Título: «Carolina, a pequenina sereia», conto de Rosa Maria Santos. Outubro 2021

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Carolina a pequenina sereia

Conto

Rosa Maria Santos 2


Ficha Técnica

Título Carolina, a pequenina sereia Tema Conto Autora Rosa Maria Santos Capa Arranjo de José Sepúlveda Ilustrações Rosa Maria Santos Revisão de textos e Formatação José Sepúlveda Publicado por Rosa Jasmim Edições

Editado em E-book em Outubro 2021 https://issuu.com/rosammrs/docs 3


Rosa Maria Santos Naturalidade – S. Martinho de Dume, Braga. Muito pequena, foi viver para a freguesia de Maximinos. A base do seu equilíbrio emocional está no seio familiar. É na família que encontra a alegria de viver. Viveu na Costa Litoral Alentejana, em Sines, trinta e um anos, tendo regressado em 2017, à cidade que a viu nascer, Braga. Participou em diversas coletâneas de Poesia, portuguesas, italianas e brasileiras. É Colunista no site Divulga Escritor, possuindo também uma rubrica na Revista com o mesmo nome. Foi assistente de produção e recolha na coletânea de postais do grupo Solar de Poetas, Poeta Sou…Viva a Poesia; participou nas coletâneas de poemas e postais de Natal do mesmo grupo: Era uma vez… um Menino; Nasceu, É Natal; Não Havia Lugar para Ele; Vale do Varosa: Uma Tela, um Poema, do Solar de Poetas, para promoção do Evento: Tarouca Vale a Pena; Belém Efrata; Então, Será Natal; Vi Uma Estrela, todas editadas em e-Book; O Presépio de Marco – inspirado nas imagens do presépio de Natal 2019, elaborado por Marco Penna e seus familiares; Quando o Menino Chegar – Coletânea de Poesia de Natal de 2020. 4


É Administradora dos grupos: Solar de Poetas, onde coordena também a equipa de Comentadores; Solarte – a Arte no Solar; SoLar-Si-Dó - A Música no Solar; Canal de Divulgação do Solar, Casa do Poeta; SolarTV Online; Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa; Hora do Conto e O Melhor do Mundo, todos do grupo Solar de Poetas. A escrita é uma das suas paixões… Não se considera escritora nem poetisa, mas uma alma poética a vaguear pelo mundo... Se um dia deixar de sonhar, diz, deixa de existir. Livros editados: Rosa Jasmim (poesia), Capa do Mestre Adelino Ângelo – Julho 2018.

E-Books - Poesia Cantam os Anjos (poesia de Natal) – Capa de Adias Machado – Natal 2017; - Ucanha terra de encanto Poesia) - Capa: Glória Costa – Maio 2018; - Sinos de Natal, Natal de 2018; - Glosa, Arte e Poesia, Pinturas de Glória Costa, poesia da autora, Agosto 2019; - Entre Barros, Arte e Poesia Bordadas à Mão – pinturas de Bárbara Santos, poesia da autora, Outubro 2019; - Maviosa poesia, a arte de rialantero" Pintura de Silvana Violante; poesia da autora; Em Palhas Deitado – Poesia de Natal, Dezembro 2020.

E-Books - Contos Pétalas de Azul (contos) – Fevereiro 2019; - Estórias em Tons de Rosa (contos) Abril 2019; - Pena Rosada, Crónicas do Quotidiano, Julho 2019; - 12 Contos de Natal, 5


