2 minute read
Capítulo 1
tude de impessoalidade, esta última que mantém como justificativa para a atitude fim manter a distância objetiva.
Entretanto, a concretização dessa distância objetiva na prática da entrevista re vela o descompromisso do pesquisador em relação aos sujeitos. Descompromisso diante do seguinte problema: como qualificar essa distância diante da recusa em considerar a emoção dos depoimentos na narrativa, o silêncio, a pausa, o choro, a ansiedade, o sorriso, e a confiança depositada pelos entrevistados ao definir o melhor momento para tornar dizível o indizível? A intensidade da relação se dilui na lógica positivista da objetividade. Nesse processo, o sujeito é novamente objetivado e o valor da memória, que deveria ser o contraponto da coisificação sofrida por ele, se perde em seu próprio reducionismo.
Advertisement
Por isso, é importante precisar que as emoções registradas nas entrevistas com os recém-formados ou os profissionais com mais de 30 anos de formação não são considerados como acidente de percurso ou estratégia para fechar a imagem em close para “sensibilizar” o público. Ato contrário: o mergulho nas aflições vivenciadas pelos sujeitos deve ser estabelecida como material para pensar o sentido da sociedade e a responsabilidade social do processo de formação do jornalista na sua produção dialógica com a comunidade.
Um conceito fundamental neste livro é o de memória coletiva. Tanto Ecléa BOSI (1994) quanto Michel POLLAK (1992; 1989) utilizam-se da concepção de HALBWACHS (1990) de que a memória da pessoa está ligada à memória do grupo e das relações sociais que construímos. Esse processo modifica a percepção da memória e da realidade devido às diferentes relações sociais. BOSI cita que “lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e idéias de hoje, as experiências do passado. [...] A lembrança é uma imagem construída pelas matérias que estão, agora, à nossa disposição” (1994:55).
16
Assim, a memória deveria ser entendida “como um fenômeno coletivo e social, ou seja, como um fenômeno construído coletivamente e submetido a flutuações, transformações, mudanças constantes.” (POLLAK, 1992: 201), pois é ela que constrói o sentimento de identidade, individual ou coletiva, “na medida em que ela é também um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstrução de si” (POLLAK, 1992: 204).
Outro aspecto teórico importante é que a análise dos conceitos de cultura, cotidiano e identidade no contexto de pós-modernidade está articulado na Teoria dos Estudos Culturais e na produção de quatro autores como referência: Raymond WILLIANS, Stuart HALL, Edward THOMPSON e Richard HOGGART. Como nos narra Agger apud ESCOSTEGUY, há uma concepção de cultura do qual marca a particularidade dos Estudos Culturais: ESCOSTEGUY:
“O grupo do CCCS amplia o conceito e cultura para que sejam incluídos dois temas adicionais. Primeiro: a cultura não é uma entidade monolítica ou homogênea, mas, ao contrário, manifesta-se de maneira diferenciada em qualquer formação social ou época histórica. Segundo: a cultura não significa simplesmente sabedoria recebida ou experiência passiva, mas um grande número de intervenções ativas – expressas mais notavelmente através do discurso e da representação – que podem tanto mudar a história quanto transmitir o passado” (HOHLFELDT, 2001, p. 156)
Metodologia
natureza da pesquisa para a produção deste livro pode ser entendida enquanto uma pesquisa aplicada. A proposta é identificar as relações entre a formação prática e teórica do jornalista e a vivência dele noA mercado de trabalho, que permitirá a construção de conhecimentos úteis para o avanço das discussões sobre esta temática, sem, contudo, previsão de aplicação
17