Título: "Silas e o Triunfo do Amor" conto de Rosa Maria Santos, fevereiro de 2021

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Silas e o Triunfo do Amor

Conto

Rosa Maria Santos 2


Ficha Técnica

Título Silas e o Triunfo do Amor Tema Conto Autora Rosa Maria Santos. Capa Arranjo de José Sepúlveda Ilustrações Rosa Maria Santos Revisão de textos e Formatação José Sepúlveda Publicado por Rosa Jasmim Edições

Editado em E-book em Fevereiro 2021 https://issuu.com/rosammrs/docs 3


Rosa Maria Santos Naturalidade – S. Martinho de Dume, Braga. Muito pequena, foi viver para a freguesia de Maximinos. A base do seu equilíbrio emocional está no seio familiar. É na família que encontra a alegria de viver. Viveu na Costa Litoral Alentejana, em Sines, trinta e um anos, tendo regressado em 2017, à cidade que a viu nascer, Braga. Participou em diversas coletâneas de Poesia, portuguesas, italianas e brasileiras. É Colunista no site Divulga Escritor, possuindo também uma rubrica na Revista com o mesmo nome. Foi assistente de produção e recolha na coletânea de postais do grupo Solar de Poetas, Poeta Sou…Viva a Poesia; participou nas coletâneas de poemas e postais de Natal do mesmo grupo: Era uma vez… um Menino; Nasceu, É Natal; Não Havia Lugar para Ele; Vale do Varosa: Uma Tela, um Poema, do Solar de Poetas, para promoção do Evento: Tarouca Vale a Pena; Belém Efrata; Então, Será Natal; Vi Uma Estrela, todas editadas em e-Book; O Presépio de Marco – inspirado nas imagens do presépio de Natal 2019, elaborado por Marco Penna e seus familiares; Quando o Menino Chegar – Coletânea de Poesia de Natal de 2020. 4


É Administradora dos grupos: Solar de Poetas, onde coordena também a equipa de Comentadores; Solarte – a Arte no Solar; SoLar-Si-Dó - A Música no Solar; Canal de Divulgação do Solar, Casa do Poeta; SolarTV Online; Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa; Hora do Conto e O Melhor do Mundo, todos do grupo Solar de Poetas. A escrita é uma das suas paixões… Não se considera escritora nem poetisa, mas uma alma poética a vaguear pelo mundo... Se um dia deixar de sonhar, diz, deixa de existir. Livros editados: Rosa Jasmim (poesia), Capa do Mestre Adelino Ângelo – Julho 2018.

E-Books - Poesia Cantam os Anjos (poesia de Natal) – Capa de Adias Machado – Natal 2017; - Ucanha terra de encanto Poesia) - Capa: Glória Costa – Maio 2018; - Sinos de Natal, Natal de 2018; - Glosa, Arte e Poesia, Pinturas de Glória Costa, poesia da autora, Agosto 2019; - Entre Barros, Arte e Poesia Bordadas à Mão – pinturas de Bárbara Santos, poesia da autora, Outubro 2019; - Maviosa poesia, a arte de rialantero" Pintura de Silvana Violante; poesia da autora; Em Palhas Deitado – Poesia de Natal, Dezembro 2020.

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E-Books - Contos Pétalas de Azul (contos) – Fevereiro 2019; - Estórias em Tons de Rosa (contos) Abril 2019; - Pena Rosada, Crónicas do Quotidiano, Julho 2019; - 12 Contos de Natal, capa de Madalena Macedo - imagens com arranjos da autora, Natal 2019; - O Veado Solitário, na Aldeia do Chefe Lyn - Edição bilingue (português/italiano), Janeiro 2020; - Esperança no País do Arco Íris – Edição bilingue (português/italiano), Abril 2020; - O Menino da Lagoa - Edição bilingue (português/inglês), Abril 2020; - A Menina Raposa, capa de Ana Cristina Dias; - Rufo, o Cãozinho desaparecido – Edição bilingue (português/espanhol), Abril 2020; - Ana Rita e o fascínio dos ovos – Maio 2020; - Milú, o Chapeuzinho que gostava de cirandar, Maio 2020; - Contos ao Luar, Maio de 2020; - Patusca, no Reino Misterioso - Edição bilingue (português/italiano), Maio 2020;- O bolo na casa da Avó Doroteia, Junho 2020; - Sonega, o Coelho Mandrião, Julho 2020; - Rosalina e a Sombra Rebelde, Julho 2020; - O Jardim em Festa, Julho 2020; - Ritinha, salva a Sereia Serena, Julho 2020; - Ana Clara, em tempos de pandemia, Novembro 2020; - Josefina, a menina que veio do mar, Novembro 2020; - Luizinho, protetor do ambiente, Novembro 2020; - A Girafa Alongadinha e a Pulga Salomé, Novembro 2020; O Dia de Natal, Dezembro de 2020; O Natal de Afonso; Dezembro de 2020; Um Milagre na Ilha Paraíso, Dezembro de 2020; Ventos de Mudança, Dezembro de 2020; Gisela e a Prenda de Reis, Janeiro de 2021; Dany, o 6


