Ano XVIII โ ข nยบ 291 Julho de 2019
R$ 5,90
EMPOUCASPALAVRAS
No primeiro, a proposta é reunir restaurantes de alta gastronomia – Gero, Taypá, Tejo, Authoral, Dom Francisco, Eat Olivae, Kawa, Nikkei, Pecorino, Piantella, Santé 13, Villa Tevere e Dona Lenha – em ação que ofereça novas experiências aos clientes habituais e atraia uma clientela que ainda mistifica esses estabelecimentos, julgando-os inacessíveis ao bolso. No segundo, reunindo igualmente 13 restaurantes, uma das novidades é a parceria com uma vinícola e uma cervejaria que vão agregar vantagem aos clientes que aderirem a seus menus de entrada, prato principal e sobremesa a R$ 54. No terceiro, bem mais abrangente, a comemoração de dez anos de existência vem com alcance ampliado de 100 casas participantes e com as novidades de incluir também hamburguerias e praticar quatro faixas de preço, entre R$ 32 e R$ 89 (página 4). Como se não bastassem tantas possibilidades de cometer o pecado da gula, logo a seguir, na coluna Picadinho, a jornalista Teresa Mello apresenta mais um festival gastronômico, além de opções de brunch, fondue, comida nordestina e congelados saudáveis (página 8). Não só os sabores, mas também as vibrantes cores da cultura mexicana dão o tom da quinta edição do Na Praia, projeto que até 8 de setembro ocupa as margens do Lago Paranoá com programação voltada a todas gerações: música, gastronomia, esportes ao ar livre, baladas, atividades para a meninada e programas para famílias. Celebrando a arte de Frida Khalo, Diego Rivera e de arquitetos como Luis Barragán e Ricardo Legorreta, o Na Praia 2019 tem como destaque gastronômico o Malagueta Comedoria Mexicana (página 20). Também com uma pegada gastronômica, vem aí o Slow Filme, habitualmente realizado em Pirenópolis, mas que, pela primeira vez, acontece aqui, no tradicional Cine Brasília. Inspirado nos conceitos do movimento internacional Slow Food, aquele que determina que o alimento deve ser bom, limpo e justo, exibirá 22 filmes com curadoria do nosso crítico de cinema Sérgio Moriconi e lançará a série documental Alma d’chef, dirigida por Ronaldo Duque (página 33). Boa leitura e até agosto.
Divulgação
Um é pouco, dois é bom, mas três nunca é demais quando se trata de comer muito bem a preço justo. Pois é disso que estamos falando na matéria de capa desta edição, com foco em nada menos de três festivais gastronômicos que acontecem simultaneamente neste inverno puxado de Brasília: Boa Mesa, Panelas da Casa e Restaurant Week.
28 luzcâmeraação Grandes olhos, com Amy Adams, está na programação da mostra A beleza sombria dos monstros: 10 anos de A arte de Tim Burton, em cartaz até 11 de agosto no CCBB.
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Maria Teresa Fernandes Editora ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14, Conjunto 2, Casa 7, Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa Carlos Roberto Ferreira, com foto produzida por Rômulo Juracy para o festival Panelas da Casa | Colaboradores Alexandre Marino, Alexandre Franco, Conceição Freitas, Heitor Menezes, Junio Silva, Lúcia Leão, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Teresa Mello, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle, Walquene Sousa | Fotografia Rodrigo Ribeiro | Para anunciar 98275.0990 | Impressão Foxy Editora Gráfica Tiragem: 20.000 exemplares.
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Fotos: Gui Teixeira
ÁGUANABOCA
Prato do Taypá e sobremesa do Dom Francisco para o festival Boa Mesa.
Tripla jornada gastronômica POR LÚCIA LEÃO
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oucos programas são mais próprios para o inverno do que uma boa refeição em torno de uma mesa aconchegante. E tanto quanto do frio, que há tempos não era tão rigoroso, Brasília está bem municiada, este ano, de opções de lazer gastronômico para a temporada. Boa parte dos restaurantes mais renomados da cidade se organizaram em três festivais para oferecer o que têm de melhor e convidam os brasilienses para um verdadeiro “tour” pela culinária brasileira e internacional de qualidade, caminhando desde a cozinha mais simples e casual – marcas do Panelas da Casa e do Restaurant Week – até a sofisticação da alta gastronomia – segmento contemplado pelo Boa Mesa. Dos três festivais, o mais abrangente é o Restaurant Week, que começa no próximo dia 26 e segue até 18 de agosto, reunindo cerca de 100 casas – entre elas 20 hamburguerias que, pela primeira vez, foram convidadas a participar. O Boa Mesa e o Panelas da Casa terão 13 restaurantes cada. O primeiro já deu a largada e vai até 15 de agosto; o segundo, mais curto, começa nesta sexta-feira, dia 18, e termina no dia 4 de agosto. Assim como o Restaurant Week, ambos oferecem menus completos individuais – entrada, prato principal e sobremesa – a preços fixos.
Sofisticação da alta cozinha
A base são os ingredientes sempre de muita qualidade e às vezes sofisticação, alguns raros, outros tantos exóticos, combinados de forma criativa e surpreendente em receitas exclusivas, preparadas com o esmero técnico e o talento próprios dos grandes chefs. É o que está posto no Boa Mesa, que chega à segunda edição com a promessa de colocar a cidade no mais elevado patamar da alta cozinha produzida no país e oferecer ao público a oportunidade de vivenciar deliciosas experiências. “A ideia foi reunir casas do segmento de alta cozinha e criar uma espécie de vitrine, um evento que ofereça novas experiências aos clientes habituais e que também atraia uma clientela que ainda mistifica esse tipo de restaurante e tem um certo receio de entrar, achando que são inacessíveis. O Boa Mesa vai mostrar que esses restaurantes, e a comida de alta qualidade que eles oferecem, são muito mais acessíveis do que parecem”, garante Flávio Leste, proprietário do Villa Tevere e idealizador do evento. Os 13 restaurantes, alguns com mais de um endereço, estão oferecendo menus autorais completos a preços que variam entre R$ 69 e R$ 115. “É um festival restrito a restaurantes dedicados à alta gastronomia, selecionados com muito critério. Não se trata de elitismo ou pre-
conceito com outros restaurantes, mas de um conceito de valorizar esse segmento com suas características próprias, como pratos autorais que utilizam insumos caros e sofisticados, o que não é possível se fazer em eventos mais abrangentes. Você pode ter um restaurante casual que prepara um filé à parmegiana divino, mas é uma receita de domínio público, não a criação exclusiva de um chef renomado”, explica Flávio. No resumo da ópera, o conceito do Boa Mesa dá ênfase a ingredientes nobres servidos em preparos originais e surpreendentes. Que tal abrir uma refeição com um creme de lagostim, abóbora cabotiá e mascarpone, entrada oferecida pelo Dona Lenha? Ou degustar o filé de lagosta e camarõezinhos flambados em cachaça de um dos pratos do Villa Tevere? Já provou trufas? Não as de chocolate, mas os fungos valiosos que nascem na raiz do carvalho. Pois há delas no molho demi-glace do filé de cordeiro servido no Olivae. E o incensado caviar? Pois ele acompanha o clássico filé moscovita do Piantella. Menus como esses, com insumos mais sofisticados, estão na categoria que o Boa Mesa chama de JK e custam R$ 115. Há ainda as opções Tesourinha (R$ 69), Catetinho (R$ 82) e Catedral (R$ 92). “Nós procuramos criar um evento bastante plural, com a maior diversidade
Fotos: Rômulo Juracy
Menu completo do Carpe Diem e prato do Kojima para o festival Panelas da Casa.
Boa comida, vinho e cerveja
O festival Panelas da Casa traz duas novidades nesta 9ª edição. Uma são as panelinhas lançadas como marca do evento e que estarão sempre na mesa, acondicionando um dos pratos do menu. A outra é a parceria com a Videira e Rota do Vinho e a Cervejaria Colombina, que vão agregar vantagens aos clientes. Quem quiser acompanhar a refeição com o vinho italiano Tramato Primitivo paga R$ 6 pela primeira taça e R$ 14 pelas seguintes. Se a opção for cerveja, a primeira longneck da Colombina Pilsen também custa R$ 6 e as demais R$ 9,90. O menu individual completo custa R$ 54. “A gastronomia é um ponto forte de Brasília, principalmente nesta temporada. O festival reúne chefs que oferecem uma diversidade de sabores e gostos sem perder a originalidade de cada restaurante participante. Nosso desejo é que o público se deixe levar pela experiência de apreciar boas comidas e bebidas nesse friozinho do Distrito Federal, e com um preço justo. No El Passo, por exemplo,
teremos menus diferentes em cada uma das três casas, todos carregados de ingredientes típicos mexicanos que prometem bastante sabor aos pratos”, antecipa o chef da rede, David Lechtig. Além do México, o Panelas da Casa passeia pelas gastronomias asiática e italiana, as de tradição brasileira, as mediterrâneas e ainda a vegana, com opções para todos os gostos e utilizando, sempre que possível, ingredientes de produtores locais. Vai-se poder degustar, por exemplo, o tradicional Fetuccine Alfredo com filé mignon na Belini ou o ossobuco com aligot de mandioquinha no The Plant. Uma mil folhas de abobrinha no Reverso ou um carreteiro de cordeiro no Nossa Cozinha. Os restaurantes que participam desta edição do Panelas da Casa são Dom Francisco (único presente nos dois festivais), El Paso Cocina Mexicana, Carpe Diem, Marietta, Belini Pães & Gastronomia, Bhumi Cozinha Orgânica e Saudável, Reverso, The Plant, Genghis Khan, Nossa Cozinha Bistrô, Bem te Vi Restaurante, Opção Veg, Cantucci Bistrô e Kojima. Dez anos de Restaurant Week
Nesta edição de inverno o Restaurante Week, que acontece há dez anos em Brasília, dobrou de tamanho e ampliou o seu alcance, incluindo numa ponta os populares e super acessíveis hambúrgueres e, na outra, menus sofisticados assinados por chefs premiados de renomados restaurantes da cidade. Cerca de 100 casas
vão oferecer aos clientes refeições completas a preços que variam de acordo com a categoria: a básica custa R$ 44 no almoço e R$ 55 no jantar; a plus, R$ 55 e R$ 68; a premium, R$ 68 e R$ 89. Os hambúrgueres serão servidos sempre com um acompanhamento ao preço fixo de R$ 32. A todos os preços será adicionado R$ 1, destinado à ONG Amigos da Vida, que assiste crianças portadoras do vírus HIV e constrói brinquedotecas em hospitais da rede pública do Distrito Federal. Ana Morena
possível de sabores e ingredientes, para contemplar todos os gostos e bolsos sem abrir mão do conceito de cozinha autoral e de qualidade”, expica André Castro, chef do restaurante Authoral. Participam do Boa Mesa, além do Authoral, outros 12 restaurantes: Dom Francisco, Dona Lenha, Eat Olivae, Gero, Kawa, Nikkei, Pecorino, Piantella, Santé 13, Taypá, Tejo e Villa Tevere.
Espaguete do Rubaiyat para o Restaurant Week. Boa Mesa Brasília
Até 15/8. Menus completos por R$ 69, R$ 82, R$ 92 e R$ 115. Mais informações: www.facebook.com/festivalboamesabrasilia.
Panelas da Casa
De 18/7 a 4/8. Menu completo por R$ 54. Mais informações: @panelasdacasa e www.facebook.com/panelasdacasa.
Restaurant Week
De 26/7 a 18/8. Menus de R$ 44 a R$ 68 no almoço e de R$ 55 a R$ 89 no jantar. Mais informações: www. restaurantweek.com.br.
