Revista TRYNA n.3

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Ano II, Num. 3 Janeiro, 2016

Compartilhando conhecimento que transforma

Saúde Integrativa • Espiritualidade Vegetarianismo/Veganismo


publisher e editor

Tiago Nogueira Nascimento editor de texto

Daniela Yamazaki Ono diretor de arte e designer

Frederico Floeter

agradecimentos

Deus, Elisabeth Nogueira, Daniela Yamazaki Ono, Frederico Floeter, Mauro Lemes, Yuki Yamazaki, Seiiti Ono, Renan Albertini, Ângela Arraya, André Luiz Fronza, J.Gonçalves Machado, Swami Jitananda, Swami Bhaskarananda, Margarete Mota, Marcos Rojo Rodrigues, João Signorelli, Amarantha Ribas, Nathalia Soares, Raquel Rivello.

jornalista responsável

Renan Albertini | MTB 55.391/SP colaboradores

Amarantha Ribas, André Luiz Fronza, Ângela Arraya, Daniela Yamazaki Ono, Frederico Floeter, J.Gonçalves Machado, Marcos Rojo Rodrigues, Margarete Mota, Renan Albertini, Swami Jitananda, Swami Bhaskarananda, Tiago Nogueira. — revistatryna.com.br youtube.com/revistatryna facebook.com/revistatryna

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Em nossa edição comemorativa de Em algum momento você já quis fi1 ano de REVISTA TRYNA você des- car em um estado de integração total cobrirá se é Vata, Pitta ou Kapha! Ahm, com a sua mente o seu corpo e o seu não entendeu nada? Confira a matéria espírito? O Dr. Marcos Rojo nos explisobre o Ayurveda para descobrir. ca o que vem a ser a Yogaterapia. Inspirados em um dos maiores LíQue no ano de 2016 pratiquemos deres mundiais, o Iluminado Mahatma a cada dia mais o Perdão e o Amor Ghandi, a TRYNA foi entrevistar o ator Incondicional. João Signorelli que vem fazendo um brilhante trabalho de divulgação dos ensi- Com Amor, namentos desse grande Mestre da Paz. Equipe TRYNA Você acha difícil, se tornar um Vege- Boa leitura! tariano/Vegano? Trazemos dicas especiais da Médica Nutróloga Amarantha perguntas@revistatryna.com.br Ribas que irão facilitar a transformarevistratryna.com.br ção do seu prato! facebook.combr/revistatryna A História do Hinduísmo será apresentada pelo Swami Bhaskarananda, uma das religiões mais antigas que tem como meta a libertação através da realização de Deus.


COLABORADORES

Drª Amarantha Ribas — Médica, especialista em Nutrologia, pós-graduada em Anatomia Patológica e Nutrologia com Licenciatura plena em Ciências Biólogicas, Naturologista www.nutrocoaching.com.br

Daniela Ono —

Frederico Floeter — Designer gráfico, artista e produtor cultural com foco em criação editorial, educação e projetos sociais. É adepto de terapias integrativas. É o responsável pelo design da TRYNA. fredericofloeter.org

Marcos Rojo Rodrigues — Professor de educação física formado pela USP, diplomado em yoga pela escola de Kaivalayadhama (India) e mestre pela Faculdade de Medicina da USP. Professor de yoga na USP. marcosrojo.com.br

Margarete Mota — Naturóloga formada pela Universidade Anhembi Morumbi em São Paulo. Ayurveda Panchakarma pela Atharva Ayurveda Clinic and Panchakarma Centre em Pune, Índia e Curso Avançado de Ayurveda pela Arya Vaidya Pharmacy em Coimbatore, Índia.

Swami Bhaskarananda — Monge da Ordem Ramakrishna, presidente da Vedanta Society of Western Washington, em Seattle, E.U.A. Começou sua vida monástica em 1958.

Voluntária da revista. Trabalha com Comunicação e Recursos Humanos. É adepta a terapias integrativas, culinária vegetariana e pelos estudos das religiões espiritualistas.

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SUMÁRIO

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Ayurveda: a ciência da vida

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Sob a Luz do Líder Servidor: entrevista com João Signorelli

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Alimentação sem carne: cinco passos que ajudarão você nessa nova jornada!

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A história do hinduísmo

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Yogaterapia

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Receitas

70

Dicas

73

WWF-Brasil oferece análise para recuperar bacia do rio Doce

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Um pouco de poesia 5


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TERAPIAS INTEGRATIVAS

Ayurveda: a ciência da vida Por Margarete Mota

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foto: shutterstock

A

yurveda – a medicina tradicional da Índia – é um dos sistemas de medicina mais antigos e completos do mundo. Há registros que afirmam que esse sistema existe há pelo menos 6 mil anos, mas acredita-se que o Ayurveda é um conhecimento eterno, sem princípio nem fim, trazido a este mundo pelos deuses para o benefício da humanidade. A palavra Ayurveda derivada do sânscrito significa “ciência ou conhecimento da vida” (Ayur = vida, veda = ciência ou conhecimento) é um dos sistemas de saúde mais holísticos por abordar o ser humano em toda sua integralidade, englobando os aspectos físico, mental, espiritual e o bem estar social de cada indivíduo.


Dhanvantari o deus da Ayurveda


“(...) é um dos sistemas de saúde mais holísticos por abordar o ser humano em toda sua integralidade, englobando os aspectos físico, mental, espiritual e o bem estar social de cada indivíduo.”

HISTÓRIA DO AYURVEDA Iniciou com o deus Brahma, que passou esse conhecimento eterno para os deuses Daksha Prajapati e Indra. Este último passou o conhecimento adiante para Bharadvaja, que o trouxe do nível celestial para o nível terrestre. Bharadvaja passou esse conhecimento para Atreya. Atreya organizou um simpósio e reuniu toda a Índia e formulou os conceitos básicos no século VII a.C.. Agnivesa, que era o discípulo mais brilhante de Atreya, documentou todo este conhecimento sob a forma de um tratado (Agnivesa Tantra), o qual foi aperfeiçoado e ampliado por Charaka no século VI a.C. e tornou-se conhecido como Charaka Samhita. No século IV d.C., Drdhabala revisou este texto e fez alguns adendos. Esse é o texto atual do Charaka Samhita estudado em todo o mundo. Os primeiros relatos sobre o Ayurveda foram encontrados em dois dos quatro Vedas: Rig Veda e Atharva Veda. Os quatro Vedas compreendem o: Rig Veda, Sama Veda, Yajur Veda e Atharva Veda e são as quatro escrituras que formam a base da literatura sagrada da Índia, consideradas uma das mais antigas do mundo. Acredita-se que sua composição tenha sido ini10


ciada por volta do ano 2.000 a.C. ou mesmo antes. Mais adiante, o Ayurveda foi organizado no seu próprio sistema de saúde e considerado um Veda acessório do Atharva Veda. Os Vedas foram compostos em hinos e fazem parte da literatura religiosa do hinduísmo. Originalmente eram transmitidos oralmente e, até hoje, no sul da Índia, há escolas onde as crianças aprendem a memorizar todo seu conteúdo. Entre os hinos do Rig Veda há discussões sobre os três doshas (Vata, Pitta e Kapha), transplantes de órgãos, membros artificiais e o uso de ervas para curar doenças da mente e do corpo e para promover a longevidade. Já nos textos do Atharva-Veda, há hinos que tratam sobre anatomia, fisiologia e cirurgia. Na época de Atreya, havia duas escolas de Ayurveda: a escola de Atreya (dos clínicos) e a escola de Dhanvantari (dos cirurgiões). Charaka representa a escola de Atreya e aborda os aspectos de fisiologia, anatomia, etiologia, patogêneses, sintomas e sinais da doença, metodologia de diagnóstico, tratamento e prescrições para os pacientes, prevenção, longevidade e causas internas e externas das doenças. Sushruta representa a escola de Dhanvantari e além da medicina, contém descrições de técnicas de cirurgia, rinoplastia e descreve os instrumentos cirúrgicos usados na época. É também nessa escola que a primeira ciência da massagem é descrita usando os pontos marmas (pontos vitais do corpo).

É interessante notar que há descrições de casos da escola de Dhanvantari (cirurgiões) na escola de Atreya (clínicos), mas não há referências de casos da escola cirúrgica ligados à escola clínica. Ou seja, a intervenção cirúrgica era realizada somente quando todos os outros recursos de tratamento haviam falhado. A importância dessas duas escolas é imensa, pois elas foram responsáveis por transformar o Ayurveda em um sistema médico que podia ser verificado e classificado. Através de investigações e testes, elas removeram as crenças e superstições relacionadas às causas e cura dos distúrbios e desenvolveram uma atitude racional em relação aos problemas de saúde. Charaka especialmente enfatizou o processo de investigação que é essencial para se chegar até as verdades científicas. Charaka e Sushruta são os dois grandes reorganizadores do Ayurveda e o trabalho deles é a base de estudo para qualquer pesquisador ou estudante deste sistema de medicina. O terceiro e igualmente importante trabalho sobre Ayurveda é o Asthanga Hridayam ou Ashtanga Samgraha do autor Vagbhata. Ele resumiu as visões de Charaka e Sushruta e acrescentou dados científicos originais ligados ao tratamento das doenças. Esse sistema de medicina milenar é extremamente completo e surpreendentemente amplo para sua época e mesmo para os dias atuais. Além dos princípios gerais da medicina e cirurgia, a literatura ayurvédica descreve oito especialidades diferentes: 11


Imagem do Codex Cashmiriensis do SamhitÄ Atharva-Veda


Algumas das grandes instituições de ensino e pesquisa de Ayurveda na Índia hoje são: Gujarat Ayurveda Univesity em Jamnagar, Banaras Hindu University em Varanasi , National Institute of Ayurveda, do Departamento da Índia dos Sistemas de Medicina e Homeopatia (AYUSH) e do Ministério da Saúde em Jaipur e, Arya Vaidya Pharmacy (AVP) em Coimbatore. FILOSOFIA DO AYURVEDA Toda literatura ayurvédica está baseada na filosofia Samkhya da criação. Segundo o Samkhya, a realidade do universo é dividida em 5 componentes que o formam, chamados de tattvas. Purusha, pura consciência, e Prakriti, a causa primordial do mundo material, são os dois princípios que dão origem ao universo. Purusha é a energia masculina e Prakriti é a energia feminina. Purusha não possui forma, cor ou qualquer atributo. Ele não participa ativamente da criação do universo, mas é o princípio animador de Prakriti. Prakriti possui forma, cor e atributos. É o desejo Divino, aquele que deseja se transformar em muitos. O universo é, portanto, a criança dessa mãe Divina. Prakriti cria todas as formas do universo, enquanto Purusha é a testemunha dessa criação. É somente através da combinação de Purusha e Prakriti que toda a existência se manifesta. A combinação de Purusha e Prakriti inicialmente dá origem ao intelecto cósmico (mahat), esse dá origem ao ego (sentido de individuação ou ahamkara). A partir de ahamkara se formam as três qualidades (ou gunas) que são 13

foto: shutterstock

- Medicina Interna (Kayachikitsa); - Pediatria (Bala Chikitsa ou Kaumara Bhritya); - Doenças ligadas aos olhos, ouvidos, nariz e garganta (Urdhvanga Chikitsa ou Shalakya Tantra); - Psiquiatria (Graha Chikitsa ou Bhuta Vidya); - Cirurgia (Shalya Chikitsa ou Shalya Tantra); - Toxicologia (Agada Chikitsa ou Vishagara-vairodh Tantra); - Rejuvenescimento e longevidade (Jara Chikitsa ou Rasayana); - Ciência dos Afrodisíacos (Vajikarana Chikitsa).


