PARADOXO DO COTIDIANO II

Page 15

Gerson de Sousa

tude de impessoalidade, esta última que mantém como justificativa para a atitude fim manter a distância objetiva. Entretanto, a concretização dessa distância objetiva na prática da entrevista re vela o descompromisso do pesquisador em relação aos sujeitos. Descompromisso diante do seguinte problema: como qualificar essa distância diante da recusa em considerar a emoção dos depoimentos na narrativa, o silêncio, a pausa, o choro, a ansiedade, o sorriso, e a confiança depositada pelos entrevistados ao definir o melhor momento para tornar dizível o indizível? A intensidade da relação se dilui na lógica positivista da objetividade. Nesse processo, o sujeito é novamente objetivado e o valor da memória, que deveria ser o contraponto da coisificação sofrida por ele, se perde em seu próprio reducionismo. Por isso, é importante precisar que as emoções registradas nas entrevistas com os recém-formados ou os profissionais com mais de 30 anos de formação não são considerados como acidente de percurso ou estratégia para fechar a imagem em close para “sensibilizar” o público. Ato contrário: o mergulho nas aflições vivenciadas pelos sujeitos deve ser estabelecida como material para pensar o sentido da sociedade e a responsabilidade social do processo de formação do jornalista na sua produção dialógica com a comunidade. Um conceito fundamental neste livro é o de memória coletiva. Tanto Ecléa BOSI (1994) quanto Michel POLLAK (1992; 1989) utilizam-se da concepção de HALBWACHS (1990) de que a memória da pessoa está ligada à memória do grupo e das relações sociais que construímos. Esse processo modifica a percepção da memória e da realidade devido às diferentes relações sociais. BOSI cita que “lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e idéias de hoje, as experiências do passado. [...] A lembrança é uma imagem construída pelas matérias que estão, agora, à nossa disposição” (1994:55).

16


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook

Articles inside

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

2min
pages 263-264

Considerações finais

7min
pages 257-262

A Maturidade da liberdade criativa na prática jornalística

42min
pages 229-254

Narrativas da Realidade: O gosto pelo Jornalismo

37min
pages 205-226

Capítulo 11

1min
pages 255-256

Os dilemas da emoção na arte de interpretar a notícia

37min
pages 181-202

A tensão da teoria na prática bruta do Jornalismo

36min
pages 157-178

A interrogação do eu provocado na produção de sentido

30min
pages 117-134

A narrativa em tempos de consciência histórica

28min
pages 137-154

Os incômodos da paixão na prática vivenciada no Jornalismo

39min
pages 63-86

Capítulo 4

2min
pages 87-88

Capítulo 5

1min
pages 115-116

Capítulo 6

0
pages 135-136

Capítulo 3

2min
pages 61-62

Capítulo 2

3min
pages 37-38

Agradecimentos

1min
pages 1-6

A produção de sentido do conhecimento

34min
pages 39-60

Capítulo 1

2min
pages 15-16

Justificativa

3min
pages 8-12

O desafio de lutar contra o tempo na produção de sentido

32min
pages 17-36

Metodologia

3min
pages 13-14
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.