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ÁGUANABOCA
Rústica elegância POR TERESA MELLO
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alavra em grego que significa em casa, o Doma oferece mais do que um espaço confortável: a vista espetacular do Lago Paranoá. Tanto na varanda, com capacidade para 18 pessoas, quanto na lateral do salão, com 150 lugares. De gastronomia contemporânea autoral, o restaurante dos sócios Márcio Barreiro, Bruno Castro e Daniel Garcia tem, no comando da equipe de 23 fun-
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cionários, o chef brasiliense Fábio Marques, 34 anos, ex-engenheiro. De família mineira, é autodidata e tem passagens por restaurantes na Flórida (EUA), além de uma temporada com o mestre Alex Atala no D.O.M., em São Paulo. “Na cozinha, eu não fervia uma água”, exagera ele, ex-dono do Vanilla Café, na Octogonal, e do The Vintage, na Asa Norte, e que depois lançou o projeto Eu, Chef, com o preparo em domicílio. A elegância rústica do local – cujo acesso é por elevadores no térreo, no Rei do Camarão – está no ambiente claro, no amplo balcão com bancos brancos, na adega de vidro como se fosse um aquário. Ali repousam cerca de 70 rótulos de vinhos de diversas origens e uvas, disponíveis em garrafa inteira ou meia e taça. “O rosé tem boa saída aqui”, conta. Outro charme é a própria dólmã do chef, confeccionada em jeans pela fábrica Royal Chef, no Guará. O cardápio reúne criações contemporâneas internacionais, muitas no estilo surf & turf, como steak ancho com lagostim, ribs e camarão com legumes e cogumelos (R$ 92), polvo e chorizo com farofa de pão crocante e cubos de aipim cremosos (R$ 82). O filé mignon vem com batatas, espinafre, cebola caramelizada, blue cheese e cubinhos de bacon e custa R$ 76. “Nunca um prato é igual a
outro”, afirma Fábio. “Nosso padrão é não ter padrão visual.” Para isso, ele conta com as cerâmicas exclusivas de Davi Ferraz, que destacam ainda mais o risoto roxo, por exemplo, com extrato de beterraba – o mais pedido desde a inauguração, em 5 de junho. Para as crianças, há o Doma Kids: arroz e bife de filé com fritas ou purê, por R$ 28. A salada da casa leva baby rúcula, nozes cristalizadas, morangos, queijo feta e molho de iogurte com gergelim. Outra opção é a de abacate com salmão e cebola roxa. Nos petiscos, o spice shrimp
Fotos: Bruno Aguiar
apresenta o camarão grelhado com páprica doce, e a bruscheta de figo leva Parma e creme de melaço (R$ 28). “Indico, nas entradas, a croqueta espanhola também, um bolinho com queijo, presunto e farofinha de bacon”, diz o chef. A carta de drinques, assinada por Vitor Moretti, exibe, entre outros, o Ramos
Rise (gin, suco de cranberry, polpa de pitaya e folhas de arroz) e o Bili Sour (uísque, maracujá, hortelã, cereja). Custam a partir de R$ 26. Na sobremesa, bolinhos de baunilha e de chocolate com bastante opulência. O Red Roof Cross, de chocolate, vem com calda de morango e saquê, crisp de limão-bravo e caviar de
frutas vermelhas. Custa R$ 28. Aos sábados, Fábio serve bufê de feijoada completa a R$ 49,90 por pessoa. “Estou preparando um menu-degustação”, avisa. Doma Rooftop
SHTN, Trecho 9, Lote 1, ao lado do Lake Side (3532.6207). De 3ª a 5ª feira, das 12 às 23h; 6ª e sábado, das 12 à 1h; domingo, das 12 às 17h.
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PICADINHO
TERESA MELLO
picadinho.roteiro@gmail.com
Teresa Mello
O brunch da Castália Desde o início do mês, o brunch da Castália (304 Sul) vem bombando. Servido aos domingos, das 9 às 14h, tem lotado sempre o espaço para 72 pessoas. No menu, o combo inclui quatro itens − suco, café, bolo e torrada com ovos mexidos − por R$ 30. Quem preferir pode substituir o suco pelo drinque Mimosa (espumante Chandon Brut com suco de laranja, a R$ 16). “Na loja da Asa Norte, o café era só um complemento para a panificação, mas nós crescemos muito rápido”, surpreende-se o padeiro Pedro Galvão (foto), ao lado dos primos Eduardo, também padeiro, e André Neiva Tavares, na administração. Todos na faixa dos 30 anos e filhos de diplomatas. Na unidade da Asa Sul, inaugurada em 30 de abril, há uma prateleira recheada com 30 tipos de pães, um balcão extenso de doces, como o bolinho de chocolate com baru, e produtos de fabricação própria como o − delicioso − caramelo, a geleia de mexerica, a pasta de grão-de-bico. O projeto da BioArquitetura incluiu empório, cozinha aparente e painel com pássaros − a logomarca da casa − criado por Alberto Lambach. “As pessoas saem felizes daqui e ainda agradecem”, diz o gerente Sérgio Rafaelli, ex-Café Cassis.
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Na piscina de ondas Lucas Tobias
Até 25 de julho a gastronomia do Pontão do Lago Sul está em festa com o 9º Festival de Inverno: Bierfass Lago, Fausto & Manoel, Geleia, La Paleta, Manzuá, Mormaii, Sallva, Soho e Stonia Ice exibem cardápios para a temporada, válidos no almoço e no jantar. Os restaurantes têm menu em três etapas (entrada, principal e sobremesa, por R$ 59). Com mais R$ 5 destinados ao orfanato Filhas de Maria, em Planaltina de Goiás, o consumidor ganha uma moringa assinada pelo artista Toninho Euzébio. No BierFass, o menu inclui creme de abóbora, miolo de alcatra com batatas e torta de limão. Filé mignon com risoto de funghi é o principal no Fausto & Manoel, assim como peixe ao molho de araticum com risoto de castanha de baru, no Manzuá. e tilápia com macarrão e legumes ao molho de tamarindo no Mormaii, que também tem sorvete de queijo com calda quente de goiabada.
Pela primeira vez, o Gero (Iguatemi Brasília) promove uma temporada de um prato clássico de inverno – o fondue − desde 21 de junho. São duas opções salgadas e uma doce. O Savoyarde reúne os queijos Ementhal e Gruyère com vinho branco e licor, enquanto o Du Brasseur, mais encorpado, repete a mistura e leva mostarda de Dijon e cerveja escura. São acompanhados por pães crocantes feitos na casa. Custam R$ 220 e servem duas pessoas. Já o fondue de chocolate com frutas secas sai a R$ 98. A novidade está disponível até a segunda quinzena de setembro no jantar, diariamente, a partir das 19h.
O espaço de 2.000m2 no Estacionamento 7 do Parque da Cidade renasceu. A seco, mas com muita vibração boa: gastronomia, música, artes plásticas e gente bonita. Durante a estiagem, a piscina de ondas, desativada desde 1997, recebe a Ocupação Contém, criada pelo produtor e jornalista mineiro Sandro Biondo (foto), 44 anos, e inaugurada em 12 de julho. “São cinco contêineres de comidas e bebidas”, conta. “Essa piscina é um lugar de muito afeto e meu sonho é resgatar a memória afetiva da cidade.” Na gastronomia, as atrações são o La.Mê, comida asiática de rua, com o chef Rafael Massayuki; o Pretinho Básico, de cozinha brasileira; o Brotinho, de pizzas individuais; o Loca Burger, com sanduíches da chef Renata Carvalho; o iViva Bowls & Smoothies Bar, com açaí; o Jeyy Kombucha, com petiscos; o MimoBar e o wine bar da Casa del Maipo, com tapas. Para acomodar o público, nada melhor do que 400 cadeiras de praia. Funcionamento: quinta, das 19 às 23h; sexta, das 17 à 1h; sábado e domingo, das 10 à 1h. A entrada é gratuita.
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Fondue no jantar
Festival no Pontão
Teresa Mello
Jardim de mandacarus
No calor das massas
Congelados e saudáveis
Única franquia do chef Francisco Ansiliero, o Dom Francisco do Pátio Brasil Shopping apresenta o novo menu de inverno. O proprietário, Kerley Horikawa, decidiu inovar, porque o estabelecimento fica no centro da cidade e ainda concorre com a praça de alimentação do shopping. O chef Gilvan Martins, na casa há 13 anos, preparou três entradas, três principais e três sobremesas, disponíveis até 31 de julho. O caldo verde e a sopa com carne seca esquentam nesta temporada e abrem o paladar para o chorizo black angus com farofa e batatas rústicas, o polpetone com fettuccine e grana padano e a lasanha à bolonhesa. O maître Gilberto Lima, há 22 anos no grupo, acrescenta que, além do cardápio à la carte no almoço, o bufê contInua sendo servido (R$ 72,90 para homens e R$ 59,90 para mulheres). “O jantar é apenas à la carte”, informa. Brownie, pudim e torta de limão encerram a refeição. O restaurante fica no 4º piso e funciona diariamente a partir das 11h30.
A Bálsamo, loja de congelados do chef Pedro Coe, faz um ano na Asa Norte (708/709) e acrescenta um prato especial: macarrão de feijão preto com almôndegas de quinoa mista, cogumelos e molho de tomate italiano. Na lista de principais, há polenta com ragu de lentilhas e cogumelos, quibe de quinoa com abóbora e feijoada vegetariana com arroz cateto integral, feijão azuki e couve. Em embalagens biodegradáveis, as porções de 300g custam R$ 23,50 e R$ 24,50. Nas opções de caldos existem, por exemplo, o de batata-baroa e agrião, lentilha e manjericão ou grão-de-bico e especiarias (R$ 14,50). Para completar, que tal investir em lanches também, como o brownie vegano? Vale provar os leites vegetais e os shakes. Tudo sem glúten nem lactose e pleno de sabor. A loja no Bloco G funciona de segunda a sexta, das 8 às 19h, e no sábado, das 8 às 13h. Criada em 2015, a Bálsamo é encontrada em empórios e supermercados, tem vendas online e entrega por aplicativos. Contatos: balsamocongelados.com.br e 99339.5424.
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Eles tiveram o cuidado de fazer um jardim de mandacarus no estacionamento do novo Severina, inaugurado há dois meses em Águas Claras (Quadra 301, Rua D), depois de encerrar as operações na 201 Sul. “Nós moramos em Águas Claras há oito anos, nossas filhas estudam aqui e resolvemos concentrar o trabalho na cidade também”, diz o brasiliense Marcos Linhares, 41 anos. “Somos filhos de cearenses e Severina é uma homenagem à mulher nordestina”, completa a esposa, Patrícia. Agora, o serviço é à la carte, com destaque para a carne-de-sol preparada na casa em processo que leva de 36 a 48 horas. O prato, com arroz, feijão fradinho, paçoca de carne e macaxeira, vem no tamanho família (R$ 92,90), para duas pessoas (R$ 62,90) ou individual (R$ 32,90). Escondidinho, arrumadinho, baião de dois e bode guisado também integram o cardápio de principais. Sorvete de tapioca com melado ou goiabada e a famosa Cartola fazem a alegria no final. “É uma releitura com banana nanica e queijo do sertão e servimos em panelinha de ferro”, conta Patrícia. Com capacidade para 120 pessoas, o Severina abre de terça a domingo, às 11h.
Sushis, sashimis, yakisobas, rolls e combos fazem parte da rede de culinária asiática Koni, que também resolveu incrementar as opções de inverno, com destaques para o pãozinho chinês Bun. Assinado pela chef Juliana Aragão, há petiscos como o Pork Harumaki (rolinhos recheados com carne suína, legumes e molho barbecue, por R$ 13,90) e o Banana Roll da foto ao lado (bananas empanadas em flocos de arroz, com cobertura de doce de leite ou Nutella). Custa R$ 9,90. Outra novidade é a releitura dos tradicionais yakisobas com preço promocional: R$ 14,90. São quatro tipos: de carne, legumes, camarão e frango. “Estamos com uma nova receita, novos cortes dos legumes e cuidado redobrado na temperatura deles”, diz Juliana. O menu da temporada está disponível até 31 de agosto nas quase 20 unidades do grupo no Distrito Federal.
Na agenda pra você: 2 e 3 de agosto: Vitália Festival. Cerca de 80 rótulos, no Empório Vitália (QI 5, Lago Sul). Inclui degustação de vinhos, queijos e antepastos. Das 18 às 22h. Ingressos: R$ 160 por pessoa (1º lote). Vendas: na loja, pelo site Sympla e nos supermercados Veneza. 10 de agosto: II Feira da Diversidade Culinária Árabe. Pratos típicos, danças. No Instituto de Cultura Árabe Brasileira (Icab, 706/707 Norte, Edifício Fearab, sala 101). Das 11 às 16h. Entrada franca.
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Mateus Vitória
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Flocos de arroz
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GARFADAS&GOLES
LUIZ RECENA
O Peru e a saideira com dignidade Conheci o ceviche no Peru e fiquei mal acostumado. Era a receita clássica: peixe cru, muito limão, choclo (milho especial), cebola roxa, batata doce, pimenta dedo de moça e algum outro picante leve que não lembro. Completavam alguns camarões especiais e anéis de lula. Tudo no ponto e em perfeito equilíbrio. Nada queimava nem ardia. Cerveja fria e um pizco para os mais valentes, o que não era meu caso. Era um restaurante simples, em bairro central, próximo à sede do Unicef, organismo das Nações Unidas para a infância, onde trabalhava nosso anfitrião, Salvador “Chava” Herencia, que meses depois aportaria em Brasília para ser chefe da comunicação do organismo internacional. Chava entrou para a história moderna da imprensa brasileira ao fazer a cabeça, mudar o comportamento da nossa mídia na cobertura da miséria infantil e seus estratosféricos índices de mortalidade. Começou com as campanhas do soro caseiro e terminou com o Criança Esperança, que muitos hoje acham que é genialidade da Globo com alguns aliados na Unesco e outros grandes do marketing, mas isso é outro papo, para outros ceviches, sempre clássicos como o primeiro. INSISTO NO CLÁSSICO porque essa história tem lá seus 40 anos e nesse período andei pelo mundo “like a rolling stones” e fui bombardeado por um sem fim de ceviches, sempre originais, autênticos, únicos, que pelo menos reforçaram minha ideia: aquele, de Lima, era o verdadeiro. Não que fossem ruins, ao contrário, só não eram aquele, o de Lima. É tipo um assadito de cordeiro: tem na Argentina, no Uruguai, em Bagé, no Alegrete, Dom Pedrito, no Fogo de Chão, na minha casa ou na de amigos onde às vezes asso. São bons, ótimos, mas não são os de Uruguaiana, os incomparáveis. Estou com o gosto na boca e o quadro na memória: dois meses atrás, lá no “País”, uma cordeirada só com os bichinhos da fazenda do Tonho Silva. Cardápio redundante, com entrada de cordeiro, principal de cordeiro e, à guisa de sobremesa, umas costelinhas de... cordeiro... só o Malbec para dar
equilíbrio. Regados a reencontro e saudade, nada melhor! Gracias Che Amigo! MÉXICO, EQUADOR, Venezuela, Cuba, Colômbia, Costa Rica, Brasília em sucessivas hordas ou levas invasoras. Alemanha, Bélgica, França, Espanha, onde se via e ouvia uns ponchinhos coloridos, uns gorrinhos enterrados nas orelhas e bocas soprando flautinhas afônicas, quase inaudíveis, com o indestrutível carnavalito. As ditaduras militares pintaram o quadro da dor e da miséria de seus imigrantes de rua, mas levaram para seus caixões a certeza de que o mundo conheceu a flautinha andina. Era chegar e puxar assunto, todos sabiam onde se comia o verdadeiro ceviche. De início aceitei muitos. Depois aprendi a escapar. “Soy de Lima”, dizia e deixava uma verba maior aos companheiros resistentes. EM VERDADE VOS DIGO, parecido, mesmo, só na casa do Salvador, uma ilha limenha no Lago Norte da capital. Chava chegou com mulher, filhos pequenos e um vira-lata de porte imponente que parecia um guerreiro inca, el Ayato. Veio também a mãe, uma senhora menos idosa do que aparentava. Um pessoa, uma entidade, que irradiava santidade, bondade cristã original, capaz de comover corações ateus como o meu à época. Nos abençoava e protegia com orações. Sempre pensei que, se alguém ensinou Deus a rezar, foi ela, La Señora. Minha amiga: que o céu a tenha em lugar de destaque, ainda que sua modéstia ache isso irrelevante. Nessa casa comíamos ceviche que nos levava a Lima. Depois jogávamos o Sapo. TANTAS LEMBRANÇAS por uma simples final de Copa América? É que foi uma final tão velha quanto as memórias do colunista. Por algum momento pensamos que o amigo viria. Fizemos preparações e planos, mas não deu. Faríamos um churrasco, talvez um ceviche quase como o de Lima e terminaríamos com “una salideira com dignidad”. Talvez várias. O resultado não importaria, como não importou. Salud!
