Ação cultural na terceira idade: a criação de textos e a dimensão subjetiva do envelhecimento

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ROSTO

2020


Copyright © 2020 dos autores Direitos reservados desta edição: RiMa Editora Proibida a reprodução total ou parcial.

A168a

Ação cultural na terceira idade: a criação de textos e a dimensão subjetiva do envelhecimento / coordenado por Adilson Marques. São Carlos: RiMa Editora, 2020. 158 p. ISBN 978-65-00-00036-8 1. poesia. 2. terceira idade. 3. criação de textos. 4. envelhecimento. I. Autor. II. Título.

Editora Rua Virgílio Pozzi, 213 – Jd Santa Paula 13564-040 – São Carlos, SP Fone: (16) 98806-4652


Aos alunos da UATI que integraram o Grupo de Literatura no passado e hoje acompanham de outras paragens existenciais o trabalho realizado por seus colegas e aos que nĂŁo podem mais participar por motivos de saĂşde, caso de nosso amigo JosuĂŠ Oliveira Cruz, dentre outros.



AGRADECIMENTOS

À Elisabeth Márcia Martucci, ex-diretora-presidente da FESC, que em 2007 apoiou e estimulou a participação dos alunos nas oficinas de criação de textos e no concurso Talentos da Maturidade. Ao ex-diretor presidente da FESC, Edson Belo Belo, que autorizou, em 2013, a criação do Grupo de Literatura da UATI. Ao atual diretor presidente da FESC, Fernando Henrique Carvalho, que tem apoiado e incentivado o trabalho do Grupo, durante sua administração. Aos alunos que, desde 2007, participam da história deste projeto, contribuindo de alguma forma para que o trabalho complete 13 anos ininterruptos em 2020. Aos professores e funcionários da FESC, que apoiam e contribuem para o trabalho crescer a cada ano. Aos parceiros de outras organizações públicas ou particulares que estão sempre juntos nesta caminhada, como a ACORDE, o SESI, o SIBISC, dentre outros. Ao PROAC, pelo apoio financeiro para a realização de mais uma edição do projeto Ação Cultural na Terceira Idade.


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APRESENTAÇÃO

E

m 2007, ministrei a oficina de criação de textos literários nas unidades 1 e 2 da Fundação Educacional São Carlos (FESC), na qual leciono desde 2003. A ideia era estimular e ajudar os alunos da Universidade Aberta da Terceira Idade (UATI), um dos mais importantes programas da FESC, que quisessem participar do concurso “talentos da maturidade”, organizado pelo banco Santander. Em 2008, a primeira grande surpresa: o aluno Antonio Almeida foi premiado, com o seu trabalho “Eu e o Pitoco”, na décima edição do concurso. Ele e a esposa foram receber o prêmio em Recife (PE), com todas as despesas pagas pelo banco. Em 2010, foi lançado o primeiro livro com poesias, contos e crônicas escritos pelos alunos da UATI. A obra contou com 31 alunos-escritores e um número significativo de textos. O lançamento ocorreu no Cine São Carlos, no Dia Internacional do Idoso. Toda a despesa com a edição e publicação do livro foi bancada pelos próprios alunos. Entre os anos de 2011 e 2012, o diretor de teatro Dagoberto Rebucci montou um espetáculo cênico baseado nos textos, apresentando-o em vários eventos na cidade de São Carlos. O espetáculo, intitulado Leituras de vida – sentimentos e reflexão, emocionou alunos e familiares.

Espetáculo cênico Leituras de vida, de Dagoberto Rebucci (2012).

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A partir da experiência acumulada, em 2013 foi criado o Grupo de Literatura da UATI, que passou a organizar eventos na cidade. Destacam-se, dentre outros, o VaLer (2013), com o apoio do SESC São Carlos e outras organizações e instituições da cidade, e o Festival do Livro (2015), em parceria com a Fundação Pró-Memória. Em 2017, o Grupo de Literatura lançou o seu segundo livro, também com recursos dos alunos, e, no ano seguinte, montou o sarau Na época dos bondes e dos trens, apresentado em várias escolas municipais. O sarau reproduzia experiências vividas nos bondes que circulavam pela cidade, assim como nos trens de passageiros, que foram desativados em 2001, além de homenagear o cronista Eduardo Kebbe. Durante o sarau foi distribuído um gibi criado pelo grupo: Mobilidade urbana: um direito de todos. Finalmente, em 2019, com o apoio do PROAC, o Grupo de Literatura conseguiu recursos para lançar mais um livro e organizar a edição 2020 do evento “Ação Cultural na Terceira Idade: a criação de textos e a dimensão subjetiva do envelhecimento”, do qual farão parte o II VaLer – com diferentes atividades culturais de estímulo à leitura, principalmente para crianças e idosos, em escolas municipais, centros comunitários e outros espaços culturais e educativos – e também o II Festival do Livro, um espaço para a venda e troca de livros, dentre outras atividades culturais. Atualmente, o Grupo de Literatura da UATI reúne dez alunos que gostam de escrever, declamar seus textos ou apenas acompanhar a produção criativa dos amigos. Alguns já publicaram livros de forma independente. Nos últimos dois anos, o grupo passou a organizar saraus em escolas públicas municipais, em escolas que trabalham com pessoas com deficiência física e mental e em outros locais da cidade, destacandose o trabalho com alunos da ACORDE e também o Sarau da (in)visibilidade, organizado com o Coral Um Outro Olhar, formado por pessoas com deficiência visual, e com moradores em situação de rua atendidos no Centro Pop. O grupo também já recebeu moção honrosa da Câmara Municipal de São Carlos em duas ocasiões: quando lançou seu segundo livro, — 12 —


em 2017, e também em 2018, quando participou do evento “Educação Popular, Imaginário e Mobilidade Urbana”, com um sarau e a elaboração de um gibi (dois mil exemplares), distribuído gratuitamente nas escolas da cidade.

Gibi Mobilidade urbana: um direito de todos. Criação do Grupo de Literatura da UATI, 2018. Ilustrações de João Marcos Akicekria.

Nestes 12 anos de trabalho ininterrupto com criação de textos, foram muitos os amigos e amigas que passaram pela minha vida. Vários já fizeram a passagem para outras dimensões. Suas histórias, muitas inspiradas na própria experiência de vida, fizeram com que eu me tornasse uma pessoa mais modesta e, talvez, humilde. Aprendi mais do que ensinei, disso tenho certeza. Mas também me sinto realizado por saber que a experiência que construímos foi, mesmo que de forma modesta, relevante para valorizar a subjetividade e aumentar a autoestima de parte da população idosa que frequenta a Universidade Aberta da Terceira Idade, talvez o principal programa da Fundação Educacional São Carlos, que, em 2021, completará 50 anos de atividade sociocultural e educativa no município. E estimular a produção de textos e sua difusão, sobretudo para pessoas da terceira idade, é uma atividade gratificante que sensibiliza a alma, estimula a mente e torna mais saudável o coração. Adilson Marques 22 de dezembro de 2019 Dia de Santa Francisca Xavier Cabrini — 13 —


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SUMÁRIO

ELIZA GONÇAL VES PAP A GONÇALVES PAPA AS QUATRO ESTAÇÕES ...................................................................................... 18 MÊS DE MAIO ...................................................................................................... 21 SSSS ..................................................................................................................... 22 DO NATAL ............................................................................................................. 23 UMA MÃE AMOROSA .......................................................................................... 24 EMMA DEAK VOVÓ QUE PINTOU! ............................................................................................ 28 A VOVÓ QUE PINTOU DE NOVO... ...................................................................... 29 PRIMAVERA .......................................................................................................... 30 ESTAR SÓ... .......................................................................................................... 32 CARTAS... ............................................................................................................. 34 SOLIDÃO .............................................................................................................. 35 INCERTEZAS ........................................................................................................ 36 MESMO SOZINHA... ............................................................................................. 37 SOLIDÃO OU SOLITUDE: A ESCOLHA É SÓ SUA... .......................................... 38 MINHA QUERIDA VIRA-LATA PIPOCA ................................................................. 39 PASSARINHOS DO MEU QUINTAL ..................................................................... 40 A VIDA ME ENSINOU... ........................................................................................ 42 ARCO-ÍRIS ............................................................................................................ 43 AO ACORDAR TODO DIA... ................................................................................. 44 DO QUE AS CRIANÇAS GOSTAM? ..................................................................... 45 T E M P O .............................................................................................................. 46 SER FELIZ ............................................................................................................. 47 O SER HUMANO EM 2019 ................................................................................... 48 UMA VIDA MELHOR PARA TODOS NÓS... ......................................................... 50 DEDICAÇÃO AO PRÓXIMO ................................................................................. 51 GRATIDÃO ............................................................................................................ 52 GEORGINA BROZZI POETA .................................................................................................................. 56 DIA DOS NEGROS ............................................................................................... 57 — 15 —


