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Arte em tempos de cólera
from Ponto Zero da Fotografia, Caderno com 101 atividades para o ensino da fotografia
by Marcelo Reis
Com a Proposta Triangular, a Arte-Educação direcionou o ensino da arte de modo até então determinante, uma vez que proposta passou a ser e ainda é utilizado por cursos de Licenciatura em Artes Visuais no Brasil.
A principal questão levantada pela proposta Triangular foi de sua crítica a livre-expressão, ao como enunciado por Barbosa (2014) “deixar-fazer”, segundo a autora, a principal função da AT, deveria funcionar com um instrumento do desenvolvimento dos alunos, e principalmente coo um componente de sua herança cultural.
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Arte em tempos de cólera
A contribuição de Anísio Teixeira para a Bahia e Brasil, no âmbito da cultura perpassou em muito os limites dos muros da educação, contribuições que se iniciam já na década de 1924, quando, foi indicado pelo então, governador Francisco de Marques de Góes Calmon, segundo Rocha (2014), aos 23 anos para comandar a educação da Bahia, iniciando assim sua trajetória de quem viria a ser a um dos mais destacados dos educadores do Brasil.
Uma das importantes premissas do educador, Anísio Teixeira, a questão que até hoje, de alguma maneira, existe, não se tratando de uma do ponto de vista da gestão, a condição de existência de uma gestão específica para a educação, destinada as Secretarias municiais e estaduais, mesmo que algumas delas sejam imbricadas, como é o caso em estados como o Acre e Sergipe, e do ponto de vista da gestão federal, mesmo que ainda registrado em sua sigla, o mec, atualmente Ministério da Educação, mantém distinção com a Secretaria Especial da Cultura, que substituiu o extinto minc, Ministério da Cultura, na atual gestão federal do governo do Presidente (sem partido), Jair Bolsonaro.
Para Mendonça (2014), “[...] a própria compreensão abrangente que Anísio tinha de educação e do lugar da escola nas sociedades contemporâneas já é um indicativo de que, para ele, as questões da educação e da cultura são absolutamente indissociáveis.” Neste sentido uma ideia de uma educação alimentada pelas questões culturais das quais os alunos, sujeitos deste processo de experimentações cotidianas possam a serem afetados ou percebidos a partir de suas realidades.
Em boa parte dos casso, no tocante as aulas de Artes, os programas não visão em sua, potencializar as possibilidades já existentes no universo social dos alunos. Uma impressão possível de perceber, é que a Arte enquanto linguagem universal, que se constitui como uma ação crítica e estética de um sujeito sobre um objeto qualquer, inclusive sua realidade, foi retirada da ideia de uma arte -educação, neste mesmo sentindo, colabora Lannir, (2013, p. 68) “[...] o que a arte-educação precisa é de um forte conceito central. A fragmentação de ideias que hoje impera no ensino da arte não é mais perniciosa, mas seria bem mais produtivo um quadro conceitual coeso[...]”
Dentro de nossa contemporaneidade uma definição de conceito central, passa pela possibilidade de trabalharmos com aquilo que é presente em qualquer sujeito, em nosso caso, sujeito escolar, um conceito central como a essência de qualquer aluno, algo que atravesse a todos independente de sua história de vida, e a reposta não vai estar muito longe desta mesma provocação.
O senso estético, faz parte da essência de cada indivíduo no campo da arte -educação é um aspecto possível de se desenvolver sua intensidade a partir de estratégias simples, como uma escuta de questões que afetam o estudante, deste modo, essa interação promovidas a partir de estratégias criativas, podem servir como ponto de partida na possibilidade de se promover alguma avaliação das principais percepções existente nos estudantes, com objetivo de ressaltar seus processos criativo, neste sentido Lannir (2013, p. 82), entende que seja “[...] plausível conceber um currículo que promova uma reflexão sobre a natureza e a função das relações estéticas próprias do indivíduo [...]”, para Read (2020, p. 9) existem dentro do individuo
“[...] dois ‘pátios internos’ ou estados existenciais que podem ser exteriozados com a ajuda das faculdades estéticas. Um deles é somático, sendo encontrado até mesmo nos cegos e surdos-mudos: trata-se de um armazenamento de imagem que não derivam da percepção externa, mas das tensões musculares e nervosas de origem interna. Em si mesma, essa sensibilidade ‘háptica’ talvez não seja importante, mas ignora esse elemento tal como aparece na expressão estética levou a muita incompreensão dos desvios
do naturalismo fotográfico encontrados nas artes primitivas e moderna “[...]”.
