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DEZOITO GRAUS Rio Moderno, uma história do Palácio Gustavo Capanema
LAURO CAVALCANTI
apresenta e patrocínio
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realização
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Este livro é um relato ficcional dos fatos em torno da construção do Palácio Gustavo Capanema que, se não ocorreram exatamente assim, poderiam ter acontecido.
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Biografia de um momento Quando, há mais de 80 anos, o arquiteto Le Corbusier atravessou o Atlântico num zepelim, definitivamente não suspeitaria que o edifício que os seus colegas brasileiros queriam construir no Centro do Rio de Janeiro fosse também servir como destino de um bloco de Carnaval chamado Boi Tolo (conta a lenda carnavalesca que, certa vez, alguns integrantes chegaram atrasados e se perderam do bloco Boitatá, dando origem ao Boi Tolo). Todos os anos, debaixo dos pilotis, protegidos do calor carnívoro, e diante de um painel de Portinari, centenas de pessoas pulam, cantam e sambam, encarnando plena e inesperadamente aquilo que Lucio Costa, Oscar Niemeyer e Le Corbusier imaginavam para o local – um edifício que tivesse em conta as idiossincrasias do Rio e que pudesse ser “usado” pelos frequentadores do Centro, que circulariam por baixo dos pilotis, descansariam na sombra, suavizariam a dureza do dia de trabalho pousando os olhos no jardim de Burle Marx. Se a fundação deste bloco, tão genuinamente carioca, parece digna de uma entrada na enciclopédia brasiliana, também a história do Palácio Capanema tem os atributos de tudo o que é mais brasileiro, além de um enredo que, por vezes, parece digno de um filme de espiões. Dostoievsky terá dito que bastava testemunhar uma luta de rua para iniciar a escrita de um romance. Para quem tem uma mente engenhosa e novelesca, talvez faça sentido produzir centenas de páginas a partir de uma troca de sopapos, afinal, uma briga na esquina pode desvelar, de fato, a vida inteira. Contudo, a biografia de um edifício podia parecer matéria de tédio: jargão técnico, croquis, estudos, hermetismo acadêmico. Nada disso: o contexto histórico (pré Segunda Guerra Mundial) garante um pano de fundo digno de um romance de época, e os protagonistas têm muito mais de magnético do que de aborrecido – Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Le Corbusier, Carlos Drummond de Andrade, Getúlio Vargas, Josephine Baker ou Orson Welles. Paul Auster escreveu que as boas histórias aparecem a quem sabe escrevê-las. Lauro Cavalcanti, que conhece esta história como ninguém e que teve o talento, a audácia e a originalidade de pegar na biografia de um edifício – percebendo que o caráter romanesco da sua narrativa era mais apelativo do que muita ficção – é um desses homens que sabem contar histórias, e que provam que, felizmente, o ofício não está restrito a romancistas de carreira. HUGO GONÇALVES, editor
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Apresentação A corrente arquitetônica, assim como a corrente elétrica, rodeia a terra e as antenas despontam em todos os lugares. le corbusier,
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Até meados dos anos 1930, o modernismo nacional parecia apenas uma nova importação, diversa na forma mas similar no espírito a tantas outras já realizadas nas arquiteturas dos séculos anteriores. Esse quadro foi radicalmente alterado a partir de 1936, por meio da cooperação entre a equipe brasileira e Le Corbusier, com a releitura tropical de seus princípios para a construção do Prédio do Ministério da Educação e Saúde, atual Palácio Gustavo Capanema. Foi a primeira realização de um prédio moderno monumental, provando que o estilo poderia adquirir tal escala e ser aplicável a regiões com temperaturas diversas do clima temperado europeu. A partir daí a timidez foi afastada da arquitetura brasileira, que passou a se relacionar de modo mais original e maduro com a cena moderna internacional. Vários bons livros foram escritos sobre a arquitetura do Palácio Gustavo Capanema – do pioneiro “Colunas da educação” (1996), de Paulo Sá e Maurício Lissovsky, ao último trabalho de Roberto Segre, “Ministério de Educação e Saúde” (2013). Eu próprio, a partir de uma abordagem antropológica, o examinei nos livros “As preocupações do belo”(1995) e “Moderno e brasileiro”(2006). Quando convidado pelos editores da Língua Geral a reexaminar a história do prédio, me dei conta de que ela não era plenamente apreensível de um ponto de vista exclusivamente arquitetônico, uma vez que o aparecimento do edifício se inseriu em um complexo e fascinante quadro intelectual, político, econômico, histórico e social. Muito mais que tijolos, os seus protagonistas, a maioria alheia ao campo da edificação, lidavam com ideias vinculadas a um projeto estético de transformação do país. A ficção me permitiu relatar e recontextualizar situações, em boa parte efetivamente ocorridas, que tiveram a participação, direta ou indireta, de personagens tão díspares como Le Corbusier, Getúlio Vargas, Marcel Duchamp, Lucio Costa, Carlos Drummond, Maria Martins, Carmen Miranda, Oscar Niemeyer, Nelson Rockefeller, Stefan Zweig, Mário de Andrade e Antoine de Saint-Exupéry. E, desse emaranhado de personagens e fatos, o leitor verá, espero, o prédio emergir, belo, ainda contemporâneo e, sobretudo, humano.
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PARTE 1
Nas Américas Em 9 de janeiro de 1943, na rua 14 oeste, Maria Martins, escultora e embaixatriz, ajeitou os cabelos diante do espelho do banheiro, no ateliê de seu amigo Marcel Duchamp, e recolocou o colar de pérolas, os brincos e o broche, de sua criação, inspirado em raízes amazônicas. Aproveitara a visita para mostrar-lhe fotografias de seu estúdio em Washington, com as esculturas que, dois meses mais tarde, exibiria na galeria Valentine. Sobre um retrato da amiga brasileira, Duchamp tinha disposto essas mesmas joias, fotografando o conjunto que iria sair, posteriormente, na “Vogue” americana. A escultora, que não vira passar as horas, estava atrasada para o encontro, no bar do Plaza Hotel, com seu marido, o embaixador brasileiro nos Estados Unidos, de onde seguiriam para o MoMA. Duas horas depois, na rua 53 leste, o motorista abriu a porta de um Plymouth preto para que desembarcasse, na calçada limpa de neve, em frente ao Museu de Arte Moderna, o casal Maria e Carlos Martins. O diretor, Alfred Barr, e o arquiteto curador, Philip Goodwin, esperavam-nos no saguão para inaugurar a mostra “Brazil builds: Architecture new and old 1652-1942”, cujo destaque absoluto era o prédio do Ministério da Educação, referido na edição matinal do “New York Sun” “como o prédio governamental mais bonito do hemisfério ocidental”.1 A história desse edifício começara 14 anos antes, 1200 metros de altura, em 1929, a bordo de um avião Latécoère, da Companhia Sul-Americana de Navegação Aérea, no voo inaugural Buenos Aires-Assunção. O piloto e escritor Antoine de Saint-Exupéry, que publicara naquele mesmo ano seu livro “Correio do Sul”, chefiava a subsidiária argentina da Aéropostale e conduzia o aparelho naquela viagem para convidados. Um de seus passageiros, trajando terno de linho branco, gravata borboleta e redondos óculos em chifre de boi, que sobressaíam na sua figura magra, pegou um caderno de anotações e começou a escrever algumas ideias que lhe ocorriam a partir do amplo ponto de vista que a janela do avião lhe propiciava. A imensidão da paisagem e os grandes vazios verdes confirmavam-lhe a impressão de que a América do Sul
Retrato de Maria Martins com joias de sua autoria dispostas por Marcel Duchamp.
seria um território mais propício do que a esgotada Europa para implantar seus projetos de arquitetura e cidade. Pensava, por outro lado, observando as
1. Edição de 15 de janeiro de 1943.
tortuosas curvas dos leitos dos rios, diversos dos mais retilíneos estuários do Velho Continente, que era necessário implantar certa racionalidade para que
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a velocidade da água não fosse detida por tantos obstáculos antes de atingir o mar. Caberia a ele próprio ser o arauto de um cartesianismo lírico, apoiado nas novas técnicas e numa abordagem artística que implantasse cidades e prédios para combater a morosidade sul-americana. Do seu ponto de vista, na América Meridional nem os rios corriam direto para o mar, como na Europa, mas se perdiam em meandros até alcançar a foz. Corbusier sorveu em pequenos goles um diabolo framboise, cuja transparência grená provocava um alegre e violento contraste com o azul do céu, lhe recordando as casas das favelas cariocas, nas quais a simplicidade e o uso livre de cores pareciam-lhe mais humanas que as cinzentas e ornamentadas casas projetadas por arquitetos. Em livre associação, seus dedos tamborilavam um ritmo sincopado que acompanhava suas lembranças de música negra da América do Norte e, em especial, o show de Josephine Baker a que assistira recentemente, com entusiasmo, em São Paulo. Le Corbusier esperava que sua arquitetura realizasse semelhante fusão entre puras linhas europeias e a sensualidade das formas nativas. Não podia suspeitar que o destino colocaria, dali a 30 dias, a cantora como sua companheira de bordo e tórrida amante, no transatlântico Lutétia, que os levaria de volta à Europa.
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Capa do livro “Brazil builds: Architecture new And old 1962-1942”. Antoine de Saint-Exupéry e Henri Guillaumet, Argentina, 1930.
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Da cabine de comando Saint-Exupéry avistou uma densa formação de nuvens e solicitou que os passageiros apertassem os cintos de segurança. O
Uma ditadura plural
avião deixou a zona azul e corcoveou dentro do branco cinzento. Cruzou o pensamento do arquiteto outro momento tenso de sua viagem, passado durante a festa de despedida na casa de Victoria Ocampo – intelectual e poeta –,
Getúlio Vargas, candidato presidencial derrotado, mas revolucionário vito-
principal centro intelectual modernista da cidade portenha; após o jantar,
rioso, desejava imprimir marcas de seu governo nas formas da capital fede-
Azucena Maizani, renomada cancionista, desfilou um recital de tangos que
ral e promoveu a construção de sedes ministeriais, prédios administrativos
lhe entediaram bastante. Após “Canción de Buenos Aires”, a anfitriã pergun-
e novas avenidas. Um aparente paradoxo entre política e estética teve lugar
tou-lhe se gostava da música argentina e ele, tentando sair pela tangente,
naquele início do Estado Novo: enquanto era implantada uma ditadura, o
piorou a situação: “Adoro marchas militares turcas porque ouve-se, de longe,
campo arquitetônico era plural, com as correntes “acadêmica”, “neocolonial”
a marcação do bumbo.”2
e “moderna” disputando o mercado estatal de construções que se formava.
A memória da gafe, que lhe granjeou fama de eurocêntrico e a antipatia
Os primeiros, reunidos na Escola de Belas Artes, praticavam o “ecletismo”
da influente Ocampo, provocou-lhe um riso nervoso e a constatação de seus
inspirado em estilos pretéritos europeus; escolhiam-nos de acordo com a
sentimentos ambíguos quanto a Buenos Aires3: por um lado, percebia-lhe a
função do prédio – neoclássico para prédios governamentais, neogóticos
escala e importância cultural; por outro, considerava-a uma “cidade sem es-
para igrejas, neomourisco para lazer etc. – ou misturavam-nos, com resul-
perança”, uma vez que solidamente estabelecida. Sua proposta para a capital
tados nem sempre harmoniosos, num só edifício. Os “neocoloniais”, toma-
portenha previa a mudança de local do aeroporto, preservava parte da cidade
dos de orgulho pátrio, recorriam igualmente ao passado, só que, desta feita,
antiga e suprimia quarteirões na área central junto ao rio da Prata para dar
colonial brasileiro; alinhavam-se com um movimento presente em todos os
lugar a prédios sobre pilotis, que permitiriam a livre circulação. Sem apoio
países da América Latina, que buscava criar uma identidade própria, não
das autoridades nem entusiasmo dos intelectuais, o projeto se tornou, real-
despida de devaneios sobre o passado. Os “modernos” cariocas almejavam
mente, sem esperanças. Passada a turbulência no avião pilotado por Saint-Exupéry, Corbusier
conjugar estética, mudança social e progressos técnicos, tendo como modelo principal os escritos e desenhos de Le Corbusier.
retomou sua lapiseira e riscou as linhas básicas dos planos que fizera para três outras cidades que visitara naquela viagem: os serpenteantes e longos prédios sobre pilotis que circundavam a cadeia carioca de montanhas; o encontro cruciforme das mesmas estruturas na cidade paulistana e os prédios convergentes em Montevidéu, estruturas que não diferenciavam arquitetura de urbanismo, criando abrigos e caminhos. Para ele, tudo era uma questão de fluxo. Limpou os óculos para melhor apreciar a vista calma, regular e sem rupturas, que desfrutava da escotilha do aeroplano; o oposto das vertiginosas, desumanas e infernais visões de um trem ou de um automóvel. E murmurou baixinho: “Só existo na condição de ver.” A sua cabeça estava “repleta de América”. Por um lado, “a inesquecível e 2. Ver “Castles in the air: Le Corbusier’s dreams for Buenos Aires”, de Jessica Sequeira, em www.argentinaindependent.com. 3. Ver “Castles in the air: Le Corbusier’s dreams for Buenos Aires”, de Jessica Sequeira, em www.argentinaindependent.com.
entusiasmante magia do Rio de Janeiro” e, por outro, ficara animado com o contato que tivera com Júlio Prestes, às vésperas de assumir a Presidência do Brasil. Parecera-lhe que o político, a quem fora apresentado por Paulo Prado, “já se inquieta com as grandes obras de urbanismo que será necessário realizar” e que “procurará manifestar, através da arquitetura, os novos tempos
4. Precisões p.36.
que ele pressente”.4 Reforçava-se, assim, sua crença de que “sob uma tal luz
5. Precisões p.31.
nascerá a arquitetura.”5
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Inauguração do apartamento cobertura do irmão de Cícero Dias, reformado por Gregori Warchavchik, em Copacabana, Rio de Janeiro na década de 1930.
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O amplo arco de ideologias que apoiavam a ditadura favoreceu a convivência de estéticas diversas. Ficava a cargo do titular de cada pasta promover a construção de sua sede, de acordo com suas inclinações ideológicas e a imagem do ministério que desejava projetar. Ao Ministério da Educação e Saúde (MES) cabia moldar o novo homem brasileiro, buscando “elevar o nível das camadas populares por meio do desenvolvimento da alta cultura do país, sua arte, sua música, suas letras.” Gustavo Capanema conseguira recrutar vários intelectuais com filiação “moderna”6, que acreditavam ser o Estado ou, ao menos, seus setores progressistas, o lugar da renovação e da vanguarda naquele momento, vislumbrando a possibilidade de aplicar na realidade ideias de reinterpretação ou reinvenção de um país – ideias que estavam sendo lançadas nas páginas de seus livros. 7 Um microcosmo do Governo Vargas, o MES contava com intelectuais dos mais variados matizes ideológicos, dentre os quais Gustavo Barroso, líder integralista e antissemita, Carlos Maul, germanófilo, Luís da Câmara Cascudo, simpatizante integralista, e Oswaldo Teixeira, ligado ao trabalhismo. Foi feito um concurso para a construção da sede, com um júri oriundo,
6. Colaboravam com órgãos do MES Mario de Andrade, Gilberto Freyre, Joaquim Cardoso, Sergio Buarque de Hollanda, Manuel Bandeira, Rodrigo Mello Franco, Candido Portinari, Edgard Roquete Pinto, Abgar Renault, Heitor Villa Lobos, Emílio Moura, Cecília Meireles, Vinicius de Morais, Prudente de Morais Neto e Afonso Arinos de Mello Franco. 7. Para maiores informações sobre a presença de intelectuais em órgãos públicos do Estado Novo ver “Modernistas na repartição”. 8. Júri, igualmente responsável pela elaboração de seu edital, constituído por Eduardo Souza Aguiar, engenheiro, funcionário do MES; Salvador Duque Estrada Batalha, indicado pelo Instituto Central de Arquitetos; Adolfo Morales de Los Rios Filho, representando a Escola Nacional de Belas Artes; Natal Palladini, representando a Escola Politécnica da Universidade Técnica Federal e o ministro Gustavo Capanema, na condição de presidente, com direito a voto somente no caso de empate.
na sua maioria, da conservadora Escola de Belas Artes.8
Foto de Geneviève Naylor, em 1941, do atelier de um fotógrafo no Rio de Janeiro, destacando-se a foto oficial de Getúlio Vargas e um perfil do ditador português António de Oliveira Salazar.
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Na repartição Em uma ensolarada tarde de outubro de 1935, Carlos Drummond de Andrade fechou as persianas de uma das janelas do prédio na Praça Floriano Peixoto, onde funcionava o Ministério da Educação e Saúde. O poeta, então com 30 anos, mudara-se de Belo Horizonte para o Rio, em 1934, para ser chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação e Saúde. Acendeu sua luminária de mesa, focando-a sobre o parecer final do júri. Queria refletir melhor sobre que solução dar ao desastroso resultado do concurso para a construção da nova sede do Ministério, em terreno que ocupava um quarteirão inteiro na Esplanada do Castelo, no Centro do Rio. Havia sido escolhido um projeto que fundia elementos da história clássica com temas nativos, imaginando um novo e fictício estilo que, na Antiguidade, os gregos haveriam criado na Amazônia. Arrastando-se por seis meses e cinco reuniões, o certame de anteprojetos arquitetônicos, desde seu início, preocupara o autor de “Sentimento do mundo”. O edital, lançado em 23 de abril de 1935, partira de posturas municipais incompatíveis com qualquer inovação: “A lei exigia o limite de sete pavimentos alinhados com quadra interna, os pisos concentrados no centro do terreno devolvido ajardinado para gozo dos contribuintes” (Costa, 1951). A primeira reunião, realizada em 17 de junho de 1935, destinou-se à abertura dos projetos9 e discussão de métodos para o julgamento. No segundo encontro do júri, Adolfo Morales de los Rios, um destacado arquiteto eclético, catedrático e autor do projeto da Escola de Belas Artes, propôs, com êxito, a desclassificação das 33 propostas que desrespeitaram o edital e propuseram uma ocupação “não convencional” do terreno, o que, na prática, eliminou todos os contendores “modernos”.
Carlos Drummond de Andrade, Rio de Janeiro, 1941.
Ficaram, dessa forma, selecionados três anteprojetos – Pax, Minerva e Alpha – sendo comunicado aos autores10 o prazo de um mês e meio para que desenvolvessem os projetos até o julgamento final. Já nessa fase o desejo de uma arquitetura que refletisse a construção do futuro se desvanecia. Archimedes Memória, autor de Pax, sucedera a Lucio Costa na direção da Escola de Belas Artes, quando se viu frustrada a tentativa do último de renovar o ensino. Catedrático da cadeira de Grandes Composições, Memória assumira o escritório de seu falecido sogro, Heitor de Mello, principal arquiteto eclético do Rio de Janeiro. Era, ainda, membro efetivo da Câmara dos Quarenta, órgão máximo de direção do Partido
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9. Eram os seguintes os pseudônimos dos concorrentes, através dos quais não é difícil perceber a filiação estilística de cada um: XYZ, Alpha 1, Concreto, Nemo, Olinda, Rio, Alen da lux ubi orta libertas (2 projetos), Alpha 2, Chaco, O Brasil espera, Quae sera tamen, Nagra, Eis-tudo, Eons, Mário Querque, Nedype, Minerva, M.E.S.P., Última Hora, Pax, Alpha 3, Ut docendo florescat, Lógica, Economia e Beleza, Tiradentes, Atenas, Tintinha, Canaan, Popoff, J.Q.L., Itapoan, Rasane, XX e Pax 2. 10. Pax (Archimedes Memória), Minerva (Rafael Galvão) e Alpha (Gerson Pinheiro).
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Integralista. Em 1922, Archimedes Memória projetara o Pavilhão das Grandes Indústrias11 e, em 1926, a sede do Botafogo Futebol e Regatas, ambos neocoloniais; em 1921, o eclético Palácio Tiradentes e, em 1924, a arquibancada do Jockey Club que, embora apresentasse uma cobertura em concreto com balanço de vinte e três metros, era uma reinterpretação do estilo Luis XVI.12
Não havia, portanto, a mais remota possibilidade de que
Archimedes fosse apresentar uma proposta inovadora. Rafael Galvão, aos 41 anos, era um profissional experiente. Em 1922, fizera o Pórtico Neocolonial da Exposição do Centenário e, nos anos 1930, abraçou o art déco, ganhando em 1934 o concurso do Monumento Rodoviário, e realizando, em 1934, o prédio do cinema Roxy, em Copacabana.13 O projeto de Galvão, intitulado Minerva, era simétrico, tinha um pórtico monumental e se ancorava numa linguagem de arestas retas e volumes típicos da arte geométrica decorativa. Gerson Pinheiro, aos vinte e um anos, era o mais jovem concorrente. Havia realizado, com Affonso Reidy, em 1931, o prédio protomoderno do Albergue da Boa Vontade, em Niterói. No seu desenho, Alpha, conviviam uma ocupação tradicional do lote com a suspensão do prédio sobre colunas Galeria Cruzeiro.
e fachadas, nas quais sobressaíam os panos de vidro. A reação dos “modernos” desclassificados se deu, em uma primeira ins-
11. Atual Museu Histórico Nacional. 12. Segundo Paulo Santos, na página 88 de “Quatro séculos de arquitetura brasileira”, as arrojadas marquises de concreto armado engastadas na arquibancada Luís XVI fariam Frank Loyd Wright dizer em 1932: ‘É o futuro ancorado no passado’. 13. No final dos anos 1940, Rafael Galvão integra a equipe vencedora do concurso para a realização do Estádio do Maracanã.
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tância, na imprensa: a revista da Diretoria de Engenharia da Prefeitura do Distrito Federal, dirigida à época pela engenheira Carmen Portinho, mulher do arquiteto Affonso Reidy, publicou dois projetos “modernos” do concurso – o de Jorge Moreira e Ernani Vasconcellos e o do próprio Reidy; em outra matéria, a revista relatava o concurso realizado pouco tempo antes, para a construção da Caixa de Aposentados de Praga, no qual foi vitorioso um grupo de arquitetos cujo projeto, igualmente de influência corbusiana, desrespeitara as normas do edital e das posturas municipais da capital tcheca.
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Preocupações
Concurso
Os outros clientes não perceberam nada de incomum naqueles três homens
No primeiro dia de outubro de 1935 aconteceu a reunião para a escolha
de terno, sentados à mesa da Leitaria Mineira, no interior da Galeria Cruzeiro.
final dos premiados no concurso. Sousa Aguiar, arquiteto funcionário do
Numa tarde excepcionalmente quente do inverno carioca, Carlos Drummond,
Ministério, opinou “que o plano diretor da cidade obrigava à adoção de pá-
Manuel Bandeira e Mário de Andrade se refrescavam com sorvetes, discu-
tios internos”. Em seguida, emitiu sua opinião sobre os três projetos, colo-
tiam literatura e as perspectivas futuras da arquitetura da nova sede do
cando-os na seguinte ordem: Archimedes Memória, Rafael Galvão e Gerson
Ministério. Bandeira comentava sua recém-publicada crítica sobre o livro
Pinheiro, salientando as vantagens do projeto classificado em primeiro lu-
“Forma e exegese”, de Vinicius Moraes, que lhe chamara a atenção pela qua-
gar: “Ótima regulação térmica natural e excelente ventilação transversal, ade-
lidade de alguns poemas e, sobretudo, pelo uso de uma linguagem voltada
quada a nosso clima, sendo ainda o que ofereceu melhor circulação.” (op. cit.)
ao cotidiano, bem diversa do simbolismo do livro de estreia do jovem autor.
Morales de los Rios declarou estar “plenamente de acordo com o parecer
Embora não trabalhasse no Ministério, Bandeira se interessava pela renova-
do arquiteto Sousa Aguiar e para não repetir a mesma opinião o subscrevo”.
ção arquitetônica, havendo sido o responsável indireto da nomeação de Lucio
(op. cit.). Salvador Batalha representante do Instituto Central dos Arquitetos,
Costa para a direção da Escola de Belas Artes, ao dar-lhe notoriedade com o
preferiu o projeto de Gerson Pinheiro e apontou a impropriedade do pro-
convite para assinar um artigo sobre a situação da arquitetura num jornal
posto por Memória, “muito mais um pavilhão de exposições do que um
literário mineiro – um dos parágrafos do texto foi transcrito por Gilberto
Ministério”. O último voto coube a Natal Palladini que, escolhendo o plano
Freyre em “Casa grande e senzala”. Mário de Andrade lia, naquele momento,
Capa de Tomás Santa Rosa,1943.
os originais de “Fogo morto”, de José Lins do Rego, que, no seu entender,
rajoara de Memória: “À parte o seu valor como concepção artística, não a
trazia uma nova dimensão psicológica ao romance regional. Em termos de
considero própria para um prédio público.” (op. cit.)
arquitetura, o autor de “Pauliceia desvairada” migrara da simpatia pelo neo-
O ministro Capanema, que só teria voto em caso de empate, não teve
colonial para uma genuína curiosidade sobre o modernismo. Atraíra-lhe, ne-
alternativa senão anunciar a vitória de Pax, solicitando que lhe fosse, poste-
ste último, certo anonimato de autoria, uma vez que as soluções plásticas
riormente, enviado o parecer justificativo de cada jurado.
eram ditadas pelas possibilidades construtivas. Nesse sentido, havia uma
Na manhã de 10 de outubro, Drummond desviou a atenção da leitura
aproximação com as formas espontâneas e coletivas da visualidade popular.14
dos pareceres e folheou um número da “Revista de arquitetura” que lhe ha-
Para Mário de Andrade, que estava em plena redação do anteprojeto para a
via sido emprestada por Alcides da Rocha Miranda, arquiteto e amigo, com
criação de um instituto destinado à preservação da cultura brasileira , a nova
quem discutira o desfecho “marajoara” do concurso. Deteve sua leitura no ar-
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sede deveria ser uma correspondente espacial e simbólica das ações cultu-
tigo marcado: “Da arte marajoara com decoração”. O autor, Alberto Gallo fazia
rais promovidas por uma geração que buscava conciliar linguagens contem-
uma defesa da mescla de temas indígenas, uma fantasia romântica de idea-
porâneas com expressões locais: “Brasileiros e de sua época”.
lização de um passado “nobre” brasileiro, tratado como fonte de inspiração
Relatou-lhes Drummond não ser difícil antever que, dada a ascendência
acadêmica em substituição a Roma e à Grécia: “Seriam tribos provindas do
de Morales de los Rios sobre o júri, o escolhido seria, provavelmente, o proje-
Peru, onde a arte cerâmica e decorativa deixou brilhantes vestígios? Seriam
to de Memória. Concordaram que nenhum dos três finalistas os entusiasma-
ramos dispersos dos astecas? Dos incas? Seriam descendentes ou discípulos
ra, mas parecia-lhes particularmente inadequada e anacrônica uma fantasia de transposição temporal, versão em tijolos e, sem dúvida, desprovida do intuito satírico de “Um ianque na corte do rei Artur”, de Mark Twain.
Capa de autoria indeterminada, 1935. 14. Ver a respeito Wisnik, Guilherme. “Plástica e anonimato: modernidade e tradição em Lucio Costa e Mário de Andrade”. Novos estud. – CEBRAP, no.79, São Paulo, Nov. 2007. 15. Ver “Modernistas na repartição”.
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de Rafael Galvão, questionou, igualmente, a adequação do projeto greco-ma-
dos egípcios, ali chegados através da decantada Atlântida? Teriam bebido os seus conhecimentos com os argonautas? Com os chineses? Chi lo sa?” Rodrigo Melo Franco de Andrade, escritor e advogado, que viria a se tornar presidente do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), de 1939 a 1969, bateu na porta e entrou, sentando-se à mesa com
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Drummond. O ministro Capanema pedira-lhe que examinasse, com o poeta,
que estava bem adiantado. É preciso, porém, que se faça um contrato de ho-
uma saída para o impasse, pois estava bastante descontente com o projeto de
norários. A proposta feita pelos arquitetos foi julgada razoável pelo técnico
Memória, completamente contrário ao seu desejo de “tradução” arquitetôni-
deste Ministério, como consta deste processo. Venho, pois, solicitar a V.
ca de uma ação voltada para o futuro e a formação do novo homem brasileiro.
Excia. que me autorize a fazer os contratos.”18 (Arquivo Capanema, op. cit.).
Uma sede mesclando estilo “neoclássico” e elementos decorativos alusivos a uma fictícia civilização marajoara que haveria existido durante a
18. Em carta posterior, a Getúlio, de 19 de outubro de 1936, apresentando o primeiro projeto do grupo brasileiro, o ministro historia todo o processo e dispensa os meiostons, ao se referir ao plano de Memória: “Isto, sem falar do lado estético do projeto, que é de mau gosto evidente” (Arquivo Capanema, CPDOC/FGV).
Antiguidade, na ilha de Marajó, era bem mais que uma fantasia inócua. Parecia uma tradução arquitetônica do ideário de Gustavo Barroso, um dos mais destacados intelectuais do Integralismo, comandante geral de suas milícias, membro da Câmara dos Quarenta e sempre colocado pelo partido de Plínio Salgado, que integrava a base de apoio a Getúlio Vargas16, como candidato a ministro da Educação. Barroso quase conseguira a nomeação um ano antes, havendo sido preterido pelo próprio Gustavo Capanema. Barroso disputara a liderança do partido com Plínio Salgado, havendo proposto a Gustavo Capanema, circa 1930.
troca do nome Ação Integralista Brasileira (AIB) para Ação Brasileira de Cultura (ABC), adicionando à inspiração fascista uma postura antissemita, expressa na tradução comentada de “Os protocolos dos sábios de Sião” e no livro “O século de Áries”. Rodrigo relatou a Drummond que, examinando o edital com seu primo, o destacado jovem advogado Afonso Arinos de Melo Franco, haviam chegado à conclusão da impossibilidade de anular o concurso. Não havia, todavia, em suas cláusulas, nenhuma obrigatoriedade de construir o projeto vence-
Lucio Costa, Rodrigo Melo Franco de Andrade, entre outros, circa 1940.
dor. Pensava que, para não cair em longas discussões estéticas e ideológicas, o melhor seria alicerçar a decisão em razões de ordem prática, pagar os prêmios e seguir outro caminho arquitetônico. Haviam, assim, encontrado, em janeiro de 1936, o caminho para que o “Ministério do Futuro” fosse poupado de formas que pareciam emanadas de um fantasioso e não muito inspirado musical de Hollywood. 16. Até a AIB ter sido incluída na lista de extinção dos partidos políticos, por ocasião do golpe do Estado Novo em 1937. 17. Havia Capanema pedido ao Clube de Engenharia, ao Sindicato Nacional de Engenheiros e ao Instituto Central de Arquitetos que lhe indicassem cada um cinco nomes de técnicos capazes para a elaboração do projeto da Universidade. O nome do arquiteto Lucio Costa figurava em duas listas, a do Sindicato Nacional de Engenheiros e a do Instituto Central de Arquitetos, fornecendo ao ministro o suporte para convidá-lo para elaborar a sede do MES.
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São pagos os prêmios aos projetos vencedores e, em 11 de fevereiro, Capanema expõe, em carta ao presidente Vargas, a sua insatisfação com os planos selecionados pelo concurso, e solicitando a autorização para contratar Lucio Costa e sua equipe: “Nenhum desses projetos premiados me parece adequado ao edifício do Ministério da Educação. Não se pode negar o valor dos arquitetos premiados. Mas exigências municipais tornaram difícil a execução de um projeto realmente bom. Julguei de melhor alvitre mandar fazer novo projeto. (...) Não quis abrir novo concurso. (...) Encarreguei, assim, o arquiteto Lucio Costa da realização do trabalho17. Este arquiteto chamou a colaborar consigo outros arquitetos de valor. E entraram a executar o serviço
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Dois dos quarenta
defensor o Sr. Carlos Drummond de Andrade, chefe de gabinete do ministro. Expondo aos olhos de V. Excia. esses fatos, esperamos que V. Excia., defendendo o Tesouro Nacional e a honorabilidade de vosso governo do país, alente a arte nacional que ora atravessa uma crise dolorosíssima, próxima do desfalecimento.”
O Museu Histórico Nacional fora criado em 1922, com sede no Pavilhão das Grandes Indústrias, e desenhado por Archimedes Memória para a fei-
Meses após a derrota da Intentona Comunista, era enorme a persegui-
ra comemorativa do Centenário da Independência. Destinava-se a preser-
ção aos partidários e simpatizantes desse credo; não é dificil imaginar o
var objetos e documentos que retratassem a história brasileira com ênfase
efeito almejado por Memória ao vincular arquitetura moderna ao esquer-
nas ações bélicas que determinaram a expansão e fixação das fronteiras
dismo político.
nacionais. Continha, também, a Inspetoria dos Monumentos, que deveria preservar prédios excepcionais da pátria, com destaque para templos e edificações militares. Naquela ensolarada manhã de março de 1936, uma densa fumaça marcava o raio de luz que entrava pela janela da sala de direção do Museu. Gustavo Barroso ouvia com atenção o relato que Memória lhe fazia da desistência da construção de seu projeto para a sede do Ministério. O diretor do Museu Histórico pousou o charuto no cinzeiro e começou a rabiscar tópicos da minuta dirigida a Getúlio Vargas, pois concluíram que apenas uma ordem direta do presidente poderia reverter a situação. Tanto Memória quanto Barroso, antigo deputado e secretário do governo do Ceará, tinham acesso pessoal a Getúlio, nutrido na época que era explícita a admiração do ditador pelo Estado italiano, gerando a esperança que a doutrina Integralista fosse adotada como base ideológica do regime. Era-lhes evidente o teor ideológico da decisão de Capanema e, apenas dois meses depois do frustrado levante comunista, julgavam que poucas coisas desagradariam mais a Vargas que uma ação engendrada pelos intelectuais progressistas, que o ministro abrigava a seu redor. Os dois discutiram alguns detalhes e a intensidade do tom da carta na qual Archimedes Memória relataria a sua premiação, a desclassificação de Lucio Costa na primeira etapa para mais tarde ser contratado por Capanema, concluindo: “O que acabamos de narrar tem, no presente momento, gravidade não pequena, em se sabendo que esse arquiteto é sócio do arquiteto Gregori Warchavchik, judeu russo de atitudes
Gustavo Barroso, atrás à esquerda, entre membros do Integralismo, Taubaté, circa 1930.
suspeitas (...) Não ignora o Sr. ministro da Educação as atividades do arquiteto Lucio Costa pois, pessoalmente já o mencionamos a V. Excia. vários nomes dos filiados ostensivos à corrente modernista que tem como centro o Clube de Arte Moderna, célula comunista cujos principais objetivos são a agitação no meio artístico e a anulação de valores reais que não comun-
Cartaz Integralista, circa 1930.
gam no seu credo. Esses elementos deletérios se desenvolvem justamente à sombra do Ministério da Educação, onde têm como patrono e intransigente
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Leme No final de março, o carteiro, assoviando “Adão”, música de Carmen Miranda que dominara o carnaval, entregou à empregada, no portão da casa na rua Gustavo Sampaio 58, no Leme, um envelope pardo com um timbre da União. Estava endereçada ao genro do Dr. Modesto Guimarães, que vivia com sua mulher Leleta19 e a pequena filha, Maria Elisa, no porão habitável da residência. Nesse momento, Lucio Costa passava junto do Morro da Viúva em sua Lancia Lambda, acompanhado do sócio, Carlos Leão, para irem ambos almoçar em casa, hábito que o trânsito desimpedido e o Túnel Novo permitiam. Haviam estado reunidos no escritório onde trabalhavam, no edifício Portella, na avenida Rio Branco, com Affonso Reidy, Jorge Moreira, Ernâni
Heitor Villa-Lobos, Getúlio Vargas, Arminda e Julieta Strutt, Rio de Janeiro, circa 1950.
