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Uma Aventura na Floresta Encantada
Conto
Rosa Maria Santos 2
Ficha Técnica
Título Uma Aventura na Floresta Encantada Tema Conto Autora Rosa Maria Santos Capa Arranjo de José Sepúlveda Ilustrações Rosa Maria Santos Revisão de textos e Formatação José Sepúlveda Publicado por Rosa Jasmim Edições
Editado em E-book em Maio 2021 https://issuu.com/rosammrs/docs 3
Rosa Maria Santos Naturalidade – S. Martinho de Dume, Braga. Muito pequena, foi viver para a freguesia de Maximinos. A base do seu equilíbrio emocional está no seio familiar. É na família que encontra a alegria de viver. Viveu na Costa Litoral Alentejana, em Sines, trinta e um anos, tendo regressado em 2017, à cidade que a viu nascer, Braga. Participou em diversas coletâneas de Poesia, portuguesas, italianas e brasileiras. É Colunista no site Divulga Escritor, possuindo também uma rubrica na Revista com o mesmo nome. Foi assistente de produção e recolha na coletânea de postais do grupo Solar de Poetas, Poeta Sou…Viva a Poesia; participou nas coletâneas de poemas e postais de Natal do mesmo grupo: Era uma vez… um Menino; Nasceu, É Natal; Não Havia Lugar para Ele; Vale do Varosa: Uma Tela, um Poema, do Solar de Poetas, para promoção do Evento: Tarouca Vale a Pena; Belém Efrata; Então, Será Natal; Vi Uma Estrela, todas editadas em e-Book; O Presépio de Marco – inspirado nas imagens do presépio de Natal 2019, elaborado por Marco Penna e seus familiares; Quando o Menino Chegar – Coletânea de Poesia de Natal de 2020. 4
É Administradora dos grupos: Solar de Poetas, onde coordena também a equipa de Comentadores; Solarte – a Arte no Solar; SoLar-Si-Dó - A Música no Solar; Canal de Divulgação do Solar, Casa do Poeta; SolarTV Online; Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa; Hora do Conto e O Melhor do Mundo, todos do grupo Solar de Poetas. A escrita é uma das suas paixões… Não se considera escritora nem poetisa, mas uma alma poética a vaguear pelo mundo... Se um dia deixar de sonhar, diz, deixa de existir. Livros editados: Rosa Jasmim (poesia), Capa do Mestre Adelino Ângelo – Julho 2018.
E-Books - Poesia Cantam os Anjos (poesia de Natal) – Capa de Adias Machado – Natal 2017; - Ucanha terra de encanto Poesia) - Capa: Glória Costa – Maio 2018; - Sinos de Natal, Natal de 2018; - Glosa, Arte e Poesia, Pinturas de Glória Costa, poesia da autora, Agosto 2019; - Entre Barros, Arte e Poesia Bordadas à Mão – pinturas de Bárbara Santos, poesia da autora, Outubro 2019; - Maviosa poesia, a arte de rialantero" Pintura de Silvana Violante; poesia da autora; Em Palhas Deitado – Poesia de Natal, Dezembro 2020.
