráfico, ele nunca se deixou prender a uma só linha de trabalho ou de visão. Fez móveis, joias, fotografias, esculturas, roupas. A pintura, ao contrário do que muitos acreditam, só entrou na sua vida em 1984. Antes, ele desenhava e fazia gravuras. “Eu tenho mais gravuras e desenhos espalhados por Brasília do que pinturas”.
Eclético, Wagner Hermusche sempre trabalha com várias mídias simultaneamente. Hoje, aos 66 anos, está produzindo desenhos, alguma pintura, vestuário e móveis, e preparando uma exposição que vai levar a Los Angeles em 2021. Parece distante? Nada. Ele explica que os grandes museus trabalham com planejamento a longo prazo. Esse é o tempo certo para conseguir realizar um trabalho com a precisão e o cuidado que ele coloca em tudo que faz. Inquieto, já morou fora de Brasília por mais de 20 anos, alguns deles na Europa e outros em São Paulo, sempre vivendo de sua arte e tendo o merecido reconhecimento. Em São Paulo teve, durante sete anos, uma pequena agência de comunicação onde criava e produzia exposições de arte-educação com temáticas ligadas ao meio ambiente, levando-as para espaços públicos e escolas. Nesse período, de 2002 a 2009, também viajou pelo Brasil. Rodou mais de 580 mil quilômetros e o que viu o deixou entristecido. A arquitetura das casas sendo substituída por portas pré-fabrica-
das, janelas pré-moldadas, e isso vindo acompanhado de uma sede de novidades não tão novas e necessidades que não eram absolutamente necessárias para aquelas pessoas. Ou, como ele diz: “Uma lavagem cultural”. Como artista, Hermusche sempre teve uma postura independente, nunca gostou de depender de galerista, curadores, marchands ou governos. Por isso, escolheu trabalhar também com artes utilitárias, como a fabricação de móveis e roupas. Ele já teve uma loja/atelier na 413 Norte, onde expunha suas criações e promovia sessões de jazz e recitais de poesia. Depois, fechou o espaço e passou a comercializar suas roupas na Armária, na 107 Norte. A preocupação com o meio ambiente e o planeta não está só em suas obras, mas também em suas conversas e atitudes. Seus móveis são feitos de madeiras raras e recicladas conseguidas no Departamento de Parques e Jardins do DF. Ele explica que são essas árvores que o DPJ corta quando estão em perigo de cair ou caídas, e depois coloca à venda.
Em Brasília, Hermusche fez várias exposições, sempre com muito sucesso, tanto de crítica quando de público. Sua última mostra – Ruídos, a coreografia da violência – teve um público recorde de 150 mil visitantes no Museu da República. Apesar disso, a cidade hoje não inspira mais tanto carinho no artista. Ele acha que Brasília está engessada e vivendo um teatro político do qual ele não gosta. Mas acredita que a nova geração ainda pode dar um jeito na cidade e no país. E então, pretende sair de Brasília? Ele responde que não. “Eu acho que a cidade não importa, pois moro mesmo é no meu corpo. Então, tanto faz Londres, Catolé do Rocha, Berlim... É claro que aqui eu tenho o meu conforto e gosto de trabalhar e então vou fazendo o que posso”. Para quem não conhece ou quiser rever o trabalho do artista, duas de suas obras estarão expostas até o final do mês na Galeria Casa, do CasaPark. A Caixa Cultural também possui em seu acervo algumas obras de Hermusche e outras podem ser vistas no www.instagram.com/hermusche.
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LUZCÂMERAAÇÃO
O poderoso chefão II, de Francis Ford Coppola (1974).
Touro indomável, de Martin Scorsese (1980).