Vasconcellos e Oscar Niemeyer. Costa, convidado verbalmente por Capanema para realizar um novo projeto, percebera que a tarefa era tão crucial para a vitória da “causa moderna” que não comportava ações individuais; deveria formar um grupo sólido que realizasse um projeto de tão inquestionável qualidade como aquele com o qual os Irmãos Roberto haviam ganhado o certame para a sede da Associação Brasileira de Imprensa, localizada a ape-
Leleta (Julieta Modesto Guimarães Costa) e Lucio Costa na Lancia, a caminho de Correias, Petrópolis, circa 1930.
nas um quarteirão de distância do terreno reservado para o Ministério.
cio, Lucio abriu o envelope, revelando a carta ministerial, datada de 25 de
Lucio Costa estava no centro da cena arquitetônica desde o final dos
março, que oficializava a encomenda. Injetados com entusiasmo, saborea-
anos 1920. Promissor jovem arquiteto carioca do grupo neocolonial, conver-
ram a comida com mais gosto antes de retornar ao Centro e prosseguir o
tera-se ao modernismo depois de ler “Por uma arquitetura”, de Le Corbusier,
trabalho com seus jovens colegas.
pois ali encontrara o caminho para as mudanças que desejava nos terrenos
Durante um mês e meio mantiveram a rotina de encontros todas as
estético, tecnológico e social. Costa fora convidado por Rodrigo Melo Franco,
manhãs ou finais de tarde, já que Jorge Moreira trabalhava numa construto-
em 1930, na gestão de Francisco Campos, para dirigir a Escola de Belas
ra particular e Affonso Reidy na prefeitura, até delinearem o projeto, assim
Artes, com o objetivo de reestruturar o ensino em consonância com os tem-
descrito pelo próprio Lucio: “Um bloco mais alto (...) com a fachada sul envi-
pos modernos. A forte resistência dos professores conservadores e a falta
draçada e quebra-sol na fachada norte, mas dispondo de pavimento térreo
de apoio concreto do governo para criar novos quadros, fizeram com que se
com saguão ligado ao auditório, construção esta solta do bloco principal ao
retirasse da desgastante e impossível tarefa.
qual se articulavam do lado oposto, ou seja, norte, duas alas de menor altura,
Não foram fáceis os tempos entre a sua saída da direção da Escola de
sobre pilotis baixos, enquadrando a entrada com um pórtico carroçável, pre-
Belas Artes, em 1931, e o projeto e construção do Ministério: “A clientela continuava a querer casas de ‘estilo’ – francês, inglês, colonial –, coisas
cedido por um espelho d’água e pela escultura do Celso Antônio intitulada
que eu então já não conseguia mais fazer. Na falta de trabalho, inventava
19. Julieta Guimarães Costa era seu nome, porém todos a chamavam Leleta.
casas para terrenos convencionais de doze metros por trinta e seis, – ‘Casas
20. “Registros de uma vivência”, p.83.
sem Dono’.”20
Chegando, por fim, em sua morada no Leme para almoçar com o só-
‘Homem em pé’ cujo modelo já estava pronto. Nas salas de trabalho dessas alas laterais, orientadas para leste, as janelas eram corridas, enquanto as galerias de acesso, voltadas para o poente, dispunham, em cada tramo, de uma
21. “Registros de uma vivência”, p.135.
pequena janela quadrada, prevendo-se revestimento externo com granito rosa do Joá.”21
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Em 8 de maio, a passadas largas, Lucio Costa percorreu as seis quadras que separavam o escritório de trabalho do grupo no edifício Castelo, na Avenida Nilo Peçanha 151, e a Praça Floriano Peixoto onde, no prédio da Assembleia, funcionava o Ministério da Educação e Saúde. Carregava um rolo com o projeto da nova sede, que apresentaria ao ministro Capanema. Esperava-o Carlos Drummond na antessala do gabinete, convidando-o para um café enquanto esperavam o ministro terminar seu encontro com Heitor Villa-Lobos a respeito dos cantos orfeônicos organizados pelo compositor nos estádios do Fluminense e do Vasco da Gama. Lucio antecipou ao poeta que, embora satisfeito com o resultado alcançado, dada a magnitude da obra, considerava prudente e necessária a vinda de Le Corbusier como “inseminador e parteiro para a criança nascer”.22 Percebia que, do resultado da empreitada, dependeria a disseminação do modernismo no país, com suas consequências éticas e estéticas. Tratando-se de um prédio com escala inédita em termos mundiais, nada melhor que as 22. “Registros de uma vivência”, p.142. 23. “Registros de uma vivência”, p.68.
Desenho do projeto original para o Ministério da Educação e Saúde, antes da consultoria de Le Corbusier. Rio de Janeiro, 1935.
“mãos talentosas mas inexperientes dos cariocas” tivessem o respaldo do mestre no seu risco original. Pretendiam revolucionar os espaços e estruturas, com a certeza que o moderno não fosse exercido como um novo “ismo”, tão superficial e inócuo quanto o ecletismo. “Que venha de dentro para fora e não de fora para dentro, pois o falso modernismo é mil vezes pior que todos os academicismos.”23
Concentração orfeônica de cerca de 40 mil estudantes no campo do Vasco da Gama, regidos por Heitor Villa-Lobos, Rio de Janeiro,1942.
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PARTE 2
A música deveria ser apreciada por ela mesma e não como veículo de sensações. Assim como um nariz é um nariz, a música é ela própria. Le Corbusier
Em Paris
se recordou do poema que a irmã de um de seus clientes, Gertrude Stein, lhe mostrara: “uma rosa é uma rosa”. Volumes puros sob a luz, assim queria também sua arquitetura, sem metáforas históricas, adocicamento ou grandiosas alusões. A aguda voz de Mistinguett, que o rádio do café emanava,
Após descer seis lances de escada, o arquiteto atingiu a calçada ensolarada
interrompeu seu diálogo: “Oui, je suis d’Paris/ J’aime tout c’qui sourit/ Les
em frente ao número 24 da rue Nussenger-et-Coli e caminhou dois quartei-
poulbots, les p’tits gavroches à l’air mutin/ Les yeux de mes gentils béguins”... Era
rões, como de hábito, até a estação Michel-Ange-Molitor para pegar o metrô
a contradição eloquente de seus altos ideais... Riram, tomaram de um sorvo
da linha 10 na direção da Gare d’Austerlitz. Só que, naquela manhã de quar-
o que restava e pediram a conta.
ta-feira, não desceria na estação Sèvres-Babylone, que o deixaria a poucos
Após meia hora de compras na Sennelier, Le Corbusier resolveu cami-
metros de seu escritório. Iria antes à Maison Sennelier, na Quai Voltaire,
nhar na beira do cais até o Quartier Latin, de onde pegaria o metrô na estação
para comprar carvão, grafite e tintas a óleo, que lhe faltavam para o trabalho
Saint-Michel. Passar em frente à Escola de Belas Artes trouxe-lhe inevitáveis
de artista plástico exercido, religiosamente, todas as manhãs, antes de parar
pensamentos sobre a estratificada hierarquia do campo arquitetônico esta-
para o almoço e seguir para seu escritório de arquitetura. Naquele dia, folga
tal francês. Aos catedráticos da escola cabiam as obras públicas na capital;
semanal das escolas na França, o vagão estava tão cheio e ruidoso que ele
aos recém-formados, que obtinham o Prix de Rome, aquelas no interior da
não se animou a fazer a troca de linha que o deixaria mais perto, decidindo
França; aos demais formados calhavam as construções das colônias além-mar.
descer na estação Odéon e caminhar pela rue des Saints-Pères até o cais. Chamou-lhe a atenção o grande letreiro de “Tempos modernos”, de Charles Chaplin, lançado com sucesso naquele verão; na realidade não gostara nem
Anúncio da Maison Sennelier.
um pouco do modo caricatural como a vida na era da máquina era apresentada, embora não tivesse se furtado a rir quando Carlitos, Charlot para os franceses, aparelhado com duas chaves de bocas, corria atrás de uma gorda senhora para apertar-lhe as fileiras de botões de seu tailleur. Dobrando à direita, para rumar na direção do Sena, quase esbarrou num homem alto que saíra sem olhar da estreita porta de um antiquário. Pareceulhe curioso ser quase uma versão em escala maior de si próprio: cabelos para trás, entradas nas têmporas, feições fortes, óculos redondos e gravata borboleta. Deu-se conta de que era o compositor Igor Stravinski, a quem fora rapidamente apresentado no Théâtre des Champs-Elysées, meses antes, após um concerto de estreia de sua terceira sinfonia. Apressou o passo e alcançou-lhe o ombro. Iniciaram uma conversa, assunto não lhes faltava e, parados na calçada tão estreita, barravam a passagem e começavam a ser alvo daquela mistura de muchocho e suspiro tão cara aos parisienses. Decidiram entrar num café para prosseguir, em paz, sua conversa. Havia muita afinidade entre aqueles dois expoentes do modernismo. O compositor, em um francês permeado pelo sotaque russo, mexendo sua xícara de café, comentava que a maioria das pessoas gostava de música pela emoções que ela suscita: alegria, tristeza, imagens da natureza, deva-
Igor Stravinski, circa 1930. Hôtel de Ségur 97 rue du Bac, Paris, circa 1910.
neios ou alívio do cotidiano. Isso a transformava num remédio alienante.
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A ele, nascido e formado na Suíça, ainda que de ascendência francesa, só restavam alguns clientes particulares, que lhe encomendavam reformas em
Ida a Petrópolis
seus apartamentos parisienses ou projetos de residências secundárias. Com muitos dos seus poucos clientes, geralmente milionários, as relações eram boas. Foi o caso do proprietário da agência de câmbio e turismo Cook e especialmente Sarah, mulher de Michael Stein, irmão da autora da “Autobiografia de Alice B. Toklas”. Para o casal, projetara a Vila Stein, em Garches, coincidentemente, o local de moradia de Igor Stravinski. Sarah Stein era a principal colecionadora de Henri Matisse e, nesse espírito mecenas modernista, encomendara a Corbusier uma ampla casa para viver com o marido e a amiga Gabrielle de Monzie. Para uma composição afetiva heterodoxa, nada melhor que um espaço revolucionário. Havia, contudo, clientes que lhe davam aborrecimentos constantes, como os proprietários da Vila Savoye,
No verão, Lucio Costa subia todas as tardes para Petrópolis: “Bastava deixar o escritório às cinco horas que o ônibus cinza da Light, de dois andares como o de Londres, apontava na altura do obelisco – às cinco e vinte e cinco estava na Leopoldina, era só comprar o bilhete e embarcar. Mas era constrangedor, na mesma plataforma, o confronto: de um lado os veranistas vestindo seus leves guarda-pós de palha e seda, se preparando para o joguinho na volta às mansões da serra; do outro, o trem do subúrbio apinhado de suarentos operários se pendurando de qualquer jeito na volta do trabalho para os casebres.” 25 Numa dessas tardes, foi abordado por um jovem alto, com vasta cabe-
considerada uma das principais obras-primas da arquitetura moderna.
leira só interrompida pelas entradas nas têmporas, bem-vestido, mas sem
Madame Eugénie Savoye o soterrara com uma dezena de cartas reclamando
guarda-pó, que, embora parecesse europeu, tinha o ar brasileiro e falava sem
25. “Tomada de consciência”, Anos 30 em “Registro de uma vivência”, p.30.
“Coal Face” de John Grierson e Alberto Cavalcanti, 1936.
de vazamentos, umidade, calor e frio. Em vão, o arquiteto tentara ignorar suas missivas, propor soluções pontuais ou fazer-lhe ver que ela habitava uma obra-prima, uma casa manifesto, e que não devia se deixar abater por incômodos menores. O arquiteto fora alvo de um processo judicial, que acabou por ganhar, no qual a família Savoye alegava a inabitabilidade do imóvel e lhe imputaria a responsabilidade pela doença pulmonar de seu filho. Estava praticamente confinado ao papel de um escritor de vanguarda arquitetônica. Não era à toa que, em sua carteira de identidade, figurava escritor como profissão. Considerava-se o cruzado de um novo lirismo que adviria do uso plástico e puro das novas tecnologias. Mas, é claro, era imprescindível demonstrar, na prática e em grande escala, a exequibilidade de suas propostas. Nesse sentido viajara à União Soviética, aos Estados Unidos, à Argentina, ao Uruguai e ao Brasil. A vitória nas eleições gerais francesas, em 1936, da Frente Popular – uma união de socialistas, comunistas e radicais – reabrira-lhe as esperanças de aplicação de seu plano de renovação para alguns bairros de Paris. Conseguira uma audiência com Léon Blum, chefe do Governo, a quem procurou convencer a adotar seu plano urbanístico no bojo das reformas sociais pretendidas. Com sua já razoável experiência de negativas, desanimavam-no a crise econômica, a ameaça de greve geral e a tensão externa com a subida ao poder de Adolf Hitler na Alemanha, em 1933.24 24. Ver “Paris: Îlot insalubre 1935-1936” em “Le Corbusier: An atlas of modern landscapes”, p.290.
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Uma revoada de pombos lhe trouxe a memória do Rio de Janeiro e do convite contido na carta de Monteiro de Carvalho, que Le Corbusier deixara aberta em sua mesa na rue de Sèvres.
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o menor sotaque. Queria saber se estava na plataforma certa para Petrópolis.
na França e na Inglaterra uma parte significativa de suas infâncias. Ambos
Tratava-se do cineasta Alberto Cavalcanti. Chegara havia pouco dias de Paris
haviam estudado na Suíça, Lucio acompanhando a família e Alberto num
e subia a serra para comparecer, como padrinho, na catedral de Petrópolis,
internato. E os dois eram arquitetos de formação. Mas, acima de tudo, o que
ao batizado de um sobrinho para o qual escolhera o nome. Contrariando o
lhes ocupou a viagem foi a partilha de um desejo comum: a mudança estéti-
pai do menino, que pensara em Benito ou Robespierre, despolitizara a ho-
ca deveria estar associada ao avanço social.
menagem, sugerindo o prenome do poeta florentino Guido Cavalcanti, en-
A Alberto muito interessou o impasse vivido por Lucio no trânsito de
tusiasticamente acolhido pela mãe que, por afeto e reconhecimento ao belo
estilos históricos para uma estética afinada com as novas técnicas. E, par-
nome escolhido, fizera questão de esperar uma visita de Alberto ao Brasil
ticularmente, a primeira incursão em moradias econômicas como aquela
para batizar o pequeno. Nem tão pequeno assim pois, a essa altura, a criança
feita por Costa na Gamboa, em 1932, onde experimentara não só estruturas
já beirava os dez anos de idade.
e espaços como também o uso de cores.
Acomodando-se, lado a lado, nas poltronas do vagão, entabularam uma
A Lucio, cinéfilo desde jovem, fascinou o trabalho de Cavalcanti com a
conversa que desvendaria algumas afinidades. Os pais de ambos – enge-
vanguarda francesa e as suas experiências pioneiras, a respeito da gradação
nheiro naval, o de Lucio, e matemático 0 de Alberto –, haviam trabalhado
de cinzas, que um uso criterioso das cores poderia fornecer a filmes em preto e branco. Em 1924, Alberto compartilhara com Fernand Léger e Robert Mallet-Stevens a cenografia de L’Inhumaine, de Marcel L’Herbier, havendo projetado uma inovadora sala de jantar geométrica, com a mesa situada
“Rien que les heures”, Alberto Cavalcanti, 1926.
numa ilha dentro da piscina.
Lucio Costa e Gregori Warchavchik. Apartamentos Econômicos Gamboa. Planta e perspectiva exteriores, Rio de Janeiro, 1932.
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Já no escuro do alto da serra, pausas forçadas em suas conversas, “por conta do grito agudo dos menininhos louros acompanhando aflitos os cadenciados
No Catete
solavancos dos trens na cremalheira: nique e náu! Nique e náu! Jornais não só para vender, como principalmente para tampar as frestas e forrar os barracos no frio das madrugadas.”26 Em vez de Paris, o retorno de Alberto à Europa teria, dali a um mês, Londres como destino, cidade onde trabalharia no serviço documental britânico. Sua próxima tarefa seria um documentário sobre a situação dos trabalhadores nas minas de carvão: “Coal Face”. Já Costa – para espanto de Alberto, que não supunha que o presidente se envolvesse, pessoalmente, nesses assuntos – tinha uma audiência com o ditador Getúlio Vargas para, Lucio Costa, década de 1930.
juntamente com o ministro Capanema, pedir para trazerem Le Corbusier como consultor arquitetônico do jovem grupo brasileiro. Assistente de John Grierson em “Coal Face”, Cav, como passou a ser conhecido na Inglaterra, misturaria experimentação de linguagem e realismo, produzindo uma cena – gritos das mulheres chamando os mineiros “em off”, enquanto os maridos desciam de elevador para a escuridão da mina – que se inscreveria como uma das mais marcantes da primeira metade do século XX. Mas também Lucio, muito em breve, estaria predestinado a conduzir uma obra prima do modernismo internacional. Naquele momento, sem se darem totalmente conta do que lhes reserva-
26. “Registro de uma vivência”.
va o futuro, despediram-se, pois Cavalcanti descia no Centro, rumo à catedral, enquanto Costa seguia para a estação de Correas, onde o esperavam a mulher e sua família.
Na antessala do gabinete, Lucio Costa e Gustavo Capanema aceitaram os copos d’água e os cafezinhos, servidos numa xícara com a insígnia da República Brasileira. Esperavam que acabasse a audiência do presidente Vargas com o ministro da Justiça e Interior, tradicionalmente marcada, todas as semanas, para o mesmo horário daquela do ministro da Educação e Saúde. Porém, naquela tarde de abril de 1936, não era possível despacho comum, com ambos ministros, pois o assunto tratado com o titular da Justiça era grave e sigiloso. Tratava-se de uma crise entre ele e a Comissão de Repressão ao Comunismo, com incumbência de combater os simpatizantes da doutrina em todo o país e promover uma varredura entre funcionários do próprio governo. A comissão, embora no âmbito do Ministério, não estava submetida à autoridade do titular da pasta mas ao chefe de governo. E agora, contra a opinião do ministro Vicente Rao, o presidente desejava promover a prisão de várias figuras públicas, entre elas Pedro Ernesto, prefeito do Distrito Federal. Após as tíbias revoltas facilmente debeladas em Natal, no Recife e no Rio, os comunistas haviam sido eleitos como os principais inimigos do Brasil ou, melhor, do governo federal. Na sua última audiência com Vargas, no final de janeiro, Capanema fora instado a lhe apresentar as medidas que seu Ministério poderia implementar: a criação de uma doutrina nacionalista, a mobilização da população em uma campanha de defesa nacional, o monopólio da imprensa pelo governo e o auxílio interministerial para um funcionamento mais agressivo do Departamento de Propaganda e Difusão Cultural, ligado à pasta da Justiça.27 Nesse ambiente político, o convite a um profissional estrangeiro – como Le Corbusier – devia passar pelo crivo do próprio ditador. A situação tornava-se mais delicada, pois em 1935 o ministério trouxera, como consultor para a Cidade Universitária, Marcello Piacentini, proeminente arquiteto ligado ao regime de Benito Mussolini. Por que recorrer, agora, depois de um concurso anulado, a outro europeu? A porta do gabinete se abriu, deixando passar o ministro Vicente Rao, jurista paulista, amigo do poeta Guilherme de Almeida. Cortesmente, sem conseguir amenizar o cenho preocupado, Rao estendeu sua mão para Capanema, que o abraçou com a intimidade dos mais experientes. A recepção de Vargas a Capanema foi muito informal e amena; um pouco mais protocolar com Lucio Costa. O chefe do executivo teria mais assunto
27. Ver Getúlio Vargas, “Diário 1930-1936”, p. 470.
com o jovem arquiteto se pudesse advinhar que ele havia sido o coautor do
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projeto do Castelo de Itaipava, registrado em seu diário como “um desvario da imaginação, um monumento da vaidade e uma exibição megalomaníaca,
Decisão da viagem
feita com amor e carinho.”28 Capanema introduziu o assunto e passou a palavra ao arquiteto que
28. Ver Getúlio Vargas, “Diário 1930-1936”, p. 497. 29. Carta de Lucio Costa a Le Corbusier em 26/6/1936 apud “Colunas da Educação”, p.94. 30. “Registro de uma vivência”, p.135-136.
fez uma defesa apaixonada do convite, findando com as seguintes pala-
Le Corbusier atravessou com passadas largas, lentas e ritmadas, característi-
vras: “Há centenas de Piacentinis, em toda parte, a todo momento – são
cas de seu andar, uma galeria longa e escura que dava acesso a uma estreita
necessários séculos de intervalo para um Le Corbusier.”29 Vargas, “entre
escada, levando ao escritório. Entregou o embrulho da Sennelier à secretária
divertido e perplexo diante de tanta obstinação, acabou por concordar,
austera que, sabendo reconhecer seus passos, esperava-o próximo à porta.
como se cedesse a um capricho de um neto: já que é tão importante assim, tragam o homem.”30
Chamou à sua sala Charlotte Perriand, designer, e Fernand Léger, pintor, para examinar o desenvolvimento dos desenhos preliminares do Pavilhão dos Novos Tempos, a ser montado na Exposição Internacional, em Paris, no ano seguinte. O artista era um colaborador ocasional, enquanto a desenhista industrial era a reponsável pelos desenhos de interiores, mobiliário e construções provisórias do ateliê. Apesar de não gostar de equipe numerosa, Charlotte fora incorporada após haver realizado móveis de aço tubular e couro que dariam origem a outros desenhados em parceria com o mestre franco-suíço.31 Le Corbusier não gostava de reuniões, sobretudo as longas; ficava com o olhar ausente e se voltava para os próprios pensamentos. Dessa vez, não conseguia impedir a sensação de que, novamente, preparavam uma exposi-
Horário de voo do LZ 127 Graf Zeppelin para a América do Sul, 1934.
ção de algo que jamais seria realizado. Esforçou-se para se concentrar naquilo que estava sendo discutido: grandes colagens fotográficas e desenhos apresentariam a precária situação habitacional da cidade, descrita como dividida em favelas dos pobres e favelas dos ricos, e proporiam um plano urbanístico novo para a capital francesa. Com um mote geral pacifista, Le Corbusier propunha que o dinheiro gasto com munições e equipamentos militares fosse revertido para construir cidades novas em toda Europa. Em vez de destruição: “Viver, pensar, se mover, respirar.” Findo o encontro, só em sua mesa, o arquiteto suíço abriu a pasta cinza que guardava a carta do engenheiro brasileiro e o carbono de sua resposta, ambas de final de março. Monteiro transmitia-lhe o interesse do governo brasileiro de contratá-lo para consultor dos planos da Cidade Universitária e da nova sede do Ministério da Educação. Face à impossibilidade de contratar Gustavo Capanema, Getúlio Vargas, Cândido Rondon, Gustavo Barroso e outros, por ocasião da inauguração de uma nova sala no Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, 1945.
um estrangeiro para tais fins, usariam o subterfúgio de pagar-lhe por conferências. Sua resposta foi entusiástica: “Será que chegou a hora de germinarem os grãos semeados na América do Sul?32 (...) o essencial é minha participação eventual na construção do novo Ministério de Instrução Pública. (...) Fica, pois, entendido que ofereço minha colaboração com a mais viva
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31. Em 1928, certamente num dia de mau humor, recusara-lhe emprego sob a alegação que não precisava de “estofadores”. 32. Le Corbusier se refere à sua viagem anterior, em 1929, na qual visitou e proferiu conferências de difusão do estilo “moderno” no Brasil, Argentina, Uruguai e Chile.
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satisfação e, dispondo vocês de uma nova legislação nacionalista, estou mesmo perfeitamente disposto a manter o anonimato, caso se considere útil.”33 Apalpou, como de costume, um osso raquidiano que mantinha em cima da mesa; seus dedos deslizaram pela superfície lisa externa e se detiveram numa das extremidades, onde dava para sentir a rugosidade das fibras internas que estruturavam aquele pedaço do organismo humano. Sentiu-se martelado pelo receio de que sua viagem ao Brasil acabasse se resumindo a um ciclo de palestras. Tirou uma folha da gaveta e começou a escrever uma nova carta, desta feita, diretamente ao ministro Capanema: “Considero que seria uma honra, para um arquiteto como eu, encontrar nessa paisagem magnífica a oportunidade de situar uma obra de maturidade, capaz de demonstrar as possibilidades da arquitetura moderna.” Terminou com a ressalva: “Estou em uma idade que não me permite deslocamentos para tão longe simplesmente para dar conferências a estudantes.”34 Dobrou a carta, colocou-a dentro do envelope, subscritado de próprio punho, chamou a secretária e lhe deu duas incumbências: ir à agência de correios e ao escritório da Luftschiffbau-Zeppelin para lhe trazer o folheto com as informações do voo de dirigível até o Rio de Janeiro.
33. Le Corbusier a Monteiro de Carvalho, em 30/03/36 – apud op. cit. 34. Carta a Gustavo Capanema em 5 de maio de 1936, Arquivo Capanema, CPDOC/FGV.
Pavilhão do Espírito Novo (L’Esprit Nouveau), Le Corbusier, 1924.
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Dezoito graus
A fila se prolongava um pouco, apesar de apenas vinte passageiros serem admitidos a bordo, pois, além de todos os procedimentos de controle de passaporte, havia a revista para certificar que ninguém levava isqueiro ou fósforos a bordo. Providência indispensável pois, além dos cinco motores a
Na plataforma 4 da Gare du Nord, os passageiros entravam nos vagões do
gasolina, que permitiam uma velocidade de cento e vinte e oito quilômetros
trem para Frankfurt. Suas silhuetas, numa pintura de William Turner, eram
por hora, o Graf Zeppelin era sustentado no ar por sessenta balões de gás
sombras escuras na densa neblina do dia chuvoso que se juntava ao vapor do
hidrogênio, altamente inflamáveis. Os tripulantes se encarregaram da bagagem e Le Corbusier resolveu, an-
trem. Nada menos prenunciador da luminosidade que aguardava o arquiteto
tes de rumar para sua cabine, se sentar à mesa no grande salão e tomar seu
em seu destino final carioca. O carregador depositou sua mala junto à entrada e Le Corbusier, após
aperitivo predileto, o pastis. Olhando ao seu redor percebeu que, ao cruzar a
subir os três degraus, tirou o sobretudo e pensou em sua proposta de, inde-
entrada, recuara um século, pois a decoração interna era tradicional e de es-
pendentemente da região, manter-se sempre numa temperatura constante
casso bom gosto. Ridículas cortinas plissadas guarneciam as escotilhas, fa-
de dezoito graus dentro dos edifícios. O lirismo do tempo moderno: a mes-
zendo-o lembrar de um de seus aforismos preferidos: “O passado não é uma
ma sensação térmica uniria os interiores da casa russa, parisiense, de Suez
entidade infalível... Tem suas coisas belas e feias”.36 Findou de um só gole o aperitivo de anis e rumou para a cabine que ocu-
ou Buenos Aires.35 Antecipando o prazer que o voo de quatro dias lhe proporcionaria, tirou
paria sozinho. Le Corbusier não se incomodava de viajar só. Era a segunda
da pasta um exemplar do livro que publicara, “Frontispiece to pictures of the
melhor opção, já que o paraíso seria ter, a seu lado, uma bela mulher porque,
epic of the air”, sobre o estímulo que a perspectiva aérea podia inspirar na
a seu ver, “os homens têm nas entranhas uma ruptura eterna, de alto a bai-
conquista de uma nova civilização. O prazer da visão aérea, que possibilitava uma perspetiva inédita, ampla e vagarosa do chão do planeta, permitia ver
“Aircraft. The new vision”, capa de Le Corbusier, 1935.
xo”, tendo no sexo oposto o complemento indispensável. Mas mil vezes o recolhimento, no qual poderia desenhar ou deixar flutuando em seu cérebro
também, claramente, como estavam mal organizados os espaços das aglo-
os pensamentos de projetos futuros, do que ser obrigado a sustentar uma
merações humanas.
conversa casual ao longo de muitos dias. Dividiria seu tempo a bordo entre
Apesar de não lhe desagradarem alguns aspectos literários do futurismo
a escrita de um ensaio sobre a relação entre arte e arquitetura, e a revisão de
italiano, era difícil imaginar a força poética evocada por Marinetti a respeito
seus desenhos e textos sobre a coerência e naturalidade da evolução dos es-
das locomotivas. A paisagem fracionada – pela proximidade dos objetos –
paços como resultado das novas tecnologias. Pensava que poderia se apoiar
e a velocidade baixa do trem deixavam-no mais confundido do que excita-
nelas para explicar ao ministro brasileiro a nova arquitetura. Um leve sacolejo lhe tirou dos pensamentos, sentindo que alçavam voo.
do. Le Corbusier gastaria o tempo de viagem cochilando ou lendo o jornal
Um subir silencioso, sem esforço, já que o hidrogênio os fazia mais leves
daquele dia. A estação de dirigíveis era afastada do centro da cidade mas servida por
que o ar. Ao atingir cem metros de altura, os motores foram acionados e co-
uma estação de trem. O horário de chegada a Frankfurt permitiu-lhe não
meçaram a impulsionar o dirigível na direção desejada. O Reno e Frankfurt,
pernoitar na cidade, bastando trocar de plataforma e dirigir-se para o hangar.
minúsculos, assemelhavam-se a maquetes enquadradas pelo azul intenso
A visão daquele longo volume prateado, banhado pelos raios do sol nas-
do céu. Até atingir o mar, voariam a trezentos metros de altura e oitenta
cente, emocionou-o profundamente. Um evento técnico suscitando um fato
quilômetros de velocidade, o que propiciaria ao arquiteto, com o rosto colado
poético. Aquela estrutura de alumínio, revestida por uma tela recoberta por
ao vidro, um desfilar de montanhas, campos plantados, florestas, caminhos
lona de algodão, pintada com tinta prata para absorver o calor, consubstan-
35. “Précicions”, p.74-76.
e riachos.
ciava a sua própria definição de uma obra de arquitetura, pois cumpria todas
No almoço, deram-lhe a honra de ficar na mesa do comandante, Hugo
as funções às quais estava designada e, além disso, tocava a sensibilidade
Eckner, que fizera parte da equipe que projetara o dirigível. Além de forne-
do observador.
cer detalhes sobre a leveza da estrutura metálica, Eckner contou-lhe que o
36. “A arte decorativa”, p.1.
zepelim fora construído como protótipo, mas o resultado havia sido tão bom que decidiram colocá-lo em uso. Uma senhora francesa, que acompanhava
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a conversa, sussurrou a seu marido, industrial, que não lhe agradava nada voar num modelo que havia sido montado como um experimento. O senhor, com tapinhas delicados na mão, confortou-a, dizendo que a aeronave já tinha quase uma centena de viagens feitas entre a Europa e América do Norte. Tomara que não seja a última, retrucou ela, fazendo graça de seu mau humor. Findo o almoço, o piloto convidou Le Corbusier a tomar um xerez na recém-criada sala de fumar, uma cápsula anticomburente na qual as mesas tinham isqueiros amarrados por correntes. Ecker tirou a ponta de um charuto, acendeu-o e confidenciou ao arquiteto que aquele poderia vir a ser o seu último voo. Os nazistas, ocupando cada vez mais espaços na sociedade alemã, pressionavam a companhia aérea para que uma cruz suástica fosse pintada na cauda do dirigível e que ele fosse substituído por um oficial filiado ao partido. Le Corbusier demonstrou-lhe simpatia, lamentou o fato e a escalada das tensões políticas na Europa. Ecker apagou o charuto no cinzeiro de louça amarela e se escusou, pois tinha que voltar à cabine de comando para dirigir a operação que, prestes a deixar o continente, colocaria o dirigível na altitude de cruzeiro, a mil metros do nível do mar. De volta à cabine, olhou pela escotilha a uniformidade do azul só quebrada pela visão de um navio, cuja velocidade, três vezes menor do que a rapidez da aeronave, ia ficando para trás aos poucos. A monotonia da vista começou a entediá-lo e o estimulou a retomar seus escritos.
O dirigível LZ 127 Graf Zeppelin, Rio de Janeiro, 1930.
Diagrama da cabine de passageiros do LZ 127 Graf Zeppelin 1932.
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Pisos de luz Na manhã seguinte Le Corbusier foi desperto pela turbulência que o mau tempo da costa da África provocava. Pediu seu café na cabine, para evitar distrações, e continuou a trabalhar. Releu, satisfeito, sua explicação dos cinco pontos da nova arquitetura, provenientes diretos da mudança da técnica construtiva. Partiu de uma simples habitação: com a construção em pedras era necessário escavar o chão para nele fincar os alicerces. De modo a resistir à pressão lateral do solo, tinham que se edificar muros de pedra no perímetro do buraco; essas paredes, por uma vez, desempenhariam a função de sustentar a casa. O espaço gerado no subsolo, geralmente escuro e úmido, se transformaria nos porões insalubres. A partir do térreo faziam-se aberturas nas paredes para as entradas de pessoas, luz e ar. Os andares acabavam mal iluminados porque não podiam ser grandes essas aberturas, de forma a não enfraquecer a sustentação da casa. Essa técnica tivera seu apogeu no período de Haussman 37, e sobre ela se assentaram as Academias “para pavonear-se, dogmatizar, explorar, tiranizar e paralisar a vida das novas sociedades.”38 Com o concreto armado, suprimiram-se inteiramente as paredes, uma vez que um esqueleto estrutural independente se incumbia de sustentação. Podia-se, dessa forma, nada fazer no subsolo, elevar o primeiro piso e desocupar o solo de qualquer construção. Nos andares poderíamos ter uma pele de vidro nas fachadas e usar alvenaria leve nas divisões de espaço. A arquitetura passaria a se constituir de pisos de luz. Para fechar a construSala de refeições do LZ 127 Graf Zeppelin,1933.
ção não mais necessitaríamos de telhado, bastando cobri-la com uma laje de
Cabine de comando do LZ 127 Graf Zeppelin , 1933.
com as grandes precipitações e calor, tornava-se possível plantar um jardim
inclinação imperceptível de um por cento. E nos climas tropicais, para lidar na cobertura. Era uma solução conveniente para as concentrações urbanas, pois permitiria recuperar duas vezes, no térreo e na cobertura, para atividades externas, a área ocupada pela construção.
37. op.cit, p.447. 38. “Precisões”, p.49.
Acentuaram-se os pulos da aeronave e o céu cinza plúmbeo fez a cabine mais escura. Le Corbusier deitou-se, fechou os olhos e deixou fluir na memória a sua mãe ao piano e o irmão ao violino tocando Händel. Quedou-se assim até a hora do almoço.
