MESTRES DA OBRA O LIVRO
São Paulo
Mestres da Obra 2017
“a arte tirou o meu medo de errar.� valdomiro nogueira pedreiro
VOCÊ CONHECE A MANEIRA CERTA DE UTILIZAR NOSSA NOVA MARCA?
INTRODUÇÃO Este manual foi criado para orientar a expressão da marca Vedacit em todos os momentos de contato com seus diversos públicos. O objetivo do manual é apresentar, de forma clara e didática, as diretrizes da marca Vedacit, garantindo que todos aqueles que forem trabalhar com a marca ou aplicá-la, o façam corretamente e de acordo com as normas aqui apresentadas.
A MARCA Assinatura
Reduções
A nova marca é uma evolução da existente, mantendo os principais elementos de reconhecimento e parte das letras usadas para formar o nome da marca teve seu desenho estilizado com cantos arredondados proporcionando uma maior fluidez visual. O novo desenho continua comunicando força, solidez e confiança tornando a percepção da marca atual e moderna.
Para preservar a legibilidade da marca Vedacit, deve-se respeitar as dimensões estipuladas abaixo. Estas medidas determinam o tamanho mínimo para veiculação em peças gráficas em geral.
patrocínio
25mm
10mm tamanho mínimo com complemento
tamanho mínimo sem complemento
marca corporativa
Aplicações Preto & Branco e sobre fundo colorido
marca de produto
realização
Por meio da imaginação de um artista, um simples resíduo de obra pode
se transformar em qualquer coisa. Ao explorar possibilidades, o que antes era utopia se torna real. O invisível se torna visível.
Ao entrar em contato com o mais íntimo imaginário e praticar o
fazer artístico, renovam-se os sentidos, e naturalmente somos levados a rever os significados que atribuímos às coisas.
Vem à tona o poder de uma nova visão, um novo entendimento so-
bre como lidar com certos problemas, contratempos e, principalmente, novas possibilidades de solucioná-los.
Compartilhando desses princípios, acreditamos que a arte, a educa-
ção e a cultura possuem importante relevância na formação da cidadania e bem-estar das pessoas, na legitimação das coisas e no questionamento saudável de significados.
Isso talvez nos torne pessoas mais livres.
Livres para pensar, para criar, para sermos nós mesmos. A vida com arte parece durar mais. Parece fazer mais sentido.
vedacit
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O Itaú Unibanco apoia a edição, a publicação e a distribuição do livro
Mestres da Obra, que aborda a organização da sociedade civil de interes-
se público (oscip) de mesmo nome. Trata-se de um reconhecimento por seus quinze anos de realizações culturais e artísticas.
A oscip se destaca por levar arte, educação e cultura aos locais de
trabalho da construção civil e da indústria. Sua presença renova sentidos e leva mais longe a ideia de que criar e perceber o cotidiano de forma diferente muda o mundo.
Esse apoio se integra a um campo amplo de atividades do banco
no que se refere ao incentivo à cultura. Nesse sentido, se destaca o papel
do instituto Itaú Cultural, que, em sua sede em São Paulo e com vários parceiros em todo o Brasil, exibe teatro, música, literatura e artes visuais em espetáculos, debates e pesquisa.
Além disso, o instituto mantém a Enciclopédia Itaú Cultural de Arte
e Cultura Brasileiras, obra de referência com 6 mil verbetes, 12 mil ima-
gens e 13 milhões de acessos ao ano. Saiba mais em itaucultural.org.br e enciclopedia.itaucultural.org.br.
itaú unibanco
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MESTRES DA OBRA A história deste projeto sempre nos colocou diante de
uma pontinha de encantamento era sempre percebi-
o que estávamos fazendo era mesmo possível! Ouví-
tíssemos em encontrar os parceiros que queriam ver
grandes desafios. Quantas vezes nos perguntamos se
da, e esse foi nosso norte, o caminho para que insis-
amos que era pouco provável que o Mestres da Obra
“aquilo” acontecer.
pudesse se sustentar, encontrar espaços para a ação e
Dúvidas são sempre uma constante em processos
parceiros que comprassem a ideia de implantar ateliês
que exploram o universo da educação livre. Talvez no
mos inúmeras reuniões, de onde saíamos sem ter tido
nas relações de troca entre educadores e educandos,
de arte em canteiros de obras. Mesmo assim, encara-
fundo elas sejam o motor dessas práticas existentes
tempo nem sequer de tomar o café que seria servido.
práticas essas que rompem a lógica da forma tradicio-
A existência desse projeto, hoje oscip (Organiza-
nal e ultrapassada de educar, que prevê um fornecedor
ção da Sociedade Civil de Interesse Público) Mestres da
do conhecimento (professor) e alguém que simples-
Obra, é resultado de muita persistência e fé, e graças a
mente o absorve (aluno).
essa enorme força de vontade, hoje somos uma histó-
É difícil dizer por quantos caminhos de refle-
ria que nasce e renasce cada vez mais viva nos muitos
xão enveredamos no cotidiano do Mestres da Obra,
No início, tanto a sustentabilidade financeira do
se sempre em mais questionamentos. Essas incertezas
canteiros de obras por onde passamos.
frentes completamente distintas que terminaram qua-
projeto quanto sua metodologia pareciam duvidosas
se dissolveram, na maioria das vezes, devido à com-
para os que tomavam contato com a proposta, mas
preensão de que nossa prática caminhava no sentido
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certo, guiada por muitas forças, sentidos, sinais e sig-
tante para o nascimento do Mestres da Obra, e conti-
completo e que podiam ser até um movimento com-
processo, hoje mais maduro, gera conteúdo artístico, e
nua sendo nossa essência e alma, mesmo quando seu
nificados que de maneira alguma controlávamos por
não mais apenas objetos de arte. Essa compreensão é
posto por elementos que nem sequer percebíamos.
