Título: «Tia Felisberta regressa à Aldeia» conto de Rosa Maria Santos. Setembro 2021

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Tia Felisberta Regressa à Aldeia

Conto

Rosa Maria Santos 2


Ficha Técnica

Título Tia Felisberta regressa à Aldeia Tema Conto Autora Rosa Maria Santos Capa Arranjo de José Sepúlveda Ilustrações Rosa Maria Santos Revisão de textos e Formatação José Sepúlveda Publicado por Rosa Jasmim Edições

Editado em E-book em Setembro 2021 https://issuu.com/rosammrs/docs 3


Rosa Maria Santos Naturalidade – S. Martinho de Dume, Braga. Muito pequena, foi viver para a freguesia de Maximinos. A base do seu equilíbrio emocional está no seio familiar. É na família que encontra a alegria de viver. Viveu na Costa Litoral Alentejana, em Sines, trinta e um anos, tendo regressado em 2017, à cidade que a viu nascer, Braga. Participou em diversas coletâneas de Poesia, portuguesas, italianas e brasileiras. É Colunista no site Divulga Escritor, possuindo também uma rubrica na Revista com o mesmo nome. Foi assistente de produção e recolha na coletânea de postais do grupo Solar de Poetas, Poeta Sou…Viva a Poesia; participou nas coletâneas de poemas e postais de Natal do mesmo grupo: Era uma vez… um Menino; Nasceu, É Natal; Não Havia Lugar para Ele; Vale do Varosa: Uma Tela, um Poema, do Solar de Poetas, para promoção do Evento: Tarouca Vale a Pena; Belém Efrata; Então, Será Natal; Vi Uma Estrela, todas editadas em e-Book; O Presépio de Marco – inspirado nas imagens do presépio de Natal 2019, elaborado por Marco Penna e seus familiares; Quando o Menino Chegar – Coletânea de Poesia de Natal de 2020. 4


É Administradora dos grupos: Solar de Poetas, onde coordena também a equipa de Comentadores; Solarte – a Arte no Solar; SoLar-Si-Dó - A Música no Solar; Canal de Divulgação do Solar, Casa do Poeta; SolarTV Online; Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa; Hora do Conto e O Melhor do Mundo, todos do grupo Solar de Poetas. A escrita é uma das suas paixões… Não se considera escritora nem poetisa, mas uma alma poética a vaguear pelo mundo... Se um dia deixar de sonhar, diz, deixa de existir. Livros editados: Rosa Jasmim (poesia), Capa do Mestre Adelino Ângelo – Julho 2018.

E-Books - Poesia Cantam os Anjos (poesia de Natal) – Capa de Adias Machado – Natal 2017; - Ucanha terra de encanto Poesia) - Capa: Glória Costa – Maio 2018; - Sinos de Natal, Natal de 2018; - Glosa, Arte e Poesia, Pinturas de Glória Costa, poesia da autora, Agosto 2019; - Entre Barros, Arte e Poesia Bordadas à Mão – pinturas de Bárbara Santos, poesia da autora, Outubro 2019; - Maviosa poesia, a arte de rialantero" Pintura de Silvana Violante; poesia da autora; Em Palhas Deitado – Poesia de Natal, Dezembro 2020.

E-Books - Contos Pétalas de Azul (contos) – Fevereiro 2019; - Estórias em Tons de Rosa (contos) Abril 2019; - Pena Rosada, Crónicas do Quotidiano, Julho 2019; - 12 Contos de Natal, 5


