Roteiro 247

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CONCEIÇÃO FREITAS ESTREIA CONDENANDO A INTOLERÂNCIA E A VIOLÊNCIA POLICIAL

Ano XV • nº 247 Janeiro de 2016

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Taco Pep do Pier 21, recém-inaugurado.


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EMPOUCASPALAVRAS Divulgação

A capa da última edição da Roteiro, vocês devem se lembrar, fazia um brinde a 2016 e convocava nossos leitores a deixarem de lado o baixo astral reinante em todas as áreas. Decidimos, então, nesta edição de janeiro, continuar na mesma linha e colocar o foco em empresários do ramo gastronômico que, na contramão de um mercado em retração, resolveram investir em novos negócios, professando a filosofia oriental segundo a qual toda crise gera uma oportunidade. Ou várias. A repórter Súsan Faria foi a campo para ver como bares e restaurantes da cidade estão enfrentando estes tempos de alta do dólar, aumento dos preços dos alimentos, altos impostos e, mais do que isso, como os novos empreendedores pretendem dar a volta por cima da crise e conquistar a clientela, agora muito mais atenta à dupla preço baixo e qualidade (página 4). Exemplo de sobrevivência no ramo gastronômico é o velho Pamonhão Kalu, terceiro restaurante mais antigo da cidade, só perdendo para o Roma e o Beirute. Em fevereiro, esse patrimônio brasiliense fundado em 1970, na 110 Sul, completa 43 anos de uma história que Lúcia Leão nos conta na página 10. Na seção Luz Câmera Ação, Sérgio Moriconi escreve sobre a mostra de cinema que vai apresentar uma retrospectiva dos filmes dirigidos e produzidos por Luc e Jean-Pierre Dardenne, os irmãos Dardenne. Nada menos que 18 títulos da dupla belga serão exibidos no CCBB entre 10 e 29 de fevereiro (página 30). Em Graves e Agudos, Heitor Menezes prepara nossos corações para o que vem aí no Clube do Choro. O grande homenageado do ano é o Príncipe do Samba, Paulinho da Viola, que será lembrado ao longo de 120 shows de veteranos e novos talentos naquele espaço privilegiado do choro, do samba e de todos os bons ritmos nacionais (página 23). A novidade, deixamos por último. A partir de agora, a jornalista Conceição Freitas, que durante 20 anos escreveu a Crônica da Cidade, no Correio Braziliense, expressa seu amor por Brasília na última página da nossa revista. Proprietária da banca de jornais da 308 Sul, de onde pretende pilotar vários projetos culturais, ela estreia a Crônica da Conceição, já pondo o dedo em feridas que doem muito: a violência policial e a intolerância de brasilienses com as apresentações musicais ao ar livre e nos bares (página 34). Bem-vinda! Boa leitura e até fevereiro. Maria Teresa Fernandes Editora

30 luzcâmeraação A promessa, de 1996, é um dos 18 filmes que serão exibididos na mostra retrospectiva da obra dos irmãos belgas Luc e Jean-Pierre Dardenne, em fevereiro, no CCBB.

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ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14 – Conjunto 2 – Casa 7 – Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico revistaroteirobrasilia@gmail.com | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes | Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa Carlos Roberto Ferreira | Colaboradores Alessandra Braz, Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, Ana Vilela, Beth Almeida, Cláudio Ferreira, Eduardo Oliveira, Elaina Daher, Heitor Menezes, Júlia Viegas, Luana Brasil, Lúcia Leão, Luís Turiba, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Pedro Brandt, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Vicente Sá, Victor Cruzeiro, Vilany Kehrle | Fotografia Fabrízio Morelo, Gadelha Neto, Rodrigo Ribeiro, Sérgio Amaral | Para anunciar 9988.5360 | Impressão Editora Gráfica Ipiranga | Tiragem: 20.000 exemplares.

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ÁGUANABOCA

Fazendo do limão POR SÚSAN FARIA

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uma limonada

recessão, o desemprego, a alta do dólar, o preço em ascensão dos alimentos – especialmente das frutas, carnes e verduras – e dos demais insumos formam um cenário que tem assustado brasileiros de todas as classes sociais. Em meio à crise política e econômica, o descrédito, a preocupação e o recolhimento dos cidadãos, há aqueles que arregaçam as mangas e vão à luta, dispostos a vencer, dando o que de melhor podem oferecer ao comércio, proporcionando novos empregos, novas opções de lazer e alimentação e, ao mesmo tempo, enxugando custos e apostando na qualidade, no bom atendimento e no melhor preço. Nesse contexto, muitos restaurantes e bares brasilienses lutam para manter os clientes, oferecendo novos cardápios, contratando novos chefs ou se reformulando. E, mais do que isso, novos empreendimentos surgem na capital, com boas novidades para o consumidor. Muitos desses empreendedores aproveitaram as

festas de final de ano para abrir as portas, mesmo sabendo que em janeiro e fevereiro Brasília fica atípica, um tanto vazia, por causa das férias escolares. Mas nada de baixo astral. A força do querer e do agir com profissionalismo para competir, permanecer e ocupar mercado fala mais alto. Nos últimos meses, mais de 20 restaurantes, bares, docerias e cafés se instalaram apenas no Plano Piloto e, como diz o velho ditado, estão “fazendo do limão uma limonada”. A crise, inclusive, para muitos está sendo oportunidade de mostrar competência, visto que os consumidores, agora com menos dinheiro no bolso, estão mais exigentes e seletivos. Os entrevistados pela Roteiro ressaltam principalmente dois pontos básicos para vencer a crise: preço e qualidade. “As pessoas não deixam de comer fora, mas não vão gastar à toa”, analisa Renata Carvalho, chef do Ancho Bistrô de Fogo, da 306 Sul, que em dezembro último inaugurou o Bar dos Fundos – um contêiner móvel, posicionado atrás do restaurante, que atende de terça-feira a sá-

bado, a partir das 18 horas, com menu para almoço, lanche, happy hour, baladinha com os amigos e jantar. Tendência em diversos países da Europa, Ásia e Estados Unidos, esse tipo de construção ganha adeptos no Brasil por ser projeto sustentável, de custo reduzido e com tempo recorde de execução. “Abri um negócio dentro do negócio, mas não ficou só nas ideias, teve aumento de custo fixo e de atendimento”, diz a chef, lembrando que a nova dinâmica do Ancho está tendo resposta positiva do público. A seu ver, “a crise é propícia para os clientes selecionarem os restaurantes e só se estabelece quem melhor os atende”. A jovem Lídia Nasser, 27 anos, também partiu para a inovação: acaba de abrir o Empório Árabe, na Asa Sul, e contratar 47 funcionários (a primeira casa, sucesso há sete anos em Águas Claras, tem 51). “Não dá para ficarmos de braços cruzados”, diz. Abrir o novo Empório atende a uma demanda dos clientes do Plano Piloto para ficarem mais próximos. Lídia acredita que, com a crise, muitos


Fotos: Divulgação

Tejo Restaurante

lar”, admite Irineu Júnior, 34 anos, economista e sócio da rede Madero Steak House em Brasília. Ele concorda com Lídia Nasser: “A contrapartida para a crise é minimizar os custos, oferecer atendimento de qualidade e preços acessíveis”. Antes de abrir o Madero no Pátio Brasil, em junho do ano passado, Irineu investiu em pesquisas para manter um tíquete médio acessível. Contratou 48 funcionários e hoje serve 600 refeições diariamente. A rede curitibana, presidida por Júnior Dursky, já está implantando sua segunda unidade em Brasília, no Shopping ID. Irineu está em negociações para abrir filiais também no Iguatemi, no Parkshopping e em dois contêineres. “Até 2017 teremos seis restaurantes Madero em

Brasília”, anuncia. A seu ver, para enfrentar a crise é necessário trabalhar corretamente, evitar desperdício, ter os custos em dia e manter a qualidade. Outro restaurante em franca expansão é o mexicano Taco Pep, que funciona há seis anos em Águas Claras e acaba de se instalar no Pier 21. “A crise oferece oportunidades, de maneira diferente”, explica o proprietário, Franck Moreira Ribeiro, 38 anos, economista. Ele entende que os riscos de abrir um empreendimento existem, independentemente de haver crise. A seu ver, a saída é aliar bons preços à qualidade. De segunda a quintafeira, o almoço com sobremesa no Taco Pep custa R$ 34,90 e o jantar R$ 42,90. Nos finais de semana, almoço com soGerson Lima

Gui Teixeira

brasilienses estão optando por gastar menos em viagens e aproveitar melhor Brasília, inclusive os bons restaurantes. “O remédio para enfrentar a crise é inovar, ter criatividade, oferecer bom ambiente e preço acessível. Um conjunto de fatores”, acrescenta, assegurando que, como boa descendente de árabe, traz no sangue o dom para o comércio. O restaurante, agradável e bem decorado, inspirado em casas e mesquitas árabes, com fachadas em pedras rústicas, tendas e jardins, realmente chama a atenção. Difícil passar em frente e não querer conhecê-lo e provar os deliciosos quitutes e a comida, que a empresária aprendeu a fazer com a avó e o pai libaneses. “A crise existe, não tem como bur-

Renata Carvalho, do Ancho Bistrô de Fogo, abriu um novo "negócio dentro do negócio".

Júnior Dursky, do Madero: segundo investimento em menos de um ano.

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Thomas BF

ÁGUANABOCA

Manuel Pires, do recém-inaugurado Tejo, não subestima a crise, mas diz estar certo de que ela vai passar.

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tem crianças poderá utilizar o parquinho, o fraldário e a brinquedoteca. E no dia 29 de março Paulo Maurício vai abrir um terceiro restaurante – o Ilê Self, de comida a quilo – num novo centro comercial de Brasília: o Vega, logo atrás do Conjunto Nacional. Quem também se programou para enfrentar a crise inovando foi o DaOrla Show Bar e Restaurante, antes voltado para atrações noturnas e agora focado em almoços e no menu econômico, com serviço de delivery. A proprietária, Rayane Guimarães, 25 anos, explica: “Diminuímos a margem de lucro e mantivemos o sabor e a qualidade em pratos bem servidos”. Com três espaços am-

Hhenrique Ferrera

bremesa a R$ 42,90 e jantar a R$ 49,90. Franck está satisfeito com a receptividade da nova casa. “Temos um espaço grande e, diferentemente de outros locais de Brasília, nas férias o movimento do Pier 21 até cresce”, comemora. O empreendedor português Manuel Pires, 62 anos, ex-sócio do badalado Antiquarius, do Rio de Janeiro, inaugurou no mês passado o restaurante Tejo, na 404 Sul. Feliz com a receptividade de seu novo empreendimento, ele mantém o otimismo, sem minimizar, porém, as dimensões da crise. “Acredito que ela vai passar. Investimos em boa comida, em um local muito bom”, explica (leia mais sobre o Tejo na página 8). Quem costuma frequentar o Ilê, da 209 Sul, sabe das delícias da casa, que até o final deste mês vai se estabelecer também nas proximidades do estacionamento 9 do Parque da Cidade. “A crise, apesar de ruim, nos mostra algumas coisas. Por exemplo, a necessidade de fechar ou crescer. Optei por crescer”, afirma o chef e restaurater Paulo Maurício Ferreira, lembrando que os empresários pequenos não têm giro ou volume de compras para concorrer com casas de maior tamanho. O Ilê Praia Parque servirá almoço à la carte, inclusive paellas e moquecas preparadas em panelas de barro vindas do Espírito Santo. Durante o jantar os clientes poderão contemplar o céu brasiliense, em área coberta com teto retrátil. A casa funcionará enquanto houver cliente. Quem

plos, o DaOrla oferece feijoada com roda de samba, às sextas-feiras e aos sábados, e eventos pré-agendados à noite. Outro jovem empresário, Thales Furtado, 39 anos, está apostando na criatividade e, segundo ele, “buscando soluções para inovar e segurar os preços”. Thales e os sócios acabam de abrir o Hum!Burger, no Setor de Indústrias Gráficas e em Águas Claras, dentro do conceito de fast casual, ou seja, refeições rápidas e com qualidade, em ambientes agradáveis, em contraponto ao fast food. A hamburgueria, que funciona anexa ao Primeiro Bar, tanto em Águas Claras quanto no SIG, trabalha com poucos produtos: quatro tipos de hambúrguer e cinco pratos salgados – entre eles, hambúrguer recheado, contra-filé e omelete com salada – a preços entre R$ 19 e R$ 29. “A resposta tem sido muito boa”, comemora. A Asa Norte ganhou recentemente o restaurante e pizzaria Chão de Estrelas, comandado por Maradona, pizzaiolo e garçon do programa Domingão no Faustão. A casa oferece cerca de 40 variedades de pizzas com nomes das estrelas da televisão, bufê de frios e antepastos e, no almoço, bufê de comida brasileira, especialmente peixes vindos do Ceará, onde fica a matriz do restaurante (em Fortaleza). Outro novo espaço comercial da Asa Norte, a Braunys Café e Lavínia Outlet, juntou dois comércios em um só espaço, o que minimiza custos e facilita a vida de quem não quer perder tempo, ou seja, pode comprar roupa feminina e lanchar no mesmo local. “A aceitação tem sido grande, mesmo com a crise. A qualidade dos produtos, os bons preços e o projeto

Os jovens empreendedores da Dunkin' Donuts: Leandro Braz, Leandro Oliva, Bruna Oliva e Leonardo Oliva.


ousado da loja atraem os clientes”, afirma Frederico Leal, 28 anos, advogado e sócio do empreendimento, cujo projeto arquitetônico é de Cris Karessawe e Leandro Pimentel. Ainda na Asa Norte, a Dunkin’ Donuts, uma das principais redes de café e produtos de panificação do mundo, inaugurou em dezembro sua terceira loja, na 214. A rede já fazia sucesso na Asa Sul e no Parkshopping com os cronuts, saborosa mistura de croissant com donut (pequeno bolo em forma de rosca, muito popular nos Estados Unidos), com os donuts de pudim de leite e os cafés e chás quentes e gelados. Para Leonardo Oliva, diretor de Marketing e Comunicação do Grupo OLH, franqueado master da marca no país, mesmo com a crise os fãs continuam fieis à Dunkin’ Donuts. “Ainda este ano abriremos mais cinco lojas”, anuncia. O plano de expansão é audacioso: em cinco anos, 65 lojas funcionando, das quais quase metade – 29 – em Brasília. Mais um grande grupo empresarial estrangeiro que acaba de dar uma demonstração de confiança no potencial do mercado brasiliense é a Havanna, a mais famosa marca de alfajores argentinos, que inaugurou em dezembro, de uma só vez, três lojas na cidade – no

Conjunto Nacional, no ParkShopping e no Boulevard Shopping. Mas faltava a cereja do bolo. Não falta mais: ainda neste semestre, a norte-americana Bloomin’ Brands, uma das maiores empresas de restaurantes casuais do mundo, vai abrir em Brasília (no Iguatemi e no ParkShopping) duas unidades da marca Abbraccio Cucina Italiana, as primeiras fora do Estado de São Paulo. Aproximadamente R$ 11 milhões serão investidos nos dois empreendimentos, que irão gerar 300 novos postos de trabalho. “Por ser uma cidade jovem e repleta de pessoas de diversos cantos do Brasil, Brasília possui cenário gastronômico muito rico. O Abbraccio vai oferecer uma opção italiana diferenciada, trazendo um conceito de proximidade e aconchego, em um ambiente que permite que o cliente se sinta em casa”, diz Ricardo Carvalheira, dirigente da Abbraccio no Brasil. Com sede em Tampa, na Flórida, a Bloomin’ Brands é detentora também das marcas Outback Steakhouse (há anos presente em Brasília), Fleming’s Prime Steakhouse & Wine Bar, Bonefish Grill e Carrabba’s Italian Grill. Tem mais de 1.400 restaurantes e 90 mil empregados em 20 países. Para um cenário de pessimismo como o atual, até que não é pouco.