MINHA VOVÓ ........................................................................................................ 58 INCENTIVO À VIDA ............................................................................................... 59 EU E O EGO ......................................................................................................... 60 HÉLIO LUIS BICHARA POR ONDE ANDEI? .............................................................................................. 64 MULHER ............................................................................................................... 66 CAMINHEIRO ....................................................................................................... 67 MENINA DE RUA... ............................................................................................... 68 FAMÍLIA ................................................................................................................. 70 AMIGO AMADO .................................................................................................... 72 PRIMAVERA .......................................................................................................... 74 CAMINHE .............................................................................................................. 76 FLOR ..................................................................................................................... 78 PRIMAVERA, ESTAÇÃO DAS FLORES ................................................................ 80 O VENTO .............................................................................................................. 82 JOSÉ RIV ALDO BIANCHIM RIVALDO PENSAMENTOS DIVERSOS ................................................................................ 86 COMO UM ANDARILHO ...................................................................................... 89 O SOL ................................................................................................................... 90 JO VINO BUENO JOVINO UM POUCO DA VIDA ........................................................................................... 94 PAIXÃO DO PASSADO ......................................................................................... 96 A NATUREZA ........................................................................................................ 98 FELIZ PRIMAVERA ............................................................................................. 100 MEU SERTÃO ..................................................................................................... 102 A FOTOGRAFIA .................................................................................................. 104 MEMÓRIA DA VILA PRADO ............................................................................... 106 PA UL O SÉRGIO NANNI PAUL ULO FAMÍLIA ............................................................................................................... 110 ARCO E FLECHA ................................................................................................ 111 ABNEGAR ........................................................................................................... 112 “BuLlYiNg” .......................................................................................................... 113 ENTENDAM... ..................................................................................................... 114

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NICOLA & MULETAS .......................................................................................... 115 CAUSADORES ................................................................................................... 116 CAMINHO DO SOL ............................................................................................ 117 A PEDRA ............................................................................................................. 118 APRENDA ........................................................................................................... 119 ÂNGULOS DE OURO ......................................................................................... 120 POEIRAS DE UM TEMPO (125 ANOS DA VILA PRADO) .................................. 121 DESCONHECER ................................................................................................. 122 ENCANTO ........................................................................................................... 123 DECERTO ........................................................................................................... 124 FOTOS E FATOS ................................................................................................ 125 Z 1 1 Z Z O 1 Z .................................................................................................... 126 FÉ COM CAFÉ .................................................................................................... 128 ENIALESRTA ....................................................................................................... 129 EXTRA...IR .......................................................................................................... 130 RESPOSTAS... .................................................................................................... 131 DORME O SER ................................................................................................... 132 TERRANOCÉU .................................................................................................... 133 O SEGREDO ....................................................................................................... 134 “SER HUMANO” ................................................................................................. 135 ESCLARECEDOR ............................................................................................... 136 SEM TÍTULOS ..................................................................................................... 137 “PERDER-SE” ..................................................................................................... 138 DR. TEMPO! ....................................................................................................... 139 1 FIO DO BIGODE .............................................................................................. 140 PERDAS E GANHOS .......................................................................................... 141 NINGUÉM ........................................................................................................... 142 ESPERANÇA ....................................................................................................... 143 O PRÓPRIO UMBIGO ......................................................................................... 144 ESPAÇO E TEMPO ............................................................................................. 145 DEDOS SUJOS ................................................................................................... 146 CATALEPSIAS ..................................................................................................... 147 DECERTO ........................................................................................................... 148 HOMENAGEM A EDU ARDO KEBBE EDUARDO O BONDE NAS CRÔNICAS DE EDUARDO KEBBE .......................................... 152

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ELIZA GONÇALVES PAPA Nasceu em Colina (SP) e veio para São Carlos ainda criança. Na maior parte de sua vida morou na grande Vila Prado, onde se concentravam os trabalhadores da Companhia de Ferro. É uma das memórias vivas do bairro. Lembra-se de detalhes das histórias dos bondes, das festas locais e das famílias que ajudaram a construir o bairro e o município. Também costuma representar São Carlos nos Jogos Regionais do Idoso.


AS QUATRO ESTAÇÕES Primavera Mandei o Inverno embora! O Sol fez-se meu confidente. Em cada raio uma flor, a Primavera chegou e cobriu a alma da gente. Há um jardim nos meus sonhos. Tapete de amores-perfeitos, Rosas de mil e uma cores! Brisa no lugar dos ventos, paixões e encantamentos. Já os pássaros voando, no bico uma migalhinha. Há em tudo um clima de festa com cheiro de rosmarinho. O amor está no ar, num ninho de passarinho.

Verão Já chegou a doce estação! Existe no ar um cheiro de flores. Andorinhas voam fazendo verão,

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tudo é tão belo que esqueço as dores. Os meses de Verão são beleza, são luz e calor no coração. São alegria, são natureza e ao poeta dão inspiração. Mornas tardes de Verão que enchem de amor a vida! Enchem o peito de paixão nessa estação tão querida! Outono Hoje o Outono chegou! Que venha o castanho das cores, as folhas amarelas no chão... Estação de mil amores. É bem verdade que na vida tudo se renova brincando. Ver muitas folhas caídas é ver o Outono chegando. O dourado do Outono agora transforma a nossa mente. Leva toda tristeza embora, faz bem ao coração da gente.

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Inverno Deixe o Inverno chegar! Mostra o que é ser Verão. O frio logo vai passar e aquecer o coração! Quando o Inverno passar, nascerão flores novamente. E o Sol vai esquentar de novo o meio ambiente. Na Primavera sentimos perfumes, no Verão sentimos calor. No Outono sentimos ciúmes, no Inverno sentimos amor.

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MÊS DE MAIO Maio dos noivos e das novenas! Maio dos lírios e dos missais... Maio das virgens, brancas e serenas! Maio dos sonhos que não voltam mais... Céus estrelados, doces luares... Beijos de aromas pelos rosais! Maio dos noivos que se vão aos pares... Num doce enlevo de almas tão iguais. Bater de asas por sobre as flores... Sonhos de poeta, mãos divinais! Doces saudades dos meus amores... Num mês de maio que não volta mais! Mês das mães, mês de Maria! Maria, mãe de Jesus... Mês de Isabel, da alforria... Do trabalho, do amor, mês de Luz!

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SSSS Eu comparo a minha vida com as curvas da letra S. Tem uma ponta que sobe, tem outra ponta que desce. A curva que tem no meio nem toda gente conhece. A letra S é forte! Está no Sol que nos aquece, está na Sombra e na Sorte... Também nos Sonhos aparece! No Sentimento ela vem trazendo Sonho e Ilusão. Essa letrinha também traz saudade ao coração!

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DO NATAL Com o lรกpis desenhei a felicidade, a bondade, o amor e a lealdade... Com a borracha apaguei o รณdio, a guerra, a mentira e o sofrimento... Com uma moeda eu comprei alimentos para quem tinha fome... Roupa para quem tinha frio. Com a felicidade do meu sonho acordei. Era Natal! Desejei o desejado, apaguei o errado, sonhei acordado... Feliz Natal!

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UMA MÃE AMOROSA A cachorrinha menina era muito inteligente. Morava com seus filhotes, distante de toda gente. Conseguia alguma comida e vinha amamentá-los. Mas um dia o leite secou e não tinha mais como tratá-los. Dirigiu-se até a cidade com muito medo e cuidado. Chegou a uma mercearia e ficou olhando de lado. O dono era bom e a chamou dando-lhe um pedaço de carne. Também deu água e a agradou, selando, assim, uma grande amizade. E todos os dias voltava, comia um pouco e saía. Na boca levava o resto que não comia. O bom homem descobriu para onde ela ia. Distante uns dois quilômetros se emocionou com o que via. 26 ELIZA GONÇALVES PAPA


Encontrou cinco filhotes chorando de fome ou de frio. E a mãe os alimentava com a comida que conseguiu. O bom homem mesmo sozinho levou todos para o seu lar. Deu-lhes comida e carinho e uma bela casa para morar. Hoje com toda família estão fortes e saudáveis. E as crianças do bairro são seus amigos inseparáveis.

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EMMA DEAK Vovó da Cora (10 anos) e Lucia (5 anos), nascida em 19 de setembro de 1949, em São Paulo. É formada em Letras e Pedagogia, e adora artes plásticas e os cursos da UATI. Publicou três livros e é apaixonada pelos animais e pela natureza.


VOVÓ QUE PINTOU! A Lucia... Viajando de carro pra São Carlos... Olhou pela janela o pôr do sol e falou: Foi a vovó que pintou... Essas meninas têm pureza no olhar... E tudo que falam é pra me encantar... As minhas netinhas, Cora e Lucia, são tão fofinhas... Elas gostam muito de vir aqui passear... Adoram quando são recebidas... Pela cachorrinha que ajudaram achar... Deram o nome a ela de Pipoca... De tanto vê-la pular... Elas são muito bondosas... O exemplo vem do papai e mamãe... Querem sempre ajudar os mais pobres... Dividem roupas, sapatos, brinquedos... Gestos que considero muito nobres...

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A VOVÓ QUE PINTOU DE NOVO... Eu gosto muito de pintar... Telas, panos, muros, vasos, tudo, enfim... Tudo que a meus olhos agradar... Minha netinha, ao olhar pro céu azul... Disse sem nem ao menos pensar... Foi a vovó que pintou... Esse é um jeito de amar...

