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Introdução
from Ponto Zero da Fotografia, Caderno com 101 atividades para o ensino da fotografia
by Marcelo Reis
O caleidoscópio e a câmara, duas caixas pretas. A primeira é o nosso equipa-
mento eterno, nosso próprio ser, nosso eterno cérebro e coração, [...]. A segun-
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da, ainda mantém o mesmo princípio da câmara obscura do passado, apenar
de sua contínua sofisticação tecnológica; é o instrumento por meio do qual
registramos e/ou reinventamos os cenários do mundo.
Boris Kossoy
O Ministério da Educação do Brasil destaca no ideb 2017, (mec 2018), o decréscimo nos índices da educação, dos resultados das metas do Estado da Bahia. Diante desta realidade, faz-se necessário desenvolver métodos e estratégias para garantir a presença do aluno em sala de aula e com bons rendimentos escolares. Pensar atividades novas e desafiadoras é o que move pesquisadores, professores e todo um corpo funcional para tornar o ambiente escolar cada dia mais encantador e próspero de conhecimento, tornando a sala de aula uma ágora de discussões.
Potencializar o pensamento do indivíduo pode se apresentar como uma perspectiva de vida, principalmente quando se pode deflagrar suas descobertas, tendo como referência a tese (read 2020) de a arte deve ser a base da educação, principalmente quando essa base possa ser fortalecida a partir do uso de tecnologias disponíveis ao favor dos estudantes, como, por exemplo, os aparelhos de smartphone entre outros possíveis. Para Santaella (2007, p. 197) “As tecnologias quando de pequenos portes, são feitas para atender à necessidade mais segmentada e personalizada de recepção de signos de origens diversas, de estratos culturais variados”, neste contexto os smartphones são uma representação desta tecnologia disponível para uma boa parte dos alunos da atualidade.
Essa pesquisa desenvolveu de forma colaborativa junto a 09 professoras que fizeram parte do Programa nacional de Formação de professores através da Plataforma Freire-Capes2 , na graduação do curso de Licenciatura em Artes Visuais, composto de oito semestres, com carga horária de 3.510 horas, ministrado em 4 anos, pela Universidade do Estado da Bahia, uneb. Nesta pesquisa elas serão identificadas por nomes de flores, escolhidas por elas: professoras3 Begônia, Clevia, Flor-do-deserto, Girassol e Margarida.
Pensar uma pesquisa Colaborativa, com metodologia fenomenológica de intervenção em educação, se definiu como maneira clara para deliberar o procedimento de investigação, pela possibilidade como apresentado por Pereira (2019, p. 91), quando realça a “importância da reflexão crítica que trazem de suas identidades profissionais, em se pensar no universo Artístico que coabita no campo profissional deste professor colaborador,” tornou de fundamental importância, a cooperação destes sujeitos oferecendo corpo ao conceito da pesquisa, não obstante, o colaborador, ainda segundo Pereira (2019) nem sempre participou de todas as etapas e momentos da investigação, mas seu estatuto de coprodutor foi preservado, o que não garante autoria na divulgação dos resultados. O percurso metodológico dessa investigação se deu de maneira individual, contudo não se perdeu de vista as possibilidades de correspondência com a realidade coletiva desde mesmo grupo de sujeitos investigados.
2A Plataforma Capes de Educação Básica é um sistema disponibilizado pela Capes com a finalidade de constituir uma base de dados que: Abrigue o currículo dos (as) professores (as) da educação básica, dos (as) docentes e dos estudantes de cursos de licenciatura, pesquisadores (as) e estudantes de programas de pós-graduação que atuam com educação básica e com a formação de professores para esse nível de ensino, dos (as) gestores e de outros (as) profissionais que atuam na escola básica, dos (as) secretários (as) de educação das redes de ensino ou órgão equivalente, entre outros (as) profissionais que desenvolvam ou participem de programas, atividades, estudos e pesquisas relacionados à missão institucional da Capes de subsidiar o Ministério da Educação na formulação de políticas e no desenvolvimento de atividades de suporte à formação de profissionais de magistério para a educação básica; e realizar a indução, o fomento e o acompanhamento de programas e ações destinados à formação inicial e continuada dos profissionais de magistério, bem como de estudos e pesquisas para a educação básica. 3Cada uma das 05 professoras participantes desta pesquisa fizeram parte de entrevistas remota, escolheram um nome de uma flor para serem identificada durante a escrita deste estudo, e assim preservar sua indenidade, por definição, a escolha do nome, partiu de uma relação artística, pois a escolha dependeu de qualquer experiência com a flor em questão.