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Circulação Acordou no penúltimo dia de viagem com outras lembranças musicais bem menos inocentes. Seu corpo sentia falta de companhia e da música afro-americana entoada no camarote de um navio transatlântico havia sete anos: a cantora Josephine Baker, com quem se envolvera, se tornou uma presença de desejo e ternura. No zepelim, Le Corbusier lavou o rosto, invocou toda a disciplina de sua formação suíça, barbeou-se e rumou para o desjejum no restaurante. Acompanhava-o um caderno de desenho que recebeu os rabiscos de um futuro quadro. Le Corbusier se sentia mais pintor que arquiteto. O não reconhecimento de seu trabalho como artista plástico lhe doía mais que a dificuldade em concretizar as suas obras de arquitetura.39 E o ensaio que escrevia a bordo tratava da relação intrínseca entre arte e arquitetura. Procurava expressar racionalmente algo que, no seu próprio âmago, era profunda e complexamente inseparável. À tarde examinou o projeto da equipe brasileira para o Ministério. Costa lhe pedira absoluta franqueza com eles, mas uma avaliação positiva, fosse qual fosse sua opinião, para Capanema. O projeto não lhe desagradara, pois ali estavam quase todos os ingredientes de sua linguagem. Sua maior restrição era ao formato em “u” que tirava a pureza de uma lâmina vertical e o fato de não haver um pilotis contínuo no térreo. Arquitetura devia se confundir com urbanismo no nível da rua e propiciar fácil acesso, estabilidade e luz nos pisos de trabalho. Mas isso era assunto para desenvolver já no Rio. Resolveu ler, até a hora do almoço, o seu livro predileto “Gargântua e Pantagruel”, de Rabelais. Recostou-se, acendeu a luz de cabeceira e abriu o livro no capítulo inicial quando Gargamelle come uma vaca inteira e “explode”, dando à luz, pelo buraco da orelha, Gargântua, pai de Pantagruel. Recordou-se da metáfora de deglutição de que os modernistas brasileiros lançaram mão para o trato com a cultura europeia. E, sorrindo, lembrou-se, ainda, do deus Cronos engolinDesenho de Le Corbusier com Joséphine Baker no Rio de Janeiro, 1929.
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39. “Wogensky”.
do, um a um, seus filhos. Pensou que tantas associações eram produto da sua fome. De projetos e do almoço que logo seria servido.
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PARTE 3
Jiquiá O poeta Ascenso Ferreira acordou cedo. Dessa vez não tomou café com Linda e os filhos porque àquela hora só estava de pé o chefe da casa, Lauro Paiva, que se preparava para sair a cavalo e verificar, como de costume, se tudo corria bem nos canaviais do Engenho Paul. Após um princípio de pneumonia, quando passara uma semana descansando na casa-grande dos primos, em Palmares, Ascenso levara tão a sério esse repouso que escreveu “Filosofia”, um dos mais conhecidos poemas-piadas do modernismo: “Hora de comer, comer/ Hora de dormir, dormir/ Hora de vadiar, vadiar/ Hora de trabalhar/ Pernas pro ar que ninguém é de ferro...” O motivo de se haver levantado tão cedo era o horário do primeiro trem para Recife, onde se encontraria para um almoço com Gilberto Freyre e, juntos, atendendo ao apelo de Rodrigo Melo Franco, transmitido por Manuel Bandeira, fariam companhia a Le Corbusier na escala do aeróstato em direção ao Rio. Ascenso dobrou o guarda-pó da viagem, acomodou-o numa pequena pasta e entrou em “O Leite” a apenas poucas quadras da estação; avistou, numa mesa lateral, o antropólogo que tomava um guaraná Fratelli Vita enquanto o esperava. Como não dispunham de muito tempo, Gilberto chamou o garçom e pediu-lhe duas galinhas à cabidela, além de “cartolas” para sobremesa. Ascenso brincou a respeito da “pureza” não alcoólica do amigo e pediu uma dose de cachaça e uma cerveja. Os dois comentaram o paradoxo de serem os recepcionistas pernambucanos do arquiteto; o poeta fazia sempre ironia com o deslumbramento por aqueles de além-mar, como no poema “Ôropa, França e Bahia”, e o autor de “Sobrados e Mocambos” não tivera muito boa impressão de “Por uma Arquitetura”. O tom lhe pareceu excessivamente messiânico e a sua visão simplista, como se a complexa vida social pudesse ser transformada por mudanças espaciais. Considerava-o bem intencionado mas ingênuo. E julgava uma sorte os projetos de Paris e do Rio serem tão megalomaníacos que neEngenho Paul, Palmares, Pernambuco, década de 1930.
nhum governante, por mais ditatorial que fosse, ousaria implementá-los. O chofer esperava-os na calçada para levá-los à torre do zepelim. A inauguração do lugar, havia seis anos, atraíra uma quantidade grande de curiosos num dia em que foi decretado feriado na cidade. Apesar de já não ser algo inédito, em 1936, o zepelim tornara-se uma atração quinzenal para alguns recifenses que, mesmo sem motivo específico, levavam a família para ver tão majestosa cena.
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Dirigível LZ 127 Graf Zeppelin, Recife, década de 1930.
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Quando o automóvel atravessou a ponte do Pina, observaram os meninos mocambos da orla pobre, correndo e apontando para o zepelim, lá no
Manhã prateada
alto, como se fosse uma aparição futurista singrando as belas e longas nuvens do céu pernambucano. Ferreira comentou, nervoso, que não chegariam a tempo, mas Gilberto o acalmou explicando que os procedimentos para
O único ruído na rua Gustavo Sampaio era o tilintar das garrafas de leite
descê-lo ao solo e, sobretudo, amarrá-lo à torre eram bastante demorados.
sendo depositadas, junto com o pão, nas portas das casas. Uma luz sobres-
De fato, quando o automóvel chegou ao Campo de Jiquiá, ainda se de-
saía na ainda escura madrugada da segunda-feira, 13 de julho: Lucio Costa,
senrolava o esforço de duzentos homens – bombeiros, funcionários e vo-
depois de se barbear, vestia o terno de linho branco. Roberto Burle Marx, seu
luntarios – para baixar o dirigível. Ascenso tirou o enorme chapéu de palha
vizinho, nove anos mais novo e iniciante no campo dos jardins, já o esperava
e acenou para Le Corbusier, facilmente reconhecível pelos óculos, embora
na calçada, encostado no carro do amigo. Em Ipanema pegariam Carlos Leão
mais alto do que lhes parecera nas fotos.
e, no final da Delfim Moreira, Oscar Niemeyer. Seguiram pela avenida
Uma vez esgotadas as frases de praxe sobre a viagem, Freyre lhe falou
Atlântica, “então uma simples pista asfaltada ao alcance do espraiar da arre-
um pouco de Pernambuco, da colonização portuguesa canavieira e da incur-
bentação. Essa proximidade das ondas e do ar saturado da maresia, esse
são dos holandeses. Comentou que os melhores relatos da sociedade per-
contato direto com o vento e o estrondo do mar encapelado ao longo de
nambucana foram feitos por Louis Vauthier, um engenheiro francês, que ali
quatro (sic) quilômetros de brancura, eram a marca da imemorial beleza de
realizou importantes obras. Desejava que o mestre moderno tivesse o mes-
Copacabana(...)”.40 Quando percorriam as curvas da avenida Niemeyer, uma
mo sucesso no Rio de Janeiro. E lhe relatou seus estudos sobre a sociedade
fina neblina pairava sobre a linha do horizonte, mas já começava a dissipar-
local por meio da análise das habitações das elites e das classes subalternas.
se com os primeiros raios de sol.
O arquiteto demonstrou interesse mas lhe afirmou que uma das missões de
Affonso Reidy faltaria naquele dia a seu trabalho na prefeitura e Jorge
sua arquitetura é acabar com essas diferenças. Ascenso Ferreira tirou mais
Moreira não iria ao escritório da Construtora Baerlein. Eles e Ernâni
uma vez o chapéu de palha, abanou-se, coçou a cabeça e resmungou baixi-
Vasconcellos pegaram carona com Hugo Gouthier, membro do gabinete che-
nho: “isso não vai dar certo...”
fiado por Carlos Drummond, que ia representando o ministro. Rumaram
40. “Registro de uma vivência”, p.80.
todos para Santa Cruz a fim de recepcionar Le Corbusier.
Avenida Atlântica, Rio de Janeiro, circa 1935.
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Aos olhos de Le Corbusier, a chegada pelo ar conseguiu superar a beleza da entrada de navio na baía de Guanabara, que ele próprio vivenciara em
Santa Teresa na chuva
1929. Vindo do Norte, o dirigível, a apenas cem metros de altura, sobrevoou o centro carioca e costeou o litoral até a restinga da Marambaia, fazendo-o reviver, de ângulo mais privilegiado, suas impressões: “verde e rosa são as
Os pneus do carro deslizavam nos trilhos molhados na subida de Santa
terras do Rio, verde sua vegetação, azul seu mar. As ondas, cobertas com
Teresa. O limpador de para-brisas mal dava conta da chuva e as janelas
um pouco de espuma, vão morrer em praias que se multiplicam. Erguem-
começavam a embaçar. Hugo Gouthier pediu a Le Corbusier para passar
se ilhas que furam as águas, gaivotas mergulham no mar, elevam-se altas
seu lenço no vidro frontal de modo a que o caminho ficasse, minimamente,
colinas e grandes montanhas.”41 A luminosidade intensa fez seu coração
visível. Este brincou sobre a força da natureza nos trópicos e, para alívio
bater mais depressa, à medida que se aproximavam do campo de pouso
mútuo, logo atravessaram o portão da residência de Monteiro de Carvalho
cheio de gente.
que oferecia um jantar de boas-vindas a Le Corbusier. Outro antigo amigo
Le Corbusier ficou alegre e, de certo modo, surpreso com a juventu-
aos convidados, uma mistura de artistas, intelectuais e pessoas da socieda-
seus. Cumprimentou efusivamente a todos e embarcou no carro de Lucio,
de carioca. Na varanda, Tarsila do Amaral, Manuel Bandeira, Rodrigo Melo
com Leão e Niemeyer, passando Burle Marx para o automóvel de Gouthier.
Franco, Raymundo Castro Maya e Gustavo Capanema conversavam em pe-
Na ida de carro para o hotel Glória, percebeu que o convite, feito por
41. “Precisões”, p.19-20.
do arquiteto, Paulo Prado, viera especialmente de São Paulo para se juntar
de dos arquitetos que lhe eram apresentados, imaginando serem auxiliares
quenos grupos.
carta de Monteiro de Carvalho e posterior correspondência de Capanema,
Tarsila e Lucio falavam sobre o risco de o moderno ser tomado como
levou o arquiteto europeu à dedução errônea que os cinco jovens brasileiros
estilo e se banalizar; para Costa essa era a diferença entre moderno e moder-
haviam sido recrutados pelo Ministério como simples grupo de apoio. Havia
nismo, sendo o último uma contrafação. Tarsila apontou que as decorações
sido ele, Costa, o único responsável pela ideia de chamar Le Corbusier para
cubistas originais, “como expressão do talento criador, são realmente be-
consultor do grupo. De modo a restabelecer a verdade dos fatos e maior
las”.42 O mesmo não se podia dizer de suas vulgarizações, intermediárias
equilíbrio nas relações, era fundamental esclarecer esse ponto antes da reu-
entre o gosto popular e a expressão da grande arte, que vão se multiplicando
nião de trabalho no dia seguinte.
de maneira assustadora. “Hoje ninguém mais pode alugar uma casa em São Paulo ou no Rio onde possa se viver tranquilamente. Numa sala rosa vivo, com motivos geométricos para dizer que são modernos, ramos de flores azuis se engancham na geometria salpicada de ouro.”43 Lucio sorriu e lhe falou que esse foi um dos motivos que o desencorajou de manter seu escritório particular e o levou a solicitar a vinda de Le Corbusier como consultor da sede do ministério. Esperava que o mestre plantasse sementes autênticas que frutificariam, depois, nas mãos dos arquitetos jovens. Raymundo Castro Maya foi apresentado a Le Corbusier que, para puxar assunto, lhe perguntou sobre o belo pequeno alfinete em sua lapela; era a
Vista da Praia do Flamengo e Pão de Açúcar, com o dirigível LZ 127 Graf Zeppelin, Rio de Janeiro, 1930.
“pera” de alguma condecoração ou confraria? O industrial e colecionador carioca lhe explicou se tratar do escudo do Fluminense, seu time de coração. O arquiteto achou curioso o emprego da palavra coração para um clube de futebol, mas elogiou a original combinação de grená, verde e branco. Castro aquisições de desenhos de Debret retratando o Rio de Janeiro do início do
42. Tarsila do Amaral, Diário de S.Paulo, São Paulo, em dezembro de 1937, em “Tarsila, cronista”, p.446.
século XIX. Le Corbusier demonstrou interesse em vê-los e observou o
43. “Tarsila, cronista”, p.447.
Maya convidou-o a visitar sua casa e relatou, com entusiasmo, suas novas
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cuidado que se deve ter ao adquirir peças antigas, pois “o passado não é uma entidade infalível... Tem suas coisas belas e feias...”.44 Tarsila, que se juntara
Na prancheta e na rua
aos dois, concordou e comentou seu entusiasmo com a arte popular do Oriente Médio vista numa recente viagem. Nos dias de escala em Paris, Tarsila “achara suas vitrines na maioria feias pelas suas decorações falsas”,
Naquele dia, Carlos Leão não pegou carona para o Centro, como de hábito.
buscando originalidade a qualquer custo. Le Corbusier, fascinado com aque-
Lucio Costa preferira ir só ao encontro de Le Corbusier para lhe explicar o
la mulher bela e inteligente, de lábios rubros, cabelos presos e brincos tão
contexto da sua visita.
longos, concordou com os olhos e a pintora acrescentou: “Nem tudo que se faz em Paris é bom, como muita gente aqui ainda pensa.”
Le Corbusier e Alberto Monteiro de Carvalho, Rio de Janeiro, 1929.
Aos 34 anos, um profissional experiente e cônscio do próprio valor, havia enfrentado catedráticos de várias origens e sabido evitar uma relação de sub-
Já na mesa de jantar, Prado comentou com Bandeira uma entrevista
serviência com Frank Lloyd Wright quando, seis anos antes, este aportou no
de James Joyce sobre “Finnegans wake”, o romance que estava escrevendo
Rio, com ares de primadona45. Por maior e mais genuína que fosse sua admi-
numa linguagem que mesclava inglês, latim e outras línguas para atingir,
ração por Le Corbusier, esta experiência só daria bons frutos se conduzida
simultaneamente, vários significados. Prado, buscando incluir os arquitetos,
em termos de cooperação entre um companheiro mais velho, que estabele-
perguntou-lhes qual seria o correspondente dessa experiência em arquitetu-
ceria as regras, mas permitiria que os mais novos desenvolvessem suas capa-
ra. Sem pestanejar, o mestre europeu respondeu que o espaço gerado pelas
cidades de jogar.
novas técnicas permitiu que a vista passeasse por vários planos do interior
Com o exercício diplomático da franqueza, ao lado da liberdade inte-
e, através da pele de vidro, trouxesse o exterior para dentro, multiplicando a
lectual – uma de suas melhores características – Costa fez Le Corbusier en-
percepção. Só lamentou as dificuldades de entendimento dessa nova concep-
tender, ainda no carro, que ele mesmo havia sido o idealizador de sua vinda
ção. Le Corbusier gracejou que seu maior desejo era se equiparar a George
e que aqueles que o suíço supunha meros auxiliares eram, na verdade, os
Braque e James Joyce, na definição de Picasso: “Os incompreensíveis que
parceiros de projeto.
45. Depoimento de Lucio Costa a Lauro Cavalcanti, 1987.
todos compreendem.” Após o café, Rodrigo, percebendo o cansaço do homenageado, agradeceu 44. “A Arte decorativa”, p.1.
ao anfitrião e pediu que se encerrasse a noite pois, no dia seguinte, apesar do feriado de 14 de julho, Le Corbusier, Lucio Costa e a equipe começariam a trabalhar de manhã cedo.
Ao fundo a Esplanada, obtida com o desmonte do Morro do Castelo, onde se construiriam os ministérios do Estado Novo.
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Jorge Moreira, o mais detalhista e meticuloso do grupo, se encarregara de preparar o escritório do Edifício Castelo, na avenida Nilo Peçanha, para o trabalho. Todos já haviam chegado e, após o cafezinho e a água do protocolo carioca, começaram o encontro. Lucio Costa reapresentou os integrantes da equipe, com pequenas frases sobre cada um, e passou a palavra a Le Corbusier. A reunião foi bastante rápida, com elogios e críticas cuidadosas ao projeto do grupo e as linhas gerais do que iam fazer. Propôs um passeio a pé para verem o terreno, a apenas centenas de metros de distância. Descendo na direção do mar na recém-aberta avenida Graça Aranha, avistaram alguns poucos edifícios e a marcação das avenidas e lotes a serem construídos. Leão indicou-lhe o local do prédio da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e, imediatamente atrás do terreno da sede que iriam projetar, os lugares reservados aos Ministérios da Fazenda e do Trabalho. Le Corbusier observou que o novo prédio seria tragado pelo desenvolvimento da cidade e dos prédios ao redor. Apontou a necessidade de maior destaque no conjunto urbano, de modo a constituir, verdadeiramente, um exemplo. Pensava também que deveria estar voltado para o mar, com visibilidade destacada para todos que chegassem à cidade, de navio ou aeroplano. Sugeriu que, na manhã seguinte, antes de irem para o escritório, circulassem de carro na avenida beira-mar para estudar opções.
Fachada principal do Ministério da Fazenda, Rio de Janeiro, década de 1930.
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Sedes do Ministério do Trabalho e da Fazenda, Rio de Janeiro, circa 1944.
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Lançamento
Interromperam a conversa para saudar Vinicius de Moraes, que acabara de ser nomeado representante do Ministério da Educação junto à Censura Cinematográfica.47 O jovem poeta se uniu à conversa, concordando com a delicadeza do momento, pois Capanema, preso a um compromisso com um
A Livraria José Olympio Editora abrira sua loja na rua do Ouvidor, quase es-
governo que passara a eleger o comunismo como principal inimigo, monta-
quina da avenida Rio Branco, em 1934. Uma das mais prestigiosas editoras
ra a ação de seu Ministério a partir de intelectuais modernos, em sua maior
brasileiras, reunia em seu elenco grandes nomes da renovação literária e se
parte simpatizantes da esquerda.48 O titular da pasta da Educação fora insta-
47. Em substituição a Prudente de Morais Neto.
tornara um ponto de encontro dos intelectuais modernos.
do a montar um programa de atividades antibolcheviques, ao mesmo tempo
48. Ver Moacir Werneck de Castro, 1998, p.38.
Naquela tarde era lançado “Homenagem a Manuel Bandeira”, uma reunião de poemas, estudos críticos e comentários sobre sua vida e sua obra;
que buscava proteger “os seus comunistas” da sanha da direita, exercendo seu cargo nessa escorregadia corda bamba getulista.
uma iniciativa de amigos para comemorar os cinquenta anos do poeta, ocorrido três meses antes. Muito querido entre seus pares, Bandeira, rei da autoironia, se intitulava “um poeta menor”, e dizia que apenas uma meia dúzia de talentos concordavam consigo próprio pois “positivamente, não gosto de mim”46. Mas acrescentava que “eles acabarão gostando: sei, por experiência, que no Brasil todo sujeito inteligente acaba gostando de mim”.
Logomarca da livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1943.
À esquerda da entrada reuniam-se Di Cavalcanti e Santa Rosa, autor da maioria das capas da José Olympio, inovadora, também, em termos de programação visual do livro brasileiro. Em 1927, Di Cavalcanti tomara parte do Teatro do Brinquedo, de Eugenia e Álvaro Moreyra, uma alternativa às comédias ligeiras às quais se resumiam os espetáculos da época. O Teatro do Brinquedo havia sido definido como trabalho de intelectuais para intelectuais, sem preocupações com um público popular. Naquele momento, Santa Rosa colaborava com Moreyra num projeto menos experimental, mas igualmente ousado: a montagem de “Ásia”, de Henri Lenormand. Com toques surrealistas a peça abordava a vida e o destino dentro das concepções orientais e ocidentais. Era o primeiro cenário daquele que, sete anos depois, participaria da montagem de “Vestido de noiva”, de Nelson Rodrigues, com direção de Ziembinski, um marco do novo teatro brasileiro. Rodrigo Melo Franco chamou Carlos Drummond a um canto para compartilhar um telefonema de José Lins do Rego, preocupado com a possível prisão de escritores de esquerda. Recebera uma carta de Graciliano Ramos externando esse temor e Jorge Amado fora intimado para comparecer a um quartel em Salvador. O poeta concordou que a situação era preocupante, pois naquele tempo parecia prevalecer no governo a ala direitista de Filinto 46. “Itinerário de Pasárgada”, p.155.
Müller e Lourival Fontes. Dias antes, ele próprio pedira demissão do cargo de chefe de gabinete, imediatamente negada por Capanema, porque se recusou a assistir à humilhante palestra que Alceu Amoroso Lima faria para os funcionários sobre “Educação e comunismo”.
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Beira-mar
Para Le Corbusier era o sítio perfeito, restando saber qual o gabarito permitido, pela proximidade das pistas de pouso e decolagem. Como, no entanto, a área era enorme e sua intenção era um prédio predominante horizontal, não via problema.
Le Corbusier acordou muito cedo para nadar, um hábito seu, no sul da
À tarde, Costa e Leão acionariam Drummond para que o gabinete obti-
França, que a água da Guanabara, para ele tépida, o estimulou a retomar.
vesse informações, junto à prefeitura, sobre a posse do terreno e existência
Naquela manhã se afastou trezentos metros para fora da costa, de modo a
de algum plano para a região, enquanto Oscar acompanharia Le Corbusier
ver o perfil do litoral e confirmou sua intuição de ali colocar, não muito alto
de volta ao local para desenharem os pontos de vista da paisagem na qual
e longo, um bloco sobre pilotis. Desse modo, se destacaria na paisagem, sem
a arquitetura nasceria.
cortar o horizonte das montanhas; seria, de certo modo, um trecho, miniaturizado e prismático, ecoando sua proposta curvilínea para a cidade. Às nove horas da manhã já estava na portaria do Hotel Glória, espe-
Foram almoçar no terraço do restaurante do Hotel Avenida e o garçom lhes apresentou uma garrafa dizendo que, tendo em conta a origem rara do vinho, jamais o haviam provado. O arquiteto europeu achou graça – era
rando a Lancia de Costa pegá-lo. O carro trazia também Oscar Niemeyer e
um branco de Neuchâtel, sua terra natal na Suíça. Mandaram vir o vinho e
Carlos Leão. As ondas de um mar raramente revolto na plácida baía batiam
brindaram. Era visível que, à medida que os dias passavam, a cooperação ia
no quebra-mar e espirravam nos veículos, forçando-os a fechar as janelas
ganhando naturalidade e consistência.
do lado direito para não serem respingados por água salgada. No banco de trás, Oscar e Carlos se entreolharam, admirados porque o francês enfrentara aquele mar encapelado. Passando o obelisco da avenida Rio Branco, Costa indicou uma área, conhecida como Ponta do Calabouço, que havia sido aterrada nas proximidades de onde seria o terminal de passageiros do aeroporto. Desceram do carro e, a pé, percorreram-na, detendo-se na borda do mar. O arquiteto europeu adorou o fato de o local estar completamente fora da trama da cidade antiga, da qual se avistava o tímido skyline déco e, bem defronte, o Pão de Açúcar.
Hotel Avenida, Rio de Janeiro, década de 1930.
Fachada do Hotel Glória, Rio de Janeiro, década de 1930.
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Solar Monjope O solar Monjope, no Jardim Botânico, foi construído por José Marianno, milionário, médico, professor, diretor da Escola Nacional de Belas Artes e principal incentivador da corrente neocolonial. Marianno oferecera prêmios de viagem para jovens arquitetos conhecerem as cidades coloniais brasileiras. Lucio Costa se beneficiara de um desses prêmios na sua estada em Diamantina. A mansão, no meio de um grande jardim, fora complementada através de concursos promovidos pelo proprietário para elementos separados, como varandas, pórticos e fonte. O solar costumava aparecer nos jornais por conta dos saraus, palestras, jantares e recepções, como aquela que oferecera por ocasião do congresso de arquitetura panamericana, realizado em 1930, registrado como “uma noite de brilho invulgar” pelo jornal “O Globo”. José Marianno encontrava-se bastante irritado pois, num intervalo de tempo curto, sua mansão saíra duas vezes nas páginas policiais, com uma tentativa de suicídio e depois o esclarecimento sobre um roubo na Escola de Belas Artes. No primeiro caso, as páginas policiais registraram o encontro de um engenheiro francês, desfalecido e ensanguentado, em meio às raízes de uma figueira. O desagradável incidente foi esclarecido, dois dias mais tarde, pela própria vítima depois de atendido no Hospital Miguel Couto. Após grave desentendimento com a manicure Landyr Carvalho, na cidade de Resende, André Jacques guiara desorientado até o Rio e, ao chegar ao Jardim Botânico, viu o portão lateral do solar aberto, estacionou e se escondeu no meio da floresta, atentando contra a própria vida, se ferindo nos punhos. O comissário Fernandes viera dar ao dono da casa a notícia tranquilizadora da recuperação do engenheiro 49, mas isso não reparava a dupla aparição, em dias seguidos, nos jornais, do solar Monjope como palco de Solar Monjope, casa de José Marianno, construído sobre a Chácara da Bica, Rio de Janeiro.
um acidente quase fatal. Tampouco tinha sido agradável para Marianno, noutro dia do mesmo mês, receber jornalistas para dar conta do que seria feito sobre o desparecimento de obras da Pinacoteca da Escola de Belas Artes, sob sua direção. E, mais irritante que tudo, as notícias insistentemente publicadas na imprensa carioca sobre as conferências de Le Corbusier e seus grandes planos para a sede do Ministério da Educação. Uma vez que receberia convidados para lanchar, José Marianno procurou, do modo mais cortês que seu forte gênio permitia, dispensar o comissário de polícia. Líder carioca do neocolonial, Mariano preocupava-
49. Edição matutina de 11 de fevereiro de 1939.
-se com os crescentes avanços do que ele intitulava “vanguarda bolchevique”.
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De modo a articular a defesa das tradições brasileiras, receberia os integralistas Plínio Salgado, Gustavo Barroso e Archimedes Memória, além de seu
Nova pele
irmão, o poeta e político Olegário Marianno. O primeiro a chegar foi Olegário. Beijaram-se na face e se lembraram da ironia de este último ter sido apresentado a Plínio Salgado, havia quinze
Duas questões fundamentais os reuniam ali: uma avaliação do bom momen-
anos, pelo pintor Candido Portinari, agora um militante do Partido
to político dos integralistas e, paradoxalmente, a progressiva perda de espaço
Comunista.50 Estavam no seu segundo copo de suco de mangaba quando
da arquitetura passadista face às realizações modernas.
chegaram, juntos, Gustavo Barroso e Archimedes Memória. Este último aca-
Depois das frustradas revoltas comunistas de dezembro de 1935, foi evi-
bara de ter seu projeto preterido para a construção da nova sede da Associação
dente o aumento de prestígio do partido das camisas verdes. Houve sinais
Brasileira de Imprensa (ABI), ganhando uma pálida menção honrosa, en-
claros de valorização dentro do governo e de desejo de aproximação por parte
quanto os irmãos Roberto, com um projeto radicalmente moderno, haviam
do ditador. As eleições presidenciais estavam marcadas para 1938, mas nin-
saído vencedores da obra que dali a pouco iniciaria. Memória agitou seus
guém poderia assegurar que ocorreriam. Para os integralistas duas opções
braços atléticos e lhes disse que o projeto da ABI sequer janelas para a rua
se apresentavam: externar essa desconfiança e romper com o governo; ou
tinha. Parecia um mausoléu cubista que sepultava a boa tradição da arquite-
montar uma chapa presidencial, com Plínio Salgado, sem confrontar Vargas,
tura. José Marianno observou que, mais que isso, era inadequada para o cli-
com vistas a obter uma votação significativa, que influísse numa aliança
ma brasileiro, pois os espaços seriam escuros e abafados. Não lhe interessa-
futura.
va discutir estética, pois arquitetura era, antes de tudo, um elemento de identidade nacional em acordo com as condições do meio físico.
Gustavo Barroso observou a perene ambiguidade de Getúlio, que flertava com os integralistas às escuras, fazendo com que acreditassem que haveria
O ruído do motor de um carro próximo interrompeu-lhes a conversa
nomeações para ministérios importantes, sempre adiadas. Barroso apontou
e todos se aproximaram da entrada para saudar Plínio Salgado, o Chefe da
o caráter saturnino do ditador, que mantinha os opositores perto para depois
Ação Integralista que, mal pisou o terreno, esticou o braço direito para cima,
devorá-los. Barroso defendeu que uma aproximação deveria estar baseada
dando-lhes um coletivo “Anauê!”. O anfitrião sentiu-se um tanto ridículo
no controle do Ministério de Educação e Saúde, onde estava concentrada a
mas, junto com os outros, devolveu-lhe a saudação tupi, significando “você
maioria de vermelhos do regime.
Raimundo Padilha discursando entre Plínio Salgado, à esquerda, e Gustavo Barroso, em 1937.
é meu irmão”. Trajava Salgado o uniforme do movimento, uma reinterpre50. Pedro Correa do Lago, Revista Piauí.
tação tropical daquele nazista: camisa verde-oliva, gravata, calça e sapatos pretos, além da braçadeira com a letra grega Sygma, simbolizando o integral, a soma de todos.
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Archimedes Memória concordou veementemente, assinalando que esta hipótese permitiria desmontar a base de implantação do comunismo judeu não só na arquitetura, como no teatro, na música, na literatura e nas artes plásticas. Por intermédio do ministério, a verdadeira cultura brasileira seria implantada e isso contribuiria para a mudança da mentalidade e uma futura tomada do poder pela via constitucional ou mesmo pela força, com apoio popular direto. Um mordomo, não desprovido de aparato, trouxe uma bandeja de prata com beijus de tapioca, sucos, bolo de rolo, chá e café. O próprio anfitrião cortou finíssimas fatias do bolo que, detalhava, deviam ser quase transparentes para que o sabor da massa leve fosse apreciado sem a presença excessiva do recheio de goiaba. Marianno completou a explicação do bolo frisando que todos deviam repeti-lo e recomendando-lhes o acompanhamento do chá Earl Grey. Discutiram amenidades como o filme “Bonequinha de seda”, com Gilda Abreu, uma incursão brasileira na comédia musical que sabiam haver agradado muito o Presidente Vargas. Olegário tinha visto o filme e, apesar de achá-lo um tanto bobinho, soara-lhe interessante a ridicularização da tentativa da personagem principal querer parecer francesa, bem como a sua redenção espiritual por meio do regresso aos hábitos caipiras. O chefe do Sygma pousou a taça de chá e retomou a palavra; propôs que ele mesmo, Salgado, fizesse declarações de apoio a Getúlio, enquanto outros membros ilustres da Ação publicariam artigos criticando duramente a tendência internacionalizante que os vermelhos de Capanema queriam impor ao Brasil. Gustavo Barroso e Olegário deveriam fazer da Academia Brasileira de Letras a sua tribuna, enquanto José Marianno usaria sua coluna no jornal para atingir um número maior de simpatizantes. Salgado relatou que chegara a seus ouvidos a possibilidade de golpe com a extinção de todos os partidos políticos para dar plenos poderes ao regime, que teria a eufêmica designação de Estado Novo. Segundo suas fontes, o ditador estava inclinado Edgar Brasil filmando “Bonequinha de seda”, de autoria e direção de Oduvaldo Vianna, estrelado por Gilda de Abreu e produzido pela Cinédia, Rio de Janeiro, 1936.
a conceder que a Ação Integralista pudesse continuar suas atividades como uma Associação Lítero-Recrativa da Cultura Brasileira. Desse modo, com nova pele, os integralistas poderiam ter um papel fundamental na “antiga ditadura nova”. Enquanto isso, Salgado pediria a membros do partido, integrantes do Clero e do Exército, que articulassem, longe dos olhos públicos, um encontro seu com o ditador.
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Quatro linhas
Pela vibração da torcida, o jogo recomeçara e os cariocas pareciam estar levando a melhor. Ilusão, pois assim que chegou ao campo, o Palestra abriu o placar. O jogo se arrastou monótono até que, nos últimos minutos, Hércules acertou um de seus fortes petardos empatando a partida. De todo
O sol batia oblíquo na arquibancada social da rua Álvaro Chaves, a única no
modo, a cabeça de Niemeyer, já casado com Anita e pai de Ana Maria, estava
estádio a ter cadeiras de madeira e marquise. Oscar e seus companheiros
longe dali, rememorando seus tempos de Laranjeiras, quando a vida parecia
gostavam de ficar nas fileiras mais baixas porque ouvir o barulho dos chutes,
um passeio entre a casa dos avós, o colégio e as alegres e solidárias compa-
o choque de pernas e os xingamentos dos atletas era um complemento indis-
nheiras das noites.
pensável à visão do jogo. Agradava-lhe a forma fechada do campo esportivo: “outro elemento importante era existir arquibancada de todos os lados. O sujeito vê o campo, vê o jogo, mas precisa ver também a alegria do estádio”. Era um jogo amistoso entre o Palestra Itália e o Fluminense. O nome do clube da colônia italiana de São Paulo seria alterado poucos anos depois para Palmeiras, uma vez que a ditadura, de modo a provar a sinceridade de sua tardia adesão aos Aliados, resolveria proibir agremiações declaradamente germânicas ou italianas. A partida tinha, quase exclusivamente, jogadores paulistas, porque o tricolor carioca comprara no ano anterior onze jogadores da seleção bandeirante, formando um time que se tornaria campeão carioca de 1936 a 1941, com a exceção de 1940, vencido pelo Flamengo. No intervalo de um insosso zero a zero, Oscar avista, na tribuna de honra, Lucio Costa, que acompanhava seu cliente, Fábio Carneiro de Mendonça, para quem fizera o projeto de uma casa de campo e os Apartamentos Econômicos da Gamboa, para aluguel de moradas populares. Seguiram os três para o bar do clube, a fim de tomar uma gasosa. Lucio elogiou, diante de Oscar, a sobriedade e a visão de jogo de Romeu, cérebro do time, enquanto Oscar tinha especial predileção pelo modo elegante e vistoso do driblador Tim. Ele próprio havia sido um meia-direita promissor no time juvenil do Fluminense. O trabalho na tipografia do pai, a escola de arquitetura e certo desencorajamento da família fizeram-no largar as quatro linhas. Oscar relatou o sábado que passara com Le Corbusier no escritório, ajudando-o nos desenhos iniciais do projeto para o terreno à beira-mar, que seria apresentado ao grupo na segunda-feira seguinte. Só tinham parado de trabalhar à noite, indo jantar no restaurante Lamas, no Largo do Machado. Descontraído com o bom trabalho do dia e duas cervejas, o arquiteto euro-
Arquibancada e campo do Fluminense Football Club, Rio de Janeiro.
peu externou sua vontade de sair com uma mulata brasileira mas, ao mesmo tempo, seu receio de contrair doenças. Lucio riu e recomendou que a melhor solução era pedir a Di Cavalcanti que lhe apresentasse uma de suas belas modelos.
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O lado escuro
A prisão de Graciliano Ramos teve grande repercussão pois ele era uma quase unanimidade no meio literário moderno. Quase, pois a pena próspera e afiada de Oswald de Andrade, que passara a não poupar sequer o outro Andrade, escrevera em artigo recente: “Graciliano é muito limitado. A crítica
No porão do navio Manaus, Graciliano Ramos foi conduzido para o Rio de
confunde pobreza com poder de síntese.”