capa de Madalena Macedo - imagens com arranjos da autora, Natal 2019; - O Veado Solitário, na Aldeia do Chefe Lyn - Edição bilingue (português/italiano), Janeiro 2020; - Esperança no País do Arco Íris – Edição bilingue (português/italiano), Abril 2020; - O Menino da Lagoa Edição bilingue (português/inglês), Abril 2020; - A Menina Raposa, capa de Ana Cristina Dias; - Rufo, o Cãozinho desaparecido – Edição bilingue (português/espanhol), Abril 2020; - Ana Rita e o fascínio dos ovos – Maio 2020; - Milú, o Chapeuzinho que gostava de cirandar, Maio 2020; - Contos ao Luar, Maio de 2020; - Patusca, no Reino Misterioso - Edição bilingue (português/italiano), Maio 2020;- O bolo na casa da Avó Doroteia, Junho 2020; - Sonega, o Coelho Mandrião, Julho 2020; - Rosalina e a Sombra Rebelde, Julho 2020; - O Jardim em Festa, Julho 2020; - Ritinha, salva a Sereia Serena, Julho 2020; - Ana Clara, em tempos de pandemia, Novembro 2020; - Josefina, a menina que veio do mar, Novembro 2020; - Luizinho, protetor do ambiente, Novembro 2020; - A Girafa Alongadinha e a Pulga Salomé, Novembro 2020; O Dia de Natal, Dezembro de 2020; O Natal de Afonso; Dezembro de 2020; Um Milagre na Ilha Paraíso, Dezembro de 2020; Ventos de Mudança, Dezembro de 2020; Gisela e a Prenda de Reis, Janeiro de 2021; Dany, o Menino que queria sorrir – Janeiro 2021; Marquito, o menino irrequieto – Janeiro 2021; Joaninha, a menina que vendia balões – Janeiro 2021; Vicentina, uma avó aventureira – Fevereiro 2021; Juliana e os sapatinhos encarnados – Fevereiro 2021; Tomás, o Pinguim Desastrado – Fevereiro 2021; Silas e o Triunfo do Amor – Fevereiro 2021, Bogalha, a macaquinha irreverente – Março 2021; Janota, a 6


guardiã do ervilhal – Março 2021, Zâmbia, a macaquinha que queria casar – Março 2021; Tuly e o cavalinho de baloiço – Março de 2021, Maria, a menina que não conseguia dormir – Abril 2021; A Lenda da Menina Lua – Abril 2021; Estrela Silente, a Princesa cativa – Abril 2021, Marly, a pequenina duende – Abril 2021; Mariana no País do trevo Dourado – Maio 2021; Esperança e o sorriso do Palhaço – Maio 2021; Uma Aventura na Floresta Encantada – Maio 2021; Esmeralda, umas férias diferentes – Junho 2021; Raitira no Planeta Ricoicoi – Junho 2021; A lição do Dente-de-Leão – Julho 2021; Lino, o menino que sonhava ser astronauta – Julho 2021; Bia, Mitra e o Tufão Esperança – Agosto 2021; Sericaya, a Ponte Misteriosa – Agosto 2021; Timo, um ratinho irreverente – Agosto 2021; Pipinha, um resgate atribulado – Agosto 2021; Aline e o Pequeno Ratinho – Setembro 2021; Tia Felisberta regressa à Aldeia – Setembro 2021.

Histórias da Bolachinha Bolachinha em Tarouca (prosa e poesia) - Capa: Glória Costa - Maio 2018; - Bolachinha vai à Hora de Poesia Edição bilingue (português/ francês), Outubro 2018; Bolachinha vai à Casa Museu Mestre Adelino Ângelo Novembro 2018; - O Natal de Bolachinha, Natal 2018 Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de Teresa Subtil Edição bilingue (português/Mirandês), Fevereiro 2020; Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de José Sepúlveda - Edição bilingue (português/francês), Julho 2020.

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Aventuras de Maria Laura Maria Laura, a Menina da Página dezasseis, Agosto 2020; - Aventura no Castelo sem nome, Agosto 2020.

Diferentes mas iguais Tomás e o infortúnio de não ter mãos – Junho 2021; Lolita, a menina que não tinha pés – Junho 2021; Duda, o Menino que queria mudar o Mundo – Julho 2021.

Aventuras de Samir e os amigos Samir, o Ratinho – Um rasgo de coragem – Setembro 2021.

