Agrupamento Ibn Mucana
A gravura é um meio de transpor a subjetividade para um estado físico e tátil. Este momento de estar presente e produzir uma matriz é portanto uma maneira de transferir sua forma para uma outra superfície, é um ato de expressão. Tal movimento faz com que o gravador seja um criador de uma mídia que pode ser reproduzida inúmeras vezes. Cada reprodução nesta técnica terá uma nova transformação.
Dentro do contexto do projeto “Residência
Artística” do Plano Nacional das Artes, a proposta desta residência foi integrar os alunos à oficina de gravura do Agrupamento Ibn Mucana em Cascais, em parceria com a artista Andrea Ebert. Foram realizadas oficinas experimentais para explorar a gravura com materiais não convencionais com os alunos, professores e a comunidade escolar.
Cascais
Escola Ibn Mucana
Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão
Escola Secundária Helena Cidade Moura
Escola Básica Raul Lino
Escola Básica Fernando Teixeira Lopes
Oficina intitulada “O que pode ser uma gravura?”
dirigida a 3 turmas do 4º ano em conjunto com a Professora responsável pela turma.
Foram realizadas sessões de 90 minutos onde se explorou os fundamentos básicos da gravura com atividades vinculadas aos recursos da Biblioteca Escolar e o tema curricular.
A gravura foi a ferramenta para desenvolver a literacia visual com o acompanhamento de três questões:
O que vês?
O que pensas disso?
O que fazes com isso?
Estas questões foram baseadas no livro do autor Rancière, J. (2010) “O mestre ignorante”, em que a emancipação significa perceber que a igualdade de inteligência existe em todas as pessoas. Tal permite que qualquer indivíduo possa tomar a iniciativa de construir uma compreensão das produções artísticas ou intelectuais, e assim tomar as rédeas da sua curiosidade e conhecimento.
A curiosidade e a construção do próprio conhecimento são assim estruturas para a aquisição de conhecimentos aprofundados e o desenvolvimento da literacias (visuais e outras), que por sua vez se podem configurar como actos de emancipação.
Para esta residência, Andrea Ebert propôs um desafio aos participantes de criarem uma matriz a partir de pedaços de caixa de leite, sem usar outra ferramenta.
Esta criação de imagem dá-se a partir de formas aleatórias e faz com que o participante seja desafiado à criação, não a partir do que ele imagina, mas a partir de fragmentos que encontra a frente, no caso pedaços e formas, o que possibilita construir uma imagem que não estava à espera.
Construção de vocabulário através da percepção. Em uma folha de papel, cada aluno pressionou o dedo polegar numa almofada de carimbo e logo após carimbou numa folha de papel branco a sua digital. Com uma caneta de cada cor, os alunos escreveram na folha as respostas às perguntas: O que vês? O que pensas disso? O que fazes com isso?
A partir das normas de utilização da Biblioteca Escolar, os alunos criaram jogos e tabuleiros com carimbos e colagens. Com esta atividade os alunos conseguiram perceber melhor o que havia na biblioteca e se sentirem mais à vontade em estar neste espaço. Consequentemente, os jogos também tornaram um recurso para a escola.
Com excertos de contos que os próprios alunos do 5º ano escolheram, foi produzido imagens com recortes geométricos de cartolinas coloridas.
A partir destas imagens os alunos aprenderam a técnica de stop motion produzindo uma animação com o telemóvel.
https://youtu.be/y5cBBmjpYMs
No total foram sete participantes no Centro de Reabilitação de Alcoitão. Todos realizaram as atividades, mesmo com dificuldades motoras e também aprenderam a técnica da gravura. No final, os participantes fizeram questão de assinar e levar as gravuras.
Oficina no Centro de Reabilitação de AlcoitãoO objetivo principal da oficina dirigida ao professores era demonstrar qual seria o tipo de material e técnica que seria oferecido aos alunos dentro do programa escolar. Mas também havia um objetivo de produzir um recurso para a Biblioteca Escolar através da produção de uma capa de um livreto com gravura. Esta capa serviria para depois colocar histórias, conto, poesia de autoria própria ou de terceiros com autorização do autor, que o participante iria inserir posteriormente e oferecer para à Biblioteca Escolar.
Com os alunos do 11º ano, além das oficinas de gravura, houve uma leitura do texto “O Dédalo e o Labirinto: Caminhar, Imaginar e Educar a Atenção” do antropólogo Tim Ingold e com esta leitura, os alunos delinearam algumas anotações como:
A meu ver, está cada vez mais complicado expressarmos as nossas opiniões sem sermos julgados. Já que cada vez que dizemos algo vai semprehaveralguémqueficaofendidoouconcorda comoquedizemos.Assimfazendotodasaspessoas (oupelosmenosamaiorparte)pensarantesdedizer algoparanãoserjulgado.
Durante a nossa vida, especialmente enquanto crescemos, transmitir a ideia de que quanto mais velhos somos, maior deveria ser também a nossa “maturidade”, afetando assim a nossa forma de ver omundoumavezquedeixamosdedaratençãoàs coisassimplescomquenosdeparamostodososdias, eatribuímostodaanossadedicaçãoatentativasde atingircertosobjetivos,enquantoignoramostodoo caminho percorrido para chegar até eles. Tudo isto reforça a ideia de que vivemos realmente a nossa vidacomoseestivéssemosnumdédalo.
Mais sobre este trabalho no site
https://contato5885.wixsite.com/11f2023
As formas de pensar sobre o dédalo e a construção de caminhos em que às vezes não há conexões, foi o trabalho em equipa para a produção deste painel.
As oficinas com Andrea Ebert para o 12º ano do curso
de artes visuais, tinham o objetivo de experimentar
a gravura com matrizes de caixas de leite e outros
materiais durante 4 meses.
Após 3 meses a turma se dividiu em duas partes e no final realizaram duas obras. Uma obra foi colocada numa parede externa da escola e a outra turma expôs
uma gravura contínua de 12 metros de comprimento em conjunto com este vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=kIEAFqZjh7w&t=6s
Neste grupo houve necessidade de questionar como uma turma do curso de artes pode expressar vontades e pensamentos através da imagem. O que fez-se atravéz de impressões de manifestos que podem ser vistos no site
https://contato5885.wixsite.com/12g2023
Andrea Ebert leva para a Escola Secundária a exposição
“Viragem” realizada anteriormente na Galeria Tilda, um espaço expositivo na despensa da sua casa.
Os alunos do 11º e 12º ano tiveram a oportunidade de ver uma projeção de videoarte, uma peça visual em slide e um livro de artista na escola e com isso conversar sobre esta exposição e o processo de criação com a Andrea Ebert.
Oficina livre
Além das turmas de longa duração, foram oferecidas oficinas livres para a comunidade escolar e para com educação especial. Estas oficinas eram direcionadas
também à gravura experimental.
“O fato de podermos compartilhar esse espaço, de estarmos juntos viajando não significa que somos iguais; significa exatamente que somos capazes de atrair uns aos outros pelas nossas diferenças, que deveriam guiar o nosso roteiro de vida. Ter diversidade, não isso de uma humanidade com o mesmo protocolo. Porque isso até agora foi só uma maneira de homogeneizar e tirar nossa alegria de estar vivos.”
Ailton KrenakForam realizadas oficinas que envolveram 145 participantes durante 4 meses com a artista Andrea Ebert.
O projeto foi concretizado graças ao apoio fundamental dos Professores, da Biblioteca Escolar, da Coordeneção do Projeto Cultural de Escola, dos alunos e do Plano Nacional das Artes.