SUBVERSA
Vol. 4 | n.º 04 | março de 2016 ISSN 2359-5817
Ilustração | BIANCA LANA
FRED ROCHA | FABÍOLA WEYKAMP RAFAEL DIAS CANHESTRO | BOMQUEIROZ HEITOR LIMA | VINÍCIUS MAHIER | ANA LUIZ ANDREI RIBAS | CAROLINE POLICARPO
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Subversa | literatura luso-brasileira | V. 4 | n.º 04
© originalmente publicado em 01 de março de 2016 sob o título de Subversa ©
Edição e Revisão: Morgana Rech e Tânia Ardito
Ilustrações BIANCA LANA| BLOG | FACEBOOK | INSTAGRAM | CANAL NO YOUTUBE
Os colaboradores preservam seu direito de serem identificados e citados como autores desta obra. Esta é uma obra de criação coletiva. Os personagens e situações citados nos textos ficcionais são fruto da livre criação artística e não se comprometem com a realida
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SUBVERSA ANA LUIZ | GANHA-PÃO | 6 ANDREI RIBAS | RECEPTÁCULO | 10 BOMQUEIROZ | HISTÓRIA | 13 CAROLINE POLICARPO | SOU | 15 FABÍOLA WEYKAMP | POEMA 33 | 17 FABÍOLA WEYKAMP | ENQUANTO DELEUZE NO CAFÉ DA MANHÃ | 18 FRED ROCHA | ENCOSTE A PORTA, POR FAVOR | 20 HEITOR LIMA | JARDIM| 24 RAFAEL DIAS CANHESTRO | ESPELHO EM BRANCO | 26 VINÍCIUS MAHIER | ÓCULOS | 34
SOBRE BIANCA LANA | 37
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EDITORIAL DAS PERGUNTAS “Eu definiria o efeito poético como capacidade que um texto oferece de continuar a gerar diferentes leituras, sem nunca se consumir de todo”. Umberto Eco
O que você enxerga a cada vez que abre um livro? A cada vez que constrói um personagem, o que vê? Quando um livro nasce, em quantos mililitros de lago de Narciso o autor teve de entrar? E quando um livro entra na sociedade, o que ele, de fato, pode refletir? Quando fica lá parado, o que realmente está fazendo? O que o livro quer dizer e por que ele não dá as respostas todas prontas da vida? Qual o ângulo ideal de abertura dos olhos para não enxergar apenas o óbvio? E para viver feliz, quanto dos olhos é preciso fechar? A literatura sabe me dar essas respostas? Se eu ler muito, vou saber? Existe alguma doença que dá por enxergar demais? Você cansa de dar respostas? Dar respostas é mais cansativo do que fazer perguntas? Por que as obras da Bianca Lana possuem um olhar questionador? Os olhares das obras da Bianca Lana também têm perguntas a fazer? Você saberia adivinhar? Uma revista literária que pede para os leitores responderem pesquisas e mais pesquisas pode apresentar um editorial com ainda mais perguntas? As editoras
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GANHA-PÃO ANA LUIZ | Lisboa, Portugal. As
teclas
pulsavam
leves,
contrariando
teimosamente
o
movimento que lhes era imposto e fazendo os dedos saltar como num trampolim. Por entre elas libertava-se um ritmo, uma cadência vibrante. Escutava-se o compasso marcado dos dedos conhecedores, que viajavam na planície de botões e que como déspotas subjugavam uns para libertar outros. O proprietário dos dedos deixava-se invadir por esse ritmo apesar de nada no seu corpo o denunciar. Olhava o vazio em frente mantendo as linhas do rosto inalteráveis, como que hipnotizado. Os únicos sinais que denunciavam a vigília daquele humano eram os
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movimentos das mãos. Até o peito se movimentava como o de alguém que adormecera. Mas ele não repousava. Viajava. O som e o ritmo das teclas levavam-no a navegar a memória. As recordações de um passado venturoso assaltavam-no, vívidas e aconchegadoras. O homem não invocara estas memórias mas recebia-as com deleite. Eram tantas que ele tentava retardá-las, prendê-las no tempo. Mas elas iam e vinham sem se deterem ou obedecerem a nenhuma autoridade. Deixou então de tentar exercer qualquer tipo de poderio e deixou-se avassalar, subjugando a sua mente àquela viagem ao passado. Da memória regressaram em primeiro lugar os instrumentos de plástico colorido. Eram acordéons e “ticarras” como ele lhe chamara em tempos, pendurados por fios em tendas de feira. As crianças contavam os dias, expectantes, entre feiras. A expectativa era sempre enorme, mas enquanto os outros antecipavam carrosséis, pipocas e algodão doce, ele sonhava com a sua “ticarra” ou acordéon novo. Sabia que a avó lhe compraria um e que nem seria necessário pedir. Bastar-lhe-ia escolher. Recordou a primeira “guitarra a sério” que tivera, à qual já conseguira dar o nome correto. Lembrou como a colocava em bandoleira, pulando ao som do “She´s In Love With You”, imitando Suzi Quatro. Lembrou igualmente como se sentava no chão, com a guitarra demasiado grande para o colo, tentando acompanhar todos os discos da mãe que punha a tocar no gira-disco Sharp. Recordou o primeiro casamento a que foi, e como deixara abruptamente de brincar quando a banda começara a tocar. Com o início dos primeiros sons, transformou-se no menino das alianças mais bem comportado de sempre. Não se conseguiu mover mais e de queixo descaído, observara maravilhado aqueles instrumentos que nunca tinha visto e ouvia os novos sons, que despertavam dentro de si sensações que ele não sabia existirem.
