Andréa M. C. Guerra - A Psicose

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Andréa M.C. Guerra

olhar sobre questões relacionadas à arte stricto sensu. Tal é o caso da relação entre o sentido e a obra, quando, por exemplo, se pergunta, no texto sobre o Moisés de Michelangelo: “Por que a intenção do artista não poderia ser comunicada e compreendida em palavras, como qualquer outro fato da vida mental?” Freud já esboça que há um insondável, um impossível de dizer, uma cifra, enfim, na produção artística que a orienta por outra via que não a estritamente simbólica. Algo escapa à produção artística que não pode ser inteiramente dito em palavras. E é desse real que Lacan tratará ao estudar Joyce, como veremos em seguida, oferecendonos novos subsídios para pensar a estabilização nas psicoses. Será, portanto, com Lacan que veremos surgir novas proposições acerca das soluções construídas pelos psicóticos para tratar dessa dimensão insondável do humano. Vamos a elas.

A psicose em Lacan Na década de 50, Lacan articula o mecanismo fundante da psicose a uma operação significante, ou, em outros termos, a uma operação simbólica que ocorre no nível da linguagem. Para ele, distinguir as relações do sujeito com a estrutura, enquanto estrutura significante, implicou ressignificar essa noção de defesa. Em Freud, ela implicava um processo mais amplo que o do recalque (Verdrängung), englobando outras estratégias e mecanismos, quais sejam, a


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