Gerson de Sousa
tude de impessoalidade, esta última que mantém como justificativa para a atitude fim manter a distância objetiva. Entretanto, a concretização dessa distância objetiva na prática da entrevista re vela o descompromisso do pesquisador em relação aos sujeitos. Descompromisso diante do seguinte problema: como qualificar essa distância diante da recusa em considerar a emoção dos depoimentos na narrativa, o silêncio, a pausa, o choro, a ansiedade, o sorriso, e a confiança depositada pelos entrevistados ao definir o melhor momento para tornar dizível o indizível? A intensidade da relação se dilui na lógica positivista da objetividade. Nesse processo, o sujeito é novamente objetivado e o valor da memória, que deveria ser o contraponto da coisificação sofrida por ele, se perde em seu próprio reducionismo. Por isso, é importante precisar que as emoções registradas nas entrevistas com os recém-formados ou os profissionais com mais de 30 anos de formação não são considerados como acidente de percurso ou estratégia para fechar a imagem em close para “sensibilizar” o público. Ato contrário: o mergulho nas aflições vivenciadas pelos sujeitos deve ser estabelecida como material para pensar o sentido da sociedade e a responsabilidade social do processo de formação do jornalista na sua produção dialógica com a comunidade. Um conceito fundamental neste livro é o de memória coletiva. Tanto Ecléa BOSI (1994) quanto Michel POLLAK (1992; 1989) utilizam-se da concepção de HALBWACHS (1990) de que a memória da pessoa está ligada à memória do grupo e das relações sociais que construímos. Esse processo modifica a percepção da memória e da realidade devido às diferentes relações sociais. BOSI cita que “lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e idéias de hoje, as experiências do passado. [...] A lembrança é uma imagem construída pelas matérias que estão, agora, à nossa disposição” (1994:55).
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