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Recordou o gigantesco acordéon vermelho, o primeiro que o pai lhe comprara. O velho professor que ia a casa ensiná-lo, com paciência e dedicação. As horas passadas a ensaiar com o seu pai, o seu maior fã e crítico sempre na primeira plateia. À memória regressou também uma guitarra de péssima qualidade que o pai lhe trouxera de Espanha. Mais tarde teria uma linda e brilhante guitarra preta comprada em Setúbal, numa viagem especial com o pai, compensação por ser tão dedicado às aulas. Adorava as aulas. As de guitarra clássica com o padre da paróquia, de guitarra rítmica com o professor de música de cabelos compridos, e de órgão e acordéon na escola de música lá da terra. Tudo isto o invadia agora. Recordava o que sentira ao tocar ao vivo nos bailes dos emigrantes, e mais tarde com a sua banda de covers em bares. Sentimento indescritível que o elevara e transportara para um mundo em que tudo fazia sentido.
Regressou também ao
primeiro concerto de música clássica. Um outro sentimento para o qual não se inventaram ainda palavras. O som que o enchia e que lhe fazia explodir o coração em lágrimas. E aquele momento. O momento da sua vida. Aquele em que observou os prodigiosos culpados de tamanha explosão de sentimento, vestidos de preto, neutros na amálgama de corpos e instrumentos da qual brotava a perfeição. Aquele momento em que desejou ser aquela peça, ínfima, insignificante, de algo tão maior que ele, tão maior que tudo. Em que encontrara a sua vocação, e decidira segui-la. - Então puto?! – a voz viera acompanhada por uma pancada nas costas, e afastou-o dos seus pensamentos.
– Estás lá!!!... – deste-lhe
bem, hã? Isso é que foi trabalhar! – disse a voz, que olhava páginas e páginas de código recém digitado. Ele não compreendia o entusiasmo do colega. Tratava-se apenas mais de um projeto informático dos muitos que lhe permitiam “ganhar o pão de cada dia”. Já lhes perdera a conta ao longo dos anos. – Vá lá, deixa lá isso agora…vamos embora! Amanhã há mais!
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Ele
tinha
sido
arrancado
da
“zona”.
Aquele
lugar
de
concentração especial em que tudo flui. Olhou o écran e sentiu-se oco. As recordações que antes o haviam preenchido pareciam ter fugido em debandada. Tinham voltado para o seu lugar. Arrumadinhas. Arrumou também os seus objectos pessoais e atirou o portátil para dentro da mochila. Pelo caminho até ao carro, voltou a lembrar os instrumentos que tinha em casa e que mais não serviam agora, senão para ganhar pó. Fez planos para tocar quando chegasse a casa. Sabia no entanto que não os iria cumprir, porque as mãos lhe doíam demais para as apertar contra a alma.
ANA LUIZ nasceu em Portugal em 1974. Possui formação superior em Psicologia e em Informática, e é apaixonada pelas letras. Sempre escreveu, mas só em 2013 começou a publicar. É autora do livro “O Quebra-Montras” e participou em diversas colectâneas, antologias e revistas. Alguns dos seus contos foram também distinguidos em concursos literários. Tudo sobre a autora pode ser visto no site da autora e em sua página no facebook.
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RECEPTÁCULO ANDREI RIBAS | Santa Rosa, RS.