AS DELÍCIAS DE MINAS PERTINHO DE VOCÊ 10
lrecena@hotmail.com
Queijos, doces, biscoitos, castanhas, pão de queijo, pimentas, farinhas, polvilho caipira, massa para tapioca, mel, manteiga, cachaças, linguiça, frango e ovos caipira.
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PÃO&VINHO
ALEXANDRE FRANCO
De volta da França II Dando continuidade às degustações dos vinhos trazidos da França para uma avaliação de importação pela Winemania, hoje comentarei um excelente branco do Vale do Loire e três ótimas opções de uma região mais ao sudeste, também muito conhecida e apreciada pelos paladares brasileiros: o Rhone. Essa é uma região produtora de grande diversidade de vinhos, com muita variação de preço e qualidade, mas é mais que possível garimpar alternativas de boa relação custo-beneficio. Em pleno Vale do Loire, rodeado de lindos castelos, encontramos um magnífico exemplar de Poully-Fumé de Antoine de la Farge da safra de 2017. Essa safra foi a de melhor resultado na história da vinícola e o resultado é delicioso. Um clássico Sauvignon Blanc desta que, para mim, é a região que produz os SB mais elegantes e sofisticados do mundo. De cor amarela clara, com reflexos esverdeados, o nariz traz agradável nuance de fumaça, especiarias, limão e pimenta branca. O palato é afiado, cortante, com ótima acidez gastronômica e toques de abacaxi. Grande Sauvignon Blanc. E o preço, para um Poully-Fumé, promete ser bem atraente, provavelmente abaixo dos R$ 150. Iniciemos os tintos pelo Côtes du Rhone Château de Ruth. Localizado em Ste-Cecile-les-Vignes, a nordeste de Orange, no coração dos terroirs do sul de Côtes du Rhone, a vinícula prima por produzir vinhos de boa qualidade a preços vantajosos, desde o século XVI. Esse Château de Ruth 2017 apresentou-se com cor vermelha rubi intensa, com reflexos violetas. O nariz muito frutado, com cerejas e framboesas, agrada e é de fácil percepção. Por fim, o palato é carnudo, de taninos presentes, mas bastante
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suaves e elegantes. Vinho redondo, gostoso e ótimo para gastronomia. O bolso do consumidor, além do palato, ficará feliz com um preço estimado entre R$ 80 e R$ 100. Passemos agora a um exemplar de Vacqueyras, o Château des Roques 2016. Com um corte bastante típico dessa sub-região, o Château des Roques traz 70% Grenache, 15% Mouvedre e 15% Syrah e envelhece por 12 meses em barricas de carvalho. De um vermelho rubi clássico, traz aromas vibrantes de especiarias e florais, além de um toque mineral esfumaçado de grande elegância. Na boca é sedoso, com fundo doce, apresentando frutas vermelhas e pimenta branca, além de uma agradável nuance de lavanda. O preço? Estima-se que estará a disposição do consumidor na casa dos R$ 160. Finalmente, a mais preciosa pérola do Rhone, um Chateauneuf-du-Pape escolhido a dedo para maravilhar os consumidores dispostos a gastar um pouco mais por uma qualidade marcante. Garimpamos o Chateauneuf do Domaine L’Or de Line 2016. São nove hectares divididos em 15 parcelas produzindo 11 castas diferentes para possibilitar a produção desse néctar. Vermelho rubi intenso e profundo, traz aromas de frutas vermelhas e negras do bosque, especialmente morangos, cassis e amoras. O palato é mais que tudo poderoso, amplo, potente. Mastigável e muito gostoso, acompanha carnes grelhadas ou com molhos, especialmente cordeiro. Grande vinho! O preço estimado para o consumidor no Brasil está na faixa dos R$ 350, mas garanto: vale cada real investido. Na próxima edição fecharemos as análises dos franceses visitados na Expovinis com uma maravilhosa mostra de Borgonha. Até lá!
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sobreotempo “O artista explora a potencialidade expressiva dos materiais e linguagens que tornam o trabalho passível de ser lido plasticamente. Seu pensar é o próprio fazer. No processo, não existe tranquilidade. Vagueia entre a angústia e a plenitude, na urgência de atualizar.” A definição é de Lia do Rio, que expõe seu trabalho até 4 de agosto no Museu da República. Batizada de Tempo em suspensão, a mostra apresenta 37 obras da artista plástica paulista que vive no Rio desde os dez anos e que pretende provocar o olhar do espectador sobre o tempo presente e o efêmero. Uma das principais matérias-primas usadas por Lia são folhas secas, que representam reflexões sobre vida, morte, transformação, tempo e atemporalidade. “Não estou falando de ecologia, tem a ver com o ser humano. Eu acredito que todas as problemáticas mundiais que envolvem sobrevivência estão nessa incapacidade de se perceber a natureza”, acrescenta a artista. A curadoria é do artista visual e escritor Bené Fonteles, que afirma: “A originalidade da obra de Lia reside na forma de ela se apropriar dos resíduos naturais e lhes dar nobreza estrutural. As mais significativas são as que ela ressignifica os materiais para conceder a elas potência poética”. Diariamente, das 9 às 18h, com entrada franca.
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Quem estiver com passagem comprada para Londres entre 31 de julho e 30 de agosto deste ano vai poder visitar a exposição Brasília – Da utopia à capital, montada na Embaixada do Brasil. Resultado de extensa pesquisa da curadora Danielle Athayde na Fundação Ortega y Gasset, em Madri, a mostra já circulou por dez capitais, entre elas Paris, Berlim e Moscou. Reúne elementos relacionados à arquitetura que identificam Brasília e se propõe a analisar a produção artística dos anos de construção da capital, além de nos encaminhar o olhar para a representação contemporânea da capital. Do acervo, composto por aproximadamente 300 obras de arte e documentos, fazem parte maquetes de edifícios icônicos projetados por Oscar Niemeyer, desenhos e maquete fotográfica do plano urbanístico de Lucio Costa, esculturas de Maria Martins, de Bruno Giorgi e de Alfredo Ceschiatti e fotografias de Marcel Gautherot e Mario Fontenelle. “A ideia da exposição é mostrar ao mundo as várias facetas das artes que deram vida à cidade. As obras que serão expostas pela primeira vez em Londres são essenciais para o entendimento da formação da nova capital. Acredito que essa mostra vai aumentar, ainda mais, a curiosidade dos ingleses sobre uma página da nossa história que nos enche de orgulho”, destaca Danielle. De segunda a domingo, das 11 às 18h, com entrada franca.
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Quem ainda não viu tem mais uma chance para conferir a linda mostra Sertão forte, com 50 fotos de Noilton Pereira. É que ela foi prorrogada até 24 de agosto no mesmo espaço, o CTJ Hall (706/906 Sul). “A fotografia me permitiu derrubar fronteiras e a minha inquietude me fez fotógrafo. Eu passei a registrar a vida dessa gente simplória, que vive em casas de barro, de chão batido, sem recursos”, explica o fotógrafo, cujas imagens registradas no sertão baiano ganharam o mundo pelas redes sociais, passaram a ser vendidas e hoje financiam programa que fornece material escolar, alimentação, brinquedos, roupas, móveis e até novas casas para famílias da Chapada Diamantina. Autodidata e ex-radialista, Noilton conhecia muito bem o contexto do sertanejo daquela região. “Eu visitava as comunidades, conhecia o dia a dia sofrido de muitos deles, as tantas limitações impostas pela história do nosso país, mas não conseguia transmitir isso para as pessoas que viviam fora dessa realidade”, revela. Os anos se passaram e ele compreendeu que a fotografia e o voluntariado eram sua vocação. As fotos expostas também estão à venda e a renda reverterá para o projeto Sertão Forte. De segunda a sexta, das 9 às 21h, e sábados, das 9 às 12h. Entrada franca.
“Amo a natureza. Hortênsias são endêmicas na região onde nasci. Cresci admirando flores e paisagens. Quando chegamos a Brasília, fiquei apaixonada por tudo que encontrei aqui, o Cerrado, as plantas, o clima, a luz, as cores do Planalto. Nos meus quadros, procuro retratar essa emoção diante da admiração que nos encanta. Se alguém perceber esse estado de felicidade, então valeu a pena”. Assim a artista plástica Alda Molina explica como se inspira para realizar suas telas, em exposição na Casa Thomas Jefferson, filial Sudoeste (EQSW 301/302) até 17 de agosto. Nascida na cidade gaúcha de Pelotas, mas radicada em Brasília desde 1974, ela divide seu tempo entre telas, pincéis e tintas e a administração da Casa do Piano, empresa familiar, junto com o marido, o afinador de pianos Rogério Resende, e a filha Veridiana. É no showroom da Casa do Piano que os quadros de Alda Molina transformam a paisagem. Ao lado de belos pianos acústicos em exposição, estão também hortênsias, hibiscos, margaridas, a natureza em tela de Alda. De segunda a sexta-feira, das 9 às 21h, e sábado, das 9 às 12h30. Entrada franca.
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“Era uma vez (e é ainda), certo país (e é ainda) onde os animais eram tratados como bestas (são ainda, são ainda); tinha um barão (tem ainda), espertalhão (tem ainda), nunca trabalhava e então achava a vida linda (e acha ainda, e acha ainda)...” Quem viveu no final dos anos 70 facilmente adivinha qual é a música que começa com esses versos. É Bicharia, de Chico Buarque, parte integrante do musical Os saltimbancos, que acaba de ganhar nova montagem, dessa vez de autoria do diretor de teatro Hugo Rodas. Em comemoração ao seu aniversário de 80 anos, ele apresenta no CCBB uma releitura desse clássico, em que os atores não virão caracterizados de jumento, cachorro, gato e galinha, mas sim de jogadores de futebol. Diretor da ATA, Agrupação Teatral Amacaca, que este ano completa dez de estrada, o diretor uruguaio gosta de dizer que rege uma orquestra de atores na qual desenvolve seu trabalho no limiar do teatrodança, linguagem que marca seu trabalho. Fazem parte do elenco Abaetê Queiroz, André Araújo, Camila Guerra, Dani Neri, Diana Porangas, Flávio Café, Gabriela Correa, Iano Fazio, Juliana Drummond, Luiz Felipe Ferreira, Nobu Kahi, Pedro Tupã e Rosanna Viegas. Até 4 de agosto, de quinta a domingo, sempre às 16h. Ingressos a R$ 15 e R$ 30, à venda na bilheteria do CCBB e no site eventim.com.br. Informações: 3108.7600.
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vidanocirco Há 13 anos nasceu em Natal o Circo Grock, pelas mãos de Nil Moura e Gena Leão, que já vinham de experiência anterior no Circo Teatro Cara Melada, num total de 25 anos de picadeiro. Durante uma década a dupla percorreu países da Europa para se aperfeiçoar na arte circense, teatro e dança, buscando fazer uma releitura das artes do picadeiro em seu aspecto mais poético e tradicional. Desde 2015 circulando pelo Brasil, o Circo Grock monta agora sua lona no CCBB, onde ficará até 8 de setembro. Apresenta o espetáculo Circo Grock 2019 – Uma história de circo, no qual oito artistas, entre palhaços, mágicos, malabaristas, atores e equilibristas fazem uma reflexão sobre a arte circense, levando ao público um pouco da vida e da emoção de estar no picadeiro. “Nossa história carrega uma forte mensagem sobre o papel do circo na sociedade, desde a criação e concepção de cada personagem integrante dessa magia”, explica o artista Nil Moura, que junto com Gena Leão encarna os palhaços Espaguete e Ferrugem. Durante o mês de julho, sessões de terça a domingo. Em agosto e setembro, somente de quinta a domingo. Ingressos a R$ 30 e R$ 15, à venda na bilheteria do CCBB (3108.7600) e no site www.eventim.com.br.