Ancho Bistrô de Fogo

306 Sul, Bloco C (3244.7125). De 3ª a 6ª feira, das 12 às 15h e das 18 às 24h; sábado, das 12 às 16h e das 18 às 24h; domingo, das 12 às 16h.

Empório Árabe Asa Sul

215 Sul, Bloco A (3363.3101). Diariamente, das 11h30 às 24h.

Madero Steak House

Pátio Brasil Shopping (3041.7005). De 2ª a 6ª feira, das 11h30 às 15h e das 18 às 23h; sábados, domingos e feriados, das 12 às 22h. No Shopping ID a partir de junho.

Taco Pep

Pier 21(8404.4051) e Avenida das Cas­tanhei­­ras, Lote 1.060, Águas Claras (3038.1802). De 3ª a domingo, das 19h às 0:30h.

Braunys Café e Lavínia Outlet 308 Norte, Bloco D (3485.0835). De 2ª a sábado, das 9 às 19h.

Tejo Restaurante

404 Sul, Bloco B (8311.1951). De 3ª a 5ª, das 12 às 15h e das 19 às 23h; 6ª e sábado, das 12 às 15h e das 19 às 24h; domingo, das 12 às 17h.

Ilê Praia Parque

Parque da Cidade, estacionamento 9 (8601.4849). De 3ª a sábado, das 11h30 às 24h; domingo e 2ª feira, das 11h30 às 17h.

DaOrla Show Bar

SCES, Trecho 2 (3226.0026). De domingo a 6ª feira, das 11 às 16h; sábado, das 12 às 17h. À noite, somente eventos contratados.

Hum!Burger

SIG, Quadra 8 (3028.1331), e Avenida das Castanheiras, Lote 1.310, Águas Claras (3263.7361). De 2ª a 5ª feira, das 12 às 24h; sábado e domingo, das 12 à 1h.

Chão de Estrelas

302 Norte, Bloco D (3045.0807). De domingo a 5ª feira, das 11 às 24h; 6ª feira e sábado, das 11 à 1h.

Dunkin’ Donuts

214 Norte 214, Bloco D, e 404 Sul, Bloco B (2419.2445), diariamente das 7 às 22h; ParkShopping, diariamente das 10 às 22h.

Havana

Conjunto Nacional, ParkShopping e Boulevard Shopping. Diariamente, das 11 às 22h.

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ÁGUANABOCA

Português contemporâneo POR SÚSAN FARIA

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rio que nasce na Espanha e deságua no Oceano Atlântico, formando um estuário em Lisboa de onde partiram as caravelas portuguesas rumo ao Brasil, dá nome a um dos mais novos restaurantes de Brasília: o Tejo. É quase um pedacinho de Portugal incrustado desde 22 de dezembro na 404 Sul. Nesse recanto especial pode-se apreciar muitas variedades de bacalhau e camarão, o tradicional arroz de pato e também delícias da culinária portuguesa contemporânea. Com paredes altas e brancas, piso de granito, 60 lugares no salão térreo, varandinha voltada para árvores frondosas e 40 lugares no andar superior, a casa tem na fachada desenhos de chapas de aço e cortiça que lembram os corticeiros da região do Alentejo, terra de Manuel Pires, um dos proprietários. No interior do restaurante, detalhes das cortiças, um lustre colonial, quadros, jarros e outras lembranças lusitanas. O projeto é da arquiteta Priscila Machado. “Eu estava à procura de um lugar como esse, onde se tem a visão do todo, e

possamos ver como está o atendimento”, explica Manuelzinho, como é chamado o chef português. Ele dá atenção a cada mesa, explicando o cardápio, o conteúdo e as histórias dos pratos, como a da sopa de pedras. Diz a lenda que frades portugueses gostavam de rezar pelos campos e “filar” um bom almoço. Numa dessas incursões, encontraram uma singela casa, com apenas uma menina, nada de pai ou mãe. Os frades fizeram a comida com o

que encontraram: feijão, azeite, sal e pedra, esta com conteúdo simbólico, substituindo a carne que não havia. A tal sopa – que realmente traz uma pedra dentro, depois devolvida, lavada e esterilizada – foi aprovada por Mick Jagger, quando esteve no Rio de Janeiro, no restaurante Aquarius, do qual Manuelzinho foi sócio. Jagger gostou tanto da comida do chef alentejano que esteve três vezes no restaurante.

Bacalhau no forno à portuguesa


Fotos: Divulgação

As histórias de Manuel Pires dão um livro, inclusive sobre sua relação com clientes famosos no Rio, como Pelé, Zico, Nelson Piquet, Diana Ross, Fafá de Belém... ele perde a conta, mas cita dois muito especiais: Roberto Carlos, seu ídolo na adolescência, e o ator britânico Roger Moore, intérprete do agente James Bond nos anos 70 e 80 e astro do seriado espanhol El Santo, um dos programas preferidos de Manuelzinho em Portugal. “Naquela época, eu ouvia e dançava as músicas de Roberto Carlos e nunca pensei que fosse estar com ele tantas vezes no Brasil”, conta. Entretanto, não é preciso ser famoso para receber a preciosa atenção do chef português. Cada cliente para ele é muito especial. “A maneira como o Manuel chega à mesa, conversa e explica tudo nos conquista. Ele está sempre à frente do restaurante, o tempo todo”, comenta o cliente Edson Navarro, 58 anos, morador da Asa Sul. A seu ver, antes de provar a comida, já pela fala do dono todos ficam com água na boca. Navarro recomenda a paleta de cordeiro. Já o economista Raul Balduíno foi ao Tejo pela segunda vez em menos de um mês e recomenda o bacalhau à portuguesa (o bacalhau da casa é o norueguês Gadus Mohua 8-10). “Gostamos muito do ambiente, da eficiência, do tratamento e da comida”.

Bacalhau espiritual

O cardápio é variado. Entre os pratos individuais, truta amarela com molho de coentro (R$ 47), picadinho à paulista (R$ 39), escalopinho ao limão com arroz de passas (R$ 45), frango com catupiry e arroz de brócolis (R$ 29); arroz de pato com amêndoas (R$ 45). Entre os que servem duas pessoas estão o bacalhau dourado (R$ 145), o bacalhau à Gomes de Sá (R$ 147), e o filé à Tejo com batata paulista (R$ 109). No cardápio infantil,

uma das opções é o arrozinho de pato (R$ 25). Entre os doces, sericaia (à base de leite condensado, gema de ovo e cheiro de açúcar), barriga de freira, toucinho do céu, encharcada de ovos e os indispensáveis pastéis de Belém. Tejo Restaurante

404 Sul, Bloco B (8311.1951). De 3ª a 5ª feira, das 12 às 15h e das 19 às 23h; 6ª e sábado, das 12 às 15h e das 19 às 24h; domingo, das 12 às 17h.

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Patrimônio brasiliense

Lucimar Costa Calil, a Lu, com os clientes e amigos Sérgio Duboc e Aldo Justo.

O velho Pamonhão Kalu, terceiro restaurante mais antigo da cidade, chega aos 43 anos em fevereiro. TEXTO E FOTOS LÚCIA LEÃO

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os idos anos da década de 1970, Brasília – creiam! – era uma cidade muito animada, com vida noturna pulsante e muito burburinho nos “points” da moda. Certo que eles eram poucos... Um deles, a comercial da 109 Sul, onde o Beirute já concentrava artistas, intelectuais, jornalistas e toda gama de boêmios que faziam de cada noite uma festa. Ah, bons tempos! Nostalgia à parte, foi naquele tempo que o empreiteiro goiano Kacer Calil, de passagem pela cidade, conheceu o Beirute, durante um almoço, e botou os olhos numa loja vazia, do outro lado da rua, que ficara quase destruída por um incêndio. Teve como que uma miragem de que ele e a família ocupavam aquele lugar. Um ano depois, transferido definiti-

vamente para a capital, a loja continuava lá, como que à sua espera. E Kacer resolveu concretizar a visão que surgira no ano anterior entre quibes, charutos e pastas de grão de bico. “Na frente da casa onde morávamos, em Goiânia, havia uma pamonharia. E minha mãe, mineira e cozinheira de mão cheia, toda vida falava em montar um negócio daquele tipo. Então, meus pais viram aquela loja esperando por eles, no melhor ponto de Brasília, e resolveram montar o Pamonhão Kalu, as iniciais dos nomes dos dois, Kacer e Luzia”. Quem conta a história, talvez um tanto romanceada, é Lucimar Costa Calil, a Lu, que hoje toca, junto com o irmão Acácio Calil, o Pamonhão Kalu, que no dia três de fevereiro completa 43 anos. Instalado desde 1983 na 105 Norte, é o terceiro restaurante mais antigo de Brasí-

lia, perdendo apenas para o Roma e para o próprio Beirute. E, também como os dois, suas mesas e balcões viram passar, neste quase meio século, boa parte da história de Brasília. Ainda na 109 Sul, por exemplo, o Pamonhão Kalu viu nascer o Liga Tripa, o grupo de meninos e meninas ousados que passavam desafiando a ordem dos duros tempos de ditadura com música e alegria. “Eles entravam pela rua cantando e acabavam a noite no nosso balcão, tomando sopa de milho para matar a fome da madrugada”, lembra Acácio. Isso mesmo, alta madrugada! Muitas vezes o Pamonhão, mesmo sem vender bebida alcóolica, ficava aberto até as cinco horas da manhã para atender a clientela de boêmios que queria voltar para casa de barriga cheia. “A gente ‘forrava’ com um caldinho quente depois das farras da ma-


drugada”, recorda o músico Sérgio Duboc, um dos fundadores do Liga Tripa. “Vez ou outra acontecia um entrevero com o Seu Kacer porque, já meio altos, perturbávamos um pouco os clientes”, admite o “Liga” Aldo Justo. “Mas nada que não se resolvesse no dia seguinte”. Ao fim, prevalecia a cordialidade e a tolerância. Pode imaginar que um dia já foi assim? Luiz Gonzaga – sim, o nosso patrimônio! – era outro cliente notável daquela época. Dispensava os restaurantes mais luxuosos para jantar as comidas de milho que, mesmo goianas, remetiam ao paladar do seu sertão nordestino. O filho, Gonzaguinha, aprendeu com o pai e anos depois era tão íntimo da casa que pulava para dentro do balcão para se servir das coxinhas de milho e deixar a então jovem Lu em êxtase. “Eu sempre fui muito fã dele!” A mudança para a 105 Norte mudou também o perfil da clientela. Próximo das residências oficiais da Câmara dos Deputados, o Pamonhão Kalu transformou-se num eclético reduto de políticos, juntando – não na mesma mesa, mas sob o mesmo teto – políticos de matizes tão distintas como Paulo Octávio, Beth

O funcionário público aposentado Simon Nobre é um dos clientes mais assíduos do Pamonhão Kalu.