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E-Books - Contos Pétalas de Azul (contos) – Fevereiro 2019; - Estórias em Tons de Rosa (contos) Abril 2019; - Pena Rosada, Crónicas do Quotidiano, Julho 2019; - 12 Contos de Natal, capa de Madalena Macedo - imagens com arranjos da autora, Natal 2019; - O Veado Solitário, na Aldeia do Chefe Lyn - Edição bilingue (português/italiano), Janeiro 2020; - Esperança no País do Arco Íris – Edição bilingue (português/italiano), Abril 2020; - O Menino da Lagoa - Edição bilingue (português/inglês), Abril 2020; - A Menina Raposa, capa de Ana Cristina Dias; - Rufo, o Cãozinho desaparecido – Edição bilingue (português/espanhol), Abril 2020; - Ana Rita e o fascínio dos ovos – Maio 2020; - Milú, o Chapeuzinho que gostava de cirandar, Maio 2020; - Contos ao Luar, Maio de 2020; - Patusca, no Reino Misterioso - Edição bilingue (português/italiano), Maio 2020;- O bolo na casa da Avó Doroteia, Junho 2020; - Sonega, o Coelho Mandrião, Julho 2020; - Rosalina e a Sombra Rebelde, Julho 2020; - O Jardim em Festa, Julho 2020; - Ritinha, salva a Sereia Serena, Julho 2020; - Ana Clara, em tempos de pandemia, Novembro 2020; - Josefina, a menina que veio do mar, Novembro 2020; - Luizinho, protetor do ambiente, Novembro 2020; - A Girafa Alongadinha e a Pulga Salomé, Novembro 2020; O Dia de Natal, Dezembro de 2020; O Natal de Afonso; Dezembro de 2020; Um Milagre na Ilha Paraíso, Dezembro de 2020; Ventos de Mudança, Dezembro de 2020; Gisela e a Prenda de Reis, Janeiro de 2021; Dany, o 6
Menino que queria sorrir – Janeiro 2021; Marquito, o menino irrequieto – Janeiro 2021; Joaninha, a menina que vendia balões – Janeiro 2021; Vicentina, uma avó aventureira – Fevereiro 2021; Juliana e os sapatinhos encarnados – Fevereiro 2021; Tomás, o Pinguim Desastrado – Fevereiro 2021; Silas e o Triunfo do Amor – Fevereiro 2021, Bogalha, a macaquinha irreverente – Março 2021; Janota, a guardiã do ervilhal – Março 2021, Zâmbia, a macaquinha que queria casar – Março 2021; Tuly e o cavalinho de baloiço – Março de 2021, Maria, a menina que não conseguia dormir – Abril 2021; A Lenda da Menina Lua – Abril 2021; Estrela Silente, a Princesa cativa – Abril 2021, Marly, a pequenina duende – Abril 2021; Mariana no País do trevo Dourado – Maio 2021; Esperança e o sorriso do Palhaço – Maio 2021; Uma Aventura na Floresta Encantada – Maio 2021.
Histórias da Bolachinha Bolachinha em Tarouca (prosa e poesia) - Capa: Glória Costa - Maio 2018; - Bolachinha vai à Hora de Poesia - Edição bilingue (português/ francês), Outubro 2018; - Bolachinha vai à Casa Museu Mestre Adelino Ângelo - Novembro 2018; - O Natal de Bolachinha, Natal 2018 Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de Teresa Subtil - Edição bilingue (português/Mirandês), Fevereiro 2020; - Bolachinha e a Hora de Poesia, a visita de José Sepúlveda - Edição bilingue (português/francês), Julho 2020. 7
Aventuras de Maria Laura Maria Laura, a Menina da Página dezasseis, Agosto 2020; - Aventura no Castelo sem nome, Agosto 2020.