Distinções - 2º Prémio de Poeti Internazionali. Poema Rosa de Saron, no Concorso Artemozioni, Cantico dei Cantici In Valle d’Itria, Itália; Maio 2017. - 3º Prémio de Poeti Internazional - Itália. Com o poema “Violino”; 5° Biennale del Festival Internazionale Delle Emozioni, Itália - Maio 2019. - 10° Edizione Del Concorso Di Poesia e Narrativa: Prémio d’Onore Concurso de Premio Letterario Internazionale di Poesia “Gocce di Memoria“, Itália, Junho 2019 con la poesia Sfera di cristallo (Bola de Cristal).

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- Concorso “Il Meleto di Guido Gozzano” Sezione Autori di lingua straniera - ATTESTATO DI MERITO, 14 settembre 2019 com la poesia Assenza (Ausência). Itália, agosto de 2019. - Jogos Florais Vale do Varosa 2019 – Concurso Literário Tarouca - “O rio, o vale e as gentes”: Menção Honrosa, categoria de Poema. - Concorso di Poesia Internazionale " Gocce di Memoria" VI edizione 2020. - Menzione d'onore con la poesie “Il mio quadro” – (Meu quadro). Itália julho 2020. Segunda Classificada no Prémio Poeti Internazionali - 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesia-videopoesia e racconti dal titolo: Poesia Esteri “Ouve” (Ascolta) dezembro 2020. - Menzione di Merito de poeti Internazionali 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesia-videopoesia e racconti dal titolo: Racconti “Esmeralda” dezembro 2020.

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Ebook: https://issuu.com/rosammrs/docs Blog: https://romyflor.blogspot.com/p/blog-page.html 10


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Tia Felisberta regressa à Aldeia

São João da Pescaya era uma pequena aldeia do interior aonde, como em outras aldeias, havia grande entreajuda entre as pessoas que compunham a pequena comunidade Todos se conheciam entre si. Dona Gertrudes, a antiga funcionária do posto dos correios, sabia da vida de todos os habitantes, afinal, era ela que levava cada novidade ao pessoal da Aldeia. Felisberta, uma senhora que fazia transparecer alguma excentricidade, chegara à aldeia naquele dia primaveril e 12


todos a olhavam então com alguma desconfiança. Como viera ela parar a uma aldeia que quase se encontrava riscada do mapa? O que pretendia atingir com a sua vinda para ali? Ela, contudo, cruzava cada rua despreocupada, sempre carregando ao colo um pequeno felino pingado, tão ou mais excêntrico do que ela, um gatinho diferente, de uma raça que os habitantes do lugar não estavam habituados a ver.

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- Miau, miauu - ronronava Esse excêntrico gatinho Que Felisberta afagava Com ternura, com carinho. As gentes daquela Aldeia, Com cautela observava Mas que ela, a tudo alheia Calmamente ultrapassava. E o Pimake, bem feliz Nos braços de Felisberta, Sem ligar a olhares hostis, Ia olhando sempre alerta. Felisberta, espampanante, Olhava tudo ao redor E seguia confiante No lugar acolhedor.

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Mas o povo questionava-se entre si. O que procuraria ela ao vir para o seu cantinho? Gertrudes estava desejosa de tirar tudo aquilo a limpo, de descobrir quem era e o que queria da sua Aldeia. Gertrudes, tinha um perfil de alcoviteira e logo que lhe colocou os olhos em cima, lá foi ela a correr rua abaixo para perguntar ao presidente da junta se era permitido uma mulher desconhecida deambular por ali como que à procura de alguma coisa que desconheciam. 15


O doutor Januário, além de ser o presidente da junta, também era o médico da Aldeia, conhecia como as palmas das suas mãos cada um dos membros da pequena comunidade e sabia como os tratar dos receios e anseios. Gertrudes, esbaforida, entrou de rompante no consultório, sem sequer saudar a funcionária e alguns pacientes que ali estavam na sala de espera para uma consulta, programada ou de rotina. Empurrou a porta do gabinete do Doutor Januário e quase se estatela contra a parede.