Mendes, Chico Vigilante e Maria de Lourdes Abadia. Hoje, é raro ver políticos frequentando lugares públicos como o Pamonhão Kalu, mas os brasilienses comuns seguem fiéis à pamonharia. Como o funcionário público aposentado Simon Nobre, que há pelo menos trinta anos repete o ritual de buscar ali as pamonhas para o lanche da família. “Levo sempre da

doce, pura. Somos tradicionalistas”, brinca Simon, referindo-se à enorme variedade de sabores oferecidas pelo Pamonhão. Vai da Romeu e Julieta (goiabada com queijo) à de carne moída com jiló, passando, é claro, pelas também tradicionais, de queijo, linguiça e pimenta. Pamonhão Kalu

105 Norte - Bloco D (3273.7967) Diariamente, das 11h30 às 23h.

O Pamonhão e as pamonhas Para além de sua própria história e das histórias que viu passar, o Pamonhão Kalu, pioneiro na produção de pamonhas por aqui, é o responsável por uma das primeiras identidades gastronômicas brasilienses. Como que a lembrar que a cidade foi plotada no coração de Goiás, a massa de milho temperada, embrulhada e cozida na palha das espigas tornou-se uma das comidas típicas da capital, daquele tipo que tem o gosto da nossa terra e que dá saudade em quem está longe. Como é a farinha para uns ou a rapadura para outros. Rapidamente, a partir da década de 1980, proliferaram casas especializadas e a pamonha se transformou em ícone da culinária local, como para os goianos. Dois fatores foram decisivos para isso acontecer: a expansão dos plantios irrigados em pequenas propriedades do entorno de Brasília e o desenvolvimento, pela Embrapa, de sementes híbridas apropriadas especificamente para a

produção de pamonhas. Isso garantiu a produção do milho verde durante todo o ano e a pamonha deixou de ser uma guloseima sazonal, como ainda ocorre em outras regiões do país. “A pamonha só presta com o milho verde colhido há um ou dois dias, no máximo. Acho que essa é a principal diferença da que produzimos aqui. Nas outras regiões só há irrigação nas grandes propriedades, que plantam para as agroindústrias. Não tem milho para os pamonheiros, a não ser na safra normal”, explica Lu, desvendando o segredo. Se a febre de pamonharias passou – de quase duas dezenas, há alguns anos, restam no Plano Piloto o Pamonhão Kalu e a Pamonha Caipira, na 414 Sul – as pamonhas ganharam espaço nos supermercados e, principalmente, nas ruas. Como na canção de Aloísio Brandão, o chamado dos “carros da pamonha” ecoa por toda a cidade nos finais de tarde e confere à capital ares de cidade do interior: “Olha a pamonha, olha o pamonhei-

ro”. Adelmo Siqueira é um deles. Ele percorre as ruas do Varjão e do Taquari a cada dois dias vendendo pamonhas doces e salgadas para uma clientela fiel, que já espera no portão por sua passagem. A cada saída ele vende 150 pamonhas preparadas em casa pela mulher Vera Alice, com milho comprado diretamente de pequenos produtores do cinturão rural de Sobradinho. Já Isaquias Bernardes, outro pamonheiro, delimitou seu espaço de venda nas quadras 700 da Asa Norte. Também é a mulher Ivone quem prepara as cem pamonhas que ele vende por dia e das quais se orgulha, especialmente quando ouve comentários como o da pequena Alice Morelo, de oito anos e sua cliente há seis: “Ela veio me contar que outro pamonheiro tentou enganá-la, dizendo que estava vendendo a minha pamonha. Mas ela provou e sabia que não era, que a minha é muito melhor”. Alice é brasiliense. E nunca vai se esquecer da pamonha do Seu Isaquias!

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recebem noções de culinária e, em seguida, exercitam os conhecimentos adquiridos no preparo de pratos simples como escondidinho, fondue, pizza de pão de forma e pavê de bombom, com a orientação de monitores. As oficinas acontecem de hora e hora, com a participação de 20 alunos, no máximo.

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Thomas BF

PICADINHO

Gastronomia divertida Divulgação

Festival de bacalhau

Fábio Mira

Pequenos aprendizes

As crianças são também, neste mês de férias, o público-alvo do Respeitável Burger (402 Sul, Bloco B, tel. 3224.8852), que criou para elas alguns pratos divertidos e saborosos: omeletes, grelhados, saladas, sobremesas e sanduíches como o Bozo, da foto acima (filé de frango à milanesa com creme de milho e parmesão ralado, a R$ 23,50), e o X- Panzé (banana, mussarela, açúcar e canela no pão de cachorro quente, a R$ 12,90). Além disso, a hamburgueria foi toda decorada com temas circenses. Logo na entrada foi instalado um painel com desenhos do homem que cospe fogo, do trapezista, do palhaço, do homem-bala e dos animais que mais frequentemente participam de espetáculos circenses.

Pisa da uva Uma profissão pouco valorizada no passado – a de cozinheiro – tornou-se tão glamurosa, nos últimos tempos, que hoje em dia atrai até crianças. Foi pensando nisso que o Pátio Brasil criou o projeto Mini Chefs, para meninos e meninas de três a 12 anos. Nos sábados e domingos, a partir das 14 horas, as crianças

dos e transformados em vinho artesanal. Os visitantes podem participar tanto da colheita quanto da pisa. Cada um recebe um cesto e um chapéu e, assim como faziam os antigos colonos, percorrem os caminhos formados pelos parreirais para colher os cachos dos frutos e levá-los para o lagar.

Bom apetite Este é o significado, em português, da palavra sahtein, com a qual foi batizado o rodízio servido às quartas e quintas-feiras, no jantar, pelo Empório Árabe (215 Sul, Bloco A, tel. 3363.3101, e Avenida Castanheiras, Lote 1.060, Águas Claras, tel. 3436.0063). Por R$ 49,90 os clientes podem degustar um pouco de cada delícia da culinária árabe – carneiro marroquino (foto), arroz com lentilhas, quibes cru e frito, esfirras, tabule, homus, baba ganoush, coalhada, pão árabe, charutos de uva e de repolho, abobrinha recheada e kafta. Haja fôlego!

Rafaela Cambuy

Até o fim do mês, cinco receitas de bacalhau serão oferecidas, no jantar, pelo Dom Francisco da Asbac (SCES, Trecho 2, tel. 3226.2005): ao forno (R$ 85), aromático (R$ 90), de natas (R$ 90), à brás (R$ 85) e à espanhola (esse aí da foto, que custa também R$ 90). Todos os pratos servem duas pessoas e são acompanhados de arroz de brócolis. Para quem preferir uma suculenta carne vermelha, uma opção é a maminha de alcatra prime, acompanhada de arroz de brócolis e farofa de ovos, por R$ 120 (para duas pessoas) ou R$ 170 (para três).

Ainda dá tempo de participar, nos dias 23 e 30 deste mês, da pisa da uva na Quinta do Olivardo, em São Roque, interior de São Paulo, onde está se iniciando a colheita das variedades Isabel, Lorena e Niágara branca, rosada e violeta. Assim que são retirados dos parreirais, os cachos vão para o lagar, onde são pisotea-

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Novas pizzas e saladas

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Pomodori pelati, mussarela, shimeji e camarões refogados, cobertos com mascarpone, ervas finas e azeite trufado, são os ingredientes dessa pizza que acaba de entrar no cardápio da Fratello Uno (103 Sul, Bloco A, tel. 3321.3213, e 109 Norte, Bloco D, tel. 3447.3360). Custa R$ 66,90 (individual), R$ 72,90 (média) ou R$ 79,90 (grande). Outra novidade é a pizza de pomodori pelati, pesto verde, linguiça picante artesanal, alho poró refogado, lascas de parmesão e mascarpone (R$ 62,90 a individual, R$ 68,90 a média e R$ 73,90 a grande). Há também novas saladas no cardápio: atum com rúcula, alface americana, lascas de ovos, azeitonas pretas, tomate seco, cebola em lâminas e queijo gorgonzola (R$ 49,90 a pequena e R$59,90 a média) e salada verde à Juliana, coberta com carpaccio ao molho de mostarda e lascas de parmesão (R$ 46,90 a pequena e R$ 54,90 a média). Ambas são acompanhadas pela pizza branca da casa.


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Comidinhas de verão Para atender à demanda por alimentos mais leves e frescos, apropriados para a estação mais quente do ano, vários restaurantes da cidade criaram cardápios especiais de verão em que predominam os pescados, os frutos do mar, as saladas e os sucos de frutas. Vamos a alguns deles: Rubayat (SCES, Trecho 1, tel. 3443.5000)

Bhumi (113 Sul, Bloco D, tel. 3345.0046) Espaguete de abobrinha com molho de tomates frescos, manjericão, alho e azeite extra virgem, salpicado com cracker de linhaça dourada (R$ 23), e salada de grãos (trigo, quinoa, linhaça, gergelim), com maçã desidratada, mix de folhas, carpaccio de abobrinha marinada, rabanete, espiral de beterraba, cenoura e pepino com vinagre de maçã (R$ 23,90).

Dudu Bar (303 Sul, Bloco A, tel. 3323.8082, e QI 11 do Lago Sul, Bloco I, tel. 3248.0184)

Pescada amarela com cuscuz marroquino e feijão tropeiro (R$ 31,90) e salada Caesar, um mix de folhas, crouton, queijo parmesão e molho caesar (R$ 19,90).

Lombo de bacalhau grelhado com molho de alho e cebola assados, regado com azeite e raspas de limão, acompanhado de purê de batata baroa e espinafre (R$ 98,90), risoto de camarão com redução de laranja, shoyu e legumes (R$ 44,70), lascas de bacalhau acebolado (foto), com azeitona de duas cores, tomate cereja, mini batata e mini cebola, regadas com azeite salpicadas com baru (R$ 72,90), e vinagrete de frutos do mar acompanhado de cesta de pães (R$ 62,90).

Fabio Dias

Belini Café (114 Sul, Bloco B, tel. 3345.3000)

Papilote de peixe branco assado em cama de legumes ao perfume de gengibre, acompanhado de risoto de arroz negro (R$ 56), salada Poulet Et Lardon (Mix de folhas, tiras de frango, tomate cereja, croutons, crisps de bacon e molho especial, por R$ 26) e salada Waldorf (folhas, gorgonzola, lascas de maçã verde e salsão em molho cremoso, por R$ 29).

Salada Caesar Salmon (foto), com alface americana, salmão grelhado, croutons, parmesão e molho Caesar (R$ 36); Sunset Sandwich, no pão ciabata com molho de mostarda, carpaccio, queijo parmesão e molho de alcaparras (R$ 25), e Sunrise Burger, no pão de brioche com maionese, creme de queijos, alface americana, cebola grelhada e maça verde (R$24).

Haná (408 Sul, Bloco B, tel. 3244.9999) Divulgação

Santé 13 (413 Norte, Bloco A, tel. 3037.2132)

Alan Santos

The Fifties (Pier 21 e ParkShopping)

Lucila Camargo

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De entrada, carpaccio de camarão com tagliatelle de pupunha e azeite de camarão ou tartare de caranguejo (foto) feito com iogurte de coco e espuma de maracujá (R$ 50, ambos); pratos principais, robalo na manteiga tostada, mel e sálvia e musseline de batata (R$ 84) ou coração de contrafilé com salada de agrião e queijo de cabra (R$ 82). Para acompanhar os pratos, drinques preparados com gim, leves e refrescantes, entre eles o Mare, que leva manga e pimenta preta.

Os destaques do bufê de verão (R$ 69 no almoço e R$ 73 no jantar) são o o salmão maçaricado com cream cheese (foto), o pirulito de salmão com calda de morango e maracujá, o sushi de robalo com patê de maionese, atum e cebolinha, o filé de peixe branco ao molho de gorgonzola e o frango coreano ao molho picante.


GARFADAS&GOLES LUIZ RECENA

lrecena@hotmail.com

Ano novo, prognósticos e fatos Recomeçar. Natural que cada ano venha com esperança. Esse 2016 chega com diferença. Teria sido antecipado e engolido pelo ano anterior. Esperanças se projetam para 2017. Quer dizer, este é um “não-ano”: lembrar todo tempo do ano passado e só falar em futuro ano que vem. Algo inusitado, no, Mamita? Sempre soubemos que o nosso era um país diferente, mas amamos com fé e orgulho a terra em que nascemos. Afinal, jamais vimos um país com este. Viva o poeta. Nem o mais criativo entre os criativos literatos das Américas imaginaria enredo igual ao desenho de 2016. Ano bissexto que soma nove? “Noves fora”, zero! Então do zero começo a navegar contra a corrente e caminhar contra o vento. Pensemos em Brasília, o arquipélago onde vivemos. Robusta renda per capita, maior do país. Fonte pagadora estável, o governo, que depois do calote eleitoral não dará outro, logo nos salários e aposentadorias dos barnabés, a verdadeira classe média local. Ela agora existe e virou reacionária. Não gosta nem de barulho em bar. Vixe! E pensar que quando aqui chegamos, por não termos mortos, fazíamos grandes festas até no Dia de Finados. Brasília muda e encareta. Mas continua com boa renda e gasta. Talvez menos, mas gasta e alimenta a cadeia econômica. Os bares perdem espaço mais por ineficiência, má gestão e caretice da classe média, dos evangélicos e da lei seca do que pela falta de grana. A paúra dos gastos vem da inflação, preços em geral e catastrofismo dos economistas e operadores do mercado, paulistas na comissão de frente e maioria na ala das baianas. Tem crise? Tem. O governo é culpado? Muuuito! Subsídios? Bancos dos réus e fuzilamentos! Já atrasados. O mundo não acaba. Não se apagam 366 dias vezes 24 horas de cada um deles. Calma, galera, o Brasil ainda é nosso. Ficará barato em vários setores, que serão comprados pelos capitais estrangeiros, chineses à frente. Bakunin, o anarquista, gostaria que tudo fosse pelos ares, começando pelo Estado e igrejas. Ainda não será desta vez. Sobreviveremos. Aos governos, tecnocratas, oráculos de consultorias econômicas. Depois dos delírios, duas histórias brasilienses de garfadas e goles que fazem sucesso. Criatividade e talento vencem crises.

Da Itália para a América do Planalto

Quando ele chegou, chamou logo a atenção. Um cozinheiro italiano perdido no Planalto Central. Quem a ele era apresentado perguntava depois aos outros: quem é esse cara? De onde veio? Como apareceu? Simpatia, perseverança e 30 anos depois, maioria das perguntas respondidas e a América do Planalto conquistada. De tal maneira competente que a Itália ciumenta reconheceu o trabalho desse filho que um dia foi para a estrada. Rosário Tessier ganhou placa e diploma para provar que elevou bem alto e para muito longe o nome da cozinha italiana em território estrangeiro. Trata-se do certificado Ospitalitá Italiana – Ristoranti Italiani nel Mondo, concedido pelo governo da Itália. Ele não conheceu JK nem é um pioneiro clássico, mas ensinou muita gente a comer bem. Auguri!

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O incansável Gil e as novas artimanhas

Diz certa oposição que Gil Guimarães é queridinho da revista e da coluna. Também, pudera! É um dos mais criativos e inovadores do nosso mercado (há outros e outras, claro: Dudu, Mara, La Toscano, Paixão, a louca de mi Madre e muitos mais). Mas o danado do Gil Mauro é uma usina. E lá vem ele outra vez, com mais uma fase no Parrilla Madrid. Caminho aberto em 2015 a indicar opções de futuro. Gil vem com novo cardápio e destaque para o hambúrger. Vários tipos, todos artesanais e testados à exaustão. Assados na parrilla a carvão e servidos em pão brioche. São 180 gramas de black angus e você pode montar seu petisco preferido. Preços a partir de 20 reais. Os croquetes continuam, bem como a guinada rumo às cervejas artesanais. Se os vinhos saem, entram sangrias e o clericot, a grande moda do verão 2016. Sucesso!