importante para o entendimento de que existe nessa
Enfim, existe a consciência de que essa prá-
prática, de modo profundo, a energia da produção ar-
tica não é refém da lógica do mundo das causas e
tística, da bancada de trabalho, do espaço de magia,
efeitos, que ela rompe com as matrizes de funcio-
do ateliê que transforma e projeta a criação, que fun-
namento e propõe algo completamente novo em
de elementos mentais e espirituais à racionalidade da
ambientes marcados pela repetição, pela hierarquia
manufatura, do material, e esse é, para aqueles que o
e pela meritocracia.
experimentam com vontade, um processo de imen-
A pouca existência de receitas e modelos nos
so prazer e de profundo significado de encontro com
obrigou a criar uma história de trabalho de educação
o ser interior. Existe nessa prática, como em qualquer
e desenvolvimento humano muito particular, o que
processo pleno de arte, o contato com as marcas e his-
tornou constante a experimentação e o aprendizado.
tórias da vida, com as cicatrizes da alma.
Todo o processo foi permeado por erros, retornos, avan-
O Mestres da Obra é uma prática que não tem con-
ços temporários, reflexões e uma imensa satisfação a cada passo acertado, e a união disso tudo marcou os
trole, domínios ou propriedade. Não tem começo, meio
A ideia deste livro é a de, por meio de uma linha
humano em canteiros de obras. Em qualquer canteiro,
e fim. É uma prática de educação e desenvolvimento
momentos de amadurecimento da prática.
sob qualquer formato, essa prática se faz verdade, bas-
do tempo, apresentar esses marcos e avanços do Mes-
tam a intenção e a liberdade de reunir trabalhadores
tres da Obra. E tudo começou quando nós, dois jovens
da construção civil e vivenciá-la, seja resultando em es-
de vinte e poucos anos, somamos nossa experiência
culturas, fotografias, pinturas, dança, teatro, literatura
(Arthur atuava como arquiteto em uma construtora, e
ou qualquer outra forma de expressão livre, como uma
Daniel já era educador ambiental atuante) e nosso de-
roda de conversa. É nesse encontro de pessoas que o
sejo por fazer coisas acontecerem. Assim, não demorou
ateliê Mestres da Obra passa a existir, podendo sem-
até percebermos o fato de que um canteiro de obras é
pre ser replicado em qualquer lugar, a qualquer tempo,
um enorme ateliê, cheio de materiais interessantes e
para que sejam valorizados e mais bem aproveitados
com pessoas que, mais do que ninguém, dominam a
os saberes, os ferramentais e a criatividade.
transformação desses materiais e, como qualquer ou-
Salve Gaudí, mestre catalão que tanto nos inspi-
tro indivíduo, também podem transformar suas ideias e seu modo de pensar.
rou! Pelas entranhas da grande escultura Sagrada Fa-
arte e educação, e esse foi um grande estimulador da
todos os trabalhadores da construção civil, artistas que
mília, enxergamos o ateliê canteiro de obras. Salve a
Sem dúvida nenhuma, havia a vontade de unir
constroem as paisagens urbanas com sua força de tra-
ideia quando ainda não existiam perspectivas mais
balho, seu suor e sua sabedoria.
amplas. O prazer na transformação dos materiais e na
manipulação das texturas e formas foi muito impor-
arthur pugliese e daniel cywinski
idealizadores
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processo educativo no ateliê Ao lado, releitura de Volpi com resíduos de madeira
páginas anteriores [8] “Liberdade”– CCMO [10] Operário visita Bienal de Arte de SP [12] Operário em silêncio durante atividade no Circuito Cultural Mestres da Obra (CCMO)
páginas seguintes [22-23] Preparativos para roda de conversa no CCMO [28-29] Chove no canteiro
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RASCUNHO
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MESTRES DA OBRA: UMA IDEIA
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O PROGRAMA MESTRES DA OBRA
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O UNIVERSO DA CONSTRUÇÃO CIVIL
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EMPREGO
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MIGRAÇÃO E IDENTIDADE CULTURAL
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A ARTE COMO FERRAMENTA
102
ARTE, SAÚDE E DESENVOLVIMENTO HUMANO
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PROCESSO EDUCATIVO GERADOR DE ARTE
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EDUCAÇÃO E CONSTRUÇÃO CIVIL
142
CONSTRUÇÃO DE BIOGRAFIAS
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ideia vai pro papel Eram meados dos anos 2000. Daniel e Arthur abriram a garrafa de vinho e se debruçaram naquilo que viria a ser um projeto de vida. Caderno na mão, ideias iam se alinhando, e aos poucos tomaram forma. Estavam diante daquilo que passaria a chamar de Mestres da Obra, uma experiência até então jamais sonhada (e praticada) na indústria da construção civil. Juréia – Litoral Norte, SP, 2000.
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MESTRES DA OBRA, UMA IDEIA Sim, um dia fomos apenas uma ideia.