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- Bom dia, Gertrudes - saudou o doutor Januário, retorcendo com as pontas dos dedos o farto bigode – Porque todo este alvoroço, mulher! - Bom dia, Doutor Januário – respondeu inquietada, sentando-se de seguida, mesmo antes que o médico a convidasse, dado o cansaço. Com toda a paciência, o doutor Januário olhou-a de cima a baixo e perguntou: - O que te traz por cá? Pareces preocupada. Num dia lindo como este, não devias estar no teu jardim a tratar das belas flores, a respirar o ar puro e a fragrância das rosas? Ou até a ouvir o chilrear dos passarinhos lá nas árvores, despreocupados? O que te apoquenta, mulher? Ou será que foste afetada por uma dessas maleitas que correm por aí e que só o tempo cura? - Vá, mulher, respira fundo e acalma. Já te disse diversas vezes que com a tua idade tens que levar as coisas com mais calma, sem tanta agitação. Qualquer dia, ainda te dá um achaque e vais desta para melhor.

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- Não se preocupe comigo, senhor doutor, só fiquei algo preocupada com essa senhora excêntrica que anda a calcorrear toda a aldeia, como se fosse propriedade sua. Diga-me, doutor Januário, que providências vai tomar para a fazer voltar lá para a sua terra? Há que zelar pelos bons costumes desta Aldeia, que não gosta de ser perturbada. - Que ideia, Gertrudes, se dizes que essa senhora excêntrica caminha lentamente pelas ruas da nossa Aldeia, o que queres que eu faça? Não é livre de vaguear por onde 18


quiser, enquanto espaço público? É um direito dela, nada posso fazer. Depois, onde está aquele espírito de hospitalidade sempre tão enraizado em ti? As gentes da nossa Aldeia sempre foram hospitaleiras e simpáticas para com aqueles que a visitam. E tu eras a primeira. Não, te entendo Gertrudes!

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- Que vai fazer, Presidente? Gente estranha aqui na Aldeia, Calcorreia calmamente, Alheia ao que a rodeia. - O que dizes, não entendo? Qual a estranheza, mulher? - Doutor, você não está vendo? É serigaita qualquer! Arrogante, senhor doutor, Veste tal qual um jardim, No chapéu usa uma flor De uma rosa e um jasmim.

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Alheia a tudo o que estava a acontecer, lá na Aldeia, a irreverente senhora caminhava sem se deixar perturbar. As crianças olhavam-na surpreendidas e até fascinadas. Nunca tinham visto algo assim, era diferente de todas as mulheres da Aldeia. Pipa e Mário, filhos do Doutor Januário, abordaram-na com cuidado. Queriam saber quem era e o porquê de andar ali por toda a Aldeia. - Bom dia, senhora, desculpe a curiosidade, o que a trouxe aqui à nossa pequenina Aldeia? Vamos ter uma 21


nova vizinha? Meu nome é Pipa e este é o meu irmão Mário, somos filhos do Doutor Januário, o médico e da enfermeira Mariquita Santiago. Por muito que os nossos pais nos avisem para não falar com desconhecidos, não conseguimos suster a curiosidade. Afinal, a sua face irradia simpatia e inspira-nos confiança.

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- Grata, lindos meninos. Chamo-me Felisberta há muito tempo que não visito este lindo e sossegado lugar. Será que me sabem dizer onde reside a professora Anacleta? - Anacleta? É a nossa professora? Porque deseja lá ir? – pergunta Mário. - Desculpe o meu irmão, D. Felisberta – interrompe a pequena Pipa - ele é muito curioso e às vezes até inconveniente. É da idade. Felisberta retorqui-lhes com um sorriso, sob o protesto de Mário que, desagradado, responde à irmã. - Homessa, eu não sabia que a curiosidade tem idade! - Tem sim, maninho, bem que o nosso paizinho sempre repete: Com o passar da idade, isso passa, deixas de ser curioso. - Se o vosso pai diz isso, com certeza que lá terá a sua razão. Mas, vamos ao que interessa. Será que me vão dizer onde fica a casa da professora Anacleta? - Vamos sim, vamos-lhe indicar o caminho, ou melhor, vamos acompanhá-la até lá. Na verdade, era para lá que nos dirigíamos, para brincar com a Ritinha, a sua filha é a minha melhor amiga.