“Os doshas são as forças energéticas fundamentais por trás das ações do corpo e da mente.” encontrados em todo o universo e que são a base para tudo o que existe: sattva, qualidade da verdade, virtude, beleza e equilíbrio; rajas, qualidade da força e do ímpeto; e tamas, qualidade que restringe, obstrui e resiste ao movimento. Rajas é a força vital ativa que possibilita que sattva e tamas (forças inativas) se expressem. Sattva se combina com rajas e dá origem aos cinco órgãos dos sentidos: ouvidos (audição), pele (sensação), olhos (visão), língua (paladar) e nariz (olfato); aos cinco órgãos da ação: boca (expressão), mãos (ato de agarrar), pés (movimento), órgãos reprodutivos (procriação) e órgãos excretórios (excreção) e a mente. Tamas se combina com rajas e dá origem aos cinco elementos sutis de percepção sensorial (tanmatras): som, tato, forma, sabor e odor. Esses cinco tanmatras dão origem aos cinco grandes elementos (panchamahabhutas): éter, ar, fogo, água e terra. Aqui começa o domínio do Ayurveda. OS DOSHAS Da combinação das três gunas surgem os cinco grandes elementos: éter, ar, fogo, água e terra. O Ayurveda acredita que tudo que existe no universo é formado por esses cinco elementos combinados em diferentes proporções. Eles dão origem aos três princípios vitais (doshas) que são os pilares do pensamento ayurvédico. Os doshas são as forças energéticas fundamentais por trás das ações do corpo e da mente. Cada dosha é formado pela combinação de dois dos cinco grandes elementos: 14


O dosha vata (éter + ar) é o princípio do movimento e circulação. É a força principal que rege o transporte de fluídos, a descarga de secreções e a eliminação de materiais residuais. Controla a mente e os sentidos, proporciona agilidade, adaptabilidade e habilidades de boa comunicação para a mente. Seus distúrbios físicos são a depleção dos tecidos, fraqueza, desidratação, artrite, perda de peso, insônia, perturbações na mente e no sistema nervoso. Os principais desequilíbrios emocionais de vata são o medo e ansiedade. O dosha pitta (fogo + água) é o princípio da digestão e metabolismo. É responsável pela conversão do alimento em calor, tecidos e materiais residuais. Ele controla a digestão e o metabolismo. É responsável pela percepção, pelo julgamento e pela determinação e nos garante clareza e discernimento para a mente. Seus principais distúrbios são a febre, as infecções, as inflamações, os sangramentos e a raiva. O dosha kapha (água + terra) é o princípio da coerência e coesão. Rege a estrutura do corpo e é responsável pela formação de novos tecidos, pela hidratação, nutrição, lubrificação e proteção do corpo contra o calor, vento, deterioração e ruptura. Kapha é a base dos sentimentos e emoções, amor e carinho. Ele transmite estabilidade, calma e contentamento à mente. Seus maiores distúrbios a nível físico são o acúmulo de saliva, água ou excesso de desenvolvimento de tecido, especialmente tecido adiposo ou gordura. Seu maior desequilíbrio emocional é o apego. ABORDAGEM DA SAÚDE E DA DOENÇA Os três doshas são os fatores mais importantes por trás da saúde e da doença. Todas as funções físicas e mentais do corpo são governadas pelos três princípios vitais (vata, pitta e kapha). Eles mantêm a integridade do corpo e governam a estrutura física e os processos mentais. Nossa Prakriti (constituição ayurvédica original) é determinada no momento da nossa concepção. A combinação dos doshas do nosso pai e da nossa mãe dá origem aos nossos. Esses doshas originais permanecerão os mesmos durante toda nossa vida. 15


De acordo com o Ayurveda, a saúde acontece quando o indivíduo apresenta um equilíbrio de seus princípios vitais (doshas), das enzimas metabólicas e digestivas (agnis), um adequado funcionamento dos tecidos (dhatus), das excretas e catabólitos (malas) e que apresenta também harmonia mental, emocional e espiritual. Quando os doshas por alguma razão se desequilibram e essa harmonia global não acontece, a doença se instala. A cura vem justamente da eliminação dos fatores que causam o desequilíbrio e geram a doença.

no estômago. Nesse estágio, é muito comum que o próprio corpo corrija esses desequilíbrios por si só e intuitivamente nos faça evitar o que está causando a desarmonia em nosso organismo. Alguns exemplos desse estágio são: falta de apetite ou sensação de estômago pesado (desequilíbrio de kapha), dor de estômago ou fome exagerada (desequilíbrio de pitta) ou constipação e formação de gases (desequilíbrio de vata). Agravamento: Depois que houve o acúmulo dos doshas e o corpo não conseguiu por si só recuperar o equilíbrio, os sintomas geralmente pioram e podem inclusive tornar-se crônicos. O que era um desconforto menor pode tornar-se um desconforto permanente e a pessoa começa a tomar medicação para constantemente aliviar esses sintomas. Se kapha continuar em desequilíbrio, pode provocar um excesso de muco provocando congestão nasal, tosse, resfriados ou excesso de saliva. Nessa fase, o excesso de pitta pode provocar azia, acidez estomacal e náusea. Já o excesso de vata, provocará distensão abdominal e dores provocadas por gases, constipação crônica e respiração ofegante com frequência.

OS SEIS ESTÁGIOS De acordo com o Ayurveda, diagnóstico é encontrar qual é causa da doença. Se esse diagnóstico não é feito adequadamente, torna-se extremamente difícil providenciar o tratamento correto e eliminar a doença. Há duas grandes diferenças na maneira como o Ayurveda e a medicina ocidental entendem a doença. Como já comentei anteriormente, o Ayurveda trata a pessoa e não a doença, trata a causa da doença e não seus sintomas. A outra grande diferença é que o Ayurveda entende que a doença não acontece de um dia para o outro. Geralmente é um processo longo e que possui seis estágios:

Disseminação: Uma vez que o dosha foi acumulado e agravado, se não for trazido de volta ao seu equilíbrio, ele sai do trato gastrointestinal e começa a se espalhar para outros locais no corpo. Nessa fase os sintomas incluem: retenção hídrica, maior congestão nasal, congestão linfática e uma sen-

Acúmulo: No primeiro estágio da doença, há um acúmulo dos doshas e isso geralmente acontece na “casa” de cada um dos doshas no trato gastrointestinal. A de vata é o cólon, a de pitta é no intestino delgado e a de kapha 16


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fotos: pixabay


sação geral de peso no corpo (kapha), sensação de queimação, acnes, irritação na pele e azia constante (pitta), pele seca, mãos e pés frios constantemente, zumbido nos ouvidos e possivelmente taquicardia (vata).

o exemplo do vata dosha invadindo o tecido ósseo, nessa fase o tecido está tão afetado que já se instalou uma osteoporose ou a articulação afetada está tão danificada que até uma cirurgia pode ser necessária. Nessa fase, o tratamento torna-se muito difícil ou até mesmo impossível levando o paciente a óbito, dependendo dos tecidos e órgãos afetados. Com frequência o que pode ser feito nessa fase é diminuir o progresso da doença ou simplesmente administrá-la.

Localização: Uma vez disseminados pelo corpo, esses doshas agravados encontram algum tecido debilitado e se fixam nesse local. Esse é o início da doença em si e a partir daqui ocorre o avanço do processo patológico. Os sintomas vão variar de acordo ao dosha que entrou no tecido. Por exemplo, se o dosha vata entra no tecido ósseo, pode fazer com que as articulações façam ruídos e tornem-se menos flexíveis. Nesse estágio, somente a função do tecido foi atingida, mas a estrutura poderá permanecer intacta, a menos que nada seja feito e progrida para o próximo estágio.

Infelizmente, a grande maioria dos pacientes procura ajuda quando já estão nas fases de manifestação ou complicação e quando isso acontece, o médico ayurvédico geralmente vai perguntar ao paciente: “por que você demorou tanto para buscar ajuda?”. MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO O conceito de diagnóstico do Ayurveda é muito mais amplo que o conceito de diagnóstico da medicina ocidental, que geralmente só é realizado quando a doença se manifesta no corpo através de sintomas e sinais. É muito comum um paciente sentir-se em desequilíbrio, fazer vários exames, inclusive alguns bastante sofisticados e ouvir do médico que não foi diagnosticado doença alguma. Isso geralmente acontece porque quando a doença está em seus estágios primários, não é possível diagnosticá-la através de métodos convencionais da medicina ocidental. O Ayurveda aconselha que se faça um monitoramento constante da in-

Manifestação: É nesse estágio que a medicina ocidental dará um diagnóstico clínico. Nessa fase os doshas começam a se desestruturar e a romper a estrutura do tecido afetado. No caso de vata invadindo o tecido ósseo, poderá resultar numa osteopenia ou osteoartitre. Depois que a estrutura do tecido começa a se deteriorar é muito mais difícil reverter o progresso da doença. Complicação: Nesse estágio do processo da doença, o dosha já danificou severamente o tecido e começa a afetar os tecidos em volta, causando ainda mais complicações. Seguindo 18


“O diagnóstico é elevado ao nível de observação preventiva dos sintomas das doenças em suas fases mais precoces, evitando que elas se instalem.” teração dos doshas em nosso organismo. Dessa forma, o diagnóstico é elevado ao nível de observação preventiva dos sintomas das doenças em suas fases mais precoces, evitando que elas se instalem. Esse diagnóstico preventivo do Ayurveda engloba métodos bastante precisos que nos ajudam a entender o processo saúde-doença e incluem a observação do pulso, língua, face, lábios, pele, olhos, unhas, fezes, urina e também métodos comuns à medicina ocidental como: palpação, ausculta, percussão, inspeção, anamnese e exames laboratoriais, quando necessário. TRATAMENTO NO AYURVEDA A abordagem para o tratamento acontece da seguinte forma: Primeiro passo: definir qual é a constituição ayurvédica original ou biótipo da pessoa (Prakriti); Segundo passo: definir qual dosha ou doshas estão em desequilíbrio (Vikriti); Terceiro passo: propor um programa de tratamento para reequilibrar os doshas que estão em desequilíbrio. Esse programa de tratamento inclui: Alimentação (ahara) A relação entre dieta, saúde e doença é extremamente importante e por isso é um dos pilares do Ayurveda. Todos os alimentos possuem uma proporção dos princípios vitais (vata, pitta e kapha) e o tratamento visa fornecer os alimentos que equilibrem os doshas em desequilíbrio, diminuindo o que estiver em excesso e aumentado o que estiver em deficiência. 19


foto: pixabay


A dieta adequada precisa de uma combinação correta de alimentos que supram as necessidades do organismo e gerem bem estar físico, mental e vitalidade geral. Além da alimentação adequada, é importantíssimo que a digestão seja igualmente adequada. A combinação incorreta de alimentos, bem como uma digestão deficiente, gera toxinas no corpo e, consequentemente, doenças mais adiante. Como todo tratamento ayurvédico, a dieta também deve ser individualizada. Vale lembrar que devemos dar preferência aos alimentos disponíveis em nossa região. Ervas Medicinais O tratamento com uso de medicamentos no Ayurveda é completamente feito com base na aplicação de ervas medicinais de diversas formas e podem ser usadas em forma de pastas medicinais para aplicações tópicas, decocções, massagens com pós de ervas secas ou com óleos medicados, enemas, aplicações nasais e vários outros métodos além da via oral. Processos de desintoxicação Com o passar do tempo nosso corpo acumula toxinas produzidas por aquilo que comemos, bebemos, respiramos e até por aquilo que pensamos. Infelizmente, nossos alimentos estão contaminados por agrotóxicos e metais pesados; o ar que respiramos é igualmente poluído; e nossos pensamentos e emoções estão carregados de ansiedade, medo, raiva, angústia e tantas outras emoções negativas, que também vão gerar toxinas – estas também precisam ser digeridas e eliminadas. De acordo com o Ayurveda, o desequilíbrio dos doshas associado ao acúmulo de toxinas (Ama) é o fator gerador de doenças. Quando isso acontece, precisamos de um tratamento mais profundo de desintoxicação e rejuvenescimento chamado Panchakarma (que significa as cinco ações ou processos). Esses cinco processos são: Vamana (vômito terapêutico) a desintoxicação do estômago; Virechana (diarreia terapêutica) desintoxicação do fígado-intestino delgado; 21


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Basti (enema) desintoxicação do intestino grosso; Nasya (aplicações nasais) desintoxicação de cabeça e face; Raktamokshana (sangria terapêutica) desintoxicação do sangue. Além desintoxicar o organismo eliminando as toxinas, o panchakarma fortalece o sistema imunológico, restaura o equilíbrio dos doshas e promove uma tremenda sensação de bem estar físico, mental e espiritual. Anterior ao processo de panchakarma é feito um outro processo chamado purva karma. Esse processo mobiliza as toxinas presentes no estômago e tecidos e as direciona para que possam ser eliminadas pelo panchakarma. Esse processo inclui a oleação interna (snehana), oleação externa (abhyanga) e sauna terapêutica (swedana). Todo esse processo deve ser executado somente por médicos ayurvédicos treinados ou sob sua supervisão. Dessa forma, o tratamento é extremamente seguro, eficaz e gera um profundo bem estar. 22


OUTRAS TERAPIAS AYURVÉDICAS Uma das atenções primárias do Ayurveda é a manutenção da saúde e, para atingir esse objetivo, faz uso de outras terapias, algumas delas também conhecidas como “terapias sutis”: Dinacharya Rotinas de cuidados, hábitos e regimes diários que incluem a alimentação, massagens e exercícios adequados para cada biótipo e atitudes que conduzam à saúde e longevidade. Ritucharya Cuidados especiais durante as mudanças das estações. Gemoterapia É a terapia que utiliza pedras preciosas e gemas especiais que auxiliam a equilibrar os doshas. Cromoterapia Uso das cores com o objetivo de pacificar ou estimular os doshas. Aromaterapia Uso de aromas com o objetivo de pacificar ou estimular os doshas. Gandarva Veda Consiste na utilização de músicas especiais (geralmente instrumentais ou mantras) que pacificam ou estimulam os doshas. Yoga e Meditação Parte importantíssima no tratamento porque ajudam no processo de harmonização da mente e do sistema nervoso. É importante ressaltar que o Ayurveda enxerga cada ser humano como um ser único e, portanto, todo e qualquer tratamento será sempre individualizado, não tratando somente a doença, mas levará em consideração a pessoa que está doente, suas características e particularidades.

