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caixa-preta
Celso BrandĂŁo
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caixa-preta Celso Brandรฃo CURADORIA
Miguel Rio Branco
22 de marรงo a 14 de maio de 2017
Presidente da RepĂşblica
Michel Temer Ministro da Fazenda
Henrique Meirelles Presidente da CAIXA
Gilberto Occhi
A CAIXA é uma empresa pública brasileira que prima pelo respeito à diversidade e mantém comitês internos atuantes para promover, entre os seus empregados, ideias e atitudes de respeito à diversidade de gênero, raça, orientação sexual e todas as demais diferenças que caracterizam a sociedade. A CAIXA também é uma das principais patrocinadoras da cultura brasileira, com o patrocínio a projetos culturais nas unidades da CAIXA Cultural e outros espaços. Os projetos são escolhidos via seleção pública, uma opção da CAIXA para tornar mais democrática e acessível a participação de produtores e artistas de todas as unidades da federação e mais transparente para a sociedade o investimento dos recursos da empresa. A exposição Caixa-preta – Celso Brandão apresenta fotografias que mostram, em luzes e sombras, a simplicidade em contraponto à expressividade do povo e da cultura do sertão. O fotógrafo e cineasta alagoano percorre várias décadas de registros fotográficos em preto e branco e revela, de forma poética e intensa, a sua visão peculiar do cotidiano no interior brasileiro. Ao patrocinar essa exposição, a CAIXA reafirma sua política cultural e sua vocação social, democratizando o acesso aos seus espaços e fomentando a cultura em todas as suas formas de expressão. Desta forma, também desempenha seu papel institucional de estimular o conhecimento e a criação, dando condições concretas para que a população brasileira tenha contato direto com o que há de melhor e mais inspirador na produção artística nacional e internacional. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
Homem de cinema, autor de concisa e rigorosa filmografia voltada à observação e interpretação do universo cultural do Nordeste brasileiro, Celso Brandão sempre trouxe consigo a câmera fotográfica e construiu, em paralelo, um pungente registro do homem e de seu meio. Enquanto seu cinema é fruto de obra coletiva – envolvendo o prévio planejamento, a captura de sons e imagens e a posterior montagem, onde cada um cumpre o seu papel – sua fotografia é obra individual e intimista. Assim como a imagem dos daguerreótipos, que se faz visível a partir da liga de mercúrio e prata, a fotografia de Celso Brandão é um amálgama de sua rara sensibilidade, lirismo e sintonia com os estados de espírito daquela gente e a identidade dos lugares, com o apuro de um olhar subsidiado por sólida formação intelectual. Celso Brandão figura entre os talentos da fotografia brasileira que, apesar da produção expressiva, tem seu trabalho ainda pouco divulgado. O conjunto de imagens que temos aqui, produzidas pelo cineasta e fotógrafo alagoano na década de 1990, foi selecionado e organizado por Miguel Rio Branco – depois de um encontro certamente sem preâmbulos nem concessões. Artista de primeira grandeza e também homem de cinema, Rio Branco dedicou-se à tarefa de construir a presente narrativa, com imagens cuja obtenção foi mediada pelo cérebro-obturador e o diafragma-coração da Caixa-preta de Celso Brandão. Esta exposição, apresentada em 2016 na Maison Européenne de la Photographie (MEP) em Paris, chega agora ao Brasil através da Caixa Cultural. Por meio desta mostra, também rendemos uma homenagem mais que merecida a este fotógrafo da condição humana. Fabio Settimi
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A caixa-preta de Celso Brandão Caixa-preta é o receptáculo onde ficam registrados todos os detalhes de um voo. Depois de uma catástrofe, é o objeto de todas as buscas para tentar compreender o que se passou. Preta aponta também para outros horizontes nos campos semânticos da fotografia, claro, mas também da demografia, da magia, da geografia, da astronomia, da física, da metafísica. Caixa-preta dá conta do percurso e da imersão do fotógrafo em sua terra de origem – Alagoas. Esse pequeno estado do Nordeste do Brasil possui uma forte identidade. O rio São Francisco, sua fronteira ao sul, foi um eixo maior da conquista da região e das campanhas para a escravidão ou o extermínio dos índios do interior. Ao longo de mais de três mil quilômetros, o rio, dito da unidade nacional, é também o eixo do grande deserto interior, o Sertão. Nessa enorme zona semiárida, na junção de estados do Nordeste e do Sudeste, desenvolveu-se, desde o século XVI, uma atividade pastoril extensiva baseada no gado bovino. O Sertão é também a terra de origem de uma mitologia construída em torno das figuras do cangaceiro e do beato, pastor carismático. O camponês sem terra deve se adaptar e migrar permanentemente. Essas figuras são fruto das condições climáticas e da violência dos senhores da terra. Essa história foi enaltecida pela literatura e pelo cinema.1 Ela alimenta o imaginário coletivo brasileiro. Muito cedo, os colonizadores holandeses e portugueses viram que a zona de colinas próxima ao oceano, mais chuvosa, era propícia à monocultura da cana-de-açúcar. Para a exploração dessa riqueza, rentável porque facilmente exportável para a Europa, era preciso uma mão de obra abundante. A escravidão dos negros deportados da África foi, portanto, providencial. Mas isso não se deu sem resistência. A prova é a existência de numerosos quilombos, comunidades organizadas por escravos fugidos das plantações. Esses espaços de liberdade lhes permitiram retomar sua organização so1
Magistralmente por Glauber Rocha em dois filmes: Deus e o diabo na terra do Sol, em 1964, e O dragão da maldade contra o santo guerreiro, 1969.