com olhos verdes vítreos de boneca venha doença querida venha logo e logo se aconchegue mas não queira que te peça clemência - sabe o quanto dá transtorno a existência? não vou dizer-te que quero ver os filhos que nem tenho crescendo, isso é bobagem vão se tornar, se já não são no recôndito do meu saco, piores do que eu, nem vou
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pedir-te que aja com calma ao revés, se viável prossiga na imediatidade dum tiro, de um carro a mil que colhe o pedestre na faixa de qualquer rua ou avenida Borges de Medeiros porque qualquer cidade tem uma rua ou avenida Borges de Medeiros com faixa pra pedestre na qual ele é atropelado não vou te alertar de parentes que sentirão falta; a falta ameniza muito com as não muitas posses deixadas venha logo e logo se assente no meu sistema circulatório na minha cabeça turva livra-me dos sorrisos e apertos de mãos forçados nos andaimes da inconsistência do ramo empregatício ou do quem-pode-manda-mais das amizades banhadas pelas conveniências do enfeitar finito camuflando esqueleto e carnes lascados livra-me dos amores fadados a terminar carcomidos dali adiante e da rememoração dos que assim já foram sem esquecer dos que perfizeram somente atos de encaixe daquilo que chamam esperança sem ver a real definição: atraso
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some comigo porque minha covardia é tão inútil tão estática tão arredia – usa a escrita pra impedir que me retire pedaços todos os dias
ANDREI RIBAS é autor dos livros O monstro (All Print, 2007) e Animais loucos, suspeitos ou lascivos (Multifoco, 2013). Possui trabalhos reproduzidos nas revistas eletrônicas Plural, Flaubert, R.Nott, Pessoa, Mallamargens, jornal Relevo, entre outras publicações. Escreve resenhas/críticas literárias para os sites Amálgama e Homo Literatus. | ARIBASJ@GMAIL.COM
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HISTÓRIA BOMQUEIROZ | Uruguaiana, RS.
A dor é uma reflexão do é ante o grão. Uma perspectiva do ser frente a força. Meu sofrimento é sutil: custo a crer: sou o que ela já esqueceu. O passo a passo é passado, avante
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prosseguimos… Não há presentes para mim! Sangro meu último ventre, talvez aquele que pudesse dar sombra à última centelha de vida… Mas não, descanso! De todos os meus tempos possíveis, nunca abriria mão daquele em que. Sou de raça alguma, eis-me agora parte inescrutável da religião Humana. Justiçado, insepulto, morro aos prantos, e morto minhas lágrimas forjam memórias vazias. É sobre o futuro que verseja a história, é sobre o tempo desconhecido e o amor, substantivo que não possui imagem! E calcados na escrita, evadimos zilhões e zilhões de sonhos. Meu coração é pequeno e terno e vermelho como a tragédia dos homens! O pretérito do instante é resíduo do que serei, o momento exato em que o relógio quebra: átimo de um beijo quântico! Sozinho e bem acompanhado pergunto-me, será intrínseco à alma a vontade de morrer eternamente?
BOMQUEIROZ é de Uruguaiana (RS, Brasil) e nasceu embaixo de uma bergamoteira. | BOMQUEIROZ@GMAIL.COM
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SOU CAROLINE POLICARPO | Sรฃo Paulo, SP.
sou a bruxa na floresta a feiticeira a alquimista sou a danรงarina a arqueira a que cai a que corre a que voa e ri
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demais e chora demais e grita e sussurra maldições e versos sou a que observa a noite no meio das árvores no alto das nuvens na praia deserta sou a que mergulha e se afoga mas sobrevive a que despenca a que se ergue a que continua e sobrevive sou debaixo da chuva e do sol escaldante e do céu branco meio cinza e das estrelas também nas noites sem lua
visões
e/ou
sonhos
e/ou
miragens
promessas
e
lembranças não é possível mas sou inclusive as chamas que me devoram sou e posso ser cada pedra cada riacho cada folha cada coisa e ser sou solidão mas também plenitude em cada por-onde ou debaixo eu estou estou em cada hesitação em cada pensamento em cada palavra mágica e sim também nos desejos estou aqui sobrevivendo estou ali aí de
passagem
chegando
indo
estou
espalhada
sou
cartógrafa arqueóloga e linguista sou astrônoma curandeira contorcionista poetisa sou humana finita me rendo às vezes me canso às vezes mas sobrevivo sou caminhos passagens por-ondes sou perguntas absurdas sou som cheio de sentido escorrendo errante pelas linhas poesia sou sou sou e reafirmo: sou
CAROLINE POLICARPO VELOSO é estudante de Letras e autora do livro de poemas Palavras Andarilhas, publicado em 2015 pela Penalux. Participou de várias coletâneas de contos, incluindo Sonhos Lúcidos, Utopia, Ponto Reverso e King Edgar Hotel. Também tem publicações nas revistas Trasgo e Friday. É fascinada por astronomia, aspirante a desbravadora de universos (inclusive os inventados) e escreve por necessidade existencial. | CAROL_POLICARPO1@HOTMAIL.COM
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POEMA 33 FABÍOLA WEYKAMP | Pelotas, RS.
meus pés de vento têm ímãs no caminhar
FABÍOLA WEYKAMP é mestranda em Literatura Comparada (UFPel), tem seu primeiro livro de poemas "Resenhas da solidão --um livro de poesia e dor cotidiana", publicado pela Editora LiteraCidade, Belém/PA, 2015; obra ganhadora do Prêmio LiteraCidade Jovem, 2014. | FABIWEYKAMP@YAHOO.COM.BR
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ENQUANTO DELEUZE NO CAFÉ DA MANHÃ FABÍOLA WEYKAMP| Pelotas, RS.
