Título: Sericaya, a Ponte Misteriosa, conto de Rosa Maria Santos, agosto 2021

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Sericaya a Ponte Misteriosa

Conto

Rosa Maria Santos 2


Ficha Técnica

Título Sericaya, a Ponte Misteriosa Tema Conto Autora Rosa Maria Santos Capa Arranjo de José Sepúlveda Ilustrações Rosa Maria Santos Revisão de textos e Formatação José Sepúlveda Publicado por Rosa Jasmim Edições

Editado em E-book em Agosto 2021 https://issuu.com/rosammrs/docs 3


Rosa Maria Santos Naturalidade – S. Martinho de Dume, Braga. Muito pequena, foi viver para a freguesia de Maximinos. A base do seu equilíbrio emocional está no seio familiar. É na família que encontra a alegria de viver. Viveu na Costa Litoral Alentejana, em Sines, trinta e um anos, tendo regressado em 2017, à cidade que a viu nascer, Braga. Participou em diversas coletâneas de Poesia, portuguesas, italianas e brasileiras. É Colunista no site Divulga Escritor, possuindo também uma rubrica na Revista com o mesmo nome. Foi assistente de produção e recolha na coletânea de postais do grupo Solar de Poetas, Poeta Sou…Viva a Poesia; participou nas coletâneas de poemas e postais de Natal do mesmo grupo: Era uma vez… um Menino; Nasceu, É Natal; Não Havia Lugar para Ele; Vale do Varosa: Uma Tela, um Poema, do Solar de Poetas, para promoção do Evento: Tarouca Vale a Pena; Belém Efrata; Então, Será Natal; Vi Uma Estrela, todas editadas em e-Book; O Presépio de Marco – inspirado nas imagens do presépio de Natal 2019, elaborado por Marco Penna e seus familiares; Quando o Menino Chegar – Coletânea de Poesia de Natal de 2020. 4


É Administradora dos grupos: Solar de Poetas, onde coordena também a equipa de Comentadores; Solarte – a Arte no Solar; SoLar-Si-Dó - A Música no Solar; Canal de Divulgação do Solar, Casa do Poeta; SolarTV Online; Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa; Hora do Conto e O Melhor do Mundo, todos do grupo Solar de Poetas. A escrita é uma das suas paixões… Não se considera escritora nem poetisa, mas uma alma poética a vaguear pelo mundo... Se um dia deixar de sonhar, diz, deixa de existir. Livros editados: Rosa Jasmim (poesia), Capa do Mestre Adelino Ângelo – Julho 2018.

E-Books - Poesia Cantam os Anjos (poesia de Natal) – Capa de Adias Machado – Natal 2017; - Ucanha terra de encanto Poesia) - Capa: Glória Costa – Maio 2018; - Sinos de Natal, Natal de 2018; - Glosa, Arte e Poesia, Pinturas de Glória Costa, poesia da autora, Agosto 2019; - Entre Barros, Arte e Poesia Bordadas à Mão – pinturas de Bárbara Santos, poesia da autora, Outubro 2019; - Maviosa poesia, a arte de rialantero" Pintura de Silvana Violante; poesia da autora; Em Palhas Deitado – Poesia de Natal, Dezembro 2020.

E-Books - Contos Pétalas de Azul (contos) – Fevereiro 2019; - Estórias em Tons de Rosa (contos) Abril 2019; - Pena Rosada, Crónicas do Quotidiano, Julho 2019; - 12 Contos de Natal, 5