Janeiro com outros cento e quinze presos da região Nordeste, detidos e reu-
Para a repressão de Vargas eram irrelevantes as distinções entre drama
nidos no Recife, acusados de participação no frustrado levante comunista
social relatado através de indivíduos ou grupos. Soavam igualmente peri-
de novembro de 1935. Publicara, com excelente repercussão, “Caetés” (1933)
gosos os romances sociais coletivos ou individuais. A tentativa frustrada de
e “São Bernardo” estava no prelo. Por mais miserável que a situação fosse,
golpe foi creditada aos stalinistas, filiados ao Partido Comunista Brasileiro.
não perdeu o humor nem a vontade de escrever; martelava-lhe a cabeça
Nem por isso os trotskistas, seus oponentes, foram poupados pela polícia
o texto que passaria para o papel mais tarde e que seria postumamente
getulista, que passou a visar, também, a simpatizantes “vermelhos”, como
publicado em “Memórias do cárcere” (1953): “Começamos oprimidos pela
eram classificados muitos dos colaboradores de Capanema.
sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social,
Drummond abriu o portão de sua casa na rua Joaquim Nabuco e rumou
mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos
para a rua Francisco Sá, de modo a pegar o bonde que o conduziria ao Centro.
podemos mexer.”
Sobraçando sua pasta, subiu no estribo e se sentou na extremidade oposta
Detido na Bahia sob a mesma alegação de conspirador comunista, esta-
Graciliano Ramos.
do banco de madeira, de modo a não ter que se levantar para dar passagem
va Jorge Amado. Foi constituída, pela IV Região Militar, uma Comissão de
àqueles que certamente encheriam o vagão, ao longo da avenida Copacabana.
Buscas e Apreensões de Livros, tendo em vista queimá-los, com pompa, em
Abriu “Capitale de la Douleur”, primeira antologia de poesias de Paul Éluard
uma praça da Cidade Baixa, em frente à Escola de Aprendizes Marinheiros.
que pensava em um dia traduzir. Mas não conseguiu se concentrar, pensava
Os quase dois mil volumes sacrificados haviam sido apreendidos nas livra-
nas prisões de confrades, mais ou menos próximos, afinados de pensamen-
rias Editora Baiana, Catilina e Souza, em perfeito estado e considerados
to ou não, mas, definitivamente, companheiros de ofício.
como simpatizantes do credo comunista, detalhou a ata da comissão. A
As agruras dos modernos não se limitavam aos esquerdistas nem à ad-
pira incendiária destruiu obras de autores diversos como José Lins do Rego,
ministração federal. Mário de Andrade, por causa de políticas e picuinhas
Rachel de Queiroz e Aparício Torelli. Visíveis da Cidade Alta; a grande maio-
do novo governo do estado de São Paulo, fora demitido e ameaçavam aca-
ria das cinzas, contudo, provinha de exemplares de “Cacau” (1933), “Mar
bar com a biblioteca exemplar que ele criara para o Departamento Cultural.
morto” (1936) e “Capitães de areia” (1937), de Jorge Amado.
Drummond recebera uma carta de Mário, pedindo-lhe que intercedesse a
Romancistas sociais de gerações distintas, Ramos e Amado nutriam ad-
favor de um exílio carioca, no ministério, uma vez que o ambiente ficara
miração mútua, mas não compartilhavam as mesmas premissas. Graciliano
irrespirável, assim como as suas despesas que já ultrapassavam as suas eco-
apontara isso na crítica do livro “Suor” em 1935: “O Sr. Jorge Amado tem dito
nomias. Drummond, poeta e chefe de gabinete em crise, decidiu adiar a
várias vezes que o romance moderno vai suprimir o personagem, matar o
visita prometida ao grupo de Lucio Costa e Le Corbusier. Da parada de bonde,
indivíduo. O que interessa é o grupo (...) Se isso fosse verdade, os romancis-
rumou direto para a sede do ministério, esquecendo o trânsito perigoso e
tas ficariam em grande atrapalhação. Toda análise introspectiva desaparece-
cruzando a rua sem olhar para os lados, fato só percebido quando atingiu a
ria. A obra ganharia em superfície, perderia em profundidade.”51 Não con-
ilha central que separava a avenida Rio Branco.
cordara que no livro, como gostaria Amado, o herói fosse o cortiço com 51. “Linhas tortas”, em 1935 – editora Record, 8a edição, 1980.
seiscentas pessoas. Existem “personagens de carne e osso muito mais importantes que os outros”, 52 nascidos do convívio quando o escritor com eles
52. “Linhas tortas”, 1980.
morou, “aqueles seres estragados que lhe forneceram material para um ex-
53. “Linhas tortas”, 1980.
celente romance.”53
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Comemoração do Dia da Raça no campo do Vasco da Gama, Rio de Janeiro, circa 1940.
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O primeiro projeto de Le Corbusier Se não fosse o som do tráfego, a respiração dos presentes teria sido ouvida quando Le Corbusier começou a mostrar-lhes seu plano do Ministério à beira-mar. De modo elegante ou, no dizer de Lucio Costa, num generoso understatement, abriu a conversa dizendo-lhes que havia, simplesmente, “aberto as asas de vosso projeto.” Propôs um edifício com pilotis, com perfil baixo e alongado. O térreo ficaria quase completamente livre de construção pois somente o auditório não estaria suspenso, graças às técnicas modernas, que possibilitavam usar em grande escala este recurso milenar para desembaraçar o terreno. Em suas palavras: “Conservo esta esplanada natural e plana, de modo que o Palácio da Educação possa receber as multidões que, esperemos, sejam atraídas por espetáculos e concertos.” No ar, solos horizontais de concreto armado se sucederiam, ancorados nos pilares que atravessariam verticalmente todos os pisos. Limitando-os, peles de vidro formariam límpidos prismas com as laterais menores cegas. No topo seria necessário colocar o teto-terraço ao abrigo do sol quente para que não houvesse fissuras nas quais a água da chuva viesse a se infiltrar. Para tanto, jardins seriam criados no teto das construções, onde cresceriam árvores e plantas que protegeriam, termicamente, o último andar, criando o espaço agradável de um belvedere sobre a baía de Guanabara. Os olhos dos jovens arquitetos brilharam com o modo, a um só tempo, sofisticado e simples, de apresentação da arquitetura. Uma cortina de vidro sustentada por um esqueleto estrutural que dispensava as paredes externas e internas; divisórias só para organizar o espaço, alvenaria para conter as instalações de água, e uma veneziana externa para proteger do sol inclemente da fachada norte. Tornara-se premente a resposta da prefeitura do Rio sobre a troca de terrenos. Lucio discou para Carlos Drummond, que lhe relatou brevemente os acontecimentos lítero-policiais – a prisão de Graciliano Ramos e Jorge Amado –, que, naquele dia, impediram qualquer providência nesse sentido. Antevia certa dificuldade pois, para que a municipalidade agilizasse a troca, deveria haver uma intervenção direta da presidência. E tudo levava a crer que agradava ao ditador a concentração dos três ministérios-chave de seu governo próximos uns aos outros: o Ministério da Fazenda daria a base, o do Trabalho cuidaria do brasileiro do presente e o da Educação e Saúde formaria
Projeto de Le Corbusier para o edifício do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, 1936. Perspectiva do interior da antessala do ministro Rio de Janeiro, 1936. Desenho de Oscar Niemeyer.
o homem do futuro.
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Desligando o telefone, Lucio não deixou transparecer a possibilidade de qualquer entrave e, alegremente, propôs que almoçassem no Rio-Minho
Dias de trabalho
para comemorar o belo projeto. À tarde se reuniria com Le Corbusier para verem detalhes da distribuição espacial, enquanto Oscar desenharia perspectivas da massa e os outros a localizariam na planta de situação. Felizes,
Dias de intenso trabalho vieram. Para definir o longo edifício, paralelo ao
seguiram pela rua do Ouvidor, num trecho preservado dos tempos coloniais,
mar, com duzentos metros de comprimento, suspenso a quatro metros de
até alcançar o restaurante português, um dos mais antigos da cidade, quase à
altura, desenhos iam e vinham das pranchetas. Interceptando perpendicu-
beira do cais. Na volta, sem saber, pararam em frente à casa na qual Carmen
larmente a lâmina principal, no térreo, Le Corbusier previra um bloco de
Miranda passara a infância, no beco do Teles. Le Corbusier sentiu, com as
auditório e sala de exposições.
mãos, a textura das pedras de ilhós das colunas do sobrado, observando a
Carlos Leão, com exceção de Costa, aquele mais fluente em francês, con-
beleza dos veios que lhe lembravam pele de onça, e aventou a hipótese de
versava longamente com o mestre que, passando por sua mesa, se interessou
usarem esse material nas empenas laterais do futuro prédio.
por um delicado desenho de corpo feminino feito no canto da folha colocada para fornecer uma base branca ao tampo de madeira. O entendimento entre Oscar e Le Corbusier era de colaboradores íntimos sempre intermediados com esboços de grafite. Uma vez achada a solução, Le Corbusier datava-a e assinava. A equipe tinha pressa em finalizar o anteprojeto para submeter a Capanema, de modo a este poder dar andamento à troca de terrenos. Para fazer um Palácio com as novas técnicas, mais usuais, até então, em fábricas e casas populares, duas providências eram fundamentais: o uso de materiais nobres e a profusão de obras de arte integradas à arquitetura. Nesse sentido, começavam a escolher os artistas para a empreitada. Candido Portinari e Celso Antônio eram duas escolhas óbvias e naturais. Restava selecionar os demais. Paralelamente, Costa e Le Corbusier se dedicavam ao plano para a Cidade Universitária, um projeto de grande escala que poderia se reverter num piloto para conjuntos urbanos modernos.
Esboço de Le Corbusier para o Palácio do Ministério da Educação e Saúde Pública no terreno à beiramar, Rio de Janeiro, 1936.
Enquadramento da sala do ministro no edifício do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, 1936. Desenho de Le Corbusier.
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Plano de Le Corbusier para o Ministério da Educação e Saúde Pública, no terreno da rua Graça Aranha, no Rio de Janeiro, 1936.
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Segundo Plano de Le Corbusier para o Ministério da Educação e Saúde Pública, no terreno da rua Graça Aranha no Rio de Janeiro, 1936.
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Plano de Le Corbusier para o pilotis do Ministério da Educação e Saúde Pública, Rio de Janeiro, 1936.
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Plano de Le Corbusier para os andares-tipo do Ministério da Educação e Saúde Pública, Rio de Janeiro, 1936.
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Desenhos de Le Corbusier para a cobertura do Ministério da Educação e Saúde Pública, Rio de Janeiro, 1936.
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Perspectiva do interior da sala do Ministro do projeto para o terreno Santa Luzia, Rio de Janeiro, 1936. Desenho de Oscar Niemeyer. Desenho de Oscar Niemeyer da vista do conjunto da Cidade Universitรกria do Rio de Janeiro, projetada por Le Corbusier e Lucio Costa em1935.
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Dois tempos Carmen Portinho e Affonso Reidy escolheram uma mesa junto à janela no restaurante do Clube Naval. Um tanto caro para as suas posses, mas era uma ocasião especial, pois celebravam o aniversário do seu encontro, no ano anterior. Reidy gostava do lugar – o prédio havia sido projetado pelo avô materno, o que lhe franqueava a entrada, normalmente restrita a militares da Marinha e familiares. Casal incomum para a época, ela engenheira, ele arquiteto, encontraram-se durante a obra da escola Ricardo Albuquerque projetada por Reidy. Sem formalizar a união, foram companheiros de vida e de trabalho desde então. O arquiteto estava duplamente atarefado porque, além da equipe com Le Corbusier, participava, representando a prefeitura, no grupo de trabalho para a construção do Ministério do Trabalho, projeto de Mário Santos Maia. Comentava sua impressão de trabalhar em tempos diferentes: enquanto no projeto da Educação buscavam as novas formas do futuro, naquele do Trabalho consolidavam um modo já consagrado pelos edifícios art déco que os cariocas apelidavam de “estilo Manhattan”. A vocação de ambos para arquitetura e urbanismo com propósitos sociais fazia com que uma das poucas áreas possíveis de atuação fosse no serviço público. Esperavam ali encontrar oportunidades de projetos inovadores, uma vez que o mercado privado, de empresas e particulares, era ainda muito conservador. Além de dirigir a revista municipal do departamento de engenharia, Carmen participava de movimentos de emancipação feminina e cursava a Faculdade de Filosofia, sendo aluna de Mário de Andrade e Celso Antonio. Falava, com entusiasmo, do brilhantismo de Andrade e, com um enigmático sorriso, de sua vocação para boemia.
Esboço do interior da sobreloja do Palácio do Ministério da Educação e Saúde Pública, atual Gustavo Capanema, Rio de Janeiro, 1936. Desenho de Le Corbusier.
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Construção da sede do edifício do Ministério do Trabalho e, no primeiro plano, o início do canteiro de obras do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, década de 1930.
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Getúlio Vargas e autoridades no evento de inauguração da sede do Ministério do Trabalho, Rio de Janeiro, circa 1935. Manifestação popular celebra a inauguração da sede do Ministério do Trabalho, Rio de Janeiro, década de 1930.
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Na prefeitura As ruas perpendiculares à avenida Rio Branco eram, na descrição de Claude Lévi-Strauss, a corporificação, a céu aberto, das grandes galerias europeias do século XIX; “As lojas (...) prolongam o luxo de suas vitrines até a calçada, ninguém presta muita atenção se está fora ou dentro. Na verdade, a rua não é mais um lugar onde se passa; é um local onde se fica.”54 Esse não era contudo o caso daqueles dois homens magros, com chapéu e ternos claros, que rumavam, céleres, para a sede do governo do Distrito Federal. Dona Nair, chefe de gabinete do prefeito – o cônego Olympio de Melo –, abriu sorridente a porta para que Drummond e Capanema entrassem. Os dois ficaram na dúvida se beijavam os dedos estendidos, como se faz a um padre, mas se decidiram por um aperto de mãos. O ministro explicou a situação, perguntando sobre a possibilidade de se construir a sede à beira-mar. O prefeito, que Getúlio nomeara para substituir Pedro Ernesto no governo do Distrito Federal, era um homem de baixa estatura e um anel eclesiástico resplandecendo nos dedos. A solução interina para o lugar de prefeito, enquanto pensava numa solução definitiva, apresentara-se a Vargas como perfeita – assim, não teria de lidar com uma ala de seus auxiliares que viam comunistas em todo lado. Padre Olympio, apesar de seu trato afável, não deixou de frustrar as expectativas dos visitantes, pois disse não se sentir à vontade para decidir a questão, de modo ágil, uma vez que o próximo prefeito, Henrique Dodsworth, seria indicado em breve. Disse que poderia promover uma reunião conjunta mas, naquele momento, Dodsworth encontrava-se em viagem a Buenos Aires. O único modo de agilizar a transferência do terreno para o âmbito federal seria uma interferência direta do ditador. Capanema e Drummond trocavam olhares: após a recente audiência para oficializar a vinda de Le Corbusier, não estavam nada dispostos a convocar Getúlio, mais uma vez,
54. Claude Lévi-Strauss, “Tristes trópicos”, p.90.
para o centro da cena arquitetônica.
Esquina da rua do Ouvidor com rua Gonçalves Dias, Rio de Janeiro, 1941.
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Avenida Rio Branco, Rio de Janeiro, circa 1935. Rua do Ouvidor, Rio de Janeiro, 1930.
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Palestra na Belas Artes Dia da segunda conferência na Belas Artes. Era a primeira vez, em quatro
todos, embora muitas vezes não soubesse exatamente com quem estava fa-
anos, que Lucio retornava à escola da qual fora diretor. O auditório, com
lando. Lucio se aproximou, despedindo-se, pois iria com a mulher, Leleta,
pesadas poltronas individuais de madeira, frisos nas paredes e uma atmos-
atravessar a rua para assistir a um recital de Chopin com a nova estrela do
fera carregada com decorações, estava abarrotado. Era um tanto pitoresco
piano, Guiomar Novaes, no Teatro Municipal. Um sorridente homem ma-
o fato de Le Corbusier ser recebido, com aparato, pelo conservador Adolfo
gro, de baixa estatura, nariz aquilino e vasto bigode, estendeu a mão a Le
Morales de los Rios, o mesmo que urdira a desclassificação das propostas
Corbusier identificando-se como o escritor austríaco. Zweig lhe confiden-
modernas no concurso para a construção do ministério e combatera, com
ciou que aceitara com hesitação o convite para o que supunha ser “uma da-
tanto vigor, as inovações que Lucio trouxera em 1931.
quelas repúblicas sul-americanas que não distinguimos bem umas das ou-
55. “Brasil, país do futuro”, p.13.
tras”55. Ficara surpreso e feliz de achar estímulos intelectuais, como aquela
56. “Brasil, país do futuro”, p.13.
Na plateia, Jorge Moreira, chefe do diretório dos estudantes, não só
palestra, no que julgara ser um “país para emigrantes desesperados”.
apoiara a reforma de ensino como liderara os protestos após a demissão de Lucio. Reidy, assistente de Gregori Warchavchik na cadeira de Projeto, saíra da escola em 1932 e Oscar Niemeyer, desde que se formara, em 1934, nunca mais retornara. Oscar, contrariamente à lenda que se formou, foi excelente
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Stefan Zweig, Rio de Janeiro, 1935.
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aluno. O seu bronzeado esportivo, hábitos boêmios e, sobretudo sua maneira carioca de considerar indelicado ocupar tempo de conversa com detalhes de seus esforços no trabalho – velados autoelogios – contribuíram para forjar uma enganosa imagem de aluno medíocre. Um cavalete com folhas de papel manteiga, apoiadas num barbante e bastões de carvão, eram todo o material disponível para o autor de “Por uma arquitetura”. Le Corbusier dominou a plateia com um discurso lírico progressista e verve de palestrante experiente. Circulou, desenvolto, por enfoques sociais, técnicos e artísticos. E, para ilustrar seus pontos, desenhos espontâneos e belos brotavam nas folhas que, uma vez completas, eram graciosamente arrancadas por um gesto vigoroso que as fazia achar seu caminho, até pousarem, suavemente, no chão de mármore. A par de estudantes e jovens arquitetos, a plateia reunia intelectuais como Aníbal Machado, Manuel Bandeira, Jorge de Lima, Cecília Meireles e Marques Rebelo. Este, com seu humor ferino, sussurrava pequenas observações que faziam seu vizinho, José Lins do Rego, se esforçar para manter o
Plano urbanístico do Rio de Janeiro, 1929, Le Corbusier.
ar compenetrado. Figura surpreendente e improvável, na terceira fila, era Stefan Zweig que, em seu caminho para Buenos Aires, onde participaria do congresso do Pen Club, aceitara o convite para uma escala de sete dias no Rio. Ao final da conferência Le Corbusier se viu cercado daqueles que preferiam uma atenção individual em vez de dialogar na frente de todos. Mesmo um tanto cansado, como um missionário da causa moderna, o arquiteto foi gentil com
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Cosmopolita Hospedado no Hotel Avenida, Stefan aceitou o convite para jantar com Le Corbusier. Não queriam um lugar requintado, mas um ambiente frequentado por cariocas não muito abastados. Carlos Leão sugeriu-lhes o restaurante Cosmopolita, na Lapa, aonde poderiam, facilmente, chegar a pé. O trio passou pelo iluminado Teatro Municipal, ainda com espectadores que entravam, e acharam graça naquela cópia reduzida e mal proporcionada do Opéra parisiense. Tomaram uma rua que desembocava no Passeio Público e Zweig observou como, nos seus três dias de Rio, retomara o prazer de caminhar, sobretudo pelas ruas mais estreitas. Por vezes, saía de manhã cedinho, apenas para esticar as pernas, mas quando se dava conta, percorrera vários caminhos, que se sucediam, só pelo prazer de ver as simples, coloridas e atraentes construções de moradia ou comércio, com atividades artesanais muitas vezes em desuso na Europa. Leão explicou-lhes que o grande jardins autóctene, que margeavam naquele momento, havia sido desenhado por um francês, Auguste Glaziou, mais afinado com as organizações do paisagismo inglês. Essa mistura era um dos maiores encantos do Brasil. Zweig falou do alívio de estar num ambiente onde a busca da raça pura não era valorizada. Le Corbusier observou que essa abertura poderia possibilitar renovações impossíveis na Europa. Passou pela cabeça de Leão o recém-criado Dia da Raça e o credo nativista dos camisas verdes integralistas, mas preferiu calar-se. Quase chegando na rua do restaurante avistaram, ao fundo, os escurecidos arcos do aqueduto da Lapa. Impressionou-lhes como, num país novo, tudo envelhecia mal. A velocidade da decadência parecia-lhes mais acelerada que no velho continente. Mesmo as construções mais recentes apresentavam marcas de umidade, rachaduras e pinturas esmaecidas. Não deixava de ser um ponto positivo, observou Le Corbusier, pois abria espaço para coiComemoração do Dia da Raça no campo do Vasco da Gama, Rio de Janeiro, circa 1940.
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sas novas. Leão, mais uma vez, sem externar seus pensamentos, especulava como envelheceriam as formas puras que estavam a ponto de preparar.
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De volta Drummond chamou Lucio a seu escritório e lhe explicou da impossibilidade de troca de terreno. Com os protestos dos acadêmicos nos frequentes artigos que faziam publicar na imprensa carioca, levantar alguma questão sobre o prédio e convocar, de novo, Getúlio, seria mexer num vespeiro. Melhor se contentarem com o terreno já disponível do que abrirem um flanco e botarem tudo em risco. Le Corbusier ficou muito decepcionado e aflito, pois embarcaria de volta para a Europa em poucos dias. Refeito do golpe, com Lucio e Oscar, recomeçou a examinar o terreno original, muito estreito para conter a lâmina, na orientação adequada norte-sul, dentro do número de andares permitido. A
Maquete do edifício sede do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, 1935.
única alternativa era situá-lo paralelo à avenida Graça Aranha, provocando a sensação de rua-corredor, tudo que desejava evitar. Trabalhou, em ritmo acelerado, para deixar o anteprojeto pronto antes de pegar o navio. Elaborou outro anteprojeto para o terreno de 71 x 91 metros na Esplanada do Castelo, onde o prédio seria finalmente construído. O desenho de Le Corbusier propunha uma longa lâmina de oito andares com pilotis de quatro
Exposição Nacional do Estado Novo e do Pavilhão do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, de dezembro de 1938 a janeiro de 1939.
metros de altura, paralela à avenida Graça Aranha. Um bloco baixo, perpendicular ao eixo deste elemento principal, com a mesma configuração do projeto anterior, continha o auditório e a sala de exposições que, desta feita, tocavam o elemento vertical, sem atravessá-lo. Nos últimos dias, dedicou-se a examinar trabalhos de artistas brasileiros
Segundo Projeto de Le Corbusier para o prédio do Ministério da Educação e Saúde, no terreno onde foi finalmente construído, 1936.
para serem aplicados no edifício.
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PARTE 4
A empregada lhe trouxe uma xícara extra de café, que o ministro tomou de um sorvo só antes de guardar os papéis, pois o motorista aguardava-o
Métopas e frisos
para levá-lo ao Catete; iria examinar com Vargas as taxas de comércio com a Alemanha, uma das principais parceiras do Brasil, assunto grave dada a iminência de guerra na Europa.
Na Leiteria Mineira, da Galeria Cruzeiro, Alcides da Rocha Miranda encontrou seu colega Luis Moura, formado em 1934 – a mesma turma de Oscar Niemeyer. Funcionário do Ministério da Fazenda, Moura estava desolado porque havia sido encarregado, pelo ministro Sousa Costa, de projetar a nova sede mas, todo dia de tardinha, o titular da pasta o visitava e alterava o projeto. Mesmo sabendo que o desejo ministerial era o de uma sede neoclássica, o arquiteto tivera a ilusão de propor algumas inovações, mas estas eram, sistematicamente, recusadas. Sousa Costa apreciava o regime de Benito Mussolini, especialmente um de seus símbolos, a pontualidade dos (antes caóticos) trens italianos. Estivera em Milão e muito lhe impressionara o terminal ferroviário projetado por
Escultura de Leão Velloso na cobertura do Ministério da Fazenda.
Marcelo Piacentini. Queria que o setor de atendimento ao público na sede nova passasse a sensação de eficácia e rapidez, com os guichês numerados e amplas abóbadas que deixassem a luz passar. Lamentava que Piacentini, muito solicitado pelo ditador fascista para obras públicas em Roma, se desinteressara de atuar no Brasil, tornando impossível um convite direto. Promovera um concurso mas este fora ganho por um projeto de linhas funcionais57, que, na sua opinião, mais se assemelhava a um radiador de automóvel. A solução que lhe pareceu mais prática e segura foi entregar o projeto ao setor de arquitetura do próprio Ministério. Então, o ministro da Fazenda parcelava seu tempo entre os manuais de estilo e as contas públicas, nas quais se avolumavam dívidas externas por conta da dimensão de investimento federal. Muitas vezes, acordava mais cedo e abria mão de sua ginástica Colunatas do edifício do Ministério da Fazenda, Rio de Janeiro.
sueca para se debruçar sobre desenhos de plintos, métopas, frisos, ordens coríntias e jônicas. Embora seu abdomen começasse a sobressair, alegrava Sousa Costa a certeza de que o Brasil teria uma sede digna, com a solidez com que se procurava dotar a própria nação. Examinava, naquela manhã, as propostas dos mosaicos, encaminhadas por Paulo Werneck para o teto-jardim. Gostou do colorido mas não das formas abstratas. Pediria que elaborasse motivos da selva amazônica para reforçar o tom nativista dos alto-relevos de Humberto Cozzo; num deles, um atlético índio, de mãos nuas, dominava uma fera e, no outro, uma bela índia
57. Projeto de Wladimir Alves de Sousa e Enéas Silva.
aparecia de perfil.
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Nova solução Assim que dobrou a rua, Oscar viu que vinha um bonde e apressou o passo. Apertou os olhos, pesados de sono, e percebeu que não adiantava correr pois aquele era o vagão exclusivo do Colégio Santo Inácio, que levava os alunos para Botafogo, supervisionados por um padre a bordo. O sol fazia brilhar a calçada de mosaicos na ilha central da avenida Copacabana. Oscar desviou o olhar e abriu seu exemplar da revista “Fon-Fon”, apreciando as ilustrações de J. Carlos. Viu chegar, finalmente, o bonde para o Centro, colocou a publicação debaixo do braço e se acomodou no último banco. Não saía da sua cabeça uma hipótese de solução para o edifício do ministério. Depois da partida de Le Corbusier, já haviam girado o prédio de modo a torná-lo perpendicular em relação à avenida principal, criando uma praça pública. Para conseguir acomodar os metros quadrados necessários, aumentaram o gabarito para catorze andares, por sugestão de Lucio Costa. Contavam que se conseguisse permissão para tal, uma vez que a construção estava fora do diâmetro de segurança do aeroporto. E, como dizia Lucio, um bom carioca sabe que a situação acabaria por achar seu curso legal. O bonde cruzou o túnel e atingiu o Mourisco. Das águas azuis surgia, exuberante e luminoso, o Pão de Açúcar. Oscar retornou sua atenção e imaginou como ficaria melhor se aumentasse a altura das colunas para o dobro ou mais, de modo a criar uma escala acolhedora, permitindo que o auditório e o bloco de exposições atravessassem por baixo da lâmina como um só bloco contínuo. Descendo no terceiro ponto da avenida Rio Branco, acelerou o passo pois queria chegar logo à prancheta para colocar a ideia no papel. Cumprimentou Ernâni e Affonso, riscou um fósforo, acendeu o cigarro e se pôs a desenhar. Quinze minutos depois estava com o esboço pronto. Mostrou-o aos companheiros que se entusiasmaram com a solução. Deixado só, Oscar reexaminou seu desenho e pensou que era muita ousadia interferir tanto. Arrancou-o da prancheta e jogou-o na lata de lixo. Leão recuperou-o para mostrá-lo mais
Adaptação de Le Corbusier para o terreno adotado para as instalações do projeto para o edifício do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, 1936.
tarde a Costa. Uma hora depois, Lucio se aproximou de Oscar para lhe dizer que adorara a sugestão, pois trazia clareza maior aos volumes e convidava o público a atravessar a esplanada. E, com generoso sorriso, disse-lhe que seria nessa direção que o grupo iria trabalhar.
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Arte e arquitetura
Capanema pensara em comprar uma escultura de Maillol, mas o preço era proibitivo. Encomendou uma escultura em granito a Jacques Lipchitz, renomado artista suíço, que lhes enviou um protótipo em escala menor que o pretendido originalmente, e que acabaria sendo colocada na parede
Maria e Candido Portinari costumavam receber convidados para seus almo-
curva do auditório. Essa peça, “Prometeu Acorrentado”, intrigou muitos ca-
ços de domingo na agradável casa do Cosme Velho. Manuel Bandeira foi dos
riocas e acabou ganhando o apelido de “Batatais”, goleiro da Seleção e do
primeiros a chegar. Estava um tanto aborrecido com a observação que Mário
Fluminense, por confundirem o abutre que se alimentava do fígado do herói,
Pedrosa fizera a seu respeito, considerando-o um bom poeta mas inatual. O
com um “frango” que o arqueiro tentava segurar.
comentário era particularmente ofensivo pois Bandeira, na sua coluna diária
Todos se sentaram para o almoço e os assuntos artísticos cederam lugar
de artes plásticas do jornal “A manhã”, se considerava da “tropa de choque”
ao vinho branco e ao peixe com molho de camarões. Na vitrola, um disco de
dos modernos e ali procurava explicar “a arte nova dos músicos, pintores,
Noel Rosa preenchia o silêncio dos convivas.
escultores e arquitetos modernos”.58 Além do mais, ninguém, por mais que desejasse, escapava do seu tempo, completou o poeta. Desviando o assunto, perguntou ao anfitrião como iam os estudos para o novo edificio do ministério. Cândido levou Bandeira a seu estúdio e mostrou-lhe belos esboços em azul e branco para serem gravados e colocados em partes externas do que viria a ser o Palácio Capanema. Era uma arte integrada à arquitetura, completamente diversa do conceito anterior de arte adicionada aos prédios. Maria Portinari os interrompeu porque outros convidados chegavam: Athos Bulcão, assistente de Portinari nos afrescos do Ministério, Dolores e Carlos Drummond, Anita e Oscar Niemeyer. Celso Antonio, apesar de convidado, telefonou avisando que não poderia comparecer. Estava, com certeza, abatido com os incidentes que cercaram suas obras monumentais para o Palácio. Primeiramente, Capanema pediu-lhe para retirar o pano que cobria “o Homem em Pé”, já completo em barro, para que Aníbal Machado pudesse vê-lo. Assim que a coberta foi retirada, a estátua desmoronou, com grande estrondo, para aflição de todos. O único remédio seria utilizar a outra versão do “homem brasileiro”, desta feita sentado, para ser disposta na praça. Após longas discussões, foi vetada pelo ministro Capanema. A alegação principal era que o homem deveria ter sido esculpido em movimento dinâ-
Maria e Candido Portinari, vendo-se ao fundo duas obras do pintor executadas para a Capela Mayrink, no atual Parque Nacional da Tijuca, Rio de Janeiro, 1944.
mico e não sentado, pois essa posição denotava preguiça, uma característica frequentemente associada ao brasileiro, que se queria combater. Acabou sendo colocada, no canto da praça, a obra de Bruno Giorgi, um casal representando a juventude brasileira. Obra também não desprovida de polêmica pois a vedete nudista, Luz Del Fuego, por crença ou publicidade, resolveu processar Giorgi, alegando que a obra reproduzia seu corpo. Foi 58. “Itinerário de Pasárgada”, p.127.
tudo mais tranquilo com o modelo masculino, José Mauro de Vasconcelos, amigo de Giorgi e futuro escritor do best-seller infantojuvenil “Meu pé de laranja lima”.
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“Mulher Sentada” de autoria de Adriana Janacopulos, criada para o edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, entre 1936 e 1945.
Página anterior: Painel de azulejos de Candido Portinari no Ministério da Educação e Cultura, Rio de Janeiro. Panorama do jardim do Palácio Capanema, Rio de Janeiro.
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“Prometeu e o abutre”, em tamanho menor que o pretendido, aplicado na fachada do auditório do Ministério, em 1946. Jacques Lipchitz com a escultura, em seu ateliê em Nova York, 1944.
“O Homem sentado”, de Celso Antonio, na maquete do Ministério apresentada na Exposição do Estado Novo. Detalhe da escultura de Bruno Giorgi, “Juventude brasileira”. O autor José Mauro de Vasconcelos foi o modelo masculino e a vedete Luz Del Fuego processou, sem sucesso, Bruno Giorgi alegando que seu corpo lhe havia inspirado a figura feminina.
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Curvas De 1934 a 1937, Roberto Burle Marx fora chefe do departamento de praças e jardins no Recife. Pensava, agora, indo encontrar Lucio no escritório, que devia o seu regresso ao Rio, e consequente progresso como paisagista, ao conservadorismo pernambucano que via comunismo em toda inovação estética. Na praça de Casa Forte, local histórico na defesa contra os holandeses, o uso de cactos sertanejos e plantas amazônicas em detrimento de uma vegetação tradicional provocou uma campanha contra o paisagista no “Diário do comércio”, principal jornal da cidade. Mas a gota d’água foi o uso, no bairro Madalena, de um grande canteiro com flores vermelhas. Ainda que Burle Marx não houvesse pretendido qualquer ilação ideológica, o rubro foi apontado como prova incontestada de seu bolchevismo e motivo para demissão. Na realidade, fizeram-lhe o favor de antecipar uma decisão que estava para ser tomada havia tempo. O mercado carioca, depois dos jardins da Casa Nordschild, começara a se abrir para um pintor que usava plantas no lugar de pigmentos. Burle Marx fizera o jardim para o edifício Tapir, projeto de Jorge Moreira, no Flamengo, a cobertura dos prédios da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Seguradoras, ambos dos irmãos Roberto; desenhava, naquele momento, a praça em frente ao Aeroporto Santos Dumont seu primeiro projeto público no Rio. Fora convocado para realizar os jardins do Ministério, mas se decep-
Lucio Costa, Frank Lloyd Wright e Gregori Warchavchik, na inauguração da casa na rua Toneleiros Rio de Janeiro, 1931. Projeto de Burle Marx para o jardim do Ministro no Palácio Capanema, 1938.
cionara com as diretrizes de Le Corbusier, que recomendou-lhe canteiros retilíneos no andar do ministro e renques de palmeiras alinhadas na esplanada. Burle Marx trouxe os croquis para mostrar a Lucio, que abreviou seu telefonema com Drummond, para atendê-lo. Sem criticar o projeto anterior, Costa pediu-lhe que acrescentasse as sinuosidades tão usuais em seu trabalho e necessárias para “tropicalizar” o monumento moderno. No que toca às linhas de palmeiras, concordaram que elas banalizariam as verticais das belas colunas que o prédio já exibia. Roberto, cheio de entusiasmo, prometeu-lhe trazer nova proposta dentro de quatro dias. Vizinhos do Leme e companheiros – apesar dos nove anos a mais de Costa – saíram para almoçar juntos ali por perto. Sentados na Choperia da Antartica, na face externa da galeria Cruzeiro que dava para a rua São José, pediram sanduíches de queijo Palmira e dois “garotos”, sem colarinho. Costa lhe relatou que, de modo a evitar os estandartizados móveis prescritos pela Divisão de Administração do Serviço Público
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(DASP), a equipe começara a desenhar mesas, cadeiras, poltronas, balcões, armários, luminárias e, até mesmo, um enorme tapete curvo para o salão nobre do ministro, que Niemeyer esboçava. Costa afirmou-lhe que, apesar de não ser trotskista, concordava que a revolução, ao menos na arquitetura,
A ameaça 1937
tinha que ser ampla e permanente. De que adiantaria um palácio inovador com os tristíssimos móveis das repartições brasileiras? As palavras “triste” e “trotkista” trouxeram-lhes a lembrança de Mário
Getúlio Vargas encontrou Plínio Salgado, secretamente, na casa de Renato
Pedrosa, o mais renovador de todos os críticos brasileiros, que estava preso
Rocha Miranda, um amigo comum, no interior paulista. “Caipira astuto e
sem conseguir habeas corpus. Um silêncio pesou na mesa durante um tem-
inteligente, mas nos entendemos bem” foi o comentário de Vargas na pági-
po. Para trazer um assunto mais ameno, o paisagista mencionou a próxima
na do dia 26 de junho de seu diário.59
chegada, dos Estados Unidos, de seu irmão Walter, para reger um concerto Choparia da Brahma na lateral da Galeria Cruzeiro.