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- Desçamos o quarteirão Até à Casa Amarela Que tem um grande portão, Na chaminé, uma estrela - Anacleta e a filhinha Cedo vão p’ra caminhar A Rita, nossa amiguinha Irá connosco brincar. 24


Mas diga-me, por favor, Pensa por aqui ficar? Pois fique e se assim for, Vai gostar de aqui morar. Anacleta, a professora, É gentil, gostamos dela. Pois desde que aqui mora, A nossa Aldeia é mais bela. - Mas que gatinho tão belo! Qual é seu nome, Senhora? - Gatinho? Só vejo o pelo Perdido na sua gola! - Eu nunca vi gato assim, Às risquinhas, multicor, Bichaninho, vem a mim Pois quero-te ver melhor. - Pimake é o nome seu, Elegante, diferente, Um dia, ao cair do céu, Ficou comigo para sempre.

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O pequeno felino não se fez de rogado e saltou para o colo de Mário, ronronando. Pipa acariciava-o, encantada, amaciando-lhe a farta pelugem. Enquanto isso, o pessoal da Aldeia seguia discretamente os passos da senhora que apareceu de repente logo bem de manhã. Quem seria? O que desejaria da Aldeia? Quando se aperceberam das duas crianças ali perto de si, redobraram os cuidados para verem o que podia acontecer e obviar a qualquer imponderável. 26


Mas estas, despreocupadas, brincavam com o amistoso gatinho que não parava de ronronar no colo de Mário continuando descontraídas a sua caminhada até à casa da professora Anacleta e da pequena Ritinha. E eis que chegam. A Casa Amarela tinha um grande portão, ao lado do qual havia uma sineta pendurada. Lá estava a enorme estrela no topo da chaminé. Dona Felisberta estava encantada com a bela mansão.

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- Casa linda para mim, Vou gostar de aqui morar E neste belo jardim Pimake pode brincar. Lançou a mão à sineta E eis que ninguém abriu E uma linda borboleta Voou, mas se escapuliu. O gatito multicolor Logo para o chão saltou Correu com todo o fulgor E pela janela entrou. A borboleta saltava De uma flor à outra flor Quando Anacleta chegava E a abraçava com dulçor. - Minha tia tão querida, Ainda bem que vieste. Ritinha, estás crescida! - E o Pimake, trouxeste? Vem aqui, gatinho lindo Com tal carinho o chamava E logo ele, surgindo, Já p'ra seu colo pulava 28


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- Meu gatinho lindo, que bom te ver! Já tinha muitas saudades tuas! - Tia Felisberta – acresceu Anacleta - como estás, minha adorada tia? Como estamos gratas por teres aceite o convite para estas férias connosco. - Ritinha minha sobrinha querida, como estás crescida! Já estou a adivinhar os muitos passeios que juntas vamos dar e gozar as brincadeiras que só nós sabemos apreciar – disse Felisberta, abraçando-a com um carinho desmesurado. 29


De lá de longe, o pessoal da aldeia – qual grupo de detetives, assistia a tudo surpreendido. Afinal, o mistério da estranha senhora que viera pela manhã parecia agora desvendado. Olhando-a com novo olhar aquela senhora, ainda que vestida de forma diferente, parecia-lhes agora simpática e bem falante. Ai, quando Gertrudes soubesse, ainda haveriam de gostar de apreciar a sua atitude, ia ser giro! Tinham a certeza que a partir daí, ela quereria ser a primeira a fazer-se amiga da dama excêntrica!