No campo do método da pesquisa, a opção pela abordagem Fenomenológica fez toda diferença na construção do corpo e anima para a geração dos conhecimentos. Quando Pereira (2019) defende que abordagem fenomenológica:
“[...] os aspectos qualitativos da investigação pautando as análises numa interação aberta e polissêmica a partir do emprego de instrumentos que melhor captam a subjetividade dos contextos sociais, culturais, educativos, políticos, dando preferência por categorias e conceitos a posteriores[...]”. pereira (2019, p. 117)
Ele sinaliza o melhor caminho a ser percorrido nesta busca que constituiu o objetivo principal desta pesquisa entendendo, como a Fotografia é utilizada por professores da Disciplina de Artes, para propor estratégias de ensino para o uso desta linguagem e técnica. Umas das contribuições da tecnologia é a de viabilizar a ampliação do acesso aos bens de produção e interpretação da vida, para Almeida, (2013) a web e as Redes Sociais, – uma subcategoria de tecnologia – já é parte integrante da grade curricular e é uma das formas de organização do currículo. Assim a web – como o conjunto de bens culturais – organiza, disponibiliza, gera novas redes de relações, entre pessoas, que permitem novas formas de produção e interpretação do conhecimento. Ainda nesta relação entre o sujeito e seus aspectos técnicos, Heidegger (2020, p.19) vai destacar que:
“[...] o que é verdadeiramente inquietante não é que o mundo vem se transformando num lugar dominado por completo pela técnica. Muito mais inquietante é que o homem não é em nada preparado para essa radical transformação do mundo. Muito mais inquietante é que não somos ainda capazes de alcançar, a partir de um pensamento, uma confrontação adequada com o que está realmente acontecendo em nossa época [...]”
Partindo desta premissa, o desafio maior deste estudo, que propôs estratégias de ensino para o uso da Fotografia, se estabeleceu a partir das respostas obtidas primeiro, do questionário disponibilizado para nove professoras, para desta interpretação inicial, selecionar as cinco professoras que participaram das
entrevistas remotas, sendo elas identificadas por seus nomes fictícios de flores, formou-se um jardim de sensibilidades entre as professoras: Begônia, Clevia, Flor-do-deserto, Girassol e Margarida, foi de repensar a função da fotografia no campo escolar. Entendeu-se junto às professoras de maneira colaborativa, como, e, se a fotografia era utilizada como ferramenta pedagógica.
Dentro da dinâmica escolar, professoras colaboraram oferecendo seus relatos e experiências, de como se efetivou suas aptidões na Disciplina de Artes, atravessada pela Fotografia, uma vez que o benefício proposto aqui, se faz através do uso da metodologia Colaborativa e poderá ser aproveitado por qualquer professor que deseje usar da fotografia como atividade da Disciplina de Artes buscando a possibilidade de uso da fotografia não mais como um elemento técnico meramente do plano cênico, para alargar o uso das imagens produzidas por seus alunos, para além da função repetidora e ilustrativa dos temas ou assuntos abordados na sala de aula.
Para tanto, fez-se necessário pensar, não só a fotografia como uma atividade geradora de estímulo que contribuiu para o aumento da reflexão dos alunos, mas como é sua própria maneira de interação com seu meio, dentro do novo cenário vivenciado pela difusão da cultura digital. Nesta perspectiva, o professor se colocou como um sujeito, tentando entender o aluno para melhor interagir com ele. Segundo Dias et al. (2013),
“[...] outro desafio é o professor deixar de ser o centro do processo de ensino e aprendizagem, e socializar suas experiências e conhecer as experiências dos alunos, de valorizar sua história de vida e a história e vida dos seus alunos. Esse ato de demandar, entender e incorporar o processo formativo dos sujeitos da escola, como germinador nos espaços e nos lugares da escola e da sociedade, emaranhados à cultura digital.”
Essa pesquisa reforçou a função da fotografia dentro do campo escolar, através da ampliação dos debates do pensamento acerca do sujeito em formação, o aluno. Na medida em que se conectou o usuário deste sistema tecnológico com o meio em que vive, revelou o que para Santaella (2007) é um dos princípios da concepção marxista da história, quando diz que a natureza se
transforma continuamente pela ação humana e, transformando a natureza, o ser humano transforma a sua natureza. Continua Santaella (2007) afirmando que, inseparavelmente, a natureza e a natureza humana foram transformadas desde o início. E desta transformação, da natureza humana que se destaca o ganho na atuação desta proposta de trabalho desenvolvida a partir da observação do uso da fotografia como ferramenta complementar ao ensino nos programas da Disciplina de Artes.