Já com intenção de suspender as eleições esperadas para início de 1938,
de Mahler com a nova orquestra que o maestro húngaro Eugen Szenkar
eliminar todos os partidos e reintegrá-los em um só, base futura de seu go-
criara no Teatro Municipal. Pareceu-lhes que, ao menos neste aspecto, o Rio
verno do Estado Novo, Getúlio examinava, com especial carinho, em troca do
estava se “civilizando”.
apoio de Salgado, a hipótese de permitir que os integralistas se reunissem sob o manto de uma Associação Brasileira de Cultura. A par do nacionalismo exacerbado e da completa fusão com a Igreja Católica, não comungados por Getúlio, unia-os o horror ao comunismo, a crença de que o Estado devia ser o executor de todas as ações apoiado por um só partido, aos quais os sindicatos estariam subordinados. Divergência abissal era sobre qual dos dois seria o líder dessa república unicista. Getúlio registrara em seu diário60, no dia 6 de dezembro de 1937, a possibilidade de conduzir Plínio Salgado ao Ministério da Educação, no lugar de
59. Getúlio Vargas, “Diário 1937-1942”, p.78. 60. Getúlio Vargas, “Diário 1937-1942”, p.78.
Capanema: “Os integralistas, passada a revolta ou os mal-entendidos das primeiras horas, estão procurando acomodar-se. O Plínio Salgado mandou-me longa explicação, por intermédio do sub-chefe de minha casa militar. Ele deseja aceitar o Ministério da Educação, e está preparando para isso sua gente.”
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Getúlio Vargas recebendo integralistas no Palácio do Catete, Rio de Janeiro, 1937.
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Inevitável pensar o que teria acontecido com as obras do Ministério da Educação e Saúde (MES), iniciadas apenas oito meses antes, em 24 de abril de 1937. Não teria sido improvável a retomada da proposta marajoara por Plínio Salgado, líder de uma doutrina que julgava o cosmopolitismo, representado pelos modernos, uma expressão disfarçada de um mal maior, o comunismo internacional. Enquanto preparavam o projeto de construção com o engenheiro estrutural Emílio Baumgarten, já com as alterações feitas após o retorno de Le Corbusier à França, Costa e equipe mal imaginavam que o projeto moderno só teria sua realização assegurada em fevereiro de 1938, quando Vargas se recusaria a receber a carta com as condições que Plínio Salgado impunha para aceitar o cargo de ministro.61 E, no dia 11 de maio, com o ataque ao 61. Carta enviada por José Loureiro Junior, genro de Salgado; Getúlio Vargas, “Diário 1937-1942”, p.109.
Palácio Guanabara, ainda que não formalmente apoiado por Salgado, os integralistas seriam, definitivamente, deslocados para uma órbita secundária no cosmos varguista.
Capa da revista “Anauê!”, divulgadora da Ação Integralista Brasileira.
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Arquitetura e revolução
Revolução na arquitetura e arquitetura para todos quando a revolução fosse vitoriosa. O par de belas pernas morenas da companheira do arquiteto, sentada à sua frente, da qual via o tornozelo e as canelas, fez-lhe sorrir com os olhos e incluir a sensualidade na sua receita de transformações da sociedade.
Aquela foi a quinta reunião da célula com a presença de Oscar Niemeyer. Clandestinos, se encontravam na casa de uma costureira no Catete, cuja filha era do Partido. Houve a presença de um convidado paulista que Oscar reconheceu como o escritor Oswald de Andrade. Vários temas ocuparam a conversa: no plano internacional a situação cada vez mais difícil dos republicanos espanhóis com o apoio de Benito Mussolini aos falangistas, de Francisco Franco; na esfera nacional, discutiu-se a melhor forma de ocupar lugares dentro da máquina federal preparando o dia no qual os comunistas chegariam, absolutos, ao Poder. O momento era grave pois vários deles estavam presos e incomunicáveis, a começar por Luís Carlos Prestes. Tudo indicava que a extradição de Olga Benário, para a Alemanha, seria concedida, o que para ela, judia e mulher do líder do Partido Comunista, corresponderia a uma pena de morte. Um amigo do pintor Cícero Dias pediu a palavra, pois recebera dele uma carta relatando o enorme painel de Pablo Picasso denunciando o bombardeio do vilarejo de Guernica, numa operação com a participação de aviões nazistas. A pintura, em tons de preto, branco e cinzas, exposta no Pavilhão da Espanha Republicana, tornara-se a principal atração da Feira Internacional de Paris. Cícero Dias contou-lhe ainda que Picasso ficara em dúvida se lhe adicionava cor, mas acabou seguindo o conselho de Marc Chagall ao vê-la no
Maquete do Pavilhão Espanhol na Exposição Internacional de Paris, obra dos arquitetos Luis Lacasa e Josep Lluís Sert, 1937.
ateliê de Montmartre: “Pablo, a pintura está pronta.” Oscar Niemeyer lembrou-se da recomendação de Lucio a Portinari ao pedir-lhe o painel “Jogos de Criança”: que fosse o oposto de Guernica. Serviria para acentuar um contraste: enquanto a destruição imperava na Europa, num longínquo país do Sul erguia-se uma torre de vidro que preparava o futuro. Niemeyer lembrou-se, também, da conversa que tivera nos jantares da casa de Aníbal Machado, a respeito de novas linguagens. A orientação de Stálin desaconselhava uma arte não compreendida pela massa operária na União Soviética. Mas o que adiantaria, numa ditadura de direita como o Brasil, amesquinhar a arquitetura para fazer casas padronizadas operárias numa sociedade desigual? Niemeyer concordava com Le Corbusier: a casa dos ricos deveria obedecer à mesma estética dos mais pobres, mas dele discordava, profundamente, quando colocava a opção entre “Arquitetura ou revolução”. Para Niemeyer uma não excluía nem isentava a outra. Uma coisa era o trabalho de arquiteto, outra era a responsabilidade do cidadão comunista.
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“Guernica” de Pablo Picasso, 1937.
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Crise
Amante de caricaturas, Drummond desenhava garatujas enquanto imaginava que o cúmulo da ironia começava a se delinear no horizonte: o alastramento da guerra, com a participação dos Estados Unidos, causaria um alinhamento do Brasil com os americanos. Isso produziria uma “guerra sui
Assíduo frequentador dos cinemas Atlântico e Americano, ambos na aveni-
generis do fascismo interno contra o fascismo externo.”65
da Copacabana, Drummond ampliava, com os filmes ingleses e norte ame-
A entrada de Gilberto Amado no gabinete ministerial interrompe os
ricanos, um dos grandes prazeres de menino: “Só quem assistiu à infância
pensamentos do poeta e a escrita de uma estrofe que depois comporia
do cinema pode avaliar o que era essa magia dominical das fitas francesas e
“Confidência de Itabirano”: “Tive ouro, tive gado, tive fazendas/ Hoje sou
italianas, sonho da semana inteira.” Ajudava-lhe a se abstrair do incômodo,
65. “O observador no escritório”, p.29. 66. “Poesia completa”, p.68.
funcionário público.”66
cada vez maior, de estar no serviço público de uma ditadura que restringia liberdades individuais. Sentia-se um espectador “de um espetáculo em qua a ação verdadeira nunca é apresentada no palco, pois se desenrola nos bastidores e com pouca luz.”62 Confidenciado apenas a amigos íntimos, não era pequeno, tampouco, o seu desencanto com os rumos tomados pelo romance brasileiro: “A transcrição imediata e anticrítica de aspectos de uma vida regional, como fazem os rapazes do norte (entre parênteses: como escrevem mal!), nem essa literatura ‘restaurada em Cristo’ com que nos aporrinham os pequeninos gênios marca Lucio Cardoso.”63 Drummond sentia-se triste pelo aniquilamento do exemplar trabalho que Mário de Andrade fizera no Departamento de Cultura da cidade de São Paulo.64 Ao menos, tivera sucesso com a solicitação de um trabalho, para Mário de Andrade, no Rio de Janeiro, que não implicasse chefia, como professor na Universidade do Distrito Federal e organizador de uma Enciclopédia Brasileira no Instituto Nacional do Livro. Seria um excelente reforço para aqueles que acreditavam nos propósitos de modernizar e despertar um Brasil que parecia sonolento; mas, no fundo, o próprio Drummond começava a ter sérias dúvidas sobre a exequibilidade de fazê-lo. O poeta sabia que, para largos setores do governo, incluindo boa parte dos militares, o modelo de desenvolvimento através de um Estado forte, bem
Carlos Drummond lê por ocasião do aniversário de Gustavo Capanema com Rodrigo Mello Franco ao fundo com lenço no bolso do paletó escuro.
como a extraordinária recuperação econômica germânica, após o Tratado de 62. op. cit., p.40 63. Carta a Cyro dos Anjos, de 4 de agosto de 1936. 64. O Departamento foi extinto pelo prefeito Prestes Maia ao assumir o comando da cidade paulistana em 1938.
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Versalhes, parecia ser um excelente modelo a seguir para colocar de pé a subdesenvolvida economia brasileira. A aproximação com a Alemanha era por eles percebida como uma alternativa à dominação da Grã-Bretanha. O ditador mantinha excelentes relações com os países do Eixo e criara o dia da Raça Brasileira, cópia canhestra do culto à eugenia nacional-socialista.
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O homem que ri Gilberto Amado sentou-se no sofá da antessala do gabinete pois chegara mais cedo que o combinado para o encontro com Capanema. Ajudava o ministro na concepção do livro “A obra getuliana”, que o Ministério pretendia lançar em 1940, celebrando o décimo aniversário de Vargas no poder. O copo d’água e os dois cafezinhos ajudaram-no a organizar o modo de expor suas ideias a respeito da complicada tarefa de promover o culto ao ditador, sem recorrer às estereotipadas imagens pessoais do líder em meio a crianças, passando tropas em revista, discursando para massas ou inaugurando obras. O ministro levantou-se de sua mesa e indicou-lhe a poltrona. Passadas as perguntas amenas de praxe sobre a família, Amado disse-lhe que a figura sorridente de Getúlio já ingressara no imaginário da maioria por meio da sua quase onipresença nas edições das revistas semanais: “Ele é um homem que ri, ri aberta e largamente.” Sem falar no retrato oficial espalhado em todas as repartições públicas do Oiapoque ao Chuí, adicionou Capanema. Amado propôs que se promovesse uma identificação absoluta entre o chefe e suas obras monumentais, das quais o próprio povo era a principal realização. Tirou um papel do bolso do paletó, desdobrou-o, pigarreou levemente e leu com sua dicção um tanto roufenha: “O Sr. Getúlio Vargas nascido para o poder, encontrando-se com o poder, subitamente se encontrou a si mesmo.” O livro deveria ser uma imagem grandiosa do Brasil que refletisse, subliminarmente, a imagem do presidente. Capanema rabiscava enquanto conversavam: “O verdadeiro chefe personifica a alma da nação pois reúne no seu espírito os atributos fundamentais de seu povo.” Para compor as imagens, Gustavo Capanema escolheu fotógrafos alemães 67 que dariam um tom exuberante à natureza, aos esportes, à agricultura, ao exército e aos panoramas do centro das principais cidades. Essa síntese do Brasil através de lentes germânicas, formada através de um olhar ágil e formalmente rigoroso, advindo da nova fotografia nascida em Weimar, havia sido incorporado pela estética “nacional-socialista”. Até mesmo as cenas mais banais da vida cotidiana apareciam cercadas de uma
Aula de Educação Física na Praia Vermelha, Rio de Janeiro circa 1940.
solenidade épica. Os exercícios de educação física na carioca Praia Vermelha pareciam emergir de um filme de Leni Riefelstein e a praia de Copacabana perdeu seu ar tropical, exalando uma beleza fria e distante. Com a entrada do Brasil na guerra ao lados Aliados, o projeto desse livro grandioso – e ger-
67. Eric Hesse, Peter Lange, Arno Kikoler, Paul Stille e Erwin von Dessauer. Além destes havia fotos de Epaminondas, fotógrafo de plantão do DIP e de Jean Manzon.
mânico – não veria a luz do dia.
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Getúlio Vargas premia alunos em Petrópolis, circa 1940. Alunos ouvem transmissão de jogo do Brasil na Copa da Itália. Rio de Janeiro,1938.
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Exame médico para admissão no Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), Rio de Janeiro circa 1940. Trampolim na Escola do Estado Maior do Exército, Praia Vermelha, Rio de Janeiro, circa 1940.
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Escola do Estado Maior do ExĂŠrcito, Praia Vermelha, Rio de Janeiro, circa 1940. Vista aĂŠrea Praia de Copacabana, Rio de Janeiro, circa 1940.
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PARTE 5
Bons vizinhos
os norte-americanos “frios, interesseiros e não confiáveis”. A pesquisa apontava, ainda, que o melhor modo de melhorar as representações e buscar aproximar os povos seria a via cultural. Érico Veríssimo, após uma estada de seis meses nos Estados Unidos, produziu o livro “Gato preto em campo de neve”, obra favorável, mas não
Para oferecer alternativa a “Happy Birthday to You” e outras músicas estrangeiras, cantadas em festividades diversas, Heitor Villa-Lobos e Manuel Bandeira fizeram as “Canções da Cordialidade”. O poeta procurou se “servir, tanto quanto possível, das frases feitas de nossa linguagem coloquial, sobretudo em “Boas-vindas: Amigo, seja bem-vindo! A casa é sua. Não faça ceri-
apologética, da terra do Tio Sam. Na visão de seu filho, Luis Fernando, “uma tomada de posição pela liberdade” 71, devendo “ser considerado como parte do debate político que se travava então entre intelectuais brasileiros – e que
71. “Gato preto em campo de neve”, p.12.
era a respeito de totalitarismos, um modo velado de questionar o próprio ‘Estado Novo’”.
mônia. Vá pedindo, vá mandando”.68 O poeta contou ao escritor Marques Rebelo que, para seu horror, alguns intelectuais comunistas estavam espalhando que a canção fora feita para homenagear os norte-americanos. O autor de “A estrela sobe” disse a Bandeira que a infâmia era, ao menos, inteligente, e recomendavam que se cantassem as boas-vindas a Rita Hayworth ou Ava Gardner. Valeria a pena... Érico Veríssimo embarcou, rumo a Nova York, no navio Argentina, por coincidência, junto com o time do Botafogo. Duas dezenas de torcedores, com bandeiras e ruidosos vivas, foram ao porto carioca se despedir. O jovem gaúcho, no início da viagem, frustrara os viajantes que o confundiam com um jogador de futebol e que lhe perguntavam a sua posição no time: goal keeper ou center forward? Não era jogador, invariavelmente retrucava, mas poderia ter lhes respondido: escritor afastado dos extremos, sejam eles de direita ou esquerda. A viagem de Veríssimo estava no bojo das atividades do recém-criado setor cultural, dentro do departamento de Estado,69 chefiado por Nelson Rockefeller, magnata americano, para cuidar das relações com os vizinhos do sul. Incomodava-lhes que Brasil e Argentina, esta com o maior partido nazista fora da Alemanha, permanecessem “neutros”. Entre as poucas ações que o departamento cultural financiava diretamente – por falta de dotação orçamentária – estavam as viagens de intelectuais e formadores de opinião sulamericanos aos Estados Unidos.70 Um dos primeiros atos de Rockefeller foi encomendar uma pesquisa a 68. Manuel Bandeira, “Itinerário de Pasárgada”, p.100-101.
George Gallup, expoente na investigação da opinião pública. Realizado em várias cidades dos EUA e em quatro países da América do Sul, o trabalho
69. Office for Coordination of Inter-American Affairs – OCIAA.
apontou que o mais forte empecilho ao êxito da “Política da Boa Vizinhança”
70. Sergio Buarque de Hollanda e Afrânio Peixoto foram igualmente, sob os auspicious da OCIAA aos Estados Unidos.
americanas. Para os americanos do norte, os latinos eram demasiadamente
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era o preconceito recíproco existente entre as populações norte e sul“emotivos, sentimentais e irresponsáveis”. Estes, por sua vez, consideravam
Eurico Gaspar Dutra, Aristides Guilhem, Gustavo Capanema, Getúlio Vargas, Darcy Vargas e Nelson Rockefeller assistindo à Parada da Juventude Brasileira, Estádio São Januário, Rio de Janeiro, 1942.
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Lentes diversas Genevieve Naylor não era a concretização completa dos sonhos de Marques Rebelo e Manuel Bandeira, mas deles se aproximava: loura, esbelta, elegante, fotógrafa de moda e formada numa escola de elite ao norte da cidade de Nova York. Casara com Misha Reznikoff, seu professor de pintura, judeu russo, dez anos mais velho, que a apresentou ao mundo intelectual de Greenwich Village. Em Copacabana, num jantar na casa do poeta Augusto Frederico Schmidt, Genevieve contou a Vinicius de Moraes seu intuito de fazer uma reportagem não só sobre gente sofisticada de centros cosmopolitas, mas também, sobre aquela das cidades dos recantos mais humildes do interior brasileiro. O po-
Autorização concedida para Genevieve Naylor fotografar no Brasil, assinada por Lourival Fontes, 1942. Oscar Niemeyer, Carlos Drummond de Andrade, Roberto Burle Marx, entre outros, no vernissage de Misha Reznikoff no Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, 1941.
eta olhou-a com encanto e ofereceu-se para lhe apresentar amigos sambistas dos morros cariocas. Atento, Misha resgatou a mulher, trazendo-a para uma roda com a anfitriã, Jorge de Lima e Adalgisa Nery. O marido desta última, Lourival Fontes, chefe do poderoso Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP.) acamado com forte gripe, não pudera ir ao amplo apartamento de Schimdt. Ainda que trabalhasse sob a supervisão do DIP, com equipamento precário e falta constante de filmes Kodak, enviados pelo malote da embaixada americana, Naylor produziu uma das melhores documentações sobre o Brasil da época. Sem nenhum treinamento sociológico, os seus registros captaram, em fotos produzidas, o Brasil chique e urbano, enquanto um tom realista e etnográfico dominava os retratos dos mais pobres. Soube escapar das armadilhas do exotismo e da promoção oficial, fazendo emergir uma realidade bem diversa do tom épico das fotos que ilustrariam a “Obra getuliana”. Uma seleção das mais de mil fotos tiradas por Naylor compôs a bem-sucedida exposição – “Faces and places in Brazil” – no Museu de Arte Moderna de Nova York, em janeiro de 1943.
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Romeiros em Congonhas do Campo, 1941. Bonde de Sรฃo Januรกrio, Rio de Janeiro, 1941.
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Rádio A Rádio Berlim alcançava as casas brasileiras, sobretudo na região sul – além dos assustadores discursos do Führer, as sinfonias de Beethoven e Brahms se misturavam com programas de cunho popular gerados no Brasil, entre eles “Pipocas e Batatas”, programa infantil conduzido por Dona Filomena, uma simpática vovó nazista. 72 Também para os norte-americanos o rádio foi um importante e necessário meio de difusão além fronteiras. Pouco após a criação do Office for Coordination of Inter-American Affairs (OCIAA), o Rio de Janeiro recebeu a visita oficial de William Pasley, presidente da principal cadeia de rádio, a Columbia Broadcast System (CBS). Pasley acertou com Lourival Fontes, chefe do DIP, a retransmissão, em português, de vários programas de emissoras americanas, como a própria CBS, a National Broadcast Company (NBC) e a General Sound Corporation (GSC). Programas como “Américas em guerra”, “Radioteatro das Américas”, “Acredite se quiser”, “Espírito de vitória”, “Palavras aladas” e o musical “Favoritas do público americano” formavam o que se convencionou chamar de “Cadeia pan-americana”. Em reciprocidade, alguns programas seriam emitidos do Brasil para a América do Norte. Um dos mais memoráveis e solenes foi a transmissão pela Blue Network, em 18 de abril de 1942, de uma festa no Cassino da Urca, organizada pelo embaixador norte-americano Jefferson Caffery, em nome de Franklin Roosevelt, para homenagear o aniversário de Getúlio Vargas. Orson Welles foi o mestre de cerimônias da festa e locutor do programa que, além das maiores autoridades brasileiras e representantes dos países do continente, contou com os principais músicos brasileiros da época. “A Urca é o último lugar autenticamente feliz do mundo” – dessa maneira abriu a cerimônia Welles e, prosseguindo no terreno das inúmeras hipérboles saudou Vargas como “o grande e bom amigo do presidente Roosevelt, a quem todos
72. Protagonizada por Lourdes Lage. Ver Luiz Artur Ferraretto, “A guerra nas ondas do rádio”, 2013. 73. Para uma descrição pormenorizada do evento ver “Tota: 2000”, p.120-126.
os americanos, do fundo do coração, desejavam felicidades.”73
Transmissão de festa no Cassino da Urca, apresentada por Orson Welles e organizada pelo embaixador Jefferson Caffery, em nome de Franklin Roosevelt, para homenagear o aniversário de Getúlio Vargas, 18 de abril 1942.
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Filmes O Departamento Cultural, aproveitando o crescente prestígio dos filmes de Holywood, utilizou o cinema como o mais efetivo elemento de propaganda e persuasão a favor do modo de vida norte-americano no Brasil, um dos mais promissores mercados de exibição cinematográfica do continente. Em viagem ao Brasil, John Hay Whitney, um dos principais executivos de Holywood, diagnosticou o mercado e visitou Lourival Fontes, acertando com o DIP um programa de cooperação na área do cinema. Foi agendada a vinda de várias estrelas que funcionariam como “embaixadores culturais”, entre eles Douglas Fairbanks Jr., George O’Brien, Henry Fonda e Errol Flynn, este recebido pelo próprio Presidente Vargas no Palácio do Catete. Suas estadas compreendiam o comparecimento a uma estreia de gala, entrevistas na imprensa sobre suas carreiras, a indústria de cinema e o cotidiano americano, além da visita a uma obra social comandada pela primeira-dama do país. No bojo dos esforços da boa vizinhança entre Brasil e Estados Unidos, vários filmes exibiram, com maiores ou menores gafes culturais e geográficas, cenas passadas na América do Sul. Seguindo os passos cariocas de Fred Astaire, no precursor “Flying down to Rio”, de 1933, Sidney Toler em “Charlie Chan in Rio”, de 1941, persegue uma cantora que matara seu amante e se defronta com malfeitores na cidade, enquanto, no ano seguinte, em “Now Voyager”, Bette Davis, incarnando Charlotte, recupera-se de uma depressão nervosa no Rio, onde encontra o seu novo amor. O OCIAA recomendou expressamente à Fox um incentivo maior à nascente e promissora carreira de Carmen Miranda, que em 1940 participa, com destaque, de “Down Argentine American Way”, ambientado em Buenos Aires. Foi a contribuição que faltava para que os norte-americanos, com sua inabalável inaptidão para a geografia alheia, julgassem, em definitivo, que a cidade portenha era a capital do Brasil. Em 1941, igual sucesso obtém Carmen em seu único filme hollywoodiano ambientado no Rio: “That night in Rio”, no qual, entre números musicais, disputa e perde o coração de Don Ameche para Alice Faye, uma das atrizes mais celebradas da época.74 Entre os protagonistas da indústria de cinema norte-americana, o estúdio de Walt Disney foi o que mais se empenhou no esforço de guerra. Cerca de
No studio da Cinédia, Orson Welles filma cenas para completar aquelas feitas durante o Carnaval de 1941.
noventa por cento das suas atividades situavam-se na esfera governamental, produzindo filmes de treinamento e propaganda do exército. Foram feitas 74. Maiores detalhes em “Carmen Miranda”, de Ruy Castro, e “Este mundo é um pandeiro: a chanchada de Getúlio a JK”, de Sérgio Augusto, ambos publicados pela Companhia das Letras.
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peças educativas na área da saúde – prevenção da malária, tifo, cuidados gerais de higiene etc. – para exibição em países periféricos e menos favorecidos. Comédias curtas eram produzidas com o objetivo de levantar a moral dos civis e, sobretudo, dos combatentes na Europa.
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Wallace Harrison e Nelson Rockefeller convocaram o criador de Mickey
de Janeiro do início dos anos 1940. Preocupantes notícias chegavam a res-
para entrar, pessoalmente, na campanha da boa vizinhança com o Brasil. O
peito da montagem pela produtora, à sua revelia, de seu segundo filme “The
próprio Walt Disney viajou pelo continente sul-americano, ficando quinze
Magnificent Ambersons”. Inúmeros foram os relatos de suas bebedeiras na
dias no Rio de Janeiro. Durante essa permanência concebeu o personagem
suíte do Copa, seguidas de ataques à mobília, por vezes arremessada janela
Zé Carioca. Era ele um papagaio, vestido de malandro carioca, amigo do Pato
abaixo. O tempo passou e Welles obteve generosas ampliações do orçamento.
Donald. Personificavam o que “bons vizinhos” deviam ser: embora com per-
Isso antes que, em Los Angeles, os executivos da RKO vissem alguns dos
sonalidades opostas – o papagaio expansivo e despreocupado, o pato irritado
rolos filmados durante o carnaval. Desagradou-lhes, enormemente, as toma-
e tenso – eram amigos e, no fundo, integrantes da mesma espécie. Um belo
das de carnaval, quase etnográficas, com hordas de pessoas sumariamente
exemplo para americanos do norte e do sul. Disney concebeu três filmes
vestidas e pulando sem cessar. Não lhes causou bom impacto, igualmente,
estrelando tais personagens: “Alô amigos” – uma viagem pelo continente,
a escolha de Welles por narrar o filme na primeira pessoa, abandonando o
“Aquarela do Brasil”(1942), no qual Zé Carioca guia o Pato Donald pelas
tom frio e imparcial então em voga. A reação de membros do DIP, no Rio,
ruas e paisagens cariocas durante o Carnaval, e “Os três cavalheiros” (1944)
não foi melhor. Irritou-lhes a imagem primitiva que emanava das cenas do
que combinava, precursoramente, desenhos e atores, com participação de
Carnaval e, sobretudo, o destaque e tom de denúncia dado por Welles ao desa-
Aurora Miranda e os dois pássaros nas ladeiras da cidade da Bahia. Todos
parecimento da Praça Onze, o berço do samba, para dar passagem à avenida
estes filmes foram sucessos simbólicos da boa vizinhança e de bilheteria.
Presidente Vargas. Pareceu-lhes que o diretor virara os olhos às grandes rea-
A mais ousada realização cinematográfica foi o projeto “It’s all True”, que
lizações para enfocar lados arcaicos dos quais o Estado Novo queria se livrar.
a Radio-Keith-Orpheum Corporation (RKO) confiou ao jovem diretor Orson
Sentimentos comuns de frustração compartilharam os gerentes da operação
Welles, que acabara de obter um estrondoso sucesso com “Cidadão Kane”.
em Hollywood, Washington e Rio de Janeiro: a crítica e as denúncias de desi-
A ideia de produzir o “It’s all true” foi, de certo modo, uma resposta aos an-
gualdade social substituíram as esperadas belas cenas que incrementariam o
seios do governo brasileiro que queria uma grande produção que mostrasse
turismo e o entendimento entre os povos. O desagrado piorou quando Orson
nosso carnaval ao mundo – desejo esse expresso pelo chefe do DIP, Lourival
decidiu filmar um terreiro de macumba em um morro carioca, pensando
Fontes, quando visitado pelo representante da indústria cinematográfica, Jay
estar revelando as raízes ocultas do samba.
Whitney. Tudo facilitado pelo fato de que a família de Rockefeller detinha
De modo a evidenciar o contraste entre o Rio dionisíaco e a escassez de
substancial cota das ações da RKO. Na ótica dos bons vizinhos, o filme seria
outras partes do Brasil, o diretor decidiu incluir em “It’s all true” uma história
um documentário sobre o Brasil, de modo a desvendar o país para os nor-
passada entre pescadores do Ceará. Aproveitou uma viagem épica de um gru-
te-americanos. O comediante brasileiro Grande Otelo foi escolhido para ser
po de jangadeiros, do Ceará até a capital federal, empreendida para solicitar
o anfitrião que apresentaria ao espectador o Rio, o Carnaval, as favelas e a
ao presidente Vargas a inclusão da categoria de pescadores na lista de profis-
música ali produzida, o samba. No esboço inicial havia a determinação de
sões protegidas pela Consolidação das Leis de Trabalho. Já no Rio, recebidos
associar o samba ao jazz e a favela carioca ao Harlem. Planos posteriores
por Vargas e prontos para retornar ao Nordeste por avião, os pescadores, a
previam fazer tal analogia com o Mardi Gras em New Orleans, apresentado
pedido de Welles, colocaram a jangada de volta ao mar, próximo à avenida
por ninguém menos que Louis Armstrong.
Niemeyer, para que se fizessem novas tomadas da chegada à capital, de um
Welles enxergou no convite do OCIAA uma oportunidade de mesclar
ponto de vista mais alto. O mar batia forte, a jangada virou e o líder, Jacaré,
realidade e ficção e experimentar novas linguagens em filme autoral, no
morreu afogado. Welles, culpabilizado pelo acidente na imprensa, caiu em
qual comporia o roteiro em resposta às impressões que o país lhe causaria.
forte depressão, agravada pela notícia de que nenhum dólar suplementar se-
Do ponto de vista pessoal pareceu-lhe uma boa chance para se afastar da
ria dedicado ao filme. De nada adiantaram seus argumentos de que os quilô-
Califórnia, do difícil casamento com Dolores del Rio e dos inimigos profissio-
metros de negativos filmados em dezesseis milímetros deviam ser considera-
nais que o sucesso de “Kane” lhe acarretara. Chegando ao Rio, hospedado no
dos rascunhos para uma filmagem profissional, em cores e em trinta e cinco
Copacabana Palace, o jovem diretor percebeu que a realidade era muito mais
milímetros, de rápida e segura execução. O projeto foi suspenso, os negativos
complexa do que o rascunho inicial. Ampliou o escopo do filme, ao mesmo
guardados em depósito e a carreira de Orson demorou para ser retomada,
tempo que se entregou aos prazeres noturnos e alcoólicos do fascinante Rio
jamais com o prestígio que tivera antes de sua aventura tropical.75
Projeto da avenida Presidente Vargas Rio de Janeiro, década de 1940.
75. Rogerio Sganzerla fez dois brilhantes filmes sobre a epopeia de Orson Welles no Brasil: “Nem tudo é verdade”(1986) e “Tudo é Brasil”(1997). Deve ser igualmente visto o filme “It’s all true (1993)” de Richard Wilson, Myron Meisel e Bill Krohn – um relato da aventura brasileira de Welles a partir das cenas originais de 1942.
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Jo Davidson : entre as poses 1941 Numa noite de abril, na casa de campo de um vizinho em Lahaska, no meio da Pensylvannia, Jo Davidson foi convidado por um assessor de Nelson Rockefeller para ser um “embaixador da Boa Vizinhança” e percorrer dez países da América do Sul, fazendo o busto dos chefes de Estado que, somados aos bustos dos presidentes e vices norte-americanos, figurariam numa exposição na National Gallery, a ser aberta em 1942 por Franklin Delano Roosevelt.76 Aos cinquenta e oito anos, Jo Davidson era um escultor bastante conhecido nos Estados Unidos pelas obras de personalidades do meio artístico e intelectual, como Walt Whitman, Gertrude Stein, Bernard Shaw, Charlie Chaplin, Sir Arthur Conan Doyle. A galeria de seus retratados incluía, também, líderes políticos como Woodrow Wilson, Herbert Hoover, Benito Mussolini e o próprio Roosevelt. Davidson acabara de se casar com Florence, sua jovem assistente, e enxergou na missão uma oportunidade de realizar uma lua de mel, com todas as despesas pagas além de um pro-labore pelas esculturas. Junto com as verbas para despesas foi-lhe entregue um protocolo de instruções que incluía jamais chamar de ditadores os “presidentes-permanentes”, eufemismo que a imprensa norte-americana havia sido, também, instada a adotar. A primeira escala foi em Caracas, onde teve um duplo trabalho, pois o presidente seria substituído por outro, recém-eleito, e ambos posaram para ele. Davidson se definia como um “historiador plástico” porque exprimia nas esculturas suas interpretações das personalidades, fazendo questão de guardar sigilo sobre o que ouvia e via durante as sessões. Apesar disso, no livro “Between Sittings”, incluiu um capítulo sobre suas experiências nos trópicos. Utilizando um tom vagamente irônico, descreveu as sessões de poses, o interior dos palácios presidenciais e a atitude do chefe de estado retratado. Chegou ao Rio em 30 de maio com tapete vermelho, banda de música e tiros de canhão. Não percebera, mas embarcara em Caracas no mesmo avião que trazia, dos Estados Unidos, Alzira e Ernâni Amaral Peixoto, filha e genro
Gertrude Stein posando para Jo Davidson, Paris, 1922.
de Vargas, para quem havia sido montada a solene e festiva recepção. Davidson apresentou-se ao casal que se mostrou surpreso de o ditador rece-
76. “Presidents of the south american republics”.
bê-lo; o escultor esperou, efetivamente, catorze dias para ser encaixado na agenda presidencial, período no qual encontrou artistas, intelectuais e
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aproveitou a cidade, para ele “um monumento da antiga civilização latina”.77 Recebido em duas tardes, descreveu o ar reservado inicial de Vargas, vestido em robe de veludo grená, “com pose de Nero olhando o mundo ao redor” e sua curiosidade, descontração e agrado, à medida que o trabalho progredia. Ao saber que o próximo destino de Davidson seria Assunção, Getúlio mencionou que o Paraguai perdera dois terços de seus homens na guerra do Chaco, tendo que adotar a poligamia para repovoar o país. E adicionou, com ar matreiro: “Prática que o senhor não deve abraçar, uma vez que é recém-casado.”78 77. “Between sittings”, p.325. 78. “Presidents of the south american republics, bronzes”.
No diário de Getúlio encontra-se, no dia 14 de junho, o seguinte registro: “À tarde posei para um escultor norte-americano (...) Sempre que posso evito essas poses, que acho muito desagradáveis. Mas este veio oficialmente, enviado pelo presidente Roosevelt e prestigiado pela embaixada americana.”
Alzira e Ernâni do Amaral Peixoto, desembarcando no Rio de Janeiro, 1939.
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Getúlio Vargas posando para o escultor Jo Davidson, no Palácio do Catete, em 1939.