cial, suas crenças e seus rituais, a policultura, inclusive a mandioca, o milho, o feijão, produtos desconhecidos e ignorados pelos colonizadores. Palmares foi durante praticamente todo o século XVII um território autônomo de escravos fugidos convivendo em bom acordo com índios, mulatos, camponeses sem-terra, desertores. Muitas operações militares conduzidas por colonizadores se mostraram inúteis diante da determinação dos trinta mil habitantes. Só uma artilharia pesada permite a liquidação desse sonho da terra prometida para os escravos. Hoje, o Brasil continua o primeiro produtor de cana. Esse recurso é frágil porque depende do mercado mundial. A mudança climática torna o Sertão cada vez mais árido: o gado caprino e o ovino substituem paulatinamente o gado vacum. Quanto aos quilombos de Alagoas, três quartos vivem no limite da pobreza. O aeroporto da capital, Maceió, tem o nome de Zumbi, o valoroso chefe militar da resistência de Palmares. Medida cosmética num estado pós-colonial, marcado pelo peso da oligarquia, da corrupção, da desigualdade social, do trabalho infantil, da amnésia histórica, do desprezo pela população mais escura... Homem discreto, dedicado ao ensino, Celso Brandão vive há bastante tempo no litoral. Sua casa é uma ermida à margem do oceano. Ela é povoada por esculturas de artistas nativos de quem ele é, muitas vezes, o descobridor. Ela é animada por essa energia criativa. A praia, em sua imensidão e sua luz, convida ao silêncio metafísico. Por trás da cortina de coqueiros descabelados, o mangue, suas águas quietas e suas raízes e galhos retorcidos que o povoam, convoca um imaginário ligado às forças obscuras da terra. Vindo de uma família culta que contou com vários eruditos muito voltados ao conhecimento de seu lugar de vida e ação, Celso retomou à sua maneira essa busca das raízes. Ele acredita que sangue índio corre em suas veias; tem por prova o penteado bem indígena de sua avó. Aos dezoito anos, percorre de ônibus o Sertão de Alagoas. Fotografa a arquitetura e a dimensão artística da produção artesanal. É também a frustração de não poder ser pintor que o leva à produção mecânica de imagens de um mundo que o apaixona, seu mundo.
A criação de Celso Brandão é primeiramente a de um cineasta da realidade de seu território. Seu primeiro filme data de 1974. Sua produção documentária se articula, ao longo de décadas, em torno da vida, da história, dos mitos, das lendas, dos rituais, das formas de criação artística da população mais humilde, mais desprezada. Desprezada porque ainda muito negra ou muito índia, apesar da mestiçagem. Por esse interesse
A dimensão cósmica de Caixa-preta é marcada a princípio pelas fotografias de abertura e de encerramento da obra. A terra é matriz e palimpsesto reticulado de vestígios desde a noite dos tempos. Na forma de argila, ela é metáfora da criação. Tudo corre. Fora a onipresença da água, outras realidades por seu movimento e o caráter efêmero de sua ocorrência nos convêm a essas considerações
pelos abandonados da sociedade, os desamparados, ele encontra seu conterrâneo, o escritor Graciliano Ramos, autor de Vidas secas. Seu engajamento é antes de tudo poético. Apesar de uma educação diferente, ele é sensível à energia, à criatividade, à imaginação do povo e participa assim da preservação da memória popular. Diante da mesma realidade, a postura fotográfica de Celso toma outra perspectiva. Apesar de seu estilo documental, ela não tem uma mirada antropológica. Trata-se, antes de tudo, de um ateliê permanente de reflexão, de escritura, de composição, alimentado pela energia das situações, seu expressionismo. Ao tempo em que dá forma ao mundo, Celso sabe também que o mundo o forma em troca. Isso o levou a definir sua escritura ao abandonar a utilização da cor. Para Caixa-preta, o único suporte de registro foi o filme em preto e branco, já considerado de outra era. Como autor, Celso bem sabe que a questão não é de executar e acumular as imagens como se coleciona borboletas. Ao longo do tempo e de um lento trabalho de maturação, ele tratou de construir um conceito ao organizar, ao pensar, as fotografias. Elas não podem ser escolhidas apenas por sua eficácia gráfica. Devem ter também uma função dramática e dialética na trama que se compõe, graças a elas, no espaço do livro. Celso não cria imagens piedosas apelando à emoção superficial. Ele situa resolutamente sua interrogação ao lado da espessura e da profundidade do ser. E ao mesmo tempo, tudo corre como Sic transit2 já sinalizava fortemente. A fotografia torna-se, então, o testemunho da passagem do tempo sobre o espaço da identidade no momento mesmo em que a espécie humana vive