Menino que queria sorrir – Janeiro 2021; Marquito, o menino irrequieto – Janeiro 2021; Joaninha, a menina que vendia balões – Janeiro 2021; Vicentina, uma avó aventureira – Fevereiro 2021; Juliana e os sapatinhos encarnados – Fevereiro 2021; Tomás, o Pinguim Desastrado – Fevereiro 2021; Silas e o Triunfo do Amor – Fevereiro 2021.

Histórias da Bolachinha Bolachinha em Tarouca (prosa e poesia) - Capa: Glória Costa - Maio 2018; - Bolachinha vai à Hora de Poesia - Edição bilingue (português/ francês), Outubro 2018; - Bolachinha vai à Casa Museu Mestre Adelino Ângelo - Novembro 2018; - O Natal de Bolachinha, Natal 2018 Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de Teresa Subtil - Edição bilingue (português/Mirandês), Fevereiro 2020; - Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de José Sepúlveda - Edição bilingue (português/francês), Julho 2020.

Aventuras de Maria Laura Maria Laura, a Menina da Página dezasseis, Agosto 2020; - Aventura no Castelo sem nome, Agosto 2020.

Distinções 2º Prémio de Poeti Internazionali. Poema Rosa de Saron, no Concorso Artemozioni, Cantico dei Cantici In Valle d’Itria, Itália; Maio 2017.

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3º Prémio de Poeti Internazional - Itália. Com o poema “Violino”; 5° Biennale del Festival Internazionale Delle Emozioni, Itália - Maio 2019. 10° Edizione Del Concorso Di Poesia e Narrativa: Prémio d’Onore Concurso de Premio Letterario Internazionale di Poesia “Gocce di Memoria“, Itália, Junho 2019 con la poesia Sfera di cristallo (Bola de Cristal). Concorso “Il Meleto di Guido Gozzano” Sezione Autori di lingua straniera - ATTESTATO DI MERITO, 14 settembre 2019 com la poesia Assenza (Ausência). Itália, agosto de 2019. Jogos Florais Vale do Varosa 2019 – Concurso Literário Tarouca - “O rio, o vale e as gentes”: Menção Honrosa, categoria de Poema. Concorso di Poesia Internazionale " Gocce di Memoria" VI edizione 2020. Menzione d'onore con la poesie “Il mio quadro” – (Meu quadro). Itália julho 2020. Segunda Classificada no Prémio Poeti Internazionali 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesiavideopoesia e racconti dal titolo: Poesia Esteri “Ouve” (Ascolta) dezembro 2020. Menzione di Merito de poeti Internazionali 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesia-videopoesia e racconti dal titolo: Racconti “Esmeralda” dezembro 2020. Ebook: https://issuu.com/rosammrs/docs

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Silas e o Triunfo do Amor

Aproximava-se a data para a grande corrida de São Tito, o padroeiro do Reino da Tartarulândia.. O povo esmerava-se para que tudo estivesse pronto a tempo e para que nada faltasse. Silas, a tartaruga, era o grande campeão desde há três anos, um record memorável. Mas, a olhar para os seus êxitos com algum ciúme, até inveja, estava Coja, o

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eterno segundo classificado. Isso deixava-o enfurecido. Este ano, estava disposto a lutar para que esse status de Silas tivesse o seu fim. Agora, estava tudo preparado para o grande dia de festa. Ali estariam presentes para concorrer outros animais vindos de terras vizinhas, às vezes distantes. Alguns convidados gozavam já de grande reputação, tais como o Leão Anastácio, sempre acompanhado da sua bela Rainha Liene, a Coruja Sabiola, com o seu estimado companheiro Sieca, a Raposa Sara, que sempre se fazia acompanhar por Licas, o marido, e até o casal de lebres, Rico e Zafira, entre muitos outros animais. O programa prometia. No dia de São Tito vivia-se no lugar um ambiente de grande amizade e cordialidade, ninguém se mostrava hostil fosse com quem fosse.

