Revista Ensaio edição 04

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editorial Ano novo, governo (?) novo, edição nova! Depois de dois longos e tenebrosos invernos, eis que estamos de volta. A equipe é diferente, mas a vontade de mudar o mundo por meio das nossas investigações e reportagens continua a mesma. Como sempre, fazer a Revista Ensaio não foi fácil. Graças a uma equipe de alunos ultramotivados e empenhados em fazer acontecer, foi possível. Nesse processo louco de excesso de informação e da presença do digital em nossa vida (veja o quanto nossa relação com a tecnologia mudou da edição 03 para essa), criar uma Revista impressa é quase sinônimo de resistência. Oh Bella Ciao! Já dizia aquele velho ditado: em terra de fake news, quem apura é rei. E é por isso que o bom e velho jornalismo se faz cada vez mais necessário em nossas vidas. No mundo de excessos, a dor não reside na busca, mas na seleção. Cumprindo seu papel de incentivar futuros jornalistas na prática profissional, essa quarta edição da Ensaio chega até você, leitor, recheada de conteúdo relevante. Não faltou empenho e disposição desta turma em ir atrás dos fatos para entregar excelentes resultados. Essa edição ainda marca um ponto importante: a colaboração de profissionais (ex-alunos) que participaram de edições anteriores e voltam agora como editores, diretores de arte e orientadores convidados. Nosso agradecimento a todos! Fala a verdade: você conhece algum ex-aluno que tope "trabalhar" de graça? Não, né? É porque você não conhece o amor que envolve essa produção, que já passa ao menos umas 6 gerações de jornalistas e publicitários. E assim segue o barco... Planejar, Liderar, Fazer, Coordenar, Vender, Apurar, Escrever, Fotografar, Editar, Diagramar, Finalizar, Distribuir... Há quem pense que jornalismo é profissão sem importância e nem precisa de diploma. Assim como há quem jura que a corrupção ia acabar. (risos) Bora se deliciar nestas páginas que foram construídas com muito esforço, dedicação e carinho desses futuros jornalistas. Boa leitura!

sumário 04 07 10 11 14 16 20 25 28 30 mercado de games

bullying na infância

artigo: silêncio que mata

ansiedade e terapias alternativas

arte de rua

toda forma de amor

em busca do corpo perfeito

convivendo com o alzheimer

empreendedorismo

crônica: sorriso na cnh

ANO III ED. 04 Revista Ensaio é uma publicação independente dos alunos de Jornalismo da Faculdade Pitágoras Divinópolis/MG Contato: contato.revistaensaio@gmail.com @revistaensaio Idealizador e Coordenador Editorial: Prof. Ricardo Nogueira Capa: Gustavo Melo Projeto Gráfico: Leonardo Costa Orientação de Arte: Bruna Costa, Dênio Guarieiro, Leonardo Costa Editores Convidados: Thúlio Oliveira (líder), Bruna Costa, Matheus Garrocho, Ruth Flores, Vanessa Cardoso Jurídico: Jean Pereira - OAB/MG 181.549 Líder de Edição: Luís Henrique Vasconcelos Líder de Fotografia: Gustavo Batista Lima Líder Comercial: Túlio Engel Comercial: Túlio Engel, Ana Tereza Fonseca, Luana Diniz, Amanda Silva, Maria Eduarda Azevedo, Kelsen Alves, Verônica Canabrava, Bruno Barbosa Diagramação: Gleison Andrade (líder), Wesley Mourão, Luana Lima, Letícia Ferreira, Carolina Fonseca Mídias Sociais: Maria Eduarda Azevedo, Maynne Dara, Letícia Ferreira, Luana Lima, Gabriela Santos, Carlos Henrique Monteiro Vídeorreportagem: Bárbara Felix / Letícia Ribeiro Identidade Ensaio: Prof. Marcelo Tumati Impressão: Flex Gráfica Editora Tiragem: 1000 exemplares Distribuição: Gratuita


PRESS START O MERCADO DE GAMES NO BRASIL E A ASCENSÃO DOS E-SPORTS

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uando criança, chegava da escola, almoçava, fazia os deveres e, então, ligava meu Super Nintendo para jogar Super Mario World ou Donkey Kong.

Com o passar do tempo, os interesses mudam e, devido a correria do dia-a-dia, muitos acabam deixando esta fase apenas na saudade.

PARA LER OUVINDO

JUMP

VAN HALLEN

JOGOS E INTERNET Atualmente, o Brasil é o 13º de um ranking da Newzoo (principal fornecedor global de análise de jogos e e-sports) que indica os países com maior consumo de jogos digitais no planeta, e o 1º do ranking da América Latina. A expectativa para 2018 era de que o setor arrecadasse cerca de US$ 1,5 bilhão em vendas em todo o mundo. O mercado de jogos digitais registrou aumento em todas as cinco regiões do país, segundo dados do 2º Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais. Com o mercado aquecido, desenvolvedoras estrangeiras enxergaram possibilidade de crescimento por aqui – a Nintendo, por exemplo, anunciou recentemente que voltaria a fabricar consoles no país. O aumento também foi sentido pelos estúdios desenvolvedores de jogos do Brasil: os 142 estúdios em 2013 passaram para 375 em 2018. Os dados, divulgados pela empresa Homo Ludens em junho de 2018, também mostram que, destas empresas, 85 atuam como empresas de apoio e outros 235 profissionais atuam como autônomos. Com isso, alguns jogos brasileiros passaram a se destacar internacionalmente, como A Lenda do Herói, do YouTuber Marcos Castro, e Distortions, desenvolvido pelo estúdio paulista Among Giants, que tem Thiago Girello como diretor criativo, premiado nacional e internacionalmente.

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Carlos Giusti, um dos sócios da PriceWaterHouse Coopers (PwC), afirma que o mercado cresce à medida em que o preço da internet banda larga fica mais acessível. Isto fica evidente quando se compara os games com outros setores de entretenimento: em seu primeiro final de semana, o jogo Red Dead Redemption 2 rendeu US$ 725 milhões, enquanto filmes como Vingadores: Guerra Infinita arrecadou US$ 207 milhões em sua primeira semana em cartaz.

Distortions: desenvolvido pelo estúdio Among Giants, recebeu vários prêmios pelo mundo como o de melhor jogo brasileiro de 2017 e de Melhor Jogo no Voto Popular no BIG Festival (Brazil Independent Games Festival), o mais importante festival de jogos independentes da América Latina.


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entre as empresas que visam aproveitar esta crescente, está a escola de jogos digitais Saga. Com sede em Belo Horizonte, a empresa atua desde 2011 no mercado. “Os cursos ofertados vão do básico ao avançado para todas as idades, com o método Play Game, no qual eles aprendem todos os conceitos básicos de um jogo como o 3D, o enredo, modelagem de personagens, elementos de cenários e animação, até chegar na parte de produção, onde os alunos colocarão toda a parte teórica em pratica através de módulos mensais”, afirma Andressa Franciele Silva Castro, instrutora de design gráfico da escola.

Ao lado, Lucas Criscoullo Fernandez e seu jogo Gamificamilhas. Um boardgame sobre empreendedorismo voltado para empresas.