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ESPIRITUALIDADE

Sob a Luz do Líder Servidor: entrevista com João Signorelli Por Equipe TRYNA

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andhi está para João não simplesmente como um personagem. Mas como uma escolha de vida: de dar um novo sentido e protagonismo a sua própria história. O monólogo Gandhi, um líder servidor, há mais de 12 anos, é apresentado no Brasil e no exterior. É através deste espetáculo que João assume sua missão de vida – manter viva as mensagens de amor, paz e união entre os homens, deste líder exemplar que dedicou sua vida para a humanidade. Gandhi liderou o movimento de Independência da Índia e defendeu o princípio da Satyagraha, também traduzido como “Caminho da Verdade”.

Sua crença tem como base o hinduísmo e, sempre pregou a tolerância religiosa “quero uma Índia inteiramente tolerante, com suas religiões trabalhando lado a lado, umas com as outras”. João Signorelli é jornalista, apresentador e ator há mais de 20 anos, fazendo sua carreira em novelas, cinema e teatro. No papel de Gandhi, o ator convence, emociona e envolve a plateia em uma sensível reflexão sobre como conduzem a própria vida e como a maneira de liderar influencia os outros. Desde que escolheu “ser Gandhi”, abriu mão da carreira na TV e adotou novos significados para sua vida:

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“O amor educa, o amor nutre, o amor pulsa, o amor cura, o amor faz nascer, o amor encoraja, o amor movimenta, o amor motiva, o amor alivia, o amor mobiliza, o amor possibilita a vida.” — gandhi

TRYNA (T): Como é para você representar um dos líderes mais influentes do mundo? João Signorelli (JS): É, ao mesmo tempo, responsabilidade e alegria. É uma alegria muito grande poder emprestar meu corpo, minha arte e sensibilidade para uma pessoa como ele. Ao mesmo tempo, é também tamanha a responsabilidade, diante de toda representação que ele teve e tem até hoje para o mundo. Sinto-me honrado de poder representá-lo. T: Você teve alguma preparação especial para interpretar Gandhi? Qual o desafio de fazer esse papel? JS: Li todos os livros que pude ler sobre ele - entre eles, A História de Minhas Experiências com a Verdade, escrito por ele mesmo, e Esta Noite a Liberdade, que fala de importantes personalidades indianas, entre eles Gandhi. Busquei várias cenas da vida real dele. Observei o jeito de andar, olhar, seus gestos. Em paralelo com a minha vida, percebi que eu era um homem do século XX, nascido em São Paulo, completamente urbano. Comecei então um movimento de desapego: primeiro tive que raspar a cabeça e abrir mão de uma carreira televisiva e teatral importante. T: “Abrir mão” é uma atitude de ruptura. Como foi fazer essa escolha? JS: Foi uma decisão de vida interpretar Gandhi. Hoje estou muito feliz fazendo esse papel, sinto-me um homem realizado. Como eu já praticava Tai Chi Chuan desde 1980, que tem uma conexão com esse lado mais espiritual, eu já es26


tava em um caminho de busca. E também eu sempre quis falar o que penso. Pensei: “estou com essa oportunidade e vou me arriscar”. O outro caminho da minha carreira eu já conhecia – a carreira na TV é muito promissora mas há também muito ego e vaidade. Esse outro caminho eu não sabia na época onde ia dar. Começou muito duro, mas aprendi com Gandhi que “o primeiro compromisso que você assume, você cumpre”. E assim, os caminhos se abriram.

pra mim muito sobre acreditar em você mesmo. O mestre está dentro de você. A compreensão está dentro de você.

T: Que lições de Gandhi você adotou para a sua vida? JS: Parar de mentir completamente e cumprir o que se promete. Isso muda toda a sua relação com o trabalho.

T: E fazendo um paralelo com a sua vida. O que o move a interpretar Gandhi todo esse tempo? JS: Sinto que a minha missão é levar as ideias e a visão de Gandhi para um número cada vez maior de pessoas. Eu me considero mais um comunicador, dando a minha vida para passar uma mensagem que pode fazer a diferença na vida das pessoas. Um dia um professor de Tai Chi Chuan disse para mim “a sua missão é com a voz e não com a escrita” e completou com uma mensagem que sempre me recordo “seja como água, passe por todos os cantinhos, não se fixe em nada e deságue no oceano da vida”. E quando interpretei Gandhi entendi o que era a missão através da voz.

T: No seu ponto de vista, o que movia o coração de Gandhi a “sacrificar” a própria vida? JS: Gandhi tinha um profundo amor pelo país dele, pelos indianos e pela humanidade. Ele poderia não ser um bom pai, mas abre mão da própria vida porque tinha um compromisso em prol da humanidade.

T: A espiritualidade passou a permear sua vida de outra maneira? JS: Eu nasci numa cidade do interior de Minas Gerais. Desde menino eu me perguntava o que eu estava fazendo aqui – esse era o assunto das conversas com um amigo aos 12 anos. O que fiz foi abrir um mundo vasto de conhecimento nesse campo – conheci as religiões brasileiras de influência africana, frequentei as igrejas católica e presbiteriana, estudei espiritismo, hinduísmo, pratiquei Tai Chi Chuan e foi aí que abri o mundo para a espiritualidade.

T: Na sua peça, você provoca o público a refletir. Vivenciou alguma história ou depoimento que o emocionou após uma apresentação? JS: Eu faço muito a peça em presídios e na Fundação Casa. Um dia depois de uma apresentação, a diretora do pre-

T: Você também cita Yogananda como um líder espiritual que admira. O que ele ensina para sua vida? JS: Yogananda teve uma representação na vida de Gandhi e também trouxe 27


fotos: divulgação

João Signorelli na peça Gandhi, um líder servidor 28


sídio me ligou para contar o relato de uma detenta que dizia “quando me recolhi para a cela, eu senti pela primeira vez na minha vida, uma mão amiga no meu ombro”. Outra vez, uma menina de 12 anos da Fundação Casa relatou que havia aprendido a seguinte lição: “meu corpo pode estar preso, mas meu espírito está livre”. Num outro contexto, quando fiz a apresentação para diretores de um banco, um dos executivos levou para casa um dos ensinamentos de Gandhi - “quando eu converso com uma criança, eu gosto de me abaixar para falar com ela no mesmo nível” – e ele me ligou para contar que “ontem à noite, abaixei para falar com a minha filha e foi completamente diferente”. Essas histórias me emocionam muito. As pessoas precisam valorizar mais esse simplicidade. All you need is love! T: O que mais podemos aprender com Gandhi hoje? JS: Duas citações de Gandhi tem grande significado pra mim. Na primeira, uma mãe pede a Gandhi que seu filho pare de comer açúcar. Gandhi orienta que ela volte daqui um mês com seu filho. Ela retorna depois de um mês com seu filho e Gandhi diz a ele “Você deve parar de comer açúcar”. A mãe pergunta por que ele não passou essa orientação há um mês e a resposta foi: “No mês passado, eu também comia”. Aqui Gandhi mostra a importância de ter líderes que deem o exemplo. Outra citação que gosto muito é “O amor educa, o amor nutre, o amor pulsa, o amor cura, o amor faz nascer, o amor encoraja, o amor movimenta, o amor motiva, o amor alivia, o amor mobiliza, o amor possibilita a vida.”. Essa frase aparece no momento da peça em que Gandhi jejua por amor. Em meu personagem, trago os movimentos do Tai Chi Chuan para retirar as nuvens da ignorância e citar as qualidades do amor. É quando trago reflexões diretamente para a plateia: “convido você para ser um exemplo às suas gerações”; “quero que você deixe a sua marca gravada nos corações humanos a ponto de ser lembrado por muitas vidas depois como semeador da prosperidade, da paz interior”; a outra pessoa digo “que cada palavra sua e cada gestor seu toque a alma de todos”...e assim encerro. Se a vida permitir, vou sempre fazer esse trabalho.

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Alimentação sem carne: cinco passos que ajudarão você nessa nova jornada! Por Drª Amarantha Ribas

foto: pixabay

NUTRIÇÃO


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s doenças crônicas não transmissíveis estão intimamente relacionadas com a alimentação e estilo de vida. Em 2011, foram responsáveis por dois terços das mortes do mundo sendo as quatro principais causas: as doenças cardiovasculares, o câncer, o diabetes e as doenças pulmonares crônicas. O modelo alimentar baseado em derivados animais, uma construção histórico-cultural tão enraizada em nosso planeta, é excessivo em proteínas de origem animal, o que sobrecarrega os rins, acidifica o organismo, potencializa a desmineralização óssea bem como a formação de cálculos renais devido à perda de cálcio urinária, entre outros. Podemos citar também as gorduras maléficas, açúcar, alimentos refinados e processados; e as carências nutricionais sérias, passíveis de acontecer – se assim não fosse, não existiria a preocupação médica e governamental com a suplementação de ferro, ácido fólico, iodo, vitamina A e cálcio – para a população onívora. Já havia pensado desta forma? Alguma vez passou pela sua cabeça que os onívoros (pessoas que se alimentam de derivados animais) não estão tão bem alimentados como se supunha? Agora sim podemos começar! Já retiramos a alimentação onívora de seu falso pedestal. Penso que ficaram nítidas as suas deficiências, problemas e falhas, não? Quero agora ressignificar o vegetarianismo ou o veganismo, atribuindolhes seu verdadeiro e merecido valor. Tal superioridade sobre a alimentação

“Nenhum alimento contém todos os nutrientes e nenhum nutriente está contido em apenas um alimento.”

baseada em alimentos de origem animal tem sido reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) nos últimos anos. Também a ADA (American Dietetic Association) afirma que a alimentação de base vegetariana ou vegana são adequadas em todas as fases da vida, inclusive durante a gravidez e lactação, infância e adolescência e promove crescimento e desenvolvimento normal quando bem balanceada. Órgãos e entidades brasileiras associados ao tema também apoiam. Outro ponto que deve ficar muito claro é que não existe nenhum problema nutricional exclusivo de vegetarianos ou veganos. Isto é muito importante saber antes de avançarmos. Problemas com a nutrição estão relacionados à saúde e à capacidade absortiva do organismo, bem como da adequação da alimentação como um todo. Nenhum alimento contém todos os nutrientes e nenhum nutriente está contido em apenas um alimento.


“Tome o tempo que precisar para poder instalar todas as mudanças que precisa na sua rotina e de preferência sem a intromissão alheia.”

Quando uma pessoa se torna vegetariana ou vegana, o que era apenas o acompanhamento na alimentação onívora – como legumes, verduras, entre outros - passam a ser parte do prato principal. Isso faz com que aquela pessoa que adota a nova dieta passe a buscar uma variedade maior de gêneros alimentícios, tendendo naturalmente ao balanceamento alimentar, ou seja, ao equilíbrio de nutrientes. Como profissional, aconselho a todos a acompanhar o equilíbrio nutricional com exames de rotina, de preferência que incluam a dosagem da ferritina, zinco e da vitamina B12, antes de se aventurar no mundo vegetariano ou vegano. Muitas pessoas já apresentam falta de micronutrientes e, quando assumem a nova alimentação sem derivados de animais, sua nutrição pode empobrecer ainda mais. Isto faz com que a pessoa desista de seguir uma nova linha alimentar como também passe a condenar e desmotivar outros a ingressar neste universo – o que é uma lástima! Para que isto não aconteça com você, veja como está sua saúde, até para ter um comparativo depois. Lembre-se, ao mudarmos nossa alimentação passamos a ser um exemplo para as demais pessoas. Bem, se você está me acompanhando até aqui é sinal de que já está comtemplando mudanças na sua vida. Assim sendo gostaria de parabenizá-lo pela sábia decisão e convidá-lo a tornar-se vegetariano ou mesmo vegano. É algo que irá salvar a vida de muitos animais e também a sua! Acrescentará em média dez anos à sua expectativa de vida; reduzirá suas chances de adoecer dos mais variados tipos de doenças; sentirá mais vitalidade, disposição e leveza. A seguir, conheça o passo-a-passo que irá auxiliá-lo nesta jornada: 32


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Passo 1 – Acrescente! Aventure-se num universo novo de alimentos, cores e sabores. O desafio aqui é ingerir a cada dia algo diferente em uma das três principais refeições. Conheça feijões e tipos de arroz diferentes. Experimente colorir o prato com frutas e/ou verduras exóticas, coloque algas na salada, faça patê de leguminosas (feijões, lentilha, ervilha, grão de bico), invente deliciosos molhos com tofu, conheça a chia, linhaça, gergelim, amaranto, quinoa. Invente, crie, inove e compartilhe!

Passo 2 – Estabeleça (e comemore) ganhos de curto prazo Tenha em mente o objetivo final, mas para chegar lá estipule metas pequenas para que possa cumprir com facilidade. Exemplo: comece retirando a carne vermelha. Permita-se fortalecer neste passo, mantenha-se firme. Após exercitar bem na sua casa este novo modelo alimentar comece a treinar nas reuniões sociais, churrascos e encontros com a família. Faça pactos indissociáveis consigo mesmo não abrindo mão das suas convicções só para agradar aos outros. Após este período então, quando já estiver bem seguro “nas suas pernas”, avance para a retirada do frango e assim por diante. 33


Passo 3 – Respire fundo... e persista! Uma boa dica é ter paciência consigo mesmo já que todos nós temos nosso próprio ritmo. Conscientize-se de que ao longo de todo o processo poderá haver lapsos ou recaídas, isto é, retorno ao consumo dentro de uma situação de abstinência. Saiba, contudo a aprender através de suas recaídas ao invés de se sentir desmoralizado com elas. Entenda a complexidade que existe em mudar em vez de reduzir tudo a um único evento, ou seja, ter pequenos retrocessos de modo algum significa que perdeu todo o seu trabalho. Deixar de comer derivados animais ao meu ver é como deixar um vício tal qual qualquer outro. Aliás, é disso que se trata: um vício do paladar banalizado pela sociedade. Quando estiver executando este passo experiente a técnica do “só por hoje” e/ ou do “só por agora”. Por exemplo: “... só por agora não quero comer carne vermelha” ou “só por hoje continuarei firme no meu propósito de me tornar vegetariano”, e assim por diante.