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Com Tartarulândia em festa E o São Tito a chegar, Silas, vinha da floresta Com vontade de ganhar. Vivia-se nesse dia Amizade especial, No reino se reunia Toda a espécie de animal.

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Já há anos que assim era; Havia grande alegria Na Festa da Primavera Festejada em euforia Em prol da comunidade, Vinham todos à corrida E cada qual com vontade De verem a taça erguida.

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E Coja tudo faria Para chegar em primeiro Pois também ele queria Ganhar trofeu e dinheiro. Este ano era diferente; Tinham que saber nadar E pensava bem contente: - Não vi Silas a treinar. Tempos antes da corrida, Silas treinara sem tréguas E para a ter por vencida Já correra muitas léguas.

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Agora que se aproximava o dia, Silas até se esquecia da hora das refeições e treinava como um desalmado, desde o nascer do sol até o ver declinar atrás das montanhas. Para a sua companheira Gery e para o seu filhinho Fred, Silas era já um vencedor, um herói, o seu grande orgulho. Ao fim do dia, Gery, como sempre, esperava-o de regresso a casa para jantar e por fim descansar. Mas nesse dia Silas não chegava. O sol já declinara e nada, não havia meio de dar sinais de vida. Gery começou a sentir-se ansiosa com essa demora. Chamou Fred, o seu filhinho, e foram procura-lo. Era estranho, nunca acontecera antes. Antes que o sol se banhasse nas águas prateadas da Ribeira Tay, ei-lo que chegava.

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- Fred, querido filhinho, Vem comigo, por favor, Ao encontro do paizinho Que não chegou ao sol-pôr Não sei o que aconteceu, O porquê de tal demora, Já há estrelas no céu E não chegou até agora.

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- Sim, vou contigo, mãezinha, A noite está a chegar. Vou pedir à corujinha Que nos possa acompanhar. - Talvez mesmo o Pirilampo Nos dê luz na noite escura Pois se caímos no campo, Lá temos outra aventura. O Pirilampo, ilumina, O caminho a percorrer, E das aves de rapina Nos ajuda a proteger. Tudo há de correr bem Disse Fred a seus amigos A Corujinha aí vem E nos livra dos perigos. Esperemos para ver; Com um pouquinho de sorte, Nada vai acontecer, Nosso grupo está bem forte.

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E com todas as cautelas, ei-los rodeados de cuidados a atravessar a quinta do Tio Curia, uma Tartaruga macho que toda a gente respeitava por ser o mais velho de todo aquele espaço. Gery, falando quase impercetivelmente, disse-lhes: - Vamos ter com o Tio Curia e perguntar-lhe se viu o Silas por estes lados no seu treino. Devagar, aproximou-se e bateu no postigo da toca do Tio Curia, que logo deitou a cabecinha de fora e perguntou: - Quem chama por mim a esta hora da noite? Oh, és tu, Pirilampo Jony. Vejo que vens acompanhado. Boa noite, Corujinha Lay. Porque andais por aqui a esta 18


hora tão tardia? Aproximem-se mais um pouco, os meus olhos já não são os mesmos que eram nos tempos da minha juventude, aproximem-se um pouco mais, por favor.

Foi então que o Tio Curia reparou que Pegy e Fred estavam com a Corujinha Lay e com o Pirilampo Jony junto ao muro. - Que aconteceu? Porque estais aqui? Aonde está o Silas?

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- O Silas foi treinar, como faz todos os dias e não regressou a casa, Tio Curia, estou tão ralada com a sua ausência! - Bem, não há de ser nada, vamos procurar pelos caminhos por onde ele costuma treinar, havemos de o encontrar. Pode ter caído e ter-se magoado. Mas olha, querida sobrinha Pegy, na verdade, não o devias procurar assim de noite, é muito perigoso para nós, tartarugas, se caímos e ficamos de costas, é muito difícil voltarmos a virar e pode ser o nosso fim.