Contudo, muitos alunos optam por ir para fora do país e tentar carreira em grandes estúdios. É o caso de Rafael Grasetti. Hoje trabalhando no estúdio Santa Monica, em Los Angeles, nos Estados Unidos, ele foi responsável pelo design de Kratos, personagem do jogo God of War. Andressa afirma que o problema na questão está justamente em apreciar o que é de fora e não perceber o que existe no país. “Eu acredito que nós temos um potencial muito grande para crescer, mas falta uma visão de várias partes de nós como profissionais em alguns momentos. Temos o reflexo de fora e nós, como consumidores, não valorizamos o que está acontecendo aqui”, externa. O empresário Lucas Criscoullo Fernandez, formado pela PUC/MG em Jogos Digitais, soube aproveitar a alta do mercado. Ele é sócio da empresa IN8 há cinco anos e investiu nos jogos eletrônicos para ensinar empreendedorismo a empresas. Dentre eles está o jogo Gamificamilhas. “Ele é parte de uma consultoria sobre o mercado de milhas. Qualquer um com interesse de entrar no mercado de milhas ou evoluir seu negócio pode fazer a consultoria que o jogo estará nela”, explica Lucas. TEXTO: Wesley Mourão FOTOS: Wesley Mourão / Internet DIAGRAMAÇÃO: Gleison Andrade / Wesley Mourão EDITORES: Luis Henrique Vasconcelos / Matheus Garrocho

Andressa Franciele Silva Castro, instrutora de design ráfico da escola Saga de Belo Horizonte.

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s e-sports, campeonatos organizados para jogadores profissionais, também têm crescido no país. Em alguns torneios, a premiação chega a ser milionária. Dentre os gêneros, destacam-se:

• FPS (First Person Shooter) / Tiro em Primeira Pessoa: O gênero ganhou renome com os jogos Counter Strike e Rainbow Six Siege. No game, os jogadores formam equipes em mapas estratégicos e ambos os lados trocam tiros buscando alcançar seus objetivos. Vence a equipe que eliminar totalmente a outra – ou a que cumprir objetivos pontuais no cenário dentro de um tempo limite.

recentemente como o melhor jogador de Street Fighter do país. Além das altas premiações, alguns jogadores enxergam nos e-sports a oportunidade de empreender no ramo. Gabriel Toledo, conhecido online como Fallen, por exemplo, é um jogador profissional de Counter Strike e há pouco tempo lançou sua própria marca de componentes para computador. Por estes fatores, o saudosismo dos videogames de outrora tem dado lugar a novas paixões, novas possibilidades e novos mercados a serem explorados.

• Luta: Neste gênero, os jogadores escolhem um personagem e lutam uma partida de três rounds. Vence quem obtiver duas vitórias numa série de melhor de três partidas. Os principais jogos deste gênero no esports atualmente são: Tekken 7, Injustice 2 e Street Fighter V. • Multiplayer Online Battle Arena (Moba): Também conhecido como estratégia de ação em tempo real, o gênero é um dos mais famosos do e-sports. Nele, as equipes escolhem entre personagens com habilidades específicas e devem conquistar terrenos delimitados dentro do mapa. Dentre os jogadores brasileiros, um dos destaques é Marcelo David, conhecido como Coldzera, considerado o melhor jogador de Counter Strike do mundo em 2017. Outro destaque nacional é Thomas Proença, conhecido como Brolyinho, coroado

Gabriel Toledo (Fallen) campeão de Counter Strike e empreendedor no ramo de componentes para PC.

Marcelo David (Coldzera) o melhor jogador de Conter Strike do mundo na atualidade.


Bullying na infância: e depois?

PARA LER OUVINDO

WHO’S LAUGHTING NOW JESSIE J

NEVER ALONE BARLOW GIRL

TEXTO: Jaice Balduíno / Letícia Ferreira FOTOS: Letícia Ferreira DIAGRAMAÇÃO: Letícia Ferreira EDITORA: Bruna Costa

HÁ PESSOAS QUE NÃO SUPERARAM O BULLYING SOFRIDO NA INFÂNCIA E LEVAM O TRAUMA PELO RESTO DA VIDA

A HISTÓRIA DE GABRIEL* Gabriel* às vezes fingia gostar das “brincadeiras” para ver se seus colegas paravam com tais atitudes. “Começou através de piadas”, ele conta. Gabriel foi vítima de bullying na infância e sente os reflexos hoje, na vida adulta. Por ser hiperativo, já fazia acompanhamento psicológico desde criança e teve, muitas vezes, seus problemas expostos na sala de aula, se comportando de formas diferentes de acordo com o ambiente em que estava. “Tive que estudar em quatro escolas diferentes por causa de bullying”, relembra. Na escola foi agredido e colocado dentro de uma lixeira por seus colegas. “Minha vida foi afetada por causa do bullying. Fui uma pessoa muito deprimida, não gostava nem de sair do quarto”, fala, entristecido. Hoje ele vive bem, porém teve que continuar com os tratamentos psicológicos e neurológicos e toma remédios até hoje. Ele supera o trauma a cada dia: “Eu não deixo me afetar, o bullying só acontece quando a pessoa aceita e se cala.”

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HISTÓRICO Hoje, no Brasil, um em cada dez adolescentes e crianças diz sofrer bullying. O dado faz parte do terceiro volume do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP). As ações são praticadas dentro das escolas ou até mesmo dentro da própria família, sendo elas físicas ou psicológicas. As consequências podem perdurar até a fase adulta, trazendo sequelas como traumas, transtornos e até depressão, muitas vezes irreparáveis.

O Brasil é o 2º país em que crianças e adolescentes mais sofrem com cyberbullying. SEGUNDO PESQUISA DO IPSOS DE 2018

A HISTÓRIA DE BRUNA* Bruna*, de 20 anos, sabe exatamente como são as marcas de uma infância difícil. Desde os 10 anos de idade, sofreu bullying pela sua aparência e pelo lugar onde mora. “As agressões já chegaram a ser físicas, por eu não ser tão bonita como as outras garotas da minha sala eram na época e por morar na zona rural”, conta. Aos 12 anos, ela teve o trauma de saber que seu primeiro beijo foi fruto de uma aposta entre garotos. O desafio era: “Quem teria coragem de encostar naquela garota?” O ocorrido acabou levando a boatos graves em redes sociais. “Tive de mudar de escola duas vezes para tentar escapar do bullying, mas nada adiantou”, relembra. Por causa das agressões e apelidos, ela desenvolveu transtornos, passou por uma fase de depressão e tem dificuldades de se aproximar das pessoas. Bruna, porém, se recusa a procurar ajuda e diz que não está preparada para dividir isso com mais pessoas e até com sua própria família, que insiste em dizer que tudo não passa de “frescura”. “O bullying que sofri na infância e adolescência mudou a minha vida e minha forma de agir e lidar com o mundo, principalmente com as críticas”, desabafa.

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FALA DO ESPECIALISTA Segundo a psicóloga Karla Patrícia, pós-graduada em Saúde Mental, o bullying afeta a vida adulta e a proporção que os danos podem ocasionar é subjetiva. Cada indivíduo, a partir de seu processo de interiorização ou da maneira como lida com as questões pessoais e sociais, pode ter partes da vida comprometidas, como a autoestima, relações interpessoais, sociabilidade, entre outras.

“Antigamente se tinha maior incidência de casos de bullying na escola com crianças. Atualmente já existe várias incidências em ambientes de trabalho, ambientes sociais e nas faculdades”, afirma a especialista.

Por mais que haja campanhas de conscientização em escolas, educar as crianças em casa para que elas respeitem as diferenças é fundamental. Cada indivíduo lida com o assédio depreciativo de uma forma diferente. Alguns superam e conseguem seguir a vida tranquilamente, outros não. Problemas psicológicos ocasionados pelo bullying poderiam ser evitados se a empatia e o respeito fossem colocados como prioridade na educação de crianças e adolescentes. Infelizmente, a realidade não é essa. *Nomes alterados a pedido dos entrevistados, para preservar sua identidade.