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PRIMAVERA Setembro é o mês em que se inicia a primavera... É mês de flores, que embelezam os campos e as cidades... São Carlos fica florida com os ipês... Vocês conhecem essa árvore? Já viram ipês? Sabem quantas espécies e cores têm suas flores? Amarela, branca, lilás e rosa... Uma curiosidade sobre ipês... Vocês sabem por que essa árvore perde suas folhas e só ficam as flores? É que no inverno, no frio, quando elas perdem as folhas, elas pensam que vão morrer, daí florescem muito, para espalhar suas sementes e dar continuidade e vida à sua espécie.... Não é lindo! Por isso temos que preservar todas as plantas... Elas têm sentimento.... Vocês sabiam que devemos 32 EMMA DEAK


conversar com as plantas? Regar, ter cuidado e nรฃo deixรก-las secar... Olhem em suas casas as plantas felizes e as tristes, murchas, que precisam de cuidado (รกgua) e carinho....

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ESTAR SÓ... Estar só não é sentir solidão... Parece até assustador, então... Mas se você preencher sua vida com alegria e sensatez... Em vez de solidão, sentirá contentamento em tudo o que fez...

Estar só é ter liberdade... O que é nossa maior preciosidade... E se fizer apenas o que te dá prazer... Estará te dando todas as oportunidades... De viver intensamente o seu ser...

Estar só não é solidão... É um momento de se ouvir... É o momento de refletir... É estar em contato permanente com sua essência... É o momento de estar em harmonia

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com você mesma... Ou pode ser o momento de mudar....

Deixar partir quem você ama... No duplo sentido da palavra... E ficar só e bem consigo mesma... É uma demonstração de amor verdadeiro ao próximo e a você mesma...

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CARTAS... Escrever cartas ao lĂŠu... Ficam por um tempo no pensamento... Mas, se vocĂŞ colocar num livro, num papel... Eterniza o seu sentimento...

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SOLIDÃO Solidão é um ato individual, assim como nascer e morrer... Mas podemos durante a vida... Transformar a solidão... Em arte de bem viver... E assim ser feliz...

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INCERTEZAS São as incertezas que nos trazem a esperança... São as incertezas que nos fazem avançar... E reconstruir, acreditar e novamente sonhar...

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MESMO SOZINHA... Mesmo sozinha, você pode se sentir acompanhada... Basta prestar atenção na natureza, nos pássaros, animais, plantas...

Admirar o céu, que nos traz diferentes formas, diferentes cores, fantasias, formatos... Na água do mar, nas ondas, peixinhos, gaivotas... Olhe pra tudo o que está ao seu redor e contemple o entardecer...

Tenha um olhar de alegria e admiração pra tudo! E, mesmo sozinha, verá que todo dia é um novo amanhecer!

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SOLIDÃO OU SOLITUDE: A ESCOLHA É SÓ SUA... Você pode escolher entre solidão e solitude... Solidão... É a dor de estar só... Solitude... É a glória de estar só... Se você ficou só por fatalidade/separação... Então tem como fazer a sua opção...

Podemos fazer da solidão a solitude, e ter prazer em ser ou estar só... Por uma vida toda ou só por um momento... É o escutar o nosso sentimento... É se entregar aos prazeres, tristezas, segredos, encantos, alegrias e amor...

Seu caminho é sua escolha... E toda escolha determina o sentido de nossas vidas...

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MINHA QUERIDA VIRA-LATA PIPOCA Era uma vez, uma cachorrinha no meio do nada... Que vivia no mato, nas ruas e era encantada. Eu, por outro lado, vivia sozinha... Precisando de uma companhia...

Minhas netinhas a encontraram, abandonada... E me trouxeram essa meiga companheirinha... Nós nos tornamos uma pra outra... Muito amiguinhas e animadinhas... E eu, muito agradecida às minhas netinhas... Que também amam muito a Pipoquinha...

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PASSARINHOS DO MEU QUINTAL Acordo todo dia com o canto das Maritacas... São faladeiras, alegres, umas matracas... Assim como elas, acordo cantante... E levo meu dia muito radiante... Passarinhos do meu quintal... Toda manhã ouço seus cantos... Fazendo seus ninhos... Comendo meus coquinhos... Passarinhos do meu quintal... Agradeço a cada um de vocês... As músicas que me encantam todo dia... Assim como uma sinfonia... Seus nomes todos, não sei... Mas aqui tem Pica-pau, Andorinha, Sabiá, Maritacas, João-de-barro, Periquitos, Papagaios, Bem-te-vi, Canários... Adoro ver e admirar a união dos pássaros! Gavião procura sua caça pra matar a fome... Quero-quero muito atento e cuidadoso protege seu filhote com a vida,

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é muito amoroso... Andando por aí, eu vi... No perigo, eles têm ajuda de toda passarinhada... Se veem um Gavião, se juntam pros filhotes proteger... E lá vai o bando atrás dele, sem o perigo perceber... E colocam o Gavião pra correr...

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A VIDA ME ENSINOU... A dizer adeus às pessoas que amo sem tirá-las do meu coração e pensamento... A acreditar que tudo pode mudar e recomeçar... A aprender com meus próprios erros... A perdoar mesmo se não esquecer e saber pedir perdão... A sonhar acordado e acordar para realidade... A vida me ensinou... A ser forte, quando essa é minha única opção... A alegrar a quem precisa... A ter todas as alegrias que eu puder sorrir... A ouvir todas as musicas que puder emocionar A realizar todos os meus sonhos agora... A aproveitar cada momento de felicidade... A receber a cada dia a vida como um presente...

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ARCO-ÍRIS Quando, toda manhã, saio pra passear com minha Pipoca... Vemos no lago um chafariz... No meio da água com o sol, forma-se um arco-íris... E lá tem também patos selvagens e uma linda gaivota... O sol cobre as árvores e o verde gramado... Esse lugar me faz sentir muito amado... É contemplando a natureza que nossa vida se transforma em leveza... E total beleza...

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AO ACORDAR TODO DIA... Durmo de janelas abertas para acordar com a claridade do dia... Logo cedinho, olho da minha janela o céu azul e fico encantada... Outros poucos dias, chovendo ou frio... Todos eles me deixam muito agradecida... A chuva que cai do céu, que molha as plantas... Ou aquele friozinho que me faz ficar mais tempo no quentinho... Ver da minha cama a natureza me acordando... É uma dádiva dos céus que recebo... E sinto também a natureza me amando... E eu a retribuo cuidando e a admirando...

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DO QUE AS CRIANÇAS GOSTAM? De aprender, de ir à escola, de brincar... De sentir as águas do mar... De Polly, de Barbie, de boneca de pano... De pular, de cantar e de tocar piano... De que mais as crianças gostam? De dançar, de passear nos parques... De correr! E pedir histórias dos livros para a vovó ler...

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TEMPO Genial quem inventou o truque do calendário e deu o nome de ano. Doze meses dão pra qualquer pessoa se cansar e chegar ao limite de sua exaustão... Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com novas energias... Acreditando que a vida não apenas continua, mas... Recomeça Recomeça! E a cada ano que se inicia podemos ter o sonho realizado, a esperança renovada... Todas as alegrias que pudermos sorrir... Todas as músicas que puderem nos emocionar... E aproveite o tempo para viver sua vida bem vivida... Inspirado em Carlos Drummond de Andrade

48 EMMA DEAK


SER FELIZ Ser Feliz... Não é ter um céu sem tempestades, caminhos sem acidentes, trabalho sem fadiga, desilusões... Ser Feliz... É encontrar força no perdão, esperança nas batalhas e amor nos desencontros... Ser Feliz... É deixar de ser vítima dos problemas e agradecer a Deus, a cada manhã, pelo milagre da vida... Ser Feliz... É deixar viver a criança livre, alegre e simples que vive dentro de nós... É dizer te amo a quem se ama...

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O SER HUMANO EM 2019 Com a tecnologia e a modernidade, veio também o isolamento do ser humano... A maioria das pessoas não se olha, não percebe a alegria ou tristeza do outro, não se fala, não se cumprimenta, não para pra conversar e contar história, ouvir um poema... Não tem tempo para os pais, para os filhos, nem pra si mesmos... Vivem no whatsapp, facebook, twitter... Até namorado hoje é virtual... Ninguém se conhece mais... Assim é a maioria das pessoas, que não sabe o que é uma amizade, um abraço, um toque, uma mão que te acaricia e te faz sentir melhor... Onde foi parar aquela amizade sincera, o abraço, o toque, o olhar no olhar? Em nós que estamos aqui fazendo saraus para deficientes visuais e pintando muros com crianças em escolas municipais. E que nos retribuem com canto e músicas

50 EMMA DEAK


que tocam o coração... Fazemos parte de um número pequeno da sociedade que ainda preserva o sentimento de amor e respeito pelo próximo... Então, você que está lendo isto, cumprimente alguém, diga bom dia, boa tarde e, se possível, dê um abraço forte e verá que o seu dia será melhor... E o da pessoa que recebe também...

EMMA DEAK 51


UMA VIDA MELHOR PARA TODOS NÓS... Depois de tantas incertezas... Que os sorrisos sejam eternos... Que a vida seja calma... Que a saúde esteja sempre presente... Que os sonhos sejam possíveis... Que a gente tenha paz... Que os amores sejam reais... Que os dias sejam doces... Que a felicidade nos alcance... E que a gente seja FELIZ...

52 EMMA DEAK


DEDICAÇÃO AO PRÓXIMO Fazer coisas que possam dar alegria a você e aos outros faz você sentir bem e te fortalece. A bondade, compaixão, solidariedade... Fazem tão bem que desencadeiam o bom humor e a alegria de estar fazendo algo pelo próximo.. Diz o ditado: Melhor ajudar do que ser ajudado... Seja voluntário no que você mais gosta de fazer: pintar, cozinhar, costurar... Enfim, descubra o que te faz feliz e fará com certeza o outro feliz também... E nunca se esqueça de sorrir...