capa de Madalena Macedo - imagens com arranjos da autora, Natal 2019; - O Veado Solitário, na Aldeia do Chefe Lyn - Edição bilingue (português/italiano), Janeiro 2020; - Esperança no País do Arco Íris – Edição bilingue (português/italiano), Abril 2020; - O Menino da Lagoa Edição bilingue (português/inglês), Abril 2020; - A Menina Raposa, capa de Ana Cristina Dias; - Rufo, o Cãozinho desaparecido – Edição bilingue (português/espanhol), Abril 2020; - Ana Rita e o fascínio dos ovos – Maio 2020; - Milú, o Chapeuzinho que gostava de cirandar, Maio 2020; - Contos ao Luar, Maio de 2020; - Patusca, no Reino Misterioso - Edição bilingue (português/italiano), Maio 2020;- O bolo na casa da Avó Doroteia, Junho 2020; - Sonega, o Coelho Mandrião, Julho 2020; - Rosalina e a Sombra Rebelde, Julho 2020; - O Jardim em Festa, Julho 2020; - Ritinha, salva a Sereia Serena, Julho 2020; - Ana Clara, em tempos de pandemia, Novembro 2020; - Josefina, a menina que veio do mar, Novembro 2020; - Luizinho, protetor do ambiente, Novembro 2020; - A Girafa Alongadinha e a Pulga Salomé, Novembro 2020; O Dia de Natal, Dezembro de 2020; O Natal de Afonso; Dezembro de 2020; Um Milagre na Ilha Paraíso, Dezembro de 2020; Ventos de Mudança, Dezembro de 2020; Gisela e a Prenda de Reis, Janeiro de 2021; Dany, o Menino que queria sorrir – Janeiro 2021; Marquito, o menino irrequieto – Janeiro 2021; Joaninha, a menina que vendia balões – Janeiro 2021; Vicentina, uma avó aventureira – Fevereiro 2021; Juliana e os sapatinhos encarnados – Fevereiro 2021; Tomás, o Pinguim Desastrado – Fevereiro 2021; Silas e o Triunfo do Amor – Fevereiro 2021, Bogalha, a macaquinha irreverente – Março 2021; Janota, a 6


guardiã do ervilhal – Março 2021, Zâmbia, a macaquinha que queria casar – Março 2021; Tuly e o cavalinho de baloiço – Março de 2021, Maria, a menina que não conseguia dormir – Abril 2021; A Lenda da Menina Lua – Abril 2021; Estrela Silente, a Princesa cativa – Abril 2021, Marly, a pequenina duende – Abril 2021; Mariana no País do trevo Dourado – Maio 2021; Esperança e o sorriso do Palhaço – Maio 2021; Uma Aventura na Floresta Encantada – Maio 2021; Esmeralda, umas férias diferentes – Junho 2021; Raitira no Planeta Ricoicoi – Junho 2021; A lição do Dente-de-Leão – Julho 2021; Lino, o menino que sonhava ser astronauta – Julho 2021; Bia, Mitra e o Tufão Esperança – Agosto 2021; Sericaya, a Ponte Misteriosa – Agosto 2021.

Histórias da Bolachinha Bolachinha em Tarouca (prosa e poesia) - Capa: Glória Costa - Maio 2018; - Bolachinha vai à Hora de Poesia Edição bilingue (português/ francês), Outubro 2018; Bolachinha vai à Casa Museu Mestre Adelino Ângelo Novembro 2018; - O Natal de Bolachinha, Natal 2018 Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de Teresa Subtil Edição bilingue (português/Mirandês), Fevereiro 2020; Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de José Sepúlveda - Edição bilingue (português/francês), Julho 2020.

Aventuras de Maria Laura Maria Laura, a Menina da Página dezasseis, Agosto 2020; - Aventura no Castelo sem nome, Agosto 2020. 7


Diferentes mas iguais Tomás e o infortúnio de não ter mãos – Junho 2021; Lolita, a menina que não tinha pés – Junho 2021; Duda, o Menino que queria mudar o Mundo – Julho 2021.