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- Então, Tio Curia, que outra coisa podia fazer? - Esperar, querida. Não podes andar a esta hora da noite sozinha com o pequeno Fred. Ficai por aqui, descansai um pouco e logo de manhã bem cedo reunimos um grupo e vamos procura-lo. - Mas, Tio Curia, e se o Silas precisa de nós? - A esta hora da noite, nada podes fazer, Pegy, e é muito perigoso andar a deambular por aí desprotegida a estas horas. Seja o que for que tenha acontecido, Silas não iria gostar nada de vos encontrar por aí desprotegidos.

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- Para um pouquinho, querida, O perigo sempre espreita, Correis perigo de vida. Pegy olha o filho e aceita. - Fred, vamos repousar, Logo disse ao seu filhinho, De manhã, ao acordar, Procuramos o paizinho.

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- Obrigado, Ti’ Curia Pela sua hospitalidade E logo que nasça o dia Percorremos a herdade. Irei terreno a terreno Até Silas encontrar, Deixo-lhe aqui meu pequeno Para não me atrasar. - Coitado, está a dormir! - Eu vou tentar descansar. E adormece a seguir Num recanto desse lar. À espera que o novo dia Lhe devolvesse o marido, Ao seu Criador pedia Que o tivesse protegido. Deixaria o seu filhinho Resguardado no lugar E se faria ao caminho Até Silas encontrar.

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- Fred, Fred! - chamou Pegy. Como este não respondeu ao chamado, pensou que o filho estivesse com o Tio Curia. E foi procura-lo até que encontrou o Tio Curia sozinho a comer um belo repasto, numa hortinha, saboreando uns apetitosos morangos cheios de cor que saltavam dum canteiro, por detrás de uma frondosa figueira carregada de saborosos figos Pingo-de-Mel. - Tio Curia, não viu o Fred? – perguntou. - Não, não o vi por aqui. - Aonde se terá metido?

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E foram procura-lo por ali, sem que o tivessem encontrado. Pegy estava agora duplamente aflita e desolada. -Tio Curia, o que faço agora? - Olha, o melhor mesmo é ires no seu encalce. Com certeza, Fred sentiu necessidade e ir procurar o pai, é tão apegado a ele! - Não sei que fazer, Tio Curia, se por um lado tenho que procurar Silas, agora, não posso negligenciar o desaparecimento de Fred. E se estão um por cada lado?

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- Verdade, mas é um risco que temos que assumir. Vamos os dois procurar. Tinha em mente reunir alguns amigos para ajudar na busca mas o tempo urge e não podemos esperar mais. Agora, temos uma nova preocupação, Fred. Depois, a Águia Matreira ronda por estes lados e se vê Fred sozinho, não sei o que possa acontecer! - Pois, meu tio, Fred é uma presa vulnerável! - Vamos, sobrinha, apanha algumas dessas pedrinhas, sempre podem servir de arma de defesa em qualquer situação em que nos possamos ver envolvidos durante o percurso. Como o dia de São Tito se aproxima a passos largos, pode ser que ninguém lhe faça mal, costuma ser um tempo de tréguas. Mas nunca se sabe. Todos respeitam a data, mas se por um lado para nós, que nos alimentamos dos frutos da natureza, não falta alimento, para os animais carnívoros, os alimentos escasseiam, há por aí muita carência.

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No caminho, a conversar, Prosseguiam lado a lado, Atentos, a observar, Ao longo de todo o prado. Era um dia muito quente E custava caminhar Mas o caminho era em frente, Nada os faria parar. Pegy, muito apreensiva, Com vontade de chorar, Lamentava sua vida, Precisava os encontrar. 27


Mas mesmo assim, essa aragem Lhe lembrava a maresia Que mesmo sendo miragem, Lhes fazia companhia. Andam com mais velocidade Porque a urgência pedia Nem sequer a muita idade Tio Curia impedia. Ouvem o Fred gritar Muito alto, em aflição, E correm para o ajudar Entre grande confusão.