O resultado não poderia ter sido melhor. As peças
Mas ideias movem desejos, e a soma de nossa ex-
foram selecionadas para um salão de arte regional, o
ção criou em nós o desejo de, por meio de um processo
ra, e devido ao resultado positivo desse projeto piloto,
periência no ramo da arquitetura, urbanismo e educa-
Salão de Arte Contemporânea Espaço Henfil de Cultu-
de educação em canteiros de obras, realizar com os tra-
documentado em primeira página pelo principal jor-
balhadores a transformação dos resíduos de constru-
nal da região, a iniciativa ganhou visibilidade e apoios,
ção em obras de arte. Mais do que isso, queríamos que
conseguindo avançar.
os próprios trabalhadores se transformassem. Essa era
De 2001 até 2016, o projeto foi implantado em
a ideia original, que em janeiro de 1999 criou vida com
canteiros de obras de todo o Brasil, permitindo o aces-
Em 2001, depois de dois anos de muita persistên-
desenvolvemos inúmeras metodologias e práticas de
o Projeto Mestres da Obra.
so de milhares de trabalhadores. Durante esse tempo,
cia, e com o mínimo de apoio, implantamos o projeto
educação, arte e desenvolvimento humano e compu-
piloto em um canteiro de obras em Santo André, cidade
semos um acervo com centenas de peças de arte e de-
do Grande abc paulista. Participaram dessa fase inicial
sign, que já estiveram presentes em exposições nacio-
três operários, dedicando meia hora semanal dentro do
nais e internacionais. No meio tempo, no ano de 2006,
horário de trabalho. Já então o horizonte se mostrava
teve início a estruturação de uma instituição jurídica
favorável, porque esses trabalhadores permaneciam
denominada Associação Mestres da Obra, que logo
espontaneamente nas atividades após o expediente,
recebeu o titulo de Organização Social de Interesse
tendo contato com alguns conceitos de arte e design e,
Público. Foram estabelecidas parcerias institucionais
mais do que tudo, experimentando a prática da “trans-
e financeiras com diversos agentes do setor da cons-
formação do olhar” sobre os materiais e o meio, o que
trução civil e organizações nacionais e internacionais
mais tarde se constituiria em um dos elementos edu-
ligadas à questão do trabalho, da promoção da saúde e
cacionais fundamentais do Mestres da Obra. Durante
do desenvolvimento humano em ambientes de traba-
seis meses foram produzidas peças de arte das mais
lho. E, para nosso orgulho e como coroamento de anos
diferentes linguagens. Esculturas, painéis e luminárias
de dedicação, hoje nossa prática é reconhecida como
nasciam das mãos daqueles trabalhadores, que exerci-
pioneira na indústria da construção civil mundial.
tavam a subjetividade, até então pouco estimulada no
Valeu a pena termos sonhado.
ambiente de trabalho.
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primeiras obras
luminária vírus
[53] Acima, painel “Inverno”, primeira obra de arte produzida no ateliê piloto do Mestres da Obra; logo abaixo, painel “Força” [52] Na página ao lado, Josê Eduardo França, o Zé Zoinho – primeiro aluno do Mestres da Obra
Sr. José estava doente. Quando voltou a trabalhar disse “rapaz, estava eu com uma virose daquelas”. Fomos atrás de uma imagem do vírus que ele tinha pego. Este é o resultado.
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releitura Releitura da chaise longue de Le Corbusier
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dia a dia Produção da obra “ Dia a dia”. Autor: Antonio Hermino do Nascimento
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“esta dita esbarrada cotidiana que vocês fazem nos canteiros tem o poder extraordinário de mexer, de acordar, de provocar.” sérgio ferro
Arquiteto e artista plástico
CONCEITO M.O. o conceito
O nome Mestres da Obra se refere ao modo como a
dução de conhecimento e autoconhecimento. Sob a
balhador sabe o seu ofício – não existe um único mes-
te para a ação, inicialmente os operários utilizavam
prática vê o trabalhador da construção civil: cada tra-
orientação de educadores capacitados especialmen-
tre, cada um é mestre de algum modo; ninguém sabe
os resíduos encontrados no canteiro de obras para a
tudo, e a obra precisa do conhecimento de todos para
produção de peças de arte e “design”, recuperando
se realizar. Além disso, o nome explora a similaridade
assim a condição de matéria-prima desses materiais.
entre essas palavras do universo da construção e seus
Com a evolução do projeto, outras formas de arte e de
significados no universo artístico, criando uma “brinca-
atuação foram sendo somadas e exploradas, e hoje o
deira” com os significados.
desenho e a troca de ideias e opiniões também são
práticas que fazem parte da metodologia, práticas
essas que ajudam no desenvolvimento pessoal dos
o objetivo
Nosso objetivo é contribuir para o desenvolvimento
trabalhadores.
humano de operários da construção civil e para a pro-
A valorização do saber e da cultura de cada um
moção de sua saúde e da qualidade de vida nos am-
é a base do processo educativo, e tem-se como prin-
bientes de trabalho.
cípio o fato de que ninguém conhece a transformação desses materiais de construção melhor do que o
a ação Acontece dentro de canteiros de obras por meio da im-
operário. No ateliê, a subjetividade, a criatividade e a
oportunidade de sonhar substituem as determina-
plantação de atividades educacionais que são desen-
ções rígidas dos projetos arquitetônicos e as ordens
volvidas em ateliês de arte e educação, espaços criados
e diretrizes do trabalho de construção realizado dia-
especialmente para o programa onde ocorre uma rela-
riamente na obra. O resultado do trabalho no ateliê é
ção intensa com o aprendizado, a construção e a pro-
criação do operário.