As cantoras brasilienses Dhi Ribeiro, Cris Pereira, Anna Christina, a baiana Juliana Ribeiro, a paulistana Fabiana Cozza e a pernambucana Karynna Spineli estão na segunda edição do projeto Divas do Samba, que acontece dias 19 e 20 de julho na área externa do Museu da República, com entrada franca. Todas elas com a grande responsabilidade de homenagear ninguém menos que Dona Ivone Lara (1922-2018). Estarão apresentando músicas e histórias da vida de Dona Ivone, a Grande Dama do Samba, com a proposta de ressaltar a importância da sambista e compositora carioca para a cultura brasileira. “Ela foi um ícone, numa época em que a mulher não tinha espaço e tampouco ocupava as rodas de samba do país”, conta Ellen Oliveira, idealizadora do projeto. “Também cantar a força das mulheres, ocupar cada vez mais um espaço que é delas. Lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive fazendo samba”, acrescenta. Na sexta-feira sobem ao palco Anna Christina, Juliana e Dhi. No sábado será a vez de Fabiana, Karynna e Cris. No dia 27 de julho Fabiana Cozza volta a Brasília para se apresentar no Clube do Choro, às 21h. Vai mostrar seu novo CD, Canto da noite na boca do vento, com repertório todo dedicado a Dona Ivone Lara. Vem na companhia do violonista Alessandro Penezzi, do percussionista Douglas Alonso e do cavaquinhista e bandolinista Henrique Araújo. No repertório, clássicos de Dona Ivone Lara como Enredo do meu samba e Alguém me avisou. O nome do CD Canto da noite na boca do vento, aliás, faz referência a um verso do samba Sonho meu. Ingressos a R$ 40 e R$ 20. Informações: 3224.0599.
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natorredigital Apresentada ao público de Brasília em espaços e momentos diferentes, a exposição multimídia Pirâmide, urubu, criada pelo artista visual e cineasta Maurício Chades, continua neste mês com nova performance a céu aberto e culmina com uma mostra nas duas cúpulas da Torre de TV Digital. A curadoria é de Gabriel Menotti. A primeira etapa foi realizada em junho, com a performance Banho de abdução coletiva de lua cheia, no Córrego do Urubu. Uma segunda performance será realizada na mesma região em 21 de julho. Essa etapa inclui a exibição ao ar livre do curta-metragem inédito Juca. Finalmente, em 29 de julho, será aberta a exposição Pirâmide, urubu. Essa, aliás, é a primeira vez que a Torre de TV Digital funciona como espaço expositivo. Na cúpula 1 serão expostas 17 obras, que surgem como partes pelo caminho na criação de dois curtas-metragens: O vídeo de 6 faces e Juca. Ambos são exibidos em looping na Cúpula 2, onde está a instalação Pirâmide, cinema. Esses trabalhos marcam um intercâmbio entre processos artísticos, artes visuais e cinema. Até 25 de agosto, de terça a domingo, das 18h30 às 22h, com entrada franca.
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pianobrasileiro Depois da abertura em grande estilo, com o pianista brasileiro Nelson Freire, o Instituto do Piano Brasileiro (IPB) anuncia para os próximos meses recitais de dois dos mais premiados pianistas brasileiros, Cristian Budu (foto) e Fabio Martino. O primeiro se apresenta dia 14 de setembro, às 20h, no Auditório do Centro Cultural ADUnB, da UnB. Brasileiro e filho de romenos, Cristian venceu o consagrado Concurso Internacional Clara Haskil, na Suíça, conquista considerada pela crítica especializada como a mais importante para um pianista brasileiro nos últimos 25 anos. Dia 31 de outubro será a vez de Fabio Martino se apresentar no mesmo local e horário. Detentor de mais de 20 primeiros lugares em competições de piano, ele já gravou dois CDs solo com obras de Brahms, Schumann, Höller, Edino Krieger, Beethoven e Liszt. A série Piano brasileiro foi idealizada pelo pesquisador e pianista Alexandre Dias, diretor do IPB, com o objetivo de trazer de volta à cidade bons concertos de música erudita. Ingressos entre R$ 100 e R$ 260 já à venda na loja Eventim do Brasília Shopping ou pelo site www.eventim.com.
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Esse é o nome do espetáculo que celebra os 40 anos de carreira do ator Chico Sant´Anna, em cartaz até 4 de agosto no Espaço Cultural Renato Russo. Ele encarna o personagem Dinho dos Santos, um negro de 70 anos que recebeu uma educação rígida na qual era lembrado constantemente por sua mãe a saber “qual era o seu lugar”. Até meados do Século 20, a frase que dá título ao espetáculo era dita e repetida às populações negras sem melindres. Com texto de Santiago Serrano, o espetáculo tem direção de Sérgio Sartório, que afirma: “Num país que mascara seu racismo sob uma decantada (e falsa) democracia racial, ela pode soar abusiva nos tempos de hoje, mas não precisamos ir longe para considerá-la ainda bastante atual”. E acrescenta: “Dinho é como tantos outros milhões de senhores brasileiros de pele negra, nascido numa família pobre, criado nas periferias das cidades do interior do país”. Dias 26, 27 e 28 de julho e 2, 3 e 4 de agosto. Sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 19h. Entrada franca, mediante a retirada de ingressos meia hora antes de cada sessão.
“Sou gaúcha e a música do Rio Grande do Sul é bastante influenciada pela música argentina. Vim para Brasília com essa herança. Aqui encontrei minhas companheiras e resolvemos formar esse grupo para homenagear Mercedes Sosa e as canções da região andina”, revela Eleni Fagundes, uma das quatro integrantes do grupo Merceditas, que apresenta o show Soy loco por ti América dias 27 e 28 de julho, no Espaço Cultural Renato Russo. Além de Eleni, diretora musical, participam do grupo fundado em 2016 Ednea Fagundes (voz e percussão), Eliane Timm (voz e percussão) e Eulália Augusta (voz e violão). No repertório dos dois shows, canções latino-americanas de Mercedes Sosa (19352009), folclore andino e músicas tradicionais de Cuba. Para o quarteto, a boa fase do gênero musical mostra o avanço da latinidade em Brasília. “Parece-me que havia um espaço que estava vazio em Brasília. Porque você vê muito nos bares o rock, a MPB, o que a gente também gosta muito e acha valioso. Mas há um tempo não havia um grupo ou espaço para esse tipo de música. Nós encontramos uma receptividade muito grande do público”, completa a vocalista. Sábado, às 20h, e domingo, às 19h. Ingressos a R$ 50 e R$ 25.
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naondadapiscina Onde, há quase 22 anos, dormia impávida uma inesquecível piscina de ondas, os brasilienses saudosos dos bons tempos têm agora uma praça de convívio e cultura, com instalações de arte, comida, bebida, música, arena de shows e várias atividades com foco nos jovens. Foi inaugurada no último dia 13 a Ocupação Contém, que une o itinerante MimoBar à gastronomia e arte. “Quando nosso coletivo de produtores criativos foi convidado pela primeira vez pelo poder público para ocupar o Parque da Cidade, não tivemos dúvida. Fomos correndo para o Castelinho, playground há algum tempo abandonado e que clamava por um olhar de generosidade à sua história. Germinava ali uma vontade grande de ocupar criativamente cada espaço largado pelo uso, mas não pela memória. O ano era 2013 e o sonho de reabrir a piscina de ondas a algum tipo de convívio nasceu com ele. Infelizmente as políticas públicas de revitalização não prosseguiram e tivemos de guardar o presente no armário,” conta Sandro Biondo, que se uniu a Lucas Tobias, Ana Júlia Melo, Pedro Paulo, André Pires e Rafael Godoy para mais uma empreitada desafiadora. O espaço abriga sete contêineres dedicados ao MimoBar, às artes visuais e à gastronomia, além de uma estrutura de serviços com banheiros, estacionamento, segurança e reciclagem de lixo.
Bruno Cavalcanti
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Kate Lemmon
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Centenário modernista Exposição no Sesc 504 Sul reforça a importância e o legado da Bauhaus. POR PEDRO BRANDT
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m uma visita a Berlim, é bastante provável que um brasiliense se depare com prédios que lembrem a arquitetura de Brasília. Isso, claro, não é simples coincidência. Tanto a capital alemã quanto a brasileira contam com diversos exemplares arquitetônicos construídos sobre os princípios da Bauhaus. Vanguardista escola alemã de artes, a Bauhaus foi fundada em 1919 e, com um grupo eclético de professores – com especialidades diversas, como engenharia, arquitetura, pintura, escultura, fotografia e dança –, propunha a seus estudantes (foto acima, à direita) um ensino interdisciplinar em diálogo com uma preocupação estética, social e política. Tal postura alcançou, e não apenas na Alemanha, uma imensa reverberação, inspirando mundialmente outras correntes artísticas e de pensamento. No Brasil, é notória sua influência nas criações do arquiteto Oscar Niemayer. O que, provavelmente, um berlinense vai perceber quando visitar Brasília. E justamente no ano em que é cele-
brado o centenário da Bauhaus o Goethe-Zentrum Brasília e a Embaixada da Alemanha no Brasil, em parceria com o Serviço Social do Comércio (Sesc), realizam, até 31 de julho, o projeto BSBauhaus. Quem visitar o Sesc 504 Sul poderá conferir a exposição Bauhaus 1919-1933 – Universos de ideias, concepções de espaço, visões de objetos, composta por fotografias, documentos, obras de arte, publicações, textos e filmes que apresentam um panorama dos ideais da Bauhaus. A exposição tem curadoria de Jolanthe Kugler, do Vitra Design Museum, localizado na cidade alemã de Weil am Rhein. “A Bauhaus cunhou uma noção abrangente da função do designer e do arquiteto como quem influencia todas as áreas da vida, tornando-se, assim, um protagonista das mudanças sociais, atitude essa que parece cada vez mais necessária”, comenta a curadora. No Brasil, pontua Jolanthe Kugler, as influências da Bauhaus estão visíveis não apenas nas obras de Oscar Niemeyer. “Lina Bo Bardi [que projetou o Masp, em São Paulo] se insere diretamente nas
ideias da Bauhaus, graças à sua concepção da arquitetura como instrumento social em vez de representação política”. Dentro da programação de filmes será exibido, nesta sexta-feira, 19, às 19h, o documentário A construção do futuro – 100 anos da Bauhaus, no qual Niels Bobrinker e Thomas Tielsch investigam, a partir da Bauhaus como utopia social, a trajetória da escola e seu legado até os dias de hoje. Parte integrante da exposição, a experiência imersiva Virtual Bauhaus (foto da esquerda, acima), que utiliza a realidade virtual como suporte, transporta os visitantes para a década de 1920, direto para o prédio na cidade de Dessau onde, naquela época, funcionava a sede da escola. A proposta é, através de encontros com sua arquitetura interior, explorar as ideias centrais da Bauhaus. Bauhaus 1919-1933 – Universos de ideias, concepções de espaço, visões de objetos
Até 31/7, de 2ª a 6ª feira, das 9 às 21h, no Sesc Estação 504 Sul. Bauhaus Virtual: até 26/7. Entrada franca.
