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Andréa M.C. Guerra
Estabilização psicótica em Freud No tocante às possibilidades de cura nas psicoses, conforme terminologia freudiana, ou de estabilização, como dizemos atualmente, Freud trouxe novidades determinantes no texto “Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranoia (dementia paranoides)”. Neste, ele analisa o caso Schreber, provocando uma reversão inaugural e fundamental à leitura posterior da psicose. Além disso, lançou definitivamente princípios que orientam, até os dias de hoje, a investigação psicanalítica acerca do tema. Dois grandes enunciados se estabeleceram com esse texto: a) em relação ao mecanismo estrutural da psicose, Freud afirma que “aquilo que foi abolido internamente retorna desde fora”. O que permitiu a Lacan, décadas depois, afirmar que, na base da psicose, seu mecanismo não se resume a um recalque por projeção, mas a uma operação muito mais radical que ele denomina foraclusão, como exposta a seguir; b) e, em oposição a uma interpretação fenomenológica da psicose, Freud subverte sua leitura apontando que “a formação delirante é uma tentativa de restabelecimento”, e não a enfermidade propriamente dita, como era interpretada até então. Donde Lacan afirmar, textualmente, que não é de déficit que se trata na psicose, mas de produção de resposta. Para Lacan, “a liberdade que Freud se deu aí foi simplesmente aquela … de introduzir o sujeito como tal, o que significa não avaliar o louco em termos de déficit”.