cada coisa junta tem um valor diferente da coisa toda separada a cor do oceano reflete o azul da coisa em conjunto daquela porção única no horizonte infinito das percepções separado o punhado daquela mesma porção e transportada para um recipiente incolor tudo ganha novo sentido e significado: a cor já não é mais cor o azul ficou no antes de agora aquele punhado de água retirada do meio do oceano faz parte do mundo novo de outra comunidade outro valor outro significado outra sensação
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/possivelmente que não a mesma de infinitude a referência de agora é outra e o que está ao redor acontece a partir disto: que acontece nesse instante em que a coisa, o punhado de água do oceano, entrou em contato com um meio que não era seu e o que está ao redor dele acontece acontece a partir disso e independente disso a coisa toda sempre flui em conjunto ou individualmente de formas sutis ou nãos: mas únicas em sua percepção e afeto
FABÍOLA WEYKAMP é mestranda em Literatura Comparada (UFPel), tem seu primeiro livro de poemas "Resenhas da solidão --um livro de poesia e dor cotidiana", publicado pela Editora LiteraCidade, Belém/PA, 2015; obra ganhadora do Prêmio LiteraCidade Jovem, 2014. | FABIWEYKAMP@YAHOO.COM.BR
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ENCOSTE A PORTA, POR FAVOR. FRED ROCHA | São Gonçalo, RJ.
Coincidências são bem interessantes... E um início de inverno pode vir a ser algo pressago. Henrique hora está a mirar-se no espelho. Quem o vê se barbear, assim, com arte, – resignado –, sequer supõe que se havia postergado de si mesmo. Comia mal, dormia pouco, isolou-se. Acabrunhado e apático, de todo. Afundara-se em vícios e em versos, e o versejar fora talvez o pior deles. É outro, no entanto, ou quase outro, que não pôde deixar de ser o mesmo. Tem hora a cara lisa e bem fresca, e embora traços de mágoa e desengano. Enxuga o rosto como
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a “enxutar-se” do passado, vertido em lágrimas, suspiros e lamentos. A entrevista será às oito em ponto. Levantara-se às seis; as seis e quinze despertou; aprontou-se em dois quartos de hora. Seria dar um grande passo em sua vida: tocá-la adiante e já então com um novo emprego. E não menor que o passo, era a expectativa. Fremia de ansiedade e apreensão. E pode até ser que fosse medo: que os traumas são os mais temíveis dos temores... Respirou profundamente... uma e outra vez e ainda outra. Vez em quando, suspirava... Foi-se enfim. Trânsito tranquilo neste horário. Bem mais ínvias eram as vias da memória... Inevitável era pensar naquele inverno. Não ia a sós no assento, embora fosse. Consigo iam suas lembranças, e com elas, as más reminiscências – ia ela... E, bem, uma grande negativa como abre um precedente a tantas mais decepções. E senão o é na prática, é ao menos o que sente o coração... O Henrique sabe disso e muito bem. E não na teoria ou
de
oitiva,
como
muitos
redatores
de
“autoajuda”;
o
seu
conhecimento, certamente, era de um sevo empirismo. Porém as portas do inferno são sorriso: um sorriso aberto e encantador, senão quando inseguro e acanhado... E era difícil para o amigo acreditar, que após tantos desenganos, deparava-se com o aceno de um sonho. O quanto houvera sido humilhado... o quanto abrira mão do próprio orgulho... e por baixar a guarda aos punhais do algoz a quem julgava benfeitor – um grande e fidedigno amor... Leitores há que o taxarão de um vão dramático, outros, até mesmo de patético. E isto porque quase todos nós, – hipócritas nem sempre assumidos – corajosamente acovardados –, acabamos por vender nossos valores ao preço do que hoje é mais em voga, ou do que nos é mais lucrativo. E sempre esperamos (quase sempre) dos outros o que já não possuímos, ou o que somos incapazes de ofertar. Pois, bem; o nosso Henrique era inda, sim, capaz de amar – de peito aberto, corpo
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e alma, e de verdade! Fez-se até poeta e versejava. Alfim, se riu de seus poemas – apostatou-se da poesia. Convertia-se a musa em Medusa... Henrique se fez petrificado... Apeou do seu corcel, largou da espada, deu um tapa às ancas da cavalgadura, e mandou-a pastar, bem como o sonho. Que fazer se a princesa, por sinal, pretere mesmo o príncipe ao dragão? Lembrou-se então do Antigo Testamento, porém, pôs na boca de Sansão o verbo percursor de Jeremias: “Maldito o homem que confia “na mulher”...” – era ajustar a profecia às circunstâncias. Todavia, restava-lhe inda um naco de esperança. Demais que, até então, as boas lembranças sobrepujavam suas rivais. Porquanto deu sua outra face. Igual