capa de Madalena Macedo - imagens com arranjos da autora, Natal 2019; - O Veado Solitário, na Aldeia do Chefe Lyn - Edição bilingue (português/italiano), Janeiro 2020; - Esperança no País do Arco Íris – Edição bilingue (português/italiano), Abril 2020; - O Menino da Lagoa Edição bilingue (português/inglês), Abril 2020; - A Menina Raposa, capa de Ana Cristina Dias; - Rufo, o Cãozinho desaparecido – Edição bilingue (português/espanhol), Abril 2020; - Ana Rita e o fascínio dos ovos – Maio 2020; - Milú, o Chapeuzinho que gostava de cirandar, Maio 2020; - Contos ao Luar, Maio de 2020; - Patusca, no Reino Misterioso - Edição bilingue (português/italiano), Maio 2020;- O bolo na casa da Avó Doroteia, Junho 2020; - Sonega, o Coelho Mandrião, Julho 2020; - Rosalina e a Sombra Rebelde, Julho 2020; - O Jardim em Festa, Julho 2020; - Ritinha, salva a Sereia Serena, Julho 2020; - Ana Clara, em tempos de pandemia, Novembro 2020; - Josefina, a menina que veio do mar, Novembro 2020; - Luizinho, protetor do ambiente, Novembro 2020; - A Girafa Alongadinha e a Pulga Salomé, Novembro 2020; O Dia de Natal, Dezembro de 2020; O Natal de Afonso; Dezembro de 2020; Um Milagre na Ilha Paraíso, Dezembro de 2020; Ventos de Mudança, Dezembro de 2020; Gisela e a Prenda de Reis, Janeiro de 2021; Dany, o Menino que queria sorrir – Janeiro 2021; Marquito, o menino irrequieto – Janeiro 2021; Joaninha, a menina que vendia balões – Janeiro 2021; Vicentina, uma avó aventureira – Fevereiro 2021; Juliana e os sapatinhos encarnados – Fevereiro 2021; Tomás, o Pinguim Desastrado – Fevereiro 2021; Silas e o Triunfo do Amor – Fevereiro 2021, Bogalha, a macaquinha irreverente – Março 2021; Janota, a 6


guardiã do ervilhal – Março 2021, Zâmbia, a macaquinha que queria casar – Março 2021; Tuly e o cavalinho de baloiço – Março de 2021, Maria, a menina que não conseguia dormir – Abril 2021; A Lenda da Menina Lua – Abril 2021; Estrela Silente, a Princesa cativa – Abril 2021, Marly, a pequenina duende – Abril 2021; Mariana no País do trevo Dourado – Maio 2021; Esperança e o sorriso do Palhaço – Maio 2021; Uma Aventura na Floresta Encantada – Maio 2021; Esmeralda, umas férias diferentes – Junho 2021; Raitira no Planeta Ricoicoi – Junho 2021; A lição do Dente-de-Leão – Julho 2021; Lino, o menino que sonhava ser astronauta – Julho 2021; Bia, Mitra e o Tufão Esperança – Agosto 2021; Sericaya, a Ponte Misteriosa – Agosto 2021; Timo, um ratinho irreverente – Agosto 2021; Pipinha, um resgate atribulado – Agosto 2021; Aline e o Pequeno Ratinho – Setembro 2021; Tia Felisberta regressa à Aldeia – Setembro 2021; Milaidy, a vaquinha bailarina – Outubro 2021: Carolina, a pequenina sereia – Outubro 2021.

Histórias da Bolachinha Bolachinha em Tarouca (prosa e poesia) - Capa: Glória Costa - Maio 2018; - Bolachinha vai à Hora de Poesia Edição bilingue (português/ francês), Outubro 2018; Bolachinha vai à Casa Museu Mestre Adelino Ângelo Novembro 2018; - O Natal de Bolachinha, Natal 2018 Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de Teresa Subtil Edição bilingue (português/Mirandês), Fevereiro 2020; Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de José Sepúlveda - Edição bilingue (português/francês), Julho 2020. 7


Aventuras de Maria Laura Maria Laura, a Menina da Página dezasseis, Agosto 2020; - Aventura no Castelo sem nome, Agosto 2020.

Diferentes mas iguais Tomás e o infortúnio de não ter mãos – Junho 2021; Lolita, a menina que não tinha pés – Junho 2021; Duda, o Menino que queria mudar o Mundo – Julho 2021.

Aventuras de Samir e os amigos Samir, o Ratinho – Um rasgo de coragem – Setembro 2021.

Distinções - 2º Prémio de Poeti Internazionali. Poema Rosa de Saron, no Concorso Artemozioni, Cantico dei Cantici In Valle d’Itria, Itália; Maio 2017. - 3º Prémio de Poeti Internazional - Itália. Com o poema “Violino”; 5° Biennale del Festival Internazionale Delle Emozioni, Itália - Maio 2019. - 10° Edizione Del Concorso Di Poesia e Narrativa: Prémio d’Onore Concurso de Premio Letterario Internazionale di Poesia “Gocce di Memoria“, Itália, Junho 2019 con la poesia Sfera di cristallo (Bola de Cristal). - Concorso “Il Meleto di Guido Gozzano” Sezione Autori di lingua straniera - ATTESTATO DI MERITO, 14 settembre 2019 com la poesia Assenza (Ausência). Itália, agosto de 2019. 8