EMMA DEAK 53


GRATIDÃO Ser grata por tudo, pelo que tem e pelo que ainda não tem! Por tudo ter dado certo, ou errado, que te desviou de um caminho obscuro. Seja grata! Seja grata por acordar todos os dias! Ver o sol, a chuva, sentir o vento, ouvir os pássaros cantar! Pela comida, pelo que você já tem e ainda poderá ter... Apenas seja grata. A gratidão é o valor mais benéfico à nossa saúde e bem-estar.

54 EMMA DEAK


Sarau e pintura na CEMEI Benedicta S. SodrĂŠ (2019).

EMMA DEAK 55



GEORGINA BROZZI Suas paixões são os livros espiritualistas e pintar. Na UATI participa ativamente de várias atividades, principalmente as que valorizam a mente e o empreendedorismo na maturidade.


POETA Meu poeta, minha vida, meu amor eu te entreguei. Encantou-me a sua lida e sofri muito, sonhei! Aqui a vida nos mostrando como é linda a poesia. Eu sigo a vida te amando, dia e noite, dia! Foram tantos desafetos, preconceitos, decepção... Que escrevi meu último verso a letra de música em forma de canção. Chuva cai e eu tão só! Olhando a chuva comecei a chorar. Foi tão breve o Nosso amor Quem sabe um dia Meu sol volte a brilhar!

58 GEORGINA BROZZI


DIA DOS NEGROS Só o amor constrói. A fé realiza! E o negro ocupa o seu espaço como uma brisa voando na imensidão. Tem tudo que é de direito em sua mão! A cor da pele não faz diferença! O som da sua voz tudo compensa! Na orquestra ou na bateria segue a vida distribuindo só alegria A escravidão acabou, mas o samba continuou. Alegria explode nos ares, Adeus, Quilombo dos Palmares Hoje os negros só cantam canção de amor...

GEORGINA BROZZI 59


MINHA VOVÓ Vovó é filha do tempo! Livre nasceu feliz na alta Abolição. Não enfrentou nenhum tipo de agressividade, mas já sofria discriminação! Vovó não estudou. Era filha fora do casamento, da empregada com o patrão. Diziam: Quem era escrava e não ama, nem tinha direito a reclamação! Enquanto as irmãs da vovó vestiam roupas de renda, vovó vestia apenas vestido de tecido de algodão. Ela trabalhava para o próprio pai, lavando as roupas da fazenda, na beira de um ribeirão O pai dela dizia: Minha filha não vai mudar da minha fazenda enquanto a vida me permitir viver! Só vai embora quando eu morrer! Assim morreu minha vó na fazenda sem herdar nenhum tostão.

60 GEORGINA BROZZI


INCENTIVO À VIDA Não faça do médico seu Deus nem dos comprimidos um rosário de orações Faça a vida valer a pena, mantendo a mente serena, cuidado com as medicações! Que tal trocar o Dó do delírio, ou Ré do remédio pelo Mi de muitas emoções! Pelo Fá de felicidade! Pelo Sol que ilumina! Pelo Lá de lembranças boas ou o Si que nos lembra que, para ser feliz, temos uma estrada longa a seguir Cante, dance e não tenha medo de falar sozinho, pois todos merecem nesta vida receber aplausos e carinhos!

GEORGINA BROZZI 61


EU E O EGO

Você está falando comigo Em nome do ego por quê? Fale como se fosse Com a minha alma Ela tem o poder De passar informações Com muita simplicidade

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Em Serra Negra (SP), ao lado da estรกtua do Golias, humorista sรฃo-carlense.

GEORGINA BROZZI 63



HÉLIO LUIS BICHARA Nasceu em Paraguaçu (MG). Com sete anos mudou-se para o interior de São Paulo, morando em Itatiba, Ribeirão Preto e São Carlos. Orgulha-se de ter trabalhado com o professor José Carbonari Neto. Em 2019 começou a participar do Grupo de Literatura da UATI.


POR ONDE ANDEI? Ah! Como eu queria me reencontrar... E neste reencontro olhar para mim mesmo e corrigir tudo o que está errado, tirar e mandar para bem longe esse veneno que tanto me incomoda e me faz quase um derrotado. Olhar para os meus olhos e enxergar todas as minhas qualidades, descarregar da mente e do coração toda mágoa e rancor que se transformam em ódio. Abraçar-me e sentir no meu cheiro toda minha fortaleza e sabedoria e com esse cheiro caminhar recolocando em atividade toda minha força, afastando dos meus pensamentos e dos meus gestos tudo o que tenta me destruir. Como queria voltar a ser possuidor da minha mente e do meu olhar de criança, a longa distância sentir o cheiro do aroma da felicidade. Sentir expressar meu sorriso em meus lábios e sair dessa solidão incômoda.

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Transportar em minha bagagem o mais puro dever de transformar tudo de que preciso. Encontrar novamente forças para vencer os obstáculos e tirar das pedras as mais belas poesias. Chacoalhar a poeira e me limpar de tudo o que já passou e deixar somente um grande aprendizado. Tenho certeza que, quando me reencontrar e der-me um abraço bem forte, perguntarei: “por onde é que andei?”.

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MULHER Como gostaria de desprender de quase tudo para vivenciar sua presença juntinho de mim. Ser seu conselheiro e ao mesmo tempo ouvir seus conselhos... Seria tão bom se tivesse o prazeroso poder de fazê-la rir dos problemas, das difíceis situações, e ainda arrancar-lhe um grito de vitória a cada conquista, extraindo toda alegria e satisfação consequente da transição da dor para o sorriso. Tirar de mim toda a beleza para uni-la ao seu jeito peralta, alegre e sorridente de viver, fazendo de você minha luz, preenchendo todos os espaços, e depois de tudo isso nunca mais perdê-la de vista. E, se um dia isso vier a acontecer, quero olhar para a mais bela estrela e sentir a saudade mais gostosa já sentida na minha vida e lembrar dessa maravilha incomparável que só pode vir de uma das mais belas dádivas de Deus, que se chama “Mulher”!

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CAMINHEIRO Venho de longe, sigo na estrada, não tão só. Caminhando, aprendendo e ensinando, corro o chão, sigo em frente com a certeza de chegar. Quero um dia me encontrar, dividir e somar. Aumentar a minha força para ter e saber como e com quem ter direito de amar. Subo montanhas, trago no semblante o pó desse chão. Sigo firme meus passos como pede o coração. Serei um dia idolatrado com o mais valioso quinhão, pois tenho certeza que serei sal da terra e fermento em todo esse rincão. Como caminheiro que sou, vou feliz, sigo em frente. Irei fincar essa bandeira lá no alto para a salvação de toda a nossa gente. HÉLIO LUIS BICHARA 69


MENINA DE RUA... ... Brinca, corre, sorri, sofre e se alegra sem pensar no amanhã. Dorme ao relento e sonha com melhores momentos. Nua, não despida, nudez de carinho, de afeto, de uma palavra amiga e uma mão estendida. Acorda, corre, brinca, admira o sol e o céu escuro cheio de estrelas enquanto a lua passeia por seus pensamentos lentos, mas felizes! Enquanto conta as estrelas, vive um dia que talvez não seu... Ama e chora com tanta intensidade que mal consegue perceber que em uma delas

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se espelha! Menina de rua que sorri, brinca, sofre e se alegra... Plenamente pura, mas despida de afeto, de uma palavra amiga e de uma mĂŁo estendida.

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FAMÍLIA Não! Jamais me sinto só. Trago comigo um tesouro, jamais substituído, que se chama família. Quem possui uma família recebe da mesma todas as formas de afeto, carinho, cobertura, segurança de que precisa para sua caminhada. Esse tesouro é constituído de um pai e uma mãe, que é a base fundamental dessa formação. São dois seres que se respeitam, que de mãos dadas e dois corações unidos transformam dúvidas em fé, o amor em grande construção, realizando, assim, o ato de encaminhar seus filhos. Agradeço ao Pai eterno por esse presente, por tantas oportunidades a mim concedidas. Farei o máximo com a minha sabedoria 72 HÉLIO LUIS BICHARA


herdada do mesmo, para que todos meus gestos e atos, se não forem construtivos, que, pelo menos, não sejam prejudiciais ao próximo. Sou feliz, pois, como já disse, possuo uma riqueza Magnífica que se chama família.

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AMIGO AMADO Segue seu destino com extraordinária capacidade de enfrentar os obstáculos, que pretendem dificultar seus feitos. Não reclame dos controversos, simplesmente os supere com fé e grandiosa confiança. Oh, grande Ser! Não possui a bela dádiva de ver. Ser esse que para nós vive na escuridão! É possuidor da maior dádiva já criada. Traz consigo a capacidade de enxergar com seus sentidos aquilo que, nós possuidores da visão, não enxergamos. Luta com grande eloquência, fazendo dos seus gestos os mais possuidores de sabedoria. Ser esse para quem observa, mostra quão é imensa a alegria de conviver com os sentimentos apurados, sempre em plena concentração, fazendo de seus feitos os maiores em todos os sentidos. Eu que possuo a visão, 74 HÉLIO LUIS BICHARA


com a qual sou capaz de distinguir quase tudo o que vejo a minha volta, não tenho o direito de me comparar a você, amigo. Você, não possuindo a visão, tem o maior tesouro, que não te impede de enxergar o mundo que vive, o mais concreto gesto de Deus Pai, que se chama, aceitação.