heraclíticas. É também uma maneira de ler o carrossel, o circo que volta todo ano, sempre semelhante, sempre diferente. Além de sua interrogação sobre a vida, a morte, a transcendência, os rituais se repetem também como o marulho das ondas que vêm morrer na praia sob o silêncio dos espaços infinitos. Celso é muito sensível ao espírito dos lugares que frequenta. As imagens de estrada são fotogramas de um filme de viagem pelos meandros do mistério humano. A presença, a proximidade dos corpos e dos rostos, o sentido da gestualidade e do disfarce testemunham a extrema atenção à alteridade, de um olhar profundo, discreto, mas sem falso pudor. Caixa-preta, mais que um assunto, uma história, uma narrativa, é uma interrogação sobre o fato de ser fotógrafo. Uma interrogação sobre o fato de escrever com a fotografia. Não um livro a mais, mas uma obra manifesto. Ele o faz no momento em que todo mundo clica imagens freneticamente. Imagens que, ao não se tornarem pequenos ícones sobre o papel, se perdem no espaço virtual. Sua pesquisa formal é parte das impressões complexas que ele tenta comunicar. Essa concepção descarta os clichês e renova a percepção do Nordeste. Longe dos efeitos espetaculares da objetiva grande-angular, é pela prática de um realismo mágico que ele atinge a profundidade humana de sua terra. Seu radicalismo interior lhe permite o acesso às suas raízes surrealistas e a essa terrível beleza que nos deixa entre céu e terra. Pierre Devin Taulignan, janeiro 2016
uma época de ruptura provocada pela mutação radical constituída pela combinação de ferramentas digitais com novas tecnologias de comunicação.
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Primeiro livro de artista de Celso, 2001 e 2016.
Reprodução de texto concebido originalmente para o livro Celso Brandão: Caixa-preta, segundo Miguel Rio Branco (Editora Madalena/Contrasto, 2016).
Fotografia
Legendas
Celso Brandão
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20 Tosa de rabo de égua
Mão de oleira. Aldeia Kariri-Xocó
São Miguel dos Milagres, AL, 1992
Porto Real do Colégio, AL, 1980
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Idealização
Fabio Settimi
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Curadoria
Miguel Rio Branco
Santa Brígida, BA, 1999
São Luís do Quitunde, AL, 1992
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Confessionário
Realização
R&L Produtores Associados
Feirante com iguarias de rio
Fogueiras da festa de São João
Dorso de banhista
Caruaru, PE, 1999
Barra de São Miguel, AL, 1991
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Bebedeira
O primeiro baile
Piaçabuçu, AL, 1993
Coruripe, AL, 1999
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Texto
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Bebedeira
Pierre Devin
Dança indígena na aldeia Karuazu
Piaçabuçu, AL, 1993
Direção de produção
Rodrigo Andrade Gestão de projeto
Lucas Lins
Revisão
Márcio Pinheiro
Pariconha, AL, 1999
Folião na vila operária de Fernão Velho
10
Maceió, AL, 1992
Tradução Português
Bobos no carnaval
Fernando Fiúza
Maceió, AL, 1992
Design gráfico
11
Aline Carrer Impressão
Sol Gráfica Assessoria de imprensa
Baú Comunicação Integrada Execução e montagem
Thiago Branco Barboteo Iluminação
Julio Katona | Artimanha Produções
São Luís do Quitunde, AL, 1989
Bezerros, PE, 1999
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Circo
Dupla na cavalhada
Marimbondo, AL, 1991
Paripueira, AL, 1997
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13
Serralheria modernista
Jovens karuazus Pariconha, AL, 1998
Delmiro Gouveia, AL, 1994
14
27
Banho público Japaratinga, AL, 1993
15
Bandeira de procissão. Praia Barra de Camaragibe
Paloma, travesti e costureira
São Miguel dos Milagres, AL, 1994
Porto da Rua, AL, 1993
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16,17
Porto de Pedras, AL, 1997
18, 19 Jaraguás no carnaval Traipu, AL, 1999 Patrocínio
Crânio do barbeiro
Papangu, carnaval
Mascarados no carnaval
Realização
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Notas musicais Pão de Açúcar, AL, 1997
29 Mãe de gêmeas. Praia Barra de Camaragibe São Miguel dos Milagres, AL, 1993
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP). C817c
Brandão, Celso.
Celso Brandão: caixa-preta / itinerância Caixa Cultural Brasília. / fotografias de Celso Brandão ; curadoria de Miguel Rio Branco ; [texto Pierre Devin ; tradução francês/português Fernando Fiúza ; texto Fabio Settimi]. 1 ed. Rio de Janeiro: R&L Produtores Associados, 2017.
32 p. :il. Projeto gráfico: Aline Carrer.
ISBN 978-85-67067-15-5
1. Artes. 2. Artes visuais. 3 Fotografia. I. Rio Branco, Miguel. II Devin, Pierre. III. Título. CDU – 72/76 (81) CDD – 709.81
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Realização
Patrocínio
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