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APROFUNDAMENTO
A autora Maria Lúcia Simões
© Arquivo pessoal Maria Lucia Simões é uma escritora mineira que reside em Belo Horizonte. A autora conta que seu interesse pelos livros vem desde a infância, quando “trocava qualquer brincadeira para olhar as gravuras das histórias e tentava decifrar o código da palavra escrita”. Em sua trajetória de vida, a leitura que seus pais faziam para ela, ainda pequenina, marcaram profundamente suas percepções do mundo, fazendo com que ela aprendesse “a receber a palavra como um bem precioso”. Graduou-se pela Faculdade de Direito da UFMG e também em Psicanálise pela Associação Psicanalítica de Minas Gerais, mas conta que decidiu não exercer as profissões, apesar de considerar que aqueles conhecimentos adquiridos muito influenciaram e influenciam sua escrita literária.
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A autora de Contos contidos possui muitos artigos e poemas premiados, quatro livros publicados e muitos textos dispersos em antologias. Foi fundadora do Espaço Arte Minas, onde trabalhou com eventos culturais e divulgação de arte e literatura.
Miniconto: um velho novo gênero textual em ascensão
Muito se estudou e se tem estudado sobre o conto enquanto gênero textual. Esse tipo de narrativa, longe de ser uma atualidade literária, já figurava no imaginário de grandes escritores da literatura brasileira, como Machado de Assis, Murilo Rubião e Clarice Lispector, e suas origens datam de muito antes, podendo se associar o início desse tipo de narrativa ao hábito de contação de histórias pelos povos primitivos originários, quando era comum uma reunião para se ouvir sobre os feitos de determinado indivíduo ou grupo de pessoas. De forma resumida, o conto é definido como uma narrativa de curta extensão, na qual predomina a presença de poucas personagens, enredo conciso, concentração espaço-temporal e, geralmente, um único clímax. Mas essa classificação chega a ser simplória, diante da complexidade desse gênero e de sua flexibilidade, que permite sua secção ainda em diferentes subclasses – ou subgêneros –, classificados de acordo com elementos e características determinantes: contos fantásticos, de terror, de suspense, de romance, de aventura, de mistério, de fadas, baseados em fatos reais, entre tantas outras possibilidades.
Nesse sentido, há uma característica em particular que deve ser considerada na definição do conto: falamos em concisão, ou brevidade, como sendo uma de suas particularidades, mas qual o limite dessa concisão? Machado de Assis, o grande mestre da literatura brasileira, publicou contos de oito páginas, como “Missa do Galo” e “A Cartomante”. Já o mago do terror, Stephen King, escreveu contos com mais de 100 páginas, a exemplo do famoso “O Nevoeiro”, com 160 páginas, adaptado para o cinema e TV (há quem classifique esse texto como novela, vale dizer). O que nos chama atenção aqui, no entanto, é uma subclassificação do gênero conto, à qual pertence o livro Contos contidos, em estudo, que é a dos minicontos. Ou seja, contos em que a concisão ganha ainda mais valor e cuja estrutura se caracteriza pela intensa economia de palavras, enredo e personagens. Se nos contos tradicionais esses elementos já se fazem presente, é no miniconto que eles atingem seu ápice. Vale dizer que há um consenso nos estudos sobre o gênero que, para ser classificado como conto ou mesmo como miniconto, o texto deve conter uma narração mínima, ou seja, é preciso contar alguma coisa. Nesse sentido, verificamos, em todos os minicontos que compõem a obra de Maria Lúcia Simões, que esse pré-requisito é atendido. É interessante observar que, apesar da intensa ascensão na atualidade, essa espécie de narrativa minificcional já se destacava no século XX, sendo verificada, já nos anos de 1960, a existência de minicontos na literatura argentina, a exemplo de alguns textos de Jorge Luis Borges. E não poderíamos deixar de citar, quando falamos de minicontos, a produção literária de Dalton Trevisan, principalmente sua obra Ah, é?, considerada por muitos o marco dos minicontos no Brasil, com 187 minificções, publicada em 1994. Seguindo a mesma linha, vemos que Contos contidos, de Maria Lúcia Simões, evidencia como esse estilo de narrativa curta e ultracurta se faz presente em diferentes épocas, comprovando o espaço conquistado pelos minicontos no imaginário e no gosto dos leitores.