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PRIMAVERA Natureza, o nome já diz, natural em tudo que a mesma nos mostra e, sem nada cobrar, a mesma doa. Nas estações do ano vem o inverno, verão, outono e, entre as mesmas, surge a primavera. É esta a estação que nos enche os olhos de beleza. Seu colorido nos mostra as propriedades da paz. Olhando os campos floridos, o mesmo traz para nós o perfume de milhares de lindas flores, o conteúdo da harmonia, e com esse magnífico conjunto prova quão maravilhoso é o trabalho conjunto de união e força. Mostra-nos a importância do companheirismo, pois, com esse trabalho harmonioso da natureza, precisamos aprender que a união faz a força, a qual com seu gesto move montanhas.

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Coloque em seus corações essa riqueza colorida e cheia de vida, haja com amor e respeito pelas pessoas que o rodeiam. Chega de desavenças, brigas, desentendimentos que não levam a nada. Seja no mínimo uma pequena porção de amor nessa natureza maravilhosa que se chama viver.

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CAMINHE Ande! Caminhe devagar, com alegria, com a certeza de que esse caminhar será o último! Não te importes com os deslizes, mas sim com aquilo que aprendeu e ensinou ao longo dessa caminhada! Por favor! Não deixe que os obstáculos te façam parar! Erga a cabeça e mantenha os pés no chão! Não precisa correr, apenas ande confiante na vitória. Olhe no espelho da vida e orgulhe-se de se espelhar no mesmo, por onde andou ou por onde irá andar, não vem ao caso! Por favor, não pare! Siga em frente! O mundo que você escolheu exige uma vida sadia, pura, convincente em todos os seus atos. Amigos, encontrará muitos!

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Poucos serão, realmente, seus companheiros. As pedras que se encontram no caminho são ponto de conquista. A cada uma delas, só nos resta prestar atenção para distingui-las. Quando o amanhã chegar, se é que chega, orgulhe-se de suas realizações, amar o mundo e amar-se, e vice-versa. A vida não para. Exige de nós tudo o que possuímos, por isso ela não para. Siga! Não precisa olhar para trás, pois suas realizações são honestas e cabem a quem as queira agarrar.

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FLOR Que bela obra da natureza, a qual cabe em todos os lugares, por minúscula que seja sua grandeza, ocupa os mais duros dos corações. Em meio a tantos seres da natureza, exala o aroma do mais envolvente perfume já sentido antes. Sem nada cobrar enriquece a tudo e a todos que estejam a sua volta com essa magnífica gratidão. Cria entre nós um laço de amizade incomparável. Forte e esplendorosa suporta os danos desferidos pelo tempo e pelo homem, e por mais que a maltratemos até no seu murchar nos cativa com seus últimos gestos findouros. Ó flor, rogo-te que coloque

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pelo menos um pouco desse imenso valor no coração dos homens, talvez com essa porção de bondade os mesmos se amem um pouco mais.

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PRIMAVERA, ESTAÇÃO DAS FLORES Fonte de beleza, razão do bem viver, como um relâmpago muda as cores que ao mesmo tempo enriquece e perfuma nosso ser. Como uma pluma, age sem nada exigir, apenas rega de cores os mais íntergos dos amores. Como um raio de luz enobrece todos os seres, enchendo de dádivas todos os esplendores. Seu reinado enobrece, fortalecendo tudo o que neste mundo com beleza vieste. Sem nada exigir em troca, dá cor a tudo que a vida tem, sem admitir que se disfarça a beleza glorificada que lhes convém. Destemida, alegre e colorida, faz da cor do amor o mais completo arco-íris, lembrando a todos nós para que façamos 82 HÉLIO LUIS BICHARA


com que o mundo nos veja repletos de cores, as quais enobrecem de conto a cantos os amores. Bela é sua estação rica em cores, a qual damos a ela o título de Primavera, estação das flores.

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O VENTO Chego agora sem cor e sem perfume, mas com a única coisa que se percebe sem distinguir totalmente, mas que chega e faz-se sentir que se é plenamente. Corro mares, corro chão e montanhas.

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Sarau na CEMEI Benedicta S. Sodré, 2019.

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JOSÉ RIVALDO BIANCHIM Trabalhou no setor de transporte, especializando-se em logística. Aposentado, gosta de viajar, de plantas e de recitar seus poemas, interpretando-os de maneira emocionada e profunda.

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PENSAMENTOS DIVERSOS Não passe a vida interpretando, pois as portas do teatro podem se fechar antes que o espetáculo termine De que me vale ter preferências, quando não mais poderei fazer uso delas Se você pensa e não fala, é bem provável que você fale sem pensar A dor era tanta, tão forte, que o espírito precisou socorrer a alma Não sou de centro, de direita ou de esquerda, sou sempre a favor da verdade Nem todo provérbio é chinês, nem toda tragédia é grega, mas, infelizmente,

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todo jeitinho é brasileiro! Se sonhar bastasse, eu seria muito feliz, pois teria a alegria de sonhar com quem me deu sempre AMOR Quando se trata de notas, prefiro sempre as notas musicais Existe um grande abismo entre o que fazemos e o que gostaríamos de fazer

Sonhei que estava tão só, mas tão só, que, quando acordei, não me encontrei

Os pássaros são tão generosos que cantam e gorjeiam independentemente do lugar ou de uma plateia

Quão bom seria que sua vida fosse colorida como as cores da aurora boreal, infinita como as cores do arco-íris e imensurável como o céu

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Não conheço grito mais alto que o próprio silêncio Para procrastinar, só existem dois dias, em que nada podemos fazer: o ontem e o amanhã! Faça hoje!

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COMO UM ANDARILHO Como um louco saio pelo mundo ocultando minha dor. Com grande esperança de encontrar o verdadeiro amor. De sorte que naquele ponto não marcado encontre o que estou buscando. Mesmo com a triste ilusão que você continue me amando.

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O SOL O sol brilhará ao amanhecer e a noite em silêncio chegará. Amor! Por que me faz sofrer? Sem ti já não tenho prazer.

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Com o professor Adilson apรณs ensaio na FESC 2.

JOSร RIVALDO BIANCHIM 93


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JOVINO BUENO Aposentado, adora dançar e fotografar. Participa desde 2010 das atividades com literatura na UATI. Na adolescência, era integrante de uma dupla sertaneja que se apresentava em rádios e nos circos. Seus poemas trazem essa atmosfera da raiz caipira do interior paulista. — 95 —


UM POUCO DA VIDA A vida nos oferece tudo de bom que queremos. Mas temos que esperar e não sair correndo. Vem tudo na hora certa, nem precisa pensar. O que é nosso está marcado, basta acreditar. E para a gente viver, o importante é ser feliz, respeitando o nosso jeito de ser. Amando e sendo amado, assim é saber viver. É preciso entrar no jogo da vida, para ganhar ou para perder. Nem sempre somos vitoriosos, mas não temos o que temer. O que não podemos na vida é sofrer desilusão. Temos que cuidar com amor do nosso coração. Alguns já sofreram demais; outros, ainda não. Mas batendo há muitos anos, com a mesma precisão, ele pode estar cansado, querendo uma solução.

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A paixão na terceira idade é um problema imortal. É uma doença crônica e passamos muito mal. Quem tem amor sofre muito, quem não tem acha normal. Então temos que ter cuidado, porque pode ser fatal. A nossa vida é tão bela, temos que viver na real.

JOVINO BUENO 97


PAIXÃO DO PASSADO Sabe o que mais me dói? É a dor da paixão. Há muitos anos sozinho, eu não sinto solidão. Não tenho dor pelo corpo, deito e levanto bom. Às vezes eu acordo de noite, na hora que estou sonhando. Eu me levanto da cama e saio pelo quarto andando. Sempre vejo um rosto lindo. Às vezes eu paro e fico olhando. É uma coisa tão linda por quem sou apaixonado. Uma figura tocante que conheci no passado. Hoje não sei onde anda, perdi todos os seus dados.

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Volto e deito de novo. E aí tento dormir. Quero que amanheça o dia. Penso em um lugar para ir. Para tirá-la da memória eu começo a sorrir. Passa hora, passa o dia... Faço tudo para esquecer. Mas vai chegando a tarde e o coração começa a doer. Venho de novo dormir para deixar de sofrer.

JOVINO BUENO 99


A NATUREZA Estamos todos felizes, pois a Primavera chegou. Ver os campos todos verdes, tudo desabrochou. Os ipês já floresceram, por conta da Natureza. Chuva e Sol misturam-se com o vento, mostrando nossas belezas. As belas montanhas verdes são nossas maiores riquezas. Nas noites de lua cheia, nosso céu é cor de anil. Com o brilho das estrelas, vagando no céu do Brasil. Fica tudo iluminado, molhando meu lindo jardim. Todas as flores se abrem, é uma beleza sem fim. Olhando as flores e sorrindo, nas ramadas do jasmim. Como é linda a natureza, ver tudo gerar da terra. As águas e as folhas verdes são lindas porque é Primavera. Os pássaros cantam alegre, na hora do amanhecer. Acordam com o perfume do amor e do prazer. Assim é na Primavera, muito linda de se ver.

