Dez mandamentos da intervenção e do acompanhamento social gerontológico

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10 mandamentos da intervenção e do acompanhamento social gerontológico Ricardo Crispim Mestre em Ciências da Educação e Licenciado em Educação Social e Serviço Social https://www.facebook.com/ricardocrispimeducadoreassistentesocial/ rmscrispim@hotmail.com

RESUMO Dez Mandamentos da Intervenção e do Acompanhamento Social Gerontológico são uma proposta de boas práticas que visam nortear a prática profissional dos técnicos de Educação Social e Serviço Social ou outros. A sua redação deveu-se, em larga medida, à experiência profissional comprovada ao longo dos últimos oito anos junto da população sénior institucionalizada. Muito embora tenha anotado uma dezena de itens, os quais considero capitais para o bom uso das competências do Educador Social e/ou Assistente Social, considero que muito mais “mandamentos” poderão surgir decorrentes de outras práticas profissionais de demais técnicos. Outro aspeto importante tem que ver com o facto de considerar o uso destas indicações não somente para os técnicos de Educação Social e Serviço Social, mas também outros técnicos e profissionais que desempenhem funções para e com a população sénior autónoma, semi-autónoma e dependente. Apesar de cingir estes “mandamentos” à intervenção social em contexto gerontológico, estou certo da eficácia destes itens, com os devidos ajustes, a qualquer população vulnerabilizada e excluída socialmente.

O envelhecimento da população constitui um dos maiores desafios, tratando-se atualmente de uma questão mundial. Segundo investigações de Zaida Azeredo (2011) a população portuguesa atual ronda 15,60% de jovens com menos de 14 anos e 17,0% de idosos com 65 ou mais anos de idade, com

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67,30% encontra-se a população em idade ativa dos 15 aos 64 anos. Estas percentagens deixam claro que o número de idosos já ultrapassa o número de jovens em Portugal. Para enfrentar este desafio os técnicos da área social e humana tiveram necessariamente de se adaptar a fim de melhor tirar partido das oportunidades de uma vida mais longa. Partindo deste pressuposto, o paradigma em que sustento a próxima ideia, inscreve-se na consciencialização de que a população idosa - pessoas cada vez mais conscientes dos seus direitos, mas também detentora de um maior número de incapacidade inerente à degradação física e cognitiva -, precisa de enquadramentos integrados, holísticos e transversais, aplicados aos campos da intervenção e do acompanhamento. Alvo de interesse no âmbito pessoal e não tanto científico, recorro à explanação dos Dez Mandamentos da Intervenção e do Acompanhamento Social Gerontológico que considero essenciais para qualquer profissional social que intervenha e acompanhe pessoas idosas. 1. O direito de sermos nós próprios é para todos Na máxima “Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti”, importa lembrar que cada pessoa tem interesses distintos. O profissional antes de levar a cabo o seu trabalho, deve informar a pessoas idosa do que planeou fazer, de modo a perceber qual a sua predisposição e expectativa ajustando a sua prática, se for necessário. 2. Se quer colaboração, colabore O técnico não pode esperar que a pessoa idosa valorize o seu trabalho, inclusive admitir que precisa disso, e que a/o ajude no cumprimento deste se ele, o técnico, nunca lhe perguntou o que é que ela estava disposta a fazer ou nunca a relembrou ou reforçou as suas capacidades. 3. Escutar não custa e o carinho não se paga É essencial para a pessoa idosa sentir que está a ser ouvida e que há interesse no que sente, lembra, faz e sonha. A empatia, a simpatia e o respeito não se pagam. Se o técnico pensar “Eles não me pagam para ser simpático/a”, então é porque o técnico terá de repensar na sua atuação. Não há melhor recompensa que um sorriso sincero de uma pessoa idosa – encoraja e dá vontade de retribuir. 4. A felicidade dá saúde e o sorriso é contagioso É importante que o técnico seja feliz no seu local de trabalho (a vocação nesta área é essencial), que mantenha uma relação equilibrada com as pessoas que o/a rodeiam e que tenha orgulho no que faz. 5. A crise não é uma desgraça, é apenas uma mudança Muitas vezes promover a mudança na forma como se acuta ou na organização, fará muitas vezes a diferença entre ser-se mais um técnico e ser-se um técnico brilhante. 6. Estar velho não é ser tonto, nem voltar a ser criança Começamos a envelhecer desde que nascemos. Uma pessoa idosa é um adulto afortunado e é um sobrevivente que teve a oportunidade de crescer como pessoa porque ganhou mais anos à vida com nítido acréscimo de longevidade. 7. Responsabilidade, às vezes demasiada familiaridade atrapalha O exercício profissional do técnico que trabalha com pessoas idosas é legitimado por um contrato que estabelece obrigações e funções negociadas entre este e a entidade empregadora, o que não quer

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dizer que o profissional mostre frieza e distanciamento, nem tão pouco trato por “avozinha”, “tiozinho” (demasiada familiaridade). Tratar as pessoas com respeito e delicadeza reforçará o papel específico do técnico na vida dos idosos e a responsabilidade enquanto pessoa e profissional. 8. Direito à autonomia Sempre quanto possível, o técnico deve levar a cabo uma intervenção aberta, harmoniosa e respeitadora que honre a dignidade, a autonomia, a privacidade, o direito de escolha e a independência da pessoa idosa, incitando a participação cívica dos idosos. 9. Uma equipa unida fará, sempre, dos idosos pessoas mais felizes “A união faz a força!” A existência de um grupo de técnicos únicos e focados no real bem-estar dos idosos fará destes pessoas certamente mais felizes, mais capazes de atingir níveis de liberdade e autossuperação. 10. Caminhar sem medo de errar Saber-fazer não é só fazer bem. É também conhecer melhor. Ser-se sólido nos saberes e flexível nos (a)fazeres é o caminho certo, caminho esse que só se descobrirá caminhando! Ter medo de errar na prática profissional só criará técnicos receosos de novos trilhos. Quando se trata de intervir e acompanhar pessoas idosas, respeitante à prática profissional social e humana, no meu caso particular no contexto de Educação Social e Serviço Social, considero necessário nortear a minha prática prática não só, tendo em conta os Mandamentos referidos em cima, como também (a) valorizar e dignificar o idoso como Pessoa una que é; (b) garantir o segredo profissional e a confidencialidade; (c) dar a conhecer ao idoso os seus direitos e deveres; e (d) envolver a rede informal da pessoa idosa no seu projecto de vida (Ribeirinho, 2013).

CONCLUSÃO Na prática social gerontológica, em qualquer um dos casos, o grande desafio que se coloca é desenvolver estratégias e metodologias que tenham em consideração a dimensão holística da pessoa idosa, mobilizando as necessárias ferramentas para melhor cuidar da subjetividade (biopsicossocial, cultural e espiritual) do idoso enquanto Pessoa singular, a partir dos “talentos”/potencialidades, capacidades, necessidades, usando recursos técnicos e, sobretudo, afetivos. Este desígnio faz-me defender a tese que em cooperação e trabalho em equipa a intervenção desenvolvida para e com pessoas idosas “é tão reconfortante como recompensadora (…) pelas suas histórias e experiências pessoais” (Crawford e Walker: 2008, cit in Ribeirinho: 2013: 198).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEREDO, Zaida (2010). “Evolução demográfica: sua importância no cuidar”, VII Congresso Nacional de Gerontologia. Porto, Fundação Engenheiro António de Almeida RIBEIRINHO, Carla (2013). Serviço Social Gerontológico: Contextos e práticas profissionais. Carvalho, Maria (Coord.) Serviço Social no envelhecimento, Lisboa, Lidel

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