efeito? Não, pior: u'a punhalada... A boa-fé se transmutou em desconfiança; a desconfiança, em malícia; esta, em perversão e amargura. O Henrique, assim, descreu do ser humano, mas não antes de descrer do próprio ente: vencia, por um lado, a insegurança, e, por outro, não mais que a indiferença. De poeta, resvalou a depravado; e nisto, já toda e qualquer musa seria u'a Dalila em potencial. Capitolinas? Todas pérfidas adúlteras! dignas do mais longínquo exílio... Mesmo em Maria’s via incastas Madalena’s – e sem lágrimas e arrependimentos. Converteu o santuário maternal num altar pagão pleno de vícios. Contudo, aí, sentia-se ele próprio ultrajado: prostituía – mais que a carne – a sua alma; e inda mais até: seus ideais... De musas a ninfas, não obstante, deparou u'a ninfeta. Enamorouse de sua ingênua petulância, de sua presunçosa inocência; e, sobretudo, de um coração ainda, assim, tão maleável... Ela o queria só pra si e ninguém mais! E ele, muito embora relutante, e apesar de toda a sua desconfiança, decidiu dar o seu braço a torcer: era apostar sua última ficha na exceção. Mas e quando a exceção se faz a regra...? A mesma espada em punho, outro corcel, e a princesinha, esta, – Bem! Obrigado –, trepada ao dorso de um dragão alado... E o nosso Henrique, então desempregado, valia pouco mais que um mequetrefe. Que um homem vale, ao que parece, tanto quanto (ou menos) o valor
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que se atribui ao seu status; ou meramente o quanto abarca o seu bolso... O Henrique ama agora a boa carreira. Ei-lo aqui, sentado, empertigado, aspirando o amor dos “bem-aventurados”... A boca seca, mas ia bem a entrevista. Indagado sobre o porquê devia ser o contratado, rebrilharam os seus olhos. Disse “dedicar-se pelo que ama e acredita”. Esboçou-se lhe um sorriso aprovador. Dispensado, por fim, ouviu esta frase: — Encoste a porta, por favor. Assim, despedira-se do amor, em hospedar – a contragosto – a solidão.
FRED ROCHA (Niterói, 1985) é romancista, contista e poeta, inspirado especialmente em obras clássicas, particularmente em Camões e Machado de Assis. Escreveu o romance juvenil Ao Filho das Estrelas (entre os céus e a Terra), a seleção de contos d'Outros Rasgos, dentre outras obras. Tem alguns projetos literários em andamento e, no momento, além de contos e poemas eventuais, trabalha em um romance. Até o momento, contemplado em quatro concursos literários. Integra quatro antologias, entre contos, poemas e afins. Tem alguns textos publicados em revistas e blogs literários, como no conceituado Literatura sem fronteiras, então criado e editado pelo escritor Nilto Maciel (1945-2014). (Até então sob o pseudônimo Rocha Oliveira). Visite o site do autor. | FRED.ROCHA@OUTLOOK.COM
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JARDIM HEITOR LIMA | Fortaleza, CE.
Jardim apenas, pétalas, presságio em meu jardim os espinhos, como queira Borges, estão em todas as vias. e como eu não quisesse los senderos que se bifurcan (antes fosse) no meio das gotas de sangue, quereria em ti. tens olhos diáfanos peito de lírio rosto de assombro. “meu bem, teus ossos” disse-me um dia “não estão de bem com a vida”. o que não sei é se as pétalas são menos formosas, se é o cheiro imperativo. não sei. e é de não saber, dadas as circunstâncias, que o jardim não é nem aziago nem prodígio. “meu bem, não leio jornal e nem me aborreço com augúrios cotidianos. costumo olhar o véu
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cerúleo quando manchado, cheiro as flores menos candentes e roubo os brotos antes da corola.” quero entrar no jardim sem projeções, sem Édipos, e reconhecer-me no espelho. quantas almas no locus das inflorescências e além são galhos de Narciso. procuro em mim qualquer Vênus e tuas coxas são as conchas do nascimento. meu bem, nem te conheço. e te sinto como flor negra mais cálida entre os órgãos, te sinto resina e névoa, forma e pó. parte do que germina é Fausto, ou antes a gargalhada da roseira que me enche de baba. “as veredas são tortas em meu jardim são antes as páginas e antes ainda as tripas o núcleo fermentando o ano da mãe os cabelos loiros do pai não vejo as borboletas amarelas de Márquez a náusea da flor o sopro da lida não encaixo a prosa em nada quero o nome anterior à gramática anterior ao teu próprio nome anterior ao signo.” Quero, todavia, teu rosto que volta à superfície, rápido como o ocaso da palavra. onde à noite os sonhos desabrocham lívidos e te molham a face que é a minha, te cingem a mão que toca meu ombro e os corpos se destilam. o tempo é espectro e ninguém nunca sabe os próprios olhos. tens uma flor no cabelo.
