Título: "Mariana no País do Trevo Dourado" conto de Rosa Maria Santos, Maio 2021

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Mariana no País do Trevo Dourado

Conto

Rosa Maria Santos 2


Ficha Técnica

Título Mariana no País do Trevo Dourado Tema Conto Autora Rosa Maria Santos. Capa Arranjo de José Sepúlveda Ilustrações Rosa Maria Santos Revisão de textos e Formatação José Sepúlveda Publicado por Rosa Jasmim Edições

Editado em E-book em Maio 2021 https://issuu.com/rosammrs/docs 3


Rosa Maria Santos Naturalidade – S. Martinho de Dume, Braga. Muito pequena, foi viver para a freguesia de Maximinos. A base do seu equilíbrio emocional está no seio familiar. É na família que encontra a alegria de viver. Viveu na Costa Litoral Alentejana, em Sines, trinta e um anos, tendo regressado em 2017, à cidade que a viu nascer, Braga. Participou em diversas coletâneas de Poesia, portuguesas, italianas e brasileiras. É Colunista no site Divulga Escritor, possuindo também uma rubrica na Revista com o mesmo nome. Foi assistente de produção e recolha na coletânea de postais do grupo Solar de Poetas, Poeta Sou…Viva a Poesia; participou nas coletâneas de poemas e postais de Natal do mesmo grupo: Era uma vez… um Menino; Nasceu, É Natal; Não Havia Lugar para Ele; Vale do Varosa: Uma Tela, um Poema, do Solar de Poetas, para promoção do Evento: Tarouca Vale a Pena; Belém Efrata; Então, Será Natal; Vi Uma Estrela, todas editadas em e-Book; O Presépio de Marco – inspirado nas imagens do presépio de Natal 2019, elaborado por Marco Penna e seus familiares; Quando o Menino Chegar – Coletânea de Poesia de Natal de 2020. 4


É Administradora dos grupos: Solar de Poetas, onde coordena também a equipa de Comentadores; Solarte – a Arte no Solar; SoLar-Si-Dó - A Música no Solar; Canal de Divulgação do Solar, Casa do Poeta; SolarTV Online; Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa; Hora do Conto e O Melhor do Mundo, todos do grupo Solar de Poetas. A escrita é uma das suas paixões… Não se considera escritora nem poetisa, mas uma alma poética a vaguear pelo mundo... Se um dia deixar de sonhar, diz, deixa de existir. Livros editados: Rosa Jasmim (poesia), Capa do Mestre Adelino Ângelo – Julho 2018.

E-Books - Poesia Cantam os Anjos (poesia de Natal) – Capa de Adias Machado – Natal 2017; - Ucanha terra de encanto Poesia) - Capa: Glória Costa – Maio 2018; - Sinos de Natal, Natal de 2018; - Glosa, Arte e Poesia, Pinturas de Glória Costa, poesia da autora, Agosto 2019; - Entre Barros, Arte e Poesia Bordadas à Mão – pinturas de Bárbara Santos, poesia da autora, Outubro 2019; - Maviosa poesia, a arte de rialantero" Pintura de Silvana Violante; poesia da autora; Em Palhas Deitado – Poesia de Natal, Dezembro 2020.