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Silêncio que mata TEXTO: Matheus Felipe Alves DIAGRAMAÇÃO: Gleison Andrade EDITORA: Vanessa Cardoso

“Aquilo que se passa na cabeça do jovem suicida antes de praticar o último ato é algo absolutamente singular, pessoal e intransferível. Mas não deixa de ser um grito de desespero, de dor, de quanto estava insuportável viver. Situações extremadas onde a morte é lucro! A desconexão violenta e abrupta.”(Auro Danny Lescher) No Brasil, ocorre um suicídio a cada 45 minutos. Não, você não leu errado. Este dado assustador foi publicado pelo O Estado de S. Paulo em seu portal no dia 11 de setembro de 2018. O jornal abriu espaço para falar sobre o assunto que, mesmo demandando atenção urgente, ainda é tido como tabu pela mídia. Mas, graças ao movimento Setembro Amarelo, o tema vem ganhando espaço, principalmente na internet, meio de comunicação mais utilizado pelo público adolescente/jovem. A prevenção do suicídio deve ocorrer em todos os setores da sociedade, independente da orientação política, ideológica ou religiosa. A internet tem se mostrado uma aliada para levar informação como forma de prevenção e quebra de tabu. No livro Viver é a melhor opção, o jornalista André Trigueiro salienta que “onde há desinformação, cria-se o ambiente perfeito para proliferação de histórias sem fundamento que afastam as pessoas do conhecimento sério e responsável.” Falar sobre suicídio com responsabilidade é uma importante estratégia de prevenção.

PARA LER OUVINDO

ENJOY THE SILENCE

DEPECHE MODE

medidas que poderiam diminuir esse problema de saúde pública. Para muitos, a adolescência é a fase mais difícil da vida. No período em que ocorrem tantas mudanças físicas, emocionais e sociais, é preciso pensar na vulnerabilidade dessas pessoas que ainda estão formando suas identidades. A cobrança dos pais, a pressão imposta pela sociedade, o bullying e a falta de responsabilização no mundo digital são fatores que podem contribuir para o suicídio no público jovem. Discutir o sofrimento dos adolescentes, escutar com paciência e acolher com empatia são atitudes muito importantes para ajudar aqueles que apresentam pensamentos suicidas. Dar oportunidade para alguém desabafar e compartilhar seus maiores medos e sentimentos pode fazer a diferença em favor da vida. O auxílio de um profissional, como psiquiatra ou psicólogo, é bastante necessário, mas o apoio da família e de pessoas próximas é fundamental. O importante é ouvir com a mente aberta e não oferecer julgamentos ou opiniões vazias.

Os números das ocorrências de suicídio no Brasil crescem a cada ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 2012, o índice de autoextermínio no Brasil era de 5,8 mortes para cada 100 mil habitantes. Entre os mais jovens, é ainda mais preocupante. O suicídio é considerado a segunda causa de mortes entre jovens de 15 a 29 anos no mundo. No Brasil, é a quarta maior causa. Infelizmente, a nossa sociedade tem ignorado a gravidade da situação e a urgência de

TEXTO: Matheus Felipe Alves FOTOS: Nome DIAGRAMAÇÃO: Gleison Andrade EDITOR: Nome 10


ANSIEDADE 11


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PARA LER OUVINDO

QUERO SER FELIZ TAMBÉM NATIRUTS

Roer unhas ou respirar fundo? Conheça o tratamento da ansiedade pela abordagem holística

evantou. Cansada, mais uma vez. Mal acordara e já estava pensando se a próxima noite de sono seria melhor que essa. A rotina, o cansaço, o emprego, as contas, o relacionamento: todos eram combustíveis para que a ansiedade incendiasse sua mente. Fernanda Monteiro, com apenas 21 anos, já faz parte dos 9,3% da população brasileira que sofrem com a doença. Os dados são da Organização Mundial de Saúde (OMS) e mostram que os sintomas da patologia podem aparecer em qualquer fase da vida, especialmente na adolescência, época marcada por experiências, transições e complicações. Segundo a psicóloga Sandra Martins, os sintomas podem ser tanto mentais quanto físicos. “Os mais comuns são: agitação e balanço das pernas e dos braços, nervosismo, medo constante, sensação de que algo ruim vai acontecer, tontura ou sensação de desmaio, falta de ar ou respiração ofegante, dor ou aperto no peito, palpitações no coração, dor de barriga, roer as unhas, sentir tremores e falar muito rápido, irritabilidade e dificuldade para dormir”, explica Sandra. Em busca de tratamentos menos agressivos ao corpo do que remédios controlados, Fernanda encontrou como alternativa a terapia holística. A abordagem holística acredita que as emoções, a mente, o espírito e o corpo físico de cada pessoa formam um sistema, e concentra-se tanto na causa da doença como dos sintomas. Cada vez mais buscada, ela se torna uma saída ou complemento dos tratamentos tradicionais. Fernanda não pensou duas vezes. Começou pelo Reiki e reprovou a experiência. “Fui a uma sessão e, sinceramente? Não senti nada. Nenhuma transformação. Na pressa de resolver o problema, pensei que seria milagroso”, conta. Mas por que não funcionou com Fernanda? Segundo Aline Costa, terapeuta reiki, a técnica japonesa de cura milenar promove um estado de harmonia. “A terapia auxilia na recuperação da energia vital e bem-estar através do alinhamento energético dos chakras e traz benefícios como redução na ansiedade e estresse, auxílio na cura de doenças e recuperação de lesões, melhoria na circulação sanguínea, aumento no controle e equilíbrio emocional, entre outros”, garante Aline. Mas como não funcionou? Segundo Aline, a pessoa precisa estar receptiva a isso, pois trata-se de um sistema alicerçado também à medicina, à alimentação adequada, entre outros. “Além disso, cada pessoa é única: o que funciona para um, pode não funcionar para outro. E tudo bem. O importante é que a pessoa não desista de buscar ajuda. Não existe a melhor técnica e sim aquela que o paciente gosta mais. O efeito terapêutico é o mesmo”, explica. Seguindo esse raciocínio, Fernanda resolveu tentar outra experiência: o yoga. E, finalmente, se encontrou. Para ela, a terapia de origem indiana é a arte de estar presente no agora, e não só uma sequência de posições. Buscou foco naquele momento para si mesma e sua evolução pessoal. Em todas as práticas há exercícios de respiração, tanto para aumentar a capacidade pulmonar, quanto para fortalecer a conexão com próprio corpo e com o agora. E é assim que se capta a maior quantidade de “prána”: nossa energia vital.

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Com persistência, Fernanda hoje consegue levar para o dia-a-dia as técnicas que aprendeu. Entendeu que precisa estar presente em si mesma o tempo todo para manter o equilíbrio. A ansiedade, que é tida como o excesso de futuro no presente, está sob controle. Os benefícios das terapias holísticas são visíveis e reconhecidos pelo Ministério da Saúde. Desde 2017, tratamentos como o reiki, o yoga, os florais e a aromaterapia compõem a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares incorporadas pelo SUS. A psicopedagoga e terapeuta floral Héllen Carvalho explica que a diferença dos florais para os remédios químicos é que os florais tratam a causa e a pessoa. “As emoções e os pensamentos causam os sintomas. Por exemplo, se a pessoa tem dor de cabeça, a alopatia trata a dor. Os florais tratam a causa da dor de cabeça, se é uma pessoa ansiosa, se ela não expressa suas emoções, entre outros”, afirma. Uma consulta tem no mínimo 40 minutos e avalia todo o comportamento do paciente, e a partir disso é preparada a fórmula para tratar a causa do problema. “É uma terapia mesmo, a pessoa desabafa desde a primeira consulta”, explica Héllen. Em 2017, foram registrados 1,4 milhão de atendimentos que fizeram uso dessas práticas, sendo a grande maioria (88% delas) oferecida em unidades de atenção básica (as chamadas UBS).