HEITOR DE LIMA rabisca em versos desde os 9 anos de idade, espera que o mundo escolha a poesia, mesmo que inconsciente. Vive a heterogeneidade de ser quem é. | HEITOR_LIMAQ@OUTLOOK.COM
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ESPELHO EM BRANCO RAFAEL DIAS CANHESTRO | Belo Horizonte, MG.
1 Faz uma semana que tem a mesma sensação. Anda pelas ruas da cidade em alerta, olhos ressabiados que vagam irrequietos pelas
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imediações. Um cão feroz que não morde! Passos, a buzina dos carros, tudo alto demais e ele fugindo das aglomerações, sentindo aquela estranha pressão na nuca, como se um dedo invisível a pressionasse com pretensões de arrancar seus miolos e deles fazer uma massa cinzenta no asfalto. As sombras o perseguem. Volta e meia o homem olha a sua com desconfiança, por um momento convencido de que ela tem vida e se agarra desesperada às suas pernas. Julga-se louco! Como pode? É um sujeito normal. Tem algumas manias, esquisitices inofensivas, que vão de assobios no meio da rua, a danças bizarras debaixo do chuveiro quando se lembra de uma boa música. Mas não passa disso. Quando jovem, ele fora ao psicólogo por causa da timidez, mas o parecer da doutora fora positivo. “Um rapaz deslocado no tempo e lugar. Não se encaixa, mas vai se encaixar. Só precisa de um hobby, algo que lhe dê identidade...” Na escola era assim. Andava pelo pátio ressabiado, sentindo-se no centro do palco, sempre afetado por dores de barriga, nervoso, pálido. Os olhares eram dardos venenosos e ele cambaleava ferido pelos corredores, antevendo o gosto de punhos e de palavras ferinas. Era um estranho em uma terra estranha, mas a doutora o salvara daquele pesadelo. “É uma peça que não se encaixa, mas vai se encaixar. O tempo vai te ajudar. As coisas se ajeitam.”, dizia a mulher risonha, e ele balançava a cabeça. Era a única coisa que restava a quem estava perdido; segurar-se nos ombros do guia e segui-lo, torcendo para que não houvesse um buraco no caminho. Olhos fixos que queimam, um rosto hostil de vietcongue que deseja banir o homem que não devia estar ali. Ele desvia de um e logo vem outro, e o cerco se fecha. Recua até a fachada de uma loja e entra. Se
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esconde por trás de prateleiras de livros, mas o cheiro do medo não é dispersado pela natureza morta, nem pelos ventiladores que giram preguiçosos no teto negro de sujeira. É um convite e a fera vem em seu encalço, as presas de fora, agudas como navalhas. Ele se embrenha no labirinto e marca o seu caminho pela posição dos sóis artificiais, mas são todos iguais e o homem se confunde e reprime um grito; o mais leve ruído é pista que atrai o predador. Liberdade! Os olhos piscam na luminosidade e ele foge dela, se esgueirando por debaixo de toldos, onde as sombras viram uma e a perseguição cessa. Os rostos o fitam de longe e o corpo repudia o reflexo que lhe encara de vidraças. Espelhos! Não ousa virar o pescoço para vê-los. Tem medo! O sonho do visitante é constante e neles os pedaços são arrancados e o branco cresce de tamanho. Cada vez que o branco aumenta o vazio se alastra e ele se pega acordado no quarto, sem saber o que há e onde está. Então se levanta e vai trabalhar. Para diante da fachada do prédio, em cujas entranhas teclados batem e vozes berram algoritmos. Fica ali, o peito doendo, deslocado no espaço e no tempo. “Preciso de um hobby.”, ele pensa, e decide que fará algo com o cair da noite. Algo diferente do que fizera na semana passada. Não quer levantar-se de uma mesa de bar lotado e correr ao banheiro para vomitar; aqueles olhares pesados nas suas costas, quase o derrubando no chão de linóleo no meio de pernas e sombras. Quer novidades. Preto no branco, para variar um pouco. Antes que o branco predomine e ele... Quando volta a si, ele está na mesa e os dedos maquinam como de costume. A montanha de papel cresce na sua frente e ele solta um suspiro que morre no cubículo. Ali há só a sua sombra, quieta debaixo