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algo novo no local e no cotidiano de trabalho
conceito de educação
ateliê para as aulas de arte representa uma experiência
das para reapresentar a rotina de trabalho da constru-
Para a esmagadora maioria dos trabalhadores, entrar no
No processo de educação, as atividades estão organiza-
estranha e completamente nova, e fazer isso durante o
ção civil, manejar materiais, entrar em contato com um
expediente de trabalho pode até parecer uma forma de
projeto e transformar esses materiais de acordo com
“enrolação”.
esse projeto. Mas no Mestres da Obra há a inversão de
Acanhamento, “falta de jeito”, risos nervosos ou dis-
alguns valores, e é justamente esse o núcleo educacional
tanciamento são reações comuns no início de um curso,
da ação.
mas em pouco tempo essas reações desaparecem e dão
Nesse exercício, os materiais que até então eram
lugar a outras atitudes, como interesse, comprometi-
restos do que já foi construído, e a priori não teriam mais
Muitos participantes do Mestres da Obra dedicam
que ocorre tradicionalmente nessa indústria, o projeto
mento e concentração no trabalho.
um sentido, tornam-se matéria-prima. Ao contrário do
um tratamento diferenciado para seu trabalho no ateliê.
do que se pretende criar não é alheio, é criado pelo ope-
São pontuais, atentos, concentrados e às vezes ficam es-
rário, e os resultados expressam suas próprias invenções,
pontaneamente além do horário combinado para poder
subjetivações e referências culturais e estéticas. Isso faz
continuar o que estão fazendo. Não há controle de fre-
do ateliê um espaço privilegiado de fortalecimento da
quência ou sanção por faltas e atrasos, mas o trabalho é
inteligência e saúde do trabalhador. Do mesmo modo, as
encarado com muita seriedade.
ideias subjetivas e abstratas também são matéria-prima,
No ateliê, o trabalhador é convidado a “sonhar” e
de onde surgem outras formas de expressão. Essa maté-
tem tempo e recursos para isso. Ele pode experimentar
ria-prima é interna e pessoal, independente do canteiro
com muita liberdade os materiais e criar intimidades e
de obras. É o humano antes do trabalhador que procura-
relações novas com a manipulação daqueles elementos
mos trazer à luz.
que lhe são tão comuns. Ao fazer isso, é possível lidar
Procuramos ser um dispositivo de produção de co-
com o fracasso de diferentes maneiras, o que é uma lição
nhecimento que fortaleça a inteligência do trabalhador,
de construção no canteiro de obras. Cooperar, comparti-
básicos presentes no ato de trabalhar: relacionar-se, sen-
importante e que posteriormente é utilizada no trabalho
uma vez que estimulamos o uso consciente dos saberes
lhar saberes, construir conhecimentos e usufruir de seus
tir, pensar e inventar.
resultados, além de errar e com isso se fortalecer, cons-
Nesse processo de transmissão de valores e referên-
tituem um conjunto de ações que são constantemente
cias da arte e de influenciar a percepção, os gestos e os
Nos ateliês Mestres da Obra atua-se fortemente
lorização dos saberes e talentos de quem aprende, dimi-
praticadas no Programa Mestres da Obra.
comportamentos dos operários, criamos espaços de va-
sobre os aspectos culturais do povo brasileiro. Os educa-
nuindo a barreira entre aqueles que sabem e, portanto,
dores provocam intencionalmente o resgate das infor-
podem e aqueles que não sabem e, por isso, não podem.
mações culturais que cada participante traz e que muitas vezes são novidade para os demais.
Nesses encontros de cultura, as histórias de mani-
festações folclóricas, de arte e hábitos, contadas com a espontaneidade de quem muitas vezes as viveu como
personagem direto, compõem um processo de valorização do conteúdo trazido como único, e nesse mosaico cultural encontram-se intersecções entre os diversos aspec-
tos de expressividade da região de origem de cada um, criando um rico ambiente de troca e inclusão cultural.
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ateliê fotográfico Acima, grupo “Ateliê Fotográfico”. Detalhe para as latas nas mãos: foram transformadas pelos próprios operários em máquinas fotográficas pinhole
página anterior [64] Atividade coletiva apresentando as máscaras criadas pelos operários
67
práticas em equipe [68-73] Atividades nos ateliês Mestres da Obra [74] Exposição M.O. na Funarte – Escultura coletiva
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tinta [70-71] Operários desenham os próprios corpos no tapume e trabalham suas emoções com tinta.
70
71
A ARTE COMO FERRAMENTA A espécie humana existe biologicamente inalterada
pícios à sua preservação, seus vestígios começaram a
há mais de 150 mil anos. Por tudo que se sabe, des-
se preservar e, mais tarde, a se apresentar.
de que surgiu, no sudeste africano, nada de relevan-
Assim, pinturas rupestres de mais de 20 mil
te alterou-se em sua configuração física ou em seu
anos realizadas pelos caçadores paleolíticos repre-
homens e mulheres, fizeram a pré-história e a histó-
quistas, podem ser hoje observadas nas cavernas de
aparato neurológico. Nossos ancestrais, os primeiros
sentando seu cotidiano, animais, dificuldades e con-
ria com artefatos culturais criados ou elaborados a
partir de uma base física, biológica e psicológica que, comum a todos os membros da espécie, inclui a capa-
Lascaux, no sul da França, Altamira, no norte da Espanha, ou na Serra da Capivara, no Piauí.
A arte da palavra, que está intrinsecamente vin-
cidade de simbolizar ou representar e a de se comuni-
culada a algo que define o humano – a linguagem
Não há razão alguma para imaginarmos que
tística a ser praticada. Porém, demorou a se tornar
car por meio da linguagem articulada.
articulada –, é, de certo, a primeira manifestação ar-
os primeiros membros da espécie já não fizessem
algum tipo de arte, seja verbal, material, musical, performática, entre outras. A capacidade individual
de fazê-la existia então como existe hoje, e jamais foi
materialmente perpetuável, devido a registros desse tipo serem algo impossível antes da invenção da escrita pelos sumérios, há 5 mil anos.