PÃO&VINHO ALEXANDRE FRANCO pao&vinho@agenciaalo.com.br

Saldão de 2015 Mais uma vez, muitos foram os vinhos que degustei e de que gostei em 2015, mas que não pude comentar na nossa coluna. O que é um ótimo sinal, pois, se assim não fosse, das duas uma: ou estaria escrevendo demais ou bebendo de menos, e em ambos os casos haveria sério risco de me tornar um chato. Assim, a exemplo do ano passado, resolvi aproveitar esta primeira coluna do ano que se inicia para selecionar, dentre aqueles vinhos não comentados, alguns dos que mais gostei. Escolhi, pois, um da consistente - e sempre presente ao longo das minhas degustações - região de Bordeaux, desta feita um Paullac da mais alta estirpe. Da não menos apreciada região da Toscana, um dos grandes Brunellos que de lá trouxe em minha última estada, no início de 2015. Do recém-visitado Chile, embora trazido já há muito mais tempo, um tinto que, em minha opinião, vem se consagrando cada vez mais como das melhores de todo o chamado Novo Mundo. E, para finalizar, um delicioso vinho de sobremesa, trazido da minha passagem pela Áustria em 2014. De saída, nada menos que o Château Pontet-Canet, um Cinquieme Grand Cru Classe en 1855. Certamente um dos grandes de Bordeaux, nesta safra avaliados com excelentes 92 pontos pela Wine Spectator. De cor rubi, traz um nariz complexo, com matizes de cassis, terra, black e blueberry, tabaco, pimenta e ainda um toque floral. Pleno de corpo, chega a dar uma impressão de rusticidade que alegra sua natural elegância, com um claro retrogosto de cassis. Grande vinho! Depois tivemos um Brunello de exceção, pouquíssimo conhecido por estas bandas, de produtor pequeno, mas de grande qualidade. Trata-se do Brunello de Montalcino Madonna del Piano Riserva 2007, com 36 meses de barrica, complementados por mais 24 meses de garrafa. As pontuações desse vinho não se pode deixar de notar. Para citar apenas

algumas: 95 da Wine Spactator, 96 de Robert Parker e 98 da Wine Enthusiast. De rubi brilhante e intenso, seus aromas são límpidos, mostrando frutas negras maduras, couro e tabaco, com um maravilhoso toque floral, algo a violetas. Taninos muito firmes, mas de grande qualidade e elegância, fazem um palato que confirma os aromas e traz ainda um agradável toque mineral. Excepcional Brunello. Do nosso querido e próximo Chile abri e degustei um maravilhoso Caballo Loco, Number Nine. Para quem não sabe, esse top da vinícola Valdivieso não declara safra, uvas ou região de produção. É simplesmente numerado, pois a cada ano seu enólogo trabalha um corte de diversas safras passadas, de diversas origens e castas, junto com a mais atual, e quando chega ao ponto ideal o numera como a indicar seu assemblage único. De cor rubi intenso, com aromas a frutas negras e vermelhas, algum couro, claro carvalho tostado e baunilha. Bem encorpado em boca, mas de taninos muito sedosos e incrível equilíbrio entre acidez, álcool e taninos. Em minha opinião, um dos melhores vinhos tintos do Novo Mundo que já degustei. Extraordinário. Finalmente, para deixar um gosto doce em nossa coluna, o Grande Cuvée Trockenbeeren Auslese Nummer 6 de 2011 da Kracher, um dos melhores produtores desses néctares vindos da Áustria. A classificação dos vinhos doces dessa região é sempre muito complexa, mas esta, Trockenbeeren Auslese, está em seu topo, ficando eventualmente abaixo apenas dos Eisweins. Um lindo corte de chardonnay e riesling que produz um vinho de cor dourada clara, com nariz fantástico a mel e baunilha e toque leve de abacaxi. Ao palato, um toque de nozes e um pouco de ervas. Para completar, um adorável retrogosto de limão. Daqueles vinhos que não acompanham meramente a sobremesa, mas a substituem. Feliz 2016!

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HAPPYHOUR

Cerveja de quê?

RONALDO MORADO www.ronaldomorado.com.br ronaldomorado.blogspot.com.br @ronaldomorado

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“Isso é cereal, com o qual qualquer idiota pode fazer pão; mas Deus quis uma forma mais divina de consumo. Vamos louvá-lo e glorificá-lo pela cerveja”. Frei Tuck, personagem da história ficcional de Robin Hood.

Todos sabem que cerveja é uma bebida alcoólica fermentada a partir de cereais. Mas poucos conhecem algumas detalhes e curiosidades interessantes. Antes de mais nada, vamos esclarecer. Entre as bebidas alcoólicas fermentadas, temos o hidromel feito a partir do mel, a cidra produzida de maçã ou pera, o vinho a partir da uva, o saquê a partir do arroz e a chicha (bebida ancestral de povos indígenas dos Andes) feita de milho. Apesar de ser uma bebida alcoólica fermentada a partir de cevada, obrigatoriamente, a cerveja pode ter em sua receita outros cereais (trigo, arroz, aveia, milho etc). Mas surge uma dúvida: para fabricar álcool, precisamos de açúcar. De onde vem o açúcar para fazer cerveja, já que os grãos de cereal são ricos em amido e não contêm açúcar? Precisamos do cereal maltado (adocicado). O homem primitivo (10.000 a.C.) descobriu, por acaso, que deixar os ramos de cereal de molho em água faz com que eles germinem. Ao germinarem, os grãos secos se umidificam e quebram as moléculas de amido, transformando-as em... açúcar. A esses grãos modificados e doces chamamos atualmente de malte. Pronto! Já temos o ingrediente básico para fazer álcool – oops... para fazer cerveja. Agora vamos às formalidades. Quando a receita usa apenas malte de cevada, a cerveja é chamada de puro malte. Quando a receita usa outros cereais, além da cevada, e em quantidades superiores a ela, deve ser chamada de cerveja do cereal dominante.

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Exemplo: 49% de cevada e 51% de aveia = cerveja de aveia. O mesmo principio se aplica a cervejas de trigo etc. Mas importante: a bebida deve ter, no minimo, 50% de malte de cevada para ser rotulada de cerveja. Existem muitas variações sobre o tema. Desde o uso de outros cereais, alguns não maltados, e de ingredientes transgênicos até o acréscimo de adjuntos cervejeiros (frutas, corantes, outros açúcares etc). Sobre isso seriam necessárias várias páginas de esclarecimento. Para essas questões, cada país possui regulações próprias. Para finalizar, uma curiosidade: você sabia que o uísque é produzido a partir de uma cerveja? Sim. Pronta a cerveja básica, sem acrécimo de lúpulo ou adjuntos, ela é destilada. Se isso for feito a partir de uma cerveja puro malte, teremos um uísque puro malte. Simples? Nem sempre. Como no caso da cerveja, existem incontáveis variações sobre o tema, que exigiriam muitas páginas desta revista.


EM 2015 O QUE FOI BOM PARA VOCÊ A CÂMARA LEGISLATIVA

APROVOU

• Aprovou a instalação de aparelhos sonoros para identificação de chamadas, nas paradas de ônibus, para deficientes visuais. (LEI 5.459/2015) • Aprovou a lei que impede a mudança de símbolos do GDF a cada troca de governo. (LEI 5.483/2015) • Aprovou o projeto que garante a doação, para entidades filantrópicas, de produtos apreendidos. (PL 414/2015) • Aprovou a instalação de fraldários nos estabelecimentos comerciais. (PL 335/2015) • Aprovou o projeto que determina a publicação semestral, no Diário Oficial, da relação de imóveis alugados pelo GDF. (LEI 5.532/2015) • Aprovou a substituição do nome da Ponte Costa e Silva para Ponte Honestino Guimarães. (LEI 5.523/2015)

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ÁG

Acesse: www.acoescldf.com.br

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SE É BOM PARA VOCÊ, A CÂMARA APROVA.

- P RESER


estranhosseres

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DIA&NOITE

Gemeentemuseum, Den Haag

Um menino curioso observa o mundo de um ponto de vista privilegiado e perigoso: o alto de uma pilha inclinada de cadeiras. Essa talvez seja a obra menos bizarra da artista plástica australiana Patricia Piccinini, cujas esculturas ocupam os amplos espaços do CCBB a partir de 21 de janeiro. Trata-se da exposição ComCiência, assunto da última edição desta Roteiro, quando ainda ocupava o CCBB de São Paulo. As obras da artista se inspiram nas pesquisas em biotecnologia e engenharia genética e se situam entre o hiper e o surrealismo. Ao mesmo tempo repulsivos e sedutores, os seres concebidos por Patricia em seu estúdio de Melbourne – que em muito se assemelha a um espaço de criação de efeitos especiais para o cinema, com seus ateliês de pele, unha ou cabelo – provocam uma imediata e paradoxal resposta do público. Se, por um lado, suas formas causam asco ou repulsa, sua familiaridade e doçura geram uma empatia quase imediata. A proposta da artista é levar o espectador à reflexão sobre os efeitos futuros das recentes e profundas manipulações genéticas. O incômodo provocado por esses monstrengos de silicone toca em nossos próprios sentimentos, ampliando nossa compreensão sobre questões complexas e delicadas como a imposição de padrões de beleza, o racismo e a xenofobia. “Somos cercados por modificações genéticas escondidas em nossos alimentos e animais, sem ao menos nos dar conta! Eu não induzo o visitante a pensar qualquer coisa sobre engenharia genética, mas pergunto como eles se sentem frente a essas possibilidades”, resume a artista, cujo trabalho já foi levado a inúmeras galerias ao redor do mundo e teve destaque nas bienais de Liverpool, Berlim, Havana e Veneza. Até 4 de abril, de quarta a segunda, das 9 às 21h, com entrada franca.

mondrianvemaí... Será no dia 21 de abril, bem no aniversário de Brasília, a inauguração da mostra Mondrian e o movimento De Stijl, com a obra do pintor modernista holandês (1872-1944) conhecido por sua tela mais famosa, realizada em 1921: uma despojada composição com grande plano vermelho, amarelo, preto, cinza e azul. Antes dela, contudo, o artista plástico teve uma produção de quase 30 anos com paisagens carregadas de cores escuras, e às vezes sombrias, que caracterizavam a pintura holandesa do Século XIX. Aos poucos, ele foi se aproximando dos movimentos artísticos que aconteciam na Europa. Seus tons foram clareando e suas composições ficando mais ousadas à medida em que se aproximava dos pós-impressionistas franceses. Estarão na mostra cerca de 70 obras, sendo 30 de Mondrian e uma seleção de múltiplas manifestações do movimento De Stijl, ou neoplasticismo, um marco da arte moderna. A maior parte do acervo é procedente do Museu Municipal de Haia, que reúne a maior coleção do mundo de obras de Mondrian. A mostra estreia em São Paulo no dia da fundação da cidade, 25 de janeiro, e tem como destinos seguintes os espaços do CCBB de Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.

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temporadaprorrogada

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Quem ainda não foi tem até 28 de fevereiro para ver a exposição Sociedade Cavalieri, que conta a história de uma organização secreta de artistas gravadores que durante mais de 300 anos (entre 1585 e 1916) atuou nos ateliês da Europa Ocidental, reunindo alguns dos maiores nomes da arte de todos os tempos. A mostra se divide em duas partes. Na primeira estão a biografia de Giovanni Battista Cavalieri (1526-1597), fundador da sociedade, acompanhada de sua série de gravuras de monstros que teria influenciado a história da arte até o começo do Século XX. Na segunda parte estão obras de renomados gravadores, membros da sociedade, influenciados diretamente pela produção de Cavalieri, que foi contemporâneo de Michelangelo, Raphael e Caravaggio, mas, ao contrário deles, jamais obteve reconhecimento. No entanto, criou um estilo artístico vigoroso que acabaria influenciando grandes mestres da arte. Na verdade, tudo não passa de invenção do artista curitibano Pierre Lapalu, que se impressionou com a qualidade do trabalho de Cavalieri e resolveu resgatá-lo como objeto de pesquisa. Apesar de verdadeiros todos os personagens – em parte também a exposição – a tal sociedade nunca existiu. Lapalu se apropriou da obra dos grandes mestres e deu um toque de Cavalieri às gravuras. De terça a domingo, das 9 às 21h, com entrada franca.

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... efridatambém Carmen Frieda Kahlo y Calderón nasceu em 1907 e morreu em 1954, tempo suficiente para produzir 143 trabalhos, 55 deles autorretratos, e ser consagrada como a artista mexicana de maior reconhecimento internacional. Sua vida e sua obra estarão na mostra Frida Kahlo e as mulheres surrealistas no México, que ficará em cartaz na Caixa Cultural entre 12 de abril e 12 de junho deste ano. Com curadoria da pesquisadora Teresa Arcq, vai reunir 20 telas de Frida, entre elas Autorretrato com monos (foto), de 1943, além de 13 obras sobre papel, incluindo nove desenhos, duas colagens e duas litografias. Os visitantes terão acesso também a 100 trabalhos de 16 artistas mexicanas que se destacaram com suas obras surrealistas, como Maria Izquierdo, Remedios Varo e Leonora Carrington. Frida Kahlo teve uma vida pontuada por sofrimento e dor física e psicológica em função de um acidente de bonde que sofreu aos 18 anos e mudou o rumo de sua vocação. Desistiu de medicina e começou a pintar. Foi casada com o também pintor Diego Rivera, com quem teve um relacionamento conturbado. De terça-feira a domingo, das 9 às 21h, com entrada franca.