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Eu amo o cheiro do mato, adoro o perfume das flores. Gosto do cheiro da terra e a diversidade de sabores. A terra é nossa mãe, ela que nos dá a vida. Por isso eu beijo a terra, ela é muito querida. É ela que nos recebe, em nossa última despedida.

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FELIZ PRIMAVERA Dizem que o amor da Primavera não termina no verão. O lindo brilho do sol que encanta o coração. Ao ver as manhãs tão belas, ao som de uma canção, com o perfume da natureza, da estação da beleza com sentimento e paixão. Primavera que deixa a vida cheia de amor! E a lua apaixonada com os perfumes das flores. E vem os raios do sol, com luzes e esplendores. Com sentimentos que brota, no passear das gaivotas, com carinho e com amor. Em meu terno coração, Primavera tão amada é a mais linda estação.

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Está nas árvores e nas ramadas, nas margens dos grandes rios, com suas águas onduladas. Ouvindo os lindos cantos, cobrindo as matas com seus mantos, com lindas flores perfumadas. Assim são dias e noites, da Primavera querida. Primavera é beleza, Primavera nunca é olvida. Primavera eu amo tanto, por ver as matas floridas. Com perfumes dos jasmins, as belezas dos jardins, honrar as flores e a vida.

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MEU SERTÃO Quando deixei meu sertão, pra morar na cidade. Lá ficou meu coração, comigo só veio a saudade. Trouxe tudo o que eu tinha, para minha companhia. Por muito tempo eu chorava a falta que eu sentia do cheiro da terra molhada, sempre que chovia. Também saudade dos amigos, que muito longe deixei. Dos bailinhos na fazenda, das festas de Santo Reis. Das camponesas lindas, com quem eu sempre dançava. Do som dos violões e pandeiros, da sanfona que chorava. Das festinhas nos coretos, onde a gente festejava. Das praças das pequenas cidades, do footing nos fins de semana, olhando as garotas lindas, voltava pra casa sonhando.

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Fui capelão... fui coroinha, no bairro onde morava. Vivia muito feliz, diversão é o que não faltava. Nas festas dos padroeiros, a gente também cantava. Trabalho, dança e música... Foram o meu lazer. Por isso sou feliz, mas nunca vou me esquecer. Que no sertão fui criado, e lá está meu coração. Eu amo a vida e sou feliz, amo também o sertão. Porque meu berço querido são as matas, a terra e o chão.

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A FOTOGRAFIA Eu adoro fotografia e amo a natureza. Gosto de fotografar e mostrar toda beleza. Cada foto é uma história, que guardamos na memória. Isto nós temos certeza. Por registrar coisas do momento, que nunca mais vão se repetir, tudo que você vir hoje, amanhã pode sumir. As cenas desaparecem, com o tempo a gente esquece, mas as fotos não deixam omitir. Quando olhamos para o passado, as fotos mostram a verdade, as fotos de entes queridos nos trazem muita saudade. As fotos de nossa infância, de quando fomos crianças, alimenta a felicidade. A fotografia e a natureza são duas coisas lindas, cada uma com seu encanto e riqueza. 106 JOVINO BUENO


E, quando fotografamos, para as fotos nรณs olhamos, admirando tanta beleza. ร muito amor e muita alegria rever a imagem do passado que fotografamos um dia. Que estรก sempre bem guardada, e vai ser sempre lembrada, naquilo que fizemos um dia.

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MEMÓRIA DA VILA PRADO Eu conheço a Vila Prado de décadas passadas. Foi um Bairro muito lindo. Uma Vila muito amada. A Praça Santo Antônio era muito cobiçada. Por casais apaixonados era frequentada. Existia o Cine Joia, o melhor da região. No final de semana, era grande a multidão. As filas para o Cinema davam volta no quarteirão. A Praça ficava cheia. Era linda a diversão. Todos ali se reuniam com imensa alegria. Era o programa da tarde de quem ali residia. Muitos iam ao Cinema. Outros na Praça ficavam. Todos assistiam à Missa, depois por ali se sentavam. Conhecida Vila Prado. Seu nome ficou na história. Quem conheceu a Vila Prado, ainda a guarda na memória. E nunca será esquecido seu passado de glória.

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Ensaio do grupo de literatura, na FESC.

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PAULO SÉRGIO NANNI Nasceu em 13 de outubro de 1962, em São Carlos. É filho de Ernesto Nanni e Adália Nanni. Autodidata, em sua formação poética iniciou aos 13 anos seus primeiros versos. Integra o Grupo de Literatura desde seu início, em 2013. Publicou o livro Amargosto, em 1993, e o gibi O burro fumante, em 2017.

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FAMÍLIA Meu pai... Morreu cego, apesar de enxergar longe... Minha mãe enxerga bem, porque o bem está dentro dela. Meu irmão realizou seus sonhos. E eu... Eu, dos sonhos faço realidade da vida. Certa tarde, a miséria bateu à porta, convidada a entrar, comeu o que tínhamos, mas não destruiu o que somos. Ela não quis ficar e disse: – Tenho que partir rápido!... Não explicou seus motivos, mas na ida entendemos suas razões. Pois sequer olhou para trás para rever o sorriso... O sorriso que a recebeu...

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ARCO E FLECHA Toda concavidade é convexa pra alguém noutro lado. Assim, como nos é indigesta a realidade do amargo. Nossa norma é complexa, parte racional & coração. Do arco, parte a sua seta, num alvo eleito da razão. Razão rege a estética, simétrica da perfeição, complexa e indigesta se gerida pela emoção. Caso o alvo não seja atingido, não foi por erro da direção, mas por distração do amigo que não leu com o coração...

PAULO SÉRGIO NANNI 113


ABNEGAR Ser só é sentir muitos solitários dentro desse sentir-se rejeitado. É como atravessar um calvário, rumo ao gólgota do Crucificado. É ser pedra rejeitada na obra, fabricada, com astúcia mental, simplesmente com sua forma, ser completamente “a-normal”. Só ser, sem ter cobiça por algo que o orgulho nada acrescenta. Destituído! Sem qualquer cargo! E nem servir, por recompensas...

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“BuLlYiNg” Quanto calor eu passo por causa do bullying alheio. Digam “que que eu faço” com esse meu corpo “feio”?... Sê gordo ou sê magro, sê o “quê” é que sou; só posso ficar pelado quando sozinho estou... Que lugar não reparam os modos e as formas dum corpo?... “O feio de cada estado é o estado de não estar no outro”.

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ENTENDAM... Se um céu se abre pra dois serem um só, diante de Deus. Não pode haver um depois onde ambos digam-se adeus.

Portanto, as leis deste mundo discordam do Mundo Perfeito, onde todo o amado é sagrado, guardado, só para o seu leito.

Por dureza de quem desconhece as verdades do Reino dos Céus, separam-se, desfazendo a prece, pra juntarem-se diante de Deus.

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NICOLA & MULETAS Gepeto era um carpinteiro, Nicola é um seu descendente. Um fez o boneco matreiro, o outro faz muletas pra gente.

José também foi carpinteiro, seu Filho, adotivo ou não, tirava muletas do homem, colocando amor no coração.

Nicola! Faça um novo Pinóquio, sem grilos em sua consciência, sem drogas, sem tédio ou ópio, transforme nossa adolescência.

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CAUSADORES Será que não dói tanto conforto ante o desconforto visto no país? Ou em berço de ouro nasce morto, e coração não bate neste infeliz. Ai de você que o absurdo abuso impede ver “miséria causada”, e diz que lamenta por isso tudo, mas nunca pode fazer nada. Ai de você que goza e gasta em troca de seus prazeres sem fim e gastronomicamente mostra, na pompa e no luxo, os seus festins. Ai... Porque o lixo da sua alma que mantém no lixo vidas presentes, um dia, no futuro, pedirá calma para a mão armada do adolescente...

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CAMINHO DO SOL A estrada é caminho, anda um caminheiro, coração anda sozinho suportando espinhos plantados pelo alheio. E alheios são encontrados, desencontros e despedidas, reencontros predestinados caminham juntos com vidas. Vidas de tortos caminhos em retos pores do sol, que no horizonte faz ninho, entende e canta, um rouxinol...

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A PEDRA Hoje a pedra falou comigo e confessou querer mudar. Estava cansada do abrigo onde a colocaram no altar. Estava cansada da gruta, cansada de ser a santa, ouvir quem não escuta e vive só de esperança. Foi então que disse “obrigado”, por só ouvi-la um pouquinho. Nesse nosso silêncio sagrado, falamos o amor que sentimos.

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APRENDA Aprenda a conviver com perdas, pois as terá mais do que ganhos, pois do destino, o que tu herdas, é o aprender com os desenganos. Possuas nada que te possuir, entregue sem te lamentar, livre-te de tudo que obstruir a tua volta ao Eterno Lar. Ser sem ter pode machucar, se o ter, mais que o Ser, estar, dentro do coração que tens onde só Deus deve habitar.

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ÂNGULOS DE OURO Quando dois braços abertos estiveram sobre a cabeça, foi para que todo o universo seu puro Amor reconheça. Quando corpo e braços esticados formaram ângulos de ouro, foi pra que tudo que for perdoado não torne a pecar de novo. E quando os dois madeiros cruzados compuseram o sinal da Cruz, foi para que o mundo fosse mudado através do Seu Filho, “Jesus”.