O pensamento sobre a imagens é para (ferreira in goncalves 2013, p.88) “[...] uma possibilidade didática de utilização da fotografia para a formação sensível.” Se, para Santaella (2007, p.166) “os sentidos são modos de exploração, investigação e orientação, modos de atenção a tudo o que é constante na estimulação mutável, capazes de isolar a informação pertinente”, a fotografia poderá ser então, o vetor que fara florescer esses elementos isolados, ou seja, as informações pertinentes, também vista como conhecimento, para o fluxograma diário da sala de aula. Acreditar neste potencial é oportunizar o uso das tecnologias de acesso direto e imediato, ao alcance de boa parte dos sujeitos das escolas, seja ele o professor ou o aluno.
Por mais que as tecnologias, seja ela a fotografia, estejam cada dia mais presentes e se tornado um elemento indissociável na sociedade, ainda existe um debate, que acaba por fortalecer e diversificar as abordagens de uso deste sistema. Na verdade, essa contestação, como acredita, Ramos (2013) sobre a utilidade ou não das tecnologias móveis, entre outras tecnologias na escola, está bem vivo e acessível, enfatizando a oportunidade de centrar a questão do uso da tecnologia naquilo que são suas potencialidades do ponto de vista educativo, apesar da dificuldade decorrente das imperceptíveis fronteiras entre tecnologias destinadas ao mundo fora dos muros das escolas e as tecnologias destinadas à espaço escolar.
Ao iniciar essa conjectura teórica acerca da utilização da fotografia com fins pedagógicos como dispositivo de instrumentação didática, deve-se destacar que a ferramenta primordial de abordagem crítica foi a fotografia enquanto linguagem e técnica, na Disciplina de Artes, tendo em vista sua dimensão que, assim como afirma Miranda (2015, p. 8) quando diz que: “[...] a fotografia que nos apresenta mais do que palavras e nos revela a personalidade do outro mais que pessoalmente [...]”, assim se mostra como uma lupa ao aproximar os alunos
e suas realidades para as atividades cotidiana da sala de aula.
A elaboração desta monografia foi norteada, principalmente, pelos escritos e legado das pesquisas, no campo da Fotografia, dos pesquisadores: Kossoy (2002) trazendo suas contribuições no campo das realidades e ficções nas tramas e nos tempos da fotografia, da ensaísta americana, Sontag (2008), quando permite a partir de seus estudos uma melhor compreensão de como se constituem as relações humanas pelas imagens: “mundo-imagem”, do também professor Flusser (2018), com sua crítica à relação entre o homem e a máquina, e por fim, a pesquisa de Gonçalves (2013), com suas conjugações entre fotografia, educação e artes, dentre outros de igual relevância.
Para a categoria do Ensino de Artes, o legado do professor Teixeira (2000), e suas provocações sobre a educação e a cultura, bem como os estudos sobre Arte Educação no Brasil e suas leituras de subsolo, de Barbosa (2002), e por fim, os processos da arte enquanto experiências artísticas do filósofo e educador americano Dewey (2010), por fim, para cimentar este percurso e busca por outras novas Estratégias de ensino, foram feito uso dos conhecimentos apontados por Pereira, Miranda e Behrens (2018), principais referências no campo da pesquisa em Educação e Arte.
Considera-se entender os pressupostos teóricos e metodológicos que sustentam esta pesquisa, que, se define a partir de categorias, entendendo categoria como a manifestação de relações, fruto, de devaneios realizados por um sujeito, numa sociedade e num processo histórico, de modo que esta pesquisa se ampara em três: Fotografia, Ensino de Artes; Estratégias de Ensino.