TEXTO: Letícia Ribeiro / Jéssica Freitas / Gabriela Santos FOTOS: Gustavo Batista / Internet DIAGRAMAÇÃO: Gleison Andrade EDITORA: Ruth Flores 13


PARA LER OUVINDO

WISH YOU WERE HERE PINK FLOYD

TEXTO: Alisson Pereira / Amanda Silva / Jean Luiz Pereira / Carolina Barbosa / Gleison Andrade / Kelsen Alves FOTOS: Gleison Andrade DIAGRAMAÇÃO: Gleison Andrade EDITORA: Gabriela Santos 14


a Arte das ruas \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\

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manifestação cultural é uma das formas legítimas de manifestação de liberdade, expressão e de pensamento. Por isso, muitas pessoas optam por ter a arte como estilo de vida e renda, mas em ateliês a céu aberto. Atualmente, no Brasil, há um grande número de pessoas vivendo nas ruas e dela retirando seu sustento, por meio da criação e venda de artesanato ou apresentações artísticas. De acordo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o país tinha, em 2015, cerca de 100 mil pessoas em situação de rua. Hoje, esse número deve ser ainda maior, tendo em vista o número de desempregados. No último levantamento feito pela Prefeitura de Belo Horizonte, em 2017, 4.553 moradores se encaixavam nesse cenário. O índice mostra que a população que vive nas ruas da capital é maior do que a população de alguns municípios mineiros. Em Divinópolis, no centro-oeste mineiro, segundo a assessoria de comunicação da Prefeitura, cerca de 100 pessoas vivem nessa condição atualmente. O município disponibiliza abrigos para essas pessoas passarem a noite e oferecem passagens de ônibus para que elas retornem às suas cidades de origem. No entanto, muitas delas não vêem de bom grado o auxílio do ente municipal.

Nesta situação está a jovem belo-horizontina Daiane Caroline, de 23 anos, que vive nas ruas de Divinópolis e se considera nômade, em razão de ter morado temporariamente em diversas cidades mineiras, como Nova Serrana, Bom Despacho, Rio Acima, Montes Claros e Pirapora. Ela sobrevive fazendo artesanato e vendendo nas ruas. Daiane conta que escolheu esse estilo de vida por ter maior liberdade pessoal, menos burocracia e por não se encaixar no padrão da vida social convencional: ter emprego fixo, preocupação do financiamento da casa própria, do carro ou da moto... Ela disse à reportagem que, com esta vida, consegue levar sua arte para as outras pessoas, bem como outras culturas e lugares diferentes. Mas nem tudo são “flores”. Segundo Daiane, viver nas ruas é complicado por questões de higiene pessoal, proteção e segurança, pois conviver com desconhecidos é sempre uma surpresa. “Viver nas ruas é um risco que se corre, mas se faz de tudo para se sobressair. Tento fazer o possível na arte para conseguir um lugarzinho para ficar melhor, mais aconchegante, mais segura, mais tranquila.” Daiane consegue se manter do que ganha nas ruas com a venda de artesanato, pois não tem interesse em adquirir bens patrimoniais. Quer somente o necessário: “um lugar pra dormir, algo pra comer e água pra se beber, nada além disso.” A maior parte da matéria-prima utilizada no trabalho manual vem da própria natureza e muitas vezes ela e suas amigas viajam a pé ou de bike para buscar tais insumos. Ela não pensa em deixar as ruas, pois esse modelo de vida é uma oportunidade e forma de adquirir conhecimento e experiências. A artesã diz que não está nas ruas por não saber outra coisa (já trabalhou como manicure, cabeleireira e costureira profissional), mas sim por uma escolha particular. “Sou livre, agora de verdade.” A reportagem conheceu também a história do argentino de 29 anos, Edson Flores, que tem como trabalho o malabarismo. Hoje ele não mora mais nas ruas, porém já viveu um tempo de sua vida nesta situação. Há 15 anos vive da arte de rua e recebeu grande incentivo desde sua infância de todos os seus familiares. Ele relata que, com o que ganha nas ruas, dá para pagar um “lugarzinho para morar”, alimentar e pagar algumas despesas corriqueiras. Edson conta que não tem tempo certo de ficar em um único lugar e que tem vontade de viajar para conhecer as regiões do Caribe e parte da Europa. Sua estadia em cada cidade depende de como é o lugar, as pessoas e o ambiente. Para o futuro, tem projetos de terminar a faculdade de Direito que começou, mas teve que interromper por motivos diversos. Ele confessa que já pensou em deixar o trabalho nas ruas, mas resolveu ficar por acreditar que isso lhe faz feliz, o que ele necessita. “Cria teu dia e faça você mesmo.” 15


Em uma sociedade tradicionalmente monogâmica, assumir um relacionamento aberto pode ser difícil. É possível ser feliz se relacionando com mais de uma pessoa?

Toda forma de amor PARA LER OUVINDO

(Lulu Santos)

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primeira conversa veio após o sexo. “Ficávamos imaginando fantasias com outros casais e depois conversávamos sobre nos encontrar com outras pessoas”, conta Isabela*. “Acredito que abrir o relacionamento é uma forma de melhorar a relação, o sexo e deixar tudo mais apimentado”, complementa Frederico*. Há 15 anos juntos, o casal decidiu abrir a relação há 10. Ter um “relacionamento aberto” não é algo necessariamente novo, mas ainda carrega o forte peso de tabus e olhares atravessados. “Existe muito preconceito porque nós temos como padrão relações monogâmicas no Brasil, enquanto em outros países não. Às vezes existe até uma hipocrisia de trair indiretamente, mas se falar que é um relacionamento aberto, não há aceitação. Só que em alguns casos os dois vão estar traindo sem falar sobre a questão do relacionamento”, explica a psicóloga Cristine Strassburguer.

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TEXTO: Luana Lima / Verônica Canabrava FOTOS: Douglas Fernandes DIAGRAMAÇÃO: Gleison Andrade EDITOR: Thúlio Oliveira

Sintonize a sua vibração (Natiruts)

Assumir um relacionamento aberto não significa que casais optantes por essa construção queiram converter outras pessoas e casais. Muito menos acham que relacionamentos monogâmicos são “sem graça”, “quadrados” ou “antiquados”. Apenas significa que o casal possui um compromisso, mas desejam viver experiências fora da relação. E se engana quem pensa que relacionamento aberto é bagunça. “Todos os casais já possuem diretrizes muito bem definidas, independentemente desse relacionamento ser ou não aberto. Eles definem se podem sair sozinhos ou não, acompanhados ou não, e tudo é definido dentro do contrato da relação”, explica Cristine. “Uma coisa que deixamos bem claro na terapia de casal é que existem brigas por essa dificuldade de comunicação e estabelecimento das diretrizes”. São justamente essas diretrizes que ditam o relacionamento entre Fred e Isabela. Antes de qualquer relação com outras pessoas, é necessário um acordo e consentimento entre o casal. Na maioria das vezes pode até rolar sexo após os encontros, mas tudo depende da afinidade entre os pretendentes. “Primeiro a gente conversa com o casal, pela internet ou telefone, depois marcamos de nos encontrar em algum local público para conversar e ver se rola ‘química’. Aí nós vamos para um lugar mais reservado, tipo motel, sítios... Se não, fica só na cervejinha mesmo”, diz Isabela.