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de seus pés, mansa, a rebeldia contida pela imobilidade. Assim ele gosta! Parado na frente da tela luminosa, na companhia de números frios e das vozes que bradam algoritmos, completamente esquecido da urbanidade. Os pensamentos são branco sem preto, mas o corpo está vivo, pelo tempo que o trabalho durar. E depois a perseguição terá novos capítulos. 2 A boca fala e o homem a observa. É toda dentes brancos e vermelhidão de batom, e nela piscam sorrisos frequentes, de flerte. Ele come pouco. Não sente fome; nem de comida, tampouco de assunto. Só a mulher fala e é impressionante como não se cansa. O fôlego é gasto em palavras e o frango deve ter gosto de saliva. O homem sentese incomodado. A psicóloga é um fantasma que rompe o silêncio da sua cabeça, entoando a ladainha das peças que se encaixam, mas ele se sente uma engrenagem roída, que não serve para compor uma maquinaria. Bebe da cerveja, enquanto os lábios sustentam a farsa. O gosto da cevada é estranho; não sacia. As luzes brilham demais e ele só pensa na casa amortecida e no seu corpo jogado sem vida na cama, o morto que ouve e não se importa. Branco no preto. O preto não vigora. Não pode. É melhor não ser e nem sentir, apenas ficar lá, até que a última luz do quarteirão se apague e ele durma e sonhe... Para perder outro pedaço. Ela pergunta o que há. A boca está seca, um pouco do vermelho desbotado, os dentes exageradamente brancos contra a luz. Não é o branco que ele quer. A mulher não parece feliz. Quer pedaços do
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homem. Todos querem. Ela se oferece e se sente no direito de ter um pouco dele. Mas ele não pode dar nada. Tem alguém para alimentar, o visitante noturno que vem e o deixa cada vez mais inconsciente, alguém que anda e não olha para os lados. Sequer para trás. O branco verdadeiro, predominante. A
mulher
se
cansa.
Sorriso
enterrado
no
desgosto,
o
frango
abandonado. O garçom vem e deixa a conta. Dedos puxam notas e duas silhuetas andam lado a lado na calçada. As sombras duelam sob as luzes noturnas, e ele sente que a hora está próxima. Quer ir embora, mas os lábios vermelhos não querem que vá. “Precisa relaxar. Deixa rolar. Sabe quando um quebra cabeça é montado? Não é bonito? Deixa acontecer que tudo se acerta. Relaxa.”. Era a ressurreição daquela que jazia enterrada. Ele é uma peça, mas não pode mais se encaixar. Não ali; não mais. Escapole, a sua sombra solitária, o homem alucinado sob os holofotes de uma cidade. A mulher chama pelo seu nome, e ele não a ouve. Está esquecido e fazer força para trazer à tona é inútil. Nada do menino que fugia por corredores. Nada de nada. Branco no preto? Só o branco, mundo vazio, povoado pela batida ininterrupta do teclado, e as cifras correndo na tela feito sangue. Quer a cama, o refúgio, o encontro com aquele que vem para cobrar o seu preço. Quer o lugar onde a perseguição termina, e a sombra, a alma refletida, desista de salvá-lo do inevitável. O branco... Cresceria. Continuaria crescendo. O homem não seria mais o preto no branco. Nenhuma nesga de preto; um ponto ou linha de escuridão. Nada. 3
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A cama é um santuário e nele a carne se regozija. Luzes apagadas pela casa, as sombras aniquiladas. Ele aniquilado. Espera pelo sono, as pálpebras pesadas, embaladas pela monotonia de um silêncio que parece inquebrável. O mundo pode estar morto. As paredes não falam pelas vozes dos vizinhos, e lá fora, onde organismos correm almejando a vitória, nada se ouve. É como estar em um cemitério, na companhia de criptas frias. A única voz é a da brisa, mas ela é tímida, pouco se pronuncia. Vive de uma única opinião; o assobiar consistente que faz um homem pensar em imensidão. Ele dorme. Lentamente as formas se perdem no vazio e se unem ao branco absoluto, a cor que predomina nas distâncias desconhecidas, que levantam especulações e abriga horrores noturnos combatidos com a Bíblia. A cor daquilo que não se define, do vazio esperando para ser preenchido. Branco que massacra o preto. Eis que surge dessa predominância o homem sem rosto. Sempre de costas na beirada da cama, resmungando as palavras que ferem os ouvidos da criança, do menino, daquele que fugia nos corredores da escola e não encontrou paz nos conselhos da psicóloga. “Vai se encaixar...” Ah, vã ilusão que ignora a alma! Mas o fim está próximo, não só para o homem, mas para todos os que respiram. Todo mundo tem a sua hora. Ele sente os fragmentos sendo arrancados, como dentes roubados de uma boca que um dia fora bonita. A dor... era terrível em um passado não tão distante, mas agora é uma lembrança que pouco lhe importa. É quase o fim, e talvez, se assim for da sua vontade, um recomeço. Por isso ele não ousa levantar-se da cama, ou negar o sonho que o carrega nos braços. Fica parado, estático, enquanto o homem sem rosto, o visitante noturno, murmura os fatos perdidos e estilhaçados, as mentiras desferidas por línguas que se julgavam sábias. Como poderiam