Distinções 2º Prémio de Poeti Internazionali. Poema Rosa de Saron, no Concorso Artemozioni, Cantico dei Cantici In Valle d’Itria, Itália; Maio 2017. 3º Prémio de Poeti Internazional - Itália. Com o poema “Violino”; 5° Biennale del Festival Internazionale Delle Emozioni, Itália - Maio 2019. 10° Edizione Del Concorso Di Poesia e Narrativa: Prémio d’Onore Concurso de Premio Letterario Internazionale di Poesia “Gocce di Memoria“, Itália, Junho 2019 con la poesia Sfera di cristallo (Bola de Cristal). Concorso “Il Meleto di Guido Gozzano” Sezione Autori di lingua straniera - ATTESTATO DI MERITO, 14 settembre 2019 com la poesia Assenza (Ausência). Itália, agosto de 2019. Jogos Florais Vale do Varosa 2019 – Concurso Literário Tarouca - “O rio, o vale e as gentes”: Menção Honrosa, categoria de Poema. Concorso di Poesia Internazionale " Gocce di Memoria" VI edizione 2020. Menzione d'onore con la poesie “Il mio quadro” – (Meu quadro). Itália julho 2020. 8
Segunda Classificada no Prémio Poeti Internazionali 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesiavideopoesia e racconti dal titolo: Poesia Esteri “Ouve” (Ascolta) dezembro 2020. Menzione di Merito de poeti Internazionali 11ª. Edizione del Concorso Internazionale di Poesia-videopoesia e racconti dal titolo: Racconti “Esmeralda” dezembro 2020. Ebook: https://issuu.com/rosammrs/docs
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Uma Aventura na Floresta Encantada
Na Floresta Salanica, ninguém ousava penetrar, tal era a sua densa mata de árvores exóticas e únicas. Diziam os mais velhos que quem lá entrasse jamais regressava à Aldeia e por isso, os lenhadores, receosos, respeitavam lembravam-se da lenda e jamais atravessavam aquela linha vermelha, delimitando assim aquele espaço. Não muito longe da Floresta Salanica, havia uma pequena Aldeia de lenhadores, agricultores e pescadores aonde cada um sabia fazer um pouco de tudo, modo 10
como conseguiam ultrapassar as dificuldades com que deparavam cada dia. Sempre com a mente na velha lenda, acatavam com rigor os conselhos dos mais velhos transmitidos ao longo das suas gerações: quem ousasse entrar na Floresta, jamais sairia de lá. Quando o sol se punha no Horizonte, os lenhadores atravessavam o rio numa pequena embarcação e regressavam a casa depois do habitualmente árduo dia de trabalho.
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Mais um dia que acabou E um compromisso cumprido O pessoal regressou Mais cansado e aturdido. Debaixo desse calor Não é fácil trabalhar E a família o propulsor Para o calor suportar. As crianças, recatadas, A seus pais obedeciam E a horas determinadas No seu lar se recolhiam. Com essa orientação Nada havia a responder, Seguiam a tradição Que era aos pais obedecer.
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Na Aldeia, o recolher a casa era cumprido com rigor. Logo que o sol despontava atrás do velho carvalho, toda a Aldeia recolhia aos lares, só se atrevendo a sair de novo quando o dia de novo surgisse no horizonte. Era uma Aldeia algo ventosa. Havia dias que o rugir do vento mais se assemelhava a gemidos de pessoas que, segundo contava a lenda, eram clamores daqueles que tinham ousado atravessar a linha proibida, fosse por negligência ou por curiosidade. Na Floresta Salanica havia uma parte de vegetação e árvores que os lenhadores podiam cortar e tratar. O 13
restante território, aonde cresciam as tais espécies nativas de árvores, protegidas por espinhos e lianas, ali, ninguém se devia atrever a chegar. Não era só o receio de lianas ou espinhos, mas o receio do que poderia acontecer quando se aproximassem. Corria de boca em boca uma velha lengalenga que alertava para os riscos e ninguém ousava arriscar a uma ida ao lugar. Cada fim de tarde, não fosse alguém esquecer-se, o relógio da Igreja da Senhora da Aflição anunciava o momento de regresso ao lar e fossem crianças ou adultos, ordenadamente, todos obedeciam.
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- Eis que o sino está a tocar, É a hora do descanso, Vamos lá nos despachar, Já demos um bom avanço. É a hora do sol-pôr, Ao lar vamos regressar, Depois de tanto calor, É bom regressar ao lar. Não se vive só de pão, Mas há muito a agradecer: Muita paz, muita afeição, Alegria de viver. É nossa perseverança Viver na paz do Senhor Com fé e com esperança Num amanhã bem melhor. Vamos respeitar, manter, A família em união, Os problemas resolver Com amor no coração.