Amor é o que não falta na relação entre Bruno* e Taynara*, ambos com 24 anos. O namoro entre os dois começou em dezembro de 2017 após se conhecerem em um aplicativo de relacionamentos. A relação foi se desenvolvendo, mas havia algo que incomodava Taynara: ela também ficava com outra pessoa. “É algo que estava me deixando muito ‘pilhada’, até que um dia conversei com ele sobre isso e decidimos abrir a relação”, conta. Desde então o relacionamento deslanchou. Eles conheceram as famílias um do outro, compartilharam desejos, experiências e, hoje, moram juntos. “Possuímos a convivência de um casal normal. Passamos a maior parte do tempo juntos, mas com a diferença de que nos permitimos sentir atração pelos outros e, ao mesmo tempo, conversar sobre isso”, diz Bruno. Como em todo relacionamento, o casal também possui regras. Não podem ficar com pessoas próximas, como amigos ou familiares, não podem levar os “crushs” para a casa onde moram, e sempre devem ser sinceros um com o outro, mesmo quando isso envolva sexo com outras pessoas. A relação com muitas dessas pessoas também pode acontecer somente uma vez. Mas e quando o ciúme acontece? O que fazer para driblar esse sentimento que, por muitas vezes, é comum nas relações? “É algo que acontece dos dois lados e que também nos deixamos sentir um pouco. Nos comunicamos sobre até onde poderíamos ir para conseguir lidar com os sentimentos um do outro. Ela é a pessoa que eu amo, então tenho que estar sincronizado com o que ela está sentindo”, explica Bruno.

Qual o segredo para um relacionamento durar 15 anos, sendo 10 deles em uma construção diferente da tradicional monogamia? O diálogo. Frederico afirma que eles nunca tiveram brigas que envolvessem outros casais com quem se relacionam pela sinceridade e honestidade. “Se não for bom para os dois, não tem motivos para ter um relacionamento aberto”, conclui. 17


Questionado se ainda vê preconceito por parte das pessoas, o casal disse que sim, mas lida com isso de forma discreta e reservada. Taynara ainda nota uma discriminação maior no caso das mulheres. “Quando você fala que está em relacionamento aberto, acham que você é promíscua, safada, que vive a sexualidade de um jeito descontrolado e até acham que o namorado é gay. Ainda existe a visão de que o corpo da mulher é propriedade do homem e a visão de que uma mulher ficar com outra é aceitável, mas se ela transa com um cara, é traição. É como se a satisfação e plenitude em um relacionamento se devesse à penetração”, pondera. E quem lida com esses sentimentos multiplicados duas vezes? Assim é a vida de Amanda*. A jovem de 26 anos possui dois relacionamentos abertos: um de quatro anos, e outro que começou há apenas quatro meses. A mudança de status ocorreu após relacionamentos monogâmicos que terminaram, muitas vezes, por motivos como traição e mentiras, que sempre a deixavam com baixa autoestima. “Não acredito que o ser humano seja biologicamente programado para a monogamia. Por isso, não acredito que é uma relação do momento que vivo, e sim da forma como sou. Já tive alguns relacionamentos monogâmicos que me fizeram extremamente mal”, diz. Amanda também conta que, no início, amigos e familiares estranharam a mudança, mas sempre ficaram curiosos sobre a construção de relacionamento. Hoje possui aceitação e defende qualquer forma de amor. “No começo eu tive que ser bastante incisiva para as pessoas não banalizarem meus sentimentos e o tipo de relação que eu construo com meus companheiros, mas hoje, todos meus amigos e familiares me respeitam e eu falo isso de forma bastante natural”, afirma.

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Longe de você (Charlie Brown Jr)

Nem mesmo a distância de 700 quilômetros entre Belo Horizonte e Conchas, no interior de São Paulo, impede o casal Luísa* e Mariana* de se encontrar. O relacionamento começou através de uma amiga virtual em comum. Elas se conheceram, ficaram e estão juntas há mais de um ano. “A saudade aperta, a vontade de fazer amor também. Quando estamos juntas, conseguimos suprir esse desejo. Mas, quando estamos longe, damos aquele jeitinho pelo telefone, pois moro em Conchas e minha namorada em BH”, conta Mariana. Questionadas se abririam a relação por conta da distância, ambas negam o intuito. Para a mineira Luísa, relacionamento aberto é para pessoas sem apego. “Acredito que relacionamento sério é sobre ter alguém para dividir as vitórias e derrotas, a vida no geral. É saber que tem alguém ali que divide os mesmos sentimentos que você e que fica feliz quando você está feliz, te anima quando você está triste”, explica.


Vale tudo? (Tim Maia)

Quem assume um relacionamento aberto também faz parte do grupo de quem pratica o poliamor? Existem casais monogâmicos que praticam swing? Se isso ocorre, não pode ser considerado um relacionamento aberto? Segundo a sexóloga Angelica Ferrari, um relacionamento pode ter configurações de acordo com a regra pré-definida entre os casais. Porém, dependendo de como essa configuração ocorrer, ela pode ser classificada de formas diferentes. “O relacionamento aberto é aquele em que o casal possui a liberdade de se relacionar com outras pessoas sem precisarem justificar essa relação. Eles não ficam presos ao ideal de romantismo dos namoros. Hoje o que se prega na nossa cultura é o relacionamento fechado (monogâmico) e qualquer coisa que ameace isso pode se tornar uma guerra, seja o sexo ou até mesmo o emprego. O relacionamento aberto vai contra isso tudo, com o sentimento de amor e liberdade”, explica a especialista. Um exemplo é o casal Fred e Isabela. Fred pode se relacionar com outras pessoas, assim como Isabela. Mas ambos possuem um vínculo no relacionamento. Caso Fred crie o sentimento com uma terceira pessoa e essa entre no relacionamento com Isabela, a configuração do relacionamento é alterada, conforme aponta Angelica: “Se rolar o sentimento de amor entre mais de duas pessoas, não existe mais o relacionamento aberto. Neste caso é poliamor. O maior sentimento que se preza em um relacionamento aberto é a liberdade, isso não ocorre na monogamia e no poliamor.” A poligamia é definida como a união conjugal de um indivíduo com duas ou mais pessoas. O termo também possui uma ramificação de acordo com o gênero sexual. É definido poliginia, quando um homem é casado com várias mulheres, e a poliandria, em que uma mulher vive casada com vários homens. Já o Swing é a troca de casais, sejam eles homo ou heterossexuais. Fica a dúvida: o que ainda causa tanto preconceito por parte da população nos relacionamentos abertos? Segundo Angelica, tudo é por conta da educação sexual construída ao longo dos anos. “Vejo muitas pessoas falarem que não há sentimento nos relacionamentos abertos e isso é errado. Há sentimento de amor e liberdade, mas é um sentimento que a nossa cultura não nos educa a saber. É difícil entender porque romanceamos o sexo. Existe o conceito de que, antes do sexo, devo amar a pessoa. Porém, o sexo é algo de instinto, sem estar atrelado aos sentimentos, como afetividade e paixão”, explica.