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GRAVES&AGUDOS
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abarrotada
POR HEITOR MENEZES
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gora que estiou pra valer e o vento deita camadas de poeira sobre tudo e todos, fazem festa os otorrinolaringologistas. É verdade, nem precisa explicar os ciclos desta cidade. O grande ar-condicionado central que funciona sobre o Distrito Federal tem, nesta época, seu momento de glória. Depois, passa o resto do ano escangalhado. Assim, abstraindo a secura poeirenta e seus efeitos deletérios sobre a saúde (a alegria dos otorrinos), resta a diversão musical, naquele misto de celebração social e mil outros motivos para estar na plateia, diante de alguém conduzindo (bem ou mal) a arte da música. Melhor ficar com quem conduz bem a música, né? De cara, quem conduz bem a música é Lulu Santos, pós-doc em pop-rock – e o quanto esse som é benéfico para corações e mentes. Neste 18 de julho, Luiz Maurício Pragana dos Santos é a atração da Quinta Cultural do projeto Na Praia (leia mais na página 20). Projeto que, aliás, só trabalha com filé mignon e cortes nobres. Senão vejamos o cardápio dessas quintasfeiras: dia 25, a atração é Nando Reis e Roberta Campos; dia 1° de agosto, Dio-
go Nogueira; dia 8, Roupa Nova; e dia 15, Djavan. Caso o frequentador queira algo, digamos, mais contemporâneo, então a pedida, no mesmo canal, é a SextaFeira Na Praia. Ou o sábado. Esses dois dias da semana estão reservados a algo realmente mainstream. Tem música eletrônica, sertanejo e funk romântico. Neste mês de julho, finalmente tem tributo a Dona Ivone Lara (1922-2018). Finalmente porque, passado mais de um ano de seu falecimento, surge agora a oportunidade de homenagear na capital a rainha do samba e do partido-alto (alô, Império Serrano!). Nesse sentido, o projeto Divas do Samba reúne, dias 19 e 20, na área externa do Museu da República, especialistas em Dona Ivone Lara: Anna Christina (DF), Juliana Ribeiro (BA), Dhi Ribeiro (DF), Fabiana Cozza (SP), Karynna Spinelli (PE) e Cris Pereira (DF). Quer mais Dona Ivone Lara? Então, anote: Fabiana Cozza repete o tributo, dia 27, no espaço aconchegante do Clube do Choro. E quantas mãos podem tocar um piano ao mesmo tempo? Oitenta e oito, diriam os engraçadinhos, partindo do pressuposto de que a tessitura dos modernos pianos acústicos tem lá essa quantidade
de teclas brancas e pretas. Não é isso. Outro dia, quatro professores da Escola de Música de Brasília mandaram ver em um único piano. Ok. Mas, em se tratando do projeto PianOrquestra (dia 19, no Clube do Choro), são dez mãos tocando literalmente todas as partes do piano, não apenas no teclado. Dirigido pelo pianista Claudio Dauelsberg, o negócio extrapola as possibilidades em espetáculo multilinguagens. É ver e ouvir para crer. Rock’n’roll não é poluição sonora, diz um antigo petardo do AC/DC. Música Não É Barulho – Música Transforma, diz o nome do festival de música instrumental que ocupa diversos espaços do DF, entre 21 e 27 de julho. Entre os destaques tem o piano de Amaro Freitas (PE), o metal (o sopro) de Esdras Nogueira (DF), os brasilienses Muntchako, Passo Largo, Dillo e seu projeto Guitarráfrika, Henrique Band (RJ), Bruno Gafanhoto Trio (DF), Thiago França, do Metá Metá (SP), Maria Portugal (SP), Duo Bavi (BA), e Daniela Spielmann (RJ). Tudo gente que não desiste de viver de música instrumental neste país. Sim, o rock sinfônico “will never die”, diriam os aficionados e aqueles que um dia caíram de amores por Days of future
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Felipe Panfili
Nando Reis e Roberta Campos
Já que julho é o mês do rock, rock é o que não falta no Brasília Capital Moto Week 2019, tradicional evento que mistura, ora vejam, rock’n’roll e motocicletas, ou o contrário, dependendo do ponto de vista do barulho produzido. Pois no cardápio musical, que se estende de 18 a 27, no Parque de Exposição da Granja do Torto, o BCMW apresenta CPM 22 (dia 19), Tributo a Charlie Brown Jr. (dia 20), Biquini Cavadão (dia 26) e Jota Quest (dia 27). Em algum momento, podem crer, deve tocar o hino motociclístico Born to be wild (Steppenwolf). Pronto. Estamos em agosto. Chega! Chega nada. Chega mais, porque o primeiro fim-de-semana de agosto está abarrotado de música. Primeiro, o festival CoMA 2019 – Convenção de Música e Arte. De 2 a 4, em frente à Funarte (Eixo Monumental), temos uma panelada de artistas que prometem levantar a poeira da capital. Destaques: Baiana System, Maria Gadú, Hamilton de Holanda Quarteto, Scalene, Filipe Ret, Letícia Fialho e a Orquestra da Rua (participação: Pedro Luis), Ney Matogrosso, Liniker e Os Caramellows, Francisco, El
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passed, dos Moody Blues, ou Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, de vocês sabem quem. Esses discos emblemáticos e grandiloquentes, lançados em 1967, serviram para mostrar ao mundo que a música dita erudita casava muito bem com o rock. Ou seria o contrário? Não importa. O resto é história. História que o projeto CCBB In Concert põe em ação, dia 27, no aprazível jardim do centro cultural, ali pelas bandas da Ponte JK. O dream team das guitarras de Brasília (Kiko Peres, Dillo D’Araújo, Marcelo Barbosa e Haroldinho Mattos) junta forças com a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, sob a regência do maestro Claudio Cohen. Enquanto isso, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, nesse mesmo dia 27, Elvis Presley comanda o rock’n’roll. Mas como? Calma. Trata-se do retorno à capital do britânico Ben Portsmouth, vencedor do Worldwide Ultimate Elvis Tribute Artist Contest, qualquer coisa tipo Campeonato Mundial de Sósias do Elvis. O espetáculo Elvis – The king is back! volta para dar aquela impressão de que Elvis não morreu e nunca vai morrer.
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Hombre, Luedji Luna, Joe Silhoueta (participação: Odair José) e Pedro Luís cantando Luiz Melodia. Ao que consta, muitas das atrações estão com ingressos esgotados. É conferir e se programar. No Parque da Cidade (estacionamento 4), a pedida, dia 3, é o 5° Festival BB Seguros de Blues e Jazz. Como nas edições anteriores, muito som alto nível para esquecer a poeira rodopiando no ar. A principal atração parece ser a Robert Cray Band, liderada pelo simpático e premiado guitarrista norte-americano Robert Cray. Se o assunto é Fender Stratocaster ou Fender Telecaster, Cray é o especialista. E tem mais guitarra(s), na verdade, encontro histórico: o Mutante Sérgio Dias encontra o Tutti-Frutti Luiz Carlini; o baixista Thiago Espírito Santo convida o lendário gaitista Maurício Einhorn. Outras atrações devem ser anunciadas. Detalhe importante: entrada franca. Esse dia 3, caramba, tá que tá. Os Racionais MC’s têm data confirmada em Brasília, no Ginásio Nilson Nelson. Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue e DJ KL Jay voltam à capital com a turnê comemorativa de três décadas ininterruptas de hip-hop e poesia da periferia. O clássico disco Sobrevivendo no inferno (1997) deve ser recriado com uma banda completa. Em 2019, os Racionais continuam essenciais para quem quiser entender o Brasil que não conhece o Brasil. Mais dia 3. No Toinha Brasil Show (SOF Sul), a casa mais rock’n’roll da capital, temos a volta da inacreditável Massacration. Hermes & Renato, Detonator, metal farofa, clichês, perucas, galhofa, baixaria e esbórnia, não necessariamente nessa ordem, garantem cada centavo investido nessa atração. Se mandarem ver o que acontece no DVD Live metal espancation, beleza, a noite está ganha.
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Nina Quintana
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Navegando em outra estação Banda brasiliense Rios Voadores retorna revigorada em novo álbum. POR PEDRO BRANDT
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isponível para audição nas plataformas digitais desde o finalzinho de junho, Rios Voadores na Era Sinistroyka, segundo álbum da banda brasiliense Rios Voadores, é uma grata surpresa. Não apenas por configurar, depois de um período de hiato, o retorno à ativa do quinteto – conhecido por performances intensas e carismáticas, muito por conta da presença da vocalista Gaivota Naves –, mas, principalmente, por se tratar de um grande disco. Se no álbum de estreia – batizado com o nome da banda, lançado em CD e LP, em 2016 – era possível ouvir um grupo ainda se encontrando sonoramente (abraçando influências tropicalistas e o rock dos anos 1960 e 1970), o novo trabalho confirma a maturidade e a personalidade da Rios Voadores. “Para a banda sobreviver, tivemos que nos redescobrir, nos reinventar. E esse processo foi muito rico. Ficamos bastante tempo sem shows, então a escolha das músicas e os arranjos puderam passar por maior maturação”, comenta o guitarrista Marcelo Moura. Enquanto o primeiro álbum é mais
festivo e solar, o segundo é acinzentado, a ressaca do dia seguinte. Como se a banda estivesse navegando em outra estação. “É a Rios entrando na idade adulta, por assim dizer. Estamos falando de assuntos mais singulares. Tanto no macro, como política e sociedade, quanto dificuldades mais pessoais, questões de alma”, conta Gaivota, que assina a música Cinzas. “Essa canção é um reflexo do momento desesperador que estamos vivendo, e dessa juventude extremamente niilista e ansiosa, que se vê sem expectativas e acaba buscando fugas das mais diversas”, detalha a vocalista. Tecladista, vocalista e principal compositor do grupo, Tarso Jones é autor de oito das dez faixas do álbum. Sobre suas inspirações, ele cita desde clássicos, como Bob Dylan, The Kinks e Syd Barrett, até coisas mais recentes, caso de Letrux e Altin Gün. “Eu tenho um processo meio espontâneo de composição. O feeling vem livre mesmo, mais intuitivo do que necessariamente formulado”, resume o músico. Além de Marcelo, Gaivota e Tarso – sergipanos radicados em Brasília desde 2006 e também integrantes da banda brasiliense Joe Silhueta –, a Rios é composta por Beto Ramos, no baixo, e Hélio
Miranda, na bateria. Financiado pelo Fundo de Apoio à Cultura, da Secretaria de Cultura do Distrito Federal, o álbum foi produzido por Gustavo Halfeld, que ajudou o grupo a lapidar o novo repertório dentro do estúdio. Quem ouvir o segundo álbum da Rios Voadores vai perceber que ele funciona muito bem tanto como narrativa quanto como coleção de momentos: a euforia de Garganta seca e Lá fora, a tensão climática que começa em Asa céu e desemboca em Cinzas, as reflexivas e soturnas Dias de cara (Quase ok) e Miga sua loka, chegando na tranquilidade de Caverna moderna, nas quase baladas Nave nova e Plateia ou ainda na singela despedida de Olha azul. Vivemos em uma era “sinistroyka”, mas, pelo menos ao longo dos 36 minutos do disco, tudo é beleza.
Raquel Camargo Raquel Camargo
Divulgação Thaís Mallon
Galpão musical POR SÚSAN FARIA
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casa funciona num galpão na zona industrial de Brasília, um amplo e moderno espaço onde se dança e se ouve muita música, especialmente MPB, jazz e rock. Espetáculos, exposições, palestras, cursos, cinema, teatro e outras manifestações culturais não faltam também na Cervejaria Criolina, que funciona de quarta a domingo, movimentando um público mensal de quatro mil pessoas. Criolina é um apelido carinhoso de crioulas e crioulos. “Decidimos pelo nome pensando na black music”, explica um dos sócios da casa, Rodrigo Barata. Quando o projeto nasceu, em 2005, o foco era o samba rock, o reggae e o soul americano, “muito dançantes”. Eventos e projetos da Criolina movimentam a cena cultural de Brasília desde 2005, mas foi em 2017 que o selo inaugurou seu galpão, com capacidade para até 400 pessoas. A entrada eventualmente é gratuita, mas em geral é paga, com ingresso que varia de R$ 10 a R$ 120. O empreendimento é conduzido por Rodrigo, Fábio Bakker e Tiago Pezão. Além da música, um atrativo são as cervejas artesanais próprias, como a Criolipa, forte e refrescante, e a Criolager, a mais consumida no galpão musical. “As-
sim como a música e outras formas de arte, a cerveja, quando bebida com responsabilidade, promove encontros e conexões entre as pessoas”, diz Tiago Pezão. A seu ver, o movimento de valorizar produtos locais é tendência global e está relacionado com as nossas identidades e a ideia de comunidade. Sanduíches, petiscos e drinks especiais são consumidos na Criolina, cujo cardápio é assinado pelo chef francês Tonico Lichtsztejn. A programação está fechada para julho/agosto. Este mês, entre outras atrações, tem Forró de Vitrola, aos domingos, e no dia 20 o lançamento do primeiro álbum, Ideia errada, da banda Breu, que recentemente produziu dois clipes, Voar de novo e Sucata. Na mesma noite se apresentam na Criolina a banda O Tarot e o cantor e compositor Paulo Chaves. Três dos quatro músicos da Breu são brasilienses: o guitarrista Biu, o baixista Malms e o baterista Anderson Freitas. O vocalista e tecladista Bepo é curitibano. O forte do grupo é o rock psicodélico e o progressivo, com influências da música clássica e do jazz fusion, além de música brasileira e jazz. “A música tem poder e magia, move as pessoas”, comenta Biu, que aos 12 anos aprendeu a tocar violão e não abandonou mais o universo musical. O Tarot faz música cigana brasileira.
Explora os arquétipos do baralho de tarô e sua riqueza simbólica. Em atividade desde 2016, funde a música brasileira com elementos multiculturais, vai do tango ao baião, da milonga ao flamenco. A sonoridade cigana e circense tem em sua base violino, acordeon, bandolim, banjolão e washboard. Paulo Chaves é formado em canto e violão pela Escola de Música de Brasília. Seu álbum Desafogo, com 11 faixas de MPB contemporânea, foi considerado um dos 50 discos de 2018 por um site especializado. Parte do festival Música Transforma, que se realiza em vários espaços da cidade, de 21 a 27 de julho, chega também à Criolina. Dia 26, Aeromoça e Tenistas Russas (SP), às 22h, e a brasiliense Muntchako, às 23h30, ambos com entrada franca; dia 27, Esdras Nogueira. Em agosto, destaque para o Baile Samba Coladinho (dia 21), Pedro Vasconcelos (23), Joe Silhueta (29) e Jazz no Porão (30). Em setembro, Toca Gil (dia 6), Maglore (21) e BNegão (28). Em outubro, Kid Criolina (dia 12) e Jaloo (19). E em novembro, Criolina de Los Muertos (dia 2). Cervejaria Criolina
SOF Sul, Quadra 1, conjunto B (99991-4747). De 4ª a 6ª feira, a partir das 19h; sábado, a partir das 20h; domingo, a partir das 18h.