Daniel Zukko

Daniel Fama

Thiago Bueno

brasílianofestivalchileno Pela quarta vez, a Cia. Fábrica de Teatro vai representar nossa cidade no Festival Entepola, que acontecerá em Santiago do Chile, de 19 a 30 de janeiro, e em Salamanca, entre os dias 1º e 7 de fevereiro. Agora, a Cia. dará apoio à equipe de produção do festival, além de acompanhar os bastidores desse que é o mais importante festival de teatro popular do Chile e aplicar o workshop Treinamento do Ator na Fábrica de Teatro para artistas de outros grupos e comunidade local. Criada em 2009, a Fábrica esteve com seus espetáculos em mais de 15 festivais internacionais em países como Chile, Peru, Argentina, Venezuela e México. No cenário brasiliense, destacam-se as produções teatrais Beijo no asfalto, Dia de visita, E quando vem a lucidez. Somente no último ano, foram produzidos três projetos: [Nu] Objeto, no qual 50 artistas de Brasília tiraram a roupa, usando apenas um objeto como tapa-sexo, Que gosto tem seu beijo?, que apresentou divertidas fotos de desconhecidos provando os mais curiosos beijos e Boa Sorte: um ensaio, parte componente do Projeto Boa Sorte em que modelos soropositivos e soronegativos se abraçaram na luta contra o preconceito a quem tem HIV. Todos os ensaios são assinadas pelo fotógrafo Daniel Fama.

festimdasarábias As bailarinas da Shamsa Nureen Cia. de Dança estão no projeto Noite Árabe , que acontece na última sexta-feira de cada mês no Empório Árabe da 215 Sul e na primeira sexta-feira no de Águas Claras. O show é dividido em três blocos. No primeiro, as bailarinas apresentam a magia e o conceito da dança do ventre; no segundo, o folclore árabe; no terceiro, elas interagem com o público numa roda de dabke bem animada. Como nesses dias a casa fica reservada para a festa, a chef Lídia Nasser recomenda que os interessados façam reserva com antecedência. No bufê caprichado estão saladas, pastas, pães, pernil de cordeiro acompanhado de geleia de damasco com pimenta, salmão com camarão ao molho de baunilha, carneiro marroquino e outras comidas árabes do menu da casa. O bufê custa R$ 76,90 por pessoa, fora as bebidas e os 10% de serviço. Reservas pelos telefones 3363.3101 (Asa Sul) e 3436.0063 (Águas Claras). O pedido será confirmado após o pagamento antecipado de 50% do valor do bufê em até 48 horas após a solicitação.

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alphonsus “Quando Ismália enlouqueceu/Pôs-se na torre a sonhar.../Viu uma lua no céu/ Viu outra lua no mar/No sonho em que se perdeu/Banhou-se toda em luar”... Esses são os primeiros seis versos de Ismália, de autoria do poeta simbolista Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), cuja vida e obra está sendo contada por sua bisneta, a atriz Raquel Scotti Hirson, em espetáculo a ser apresentado nos dias 23 e 24 de janeiro no Teatro Brasília, do Hotel Royal Tulip. Integrante da companhia Lume Teatro, de Campinas, Raquel nasceu 50 anos após a morte de seu bisavô, mas teve a curiosidade de saber quem foi esse homem capaz de poetar em meio à monotonia de seus longos dias provincianos vividos em Ouro Preto e Mariana. Buscou na família e em sua infância os laços que a permitissem encontrar conexões entre poesia, vida e criação, deixando-se envolver por fantasias e concebendo um espetáculo que entende a memória como ficção. Sábado, às 21h, e domingo, às 20h, com tradução simultânea para Libras (Linguagem Brasileira de Sinais). Os ingressos, a R$ 20 e R$ 10, podem ser adquiridos na bilheteria do teatro de terça a sábado, das 13 às 19h, ou nos dias dos espetáculos, das 13 às 21h. Classificação indicativa: 16 anos.

conversadesambista Noca da Portela (foto), Tiãozinho da Mocidade e Zé Katimba são os três sambistas que participam do show Conversa de sambista é samba, entre 21 e 24 de janeiro, na Caixa Cultural. Eles vão resgatar as velhas rodas de samba e de conversa animada que proliferavam no Rio de Janeiro até o final da década de 80. Cantor e compositor, Noca da Portela tem 78 anos, 56 de samba, sendo 42 deles dedicados à Portela. Ganhou seis sambas-enredo por sua escola. Zé Katimba, também cantor e compositor, participou da fundação da escola de samba Imperatriz Leopoldinense e é considerado um dos criadores do samba-enredo moderno, alegórico e bem-humorado. O mediador desse encontro musical será Tiãozinho da Mocidade, conselheiro e diretor cultural da Mocidade Independente de Padre Miguel. Ele é autor de cinco dos mais conhecidos enredos da escola de samba. Ingressos a R$ 20 e R$ 10. Mais informações: 3206.6456.

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cenadecarnaval

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Quanto riso, oh, quanta alegria, mais de mil palhaços no salão... No próximo dia 27 de janeiro, Welder e Pipo serão os foliões encarregados de animar a festa regida pelos ritmos carnavalescos, comandada pelo DJ Xuxu. As brincadeiras do Jogo de cena estarão no palco da Caixa Cultural com a proposta de divertir e fazer o público sambar. Dividido em quadros, o evento é aberto à apresentação das mais diversas manifestações e estilos artísticos, fazendo com que cada uma de suas edições seja única. O roteiro de cada programa é formado a partir das inscrições colhidas para os diversos quadros e também por intermédio de convite a artistas já consagrados. Os quadros são entremeados com a participação do público, que tem a oportunidade de experimentar ser artista por uma noite ou simplesmente de entrar nas brincadeiras para receber prêmios. Os apresentadores e comediantes Welder Rodrigues e Ricardo Pipo integram a Cia. de Comédia Os Melhores do Mundo. Quarta-feira, às 20h, com ingressos a R$ 20 e R$ 10, à venda na bilheteria do teatro (3206.6456). Não será permitida a entrada após o início do espetáculo. Não recomendado para menores de 14 anos.

Adla Marques

DIA&NOITE

arteparaospequenos Teatro, cinema, canto e dança. Esses são os principais ingredientes da 2ª Colônia de Férias da Trupe Trabalhe Essa Ideia, para crianças de 7 a 15 anos, marcada para o período de 18 a 24 de janeiro, em dois horários: das 9 às 13h e das 14h30 às 18h30. Ao final, a turma gravará um curta-metragem de roteiro inédito, que será exibido em em um teatro da cidade. ainda não definido. A primeira edição da colônia de férias gerou a 1ª Mostra de Curtas da Trupe, que aconteceu no Teatro Eva Herz, tendo como programação dois curtas produzidos pelos participates7, Buuu! e Festa do pijama, além de curtas profissionais de diretores brasilienses, como O balãozinho azul, de Fáuston da Silva, Requília, de Renata Diniz, e Meu amigo, meu avô, de Renan Montenegro. As obras e atividades da trupe já foram vistas por mais de cinco mil espectadores, tendo como destaque as peças O gato de chapéu e Matilda, apresentadas ao público em 60 sessões em teatros de Brasília e projetos em escolas, além de participação no Fringe 2015 – Festival de Teatro de Curitiba. A inscrição custa R$ 350 (em duas parcelas de R$ 175) e pode ser feita na sede da Trupe Trabalhe Essa Ideia (113 Norte, Bloco C, subsolo, sala 37). Mais informações: trabalheessaideia@gmail.com e 8143.3133.

Paky

pelaestradaafora...

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É o clássico Chapeuzinho vermelho, do francês Charles Perrault, a primeira atração da temporada 2016 da Néia e Nando Cia. Teatral, em cartaz até 31 de janeiro no Teatro Brasília Shopping. Na história que todos conhecem, a menina de capuz vermelho ganha a estrada para levar doces para sua avó doente. Porém, um simples atalho pela floresta pode complicar bastante o caminho, pois é ali que mora o esperto e faminto lobo mau. Na versão da Cia. Néia e Nando, o lobo mau é bastante atrapalhado e a vovó é uma superatleta, modificações suficientes para garantir a diversão das crianças que assistirem ao espetáculo. No elenco estão Mayara Moreto, Thiago Linhares, Carla Neri, Lucas Lima, Romulo Mendes e Tamara Menezes. Sábados e domingos, às 16h, com ingressos a R$ 50, R$ 25 e R$ 15, à venda, em dinheiro, nos dias das apresentações, a partir das 15h. Mais informações: 3242.5278 / 8199.2120.

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elesvoltaram Em agosto passado eles estiveram aqui para apresentar seu musical A vida é bela em seis sessões. O sucesso foi tanto que resolveram voltar a Brasília nos dias 30 e 31 de janeiro, agora para quatro sessões no Teatro Unip (913 Sul). Os dois palhaços fazem show especial baseado no CD e DVD A vida é bela, mas, desta vez, além de curtir o show e cantar com seus melhores amigos, os pequenos poderão curtir momentos divertidos no teatro, com direito a diferentes atrações, fotos e muita animação. O novo DVD entrou na grade de exibições especiais do canal Discovery Kids, líder de audiência infantil, e teve uma repercussão tão boa que chegou a elevar a audiência do horário em 150%. Agora, Patati Patatá apresenta um programa diário no canal e também já é líder de audiência durante as manhãs. No show, a dupla traz um mix das músicas que já são sucesso entre a criançada, como o Ronco do vovô, Vem bambolear, O mestre mandou, A vida é bela e A, E, I, O, U. “Fico feliz em saber que mais famílias terão a oportunidade de ver um show lúdico, animado, repleto de encanto e magia, características da dupla de palhaços mais amada do Brasil, Patati Patatá”, comemora Rinaldi Faria, criador dos personagens e diretor artístico do espetáculo. Sábado, às 15 e 18h, e domingo, às 11 e 15h. Ingressos a R$ 100 e R$ 50, à venda nas Lojas Cia Toy e na Belini (113 Sul).


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gritinhodecarnaval

espaçoaberto

somnapraia A próxima edição da Santa Feijuca terá clima de carnaval tropical. Dia 23, no Clube de Engenharia, a banda Som Na Praia e o DJ Ari Bozza, do Bagatelle de São Paulo, vão comandar o som da Santa Feijuca, feijoada que tem sua segunda edição de pré-carnaval a partir das 14h do sábado.Com quase dez edições realizadas em quatro anos, a festa já entrou para a agenda musical da cidade. Sua proposta é reunir no mesmo espaço duas paixões nacionais: boa música e feijoada. Composto por músicos das bandas Surf Sessions e Camafeu, o Som na Praia reúne repertório recheado de grandes sucessos da música brasileira, passeando pelo axé baiano, o pop, a MPB e o pagode. Os ingressos para a Santa Feijuca custam R$ 90 (feminino) e R$ 120 (masculino) – valores referentes ao primeiro lote – e permitem a entrada, assim como o bufê de feijoada. Interessados podem adquiri-los no site producoesr2.com.br. Ingressos: R$ 90 (feminino) e R$ 120 (masculino), valores referentes ao 1º lote. Mais informações: 3081.0164. Classificação indicativa: 18 anos.

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_Paulo Cavera

A Companhia de Teatro Mapati (707 Norte, Bloco K) está convidando as crianças folionas da cidade a participarem do Carnapati, bailinho de carnaval que acontece no sábado, dia 23, das 14 às 18h, na sede da companhia. A festa faz parte da programação para comemorar os 25 anos da Mapati, que já realizou 49 colônias de férias movidas a brincadeiras, teatro e circo. A proposta do baile é contar a história do carnaval de forma bem teatral. Brincadeiras, desfile de fantasias e bloquinho de rua estão na programação. No gritinho do Mapati até um pernade-pau foi chamado para dançar as animadas marchinhas carnavalescas que prometem reunir os pequenos e os já grandinhos. Ingressos entre R$ 20 e R$ 40. Informações: 3347. 3920.

tamanhofamília Atire a primeira pedra quem nunca teve vontade de mergulhar numa piscina de bolinhas coloridas, dessas que fazem a alegria da criançada nas festinhas infantis... Pois acaba de ser inaugurada uma megapiscina de bolinhas que permite a entrada de pais e filhos no brinquedo de 177m², com nada menos que 350 mil bolinhas. A novidade acaba de ser instalada no Taguatinga Shopping e lá ficará até 28 de fevereiro. De um castelo de mais de três metros de altura saem dois tobogãs, um de cada lado, para deixar a brincadeira na piscina de bolinhas ainda mais emocionante. A entrada para criança menor de dois anos é gratuita, desde que esteja acompanhada por um responsável maior de 18 anos que pague R$ 15 por meia hora de folia (esse é também o preço para crianças maiores de 15 anos). Pessoas com gesso, próteses, problemas respiratórios, epilepsia, problemas cardíacos, portadores de deficiência física ou mental não podem entrar no piscinão de bolinhas. De segunda a sábado, das 10 às 22h, e domingos e feriados, das 12 às 22h.

Artistas plásticos, atores, músicos e bailarinos da cidade já podem se inscrever para mostrar seu trabalho na Fnac Brasília, ao longo do primeiro semestre de 2016. O espaço está aberto para pessoas físicas ou jurídicas que enviem proposta escrita e material físico até o dia 30 de janeiro para análise. Serão aceitas apresentações musicais, teatrais, de dança, e exposições, entre outros tipos de manifestações artísticas. As propostas devem ser enviadas para o site comunicacao.brasilia@ fnac.com.br. O Fórum de Eventos da loja situada no ParkShopping conta com estrutura de som e luz para shows solo e de bandas. A galeria Fnac conta com molduras e iluminação adequada para exposições. Nesse caso, os interessados devem incluir as imagens que irão compor a mostra. No caso de shows musicais, apresentações de dança e teatro, performances ou exposições que contemplem a execução de música ao vivo ou mecânica, os interessados devem incluir press-release dos artistas, material gravado, repertório, roteiro musical e fotos. 21


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BRASILIENSEDECORAÇÃO

A alma musical

do Feitiço

POR VICENTE SÁ FOTO LÚCIA LEÃO

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erson Alvim caminha por entre as mesas do Feitiço Mineiro quase sem olhar para elas. Parece ter a mesma e exata noção de espaço que tem um cego em sua própria casa. Afinal, passou boa parte dos seus 74 anos em ensaios e shows em casas de espetáculos bem maiores do que essa de Brasília. Os cabelos há tempos estão brancos, mas o porte e o olhar urgente são os mesmos de quando aju-

dou a dar alma ao Canecão, transformando-o na maior casa de espetáculos da América Latina nos anos 60, e quando montou outras em São Paulo e Brasília. Senta-se à mesa e entrega-se à conversa como quem tem sede de palavras. Ao mesmo tempo, não deixa de observar o movimento do restaurante e de vez em quando perguntar sobre a noite anterior. Foco e dedicação são palavras que cantam em duo no showbizz brasileiro e talvez sejam o segredo desse carioca nascido na Penha e criado no Leme que por pouco não

assinou contrato como goleiro do Botafogo no início dos anos 60, e que por acaso começou a trabalhar como assistente de produção no teleteatro de comédia da TV Tupi, descobrindo o mundo da arte e o tanto que esse mundo tinha a ver com ele. As oportunidades que surgiram em sua vida foram abraçadas com vontade. A primeira foi um ano depois de entrar na Tupi, quando o diretor de teleteatro Carlos Duval foi atropelado e ficou totalmente imobilizado. Num gesto arriscado, indicou Jerson para substituí-lo na direção.