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E-Books - Contos Pétalas de Azul (contos) – Fevereiro 2019; - Estórias em Tons de Rosa (contos) Abril 2019; - Pena Rosada, Crónicas do Quotidiano, Julho 2019; - 12 Contos de Natal, capa de Madalena Macedo - imagens com arranjos da autora, Natal 2019; - O Veado Solitário, na Aldeia do Chefe Lyn - Edição bilingue (português/italiano), Janeiro 2020; - Esperança no País do Arco Íris – Edição bilingue (português/italiano), Abril 2020; - O Menino da Lagoa - Edição bilingue (português/inglês), Abril 2020; - A Menina Raposa, capa de Ana Cristina Dias; - Rufo, o Cãozinho desaparecido – Edição bilingue (português/espanhol), Abril 2020; - Ana Rita e o fascínio dos ovos – Maio 2020; - Milú, o Chapeuzinho que gostava de cirandar, Maio 2020; - Contos ao Luar, Maio de 2020; - Patusca, no Reino Misterioso - Edição bilingue (português/italiano), Maio 2020;- O bolo na casa da Avó Doroteia, Junho 2020; - Sonega, o Coelho Mandrião, Julho 2020; - Rosalina e a Sombra Rebelde, Julho 2020; - O Jardim em Festa, Julho 2020; - Ritinha, salva a Sereia Serena, Julho 2020; - Ana Clara, em tempos de pandemia, Novembro 2020; - Josefina, a menina que veio do mar, Novembro 2020; - Luizinho, protetor do ambiente, Novembro 2020; - A Girafa Alongadinha e a Pulga Salomé, Novembro 2020; O Dia de Natal, Dezembro de 2020; O Natal de Afonso; Dezembro de 2020; Um Milagre na Ilha Paraíso, Dezembro de 2020; Ventos de Mudança, Dezembro de 2020; Gisela e a Prenda de Reis, Janeiro de 2021; Dany, o 6


Menino que queria sorrir – Janeiro 2021; Marquito, o menino irrequieto – Janeiro 2021; Joaninha, a menina que vendia balões – Janeiro 2021; Vicentina, uma avó aventureira – Fevereiro 2021; Juliana e os sapatinhos encarnados – Fevereiro 2021; Tomás, o Pinguim Desastrado – Fevereiro 2021; Silas e o Triunfo do Amor – Fevereiro 2021, Bogalha, a macaquinha irreverente – Março 2021; Janota, a guardiã do ervilhal – Março 2021, Zâmbia, a macaquinha que queria casar – Março 2021; Tuly e o cavalinho de baloiço – Março de 2021, Maria, a menina que não conseguia dormir – Abril 2021; A Lenda da Menina Lua – Abril 2021; Estrela Silente, a Princesa cativa – Abril 2021, Marly, a pequenina duende – Abril 2021; Mariana no País do trevo Dourado – Maio 2021..

Histórias da Bolachinha Bolachinha em Tarouca (prosa e poesia) - Capa: Glória Costa - Maio 2018; - Bolachinha vai à Hora de Poesia - Edição bilingue (português/ francês), Outubro 2018; - Bolachinha vai à Casa Museu Mestre Adelino Ângelo - Novembro 2018; - O Natal de Bolachinha, Natal 2018 Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de Teresa Subtil - Edição bilingue (português/Mirandês), Fevereiro 2020; - Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de José Sepúlveda - Edição bilingue (português/francês), Julho 2020.

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Aventuras de Maria Laura Maria Laura, a Menina da Página dezasseis, Agosto 2020; - Aventura no Castelo sem nome, Agosto 2020.

Distinções 2º Prémio de Poeti Internazionali. Poema Rosa de Saron, no Concorso Artemozioni, Cantico dei Cantici In Valle d’Itria, Itália; Maio 2017. 3º Prémio de Poeti Internazional - Itália. Com o poema “Violino”; 5° Biennale del Festival Internazionale Delle Emozioni, Itália - Maio 2019. 10° Edizione Del Concorso Di Poesia e Narrativa: Prémio d’Onore Concurso de Premio Letterario Internazionale di Poesia “Gocce di Memoria“, Itália, Junho 2019 con la poesia Sfera di cristallo (Bola de Cristal). Concorso “Il Meleto di Guido Gozzano” Sezione Autori di lingua straniera - ATTESTATO DI MERITO, 14 settembre 2019 com la poesia Assenza (Ausência). Itália, agosto de 2019. Jogos Florais Vale do Varosa 2019 – Concurso Literário Tarouca - “O rio, o vale e as gentes”: Menção Honrosa, categoria de Poema. Concorso di Poesia Internazionale " Gocce di Memoria" VI edizione 2020. Menzione d'onore con la poesie “Il mio quadro” – (Meu quadro). Itália julho 2020. Segunda Classificada no Prémio Poeti Internazionali 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesia8


videopoesia e racconti dal titolo: Poesia Esteri “Ouve” (Ascolta) dezembro 2020. Menzione di Merito de poeti Internazionali 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesia-videopoesia e racconti dal titolo: Racconti “Esmeralda” dezembro 2020. Ebook: https://issuu.com/rosammrs/docs