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CAIANAGANDAIA
Viagem pela cultura mexicana POR VILANY KEHRLE
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brasiliense aguarda sempre com muita expectativa a temporada de “mar”, leveza e boas surpresas que agita Brasília, nesta época, nos últimos cinco anos. Com programação voltada para todas as gerações, o Na Praia 2019 tem como tema “memórias e sensações”, evocando a rica, diversa e milenar cultura mexicana, com suas cores vibrantes, ritmos sensuais e sabores picantes.
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O evento, que teve início em 28 de junho e segue até 8 de setembro, é caracterizado por uma praia artificial construída às margens do Lago Paranoá, atrás da Concha Acústica. Funciona de quinta a domingo com atrações variadas – música, gastronomia, esportes ao ar livre, baladas para os jovens, brincadeiras e atividades para a meninada e programas para famílias, com ingressos que custam R$ 26, aos domingos, e variam, nos outros dias, de acordo com o preço dos shows musi-
cais. A expectativa da organização é alcançar, este ano, 300 mil visitantes, sendo 10% vindos de outros pontos do país. A ambientação, que ficou a cargo do arquiteto e diretor de produção Thalisson Mesquita, mistura vários elementos que simbolizam alguns dos períodos históricos do México e estão presentes por toda parte, seja numa arte de parede ou em ornamentos dos espaços temáticos. “Fizemos uma pesquisa bem extensa sobre a história, a arte, a música e a arquitetura do México, um dos países mais ricos em paisagens naturais, cores e identidade cultural, para tentar trazer todos os elementos fundamentais para uma experiência de imersão para nossos clientes”, enfatiza Thalisson. Celebrando artistas como Frida Kahlo e Diego Rivera e arquitetos como Luis Barragán e Ricardo Legorreta, o Na Praia 2019 conta com a Vila Gastronômica, projetada com maior espaço para circulação e áreas de sombras com mesas e bistrôs. O destaque do espaço é o Malagueta Comedoria Mexicana, onde os apaixonados por tacos, nachos, burritos, guacamole, camarão e peixe fresco podem se deliciar com pratos que reúnem sabores da beira mar do México e do Brasil, cardápio comandado pela chef brasi-
Cheiro de Amor, Diogo Nogueira, Lulu Santos, Wesley Safadão, Falamansa, Gusttavo Lima e Jorge e Matheus vão agitar a galera nas areias da “praia”. O Parque Aquático é o espaço que seduz os amantes dos esportes radicais para dentro do complexo. Caiaque individual e duplo, pedalinho, escuna, windsurfe, bicicleta aquática, stand up paddle, wakeboard, wakesurf e mergulho se somam à tradicional manhã de esportes, aos sábados, liderada pela rede de academias Body-tech, que oferece atividades como boxe, muay thai, treinamento militar, cross training, yoga, funcional, dance mix, fitdance e hiit training.
Na Praia 5 anos: memórias e sensações Até 8/9 no SHTN, próximo à Concha Acústica. Vendas pelo aplicativo Na Praia, disponível para Android e IOS.
Fotos: Divulgação
liense Renata Carvalho, com a ajuda da sous-chef Raquel Pacheco. O Malagueta é o primeiro restaurante autoral desenvolvido pela R2 Produções para o evento, em sinergia com o tema e a cenografia da edição. Lá é possível saborear pratos como a sobrecoxa desossada ao molho típico mexicano à base de chocolate (R$ 47) e a caldeirada (peixe, camarão, lula e mexilhões), que custa R$ 135 e pode ser compartilhada. A Vila funciona às quintas, a partir das 18h, às sextas, a partir das 17h, e aos sábados e domingos acompanha a programação do evento. Na Vila estão também o Açaí Casca, Beef Passion, Chez L’ami, Club Life to Go, Dog da Igrejinha, Il Giorno Gelato, La Pacific Food, Les Frites, Marzuk, Oca da Tribo, Pastel Mix, Pizza Bacco, Ricco Burger, Sallva, Taco Peppe, Vila Cinco e Vilarejo Café. Tem, ainda, a venda itinerante do Bolo da Ivone, Bsb Pipoca, Churros Fecherri, Kátia Bala e Vai Bem. Ao lado da Vila fica o bar José Cuervo, que, além de servir drinques preparados com a tequila mexicana mais conhecida, funciona também como museu da bebida alcoólica destilada feita de agave-azul. A parte musical vai da MPB ao eletrônico, do sertanejo ao funk, do rock ao samba de roda, com ingressos a partir de R$ 51. Até o final da temporada, atrações como Alceu Valença, Djavan, Legião Urbana, Capital Inicial, Marília Mendonça, Anitta, Zeca Pagodinho,
A Capitania do Lago garante a segurança dos praticantes, que contam com guarderia para os equipamentos esportivos, píer flutuante e fixo e parque inflável. Os critérios para a execução de cada atividade variam de acordo com a complexidade do esporte, idade e altura dos praticantes. As atividades esportivas estão disponíveis aos sábados, das 9 às 15h, e aos domingos, das 9 às 17h, e os ingressos para as modalidades esportivas são comercializados, separadamente, no check-in do parque, dentro do complexo. Ricardo Emediato, diretor criativo do evento, diz que o grande desafio é sempre inovar e surpreender o público. “Por isso investimos nesse atrativo, que completa o cardápio de experiências do complexo de entretenimento.” Como o evento celebra o México, o parque temático Na Praia criou para a criançada a “Vila do Chaves”, mais de 1.000m² de área que reproduz a tradicional vila onde as crianças podem ser surpreendidas, a qualquer momento, pela presença de Chaves, Quico, Chiquinha e seu Madruga, personagens adorados durante décadas por milhares de crianças e adolescentes brasileiros. A vila funciona, aos sábados, das 9 às 15h (R$ 40/h ou R$ 75/diária), e domingos, das 9h às 17h (R$ 45/h ou R$ 85/diária). Crianças até quatro anos só entram acompanhadas por um responsável e até 11 anos não pagam para ter acesso ao complexo.
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VERSO&PROSA
Uma editora
nada convencional
POR VICENTE SÁ FOTOS LÚCIA LEÃO
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rabalhar no mercado livreiro do Brasil sempre foi para os fortes e apaixonados por livros. Um país em que 44% da população não leem e 30% nunca compraram um livro sequer durante toda a vida, e que tem uma média anual de leitura de menos de cinco livros, não é um mercado fácil. E onde, segundo dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), nos últimos anos, esse mercado encolheu 21%, entrar nesse nicho para produzir livros artesanais com autores novos seria uma rematada loucura e um fracasso anunciado, certo? Errado. É o que o coletivo e editora Avá está mostrando, em um ano e meio de atividade no Distrito Federal. Na última Feira do Livro de Brasília o coletivo não só botou sua banquinha como foi responsável por toda a coordenação e organização do espaço de autores e editoras independentes. E mandaram tão bem que foi o espaço melhor avaliado pelos frequentadores da feira. O coletivo e a editora Avá são irmãos, mas o coletivo nasceu primeiro.
Começou em 2016, nos bancos universitários, onde duas amigas cursaram oficinas de técnica literária e escrita criativa. Poetisas, Natália Honorato e Natália Cristina resolveram passar pra frente o conhecimento adquirido e montaram o coletivo Avá, promovendo oficinas itinerantes em escolas e feiras literárias. Nessa aventura, o coletivo foi crescendo, encontrando sua linha de ação e descobrindo que havia um grande número de autores que queriam publicar, mas ansiavam por um modelo diferente, fora das editoras tradicionais. Assim, do coletivo nasceu a editora Avá, com uma editoração inovadora que vai da consultoria de texto e conteúdo até a produção do livro em si. “O autor, nesse nosso processo, não só entrega os originais e depois vê o livro pronto, mas participa de todas as fases do livro: revisão, diagramação, escolha do papel, capa, ilustração. Ele pode acompanhar a produção nas fases que quiser. Assim, ele sente o livro como um todo e vê a importância de cada fase”, explica Natália Cristina. Por opção conceitual, e com a intenção de que cada livro seja um objeto de arte, a Avá trabalha com livros feitos à mão e costurados pelo coletivo em har-
moniosas e divertidas tardes. Esses momentos passam a ser não só reuniões de trabalho, como também de discussão dos caminhos do coletivo e da editora. Assim, vão nascendo novos serviços oferecidos pelo coletivo, como consultorias, oficinas, técnicas de encadernação manual, organização de saraus e tertúlias literárias dialógicas, promoção de lançamentos de livros e produção cultural de eventos ligados à literatura. Com apenas um ano e meio de vida, a editora Avá já publicou mais de 20 títulos, que variam de poesia, contos e relatos e a estudos e teses. Dois professores da Universidade de Brasília estão no catálogo de autores da editora. Ano passado eles foram contactados para fazer uma edição post-mortem de um poeta inédito. A viúva entregou os originais, alguns até escritos à mão, e o coletivo trabalhou desde a seleção e organização até a inclusão de fotos e textos de apresentação. Ao final de alguns meses, o livro foi lançado no Seminário Maior Arquidiocesano de Brasília – Nossa Senhora de Fátima, com a presença de familiares e estudantes que se emocionaram com a explanação e leitura dos poemas feitas pelo poeta Marcos Fabricio,
A partir da esquerda, Natália Honorato, Marcos Fabricio, Natália Cristina, Cris Reis e Luciana Rodrigues.
que também participa do coletivo Avá. Visando ao desenvolvimento de novos escritores e leitores, o coletivo já promoveu duas oficinas criativas para crianças, nas quais elas escreveram e ilustraram um livro ao final das aulas. Os traba-
lhos foram feitos nas escolas e com participação do corpo docente. Mas, voltando ao começo deste texto: e a crise de vendas de livros, como resolver? A Avá encontrou um caminho tão alternativo quanto ela própria: “Nós bus-
camos livrarias de rua e alguns locais que promovem a cultura alternativa, como o Ernesto Café, Nós Mercado Criativo e Ciclojoias e as feiras de livros independentes de Brasília e Goiânia. Lá, nós vendemos não só os livros, mas também nosso trabalho, por isso é tão importante”, afirma Cris Reis, poeta e editora. E como o céu é o limite, a editora e o coletivo estão preparando uma ocupação do gramado do Teatro Nacional para setembro, com o projeto Brasília Autoral, que visa a valorizar os criadores da cidade. Em meados do mês serão realizadas, ao ar livre, mostras editorial, de design, de música autoral e de criatividade infantil, em que as crianças poderão desenhar, poetar, dançar e contar histórias. Nestes tempos em que mesmo os alternativos precisam da internet, a editora Avá está finalizando seu site, que também vai comercializar os livros. Editora Avá
www.instagram.com/avaeditora. https://www.facebook.com/coleltivoava.
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DIÁRIODEVIAGEM
Beleza em
estado natural
Divulgação
Atrações turísticas convidam visitantes a observar animais e desfrutar das belas paisagens do Pantanal, gerando renda para preservar a biodiversidade.
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POR RAFAEL FONTANA
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nico Estado brasileiro recoberto pelos biomas Pantanal, Cerrado e Amazônia, o Mato Grosso tem assumido sua vocação para o turismo, aproveitando-se das vantagens naturais e geográficas. Localizado estrategicamente no ponto geodésico da América do Sul – como todo mato-grossense orgulha-se de mencionar –, o Estado fica bem na metade do caminho entre os Oceanos Atlântico e Pacífico. Também situa-se praticamente no meio dos extremos norte e sul do continente. Para o brasiliense, a conveniência é mais que convidativa. Voos regulares de diferentes companhias aéreas, com duração média de 1h40, ligam a capital do país a Cuiabá. E a partir de Cuiabá o visitante se conecta facilmente às principais atrações turísticas do Estado. Para Poconé são 100 km de estrada, enquanto Nobres fica a 122 km. Já a Chapada dos Guimarães dista apenas 60 km, em um trajeto que desvenda paisagens de rara beleza.
A Roteiro percorreu as três localidades para conhecer de perto a vida selvagem, a cultura, o estilo de vida e a gastronomia da região. O resultado será apresentado em duas etapas. Uma nesta edição, com foco no Pantanal e seus atrativos. Na próxima edição, apresentaremos nossas impressões sobre a Chapada dos Guimarães, as aventuras e opções gastronômicas. Todos os destinos visitados contam com infraestrutura hoteleira e de transportes. Nas cidades, há bares, restaurantes, farmácias e comércio em geral. Os setores público e privado têm-se unido em iniciativas para melhorar continuamente os serviços do turismo, ao mesmo tempo em que preservam as características locais e o meio ambiente. O labirinto da fauna
O trecho entre Cuiabá e Poconé pode ser percorrido em uma hora e meia, sem pressa, observando-se a mudança gradual da vegetação do Cerrado para o Pantanal. O verde frondoso começa a avançar sobre os arbustos, e a terra de aparência árida cede espaço a áreas alagadas.
Divulgação
Corixos se formam ao longo de toda as Rodovia Transpantaneira, que tem 124 pontes em 147 quilômetros de extensão.
quase todas de madeira, a estrada foi idealizada nos anos 1970 com o intuito de promover o desenvolvimento regional, ligando Poconé a Corumbá, no Mato Grosso do Sul. A ambição inicial foi abandonada pela dificuldade de construir uma ponte de grande porte sobre o Rio Cuiabá, e hoje a rota faz a felicidade dos turistas, brindados por vistas naturais exuberantes e animais que margeiam despreocupados toda a estrada. Jacarés podem ser vistos às dezenas durante todo o percurso. Circulam por ali também capivaras, veados, raposas e, com sorte, um tamanduá-bandeira. Também são avistadas cutias, tatus e – com mais sorte ainda – uma sucuri estendida sob o sol da manhã.