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Pipa e Mário estavam felizes por assistir àquele reencontro de família. Certamente, haveria já muito tempo que não se encontravam. - Mário, vamos embora, temos que os deixar gozar os seus momentos de felicidade - disse Pipa. Enquanto se iam afastando, ouviram a voz da professora Anacleta que lhes dizia: - Obrigada, Mário e Pipa, mas não se retirem por favor, cheguem-se a nós, queremos partilhar convosco estes momentos felizes. A Tia Felisberta criou-me como se fosse sua filha, desde que perdi os meus pais. Tinha então a vossa idade. Fui a única a escapar do acidente trágico que os vitimou. A partir daí, foi ela a minha nova mãe. - Como foi possível a gente da nossa Aldeia não ter reconhecido a Tia Felisberta? Afinal, ela nasceu nesta Aldeia. É certo que a deixou há muitos anos. Quando se aperceberam de quem se trata, vão gritar de estupefação!

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- Prazer em vos conhecer, Meninos do Januário, Tudo muda, é bom de ver, Só não muda o calendário. Na minha simplicidade Aqui vivi na infância, A mesma gente, amizade, No ar a mesma fragrância. 32


Sigo com curiosidade Como se vão comportar Ao saberem da verdade De que sou deste lugar. - És filha da nossa Aldeia, Férias vieste passar, A casa vai ficar cheia, Uma festa vamos dar. A Ritinha e os amiguinhos Vão falar com o presidente E não vão faltar motivos Para unir a nossa gente. Nasceste e aqui brincaste Até ires p’rá cidade Professora te tornaste Com labor e com vontade. …

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Entretanto, no gabinete do doutor Januário, este não se poupava a esforços para tentar incutir algum decoro na cabecinha meia oca de Gertrudes que, irreverentemente, segurava o braço do médico e o tentava arrastar, dizendo alto e bom som: - Que atitude é essa, doutor, que não quer saber do que se passa na Aldeia? - Ai, ai, doutor, nas próximas eleições, não sei, não! O pessoal não vai gostar que o senhor não tome as providências necessárias para colocar essa serigaita daqui para fora. 34


- Que desplante, mulher! Que parvoíce é essa? - Andar-se por aí a pavonear-se como se a Aldeia fosse dela! Gertrudes mal cabia em si, tal o desalento que sentia. Por fim, Januário, como via que nada conseguia fazer para a demover desse comportamento, pensou que o melhor mesmo era ir ver o que se estava a passar. Saiu do gabinete, e lançou-se rua fora, logo seguido pelos passos apressados de Gertrudes que disfarçadamente sorria por ter conseguido levar a bom porto a sua iniciativa.

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Januário dirigiu-se então a Maria Laura, a funcionária do posto médico, e disse-lhe: - Maria Laura, vou me ausentar por alguns minutos. Informa os pacientes que não vou demorar. - Vem, Gertrudes, vamos lá resolver o teu problema. - O meu problema, doutor? Eu não tenho nenhum problema, o senhor presidente é que tem! Anda por aí uma desconhecida a pavonear-se pela Aldeia e o senhor diz que eu tenho um problema? Ali perto, Pipa, acompanhada pelo irmão, quase sem folego, gritava. 36


- Paizinho, paizinho! - Então meninos o que aconteceu? Algum problema com a professora Anacleta? - Não! - respondeu a Ritinha com ar feliz – Está tudo bem. - Então o que aconteceu, meninos, porque correm e o porquê de tanta excitação? - A Avó da Ritinha acabou de chegar à Aldeia, vem passar uns dias aqui com a nossa professora que é sua sobrinha. Mas se é tia da professora Anacleta, como pode ser tua Avó, Ritinha? - pergunta Gertrudes curiosa.

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- Se é tia da professora Como ser tua Avozinha? Alguém me explique agora! Questionava a menina. A Avozinha é tia minha, Gosto de a tratar assim Explicou a Ritinha É minha Avozinha, sim. 38


- Está bem mesmo assim o que vem fazer aqui? Ela não é de cá! - É sim, pai. É por isso que a professora Anacleta nos recomendou que lhe pedíssemos para que avisasse todos os residentes da Aldeia que logo à noite vai haver uma festa na Casa Amarela e que toda a gente se pode ali juntar em grupos para participar. Ela quer aproveitar o momento para apresentar a Avozinha da Ritinha ao povo. Pode ser, paizinho? Ela, afinal, faz também parte 39


da nossa comunidade. Ela pediu-me também para lhe dizer que gostaria de falar consigo para combinar tudo. - Está bem, filha, irei ter com ela e ver o que deseja, afinal, ela merece, é uma das forças vivas da nossa terra.