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- Ó Fred, como raio vieste parar a este lugar tão perigoso? Já aí vou para te livrar desse cativeiro horrível. - Cuidado, Tio Curia, pode cair, este espaço é ingreme. – e virando-se para o marido –Silas, meu querido, fica calmo, vou descer e libertar-te. E logo, com todo o cuidado, desceu a íngreme ravina até avistar o Silas que, quase desfalecido, tiritava de frio. Pegy, aflita, a presenciar tudo o que estava a acontecer, tirou do alforge alguns figos doces como mel, duas suculentas bolotas que apanhara pelo caminho e aproximou-se, colocando-as na boca do marido que logo se restabeleceu e viu restauradas as forças, 29


começando lentamente a caminhar. Tudo passara e era tempo de regressar ao lar.

Naquele estranho lugar, Com Silas prisioneiro, É tempo de o libertar Desse longo cativeiro Logo que o alcançaram E o puderam levantar, Com cuidado o ampararam E o ajudaram a voltar. 30


Alguém o tinha agredido Na fronte com um varapau E ei-lo ali condoído. Quem pudera ser tão mau? E depois, com precaução, Depressa foram dali, E Silas, com emoção, Dizia: - Vamos daqui! Com o coração contrito, Fred olhava o seu paizinho, Que o vira tão aflito E o abraçava com carinho.

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Depois de toda esta odisseia, Silas, Pegy, Fred, e o Tio Curia vigiavam agora todos os recantos do lugar, não fossem ser de novo surpreendidos pelo sequestrador de Silas. Quem sabe se andaria ainda por perto. Depois, seguros de que não havia perigo, puseram pés a caminho e regressaram a casa são e salvos. Durante dois dias, mantiveram em segredo absoluto tudo o que se tinha passado. Ficaram durante algum tempo a restabelecer-se no Sitio do Tio Curia, aonde Silas podia continuar a treinar, correr, nadar no Riacho Lymon, sem que fossem observados por quem quer que fosse. O Sitio do Tio Curia era um lugar aprazível, cercado por muros altos e uma extensa vedação. Para ali se entrar, só mesmo com autorização. Durante os dias que se seguiram, Silas não foi visto por ninguém, mal saía à rua. Necessitava descansar e refletir em tudo o que acontecera. Alimento, era coisa que ali não faltava. Comia bons figos, morangos, tenra hortelã, entre outras iguarias que por ali eram cultivadas.

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- Comam esses moranguinhos Que vos irão fazer bem E esses figos bem docinhos, Vá, comam nozes também. - Podem servir-se à vontade No Sitio, nada nos falta, E vive esta liberdade Que por aqui é bem alta - Come bem e recupera E esquece todo o mal. Quem o praticou? Espera E logo vês, no final. 33


Finalmente, chegou o almejado dia 26 de janeiro, o dia da grande Corrida de São Tito. Ali estavam perfilados todos os concorrentes para mostrarem o resultado do trabalho de preparação de todo o ano, a fim de estarem aptos a lutar pela conquista do primeiro lugar, acontecimento que lhes traria grande prestígio… e uma boa maquia em dinheiro. Apenas um deles seria o Campeão, título que manteria no decorrer de todo o ano em todo o mundo animal ao redor. Coja lá estava, eufórico, confiante, com a certeza que desta vez iria ser o vencedor. 34


-Este ano, ninguém me vai vencer! - dizia com convicção, desprestigiando o valor dos seus adversários. - Esqueces-te que tens a concorrer contigo o Silas, o vencedor dos últimos três anos? – questionava Quincy.

- Queres apostar em como serei eu o vencedor? Todos eles, no entanto, pareciam apostar em Silas, até mesmo os restantes participantes na corrida. Coja sorria com sarcasmo e apostou nele próprio, desabafando para consigo: 35


- “Parvalhões, nem imaginam que o Silas está preso e nem sequer vai participar na corrida”. Era o que ele pensava! Que Silas ainda estava preso naquela ravina, pois ali o deixara abandonado, sem comida, sem água. Até já desistira de lá ir cada dia ver o seu estado, cada vez mais periclitante.

Concorrentes alinhados Cada qual na sua pista, Na posição de agachados Assim que se leia a lista. 36


Depois dos nomes chamados, Coja estava bem contente, Olhava todos os lados E vê Silas, de repente. - Silas? Não, não pode ser! Ele está prisioneiro, Como pode acontecer? Hei de ser eu o primeiro. Entre trilhos arredios, Vou encurtar o caminho, Atravessarei dois rios E atravesso o campinho. Do campinho até à estrada Poucos quilómetros são E na meta da chegada, Serei eu o campeão.