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Mariana no País do Trevo Dourado

O avô Jeremias possuía uma grande propriedade na periferia da capital, lugar aonde cultivava uma variedade grande de flores nas suas estufas, além de outras culturas que possuía ao ar livre. Num espaço generoso da propriedade, a esposa dedicava uma parte do seu tempo à cultura de trevo de quatro folhas. A avó Florinda, a esposa do avô Jeremias, apesar da sua meia idade, era ainda uma senhora muito bela, a quem o avô adorava acima de todas as coisas. A avó Florinda era uma pessoa amável, carinhosa e muito afetuosa com o seu marido. Viviam sozinhos 10


naquele grande casarão que a avó Florinda herdara dos pais, depois da sua morte. Ali criaram os seus dois filhos, Manuela e Tiago, a quem providenciaram estudos superiores na universidade da capital. Estes acabaram por casar por ali, aonde passaram a exercer as suas atividades profissionais e formaram família. Lá na quinta, os pais esperavam agora ansiosos a chegada do fim de semana para poderem disfrutar da companhia dos filhos e da sua prole, cinco netos - Josué, Mariana, Salomé, Juliana e o pequeno André.

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Com as férias a chegar, Pertences arrumadinhos Veem o tempo a passar, Só faltam os pequeninos. São mais dois dias somente E à espera dos netinhos, Florinda andava contente E dizia aos seus trevinhos: - Já tenho tanta saudade Da Mariana, da Salomé, Vivem longe na cidade… Deve estar grande o André. - Josué, e Juliana Sempre em loucas correrias Vão saltar cedo da cama Entre alegres cantorias. Gostam de vós, como eu, Meus trevos multicolores, Sois um presente do céu Na ausência dos meus amores. A avozinha os tratava Com muita alegria, amor, E aquele prado lhe dava A sua frescura e cor. 12


Naquela madrugada, a avó Florinda acordou sobressaltada, quando ouviu o toque da alvorada. Era Mister Fink, o velho galo, que desatinado, cantava sem parar, o que estranhamento não era o seu hábito. A avó Florinda olhou o relógio da mesinha de cabeceira e ficou espantada. Que raio lhe tinha dado, qual a razão de tanta cantoria? Ainda não eram sequer cinco horas da manhã. - Não entendo nada - cogitou com os seus botões – o maluco do galo deve andar desorientado com alguma franga. Velho tonto, pobre Mister Fink. 13


Levantou-se em silêncio, para não acordar o avô Jeremias que ali dormia o sono dos justos. Espreitou pela janela. Lá bem alto, a lua sorria e parecia cumprimentar: - Bom dia, avó Florinda! São saudades dos pequenos? Não estejas inquieta, não tarda nada e estão aqui na vossa companhia. É verão, que belas férias os esperam aqui na Herdade de Trevolândia.

- Avó Florinda, então? Saudades dos pequeninos? Sossega o teu coração, Em breve tens os netinhos! 14


Não tardam, estão por cá. Mister Fink, endoideceu, Cantou cedo esta manhã, O que será que lhe deu? É cedo, vai-te deitar, Todos estão a dormir. - Só quando o sol repousar Me deito - disse a sorrir. Logo, a Lua bocejou Bem lá do alto do céu. E ela ao galo perguntou: - Que raio te aconteceu?

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Ao vê-la, Mister Fink, todo engalanado, ergueu a crista e cantou ainda mais forte. Lá no canto, Lassy, a linda cadela, saiu da sua confortável casota e ladrou, como se a responder a Mister Fink. Schiu! – gritou a avó lá da janela - Mas que raio de chinfrineira vem a ser esta, Mister Fink? E tu, Lassy, vão dormir que o vosso mal é sono! Ainda não está na hora de despertar! Calem-se e deixem-nos descansar.