Fotografia como primeiro capítulo, se faz necessária para apresentar a linguagem norteadora desta investigação, bem como, por ser a que me habilitou ao desenvolvimento desta pesquisa. Para tanto, como enunciado no parágrafo anterior, segui principalmente, com o aporte teórico do professor, e pesquisador Kossoy (2006), brasileiro, que tem importante contribuição para a história da Fotografia, desde o campo acadêmico, até o campo artístico, com diversos livros publicados, entre eles, Hercule Florence: A descoberta isolada da fotografia no Brasil, da Edusp, Kossoy (2006), trabalha com a reflexão e criação sobre a fotografia, destaco, como importante referência para a noção sobre a potencialidade de fotografia enquanto linguagem. Ao começar por uma breve história da fotografia, trago o marco desta tecnologia hibrida, onde o humano
e o aparelho estão tão próximos que não é possível, muitas vezes, perceber seus limites, colaborando assim, na modificação de modos de intepretação de suas realidades. Sigo tratando também, de um maior entendimento da fotografia, não mais no campo histórico, bem como técnico, mas como a relação destes dois conceitos se relacionam em nosso espaço e tempo contemporâneo. A fotografia aqui pensada como maneira lúdica e acessível propiciando o pensamento sobre sua ambientação no campo escolar, ao tempo, por ser um dispositivo fotográfico, considerado como uma tecnologia leve ou mesmo tecnologia disponível, Santaella (2007) ressalta que: “as tecnologias de pequeno porte, são feitas para atender a necessidades específicas”, que foi o caso desta proposta de pesquisa, lançar luz sobre o uso dos smartphones, por exemplo como uma tecnologia educacional. Os autores ao retornarem à gênese da fotografia são unânimes em descrever o seu surgimento na França em 1826, como resultado da combinação de duas invenções preliminares e distintas, como descreve Dubois (2017, p. 129) sobre as descobertas sendo “[...] a primeira, puramente ótica ‘dispositivo de captação da imagem’; a outra, essencialmente química, é a descoberta da sensibilização à luz de certas substâncias à base de sais de prata ‘dispositivo de inscrição automática’ [...].”
O momento histórico no que se refere à origem da fotografia, aqui apresentado, foi verificado, apenas como maneira de delimitar seu espaço/tempo na sociedade pós-industrial na tentativa de reunir pensamentos acerca da relação da fotografia como tecnologia viável de ser aplicada para a educação. E como provocação, na medida da necessidade de chamar a atenção para a relevância da compreensão do valor simbólico da imagem, de acordo à contribuição de Benjamim, em seu ensaio Pequena História da Fotografia onde, de maneira preconizada, registrou que segundo Benjamin, (1996, p. 107) o “[...] analfabeto do futuro não será quem não sabe escrever, e sim quem não sabe fotografar”, a maneira como a fotografia é utilizada hoje, demostra não pelo domínio, mas pela quantidade de usuários que seu previsão foi assertiva.
Partindo da realidade de uso da fotografia por uma maior parte das pessoas, é pertinente pensar se esse uso não necessariamente reflete uma produção significativa, o sentido como conteúdo desta produção acaba sendo uma questão contingenciada. Sabe-se que essa busca pelo efêmero, já é contudo, observada desde a década dos anos de 1970, quando Arche (2013) reflete sobre o discurso
de Andy Warhol, ao preconizar que todos teriam seus quinze minutos de fama, o que se percebe atualmente é que o futuro, no contexto do pesquisador, chegou. Neste sentido, em que medida o uso do dispositivo fotográfico, traduz o plano domínio do operador sobre o aparelho? O que quer dizer a quantidade de fotografias que são produzidas diariamente? Essas são questões possíveis, ao se iniciar uma discussão a partir de leitura de imagens fotográficas, o que sobre esse aspecto destaca Lima quando diz que:
“[...] Para a fotografia, que representa uma parcela considerável das imagens vistas, os conhecimentos sobre suas características são ainda menores. Em uma sociedade nova como a nossa, de bases nitidamente visuais (grande parte da população da América Latina é analfabeta em escrita) é imprescindível que os intelectuais, educadores, cientistas e público especializado em geral, comecem a tomar conhecimento sobre as características dessa linguagem, que ao contrário da escrita, todos podem interpretar segundo seu saber pessoal.” (LIMA, 1988, p. 13)
Neste breve percurso considerasse a necessidade de inovar ou mesmo agregar ferramentas de fortalecimento ao ensino das Artes. Ao se fazer uso da fotografia como tecnologia facilitadora, com uso de equipamentos portáteis, com vistas a ativar a criatividade dos alunos, objetiva-se oferecer uma oportunidade a mais de leitura de seus mundos, de como escrito por Barros (2015, p.108), “experimentar o gozo de criar”, o desertar para o mundo como uma experiência artística.
Ensino da arte como segundo capítulo, reflete sobre Arte-Educação, percorrido partindo do breve entendimento do que é arte, para tanto uma sessão foi dedicada a esta categoria, que traz o que é fazer, e para que serve a arte? Questões que norteiam a própria condição de uma melhor apropriação artística do pensamento sobre o uso da Fotografia visto no capítulo anterior.
Pensar a arte como ferramenta que fortalece a educação, levou a refletir diversas condições: políticas, sociais, culturais, bem como a subjetividade de aluno, parte integrante da estrutura intelectual que constitui a natureza do Ensino da Arte. Barreira (2000) destaca as consequências do processo de formação do