Passo 4 – Esqueça os rótulos De início, rótulos como nomear-se vegetariano ou vegano não são necessários - ao contrário, podem atrapalhar. As pessoas ao seu redor passarão a fazer cobranças, perguntas, comparações e dessa forma haverá um gasto e tanto de energia que poderá ser poupada em prol da realização dos seus objetivos. Tome o tempo que precisar para poder instalar todas as mudanças que precisa na sua rotina e de preferência sem a intromissão alheia. Quando perguntarem a você diga apenas que não quer comer naquele momento ou que é uma opção sua. Não é preciso entrar em muitos detalhes para não perder o foco e a motivação. Você terá uma vida inteira para lidar com estas questões sociais. Faça isso apenas quando a sua “lagarta” já tiver se transformado em “borboleta”, enfim, quando houver consolidado a sua transformação interior. Passo 5 – Surpreenda-se! Procure aprender a cozinhar e faça mais refeições em casa. Surpreenda seus familiares e amigos com receitas novas e deliciosas sem derivados animais. Não é preciso dizer que num primeiro momento que é um prato vegetariano, apenas deixe que comam e que se deliciem. Uma boa comida vale mais do que mil palavras.

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Parabéns! Agora que você já é um vegetariano ou vegano, conheça dicas práticas para o dia a dia, garantindo a manutenção dos principais nutrientes:

Vitamina B12 Este é o mais polêmico de todos os micronutrientes quando se fala em alimentação sem derivados animais. Porém a verdade é clara: a deficiência desta vitamina não é privilégio de vegetarianos! Tem sido cada vez mais comum os médicos solicitarem a dosagem de B12 para o público em geral, principalmente idosos. Minha dica é exatamente esta: faça a dosagem através de um exame simples de sangue e suplemente caso seja necessário!

Cálcio Pelo simples fato de não consumir proteínas vegetais o organismo já passa a poupá-lo. Além disso, as fontes vegetais de cálcio são superiores ao leite por inúmeros motivos nutricionais incluindo biodisponibilidade e absorção. Amêndoas, melado escuro de cana, grão de bico, quinoa, gergelim, tofu, coentro cru, semente de chia, couve, agrião escarola, mostarda (folhas), rúcula e brócolis são excelentes fontes. 35


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Ferro A incidência de anemia ferropriva é idêntica na população vegetariana quando comparada à população onívora. Na verdade, a importância dada ao ferro da carne é excessiva já que este alimento corresponde a apenas cerca de 30% da fonte de um onívoro. Dentro do grupo dos vegetarianos observa-se que os lacto-vegetarianos e os ovo-lacto-vegetarianos têm maior probabilidade de desenvolver anemia ferropriva do que os vegetarianos estritos devido ao antagonismo existente entre o consumo de leite e a absorção de ferro pelo corpo humano. Os vegetais de folhas verdes escuros são excelentes fontes deste mineral (coentro cru, couve, rúcula, agrião, broto de girassol, ora-pro-nóbis, etc) e também lentilha, melado escuro de cana, quinoa, feijão preto, feijão carioca, gergelim e frutas secas.

Ômega 3 Diariamente deve-se consumir uma quantidade mínima desses ácidos graxos que podem ser encontrados em uma (1) colher de óleo de linhaça; três (3) colheres de sopa de linhaça em grãos; três (3) colheres de sopa de chia em grãos ou ainda um quarto (1/4) de xícara de nozes.

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Proteínas As vegetais tem a mesma eficiência que as animais, com a vantagem de terem melhor qualidade no quesito gorduras sendo, portanto, mais saudáveis e mais facilmente digeríveis. São constituídas pelas leguminosas (todos os tipos de feijões, ou seja, o preto, branco, jalo, feijão soja, lentilha, ervilha, grão de bico entre outros). Ingerindo cerca de oito (8) colheres de qualquer desses grãos por dia sem o caldo (que deve ser colocado depois) está perfeito em termos de aportes proteicos principalmente se forem misturadas com arroz. Esta combinação brasileira de feijão com arroz é perfeita em termos de proteínas e contém todos os aminoácidos que o corpo humano precisa! Também são fontes proteicas, as sementes oleaginosas (castanha de caju, do Pará, macadâmia, etc) e cereais (quinoa, amaranto). A dica aqui é variar o máximo possível evitando a monotonia alimentar. Ressalto que a soja é um tipo de leguminosa como qualquer outra e a PTS (proteína texturizada de soja) nunca deverá entrar em “substituição” à carne, a não ser por um efeito psicológico e visual do prato. Até porque essa ideia de substituir a carne já é equivocada em si mesma. Zinco Constituem fontes valiosas deste mineral o feijão branco, gérmen de trigo, aveia e semente de abóbora. quer saber mais dicas sobre o assunto ? entre em contato com nossa redação

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A hist贸ria do hindu铆smo Por Swami Bhaskarananda


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hinduísmo é uma das religiões mais importantes do mundo, sendo também considerada a mais antiga. Existem hoje, aproximadamente, 1,3 bilhões de hindus. A maioria está na Índia, mas populações significativas também vivem em Nepal, Ilhas Maurício, Ilhas Fiji, África do Sul, Sri Lanka, Guiana e Indonésia (Bali).

OS ANCESTRAIS DOS HINDUS E SUA RELIGIÃO Os ancestrais dos hindus eram conhecidos, em sânscrito, como āryas. A palavra equivalente em português é ariano ou indo-ariano. Os arianos chamavam sua religião de Ārya Dharma – a “religião dos arianos” e desconheciam completamente a palavra hinduísmo. A palavra dharma, nesse contexto, significa religião ou deveres religiosos. O sânscrito, que pertence a família de línguas indo-europeias, era o idioma dos indo-arianos. Os arianos também chamavam sua religião de Mānava Dharma ou a “religião do homem”, o que significava não ser essa uma religião aplicável a toda humanidade. Um outro nome era Sanātana Dharma – a religião eterna, ilustrando a sua crença de que a sua religião se baseava em verdades eternas. O nome “hinduísmo” veio bem mais tarde. Um dos países vizinhos, a Pérsia, fazia fronteira com a Índia antiga, que era conhecida como Āryāvarta – a terra dos arianos. A fronteira entre a Pérsia e a Índia antiga era o rio Indus, em sânscrito, Sindhu. Os persas não conseguiam pronunciar a palavra sindhu corretamente e pronunciavam-na hindu, e também se referiam aos arianos que viviam na outra margem do rio, como hindus. Assim, a religião dos arianos passou a ser conhecida como hinduísmo. O hinduísmo tem a distinção única de não ter um fundador conhecido. E como pode existir uma religião sem um fundador? As verdades eternas e supra-sensoriais descobertas por sábios da Índia antiga são a fundação do hinduísmo. Esses sábios preferiram permanecer anônimos porque perceberam que essas verdades devem ter sempre existido, assim como a lei da gravidade já existia quando foi descoberta por Newton. Os sábios também compreenderam que essas verdades eternas haviam vindo de Deus, a mesma fonte de toda criação, e as chamam de apaurusheya – não provenientes do homem, mas sim de Deus. 40


Tal mente, pode então vislumbrar o que está além do domínio dos sentidos e adquire capacidades extraordinárias. Torna-se onisciente e pode saber de todos os eventos do passado, do presente e do futuro. Um verdadeiro santo possui uma mente pura assim. Com a ajuda de tal mente, o santo vem a saber a verdade a respeito de Deus, da alma, da criação, etc. Essas verdades são chamadas de verdades supra-sensoriais ou verdades metafísicas. O hinduísmo, assim como outras importantes religiões do mundo, baseia-se nessas verdades que foram descobertas por seus sábios de mente pura.

VERDADES SUPRA-SENSORIAIS: A BASE DO HINDUÍSMO De onde veio o universo, e como? Se existe um criador, como é Ele? Qual o relacionamento entre a criação e o criador? O que nos acontece quando morremos? Nós existimos depois da morte? Será que existíamos antes de nossos nascimentos? Tais perguntas têm desafiado a mente humana desde o aparecimento da humanidade. Quaisquer que sejam as respostas encontradas, elas se baseiam em mera especulação. Mas alguns santos espiritualmente iluminados, com a ajuda de suas mentes purificadas, acharam as respostas e as tornaram conhecidas para nós por meio das escrituras que, de acordo com o hinduísmo, são únicas na sua habilidade de revelar verdades desconhecidas por mentes impuras. Uma mente impura, não importa o quão inteligente, tem muitas limitações e não conhece nada além do domínio da percepção sensorial, ou seja, do que está além do mundo do tempo e do espaço. Não pode saber o que vai acontecer no momento seguinte ou o que aconteceu no passado distante. Verdades metafísicas, tais como o conhecimento da existência de Deus, estão além do alcance de uma mente assim. Mas, quando essa mesma mente é purificada ou transformada através de disciplinas espirituais e se torna uma mente extraordinária, ela pode transcender as barreiras do mundo sensorial e alcançar a fronteira mais longínqua do mundo, do tempo e do espaço.

A REALIZAÇÃO DE DEUS: A INEVITÁVEL META O hinduísmo reconhece quatro metas da vida humana: Kāma Satisfação dos desejos por prazeres sensórios. É a mais inferior, sendo o impulso comum aos homens e animais. Artha Aquisição de coisas do mundo e dinheiro, sendo percebida principalmente nos seres humanos. É superior à Kāma. Dharma Observância de deveres religiosos. É treinar-se no sacrifício próprio por meio de deveres ditados pelas escrituras, sendo praticado até para adquirir coisas do mundo ou satisfazer paixões. 41


Kāma e Artha estão enraizadas no egoísmo, enquanto que Dharma não está e por isso é superior a estas. Moksha Liberação atingida através da realização de Deus. O hinduísmo acredita na onipresença de Deus e fala da presença da divindade em todos os seres humanos que, embora igualmente presente em todos, não está igualmente manifestada. O propósito das práticas espirituais é manifestar essa divindade inerente e quando ela se manifesta completamente, tal pessoa é uma alma que realizou Deus e atingiu Moksha. É o verdadeiro Ser do indivíduo e é o âmago da existência humana. A pessoa pode deixar de lado qualquer coisa, mas não aquilo que é o âmago do seu Ser. Mais cedo ou mais tarde, esse verdadeiro Ser, ou divindade, deve se manifestar. Todos, sem exceção irão finalmente atingir Moksha. Algumas almas altamente evoluídas podem conseguir isso nesta vida, ou após suas mortes. Outros, não tão evoluídos, podem necessitar de muitas outras encarnações. O esforço consciente ou a prática espiritual sincera, contudo, podem ajudar no alcance mais rápido da meta. De acordo com o hinduísmo, a bem-aventurança infinita é um dos principais aspectos da divindade. Até mesmo através de kāma ou artha, o homem está tentando, inconscientemente, alcançar seu Ser divino. Não importa o quanto se consiga prazer ou dinheiro, sempre se quer mais, pois a satisfação não pode ser encontrada através deles. A felicidade proveniente do prazer e do dinheiro é finita e não leva a lugar algum. Esse conhecimento o inspira a mudar de direção e buscar essa fonte perene de bem-aventurança infinita, em que todos seus desejos e vontades desaparecem. Ela tem então a experiência de Deus – a divindade que tudo permeia – dentro e fora de si. Experiencia Deus enquanto essência de tudo e de todos os seres. Ama a todos, até mesmo seus inimigos, porque não vê inimigos em ninguém. Ela transcende todo o sofrimento, o medo e a tristeza. Neste estado, qualquer interação com o mundo é a experiência mais feliz e recompensadora, porque é na verdade, interação com Deus. Ela se vê como parte de um jogo divino, em que Deus 42


“(...) Deus não é responsável pelo prazer e dor de Suas criaturas. São as criaturas que são responsáveis pelo próprio desfrute e sofrimento, e sofrem ou desfrutam graças às consequências dos seus próprios atos ruins ou bons.”

representa todos os papéis, inclusive o seu. Ela já não consegue se identificar com o seu complexo mente-corpo, que está sujeito ao nascimento, a mudança, a decadência e a morte. Ela adquire então, a convicção inabalável de que é o eterno, divino espírito – sem nascimento e sem morte. Isto é moksha ou “liberação”. Moksha é a inevitável meta da vida humana. Em comparação a essa intensa experiência de bem-aventurança, qualquer outra felicidade, proveniente dos sentidos, é sem sabor e insípida. As escrituras do hinduísmo, recorrentemente, insistem que os hindus se esforcem para essa meta. OS LIVROS SAGRADOS: OS TEXTOS REVELADOS As verdades divinas reveladas chamam-se Vedas. A palavra sânscrita veda, significa conhecimento. Os sábios hindus, consideravam essas verdades tão sagradas que, por muito tempo, elas não foram escritas. Eles as preservaram em suas memórias, e as ensinaram a estudantes merecedores, através da instrução oral. Um sábio ou um santo, no contexto do hinduísmo, é alguém que experienciou Deus diretamente nesta vida. Uma pessoa que possui virtudes nobres e se engaja em boas ações é apreciada no hinduísmo. Mas não é necessariamente uma pessoa santa. Além disso, no hinduísmo, a santidade não é reconhecida através da canonização após a morte. Com o tempo houve a necessidade de coletar e compilar as verdades védicas. Um sábio chamado Vyāsa as coletou de 43


O Razmnama, ou Livro das Guerras, é a tradução Persa do grnde épico indiano, o Mahabharata. Nesta ilustração, datada de 1616 de autoria de Mughal, o deus Drupada visita o deus Shiva


diferentes fontes e as registrou num livro chamado Vedas. Os Vedas tinham quatro partes – Rig-Veda, Sāma-Veda, Yajur-Veda e Atharva-Veda. Os textos mais antigos dos Vedas, tal como os hinos do Rig-Veda, foram escritos numa forma arcaica de sânscrito, chamada de sânscrito védico.

pertencem à categoria smriti. A palavra smriti tem também um significado técnico. Significa, livro de leis, ou, manual de códigos de conduta para os hindus. Entre esses antigos livros de leis, o livro de leis de Manu é o mais conhecido. Yājnavalkya, Baudhāyana, Āpastamba, Vashishtha e Gautama são outros antigos legisladores. O livro de leis mais recente, teve como autor, Raghunandana.

