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Capítulo 2

entender o que se refere a pauta do cotidiano, que pela correria passa batido em relação às pautas do que se identifica como assuntos políticos. É provável que não se trate de assuntos políticos mas de personalidades políticas. Pois é justamente o cotidiano, a cultura como política, que se efetiva um posicionamento do sujeito diante da realidade. A finalização deste embate veio com outra resposta inesperada, que o entrevistado conceitua esse problema teórico.

O que edifica a produção jornalística como história seria então o suporte na qual se faz o registro? Seria porque se faz dez anos que foi publicado que se torna história? Se no momento que se produz, o jornalista não tem consciência de que faz história e realmente pra ele foi batido, porquê daqui a 10 anos se tornará história? E a resposta veio em tom de mudança conceitual da percepção, que até então sustentava o discurso de Erivelton Rodrigues, para o da experiência vivida. Mas eu não diria que história é feita só de ato consciente, não, né? É de vivência, não importa se tem consciência ou não daquilo, mas é de vivência... Ainda que fosse sinalizado um problema, mesmo que fosse na imprensa, em determinado período, acho que faz parte da história. É preciso discutir isso entendeu, com tempo, e ver que rumo seguir, né? Também é história, ainda que fosse um problema, a gente constatasse um problema na imprensa como pode ser sugerido, é história. (ENTREVISTA, Erivelton Rodrigues, 2016).

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A história não é feita somente de ato consciente, é de vivência. A justificativa em primeiro momento se apresenta plausível, pois traz para a produção de sentido outros elementos para além da razão. É assim que Erivelton Rodrigues estabelece a vivência como ponto nodal. O fator primordial aqui é compreender os limites dessa vivência no processo de produção jornalística já relatado pelo entrevistado. E que sinaliza que nem sempre se consegue vencer ao enfrentamento da determinação hegemônica. A resposta traz a tônica novamente a pergunta: se é história, que narrativa histórica estamos contando por meio do jornalismo?

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É sintomático que durante o diálogo, o entrevistado tenha citado a crise do jornalismo atual em que o público começa a fazer crítica sobre determinadas coberturas. É provável que esse seja o caminho estratégico para que ele possa sair desta cilada teórica em que se mergulha ora pelo cotidiano, ora pela rotina. Se o jornalismo é produzido para o bem comum, nada melhor do que o público realizar produção de sentido oposicional ao que é produzido na redação, para se contrapor às grandes derrotas ideológicas no espaço comunicativo. É claro que será um embate a ser ainda provocado em sua realidade e que a filosofia, cursada em dois anos, possa lhe ajudar como pensamento crítico. Qual o conceito de jornalismo de Erivelton Rodrigues? A resposta é simples em sua complexidade:

O que é jornalismo? Eu não iria muito além do que eu disse sobre a essência não. Acho que é você informar e ir em busca do bem comum, acho que é por aí. Quando você tiver pensando que aquele tipo de informação vai trazer benefícios pros outros e talvez pra você mesmo, acho que tá indo no caminho certo, quando algo te impede de fazer isso, talvez seja o momento de repensar. (ENTREVISTA, Erivelton Rodrigues, 2016).

Quando algo te impede de fazer isso é o momento de repensar. As fissuras identificadas no mercado de trabalho estão sendo, aos poucos, sendo coladas. O ponto de referência revela ser ainda aquele texto da adolescência do Ensino Médio. Jornalismo, na essência do conceito do entrevistado, é informar e ir em busca do bem comum. Na fissura do informar, Erivelton Rodrigues deu o primeiro salto para a resolução. No período da entrevista, ele cursava o segundo período da graduação de Letras. A proposta é ajustar aquilo que faltou na primeira graduação para que possa utilizar no mercado com qualidade. Melhorar o texto é um primeiro passo para se posicionar na profissão.

Como as atitudes nem sempre são isoladas, justamente no momento em que busca se qualificar para o jornalismo, a graduação em Letras revigora o sonho de criança de ser docente. O entrevistado procura esclarecer que não há aqui qualquer

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