- Jogos Florais Vale do Varosa 2019 – Concurso Literário Tarouca - “O rio, o vale e as gentes”: Menção Honrosa, categoria de Poema. - Concorso di Poesia Internazionale " Gocce di Memoria" VI edizione 2020. - Menzione d'onore con la poesie “Il mio quadro” – (Meu quadro). Itália julho 2020. Segunda Classificada no Prémio Poeti Internazionali - 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesia-videopoesia e racconti dal titolo: Poesia Esteri “Ouve” (Ascolta) dezembro 2020. - Menzione di Merito de poeti Internazionali 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesia-videopoesia e racconti dal titolo: Racconti “Esmeralda” dezembro 2020.

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Ebook: https://issuu.com/rosammrs/docs Blog: https://romyflor.blogspot.com/p/blog-page.html 10


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Carolina, a pequenina sereia

Descalça, Carolina percorria as areias geladas da praia Sinerama. O frio intenso fazia a menina bater o dente naquela tarde de inverno. Carolina parou, sentou-se no areal bem perto do rebentar das ondas. No aconchego das águas, mais suaves que o frio que se fazia sentir, mergulhava os pequenos pés, 12


enquanto olhava o céu cinzento e orava fervorosamente ao Deus que criou o mar que lhe trouxesse um pouco de calor e suplicava que a levasse de regresso ao lar, para junto da mãe. Quantas saudade do seu colo macio e quente, quanto ansiava pelo conforto do seu quarto. Lembrava o convívio em família, a avó Lita, o irmão Tico, ainda pequenino, a mãe Carlota, o pai Tião. O que teria acontecido a Felino, o seu cavalo marinho? Estava na sua companhia quando aquela onda estranha a levou para longe do seu lar e a deixou prostrada inerte naquele imenso areal. Quantas saudades desse tempo! Sentia agora um forte aperto no seu peito. As lágrimas deslizavam pelo seu rosto, arroxeado pelo vento que se fazia sentir. A fome castigava o seu débil corpo, o estômago parecia roncar, mais, parecia trovejar como se fora o espetro infinito lá em cima. Pressagiava que de novo iria vir a tempestade.

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- Minha mãezinha querida, Por favor vem me buscar, Traz uma sopa quentinha Que possa me saciar. Ouço o maninho a chorar Com os contos da avozinha, Volta, mãe, vem me abraçar, Sinto medo, estou sozinha. 14


Como vim aqui parar? Quanta fome, quanto frio, Precisava repousar No teu colo tão macio. Aqui, tão perto do mar, Deste mar que não conheço, Sinto a ânsia de voltar Ao teu colo, onde adormeço. Não desejo aqui ficar, Vem me buscar, por favor, O mar, o seu ondular, Traz a saudade… e a dor!

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Ei-la perdida no seu mundo sem sentido, tão diferente do que vivera antes. Num momento, enquanto com o pensamento na mãe, parecia por momentos voltar a sentir o conforto da sua humilde casinha, agora no fundo do mar. Num momento, tudo desapareceu, qual nuvem que passa. Olhava o mar, o seu ondular, e recordava os momentos que vivera até aparecer a flutuar nas águas frias da praia de Sinerama. - Carolina, Carolina!... – ouvia chamar ao longe de forma tão ténue, cada vez menos audível. Eram os gritos da mãe, da Avó Lita. 16


- Mãezinha – respondia – sinto frio e fome. Não sei como regressar a casa. Sinto medo, vêm-me ajudar!

E continuava nos seus pensamentos, enquanto seguia pela areia. - Como posso regressar a casa? Sinto um enorme vazio a percorrer a minha mente. E se ficar aqui para sempre? – questionava-se.

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Carolina debatia-se então com um emaranhado de questões difíceis de entender, para a sua pouca idade. Era agora qual pequena Sereia que vivia ali, junto ao mar. Junto ao lugar onde vivia, havia um jardim de coral. Não tinha flores, como aquelas que via ali ao lado. Ali proliferavam exóticas algas e flores do mar multicoloridas. Era suave a fragrância das algas, quer de noite, quer de dia. Felino, o cavalo marinho, era amigo de todos os momentos. Acompanhava-a para onde quer que fosse, através dos caminhos do mar.