Samhitâ e Brâhmana Como foi mencionado anteriormente, os Vedas têm quatro partes: Rig-Veda, Sāma-Veda, Yajur-Veda e Atharva-Veda. Cada um desses trabalhos consiste de duas partes: Samhitā e Brāhmana. A primeira contém hinos, e a segunda explica esses hinos, instruindo a respeito de quando e como usa-los.

Darshanas: escolas da filosofia religiosa hindu Seis diferentes sistemas de filosofia, chamados de Darshanas, foram desenvolvidos por sábios hindus em épocas diferentes. Esses são sistemas filosóficos “religiosos” porque são fundamentados nos Vedas. Também conhecidos como os Seis Sistemas da Filosofia Indiana, esses são: Sānkhya, fundado por Kapila; Pūrva Mīmāmsā, fundado por Jaimini; Uttara Mīmāmsā, ou Vedānta, fundado por Vyāsa e que não deve ser confundido com o outro significado da palavra, os Upanishads; Yoga, fundado por Patanjali; Nyāya, fundado por Gotama; Vaisheshika, fundado por Kanāda. Todos os autores desses sistemas escreveram tratados originais, usando aforismos concisos que se chamam, em sânscrito, sūtras. Os sūtras, por serem breves e tersos, necessitavam de notas exploratórias e comentários, que foram escritos mais tarde por outros eruditos. O tratado de Vyāsa, que forma a base do sistema Uttara Mīmāmsā, é também conhecido como Vedānta Darshana ou Brahmasūtra.

Upanishads Os Vedas também apresentam alguns textos altamente filosóficos, conhecidos como Upanishads. Os Upanishads também se chamam Vedānta – o apogeu, ou a culminação do conhecimento. Entre os 108 Upanishads disponíveis hoje, os seguintes são os mais populares: Isha, Kena, Katha, Mundaka, Māndūkya, Aitareya, Taittirīya, Chhāndogya, Prashna, Shvetāshvatara e Brihadāranyaka. Smritis Todas as escrituras hindus, com exceção das Darshanas e Tantras, se encaixam em duas categorias: (1) Vedas e (2) Smritis. As escrituras védicas são a autoridade final. As escrituras pertencentes à categoria smriti têm somente uma autoridade secundária, e todas as escrituras, exceto os Vedas, 45


Muitos comentadores escreveram a respeito desse tratado, por exemplo: Shankarāchārya (700 – 740 a.C.), Rāmānujāchārya (1017 – 1137) e Madhvāchārya (1199 – 1278).

de escrituras. O Bhagavad Gitā, talvez a escritura mais popular do hinduísmo, está incluída no Māhabhārata. Ambos, o Rāmāyana e o Māhabhārata, trazem muitos personagens que são considerados modelos, para o hindu de mente religiosa.

Purânas As verdades mais profundas das escrituras do hinduísmo são muito difíceis e de difícil compreensão. Por isso, os sábios da Índia, criaram um tipo especial de literatura religiosa, chamada Purānas, para que pudessem apresentar aquelas verdades de forma interessante e fácil de entender. Nos Purānas os ensinamentos são apresentados através de estórias e parábolas. Ao todo, hoje existem dezoito Purānas, e entre eles estão o Bhāgavata Purāna, o Skanda Purāna, o Vâyu Purāna, o Padma Purāna, o Mārkandeya Purāna e Agni Purāna. O Chandī, ou Devīmāhātmyam, um popular livro do hinduísmo, é na verdade, parte do Mārkandeya Purāna.

Bhagavad Gītā Essa popular escritura hindu é parte do Māhabhārata. Ela é um diálogo entre Srī Krishna, uma encarnação divina, e um príncipe ariano chamado Arjuna. Ao responder as perguntas de seu discípulo Arjuna, Srī Krishna revela muitos excelentes ensinamentos espirituais. Esses ensinamentos são um grande tesouro do hinduísmo. O Bhagavad Gītā contém a maioria dos ensinamentos essenciais dos Upanishads, o que o coloca numa posição semelhante àquela dos Upanishads. Tantras Paralelo às disciplinas védicas, o hinduísmo tem um outro conjunto de disciplinas chamado de Tantras. Nas disciplinas tântricas, Deus é visto como um princípio masculino e feminino, respectivamente, Shiva e Shakti. Shakti é o poder criativo de Shiva. Em termos modernos, Shiva pode ser comparado a energia potencial, e Shakti, a energia cinética. Quando a energia potencial se torna ativa, ela se chama energia cinética. Quando Shiva se torna ativo, Ele se chama Shakti. Da mesma forma, quando Shakti está inativa, ela se chama Shiva. É Shakti que cria esse mundo. A relação entre Shiva e Shakti, é como a relação entre

Os dois épicos: Rāmāyana & Mahābhārata Os hindus podem se orgulhar de dois grandes épicos, o Rāmāyana e o Māhabhārata, que foram compostos por dois sábios, respectivamente, Vālmīki e Vyāsa. Esses dois épicos, que também se chamam Itihāsa, contém muitos ensinamentos das escrituras, lado a lado, com estórias de várias dinastias e clãs. Esses épicos são riquíssimos em seus tesouros literários e em seu conteúdo mitológico. A profusão de ensinamentos morais e espirituais contidos neles, elevaram-nos ao nível 46


o fogo e o seu poder de queimar, ou seja, são sempre um, inseparáveis. Contudo, Shakti tem outros nomes, e um deles é Pārvatī. HINDUÍSMO – UM MODO DE VIDA Muitos eruditos têm corretamente descrito o hinduísmo como um modo de vida. Todos os importantes eventos da vida hindu tem de ser santificados através da observância religiosa. Esse ritual de santificação ou sacramento, em sânscrito chama-se samskāra. Existem dez desses samskāras, que dizem respeito ao (1) casamento, (2) a consumação do casamento, (3) as preces para o bem estar de uma mulher grávida, (4) o nascimento de uma criança, (5) dar nome ao bebê, (6) dar ao bebê o seu primeiro alimento sólido, (7) o primeiro corte de cabelo do bebê, (8) a introdução da criança a seus estudos, (9) a Upanayana ou, cerimônia do cordão sagrado, e (10) o retorno do estudante para casa ao completar seus estudos no lar do mestre. Para todos esses eventos, um ritual de adoração específico tem de ser executado. Fora os acima mencionados, existem rituais religiosos prescritos para (1) o funeral dos que partiram, (2) honras pós funerárias para os que partiram (a cerimônia da Shrāddha), (3) a construção de uma nova casa, (4) entrar numa casa nova, (5) iniciação espiritual, e (6) a chegada das meninas à puberdade. Hoje, com a passagem do tempo e por causa dos diferentes estilos de vida dos hindus, nem todos os samskāras mencionados acima são seguidos com tanto rigor, e em circunstancias especiais tais lapsos são até mesmo perdoados pelo hinduísmo. Por exemplo, as escrituras dizem que um hindu não precisa ser estrito na observância das injunções e proibições das escrituras quando em uma terra estrangeira, se tais circunstancias não forem favoráveis a tais observâncias. A CONDICÃO DAS MULHERES NA ATUAL SOCIEDADE HINDU A maternidade é considerada a maior gloria das mulheres hindus. O Taittirīya Upanishad, “Mātridevo bhava” – “Que a sua mãe seja um deus para você”. A tradição hindu re47


conhece a mãe e a terra mãe, superiores até ao paraíso. O épico Mahābhārata diz, “Enquanto o pai é superior a dez sacerdotes brahmins conhecedores dos vedas, uma mãe é superior a dez desses pais, ou ao mundo inteiro”. No hinduísmo, Deus é visto também como a Mãe Divina, e as bênçãos de ambos, pais e mães, são queridas pelos filhos para que esses sucedam na vida. Considera-se o amor materno, o amor mais não egoísta, pois quando uma mãe cuida do bebê, tudo que ela quer é o bem estar do bebê e não espera nada em retorno. Isso torna o seu amor superior às outras formas de amor no mundo. Essas são as razões pelas quais uma mãe hindu é altamente adorada por seus filhos. Para seus filhos, ela é a própria encarnação da castidade, da pureza e do amor não egoísta. A sociedade hindu jamais tolerará que uma mãe ou irmã sejam insultadas, e uma revolta pode começar na Índia, pela punição daquele que forçosamente tenha violado a castidade de uma mulher ou moça hindu. Para entender a posição da mulher na sociedade hindu, na Índia antiga mulheres eram vítimas de agressores. Como resultado disso, a sociedade hindu tornou-se mais e mais protetora de suas mulheres, reduzindo a liberdade e cobrindo os rostos com véus. No final do século 19, durante o domínio britânico, um grande reformista, Rājā Rāmmoham Roy (1772 – 1833 ), acreditava entre outras coisas, em dar uma educação mais elevada e mais liberdade social para as mulheres. “Não existe chance para o bem estar do mundo a não ser que a condição das mulheres melhore. É impossível para um pássaro, voar com apenas uma asa”. A Missão Rāmakrishna administra muitas instituições educacionais modelo para homens e mulheres na Índia. A VACA É SAGRADA? No Ocidente existe a ideia de que os hindus não comem carne vermelha porque consideram a vaca um animal sagrado. Essa noção não é correta. O hinduísmo, como as outras religiões teístas do mundo, acredita que Deus está presente em todos os lugares. Ela está igualmente presente em todos os seres e em todos os lugares, mas não igualmente manifestado. Deus está mais manifestado em uma encarnação divina ou em um santo, do que nos seres humanos normais, e ainda menos manifestado nos animais, nas 48


foto: antoine taveneaux

Vaca sagrada na rua da cidade de Jaisalmer, Ă?ndia em 2011


plantas e em outras formas inferiores de vida, como nas pedras. Portanto, Deus deve também estar presente na vaca, caso contrário, isso contradiria a ideia de Sua onipresença. Sendo Ele o que há de mais sagrado, o que quer que tenha a Sua presença tem de ser sagrado, e porque não uma vaca?

e é a partir desse princípio único que o mundo dos Muitos evoluiu. A genialidade indo-ariano finalmente chegou Àquele que é a única causa de tudo, o Único Deus, que em sânscrito védico chama-se Brahman. Após essa realização divina, os textos védicos repetidamente ecoaram a verdade a respeito da unidade de Brahman. As afirmações védicas como: “Ekam sad viprā bahudhā vadanti”- “Apenas Um existe, e os sábios chamam-No por vários nomes”, não só enfatiza a unidade de Deus, mas também cria uma firme fundação para a universalidade e a tolerância no hinduísmo. A ideia de harmonia entre as religiões é um ingrediente fundamental do hinduísmo. O grande sábio Manu declarou: “A pessoa deve conhecer o Espírito Supremo que tudo governa, mais sutil que o mais sutil, de gloria resplandecente, capaz de ser realizado pela meditação daqueles de mente pura. Alguns chamam-No Agni (o Fogo), outros chamam-No Manu (o Pensador), ou Prajāpati (o Senhor das criaturas), Indra (o Glorioso), Pranā (a Fonte da vida), e o eterno Brahman (o grandioso).