Distinções - 2º Prémio de Poeti Internazionali. Poema Rosa de Saron, no Concorso Artemozioni, Cantico dei Cantici In Valle d’Itria, Itália; Maio 2017. - 3º Prémio de Poeti Internazional - Itália. Com o poema “Violino”; 5° Biennale del Festival Internazionale Delle Emozioni, Itália - Maio 2019. - 10° Edizione Del Concorso Di Poesia e Narrativa: Prémio d’Onore Concurso de Premio Letterario Internazionale di Poesia “Gocce di Memoria“, Itália, Junho 2019 con la poesia Sfera di cristallo (Bola de Cristal). - Concorso “Il Meleto di Guido Gozzano” Sezione Autori di lingua straniera - ATTESTATO DI MERITO, 14 settembre 2019 com la poesia Assenza (Ausência). Itália, agosto de 2019. - Jogos Florais Vale do Varosa 2019 – Concurso Literário Tarouca - “O rio, o vale e as gentes”: Menção Honrosa, categoria de Poema. - Concorso di Poesia Internazionale " Gocce di Memoria" VI edizione 2020. 8


- Menzione d'onore con la poesie “Il mio quadro” – (Meu quadro). Itália julho 2020. Segunda Classificada no Prémio Poeti Internazionali - 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesia-videopoesia e racconti dal titolo: Poesia Esteri “Ouve” (Ascolta) dezembro 2020. - Menzione di Merito de poeti Internazionali 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesia-videopoesia e racconti dal titolo: Racconti “Esmeralda” dezembro 2020.

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Sericaya, a Ponte Misteriosa

Sericó, era uma pequena aldeia perdida lá no meio da Serra, na periferia da capital. Com duzentos e poucos habitantes, havia entre eles quatro crianças com idades compreendidas entre os sete e os dez anos. Os irmãos Tiago e Isabel tinham 9 anos e eram gémeos. Os seus primos, Rita tinha sete anos e Francisco dez.

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No período de férias juntavam-se a eles mais dois primos, o Mateus, com oito, e a Marta, com seis anos, nascidos lá na capital. Os tempos eram difíceis e os pais de Mateus e Marta tinham ido trabalhar para a capital, à procura de melhores condições de vida. Mas no período de férias escolares, regressavam à aldeia e deixavam os pequenos aos cuidados da Avó Chica até ao reinício das aulas.

Estavam no último dia de aulas do terceiro período. Tiago e Isabel, os gémeos, faziam já seus planos para 11


os quinze dias que se iriam seguir, tempo que passariam em comum com os primos ora chegados da capital. Como estavam contentes!

- Mãezinha! - gritavam eles do seu quarto, naquele dia primaveril - Que horas são? A que horas chegam os primos? - Tenham calma, meninos, não precisam de deitar a casa abaixo com tamanha gritaria – respondeu sorridente -

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Ainda não tenho a certeza mas, olhem, quando chegarem, é porque chegaram. O importante é que Deus os acompanhe no decorrer da viagem - Ajudas-me a escolher um vestido bonito para os receber? Quero estar bem linda – dizia Isabel. - Quanta vaidade, mana! - troçava Tiago – São todas iguais quando se trata de se vestirem – acrescentava com ar de gozo.

- Pois, não és uma menina. Se o fosses, serias tão vaidosa como eu, quem sabe, bem pior. Mas, tu como a maioria dos rapazes, não percebem nada disto. Claro que todas as meninas gostam de se vestir bem, faz parte da sua 13


condição, tentar apresentar-se lindas junto dos rapazes. Vocês não ligam nada a isso. Olha para ti, pareces um labrego. Se te olhasses ao espelho! - O que tenho de errado? Estou muito bem assim! - Pois, pois, o mal é esse! Calças, camiseta, ténis sujos e boné, as tuas primas vão dizer: Uauu – satirizou. - O que achas que está mal? A roupa não está bem combinada? - Vamos dizer que sim, afinal, és rapaz e basta. Mas, atenta nisto, as meninas não se vestem assim como os rapazes. Ponto final! - Caramba, sois sempre tão complicadas! – retorquiu algo aborrecido com o desenrolar da conversa da irmã. - Não te chateies comigo, mano. Mas às vezes és mesmo um patetinha.

