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Capítulo 3

O que o jornalista faz hoje? Ele se mostra, dá uma melhorada no texto do produtor. Eu falo que produtor tem que ganhar mais do que repórter. O produtor entrega de mão beijada ao repórter. Na minha época, te dava pouco. Tinha que falar com fulano: o que está sendo discutido? Hoje você já chega com tudo mastigado. Pega uma pauta pra você ver. Sai com a pauta prontinha, até com a pergunta que vai fazer. (Entrevista, Sandra SATIKO, Dez. 2015)

Tudo mastigado, e determinação hegemônica do econômico passa a preponderar ao ponto de Sandra Satiko questionar onde está o jornalismo: Qual imagem você tem de sua formação e da universidade? A jornalista aposentada explica que não é com a sua historicidade que se deva preocupar. Mas com quem está cursando a universidade no presente.

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Você não sabe o que as pessoas tão esperando do curso. Eu acho que hoje se tem o melhor pra oferecer pra essa moçada. Parece o melhor. Eu me aposentei porque eu me desiludi com a profissão. Você vê jornalistas se vendendo um tanto, um merchandising tão grande, se vendendo, se convidando pras coisas. Que que é isso? O que tá acontecendo com esse povo? Vendendo marca. Marketing, o jornalismo tá virando marketing. De ganhar um convite pra poder almoçar em algum lugar e divulgar. Mimo não sei da onde, mimo não sei do que. Que eu pensei “gente, mas onde que vai parar, cade o jornalismo?”. (Entrevista, Sandra SATIKO, Dez. 2015)

A constatação na experiência vivida de que o jornalismo está se tornando uma peça de marketing é a angústia revelada por Sandra Satiko. Poderíamos discutir seus argumentos, mas o elemento fundamental é entender a discordância dela deste caminho. E os motivos saltam na realidade. A perda da sociabilidade na redação em que os repórteres discutiam e construíam juntos as matérias; a falta de criticidade das perguntas nas entrevistas dos jornalistas, que na prática mais reproduzem aquilo que já foi estabelecido pelo editor; a prostituição denunciada da área quando realiza determinado serviço e cobra aquém do que deveria com o único objetivo de aparecer.

A jovem que não teve dúvidas de ingressar na carreira do jornalismo por referências da família, agora toma a decisão de interromper na família esse percurso no

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jornalismo. Do presente da aposentadoria, ela analisa o passado e os rumos tomados pela profissão nas últimas décadas. Embora denuncie que essa desilusão nasce das redes sociais, Sandra Satiko, em determinado momento, confidencia que esse sentimento é referente às pessoas.

Não se trata da inclusão ou do uso do computador. Mas dos sujeitos que retiram da profissão aquilo que deveria ser o seu próprio alimento: a capacidade de argu mentar. E sem argumento, fica difícil entender de onde será levantada produção de sentido que remeta ao conhecimento. Sandra Satiko descobriu que a ignorância sobre a realidade pode levar o outro a se instigar para atingir o conhecimento. Foi assim, desta forma, quando tomou o choque ao ingressar na universidade e depois no mercado de trabalho. Agora não se trata de Sandra Satiko, como subjetivo, mas do jornalismo, como sujeito. Na universidade, o grupo de alunos se reuniu para estudar mais e com isso encontrar significado para ser jornalista. Fora do mercado de trabalho e sem pensar mais na profissão, a confiança nos estagiários de jornalismo se apresenta como possibilidade de produzir sentido de conhecimento e retirá-los desse momento da ignorância epistemológica.

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