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De alfaias às costas, cada família regressava a casa cantarolando as ancestrais cantilenas. Era tão bom o momento de regresso depois de um árduo dia de trabalho! Assim havia de ser, segundo a tradição, a lenda da Floresta Encantada. Seguros da educação que lhes tinham dado, os pais sabiam que os filhos obedeceriam com rigor às suas orientações, não havia pois motivos para ficarem preocupados. Depois de entrar em casa, fechavam-se portas e janelas, conforme a tradição. E com este ritual bem vivo, nada acontecia de mal na pacata Aldeia. Lembravam
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o respeitado Ancião quando contava que na sua infância, um dia desaparecera um menino e nunca mais fora encontrado. Uma vez por mês havia lá na Aldeia uma reunião com a presença de toda a gente, a fim de cada um apresentar as suas experiências ou dificuldades. Era assim que partilhavam o seu saber. Nesses dias, as crianças ficavam até mais tarde a ouvir contos de uma das mulheres mais experientes, enquanto os mais velhos discutiam e distribuíam tarefas sociais uns com os outros. Certo dia, num desses serões, cinco dos aldeões não se conseguiram reunir na Casa da Comunidade - assim chamavam ao lugar que haviam construído para esse fim – a fim de confraternizarem entre si.
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- Neste dia ledo e frio, Dia de confraternizar, Vamos cruzar nosso rio Um barco nos vai levar - Está tudo preparado Para a nossa reunião! – Olhavam pra todo o lado Mas nada de embarcação. - O que foi que aconteceu? Alguém a terá levado! Já o sol já se escondeu, Não a temos encontrado. O tempo estava abafado, Não sabiam que fazer - O caldo está entornado, Estava quase a anoitecer. - Para casa havemos de ir, Aqui não vamos ficar Vamos todos nos unir E o barco procurar.
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E foi ali que pernoitaram, unidos uns aos outros, para melhor aconchego. Era a primeira vez que iam passar uma noite juntos, ao relento, expectantes, sem saber o que iria acontecer. A noite chegou e envoltos naquele clima de magia, usufruíram em conjunto dos sons da noite. As corujas que voavam à procura de alimento, os pirilampos que iluminavam a noite escura, o coaxar das rãs perto do rio. O céu era agora um manancial de breu polvilhado de estrelas a cintilar. Era a magia da noite no seu esplendor. Aconchegaram-se
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na terra fria, na tentativa de se aquecerem uns aos outros. E foi então que no fulgor da noite sob o olhar estupefacto de cada um, uma das exóticas e gigantescas árvores se abriu e do seu seio surgiu uma criança que logo os convidou a entrar no seu mundo de encanto. Os cinco homens que assistiam, olhavam-na espantados, e esfregavam os olhos como se não acreditassem no que estavam a ver. Abriram de novo os olhos, enquanto a criança, insistentemente, os continuava a chamar, acenando com as mãos. Os homens entreolhavam-se interrogativos, sem saber como reagir.
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Uma criança os chamava, Não sabiam como agir, E o mais velho acrescentava: - Nada nos vai fazer desunir. - Venham a mim, por favor, Um mundo novo os espera, Cá não há tristeza ou dor, Meu mundo é uma quimera. Um lugar sem sofrimento, Com crianças sem maldade, Uma corrida no tempo Em nova realidade. Quem entrar vai ser feliz, Vai querer ficar p’ra sempre É tão bom ser-se petiz Hoje e sempre, eternamente.