DEUS Desde o início, o hinduísmo vem evoluindo. Acreditasse que num estágio inicial, os ancestrais dos hindus tenham sido politeístas. A terra, a água, o fogo, o vento, o céu, o sol, o amanhecer, a noite e a tempestade eram todos deificados e adorados como deuses. Mas enquanto eram glorificados pelos hinos védicos, as pessoas dirigiam-se e referiam-se a cada um desses deuses como sendo o Deus Supremo, o Senhor de todos os deuses, e o criador deste universo. Gradualmente, a mente indo-ariana descobriu um denominador comum por detrás dessa multiplicidade de deuses. O hino Nāsadīya, ou o “hino da criação”, do Rig-Veda, nos conta numa linda e poética linguagem a respeito de um único e primordial princípio, extremamente abstrato, designado como AQUILO, a partir do qual o mundo inteiro evoluiu. Esse princípio é a pura consciência, ou puro espírito. Está além do mundo do espaço e do tempo, além da multiplicidade, insondável e impossível de ser conhecido por mentes humanas comuns. Tal princípio já existia antes mesmo que os deuses, os homens, ou qualquer outra coisa na criação existisse,

AS DEIDADES NO HINDUÍSMO Ao lado dos três aspectos básicos, Īshvara tem vários poderes e aspectos. Um ou mais desses aspectos estão personificados nas deidades do hinduísmo. Por exemplo, quando um hindu pensa em Īshvara como o doador do conhecimento e da sabedoria, tal aspecto é personificado na deidade Sarasvatī. Da mesma maneira, a deidade Lakshmī personifica Īshvara 50


como sendo o doador da riqueza e da prosperidade. Deveríamos entender claramente que as deidades não são muitos diferentes deuses, mas sim personificações de vários aspectos do mesmo e único Īshvara. A DOUTRINA DO KARMA O hinduísmo acredita na doutrina da causa e efeito, que em sânscrito chama-se Karmavāda – a teoria ou doutrina do karma. A palavra karma significa ação, e às vezes é usada para determinar o efeito de uma ação. De acordo com essa doutrina, boas ações produzem bons efeitos, e más ações, efeitos ruins. Geralmente, os efeitos ou frutos da ação chamam-se, em sânscrito, Karmaphala. Os frutos das boas ações trazem prazer e desfrute àquele que as praticou, enquanto que os frutos das más ações causam-no sofrimento e dor. A física conta-nos a respeito da conservação da energia, e de acordo com tal teoria, energia nunca é destruída, ao invés disso, um certo tipo de energia se transforma num outro tipo de energia. Usando essa ideia como uma analogia, podemos dizer que a energia despendida através de qualquer ação, apenas muda de forma e torna-se força karmica, ou Karmaphala. Essa força, como um bumerangue, inevitavelmente, mais cedo ou mais tarde, retorna à quem praticou a ação. Ao retornar ao agente, a forca karmica começa a agir em sua mente e corpo, causando prazer ou dor. Nenhum agente pode escapar de tal força karmica, que se exaure depois de trabalhar na mente e no corpo daquele que praticou a ação. Depois disso, essa energia torna-se parte do vasto reservatório de energia cósmica. De acordo com tal doutrina, Deus não é responsável pelo prazer e dor de Suas criaturas. São as criaturas que são responsáveis pelo próprio desfrute e sofrimento, e sofrem ou desfrutam graças às consequências dos seus próprios atos ruins ou bons. De acordo com o hinduísmo, Deus é Karmaphaladātā – o doador dos frutos das ações. Ele é o derradeiro distribuidor da justiça, e garante que todos recebam os seus próprios Karmaphalas, e não uma outra pessoa. Durante um período médio de vida, o agente pratica inumeráveis ações, e igualmente incontáveis são os efeitos. Nem todos os efeitos das ações retornam imediatamente ao 51


“(...) a genialidade de uma criança prodigiosa como Mozart não pode ser explicada apenas pela hereditariedade e pelos genes. Apenas a doutrina da reencarnação pode explicar tal fenômeno satisfatoriamente (...)”

agente, embora alguns o façam. Por exemplo, se uma pessoa planta uma macieira em seu jardim, em alguns anos ela poderá colher os frutos, mas se essa pessoa coloca a mão no fogo, isso terá um efeito imediato, sua mão estará queimada. A DOUTRINA DA REENCARNAÇÃO No hinduísmo, a ideia de reencarnação é tão antiga quanto o próprio hinduísmo. Para os estudantes de religião, a reencarnação é uma doutrina teológica, enquanto que a maioria dos hindus considera-a um fato. A evidência que sustenta a reencarnação vem de duas fontes: (1) Jātismaras – pessoas que se recordam de seus nascimentos prévios e (2) o testemunho dos santos e das escrituras. A literatura religiosa hindu está cheia de numerosas referências à reencarnação. No Bhagavad Gītā, Srī Krishna, uma encarnação divina diz para Arjuna, “Arjuna, Eu e você já nascemos muitas vezes no passado. Você não se lembra desses nascimentos, mas Eu me lembro de todos.” Nesse contexto em particular, Srī Krishna pode ser chamado de jātismara, uma pessoa que recorda-se de seus nascimentos prévios, mas não Arjuna. O hinduísmo acredita que não apenas encarnações divinas como Srī Krishna, mas também santos de mente pura se assim quiserem, podem recordar-se de suas encarnações passadas. Através dos anos, pessoas que não são encarnações divinas ou santos, tem demonstrado a rara habilidade de se lembrar de suas vidas passadas. Esse é um numero 52


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Representação de Lakshmī, deusa da prosperidade e riqueza.


muito pequeno. Não obstante, através das eras, a validade de muitos desses casos tem sido provada através de investigações imparciais na Índia. A doutrina da reencarnacão explica muitas coisas que caso contrário não podem ser explicadas. Por exemplo, a genialidade de uma criança prodigiosa como Mozart não pode ser explicada apenas pela hereditariedade e pelos genes. Apenas a doutrina da reencarnacão pode explicar tal fenômeno satisfatoriamente, pois tal prodígio deve ter sido um músico brilhante em sua vida anterior, que trouxe consigo tal talento para esta encarnação. Em resposta à pergunta, “Porque uma pessoa reencarna?” O hinduísmo diz que os desejos não satisfeitos das pessoas que partem, são os principais responsáveis por seus renascimentos, e para entender essa posição, a pessoa deve conhecer o ponto de vista do hinduísmo em relação à morte e ao que está além.

sendo mental, não pode ser o Ser. Esse Ser do homem, em sânscrito chama-se Ātman. Se Brahman fosse comparado a um oceano infinito, então o Ātman seria uma onda no oceano. O oceano nunca é diferente de suas ondas, e as ondas nuca são diferentes do oceano. Ambos são uma mesma coisa. É o Ātman que se torna este universo multifacetado. Se eu machuco alguém, na verdade machuco a mim mesmo, portanto não devo ferir ninguém e essa realização é a base da ética hindu. O Īsha Upanishad diz com grande beleza; “aquele que vê todos os seres no Ser e o Ser em todos os seres, não odeia ninguém”. A possibilidade de odiar os outros existe apenas quando não estamos cientes dessa unidade. O Brihadāranyaka Upanishad encontra-se num diálogo entre o sábio Yājnavalkya e a sua virtuosa esposa, Maitreyī. Durante o diálogo, diz que, torna-os queridos para nós. A meta espiritual do hinduísmo é experienciar esse Ser divino dentro e fora de nós.

A ÉTICA HINDU A fundação da ética hindu é o ensinamento védico de que Deus (Brahman) e o Ser interior do homem são um e o mesmo. Por detrás do homem psicofísico, está o Ser, que é divino. Ayam ātmā Brahma – “Este Ser é Brahman”, é o ensinamento fundamental das escrituras hindus. O Ser forma o âmago do ser do homem e é diferente do seu corpo físico, da sua energia vital, dos sentidos e da mente. O ego do homem não é esse Ser. O ego, ou a noção do Eu, é apenas uma idéia, é puramente mental, e

AS QUATRO YOGAS O hinduísmo fala de muitos caminhos diferentes para alcançar Deus. Desses, quatro são considerados os caminhos principais: (1) Bhakti Yoga – o caminho da devoção, (2) Jnāna Yoga – o caminho do questionamento racional, (3) Rāja Yoga – o caminho da concentração mental e (4) Karma Yoga – o caminho da ação correta. A palavra em sânscrito “yoga” significa unir – “união” entre o aspirante espiritual e Deus. De acordo com o hinduísmo, todas as pessoas se encaixam em qua54


tro vastas categorias: (1) a pessoa emocional, (2) a pessoa racional, (3) a pessoa meditativa e (4) a pessoa habitualmente muito ativa. Bhakti Yoga é adequada para a pessoa emocional, Jnāna Yoga para a pessoa racional, Rāja Yoga é adequada para a pessoa meditativa e Karma Yoga, prescrita para pessoas naturalmente inclinadas a atividade. Bhakti Yoga: o caminho da devoção Este caminho permite que a pessoa emocional tenha uma visão direta do Deus pessoal ou Īshvara. A emoção, amor, que é abundantemente disponível em todos, é habilidosamente usada como um meio para ter-se a visão de Deus. O amor nos seres humanos, geralmente está presente como “amor egoísta”. Se tal amor egoísta puder ser sublimado e direcionado em direção a Deus, torna-se um meio efetivo para a realização de Deus. A história Hindu e as lendas contam-nos a respeito de tais acontecimentos. Jnāna Yoga: o caminho do questionamento racional De acordo com um autor norte americano, um teólogo que pertence a igreja episcopal, “as pessoas mais criativas, construtivas e cheias de ideias, não tem muito envolvimento com igrejas. Para elas, os cânones da razão vêm primeiro, tornando a fé em algo secundário e questionável.” São especialmente essas pessoas que podem beneficiar-se com a Jnāna Yoga. Tal pessoa pode dizer, “Eu não posse aceitar as coisas apenas através da fé, e tenho dificuldade em acreditar no que os santos e os profetas dizem. Como eu posso ter certeza de que eles não estão iludidos ou enganados? Não posso acreditar em Deus porque ainda não O experienciei ou O conheci. Além disso, eu nem tenho certeza de que este mundo existe, porque esta coisa toda pode ser apenas uma ilusão ou uma projeção mental minha”. A Jnāna Yoga tentará resolver tais dúvidas dizendo, “você duvida da existência deste mundo, e você também duvida das experiências dos santos e dos profetas. O seu raciocínio pode duvidar de suas existências ou experiências, mas você não pode negar a sua própria existência enquanto aquele que duvida. Assim, enquanto aquele que duvida, você deve existir. Mas quem é você de fato? Será que você é o seu corpo físico, a sua energia vital, os seus sentidos ou sua mente? 55


Pois você não pode negar estar ciente de que os têm. O ‘proprietário’ e a ‘propriedade’ não podem ser a mesma coisa, devendo ser diferentes um do outro. Portanto, você não é o seu corpo físico, energia, sentidos ou mente, sendo diferente de todas essas coisas. Tente saber a sua verdadeira identidade, tente saber quem você realmente é”. Rāja Yoga: o caminho da concentração mental A Rāja Yoga é mais adequada para com uma tendência natural de explorar e conhecer a sua própria mente, para assim ganhar total maestria sobre ela. O fundador dessa yoga é o conhecido sábio Patanjali. A Rāja Yoga é geralmente chamada de yoga, ou Kriyā Yoga, e suas disciplinas consistem de oito passos: (1) yama, coibição interior, (2) niyama, cultivo de bons hábitos, (3) āsana, postura, (4) prānāyāma, a arte de controlar a respiração, (5) pratyāhāra, retirar-se dos sentidos, (6) dhāranā, fixar a mente num objeto escolhido, (7) dhyāna, meditação e (8) samādhi, intensa concentração mental. Karma Yoga: o caminho da ação correta No contexto da Karma Yoga, a palavra sânscrita karma significa trabalho ou ação. Pensar também pode ser considerado karma. Um verso do Bhagavad Gītā diz: “ninguém pode jamais permanecer sem trabalhar, mesmo que por um instante.” Trabalho, que pode ser físico ou mental é inevitável. Portanto, o impacto do trabalho na vida daquele que faz, não pode ser mais enfatizado. Mesmo a tentativa de não trabalhar, transforma-se em trabalho. De acordo com o hinduísmo, trabalhar é inevitável, mas tem uma desvantagem. Qualquer trabalho feito com apego a seu resultado gera um tipo de escravidão psicológica para aquele que pratica a ação. Karma Yoga ensina o segredo de como manter a liberdade mesmo que se trabalhe o tempo todo. O segredo está em trabalhar sem nenhum apego aos resultados do trabalho. Apego é o envolvimento egoísta e está sempre enraizado em expectativas egoístas. Portanto, o trabalho feito sem apego ao resultado, não é outra coisa senão um trabalho não egoísta. A arte e a ciência de executar trabalhos não egoístas é a Karma Yoga ou a Yoga da ação correta. Não é fácil trabalhar de forma não egoís56