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- Meu bom cavalo marinho De redobrada atenção, Tu és ágil, espertinho, Sempre pronto para ação. Defendia a amiguinha Com sua própria vida E ao fim da tarde, à noitinha, Ela era agradecida. 19


Quando deitada na cama A descansar, a sonhar, De repente alguém a chama: Eram as ondas do mar! Ali ficava a olhar O areal à sua volta, Então, ficava a pensar Sentindo a sua revolta. O vento soprava forte. Ela tremia com frio E sozinha, à sua sorte, Sentiu um grande arrepio.

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As estrelas agrupavam-se no céu, entre nuvens, refletindo-se nas águas como se fossem pequenos vultos tremelicantes. Carolina, com os pés mergulhados nas águas, recordava ainda os conselhos maternais da mãe: - Presta atenção, minha Sereia pequena. Se algum dia, por percalço, tiveres que sair do mar, não te esqueças

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jamais que vais ter que manter teu corpo molhado, doutro modo, deixarás de ser Sereia e terás que viver para sempre na terra, entendes, filhinha? - Sim, mãe. - respondeu. E por isso, ela tentava manter ao menos os pés na água. Isso trazia-lhe conforto mas simultaneamente apreensão. Tudo o que lhe estava a acontecer era estranho. - Diz-me, mãe, o que vai ser de mim? Não sei como voltar para ti. Embrenhada nos seus pensamentos, viu a noite chegar. O areal transforma-se agora num ninho gigante onde proliferam mil gaivotas que, gradualmente, regressaram onde pernoitavam. Carolina abria os olhos e, encantada, exclamava em surdina: - Quanta beleza existe neste areal! Como é bom poder contemplar este tão belo cenário! Uma das gaivotas cruzava o olhar com a menina, fazendo-a suspirar com um misto de alegria mas também de dor. Aquele olhar tão preciso trazia-lhe à memória o olhar enternecido da mãe, quando pela noitinha, quando ela se atrasava, lhe dizia:

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- Carolina, já é tarde, Vem p’ra casa, por favor, Vem já, sem causar alarde, E cuida-te, meu amor. E obediente, ela Não tardava em regressar E então ia à janela Para estrelas contemplar. 23


Mãezinha tinha razão, A noite logo chegava, Quando vinha a escuridão, Mais temerosa ficava Logo que a porta fechava, Via o escuro surgir, O rosto da mãe beijava E dizia-lhe a sorrir: - Tens razão, minha mãezinha, É bom regressar ao lar, Vamos lá para a caminha Logo a seguir ao jantar.

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No meio das suas cogitações, quando estava prestes a fechar os olhos, ouviu uma voz próximo de si. - Olá, pequena, o que fazes por aqui, sulcando o areal? As noites são frias neste lugar. Junta-te a nós, encostados, sempre nos aquecemos mais e não corres o risco de adoecer com frio. Se aqui ficas, corres o risco de colheres alguma gripe. Ao que ela retorquiu: - Ena, pareces uma gralha a falar! Uma questão de cada vez, se fazes o favor. Falaste tanto que nem sei por onde 25


começar. Primeiro: eu sou a Carolina a pequena Sereia que vagueia perdida nesta praia deserta. - Sereia? Tu és uma Sereia? Como pode ser se as Sereias não existem? Ou será que existem? Se existem ou não, não sei, mas para já, conseguiste baralhar-me os neurónios! - É essa a razão porque devo manter os pés mergulhados na água do mar e aqui, perto da rebentação das ondas, é uma delícia. - Tu lá sabes o que fazer, mas, pelo sim ou pelo não, vou chamar as minhas amigas gaivotas que sempre te farão alguma companhia! Elas não se importarão de se juntar a ti. É sempre uma forma de te manteres mais quente. Depois, quando amanhecer, logo veremos as providências a tomar. E posto isto, vamos ao que interessa. Se és uma Sereia, porque não entras no mar e regressas a casa?

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- Não posso, fui arrastada para aqui e este não é o meu mar, o mar que eu conheço. - Homessa! O Mar não é todo o mesmo? Eu por onde viajo, vejo sempre o mesmo mar interminável, sempre ligado a si mesmo. Como podes dizer que não é o teu mar? Já alguma vez tinhas saído desse mar? - Não, sempre fui obediente. Mas uma tempestade arrastou-me para aqui e ando perdida.