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Aturdidos com a inesperada visão, olharam-se de novo e resolveram deitar-se. Acomodaram-se como puderam, fecharam os olhos e placidamente adormeceram, entrando cada um num sonho estranho. Gino, um dos lenhadores sentiu-se a ser puxado por cinco gatos selvagens, de cores garridas. Três tinham a pele recheada de bolas, dois restantes eram riscados. Parecia um sonho tão real! Olhou os seus pés. Estes eram então uns pés de criança que se escondiam nuns sapatos gigantes. As mãos, antes grandes e calejadas,
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eram agora pequenas. As suas roupas ficaram enormes. Foi então que uma linda menina se aproximou e lhe disse: - Veste estas roupas, são bem mais confortáveis. Vais gostar de viver aqui, não te preocupes, cá vais encontrar tudo o que precisas. O meu nome é Marly. Um dia fui como tu eras antes de chegar, uma mulher adulta e rodeada de problemas. Aqui sou uma criança feliz. Vais-te sentir bem aqui, acredita. Olha ao teu redor, o que vês?
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- Não sei bem definir, parece o paraíso. Mas não quero ficar, quero regressar ao meu mundo aonde tenho meus filhos, minha esposa, meus amigos. - Não vás, fica aqui, em nossa companhia! - Não posso ficar, nada me faz mais feliz do que viver com a minha família, os meus amigos, o meu trabalho! De repente, ouviu a voz da esposa que tentava despertá-lo: - Gino, meu amor, volta para mim, vê os teus filhos, eles precisam de ti! Não podes ir embora, entraste na Floresta Encantada e quem lá entra, não mais consegue sair. - Como iria eu entrar? Não entrei, não, estava a dormir ao relento com os meus quatro amigos. A nossa embarcação desaparecera. Foram vocês que a levaram? … Amanheceu na Floresta Salanica. O pessoal da Aldeia tinha passado uma noite em constante sobressalto. As crianças andavam agitadas. Logo que o sol raiou, as gentes da Aldeia deslocaram-se para junto do rio para ver o que tinha acontecido aos cinco lenhadores que não conseguiram atravessar o rio.
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- Gino acorda, somos nós, Estão fora deste mundo, Escutem a nossa voz, Saiam do sono profundo! - O barco desapareceu. Quem o terá escondido? - Envolveram-se no breu, Vivem num tempo perdido.
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Vamos levá-los para casa! O nosso amor e carinho Nada há que os desfaça, Assim é nosso destino. - Acorda, paizinho, acorda Está na hora de acordar. Gino quer sair p’la porta, Não tem força para andar. Então, lembra os seus filhinhos Co’as lágrimas a fluir. E ao sentir os seus carinhos Do seu sono quer sair. Uma voz no infinito, Gino, o seu nome, chamava Parecia ouvir seu grito Mas nem isso o acalmava.
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Antunes, o ancião da aldeia, seguia agora à frente de um grupo de lenhadores. Estes, logo que avistaram os cinco homens ali encostados como cordeirinhos, chegou-se e chamou o líder dos cinco homens. - Gino, acorda, pá, sou o Antunes? – chamava, dandolhe leves palmadas no rosto. Gino nem se mexia, dormia ainda profundamente. Em seguida, aproximou-se do seguinte lenhador do grupo: - Rocha, acorda Rocha! … e do outro… - Então Manel, vais ficar a dormir o dia todo? … e de outro … 27
- Mário, ficaste de me arranjar a janela lá de casa … e por fim do último… O que te aconteceu Miranda? Pareces uma criança com sono. … e dirigindo-se a todos… - Acordem homens, o que se passa convosco? Por fim, desalentado, virou-se para os presentes e desabafou: - Não os consigo acordar, parece que estão entre este e o outro lado. Vamos levá-los para casa. Vamos lá, crianças, ajudem as vossas mães a carregar os vossos pais para casa.
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Envoltos em sofrimento, Não sabiam o que fazer, Era esperar o momento, Ver o que ia acontecer. Mas tinham que regressar. Precisavam ter cuidado, Na sua cama os deitar E esperar a seu lado. Nunca antes se assistira A algo assim semelhante. Logo, um menino saíra Com uma ideia brilhante Ir à floresta encantada E ajudar o seu paizinho, Daria com a entrada Fosse qual fosse o caminho.