ta, por isso um estudante da Karma Yoga é aconselhado a trabalhar pelo prazer de Deus. Se o trabalho for feito para Deus e não para si mesmo, tal trabalho torna-se trabalho não egoísta. Entretanto, podemos argumentar que mesmo quando uma pessoa trabalha para Deus, na verdade, o desejo do progredir espiritualmente é que motiva a sua ação. Portanto, tal ação não pode ser verdadeiramente chamada de ação não egoísta. Mas de acordo com a Karma Yoga, desejar progresso espiritual não é considerado egoísmo, mas sim um egoísmo “iluminado” e não é prejudicial. ADORAÇÃO DE DEUS ATRAVÉS DAS IMAGENS Na mente de muitas pessoas existe a noção de que os hindus são idólatras porque normalmente eles usam imagens para adorar a Deus. Mas tal noção é absolutamente incorreta. Imagens não são nada além de “símbolos” do poder e da glória de Deus (Īshvara). Através de tais símbolos tangíveis, o hindu tenta estabelecer contato com o Īshvara intangível. Da mesma maneira que a fotografia do pai de uma pessoa não é na verdade o pai da pessoa, mas apenas um artifício para recordar-se dele, assim também, uma imagem simbolizando algum dos poderes ou glórias de Deus, nunca é considerada pelo hindu como sendo o próprio Deus. Apenas o ajuda a recordar-se de Deus. A imagem, que é um símbolo, age como um elo entre Deus e o Seu adorador, e quando através de tal adoração, o adorador estabelece uma comunhão mental com Deus, a adoração termina. Então já não existe a necessidade das imagens. Por isso que os hindus descartam as imagens depois da adoração, imergindo -as em lagos ou rios. OM - O SÍMBOLO SAGRADO Entre os mantras sagrados - ou palavras sagradas do hinduísmo - a palavra monossilábica palavra OM, é a mais antiga e sem dúvida a mais importante. Essa sílaba sagrada, que significa Deus, tem sido frequentemente mencionada nos Vedas e em outras escrituras do hinduísmo. A sílaba OM pode também ser soletrada como AUM. Ela também é chamada de Pranava. Cada uma das três letras, A, U e M, tem um significado especial: o “A” representa a criação, o “U” 57


representa a preservação e o “M” representa a destruição ou dissolução. Como Deus no hinduísmo é o criador, o preservador e o destruidor deste universo, o OM ou AUM é um nome adequado para Deus. De acordo com ainda outra interpretação, as três letras formando AUM, são indicadoras dos três lokas (planos de existencia) deste universo – densos e sutis – Svarga (o paraíso), Martya (a terra) e Pātāla (o mundo inferior). Deus, sendo onipresente, permeia todos esses três lokas, e AUM é considerado um símbolo de Deus. A IDÉIA E A PRÁTICA DA NÃO-VIOLÊNCIA Apesar de considerar a não-violência uma virtude, o hinduísmo não é cego ao fato de que devemos ser violentos de um modo ou de outro para sobreviver. Milhares de formas de vida microscópicas são mortas toda vez que respiramos, cada grão de comida que comemos contém vida, portanto é impossível evitar completamente que cometamos violência. Tudo que o hinduísmo espera de seus seguidores, é que estes, minimizem conscientemente a violência, o tanto quanto for prático, assim livrando-se de uma atitude mental violenta. Idealmente falando, uma pessoa que é verdadeiramente não violenta, não deve ferir ninguém seja fisicamente, mentalmente ou verbalmente. A total não-violência é possível apenas para uma alma espiritualmente iluminada, pois tal alma perde a sua falsa identificação com o complexo corpo-mente e vem a conhecer a sua verdadeira identidade divina. Ela experiencia Deus como sendo a essência de todas as coisas e de todos os seres, inclusive ela mesma, não podendo assim odiar ou prejudicar ninguém. Apenas uma pessoa assim pode amar aos seus inimigos, porque não vê inimigos em lugar algum. Tudo que ela experiencia é a manifestação de Deus e, por não poder se identificar com o complexo psico-físico, não pode se responsabilizar pelo que o seu corpo e mente fazem. Ela perde a noção de que é ela que age, transcendendo assim a violência. O Bhagavad Gītā (18/17) diz, “aquele que não tem a noção de que é o fazedor ou o egoísmo e cujo intelecto não se considera responsável pelas ações do corpo e dos sentidos, ele não mata e não é escravizado pelo resultado disso”.

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Homem Santo nas ruas da Índia.


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Yogaterapia Por Marcos Rojo Rodrigues


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uito embora o Yoga seja considerado uma disciplina milenar, Yogaterapia é um ramo muito recente. A proposta inicial do yoga é a busca de um estado pleno de atenção que permite a seu praticante reconhecer sua essência. Desta forma, os primeiros objetivos do Yoga eram de ordem espiritual. A aplicação destas técnicas para a saúde e, em alguns casos, para a estética, é muito recente. Dizem os antigos sábios indianos que o Yoga nos foi ensinado por Shiva, uma divindade que hoje assume o cargo de patrono dessa disciplina. Uma vez que o Yoga nos foi dado pelos deuses, ele é intrínseco ao ser humano, ou seja, está dentro de nós. É a busca que temos para responder questões como: De onde viemos? Para onde vamos? O que estamos fazendo aqui? Para o Yoga, este estado de total integração em todos os sentidos do ser humano é considerado um estado de saúde perfeita. Quando estamos distraídos nos papéis que assumimos no nosso dia a dia, estamos num estado desequilibrado, que favorece a aquisição de doenças. Esta identificação com os papéis acontece quando estamos envolvidos com uma representação que achamos que somos, mas que verdadeiramente não somos. Por exemplo, agora estou escrevendo um artigo e me coloco no papel de “escritor” mas este é um papel transitório e, logo, ao mudar de atividade assumo outro papel e assim vivemos uma vida inteira identificados com estas representações - e nos esquecemos do que realmente somos, nos esquecemos do que é comum a todos estes papéis. O Yoga acredita que já éramos “algo” antes de termos nascido e que continuaremos sendo “algo” depois que morrermos. CORPO, MENTE E ALMA O Yoga deve ser entendido como meditação e meditação é um estado de “controle” das modificações da nossa mente. No seu estado mais profundo, chama-se Samadhi, que é sinônimo de saúde perfeita. Samadhi significa “uma condição integrada”. É sentir-se como parte do todo, em todos os níveis. Para o Yoga, saúde perfeita é um estado da mente. Entretanto, corpo, mente e alma interagem entre si o tempo todo - qualquer ação em um dos três níveis pode interferir nos outros dois - por isso, podemos começar o processo 61


de integração por onde é mais fácil ou mais palpável: o corpo. No Yoga, começamos pelo corpo com o objetivo de interferir nos padrões mentais e posteriormente nos espirituais. Os exercícios desta terapia que ficaram mais comuns no Ocidente chamam-se “asanas”. São posturas de longa permanência em condições de conforto e estabilidade a fim de preparar a mente do praticante para as técnicas posteriores, tais como as respiratórias e meditativas. “Asanas” são traduzidos para a nossa língua como posturas e, ao mesmo tempo, significam atitudes. O comportamento é o que principalmente treinamos numa aula de Yoga.

Contudo, vale lembrar que todas estas técnicas serão muito mais úteis se adotadas como forma de prevenção. A reversão de um processo patológico já instalado torna o Yoga parte da medicina integrativa, ou seja, um colaborador no processo de cura e não algo alternativo em que se deva abandonar o tratamento convencional. Por isso, o termo Yogaterapia deve ser usado com cautela. Diminuição de dores nas costas, melhora da qualidade de sono, controle de ansiedade e estresse fazem parte do Yoga como disciplina e não se justifica como terapia. Quando pensamos em casos específicos de um atendimento para pacientes com alguma necessidade especial, preferimos pensar em Yoga como parte da medicina integrativa. Há quem diga que vem para o Yoga por amor e outros, pela dor. Isto quer dizer que alguns buscam o Yoga com objetivos espirituais – neste caso, a minoria – e, a maioria, busca o Yoga com objetivos físicos ou mentais. Recomendo que nestes casos o professor de Yoga trabalhe junto com o especialista, em conjunto com o médico, fisioterapeuta, psicólogo ou mesmo o terapeuta integrativo, para oferecer mais qualidade e segurança ao paciente. Tenho recebido vários alunos indicados por médicos, fisioterapeutas, educadores físicos, entre outros. Por outro lado, vejo pouco acontecer ao contrário – de professores de Yoga recomendarem seus alunos para uma consulta com especialistas. Algo que devemos cada vez mais ter consciência.

YOGA: PREVENÇÃO E CURA O estado de desintegração – ou seja, quando nos encontramos distantes da nossa verdadeira essência – facilita a aquisição de doenças. As técnicas de Yoga podem ser de grande ajuda para aqueles que buscam alívio quando estão em condição de desequilíbrio, sofrimento ou doença. Há um vasto repertório de técnicas que podem ser aplicados nas mais variadas condições do “paciente”. Dependendo do estado de cada um, até mesmo para acamados, podemos aplicar alongamentos simples com muita consciência e percepção das regiões tensas, aplicar exercícios respiratórios ou mesmo técnicas de relaxamento e meditação. Há sempre técnicas na yogaterapia que podem ser feitas com alguém que se encontra limitado por algum processo patológico. 62


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COMPLEMENTO PARA A VIDA O Yoga tem muito para contribuir no campo da saúde física e mental. Hoje, grande parte dos problemas de saúde vem de um sistema nervoso sobrecarregado, do estresse. Para isto o Yoga apresenta resultados significativos: relaxa os ansiosos e anima os deprimidos; fortalece os hipotônicos e relaxa os hipertônicos; melhora a postura, a eficiência respiratória e o padrão mental, através de exercícios chamados psicofísicos e através do repensar das nossas prioridades. E, para isso, é fundamental que o lugar do Yoga esteja bem definido de modo a não ser confundido com práticas de valor estético, competitivo e recreativo - deixando bem claro que estética, competição e recreação são tão importantes quanto e outras atividades físicas também podem oferecer benefícios com qualidade. O Yoga chega ao Ocidente para somar e não para dividir; para contribuir e não para criticar. Yoga significa união e não desintegração. 63


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O método Reiki é um sistema natural de harmonização e reposição energética que mantém ou recupera a saúde. Saiba mais pelo site: reikiuniversal.com.br

Segunda à sexta 11h30 às 15h00 (quilo) Sábados 12h00 às 15h30 (bufê) ————— moema@casaprema.com casaprema.com (11) 3815-1448 Av. Eusébio Matoso, 246 Pinheiros São Paulo - SP

Espiritualidade, terapias integrativas, vegetarianismo e veganismo revistatryna.com.br facebook.com/revistatryna

Ângela Arraya terapeuta corporal

Massoterapia • Acupuntura Reiki• Reflexologia • Auriculopuntura Cromopuntura• Alinhamento energético com ervas e cristais Atendimentos na região do ABC Paulista Espaço Lótus Rua Lucas Fernandes Pinto, 316 Pq. S. Rafael Tel.: (11) 9 9868-0231/ 4316-0151 angela.arraya@gmail.com


Receitas

Por André Luiz Fronza Catarinense, designer gráfico por formação e vegetariano por convicção. Apaixonado por fotografia, arte, cinema, viagens e tudo que me faz sentir mais vivo e humano. Acredito que muitos problemas mundiais, tanto ambientais quanto de saúde, podem ser resolvidos na cozinha.


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Bolo de cenoura Depois de muitos testes mal sucedidos, pra falar a verdade eu já estava quase desistindo, consegui fazer um bolo de cenoura com massa fofinha e cobertura cremosa sem utilizar qualquer ingrediente de origem animal, e além disso, sem conter glúten e óleo. Para a massa utilizei farinha de arroz, polvilho doce, açúcar cristal, farinha de linhaça (vai dar liga e substituir o ovo), cenouras, fermento e água. Eu sei que essa receita não é lá muito saudável por causa do açúcar e da farinha de arroz branca. Mas para

o bolo ficar mais leve e gostoso, é necessário utilizar esses ingredientes. E vamos e convenhamos, comer bolo de cenoura de vez em quando não faz mal a ninguém. Podemos dizer que a cobertura é parte mais natureba da receita. É a mesma da nega maluca que já publiquei aqui. Leva só três ingredientes: biomassa de banana, chocolate 70% cacau e açúcar mascavo. Sei que fazer biomassa dá um pouco de trabalho, mas essa cobertura fica tão cremosa e irresistível que valer a pena fazer.

INFORMAÇÕES Preço médio da receita: R$ 18,00 Rendimento médio: 20 porções Dificuldade: Fácil Tempo de preparo: 40 minutos Não contém glúten Vegano 66


INGREDIENTES

PREPARO

Para a massa: 3 xíc. de farinha de arroz branco 1 xíc. e 1/2 de açúcar cristal ou demerara 3/4 xíc. de polvilho doce 2 xíc. e 1/2 de água 1 xíc. e 1/2 de cenoura picada (aproximadamente 3 cenouras médias) 3 colheres de sopa de farinha de linhaça 1 colher de sopa de fermento

1. Em um recipiente grande peneire a farinha de arroz, o açúcar cristal e o polvilho doce. Reserve;

Para a cobertura: 1 xíc. e 1/2 de biomassa de banana (receita no aqui) 1/2 xíc. de açúcar mascavo 100g de chocolate 70% de cacau ou mais

2. Coloque no liquidificador a cenoura, a água e a farinha de linhaça. Bata bem até ficar homogêneo; 3. Adicione a mistura líquida aos ingredientes secos. Mexa tudo até a massa ficar homogênea; 4. Por último, adicione o fermento e misture delicadamente até incorporar na massa; 5. Unte uma fôrma (usei uma de 33×23 cm) com óleo vegetal e despeja a massa. Leve ao forno preaquecido a 200 °C por cerca de 30 minutos, ou até quando o palito ou garfo sair limpo ao espetar a massa; 6. Enquanto a massa está assando prepare a cobertura. Numa panela coloque a biomassa, o chocolate e o açúcar mascavo (ver NOTAS). Leve ao fogo baixo e mexa sem parar até todos os ingredientes incorporarem; 7. Adicione um pouco de água, mais ou menos 75 ml, para deixar a cobertura mais líquida. Lembre-se que ao resfriar, a biomassa fica mais consistente, por isso que a cobertura enquanto quente deve estar mais líquida. Caso você quiser uma cobertura mais durinha não adicione a água; 8. Retire a massa do forno e deixe esfriar antes de colocar a cobertura; 9. Por último, espalhe a cobertura e sirva

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Chapati

(pão indiano)

Eu garanto que esse é o pão mais fácil de se fazer no mundo! Não estou exagerando não. Só é preciso ter quatro ingredientes para fazer: farinha de trigo integral, óleo vegetal, sal e água. É bem provável que você já tem todos os ingredientes em casa. O preparo também é bem simples e rápido. Resumindo, é só misturar todos os ingredientes, sovar a massa por alguns minutos, dividir em porções iguais, abrir a massa com um rolo e assar na frigideira por alguns segundos.