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- Mas que maluqueira é esta Pergunta a avó Florinda Deixem-nos dormir, homessa, Não está na hora ainda! A Lassy, ladrou au, au E a lua bocejou Gitas, o peru, fez gru E o galo se calou. A lua foi-se, baixinho, Ao ver o sol despontar, Lassy seguiu-lhe caminho, De novo foi descansar. 17


A avó fechou a janela Sem deixar de contemplar O brilho de cada estrela Lá no alto a cintilar. E logo que se deitou A avó adormeceu. Mais tarde, o galo cantou Logo que o sol apareceu.

- Có có ró có có - cantava Mister Fink empoleirado lá no capoeiro, como que a saudar o sol e anunciando 18


mais um dia a todos os seres vivos da Herdade da Trevolândia. Ao ouvi-lo, a avó Florinda e o avô Jeremias logo se levantaram para um novo dia na lide do campo. - Trimmmm, trimmmm, trimmm. Olhando para Jeremias, Florinda interrogou: - A campainha tão cedo? Quem será? Vou lá ver. Acaba de te arranjar com calma que eu desço e vejo quem tocou. Quando abre a porta, logo os seus netos lhe caem em cima enchendo-a de abraços. - Surpresaaaa! - responderam em uníssono – Chegamos, avozinha! Florinda mal podia acreditar, os seus queridos netinhos acabavam de chegar. E com lágrimas de alegria, disse:

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- Não posso acreditar, belisquem-me por favor! Deve ser um sonho, um sonho de que não quero despertar. Josué, o neto mais velho, deu-lhe um ligeiro beliscão. - Ai – disse – despertas, sim, minha avozinha! - Que bom que chegaram! - disse o avô Jeremias enquanto descia a escadaria. Ainda mal tinha acabado de falar e já Mariana e Salomé corriam ao seu encontro, abraçando-o com tal energia que quase o fizeram desequilibrar e cair das escadas. - Saudades dos meus queridos netinhos! O que foi que aconteceu? Só vos aguardávamos para o fim de semana! 20


- Avó Florinda, as aulas acabaram e já não estávamos lá a fazer nada. Queríamos vir depressa. Assim, passamos mais dias aqui na Herdade da Trevolândia.

- Não vejo o André, aonde está ele? - Não tarda e já aí vem com os pais. Ainda é miúdo e não consegue sair sozinho da cadeirinha do carro. - Olhem, lá vem o Andrezinho ao colo do pai - acrescentou Mariana não conseguindo disfarçar um sorriso - Nem imaginas, avó, ele está demais. Mexe em tudo e é teimoso que chegue. - Pois sim, minha periquita, já não te lembras quando tinhas a sua idade. Quatro aninhos são assim mesmo! 21


- Uaauuu, avó, há muito tempo que não me chamavas periquita! Na verdade, os anos vão passando, tenho agora nove anos. - Pois é, alteza, como os anos passam. Aos tropeços, o pequeno André lá veio a correr para se agarrar às saias da avó. - Que abracinho mais doce o teu, meu pequenino! Bem, vamos entrar, vou preparar para vós um pequeno almoço de príncipes.

- Avozinha, temos fome, O que nos vais preparar? - A Lassy ainda dorme? Vamos lá p’ra a despertar? 22


- Lassy, Lassy, põe-te a pé, Vem connosco, vem brincar! Logo o pequeno André Se aproximou p’ra a montar. E com um ar espantado Lassy fica a bocejar E enquanto o olha de lado Lambidelas lhe vai dar.

No fim do pequeno almoço, foram com a avó Florinda ver a plantação de trevos. Com os olhos arregalados, 23


Mariana avista um pequeno roedor no meio dos trevos, a comer satisfeito. Logo, corre em direção à avó Florinda e grita: - Avó, vem comigo, está ali um ratinho a comer os teus trevos! - O quê, a comer os trevos? Aonde, Marianinha. E lá vão as duas à procura do indesejado ratinho a comer os seus trevos. - Aonde está, Mariana, aonde está esse roedor duma figa? - Ali, avó Florinda, não o consegues ver?