Pássaros completam o visual deslumbrante: dos majestosos tuiuiús e emas com mais de um metro de altura aos carcarás vorazes por caças ou, na falta delas, carcaças. Tucanos e pica-paus voam perto dos carros, e as araras se movimentam entre as palmeiras ao cair da tarde. A onça pintada e admirada
Maior felino das Américas, bem como maior predador de toda a América Latina, a onça pintada encontra no Pantanal de Mato Grosso um refúgio cada vez mais seguro. Nos anos 1980, ela estava criticamente ameaçads pelo avanço das fazendas na região. Caçadores e fazendeiros abatiam o animal alegando baixas nos rebanhos e as consequentes perdas econômicas.
Divulgação
Rafael Fontana
A água que inunda o Pantanal Matogrossense no período de cheia forma um sem-número de corixos, os canais que ligam rios e lagos, conhecidos na Amazônia como igarapés, ou igapós, no Nordeste. Os corixos desenham um imenso labirinto na região pantaneira, onde a fauna pode ser observada em sua plenitude. Entre os seis biomas brasileiros, o Pantanal é o que permite a visualização de animais com maior facilidade. Os motivos vão desde a vegetação aberta, passando pela baixa ocupação demográfica, até a farta diversidade de mamíferos, pássaros, répteis e anfíbios. Partindo de Poconé, a lendária Rodovia Transpantaneira segue por 147 km de terra até Porto Jofre, no Rio Cuiabá. Contando 124 pontes em seu percurso,
Mais de 4 milhões de jacarés habitam o Pantanal atualmente.
Uma imagem cada vez mais frequente: o passeio da onça pintada às margens do rio.
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DIÁRIODEVIAGEM tudar tanto biologia quanto idiomas estrangeiros. Dono da maior biodiversidade do planeta, o Brasil aparece entre os três países com maior variedade de aves, ao lado de Colômbia e Peru. O segmento, ainda pouco explorado no país, emprega no mundo mais de 600 mil pessoas e movimenta cerca de US$ 110 bilhões. Somente no Pantanal há mais de 460 espécies de aves catalogadas, e outras 150 em processo de identificação. A profusão de pássaros supera o total verifica-
do em toda a América do Norte, conferindo ao Pantanal uma posição vantajosa para investir nesse ramo do turismo, ao mesmo tempo sustentável e rentável. Hospedagem
Hotéis e pousadas de diferentes padrões e valores estão situadas nos arredores de Poconé e da rodovia Transpantaneira. A Roteiro visitou três, que oferecem acomodações, refeições e passeios. Mais informações em www.portojofre.com.br, www.pousadapiuval.com.br e ww.pousadarioclaro.com.br.
Cavalgada ao pôr do sol
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O aumento tanto da punição quando da conscientização reverteu o quadro neste começo de século. Atualmente, estima-se que 400 onças pintadas vivam no lado brasileiro do Pantanal. E a maior concentração está nas proximidades de Porto Jofre, localidade do município mato-grossense de Poconé que reúne pousada, restaurante e estrutura completa para ecoturismo. Nas proximidades de Porto Jofre, durante passeios de barco pelo Rio Cuiabá, por seus afluentes e corixos, tem-se tornado rotina avistar uma ou até mais onças. De tão acostumadas com a presença dos bisbilhoteiros, há dias em que os grandes felinos deitam à margem do rio, despreocupados com os olhares humanos. Os pescadores têm sido substituídos em ritmo acelerado pelos ecoturistas brasileiros e estrangeiros, ávidos por admirar a onça em seu habitat natural. O interesse em conservar a maior atração da fauna pantaneira justifica-se também pelo retorno financeiro gerado pelos turistas. Segundo ONGs de conservação da espécie, a atividade de observação de onças pintadas no Pantanal gera uma renda anual de US$ 7 milhões a pousadas, guias, motoristas e pilotos de barcos, entre outros profissionais e empreendedores. Além da onça pintada, a onça preta e a parda também despertam grande interesse entre os turistas. Outro filão que vem ganhando espaço é a observação de aves. A alta demanda, principalmente de visitantes estrangeiros, leva os guias a es-
Para se sentir um pantaneiro, nada melhor do que uma cavalgada para admirar as paisagens, a vegetação e os animais. O cavalo tem de ser, obviamente, o pantaneiro. A raça é a única adaptada às áreas alagadas. Dócil, o animal é dotado de musculatura firme e cascos apropriados para resistir à umidade. Diferentes pousadas do Pantanal oferecem o passeio a cavalo, seja para hóspedes ou grupos alojados em outro lugar. Na Pousada Piuval, por exemplo, um dos trajetos obriga os cavalos a atravessar áreas encharcadas, e o turista vivencia o dia a dia do pantaneiro. Na área que rodeia a Piuval, dentro do perímetro rural de Poconé, há um mirante para reverenciar o sol baixando na paisagem verde, pincelando o horizonte com tons acobreados. Trata-se, seguramente, de uma experiência para a vida toda. Memorável. Fotos: Rafael Fontana
A observação de pássaros como a arara-azul e o tuiuiú atrai principalmente turistas estrangeiros.
O estilo de vida pantaneiro nos remete a homens sobre cavalos tocando o gado, pescarias, peixe assado e tranquilidade, bastante tranquilidade. No Pantanal, a pressa é inimiga da contemplação. Livre de congestionamentos, do estresse ou de agenda apertada, a população local sabe cuidar dos afazeres diários e, ao mesmo tempo, espiar o nascer do sol, que pinta o céu em tons ora alaranjados, ora rosados. O pôr do sol rivaliza em esplendor com o alvorecer. Quem mora ali se esquece, vez ou outra, do entardecer privilegiado, como se um crepúsculo cinematográfico fosse apenas obrigação da natureza.
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LUZCÂMERAAÇÃO
Edward mãos de tesoura (1990)
A noiva cadáver (2005)
O universo mágico de Tim Burton CCBB apresenta, até 11 de agosto, mostra de filmes dedicada ao gênio das fantasias e fábulas cinematográficas modernas. POR SÉRGIO MORICONI
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á pouco tempo, Tim Burton foi fotografado ao lado de fãs nos mais diversos locais públicos de Brasília. Ele esteve na cidade para acompanhar a exposição em sua homenagem com desenhos, objetos, bonecos de personagens de seus filmes, story boards e praxinoscópios, entre inúmeras outras atrações. Ao contrário da imagem que os indivíduos costumam fazer das “celebridades”, a presença excêntrica de Burton contradizia nele o indivíduo desprovido inteiramente de afetação. Burton foi a aparição meteórica do amigo íntimo e extravagante que todos sonham ter, sejam eles crianças, jovens ou adultos fantasistas. A exposição permanece até o fim de A beleza sombria dos monstros: 10 anos de A arte de Tim Burton, mostra idealizada e curada por Breno Lira Gomes. Além das obras do diretor, estão programados filmes que fizeram a cabeça do autor de Edward mãos de tesoura (1990),
Batman (1989) e Alice no país das maravilhas (2010), incluindo o seminal (e imperdível) Vincent (1982). As entradas gratuitas dão também direito a debates, palestras e uma master-
Tim Burton e Johnny Depp no set de Alice no país das maravilhas.
class. Tudo isso ajuda a compreender a origem do pensamento e da estética do diretor. No curta Vincent, Burton conta a história de um jovem que sonhava converter-se em “príncipe das trevas”, apesar de viver enclausurado numa casa de um ensolarado bairro californiano. Como seu personagem, Burton cresceu fascinado por vampiros, zumbis e filmes de terror ordinários, os chamados B Movies. É uma das razões pelas quais dramatizou a vida de Ed Wood (Ed Wood/1994), um dos realizadores mais idiossincráticos da história do cinema. Este é apenas mais um exemplo de sua atração especial pelos seres estranhos, fora da norma, criaturas marginais de todo tipo. Frankenstein (1931) e A noiva de Frankenstein (1933), ambos de James Whale, o Drácula de Ted Brownig, o fundamental expressionista O gabinete do dr. Caligari (1920), de Robert Wiene, fazem a ponte para A noiva cadáver (2005), Frankenweenie (2012) e A lenda do cavaleiro sem cabeça (1999), entre outras produções de horror
A noiva de Frankenstein (1933)
fez Burton pensar em utilizar técnicos de lá e converter Vincent num curta de animação. O êxito o fez considerar a ideia de fazer filmes com imagens reais. O curta Frankenweenie (1984) e o longa A grande aventura de Pee-Wee (1985) são o resultado desse processo. Certa vez, Burton declarou que ainda hoje custa a crer que as coisas aconteceram com tanta facilidade. “Me parece que teria sido muito mais realista ter encontrado trabalho como camareiro de hotel ou garçom num restaurante do que conseguir contrato como diretor de cinema.” Exemplos semelhantes não faltam. Durante muitos anos, Quentin Tarantino foi atendente de uma videolocadora, tipo de negócio hoje praticamente extinto, não obstante alguns resistentes abnegados que servem ao nicho de filmes de arte e clássicos, gêneros que encontram espaços muito limitados nas plataformas de streaming. Fotos: Divulgação
de Burton, em que a poesia visual induz à percepção da beleza escondida no interior das bestas. Muitas das obras clássicas de terror aludem à solidão, aos preconceitos sociais, às criaturas desajustadas às normas e valores comunitários. Não era só o horror que apaixonava o jovem Burton. Dentro do universo dos filmes B, era igualmente devoto das fábulas infanto-juvenis, das desajeitadas aventuras e fantasias (muitas delas cômicas) de Sci-fi. A programação da mostra não deixa dúvidas quanto a isso. O aspirante a produção de filmes de animação deu seguimento a sua cinefilia sob a influência dos novos realizadores de “cinema barato” e independente. O corvo (1963) e Túmulo sinistro (1968) – presentes na mostra – são produções do ídolo Roger Corman. Mas o desejo de se dedicar ao cinema de animação – ou de se referir a ele – permaneceu, e permanece, forte, como bem demonstra o recentíssimo remake de Dumbo (2019). Algumas tentativas no gênero o levaram a se engajar muito jovem numa equipe da Disney. Uma má escolha, reconheceria mais tarde. O estilo familiar do grande estúdio entrava em choque com suas sombrias, muito embora doces, convicções. Além disso, foi um período nefasto para a Disney. O cão e a raposa (1981) e O caldeirão mágico (1985) seriam retumbantes fracassos de bilheteria. Alguém se lembra deles hoje em dia? À época, tinha-se a sensação de que a Disney iria fechar definitivamente suas portas. A circunstância desfavorável levou a Vincent. O filme havia sido concebido inicialmente como um livro para crianças. O fato de ainda estar ligado à Disney
Burton não escreve seus próprios roteiros. Surpreende que muitos admiradores e críticos digam serem alguns de seus personagens, como Edward (de Mãos de tesoura), a sua cara. “Ah, é você.” “Não, não sou eu”, contesta sempre. Obviamente, Burton tem muito em comum com a personagem. Mas há muitas contribuições de outros. Burton, o solitário taciturno, dá o tempo todo palpites sobre a escritura. No entanto, o trabalho coletivo faz com que possa ver o material com distanciamento. De outra forma, o resultado final poderia parecer demasiadamente pessoal, diluindo a forte empatia que seus filmes provocam no público de um modo geral. Burton evita ser o náufrago em uma ilha deserta. Ele entendeu a importância de levar em consideração outras várias contribuições individuais ao trabalhar com o ator Jack Palance em Batman. Na ocasião, Palace pergunta como o diretor queria que ele fizesse uma cena em que sai do banheiro. “É muito simples, apenas saia do banheiro”, Burton responde. Ele então diz: “Ação”!, e nada acontece. Outras vezes: “Ação”, e nada! Burton encontra Palace atrás da porta. O ator pede que Burton pare de pressioná-lo. “Não vê que eu preciso de concentração?” Se para o diretor era apenas um estúpido plano de alguém saindo do banheiro, para Palace era algo muito mais complexo.
A beleza sombria dos monstros: 10 anos de A arte de Tim Burton
Ed Wood (1994)
Até 11/8 no CCBB (SCES, Trecho 2). Entrada gratuita mediante retirada de ingressos na bilheteria do cinema.