- A Aldeia vou avisar Dessa festa de hoje à noite, Sei que irão participar. Disse Gertrudes afoite. 40


Caminhava bem ligeira E as novidades levava Enquanto que a terra inteira Novidades esperava. - Amiga, que aconteceu? Perguntava Leila aflita. E a novidade lhes deu. - Eu também vou… e bonita! Logo, se despachou Leila Sem ter mais tempo a perder Encontra outra amiga e ei-la E vão p’ra casa a correr Ia conhecer a dama No dia homenageada, É a vontade que a chama Para essa noite almejada.

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O dia passou veloz, cada fração do tempo parecia agora suspensa num fino fio de arame, pronto a quebrar a cada instante. Os preparativos para a festa sucediam-se. As aldeãs prepararam com afinco as saborosas iguarias da sua tradição, quando noutros tempos se deslocavam para festas e romarias, ou para as quermesses do Padre Hilário. Eis que finalmente chega o momento desejado. Em pequenos grupos, o povo foi-se aglomerando ao redor da 42


grande Casa Amarela. Finalmente, iam conhecer a personagem misteriosa que chegara à Aldeia. A curiosidade era visível em cada rosto. O portão da Casa Amarela estava escancarado de par em par e a ocupação do vasto jardim foi-se fazendo sem atropelos, ordenadamente. Por fim, apareceu a professora Anacleta: - Boa noite, meus amigos, muito grata pela presença de todos vós. Hoje quero apresentar-vos a minha querida Tia Felisberta.

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- Felisberta? Lembro-me bem desse nome! – segredou Gertrudes. - Também me é muito familiar! – acrescentou Leila prontamente. - Já lá vai muito tempo que havia aqui na Aldeia, uma nossa amiga que tinha esse nome, que será feito dela? Saudades desses tempos que juntas brincávamos até perder as forças. Um dia, foi para a capital com os pais e nunca mais voltou! – dizia saudosa Gertrudes. E logo, Anacleta continua: - Chegou agora a hora de passar a palavra à Tia Felisberta. Ouçamo-la: - Boa noite, minhas amigas – disse com voz tremulante já se passaram tantos anos. Como me sinto feliz por regressar, sentir de novo a alegria da vossa companhia, da vossa amizade - Como estou feliz! Sim, Gertrudes e Leila, não pude deixar de me aperceber da vossa troca de palavras, sou eu, a amiga que nunca vos esqueceu e agora que regressei ao vosso convívio, quero reviver de novo as nossas aventuras. Trago comigo projetos para este nosso cantinho, conto convosco para os concretizar. Vamos dar as mãos e trabalhar unidas a bem da felicidade da nossa gente e do progresso da nossa Aldeia.

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- Vi vossa curiosidade, Não sabiam quem eu era, Hoje voltei da cidade Sem ninguém à minha espera. Mas eu sou a Felisberta Que aqui morou um dia A minha alma está desperta Para espalhar alegria.

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Nesta linda primavera, Com uma noite tão bela, Me parece uma quimera Ver lá no céu tanta estrela. A vida são fragmentos De uma outra madrugada Que foi levada por ventos Que os transformou em chegada.

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Emocionados pelas palavras de Felisberta, logo foram recordando e partilhando as aventuras da infância, dessa infância feliz tão enraizada ainda nos seus corações. E logo, as crianças da Aldeia rodearam Felisberta e lhe pediram: - Conta, Avó, conta-nos as tuas histórias, faz-nos conhecer os estilhaços de vida que contigo levaste quando foste para a cidade. - Conto, sim. Sentem-se aqui à volta. Terei todo o prazer em relembrar as histórias que vivemos neste Vale Encantado. Lá vai a primeira: … Era uma vez uma pequenina cabritinha que gostava de viajar…

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