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- Mãezinha chega aqui Grita a menina aflita Tem calma, já chego aí… E em casa não se grita. A mãe chama-lhe à atenção: - Não quero ouvir gritaria. Afaga-a com sua mão E para ela sorria. -

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Vamos ver o que é preciso Quando terminar a escola. O irmão esboça um sorriso: - Arrumei minha sacola! - Tu és mais arrumadinho Do que esta tua irmãzinha. Dá-lhe um beijo com carinho. - Vou-te ajudar, princesinha.

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E logo foram para junto do guarda-fatos para a ajudar a escolher um vestido bem bonito. De seguida, foram arrumar a sacola de Isabel e desceram à cozinha. Na mesa, já os esperava uma boa tigela de cereais que a zelosa mãe lhes tinha acabado de preparar e que eles devoraram a correr, tal o nervosismo que sentiam e a ânsia de rever a avó e os primos. Saíram porta fora em direção à casa de Rita e do Francisco que moravam não muito distantes. Contentes e felizes, combinavam então as coisas que iam fazer naquelas férias lá na aldeia quando se juntassem aos primos da cidade, o Mateus e a Marta.

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- As aulas vão acabar, Os primos vêm amanhã E depois, toca a brincar Trá lará lará lá lá. - É dia de ir à escola, O derradeiro, mãezinha, Mas que peso, esta sacola, Queres ajuda Ritinha?

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E enquanto caminhavam, iam fazendo projetos para o decorrer das férias na companhia dos primos. - Estou ansiosa que este dia passe depressa. Amanhã a esta hora já os teremos connosco para brincar - dizia Rita. - Sim, já sinto tantas saudades deles! - respondeu Tiago. - Até eu! - respondeu Isabel- Que saudades sinto da Marta! Estou a pensar naquela ponte, lembras-te? Sinto curiosidade em desvendar convosco os seus mistérios. Um dia 19


vou atravessá-la e descobrir tudo isso. – disse determinado.

Logo a mãe, que acompanhava o desenrolar da conversa, interrompeu:

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- Oiçam, meninos, oiçam bem o que vos vou dizer. Não se atrevam sequer a pensar desrespeitar as recomendações que vos temos dado sobre atravessar ou não aquela Ponte! - Isso mesmo – corroborou a mãe dos primos Francisco e Rita – Juízo nessas cabecinhas… e nada de andarem a engendrar coisas que nos podem causar a todos muitos problemas.

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- Não é para atravessar! Dizia a mãe com euforia A ordem é respeitar, A começar neste dia. Os meninos acataram O que suas mães diziam E logo se entreolharam Mas as bocas não abriam. - Escutem com atenção, As ordens são p’ra cumprir! São p’ra vossa proteção E delas não vão fugir. Estamos bem entendidos? Vamos lá para a escola E até logo, queridos, Tiago, toma a sacola.

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- ‘Tá bem! – responderam com um olhar matreiro, sem certezas de que seria mesmo assim. Afinal, eles já não eram assim tão crianças. Mas se a oportunidade surgisse… logo se veria. As mães nem precisavam de saber. Os primos haviam de chegar no dia seguinte e depois, quem sabe, se podiam aventurar. O resto, era um zelo protetor dos pais que certamente já não fazia sentido agora. O resto do dia e depois a noite passaram num ápice. Logo de manhã, chegariam os primos da cidade. O velho relógio lá da casa da Avó Chica teimava em não deixar 23


que o tempo passasse mais depressa. A Avó Chica, na verdade, não era bem avó de sangue dos meninos, mas era de coração. Todas as crianças da aldeia a tratavam assim.

- Que nervosismo, meus queridos. - perguntou – O que se passa? Que ansiedade é essa? Não param de olhar para o relógio! - Não se passa nada avó Chica, só queremos que o tempo passe depressa. E logo teremos connosco os primos da cidade. 24


- Ah, então é isso. E neste entretanto, não me querem ajudar a preparar um bolinho de maracujá para comermos quando eles chegarem? - Ó, sim, Avó Chica, que bela ideia. Vamos todos ajudar a preparar esse delicioso bolo. Afinal, eles só podem saborear um bolo quando vêm de férias.