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LUZCÂMERAAÇÃO
Discípulos
de Glauber
POR JUNIO SILVA
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ma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Mais de seis décadas após o surgimento do Cinema Novo no Brasil, o princípio básico do cineasta baiano Glauber Rocha, considerado por alguns a maior referência desse movimento, ainda faz muito sentido. Corria o ano de 2009 quando um projeto chamado Vamos ao cinema foi criado em Brasília, levando mais de seis mil estudantes ao cinema de graça, com direito a pipoca e tudo. Ao longo dos três anos em que o projeto desenvolveu suas atividades, além de levar a sétima arte aos alunos, que naquela época não tinham a facilidade de assistir a filmes como hoje, dez anos depois, Valéria Marcondes, idealizadora da ação, também queria mostrar as entranhas dos filmes que eram exibidos. Diretores foram convidados para explicar aos alunos os “créditos” das produções, e mostrar todas as etapas pelas quais um filme passa até chegar às telas. A semente foi plantada ali. Guiada
pelo interesse e atenção com que os alunos ouviam as explicações sobre uma produção cinematográfica, Valéria percebeu que eles poderiam não ser meros telespectadores. Era preciso que fizessem parte do que assistiam. Assim nasceu o projeto Luz, Câmera, Ação, com a ajuda do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) do Distrito Federal. O projeto buscou trazer para os jovens um panorama do processo de produção audiovisual por meio de quatro oficinas com aulas teóricas e práticas, que íam desde a história do cinema, passando pelo processo prático, como roteirização, técnicas de câmera, planos de direção, dramaturgia, maquiagem, iluminação, som etc. Os diretores Tiago Esmeraldo, Fáuston da Silva, Tiago Beloti e Rodrigo Huagha ministraram as aulas e deram suporte às produções dos estudantes. Cerca de 50 alunos do CEM EIT e CEE 1, de Taguatinga Norte, CEM 1 GG do Guará I e Escola Técnica do Guará II fizeram parte do Luz, Câmera, Ação, que teve atividades desenvolvidas desde
o inicio do primeiro semestre deste ano. Várias transformações aconteceram desde o Cinema Novo de Glauber Rocha. Apesar de seguir o princípio básico do cineasta, ainda que não percebessem, os alunos mudaram um pouco a forma de produzir. Ao invés de grandes equipamentos, as câmeras utilizadas no projeto
Fotos: Divulgação
estavam, literalmente, na palma das mãos de muitos. Todos os filmes foram feitos utilizando celulares. A partir das aulas que nortearam os participantes do projeto foram produzidos 12 curtas, com temáticas diferentes. Documentários, ficção, terror e filmes
que abordavam assuntos como relacionamentos abusivos, inclusão, abandono paterno, educação e criminalidade saíram das mentes, passaram pelas lentes e chegaram às telas. Ao término das atividades foi exibido e premiado o melhor filme, escolhido
por voto popular. O curta O recomeço, uma reflexão sobre criminalidade na adolescência e o papel da educação, foi o vencedor. A equipe foi premiada com um computador e uma câmera semiprofissional para a escola, além de um curso de audiovisual, também oferecido ao segundo e ao terceiro colocados, com o objetivo de incentivar a continuidade da produção dos alunos. Valéria Marcondes explica que o objetivo principal da ação foi dar voz aos alunos por meio da arte. “O ser humano se manifesta, se expressa, se alimenta, enriquece o imaginário e pensa através da arte. Ela viabiliza isso. É isso que a arte faz na vida das pessoas, é fundamental”. E essa outra semente já pode ter sido plantada, como afirma a estudante Ana Paula da Cruz Frota, 17 anos. “O curso trouxe para nós muita informação, muita base do que é isso. Nós aprendemos muitos, a gente aprofundou bastante, e eu espero continuar com isso”. Os filmes produzidos pelos estudantes estão disponíveis no Youtube. Procure em Cinema nas Escolas - Luz, Câmera, Ação!
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LUZCÂMERAAÇÃO
Dois tomates e um destino.
O caso das bananas.
Slow Filme agora é aqui S
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e o leitor é como eu, que todo mês de setembro rumava para Pirenópolis só para acompanhar um festival que une cinema e gastronomia, vai gostar dessa notícia: o Slow Filme vai realizar, nos primeiros dias de agosto, sua primeira edição em Brasília. Na verdade, será a décima da história do festival, uma edição festiva, com exibições, palestras, oficinas, passeios, degustações, feira orgânica e artesanal e homenagens ao chef Juan Pratginestós e à jornalista Liana Sabo. Tudo isso de 1º e 4 de agosto, no Cine Brasília, com entrada franca. Desde 2010 o Slow Filme – Festival Internacional de Cinema e Gastronomia – usa a linguagem do cinema para abordar assuntos urgentes para o planeta, mas também para encher a vida de sabor – porque o mundo também é feito de delícias. É um festival inédito, sem paralelos na América Latina. Era realizado em Pirenópolis, atraindo espectadores de várias cidades brasileiras, além de convidados internacionais. Mas, segundo Gioconda Caputo e Carmem Moretzsohn, produtoras do evento, chegou a hora de crescer, ampliar o alcance de público e de mídia. A transferência para Brasília foi inevitável. Na cidade, o festival garantiu um patrocínio do BRB, além das parcerias de embaixadas e do apoio da Secretaria de
Cultura. Gioconda afirma que, sem a ajuda das embaixadas, o evento não seria viável. “Muitas delas nos apoiam criando pontes entre os realizadores e/ou exibidores, pagando os direitos de exibição, garantindo a tradução e legendagem, que são custos muito altos, já que exibimos filmes inéditos no Brasil”. O Slow Filme se inspira nos conceitos do movimento Slow Food, aquele que revolucionou a gastronomia mundo afora, determinando que o alimento deve ser bom, limpo e justo – bom de sabor, limpo para o meio ambiente e justo
para quem produz. A partir dessas premissas, o festival encara o desafio de unir produções de longa, curta e média metragens, apresentando desde registros da cozinha pilotada por grandes chefs internacionais a denúncias e soluções. Na capital brasileira, o Slow Filme vai ocupar o Cine Brasília com a exibição de 22 filmes. As projeções são desmembradas em conversas e debates, que estão contando com a parceria do Slow Food Cerrado e do Instituto Ecozinha. As atividades do festival também chegarão ao Espaço Cultural Renato Russo, Fotos: Divulgação
POR JOSÉ MAURÍCIO FILHO
O chef errante.
Image&Compagnie
da 508 Sul, com exibições seguidas de debates, workshops e até um passeio para reconhecimento de PANCs – Plantas Alimentícias Não-Convencionais. É isso mesmo: os espectadores vão ser convidados a um passeio por algumas quadras da Asa Sul para descobrir que muitas plantas que a gente chama genericamente de “mato” são, na verdade, delícias que podem enriquecer a dieta diária. A programação tem a curadoria do cineasta, professor e crítico de cinema Sérgio Moriconi, colaborador da Roteiro. E está bastante diversa. Com abordagens mais políticas e temáticas, há vários títulos, como A mentira verde, produção austríaca que desmascara grandes empresas que se dizem sustentáveis, e O império do ouro vermelho, sobre a produção em massa de tomates geneticamente modificados. Faça homus, não faça a guerra é um filme australiano que parte da produção da célebre pasta de grão de bico para falar do conflito entre Israel, Palestina e Líbano. O alemão O sabor do desperdício mostra o enorme volume de alimentos jogados fora diariamente no mundo. O mundo segundo a Monsanto apresenta o resultado de uma investigação sobre a gigante produtora de herbicidas. E o peruano Na trilha de Gastón revela como a atuação do chef Gastón Acurio, um dos mais premiados internacionalmente, foi capaz de recuperar a autoestima de todo um país – depois dele, a comida peruana se espalhou pelo mundo e várias escolas de gastronomia foram criadas no Peru, abrindo campo de trabalho para milhares de pessoas.
O mundo segundo a Monsanto.
No campo da gastronomia, o Slow Filme também surpreendente, com filmes como O chef errante, que retrata o mais famoso chef da Coreia do Sul numa incursão pelo interior do país, onde colhe e prepara maravilhas somente usando PANCs. No americano Histórias da comida cubana, o diretor Asori Soto (radicado em Nova York) volta à terra natal para mostrar as tradições de sua gastronomia. O espanhol Jaén: virgen & extra apresenta uma região da Andaluzia onde se descobriu, no início do Século 21, uma azeitona que produz hoje o melhor azeite do país. O georgiano Meridiano do vinho surpreende ao revelar que a bebida surgiu na Geórgia há oito mil anos e segue sendo preparada da mesma forma no país. E tem ainda quatro capí-
tulos da série brasileira História da alimentação no Brasil, que o cineasta, produtor, jornalista e escritor paulista Eugenio Puppo produziu inspirado na pesquisa do maior folclorista brasileiro, o potiguar Luís da Câmara Cascudo. Quer um conselho? Busque a programação em www.objetosim.com.br e reserve tempo na agenda. As sessões do Slow Filme começam no final da tarde de quinta-feira, 1º de agosto, e seguem até a noite de domingo, 4 de agosto. Detalhe: no domingo, tem almoço especial inspirado no festival no restaurante Leão da Serra, pilotado pela chef/jornalista Lúcia Leão, outra colaboradora da Roteiro. Slow Filme – Festival Internacional de Cinema e Gastronomia
De 1º a 4/8 no Cine Brasília. Entrada franca.
O cineasta, produtor e jornalista Ronaldo Duque lança, durante o Slow Filme, a série documental Alma d’chef, sobre profissionais que se tornaram chefs de cozinha depois de terem construído uma carreira de sucesso em outras áreas. Serão, no total, 13 episódios que exploram experiências de quem resolveu mudar radicalmente de vida, seja por tentativa e erro, seja por uma espécie de epifania. E a estreia será com ninguém menos que o fotógrafo – e agora chef – Juan Pratginestós, talento por trás do restaurante Montserrat, de Pirenópolis. O filme dedicado a Juan será exibido na primeira noite do festival, às 20h, contando com a
presença do diretor e do chef. Ronaldo Duque teve a ideia para a série Alma d’chef depois de constatar que vários dos nomes que hoje pilotam os fogões de respeitados restaurantes optaram pela gastronomia tardiamente em suas vidas, como é o caso de Juan, de Francisco Ansiliero, do francês Daniel Briand, do dinamarquês Simon Lau, entre outros. Diz o realizador: “Nesta primeira temporada, a série vai mostrar a relação de cada um deles com o prazer de comer bem e com o preparo dos alimentos, e como suas experiências anteriores influenciaram seu fazer; vai apresentar como se dá a relação entre gourmet e gourmand”.
Divulgação
Alma d’chef
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CRÔNICADACONCEIÇÃO
Crônica da
Conceição
CONCEIÇÃO FREITAS
conceicaofreitas50@gmail.com
Procurando
humanidades
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or força do ofício que exerço, tenho muitos amigos virtuais, diria que cem vezes mais do que amigos reais, embora alguns deles habitem as duas dimensões. Mas quem alimenta de humanidades o implacável cotidiano não está nem numa nem noutra esfera. São os desconhecidos com os quais cruzo no desdobrar dos dias e das noites. Como o casal adolescente que descia da escola pública e esperou comigo o semáforo da faixa de pedestre. Eles corriam juntos para alcançar o sinal aberto. O menino estava ruborizado de felicidade. Com o braço sobre os ombros da menina, trazia a garota para mais perto de si e ela saltitava como quem brinca de pique-pega querendo ser alcançada, fugindo e querendo. Os dois pararam no parquinho de areia, penduraram-se nas barras de ferro, ele mostrando que era forte, ela, que era ágil. E sorriam, plenos de felicidade. Encontro humanidades nos pais e mães que, cedinho, levam as crianças para a escola, equilibrando mochilas e filhos na bicicleta. Dia desses, vi uma
mãe, uma bike e três crianças buscando um modo de seguir viagem sobre as duas rodas e com os três corações. Nelson Rodrigues dizia que às vezes demorava quinze dias para encontrar um humano. Sempre considerei que havia certo exagero pessimista no dramaturgo, mas com o passar do tempo e das circunstâncias, tudo me leva a aceitar que ele prenunciava a decrepitude da humanidade. É a rua que salva. É a rua que me devolve a humanidade, mesmo que na minha cidade não existam ruas, no sentido urbano estrito. Os vazios que separaram uns dos outros, em Brasília, alteram a noção de espaço e identidade. Aqui, o outro é um ente que quase sempre está do outro lado da rua – mais ainda se ele não fizer parte da mesma classe social. O outro existe para te servir, nesta estranha Brasília de segregação espacial e classista (Minha experiência e das meninas e dos meninos que me ajudam atrás do balcão tem reafirmado dia a dia essa percepção. O comércio, aliás, é um incrível mestre da arte de conhecer o outro. É nele que se percebe o grau de
civilidade do cliente – como ele trata o anônimo balconista revelará se ele tem respeito pelo trabalhador ou se considera todos serviçais de seu bem-viver). O outro é uma miragem nesta Brasília projetada com o mais genuíno desejo de renovar e humanizar a vida nas cidades. Daí que me aqueço diariamente com os quase imperceptíveis gestos de humanidade – do anônimo morador que cobre com cobertor o bêbado que dorme na calçada, da motorista que para o carro para socorrer outra motorista com o carro quebrado num cruzamento perigoso, do homem que corre para acudir uma criança que cai da bicicleta, da moça da padaria que sempre me lança um sorriso tímido, do rapaz desconhecido do call center que se esforça para resolver um problema de difícil solução. Por alguma razão, talvez até de ordem religiosa (se Deus não existe, tudo é permitido, já disse Dostoievski), por alguma razão ainda consigo encontrar humanidades no desconhecido. Mesmo que elas durem apenas alguns minutos, já é um agrado dos anjos.
BRB. Inteiro pra você. A vida precisa ser vivida por inteiro. Então não aceite nada pela metade. Porque meios amores não preenchem corações. Um pouco de presença não resolve e um quase sonhar não vira realidade. Se for pra ser, que seja por inteiro. Por isso somos digitais, claro. Mas também somos próximos quando você precisa. Pontos de atendimento? Ninguém tem mais. E pela nossa cidade, ninguém faz mais. Também temos crédito com as menores taxas, seguros com os maiores descontos e financiamentos com as melhores condições. Porque pessoas, antes de serem físicas ou jurídicas, são pessoas. E é para as pessoas daqui que a gente se dedica. Inteiramente. Quais suas necessidades? Seus planos? Seus sonhos?
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