Mesmo inexperiente, ele aceitou o desafio e, com a ajuda dos atores veteranos, por dois anos comandou as cenas da TV Tupi, tornando-se um diretor respeitado. Amigo de músicos, participou ativamente do grupo Manifesto, que se reunia num bar do Leblon e trazia em suas fileiras Gutemberg Guarabira, Sidney Miller, Suely Costa e outros tantos compositores responsáveis por uma vertente importante naquele período dos festivais. “Até o Milton Nascimento, logo que se mudou para o Rio, ía procurar a gente no bar para trocar ideias e se enturmar com os outros músicos. Era um ambiente muito criativo e de muita camaradagem”, lembra Jerson. Foi por essa época que ele emprestou seu Gordini para Guarabira e Sidney Miller darem uma volta e só teve notícia dos dois no dia seguinte, já pela manhã, avisando que o carro estava parado próximo a um posto de gasolina na saída da cidade. “É que, no meio da voltinha que eles estavam dando, o Guarabira convenceu o Sidney a conhecer o sertão da Bahia e eles foram levando meu carro até que faltou combustível e, como nenhum dos dois

entendia do assunto, colocaram gasolina no lugar do óleo e acabaram com o carro. Mas um ano depois, quando ganharam os primeiros lugares no Festival da Canção, me deram um carro novo. Eram dois meninos legais”, afirma. Em 1968 ele foi chamado certa noite por Mário Priolli, proprietário do Canecão, que estava finalizando uma temporada do teatro de revista de Carlos Machado que se tornara um grande fiasco, não dando nem cinco pessoas por noite. Mário esperava dele uma solução. Então, Jerson propôs tornar o Canecão uma casa de shows de música popular, reinaugurada com um show de Maísa que fez estrondoso sucesso, ficando dois meses em cartaz, com a lotação sempre esgotada, e firmando o nome do Canecão no Rio e no Brasil. A TV Tupi, onde ele trabalhava, passou a transmitir os bailes de carnaval que promovia no Canecão. Outro grande sucesso. Jerson, que já era reconhecido como diretor de teatro, passou a ser respeitado também como criador de espetáculos e de casas de espetáculos. Por anos viveu assim: dormindo até

as onze da manhã, trabalhando de tarde em televisão, (depois foi para Globo, onde ficou até 1986) e à noite indo para o teatro ou a casa de shows. Na Globo, ajudou a organizar o primeiro Rock in Rio, talvez seu último grande trabalho em TV. Ficou até o início deste século trabalhando entre Rio e São Paulo e em 2007 veio para Brasília administrar uma casa de shows que não deu certo. Em 2008, chamado por Jorge Ferreira, assumiu a noite do Feitiço Mineiro, onde se mantém até hoje, criando novos espetáculos, orientando os jovens músicos e sendo muito querido pelos artistas da cidade. Flávio Faria, músico que recentemente se apresentou no Feitiço, diz que é uma tranquilidade ter alguém com sensibilidade e experiência produzindo shows: “É tudo o que o músico quer e precisa”. Por seu lado, Jerson também se diz encantado com a qualidade dos músicos brasilienses, que, segundo ele, não ficam nada a dever aos melhores do Rio e de São Paulo. E como dizem por aí: os casamentos em que as duas partes se admiram só pode ter felicidade e durar muito.

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GRAVES&AGUDOS Divulgação

A banda Patrulha do Espaço, do baterista Rolando Castello Júnior, está com disco novo na praça. E suas primeiras gravações também foram lançadas em CD.

Cinco décadas de bateria POR PEDRO BRANDT

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az todo sentido que o mais recente disco da banda Patrulha do Espaço, lançado no final do ano passado, registre um show realizado na Argentina. Afinal de contas, o baterista e comandante da “nave”, Rolando Castello Júnior, tem um longo histórico com o país. O repertório de Capturados ao vivo – Buenos Aires 2014 (lançado em CD e LP) foi pensado para contemplar composições feitas em parceria com músicos de lá ou que, depois de lançadas pela Patrulha, tenham sido incorporadas ao repertório de bandas argentinas. Pelas contas de Rolando, ele se apresentou no país umas 15 vezes. “Minha reputação por lá vem da época do Aeroblus”, conta, em referência ao trio de hard rock integrado brevemente por ele, em 1977, em companhia do baixista Alejandro Medina e do venerado guitarrista Pappo (1950-2005). “Lá, o Rolando foi reconhecido na rua”, conta Marta Benévolo, mulher do baterista, vocalista da Patrulha e razão pela qual, desde 2008, ele mora em Brasília. “Eu me surpreendi”, ele reconhece. “Devo ter virado cult na Argentina. Aqui no Brasil não me dão valor”, compara o músico, que em 2016

completa cinco décadas dedicadas ao instrumento. Sua ideia para este ano é lançar uma coletânea que faça um passeio por sua trajetória. “Tem material para três volumes. Quero que o primeiro seja de raridades”, adianta. Nascido em São Paulo – o ano ele não revela (“Meu empresário não deixa”, diz, com seu sotaque carregado) –, Rolando começou a tocar bateria na adolescência, influenciado por Ringo Starr. Sua mão direita, deformada desde os dois anos por conta de uma poliomielite, nunca foi empecilho. Chumbinho, nome conhecido no meio da bossa nova, foi seu primeiro professor. Entretanto, foram as dicas de um amigo, Toninho, que lhe mostraram novas possibilidades para o instrumento. Depois de um período no México, onde estreou como músico profissional, Rolando voltou à terra natal e passou a ser integrante da banda Made in Brazil, com a qual gravou o álbum de estreia do grupo, lançado em 1974. A Patrulha do Espaço surge em 1977, para acompanhar o cantor Arnaldo Baptista. A parceria dura pouco tempo e logo depois a banda parte para voar por conta própria. Além da Patrulha, Rolando também fez parte da banda Inox, que lançou seu único disco em 1986. No Brasil, pou-

cos bateristas de rock pesado continuam na ativa depois de tanto tempo. Rolando diz não saber o combustível para se manter na estrada. “Me pergunto isso todos os dias. Não saberia dizer”. Mesmo assim, arrisca: “É o amor inesgotável pelo rock’n’roll. Essa coisa de tesão, juvenil no bom sentido, de rebeldia. É como beber da fonte da juventude”, arremata. É coincidência, mas veio a calhar: agora em dezembro chegou também às lojas a caixa Arnaldo Baptista, com cinco CDs, lançando pela primeira vez em formato digital os dois discos em que o cantor é acompanhado pela Patrulha do Espaço. A banda gravou seu disco de estreia em 1977. O material, entretanto, não encontrou gravadora interessada em lançá-lo. Os integrantes se desentenderam, Arnaldo saiu da banda, e o disco foi engavetado. Em 1988 foram lançados os LPs Faremos uma noitada excelente, que apresenta show de Arnaldo & Patrulha realizado dez anos antes, e Elo perdido, o já lendário disco inédito gravado pelo ex- Mutante com sua então nova banda. Levando em consideração o culto à figura de Arnaldo Baptista e a assombrosa qualidade dos álbuns em questão, é de se espantar a demora para que esses dois discos fossem relançados.


O ano de Paulinho da Viola C

hamar Paulinho da Viola de “Príncipe do Samba” e afirmar que o grande timoneiro representa a realeza do mais brasileiro dos gêneros musicais é uma grande verdade e ao mesmo tempo nos deixa pensar: a monarquia da vida real pode ser um fardo, mas no mundo da música – e no samba em particular – soberanos como Paulinho da Viola enchem os súditos de orgulho. Só assim os republicanos conseguem entender o significado da realeza e porque os reis são louvados. A importância do principado do sambista e poeta é tamanha que o Clube do Choro resolveu homenageá-lo com um

ano inteiro de deferências e reverências. Serão “apenas” 120 shows de março a dezembro, é o que pretende o projeto Tributo a Paulinho da Viola, naquele esquema consagrado do Clube do Choro: artistas de renome todas as quartas, quintas e sextas-feiras e, às terças e sábados, o projeto Prata da Casa, que abre espaço para a espécie “talentus brasiliensis”. Em comum, Paulinho da Viola. Quem quer que suba ao palco vai fazer um desvio de itinerário e passar pela bela, concisa e coesa obra do carioca Paulo César Batista de Faria, 74 anos no próximo dia 12 de novembro. A escolha do homenageado por parte do Clube do Choro, diga-se, era questão de oportunidade. Paulinho é gênio, autor de choros que certaDivulgação

POR HEITOR MENEZES

mente voltarão à superfície e serão relembrados ao lado de canções emblemáticas de sua discografia. Em 1976, Paulinho lançou dois discos: Memórias cantando e Memórias chorando (ambos com arte de Elifas Andreato). O segundo, claro, apresentava a faceta chorão do grande autor de Sinal fechado e Foi um rio que passou em minha vida. Nesse disco, joias autorais como Choro de memórias e Cochichando surgem incrustadas em meio a gemas de Benedito Lacerda e Pixinguinha, deidades do choro. E aí vem o grande lance a respeito de Paulinho da Viola. Sua realeza tem ancestralidade, é rastreável na história, no tempo e no espaço. Examinem a história do samba-choro, da qual Paulinho é legítimo herdeiro, e estaremos presenciando a formação cultural brasileira pela ótica das manifestações artísticas da música urbana praticada no Rio de Janeiro, então capital da jovem República. Fim do Império, início da República, época de altas miscigenações culturais. O crítico José Ramos Tinhorão fala que a maneira de tocar choro teria surgido ainda na época de D. Pedro II, em 1870. A polca Flor amorosa, clássico do chorinho, foi composta nesse período por Joaquim Antonio da Silva Calado, pioneiro do gênero.Consta que os conjuntos, majoritariamente pertencentes à baixa classe-média carioca, eram compostos por flauta, violão e cavaquinho. O pandeiro e a percussão teriam chegado mais tarde, mais ou menos nos anos 1920. Em termo de ligação sanguínea com o choro, Paulinho é filho de César Faria (1919-2007), parceiro de Jacob do Bandolim no saudoso grupo Época de Ouro, verdadeira instituição nacional do choro. César Faria e seu violão estão presentes em Memórias chorando. Mestre Faria também participou de inúmeros outros projetos do menino Paulinho. Nessa conversa de realeza do samba, o que fica mesmo em Paulinho da Viola são a atitude de príncipe elegante e o discurso poético e musical de alto nível em uma carreira que completa 50 anos em 2016. Se ele aparecer este ano no Clube do Choro, o ciclo se completa.

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VERSO&PROSA

Música underground Em seu novo livro, Yury Hermuche apresenta as trajetórias de nove bandas do rock alternativo.

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POR PEDRO BRANDT

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m 1992, em São Paulo, o brasiliense Yury Hermuche assistiu pela primeira vez a um show da banda paulistana Pin Ups. “Aquela intensidade sonora era de uma violência tão marcante, visceral e crua, sendo projetada pela banda na nossa direção no escuro e pequeno Retrô... aquilo nunca mais saiu da minha cabeça”. A experiência mexeu profundamente com o jovem que, pouco depois, montaria uma banda e passaria as décadas seguintes acompanhando shows no underground brasileiro. “É a melhor cena, louca e livre”, define. Guitarrista e vocalista da banda paulistana FireFriend, ele acompanhou de perto esse universo de muita liberdade – criativa e de estilos de vida – e loucura – álcool, drogas e delinquência (juvenil ou mesmo na idade adulta). E, claro, muita música diferente, alternativa aos padrões hegemônicos do mainstream brasileiro. Parte de sua vivência e dezenas de relatos (de músicos, produtores e pessoas envolvidas nesse meio) recheiam as 600 páginas de RCKNRLL – Outsiders, viciados em música, procurando confusão, quarto livro de Yury (o primeiro de não-ficção). Além da FireFriend, o autor repassa casos e histórias – “Ouvi choro, risos e até ameaças”, conta – das bandas paulistanas Thee Butchers’ Orchestra, Forgotten Boys, Biônica e Giallos, da paulista (de Piracicaba) Travelling Wave, da brasiliense Divine e do cantor fluminense Lê Almeida. “São bandas que eu conheci em shows. E que me abriram os olhos. É por isso que elas estão no livro”, justifica. Todas traçaram seus caminhos à margem do grande mercado, das rádios e da televisão, tocando onde fosse possível, em bares ou festivais, com ou sem estrutura adequada. “Essa vontade de tocar sempre supe-

rou todos os problemas. A gente marcou muito show sem saber se ia ganhar ou não. Não estava nem preocupado com isso, na verdade”, atesta Gustavo Riviera, vocalista dos Forgotten Boys. Yury nota que, além da paixão pela música, outros aspectos em comum ligam os personagens do livro. “O tesão pela experiência, por exemplo. Essa vontade de fazer algo na vida. A perspectiva muito crítica, que percebe alguma coisa muito errada no mundo. E o encontro, nesses espaços de troca temporários, fora do consumo, esses espaços de sociabilidade pura. É o underground, desafiando a falta de sal do horário nobre”. Cada capítulo de RCKNRLL é construído com depoimentos em primeira pessoa, bastante coloquiais, tal qual em Mate-me, por favor, seminal livro que reconta o surgimento do punk rock na Nova York de meados dos anos 1970. Yury também cita On the road, de Jack Kerou-

ac, e Crônicas, de Bob Dylan, como referências. Essa opção narrativa traz os personagens para o lado do leitor, como se eles estivessem ali, numa conversa tête-à-tête. Entretanto, pode impor desafios para quem não conhece as bandas, seus universos e as idiossincrasias do rock alternativo. Para os “iniciados”, a garantia é de uma leitura deliciosa. Para os neófitos, pode ser a porta de entrada para valiosas descobertas. “O underground brasileiro mantém vivo um mundo muito interessante, diverso e excitante — onde há muita música, muito encontro, muita energia e muitas ideias”, comenta Yury. “Não é pasteurizado, não é de plástico, não é caro. Mas é muito exclusivo, bem foda e, felizmente, bem alto”, garante. RCKNRLL – Outsiders, viciados em música, procurando confusão

De Yury Hermuche. 600 páginas. Editora Longe. R$ 60. À venda em www.rcknrll.com.br.