- E no decorrer da preparação do bolo, Avó Chica, podesnos contar de novo a verdadeira história sobre a Ponte

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Sericaya? – sugeriu Tiago com entusiasmo - Quem melhor do que tu para nos lembrar de novo tão intrigante história? - Ouve, Tiago. Há muitas histórias que se contam sobre a Ponte Sericaya, ou Ponte Misteriosa, como muitos lhe chamam! Mas, na verdade, só uma é a verdadeira. As restantes são lendas desenvolvidas pelo imaginário do povo. Cada qual conta a sua versão, com maior ou menor cunho dramático, a seu bel prazer. Vá, sentem-se. Vouvos contar a verdadeira história da Ponte Sericaya, a tal que foi me contada pelos meus avós que viveram no tempo em que a mesma foi construída.

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- Sentem-se aqui, vou contar Essa história verdadeira, Lembrem-se! Quando eu falar, Não quero ouvir uma asneira! - Foi há muito, muito tempo! Um jovem da outra margem, Quer fizesse chuva ou vento Trazia o gado à pastagem. - Era novo, esse rapaz E sem qualquer experiência. Corajoso, muito audaz… E sofreu a consequência… Apaixonou-se, coitado! Quis a ponte atravessar Com água por todo o lado… E acabou por se afogar…

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- Viveu nesta aldeia há muito, muito tempo esse jovem pastor, que residia do outro lado do rio. Era apaixonado pela natureza. Era o guardião daquele lado da montanha e ali levava os animais a pastar. Cuidava das matas e respeitava como ninguém aquele lugar para si sagrado. Um dia, já pela tardinha, pairava no ar uma fragrância diferente. De nariz no ar, tentava entender de onde vinha tão agradável perfume. Olhou ao redor e do outro lado da margem avistou uma menina, de longos cabelos dou28


rados, encabeçados por uma fita azul da cor do céu. Ficou fascinado com a sua beleza. O seu corpo tremia pelo encanto. E logo, mesmo sendo tão jovem, sentiu-se apaixonado por aquele ser esbelto e belo.

Logo, esqueceu as admoestações dos pais e, embriagado por tal paixão, caminhou em direção à ponte e quando um dos seus pés a pisou, a Ponte Sericaya abriu-se, deixando-o sem piso e engolindo-o num instante. A família bem que o tinha advertido para o facto de que nunca 29


deveria atravessá-la, mas ele tudo esqueceu. E logo sofreu as consequências. A partir daí, a ponte foi inundada de verdura e todos os animais dali desapareceram. Diz o povo que desde esse dia ninguém mais ousou atravessar a ponte, receando que o mesmo voltasse a acontecer.

- Essa história é verdadeira? O que foi que aconteceu? - Pobre pastor, quanta asneira! Nem sequer a conheceu!

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- Avó Chica, conta mais, Não pode ser a verdade, - Aonde estão os animais? - Ó meu Deus, quanta maldade! Como pôde acontecer Um final trágico assim? - Quase nem quero saber Se a história chegou ao fim!

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- Esta é a verdadeira história sobre a Ponte Sericaya – repetiu a Avó Chica – Foi assim que me foi transmitida pela boca dos meus avós, era eu ainda muito pequeninha.

- Não posso crer que assim seja! A ponte prende o rapaz? Ninguém esse fim deseja, Como foi ela capaz?

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- Mas conta o resto, avozinha, Pronto, morreu, foi-se embora! Que aconteceu à menina? Aonde está ela agora? - É esta a vossa verdade Do triste acontecimento. Os primos vêm da cidade, É talvez um bom momento… Vamos a ponte passar, Experimentar para ver, Um plano arquitetar Para tudo compreender.