É provável que esses homens e mulheres anti-
encontrada alguma comunidade que não se dedicas-
gos também praticassem a produção sonora e mu-
como sendo estéticas.
práticas religiosas, mas tais registros, enquanto prá-
se a atividades que classificaríamos, sem relutância, Se isso tudo não passa de especulação, deve-se
sical, invariavelmente conectada com o divino nas tica artística, só puderam ocorrer recentemente, no
à razão elementar de que os materiais envolvidos
século XX.
naquelas atividades eram perecíveis, a começar pela
Portanto, o homem, como espécie, é um ser ar-
voz, no caso das artes verbais, e continuando com
tístico que, por meio da arte, comunica seus univer-
à confecção de utensílios. No entanto, tão logo o ho-
não apenas porque esse é nosso desejo, mas porque
madeira, pele e ossos de animais no que diz respeito
sos internos e externos, subjetivos e reais. Criamos
mem começou a trabalhar com materiais mais dura-
precisamos. Pesquisar, dar forma e criar é nosso único
douros ou teve a sorte de fazê-lo em ambientes pro-
meio de crescimento.
103
teatro no canteiro [104-107] Espetáculo “Desconstrução”, apresentado no canteiro de obras. Acima, uma das cenas retrata cordão umbilical, feito a partir de 30m de conduite
página anterior [102] Atelié M.O.: prática sobre “equilíbrio e simetria”por meio da arte
104
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antonio hermino do nascimento ex-operário, atual poeta
páginas anteriores [108] Painel Havaianas – obra de arte produzida para a Exposição Mestres da Obra em Barcelona, Espanha. Nela foi grafada a tradução em espanhol da poesia “Dia a dia”, de Antonio Hermino do Nascimento [109-112] Poesias originais escritas por Antonio Hermino do Nascimento
113
ARTE, SAÚDE E DESENVOLVIMENTO HUMANO Temos uma preocupação central, que é a criação de
tornem à condição anterior de percepção do ambiente
e menos agressivos. Os ateliês são espaços que permi-
Para que muitos dos problemas relacionados à
ambientes de trabalho mais saudáveis, mais humanos
social e cultural.
tem a criatividade e a liberdade de ideias para a cons-
saúde pública sejam solucionados, é necessário um
socioambientais.
de entornos físicos e sociais que favoreçam a saúde e
trução de conhecimento e reflexão sobre as questões
enfoque socioambiental em que se busque a criação
A complexidade dessas questões, pertinentes
o bem-estar dos indivíduos, o que exige ações políticas
não só ao Programa Mestres da Obra, mas a todos os
e transformadoras. Portanto, é uma questão que ultra-
processos de educação que se propõem a trabalhar
passa o campo de ação dos profissionais da saúde.
as questões socioambientais, implica a utilização e o
Diante das condições negativas em termos de
desenvolvimento de novas estratégias de ação. Temos
saúde do trabalhador existentes nos canteiros de
nos canteiros, construir uma realidade com a qualifica-
reflexão sobre a realidade e criar condições para que o
a intenção de, por meio das atividades desenvolvidas
obras brasileiros, nós atuamos de forma a promover a
ção do ambiente de trabalho dos operários participan-
indivíduo se perceba mais importante em seu meio e
tes, a ampliação de seus conhecimentos, o aumento da
deseje ocupar ali um espaço e ter uma atuação positi-
autoestima, o fortalecimento de sua cidadania e, com
vamente diferenciada. Pretendemos, assim, entre tan-
tudo isso, melhorar a qualidade de vida.
tos outros objetivos, diminuir a enorme proximidade
É possível que os operários que participam do
que existe entre o indivíduo empregado na construção
programa assumam uma nova e melhor atuação nos
civil e a marginalidade.
grupos em que estão inseridos e que dificilmente re-
115
“qualidade de vida está intimamente ligada a questão da felicidade, a questão da tua realização como ser humano. e pra que isso ocorra você deve conhecer as necessidades das pessoas e começar a adaptar o ambiente de trabalho a estas necessidades.” prof. dra. maria cecília f. pelicioni Saúde Pública USP
pinholes
[122] Curiosidade generalizada [123] Acima, lata fotogråfica pinhole [124-127] Fotografias feitas pelos operårios durante o Projeto Olhares no Canteiro – Pinhole
123
presenรงa feminina [128-129] Elas no canteiro [130-131] Elas em Juazeiro do Norte
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CONSTRUÇÃO DE BIOGRAFIAS Uma sala pequena. Oito operários que não faziam
arte-educadores que entrarão num canteiro e farão
ali. Não quisemos rotular nada. Sentamos em roda com
possível, e tudo bem. Talvez todas as nossas intenções
ideia de quem éramos ou do que estávamos fazendo
uma atividade artística, divertida, profunda dentro do
eles e colocamos um som. Pedimos apenas que fechas-
tenham se atropelado no primeiro bom-dia, no en-
sem os olhos. Algo como o som de um orin, o famoso
contro do primeiro olhar e do primeiro aperto de mão,
mantra “om” inundava o recinto por alguns minutos. E
naqueles dez primeiros minutos que decidirão a par-
aí começou a nossa viagem.
tida, naqueles dez primeiros minutos em que a gente
“Coloca música. Ouve. Que te parece? Triste? Ale-
gre? E agora esse som? Uma mulher andando de salto. Ela está brava? Sim. Ela é geniosa. E essa música? Essa
é tipo orquestra, né? Tipo aqui na obra. A gente tem o
precisa desaprender alguns conceitos, princípios, tirar
alguns rótulos e apenas estar presente. Iguais. Ali, no
encontro, de igual para igual, um número de pessoas que apenas compartilharia algumas experiências de
maestro que vai falando as coisas que a gente tem que
vida. Ali entendemos o ccmo (Circuito Cultural Mestres
fazer. A obra é tipo uma orquestra, né? Roda. A gente
olha no olho do outro e tem que falar da nossa vida, ok? Já! Tudo desde o começo, de trás pra frente, pode inventar se quiser. Tá vendo essa cicatriz? Nos conte
da Obra). Ali nos entendemos como um novo coletivo potente que precisava dissolver antigas formas de funcionamento para deixar respirar o novo.