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- Está bem, não te apoquentes. De manhã bem cedo, quando começar a faina dos pescadores, havemos de encontrar um modo de te levar de novo para o alto mar e logo encontrarás o caminho de regresso a casa. Correspondendo ao pedido, as gaivotas foram-se acumulando ao redor da pequena Sereia que se sentia agora bem mais confortada, sempre com cuidado de manter os pés molhados no quebrar das ondas. Logo, Carolina fechou os olhos e começou a sonhar. Foi então que ouviu uma voz que a chamava com doçura:

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- Vem aqui, minha filhinha, Ouve o que te vou dizer. - Fala, sim, minha mãezinha, Diz-me o que devo fazer. - Quando o dia amanhecer E antes do sol despontar Irás ter com o Finder, Que vai poder te ajudar. As gaivotas são amigas, Mantem-te bem junto a elas, Cuidado com as formigas, E não fiques junto delas. Cuidado p’ra não cair, Fica atenta, ao caminhar, Eu sei que vais conseguir De novo a casa voltar. Tem cuidado, princesinha, Não te podes magoar, Qualquer pequena feridinha É difícil de curar.

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Após o seu sonho, Carolina adormeceu serena. Estava muito cansada, há mais de vinte e quatro horas que se perdera. Agora, na companhia das gaivotas, sentia-se melhor. Pela calada da noite, a dado momento, ouviu o ladrar dos cães que, cada vez mais ruidosamente, se aproximaram do bando de gaivotas, causando grande perigo. Apesar do susto, permaneciam juntas em terra para proteção da pequenina Sereia. Famintos, a matilha procurava encontrar alimento, não muito abundante naquelas paragens, muito menos, ao longo daquela praia deserta.

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Algumas gaivotas seriam um bom recurso para satisfazer as ânsias de alimento, os quais já se espumavam de desejo ao vê-las.

O Farol da Praia lançava sobre o mar o seu raio de luz, iluminando a praia e cegando a matilha faminta. As indefesas gaivotas aproveitaram esses instantes para levantar voo, deixando-os frustrados a olhar para o ar. No seu voo, levaram Carolina, com esforços redobrados e 31


seguiram em busca do barco que certamente já andaria na sua faina. Sabiam que a pequena Sereia corria risco de vida. Mas foi numa pequena embarcação, ainda ancorada numa doca a uns metros dali que conseguiram refúgio e a puseram a salvo. Com gratidão, Carolina lançou-lhes um meigo olhar e pediu-lhes que encontrassem Finder, o pescador:

- Busquem um homem, Finder, Só ele pode ajudar, De manhã, se Deus quiser, Saberei como voltar. 32


Minha mãe me informou Do que teria a fazer, Num sonho me revelou O que ia acontecer. Assim, logo que o encontrar, Para casa posso ir, Ele vai colaborar, Sei que hei de conseguir.

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- Ajudem-me por favor, encontrem Finder e ele saberá o que fazer para me salvar. - Finder? Vamos encontra-lo, sim. É um velho amigo que tantas vezes já nos alimentou, quando a pesca era mais escassa e o alimento não abundava pela praia. Meninas, vamos ao trabalho, vamos levá-la até junto de Finder. E lá se lançaram nesse voo singular, levando consigo a pequena Sereia, em direção à embarcação do amigo. Juanita, outra gaivota, guardava a proa do barco de Finder e quando se apercebeu do bando de gaivotas que para ali se dirigia, logo levantou voo e foi até junto ao dormitório de Finder, sussurrando-lhe ao ouvido:

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- Finder, ouve, por favor, Algo se passa no céu, Há gaivotas ao redor, Não sei o que aconteceu! - O que se passa, afinal? Bem, vou averiguar, É cedo, não é normal As gaivotas no lugar. 35


- São um bando, Juanita, Que terá acontecido? É uma coisa esquisita Que não faz nenhum sentido. Mas quando viu a menina, O pescador entendeu. - Está cansada, coitadinha, Que seria que lhe deu? Podem voltar, mas cuidado, Os cães andam por aí, Boa noite e obrigado, Ela fica bem aqui!

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E logo as gaivotas se lançaram no seu voo em direção à praia. Ali, como antes, recostaram-se umas às outras, vigilantes. Mas agora os cães pareciam ter desaparecido. Teriam partido para outro lugar, à procura de alimento. Pobres animais. O tempo era de míngua de alimento, havia que lutar pela sobrevivência.