- Aonde, Marianinha? Não o consigo enxergar. 24


- Nem eu, avó, já não está aqui, deve ter fugido para outro lugar! - Não é que o malvado rato roeu os meus belos trevos verdes? Cuida-te, meu ratinho que não me vais escapar. Vou preparar-te a cama, tem a certeza. Não vais ficar por aí a dar cabo da minha plantação, isso não. - Pois não – acresceu Josué que no entretanto chegara até junto da avó e da irmã. – Bem, meninos, vamos ver as estufas de flores do avô Jeremias, Já lá estão os vossos paizinhos e o pequeno André. - Avó, deixa-nos ficar um pouquinho mais aqui a apreciar os teus belos trevos dourados, nunca tínhamos visto outros assim. - Sim, avó, deixa-nos ficar só mais um pouco – reforçou Salomé. - Está bem, vou fazer-vos a vontade, mas só um pouquinho, depois, temos que ir ao seu encontro.

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- Obrigada, avozinha, és a avó mais carinhosa do mundo. - Sim, sim, vocês sabem bem como me levar na conversa – sorriu – Depois, como posso eu dizer que não aos meus queridos netinhos! Mas atenção, se avistarem por aí esse ratinho tramado, avisem-me, ele não pode ficar à solta a danificar os meus trevos. - Um rato aqui nos trevos, avó Florinda? Como pode ser? - perguntou Salomé. - Viste um rato, avó Florinda? - repetiu Juliana, meio assustada - Ai que horrível! - Eu não, não vi rato algum, mas a Mariana viu um aqui entre os trevos. - Pois vi, até que era um ratinho diferente! 26


- Vamos à procura dele avó Florinda! – disseram os netos. - Procurem, sim, se o encontrarem, chamem por mim. Entretanto, vou alertar o vosso avô Jeremias. Ele vai encontrar um meio de o fazer desaparecer deste lugar, não podemos consentir que estrague o que com tanto carinho aqui cuidamos, os nossos trevos multicolores da sorte.

- Sim, iremos encontrar Esse malvado ratinho E bem depressa alertar A avozinha e o avozinho! 27


- Isso, queridas netinhas, Ninguém os deve comer, Vamos a ele, meninas, Acaba por aparecer. - Mariana, aonde o viste? Pergunta o mano Josué. E a Juliana insiste, Eu vou com a Salomé .

Dividiram-se em três grupos. Juliana e Salomé foram procurar o rato nos trevos encarnados, Mariana foi procurar nos trevos verdes e Josué foi procurar nos trevos dourados, quando de repente se ouve a voz de Mariana: 28


- Encontrei-o, venham-me ajudar a apanhá-lo. Juliana, Salomé e Josué logo desataram numa correria em direção à voz da Mariana. Entretanto, Mariana estava quase, quase a deitar a mão ao ratinho, quando este a fixou nos olhos e disparou: - Que desplante, fedelha? Já não se respeitam os mais velhos? Os teus paizinhos não te educaram a seres simpática e afetuosa para com os outros seres?

- Olha-me este! Quem és tu para me falares assim? Não vês que não és ninguém? Não passas dum fútil roedor que resolveu por sua iniciativa dar cabo dos canteiros de trevos que a nossa avó Florinda trata com tanto zelo. 29


- Francamente! As crianças de hoje são mesmo insensíveis, pensam que tudo sabem, tudo podem, mas espremida toda essa sapiência, nada resta. Eu sou na verdade um pequenino roedor mas, como vós, também tenho os meus direitos. os direitos que me foram outorgados pela mãe natureza. - Direitos, que direito tens tu de estares a comer os trevos da minha avó Florinda? Além disso, como podes tu ousar falar comigo? Os ratos não falam, nem hoje nem nunca! - Os direitos que me foram outorgados pela mãe natureza. Deviam não me perseguir, mas proteger-me.

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- Ajudem-me, meus meninos E não serei indulgente. - Pensas tu que estes trevinhos São teus e de toda a gente? Os trevos são da avozinha Que os trata muito bem E tu, minha pestezinha, Pensas serem teus também! São tratados com carinho Pela mão da nossa avó, Há que ter mais respeitinho E não, fazê-los em pó.