Eu só quero ser feliz (Cidinho e Doca)

O que a Amanda e os casais Fred e Isabela e Bruno e Taynara possuem em comum, além de possuírem relacionamentos abertos? Todos afirmam que sim, são muito felizes na atual construção de relação. Taynara conta que um dos pontos da felicidade com o parceiro é a cumplicidade um com o outro e a segurança transmitida na relação. “O importante é o cuidado com o parceiro. É estar com a pessoa e querer dividir a vida até onde puder durar. O Bruno me ajuda a superar barreiras, medos e me ajuda a crescer. Somos um casal como qualquer outro, mas com um contrato diferente da grande maioria”, afirma. Já para Amanda, o incrível da relação aberta é se sentir amada por todos e aceita da forma como é: simplesmente uma pessoa livre para amar. “Estou vivendo uma fase incrível da minha vida. Sou bastante feliz com as relações que estou construindo, em que sou extremamente respeitada nas minhas escolhas e me sinto amada e querida durante todo o tempo”, diz. Isso significa que ter uma relação aberta pode ser o ideal para todos? Não. Então uma relação monogâmica continua sendo o caminho para a felicidade? Também não. Tudo vai depender do seu processo de autoconhecimento. O que deve ser considerado é que o mundo não é monogâmico nem não-monogâmico, muito menos que existe uma fórmula ideal de felicidade para a vida amorosa. O amor é um sentimento ainda fascinante, mas inesperado. E talvez seja exatamente por isso que ele seja interessante e tão livre.

(*) Nomes fictícios 19


A BUSCA PELO

CORPO PERFEITO 20


PARA LER OUVINDO

MANIAC

MICHAEL SEMBELLO

Muitos estão em busca de uma vida mais saudável e um corpo de dar inveja. Até que ponto isso pode ser considerado positivo? TEXTO: Ana Paula Oliveira / Gustavo Batista / Matheus Felipe Alves FOTOS: Gustavo Batista / Internet DIAGRAMAÇÃO: Carolina Fonseca EDITOR: Thúlio Oliveira Na Grécia Antiga, um corpo perfeito era aquele conquistado por meio de atividade física. Os helênicos, como eram chamados os gregos na época, exibiam seus corpos atléticos em jogos e danças. Não importa em qual época esteja a sociedade, o ideal da busca pelo corpo perfeito é algo que continua na cabeça das pessoas. Os padrões estéticos são considerados culturais. Ou seja, modificam-se ao longo do tempo conforme o desenvolvimento humano. Na sociedade pós-moderna, as normas de beleza são fortemente influenciadas por questões comerciais. Marcas como Gucci, Zara e Louis Vuitton estampam modelos magras em suas campanhas publicitárias como exemplo do ideal do corpo perfeito. 21


A estratégia influenciou na criação da chamada “ditadura da magreza”, com corpos cada vez mais magros considerados ideais da beleza feminina. Tais padrões não se diferenciam muito dos gregos antigos. A diferença está na exibição desses corpos. Hoje ela é feita através de revistas de moda, programas de TV e, principalmente, pelas redes sociais. Cansado de ser julgado por estar acima do peso, Bruno Marcos, de 24 anos, resolveu mudar de vida. Há oito meses começou a malhar e fazer dieta. Tudo com base em artigos que lê na web. “Hoje em dia não janto e cortei meu café da manhã. Malho três vezes por semana e cortei guloseimas como doces, refrigerantes e salgados fritos. Prefiro alimentos leves, como saladas e carnes magras”, afirma o comerciante. Segundo a nutricionista Raphaela Gomes Santiago, Bruno não é o único a adotar a medida. Cada vez mais pessoas, principalmente jovens e adolescentes, têm mudado hábitos alimentares e o estilo de vida para te-

rem o “corpo perfeito” idealizado pela mídia. Dietas rigorosas, exercícios físicos exagerados e em excesso, tratamentos estéticos e medicamentos fazem parte da lista de ações milagrosas que atraem pessoas que desejam resultados práticos e rápidos. A busca desenfreada é mais grave em mulheres. Segundo dados do Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, a estimativa é que entre 0,5% e 4% das mulheres terá Anorexia Nervosa ao longo da vida, de 1% a 4,2% Bulimia Nervosa, e outras 2,5% Transtorno do Comer Compulsivo. Nos diagnósticos de Anorexia Nervosa, há risco de mortalidade em 5% a 15% dos casos. Quadros graves de depressão também podem se desenvolver. Raphaela ressalta que, mesmo com a saúde em foco, dietas e exercícios podem ter efeitos inversos aos esperados. “Os principais riscos de muitas dessas dietas são a falta de nutrientes e minerais essenciais para o bom funcionamento do corpo. Na falta desses nutrientes, é comum reações diversas como tontura, queda de glicose, fraqueza, perda de massa magra, e unhas e cabelos quebradiços”, explica.

Força Bruta A prática de exercícios físicos aliada à dieta equilibrada é fundamental para a vida saudável de qualquer pessoa. Porém, cada indivíduo possui um metabolismo específico que depende da avaliação de um especialista para indicar qual a rotina de exercícios e dieta ideal. No desejo de desenvolver músculos do dia para a noite, algumas pessoas apelam para o uso de medicamentos para conquistarem o tão sonhado “tanquinho”. Foi assim que Sebastião Costa começou a fazer o uso de esteroides anabólicos. Hoje com 62 anos, o personal trainer e atleta de fisiculturismo conta que começou com o uso aos 30, por conta própria. A inspiração para o corpo veio do ídolo Arnold Schwarzenegger, ex-atleta. “Quando comecei a fazer o uso foi para obter aperfeiçoamento no corpo por ser muito magro. Já tinha admiração pelo Arnold e queria ter o corpo com maior volume”, diz. Atualmente, a lei número 9965/2000 proíbe a comercialização de esteroides anabólicos. Nomes como Primobolan, Deca-Durabolin, Winstrol, Durateston, GH, Hemogenin e Clembuterol são velhos conhecidos no mundo da musculação. Eles funcionam como os hormônios masculinos naturais e auxiliam no aumento da massa e força muscular. Nas academias são usados das formas mais variadas, mesmo com a proibição. Devido ao custo elevado, muitos desses medicamentos são comercializados no “mercado negro”. No entanto, a compra pode ser fácil. Basta uma pes22


quisa rápida no Google com os termos “como comprar anabolizantes?” e os resultados são disponibilizados com vários sites especializados. Em um deles, um frasco de Metandrostenolona Dianabol, com 100 comprimidos de 10 mg, é encontrado na promoção: de R$ 180 por R$ 130. Dentre os efeitos colaterais do Dianabol, estão os androgênicos, como pele oleosa, acne e crescimento de pelos faciais, calvície, problemas de circulação e pressão arterial, retenção de água e desenvolvimento de câncer. Mesmo com a proibição e os perigos, o atleta garante que não vê problemas na utilização dos medicamentos. “Nunca senti algo diferente, até mesmo porque o corpo acostuma e pede o uso de anabolizantes. Para que a hipertrofia muscular seja eficaz, é necessário o uso. Nas competições, sempre obtive bons resultados. Durante o período de preparação, sigo uma dieta alimentar que inclui o uso de anabolizantes”, diz. Apesar do uso, o personal garante que sempre faz exames periódicos para saber se está tudo bem com o corpo. “Nunca saí comprando nem tomando qualquer coisa. Depois de uma competição, temos que fazer uma limpeza do corpo e isso requer acompanhamento médico para realização do exame HCG. Faço exames constantes, como de fígado, rim, testosterona total, TNH, hemograma completo. Inclusive já fiz dois de próstata e deu resultado zerado, nada de anomalia”, ressalta.

lhores resultados. “Mudei toda minha rotina. Minha saúde física e mental, juntamente com minha autoestima, também mudou. Reduzi minha ansiedade e hoje estou bem comigo mesma”, garante. Aderir a uma mudança na rotina alimentar e de exercícios físicos não é tarefa fácil. Requer força de vontade, determinação e perseverança. Para a nutricionista Raphaela Santos, a preocupação com o corpo, apesar de saudável, requer cautela. “Vivemos em um mundo onde as pessoas buscam constantemente o corpo perfeito. Porém, na ética profissional, não há nenhum padrão específico a ser seguido. Priorizamos a qualidade de vida: prevenimos riscos futuros de doenças cardiovasculares e, consequentemente, auxiliamos na estética corporal”, explica. Animado, Bruno diz que vai continuar com os exercícios e com a dieta da internet. Mesmo com os riscos, as alterações imediatas no corpo são um dos principais fatores que o motivam a continuar na mudança dos hábitos. O que importa é o bem-estar pessoal. “Não tenho mais cravos e espinhas. Até a pele do meu rosto mudou!”