Essa introdução é necessária, pois se perder no co-
a história dela. Divide sua vida em cinco momentos
meço foi essencial para o trabalho acontecer com toda
pro bom ou pro ruim. Essa é tua música. Tua partitura.
que aqueles homens estavam sendo retirados da obra
marcantes. Agora diz se cada momento foi marcante Todo mundo tem uma música só sua que nasce a partir dos acontecimentos na linha da vida. A gente gostou
a força que se seguiu a esse dia. Precisávamos entender
pelos engenheiros para entrarem em uma sala para fazer não sabiam o quê. Entender que a eles não era dada
muito, viu? Eu tenho um sobrinho que tá precisando de
nenhuma explicação prévia por parte da empresa. En-
emprego e ele é muito trabalhador. Não. A gente não
tender que isso provavelmente acontecia o tempo todo
é da construtora. Ah, não? Da onde vocês são então?”
na vida deles. Serem levados. E nós também.
Pronto. Esta pergunta abriu um oásis de compre-
Fomos levados pela necessidade de um enqua-
ensão em nossas intenções puras e caóticas. Ávidos
dramento mais bonito, e de repente percebemos que
nhamos nos apresentado. Eles se deram, inteiros, para
canteiro, um ritmo. Um respiro. Uma sinergia. Uma
pelo encontro, não paramos para pensar que não tí-
bonito era não se prender ao enquadramento. Cada
um grupo de pessoas sem fazer ideia do que levariam
pele diferente. Nossas atividades acabaram virando
delas. Natural pensarem que éramos da construtora.
elementos disparadores para colher histórias. Talvez
Tanta ficha caiu nesse dia! Caiu que não somos
isso resumisse esse ccmo: a arte de costurar histórias.
153
Porque não era apenas colheita. Todos ouviam as histó-
forma não é o fim. Ela é o meio. Quando você estiver
uma emenda bonita, como se a todos fosse dado pas-
você. Tudo o que você vir será uma ponte para atraves-
rias dos colegas e engatavam as próprias histórias em
vendo essa exposição, um outro mundo começará em
sar por experiências semelhantes. E a emenda, a colcha
sar até você, até onde algo dentro de você possa ser
toda, é o que singelamente tentamos tecer posterior-
atravessado. O ccmo continua na forma como você,
mente para ofertar, numa futura exposição, a experiên-
agora, talvez vá olhar para uma obra quando passar
cia de ouvi-la, de senti-la, de cheirá-la, de cobrir-se todo
na frente dela. Ou quando chamar um pedreiro para
dessa matéria fina que são os dias alheios.
fazer um piso sobre piso na sua sala. Ou apenas pensar
Foram muitas cicatrizes. Físicas. Emocionais. Tatu-
que as paredes desse espaço em que você se encontra
adas voluntariamente. Foram muitas partilhas de me-
agora também oculta as histórias de homens que a eri-
dos, sonhos, desejos, gostos, gestos.
giram tijolo por tijolo. Não. Não é para ser apenas uma
Olhar no olho do outro. Dizer o nome do outro. Ou-
bela exposição, comovente em alguns pontos (nem sa-
vir o seu nome sair da boca do outro. Dar-se a devida
bemos se bela será). Da mesma forma que percebemos
importância. Orientar uma mão que não sabe escrever
que não eram as atividades em si que começavam o
a traduzir um sentimento em palavra. Confessar pas-
projeto, sabemos agora que também não é a exposição
sagens não tão bonitas da vida e descobrir que todos
passaram pelo mesmo. Saber que não se está sozinho. Ver seus colegas de uma nova forma depois de uma
tarde de histórias. Ver a si mesmo de uma nova forma. Fulano andou 60 quilômetros a pé com a mãe para esta parir o irmão. Sicrano teve que comer urubu para curar
em si que o finaliza. Estamos todos aqui a pretexto de
encontros legítimos. Estamos enquanto sociedade há tempos tentando fagocitar a parte que nos cabe da figura do outro, sem nunca alcançá-lo de fato. Estamos sós, com a ponta da nossa linha de vida nas mãos, sem saber direito para onde ir.
o fígado. A mãe de Cosmo teve nove barrigas, duas de
Talvez o processo desse projeto especificamente
dois. Cosmo e Damião. Gêmeos. Adão tomou cascudo
tenha sido uma overdose de pontas de um grande no-
José Maria acredita que nasceu para obedecer. Reinal-
e tentativas de desembaraço. Quando pegamos na
até acertar. Paulo planta obras no chão e as vê crescer. do transforma tristeza em alegria. Jacobs é, desde os 9
velo. Um novelo-operário com muitas linhas, nós, cores ponta do novelo, nos ligamos imediatamente ao centro
anos, trabalho. Daniel parou de estudar para poder tra-
dele. Se não podemos cuidar de todos os infortúnios do
balhar. Daniel ainda sonha.
mundo, que possamos ao menos pegar na ponta deles
como atalho para chegar ao cerne. Atalho para a empatia. Talvez o mundo neste momento não precise de
o que está por vir
E agora, depois de dez canteiros e um número infinito
mais do que isso: empatia.
de histórias, fotografias, registros, vídeos, músicas, pos-
Talvez não consigamos desembaraçar seu nó. Tal-
sibilidades, queremos tecer a colcha. Enquanto escreve-
vez não consigamos evitar que seu filho se mate num
exposição que acontecerá em três meses. Você que está
no 2 de abril de encontro ao seu 1º de maio. No cerne.