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TURISMODEAVENTURA

Da Esplanada ao Atacama POR ANA VILELA

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abe aquele sonho de conhecer o Atacama, no Chile? Pois é, passagens aéreas nas mãos, bagagens, roteiro, seguro de saúde e tudo pronto rumo ao deserto que é considerado o mais alto e o mais árido do mundo, certo? Certo, mas não para um grupo de Brasília que prefere pegar a estrada, porque esse negócio de entrar num avião aqui e descer horas depois no destino final não tem a menor graça. O mais divertido e interessante é rodar 3.500 quilômetros, uma média de 600 quilômetros por dia, às vezes um pouco mais, até avistar as areias do deserto onde as temperaturas variam de 0 ºC, à noite, a 40 ºC, durante o dia. A largada foi na Esplanada dos Ministérios, na manhã de sábado, dia 16, quando 22 pessoas, entre guias, jornalista e mecânico, 16 motos e um carro de apoio partiram para uma aventura de 15 dias, sendo dez na estrada. É a primeira viagem desse porte, com motos, saindo de Brasília, organizada por motociclistas e por uma agência local, a Matosta Tur. E não será uma aventura somente masculina: quatro mulhe-

em duas rodas

res pilotam suas próprias máquinas e outras quatro seguem na garupa. Ao final, serão cerca de 8.000 quilômetros rodados, incluindo os passeios pelo deserto. A ideia da viagem surgiu há dois anos, durante o Brasília Moto Capital, numa conversa entre os motociclistas Paulo Stangler e Maurício Tosta, da Matosta Tur, responsável por toda a organização. “A ideia era proporcionar ao maior número possível de motociclistas de Brasília esse tipo de experiência, com segurança e custo acessível. Então, convidamos o Edu, da Edu Motos, para fazer parte da organização, o que agregou o apoio mecânico e ainda mais credibilidade ao empreendimento”, conta Maurício. Com trechos longos, variações de altitude e de temperatura e diferentes tipos de motos no comboio, a viagem, um dos sonhos da maioria dos motociclistas, trará desafios, mas, ao final, a recompensa: muitas histórias, fotos e, principalmente, aprendizado. É o caso de Ana Flávia Coelho, 52 anos, empresária. Ela pilota há mais de 20 anos, mas a ida ao Atacama será seu maior percurso. Para entrar nessa aventura, adiou uma cirurgia na perna e tratamentos para melhorar a saúde. “Não sabemos o dia de amanhã. Então,

achei que devia aproveitar a rara oportunidade de ter companhia feminina para rodar essa longa distância e fazer o que mais gosto: pilotar”, explica Ana, que até agora era sempre a única mulher nos grupos que seguem por rotas mais distantes. E o que ela espera? “Testar meus limites, praticar o desapego, o foco, o companheirismo e a meditação.” Já Godofredo Costa, 48 anos, executivo financeiro aposentado, jornalista de formação, é piloto deste os 18 anos e geralmente prefere viajar só, mas não neste caso: “Um lugar distante, desconhecido, com parcos recursos, exige uma equipe que te ofereça segurança. A maturidade e a solidariedade do grupo também são fundamentais”, afirma. Depois de passar cinco dias na parte que a turma considera a mais inspiradora, a estrada, estará à frente São Pedro do Atacama, uma das poucas vilas da região, com cerca de três mil habitantes e 2.400 metros de altitude. Ali, o roteiro passa pela Laguna Tebinquiche, Ojos del Salar, Valle de la Lua, Laguna Miscanti, Lascar Volcano, Mano del Desierto, La Portada, Mejillones e Salar de Tara. Muitas experiências depois, a volta a Brasília e, certamente, à próxima carretera.

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TURISMOECOLÓGICO

O mito

e a realidade

TEXTO E FOTOS FERNANDO BARROS *

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avistamento da ilha do alto emociona. A chegada nos encanta pela originalidade perdida: o pouso é acompanhado pelo verde da vegetação preservada que ladeia a pista. A proximidade do Morro do Pico, majestosamente formado como se fosse o guardião do lugar, contribui para a sensação, ao descermos do avião, de estarmos pisando em solo sagrado. Tudo flui na doce brisa que nos circunda, ao caminharmos para a modesta mas simpática instalação aeroportuária e até mesmo na fila bem organizada para o pagamento da taxa de permanência. Percebe-se uma satisfação coletiva pela situação de todos já estarem no começo da vivência de um sonho alimentado pela ampla difusão de que essa é uma parte especial do Brasil mais desenvolvido, onde a beleza especial da natureza continua muito bem preservada. A recepção dos agentes do turismo não deixa dúvida de que a organização

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da atividade é de bom nível. Todavia, já no primeiro contato com a estrutura viária construída na ilha podemos observar que a realidade urbana local está muito longe de um padrão mais desenvolvido, a exemplo de muitas ilhas do Caribe. Várias ruas onde estão localizadas algumas pousadas e restaurantes estão muito esburacadas e a construção arquitetônica é bastante diferenciada, não se distanciando, em suas “vilas” mais recentes, do estilo tosco que lembra as áreas mais “nobres” de algumas periferias. O contato mais prolongado com o conjunto das edificações urbanas e a população local acaba por ampliar nossa percepção para uma realidade que destoa daquela que é esperada – pois é amplamente difundida como paradisíaca – e que se tornou parte viva do imaginário de tantos brasileiros. Contudo, a decantada beleza extraordinária da natureza no arquipélago em nenhum momento nos decepciona; ao contrário, ela nos enleva, pois de perto tudo é muito mais

bonito do que, de uma forma geral, se diz ou registra. Não seria justo que esperássemos encontrar nesse cenário, quase sempre esplendoroso e único, uma realidade social mais harmônica com esse patrimônio natural? A ação humana não poderia estar contribuindo de forma mais plena para uma totalidade mais encantadora e significativa como referência para o Brasil? Como não nos entristecermos quando ouvimos dos nativos e ilhéus que a vida na ilha é muito difícil, dura e dispendiosa? Somos, assim, informados sobre a precariedade dos serviços públicos, sobretudo nas áreas de saúde e de educação, e sobre a impossibilidade de uma vida mais integrada ao desenvolvimento cultural do país. Com exceção do pavilhão do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO) onde são realizadas palestras sobre temas ambientais para os turistas, e que, aliás, não se encontra em bom estado de conservação, não existe um espaço público


destinado a atividades culturais. Não há teatro, cinema, museu, nem mesmo uma biblioteca em Noronha. Pode-se, no entanto, perceber que essa situação não está associada a uma falta de consciência crítica e de iniciativas dos habitantes locais. A associação dos artesãos da ilha, por exemplo, luta há anos pela recuperação da “edificação da Air France”, que em princípio seria a base de um centro que poderia, entre outras coisas, funcionar como escola para despertar novos talentos na atividade artesanal. Outras lideranças contam sobre suas tentativas de procurar meios de mudar esse estado de coisas, mas que emperram nas teias do sistema político-administrativo montado na ilha, liderado por um administrador indicado pelo governo de Pernambuco e integrado por representantes/conselheiros eleitos pela comunidade local. Essa representatividade é considerada débil por boa parte da população, que vê com desconfiança esse tipo de governança. Fala-se dos processos de benesses para aqueles que entram nos esquemas do poder e em retaliações para aqueles que ousam discordar. Observa-se, dessa maneira, entre os moradores da ilha, ao lado das insatisfações, uma descrença em transformações mais significativas em curto prazo e uma falta de coesão entre eles. Quando incentivados por alguns visitantes a serem mais participativos, a não desistirem de suas reivindicações, muitos dizem: “Impossível, isso aqui é Brasil”.

Juntamente com o povo do lugar, muitos turistas mais sensíveis a essas condições sociais, perguntam: para onde estão sendo canalizados os recursos amplamente arrecadados em Fernando de Noronha? Além da taxa de permanência paga pelos visitantes a cada dia, a cadeia de turismo, tão bem desenvolvida na ilha, deve levar bons dividendos aos cofres públicos. Por que o patrimônio histórico remanescente está em tal estado de abandono? Basta ver as fortificações centenárias e o calçamento do centro histórico. Onde está a ação do IPHAN? Cidadãos mais bem informados relatam que na obra de restauração de um pequeno conjunto arquitetônico no centro histórico foram encontradas três camadas geológicas associadas a diferentes épocas da ocupação da ilha. Com essa descoberta, o projeto passou a considerar a preservação desse achado arqueológico, que implicaria em alternativas mais dispendiosas, mas “misteriosamente”, no processo de finalização da obra, acabou-se por cimentar todo o piso do conjunto. Em face dessas características rapidamente delineadas, pode-se perceber três tipos de atitudes e apreensões daqueles que visitam Noronha. Grande parte dos visitantes foca, sobretudo, na beleza do mar e das praias e muitas das observações relatadas passam despercebidas. Alguns que buscam ser “ponderados” e crentes do exercício responsável do poder público perguntam: será que não é

estratégia do Estado manter essa situação de pouco desenvolvimento humano e urbano local para garantir a preservação da natureza no arquipélago? A própria orientação para que as gestantes nativas venham dar à luz no continente, para evitar o aumento da população de nativos, que goza ainda de alguns direitos, não seria indicativa dessa estratégia? Já os mais idealistas e comprometidos com a crença de um futuro mais luminoso para o Brasil perguntam: será que o Estado brasileiro, com seus diversos recursos institucionais, em exercícios mais democráticos, não poderia desenvolver ações articuladas que pudessem transformar a realidade de Fernando de Noronha de uma respeitável reserva de ecossistemas para uma realidade ainda mais bela? A ilha já não poderia ser mais um “cantinho brasileiro” que agregasse condições de vida que possibilitam o crescimento humano em direção ao sonho de nos tornarmos, de fato, um povo mais consciente de ser parte integrante da natureza? Reivindicam, dessa maneira, que um lugar com tantas potencialidades de se tornar um parâmetro para o mundo mais desenvolvido não seja alvo unicamente de preocupações e intervenções ambientalistas, e acabe por sucumbir pelas consequências do pouco uso da inteligência e sensibilidade de que nós humanos podemos ser portadores. * Cientista social e fotógrafo.

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LUZCÂMERAAÇÃO

A criança

Além das montanhas

A ficção real dos Dardenne Mostra do CCBB traz a Brasília a obra completa dos irmãos belgas que figuram na linha de frente do novo cinema social europeu POR SÉRGIO MORICONI

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remiadíssimos em alguns dos mais prestigiosos festivais europeus, os irmãos Dardenne estabeleceram, a partir de filmes como Rosetta (1999) e A criança (2005) – ambos Palma de Ouro em Cannes –, um novo paradigma para o que poderíamos chamar de um cinema contemporâneo humanista, moral e politicamente engajado. Esse aspecto humanista está devidamente enfatizado pela curadora Caru Alves ao dar à sua mostra o título Cinema humanista – Irmãos Dardenne. Seria necessário desfiar aqui um verdadeiro rosário de citações a todas as premiações dos Dardenne, não só aos filmes propriamente ditos, como também aos atores, atrizes e técnicos colaboradores de suas obras. A mostra do CCBB contempla, além da filmografia completa dos realizadores (que inclui 18 títulos), filmes produzidos pelos dois irmãos, que também serão tema de debate, no dia 15

de fevereiro, com a curadora e os críticos Cid Nader e Marcelo Miranda. Talvez não haja momento mais oportuno para se rever o conjunto de filmes de Luc e Jean-Pierre do que este. Preocupados desde sempre com uma certa decadência moral europeia, a obra dos Dar-

denne se torna obrigatória no momento em que o continente se vê face à gravíssima crise dos imigrantes estrangeiros. Racismo e chauvinismo, atitude segregacionista e discriminação são temas que fazem parte do repertório deles desde A promessa (1996), longa que primeiro, e mais seria-


Fotos: Divulgação

O exercício do poder

mente, chamou a atenção da crítica especializada do mundo. (Re)ver esse filme hoje é no mínimo surpreendente. Lembramos: estamos em 1996 e o filme, como nos lembra o crítico Claude Beylie em Une histoire du cinéma français, no capítulo destinado aos filmes de expressão francesa, traz o dilema dostoieviskiano segundo o qual “cada um é culpado diante de todos e por todos” Culpado de quê? – perguntaríamos. Em A promessa, os Dardenne se debruçam sobre o universo dos imigrantes ilegais da Europa e a relação de hipocrisia e exploração que se estabelece com os cidadãos europeus, muitos dos quais obtêm vantagens financeiras a partir da situação vulnerável dos outros. O impasse, ou a ética, contida em A promessa é também cristã e isso não se dá apenas tematicamente, mas também esteticamente: a austeridade da mise-en-scène e do jogo dos atores, a recusa aos floreios da dramaturgia clássica, entre outros babados. No filme, Roger (Olivier Gourmet) e seu filho de 14 anos, Igor (Jérémie Rénier), fazem parte de um grupo envolvido no translado de imigrantes da África, Ásia e Europa do leste. Esses imigrantes são acomodados em lugares precários e sujeitos a trabalhos de remuneração muito aquém daquela recebida pelos europeus. São também vítimas de todo tipo de falcatrua, já que não dominam inteiramente o idioma local.