O especialista em nutrição esportiva, Gustavo Belmont Gomes, reconhece o perigo do uso dos medicamentos. Ele também alerta para os perigos de dietas rigorosas e treinos exaustivos sem acompanhamento, que podem ser tão danosos quanto o uso de anabolizantes. “Em dietas extremamente restritas nota-se problemas de distúrbios alimentares como anorexia, bulimia e, em alguns casos, até vigorexia (distorção da imagem, que leva seu portador a buscar cada vez mais intensamente a definição muscular). Em treinos longos ou em caminhadas exaustivas, podem ocorrer lesões articulares, ocasionando danos muitas vezes irreversíveis”, explica.

Qualidade de Vida x Corpo Perfeito Não existe receita para alcançar o corpo perfeito que seja prática, rápida e barata. O caminho para ter um corpo magro e musculoso, muitas vezes, é longo e trabalhoso. A maquiadora Mariely Resende, de 29 anos, entrou recentemente no mundo da musculação. Antes, procurou a ajuda de uma nutricionista para se alimentar melhor e de um preparador físico para obter me23


2019

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O lado sentimental do Alzheimer TEXTO: Letícia Ferreira / Deanne Gherardi FOTOS: Letícia Ferreira DIAGRAMAÇÃO: Letícia Ferreira EDITOR: Matheus Garrocho

POR TRÁS DA DOENÇA, DO ESQUECIMENTO E DA INCOMPREENSÃO, O AMOR DEVE SER PRESERVADO E CULTIVADO.

O

Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que atinge cerca de 1,2 milhão de pessoas no Brasil e sua maior incidência é em pessoas a partir dos 65 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A causa é desconhecida, mas seus efeitos deixam marcas fortes no paciente, segundo a Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz). De acordo com o Ministério da Saúde, a doença não tem cura e a tendência é só piorar ao longo do tempo. Para a família do paciente que recebe o diagnóstico é um baque e uma grande mudança na rotina. Já pensou ver pessoas muito próximas a você se esquecendo de coisas básicas, como onde mora ou até o próprio nome?! Só quem convive com um paciente que tem Alzheimer sabe a dor e a frustração de não ser reconhecido por quem esteve ao seu lado a vida inteira. É necessário encarar a situação com amor, carinho e muita paciência para compreender e conseguir lidar com a doença, segundo o psiquiatra Diego Delfino.

PARA LER OUVINDO

PAIS E FILHOS LEGIÃO URBANA

segundo seu médico. A doença começou a se manifestar da maneira mais severa, o que não é muito comum. A filha do senhor João, Maria Mercedes, conta com a ajuda de seu filho e marido. Eles tratam e cuidam dele com muito carinho e paciência, uma tarefa que não é fácil e exige muito do psicológico de todos eles. Para quem não convive com um paciente com Alzheimer ou quem nunca teve contato com a doença, entender a magnitude que ela atinge é difícil. Esta reportagem acompanhou a rotina de João Luiz e da sua família, por 5 dias, para entender a oscilação da doença.

COM O EN TEN D ER? João Luiz Menezes tem 97 anos e há cerca de um ano foi diagnosticado com Alzheimer. Depois que ele perdeu a esposa e a filha em um curto espaço de tempo, sua saúde mental começou a piorar. O luto impactou sua rotina e sua vida. Essa pode ser uma das possibilidades para o surgimento do Alzheimer, 25


O diário ACOMPANHE OS 5 DIAS EM QUE ESTIVEMOS AO LADO DO SENHOR JOÃO PARA ENTENDER O QUE É CONVIVER COM ALGUÉM QUE TEM ALZHEIMER

Dia 1:

Ele acordou bem, tomou café e, logo pela manhã, não reconheceu sua filha Mercedes. É mais um dos dias em que o Alzheimer estava presente. Após o almoço teve uma crise de nostalgia e começou a contar com detalhes acontecimentos de décadas atrás. Sua mente estava em quando ainda era muito jovem. Depois de um tempo ele ficou calado, recluso e irritado por não ter suas vontades e desejos surreais atendidos, consequência da doença. Ele foi dormir cedo, por volta de 18 horas já estava na cama.

O ALZHEIMER É TOTALMENTE IMPREVISÍVEL E, NA PARTE DA TARDE, A DOENÇA COMEÇOU A SE MANIFESTAR.

SURPREENDENTEMENTE ELE PERMANECEU LÚCIDO NO RESTANTE DO DIA.

Dia 2:

Ele levantou da cama às 5 da manhã pedindo café. Houve dias em que ele acordou às 3h. A noite lhe fez bem, ele reconheceu a todos e seu humor havia mudado drasticamente em relação ao dia anterior. Depois do segundo café matutino ele foi tomar sol. O Alzheimer é totalmente imprevisível e, na parte da tarde, a doença começou a se manifestar. Ele estava novamente irritado e recluso aos seus pensamentos. Dormiu sentado na sala, acordou um tempo depois e, após jantar, foi dormir.

Dia 3:

Mais uma manhã em que ele acordou bem e sabia quem eram todos a sua volta, um alívio para quem convive com ele diariamente. Surpreendentemente ele permaneceu lúcido no restante do dia. Alimentou-se bem, sabia onde estava e quem eram os presentes. Dias assim estão ficando cada vez mais raros.

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Dia 4:

Crise é a melhor palavra para definir esse dia. Além de irritado, mostrava-se agressivo e nem sabia onde estava: insistia a dizer que morava em Araújos, local de onde havia se mudado há décadas. Não era possível e nem havia motivos para levá-lo até lá. Nesse dia o Alzheimer o pegou em cheio.


Dia 5:

Ele recebeu todos com um forte e caloroso abraço. Depois dos cumprimentos, João se sentou e logo ofereceu um café. Durante a conversa, a nostalgia e a falta de noção do tempo não deixaram dúvidas que, por mais que ele estivesse bem e agradável, ainda havia resquícios do Alzheimer nas suas palavras. Ele foi muito carinhoso, reconheceu a todos. Depois de um dia agradável e sem crises, ele foi dormir, mas antes, ao se retirar, disse: “Vocês me dão licença que eu vou deitar, boa noite a todos e até amanhã.”

Momentos felizes ao lado da família... tônio

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Tomando um su co de uva

Fala do especialista

DIEGO DELFINO PSIQUIATRA

Para o psiquiatra Diego Delfino, a família também precisa de acompanhamento médico para saber lidar com a doença. O paciente com Alzheimer não tem conhecimento da sua condição e tem perda do juízo de realidade, por isso o acompanhamento médico é preciso. Ele ainda afirma que é necessário que a família compareça às consultas para receber orientação, entender o que está acontecendo e o que deve ser feito. No contrário, a doença já existente pode se agravar. Ter muita paciência, carinho e respeito são fundamentais para lidar com todo o processo, ele acrescenta. É necessário compreender e encarar a doença. Diego ainda conclui que “o paciente com Alzheimer somente vai ser cuidado por aqueles que o amam, seria a retribuição do cuidado no final da vida.”