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entender... O julgamento precipitado, os homens que querem ser Deus. Nunca entendeu e nem vai entender. O tempo é curto... Curto. O último pedaço se agarra ao músculo como se fosse ele, mas o homem sem rosto não se engana com o teatro e puxa, repuxa, ri da atrocidade. A forma que dorme na cama estreme durante o sono, e um gemido, que era para ser grito, morre estagnado por debaixo da língua, cheio de saliva. No sonho e na realidade a vítima se debate, os lençóis atirados como insetos detestáveis no piso, os punhos batendo na madeira, as unhas arrancando tinta. Não para. É tarde. A fantasia já não serve e fere. O momento é chegado e ele sabe que não pode ser adiado. Coragem. Entrega. Ele espera. Termina, e não há sangue ou vísceras, apenas um espaço sem ambições, expectativas. O homem sem rosto ri. O martírio está terminado e ele agora pode ser feliz. Ou tentar. Levanta-se da beirada da cama, e pela primeira vez em meses, anos, quem sabe séculos, o homem encara o criador na cama. A máscara pende da face do visitante noturno como um pedaço obsceno de carne, um bife cru que não adere ao osso, ao formato. Mas ele ri. É terrível, um monstro gerado pelas esperanças de outros, mas é o que há, aquilo que sobra depois da festa. Está satisfeito e assim parte para fora do quarto, a máscara balançando no rosto, a identidade sem uniformidade, que de tão usada ficara gasta demais e incapaz de servir para enganar. Como se eles já não soubessem. Acorda. O sol brilha lá fora e é estranho como o medo já não faz parte da sua unidade. Unidade. Não parece um bom termo para o homem, que nunca a conhecera de verdade. Ele levanta-se da cama para arrumar-se para o trabalho. A psicóloga está calada e enterrada no fundo da mente, e o assobio que sai da boca é tranquilo; dele, que
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agora não foge ao espelho, a nada que possa refletir uma forma. Para diante da pia como um fiel que presta respeito ao altar da sua ideologia, e fita o rosto; sem preto, apenas branco. Uma brancura que não tem fim ou começo, é ela, toda ela, esperando para ser preenchida. Suspira e escova os dentes, a sombra se espalhando nos ladrilhos do banheiro, imóvel. A perseguição termina, até que o homem se desencontre e busque por um novo recomeço. O ciclo é contínuo. O alívio dele é saber que está fadado a mortalidade.
RAFAEL DIAS CANHESTRO possui dois contos publicados em antologias: "A menina e a banheira", pela antologia Horas sombrias da Andross editora, e "Cadáver", publicado mediante resultado de concurso pela editora AMCGuedes. também tenho um livro, "A casa", publicado pela editora Multifoco. Escreve desde que se conhece por gente | RAFADIAS93@HOTMAIL.COM
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ÓCULOS VINÍCIUS MAHIER | São João del-Rei, MG.
o primeiro arranhão mínimo no óculos novo até então límpido risonho como um hino nacional agora insuportavelmente turvo
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turvo turvo turvo turvo a tal ponto de quebrar fronteira e atingir a lente esquerda pelo olhar do outro olho turvo à turva vista que do óculos precisa igual um miserável necessita de um visto pra entrar em um país sem vista para o mar (só pra aviões) e não conseguindo precisa tatear com as mãos a angústia de sobreviver no quase escuro do deslocamento do desfocamento insuportavelmente turvo como
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se essa mesma vista que do óculos precisa mais que da imagem não tivesse um arranhãozinho sequer.
VINÍCIUS MAHIER, 21 anos, natural de Campo Belo / Minas Gerais, é graduando em Letras pela Universidade Federal de São João del-Rei. Fora disso sou doido, com todo direito a sê-lo. Com todo direito a sê-lo, ouviram? (Álvaro de Campos) | VINICIUSMAHIER@HOTMAIL.COM
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SOBRE BIANCA LANA BLOG | INSTAGRAM | CANAL NO YOUTUBE | FACEBOOK BIANCABBLOOM@GMAIL.COM
Bianca Bernardes Trazzi é de Ribeirão Preto, São Paulo. Iniciou nas artes plásticas na infância, quando criava ilustrações para os livros que escrevia, tendo ilustrado o primeiro livro infantil aos onze anos. Como técnica, utiliza predominantemente aquarela e tinta Nankin, além de outras técnicas como manchas de aquarela, tinta a óleo ou desenho digital. Tem como principais influências os trabalhos de Agnes Cecile, Paula Bonet, Kerby Rosanes, Van Gogh, Goya e os grandes mestres renascentistas Da Vinci e Botticelli. Bianca disponibiliza pôsters para a venda pela internet.
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PARCEIROS:
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Edição e Revisão: Morgana Rech e Tânia Ardito
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