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Rumo a Nova York
Leleta e Lucio passeavam no tombadilho do navio, depois de colocarem as filhas para dormir. À mulher, intelectual e excelente companheira, o arquiteto costumava comentar suas peripécias no trabalho e o fato de estar combatendo uma “guerra santa” para implantar o modernismo no país:
O Brasil foi o terceiro colocado na Copa do Mundo de 1938, mais uma vez
“Que outro profissional teria formado um grupo ao ser convidado, individual-
ganha pela Itália, e Orlando Silva soltava a voz consolando a “Jardineira”:
mente, para fazer a sede ministerial? E, depois de ter esse plano aprovado,
“Não fique triste/ que este mundo todo é seu/ tu és muito mais bonita/ que
quem insistiria para não o executarem sem uma consulta ao maior expoente
a Camélia que morreu...” Outro tricolor, o das Laranjeiras, se sagrou tricam-
internacional, Le Corbusier?” Leleta ouviu-o e, com ternura, acariciou seu
peão carioca e o Corinthians arrebatou, invicto, o torneio paulista.
rosto. Um vento mais frio fez o casal se aconchegar e olhar para o (pouco
As obras de construção do Palácio foram relativamente calmas se compa-
familiar) céu estrelado do hemisfério norte. No final da manhã seguinte en-
radas às peripécias da elaboração do projeto. Demasiadamente tranquilas até,
trariam no rio Hudson e, após o exame dos passaportes, feito no próprio
pois várias vezes a obra teve que ser interrompida porque os recursos para
navio, pisariam em Manhattan no início da tarde.
pagar os fornecedores não eram repassados. O ministro Souza Costa, pessoalmente envolvido com a arquitetura da sede da Fazenda, que se ergueu, sem interrupções, no terreno vizinho, tratou a construção moderna com frios olhos de economia administrativa. Pareceu antagonismo e talvez tenha sido. Quando a casa Nordschild foi construída em 1931, projeto de Gregori Warchavchik e Lucio Costa, não havia mão de obra no Rio que dominasse o despojamento moderno e operários paulistas tiveram que ser importados. Em 1938, a situação carioca havia mudado e não foi difícil arregimentar equipes competentes. Emílio Baumgart, experiente engenheiro, teve de calcular duas vezes a estrutura de sustentação do edifício pois, como bem previra Lucio Costa, acabou sendo obtida a permissão da Aeronáutica para aumentar o número de andares. A presença de Moreira, Reidy, Leão e Vasconcelos, aliada à previsibilidade das obras permitiram a Costa e Niemeyer se ausentarem para projetar e construir o Pavilhão na Feira de Nova York. No cenário arquitetônico, esta foi uma grande conquista dos modernos: o neocolonial deixou de ser obrigatório nos prédios que representavam o Brasil no exterior, uma vez que a Feira de Nova York sobre o mundo de amanhã exigira que os pavilhões nacionais tivessem um estilo “futurista”. No mesmo escritório, no edifício Nilomex, mas em pranchetas distintas, Lucio Costa e Oscar Niemeyer preparavam os projetos do concurso para o pavilhão do Brasil na Feira de Nova York, finalmente ganho pelo primeiro. Costa convidou Oscar, que ficara com a segunda colocação, para almoçar na Taberna da Glória e lhe fez o oferecimento de, juntos, realizarem um novo projeto para o pavilhão brasileiro. Proposta aceita, os dois embarcaram, em abril de 1938, no navio Pan America, rumo a Manhattan, acompanhados de suas
Chegada em Nova York. Oscar Niemeyer, Lucio Costa, Julieta Modesto Guimarães Costa (Leleta) com Maria Elisa Costa no colo, Ana Maria Niemeyer e Anita Baldo Niemeyer, 1938.
esposas e das filhas Anna Maria Niemeyer e Maria Elisa Costa.
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Chegada
Já escurecia e rumaram para a Broadway a fim de encontrar um restaurante para jantar. Chamou-lhes a atenção os letreiros das lojas e escolheram um típico diner para jantar, onde foram introduzidos, não sem certa resistência, aos sanduíches com salada de repolho e maionese. Passaram numa
O dia, de início de primavera, estava nublado, mas a visibilidade era boa o
delicatessen, onde compraram o básico para o café da manhã e rumaram para
suficiente para divisar, ao longe, o impressionante perfil dos arranha-céus de
suas casas. Ajudaram a colocar as filhas para dormir e deixaram o desfazer
Manhattan, os mesmos que, numa boutade, poucos anos antes, Le Corbusier
de malas para as esposas, pois queriam estar bem dispostos para o trabalho
considerara muito baixos. 79 Oscar e Lucio observaram a inexistência de tor-
que se iniciaria bem cedo no dia seguinte. Lucio se deitou para ler, até conci-
res com fachadas envidraçadas em Nova York, ficando orgulhosos de caber
liar o sono, uma antologia do poeta português Mário de Sá Caneiro, presente
ao projeto carioca da sede ministerial a primazia neste aspecto.
de Carlos Drummond; Oscar, no andar de cima, esticou-se no sofá e olhava,
No tombadilho do navio, as duas famílias assistiram à chegada a Nova
absorto, as espirais de fumaça que emanavam de seu cigarro.
York. A pequena Maria Elisa estava no colo de sua mãe, enquanto Anna Maria, junto a Anita, brincava com sua boneca. O Pan America atingiu a ilha pelo sul, permitindo-lhes ver a Estátua da Liberdade. Felizes com a chegada, posaram para foto em frente ao perfil de midtown: Lucio, de sweater e capa de chuva, e Oscar, com cachecol e terno cinza, carregava o impermeável debaixo do braço. Lucio apontou para o Rockefeller Centre, projeto de Raymond Hood, onde trabalhariam no escritório de Wallace Harrison. Armando Vidal, comissário geral do Pavilhão, os aguardou no cais para conduzi-los aos dois apartamentos no número 56 da rua sessenta e cinco oeste, que estavam reservados para as duas famílias. Explicou-lhes que a Feira fora concebida por volta de 1935 como um modo de revitalizar os negócios da cidade, fortemente atingida pela crise econômica, após a quebra de Wall Street, em 1929. Representantes das grandes empresas tinham resolvido alavancá-la e escolheram a localidade de Flushing Meadows, no Queens, como sede. Com o advento da Segunda Guerra, o evento ganhou conotação diversa, prosseguiu Vidal perante Lucio e Oscar: além de inovações tecnológicas, o tema “Construindo o Mundo de Amanhã” transformou a feira em paradigma da democracia e do livre mercado, em contraste com o autoritarismo estatal na Europa à beira de graves conflitos. Os arquitetos colocaram as bagagens nos respectivos apartamentos, a 79. “Quand les cathedrals étaient blanches” .
família Costa no térreo e a Niemeyer no primeiro andar. Saíram para um passeio no Central Park, onde Lucio, com sua câmera oito milímetros, fez uma bela tomada de Oscar girando a pequena Maria Elisa no ar.
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Vista geral das instalações da Feira Mundial de Nova York, Flushing Meadows, 1939. A estátua do trabalhador do Pavilhão Russo destaca-se à esquerda e o Trylon e o Perisfério são vistos ao fundo no centro.
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Entendendo a feira
um rio, com as ruas irradiando a partir de uma torre central. A cidade seria limpa e silenciosa pois a energia viria de recursos hídricos e as indústrias estavam dispersas em anéis da periferia. Quando a narração terminava, as luzes se apagavam e um filme projetado no domo mostrava cenas dessa cor-
Oscar bateu levemente na porta dos Costa para chamar o seu amigo.
porificação da utopia de progresso e preservação da natureza.
Diferentemente do dia anterior, o céu estava límpido e azul, tornando, por
O pavilhão da companhia de discos RCA Victor iria inaugurar a tele-
contraste, mais bonitas as construções baixas de pedra escura. O sol, mui-
visão enviando sinais para a torre do Empire State Building, que retrans-
to diferente do carioca, incentivava a caminhada. Pegaram um atalho pela
mitiria, para pontos estratégicos do país, uma saudação do Presidente
grama do Central Park, ainda molhada de orvalho. Homens apressados pas-
Franklin D. Roosevelt.
savam por eles e jovens passeavam com carrinhos de bebê. Lucio, não resistindo à beleza de uma garotinha, parabenizou a sua mãe. Esta lhe abriu um largo sorriso e replicou: “Ela fica mais bonita ainda numa foto Ektachrome.” Lucio comentou com Oscar o modo exacerbado como os americanos valorizavam a imagem, julgando-a, por vezes, mais atraente que a própria pessoa. Com mais de um metro e noventa de altura, olhos azuis e um ar ainda jovial, Wallace Harrison parecia egresso de um filme de Frank Capra. Era o braço direito de Nelson Rockefeller, arquiteto de vários empreendimentos importantes da família, bem como diretor geral da Feira. Recebeu-os efusivamente e os conduziu à sala que lhes estava reservada, com duas pranchetas, uma mesa longa e uma ampla janela que descortinava a cidade. Aproximando-se da vidraça, Harrison apontou o East River e, ao longe, o bairro do Queens, onde ficava Flushing Meadows, o lugar da Feira. Retornaram ao escritório de Harrison, que desenrolou uma grande cópia heliográfica para lhes mostrar a distribuição dos espaços: a área central correspondia ao setor dos Estados Unidos da América do Norte, que se exibia através de suas potentes empresas. A General Motors encarregara Norman Geddes80 do projeto Futurama, buscando mostrar como seria o mundo em 1960. Em uma celebração dos veículos de transporte individuais, prevalecia o otimismo nos avanços: megalópoles, autoestradas com grandes viadutos, anéis rodoviários e veículos futuristas. O Trylon e o Perisfério eram os elementos arquitetônicos centrais, funcionando como verdadeiros símbolos do evento. Projetados pelo próprio Wallace Harrison, em parceria com André Fouilloux, o Trylon era um enorme obelisco de cento e oitenta e três metros de altura visto a enorme distân-
O arquiteto Wallace K. Harrison.
cia e servindo de antena de rádio e televisão. Uma enorme esfera com diâmetro de cinquenta e quatro metros constituía o Perisfério, com altura correspondente a um prédio de dezoito pavi80. Norman Geddes foi um importante designer e cenógrafo.
mentos. Abrigaria, no seu interior, a “Democracity”, um gigantesco diorama, concebido por Hanry Dreyfuss, mostrando o mundo em 2039: uma comunidade de um milhão de habitantes, cuidadosamente planejada às margens de
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As nações De modo a garantir no setor internacional o mesmo clima de otimismo futurista do resto da feira, foi nomeado um comitê organizador com predomínio de defensores do modernismo, tendo como expoente o crítico Lewis Munford81, que baniram os estilos neo-históricos. A quase totalidade dos países europeus compareceu, inclusive a Itália, que edificou um pomposo pavilhão que, no cume do bloco alto central, continha uma queda d’água encimada por uma grande estátua de um guerreiro romano. 82 A Alemanha, preparando-se para ações expansionistas e havendo banido os renovadores da Bauhaus, não participou do evento. Inglaterra e França compareceram com prédios pesados e monumentais. Pareciam edifícios tradicionais, mas despojados, à última hora, dos elementos decorativos para parecerem mais contemporâneos. O moderno passava ao largo... As nações latino-americanas acorreram em massa, antecipando os ares da Política da Boa Vizinhança. Uma delas, a Venezuela, não podia ser mais explícita; apesar de possuir Carlos Villanueva, um dos melhores seguidores de Le Corbusier, encomendou aos arquitetos americanos Skidmore & Owings o projeto de uma ousada caixa de vidro que abrigava, em seu inte-
Letreiro em neon anunciando a Wrigley’s Chewing Gum, Times Square, Nova York, 1936.
rior, o “Altar do Bom Vizinho”, contendo a relíquia de um feixe do cabelo de George Washington, que Lafayette havia recebido e ofertado à Simon Bolívar. O terreno destinado ao Brasil era de esquina, próximo à confluência de três ruas e vizinho ao Pavilhão da França, já em construção. Os arquitetos brasileiros combinaram visitar o local naquela tarde e Harrison recomendou que pegassem a linha sete do metrô, em Times Square, que os levaria direto à estação da rua 111, a poucos blocos do Corona Park. Ao atingir, na Broadway, o quarteirão entre as ruas 44 e 45, os brasileiros se depararam com um monumental letreiro luminoso anunciando os chicletes Wrigley’s: era uma colorida cena do fundo do mar, com onze peixes 81. Lewis Munford, importante historiador do urbanismo e admirador da obra de Frank Lloyd Wright, vê a arquitetura através de uma argumentação regionalista, acreditando que a arquitetura deva favorecer a absorção da sociedade, da cultura e o do ambiente do lugar.
soltando bolhas – a maior de todas elas continha o mascote da marca; e em
82. A Itália partcipa do evento apenas em seu primeiro ano, retirando-se em 1940, quando seus exércitos se encontravam totalmente engajados no combate aos aliados dos Estados Unidos.
e branco da empena do bloco mais baixo do ministério. Ou uma ilustração
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seu redor estavam frases apelativas, que prometiam manter o gosto afinado e os nervos em ordem. Oscar pilheriou que se tratava de uma versão ingênua e tecnológica daquilo que Portinari propusera para o grande mural azul do mundo submarino das “Reinações de Narizinho”, do Monteiro Lobato, retrucou Lucio. Riram e prometeram voltar com as filhas.
Painel de azulejos de Candido Portinari no Ministério da Educação e Cultura, Rio de Janeiro.
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As escadas do metrô da rua 111 os levaram a uma realidade muito mais pobre e, seis quadras depois do parque Corona, que se convertera em um
Notícias do Brasil
canteiro de obras. Custou-lhes um pouco localizar o terreno, uma vez que ele parecia fazer parte da imensa construção que se erguia. Os dois cariocas perceberam que os gauleses erguiam um prédio maciço.
Por mais de um mês os dias se sucederam, meio parecidos, passados no
Sabiam inútil tentar harmonizar ou competir em escala. Decidiram erigir
escritório e os finais de tarde no Central Park, aproveitando que a noite che-
um pavilhão leve e radicalmente moderno, na fronteira do terreno, o mais
gava cada dia mais tarde. À noite, um dos casais tomava conta das meninas
longe possível do pesado francês. Uma construção que não procuraria pa-
enquanto o outro ia ao cinema. Maria Elisa gostava de ficar na janela dirigin-
recer definitiva, na qual houvesse uma interpenetração e constante diálogo
do-se aos passantes com uma língua inventada que soava como o inglês ana-
entre o interior e os espaços externos.
salado dos nova-iorquinos. Anna Maria, mais tímida, se escondia quando
Do lado leste, projetariam uma fachada curva, colada à rua sinuosa que
os adultos olhavam, intrigados, e tapava a boca para abafar as largas risadas.
separava as representações nacionais do setor das grandes empresas; na face
Até que uma carta do Dr. Modesto, pai de Leleta, do dia 13 de maio, re-
sul, recuariam o prédio tanto quanto possível, de modo a criar uma perspec-
latava o ataque de opereta que os integralistas tinham perpetrado, dois dias
tiva generosa para quem o visse. Uma vez que já sabiam os pontos básicos
antes, no Palácio Guanabara, residência presidencial. Vários integralistas
para iniciar os esboços, no dia seguinte, trataram de refazer o caminho de
haviam sido presos por todo o país, inclusive Plínio Salgado que, ao que
volta para a rua 65.
parecia, não havia concordado nem autorizado a iniciativa. Getúlio registrou o fato em seu diário: “Não havia ainda adormecido quando sobressaltou-me cerrada fuzilaria e descargas de metralhadora. Era o ataque ao palácio, feito de surpresa. Tratava-se de um movimento de caráter integralista. A guarda do palácio aderiu e foi dominada. O palácio entregue à defesa precaríssima de alguns investigadores de polícia, do oficial de serviço e pessoas da família. Travou-se o tiroteio que às vezes se tornava cerrado.” A situação perdurou até a madrugada quando, completamente cercados por forças do exército e da polícia, as duas dezenas de camisas verdes se renderam. Após ler a missiva, Lucio chamou, imediatamente, Oscar e relatou a notícia que, para eles, significava a diminuição do poder de fogo dos inimigos do projeto moderno, quase todos partidários ou simpatizantes dos integralistas. Era sem dúvida uma esperança que se esvaziasse o viés ideológico dos que criticavam o projeto, associando o modernismo aos judeus comunistas. Agora, a extrema direita teria algo em comum com os comunistas: ambos eram inimigos do Varguismo e, provavelmente, o ditador diminuiria o flerte com os nazistas. Leleta troxe taças e abriu um bom vinho para brindarem a paz e o futuro que anteviam para o modernismo brasileiro. Dentro de poucas semanas, Lucio e Oscar aprontariam o projeto, em três andares, com estrutura mista de aço e concreto, planta em forma de “L” e três pequenos blocos isolados no jardim, perto do lago, para abrigar exemplares de flora e fauna brasileiras. Uma rampa, emergindo da fachada sudoeste, sinuosa e escultural, capturava o olhar e o movimento do visitante
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na direção do prédio, guiando-o em passeio arquitetônico até atingir um jirau coberto por uma marquise igualmente curva, de onde se podia olhar o
Susto
interior do primeiro andar, o térreo e o lago exterior. Junto com os pavilhões da Finlândia, de Alvar Aalto, e daquele da Suécia, de Sven Markelius, o prédio de Costa e Niemeyer entusiasmou críticos.
Lucio Costa subiu um lance de escadas e bateu na porta dos Niemeyer.
Segundo Giedion: “É de importância extrema que a nossa civilização não mais
A pequena Anna Maria veio abri-la, secundada pelo pai que, ainda de roupão,
se desenvolva a partir de um único centro e que obras criativas emanem de
tinha uma xícara de café na mão direita. Lucio mal dormira, incomodado
países até então provincianos, como a Finlândia e o Brasil.”83 De acordo com
com o conteúdo do envelope manilha enviado pelo presidente do IPHAN,
Henry-Russel Hitchcock Jr.,84 assistia-se à “criação de um novo idioma nacio-
Rodrigo Melo Franco, com o projeto de Carlos Leão para o Hotel de Ouro
nal dentro da linguagem internacional de arquitetura moderna”.
Preto. Contara as horas para não haver inconveniência em visitar o amigo
Se a consultoria de Le Corbusier nos arranha-céus cariocas foi, em 1936,
naquela manhã de quinta-feira para lhe mostrar os desenhos que tanto lhe
uma espécie de graduação moderna e informal para Niemeyer e Costa, a
haviam chocado. O aspecto francamente tradicional do edifício e sua escala
permanência em Manhattan desempenhou o papel de uma pós-graduação.
desmesuradamente grande parecia uma inadmissível rendição ao estilo neo-
83. “Modern architecture in Brazil”.
Entraram em contato com várias tendências, linguagens e tecnologias do
colonial de seu sócio Carlos Leão.
84. “Latin America architecture since 1945”, em Nova York, Museum of Modern Art, 1955.
modernismo internacional, passando a possuir uma visão muito mais ampla e inclusiva do campo internacional da arquitetura.
Niemeyer concordou com a inconveniência estilística e falta de qualidade arquitectónica do hotel. Lucio mostrou-lhe o rascunho da carta que endereça-
Hasteamento da bandeira do Brasil no mastro principal do Federal Building durante a comemoração do dia 7 de Setembro na Feira Mundial de Nova York, 1939.
ria a Rodrigo sugerindo a imediata suspensão do projeto e a espera pela volta de Niemeyer, que passaria a se encarregar da construção no caminho certo: uma obra moderna que marcasse o contraste entre a nova e a velha arquitetura. Chegando ao escritório no Rockefeller Center, outra correspondência, desta feita uma carta de Jorge Moreira, dava-lhes conta do andamento da obra que iniciava a deixar entrever a volumetria geral do prédio. O fim de sua estada em Manhattan começava a se avizinhar e não era pequena a vontade de voltar ao Rio para ver a materialização do projeto na esplanada do Castelo. Longe da tensão dos esforços de guerra que pareciam se intensificar no território norte-americano, prenunciando o engajamento direto no conflito. Capa de folheto sobre o Pavilhão do Brasil.
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Pavilh達o Brasileiro na Feira Mundial de Nova York, 1939.
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Jardim do Pavilh達o do Brasil durante a comemora巽達o do dia 7 de Setembro na Feira Mundial de Nova York, 1939.
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No Carlyle Uma babá fora contratada para cuidar das meninas, naquela noite de sextafeira, enquanto os dois casais iam ao jantar oferecido pelo embaixador e Sra. Martins, no Hotel Carlyle. Juntavam-se a eles os casais Vidal e Lester Wiener. Para criar uma atmosfera mais descontraída, Maria Martins preferira não usar o salão do consulado e, além do mais, adorava os espetáculos de jazz que ali tinham lugar a partir das nove horas da noite. De modo a protegê-los da enorme pressão que sofreriam por parte dos ministérios, que estavam desejosos para exibir no prédio inúmeros produtos brasileiros, Armando Vidal sugeriu-lhes contratar Paul Lester Wiener para conceber a arrumação interna das exposições. Além de excelente profissional, Wiener era estrangeiro e casado com a filha do secretário de Finanças de Roosevelt, o que lhe dava autoridade para rechaçar pressões em sua ida ao Brasil com o intuito de selecionar peças para a exposição. Lucio e Oscar se entreolharam e, de pronto, acataram a sugestão. O que ninguém poderia advinhar, é que, não muito depois, Wiener se divorciaria por conta de um romance com Ingeborg Ten Haeff – a mulher alemã de Lutero, filho do presidente Getúlio Vargas. O caso amoroso provocaria ressentimento no marido brasileiro que, auxiliado pela embaixatriz, encorajou
Salão de Dança do Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova York, 1939-1940. Retrato de Carmen Miranda, Nova York. 1939
investigações do FBI a respeito de sua mulher, sobre a qual recaíam suspeitas de simpatia nazista. Uma carta indignada foi endereçada por Nelson Rockefeller a J. Edgard Hoover, protestando a respeito de a nora de um chefe de Estado de uma nação amiga estar sendo investigada. O chefe do FBI respondeu-lhe que as diligências estavam suspensas pois, em seis meses de busca, o único resultado foram os incontáveis registros de encontros furtivos de Ingeborg e Paul Wiener no Waldorf, no Plaza, no Pierre e outros hotéis chiques de Manhattan.85 No terreno das amenidades, Maria Martins se dirigiu a Leleta e Anita perguntando-lhes se as suas filhas estavam gostando de Nova York. Sugeriu levá-las ao zoológico do Central Park e ao Parque de Diversões em Coney Island. A Sra. Vidal lembrou as matinês do Radio City Hall, onde costumavam se apresentar ídolos juvenis como Shirley Temple e o – já não tão jovem – comediante Red Skelton. Leleta começou a se entediar com aquela conversa vazia e prestou atenção ao embaixador que falava da inevitável entrada dos Estados Unidos na guerra. E, uma vez isso acontecendo, haveria uma irresistível pressão para instalar uma base aérea no Norte do Brasil para servir de
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85. Correspondência confidencial entre Nelson Rockefeller e J. Edgard Hoover, nas caixas 17 e 18 dos Washington D.C. files. – Presidential Appointments Office of the Coordinator of Inter American Affairs no Rockefeller Archives em Pocantico Hills, estado de Nova York.
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trampolim aos aviões norte-americanos em direção à Europa, uma vez que dali era menor a distância do continente africano, de onde poderiam rumar
O interior do pavilhão
para o combate no Velho Continente. Durante a sobremesa, Vidal perguntou sobre as atividades artísticas da
Salão de Exposições, com obras de Candido Portinari e o busto de Getúlio Vargas esculpido por Hildegardo Leão Veloso, Nova York, 1939.
embaixatriz e a conversa migrou para a exposição de Candido Portinari no
O salão de exposições ocupava, por completo, o lado maior do “L”. A latera-
Museu de Arte Moderna, em Nova York, programada para 1940, cujo título
lidade e dimensão estreita do acesso à galeria aumentavam a sensação de
já havia sido escolhido, “Portinari of Brazil”, a primeira individual de um
amplitude quando se entrava naquele grande espaço, pontuado por duas
artista latino-americano naquela instituição.
fileiras de esbeltas colunas de metal, pela suave curvatura de sua parede cega
Ao final do jantar, os arquitetos combinaram um encontro na terça-
e, acima, pelo perímetro ondulado do piso do mezanino.
feira, para familiarizar Paul Wiener com o espaço do Pavilhão e, mais tarde,
Lester Wiener organizou a mostra de vários tipos de matérias primas:
Armando Vidal entrou na conversa para transmitir as demandas já existen-
grãos de café, erva mate, fibras têxteis, formas geométricas feitas das mais
tes de programação e produtos a serem mostrados.
variadas madeiras maciças brasileiras, borracha, cânhamo, objetos indígenas, enlatados de produtos típicos como palmito, soja, castanha-do-pará e
Carlos Martins Pereira e Souza, Paul Wiener, Edward Roosevelt, Oscar Correia, Oswaldo Aranha, John Harris, Arthur Sousa Dantas, Armando Vidal e outros no pavilhão brasileiro na Feira Mundial de Nova York.
de caju. A arte brasileira foi representada por uma réplica da escultura “Moça Reclinada”, de Celso Antônio, e por três grandes painéis de Candido Portinari: “Jangadas do Nordeste”, “Cena Gaúcha” e “São João”. Painéis fotográficos de Marcel Gautherot exibiam Ouro Preto, obras de Aleijadinho, o cosmopolita prédio da Associação Brasileira de Imprensa e as obras da sede do Ministério da Educação e Saúde. Uma vitrine continha livros de Machado de Assis, Gilberto Freyre, Manuel Bandeira, Rocha Pombo (historiador) e o tomo “Nova Política do Brasil”, de Getúlio Vargas. O presidente era também celebrado em busto esculpido por Hildegardo Leão Veloso.
Candido Portinari e Maria Martins na inauguração da exposição do pintor no Riverside Museum, anexo à Feira Mundial de Nova York, em 1940.
A exposição foi habilmente disposta por Wiener, de modo a desrespeitar o alinhamento da projeção do mezanino, acentuado a percepção dos vários planos do rico e múltiplo espaço interior. Em balcões distintos podia-se provar o cafezinho e o mate, apresentado como o chá brasileiro. Um bar servia doses generosas de cachaça com limão – a caipirinha. O lugar mais animado era o restaurante, cujo palco abrigava, todas as tardes, um espetáculo de música brasileira popular e erudita. Resolvendo um impasse entre Carmen Miranda e seu empresário norte-americano, no que tocava a levar para os Estados Unidos três músicos do seu conjunto de acompanhamento, o governo brasileiro pagou as passagens. Em contrapartida, “O bando da lua” foi incluído no programa de animação musical do Pavilhão durante os anos de 1939 e 1940.
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Exposição de livros brasileiros e de livros em inglês sobre o Brasil no Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova York, 1939-1940. Salão Nobre do Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova York, 1939-1940.
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Exposição Portinari no Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova York, 1939.
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PARTE 6
Ouro Preto Carlos Leão chamara seu primo, o poeta Vinicius de Moraes, para tomar um chope no Café Vermelhinho. Incomodava-lhe a reação de seu antigo sócio, Lucio Costa, recém-chegado de Nova York, ao projeto de um hotel em Ouro Preto, que Leão desenhara, por designação de Rodrigo Melo Franco, para a prefeitura da cidade. Sua intenção não fora, em absoluto, fazer um projeto neocolonial, mas seguir as linhas tipológicas básicas da arquitetura mineira, de modo a obter o mínimo de contraste e o máximo de integração. Nesse sentido, utilizou cobertura inclinada em telhas canal, pátio interno, janelas e portas em arco, fachadas revestidas em pedra no térreo e caiadas de branco no resto de sua extensão. Costa, não sem certo aborrecimento, apontara duas questões básicas: ficara de um tamanho muito maior do que as cons-
Terreno ao ar livre para construção do Grande Hotel de Ouro Preto. Fotomontagem do projeto de Carlos Leão para construção do Grande Hotel de Ouro Preto visto de cima, Ouro Preto.
truções ao seu redor, fazendo com que o hotel “pesasse” demais na ambiência da cidade; o segundo obstáculo, muito mais grave, era a possibilidade de o projeto ser considerado uma “capitulação moderna à corrente neocolonial”. Oscar Niemeyer havia sido encarregado, por Rodrigo, de ir a Ouro Preto para realizar novos estudos para o hotel. Isto não abalou muito Leão, mas incomodou-lhe a pecha de ter adotado uma solucão fácil para agradar os desejos da municipalidade mineira, pois a submissão ao gosto do cliente era uma das piores ofensas que se podia fazer a um arquiteto moderno. Vinicius pousou o cigarro no cinzeiro, sorveu um gole, limpou a espuma dos lábios e concordou, pois sabia que Leão sempre relutou muito em fazer projetos quando não lhe era dada completa liberdade, daí trabalhar mais para parentes e amigos que para clientes pagantes.86 O poeta pensou no paradoxo de os arquitetos modernos, apesar de exercerem atividade destinada ao uso coletivo, considerarem uma fraqueza levar em conta as preferências dos clientes. Veio à sua cabeça um ensaio de Ayn Rand, embrião do livro “The Fountainhead”: nele um arquiteto foi inocentado por ter provocado um incêndio em prédio popular de sua autoria, fortemente alterado em sua construção, para impedir que sua ideia original fosse deturpada. No entender do júri, o direito de autoria individual se impunha às conveniências coletivas alegadas pela empreendedora imobiliária e o des86. Depoimento de Vinicius de Moraes.
respeito à criação apagava o delito cometido pelo arquiteto. O dogma da autonomia demiúrgica da profissão servia para Rand como bandeira política do individualismo capitalista, mas tal crença persistia, igualmente, em meios
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modernos com ideais socializantes: Walter Gropius escreveu “Arquiteto: servo ou líder”, pregando um protagonismo profissional que deveria guiar os desejos espaciais e estéticos de uma sociedade à deriva. No entender do júri, o direito de autoria individual se impunha às conveniências coletivas alegadas pela empreendedora imobiliária e o desrespeito à criação apagava o delito cometido pelo autor do projeto original. O dogma da autonomia demiúrgica do arquiteto servia aqui como bandeira política do individualismo, mas ele persistia, igualmente, em meios com ideais socialistas: Walter Gropius escreveu “Arquiteto: servo ou líder”, pregando um protagonismo profissional que deveria guiar e fazer descobrir os desejos espaciais e estéticos de uma sociedade à deriva. O caso do Hotel de Ouro Preto gerou disputa no Serviço do Patrimônio, pois Renato Soeiro, arquiteto que anos mais tarde substituiria Rodrigo no comando da instituição, propôs, com apoio de vários colegas, o aproveitamento de prédios já existentes, com a união de seus espaços internos e a manutenção das fachadas. O terreno vazio, em declive, situava-se entre um grupo escolar do início do século XX, com feições ecléticas, e a Casa dos Contos, um dos mais importantes prédios da cidade. Niemeyer idealizou um grande bloco sobre pilotis, posicionado paralelo à rua, ao longo da maior extensão do terreno. Previa uma cobertura em laje plana plantada com grama, de modo que, vista de cima, da estrada de acesso a Ouro Preto, fosse confundida com a vegetação do solo. Argumentava Niemeyer ter lançado mão de processos construtivos contemporâneos à sua época, sem nenhuma preocupação de imitar a aparência das edificações antigas, pretendendo “que o novo hotel, em seu aspecto simples e despretensioso, se destacasse o menos possível na paisagem ouropretana”. Não agradou a Lucio o terraço-jardim pois, apesar de reconhecer “a pureza desta solução” e seu mimetismo quando visto do alto, acreditava que a utilização da cobertura em telhas se “enquadraria melhor no conjunto da cidade”. Escreveu uma carta a Rodrigo, na qual declarava que, “apesar de não desejar interferir no assunto, por razões particulares, reprovava a solução do terraço-jardim e recomendava a adoção da cobertura de telhas, que deveria Fotomontagem do projeto de Carlos Leão visto da Rua das Flores.
cobrir os pequenos terraços dos apartamentos, com treliças de madeira na fachada”. A feição final do hotel, de autoria de Oscar Niemeyer, incorporou essas alterações sugeridas por Lucio Costa após superado um certo antagonismo entre um modernismo radical defendido pelo primeiro e a solução do futuro urbanista de Brasília que incorporava alguns elementos da tradição local.
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Querela na repartição Apesar de ter passado parte da noite anterior jogando sinuca, no Lamas, com Oswald de Andrade, Oscar chegara cedo ao SPHAN, no mesmo edifício onde funcionava o escritório do projeto da nova sede do Ministério. O escritor e camarada comunista lhe encomendara uma pequena casa de campo, que Oscar já começava a imaginar: um trecho de dois andares para os quartos, cobertos por uma ampla meia-água reta, que no térreo assumia uma forma curva. Absorto, não reparou que haviam retirado de sua sala o painel de madeira onde pregara as fotos da maquete do hotel, ainda com o teto jardim. Dona Judite, secretária de Rodrigo, avisou que o diretor queria falar com ele. Na sala, Rodrigo lhe estendeu a mão e, com o outro braço, apontou as fotos do hotel, intrigado, uma vez que, no dia anterior, já conversara com ele pedindo-lhe que incorporasse as sugestões de Costa. Oscar riu e, docemente, falou que tampouco sabia como aquilo fora parar ali. Rodrigo respirou aliviado. Chegara a pensar que se tratava de uma insubordinação sua. Para atenuar o ambiente falaram da seleção brasileira, que disputava a Copa do Mundo na França, com esperanças de uma boa colocação. Ironizam que nem o fato de Alzira Vargas, filha de Getúlio, ter sido designada madrinha do time e tirado fotos com o astro Leônidas da Silva, na despedida no Catete, ajudaria a obter o campeonato mundial. Sobraçando o painel, Oscar voltou para a sua sala e esboçou uma pequena perspectiva da casa de Oswald de Andrade, colocando uma pintura em mural na entrada, alusiva às pinturas de Tarsila do Amaral, nos anos 1920.
Fotomontagem do primeiro projeto de Oscar Niemeyer visto da Rua das Flores, Ouro Preto.
Fotomontagem do primeiro projeto de Oscar Niemeyer com laje plana, visto de cima.
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Boa arquitetura Retornando do almoço, Niemeyer acendeu um cigarro e começou a elaborar um novo estudo para o hotel, desta vez com telhado inclinado em telhas de barro. Como seria seu hábito, daí para a frente, escreveu uma explicação do projeto, justificando a busca da harmonia com as antigas construções através da sempre lembrada semelhança entre as estruturas “tradicionais”, em pau a pique, e as “modernas”, em concreto armado. Os pilares haviam sido calculados com seções quadradas, de modo a “acentuar, dentro dos limites impostos pela boa arquitetura, sem recorrer a nenhum processo de simulação, a semelhança entre as duas técnicas”87. Descartada a hipótese “neocolonial”, os arquitetos do SPHAN se dividiram em duas correntes: os que defendiam a adaptação de um corredor de casas antigas – Renato Soeiro, apoiado por Thedim Barreto – e os adeptos da solução “moderna”– Costa, Souza Reis e Rocha Miranda, além de Niemeyer. Carlos Leão, após as fortes críticas à sua proposta, afastou-se das discussões. A matéria acabou tendo que ser submetida ao ministro Capanema, pois o prefeito Washington Dias e o governador Benedito Valladares já haviam sido mobilizados para a construção do projeto de Leão. O prefeito tornou-se, no decorrer do processo, um inesperado aliado do projeto de Niemeyer: apesar de preferir a solução “neocolonial”, nada lhe desagradou mais do que as
Capa de J. Carlos para a Revista Fon Fon, 1934. Oscar Niemeyer, Rio de Janeiro, 1941.
hipóteses, aventadas pelo SPHAN, do reaproveitamento de fachadas antigas ou, ainda, da construção de um projeto com características “modernas” fora dos limites da cidade88. Lucio defendeu, com ardor e refinamento, o projeto moderno: “Da mesma forma que um bom ventilador e telefone sobre uma mesa seiscentista ou do século XVIII não podem constituir motivo de constrangimento para os que gostam verdadeiramente de coisas antigas – só o novo-rico procura escondê-los ou fabricá-los no mesmo estilo para não destoarem do ambiente (...) A construção de um hotel moderno, de boa arquitetura, em nada prejudicará Ouro Preto.” Rodrigo e Lucio combinaram se encontrar, no sábado, longe da repartição, para terem mais liberdade na conversa. Na Taberna Alpina, no Leme, olhando o mar e em torno de pequenos sanduíches triangulares de queijo e copos de guaraná, Lucio forneceu a Rodrigo os argumentos que, depois colocados por escrito para o ministro, encerraram a discussão: “A boa arquitetura de um determinado período vai sempre bem com a de qualquer período anterior – o que não combina com coisa nenhuma é a falta de arquitetura.”