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Falo-te assim porque o mereces, Penso que és sensato E se não desapareces Ainda deixas de ser rato! Decide como quiseres, Quero-te longe daqui! E se assim não fizeres, Meu avô vai vir aqui. - Que menina petulante Qual dona do meu espaço! - Sai-me daqui num instante Ou nem sei o que te faço. - O sitio é meu por direito, Daqui não devo sair E tratem-me com respeito Ou vão ver o que há de vir.

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E num instante, fez-se sumir por entre o prado. - Desapareceu! – exclamou Mariana - Como pode ter desaparecido debaixo dos meus olhos? Vamos, meninos, vamos procura-lo por entre os canteiros. E nessa busca desenfreada, encontraram uma portinhola meio carcomida pelo tempo. Mariana bem que a empurrou, mas em vão, por mais força que fizesse, não a conseguiu abrir. - Salomé, Juliana, Josué, ajudem-me a abrir esta malfadada porta! Vamos contar até três e empurramos todos ao mesmo tempo, combinado? Pois bem: um… dois… três… 33


Como a união faz a força, todos juntos conseguiram abrir a ferrugenta portinhola e logo entraram num lugar mágico, em tudo diferente de tudo o que já tinham visto. Nem queriam acreditar no que estavam a observar os seus olhos de criança!

À sua frente viam um manancial de trevos verdes, viçosos, quase que um prolongamento do extenso terreno de trevos da avó Florinda, mas este muito maior. Eram trevos que se estendiam até onde a sua visão conseguia alcançar. Com todos os cuidados, entraram de mansinho, na tentativa de encontrar o pequeno ratinho, mas por mais que procurassem, nada lhes dizia 34


que ele estaria por ali. Olharam para cima e viam árvores de trevos - Foi então que Salomé se virou para Mariana e perguntou: - Já algum dia tinhas visto árvores de trevos? - Não, nunca ouvi falar nesse tipo de árvores, para mim, são completamente desconhecidas. - Pois, mas são tão lindas! Já viste? Parece um sonho estarmos aqui neste lugar aonde abundam espécies de tão rara beleza.

- Bem-vindas, crianças, parecem perdidas! Como conseguiram entrar no Paraíso dos Trevos? Meu nome é 35


Treviato, o guardião do Reino do Trevo Verde. Não é habitual recebermos visitas por aqui, muito menos, crianças tão simpáticas e educadas. Querem dizer-me quem sois? - Eu sou a Mariana, este é o meu irmão Josué. A Juliana e a Salomé, são nossas primas. - Pois é com muita alegria que vos recebemos na nossa companhia! Mas, digam-me, o que fazem por aqui? Perderam-se? - Perdidos? Não, não estamos perdidos! Viemos atrás dum pequeno ratinho que andava a causar estragos nos canteiros de trevos da nossa avó Florinda. - Um ratinho? Que ratinho? Será que sabem o seu nome? - Não, nada sabemos dele. É um rato branco que tem a mania que é dono do espaço de trevos da nossa avó. Tentei dialogar com ele. É muito petulante e pensa ser o dono do mundo. Francamente, não simpatizei nada com ele.

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- Deve ser o Timo! Pela descrição que estás a fazer só pode ser mesmo ele. - Há mais ratos aqui no teu espaço? - perguntou Salomé, curiosa. - Há sim, há muitos ratinhos aqui no nosso paraíso, tais como coelhos, lebres, pequenos roedores. Aqui há comida em abundância. Depois, eles são necessários para revigorar as nossas folhas, eles vão comendo os trevos que já estão no final de ciclo e os novos trevos brotam mais viçosos e suculentos. Diz-me, Treviato, como podemos encontra-lo? Precisamos de conhecer a razão porque, vivendo ele num 37


lugar onde abunda o alimento, se dedica a destruir os canteiros da nossa avó? - Há já alguns dias que não o vejo, mas podem ir ao Reino do Trevo Dourado, quem sabe se ele não gostará de ir até lá para tentar namorar Deia, uma linda ratinha acastanhada. - Como podemos ir a esse Reino Dourado, Treviato? - É muito fácil, cortem um trevo cada um, ergam-no o mais alto que puderem e digam a uma só voz:

Com todo o poder do trevo Voarei em Liberdade E no espaço me atrevo A ver a realidade. 38


Seja de noite ou de dia, O infinito cruzarei, O sol há de ser guia, Co’a Estrela do Sul irei. De noite afoito é o vento Que nos traz a igualdade E no nosso pensamento Não pode existir maldade. E lá, no Trevo Dourado, Estará Timo, o ratinho, Dessa Deia namorado, A traçar o seu destino!