O garoto de bicicleta

Sobre essa situação-base os Dardenne constroem um drama ético-moral (e cristão) de grande potência. Quando dizemos cristão, não quer dizer que eles (os Dardenne) são indivíduos religiosos e sim que os princípios emulados pelo filme (generosidade, justiça, amor ao próximo etc, que também dizem respeito ao pensamento laico de esquerda) estão lá, assim como outros muito caros às igrejas, especialmente a culpa e a redenção. Igor, por exemplo, vai se tornar a consciência crítica do drama após a morte de um dos imigrantes. Amidou cai de um andaime de construção quando tenta escapar dos fiscais do governo. Ao contrário do pai indiferente, Igor vai ser tomado por um sentimento de culpa e comprometimento. Promete (por isso o filme se chama A promessa) ao agonizante que vai tomar conta de sua esposa e filho. Em contradição com o pai e com a intolerância da comunidade de cidadãos ao seu redor, torna-se um protetor da viúva que acabara de chegar de Burkina Fasso, ao mesmo tempo em que desenvolve um profundo senso de responsabilidade em relação à questão da imigração. Sem querer exagerar muito, os filmes posteriores de Dardenne deixam igualmente a suspeita de que tratam, direta ou indiretamente, de uma paradoxal decadência civilizatória europeia. Ou pelo menos de um pessimismo generalizado em

relação ao otimismo experimentado (não por todo mundo, evidentemente) nas quatro décadas que se seguiram ao segundo pós-guerra. Mais do que em relação aos filmes de Ken Loach, com quem os Dardenne têm uma evidente afinidade de visão de mundo (e até, de certo modo, estética), obras como Rosetta e O filho (2002), entre tantas outras, expressam um asfixiante mal-estar existencial. No caso do primeiro aqui citado, vemos uma mãe alcoólatra e uma filha que se debate contra o mal estar circundante. Nesses dois filmes, assim como no recente Dois dias, uma noite (2014), prevalece o mesmo estilo que alguns definiram como “miserabilista”, câmara na mão, em longos planossequência no estilo documental do “cinema direto”. A câmara acompanha nervosamente os personagens, como se fôssemos eles, interpostos entre eles, passando-nos a impressão de que vivemos um drama “verdadeiro” e não uma ficção. Os Dardenne começaram fazendo documentários e se existe algo que essa mostra do CCBB tem de mais extraordinário é nos possibilitar ver esses filmes iniciais jamais exibidos no Brasil e, assim, poder perceber de que forma eles contribuíram para construir e consolidar sua arte. Cinema humanista – Irmãos Dardenne Retrospectiva de filmes dirigidos e produzidos pelos cineastas Luc e Jean-Pierre Dardenne. De 10 a 29/2 no CCBB (SCES, Trecho 2), com entrada franca. Mais informações: 3108.7600.


Fotos: Divulgação

LUZCÂMERAAÇÃO

O pequeno Cousteau

Férias no cinema POR JOSÉ MAURÍCIO FILHO

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empo de crise, dinheiro escasso e as férias acabaram ficando mais curtas? Não é preciso se desesperar com a criançada em casa, em tempo de chuva. Que tal pegar um cineminha? É o convite que o CCBB faz aos pequenos e, por extensão, a seus pais e mães. Ainda dá tempo de aproveitar parte da programação daquele que é considerado o maior festival do mundo dirigido ao público infanto-juvenil: o Buster on tour no Brasil – Cinema infantil da terra dos vikings, em cartaz até 25 de janeiro. São 40 filmes de 16 países, oficinas de recreação e até debates para estimular a garotada a pensar sobre o que acaba de assistir. Há atrações para crianças a partir dos três anos de idade, com sessões que duram em torno de 35 minutos. E há também filmes para os que estão na faixa dos 10, 11 anos, com histórias mais elaboradas e duração de longa-metragem. Difícil mesmo para a produção foi escolher o que mostrar. O Buster é uma unanimidade mundo afora. Para começar, existe desde o ano 2000 e costuma atrair a Copenhague, a capital dinamarquesa, cerca de 40 mil pessoas ao longo de 16 dias

de programação. Direcionado a uma faixa de público que vai dos três aos 16 anos, é realizado anualmente e apresenta uma média de 120 títulos, entre documentários, ficções, longas e curtas de todo o mundo. O festival, que conta com o apoio do instituto do cinema da Dinamarca, tem caráter competitivo. E o melhor: os filmes são escolhidos por um júri internacional, um júri infantil e outro juvenil. Para essa primeira incursão em terras brasileiras – além de Brasília, só São Paulo receberá o festival – a produção decidiu fazer uma espécie de amostragem do mais clássico ao mais contemporâneo. Sendo assim, o público terá oportunidade de assistir a filmes como A banheira de Benny, premiada animação dinamarquesa de 1971, apontada como um dos dez filmes mais importantes do país, ao lado de O pequeno Cousteau, da República Tcheca, bem mais recente, de 2014, que faz uma homenagem ao grande explorador Jacques Cousteau. Sem falar em títulos celebrados como o sueco E se... (2014), que tem trilha sonora composta por Nina Persson, vocalista da banda indie pop/ rock The Cardigans, e o brasileiro O menino e o mundo (2014), de Alê Abreu, que fez muito sucesso ao ser exibido no festi-

Melodia de Layla

val dinamarquês, mostrando como uma criança enxerga as complexidades do mundo. Aliás, o Brasil tem destaque nesta edição, com uma programação inteira de curtas e dois longas-metragens. E falando de mundo atual, o festival promete ajudar os pequenos a compreenderem o sentido de palavras como tolerância e sustentabilidade. Filmes como o dinamarquês A melodia de Layla, sobre as tradições e dificuldades da sociedade afegã, e Ouriços na cidade, da Letônia, sobre um grupo de ouriços que invade uma cidade construída em cima de sua floresta, falam de diferenças, respeito e meio ambiente. Algumas sessões terão a presença de monitores para fazer recreação com o público. Enfim, nada melhor do que aprender se divertindo. Buster on tour no Brasil – Cinema infantil da terra dos vikings

Até 25/1, de 4ª a 2ª feira, no CCBB (SCES, Trecho 2). Ingressos: R$ 4 e R$ 2. Mais informações: 3108.7600.


GALERIADEARTE

Fotos: Dalton Camargos

A poética de Gê Orthof

POR JÚLIA VIEGAS

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Alfinete é uma galeria que surpreende os desavisados. Seu criador, o fotógrafo, diretor de iluminação e marchand Dalton Camargos, chegou de mansinho, abrindo um pequeno espaço na comercial da 316 Norte. Em pouco tempo, já eram duas salas. Agora, a galeria está de casa nova. Mudou-se para um lugar um pouco maior, na 103 Norte. Mas ninguém precisa recear: a Alfinete vai manter o charme intimista e sua proposta de acolher as mais inventivas expressões da arte contemporânea brasiliense. Para abrir o ano (e a nova sede) em altíssimo estilo, o local acolhe até 6 de fevereiro os trabalhos mais recentes de Gê Orthof, recentemente agraciado com o Prêmio Marcantônio Vilaça, concedido pelo Tribunal de Contas da União. Ao mesmo tempo em que preparava sua instalação para a Sala Um da Alfinete, Gê Orthof corria de um lado para o outro para finalizar as três instalações que integram sua participação na exposição do Prêmio Marcantônio Vilaça, e que poderão ser vistas brevemente em Belo Horizonte. Além das obras de Orthof, a Alfinete recebe, na Sala Dois, uma coletiva com

artistas que fizeram parte de sua trajetória nestes quase três anos. A galeria já se firmou como o espaço da arte autoral de Brasília por excelência. Lá, o trabalho não se esgota na obra concluída: interessa todo o processo de construção artística e seus desdobramentos, como encontros entre artistas, cursos, palestras e muito mais. O encontro atual reúne os artistas Andrea Campos de Sá, Bia Leite, Camila Soato, Derik Sorato, Elder Rocha, Leopoldo Wolf e Marcelo Gandhi. Gê Orthof vai apresentar a instalação Confabulo ]matulo me mato[, composta de trabalhos realizados já em 2016. Com uma obra particularmente pessoal, feita de objetos delicadamente construídos e instalados, o artista quer fazer um convite ao espectador para que se detenha um pouco, respire, reflita e, principalmente, se abra para a poética da arte. Ele é dos artistas mais prestigiados de Brasília (carioca, é radicado na capital brasileira desde os seis meses de idade). Ao longo de sua trajetória conquistou prêmios e expôs em várias cidades brasileiras e no exterior. Pelas paredes da Sala Dois do novo espaço desfilarão as obras que integram a mostra Forma adiante. Andrea, Bia, Ca-

mila, Derik, Elder, Leopoldo e Marcelo são artistas que já passaram pela Alfinete Galeria e que atuam em diferentes áreas e linguagens das artes plásticas. Nomes de grande relevância no universo da arte contemporânea brasiliense, os artistas foram convidados por Gregório Soares e Dalton Camargos. Além de exposições, a Alfinete está programando diversas atividades que propõem o diálogo entre as artes. Fazem parte do calendário do novo espaço iniciativas como mostras de videoarte, apresentações musicais, lançamentos de livros de arte e literatura e cursos. Atenção especial para o curso Pós-cinema, transcinema, corcinema, a ser ministrado pelo professor, cineasta e crítico de cinema da Roteiro Sérgio Moriconi, para falar da relação entre cinema e as linguagens visuais, e mais uma série do Mergulho de superfície, projeto dos professores e curadores Marília Panitz e Carlos Lin que promove mergulhos sobre o pensamento de autores que dialogam com a arte. Confabulo ]matulo me mato[ e Forma adiante

Até 6/2 na Alfinete Galeria (103 Norte, Bloco B). De 4ª a sábado, das 15h às 19h30, com entrada franca.


CRÔNICADACONCEIÇÃO

Crônica da CONCEIÇÃO FREITAS

Conceição

conceicaofreitas50@gmail.com

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uas cenas chocantes e de mesma origem marcaram o fim de 2015 na capital dos palácios brancos e dos cambuís amarelos: a muralha de policiais militares avançando sobre as mesas lotadas dos bares da 408 Norte e o ataque dos policiais civis, com spray de pimenta e cassetetes, a um grupo de jovens que tocavam violão na pracinha duas quadras adiante. Maconheiros, baderneiros, bêbados – ouviu-se longe o alarido da intolerância. Nem na ditadura, dissemos todos nós, os que por ela passamos e a ela resistimos. Já na primeira semana do Ano Novo, moradores da 108 Norte se insurgiram contra uma choperia a ser instalada na comercial da quadra. Alegaram insegurança, falta de estacionamento e perturbação ao sossego. Não sabem eles que o vaivém nas ruas é um dos mais eficientes (gratuitos e amistosos) serviços de segurança comunitária. Que as cidades nasceram para que as pessoas pudessem ficar mais perto umas das outras. Para vender, comprar, trocar, se divertir, partilhar, se ajudar. O que acontece com o Plano Piloto? Que estranha espécie surgiu nas superquadras idílicas, de janelas solares e horizontes azuis. A virada à direita e o recuo ao atraso são um triste e amargo fenômeno brasileiro recente. Em Brasília, o recuo é mais triste e amargo dadas a filiação democrática e humanística. Se houve certa ingenuidade totalitária no propósito de se inventar uma cidade nova para homens novos, houve ao mesmo tempo um desejo

Rafael Oliveira

Morte e vida de Brasília D

revolucionário de reinventar o mundo. E se o Plano Piloto é lugar tão bom pra se viver, quem nele vive parece estar viciado em excessivo bem-estar. Seriam habitantes de um Versalhes delirante, insulados pelo urbanismo moderno. Um ano depois de Brasília ser inaugurada, a jornalista norte-americana Jane Jacobs escreveu um livro-combate ao urbanismo moderno, Morte e vida de grandes cidades. Jacobs partiu para cima dos fundamentos da escola corbusiana. Só a diversidade é capaz de garantir a vitalidade urbana, demonstrou Jacobs. E ela chegou a essa conclusão sem nenhum recurso acadêmico, apenas observando o cotidiano da cidade onde morava, Nova York. Era começo dos anos 1960 e Jane Jacobs já percebia que a gente na rua – nas calçadas, nos parques, no comércio, nos bares, nas praças – fortalece o senti-

do comunitário e dá segurança aos moradores. É o fogo vital das cidades. Partindo desse pressuposto, Brasília está sendo condenada à morte pelos seus empedernidos moradores. Talvez esteja nos faltando uma boa dose de Rio de Janeiro, de Recife, de Salvador, de Belém do Pará, cidades caóticas e ao mesmo tempo vibrantes, estonteantes, vívidas, misturadas, barulhentas, excessivas. Jacobs não conheceu a cidade que Lucio inventou nem a ela se refere no livro. Não conheceu as superquadras nem imaginou que um brasileiro de influência europeia criaria um jeito de morar que tornaria possível ordenar o caos urbano sem perder a ternura. Mesmo instado pelos fundamentos do urbanismo moderno, Lucio Costa parecia antever o perigo da ordenação absoluta – absolutismo e cidade são instâncias antagônicas. E teve humildade para reconhecer que, ao ocupar democraticamente a Rodoviária, o brasiliense estava melhorando o projeto original. Lucio se foi há 17 anos e alguma coisa grave aconteceu na Brasília que ele deixou. O brasiliense do Plano Piloto se recusa a dividir as superquadras com a diversidade, a alegria, a ocupação dos generosos espaços urbanos da cidade. Quer tomar para si um bem-estar que foi projetado para todos. Apaixonou-se pela imagem idílica no espelho. Está disposto a petrificar uma das poucas metrópoles que, mesmo inchadas, conseguiram manter as características de parque e jardim. Será a morte de Brasília, como previa Jane Jacobs.


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