A constelação De Niro O CCBB apresenta, entre 25 de junho e 7 de julho, 12 filmes em homenagem a um dos mais célebres personagens do cinema mundial das últimas décadas. POR SÉRGIO MORICONI
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mostra De Niro traz um recorte da obra de um ator que, na verdade, é mais do que um ator. De uma maneira enigmática, mágica mesmo, Robert De Niro transcende o ofício de ator. Quando surge em pequenos filmes, no final dos anos 60 do século passado, não foram poucos os que viram nele algo que ía além dos confins do cinema. Similaridades históricas não faltavam. Greta Garbo, Cary Grant, Humphrey Bogart, Marylin Monroe, Brigitte Bardot, Marcello Mastroianni – minha nossa!, quantos poderiam ser citados aqui. Todos, independentemente dos filmes que faziam, eram a idealização para homens e mulheres de valores individuais e sociais desejados, ou imaginados, em determinados contextos de época. De Niro também. Ele seria um erzats do
que se prenunciou com o lançamento de Sem destino (1969), de Denis Hopper. Jack Nicholson, um dos protagonistas do filme, seria um candidato natural para ocupar a simbologia de De Niro, mas ele era talvez cínico demais para isso. Ator fetiche dos anos 70, De Niro acabaria ocupando o lugar de Marlon Brando e James Dean como o personagem que simbolizaria as angústias a as perplexidades do jovem adulto norte-americano no refluxo do pós-Guerra do Vietnã. Sua afirmação como grande ator em seu país se daria depois de sua participação em O poderoso chefão II, de Francis Ford Coppola, interpretando Vito Corleone, o jovem siciliano que se tornaria o chefão da Máfia. Vito ocuparia o lugar do velho Corleone, um dos últimos papéis vividos por Brando, em O poderoso chefão I. Mito sagrado da Hollywood adulta, Brando ainda deixaria acesa sua
chama no mesmo ano de 1972, ao participar do icônico O último tango em Paris, de Bernardo Bertolucci, antes que o seu fogo fosse pouco a apouco se transformando em brasa dormida, consequência de suas cada vez mais raras aparições nas telas de cinema. O bastão de Brando e James Dean poderia ter sido concedido a Al Pacino, mas ele, e muitos outros que se colocaram na fila para consideração dos produtores e do público, não tinham o carisma e o “incrível magnetismo sexual” de De Niro. A expressão – um tanto quanto jeca e prosaica – era consensual entre críticos e profissionais da indústria de cinema. Frívola e prosaica, considerando o conceito que De Niro tinha do que deveria ser a sua profissão. De Niro encarava seu trabalho com uma seriedade intelectualmente elevada, quase religiosa, como ele mesmo declarou várias vezes. Isso era
Fotos: Divulgação
Novecento, de Bernardo Bertolucci (1976).
verdade mesmo quando atuava em filmes independentes de baixo orçamento (chamados “B”) de diretores icônicos como Roger Corman, em Os cinco de Chicago, e Brian De Palma, em Olá, mamãe!, ambos produzidos em 1970. Trabalhar com Corman e De Palma não deixou de ser uma ótima oportunidade para alguém nascido em Greenwich Village, bairro boêmio de Nova York. De Niro era igualmente filho de artistas... e boêmios. Na infância, dizia que queria ser um rebelde, longe do mainstream. Aos dez anos (!) declarou o desejo de ser ator e, para que ninguém achasse que era uma brincadeira infantil, matriculou-se no American Dramatic Workshop. Quando completou 16 anos, arrumou um jeito de estudar com ninguém menos que Lee Strasberg e Stella Adler no prestigioso Actor’s Studio. Os pais deram total apoio ao perceberem que a escolha do filho era para ser levada a sério. Em seguida, De Niro pavimenta sua técnica atuando em pequenos teatros de NY, os chamados offBroadway. Numa das peças desse início de carreira, contracena com Shelley Winters, ocasião em que é visto (e notado) por Brian De Palma. Strasberg, Adler, Corman, De Palma, além dos ídolos Montgomery Clift, Bran-
Era uma vez na América, de Sergio Leone (1984).
do, James Dean, Walter Huston (em O segredo da Sierra Madre), sempre citados, ajudaram a solidificar a arte de De Niro. Eles foram o prelúdio do encontro fundamental do ator com o diretor Martin Scorsese em Caminhos perigosos (1973), uma das obras seminais do cinema independente norte-americano de fins dos anos 1960. Esse novo cinema levado adiante por Arthur Penn, Robert Altman e, principalmente, John Cassavetes, por fim se consolida com Scorsese e Coppola, nas décadas seguintes. Atores e diretores com propósito moderno e renovador vão ser os responsáveis por um renascimento de Hollywood, Hollywood Renaissance, nos termos de Diane Jacobs, denominação dada para definir toda uma produção mais adequada aos ventos da contracultura nascente. O realizador de Taxi driver e Touro indomável (este presente na mostra), uma das figuras de proa dessa geração, foi uma alma gêmea para De Niro. De fato, Robert De Niro tem com Scorsese uma comunicação telepática. Em várias ocasiões declarou ser a colaboração com o diretor inteiramente baseada na confiança mútua. Scorsese estava sempre aberto para as sugestões do ator, estimulava a improvisação, desde que – nas palavras do ator – “fruto de um árduo
exercício de ensaio e experimentação”. Essa prática valeu a De Niro o prêmio de melhor ator concedido pela New York Film Critics Circle Award por Caminhos perigosos, e em 1981 o Oscar de melhor ator por sua atuação em Touro indomável. O filme, baseado na vida do boxeador Jake La Motta, reafirmou o aspecto perfeccionista, quase maníaco, de De Niro, ao se sujeitar a uma duríssima dieta alimentar para engordar 30 quilos. Ele achava que só assim poderia agregar verdade e credibilidade ao período de decadência de La Motta. A mesma obsessão perfeccionista fez o ator imitar com obstinada meticulosidade o sotaque e trejeitos utilizados por Marlon Brando na composição do Don Corleone de O poderoso chefão. Em filmes posteriores da carreira, colaborando com realizadores estrangeiros – Bertolucci (Novecento) e Sergio Leone (Era uma vez na América), por exemplo –, De Niro deixa sempre para o espectador a impressão de que vive verdadeiramente a realidade e não a ilusão de uma realidade ficcional dos filmes. De Niro
De 25/6 a 7/7 no CCBB (SCES, Trecho 2). Ingressos (meia): R$ 5. Programação completa em www.bb.com.br/cultura.