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87. Texto de Niemeyer que Rodrigo Melo Franco transcreveu, sem retoques, em sua carta de 30/09/39 ao ministro Capanema. 88. A opinião do prefeito de Ouro Preto é largamente citada pelo diretor do SPHAN em sua carta de 30/09/1939 ao ministro Capanema.
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Patadas do afogado Todas as quartas-feiras, por volta das duas da tarde, o contínuo do jornal “Diário de Notícias” ia até uma casa na rua Jardim Botânico e esperava na calçada que o mordomo lhe entregasse um envelope pardo, com o artigo escrito pelo dono da casa que seria publicado no dia seguinte. Projeto construído de Oscar Niemeyer com telhas de barro e varandas sugeridas por Lucio Costa, Ouro Preto. Projeto construído de Oscar Niemeyer, visto da Rua das Flores, Ouro Preto.
As colunas no matutino tornaram-se o veículo para José Marianno externar sua indignação contra os modernos, depois reunidas no volume “Debates sobre estética e urbanismo”. O projeto moderno da sede fora um duro golpe, mas a criação de um Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, com o anteprojeto de Mário de Andrade e predomínio absoluto de arquitetos modernos, foi tomado como ofensa pessoal ao próprio José Marianno que, durante anos, promovera uma produção ligada à história “nacional”. Homem de temperamento forte, sua pena não conhecia meios-tons: “Essa gente que induziu o ministro Capanema a encampar doutrinas antinacionalistas de Le Corbusier é a mesma que impôs à legendária Vila Rica um hotel moderno, com balcões de cimento e cobertura lageada.” Por vezes, “essa gente” era adjetivada com nomes bem mais pesados: “literatos extremistas”, “maçonaria futurista”, “derrotistas universais”, “judeus sem pátria”, “antinacionalistas mulatos”, todos eles designando Carlos Drummond de Andrade, Lucio Costa, Manuel Bandeira, Le Corbusier e Mário de Andrade. Outro alvo de José Mariano foi a construção de escolas em estilo “moderno”: “Estava organizada a quadrilha que ia explorar a indústria de edifícios públicos, com a senha de Le Corbusier. Se para envenenar o cérebro fulgente do ministro Capanema foi necessária uma turma inteira de poetas inimigos do estilo colonial, para dominar o cérebro opaco do prefeito Pedro Ernesto bastou a presença do comunista Anísio Teixeira.” Naquela tarde específica de quarta-feira chovia e, em vez de esperar na calçada, o mensageiro do “Diário de Notícias” entrou na cozinha do Solar Monjope, onde lhe foi servido um café. Não somente a chuva despertara tamanha hospitalidade: o rapaz teria de esperar dentro de casa porque Marianno ainda terminava, com a violência desesperada, seu artigo sobre a primeira revista do SPHAN: “Dentre as muitas e justificadas surpresas que me causaram a luxuosa publicação número 1, do Serviço do Patrimônio Artístico e Histórico da Nação, devo destacar a transcrição aureolada de referências elogiosas, de várias sentenças enfáticas do arquiteto Sr. Lucio Costa, nas quais ele se permite fazer conjecturas sobre o mérito da arquitetura
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tradicional brasileira, que ele cobrira de anátemas coruscantes, quando, para se 89. Artigo “Aumentando a confusão”, Diário de Notícias, 07/11/1937.
encarapitar na direção da EBA teve de fazer a apostasia da doutrina que abraçara (...) como se explica que em pleno sucesso da lucrativa carreira extratradicio-
PARTE 7
Joujoux e balangandãs
nalista, volte aquele senhor a reconsiderar a mísera arte do passado”.
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Houve grande burburinho em torno de Joujoux e balangandãs, um musical de Henrique Pongetti a partir da música de Lamartine Babo, o maior sucesso do carnaval de 1938. O espetáculo, promovido pela primeira-dama, Dona Darcy, reuniu cantores profissionais e amadores da “sociedade”, num espetáculo beneficente para a Casa do Pequeno Jornaleiro. Grande pompa cercou o evento, que teve a presença de Getúlio Vargas e de Henrique Dodsworth, prefeito do Distrito Federal. Lucio encontrou na correspondência uma carta, com dois convites, de seu ex-sócio, Fernando Valentim, responsável pelos cenário. Ficou feliz com a possibilidade de ver a peça com a mulher, pois gostava dos versos “Seja em Paris/ Ou nos Brasis/ Mesmo distantes/ Somos constantes/ Tudo nos une/ Que coisa rara/ No amor nada nos separa”. No intervalo, Leleta e Lucio encontraram, no saguão do Teatro Municipal, o repórter Antonio Callado, encarregado de cobrir o evento para o jornal “O Globo”. Este lhes sussurrou que estava achando um “abacaxi” a colagem de músicas, com a exceção de um jovem cantor com sotaque nordestino. Leleta concordou e perguntou-lhe o nome. Callado desdobrou uma folha do bolso interno do paletó e leu, no programa do espetáculo, Dorival Caymmi, assim como a informação que se tratava de um cantor de sucesso na Bahia, recémchegado ao Rio. Detalhe do Solar Monjope, casa de José Marianno, construído sobre a Chácara da Bica, Rio de Janeiro.
Lucio telefonou para Drummond e lhe propôs um almoço. Queria lhe contar sobre Nova York e, também, começar a preparar a sua saída do grupo de trabalho da sede do Ministério, uma vez que tudo seguia seu curso, os conservadores recolhidos e Niemeyer assumindo as rédeas do projeto. Lucio passou pelo gabinete, Drummond se levantou, ajeitou em três pilhas os papéis acumulados na mesa e, juntos, desceram no elevador. Decidiram caminhar até a Confeitaria Colombo para almoçarem sem interrupções. Subiram de elevador e se acomodaram no andar de cima, em mesa distante do pequeno conjunto de piano, violino e contrabaixo que animava a cena tocando clássicos da música popular internacional. Lucio contou-lhe sobre o pavilhão em Nova York, sua arquitetura sinuosa e os encontros com Alvar Aalto, mas não conseguiu entrar no assunto de seu afastamento da equipe, pois Drummond se antecipou e lhe falou de sua própria intenção de deixar a chefia de gabinete. Para o poeta, era apenas
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uma consequência natural de seu crescente desconforto com a posição – no Ministério, tinha de refrear qualquer manifestação contrária ao regime que
Relação com poder
passara a execrar. O seu emprego, como assessor de confiança de Capanema, além de possibilitar-lhe uma voz forte nos projetos, garantiu-lhe o sustento para fazer
Já na sobremesa, sorvete de baunilha com gaufrettes, Lucio disse a Drummond
poesia e apoiar outros escritores em necessidade. Se Ernest Hemingway o
que entendia sua decisão, admirava o modo impecável como ele se con-
tivesse conhecido, tê-lo-ia incluído ao lado de Ezra Pound como o literato
duzira, e observou como cada indivíduo lida, à sua maneira, com o poder
mais generoso que encontrara, sempre preocupado em resolver problemas
constituído. Sentado em mesa próxima à grade do balcão do primeiro andar,
de outros escritores impedidos do exercício da literatura.90 Pound convence-
Drummond tinha os olhos absortos na direção dos monumentais espelhos
ra a milionária Natalie Barney a abrir a fundação Bel Esprit, cuja primeira
do térreo da Confeitaria. Concordou com a dificuldade de lidar com autori-
campanha lograra safar T.S. Eliot da condição de bancário em Londres, per-
dades e se lembrou do que já ouvira a respeito de Graciliano Ramos e Mário
mitindo-lhe iniciar os Quatro Quartetos91.
de Andrade.
Em termos brasileiros, uma colocação no Serviço Público, por menor
O escritor alagoano era um caso extremo: o único a exercer um mandato
que fosse a remuneração, possibilitava o ofício intelectual no resto do tempo.
político, prefeito de Palmeira dos Índios, fora encarcerado por longo tempo.
De acordo com Albert Camus, “dar um pouco de sua vida para não perdê-la
Já em liberdade, Graciliano Ramos aceitara colaborar na revista “Cultura po-
completamente. Seis ou oito horas por dia para não morrer de fome. E de-
lítica” e fez uma visita ao Ministério, assim descrita em carta para a sua
pois tudo é lucro para quem sabe lucrar”.92
90. “A moveable feast”, p.177-179.
mulher Heloísa: “Vi lá, num corredor, o nariz e o beiço caído de S. Exa. o Sr.
Com o apoio de Drummond e o poder de Gustavo Capanema, em 1938
Gustavo Capanema. Zé Lins acha excelente a nossa desorganização, que faz
Manuel Bandeira foi nomeado professor do Colégio Pedro II; em 1936,
que um sujeito esteja na Colônia96 hoje e fale com o ministro amanhã; eu
Mário de Andrade escreveu o anteprojeto do serviço do Patrimônio, de quem
acho ruim a mencionada desorganização que pode mandar para a Colônia o
foi representante em São Paulo de 1937 a 1938: em seu exílio carioca de 1938
sujeito que falou com o ministro.”97
a 194093, foi nomeado professor da Faculdade de Filosofia do Distrito Federal.
Mário de Andrade, em carta a Sérgio Milliet, detalhou: “Quando aceitei
Com o endurecimento da ditadura Vargas, Carlos Drummond se apro-
a diretoria do Departamento de Cultura, resolvi logo, contando que lidaria
ximava de seu limite: “Como irei me equilibrar entre duas posições, man-
com grandes personalidades da cultura, da arte e da política, escrever um
tendo-me igual a mim mesmo”94, escrevendo “Sentimento do mundo” e
diário de diretor, relatando os fatos e a minha impressão dos indivíduos.
tratando do dia a dia da burocracia ministerial? Por mais que soubesse servir
(...) Um dia reli o já escrito, fiquei simplesmente horrorizado. Não creio que
92. “A desmedida na medida”, p.28.
sob a ditadura e não a ela, guardara, meditara e tornara suas as palavras de
seja um despeitado da vida e nem sequer um homem ruim. Mas o que con-
93. “Mário de Andrade – exílio no Rio”.
Mário de Andrade: “O intelectual, o artista, por sua natureza, pela sua defi-
tava ali, os casos, as palavras alheias, a ambição, a maldade, a intriga, a estu-
94. “O observador no escritório”, p.53.
nição mesma de não conformista, não pode perder sua profissão se dupli-
pidez, a safadeza davam àquelas memórias fidelíssimas um ar absurdo de
95. “O observador no escritório”, p.39.
cando na profissão de político.”95
mentira. (...) Parei com as memórias.”98
91. “Burnt Norton” (1936), “East Coker” (1940), “The dry salvages” (1941) e “Little Gidding” (1942).
O autor de “Macunaíma” sentia-se muito constrangido no trato com autoridades, preferindo a eles se dirigir por escrito, pois teria “menos propensão ao consentimento”. Apesar de se tratarem por você, confidenciara a Capanema, depois de almoçarem na galeria Cruzeiro: Tenho uma espécie
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de defeito de alma que me põe sempre demasiadamente subalterno diante
96. Colônia Penal de Ilha Grande.
das pessoas altamente colocadas. Por mais amizade que tenha e liberdade
97. “Mário de Andrade – exílio no Rio” p.42-43.
que tome consigo, sempre é certo que diante de você não esqueço o minis-
98. “Mário de Andrade – exílio no Rio”, p.63.
tro, que me assusta, me diminui e me subalterniza.”
99. “Mário de Andrade – exílio no Rio”, p.35.
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Na Colombo, o poeta e o arquiteto só se deram conta do adiantado da hora quando perceberam que os garçons colocavam novas toalhas para o chá vespertino. Já era tarde para voltar à repartição. Naquele dia, Lucio deixara o carro para revisão e seguiu com Drummond para a fila do Castelo, esperando, ambos resignados, a chegada do ônibus 2, que não apareceria nunca. Lucio deixaria meses depois o grupo de arquitetos enquanto Drummond só se afastaria em abril de 1945, já no prédio inaugurado, como relatou em seu diário: “Deixei ontem meu posto no gabinete de Capanema. Desfecho natural da situação criada pela volta das atividades políticas no país. Meu chefe e amigo, cheio de compreensão e afeto, despede-se de mim oferecendo-me uma preciosidade bibliográfica: a edição das ‘Memórias póstumas de Brás Cubas’, com sete águas-fortes originais de Portinari, feita para os Cem
100. “O observador no escritório”, p.45-46.
Bibliófilos do Brasil. E quer que eu preste serviços ao PHAN, sob direção de nosso Rodrigo.”100
Colunatas e painel de azulejos de Candido Portinari no edifício do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, 1946. Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, circa 1950.
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Chuva
votaram ao repúdio do ar, da luz, da liberdade.”102 Não poucos articulistas dirigiram suas críticas ao custo da construção, qualificando-a de suntuosa, como no editorial “Mania de grandeza” do jornal “A notícia”; outros arvoravam-se em propor outra ocupação espacial: “Não se sabe por que delírio de
Naquele incomum dia de inverno, em 1939, o circular Leblon-Castelo avan-
grandeza estão inutilizando enorme área de terreno caríssimo, estendendo,
çava nas ruas de uma cidade sem paisagem, uma vez que a bruma cobria as
de um lado, um auditório que poderia ficar no corpo do próprio edifício:
montanhas e impedia a visão do mar. Uma fina e oblíqua chuva de vento
exemplo da própria ABI.”103
obrigava que os passageiros fechassem as janelas, transformando seu interior numa cápsula impregnada dos cheiros de tabaco, tangerina e suor. Lucio Costa desceu na avenida Rio Branco e inclinou o guarda-chuva para evitar se molhar nos três quarteirões que teria de percorrer até o prédio
Costa tentou continuar o detalhamento das esquadrias da Casa Saavedra, mas não conseguiu mais se concentrar. Levantou-se, tomou um copo d’água,
102. “O imparcial” de 7 de janeiro de 1939.
sentou-se, tirou um papel branco da gaveta e, a lápis, começou a esboçar
103. Obras de Santa Ingrácia.
uma carta que levaria a seu encontro com o Ministro.
de seu novo ateliê. Ainda no corredor, o arquiteto despiu-se da capa de chuva, procurou as chaves no bolso e, entrando no escritório, encaminhou-se para a prancheta, de modo a retomar o detalhamento dos projetos das casas Saavedra, em Petrópolis, e Hungria Machado, no Leblon. Chamou a sua atenção um pequeno retângulo branco de papel, que sobressaía no tampo escuro da mesa de trabalho. No dia anterior, Costa, concentrado nos desenhos das residências, deixara para abrir esse envelope mais tarde e acabara se esquecendo de fazê-lo. Sua falta de pressa decorria também de haver reconhecido o timbre circular azul no canto superior direito do envelope. Tratava-se de correspondência do gabinete de Capanema e o arquiteto se esforçava para mudar seu foco para novos planos, uma vez que pensava já haver cumprido seu papel no atribulado processo da sede ministerial, que depois chamaria de “guerra santa”. Dentro do sobrescrito, num papel com as letras bem desenhadas de Carlos Drummond, era transmitido que o ministro não abria mão de sua colaboração, uma vez que a sua presença havia sido (e continuava sendo) imprescindível para conferir ao projeto a indispensável segurança na adoção das linhas revolucionárias da nova sede. Drummond havia recebido um bilhete de Capanema, no qual pedia para transmitir a Lucio que só aceitaria o projeto “porque ele me convenceu de que o devia aceitar e não darei um passo sem ele, no que toca à escolha de revestimentos, jardim e obra de arte”101. O poeta lhe propunha uma visita de Costa a Capanema para, juntos, discutirem alguns pontos como a defesa do orçamento do projeto e a escolha definitiva das obras de arte integradas ao prédio. Ainda que a escolha do projeto moderno fosse irreversível, seus críticos 101. Bilhete de Gustavo Capanema a Carlos Drummond (setembro de 1937) apud Lissovsky e Sá, p.152.
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atacavam suas formas já detectáveis na construção, como no artigo “Anarquia
Salão nobre com painel de Protinari e tapete atribuído a Oscar Niemeyer.
Arquitetônica”: “O palácio de Educação e Saúde é um imenso poleiro, com uma cauda de pavão. O da ABI mais parece uma sinagoga de judeus, que se
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Panorama do centro carioca destacando-se da esquerda para a direita: Sede da Academia Brasileira de Letras, Igreja de Santa Luzia, o Ministério da Educação, em fase de acabamento, e a sede do Ministério do Trabalho.
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Aspectos da construção do edifício do Ministério da Educação Saúde, Rio de Janeiro. Fachada com os brises soleils em construção, 1942.
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Terraço-jardim na cobertura do prédio, 1947. Da esquerda para a direita: Igreja de Santa Luzia, Ministério da Educação e Saúde em construção, e Ministério do Trabalho, Rio de Janeiro, 1941.
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Gustavo Capanema, Getúlio Vargas, Lourival Fontes e outros, durante a solenidade de inauguração do edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, outubro de 1945. Ataulfo de Paiva, Odilon Braga, Gastão Soares de Moura Filho, Ademar Siqueira, Gustavo Capanema, Carlos Drummond de Andrade, Edgar Roquette-Pinto, Raimundo Peregrino Junior, entre outros, por ocasião do lançamento da pedra fundamental do edifício do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, abril de 1937. Fachada norte do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, 1946.
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Vistas interna e externa dos brises soleils.
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Pobre ou barato Maria Helena, recém-casada com o arquiteto Alcides Rocha Miranda, fechou a porta do jardim, na rua Dona Carlota, em Botafogo, e seguiu para o Centro. Dirigiu-se à Confeitaria Colombo para comprar vinho do Porto e petits fours que se juntariam aos sanduíches de queijo na comemoração do aniversário de seu marido. Receberiam alguns casais amigos, dentre os quais Leleta e Lucio, Graciema e Rodrigo, colega e chefe na repartição pública do Instituto do Patrimônio. Essa festa era um dos pequenos luxos que o salário escasso de Alcides permitia. Trabalhar no Serviço do Patrimônio era prestigioso mas forçava a complementação da renda com tarefas autônomas de arquiteto, possíveis graças à flexibilidade de horário e à necessidade de viagens para descobrir monumentos fora da capital federal. Após quinze dias em Minas Gerais, Alcides retornaria na véspera de seu aniversário e permaneceria a outra metade do mês no Rio desenvolvendo projetos de novas construções. A poucos blocos dali, Lucio terminou a carta que enviaria a Capanema104, antes mesmo de encontrá-lo, justificando os custos da obra. Um dos seus mais fortes argumentos era a necessidade de usar materiais de qualidade que fornecessem nobreza às formas puras dos palácios e, no futuro, dignidade quando elas envelhecessem. Inevitável lembrar da conversa que, no ano anterior, tivera com o antropólogo Lévi-Strauss a respeito das cidades brasileiras, que passariam do viço à decrepitude sem parar na idade avançada. O europeu, professor na USP, impressionou-se com a igual velocidade com que São Paulo crescia e perecia. Em suas palavras: “Certas cidades da Europa adormecem suavemente na morte; as do Novo Mundo vivem febrilmente uma doença crônica; eternamente jovens, jamais são saudáveis, porém.”105 Costa escreveu a Capanema que deviam evitar “a impressão penosa que todos temos sentido quando, depois de uma permanência regularmente prolongada na Europa, nos Estados Unidos ou na Argentina, tornamos a ver nossos edifícios públicos, impressão esta não de coisa pobre – que a pobreza não exclui muitas vezes certa dignidade – mas de coisa ‘barata’”. Um acabamento de qualidade acarretava uma despesa maior imedia104. Informe de Lucio Costa a Gustavo Capanema em outubro de 1939 apud Lissovsky e Sá, p.164.
ta, mas possibilitava economizar nos custos futuros de manutenção. Outro
105. “Tristes trópicos”, p.102-103.
continuou Lucio, mas “não se compreenderia, na verdade, que o Ministério
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fator de elevação de preço eram as muitas pinturas e esculturas previstas,
Jardim no andar do Ministro, Roberto Burle Marx, 1946.
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a cujo cargo estão a proteção e o desenvolvimento das artes plásticas no país se abstivesse de, na construção do edifício destinado à própria sede, apresen-
Capítulo encerrado
tá-las condignamente”. Finalizando a missiva, Costa apontou a burocracia como um dos mais destacados fatores de encarecimento, ao dificultar “o desembaraço das ver-
No dia seguinte, antes de rumar para o trabalho, Lucio Costa deixou o car-
bas indispensáveis”, ocasionando a frequente paralisação total ou parcial
ro Lancia para revisão, na rua Álvaro Ramos. Ligou então para um jovem
dos serviços.
topógrafo, seu colaborador, avisando que, uma vez em Botafogo, daria um
Aliviado de terminar a necessária mas maçante correspondência, Lucio
pulo à casa dele, na rua Dezenove de Fevereiro, de modo a discutirem a
a releu, colocou-a num envelope, levantou-se, vestiu o paletó e rumou para a
implantação do projeto para a cidade operária de Monlevade. Na realidade,
casa de Maria Helena e Alcides onde, certamente, regados a vinho do Porto,
essa conversa poderia esperar, mas lhe preocupou a tristeza depressiva que
assuntos mais amenos e instigantes prevaleceriam.
se instalara há meses no jovem, desde o rompimento do casamento e a saída de casa de sua mulher com o filho pequeno. Lucio tocou a campanhia do apartamento térreo, saudou o rapaz, entrou, aceitou um copo d’água e proclamou: “Não sei para a sua vida, mas, para o apartamento, essa separação fez um bem danado: está mais espaçoso e aquela bergère que sua mulher levou não combinava nada com esta cadeira do Marcel Breuer...” Era o modo que encontrara para animá-lo sem invadir a sua intimidade. O jovem entendeu a delicadeza e abriu um leve sorriso. Já no automóvel, o arquiteto rumou para o Centro, avistando o perfil da obra do Ministério, que sobressaía entre o perfil dos demais edifícios de estilos históricos ou art déco. Não havia precedente de tamanha mudança na arquitetura em tão curto espaço de tempo: “As marchas e contramarchas, os obstáculos, as contrariedades, tudo valeu a pena. Mesmo esta decisão de me afastar da obra quando senti que já perdia o poder de decisão e que, portanto, a minha presença tolhia os demais”.106 Dirigia-se, naquele dia, não para o SPHAN, onde era diretor do mais importante departamento – de Estudos e Tombamentos –, mas para a obra do ministério, pois Oscar lhe chamara para opinar sobre a cor dos peitoris da fachada norte. Niemeyer os pensava azuis como as lâminas do quebra-sol, mas “juntos descemos pela avenida Graça Aranha, a fim de ajuizar a distância, e me pareceu melhor fazê-los cinza, conforme felizmente ficaram.
Ministério da Educação e Saúde e, ao fundo, o Ministério do Trabalho, 1946.
Com essa pequena e derradeira escolha, dei por encerrado este capítulo de minha vida profissional”. 107 Lembrou-se do episódio, meses antes, da colocação dos primeiros elementos da fachada envidraçada na rua Araújo Porto Alegre. Oscar e ele se protegeram embaixo de uma árvore da rua interditada e assistiram, entre
106. “Registro de uma vivência”.
assustados e orgulhosos, aquela fina pele monumental ser assentada. Agora,
107. “Registro de uma vivência”.
seguros da tecnologia que implantavam, se ocupavam de decidir, apenas, pequenas nuances de cor.
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Sentia-se realizado pois conseguira, na prática, fazer o que havia se pro108. “Registro de uma vivência”.
posto, na década anterior, ao tentar mudar o ensino: “A adequação da arqui-
De LC para LC
tetura à nova tecnologia construtiva do aço e do concreto armado.”108 Não foi, todavia, um capítulo totalmente encerrado para Lucio Costa pois ele teve que se interpor a Le Corbusier sobre a autoria do projeto executado. Em 13 de setembro de 1937, depois de receber o jogo de plantas do novo projeto Le Corbusier, escreveu a Costa: “Seu palácio do Ministério da Educação e da Saúde Pública me parece excelente. (...) Está sendo construído, esse palácio? Sim? Tanto melhor, então; e ele será belo. Será como uma pérola em meio à mediocridade agáchica. Meus parabéns, meu OK (como vocês pedem).” A correspondência fora interrompida com o agravamento da guerra. Um ano depois da ocupação nazista, o arquiteto desistiu de morar no pesadelo que se tornara Paris. Em 11 de junho de 1941 o escritório na 35 rue de Sèvres foi fechado. Le Corbusier partiu para Ozon, no sudoeste, departamento Hautes-Pyrènées. Acompanharam-lhe sua mulher Yvonne, o cachorro Pinceau e seu primo, parceiro e chefe do escritório Pierre Jeanneret. Dali se mudaram para Vichy, capital da França “livre”, sob a presidência do marechal Phillipe Pétain que implantou um regime simpático aos nazistas, baseado no triângulo “Trabalho, Família e Pátria”. A partir da sua inauguração, o Palácio Capanema apareceu nas principais publicações de arquitetura internacionais e no livro “Brazil Builds”, geralmente omitindo a participação pessoal de Le Corbusier, o que o enfureceu. Por isso, produziu um desenho baseado na maquete que lhe fora enviada e o assinou, incluindo-o numa publicação como um trabalho só seu. Ao ver tal imagem impressa, Costa não hesitou em escrever nova carta ao mestre, em 1949, sob o título “Acerto de contas”. Incluiu uma foto da inscrição gravada no prédio onde se lê, depois da autoria, “segundo risco À direita Lucio Costa e Oscar Niemeyer em visita à sobreloja do Ministério da Educação e Cultura, Rio de Janeiro, na década de 1950.
original de Le Corbusier”. E adicionou: “Se a floração é bela, deveria lhe dar prazer, pois o tronco e as raízes são você.” Tocou no delicado problema dos honorários reclamados: “Permito-me levar ao seu conhecimento que durante os quatro meses de sua estadia aqui, recebeu mais de que nós outros durante os seis anos que durou o trabalho.” Despediu-se com “Bien à vous, LC”, mas não se furtou de incluir um post sriptum: “O esboço feito a posteriori, baseado em fotos do edifício construído, e que você publicou como se tratasse de proposição original, nos causou a todos uma penosa impressão.”
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Um ano depois, em 1950, chegou um exemplar da revista “Modulor” ao prédio da Delfim Moreira, onde morava Costa, que se destacava na orla do Leblon. Na folha de rosto estava a dedicatória: “Pour Lucio Costa, l’homme de coeur et d’esprit avec mon amitié Le Corbusier.” Estava selada, para sempre, uma relação fraterna entre iguais, de LC para LC.
Oscar Niemeyer. Lucio Costa.
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Mudança para o prédio
Ali, muitas foram as trocas de ideias, “camaradagem dentro da discrição natural dos temperamentos” e um silêncio assemelhado aos das igrejas. Naquela sala nasceram os primeiros riscos de Brasília e alguns dos melhores poemas de Drummond.
Em cinco de abril de 1944, a 19 dias de a obra completar sete anos de duração, o gabinete do ministro saiu dos acanhados espaços no 160 andar do edifício Rex para o novo prédio do Castelo. Carlos Drummond registrou a mudança em seu diário: “Dias de adaptação à luz intensa e natural, que substitui as lâmpadas acesas durante o dia; às divisórias baixas de madeira, em lugar das paredes; aos móveis padronizados (antes obedeciam à fantasia dos diretores ou ao acaso dos fornecimentos). Novos hábitos são ensaiados. Da falta de conforto durante anos devemos passar a condições ideais de trabalho. Abgar Renault, do gabinete de Capanema, resmungou discretamente: ‘Prefiro o antigo...’” Opinião que não era exclusividade sua. Manuel Bandeira se assustara com a reação de Alberto Childe, egiptólogo e conservador-chefe do Museu Nacional do Rio de Janeiro, que numa reunião do PHAN, confessoulhe passar mal naquela sede alegre e clara do Ministério. Mas, ponderou Bandeira, “Childe era em tudo um homem de direita e não gostava do moderno nem o compreendia”.109 A reação do público mais amplo não foi muito diversa, pois o Palácio, completa novidade para a época, de todos chamava a atenção. E, acostumados a ver formas referidas ao corpo humano ou à natureza nos prédios ecléticos, buscavam semelhanças com objetos conhecidos. A forma prismática da lâmina vertical, encimada pelos volumes azuis curvos dos blocos da caixa d’água, lembrou a muitos o formato dos navios japoneses – Maru – que faziam o trajeto para o Rio. Desse modo um dos apelidos mais difundidos do Palácio foi Capanema Maru. O prédio suspenso pelas colunas ofereceu um grande jardim para a cidade. Considerado por muitos desperdício de terreno ou, pior, falta de bases sólidas fincadas no solo. Das amplas vidraças do décimo andar, no seu novo escritório, o poeta Carlos Drummond observou a baía de Guanabara sobressaindo na massa cinza das construções. No terraço-jardim, viu a escultura da Mulher Reclinada, de Celso Antônio, que “conserva entre o ventre e as coxas um pouco da água
Fachada do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, 1930.
da última chuva, que os passarinhos vêm beber, e é uma graça a conversão do sexo de granito em fonte natural”. A vida profissional reuniria, no mesmo canto de sala do oitavo andar, durante cerca de doze anos, os dois principais idealizadores do Palácio 109. “Itinerário de Pasárgada”, p.107.
Capanema. Entre a divisão de madeira e os arquivos de metal, estavam as duas mesas: Drummond era chefe do setor de História, subordinado a Lucio que, no entanto, preferia se intitular consultor de Rodrigo Melo Franco.
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Visita anos sessenta Oscar subiu ao oitavo andar para encontrar Lucio pois dariam, juntos, uma entrevista sobre o prédio. Entrou na sala que este compartilhava com Drummond e percebeu que os dois estavam muito agasalhados, apesar da temperatura em torno dos vinte graus. Riu e perguntou-lhes por que tanto frio, uma vez que estavam dois graus acima da temperatura ideal preconizada por Le Corbusier. Costa, com olhar matreiro, retrucou se ele havia acreditado nisso: a temperatura não era, como quase tudo, um valor absoluto, pois dependia da relação com aquela do exterior; para um siberiano dezoito graus era tórrido, para os cariocas, a verdadeira Sibéria.
Detalhe fachada norte do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, 1946. Lucio Costa e Oscar Niemeyer.