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POEIRAS DE UM TEMPO

(125 anos da Vila Prado) Houve uma linha entre nós, não havia muitos laços ainda. Naqueles tempos, entre nós, muitas coisas... ficaram findas. Havia espaços bem diferentes, com calçamentos e sentimentos. Nosso chão batido e incoerente também fazia diferença no vento. Soprava pó! nos pés, nas sandálias... Sobravam! preconceitos instados... Hoje! sobrou a férrea linha divisória, entre o Centro... e a Vila Prado.

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DESCONHECER A pressão e o calor que faz o carvão virar um diamante, junto com o tempo que traz perfeição em cada instante. A natureza não apressa algo que tem seu tempo definido. Assim como a flecha e o arco, assim como a vida é consigo. Não se apresse na ambição de um diamante vir a ser... É natural, é com o coração, não com todo o seu querer.

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ENCANTO Admiro seu corpo que beijo, e falo, sincero, no que meu coração descreve. Batendo ligeiro... Descompassado, sinto e escrevo o que o amar concebe. O sorriso transparece a alma, revelando calma num belo rosto. Combina com sua pele morena, mostrando todo o amor exposto. Pois esta luz, que vejo nos seus olhos, existem assim, para clarear os meus. Assim lhe digo, que a amo e escolho, viver pra sempre, dos encantos seus.

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DECERTO Na corcova dum camelo estava a tola pulguinha. Dizendo ser seu castelo com o orgulho que tinha. Na corcova do camelo estava o orgulhoso senhor. Dizendo ter um castelo em qualquer lugar onde for. Um pobre camelo levava aqueles tolos possuidores. O deserto que suportava nĂŁo tinha dono ou doutores.

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FOTOS E FATOS Por que seduzir com nudez de endeusadas mulheres? Postando aqui no meu face exibe o amar que sugere. Eu sugiro que diga com afeto palavras do seu sentimento. Seduzir, com formas de sexo, será para futuros momentos... Há belas mulheres que vejo, nessa minha página postada. Não excluo os seus desejos, mas incluo... A Mulher Amada...

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Z11ZZO1Z Conhecer, na origem dos números, o porquê de serem assim representados, é compreender todo esse sentido, dos ângulos, que ali estão simbolizados. Entender os Mayas na matemática, fazer contas chegando à previsão, é revelação nos céus, nas galáxias, pra entregar, ao mundo, sua razão. Quando sobrepuserem os números da data do calendário profetizado, verão, num símbolo... bem nítido, que nossos polos serão trocados.

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Comentário do autor sobre o poema Z11ZZO1Z Amigos, nesta noite (13/03/2016), dormi e sonhei com estes símbolos. Creio que a data 21 12 2012 dos Mayas signifique apenas a inversão dos polos que está acontecendo no seu ápice (também é alinhamento da Terra com a Galáxia). Basta fazermos o espelhamento dos números que notaremos bem claro. Espelhe esses números, mas escrevendo-os com ângulos, exceto o zero, que seria o planeta Terra. Sobreponha-os e veja como ficam: Z11ZZO1Z. Explicando Pegue um papel e escreva Z11ZZO1Z de modo equidistante. Faça o espelhamento deles, dobre ao meio e depois dobre de novo e consecutivamente, até ficarem um atrás do outro. Ao inscrever todos num único símbolo, os 2 (letra Z) formarão um X fechado nos polos. Os 1 mostrarão uma seta em direção ao norte. E o 0 seria o planeta Terra no centro do símbolo. Observação: Lembre-se de que os números eram todos escritos em formas angulares, sendo que cada um representava a quantidade de ângulos que possuem. Nós é que fomos arredondando seus cantos com a evolução da escrita. Uma dúvida: nas congruências desses ângulos estariam, acaso, futuros mundos habitados? Quem o saberá? Quem?

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FÉ COM CAFÉ Mesa posta para o café, sementes de gergelim no pão, um beijo de afeto que é a goiabada junto ao requeijão. Gostos e gestos apressados derramam o leite na camisa, um seu sorriso debochado vem como uma suave brisa. Nossos beijos com gosto de café, da manteiga, queijo e goiabada, simplicidade de todo amar que é acordar dentro da pessoa amada...

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ENIALESRTA Por mais que por sentir diga, que eu posso fazê-la feliz, espero, que também me diga, que nada me separará de ti. E por menos que você imagina, não tem como eu provar... a não ser no tempo que ensina o quanto poderei “te amar” Esse tempo que corre agora é um tempo de decisão, espero ser a minha senhora, sendo servo do coração.

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EXTRA...IR Garimpamos vida no rio do tempo. Extraímos mais areia do que ouro. Vendemos sobrevivência onde nada nos pertence. E, como a sombra, nossa alma não se molha da água corrente, mas nossos olhos marejam, ficando com brilho do ouro ao sentir e extrair a alma da vida na bateia do coração.

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RESPOSTAS... Por que os nossos porquês não correspondem dentro e fora? Que resposta vejo em você, para não ter minha dúvida agora? Por que, vejo no brilho do rosto, o mesmo brilho que vi no olhar? Seria só o espelho do que gosto, ou um gosto é a forma de amar? Porque sem porquês não se vive é que minha dúvida é mais cruel. Serei uma sua resposta que tive quando eu vi na sua face... o Céu.

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DORME O SER Sonhos que não dormem me mantêm acordado. Realidade dos que sabem que tudo... Está errado.

Vontades de ver um mundo sem seus valorizados “valores”, entregue ao estado absurdo, onde comanda seus “senhores”.

Madrugadas sem encontros com sonhos compartilhados, avessos entre desencontros, não encontra... O procurado.

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TERRANOCÉU Há que se misturarmos tanto que misturas sejam normais, que sejam boas tanto quanto evoluindo-nos um pouco mais. Feitos evoluídos das raças, miscigenação, etnia, união, o sangue converte a graça na cruz viva do coração. Legados de tempos distantes, há que se desvendar este véu, revelando para os ignorantes, que o lago todo espelha o céu...

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O SEGREDO Decidido a parar meu tempo, do tempo meu fazer um só, em que todos contratempos sejam exterminados em pó. Verão que vou parar e voltar; acreditem, duvidem, não importa. Descobri como posso viajar, e que meu tempo não se esgota. Quem quiser saber segredo, de como pode viver pra sempre, deixe tudo! E perca o medo! Viva nos corações, eternamente...

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“SER HUMANO” O meu amor me lambe, cheira, revela-me no olhar que implora, que em toda essa vida inteira, sou aquele a quem mais adora. Alegre, quase todo momento, mal chego faz minha alegria. Perdoa minha falta de tempo, e seu tempo me dá todo dia. Todo dia acorda-me, me espera, num carinho antes de eu sair eu ouço suas palavras sinceras dizendo que me ama, ao latir... Obrigado, Amigo.

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ESCLARECEDOR Escureceu o céu que refletia, assim enxergamos a escuridão. E tudo que o Todo nos exibia é nossa falta de luz no coração.

No escuro céu, o escuro é seu, onde as estrelas ficam nítidas, e vê-se, sem a luz, um apogeu das coisas que não são vistas.

O escuro breu é meu e é seu nos tempos de breve reflexão. A ciência explica todo um céu, mas não clareia seu coração.

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SEM TÍTULOS Inspiro-me em um mundo lavrado no caos da consciência humana. Não sei se a evolução é um fardo ou se minha regressão é insana. Respiro nesse ar que é poluído, poluindo os pensamentos também. Não sei se meu modo é antigo ou se o mal é o moderno do bem. Sobrevivo onde a morte é viva e transita em meio aos zumbis. Não sei, porque sei que da vida de nada adiantou o que aprendi. No avesso dos normais, desnudo; vou avançando o sinal vermelho. Mas verde é um mundo absurdo que insiste em não ver-se no espelho.

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“PERDER-SE” Ganhei um tempo aqui pra gastar como queria. Nasci, morri, assim vivi, dando o que eu sentia. Foi-me dado por dádiva, sem que houvesse merecido, essa vida que foi válida, morrendo em tudo o que vivo. Vivi desse modo impróprio, nasci, nesse amar profundo. Perdi... o meu amor próprio, pra dar o coração ao mundo.

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DR. TEMPO! UTI com urgência! Por favor! Pra esse coração faqueado. As suas ofensas causam dor e podem matar esse coitado Põe oxigênio! Por favor, depressa! Ele está perdendo a pressão! Quem fez isso? Não me interessa! Não deve ter nem compaixão! Já cuidei de coisas desse tipo, são situações de alguém que gosta. Ficarão cicatrizes no coração, mas as facadas... Foram nas costas.

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1 FIO DO BIGODE As barbas crescem mais e mais, já as consciências... Nem tanto. Assim são esses tempos atuais, onde atitudes causam espanto. É moda dos homens modistas, que imitam galãs da TV... Que coisa mais que esquisita, quando você não é você. Que a barba seja bem cuidada, no zelo e caráter que demonstrar. Que não seja apenas fachada para copiar quem não deve imitar.

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PERDAS E GANHOS Pedi para meus erros ficarem longe dos meus acertos. Mas... Não teve jeito, eles fazem parte do meu conserto. Pedi para minha esperança não esperar nada de alguém. Mas... Toda boa lembrança espera-me num mundo além. Pedi para nunca pedir, pois Deus sabe do que preciso. Perdi, para ganhar aqui... Todo esse tempo em que vivo.