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Perplexas, as crianças não se conformavam com o desfecho trágico ocorrido na Ponte Serycaia. Quando chegassem os primos, queriam tirar tudo isso a limpo e ir desafiar a malvada Ponte Sericaya. A decisão estava agora tomada. Desejavam agora tirar satisfações com aquela Ponte e exigir que ela devolvesse o corajoso pastor. Sentados num canto do sofá, cabisbaixos, Francisco, e Tiago, organizavam já as ideias para a sua aventura. Haviam de surpreender a Ponte Sericaya. Apesar de muito jovens, estavam determinados. O plano estava organizado. Faltava agora executá-lo. 34


Mal dormiram naquela noite, tamanha era a sua ansiedade. Nada poderia correr mal, o plano estava bem traçado. Finalmente, amanheceu. Era ainda bem cedo e já todos estavam prontos para receber os primos que logo chegaram. Que alegria sentiam no coração! Logo bem depressa, com todas as cautelas, expuseram os seus planos. Agora, todos queriam partir depressa em direção à Misteriosa Ponte Sericaya. 35


- Amanhã vai ser o dia Dessa ponte atravessar E ela nem se atreveria Algo de mal nos tramar. Era um dia de aventura E essa ponte era a meta, Parecia até loucura Mas que ninguém se intrometa! 36


Contam-se tantas histórias Que nem dá p’ra acreditar São lendas, velhas memórias Que gostam de recordar.

Para melhor aproveitarem o tempo, decidem ficar na casa da Avó Chica. Esta tinha lá na capoeira um galo muito madrugador. Logo que este cantou, as crianças levantaram-se a correr e logo se dirigiram para a cozinha. 37


Havia que tomar um nutritivo pequeno almoço, o dia ia ser longo. - Bom dia, Avó Chica! Queremos provar umas fatias desse saboroso bolo de maracujá, acompanhado do leite fresquinho da vaquinha Janota, pode ser?

- Já vai, já coloco na mesa. Acordaram com pressa, meninos. Sentem-se aí que em poucos segundos preparo

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um delicioso pequeno almoço para todos. Há que aconchegar o estômago. Logo que acabaram a ligeira refeição, agradeceram e prepararam-se para sair. - Avó Chica, vamos dar um giro por aí! - Vão, sim mas juizinho nessas cabecinhas. Não se aventurem, afinal, sou eu a responsável pela vossa segurança. Não quero que nada vos venha a acontecer. - Nós sabemos, Avó, mas nós já somos responsáveis. Despediram-se com um beijo e saíram porta fora a toda a pressa. - Até logo, Avó Chica, beijinhos.

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- Nada de ir para longe, o tempo está instável e cheirame que vem por aí uma chuvada das grossas. - Não vamos para longe, Avó, vamos andar por aqui. E lá se foram até desaparecer no horizonte, tentando colocar em pé o seu plano de ação. Ao longe, já se avistada a famigerada Ponte. - Nunca tinham chegado tão perto da Ponte Sericaya. A Ponte era mesmo estranha, parecia mesmo convidar a uma travessia.

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Ao chegarem ao destino, A Ponte causou-lhes, medo, Francisco abriu caminho. - Vamos saber teu segredo! Sou o primeiro a passar, Tiago vem a seguir, Cada um no seu lugar, Cuidado, p’ra não cair.

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Olhavam agora de perto a Ponte Sericaya, uma Ponte Rústica, toda em pedra. Chegara a hora de desvendar os mistérios. Olharam ao redor e verificaram que a Ponte não dava para lugar algum, fora construída no meio do nada. Atravessava o rio, mas do outro lado, apenas a montanha. Na verdade, era estranha e assustadora. Razão para que ninguém se atrevesse a atravessá-la. Teriam razão os habitantes da aldeia? Mas ali, junto a ela, parecia convidar os presentes a passar sobre ela, havia ao redor

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uma sensação de segurança, um instinto estranho de esperança em algo que poderia acontecer. Um convite à sua travessia. Quando Francisco se preparava para colocar o seu pé na Ponte, ouviu assim como que uma espécie de triste sussurro.