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ADAPTAR

É PRECISO PARA LER OUVINDO

VIDA DE OPERÁRIO PATO FU

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Emanuel Assis, professor e coach na área de Administração. “Em 2018 ofertei com muita frequência cursos e palestras de Planejamento Estratégico, Plano de Marketing; Gestão por Processos e Comportamento Empreendedor”, conta. Segundo ele, em 2018 houve um aumento de cursos In Company, trazendo aumento de produtividade e resultados positivos: “As pessoas gostam quando as empresas ofertam capacitação. Isso gera valorização ao funcionário, além de promover o conhecimento.”

TEXTO: Maynne Dara / Jaice Balduíno / Mayra Fernanda FOTOS: Internet DIAGRAMAÇÃO: Leonardo Costa EDITOR: Matheus Garrocho

Alisson dos Santos, 24 anos, negro, de classe social baixa, abandonou os estudos com 15 anos de idade após se envolver com as drogas. “A falta de oportunidade de emprego foi o que colaborou para o meu declínio”, desabafa. Hoje, ele trabalha como auxiliar de serviços gerais e sonha em retomar seus estudos. Segundo o Cadastro de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho, Minas Gerais enfrentou nos últimos sete anos altos índices de desemprego. O ano de 2018 trouxe uma melhora tímida na situação. Alisson faz parte dessa mudança.

Márcia Gonçalves Eugênio, de São José dos Salgados, é um exemplo que, para conseguir empreender, não pode desistir. “Quando comecei a vender água de coco, eu não possuía nem meu próprio carrinho,” conta. Segundo ela, essa vontade nasceu por necessidade, apesar de sempre desejar trabalhar com comércio diretamente. “Quando finalmente consegui comprar meu carrinho, a prefeitura tirou o pessoal das ruas, selecionando os locais de vendas”, relembra. Depois desse episódio, ela deu início à venda de roupas e lingeries. Porém, por vender as mercadorias a prazo, o empreendimento não deu certo, devido ao fluxo lento de lucro, forçando-a a partir pra outro tipo de negócio.

Mesmo com baixas taxas de emprego formal nos últimos anos, muitos jovens se esforçam para conciliar trabalho e estudo, como é o caso de Larissa Marques. Para a jovem de 22 anos, estudante de Publicidade e Propaganda, a história foi diferente. Ela iniciou no mercado de trabalho aos 15 anos como jovem aprendiz e hoje trabalha como auxiliar administrativa para custear seus estudos. Larissa conta que sempre teve oportunidades de estudo e trabalho. Segundo Gleidson Nonato da Silva, gerente regional do Ministério do Trabalho em Divinópolis, enquanto algumas empresas tiveram quedas, outras cresceram, mantendo equilíbrio. “Precisamos que venha uma empresa grande para Divinópolis, ajudaria o município em geral. Podemos verificar que, mesmo estável, existe uma crise. Um bom exemplo é a feira de empregabilidade do Senac, que atraiu diversas pessoas”, ressalta. Para garantir rentabilidade sem os recursos de um emprego formal, vários brasileiros sonham com o negócio próprio. Tentando fugir do modelo tradicional de negócios, Valdeir Paschoal, que tinha um varejão de frutas e verduras em Itaúna, mudou sua forma de empreender. Com uma ideia de inovar, sua

filha transformou seu comércio numa forma de vendas virtuais: o cliente entra em contato pelo telefone ou redes sociais. O modelo adotado traz para o empreendedor a facilidade de trabalhar quatro dias semanais, excluindo os gastos de uma loja física. “O cliente sabe que tem verdura nova, faz o pedido e nós apenas entregamos”, explica. “Há uma demanda alta, principalmente com os novos modelos de negócios; inclusive os MEI (Microempreendedor Individual)”, afirma

Sempre pensando em empreender, teve outra ideia: “Comecei a fazer trufas para vender, pois eu investiria pouco dinheiro e daria mais certo. Vendi na porta de escolas, em pontos de vendas de alimentos, até que achei uma lanchonete que comprou várias.” Para ela, mesmo às vezes tendo que trabalhar um pouco mais, ter um negócio próprio é bem mais satisfatório, pois existe flexibilidade e autonomia de seus horários e a renda é maior. “Voltei a investir em roupas, e estou tentando por um caminho que não tenho certeza, porque passei a vender minhas peças à vista. Até então, tem dado certo. Eu fico satisfeita, pois acredito estar ajudando no fluxo econômico da minha cidade. No meu caso, por exemplo, compro de alguém que trabalha com facção, contribuindo para um giro de lucratividade, porque ela também lucra.” 29


SORRISO NA CNH TEXTO: Deivid Ângelo / Letícia Ribeiro DIAGRAMAÇÃO: Carolina Fonseca EDITOR: Ricardo Nogueira

Amanheceu. Era uma manhã chuvosa, com raios e trovões. Faltavam exatamente duas semanas para o sonhado aniversário de 18 anos. Essa data marcaria o início de uma nova vida, com mais liberdade e menos minutos de espera no ponto de ônibus. Fernando já sentia o vento balançando nos cabelos, já se despedia dos cobradores, dos funkeiros sem fones de ouvido e já esperava o respeito e admiração dos amigos por conseguir conquistar seu primeiro veículo após muitos anos poupando sua mesada. Todos os dias era a mesma rotina: o garoto pegava o ônibus, se direcionava à sexta fileira à esquerda. O lugar ao lado de Aninha estava reservado. Ele se pegou sonhando durante vários anos com o dia em que levaria Aninha para a escola em seu carro após tirar a sua CNH. A espera era longa, o jovem riscava os dias no calendário para dar início a sua nova e tão esperada jornada. No dia de realizar o exame psicotécnico, o nervosismo era notável, uma vez que várias pessoas relataram suas experiências. O que motivava e trazia um pouco de serenidade a ele eram as lembranças de Aninha cantando Engenheiros do Hawaii ao seu lado durante o percurso que o ônibus fazia. Ele mal poderia esperar para dar play na canção em seu próprio veículo com

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PARA LER OUVINDO

INFINITA HIGHWAY

ENGENHEIROS DO HAWAII

Aninha ao lado. Após tantos risquinhos, ofuscamento na visão e uma conversa séria com o psicólogo, o jovem dirigiu-se à última etapa do exame. Depois de várias assinaturas e impressões digitais, o garoto ficou na espera para registrar sua 3x4 da CNH. Visualizou uma mensagem de Aninha em seu WhatsApp e, com sorriso no rosto, se direcionou à sala onde foi solicitado. - Boa Tarde! – disse o jovem. - E esse sorriso lindo, é por causa da aprovação? – perguntou Lilian, a secretária. - Também – sorri o garoto. - Já que esse sorriso está estampado em seu rosto, que tal registrar também na 3x4 da sua CNH? - Mas é liberado sorrir? - Sim. De acordo com uma resolução do CONTRAN, de julho de 2017, é permitido sorrir na 3X4 da CNH, uma vez que a legislação do país não regulamenta como a pessoa deve se portar na foto do documento. Depois de passar pelas 45 aulas obrigatórias de legislação, 25 aulas de direção e uma reprovação, o jovem, em uma manhã de sexta-feira, se viu assinando uma guia dos Correios recebendo sua CNH. Após a retirada do documento, o rapaz tirou o carro da garagem, se direcionou à casa de Aninha e, quando estacionou o carro, ouvia somente o barulho do despertador. Foi aí que acordou e percebeu que tudo não se passava de um sonho. Era uma manhã chuvosa, com raios e trovões, e faltavam ainda duas semanas para o tão sonhado aniversário de 18 anos.


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