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NINGUÉM Não querer algum pódio em nada, não querer competir com ninguém. Viver de uma realidade engraçada que é mundo do nada para alguém. Alguém que aplausos não espera e vê anjos onde quer enxergar. Sonha, mas da vida nada espera, por ver as discórdias no amar. Quantas provas, para nada provar da humildade que por amar é altruísta. Pois se não quer o primeiro lugar, é alguém que nem a humildade cobiça. “Eugênio Modesto”

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ESPERANÇA Espero que minha paciência seja infinitamente suficiente... pra que sempre meu amar esteja no perdão de ser gente. Espero que meu ódio passe rápido! nem chegue ao coração... pra que eu nunca seja mais áspero que a seda ou o algodão. Espero ser bem pequenino pra que eu caiba na Sua mão, me guarde num colo divino, e minha dádiva seja o perdão.

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O PRÓPRIO UMBIGO Ter prazer com as próprias mãos, beijos sinceros do cachorro, quanto aos beijos com o coração?, são tão raros quanto o ouro. Ter atenção do que quer ser ouvido, fala e fala, sem muito pensar, sai dizendo que você é bom amigo e depois volta pra “conversar”. Conversas com interesses, frases feitas, ouvidas no jornal. Como se tudo na vida fosse tal qual um papagaio no quintal. Época do coração em falta, de passatempos “racionais”. Tempo que anda em alta tudo quanto tanto exalta, o próprio umbigo... nada mais.

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ESPAÇO E TEMPO Um tempo é acelerado ou atrasado num outro tempo não medido... Seus sentidos, aqui são desligados para que não saiba o motivo. O Senhor dos tempos, assim, modifica ou intensifica uma ação, ainda que um determinado fim esteja além da tola compreensão. E poucos notam um instante, que parou, atrasou ou adiantou. Mas tudo isso é a constante que um “tempo-eterno” contou.

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DEDOS SUJOS Há grades agradando escravos, já outras agradam carcereiros. Há grades prendendo o estado de ser “O Manipulado Brasileiro”. Mas que libertos libertinos! são globalizados no vício, onde ser um, moderninho, é consumir o próprio lixo. E com todo esse lixo no quintal, onde juntam-se as varejeiras, eles sobem no entulho pessoal pra enxergarem mais sujeiras. plim plim

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CATALEPSIAS Quantas agora estão acordadas? Dessas acordadas, quantas dormem? São “santas” em tantos estados sendo demônios, para tantos homens. Quantos não vivem acordados, vivendo comum desacordo? São “santos”, de si divorciados, casados com seus engodos. E quantos vivem tão juntos, mas não no coração do outro? São dois próximos defuntos no velório de um amor morto.

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DECERTO Decerto não virão para cá os que afogam meus rios, deixam a liberdade com sede e o solo desnudado. Decerto não habitarão aqui os que derrubam florestas, constroem muralhas, erguem cercas cantando e rindo. Decerto não estarão aqui os que fazem o mundo imundo, um verde deserto, ou uma simples gaiola, só para ouvirem um canto perto. Decerto aqui não terão alternativas os que por fontes lucrativas matam e desmatam a vida. Decerto eu aqui não darei vivas! Talvez atirem pedras nos meus anjos, arranquem as flores ou cuspam neste solo quando não tiverem meu rosto para o fazer. Talvez queiram pintar o azul de cinza-fealdade, apelidem-me de velho ranzinza e me quebrem a vidraça da paciência, apenas por mera curiosidade. “Decerto aqui não farão deserto.” Mas, se precisarem, estarei sempre desperto, e sempre perto com os braços abertos... decerto. 150 PAULO SÉRGIO NANNI


Entrevista e recitação de poemas na rádio UFSCar, 2018.

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Homenagem a Eduardo Kebbe Sarau Na ĂŠpoca dos bondes e dos trens (2018)


O BONDE NAS CRÔNICAS DE EDUARDO KEBBE

Eliza Gonçalves Papa, apresentando o poema em homenagem a Eduardo Kebbe, no Paço Municipal de São Carlos (2018).

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Em seu livro Postais do tempo, Eduardo Kebbe reúne crônicas que publicou na imprensa são-carlense por mais de 50 anos. Em muitas, ele expôs sua experiência e lembrança do bonde que circulou na cidade entre o final do século XIX e 1962. No sarau Na época dos bondes e dos trens, organizado como atividade cultural no evento Educação Popular, Imaginário e Mobilidade Urbana, além de ouvir e interagir com as várias experiências de vida dos alunos da UATI e daqueles que, motivados, resolviam contar alguma história, os participantes tiveram a oportunidade de conhecer um pouco do pensamento do cronista Eduardo Kebbe. A partir de uma “colagem” com cinco crônicas – a primeira escrita em 1961, já anunciando a retirada do bonde de circulação, e a última redigida em 1995, abordando a reforma de um bonde pelo senhor Nicola Gonçalves, veículo este que ficou exposto por vários anos na praça da piscina –, os alunos participantes do Grupo de Literatura da UATI compuseram, em 2018, um poema homenageando esse importante cronista que soube dar alma às ruas, aos bondes e à cidade de São Carlos:

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Os bondinhos da cidade, se pudessem falar, contariam muita coisa de interessante a todos nós. Eles foram as testemunhas mudas de fatos trágicos e pitorescos e foram, também, as testemunhas leais do progresso da cidade. Sim, eles viram muitos casarões e casinhas serem derrubados para, em seu lugar, serem construídas vivendas magníficas. Viram, enfim, a metamorfose urbana, em toda a sua grandeza. Lerdos como a tartaruga, vermelhos como sempre o foram, atravessavam a cidade, de lado a lado, de rua a rua, produzindo um ruído cadenciado de tropa bem-cadenciada. Nós todos respeitávamos o velho bonde, como autêntico patrimônio da cidade. Heroicamente, eles venceram as ladeiras íngremes desta terra das colinas!

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As crianças de ontem admiravam esse veículo como se ele fosse um desses brinquedos de carrossel de circo, conduzindo a uma doce sensação de alegria e de divertimento, peculiar ao espírito infantil. — Olha o bonde, mamãe! era a exclamação inocente, cheia de admiração e entusiasmo, de qualquer criança de São Carlos! E, depois que os bondes foram retirados, nós passamos a sentir muita saudade deles. E se, por um lado, o bonde não era um meio de transporte rápido, era, por outro, o veículo ideal para nele se dar um passeio. Lentos, pachorrentos, como era a própria vida da cidade antigamente, lá iam eles ao trabalho diuturno de meio século, sendo testemunhas mudas das coisas tristes e alegres que aconteceram às pessoas e à própria cidade.

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Bondes democráticos estes nossos, que transportavam farmacêuticos, dentistas, mulheres, estudantes! Se as ruas têm uma alma encantadora, os antigos elétricos, como eram chamados, também a tinham. Eles quase não nos impunham horários e pressa, mas tinham um poder intrínseco de nos convidar para um passeio pela cidade, deslizando sobre trilhos reluzentes. No bonde sempre cabia mais um! Diziam os mais velhos que era como coração de mãe, disposto a qualquer sacrifício. E nele a gente ia para a missa, o enterro, o casamento, o cinema e para o amor. Cada pessoa carregando a sua alegria e a sua angústia, mas quase todos puxando dois dedos de conversa até chegar ao destino. Fomos uma das raríssimas cidades pequenas a tê-los correndo longamente pela cidade, dobrando esquinas, roçando nas copas das árvores, tilitando, estremecendo as ruas.

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E, no dia 10 de novembro de 1965, um exemplar foi exposto na praça da piscina, completamente restaurado graças ao idealismo do escritor e carpinteiro Nicola Gonçalves, que realizou o trabalho às suas expensas, sem pedir patrocínio a ninguém. A parte do madeiramento foi integralmente refeita e pintada, pois havia muitos bancos e balaústres danificados por vândalos e pelo próprio tempo. E, assim, voltava a luzir, tal como quando deixou de trafegar em 1962. Puxei conversa com um homem alto que fora motorneiro de bonde por 27 anos. Indaguei, por exemplo, se o bonde nunca tombou em um descarrilamento. Ele disse que sim, num dia de procissão, quando enfeitaram o leito da rua com folha de palmeira e os trilhos ficaram escorregadios feito sabão. Então as rodas patinaram, todo o elétrico vibrou e pumba! O bonde caiu de lado, sem ferir ninguém.

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Indaguei-lhe, também, sobre o cartaz que dizia: “É proibido fumar nos dois primeiros bancos”. E ele explicou: Os dois primeiros bancos se destinavam às senhoras e senhoritas e não ficava bem incomodá-las com a fumaça de nossos vícios. Também perguntei ao velho motorneiro a razão da vida efêmera do bonde camarão, que era um bonde fechado, com apenas uma entrada e uma saída. E ele respondeu: O Camarão atrasava o percurso dos demais bondes, pois o acesso e a descida dos passageiros se processava lento. Todos tinham de fazer fila indiana. As pessoas, em geral, preferiam o bonde aberto, mais arejado. Como o bonde era democrático e como tinha alma, permitindo-nos ver a vida urbana, então tranquila e lenta!

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Paulo Sérgio Nanni, Eliza Gonçalves Papa e Jovino Bueno em uma das edições do sarau Na época dos bondes e dos trens, em 2018.

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