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Começou a corrida. Silas que bem sabia quem o tinha raptado, estava atento a tudo o que se passava e logo adivinhou as intenções de Coja. Havia pois que redobrar a atenção. Afinal, ele sabia que antes perder a corrida do que perder a vida às mãos daquele vil espertalhão. Por isso, rodeou-se de cautelas e foi seguindo os seus passos. Ao longo do percurso, quando viu Coja entrar no rio azulado, viu-o aflito, a lutar pela vida. Retirou da sua carapaça uma corda de nylon resistente, lançou-a até alcançar uma frondosa árvore que estava à margem 38


do rio e com todo o cuidado, prendeu-a bem, lançando assim a outra ponta ao adversário e livrando-o assim daquele enorme pesadelo.

Se o Coja qu’ria vencer, E com batota ganhar, Tinha agora que o fazer E estratagema encontrar. Desajeitado, a correr, Encurtou o seu trajeto E logo, era bom de ver, Fazia do torto o certo 39


Metera-se num sarilho, Pois lá, no rio azulado, Viu-se entre um empecilho Que recebeu de mau grado. Pobre Coja, batoteiro, Mal podia respirar, Da água prisioneiro, E prestes a se afogar Quando quase a desmaiar, Algo o puxa para fora. Há tristeza em seu olhar, Chegara, enfim, sua hora

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Caindo em si, Corja sentia-se agora triste e arrependido de tudo o que fizera a Silas. Afinal, a ambição, a inveja tinham tomado conta do seu pensamento e ofuscado a visão da realidade. E prometeu que jamais faria isso de novo. É certo de que iria sentir não ser o vencedor da corrida, mas isso agora não era o mais importante para si. Condoído com a sua tristeza, Silas olhou-o nos olhos e disse-lhe: - Não valorizes isso, meu amigo, é só uma corrida, a vida de cada um de nós é bem mais importante. Estou feliz porque estás vivo. 41


Silas tinha imaginado Que ele ia fazer batota. Depois, baixou-se no prado E apanhou uma bolota. - Toma. É boa p’ra comer, Teu corpo reavivar. Coja teve que aprender Nem sempre se há de ganhar.

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Coja estava entristecido Sem saber o que dizer, Até mesmo ressentido Perante o que estava a ver. - Salvaste-me a vida, amigo, ‘Stou grato de coração E em dívida contigo, Toma, aperta a minha mão.

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- Vai, meu amigo, tens uma corrida para completar, eu fico bem, o alimento que me deste foi bom para me sentir recuperado. Silas convidou-o. - Vem também, vamos lá terminar a nossa corrida. Agora, era Coja quem queria que o amigo ganhasse a corrida. - Vai, Silas, tu já és um vencedor. Vai em busca do teu troféu.

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Entretanto, o Tio Curia, Pegy e Fred, aperceberam-se que Silas se infiltrara entre as moitas e aproximaramse para se inteirar do que se estava a passar. Foi então que viram Coja, ainda combalido. Ao aperceberem-se de tudo o que se passara e de que Coja estava bem, insistiram para que Silas voltasse à corrida. Silas, quando viu que tudo estava remediado, reentrou no trilho certo e correu a toda a velocidade que conseguiu, ultrapassando um a um cada concorrente que encontrava pelo caminho. Ao longe, já se avistava a meta. Reuniu toda a energia que podia e cortou a meta em primeiro lugar. Mas não fora esse o grande troféu do dia. Estava, sim feliz, porque, apesar de todos os percalços, tinha conseguido salvar o seu amigo Coja.

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Quando já no fim se viu, Coja dele se abeirou E desculpa lhe pediu Logo, Silas o abraçou. Uma tartaruga infante Foi com o Fred brincar, Era jovem, elegante, E um sorriso de encantar.

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A festa foi animada E uma estrela que luzia No firmamento cantava Ao sentir tanta alegria. E quando a festa acabou, Todos foram para o lar Tio Curia guardou Esta história de encantar Responde ao ódio com bem E logo vais aprender Que o melhor que a vida tem É ver o amor vencer.

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