- Não, não entres, por favor, Vai para casa menino! Não desafies a dor, És tão pequeno e franzino! 43


Para, criança teimosa, Pensa no que vais fazer, Ela é muito perigosa E até podes morrer. - Quem é que me fala assim? Mostra-te, quero-te ver! - Sou o pastor Serafim, Se atravessas, vais morrer. - Eu sei pois minha família Tanto me tinham alertado Agora, aqui de vigília, Só tenho que ter cuidado. - Pelo amor desajeitado Eu vim sem ter precaução E agora vê o meu fado, Vivo aqui nesta prisão. Porque hás de ficar aqui Nesta triste solidão? Vai-te embora, vai daqui, Não queiras ficar mais, não! E Francisco ali ficou Com o seu pé ainda fora E uma nuvem despejou A chuva naquela hora. 44


Com enorme violência, a chuva começou a cair em catapulta sobre toda a aldeia. O pequeno Francisco, já prestes a pisar a ponte, parou de repente, olhou os primos e a irmã e disse: - Vamos em frente meninos? Paramos ou voltamos para casa?

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Entrementes, lá em casa, a Avó Chica já estava em cuidados com as crianças que, inexplicavelmente, não respondiam aos seus chamados constantes. - Oh valha-me Deus! Será mesmo o que estou para aqui a magicar?

Bate com a porta e desata a correr o mais depressa que pode em direção à ponte, mesmo a tempo de impedir as 46


crianças de a atravessarem. Ao chegar, ouve a voz de Serafim, o pequeno pastor: - Chica, acalma-te meu amor, estou aqui. Eles não vão atravessar a Ponte. - Obrigada, meu querido pastorzinho, só mesmo tu para poderes evitar tamanha tropelia. - Volta para casa, amor, e leva-as contigo de volta. Tenho a certeza que não mais terão vontade de aqui voltar. Esta Ponte está amaldiçoada. Como desejo ficar livre desta maldição, mas o preço é elevado e não irei pagá-lo.

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Zangada, Avó Chica repreende os netos. - Como puderam desobedecer aos meus conselhos, meninos? Estes, ainda espantados com o episódio a que estavam a assistir, responderam: - Avó Chica, então a história é mesmo verdade! Foi por amor a ti que o Serafim, o pastor, tentou atravessar a Ponte Sericaya, mesmo sabendo que poderia sofrer? - Sim, queridos, fui eu a causadora da sua prisão aqui nas profundezas da Ponte. - Agora entendo que foi por isso que nunca casaste nem tiveste filhos. - Verdade. Desse modo, tornei-me a avó dos vossos pais… e agora vossa. Agora que sabem a verdade, não contem nada disto a ninguém, pois não iam acreditar. - Está bem, Avó Chica, será este o nosso segredo.

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- Mas para isso, - acrescenta Tiago – promete que nos vais dar a cada um de nós uma valente fatia de bolo de maracujá – disse a sorrir. - Interesseiro! – Respondeu - Vamos para casa. E não se atrevam a tentar de novo atravessar a Ponte Sericaya… Prometemos, Avó, nada nos trará de novo aqui com o intuito de atravessar a malfadada Ponte. - Mas que nos vais contar o resto da história da Ponte, lá isso vais, estamos curiosos por saber o desfecho.

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- O bolo vamos comer, Bolo de maracujá E outro iremos fazer Para o lanche de amanhã. Vamos para o nosso lar Pois aqui está bem frio. Vamos todos a cantar. - A cantar ao desafio!

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- No fim, vamos, neto lindo, Nossa lareira acender Vossos rostinhos sorrindo Não vão a história esquecer. - Conta-nos lá essa história Da Ponte Misteriosa Que tu reténs na memória E te faz tão graciosa. Sem filhos, ninguém no mundo, És a nossa Avó querida, Mas o nosso amor profundo Hás de ter por toda a vida!

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