Neste sentido, em tempos de cólera, de conflitos, de escassez de pensamento crítico, a arte pode substituir ou preencher o espaço deixado pelas relações, muitas das vezes familiares, para essas condições a sala de aula, ou ao menos, a disciplina de artes poderá contribuir para realocar o aluno para um espaço de criação de sentidos, e desenvolvimento de suas expressões, sendo elas do campo do imaginário ou prático. Ainda neste contexto, pensarmos na utilização da câmera fotográfica presentes em seus smartphone, resignificando seu uso, como quem deseja propor a construção de novas imagens não só de seu espaço doméstico ou seu trajeto casa-escola, bem como de seu espaço escolar, como também pensar na ressignificação de seus retratos, um Selfie logo existo, poderá gerar modo de potencialização dos processos fotográficos, a partir dos aparelhos e condições disponíveis, podendo oferecer ao professores possibilidades de construção de novas narrativas que potencialize questões presentes em cada indivíduo, a partir de suas idiossincrasias, em atividades de sala de aula.
O instinto estético uma vez estabelecido poderá desencadear novos processos de ligação entre o aluno e seus objetos, neste sentido Read (2020, 38) destaca que: “[...] esse processo de ligação entre um ato presente de percepção e um ato revivido de associação perceptiva, e a faculdade que nos capacita a reviver a consciência de percepções anteriores é por nos chamado de memória [...]”, desde modo, ao criar nossos cenários de encenação e de novas paisagens de sentidos, as imagens produzidas de questões privadas, a partir do uso de seus smartphones, em suas residências, por exemplo, se constituirá como verdadeiros contos visuais, pensado a partir das possibilidades da espontaneidade, construindo assim olhares críticos sobre suas comunidades, projetando nos alunos o senso de pertencimento, muitas das vezes ausentes neles.
Neste contexto recorremos as possibilidades de educação visual como alternativa a condição de subdesenvolvimento das atividades e da própria função da disciplina ou mesmo da educação em nossa contemporaneidade, quando Rouanet (novais 1998, p. 133) alerta de que é:
“[...] preciso combater pela educação a cegueira produzida pela educação. A educação repressiva cria os preconceitos, que funciona como anteparos, bloqueando a visão, e como refratores, que dão do mundo social uma visão dão distorcida com produzida, no mundo físico, pela ilusão de ótica. Ela ensina a não ver, e graças a essa não-visão o poder se torna intangível, pois seus verdadeiros mecanismos não podem ser desvendados. E ensinar a ver o que não existe, gerando os ‘espectros e quimeras’ de que a fala a retorica da época, e cuja principalmente função é manter o homem no medo e na ignorância, perpetuando com isso a hegemonia dos poderosos. Mas a verdadeira educação, exercida pelos legisladores, filósofo e pedagogos poderá remover as vendas que bloqueiam o olhar [...]” (novais, 1988, p.133)
Os resultados deste desbloqueio dos olhos, podem ser feitos graças a maneira como a fotografias está inserida em nosso cotidiano, e quando ela é potencializada, gerando estratégias produzidas durante o período escolar podem revelar grandes questões, não tão somente a ideia de despertar nos alunos o desejo pela técnica e conceito da linguagem da fotografia, aproximando-os inclusive, de uma possibilidade profissional artística, sem comprometer sua relação com seu tempo escolar, como poderá muito e mais, potencializar ainda seus estágios durante os períodos de aulas, como também, poderá revelar questões desconhecidas de muitos, ensinado ao alunos a verem o que não existe, neste sentido colabora inda Eisner: (2013, p. 127) “[...] a gramática da arte é o meio pelo qual experimentamos os significados que as obras destes artistas possibilitam. As obras de artes falam o inefável, cultivam a sensibilidade, para que o sutil possa ser visto o secreto desvelado [...]”. Neste sentido os resultados das fotografias destes alunos, por toda sua visceralidade, como obras de artes, serão capazes também de expressar emoções e atravessamentos sobre suas questões trazidas através dos jogos de imagens apresentadas durante as atividades realizadas por seus professores. Cabe então, aos professores e professoras, cuidar destes olhares desbloqueando para manter todas as suas possibilidades criativas e assim os manter ativo por todo o seu tempo.