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Entrementes, lá no barco, Carolina dormia ainda o sono dos justos, sem receios, descontraída, no seu sono de criança. Agora, sentia-se segura, estava no barco do pescador Finder, sabia que ele a levaria de regresso a casa sã e salva. Finder olhava-a com carinho, desabafando: - Santo Deus, como é parecida com Carlota! Como estará ela agora? Já lá vão tantos anos! Carlota, a sua querida Carlota, Santo Deus como ele tinha amado a sua Sereia. Um turbilhão de pensamentos acercou-se de si.

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- Ó minha Sereia linda, Um sonho que nos fugiu… Contigo estaria ainda, A vida não nos sorriu. Não sei o porquê, é certo, Grande amor por ti senti, Eis-me assim boquiaberto Com sua filhinha aqui. 39


A história se repetia E de si se aproximava, Uma família, diria, Que assim se viu afastada. Tinha que a devolver Á sua Sereia amada No primeiro alvorecer Desta linda madrugada.

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Cercado por este turbilhão de pensamentos, Finder esforçava-se agora para que Carolina mantivesse os pés dentro de água. Sabia que essa seria a condição para que se mantivesse viva. Quando despontavam os primeiros raios de sol, Carolina acordou feliz e fixou o seu olhar em Finder, que não parava de a olhar com um sorriso. E este logo a convidou: - Vamos ao pequeno almoço, pequenita? - Mas, nem estás curioso por saber quem eu sou e porque estou aqui? - Sei bem quem tu és, princesa, e os motivos porque aqui te encontras. Vamos ao nosso pequeno almoço, deves estar cheia de fome. Mais tarde, conto-te tudo o que sei ou penso saber de ti… Melhor, vou começar: Anos atrás, aconteceu o mesmo com a tua mãe Carlota. Eu era então uma criança. Estava a brincar na praia, junto ao mar, quando vi uma menina a aparecer do nada, de lá do mar. Quando a vi, fiquei muito assustado, mas nos momentos que se seguiram, senti-me fascinado ao ver a tua mãe.

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Era uma bela Sereia que surgiu frente aos meus olhos. Encarou-me com aqueles olhos enormes, cor de azeitona, e pediu-me: “Estou em perigo, vem-me ajudar”. Fiquei boquiaberto, era ainda uma criança e nunca tinha visto uma Sereia. Nem queria acreditar! Especulava-se entre dentes junto dos pescadores sobre a sua existência e o seu encantamento. Para mim, foi uma surpresa enorme. Tornei-me amigo chegado da tua mãe, até ao dia em que a vi crescer e deixou de me visitar na praia de Toulé. É para lá que te vou levar, sei que encontrarei 42


aquela rocha perfurada no mar aonde terei que te levar. Ali, pela certa, encontrarás de novo a tua mãe. Já lá deve estar à tua espera, ela contar-te-á a parte restante desta história, o modo como vieste aqui parar. Surpreendida com tudo o que estava a acontecer, Carolina foi comendo um pouco de peixe e algumas algas marinhas, preparando-se logo após para a sua viagem.

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- Pronta estou, podemos ir, A casa quero voltar. Era feliz seu sorrir, Voltar ao lar. Doce lar. Vou ver a minha avozinha E também meu irmãozinho Abraçar minha mãezinha Com muito amor e carinho. Quero saber a razão Porque vim aqui parar, Pulsava o seu coração, Havia que regressar.

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Depressa chegaram ao lugar daquela rocha para si sagrada. Carlota ali estava à sua espera. Como desejava abraçar a sua filha e contar-lhe como tudo aconteceu! Quando ali chegou, ao ver a mãe, Carolina, a pequenina Sereia lançou-se às águas e nadou até ao seu encontro, enlaçando-a no mais enternecido abraço. Carlota sorriu para Finder, o amigo de longa data e abraçou-o com carinho, segredando-lhe a ouvido: 45


Jamais me sairás do pensamento, meu amor, meu impossível amor!

Estendeu a mão para a filha e desapareceu nas imensas águas azuis daquele oceano sem fim. Finder, com lágrimas no olhar e a voz embragada de emoção, murmurou: - Até à eternidade, minha vida. Nunca te esquecerei. Já em seu lar, sentou-se ao lado da filha e começou:

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Sabes, querida, o que aconteceu foi tão somente uma premonição na nossa família, há muitas gerações que se repete… - Porquê, mãezinha? - Ouve e escuta com atenção…

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