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- Façam o que vos disse. Mas não se esqueçam da cantilena, é necessário que a repitam até que cheguem ao Reino do Trevo Dourado. - Não nos esqueceremos, nosso amigo Treviato. Ficarte-emos reconhecidos por todo o teu carinho e amizade. Até um dia! E logo as quatro crianças se agarraram aos trevos das quatro folhas verdes e levantaram voo, entoando repetidamente aquela cantilena. Depressa alcançaram o Reino do Trevo Dourado. Foi então que, ao pousarem, ouviram um ronc ronc ronc. Mariana aguçou o seu olhar e logo avistou o ratinho Timo. Quando este se 40


apercebeu, levantou-se de um salto e disse com ironia: - Olha-me estes! O que fazem aqui? Pensam que este paraíso também é pertença da vossa avó? Vão-se embora daqui e deixem-me em paz.

Logo, Josué tomou o comando e disse: - Amigo Timo, desculpa a Mariana. Ela adora os trevos da nossa avó e não gosta de quem os maltrate. - Pois é, mas o que vocês não sabem é que nós, os roedores, somos quem controlamos doenças e pragas, que afetam as vossas culturas. Funcionamos assim como que regeneradores da natureza. É o que

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tento fazer quando me desloco à Herdade da Trevolândia. Nunca lá vou com outro objetivo que não seja ajudar. E se ali vou é também para respirar um ar diferente. É um belo lugar para regenerar o nosso organismo.

- Começo a entender, Timo, o Chefe Treviato já nos alertou antes para isso. Vão eliminando as folhas mais velhas e isso provoca o rebentamento de novas folhas, viçosas e suculentas. Se calhar, o melhor mesmo é verte ali uma vez por outra, sem te deixares ver pelos avós, eles não iriam gostar e possivelmente serias perseguido, quiçá, morto. 42


- Aceito o conselho. - Já agora, aqui fica o nosso convite. Vamos ficar por ali algum tempo, de férias. Se desejares, poderás visitar-nos e até levar contigo Deia, a tua ratinha. – e virando-se para os companheiros - Estão de acordo, meninos? - Claro que estamos – responderam – Ficaríamos muito felizes se aceitasses o convite.

- Diferentes mas iguais, Bons amigos hoje e sempre, Nunca é tarde demais Para entendê-lo. Prá frente!

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- Há diferenças, é verdade, Mas se houver compreensão, A nossa necessidade Se fará diapasão. Viva a nossa liberdade Conquistada neste dia E que traga na verdade Muita paz e harmonia. Vem connosco, bom amigo, Na nova realidade Não vais ser um inimigo Mas um brinde à amizade.

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Agora que acabavam de se tornar amigos, Mariana, o irmão Josué e as primas Juliana e Salomé, juntamente com Timo, olhavam para Douradil, o guardião do Reino do Trevo Dourado, que do alto duma frondosa árvore os saudava e lhes sorria feliz da vida. Ele era um paladino da paz e da união, lutava pelo bem comum entre homens e animais. E logo, Timo encaminhou os amigos à sua toca para lhes dar a conhecer a Deia, a sua tão querida namorada. Do cimo da Árvore Mágica do Reino do Trevo Dourado, Douradil olhava-os agora com mais admiração e respeito. Estava feliz pelo desfecho deste encontro inesquecível que iria marcar não apenas a sua vida, mas a de todos os intervenientes nesta aventura.

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- Dia pra comemorar Diz Douradil mui feliz Podemo-nos abraçar? Alegremente lhes diz: União, força, coragem, Gritemos em alta voz Porque a vida é uma passagem Sempre tão perto de nós. A amizade verdadeira Traz-nos leveza e amor Porque é a mensageira Que à vida acrescenta cor! 46


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