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Crônica da
Conceição
CONCEIÇÃO FREITAS
conceicaofreitas50@gmail.com
A difícil arte de destruir mitos
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a primeira vez que uma arquiteta me disse que arquitetura moderna era só uma casinha no tecido arquitetônico das cidades do mundo, quis partir pra cima. Como não sou de violência, engoli a pedra. O brasiliense aqui nascido ou que foi seduzido por esta cidade traz no corpo e na alma a arquitetura racionalista de Le Corbusier (e dos demais do período originário). É um padrão de qualidade e beleza que, aos nossos olhos candangos, surge como universal. Da primeira vez que um arquiteto me disse que o racionalismo do desenho do Plano Piloto afastava as pessoas umas das outras, tive mais uma vontade de avançar no pescoço dele. Comi mais um pouco de pedra. Quando Milton Cabral (1945/2003), psicanalista e professor de história da arte da UnB, me disse que Oscar Niemeyer não projetava edifícios para humanos, mas sim estruturas poéticas em concreto, entendi um pouco melhor o que todos estavam querendo me dizer. Com poesia, as duras verdades descem sem arranhar tanto a garganta. Não é fácil desconstruir mitos, heróis, certezas, convicções, verdades absolutas, padrões de comportamento, conceitos, preconceitos. Cada vez que se atenta com um desses pilotis de nos-
sa estrutura psíquica parece que o corpo-edifício cambaleia e esse é um movimento que nos aproxima da loucura ou da morte. Viver sem certezas é, dos exercícios da vida, um dos mais aflitivos. Como disse uma analista querida, as teses existem para serem desconstruídas num suceder de construções e desconstruções que só termina com a morte – cuja única verdade constatável é a de que aquele corpo acabou. Quando comecei a desconfiar que Brasília tinha defeitos graves – que foi construída à custa das dores de milhares de candangos e da morte de incontáveis deles --, quando o mito em que eu tanto precisava acreditar era um mito cheio de buracos, era como se eu também estivesse sendo desconstruída. Afinal, é o que somos: um corpo que sangra, quebra, queima, apodrece, se consome de si mesmo. E não é fácil dar conta disso. Desconfiados de nossa precariedade humana, nos lançamos em desesperada busca de construções sólidas – palácios de concreto armado, cidades planejadas em maquetes e tombadas para permanecerem eternas, heróis feitos para cumprirem nossos desejos de perfeição, verdades e crenças pétreas, tudo, tudo para disfarçar nossa orfandade atávica. Perceber que a Brasília dos meus
sonhos era de barro não tirou de mim a Brasília dos meus sonhos. Só me aproximou mais de sua condição imperfeita e me trouxe meus pés para o rés-dochão, sem que com isso dissolvesse meu sonho de cidade. Ficamos mais próximas uma da outra, Brasília de mim e eu dela. Do mesmo modo, reconhecer que Lucio Costa pesou na mão da monumentalidade do Plano Piloto, no excesso de vazios, na segmentação excessiva dos setores, no projeto de uma rodovia expressa partindo a cidade ao meio (o Eixão), colocando em risco pedestres e motoristas, do mesmo modo que perceber tudo isso não destrói as incríveis qualidades de um urbanista com exemplar senso de humanidade e de percepção na grandeza do Brasil, um pensador agudo que percebia a miséria de nossa condição escravocrata e que acreditava piamente que podia projetar uma cidade que diminuísse as distâncias entre ricos e pobres. Será só com a coragem de destruir e reconstruir para depois voltar a destruir, num movimento incessante, é que conseguiremos honrar nossa tosca condição humana. E amar as cidades, as coisas e as pessoas pelo que elas efetivamente são e não pelo que gostaríamos que elas fossem.
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