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capa Marcel Gautherot. Aspectos do edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde, bem como dos seus arredores, Rio de Janeiro, entre 1937 e 1956, 6 x 9 cm a 25 x 30 cm. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 1 Autoria indeterminada. Zeppelin sobrevoando a capital do Brasil, Rio de Janeiro, 1929. Ilustração Brasileira, Rio de Janeiro. Coleção Particular, Rio de Janeiro pag. 2 - 3 Le Corbusier. Esboço do Palácio Capanema, Rio de Janeiro, 1936. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Fotografia de Jaime Acioli ©Autvis, 2014 pag. 4 - 5 Le Corbusier. [Mulatas], 1936, desenho em carnet de notas. Fondation Le Corbusier, Paris ©FLC/Autvis, 2014 pag. 6 Julieta Sobral. Pilotis do Palácio Capanema, s.d. Acervo Casa de Lucio Costa, Rio de Janeiro pag. 8 Genevieve Naylor. Avenida Atlântica, Rio de Janeiro, 1941. Coleção Genevieve Naylor, Nova York pag. 10 John Rawlings. Retrato de Maria Martins com joias de sua autoria dispostas por Marcel Duchamp. In Vogue USA, julho de 1944. Museum of Modern Art (MoMA), Nova York. Calvin Tomkins Papers, IV.D.36. The Museum of Modern Art Archives, Nova York. Cortesia Vogue © 1944 (renovado 1972) by the Condé Nast Publications, Inc. © 2014. Imagem digital, The Museum of Modern Art, Nova York/Scala, Florença pag. 12 Capa do livro “Brazil Builds Architecture New And Old 1652-1942”. Capa de Philip L. Goodwin. Museum of Modern Art, Nova York, 1943. Coleção Particular, Rio de Janeiro
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pag. 13 Autoria indeterminada. Retrato de Antoine de Saint-Exupéry e Henri Guillaumet, Argentina, 1930. Coleção Fondation Antoine de Saint-Exupéry, Paris © Espólio de Antoine de Saint-Exupéry pag. 15 Autoria indeterminada. Inauguração do apartamento cobertura do irmão de Cícero Dias, reformado por Gregori Warchavchik, em Copacabana, Rio de Janeiro na década de 1930. Acervo Casa de Lucio Costa, Rio de Janeiro pag. 16 Genevieve Naylor. Ateliê de um fotógrafo no Rio de Janeiro, destacando-se a foto oficial de Getúlio Vargas e um perfil do ditador português António de Oliveira Salazar, 1941. Coleção Genevieve Naylor, Nova York pag. 18 Genevieve Naylor. Retrato de Carlos Drummond de Andrade, Rio de Janeiro, 1941. Coleção Genevieve Naylor, Nova York pag. 21 Autoria indeterminada. Leiteria Mineira e Bar Nacional, Galeria Cruzeiro, Rio de Janeiro, junho de 1957. Foto Arquivo/Agência O Globo, Rio de Janeiro pag. 22 [acima] Tomás Santa Rosa. Capa de José Lins do Rego. “Fogo morto”. Livraria e Editor José Olympio, Rio de Janeiro, 1943, 1ª edição. Coleção Particular, Rio de Janeiro pag. 22 [abaixo] Autoria indeterminada. Capa de Vinicius de Moraes. “Forma e exegese”. Irmãos Pongetti, Rio de Janeiro, 1935, 1a Edição. VM Cultural, Rio de Janeiro pag. 24 Autoria indeterminada. Retrato de Gustavo Capanema, circa 1930. Fondation Le Corbusier, Paris pag. 25 Eric Hess. Retrato de Lucio Costa, Rodrigo Melo Franco de Andrade, entre outros, circa 1940. Acervo Casa de Lucio Costa, Rio de Janeiro
pag. 26 Autoria indeterminada. Retrato de Gustavo Barroso, atrás à esquerda, entre membros do Integralismo, Taubaté, década de 1930. Acervo Iconographia, São Paulo
pag. 33 Eugène Atget. Le quartier Saint-Thomas d’Acquin. Balcon Hôtel de Ségur: 97 Rue du Bac., Paris, circa 1910. Bibliothèque nationale de France, Paris
pag. 27 Autoria indeterminada. Cartaz Integralista, circa 1930. Acervo Iconographia, São Paulo
pag. 35 John Grierson e Alberto Cavalcanti. Fotografia de “Coal face”, 1936. Acervo da Cinemateca Brasileira, São Paulo
pag. 28 Autoria indeterminada. Retrato de Leleta (Julieta Modesto Guimarães Costa) e Lucio Costa na Lancia – Lambda, a caminho de Correias, Petrópolis, 1930-1939. Acervo Casa de Lucio Costa, Rio de Janeiro
pag. 36 Lucio Costa e Gregori Warchavchik. Apartamentos Econômicos Gamboa. Planta e perspectiva exteriores, Rio de Janeiro, 1932. In Revista da Directoria de Engenharia. Acervo Casa de Lucio Costa, Rio de Janeiro
pag. 29 Autoria indeterminada. Retrato de Heitor Villa-Lobos, Getúlio Vargas, Arminda e Julieta Strutt, Rio de Janeiro, década de 1950. Museu Villa- Lobos, Rio de Janeiro
pag. 37 Alberto Cavalcanti. Fotografia de “Rien que les heures”, 1926. Acervo da Cinemateca Brasileira, São Paulo
pag. 30 Affonso Eduardo Reidy et al. Desenho do projeto original para o Ministério da Educação e Saúde, antes da consultoria de Le Corbusier. Rio de Janeiro, 1935. In Correio da Manhã. Arquivo Nacional, Rio de Janeiro pag. 31 Autoria indeterminada. Concentração orfeônica de cerca de 40 mil estudantes no Campo do Vasco da Gama, regidos por Heitor Villa-Lobos, Rio de Janeiro, maio de 1942. Acervo Iconographia, São Paulo pag. 32 [acima] Anúncio da Maison Sennelier. In “La Semaine parisienne: Paris-guide: journal hebdomadaire paraissant le samedi: tout ce qui se voit, tout ce qui s’entend à Paris” / [gérant: Ch. Prévost], [s.n.] (Paris), 1922-1922. Bibliothèque nationale de France, Paris, département Droit, économie, politique, JO-82696 pag. 32 [abaixo] Autoria indeterminada Igor Stravinski, circa 1930. Coleção Particular Arquivos Charmet/Bridgeman Images, Londres
pag. 38 Autoria indeterminada. Retrato de Lucio Costa, s.l., década de 1930. Acervo Casa de Lucio Costa, Rio de Janeiro pag. 40 Epaminondas. Retrato de Gustavo Capanema, Getúlio Vargas, Cândido Rondon, Gustavo Barroso e outros, por ocasião da inauguração de uma nova sala no Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, 1945. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 41 Autoria indeterminada. Horário de voo do LZ 127 Graf Zeppelin para a América do Sul, 1934. The Cooper Collection of Zeppelin Postal History. Wikimedia Commons pag. 42 Le Corbusier. Pavilhão do Espírito Novo (L´Esprit Nouveau), projetado por Le Corbusier e apresentado na Exposição Internacional de Paris, 1924. Fondation Le Corbusier, Paris ©FLC/Autvis, 2014
pag. 44 The Studio. Le Corbusier. Aircraft. The New Vision, 1935. The Studio Publications (coleção The New Vision): Nova York, 1935. Fondation Le Corbusier, Paris pag. 46 Autoria indeterminada. Escola Alemã. Diagrama da cabine de passageiros do LZ 127 Graf Zeppelin (Deutsches Luftschiff Zeppelin #127), 1932, litografia. Coleção Particular / Bridgeman Images, Londres pag. 47 Autoria indeterminada. O dirigível LZ 127 Graf Zeppelin (Deutsches Luftschiff Zeppelin #127), Rio de Janeiro, 1930. Arquivo George Ermakoff, Rio de Janeiro pag. 49 [acima] Autoria indeterminada. Sala de refeições do LZ 127 Graf Zeppelin (Deutsches Luftschiff Zeppelin #127 ),1933. In “Zeppelin-Weltfahrten, Vom ersten Luftschiff 1899 bis zu den Fahrten des LZ127 “Graf Zepplin” 1932”, Dresden, 1933. Foto The Print Collector/ Heritage-Images/Scala, Florença pag. 49 [abaixo] Autoria indeterminada. Cabine de comando do LZ 127 Graf Zeppelin (Deutsches Luftschiff Zeppelin #127), 1933. In “Zeppelin-Weltfahrten, Vom ersten Luftschiff 1899 bis zu den Fahrten des LZ127 “Graf Zepplin” 1932”, Dresden, 1933. Foto The Print Collector/HeritageImages/Scala, Florença pag. 50 Le Corbusier, autoretrato com Joséphine Baker no Rio de Janeiro, 1929, desenho a cores. Fondation Le Corbusier, Paris ©FLC/Autvis, 2014 pag. 52 Autoria indeterminada. Engenho Paul, Palmares, Pernambuco, década de 1930. Coleção Particular, Rio de Janeiro. pag. 54 - 55 Autoria indeterminada. Dirigível LZ 127 Graf Zeppelin (Deutsches Luftschiff Zeppelin #127), Recife, década de 1930. Acervo Iconographia, São Paulo
pag. 57 Autoria indeterminada. Avenida Atlântica, Rio de Janeiro, circa 1935. Arquivo George Ermakoff, Rio de Janeiro pag. 58 Leonar. Vista da Praia do Flamengo e Pão de Açúcar, com o dirigível LZ 127 Graf Zeppelin (Deutsches Luftschiff Zeppelin #127), Rio de Janeiro, 1930, cartão-postal emulsionado (fotomontagem), 9 x 14 cm. Arquivo José Maria Whitaker. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 60 Autoria indeterminada. Retrato Le Corbusier e Alberto Monteiro de Carvalho, Rio de Janeiro, 1929. Fondation Le Corbusier, Paris ©FLC/ Autvis, 2014 pag. 61 Autoria indeterminada. Ao fundo a Esplanada, obtida com o desmonte do Morro do Castelo, onde se construiriam os ministérios do Estado Novo – Trabalho, Educação e Saúde, e Fazenda – Rio de Janeiro, década de 1930. Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro pag. 62 Stefan Rosembauer. Fachada principal do Ministério da Fazenda, Rio de Janeiro, década de 1930. In Azambuja, Ari Fontoura de. “Relatório da construção do edifício sede do Ministério da Fazenda apresentado ao Exmo. Sr. Artur de Souza Costa, D.D. Ministro dos Negócios da Fazenda pelo Eng. Civil Ari Fontoura de Azambuja”. S.n: [Rio de Janeiro?], 1944, s.p. Biblioteca e Museu do Ministério da Fazenda, Rio de Janeiro. Fotografia de Jaime Acioli pag. 63 Autoria indeterminada. Sedes do Ministério do Trabalho e da Fazenda, Rio de Janeiro, circa 1944. A fotografia compõe “boneca” e integra o projeto de um livro denominado por Gustavo Capanema “A obra getuliana”, que não chegou a ser publicado. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro
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pag. 65 José Olympio Livraria e Editora. Logomarca da José Olympio Livraria e Editora, Rio de Janeiro, s.d. In José Lins do Rego. “Fogo morto”. José Olympio Editora: Rio de Janeiro, 1943, 1a. Edição. Coleção Particular, Rio de Janeiro pag. 66 Thielle. Fachada do Hotel Glória, Rio de Janeiro, década de 1930. Arquivo George Ermakoff, Rio de Janeiro pag. 67 Augusto Malta. Hotel Avenida, Rio de Janeiro, década de 1930. Fundação Museu da Imagem e do Som, Rio de Janeiro pag. 68 Humberto Mauro e Edgard Brasil. Fotografia de “Sangue mineiro”, 1929. Solar Monjope, casa de José Marianno, construído sobre a Chácara da Bica, Rio de Janeiro. Acervo Cinemateca Brasileira, São Paulo pag. 71 Autoria indeterminada. Retrato de Raimundo Padilha discursando por, Plínio Salgado, à esquerda, e Gustavo Barroso em 1937. Acervo Iconographia, São Paulo pag. 72 Autoria indeterminada. Edgar Brasil filmando Bonequinha de Seda, de autoria e direção de Oduvaldo Vianna, estrelado por Gilda de Abreu e produzido pela Cinédia, Rio de Janeiro, 1936. Arquivo Alice Gonzaga /Cinédia Estúdios, Rio de Janeiro pag. 75 Autoria indeterminada. Arquibancada social e campo do Fluminense Football Club, na Rua Álvaro Chaves, Rio de Janeiro, 1919. Acervo Fluminense Football Club – Memória, Rio de Janeiro pag. 77 Autoria indeterminada. Retrato de Graciliano Ramos. Acervo Iconographia, São Paulo pag. 78 - 79 Autoria indeterminada. Comemoração do Dia Da Raça no campo do Vasco da Gama, Rio de
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Janeiro, circa 1940. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro
pag. 88 - 89 Plano de Le Corbusier para o pilotis do Ministério da Educação e Saúde Pública, Rio de Janeiro, 1936. Fondation Le Corbusier, Paris ©FLC/ Autvis, 2014
pag. 81 [acima] Projeto de Le Corbusier para o edifício do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, 1936. Le Corbusier. “L’Oeuvre Complète, volume 3, 1934-1938”, p.78. FFondation Le Corbusier, Paris ©FLC/Autvis, 2014
pag. 90 - 91 Plano de Le Corbusier para os andares-tipo do Ministério da Educação e Saúde Pública, Rio de Janeiro, 1936. Desenho de Oscar Niemeyer. In Charles-Edouard JeanneretGris, dito Le Corbusier. “L’Oeuvre Complète, volume 3, 1934-1938”, p.79. Fondation Le Corbusier, Paris ©FLC/ Autvis, 2014 | OC, vol.3, p.79
pag. 81 [abaixo] Le Corbusier. Perspectiva do interior da antessala do Ministro Rio de Janeiro, 1936. Desenho de Oscar Niemeyer. Le Corbusier. “L’Oeuvre Complète, volume 3, 19341938”, p.80. Fondation Le Corbusier, Paris ©FLC/Autvis, 2014 pag. 82 Le Corbusier. Enquadramento da Sala do Ministro no edifício do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, 1936, desenho. Le Corbusier, “Carnet C12”, p.53. Fondation Le Corbusier, Paris ©FLC/Autvis, 2014 pag. 83 Le Corbusier. Esboço de Le Corbusier para o Palácio do Ministério da Educação e Saúde Pública no terreno à beira-mar, Rio de Janeiro, 1936. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Fotografia de Jaime Acioli pag. 84 - 85 Plano de Le Corbusier para o Ministério da Educação e Saúde Pública, no terreno da rua Graça Aranha no Rio de Janeiro, 1936. Fondation Le Corbusier, Paris ©FLC/Autvis, 2014 pag. 86 - 87 Segundo plano de Le Corbusier do Ministério da Educação e Saúde Pública, Rio de Janeiro, 1936. Fondation Le Corbusier, Paris ©FLC/ Autvis, 2014 pag. 88 - 89 Charles-Edouard JeanneretGris, dito Le Corbusier. Plano do Ministério da Educação e Saúde Pública, 1936. Fondation Le Corbusier, Paris ©FLC/Autvis, 2014
pag. 92 - 93 Desenhos de Le Corbusier para a cobertura do Ministério da Educação e Saúde Pública, Rio de Janeiro, 1936. Le Corbusier. L’Œuvre Complète, volume 3, 1934-1938, p.43. Fondation Le Corbusier, Paris ©FLC/ Autvis, 2014 pag. 94 Le Corbusier. Perspectiva do interior da sala do Ministro do projeto para o terreno Santa Luzia, Rio de Janeiro, 1936. Desenho de Oscar Niemeyer. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Fotografia de Jaime Acioli
pag. 95 Desenho de Oscar Niemeyer da vista do conjunto da Cidade Universitária do Rio de Janeiro, projetada por Le Corbusier e Lucio Costa em 1935. “L’Oeuvre Complète, volume 3, 1934-1938”, p.43. Fondation Le Corbusier, Paris ©FLC/Autvis, 2014 pag. 96 Autoria indeterminada. Esboço do interior da sobreloja do Palácio do Ministério da Educação e Saúde Pública, atual Gustavo Capanema, Rio de Janeiro, 1936. Desenho de Le Corbusier. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Fotografia de Jaime Acioli ©Autvis, 2014
pag. 97 Autoria indeterminada. Construção da sede do edifício do Ministério do Trabalho e, no primeiro
plano, o início do canteiro de obras do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, década de 1930. Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro pag. 98 Autoria indeterminada. Getúlio Vargas e autoridades no evento de inauguração da sede do Ministério do Trabalho, Rio de Janeiro, circa 1935. Agência Nacional. Arquivo Nacional, Rio de Janeiro pag. 99 Autoria indeterminada. Manifestação popular celebra a inauguração da sede do Ministério do Trabalho, Rio de Janeiro, década de 1930. Agência Nacional. Arquivo Nacional, Rio de Janeiro pag. 100 Genevieve Naylor. Esquina da rua do Ouvidor com rua Gonçalves Dias, Rio de Janeiro, 194. Coleção Genevieve Naylor, Nova York pag. 102 Autoria indeterminada. Avenida Rio Branco, Rio de Janeiro, circa 1935. Arquivo George Ermakoff, Rio de Janeiro pag. 103 Autoria indeterminada. Rua do Ouvidor, Rio de Janeiro, 1930. Arquivo George Ermakoff, Rio de Janeiro pag. 104 New York Times Co. Retrato de Stefan Zweig, Rio de Janeiro, 1935. Photo by New York Times Co. /Getty Images, São Paulo pag. 105 Plano Urbanístico do Rio de Janeiro, 1929, Le Corbusier. Fondation Le Corbusier, Paris ©FLC/Autvis, 2014 pag. 106 Autoria indeterminada. Comemoração do Dia Da Raça no campo do Vasco da Gama, Rio de Janeiro, circa 1940. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro
pag. 108 [acima] Max Rosenfeld. Maquete do edifício sede do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, 1935. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 108 [abaixo] Autoria indeterminada. Exposição Nacional do Estado Novo e do Pavilhão do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, de dezembro de 1938 a janeiro de 1939. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 109 Segundo Projeto de Le Corbusier para o prédio do Ministério da Educação e Saúde, no terreno onde foi finalmente construído, 1936. O documento é reprodução da página 21 da revista Arquitetura e Urbanismo 547, de jul./ago. 1939. Acervo Casa de Lucio Costa, Rio de Janeiro ©Autvis, 2014 pag. 110 Autoria indeterminada. Escultura de Leão Velloso na cobertura do Ministério da Fazenda. Coleção Particular, Rio de Janeiro pag. 111 Autoria indeterminada. Colunatas do edifício do Ministério da Fazenda, Rio de Janeiro, s.d. Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. pag. 113 Adaptação de Le Corbusier ao terreno adotado para as instalações do projeto para o edifício do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro. Le Corbusier. “L’Oeuvre Complète, volume 3, 1934-1938”, p.80. Fondation Le Corbusier, Paris ©FLC/Autvis, 2014 pag. 115 Carlos Moskovics. Retrato de Maria e Candido Portinari, vendo-se ao fundo duas obras do pintor executadas para a Capela Mayrink, no atual Parque Nacional da Tijuca, Rio de Janeiro, 1944. Acervo Projeto Portinari, Rio de Janeiro
pag. 116 Rogério Reis. Painel de azulejos de Candido Portinari no Ministério da Educação e Cultura, Rio de Janeiro, 2011. Pulsar Imagens, São Paulo pag. 117 [acima] Epaminondas. Aspecto da escultura “Mulher Sentada” de autoria de Adriana Janacopulos, criada para o edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, entre 1936 e 1945. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 117 [abaixo] Cesar Barreto. Panorama do jardim do Palácio Capanema, Rio de Janeiro, 2009. Acervo Cesar Barreto, Rio de Janeiro pag. 118 [acima à esquerda] Autoria indeterminada. “O Homem Sentado”, de Celso Antonio na maquete do Ministério, apresentada na Exposição do Estado Novo, dezembro de 1938 e janeiro de 1939. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 118 [acima à direita] Detalhe da escultura de Bruno Giorgi “Juventude Brasileira”, feita para o edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, entre 1943 e 1947. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 118 [abaixo] Nelson Kon. O autor José Mauro de Vasconcelos foi o modelo masculino e a vedete Luz Del Fuego processou, sem sucesso, Bruno Giorgi alegando que seu corpo lhe havia inspirado a figura feminina. Acervo Nelson Kon, São Paulo
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pag. 119 [acima] Marcel Gautherot. A escultura “Prometeu e o abutre”, em tamanho menor que o pretendido, aplicado na fachada do auditório do Ministério, em 1946. Acervo Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro pag. 119 [abaixo] Autoria indeterminada. Jacques Lipchitz com a escultura, em seu ateliê em Nova York, 1944. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 120 Roberto Burle Marx. Projeto para o Jardim do Ministro no Palácio Capanema, Ministério da Educação e Cultura, Rio de Janeiro, RJ, 1938. Acervo Burle Marx e Cia. Ltda., Rio de Janeiro pag 121 Autoria indeterminada. Lucio Costa, Frank Lloyd Wright e Gregori Warchavchik, na inauguração da casa na rua Toneleiros Rio de Janeiro, 1931. Acervo Casa de Lucio Costa, Rio de Janeiro pag. 122 Autoria indeterminada. Choparia da Brahma na lateral da Galeria Cruzeiro. Foto Arquivo / Agência O Globo, Rio de Janeiro pag. 123 Autoria indeterminada. Retrato de Getúlio Vargas recebendo integralistas no Palácio do Catete, Rio de Janeiro, 1937. Acervo Iconographia, São Paulo pag. 125 Autoria indeterminada. Capa da revista “Anauê!”, divulgadora da Ação Integralista Brasileira. S.n., s.l., número 2, 1935. Acervo Iconographia, São Paulo pag. 127 Maquete do Pavilhão Espanhol na Exposição Internacional de Paris, obra dos arquitetos Luis Lacasa e Josep Lluís Sert, 1937. Modelo criado por Juan Mirón sob a direção de Josefina Alix para a exposição “Pabellón Español. Exposición Internacional de París”, 1987. Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri. Arquivo Fotográfico Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri/Juan Mirón/Stuma Practice
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pag. 128 - 129 Pablo Picasso. Guernica, Paris, 1937. Arquivo Fotográfico Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri © Espólio de Pablo Picasso / Autvis, 2014 pag. 131 Autoria indeterminada. Carlos Drummond de Andrade, Rodrigo Melo Franco Andrade e Gustavo Capanema, entre outros, durante homenagens no aniversário do ministro, por ocasião da passagem de seu aniversário, Rio de Janeiro, 1942. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro. Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond www.carlosdrummond.com.br pag. 132 Peter Lange. Alunos em aula de educação física, Rio de Janeiro, circa 1940. A fotografia compõe “boneca” e integra o projeto de um livro denominado por Gustavo Capanema “A obra getuliana”, que não chegou a ser publicado. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 134 Autoria indeterminada. Getúlio Vargas premia alunos em Petrópolis, circa 1940. Arquivo Alzira Vargas do Amaral Peixoto. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 135 Erich Hess. Alunos ouvem transmissão de jogo do Brasil na Copa da Itália. Rio de Janeiro,1938. Fotografia para a Exposição “Brasil Novo”. Ministério da Educação e Saúde/Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), circa 1940. A fotografia compõe “boneca” e integra o projeto de um livro denominado por Gustavo Capanema “A obra getuliana”, que não chegou a ser publicado. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro
pag. 136 Peter Lange. Exame médico para admissão no Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), Rio de Janeiro circa 1940. A fotografia compõe “boneca” e integra o projeto de um livro denominado por Gustavo Capanema “A obra getuliana”, que não chegou a ser publicado. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 137 Erich Hess. Trampolim na Escola do Estado Maior do Exército, Praia Vermelha, Rio de Janeiro, circa 1940. A fotografia compõe “boneca” e integra o projeto de um livro denominado por Gustavo Capanema “A obra getuliana”, que não chegou a ser publicado. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 138 Peter Lange. Escola do Estado-maior do Exército na Praia Vermelha, Rio de Janeiro, circa 1940. A fotografia compõe “boneca” e integra o projeto de um livro denominado por Gustavo Capanema “A obra getuliana”, que não chegou a ser publicado. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 139 Peter Lange. Vista aérea Praia de Copacabana, Rio de Janeiro, circa 1940. A fotografia compõe “boneca” e integra o projeto de um livro denominado por Gustavo Capanema “A obra getuliana”, que não chegou a ser publicado. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 141 Autoria indeterminada. Retrato de Eurico Gaspar Dutra, Aristides Guilhem, Gustavo Capanema, Getúlio Vargas, Darcy Vargas e Nelson Rockefeller, entre outros, assistindo
a Parada da Juventude Brasileira, Rio de Janeiro, 1942. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 143 [acima] Presidência da República do Brasil. Departamento de Imprensa e Propaganda. Autorização concedida para Genevieve Naylor fotografar no Brasil, assinada por Lourival Fontes, Rio de Janeiro, 07.07.1942. Coleção Genevieve Naylor, Nova York. Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond www.carlosdrummond.com.br pag. 143 [abaixo] Genevieve Naylor. Retrato de Oscar Niemeyer, Carlos Drummond de Andrade, Roberto Burle Marx, entre outros, no vernissage de Misha Reznikoff no Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, 1941. Coleção Genevieve Naylor, Nova York pag. 144 Genevieve Naylor. Bonde de São Januário, Rio de Janeiro, 1941. Coleção Genevieve Naylor, Nova York pag. 145 Genevieve Naylor. Romeiros em Congonhas do Campo, 1941. Coleção Genevieve Naylor, Nova York pag. 146 A. D. A Publicidade (Estudio/ Agencia). Transmissão de festa no Cassino da Urca, apresentada por Orson Welles e organizada pelo embaixador Jefferson Caffery, em nome de Franklin Roosevelt, para homenagear o aniversário de Getúlio Vargas, 18 de abril 1942. Arquivo Alzira Vargas do Amaral Peixoto. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 149 Hart Preston. No studio da Cinédia Orson Welles filma cenas para completer aquelas feitas durante o Carnaval de 1941. Time Life Pictures/ Getty Images, São Paulo
pag. 151 Autoria indeterminada. Projeto da avenida Presidente Vargas Rio de Janeiro, década de 1940. Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro pag. 152 Man Ray. Gertrude Stein posando para Jo Davidson, Paris, 1922. National Portrait Gallery, Smithsonian Institution, Washington/ Art Resource, New York © Man Ray Trust / AUTVIS pag. 154 Autoria indeterminada. Retrato de Alzira e Ernâni do Amaral Peixoto, 1939. Arquivo Alzira Vargas do Amaral Peixoto. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 155 Autoria indeterminada. Getúlio Vargas posando para o escultor Jo Davidson, no Palácio do Catete, em 1939. Arquivo Getúlio Vargas. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 157 Autoria indeterminada. Chegada em Nova York. Oscar Niemeyer, Lucio Costa, Julieta Modesto Guimarães Costa (Leleta) com Maria Elisa Costa no colo, Ana Maria Niemeyer e Anita Baldo Niemeyer, 1938. Acervo Casa de Lucio Costa, Rio de Janeiro pag. 159 Autoria indeterminada. Vista geral das instalações da Feira Mundial de Nova York, Flushing Meadows, 1939. A estátua do trabalhador do Pavilhão Russo destaca-se à esquerda e o Trylon e o Perisfério são vistos ao fundo no centro. Photo Quest/Getty Images, São Paulo pag. 161 Autoria indeterminada. Retrato de Wallace K. Harrison, arquiteto e Diretor de Planejamento da sede das Nações Unidas, Nova York, 1948. The United Nations Photo Library, Nova York pag. 163 [acima] Autoria indeterminada. Letreiro em neon anunciando a Wrigley’s Chewing Gum, Times Square, Nova York, 1936 circa.
Foto LCDM Universal History Archive/ Getty Images, São Paulo pag. 163 [abaixo] Ricardo Azoury. Azulejo de Candido Portinari no Ministério da Educação e Cultura, Rio de Janeiro, 2005. Pulsar Imagens, São Paulo pag. 167 [acima] Autoria indeterminada. Capa de folheto sobre o Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova York. In Official Souvenir Book. New York World´s Fair, 1939, p. 39. Acervo Casa de Lucio Costa, Rio de Janeiro pag. 167 [abaixo] Autoria indeterminada. Hasteamento da bandeira do Brasil no mastro principal do Federal Building durante a comemoração do dia 7 de Setembro na Feira Mundial de Nova York, 1939. In Vidal, Armando. “O Brasil na Feira Mundial de Nova York de 1940: relatório geral do comissário geral do Brasil, Armando Vidal 2ª parte”. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1942, pp. 408-409. Biblioteca e Museu do Ministério da Fazenda, Rio de Janeiro. Fotografia de Jaime Acioli pag. 168 Autoria indeterminada. Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova York, 1939. Arquivo Alzira Vargas do Amaral Peixoto. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 169 Autoria indeterminada. Jardim do Pavilhão do Brasil durante a comemoração do dia 7 de Setembro na Feira Mundial de Nova York, 1939. In Vidal, Armando. “O Brasil na Feira Mundial de Nova York de 1940: relatório geral do comissário geral do Brasil, Armando Vidal 2ª parte”. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1942, pp.414-415. Biblioteca e Museu do Ministério da Fazenda, Rio de Janeiro. Fotografia de Jaime Acioli
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pag. 170 Retrato de Carmen Miranda, Nova York , 1939. Arquivo Alzira Vargas do Amaral Peixoto. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 171 F. S. Lincoln. Salão de Dança do Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova York, 1939-1940. Catálogo do Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova York. H. K. Publishing: Nova York, 1939, s.p. Acervo Casa de Lucio Costa, Rio de Janeiro pag. 172 [acima] Fred Kreutzenstein. Salão de Exposições, com obras de Candido Portinari e o busto de Getúlio Vargas esculpido por Hildegardo Leão Veloso, Nova York, 1939. Acervo Projeto Portinari, Rio de Janeiro pag. 172 [abaixo] Autoria indeterminada. Retrato de Eurico Penteado, Carlos Martins Pereira e Souza, Paul Wiener, Edward Roosevelt, Oscar Correia, Oswaldo Aranha, John Harris, Arthur Sousa Dantas, Armando Vidal e outros no pavilhão brasileiro na Feira Mundial de Nova York. Arquivo Oswaldo Aranha. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 173 Autoria indeterminada. Candido Portinari, Maria Martins na inauguração da exposição do pintor no Riverside Museum, anexo à Feira Mundial de Nova York, 1940. In Vidal, Armando. “O Brasil na Feira Mundial de Nova York de 1940: relatório geral do comissário geral do Brasil, Armando Vidal 1ª parte”. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1942, pp. 172-173. Biblioteca e Museu do Ministério da Fazenda, Rio de Janeiro. Fotografia de Jaime Acioli pag. 174 Autoria indeterminada. O Salão Nobre do Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova York, circa 1940. In Vidal, Armando. “O Brasil na Feira Mundial de Nova York de 1940: relatório geral do comissário geral do
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Brasil, Armando Vidal 1ª parte”. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1942, pp. 36-37. Biblioteca e Museu do Ministério da Fazenda, Rio de Janeiro. Fotografia de Jaime Acioli pag. 175 [acima] Autoria indeterminada. Exposição de livros brasileiros e de livros em inglês sobre o Brasil no Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova York, 19391940. In Vidal, Armando. “O Brasil na Feira Mundial de Nova York de 1940: relatório geral do comissário geral do Brasil, Armando Vidal 2ª parte”. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1942, p. 564. Biblioteca e Museu do Ministério da Fazenda, Rio de Janeiro. Fotografia de Jaime Acioli pag. 175 [abaixo] Paulo Nones. Exposição Portinari no Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova York, 1939. Acervo Projeto Portinari, Rio de Janeiro pag. 177 [acima] Autoria indeterminada. Terreno ao ar livre para construção do Grande Hotel de Ouro Preto, Ouro Preto, s.d. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro pag. 177 [abaixo] Autoria indeterminada. Fotomontagem do projeto de Carlos Leão para construção do Grande Hotel de Ouro Preto visto de cima, Ouro Preto, s.d. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro pag. 179 Autoria indeterminada. Fotomontagem do projeto de Carlos Leão para construção do Grande Hotel de Ouro Preto visto da Rua das Flores, Ouro Preto, s.d. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro pag. 180 Autoria indeterminada. Fotomontagem do primeiro projeto de Oscar Niemeyer com laje plana, visto de cima, Ouro Preto, s.d. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro
pag. 181 Autoria indeterminada. Fotomontagem do primeiro projeto de Oscar Niemeyer para construção do Grande Hotel de Ouro Preto visto da Rua das Flores, Ouro Preto, s.d. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro pag. 182 Genevieve Naylor. Retrato de Oscar Niemeyer, Rio de Janeiro, 1941. Coleção Genevieve Naylor, Nova York pag. 183 Capa de J. Carlos para a Revista Fon Fon, 1934. Coleção Instituto Memória Gráfica Brasileira Limitada, Rio de Janeiro pag. 184 [acima] Autoria indeterminada. Projeto construído de Oscar Niemeyer com telhas de barro e varandas sugeridas por Lucio Costa, Ouro Preto. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro pag. 184 [abaixo] Autoria indeterminada. Projeto construído de Oscar Niemeyer, visto da Rua das Flores, Ouro Preto. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro pag. 186 Humberto Mauro e [Edgard Brasil]. Detalhe do Solar Monjope, casa de José Marianno, construído sobre a Chácara da Bica, Rio de Janeiro. pag. 190 Marcel Gautherot. Colunatas e painel de azulejos de Candido Portinari no edifício do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, 1946. Acervo Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro
In Picture Post – 4971 – Niemeyer: A South American Revolutionary, 1950. Picture Post/Hulton Archive/Getty Images, São Paulo pag. 194 - 195 Genevieve Naylor. Panorama do centro carioca destacandose da esquerda para a direita: Sede da Academia Brasileira de Letras, Igreja de Santa Luzia, o Ministério da Educação, em fase de acabamento e a sede do Ministério do Trabalho. Coleção Genevieve Naylor, Nova York pag. 196 Autoria indeterminada. Aspectos da construção do edifício do Ministério da Educação Saúde, Rio de Janeiro. Acervo do Núcleo de Pesquisa e Documentação. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro pag. 197 Epaminondas. Fachada com os brises soleils em construção, 1942. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 198 Peter Lange. Da esquerda para a direita: Igreja de Santa Luzia, Ministério da Educação e Saúde em construção, e Ministério do Trabalho, Rio de Janeiro, 1941. A fotografia compõe “boneca” e integra o projeto de um livro denominado por Gustavo Capanema “A obra getuliana”, que não chegou a ser publicado. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro
pag. 191 Kurt Hutton. Edifício do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, circa 1950. Latinstock/© Hulton-Deutsch Collection/CORBIS/ Corbis
pag. 199 Autoria indeterminada. Terraço-jardim na cobertura do prédio, 1947. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro
pag 193 Kurt Hutton. O gabinete do Ministro da Educação no edifício do Ministério da Educação e Saúde, projetado por Lucio Costa e Oscar Niemeyer, Rio de Janeiro, Junho de 1950.
pag. 200 [acima] Epaminondas. Retrato de Gustavo Capanema, Getúlio Vargas, [Lourival Fontes] e outros, durante a solenidade de inauguração
do edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, 1945. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro pag. 200 [abaixo] Autoria indeterminada. Retrato de Ataulfo de Paiva, Odilon Braga, Gastão Soares de Moura Filho, Ademar Siqueira, Gustavo Capanema, Carlos Drummond de Andrade, Edgar Roquette Pinto, Raimundo Peregrino Junior, entre outros, por ocasião do lançamento da pedra fundamental do edifício do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, 1937. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro. Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond www.carlosdrummond. com.br pag. 201 Marcel Gautherot. Fachada norte do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, 1946. Acervo Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro pag. 202 Nelson Kon. Fachada Noroeste do Ministério da Educação e Cultura, Rio de Janeiro, 2001. Acervo Nelson Kon, São Paulo
pag. 208 Autoria indeterminada. Retrato de Artur Lício Pontual, Duprat, Lucio Costa e Oscar Niemeyer em visita à sobreloja do Ministério da Educação e Cultura, Rio de Janeiro, circa 1957. Acervo Casa de Lucio Costa, Rio de Janeiro pag. 210 René Burri. Retrato de Oscar Niemeyer, s.l., 1960 © René Burri / Magnum Photos/Magnum Photos/ Latinstock pag. 211 Autoria indeterminada. Retrato de Lucio Costa com os dedos entrelaçados, s.l., 1952. Acervo Casa de Lucio Costa, Rio de Janeiro pag. 213 Le Corbusier. Fachada do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, [década de 1930]. Fondation Le Corbusier, Paris. ©FLC/Autvis, 2014 pag. 214 Autoria indeterminada. Retrato Lucio Costa e Oscar Niemeyer em visita à sobreloja do Ministério da Educação e Cultura, Rio de Janeiro, circa 1957. Acervo Casa de Lucio Costa, Rio de Janeiro pag. 215 Marcel Gautherot. Detalhe fachada norte do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, 1946. Acervo Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro
pag. 203 Thomaz Farkas. Fachada do Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, 1947, detalhe. Série Recortes. Acervo Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro pag. 205 Marcel Gautherot. Vista do jardim de Roberto Burle Marx no andar do Ministro, Rio de Janeiro, 1946. Acervo Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro pag. 206 Autoria indeterminada. Aspectos do edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde, e ao fundo, o Ministério do Trabalho, Rio de Janeiro, 1946. Arquivo Gustavo Capanema. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro
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AGRADECIMENTOS
Alessandro Horta e Vinci Partners Delphine Lacroix, Farès El’Dahdah, Geoff Browner, George Ermakoff, Glauco Campelo, Guido Cavalcanti, Haruyishi Ono, Heloisa Faria, Hugo Barreto, Hugo Gonçalves, Julia Otero, Julieta Sobral, Levy Cavalcanti, Licia Olivieri, Luiz Aquila, Maria Elisa Costa, Maria Gabriela Carvalho, Nani Rubin, Sandra Werneck, Vânia Castro Lopes, Viviane Kikoler
Andrea Moraes, Andrea Pedreira, Bianca Silveira, Carmen Azevedo, Clement Cheroux, Clóvis Molinari Junior, Cristina Zappa, Elizabete Martins, Flavio Silva, Italo Lomba Bastos Filho, Isabelle Godineau, João Candido Portinari, John Benicewicz, Kátia Teixeira de Oliveira, Laís Rodrigues, Laura Lourenço, Lucia Riff, Marisa Gandelman, Marta Clemente, Mônica Xexéo, Peter Reznikoff, Renato Salem, Rutônio Sant´Anna, Sheila Dryzun, Suzana Martins, Vicente de Mello
LÍNGUA GERAL
coordenação editotial Fátima Otero e Júlia Otero editor Hugo Gonçalves assistente editorial Rebeca Fuks administração Lysa Reis assistente de administração Paulo Roberto comercial Eliane Santos projeto gráfico Rico Lins + Studio
LAURO CAVALCANTI
design e direção de arte Rico Lins e Julieta Sobral diagramação Julieta Sobral, Ana Dias e Carolina Lins pesquisa fotográfica Bureau de Recherche: Fernanda Carvalho
Lauro Cavalcanti nasceu em 1954, vive e trabalha no Rio de Janeiro. É arquiteto, antropólogo, curador de exposições e escritor. Autor de vários livros sobre arqui-
tratamento de imagens e produção gráfica GFK omunicação
tetura, estética e sociedade foi premiado pelo Instituto dos Arquitetos em 1979 e 2001 com “Arquitetura Kitsch” e “Quando o Brasil era moderno”. Em 2009, pela mostra e livro Roberto Burle Marx: a Permanência do Instável, recebeu os prêmios de melhor retrospectiva pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) e de melhor curadoria pela ABCA (Associação Brasileira de Críticos de Arte). Autor de inúmeros ensaios e artigos em publicações internacionais e brasileiras. Pesquisador-visitante na National Gallery, Washington D. C. em 1996 e no Centro Canadense de Arquitetura, Montréal, em 1999. Conselheiro da Casa de Lucio Costa, da Fundação Oscar Niemeyer e da Fundação Roberto Marinho. Foi diretor do Paço Imperial de 1992 a 2014. É professor da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI/UERJ) e atualmente dirige o Instituto Casa Roberto Marinho, no Cosme Velho, Rio de Janeiro.
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Este livro foi composto em Scala 9.8/15, tĂtulos em Scala Sans 19/26, impresso em papel Garda Pat Kiara 135g/m2, na Ipsis grĂĄfica e editora, na primavera de 2014.