Você pode consumir esse pão do jeito que preferir, com hommus (pasta de grão de bico), patê de alho-poró, “cream cheese” de castanha, geleias, hambúrgueres, entre outros recheios e acompanhamentos.

INFORMAÇÕES Preço médio da receita: R$ 2,50 Rendimento médio: 6 pães Dificuldade: Fácil Tempo de preparo: 15 minutos Contém glúten Vegano 68


INGREDIENTES

PREPARO

1 xíc. de farinha de trigo integral + um pouco para polvilhar 1 colher de sopa de óleo vegetal 1/2 colher de chá de sal 1/2 xíc. de água

1. Numa tigela grande, misture a farinha com o sal. Adicione a água e o óleo vegetal. Misture tudo com a mão até formar uma bola de massa; 2. Polvilhe uma bancada de trabalho com a farinha de trigo. Transfira a massa e sove por cerca de 5 minutos, amassando e esticando. A massa fica bem molenga no começo, mas a medida que for sovando irá ficar mais consistente. Mas se for necessário adicione mais farinha; 3. Faça um rolinho com a massa e corte em 6 porções ou mais, dependendo do tamanho do pão que desejar; 4. Enrole cada pedaço com as mãos para formar bolinhas. Com um rolo de macarrão, ou com algo cilíndrico como uma garrafa de vidro, abra a massa para formar discos finos. Se a massa começar a grudar na bancada, polvilhe com mais farinha; 5. Enquanto abre os discos, aqueça uma frigideira de preferência antiaderente em fogo médio; 6. Coloque o disco de massa na frigideira quente e deixe o pão assar por cerca de 20 a 30 segundos, até começar a formar bolhas; 7. Vire o pão e deixe por mais uns 15 segundos na frigideira; 8. Tire da frigideira com uma pinça (pegador de macarrão) e coloque diretamente na chama da outra boca do fogão para inflar e chamuscar levemente. Esse processo levas alguns segundos, não deixe muito tempo na chama senão poderá queimar; 9. Transfira o pão para um prato e repita com os outros discos. 69


Dicas TRYNA

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Com muito prazer e dedicação nossa equipe selecionou o melhor da cultura e lazer “hindu” para você se inspirar!

> para conhecer Ramakrishna Vedanta Ashrama Fundado em 1974 e afiliado à Ordem Ramakrishna, uma das mais respeitadas na Índia, o local segue a Vedanta, uma das bases filosóficas mais antigas do hinduísmo. Baseada nos Vedas, as escrituras sagradas da Índia, a Vedanta afirma a unidade da existência, a divindade da alma humana, e a harmonia de todas as religiões. Sua sede fica em São Paulo, com centros oficiais também no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Brasília. Aberta ao público, a casa abre as portas gratuitamente para quem quer estudar as escrituras sagradas, participar de palestras, com temas sobre o cotidiano ou espiritualidade, fazer uma meditação matinal e até ouvir conselhos espirituais. Informações: www.vedanta.org.br 70


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> para conhecer Centro Cultural Vrinda O Instituto Vrindavana para a Cultura e Estudos Vaisnavas nasceu em 1984 e apresenta mais de 25 centros ao redor do mundo, sendo integrante da Associação Mundial Vaisnava (WVA), uma entidade que reúne representantes da tradição Vaisnava da Índia. Os centros – situados em São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina - são definidos como um refúgio em que a espiritualidade é o foco. Para isso, oferecem cursos de filosofia e culinária; espaço de alimentação consciente - com pães veganos, doces, pizzas preparados com muito amor; escola de Yoga Inbound; e, aos domingos, o Festival Indiano que é aberto ao público. Sua atuação também inclui a participação em projetos sociais, entre eles, a Revolução da Colher, promovendo o vegetarianismo e a ecologia. Informações: www.vrindasp.com.br > para conhecer Nova Gokula Trata-se da maior comunidade Hare Krishna da América Latina. Localizada em meio a Serra da Mantiqueira, em São Paulo, em uma área de preservação de 119,5 hectares, o Nova Gokula oferece retiro espiritual em ambiente monástico, programação nos templos, meditação com mantras e atendimentos de terapias Ayurvédicas. Lá, criam-se animais e cultivam-se produtos orgânicos; cachoeiras e trilhas intensificam o contato com a natureza; e mantras e outros sons musicais da Índia ecoam no ambiente, tornando-o ainda mais encantador. Informações: www.novagokula.com.br 71


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> para assistir FILME | Awake - A vida de Yogananda O documentário está nos cinemas das grandes capitais e retrata a história de Paramahansa Yogananda. Ele iniciou Mahatma Gandhi na Yoga e é autor do clássico “Autobiografia de im Iogue”, livro de cabeceira de Steve Jobs e George Harrison, entre outros famosos. Na década de 20, ele trouxe a espiritualidade hindu para o Ocidente, pregando a fuga da opressão do ego humano e da ilusão do mundo material. Gravado ao longo de três anos e com a participação de 30 grupos ao redor do mundo, a narrativa revela as descobertas espirituais de Yogananda desde a infância e as decisões que teve que tomar ao longo da vida para seguir sua representação para a yoga, a religião, a ciência e para a humanidade. Confira nas salas de cinema da sua cidade! > para ler LIVRO | A Segunda Vinda de Cristo - Vol. 1 “A Segunda Vinda de Cristo” é o primeiro volume de uma série de três, já lançados em inglês, e ansiosamente aguardado em português. Nesta obra, Yogananda explica os evangelhos de Jesus sob o ponto de vista da Yoga, procurando apresentar a simbologia mística que existe por trás de toda a vida desse grande Mestre da Humanidade. As conhecidas parábolas cristãs tornam-se facilmente compreendidas nas sábias palavras de Yogananda que, inclusive, visitou a terra santa – onde pode comprovar, de perto, a veracidade presente na história de Jesus. O prefácio, é escrito por Sri Daya Mata, discípula direta de Paramahansa Yogananda. Onde encontrar? www.omnisciencia.com.br e livrarias.

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CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA

WWF-Brasil oferece análise para recuperar bacia do rio Doce Por WWF-Brasil

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WWF-Brasil realizou uma Análise de Contribuição Hídrica para servir de apoio na elaboração de planos de recuperação da bacia do rio Doce. A região foi atingida por uma tsunami de lama de uma das barragens de rejeitos da mineradora Samarco, no município de Bento Rodrigues, em Minas Gerais, no começo de novembro. A água, de elevada turbidez, já atingiu o ecossistema marinho, causando novos impactos em um dos importantes deltas do Atlântico Sul. Os especialistas ainda tentam dimensionar o tamanho do estrago para o meio ambiente, mas já se sabe que a recuperação irá custar caro e durar décadas. Para acelerar o processo, o WWF-Brasil disponibiliza a partir de hoje uma plataforma online, de acesso público e gratuito, com os dados de análise, mapas hidrográficos e de cobertura vegetal de toda a bacia hidrográfica. São ferramentas capazes de indicar estratégias para recuperar não só o rio doce, em si, mas toda a bacia em que ele se insere. “A análise que trazemos não é a única, e nem esgota o tema. É parte de uma iniciativa da organização para apoiar 73


os diferentes esforços de recuperação da bacia”, afirma Carlos Nomoto, Secretário Geral do WWF-Brasil. Os dados são associados a uma série de recomendações para intervenções estratégicas, com foco na região que envolve o rio Doce – e não só na calha principal do rio. É que as áreas adjacentes da bacia têm demandas de restauração e proteção de custo mais baixo quando comparado à recuperação da calha principal, mas de importante contribuição para o sistema hídrico da região. ACESSE A PLATAFORMA As ações de recuperação nessas áreas poderão, inclusive, ajudar a reduzir os impactos nos ecossistemas costeiros e marinhos, melhorando a qualidade de água que será despejada na foz do rio Doce. A Análise de Contribuição Hídrica consegue identificar quais são as sub-bacias que geram a maior parte da vazão do rio Doce e que são responsáveis pela dinâmica hidrológica na região. A ideia é estimular a geração de água limpa que corre em direção ao rio Doce para que ela possa ir se depurando com o tempo. A estratégia, porém, é mais ampla. Irá implicar na recuperação de nascentes e na restauração da vegetação nativa, que dá as condições para que surja água em abundância. FRAGILIDADE “A bacia do rio Doce já estava extremamente impactada pelo uso indevido da terra e dos recursos naturais. Há décadas a bacia sofre com o desmatamento em larga escala, pecuária, agricultura e mineração que carregam sedimentos para o rio, que se acumulam com o passar do tempo e modificam sua estrutura, com impacto negativo sobre a fauna e a flora da região”, explica Mariana Napolitano, do Programa de Ciências, do WWF-Brasil. “Com essa catástrofe, um ambiente já comprometido e com baixa resiliência sofreu uma espécie de golpe de misericórdia e precisará de um esforço muito maior para sua recuperação”, diz a especialista. Segundo ela, todas as informações utilizadas na análise estão agora disponíveis para a sociedade. Os cientistas que estão avaliando os impactos do desastre poderão servir-se 74


dos dados, assim como os governos e outras organizações interessadas em reverter o problema. MAIS VERDE, MAIS ÁGUA Entre as informações disponíveis na plataforma do WWF-Brasil, estão mapas de vegetação remanescente da bacia e a identificação das sub-bacias prioritárias para a recuperação das matas. A partir do mapeamento dessas áreas, a organização propõe ações emergenciais e outras de médio e longo prazo. O primeiro passo será detalhar quais os rios que mais levam água para a bacia do rio Doce. Em seguida, deverão ser mapeadas as nascentes desses rios para o trabalho de conservação daquelas que se encontram em bom estado e recuperação das que estão degradadas. Medidas como o cercamento das nascentes para evitar o pisoteio pelo gado e a restauração das matas ciliares – que contornam os cursos d’água e nascentes – devem ser prioritárias. A recuperação da floresta aumenta a quantidade e a qualidade da água nas nascentes e tributários. A aposta é que quanto mais água limpa correr para dentro do rio Doce, mais rápido ele ficará livre das impurezas levadas pela enxurrada de lama. O retorno da vegetação ribeirinha também favorece o desenvolvimento de bactérias essenciais para a descontaminação. A recuperação de áreas desmatadas – legal ou ilegalmente – também será decisiva para uma estratégia de recuperação da bacia. Ferramentas como o 75

Cadastro Ambiental Rural (CAR), dispositivo do novo Código Florestal, devem ser priorizados na abordagem. É que o CAR ajudará a indicar o passivo de vegetação nativa na região, principalmente nas Áreas de Preservação Permanente (APP), como as margens dos rios e os topos de morr O Programa de Regularização Ambiental, a ser definido pelo estado também será fundamental na recuperação ambiental da área. Ações em campo podem orientar os proprietários a recuperar áreas que sejam chave para a restauração da bacia do rio Doce como um todo, principalmente em relação à qualidade da água. O WWF-Brasil acredita que será necessário um pacto pela recuperação as nascentes da bacia do rio Doce, nos moldes como já acontece no Pantanal, cujos resultados são animadores. A revisão das práticas agrícolas que durante anos degradaram a região também precisa entrar no radar da estratégia de recuperação da paisagem Outras políticas públicas, como o monitoramento e a fiscalização devem complementar a estratégia.

Link para a plataforma: http://paisagem.wwf.org.br/projetos.html Link direto para o projeto de avaliação de impactos no rio Doce: http://paisagem.wwf.org.br/projeto.php?id=22


Foresteiros

II

Por J. Gonçalves Machado

Sempre buscando nas reminiscências A origem de nossa vida terrestre; temo pela nossa humanidade, que vem atrocidando entre si nas guerras mortíferas!

Quem somos, afinal, vários forasteiros de diversas galáxias ou dimensões?

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Foresteiros

III

Por J. Gonçalves Machado

Continuo perguntando a todo momento, porque? ou por quê?

Somo cruéis entre si e não temos laços de amor fraterno. Petrificado nestes anos de vida, Fico a cismar desta desigualdade entre os seres, que se dizem humanos, sem paz, amor e compreensão.

foto: shutterstock

E ainda mesmo, Pergunto-me, Por quê?

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