mos este texto, ainda não sabemos o que dizer sobre a
1º de maio. Mas podemos levar a morte de nosso pai
lendo pode, inclusive, estar nessa exposição neste mo-
E ambas as histórias se respeitarão e conversarão inde-
mento. Talvez sentado em uma cadeira, talvez tomando
pendente de nós. E saberemos que toda ponta de no-
um vinho (não sei se serviremos bebidas). Talvez tenha
velo inspira um grande respeito, porque ata o mundo
acabado de ver o rosto de Jacobs e se emocionado. Não
todo ao cerne. Por corações que se unam no cerne. No
sabemos, assim como não sabemos ainda que forma
centro do embaraço total. Do nó que nos faz irremedia-
dar a todo esse material. Sabemos, no entanto, que a
velmente iguais.
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155
156
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ccmo [152-155] Operários e a construção de biografias como forma de desnvolvimento humano [156] Projeto “Cicatrizes” – corpo. [157] Projeto “Cicatrizes” – mente
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tudo junto e misturado [160-161] Operários em atividades do Circuito Cultural Mestres da Obra [164-165] Uniforme dos super-heróis [166-167] Operário experimenta textura – Ateliê M.O. “emotion paint”. Este painel ficou por definitivo no subsolo do empreendimento.
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“uma das coisas mais importantes que um operário, um trabalhador da construção civil, alguém que vive no canteiro de obras precisa entender é que é necessário que ele se desavergonhe. e ele se desavergonhará quando tiver clareza da importância daquilo que faz. um homem só deve olhar outro homem de cima para baixo quando for para ajudá-lo a se levantar.” mario sergio cortella Filósofo, escritor e educador
were made in the pilot studio were selected to appear
in an influential art gallery in the abc region, the Salão de Arte Contemporânea Espaço Henfil de Cultura. After the pilot project was featured on the front page of the main newspaper in the area, Diário do Grande abc, the
initiative gained visibility and support, allowing us to advance the project. about
Mestres da Obra is an oscip (Civil Society Public Interest
how’s the project is organized, and how it takes place
In practice, a variety of educational activities take pla-
Organization). For over a decade, they have contributed
ce in the project’s temporary art studios (Ateliê Escola),
rs, working with issues related to education, culture,
dios are built especially for the program. Within these
to the human development of civil construction workeand health. The ngo’s central activity is installing art
studios on construction sites. The raw materials used in their creations are taken from the variety of leftover scraps at the work site itself. The literal translation of
Mestre de Obra is foreman, typically of a construction site. The literal translation of the word obra is work, and
is also used in reference to a ‘work of art’ (obra de arte). So, the group’s name, Mestres da Obra, is a play on both
a master of (art) works and a reference to the foreman, or leader of a construction site, a position that is democratized within the project. the idea
The idea came about in 1999. It was relatively simple: to transform residual building materials into works ofart
through an educational process with workers on construction sites. That was in January of 1999. Two young
people brought their experience together to create the
Projeto Mestres da Obra. I, Arthur Zobaran Pugliese, am an architect and urbanist, and Daniel Manchado Cywinski is a business administrator and educator.
The development of the Mestres da Obra pilot
project began in 2001. The pilot was installed on acons-
which are located within construction sites. The stu-
spaces, there’s a strong relationship between learning, construction, and the production of knowledge as well
as self-knowledge, with the goal of improving quality of life for participants. Educators who are trained spe-
cifically for the project collaborate with construction workers who utilize leftover materials from work sites
in the production of art and design pieces. In this way, they recuperate the raw-material nature of those items. Materials that up until then were discarded from
what had been built, and which no longer have mea-
ning, become raw materials once in contact with the studio. The project runs contrary to what traditionally
happens in the industry; the work isn’t foreign. Rather, the worker himself creates it, and the final product
expresses his own inventions, cultural references, aes-
thetics, and subjectivity. In the process of transmitting artistic principles and references, in the process of in-
fluencing the workers’ perceptions, gestures, and behaviors, this work creates spaces where the knowledge
and talents of learners are valorized, thereby shrinking the barrier between those who supposedly “know and
can”, and those who supposedly “don’t know and can’t.”
truction site with minimal support, in the city of Mauá,
the vision for the future
(abc). Three workers participated in that phase, during
expand our operations to more and more work sites.
located within São Paulo’s greater metropolitan region
Our vision of the future is to keep the same concept and
work hours, for half an hour each week. In practice,
Since we have a large collection of art, we are planning
that half-hour became two hours, because participants
stayed after hours to continue the activities on their own accord. This moment was fundamental in constituting theeducational components that made up part of
this practice, entitled “Transformação do Olhar” (Transformation of the Gaze). That same year, the pieces that
for the possibility of traveling exhibitions within and
outside of Brazil. In this way, we elevate the so-called invisible man to the status of cultural producer, and not
just a producer of walls. We’re reaping what we sow. We
adapt to technical changes in civil construction and learn what not to do on work sites.