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E foi assim que os filhos dos cinco lenhadores resolveram juntar-se e sair noite dentro na tentativa de encontrar a famigerada porta que os fizessem entrar na Floresta Encantada. Só assim poderiam desvendar o segredo e trazer de volta os seus tão queridos progenitores, não era nada bom vê-los assim, vegetando, como que sem vida, sem poder falar ou trabalhar. Depois de consertarem o seu plano, as seis crianças saíram de casa, logo que sentiram as progenitoras a dormir. A noite era para eles um mundo desconhecido, 30
nada sabiam dos mistérios, mas para bem da família, tinham que descobrir como entrar na Floresta Encantada, apesar de conscientes dos riscos. A vida dos pais estava agora nas suas mãos.
- Cuidado, deem as mãos E vamos à descoberta O barulho, a confusão, São motivos para alerta.
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Caminhavam apressados Tudo era novo p’ra eles, Riscos por todos os lados Não queriam pensar neles. - Prestem todos atenção, O caminho é muito escuro, Não perder a direção Torna tudo mais seguro. Os bons Pirilampos mágicos Ei-los ali a brilhar Para não tornar mais trágicos Todos os passos a dar. Quando chegaram à linha, As árvores se ajeitaram E abriu-se uma portinha Onde os meninos entraram.
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Um dos Pirilampos que lhes iluminou o caminho deralhes uma senha em forma de cantilena e disse-lhes: - Quando chegarem e entrarem na porta da Floresta Encantada, fechem os olhos, deem as mãos e cantem em voz uníssona esta velha cantilena. Depois, ao acabarem, mantenham os olhos fechados. Mesmo que vos digam para os abrir, não os abram, pois se os abrirem jamais regressaram à vossa Aldeia.
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- Ao passar por essa porta, O meu mundo vou deixar; O passado pouco importa, Eu sei que vou regressar. Um passo mais para a frente, Outro passo para trás E fixar na minha mente De que tudo sou capaz.
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O meu pai venho buscar, Quero tê-lo junto a mim, Não me vou amedrontar, Este drama está no fim. Quando do Reino sair, Aqui não hei de voltar E vou na Aldeia surgir Com o meu pai a cantar. Com meus olhos bem fechados Vamos essa porta abrir Com vigor, determinados De que vamos conseguir.
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Ao chegarem à linha de segurança, as lianas das árvores exóticas se elevaram, os espinhos se acolheram e a porta encantada se abriu de par em par. Logo, as crianças entrelaçaram as suas mãos e cantaram determinadas a cantilena que o seu amigo Pirilampo lhes ensinara. A seguir, uma voz se fez ouvir: - Seis crianças na nossa Floresta Encantada, mas que surpresa! - Olha, olha, temos visitas. – seguiu-se outra voz. - Abram os olhos, vejam o paraíso que têm ao redor? - Estamos bem assim – responderam numa só voz. - Quem são? O que procuram na Floresta Encantada? - Queremos de volta os nossos pais. Na verdade, eles nem sequer aqui entraram, só mergulharam num sonho estranho do qual não conseguem sair. Porque fizeram isso com eles? Agora, ei-los em casa, mas prisioneiros do vosso mundo. Queremo-los de volta! - Se abrirem os vossos olhos, nós libertá-los-emos, é essa a condição. - Nunca! Não desejamos aqui ficar também prisioneiros! Soltem-nos, precisamos deles connosco!