Changes we have made have to do with the nature
labor these days. In the early years of the project workers were internal employees of the specific construction company hired to complete each building. Today this situation has changed; the vast majority of companies hire workers who are outsourced. On the one hand we
work with more people than before, but on the other we have less time on site since the groups arrive on site to do a very specific job and then move on to a different site. Of all the activities which were part of the pilot
project, film screenings are one thing we have stopped
due to the high degree of noise on construction sites, which disrupts the concentration needed to watch a movie.
the relationship with political issues in the city
According to data collected by the Programa Mestres
da Obra at the beginning of each year, of the workers who attended the Mestres da Obra studios between 2005 and 2013, 17% were born in the state of São
Paulo and 83% migrated from other Brazilian states,
predominantly from the states of Piauí, Ceará, Bahia,
set off by changes in cultural codes. It is a process in
which the cultural references he knows no longer work and the specific set of values that sustain his daily
patterns come undone. Without a doubt, these conditions are aggravated by the particular experience of
civil construction workers. Since they have little buying power, they live on the urban periphery, where they
face poor housing conditions and their homes are very far away from their workplaces. Maria Luiza Cristolaro Klausmeyer’s dissertation in 1988 already described
many of the conditions of civil construction workers
in Rio de Janeiro in the 1970s and 1980s, the migrant worker sees the culture of the big city as that of a
superior being that can at once devour him or protect
him from misery, abandoned as he is by his obligatory
state of exile. The exclusion the migrant worker suffers, and society’s resistance to accept recent arrivals due
to their differences, reinforces his sentiment of loss of shelter and security.
how is the project related to the everyday lives of construction workers
Pernambuco, Paraíba, Minas Gerais, and Paraná. Migra-
Mestres da Obra is often seen as a momentary inter-
of construction laborers, generally occurring due to
tion is a novelty and it’s perceived by some workers as
tion is a defining characteristic of the city’s population depletion of resources, work, and living conditions in
the migrant’s place of origin. They are accustomed to arduous work most often because of their families’
precarious financial conditions, where they invariably entered the workforce as children, tending farmland
or cattle. They experience poor quality of life and have little access to formal education, cultural centers, or
human development. Migratory movement results in
the fragmentation of an identity. Upon leaving a place, the loss of one’s known system of references necessarily comes into play. The process of separation brings about an experience of a loss of shelter and security,
which in most cases is experienced as abandonment.
vention in the rhythm of everyday work. This interven-
a time to exercise something that, due to prejudice, they believe they don’t usually utilize: their minds. The art workshops, from this point of view, are a time to
prioritize the use of intelligences that they consider of little use in their everyday experience. This stimulation
of other intelligences is valorized as something that, later, when they return to their everyday work activities, helps to solve common problems and broadens
their capacity to find solutions. There are many stories of workers referencing the Mestres da Obra practice as
something that helps them to “have more ideas”, providing creative growth.
These experiences are corroborated in Paulo Frei-
In this movement, the new living situation in the big
re’s reflections, in the sense that “while they are sub-
It demands of the individual a capacity for “re-elabo-
flect critically on their concrete environment and their
city imposes the formation of a new cultural identity. ration” of the everyday through constant interaction, exchange, searching, and questioning. Drawing from Marcos Reigota’sphrasing, they have to “swallow”
many systems of references each day. In this way, the
migrant begins a deep and complex individual process,
jects of this educational process, these individuals re-
realities, gradually becoming conscious and committed, becoming capable of intervening and transforming the world.
This interview is part of “Participatory Urbanisms”, and transcript was translated by Laura Senteno.
créditos do projeto mestres da obra – o livro coordenação geral Arthur Zobaran Pugliese coordenação executiva Angela Pugliese coordenação de produção Bianca Salay
coordenação de pesquisa Daniel Manchado Cywinski projeto gráfico Rico Lins +Studio diagramação Fernanda Abe
produção gráfica Fatima Secches (GFK Comunicação) pesquisa Alexandre Corazza, Alfonso Aurin, Arthur Zobaran Pugliese, Bianca Salay, Caio Salay, Daniel Manchado Cywinski, Dimas Volpato, Eduardo Auricchio, Lucas Bêda, Mercedes Manchado Cywinski, René Orosco, Sandra Taiar, Vera da Cunha Pasqualin, Verônica Gentilin revisão Alessandro Thomé
textos em inglês Laura Senteno
revisão textos em inglês Heloisa Villalva fotógrafos
Agência Ophelia p. 140-141; Bianca Salay p. 4-5, 8, 12, 22-23, 28-29, 62,
70-71, 90, 92, 99-101, 130-134, 136, 142, 148-149, 152-163, 166-171, 176, todas as polaroids ao longo do livro; Fernando Ricci p. 122; Gabriel Boieras p. 15, 76, 87, 120, 150-151, 164-165; Marcia Ferraz p. 143 (acima). as demais fotografias pertencem ao Acervo Mestres da Obra.
imagem da capa: obra de arte “Dia a dia”, por Antônio Hermino do Nascimento.
texturas p. 6-7, 16-20 e fotografia p. 50: fotografias tiradas pelos operários durante o Projeto Olhares no Canteiro.
textura p. 30-31 : “Rusty Horse”, por Texture Planet / CC BY 3.0, disponível no site: <textureplanet.net/textures/rusty-horse>.
curadoria Arthur Zobaran Pugliese, Bianca Salay, Daniel Manchado Cywinski
oscip mestres da obra conselho deliberativo Arthur Z. Pugliese, Angela Pugliese
conselho fiscal Vera da Cunha Pasqualin, Daniel Cywinski
gratidão (substantivo feminino);
1. qualidade de quem é grato. 2. reconhecimento de uma
pessoa por alguém que lhe prestou um benefício, um auxílio, um favor, etc.; agradecimento.
Aos serventes, pedreiros e mestres. Encanadores, eletricistas e marceneiros. Aos técnicos, engenheiros, empresários e empresas. Aos educadores e artistas. Aos amigos. A todas as pessoas que nos deram estímulo e acreditaram conosco. Gratidão. Muita.
fontes din e the sans papel aa 120g e superbond 56g impressĂŁo ipsis grĂĄfica e editora tiragem 3.000