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- Muito bem. Vamos fazer um acordo. Eu sou a Marly, a guardiã do lugar. Aqui ao meu lado, tenho a Pegy e o Manicas. - Pois bem, qual é o acordo? Eu sou o Toninho, o meu irmão Tiago, e os nossos amigos a Lina, o Mané, o Litos e a Gina. Como podemos levar os nossos pais de volta? Fala lá no acordo que pretendes, temos pressa em voltar. Cá por nós, aqui vai a nossa proposta: - Podíamos juntar os nossos mundos, a nossa Aldeia à vossa Floresta Encantada, e tornar-nos-íamos uma 37
grande família e contaríamos assim com a reciprocidade da vossa parte. O que dizem? - Não sei se a proposta é vantajosa para nós. Afinal, aqui temos tudo o que precisamos. Abram os vossos olhos e vão ver que é verdade. - Nessa de abrirmos os olhos, não vamos cair, não! Não é bom para nós. Temos uma família na Aldeia que nos espera. Diz-me, Marly, tinhas família antes de vir aqui parar? - Na verdade, tinha, mas os problemas eram tantos que acabei por decidir por aqui ficar. Mas, apesar de todas as dificuldades, sinto saudade.
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- Saudades, estas saudades Que me fazem recordar Que a maior necessidade Nós devemos enfrentar. Quem nunca teve alegria Por momentos que viveu, Sente agora a nostalgia De não ter o que era seu. Nunca queiras esquecer O que um dia já sofreste, A dor vai permanecer Mesmo num lar como este. Ao lembrar o meu passado E os meus entes queridos, Quero sentir-me a seu lado, Jamais vão ser esquecidos. Para te falar verdade, Numa escolha que se faz Não se perca a liberdade Para se viver em paz.
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- Sabes o que era bom para todos? – acrescentou Toninho. - Quem me dera saber! – replicou Marly – O que pensas que seria bom? - Se nos uníssemos no mesmo ideal de felicidade, a Aldeia e Floresta Encantada poderiam viver em paz e harmonia, nós vínhamos aqui quando desejássemos e vós poderíeis ir à nossa Aldeia sempre que desejassem. O que achas da ideia? - Não é assim tão fácil, Toninho, tu e os teus amigos, não confiam em nós, nem sequer abrem os olhos!
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- Como poderíamos abrir os olhos se logo corríamos o risco de ficar aqui presos para sempre? - Prometo que não ficam presos e para que confiem, vamos libertar os vossos pais. Na verdade, eles quando aqui chegaram estavam a dormir, nunca despertaram. Se aceitarem, vamos firmar uma aliança. E cada um de nós vai prometer que jamais será quebrada, por nós e por toda a gente lá da Aldeia. - Aceitamos o desafio. Vamos confiar. Logo que saiamos daqui, reuniremos a gente da Aldeia e tudo será feito de acordo com este pacto.
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- Então, vai ser assim: uma vez por mês, reunir-nosemos junto ao rio que delimita a linha entre a Aldeia e a Floresta Encantada. Nas noites de lua cheia, podernos-emos divertir. Então, nós entraremos na Aldeia e vós na nossa Floresta Encantada sem constrangimentos de qualquer espécie. Aceitam? - De acordo, é tempo de darmos as mãos, de podermos caminhar de noite pelas ruas, de não termos necessidade de fechar as janelas noite após noite. - Hoje é noite de lua cheia. Logo, poderemos nos juntar e comemorar. Já podem abrir os olhos. A partir de hoje, seremos amigos e jamais algum camponês ou lenhador ficará prisioneiro na Floresta Encantada. Felizes com o acordo que conseguiram, o grupo de heróis regressou à Aldeia para anunciar as boas novas a toda a gente. Quando chegaram à entrada da povoação, aperceberam-se que todo o pessoal andava em alvoroço, aflito, à sua procura. Aproximaram-se e logo anunciaram o que haviam conseguido na sua visita à Floresta Encantada. Toda a Aldeia exultou de alegria e logo prepararam uma grande festa, para a qual convidaram os habitantes da Floresta Encantada. Durante a noite inteira, agora, as duas comunidades, uniram-se, entoavam cânticos de amizade.
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De olhos postos no futuro, Com um toque de magia, Quem tem o coração puro, Sente também alegria. Vive em festa toda a gente Numa só comunidade, No seu coração e mente Existe paz e amizade.
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Haja em nós a confiança, Que a força da liberdade Instigue em nós a criança Que vive em nós de verdade!
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